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GRÂNDOLA VILA MORENA

Comentários sobre a letra

A canção “Grândola Vila Morena” teve sua primeira versão escrita como um
poema, em 1964, pelo cantor e compositor português Zeca Afonso. A obra
homenageia o povo da vila de Grândola, que se situa em uma província
portuguesa chamada Alentejo, região natural de maior extensão em Portugal.

Em 1964, Zeca Afonso foi convidado a participar do 52° aniversário da Sociedade


Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG) e se admirou com o espírito
fraterno e solidário daquela sociedade alentejana, o que inspirou a composição da
música, que viria a ganhar os primeiros arranjos musicais somente em 1971,
quando lançada no álbum “Cantigas de maio”.

A letra fala sobre a união de um povo em prol do bem comum e, por isso, essa
obra se tornou um grande símbolo musical de resistência durante a Revolução dos
Cravos em Portugal. Além disso, a repercussão da canção se deu em diversas
outras manifestações populares ocorridas ao redor do mundo e ganhou novas
versões com diferentes interpretações de artistas, como Nara Leão, Garotos
Podres, Juventude Maldita, Amália Rodrigues e Banda 365, que produziu a versão
indicada pelo Cespe para o PAS 3.

O aspecto de resistência que essa obra ganhou se deve ao seu caráter de ode à
democracia e manifesto contra a opressão, sendo assim classificada como uma
música revolucionária.

Nos últimos versos da canção, ocorre uma referência a uma espécie de árvore
denominada azinheira. As características dessa planta traduzem exatamente o
sentimento que Zeca Afonso quis passar em sua composição. A azinheira é típica
de Portugal, possui grande capacidade de adaptação ao meio, proporciona grande
área de sombra e possui grande longevidade podendo chegar aos 150 anos de
vida. Por isso, ocorre a citação nos versos “à sombra duma azinheira” e “ Que já
não sabia a idade”. Tais aspectos revelam, metaforicamente, a ligação da árvore
com o contexto de luta social, já que a coletividade da SMFOG era vista como um
importante elemento no polo de luta contra o fascismo.

Nos anos 80, a canção ganhou uma versão punk rock da banda paulista 365. No
vídeoclipe apresentado pela banda, é possível ver cenas da época da Revolução
dos Cravos em Portugal.

Sobre a banda 365

A banda paulista 365 foi fundada em 1983, trazendo fortemente seu estilo punk
rock em um momento no qual esse gênero crescia muito no Brasil durante os anos
80. A banda teve reconhecimento por conta de suas canções de protesto, que
foram denominadas por alguns críticos como “rock de combate”.

Ao longo de sua formação, a banda passou a desenvolver o ritmo de pós punk em


suas músicas deixando a instrumentação mais pesada, o que ocorre na versão da
canção revolucionária “Grândola Vila Morena”, que possui um conteúdo
extremamente compatível com o perfil da banda 365. A canção, composta por
Zeca Afonso, foi lançada no álbum homônimo da banda 365 em 1987.

Instrumentos

A canção “Grândola Vila Morena”, ao ganhar sua versão punk rock, conta com
instrumentos típicos do gênero como bateria, guitarra e baixo. No início da canção,
ocorre uma referência à Portugal, utilizando a guitarra portuguesa para manter as
origens da música.

Características dos instrumentos

 Guitarra elétrica: Instrumento de corda pinçada e com som potencializado


por aparelhagem elétrica com o objetivo de fazer ressoar seu som.
 Baixo: Instrumento de corda que reproduz as sonoridades mais graves.
 Bateria: Instrumento de percussão composto por tambores e pratos
metálicos.
 Guitarra portuguesa: Instrumento de corda dedilhada, tendo a sua caixa
harmônica em forma de pêra.

Características técnicas musicais

A canção se inicia com a sonoridade aguda da guitarra portuguesa e logo ocorre


um forte contraste com o ritmo do punk rock, que irá prevalecer no restante da
música. Característicos do gênero punk rock, os arranjos da canção são simples e
independentes. Além disso, os solos de guitarra elétrica favorecem a euforia da
canção diante da situação de protesto.

Contexto Histórico

A versão de “Grândola Vila Morena” de 1987 da banda 365 está inserida em um


contexto pós ditadura militar, em que o Brasil tentava buscar medidas que
pudessem reafirmar a presença da democracia no país. A letra composta por Zeca
Afonso se revela como uma utopia, uma cidade dos sonhos, que naquele
momento e, até nos dias atuais, é muito almejada.

Quando Grândola foi homenageada por Zeca Afonso, o período era de


conturbações intensas e, por isso, a manutenção da força e união se mostrou
como algo extremamente raro.

Em 1974, a canção foi uma das senhas transmitidas no rádio pelo Movimento das
Forças Armadas portuguesas para dar início à Revolução dos Cravos, que lutou
pelo fim do regime salazarista e perdurou durante 40 anos em Portugal.

Portanto, entende-se a regravação dessa canção pela banda 365 como a


expressão do sonho de que um dia exista um cenário que revele uma cidade em
que o povo manda e que seja uma terra de fraternidade, onde haja igualdade e
onde a população diz “não” para a opressão.
CAMILA CAMILA

Comentários sobre a letra

Essa canção trata sobre a temática da violência doméstica. A letra traz as


sensações de apreensão e medo de uma vítima, como por exemplo no trecho “Eu
que tenho medo até de suas mãos”.

A música foi uma das primeiras composições da banda e a ideia surgiu enquanto o
grupo se reunia para compor e lembraram de uma colega da escola que havia
passado por um relacionamento abusivo. O nome dela não era Camila, mas a
história é verídica.

O nome Camila veio depois por meio de uma reportagem de jornal sobre um filme
que se chama Camila, o símbolo de uma mulher. Os compositores, apesar de
serem do sexo masculino e não se encaixarem nesse lugar de vítima, utilizam da
empatia para retratar o contexto abusivo que muitas mulheres passam
diariamente.

Nos primeiros versos, a história retrata um fim de festa em que provavelmente teria
acontecido algum conflito entre o casal. Dessa forma, a garota teria passado por
situação de violência psicológica e por isso queria que essa e outras situações de
violência, que subentende-se que eram comuns no relacionamento, não
acontecessem mais.

Observa-se presente também a questão da violência física, nos versos que falam
sobre “da vergonha do espelho, aquelas marcas”. Além disso, a parte que fala: “As
coisas aconteciam com alguma explicação” mostra o sentimento de culpabilização
da mulher sobre as situações de violência, em que muitas vezes acham que são
culpadas por sofrerem esse tipo de violência. Inclusive por isso, mesmo querendo
romper com aquele cotidiano abusivo, a mulher se sente incapaz de falar ou de
buscar ajuda.

Outro ponto relevante é que, no final da música, é retratado que a pessoa que
sofre a violência ainda é apenas uma garota de 17 anos que não sabe o que fazer.
Esse aspecto mostra que, dentro de uma sociedade machista que naturaliza o
controle masculino dentro dos relacionamentos, as mulheres começam a sofrer
violências cada vez mais novas e acabam passando por isso por muitos anos por
não terem informação, orientação e coragem para buscar uma saída.

A música expressa uma crítica ao olhar do senso comum para a violência


doméstica e ao papel da mulher entre a década de 80. Músicas como essa são
importantes diante de um contexto que a produção musical, naquela época e ainda
hoje, reforça o machismo e o papel da mulher enquanto cuidadora, submissa e do
homem, que tem plenos poderes para se aventurar.

Portanto, a música tornou-se um hino contra a violência doméstica, e foi trilha


sonora do filme: O silêncio de Melinda, em 2004. Além de que há um livro
chamado “Astro-ajuda” de Thedy Corrêa, vocalista e um dos fundadores da banda
Nenhum de Nós, sobre relatos de mulheres que se identificaram com a música e
escreveram cartas para a banda. O artista reforça que, mais do que fazer
conteúdos para divertir o público, é preciso que a arte também seja expressa como
forma de amparo e equilíbrio para os ouvintes.

Sobre a banda Nenhum de nós

Nenhum de nós teve origem na década de 80 com o estilo rock brasileiro, que
estava crescente naquela época. A história do grupo começou com ensaios na
garagem, mas foi a partir da sua primeira apresentação que veio o nome do grupo.

Eles buscavam um nome que despertasse interesse do público e que


representasse cada um deles, então pensaram em coisas como: nenhum deles
havia entrado no exército, nenhum deles reprovou na escola, e daí veio o nome
“Nenhum de Nós”.

Seu primeiro disco em 88 teve como um dos grandes sucessos a música “Camila
Camila”, sua primeira produção musical. Apesar do grupo ser de Porto Alegre, a
canção fez tanto sucesso que se espalhou pelo Brasil. Os integrantes são Thedy
Corrêa, Carlos Stein, Sady Homrich, Veco Marques e João Vicenti.

O grupo passou por uma longa jornada na música, e no ano de 2019, completaram
33 anos de carreira, com 17 discos gravados, mais de 2000 shows e uma grande
quantidade de sucessos produzidos.

Instrumentos musicais

Na música “Camila Camila”, a banda de estilo rock brasileiro utiliza para a música
os instrumentos: baixo, guitarra, violão, bateria, teclado. Com destaque para a
guitarra, que é muito marcante na música.

Características técnicas musicais

A música possui uma influência do estilo pop, mas predomina o estilo do rock
brasileiro na música pelo uso acentuado da guitarra elétrica, inclusive no início, em
que o guitarrista começa a sonoridade da música antes da letra.

A composição aborda uma enunciação recorrente e traz características do relato


da mulher por meio tanto da letra quanto da sonoridade, apresentando diversos
efeitos de significado da música.

O ritmo permanece o do estilo rock, mas observa-se em algumas partes que os


instrumentos e a voz remetem ao significado que a música traz sobre
relacionamentos abusivos.

Observa-se isso na expressão da voz de Thedy que em algumas partes remete a


uma sensação de revolta e impotência, sendo que a letra foi escrita em 1º pessoa
com o objetivo de retomar a experiência pessoal das mulheres. Já no refrão, a
tonalidade do vocalista e a repetição são usadas como um chamado a Camila, e a
tantas outras mulheres, a despertar dessa situação e buscar uma reação, uma
saída.
Contexto Histórico

A música “Camila Camila”, a qual foi lançada em 1987, tinha o contexto da


redemocratização do país e das lutas sociais. Nesse período, grandes movimentos
sociais como o movimento feminista ganharam bastante repercussão em suas
causas. Nesse época ainda não havia a Lei Maria da Penha, e os casos de
violência doméstica eram naturalizados e não responsabilizados judicialmente e
socialmente.

Com o fim da ditadura, em meados de 1985, com a volta de um presidente civil ao


poder, houve algumas medidas, como a retomada da liberdade de expressão pela
imprensa e pelos artistas, o retorno à diversidade de partidos políticos. Além disso,
o Brasil foi tomado por movimentos que precisavam alertar sobre questões sociais
como a volta das eleições diretas, movimento conhecido como “Diretas Já”.

Posteriormente, com a retomada de medidas democráticas, houve a criação de


uma nova Constituição, com o objetivo de retomar e aperfeiçoar direitos
individuais, civis, políticos, sociais e culturais, além de que o texto dividiu o país em
três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. A Constituição Federal
promulgada em 1988 é a que prevalece até os dias atuais.

DONA DE MIM

Comentários sobre a música

A música “Dona de mim” traz uma reflexão sobre o empoderamento feminino e a


questão racial. A cantora Iza, enquanto mulher negra, traz a representatividade
desse debate, tanto na letra da música, como no videoclipe. A música tem caráter
pop político e faz reflexões por meio da criação de imagens e cenas de vivências
que trazem o significado da canção. Esse significado está relacionado ao
reconhecimento identitário advindo de reflexões de autoconhecimento e de
aceitação de ser o que é, mesmo com as dificuldades e preconceitos existentes
em relação à raça e ao gênero.

