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Coro adulto: a Música

Popular no coro amador

Programa de Pós-graduação em Música da UFRJ

Tó́picos Especiais: Aspectos formadores da sonoridade


coral e suas aplicações em diversos tipos de repertório

Profa. Dra. Juliana Melleiro


Música popular

Mas, afinal, que gênero é esse a que chamam de MPB? –


Jornal da USP

https://jornal.usp.br/atualidades/mas-afinal-que-genero-e-
esse-a-que-chamam-de-mpb/
Coro amador

• Formado por leigos e músicos não profissionais


• Pessoas sem, com pouca ou alguma experiência musical anterior
• Formado por indivíduos com idades, origens e histórias distintas
• Maioria dos coros, no Brasil
• Presente em diversos contextos educacionais e culturais
• Oportunidade de musicalização / educação musical, coral e vocal
• O prazer de se fazer música em conjunto e o propósito de contribuir
através do canto podem ser as principais motivações
“Cantar em coro deveria ser sempre uma experiência de desenvolvimento
e crescimento, individual e coletivo: o desenvolvimento da musicalidade e
da capacidade de se expressar através de sua voz; a possibilidade de vir a
executar obras que tocam tanto no cognitivo quanto no coração,
ensejando o crescimento intelectual e afetivo do cantor e de outros
agentes envolvidos; o desenvolvimento da sociabilidade e da capacidade
de exercer uma atividade em conjunto, onde existem os momentos certos
para se projetar e se recolher, para dar e receber.
Cantar em coro tem, ainda, uma vantagem, a meu ver, toda especial: a
oportunidade de lidar com um repertório que associa música com textos
literários. Apenas membros da tribo coral ou cantores, de maneira geral,
têm essa rara oportunidade de experimentar essa maravilhosa fusão de
duas artes tão expressivas. Não podemos esquecer, aliás, que toda música
ocidental, até o final do século XVI, foi essencialmente vocal.
Cantar em coro, finalmente, cria a possibilidade de surgimento de novos
regentes, assim como eu e tantos outros profissionais em atividade.”
(FIGUEIREDO in FIGUEIREDO et al., 2006, p. 09)
Música Popular e Arranjos

POSSIBILIDADES NO CORO AMADOR


Arranjo

“Quem quer ser arranjador? Os sonhadores.”, escreveu Dori Caymmi no


prefácio do livro Arranjo, de Ian Guest, publicado em 1996. Este é um
dos primeiros materiais em nosso idioma sobre a temática de arranjos,
abordando a música popular brasileira.” (OLIVEIRA, 2022, p. 17)

“Inicialmente é preciso localizar o arranjo como uma prática de


reelaboração musical, onde também se enquadram: transcrição,
orquestração, redução, adaptação e paráfrase”. (OLIVEIRA, 2022, p. 21)
“Em artigo publicado em 2017, André Protasio Pereira retoma algumas ideias sobre o conceito de
arranjo presentes no seu mestrado (PEREIRA, 2006). Ele comenta os diferentes processos de trabalho
e de resultado em arranjos que têm a intenção de transcrever integralmente ou em parte uma
determinada gravação “original” e em arranjos que tencionam criar uma nova concepção rítmica,
mudar o estilo etc. Pereira afirma que “não importa o processo de trabalho, o que temos são arranjos
vocais” (PROTASIO, 2017, p. 2). Ao comparar dois arranjos de uma mesma música, um a duas vozes
iguais e outro misto a cinco vozes, com diferentes níveis de complexidade, Protasio (2017) ressalta:
Essas múltiplas versões de uma mesma música podem ser necessárias no dia a dia do trabalho do regente/arranjador. A
questão principal do debate é que, independente da intenção ou da elaboração, tudo se chama “arranjo”. Numa definição
geral, o arranjo é o retrabalhar de uma composição musical, normalmente para um meio diferente do original. (PROTASIO,
2017, p. 3)

Assim como Ades (1983 [1966]), que utiliza o termo “arranjo coral” para denominar desde uma
simples harmonização, até elaborações mais criativas.
Embora o termo "arranjo coral" possa ser aplicado a qualquer escrita vocal, desde a simples harmonização de uma
melodia até configurações vocais tão criativas que são realmente composições, este livro trata da extensão da escrita entre
esses extremos - isto é, arranjo coral prático para o músico que deseja fazer uma configuração eficaz de uma determinada
peça de material musical para um determinado grupo coral. (ADES, 1983 [1966], p. iii, tradução nossa).