Percebe-se na representação da letra o quanto as mulheres, em especial as


negras, sofrem com estereótipos que são direcionados a elas no sentido de
inferiorização, como por exemplo, a falta do lugar de fala e sua invalidação,
presentes na música em alguns trechos:

“Penso duas vezes antes de falar”


“Sempre fiquei quieta, agora vou falar”
“Se você tem boca, aprende a usar”

Dessa forma, é mostrado o sentimento de desvalorização e menosprezo que


muitas mulheres sentem socialmente. A necessidade de autoafirmação também é
retratada na música. No entanto, a letra mostra que essa mulher simplesmente se
aceita, encara a realidade, não liga para o que os outros pensam e para esses
estereótipos de inferiorização, pois ela finalmente se empoderou e reconheceu o
seu valor. Desse modo, a letra considera as grandes barreiras que envolvem uma
mulher negra na sociedade, no entanto mostra a resistência e a luta diante dessas
situações, a protagonista torna-se uma mulher guerreira e finalmente dona de si,
desconsiderando os preconceitos e as imposições.

“Já chorei mares e rios, Mas não afogo, não. Sempre dou o meu jeitinho, É bruto,
mas é com carinho, Porque Deus me fez assim, Dona de mim.”

No clipe há a performance da cantora Iza que perpassa os diferentes contextos,


mostrando realidades cotidianas de outras mulheres. A cantora vai passando por
cenas que mostram a vida de três personagens. A primeira é uma mãe solteira
com seu filho, o que traz uma crítica à ausência paterna na responsabilidade da
criação e o peso do estereótipo de gênero em que a mulher exerce o lugar de
cuidado dos filhos sozinha.

A segunda mulher é uma professora negra que tem sua aula interrompida por um
tiroteio, o que mostra a realidade da violência em muitas regiões periféricas e que
se conecta com a vida da cantora. A terceira realidade é a de uma advogada que
defende uma mulher negra (cantora) diante de um tribunal composto apenas por
homens brancos, o que mostra a necessidade de representatividade e união entre
as mulheres. Além disso, no final, Iza aparece cantando com outras mulheres em
uma igreja, o que mostra a necessidade de união e de força entre o meio feminino.

Sobre Iza

Isabela Cristina Correia de Lima Lima, mais conhecida como Iza, é uma cantora
brasileira de origem carioca, sua mãe é professora de música e artes, e seu pai é
militar, os dois são primos de segundo grau, motivo pelo qual ela recebeu o
sobrenome Lima duas vezes. Iza nasceu em 1990 e começou a cantar desde
muito nova; como era de origem humilde, fazia apresentações para arrecadar
valores simbólicos. Aos 14 anos tornou-se mais conhecida na igreja e também
começou a fazer shows em eventos maiores.

Na faculdade, Iza estudou Publicidade e Propaganda na PUC-Rio e trabalhou com


edição de vídeos, foi assim inclusive que expandiu sua carreira musical com
vídeos pelo YouTube, sendo reconhecida em 2016 pela Warner Music, com a qual
fechou contrato e impulsionou sua carreira musical. A cantora é casada com o
produtor musical Sérgio Santos. Dentre os grandes destaques de sua carreira,
está a participação como jurada no programa The Voice e a dublagem do filme o
Rei Leão, no qual fez a voz da personagem Nala.

Instrumentos

A canção “Dona de mim” conta com os seguintes instrumentos: guitarra elétrica,


violão, teclado, baixo, bateria e mixer dj.

Características dos instrumentos

 Guitarra elétrica: Instrumento de corda pinçada e com som potencializado


por aparelhagem elétrica com o objetivo de fazer ressoar seu som.
 Teclado: instrumento de teclas e eletrônico que contém mecanismos para
reproduzir sons de outros instrumentos musicais.
 Violão: instrumento de cordas dedilhadas.
 Baixo: Instrumento de corda que reproduz as sonoridades mais graves.
 Bateria: Instrumento de percussão composto por tambores e pratos
metálicos.
 Mixer dj: Instrumento analógico ou digital que permite mixar sons de outros
instrumentos.

Características técnicas musicais

O gênero da canção é o pop, em que há uma marcação firme do compasso (forma


de dividir quantitativamente em grupos os sons de uma composição) com a
bateria. A cantora, que possui voz soprano, durante a canção oscila entre o agudo
e o grave, produzindo efeitos de fortalecimento e de enfraquecimento da voz;
esses efeitos contrastam com a letra da música.

A composição é de Arthur Marques e faz parte do álbum de mesmo nome, “Dona


de Mim”. Esse álbum foi o álbum de estreia da cantora, sendo lançado em 27 de
abril de 2018 pela Warner Music.

Contexto histórico

A canção “Dona de mim” está inserida em um contexto de contemporaneidade, em


que há o questionamento acerca da relação do feminismo, com destaque ao
feminismo negro e à necessidade de continuar na luta por essa causa. A
desigualdade de gênero foi construída estruturalmente ao longo da história.

A partir do século XX tiveram início algumas reivindicações do sexo feminino por


condições de igualdade e conquistas de direitos. Essas iniciativas acompanharam
a Revolução Industrial, que expandiu o mercado de trabalho e ao mesmo tempo
havia a necessidade de que as mulheres permanecessem em casa somente
cuidando dos filhos e do marido, esse era o papel social atribuído à mulher. Essa
necessidade vinha justamente com o objetivo de reprodução dos filhos (que
posteriormente iriam para o mercado de trabalho) e de cuidados com o marido,
que precisava se manter em um bom ritmo na linha de produção.

No entanto, ao longo dos anos esses papéis sociais atribuídos às mulheres


começaram a ser questionados socialmente, e surge o movimento feminista. As
primeiras perspectivas tinham o objetivo de empoderar, ou seja, dar mais poderes
às mulheres, considerando a sociedade machista em que a tomada de decisões
era exclusiva dos homens.

O sentido de empoderamento busca criar mecanismos de reflexão e de inserção


das mulheres nos aspectos políticos, sociais e econômicos. A finalidade é a
igualdade e não a sobreposição do gênero feminino ao masculino, em linhas
gerais, feminismo não é um termo oposto à machismo. Dentre as primeiras
conquistas do feminismo, podemos citar o movimento Sufragista, que trouxe o
direito de voto para as mulheres no ano de 1934 no Brasil.

Posteriormente, em 1962, houve a Lei 4.121/1962, conhecida como o Estatuto da


Mulher Casada, que trouxe algumas mudanças. Antes dessa lei, as mulheres eram
consideradas incapazes de realizar alguns atos, era necessária a autorização do
marido para que as mulheres pudessem assumir cargos de empregos ou até
mesmo receber heranças. Depois do advento da lei, o homem deixou de ocupar o
centro das decisões. As mulheres passaram a ter direitos legais sobre a guarda de
seus filhos e podiam se tornar economicamente ativas sem autorização.

Desde então, na segunda metade do século XX, houve o crescimento do


feminismo com a segunda e a terceira onda, que questionaram garantias
individuais. Com destaque à luta pelo direito a métodos contraceptivos, liberdade
sexual e pelo acesso ao mercado de trabalho por exemplo. Foi nesse período que
o feminismo negro começou a se expandir e a questionar a questão racial junto
com a questão de gênero, reconhecendo que as mulheres negras são ainda mais
desvalorizadas e estereotipadas socialmente.

E em 2006 houve a criação da Lei Maria da Penha, que impactou fortemente nas
políticas públicas e nas ações direcionadas às mulheres, e reconhece:

“Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual,


renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e
facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual e social.”

Portanto, esse debate tem sido cada vez mais recorrente e necessário, e por isso
são importantes obras artísticas contemporâneas, assim como essa, para o
reconhecimento e divulgação da luta das mulheres.

MALDITOS CROMOSSOMOS

Comentários sobre a letra

A canção “malditos cromossomos” representa uma luta que o indivíduo precisa


enfrentar contra suas próprias características, se descobrindo um reprodutor de
conceitos e comportamentos herdados ao longo da vida e gerando reflexão acerca
desse conflito existencial. A letra levanta uma causa sobre se salvar da alienação
lógica causada pelo sistema da genealogia, no qual, se você não tiver noção de si
mesmo, sua existência se baseará na mera combinação de cromossomos.

O grande conflito da composição é que os seres são produto desse sistema, por
isso não há como fugir dele. Portanto, é preciso se conformar com a ideia de ser
mais uma cópia, diante da dificuldade de se impor autonomia e singularidade
nessas circunstâncias. A principal crítica da música é ao sistema de genealogia,
que nos impõem conceitos e valores passados hereditariamente, em que muitas
vezes defeitos terríveis vão sendo passados em diante.

Pitty faz citações de cunho científico na letra, como em “Teoria Darwinista”,


abrindo espaço para questões de biologia dentro desse conteúdo de evolução a
partir da análise da obra.
Sobre Pitty

Pitty é o nome artístico de Priscilla Novaes Leone, nascida em Salvador (BA) em


1977. A cantora brasileira se destacou no cenário do rock nos anos 2000 com
diversos lançamentos de álbuns bem repercutidos. A canção “malditos
cromossomos” está inserida no terceiro álbum de sua carreira, chamado “Des
Concerto”, lançado em 2007, sendo esse o seu primeiro álbum ao vivo.

Pitty, além de cantora, também é compositora, produtora musical, empresária e


formada em música pela Universidade Federal da Bahia. O gênero musical
predominante em suas canções é rock alternativo e hard rock, sendo esses os
ritmos mais ouvidos pela cantora antes de se tornar famosa. Por influência do pai,
Pitty se inspirou em bandas de rock mundialmente famosas, como Beatles,
Nirvana, Metallica, entre outras.

Além disso, a roqueira também sofreu influência de bandas de rock independentes


da Bahia, com as quais começou a carreira, de maneira informal, e logo foi
trilhando seu caminho na música.

Instrumentos

A canção “malditos cromossomos” conta com os seguintes instrumentos: guitarra


elétrica, baixo e bateria. Essa combinação instrumental é a principal nas canções
da cantora Pitty.

Características dos instrumentos

 Guitarra elétrica: Instrumento de corda pinçada e com som potencializado


por aparelhagem elétrica com o objetivo de fazer ressoar seu som.
 Baixo: Instrumento de corda que reproduz as sonoridades mais graves.
 Bateria: Instrumento de percussão composto por tambores e pratos
metálicos.

Características técnicas musicais

“Malditos cromossomos” revela fortes influências musicais do grupo norte-


americano Mars Volta, que foi uma banda dos anos 2000 de rock progressivo e
hard rock.

O compasso acelerado do ritmo expressa a emoção que a letra busca levar aos
ouvintes e, por isso, o uso expressivo da guitarra elétrica e da bateria ajudam a
potencializar a intensidade da música.

O gênero da canção é o hard rock e metal alternativo, em que predominam os


arranjos simples, mas com potência no som e riffs de guitarra pesada.

Contexto Histórico

A canção “malditos cromossomos” está inserida em um contexto da


contemporaneidade, em que questionamentos acerca da existência humana se
tornam comuns diante de todo o sistema social e científico em que vivemos, fruto
da sociedade capitalista e da cultura de massa, que muitas vezes causa a
alienação nos indivíduos.

No âmbito científico, novas informações e descobertas acontecem diariamente,


fazendo com que concepções já manifestadas individualmente nas pessoas
entrem constantemente em conflito.

MULAMBA

Comentários sobre a letra

A canção “Mulamba” é uma composição da banda curitibana Mulamba. A


inspiração para que a música carregasse o mesmo nome da banda surgiu por
conta da abordagem de assuntos como feminismo e denúncia ao preconceito
vivido por mulheres. A nomenclatura “mulamba” é escolhida com o intuito de
qualificar o valor pejorativo que essa palavra carrega desde os tempos de
escravidão, alterando a percepção das pessoas diante de concepções que se
pautam e se estruturam em cima de uma sociedade escravocrata, patriarcal e
machista. A partir do nome “mulamba”, o grupo musical busca desconstruir
preconceitos enraizados dentro da sociedade.

Historicamente falando, a palavra mulamba era dirigida a mulheres consideradas


imorais, desleixadas e sujas nos tempos da escravidão, estas eram vítimas de
muita agressão e desejo sexual dos senhores de terra.

Mulamba foi a primeira composição autoral da banda. O processo de criação foi


baseado em um fato real e serviu como um espelho do que se vê na sociedade e
com o público feminino. A música “Mulamba” se inspira em um episódio que a
própria banda presenciou de assédio dentro de um evento que participavam,
destinado a homenagear grandes mulheres da música brasileira, em especial
Cássia Eller. Por isso, a canção carrega uma forte vertente de música de
resistência feminina no cenário musical brasileiro, visto que o seu peso social e a
mensagem que é transmitida se passa na atualidade e toca diferentes mulheres
que possam vir a se identificar com o cenário de denúncia retratado na música.
Entende-se pela música que questões como a da violência contra a mulher nos
dias atuais se comportam de forma clara e visível, porém ainda muito velada
dentro das mídias e grupos sociais.

A música tem como ponto principal expor a violência doméstica, tráfico de


mulheres, prostituição infantil, assédio sexual e objetificação feminina. A letra
também se dirige aos homens agressivos e machistas, com o intuito de abrir a
mentalidade dessas pessoas. A letra da música aborda essa comunicação com os
homens de maneira muito pontual, certeira e agressiva, sem subjetivismo, já que a
causa feminina é um assunto que precisa ser defendido de modo que transcenda
as questões de gênero e gere consciência na sociedade como um todo, a partir do
respeito.

O clipe mostra de forma muito clara a posição de mulheres diante do que já


sofreram na sociedade. Mulheres reais são mostradas no clipe, transmitindo muita
verdade à cena. Há também uma psicóloga envolvida na composição do clipe, que
foca em relações em grupo para oferecer suporte emocional diante dos relatos
feitos por essas mulheres, que expõem suas vivências como forma de libertar suas
angústias e traumas que foram calados durante muito tempo. A música oferece
coragem e liberdade para que a sociedade como um todo fale mais sobre pautas
como essa.

Quanto ao estilo de linguagem adotado na música, é possível notar a presença de


vocábulos regionais e uma forte tendência de comunicação direta com o ouvinte,
adotando assim uma linguagem coloquial. A letra da canção narra as dificuldades
e as dores de nascer e se tornar mulher em uma sociedade que ainda sofre com a
desigualdade de gênero, além de instigar a força inabalável que as mulheres
carregam, e que não pode ser mais silenciada.

Veja o que diz Amanda, uma das vocalistas da banda, sobre o objetivo da arte
musical de Mulamba:

“Nunca vimos o movimento [das mulheres] tão fortalecido, o caminho que estamos
traçando e onde estamos chegando, nada apagará essa luz. Aquela mulher dona
de casa percebeu a força que ela tem. Já baixamos muito a cabeça e engolimos
muito sapo, agora não tem mais jeito, é uma roda que não vamos deixar de girar
não.”

Veja também o que diz Fer Koppe, violoncelista da banda, acerca da visão que
Mulamba possui diante do papel da música de resistência:

“Enxergamos a música como um mecanismo universal que tem o poder de difundir


uma bagagem informativa relacionada a qualquer tema que necessita de voz,
espaço e respeito.”

Sobre Mulamba

Mulamba é uma banda curitibana formada em 2015 a partir da ideia de um projeto


musical entre amigas, que tinha o intuito de fazer um tributo à Cássia Eller e outras
cantoras brasileiras.

A banda se inicia a partir de causas feministas, representando, a partir disso, uma


grande união e fortalecimento feminino na sociedade contemporânea. A
receptividade do projeto musical em tributo à Cássia Eller foi muito boa perante o
público e isso incentivou a banda, formada apenas por mulheres, a continuar a
caminhada de representatividade feminina.

A banda pertence ao gênero do rock alternativo/MPB, porém não se prende aos


padrões estéticos musicais, havendo combinações diferenciadas em suas canções
entre instrumentos que não são comumente utilizados juntos. A formação da
banda se constitui da seguinte forma:

 Amanda Pacífico: vocal


 Cacau de Sá: vocal
 Carol Pisco: bateria
 Érica Silva: baixo, guitarra e violão
 Fer Koppe: violoncelo
 Naíra Debértolis: guitarra, baixo e violão

A banda alcançou bons resultados do público com o clipe de “P.U.T.A”, música


autoral com mais de 3 milhões de visualizações no youtube. Ainda que haja uma
resistência do mercado mainstream e da indústria fonográfica diante de bandas
femininas brasileiras, o cenário musical oferecido pelas plataformas de streaming
oferece a liberdade de exposição do trabalho de diversos grupos musicais.

Apesar da desvalorização recorrente e enraizada que ocorre com os trabalhos


musicais femininos no Brasil, a banda Mulamba tem encontrado uma boa
receptividade entre diferentes públicos.

Instrumentos

A canção “Mulamba” conta com a presença de guitarras, percussão, baixo, bateria,


violoncelo e vozes.

Características dos instrumentos

 Baixo: instrumento de corda com sonoridade grave;


 Guitarra: instrumento de corda pinçada;
 Percussão: configurado por um conjunto de tambores;
 Bateria: instrumento de percussão composto por tambores e pratos;
 Violoncelo: instrumento de corda com sonoridade grave.

Características técnicas musicais

O gênero musical de “Mulamba” pode ser classificado como uma mistura de rock,
pop rock e MPB. A presença das guitarras distorcidas confere um peso maior à
sonoridade da composição, no intuito de transmitir emoção e vigor na melodia.

Nota-se no desenvolvimento da música uma ascensão no empoderamento


feminino. No início, a proposta se mostra mais melancólica, que acompanhada
pelos instrumentos em um tom mais baixo, narra as vivências negativas de
mulheres na sociedade. No entanto, o final da música já apresenta um andamento
mais acelerado, revelando a força que deve nascer dentro das mulheres para que
possam enfrentar e expressar seus traumas.

Contexto Histórico

A canção “Mulamba” se insere em um contexto social com muitas desigualdades


de gênero e inferiorização da mulher por conta de toda a estruturação
preconceituosa que vem se formando ao longo dos séculos. “Mulamba” foi criada a
partir de um episódio de assédio ocorrido em público, mas também se refere ao
cenário de violência que milhares de mulheres vivenciam todos os dias no Brasil.
Pautas feministas estão ganhando cada vez mais espaço, e a canção busca
acompanhar esse momento de ascensão e empoderamento feminino.
Movimento esse que teve o início na Revolução Francesa em 1789, quando
publicaram a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. Essa publicação
recebeu críticas e uma resposta em: “Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã”, escrita pela francesa Olympe de Gouges em 1791. No documento,
criticou fortemente a Declaração que seria aplicada somente aos homens, além de
alertar a importância das mulheres e da igualdade de direitos.

A partir da Revolução Industrial, no século XIX, as mulheres começam a trabalhar


nas fábricas, fazendo parte da força econômica do país. E assim, o cenário
começa a mudar realmente. Aos poucos, os movimentos feministas espalhados
pelo mundo foram ganhando força.

Com movimentos no início do século XX, houve a conquista do sufrágio feminino,


conquista do direito ao voto feminino e participação política. Já na segunda onda
do feminismo, iniciada por volta de 1965 e que se estendeu até a década de 80,
ocorreu a luta pela igualdade jurídica e social feminista. Essa segunda onda foi
responsável pela conquista de diversos direitos para as mulheres.

E a partir do final da década de 80, podemos dizer que há a terceira onda do


movimento feminista, que pode ser considerada uma continuação às anteriores.
Essa terceira onda focaliza na mudança de estereótipos, nos retratos da mídia e
na linguagem usada para definir as mulheres, assim como na mudança do papel
da mulher e da construção social como um todo.

O ENCONTRO DE LAMPIÃO COM EIKE BATISTA

Comentários sobre a letra

A canção “O encontro de Lampião com Eike Batista” faz parte do álbum “Pedras e
sonhos”, da banda El Efecto, e retrata o encontro de um empresário, Eike Batista,
com um homem cangaceiro. Na história, o empresário dá o maior lance de uma
licitação criada pelo governo para administração de um terreno às margens do Rio
São Francisco. No entanto, o local já é habitado por lampião e seus seguidores,
assim inicia-se o conflito. Eike e sua comitiva oferecem vida nova ao homem em
troca de sua cessão, porém não adiantou. O Lampião era um homem muito
simples, e por isso não se importava com bens materiais oferecidos pelos “hômi
tudo de preto”, como ele mesmo chama.

A música possui forte influência da literatura de cordel, por conta das rimas e do
tema popular. A letra possui cunho social e político, sintetizando a intenção
fundamental da banda El efecto: conjugar instigação política e inquietação
estéticas. Na obra musical, ocorre o embate de classes sociais diferentes e a
imposição da parte menos favorecida socialmente, que no caso é o Lampião.
Característico por ser um homem rústico e corajoso, o Lampião não se rebaixa à
figura elitista do empresário, expulsando-o de seu terreno. A música seguiu a
tradição dos encontros do cordel, e teve Eike como a encarnação da máquina e
Lampião como metáfora da resistência necessária.

A canção foi inspirada nas relações entre o empresário Eike Batista e o governo. A
faixa foi escrita em 2012, quando o empresário brasileiro Eike Batista estava no
auge de sua fortuna. No entanto, a canção ganhou repercussão no início de 2017
quando houve um escândalo político e Eike Batista é preso por corrupção ativa e
lavagem de dinheiro na “operação eficiência”, desdobramento da lava jato do rio. O
ex bilionário é acusado de pagar propina em troca de contratos com o governo
estadual.

Sobre El efecto

Criada em 2002, no Rio de Janeiro, a banda El Efecto surge a partir da vontade de


criar músicas com influências e com interesse em participar do debate sobre os
conflitos da vida em sociedade. Apesar das diversas misturas rítmicas, a banda é
classificada pelo gênero de rock por conta da estética da execução de guitarras,
baixo e bateria. Porém é possível encontrar músicas com o uso de cavaquinho,
trompete, flautas, percussões e bases pré-gravadas. A banda combina a
linguagem do rock, da música popular e da música erudita, além da forte vertente
na música regional brasileira, principalmente a nordestina. Suas canções são
marcadas pela variedade de climas, havendo uma rica convivência entre o peso e
a sutileza, os vocais gritados e a abertura melódica das três vozes.

As canções de visão crítica sobre posturas individuais e coletivas transitam entre a


angústia da constatação de fatos da realidade brasileira e a esperança na
transformação de comportamentos. A banda El efecto aborda temas políticos,
comportamentais e existenciais. Tratam a arte não como uma válvula de escape
das frustrações do mundo real, e sim como uma busca em estimular as mudanças
na vida concreta.

Veja o que a banda contou ao jornal O Globo a respeito da obra “O encontro de


lampião com Eike Batista”:

“Recebemos algumas críticas por conta da música, atacando-nos por termos essa
orientação de esquerda, por romantizar a figura do Lampião... Ao mesmo tempo,
ela é anterior às manifestações de 2013 e não entrou nesse período de grande
polarização nas discussões políticas que vivemos. E também foi um importante
meio de estreitarmos laços com lutas e iniciativas que defendemos.”