Ou seja, é possível que um arranjo seja escrito com pouca intervenção criativa do arranjador em
relação ao “original”, ou até mesmo que haja um movimento de simplificação, considerando para que
grupo se esteja escrevendo e/ou intenções didáticas. E pode haver também um movimento de
ampliação com muitas intervenções do arranjador e que resultem em um arranjo mais complexo em
relação ao “original”. (OLIVEIRA, 2022, p. 24 e 25)
Arranjador – Nestor de Hollanda Cavalcanti
Considerações sobre o meu modo de escrever para coro

“Desde os meus primeiros trabalhos para coro procurei dar toda atenção à
obra como um todo. Tenho muita preocupação com os cantores e com cada
naipe. Debussy tratava com cuidado as partes de um conjunto ou da
orquestra, procurando escrever de modo que cada parte tivesse sentido e
não apenas o todo. Então, num quarteto de cordas, embora a linha condutora
estivesse com, digamos, o violoncelo, as outras partes, violinos e viola,
desenvolviam linhas melódicas com sentido completo. Procuro fazer o mesmo
quando escrevo para coro ou para instrumentos. Tenho cuidado no
tratamento das vozes internas (tenores e contraltos), tanto quanto das vozes
externas (sopranos e baixos).
(...)
Procuro respeitar as letras das músicas. Dou preferência pelo coro cantando em bloco
harmônico a um estilo contrapontístico, por exemplo. Tudo para que o texto não fique
obscurecido por excesso de “melodias com palavras” sobrepostas. Procuro também
explorar os recursos oferecidos pelo texto a ser trabalhado, buscando elementos de
destaque para criar momentos de contraste e humor, sempre que possível.
Dou tratamento ao coro como uma “orquestra de vozes”, utilizando ao máximo os recursos
vocais naturais. Evito o padrão de usar os sopranos como solistas e o resto como
acompanhamento. A “melodia” pode estar em qualquer das vozes. Uso, com frequência,
sons onomatopaicos, imitando instrumentos musicais e similares, como qualquer meio
sonoro, de acordo com a necessidade.
Procuro escrever de forma viva e jovial, em oposição a qualquer formalismo. Faço uso da
harmonia sem entrar no terreno do “absurdo”, isto é, sem exigir intervalos harmônicos e
melódicos – principalmente – difíceis de entonação e realização, com resultado final
discutível. Utilizo o ritmo com intensidade, brincando e fazendo o cantor brincar com a
obra. Uso o som das palmas como elemento de percussão. Procuro trabalhar com ritmos
conhecidos, culturalmente relacionados. Utilizo a tonalidade como base; sou “tonal”,
porque entendo não existir, verdadeiramente a “atonalidade” na arte musical.
E brinco, sempre que possível, com a música: minha ou não. Quero que o (s) intérprete (s)
também brinque (m), pois entendo a música, a arte, como diversão.
É isso. Por enquanto...” (CAVALCANTI in FIGUEIREDO et al., 2006, p. 189 e 190)
Música popular e Arranjos

• PRÓS:
• Aproximação com o universo musical dos cantores
• Motivação
• Adequação / valorização das vozes do coro
• Extensão vocal (muda e ampliação da tessitura)

• CONTRAS:
• Pouca ampliação de repertório e vivência coral / musical
• “Seletividade” do repertório
• Perda da estética musical original / da essência de algumas canções escritas para canto solista
Música popular e arranjos

“O repertório coral para coros infantis é extremamente abrangente, passando por


músicas a capella e obras escritas originalmente com acompanhamento, de caráter
sacro ou profano, arranjos de canções populares, do folclore nacional e
internacional, chegando até a música sinfônica, os musicais e as óperas, tanto
infantis como as com temáticas adultas em há a participação de crianças. Por essa
razão não posso concordar com coros infantis que restringem seu repertório apenas
à música popular brasileira. É verdade que temos uma música popular bastante rica,
mas também é verdade que existem outros tipos de música igualmente
interessantes. A criança está em processo de formação. Não dar a ela a
oportunidade de entrar em contato com outras linguagens, outros tipos de música,
é restringir seu mundo, é negar informação e impedir a ampliação do universo
cultural dessa criança.” (CHEVITARESE in CHEVITARESE et al., 2021, p. 105)
Música popular e arranjos

“Uma demanda nova colocada aos regentes está na necessidade de virem a criar seu
próprio repertório, principalmente ao fazerem arranjos. Todos nós sabemos da
dificuldade cada vez maior de termos um coro equilibrado, no que diz respeito aos
seus naipes. Muitas vezes, a pesquisa de repertório se torna frustrante, ao
constatarmos que aquilo que existe não se adapta ao coro que temos. Os regentes
brasileiros se deram conta do problema e passaram a investir na criatividade,
gerando novas alternativas para repertório. Para que esse processo amadureça, é
necessário que eles se engajem em cursos de Arranjo Vocal, que são cada vez mais
comuns, principalmente no âmbito de cursos de férias e eventos corais de todo tipo.”
(FIGUEIREDO in LAKSCHEVITZ, 2006, p. 13)
Análise de um arranjo

• O que é possível (vocal e musicalmente) para seu coro?