Veja um trecho do que a banda declara acerca de sua proposta musical e


referências artísticas:

“Gostamos muito de música e nos incomodamos com o mundo tal qual ele é. A
banda surgiu da ideia de conjugar esses dois sentimentos, de produzir algo
estimulante e capaz de gerar inquietação, tanto política, quanto estética. Essa é
nossa pretensão. Em relação às referências, a ideia é que elas estejam sempre se
ampliando através da pesquisa musical. Buscamos mergulhar nas tradições de
cada gênero e assimilar traços de suas linguagens. Nesse sentido, as fontes de
inspiração são infinitas. Algumas mais emblemáticas são Karnak, Racionais MC`s,
Rage Against the Machine, Revelação, Moacir Santos, Astor Piazolla, Chico
Buarque, Faith no More…”

Instrumentos

A canção “O encontro de lampião com Eike Batista” conta com os seguintes


instrumentos: baixo, coro, flauta, pífanos, percussão, violão e voz.

Características dos instrumentos


 Baixo: instrumento de corda com sonoridade grave
 Flauta: instrumento de sopro com sonoridade aguda
 Pífanos: instrumento de sopro semelhante à flauta, porém com timbre mais
intenso e estridente
 Percussão: envolve a presença de um conjunto de tambores
 Violão: instrumento de corda dedilhada

Características técnicas musicais

A canção “O encontro de lampião com Eike batista” promove uma mistura intensa
de ritmos, notando-se a presença de rock pesado, que segue uma linha de
hardcore e progressivo, xaxado, funk e ritmo cangaceiro típico da região
nordestina. A música possui um forte lirismo poético, ou seja, poesia destinada ao
canto, com acompanhamento instrumental.

Contexto Histórico

A obra “O encontro de lampião com Eike Batista” buscou representar, em 2012, as


questões políticas que estavam sendo discutidas, focalizando a importância que
estava sendo dada à parceria público-privada, vista como uma forma de solucionar
alguns problemas da sociedade. Eike Batista representou muito bem essa figura
enquanto instituição privada que se insere no meio público a fim de conseguir
parcerias com nomes importantes da política.

A canção se insere em um contexto no qual o favorecimento dos interesses do


grande capital em detrimento dos direitos da população é muito expressivo. As
privatizações estão ocorrendo de maneira banalizada, retirando do público aquilo
que é público.

Eike representa a metáfora de uma lógica do sistema, que o descartou após uma
série de desencadeamentos econômicos que prejudicaram seus negócios, até
culminar em sua prisão em 2017. A música trabalhou a sua composição com base
no fato capitalista de repetição dos papéis, em que as pessoas são cada vez mais
substituíveis. Ou seja, se Eike foi descartado de cena, haverá uma outra pessoa
para tomar o seu lugar, fazendo com que os fatos se repitam.

QUARTETO DE CORDAS COM HELICÓPTERO

Letra

A obra “Quarteto de cordas com helicópteros” é instrumental.

Comentários sobre a obra

A obra “Quarteto de cordas com helicópteros” ficou conhecida por conta de sua
proposta inusitada de composição, feita em 1995 para ser parte de uma ópera
denominada “Quarta feira de luz”. Seu enredo apresenta personagens bíblicos,
como Eva, Miguel e Lúcifer, e é formada por 4 movimentos, constituídos pela
mistura de música orquestral com música eletrônica.
Nesse contexto, a obra “Quarteto de cordas com helicópteros” entra em cena de
uma maneira inovadora, sendo apresentada ao público da ópera por meio de uma
transmissão ao vivo por meio de telões dispostos no teatro em que ocorria a
apresentação musical. Nesse momento, o público assiste a performance de quatro
instrumentistas, tocando ao vivo instrumentos clássicos dentro de um helicóptero.

“Quarteto de cordas com helicópteros” não possui ligação, quanto à sua estrutura
musical, com a ópera “Quarta feira de luz”, por isso é pautada pelo CESPE como
uma obra musical independente.

A obra apresenta meios de expressão artística variados, tendo como principal


característica a influência de vanguardas dos anos 60, principalmente o
Happening. Essa corrente artística é uma forma de arte que combina artes visuais
com uma espécie de teatro que não possui nem texto nem representação.

Vemos essa ideia dentro da obra ao tomarmos a posição dos instrumentistas


dentro do helicóptero como imagens cênicas que caracterizam o conceito
performático da obra.

Nesse cenário, os instrumentistas se encontram em uma situação de risco,


desconfortáveis, não há texto (característica do happening) e a ação é um
acontecimento marcante e direto no meio de uma apresentação operística. Ou
seja, todos esses pontos revelam a contemporaneidade e a estética vanguardista
da obra. O estilo da obra é classificado como eletroacústico.

Acerca da ideia por trás da obra e seu planejamento, é importante entender como
se deu o preparo cênico e musical. Stockhausen coloca cada um dos 4
instrumentistas em um helicóptero diferente, que sobrevoa a região do teatro onde
está ocorrendo a ópera.

O helicóptero tem sua altitude e movimentos coordenados pelo próprio compositor


Stockhausen, que definirá até mesmo a velocidade de vôo. Os instrumentistas
estão dotados de um equipamento audiovisual para que possam manter a
comunicação durante a execução da música. Por isso, pode-se dizer que a obra
possui um forte viés eletrônico, tanto em sua sonoridade quanto em sua
performance.

O contexto político social vivido por Stockhausen também influenciou o conteúdo


que a obra busca passar diante da escolha dos helicópteros como elemento
musical e cênico. Essa questão tem início na concepção de que o emprego de
quatro helicópteros na execução da música para o quarteto de cordas faz
referência às questões ligadas à guerra que foram tão importantes para a cultura
dos anos 1960, quando Stockhausen participou ativamente das vanguardas.

Stockhausen escolhe os helicópteros como uma referência ao uso de uma


máquina de guerra, que na obra serve como veículo de transcendência artística.

Foi na década de 1960 que os helicópteros tornaram-se adaptados às diversas


funções civis às quais servem até hoje. E nos anos 1970, seu uso se voltou ao
interesse militar, quando foram utilizados basicamente como instrumentos de
ataque avançado do exército dos EUA desde a guerra do Vietnã, até as guerras do
Oriente Médio, no Iraque e no Afeganistão.

Portanto, a guerra é um ponto importante dessa performance, que se manifesta


também a respeito da questão tão atual da guerra como espectáculo, transmitido
ao vivo por sistemas televisivos.

Essa referência mostra que a entrada dessa obra na ópera “Quarta feira de luz”,
por meio de uma transmissão ao vivo, também tem um fundamento crítico diante
da guerra, ainda que haja uma demonstração do poderio econômico e “bélico” das
forças militares.

Sobre Karlheinz Stockhausen

Stockhausen foi um compositor alemão do século XX que pôde experimentar


diversas vanguardas da música do século XX e XXI. O que influenciou grande
parte de suas obras e lhe conduziu a um estilo único de composição musical,
sendo considerado um dos representantes máximos da música eletrônica da
época. Diferentemente do que conhecemos hoje como música eletrônica,
Stockhausen trabalha dentro da vanguarda desse gênero musical, que buscou
quebrar padrões melódicos e harmônicos da música tradicional. Nos primeiros
concertos, o público ouvia sons eletrônicos por meio de megafone, que aparecia
complementado por corais. Porém, a partir de 1964, com o desenvolvimento dos
sintetizadores, Stockhausen começa a dispensar as práticas antigas e o estúdio,
passando a apresentar a sua música ao vivo e com a presença dos novos artifícios
eletrônicos.

A vida pessoal de Stockhausen foi marcada por episódios trágicos de guerras


durante a primeira metade do século XX. É possível encontrar diversas referências
de seu contexto em suas obras contemporâneas. Stockhausen lidou com as
dificuldades pré-guerra e tempos de conflito ainda criança, causando-lhe fortes
traumas. Seu pai, um professor da escola, se alistou voluntariamente no exército e
morreu no campo de batalha. Sua mãe foi internada em um hospital psiquiátrico e
executada em 1941 por ordem do governo nacional-socialista.

Movimento artístico musical

Estilo do artista
As músicas de Stockhausen revolucionaram a percepção de ritmo, harmonia e
melodia. Suas canções causam perturbação e são completamente fora dos
padrões. Não é possível ter uma percepção clara de andamento e padrão rítmico
em suas obras, pois o principal ponto abordado por esse artista é a fuga dos
padrões harmônicos em prol da ressignificação do que é música, conceito que se
torna cada vez mais relativo nos tempos contemporâneos.
Stockhausen trabalhou com a ideia da música serial. A técnica consiste na
enumeração de notas que serão trabalhadas em sequência, o que poderá culminar
na obra de Stockhausen uma tendência dodecafônica, ao explorar todas as 12
notas musicais possíveis. Sua música também era do tipo intuitiva, ou seja, não há
nota fixa, pois o artista vai gerando sua composição a partir da inspiração dos
músicos e a partir de sua intuição.

De um modo geral, a música produzida por Stockhausen possui muita liberdade


formal, tanto na composição quanto na interpretação da mesma, o que torna sua
estética extremamente alternativa. Ao experimentar a sonoridade da música
eletrônica, Stockhausen usa combinações entre instrumentos convencionais e não
convencionais, explorando os sons de objetos que não se configuram
tradicionalmente como um instrumento musical. É o que ocorre na obra “Quarteto
de cordas com helicópteros”, trazendo a sonoridade de uma máquina junto à uma
formação instrumental barroca de música de concerto.

Música de Vanguarda
A música contemporânea surgiu após o movimento impressionista e gerou
algumas tendências abrangentes, já que a liberdade formal era um de seus
pontos-chave, não havendo limitações criativas. Dentro das heranças
contemporâneas que temos até os dias atuais, estão a música de vanguarda e as
tendências neoclássicas e neorromânticas que também surgem no período do
século XX.

A tendência que permeiou a vida de Stockhausen foi a música de vanguarda,


tendo como principal característica o experimentalismo, o que gerou liberdade de
criação de sons eletrônicos e diversas outras inovações. A música de vanguarda
teve inúmeras vertentes e diversas obras polêmicas devido aos novos moldes
sociais que ao mesmo tempo em que se ganhava liberdade, ainda era um cenário
extremamente conservador.

A matemática passou a fazer parte da obra de muitos músicos. O serialismo


integral é um movimento particular que confirma a racionalidade presente nessas
obras, pois está embasado na alocação e uso serial de timbres, durações, alturas
e intensidades sonoras, com o intuito de fazer uma peça "matematicamente
perfeita" em todos os sentidos.

Dentre os estilos que a música de vanguarda aborda, tem-se:

 Serialismo integral
 Música concreta
 Minimalismo
 Música eletrônica
 Música pontilhista
 Música aleatória
 Música Microtonal
As músicas eletrônica, a microtonal, a aleatória e o serialismo integral são
marcantes na obra “Quarteto de cordas com helicópteros”, revelando as raízes do
trabalho de Stockhausen, que explorou com diversidade o universo de sua época
artística.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados na obra “Quarteto de cordas com helicópteros” são 2


violinos, um violoncelo e uma viola. Essa formação instrumental é extremamente
tradicional, por isso Stockhausen irá inovar a sua musicalidade, trazendo o som
das hélices e turbinas de um helicóptero como parte da obra.

Características dos instrumentos

 Violino: instrumento de corda friccionada e com sonoridade aguda


 Violoncelo: instrumento de corda geralmente tocado com um arco. Possui
sonoridade mais grave que o violino e a viola.
 Viola: Instrumento de corda pertencente à família do violino. Sua
sonoridade é mais encorpada, menos estridente e mais grave que o violino.

Características técnicas musicais

A obra “Quarteto de cordas com helicópteros” possui melodia e harmonia


extremamente difíceis de serem reconhecidas. Pelo fato de Stockhausen fugir dos
padrões harmônicos, cabe dizer que a sua obra não chega a possuir os conceitos
de harmonia e de textura musical, já que em ambos os aspectos, considera-se o
encadeamento de notas e melodias, o que não se faz possível nessa obra.

A obra é organizada em momentos e possui forma circular. Ela começa e termina


em um ciclo que consiste na decolagem do helicóptero e em sua aterrissagem.
Essa ideia se reflete na composição da partitura da música, que sofrerá uma
inversão entre os momentos antagônicos da decolagem e do pouso, portanto a
sonoridade assumida no pouso é o contrário da executada na decolagem. Entre os
momentos que definem a obra, o que determina a sua transição é a mudança de
altitude do helicóptero, que altera a frequência em suas hélices, que dependem
também da sua movimentação e da velocidade. Stockhausen pensou em todos
esses aspectos e se manteve atento à condução dos helicópteros.

A criação da peça se deu por meio de dois processos:

 A decomposição do som: o som original dos helicópteros é literalmente


desmontado e feito eletronicamente. Esse único som é isolado no
computador, funcionando como uma espécie de amostra musical (sample).
A ideia do quarteto de cordas é decompor as frequências advindas do
helicóptero até que elas se unam ao ruído emitido pela hélice.
 A igualdade do tom: a mesma nota musical é tocada por todos os
instrumentistas e unida ao ruído da hélice. É uma transição contínua das
formas, sabendo-se que a sonoridade musical sai de ondas periódicas para
ondas mais e menos aperiódicas.

Qualquer som constante pode ser transformado em ruído por meio de recursos
eletrônicos. Esse processo e o conhecimento desse fenômeno permitiram ao
Stockhausen estabelecer os limites de audição entre o quarteto e o helicóptero, e
em seguida transcender todo o conjunto como uma unidade, fazendo com que
uma coisa se misture sonoramente à outra. A própria forma de execução dos
instrumentos na obra demonstra a intenção de Stockhausen em misturar a
musicalidade do quarteto de cordas ao som emitido pela hélice e aparelhagem do
helicóptero. Portanto, percebe-se que o ponto de inovação de Stockhausen não se
dá apenas na ideia dos helicópteros, mas também no modo de tocar instrumentos
tradicionais da música de concerto.

Durante o voo, o ruído das hélices nas diferentes altitudes passa a ser entendido
como música, e não o que o quarteto de cordas está tocando, demonstrando o
protagonismo intencionado de Stockhausen em cima da presença sonora do
helicóptero, posto em primeiro plano em relação à música do quarteto. A mudança
de altitude faz com que a frequência emitida pelas hélices fique mais aguda ou
mais grave, e com isso Stockhausen consegue trabalhar uma ideia melódica em
cima da sonoridade vinda dos helicópteros.

Os instrumentos do quarteto não produzem nenhuma melodia reconhecível. Eles


produzem tecnicamente vibrações e tremulações nas cordas em alturas
determinadas pela partitura. A sonoridade dos instrumentos ressoa como se
sofresse uma certa defasagem em relação às frequências mais potentes emitidas
pelo helicóptero. Stockhausen utiliza os instrumentos tradicionais como forma de
buscar sons no limite da audibilidade, com a intenção de incomodar e provocar o
ouvinte. Em cima desse incômodo, há uma compensação que o compositor busca
levar ao ouvinte por meio da ressignificação do que é música, atribuindo uma
responsabilidade maior de composição em cima dos helicópteros do que no
quarteto de cordas tradicionalmente visto como uma formação extremamente
harmônica. A ideia de Stockhausen é que o ruído do helicóptero passe a ser
ouvido como música e se coloque em 1° plano dentro da sintonia da obra.

A base musical da obra se concentra na combinação de ritmos, sons, movimentos,


e presença cênica do grupo. Podemos dizer que a obra é um conjunto de música
de câmara, que é uma espécie de música erudita composta para um pequeno
grupo de instrumentos que podiam acomodar-se nas câmaras de palácios, porém,
totalmente utilizada fora do contexto tradicional. Essa composição é uma operação
de risco, já que os músicos que estão dentro dos helicópteros, de certa forma,
correm riscos, ainda mais pela situação de execução musical em uma situação
fora do contexto natural. Os instrumentos tocados em pleno vôo possuem
limitações e dificuldades para executar as técnicas propostas por Stockhausen,
que buscou desafiar a usabilidade desses instrumentos e os coloca em cena de
modo que eles é que devem se adaptar ao cenário dos helicópteros, e não o
contrário.

A peça tem 3 dimensões essenciais:

 Pesquisa sonora formal em direção ao universo de ressonância microtonal


e micromodulatório. Isso quer dizer que Stockhausen não trabalha somente
com as notas musicais conhecidas, e sim com os microtons existentes entre
as notas, trabalhados de maneira vibrada para causar a sonoridade
experimental e a sensibilidade auditiva propostas pelo compositor.
 Formulação de uma imagem espetacular do voo: a obra tem uma parte
estética e visual por meio da representação dos instrumentistas no ato
inusitado proposto por Stockhausen, o que reforça a ideia da performance.
Stock viu o poderio bélico e as transformações do século XX refletidas
nessa imagem do voo enquanto exercício de guerra e demonstração de
poder bélico e cultural.
 Fusão dos meios de expressão enquanto uma solução estética, no desafio
que é colocado pelos compositores de vanguarda da segunda metade do
século XX e início do XXI.

Contexto Histórico

A música de vanguarda do século XX foi a principal influenciadora da obra de


Stockhausen, tanto no conceito quanto na técnica. No entanto, é no contexto de
virada de século em que a obra de Stockhausen se enquadra, já que o ano de
apresentação da obra é o de 1995. Nesse período, o mundo vivia os reflexos de
todo o comportamento adotado ao longo do século XX, marcado por guerras,
inovações ideológicas, como o que ocorreu com as vanguardas, e avanços
tecnológicos, que possibilitaram interferências no fazer artístico. A virada dos
séculos ainda teve, no período da década de 90, conflitos, como a Guerra do
Golfo. Também houve a queda da URSS, que entrou em colapso e declarou o fim
da Guerra Fria. A democracia se encontrava cada vez mais consolidada, junto à
globalização e capitalismo global. Referências tecnológicas deste período entram
como ponto-chave na compreensão da obra “Quarteto de cordas com
helicópteros”, visto que a sua execução conta com diversos aparatos eletrônicos.
Foi no contexto da obra de Stockhausen que surgem coisas como internet, DVD e
e-mail, o início de uma era tecnológica.

Seu Estrelo e o fuá do terreiro

Origem da manifestação popular

Brasília e o Distrito Federal são uma síntese do Brasil, um verdadeiro mosaico


cultural. Para além dos sonhos de JK, a cidade foi construída por histórias únicas
que formaram o que a cidade é hoje. É aí que entra o Seu Estrelo e o fuá do
terreiro. Há mais ou menos 15 anos, surgiu um grupo com a pretensão de criar
uma brincadeira com os elementos da cidade de Brasília. Brincadeira essa que
permeia as diferentes formas de expressar a arte, como o teatro, a dança, a
música e o conto.

A intenção de criar uma tradição e identidade cultural candanga começou a partir


de um incômodo de Tico Magalhães, criador do Mito do calango voador. Tico,
recém chegado de Recife, onde frequentou grupos de maracatu, recebia convites
para dar oficinas da tradição pernambucana em Brasília, no entanto, havia um
sentimento de que as raízes da tradição pernambucana pulsavam longe demais do
planalto central. Tico sentia falta de uma brincadeira que tivesse elementos e fatos
referentes à história e ao ambiente candango.
O grupo inventou seu próprio mito do Calango Voador e leva, em suas
apresentações e festivais, elementos do cerrado para o imaginário popular. Criou
também um som próprio, uma batida de tambor batizada pelo grupo de “Samba
Pisado”.

O mito do calango voador é dividido em 3 partes: a primeira conta sobre o


surgimento do mundo, a segunda, sobre o surgimento do Calango Voador e a
terceira é sobre o surgimento de Brasília. Se quiser conhecer mais sobre a
tradição, veja o vídeo a seguir:

Sobre o seu Estrelo e o fuá do terreiro

O Seu Estrelo está relacionado à cultura popular e local. Tanto a valorização do


terreiro, onde ocorrem as "brincadeiras", quanto da valorização dos elementos
candangos.

A valorização dos elementos culturais pode ser vista, por exemplo, nos
personagens. Cada personagem é uma representação de alguma figura
relacionada a construção cultural de Brasília, sendo sagrado e possuindo sua
própria história.

Desde o início, foi pensada a necessidade de compartilhar a manifestação para


todos os brasilienses, por isso eles não se limitam às apresentações, realizam
também: oficinas diversas; o Festival Brasília de Cultura Popular; o Festival de
Teatro de Terreiro e a Caravana Seu Estrelo.

Influências

Apesar de já existirem grupos tradicionais em Brasília, como o de Seu Teodoro,


que trouxe do Maranhão a brincadeira do Bumba Meu Boi e o de Seu Eli, que de
Minas Gerais trouxe a Congada, o Seu Estrelo vem em 2004, a partir da grande
necessidade de criar uma brincadeira que tivesse efetivamente maior ligação com
a cidade. Vale destacar as influências do maracatu presentes nas manifestações
do Seu Estrelo.

Valor histórico, social e cultural.

Seu Estrelo e o fuá do terreiro já recebeu o prêmio de Culturas Populares e


reconhecimento nacional como Ponto de Cultura pelo programa Cultura Viva, do
Ministério da Cultura (2009). Receberam, ainda, o prêmio Funarte Teatro de Rua e
recentemente, no ano de 2017, foram contemplados pelo FAC em seu projeto de
Manutenção de Grupo. Gravaram um CD com sua sonoridade feita especialmente
para a capital do Brasil e já se apresentaram em diversas cidades do país, levando
a batida do samba pisado para além das fronteiras de Brasília.

Atualmente, as atividades do grupo acontecem no centro tradicional de invenção


cultural, localizado na Asa Sul.
O Samba Pisado

Por conta do novo mito e das novas figuras, surge a necessidade de uma nova
sonoridade que converse com a manifestação.

Criou-se o Samba Pisado, dança e ritmo musical com raízes fortes retiradas do
maracatu, original de Pernambuco, em que os instrumentos como os tambores e a
caixa são tocados em um braço só, por tradição.

Samba pisado, foto por Caio Uchôa.

A sonoridade está ligada ao maracatu rural e uma pulsada baseada em uma célula
rítmica extraída do som da pisada dos brincantes do cavalo marinho ao fazerem o
mergulhão, uma brincadeira de aquecimento antes de entrarem na roda.

Há 16 integrantes do grupo, nove são batuqueiros

Instrumentos
- Caracaxá: Um tipo de chocalho feito de lata. Utilizado para marcar o compasso;

- Gonguê: Instrumento de percussão: uma espécie de sino com a boca achatada


feito de metal que é percutida com um pedaço de ferro;

- Tambor: Instrumento de percussão, é um tipo de membranofone;

- Abes: Conhecido como xequerê, é um instrumento musical de percussão,


consiste de uma cabaça seca, um fruto seco recortado em uma das extremidades
e envolta por uma rede.

Elevação mental

Comentários sobre a música

Triz compôs a música “Elevação Mental”, que traz na letra o ativismo da causa
LGBT. Em suas falas:

“A inspiração para a criação da letra foi movida pela tristeza de saber que ainda
existem pessoas tão arrogantes, intolerantes e ignorantes sobre o assunto. Tentei
através dos versos falar de uma maneira curta e direta como é a vivência de uma
pessoa que está inserida no meio, abordando temas pesados e tristes sobre a
realidade de pessoas como nós que são diariamente marginalizadas, esquecidas e
humilhadas”.

O foco do refrão é mais harmônico, melódico e sensitivo, para comover as pessoas


e tocar em seus corações, trazendo mais respeito, empatia e amor. Há um apelo
no sentido de conscientizar que as pessoas do do grupo LGBTQ+ merecem
respeito e dignidade.