• Tessitura vocal
• Quantidade de cantores
• Quantidade de vozes / formação
• Escrita coral / musical
• Melodia / Ritmo / Harmonia
• Contextualização histórica e musical
• Vocabulário / Tradução
• Pesquisa e estudos aprofundados
Estudos de caso

APRECIAÇÃO MUSICAL
SINA – DJAVAN / Arr. Alexandre Zilahi

• https://www.youtube.com/watch?v=5siQ-ml5lqY

• https://www.youtube.com/watch?v=Zsqhl3FaXcs
Coral UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) - Campus Curitiba;
Regente: Priscilla Prueter, Pianista: Ragner Seifert; VII Encontro de Corais da UTFPR -
16/10/2010 na UTFPR

• https://www.youtube.com/watch?v=8RYr3d8DqZM
Grupo Vocal BateBoca - Rio de Janeiro; Eco som em 30/08/2009
DINDI – TOM JOBIM / Arr. Zeca Rodrigues

• https://youtu.be/xz08O4mp0dE?si=R0F8qWLed9QuXwym

• https://youtu.be/gSNPpRNjK7M?si=CxrvP5dgNuOULFCP
4º Laboratório Coral FECORS; Regência: Zeca Rodrigues; Direção Cênica: Reynaldo
Puebla e Ana Abe;Técnica Vocal: Cíntia de Los Santos; Pianista: Lizandra Rodrigues;
Percussão Gustavo Godoy; Violão: Ricardo Barison e Zeca Rodrigues

• https://youtu.be/6nD7WEeBPJE?si=5AN9USVw2FY71vnx
• XXII Laboratório Coral Itajubá – 2009; Regência: Zeca Rodrigues; Direção Cênica:
Reynaldo Puebla
SÃO VICENTE A CAPPELLA – Rio de Janeiro

• https://youtu.be/vRe1AGRyk94?si=OChKTrkqk8TsFno6

• https://youtu.be/uDeem9Qjmhk?si=NpPnZyBbYMScUdvp

Regente: Patricia Costa


Preparador vocal e pianista: Danilo Frederico
CORAL UNIFESP – São Paulo

• A Era do Rádio
https://youtu.be/xhyYaWKf8ow?si=vZpCVFNniF0jjLn2
https://youtu.be/3n_1iVVyp5s?si=q5kWZPsXKm1UWRQh

• O Grande Circo Místico (Edu Lobo e Chico Buarque)


https://youtu.be/82RCtKIYj7c?si=-aXYl6MHKxkg2EAy

Regente: Edu Fernandes


EXPRESSO 25 – Porto Alegre

• https://youtu.be/rQCZFYRJ_RU?si=EwuwBnau7RgwAxMR

Regente e arranjador: Pablo Trindade


Música popular internacional

• https://youtu.be/WdnPAIFn32A?si=_VrpDowJeb5ZNiyj

• https://youtu.be/0ILM2CLgdEA?si=u-u6QlmXlSISzz0B

• https://youtu.be/BZcgzKRv4J8?si=m62Gp6d4pPUJJlkR
Onde encontrar arranjos corais?

• http://www.zilahi.com.br/acervo.html
• https://pt.pccantocoral.com/arrangements
• https://www.organizandoacantoria.com
• http://www.edhen.com.br/corelenbaum/
• https://festivaldecorais.com.br/arranjos/
Referências

CAVALCANTI, Nestor de Hollanda. Às voltas com o canto coral. In: FIGUEIREDO, Carlos
Alberto et al. Ensaios: olhares sobre a música coral brasileira. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
Centro de Estudos de Música Coral, 2006. p. 5-28.
CHEVITARESE, Maria José. Escolhendo o repertório. In: CHEVITARESE, Maria José et al.
Aprimorando meu coro infantil: técnica e criatividade. Projeto Um Novo Olhar – Funarte. Rio
de Janeiro: Editora Escola de música, UFRJ, 2021b. p. 105-132.
OLIVEIRA, Carolina Andrade. Processos de criação no arranjo vocal. Tese de doutorado. São
Paulo: Universidade de São Paulo - Escola de Comunicação e Artes, 2022.
FIGUEIREDO, Carlos Alberto. Reflexões sobre aspectos da Prática Coral. In: FIGUEIREDO,
Carlos Alberto et al. Ensaios: olhares sobre a música coral brasileira. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
Centro de Estudos de Música Coral, 2006. p. 5-28.

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