Ainda nas palavras do artista:


“O rap de fato é um estilo que é extremamente machista e intolerante,
principalmente raps americanos, é muito difícil ver pessoas LGBT fazendo rap, e
as poucas que existem que fazem esse tipo de conteúdo não tem tanta visibilidade
nas grandes mídias. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de ousar, gosto de invadir
espaços nos quais disseram que eu não poderia fazer parte, pra mostrar
justamente que eu posso sim, tenho capacidade, inteligência e auto suficiência pra
estar aonde eu quiser e fazer absolutamente tudo que um homem hétero cis pode
fazer no cenário da música”.

“A ideia é justamente mostrar que pessoas como eu são inteligentes sim, são
talentosas sim, e podem fazer tudo que quiserem e desempenhar qualquer papel
que quiserem simplesmente porque temos capacidade e porque podemos fazer
isso, com qualidade e inteligência. Nossas capacidades não estão restritas a
nossas orientações ou aos nossos gêneros e qualquer um que tenha um pingo de
sanidade conseguirá enxergar isso”.

Na letra, existe uma forte crítica às formas de preconceito existentes, o artista traz,
inclusive, o dado de que o Brasil é o país em que mais pessoas transsexuais
morrem assassinadas, o que se torna inaceitável em um contexto contemporâneo,
em que os meios de acesso à informação são cada vez mais acessíveis. O
primeiro clipe da música de Triz foi gravado por meio de um celular e divulgado no
YouTube, revelando a necessidade do artista em expor seu apelo por meio do
RAP. Posteriormente, foi regravado utilizando recursos audiovisuais mais
complexos.

Sobre Triz Rutzats

Triz Rutzats nasceu no bairro Pedreira, em São Paulo. Em sua carreira artística
mostra com sua voz a força de suas rimas para a causa LGBTQ+. Ganhou
popularidade após o lançamento de “Elevação Mental” em 2017.

Triz identifica-se como transgênero não binário, e por isso prefere a utilização de
pronomes neutros. Suas canções misturam a juventude dos ritmos urbanos com a
tradição da canção brasileira, e as influências vão de Sabotage a Cartola, de Bob
Marley a Elis Regina, passando por diversos gêneros e estilos. Na canção
analisada há forte influência da MPB, apesar de ser um RAP.

Instrumentos

 Teclado sintetizante: instrumento de tecla, pode ser utilizado para emitir


sons de outros instrumentos artificialmente;
 Violão: instrumento de cordas;
 Baixo: instrumento de cordas que emite sonoridades mais graves;
 Programação de bateria: instrumento de percussão;
 Piano: instrumento de cordas percussivas.

Contexto histórico

A obra musical “Elevação Mental” foi lançada em 2017, período em que a luta
contra a LGBTFobia estava crescendo cada vez mais diante de um contexto
violento e de atrasos sociais.
O Brasil possui um alto índice de assassinatos de pessoas LGBT por crimes de
ódio. Mesmo São Paulo possuindo a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo,
somente no ano de 2017, segundo dados do Grupo Gay da Bahia, atingiu-se o
recorde de 445 pessoas LGBT assassinadas no Brasil, e isso dá mais de uma
pessoa assassinada por dia ao longo do ano, fora os casos não registrados ou
omitidos.

Além de lidar com o preconceito diário, pessoas desses grupos precisam enfrentar
fatos políticos que colocam o Brasil em posição de extremo atraso frente ao tema
da homossexualidade: em 2017, um juiz federal providenciou que psicólogos
oferecessem a terapia de reversão sexual, conhecida como “cura gay”, prática
proibida pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1999. Mesmo com a decisão
sendo suspensa pelo STF, esse tema ainda é discutido.

Soma-se a isso uma patrulha dos setores mais conservadores que lutam para que
as discussões acerca das questões de gênero e de sexualidade não ocorram no
âmbito escolar ou cultural.

Artistas como Triz estão se posicionando nas mídias, questionando as estatísticas


absurdas e o preconceito existente em pleno século XXI. O meio digital possibilita
que essas pessoas, cada vez mais, possam se posicionar e defender seus direitos.

Obras como “Elevação Mental” trazem à tona questões que envolvem a


sexualidade, o preconceito e a representatividade de grupos marginalizados e
excluídos socialmente e artisticamente. Redes sociais proporcionam liberdade no
sentido de dar voz a pessoas que, assim como Triz, precisaram enfrentar muitas
barreiras sociais para serem aceitas.

Ilumina o mundo

Comentários sobre a música

A letra da música, e em especial o vídeoclipe, busca trazer reflexão sobre


contextos de depressão, tristeza, dificuldades da vida e suicídio. O objetivo da letra
é mostrar que em meio a esses sentimentos, pode-se encontrar uma solução, uma
luz no fim do túnel, assim como é retratado em:

“Abra suas portas, deixe a paz entrar; Solte o seu medo dessa solidão; Não
demora muito tudo se acertar”

O vídeo começa com um garoto chegando em casa chamando pela mãe, ele só
encontra a sua carta de despedida. A vida desse menino é retratada em meio a
desilusões amorosas e até uma quase tentativa de suicídio.

A canção foi criada junto com o rapper Pelé MilFlows, do grupo musical 1Kilo, além
de ter o apoio da instituição CVV (Centro de Valorização da Vida). Essa é uma
instituição com mais de 50 anos, que auxilia pessoas com suporte emocional sem
nenhum custo. O serviço é feito por meio de ligação para o número 188 e tem o
objetivo de reduzir os casos de suicídio do Brasil.

A produção do vídeo foi feita em 2019 pela ASIGLA, e filmada nas cidades de
Porto Alegre e Rio de Janeiro. O roteiro é de Santa Cruz em coparticipação com
Vinicius Barros Gonçalves e Tom Silveira.

Sobre Detonautas

A banda Detonautas Roque Clube, de origem carioca, busca expressão nos estilos
rock, hip-hop e rap. Geralmente, as letras das músicas abordam contextos sociais
e políticos como violência, corrupção, e também relacionamentos amorosos.

Vale citar que o nome da banda é uma homenagem a seu processo de formação,
vem da influência da junção inicial do grupo e das apresentações pela internet, por
isso Detonautas (detonadores + internautas).

O grupo começou em 1997, mas somente em 2002 expandiram com seu primeiro
álbum “Detonautas Roque Clube”, que é o nome completo da banda. O grupo é
composto por Tico Santa Cruz, Renato Rocha, Fábio Brasil, DJ Cleston, Phill e
André Macca.

Instrumentos musicais

Os instrumentos da música “Ilumina o Mundo” da banda Detonautas são: baixo,


guitarras e bateria.

Características dos instrumentos


-Baixo: Instrumento de cordas;
-Guitarra: Instrumento de cordas;
-Bateria: Instrumento de percussão.

Características técnicas musicais

A música possui influência do Rap. Isso fica claro em alguns momentos em que a
música é falada, e em outros, quando mais de uma voz está presente na canção.

Há também bastante utilização da guitarra e representação da percussão e


bateria, em que se percebe a influência do rock alternativo, estilo musical original
da banda. O arranjo e a letra possuem tom afetivo pela temática abordada na
música.

Contexto histórico

A música foi lançada em 2019, em um contexto contemporâneo, em que as taxas


de suicídio crescem a cada dia no Brasil. Segundo o site do Ministério da Saúde:
“Entre 2007 e 2016, foram registrados no Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) 106.374 óbitos por suicídio. Em 2016, a taxa chegou a 5,8 por
100 mil habitantes, com a notificação de 11.433 mortes por essa causa.”
Esses números são extremamente preocupantes, a canção “Ilumina o Mundo” tem
a perspectiva de alertar sobre o suicídio e prevenir.

Me deixe mudo

Comentários sobre a música

Aquilo que para Walter Franco era um sonho de expressividade musical, para uma
parte das pessoas que escutaram foi considerada como pesadelo. Pode ser pelo
fato de o público ter tido dificuldade em relação à música.

A letra expressa uma forma de transporte não verbal, ou seja, possui a extensão
de um instrumento, por isso depara-se com uma reflexão de “mente quieta” ou
vazia de pensamentos.

Na letra há uma escolha do tempo verbal imperativo afirmativo que rege os outros
verbos: seja o avesso, seja a metade, fique à vontade. É possível que os
comandos dos verbos no imperativo sejam uma referência ao regime militar, que
impôs censura aos artistas, “fique calada”, “não diga nada”.

A própria obra configura-se como uma resposta a esses comandos, já que “Me
deixe mudo” é a música com maior registro de silêncios no Brasil. No entanto, essa
é uma característica marcante em várias obras de Walter.

Na música do artista, valoriza-se a palavra e suas combinações, o som e o


silêncio. Por adquirir um estilo à poesia concreta, sua música foge das iguais
canções que se baseiam em refrões e melodias circulares. A obra é feita de forma
progressiva e pode ser dividida em três partes, sendo difícil dizer exatamente
quando uma parte termina e quando a outra começa, ou seja, essa distinção de
partes não é clara, mas existe.

A primeira parte da obra é marcada pelo som em contraste com o silêncio.


Aparentemente, as poucas notas musicais se fundem com sons semelhantes aos
fonemas das vogais.

Na segunda parte, o violão começa a produzir os acordes, e o silêncio começa a


ser preenchido pelo som. Os fonemas começam a formar algumas palavras e,
posteriormente, frases. A segunda parte da música funciona como uma espécie de
clímax musical.

Na terceira parte há uma desaceleração, a música vai parando aos poucos. No


final, é como se a música voltasse para o ponto de onde começou, em que há
mais silêncio do que som.

Sobre Walter Franco


Walter Rosciano Franco é um dos mais renomados, vanguardistas e geniais
compositores brasileiros da década de 70, um dos primeiros a fazer música
concreta no país, sua música não se encaixa em nenhum gênero musical.

Foi cantor, compositor e também vice-presidente da Abramus - Associação


Brasileira de Música e Artes, sociedade de recolhimento de direitos autorais filiada
ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

Não participou de nenhum movimento musical como a bossa nova ou o


tropicalismo, mas sempre esteve na vanguarda, em vários momentos de sua
carreira.

Até mesmo em uma época de maiores liberdades poéticas e musicais era


desafiador entender Walter e o que ele queria passar com suas músicas. Suas
composições possuem poucas palavras, e essas palavras ganham novos
significados nas repetições, possuindo caráter experimental marcante. Walter
morreu em outubro de 2019, após um AVC.

Concretismo

A obra de Walter possui inspiração na poesia concreta, por isso vamos pontuar
algumas características desse movimento. O concretismo foi criado por artistas
que estavam cansados da arte figurativa.

Exploraram a linguagem do abstracionismo geométrico, tanto para a música,


quanto para poesia e artes plásticas. Não há preocupação com o tema, a
prioridade é sempre a ideia de criar um conteúdo diferente e uma linguagem nova,
explorando novas formas.

Muitas obras do concretismo se apresentam como colagens de frases ou timbres


sobrepostos, revelando um caráter extremamente experimental. A obra de Walter
Franco possui influências da poesia concretista, no entanto sua música não é
classificada como música concreta.

Instrumentos

A música é composta de voz e violão.

 Violão: Instrumento de cordas dedilhadas.

Características técnicas musicais

Uma característica marcante dessa obra é que não é possível definir um gênero
específico, há elementos de aproximação com a música experimental e o MPB. A
estrutura é complexa, e a textura, homofônica. Vale destacar que em alguns
momentos não é possível identificar a textura homofônica da música, isso por
conta da complexidade da canção. A música pode ser considerada como
pertencente ao estilo da música marginal.
Contexto histórico

Ditadura militar e anos 70


A obra musical “Me deixe mudo” foi publicada em 1973, perpassando o contexto
da ditadura militar. Iniciado em 1964 por meio de um golpe militar, o regime se
instalou por 21 anos no país e tomou uma série de medidas que culminaram em
reações drásticas, promovendo confrontos sociais com o governo.

Durante esse período, a mídia e todas as expressões de arte que não fossem
aprovadas pelo governo eram censuradas e a imposição dos ideais militaristas
bloqueou a liberdade de expressão da sociedade. Atos de tortura também foram
praticados em caso de oposição ao sistema, o qual era propagandeado de forma
alienadora por meio dos veículos de comunicação.

Uma das grandes atrações dos anos 70 foram os festivais de música, que atraíram
muitos artistas e um grande público. Nesses festivais surgiram movimentos como o
Tropicalismo e grandes nomes da MPB. Walter Franco participou de um dos
festivais de música com uma obra intitulada “Cabeça”, o júri estava tendencioso
para conceder o prêmio de melhor canção para essa obra de Walter, no entanto, o
público não reagiu bem à composição, a obra foi mal compreendida pelas massas.

Uma das juradas, Nara Leão, acabou dando uma entrevista que desagradou os
militares. Diante disso, o júri inicial foi desfeito, e os novos jurados concederam o
prêmio para outro artista.

Não recomendado
Comentários sobre a letra
A música Não Recomendado carrega discurso político que potencializa as
minorias e o indivíduo homossexual marginalizado. Utilizando da ironia, a música
diz que essas pessoas não são recomendadas para a sociedade. Mencionando
a "tarja de conforto no meu corpo" para dizer que essas pessoas, por outro lado,
são felizes e legítimas para enfrentar a marginalização que a sociedade as impõe.

Caio Prado, compositor, inicia a canção com uma denúncia à exposição das
minorias marginalizadas nos principais meios de comunicação, que utilizam
manchetes sensacionalistas com o intuito de alertar a população sobre os perigos
aos quais estão sendo expostas. Esses “perigos” são representados pela liberdade
de gênero e sexualidade.
No refrão, infere-se que o "não recomendado" surge se referindo ao vocabulário
médico, como se as posturas e comportamentos homossexuais fossem uma
espécie de doença. Há, também, a utilização da palavra "censura" e censura-se
somente o que não é permitido ser visto. Tudo isso vem como retrato da falta de
espaço e da marginalização desses grupos em nossa sociedade.

Na estrofe após o primeiro refrão, podemos ver uma série de adjetivos que
atribuem valores negativos ao referido personagem. Personagem constantemente
julgado, examinado, avaliado e caracterizado como ruim pela sociedade
preconceituosa, machista e homofóbica.

Por fim, reiterando a rejeição aos LGBTQ+, a canção apresenta algumas atitudes
que devem ser tomadas pelas pessoas diante da exposição às aberrações: “não
olhe nos seus olhos”, “não beba do seu copo”, legitimando a discriminação.

Sobre o trio Não Recomendados

O grupo Não Recomendados compõe o cenário underground da música brasileira.


Caio Prado, Daniel Chaudon e Diego Moraes trazem engajamento na luta pela
visibilidade, manutenção e garantias de direitos para a população LGBTQ+.

Tudo começou em 2014, em um bar chamado Espetinho Primo Luiz, em


Piracicaba, São Paulo. A plateia era composta por senhoras que gostavam de
frequentar o lugar pitoresco e o trabalho dos rapazes foi vendido como “O show de
três cantores e suas improvisações”. Na hora marcada, o grupo entrou em cena,
salto alto, roupas femininas e maquiagem. Foi um sucesso!

São inspirados por Cazuza, Gilberto Gil, Chico Buarque e tudo aquilo que há de
transgressor na música brasileira. Para eles, é importante fazer da música
potência ativa para buscar reflexões e superar paradigmas da sociedade. O grupo
usa sua arte para provocar a platéia para reflexões acerca das questões de
gênero.

Em seus shows, o trio tentou quebrar preconceitos e dar voz a fatia marginalizada
da sociedade se apresentando com vestes consideradas femininas. Passaram por
vários estados do Brasil e chegaram a dividir palco com Ney Matogrosso.
Atualmente, os integrantes do grupo seguem carreira solo.

Instrumentos

A musicalização underground do trio carrega mensagens de protesto. Além da


grande utilização de recursos eletrônicos da contemporaneidade para compor a
melodia, como a utilização de bateria eletrônica e mixagem. Não recomendados
pode ser considerada do gênero pop brasileiro.

Características dos instrumentos

 Teclados: Instrumento de teclas/cordas.


 Guitarra: Instrumento de cordas.
 Bateria eletrônica: Instrumento de percussão.
 Mixer: Instrumento musical de formato analógico ou digital que serve para
combinar várias fontes de som.

Contexto histórico

A música foi lançada em 2014. No momento, vivemos um contexto pós


globalização, com uma sociedade marcada por inquestionáveis avanços, sejam
eles tecnológicos, sociais ou antropológicos.

Em 2011, um marco importante para a comunidade LGBTQ+ foi o reconhecimento


da união estável para casais homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal.
Porém, ainda vemos uma sociedade com resquícios de uma formação social
conturbada.

Não só no Brasil como em todo o mundo, reproduz-se posicionamentos que


favorecem a manutenção de estereótipos socialmente compartilhados e
arraigados, o que gera a marginalização de determinados grupos sociais.

Os LGBTQ+ são um dos grupos que mais têm sofrido com essa marginalização
como citado acima. Diversos são os movimentos e lutas para que estes tenham
visibilidade, voz e garantia de direitos.

Gradativamente, as conquistas por mais direitos e maior visibilidade de grupos


excluídos historicamente tem crescido. Grupos que antigamente não tinham o
direito de se expressar livremente, podem utilizar dos recursos de mídias sociais
para ganharem voz em meio ao mundo contemporâneo.

A arte é e sempre foi um meio de posicionamento crítico, a música “Não


recomendado” reflete esse aspecto.

Muitos outros artistas contemporâneos estão roubando a cena no cenário musical


brasileiro, todos desafiando padrões e regras de gênero pré-estabelecidas,
podemos citar Liniker, Pabllo Vitar, Gloria Groove, Jaloo e o grupo Não
recomendados.

O real resiste

Comentários sobre a letra

A música “O real resiste” é a faixa que dá nome ao mais novo álbum de Arnaldo
Antunes, lançado em 2019.

A música é usada para abordar temas políticos como uma forma de


posicionamento e resistência. Ela traz o questionamento sobre um contexto
político totalmente atual e problematiza a naturalização de posicionamentos
autoritários, preconceitos e censuradores, assim como é abordado nos trechos:
“Autoritarismo não existe, Sectarismo não existe, Xenofobia não existe, Fanatismo
não existe” e mostra que, diante desse contexto em que é propagada uma visão
desacreditada de problemas sociais, é preciso entender que todas essas questões
estão presentes na sociedade e é preciso se manter em constante resistência,
como observa-se no trecho: “o real resiste”.

A canção fala também sobre o questionamento se há fundamentalistas, milicianos,


terraplanistas, torturadores, elementos que aparentemente remetem a um passado
difícil da história do país, a ditadura militar, mas que intrinsecamente estão sendo
retomados, às vezes sutilmente, na conjuntura atual. Inclusive, em novembro, uma
edição de um programa de tv estatal foi suspenso por ter o conteúdo do videoclipe
da música, o que mostra um caráter de censura presente no governo atual.

Além disso, o fato de dizer que muitas coisas, como desmatamento e homofobia,
não existem traz a crítica à perspectiva de descaso com relação a muitos desses
debates, os quais são essenciais na luta contra a marginalização de grupos sociais
e pela sustentabilidade da natureza e do planeta.

Sobre Arnaldo Antunes

Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho é paulista e nasceu em 1960. Desde muito
novo passou a ter interesse pela arte, seja na linguagem quanto na música.

No início da carreira musical, fez parte do grupo Titãs, mas depois entrou no trio
dos Tribalistas, o qual marcou ainda mais o seu reconhecimento nacional. O grupo
formado por ele, Marisa Monte e Carlinhos Brown repercutiu bastante, e em 2003
ganharam o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro.

De fato, o artista teve uma longa jornada na arte, além de músico é também poeta
e compositor. Sua trajetória começou ainda com uma publicação na época da
escola, depois foi para a faculdade de Letras e mesmo depois, tendo entrado para
a música, continuou produzindo paralelamente na literatura e em livros de poesia.

Chegando perto dos 60 anos, produziu um novo trabalho musical, que retrata,
tanto no álbum, e mais especificamente na música “o real resiste”, uma crítica ao
Governo Federal em vigência e seus posicionamentos em relação à cultura,
política, questão ambiental e social. O artista diz que não há mais uma polarização
entre esquerda e direita, mas uma polarização de quem defende a civilidade e
outros que querem fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

Instrumentos musicais

O álbum “O real resiste”, de Arnaldo Antunes, é criado sem nenhum instrumento


musical de origem eletrônica ou de percussão e bateria. As músicas são
compostas apenas por instrumentos de corda (baixo, guitarra, violão de nylon,
violão de aço e violão de 12 cordas) e piano.

Características técnicas musicais

A música traz conceitos sonoros e temáticos em conexão com as outras faixas


(canções) do mesmo álbum.
O gênero musical ainda guarda herança das misturas de gêneros da época pós-
tropicalista, movimento que ocorreu ainda na época da ditadura e que trazia as
temáticas de desesperança, escuridão e solidão desse momento histórico. No
entanto, na música há bastante predomínio do estilo pop, presente na carreira de
Arnaldo Antunes.

A canção alinha os versos que se sobressaem na melodia, isso ocorre pela forma
em que foram colocados no arranjo. Os versos foram valorizados de modo que o
foco principal da música seja dar visibilidade à estrutura poética, inclusive por isso
não há bateria e percussão, para ter uma sonoridade mais enxuta.

Contexto Histórico

O contexto da música é bastante atual e faz referência ao governo atual, de Jair


Messias Bolsonaro.

A música faz referências críticas a posturas tomadas pelo atual presidente, que
normatiza questões como tortura, censura e problemáticas sociais que foram
bastante presentes na época da ditadura militar.

Essa perspectiva é conhecida como um negacionismo histórico, o qual possui um


posicionamento ideológico marcante. Esse aspecto ficou bastante presente logo
no início do governo em 2019, quando o presidente falou sobre uma
“comemoração” dos 55 anos do golpe militar, o qual ocorreu em 1964.

Vale ressaltar que o período militar teve início com a entrada do General Castelo
Branco no poder. Esse golpe tinha por objetivo romper com as mudanças que
estavam sendo propostas no governo de João Goulart por meio das reformas de
base. O regime durou 21 anos e, dentre suas principais características, podemos
citar a criação dos Atos Institucionais, que eram decretos que expandiram os
poderes dos militares, assegurando sua permanência no poder, e restringiam os
direitos individuais.

Dentre as características principais desse período: forte repressão, punição e


prática de tortura para quem fosse contra o governo. Além disso, havia censura a
artistas e jornalistas que demonstrassem, em suas produções, características
contrárias ao sistema ou que expressassem problemas sociais e econômicos do
governo.

Quarteto para o fim dos tempos

Letra

A obra “Quarteto para o fim dos tempos” é instrumental.

Comentários sobre a música

A obra “Quarteto para o fim dos tempos” começou a ser escrita em 1940 pelo
compositor francês Olivier Messiaen, que se encontrava em um campo de
concentração alemão na condição de prisioneiro no período de Segunda Guerra
Mundial. A música foi finalizada em janeiro de 1941 e teve a sua primeira
apresentação dentro do próprio campo de concentração. Em um dia extremamente
frio, os outros prisioneiros se reuniram para ouvir a composição de Messiaen
diante do triste contexto em que viviam.

Devido à religiosidade que Messiaen já possuía, o compositor decidiu se inspirar


em uma passagem bíblica do livro do Apocalipse 10:1-7 para transmitir uma
mensagem. Eis o trecho bíblico:

“E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua
cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como
colunas de fogo; E tinha na sua mão um livrinho aberto. E pôs o seu pé direito
sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; E clamou com grande voz, como quando
ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. E,
quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas
ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o
escrevas.
E o anjo que vi estar sobre o mar e sobre a terra levantou a sua mão ao céu,
E jurou por aquele que vive para todo o sempre, o qual criou o céu e o que nele
há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais
demora;
Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o
segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos.” Apocalipse 10:1-7

Messiaen se apega a essa passagem bíblica devido aos enigmas que a mesma
demonstra. O contexto de medo e de fim dos tempos que o livro de Apocalipse traz
se relaciona diretamente com a mensagem que Messiaen gostaria de transmitir,
pois sendo ele um homem de fé, nunca havia entendido o sentido da guerra,
lamentando a situação mundial daquele período.

A passagem bíblica destacada acima fala sobre a volta de Deus, que será capaz
de consumar todo o mistério da vida e oferecer salvação. O trecho relata que o
Deus que habita todos os lugares, com seu pé direito sobre o mar e o esquerdo
sobre a terra, é onipresente.

Portanto, Messiaen traz a sua mensagem e a sua visão de forma sonora. O


compositor sustentou a ideia de que a arte é a expressão ideal de fé religiosa,
portanto, ele considera seu sentimento religioso como um princípio para estar no
centro de sua arte. Grande parte das obras Messiaen possuem relação com a fé e
com a religião. Vale destacar que existe uma importante relação entre a obra de
Messiaen e a questão da saúde mental. Há uma frase de Friedrich Nietzsche que
diz o seguinte:

“Temos a arte para não morrer da verdade”.

A frase de Nietzsche se relaciona perfeitamente com a obra em questão. A música


do compositor foi feita em um contexto em que a sanidade mental precisava ser
preservada. Messiaen teve a arte e a música como uma forma de suporte diante
daquela situação vivida por ele. Foi fundamental o processo de criação
composicional para que ele pudesse superar aquela experiência, mantendo sua
sanidade mental por meio da arte.
Por conta da veracidade sentimental que a obra transparece, Messiaen se tornou
uma grande referência dentro da música ocidental do século XX. Ao compor a
obra, ele se deparou com alguns problemas de utilização de materiais e
instrumentos por conta da limitação imposta pelo campo de concentração. Ele
utilizou os materiais existentes e buscou formas de fazer arte a partir da
improvisação. Isso explica o porquê de a formação dos instrumentos não ser muito
usual.

A obra é marcada pelo sentimento iminente de morte e terror vivido pelo


compositor e por todos os outros prisioneiros de guerra presentes no campo de
concentração. A composição traz um certo desconforto para o ouvinte.

Sobre Olivier Messiaen

Olivier Messiaen (1908 - 1992) foi um importante compositor francês do século XX.
Tendo vivido em contextos caóticos configurados pelas duas grandes guerras
mundiais, Messiaen se mostrou muito apegado à religião e à fé. Seu movimento
artístico é o modernismo, sendo esse o principal contexto de suas obras musicais.

Em 1939, a França entrou na Segunda Guerra Mundial, e Messiaen foi chamado


para o exército. O compositor sempre se mostrou contra a guerra, por isso, em
1940, foi capturado durante uma ofensiva alemã e levado para o campo de
concentração Stalag VIII A, em Gorlitz (Polônia), onde ficou preso durante 1 ano.
Em posição de prisioneiro de guerra, Messiaen teve seu talento musical
descoberto por um dos oficiais nazistas, que resolveu chamá-lo para se juntar com
os outros instrumentistas que se encontravam no campo de concentração também.
A proposta feita pelo oficial nazista era de que Messiaen compusesse uma obra
para se apresentar algum dia no campo de concentração para os outros
prisioneiros.

Então Messiaen compõe a obra “Quarteto para o fim dos tempos”, inicialmente
escrita para ser tocada em violoncelo, violino e clarineta, sendo esses os únicos
instrumentos disponíveis no campo. Posteriormente, o compositor acrescenta uma
parte para o piano, o qual ele mesmo toca, então de fato, a música pode ser
considerada um quarteto. Quando Messiaen saiu da prisão em 1941, ele foi
nomeado professor de harmonia. Posteriormente, professor de composição no
Conservatório de Paris. Ele compôs diversas obras, muitas delas marcadas por
novos ritmos e por elementos exóticos ou religiosos.

Movimento artístico musical

Modernismo
Diante do âmbito musical, o período modernista representou grandes mudanças
que vinham acontecendo pouco a pouco na sociedade. Surgindo na primeira
metade do século XX, o modernismo possui um caráter extremamente
experimental. Esse movimento propôs um diálogo entre o antigo e o novo,
mostrando que a arte da época precisava estar em sintonia com o espírito de
novidade vivido no século XX.

As composições musicais precisavam de mais inventividade, algumas


características que revelam esse aspecto são: a fusão de elementos musicais, a
liberdade formal, a improvisação e a temática de percepções sensoriais e
abstratas das canções.
Instrumentos

Os instrumentos utilizados na obra “Quarteto para o fim dos tempos” são o violino,
o violoncelo, a clarineta e o piano. Lembrando que inicialmente a obra não foi
executada com piano por conta da falta desse instrumento no campo de
concentração.

Características dos instrumentos

 Violino: instrumento de corda friccionada e com sonoridade mais aguda;


 Violoncelo: instrumento de corda geralmente tocado com um arco. Possui
sonoridade mais grave;
 Clarineta: instrumento de sopro do grupo das madeiras;
 Piano: instrumento de cordas percussivas.

Características técnicas musicais

A obra “Quarteto para o fim dos tempos” pertence ao gênero da música de


câmara do século XX, que foi formada no barroco e pensada para as formações
menores de orquestra, podendo ser tocada em pequenas salas por um grupo
restrito de instrumentistas.

A música revela influências sonoras do canto de pássaros. Para Messiaen, a


linguagem musical humana era limitada a nível criativo, por isso recorre à
natureza, como forma de extrapolar sua criatividade. Messiaen, ao ouvir o canto
dos pássaros, conseguia transcrever com fidelidade suas notas musicais para os
instrumentos. O compositor era um ornitólogo, isto é, possuía grande interesse e
estudava os pássaros.

Durante a maior parte da canção, sua sonoridade se encontra em uma tonalidade


menos, o que a faz parecer triste e melancólica. A mesma sensação acontece
quando ouvimos a sonoridade grave persistente durante a música, que causa um
efeito de introspecção. A obra “Quarteto para o fim dos tempos” traz referências ao
século XX a partir das seguintes características:

 canção livre;
 improvisada;
 prática da experimentação;
 liberdade formal na construção melódica;
 melodias fragmentadas e outras sobrepostas;
 marcação de tempo atípica, sendo difícil marcar e entender as notas.

Dentre os aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos da canção, podemos ver a


ocorrência de ritmos inesperados, longas passagens estáticas e melodia e
harmonia peculiares, além de fazer transições bruscas do grave para o agudo.

No terceiro movimento, por exemplo, ele faz passagens estáticas no solo da


clarineta, que dura 7 min. A clarinetista segura a mesma nota por um longo
período e dá uma sensação de falta de fluidez. A melodia e a harmonia parecem
não combinar e não ter uma boa funcionalidade.
Nos 8 movimentos, ele trabalha com várias permutações dos instrumentos, ou
seja, há momentos em que todo o quarteto participa, outros que são solos de
clarinete, outros para duo de violoncelo e piano e para o trio (violoncelo, violino e
clarineta), sem piano. Messiaen explora diversas combinações possíveis de
acompanhamento entre os instrumentos, revelando caráter experimentalista, típico
do modernismo musical.

A obra possui 8 movimentos, também chamados de andamentos. A estruturação


em oito movimentos se baseia na explicação teológica de que sete é o número da
perfeição, por conta da criação em seis dias santificada pelo sábado divino. O
sétimo movimento mostra o repouso (domingo), que se prolonga na eternidade e
se converte no oitavo, que é o da luz inextinguível e da paz inalterável. Os
andamentos (movimentos) se relacionam com a religião, sendo que os seus
próprios nomes refletem esse aspecto. Veja algumas características dos
movimentos especificados pelo Cebraspe:

1º Movimento - Liturgia de Cristal (logo no início)

Movimento inspirado no canto de um melro-preto e de um rouxinol, pássaros que


cantam de madrugada, improvisando sobre o silêncio da noite. Por isso, nesse
movimento, Messiaen decide improvisar em cima do canto do rouxinol. Do ponto
de vista religioso, o compositor descreve este andamento como sendo o
harmonioso silêncio da noite. O ouvinte pode associar essa característica religiosa
às harmonias do piano e aos harmônicos produzidos pela melodia do violoncelo,
que causam certo desconforto.

6º movimento - Dança do Furor para as 7 trombetas (29’07’’)

É a parte mais característica da obra, em que todos os instrumentos tocam juntos.


Importante ressaltar que não há presença de polifonia, e sim de monofonia, já que
os instrumentos são tocados em uníssono, ou seja, os 4 instrumentos seguem a
mesma linha melódica. A ideia é que eles imitem os gongos e as cornetas do
apocalipse. Em toda a obra, esse é o único movimento que faz alusão ao aspecto
catastrófico do juízo final.

Do ponto de vista teológico, representam as seis trombetas do apocalipse, que


após o seu toque, sucedem-lhes várias catástrofes, uma vez que a sétima
trombeta anuncia o ato consumado do mistério de Deus (de acordo com a
passagem bíblica). A mensagem é direta, enfatizando a fúria sentida quando todos
tocam juntos.

8º movimento - Louvor à imortalidade de Jesus (45’11’’)

O último movimento representa uma profunda meditação religiosa referente à


imortalidade de Jesus Cristo. Esse momento é aquele que transpassou o sétimo
movimento, que é o repouso, e se transformou na paz inextinguível.

O longo solo do violino no seu registro agudo, e a ideia de sinos representada pelo
piano, transcrevem a ressurreição de cristo e a sua ascensão aos Céus.

Contexto histórico
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) se caracterizou como um conflito em
estado total de guerra, que dividiu o mundo entre o lado dos países Aliados e o
lado dos países do Eixo. O conflito teve como estopim a invasão da Polônia pelos
alemães em 1º de setembro de 1939. Desde o fim da Primeira Guerra, a Alemanha
estava sob vigilância, suas atitudes expansionistas eram condenadas, e a invasão
da Polônia trouxe a necessidade de intervenção.

Apesar de ter se iniciado na Europa, a guerra se espalhou rapidamente pela África,


Ásia e Oceania, se dividindo nas seguintes fases:

 Supremacia alemã;
 Equilíbrio entre as forças;
 Derrota dos países do Eixo (entre os quais estava a Alemanha).

Esse conflito ficou marcado por uma série de acontecimentos impactantes, tais
como o Massacre de Katyn, o holocausto, o Massacre de Babi yar e o lançamento
das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. O fim da guerra se deu em
setembro de 1945, quando os japoneses assinaram um documento que
reconhecia sua rendição incondicional aos americanos (os nazistas renderam-se
aos Aliados em maio de 1945).

Holocausto e campos de concentração nazistas

Holocausto é o nome que se dá para o genocídio cometido pelos nazistas no


período da Segunda Guerra. Aproximadamente 6 milhões de pessoas foram
mortas nos campos de concentração, entre essas pessoas estavam os judeus,
homossexuais, deficientes, testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra e
opositores políticos.

O antissemitismo alemão partia da premissa de que a raça alemã era superior e


culpava os judeus por todos os males da sociedade alemã. Os alemães
responsabilizavam os Judeus inclusive pela sua derrota na Primeira Guerra.
Muitas dessas acusações partiam de fundamentos preconceituosos e intolerantes.

O discurso nazista, aliado à doutrinação da sociedade alemã, tornou os judeus


vítimas de intensa perseguição, não só por parte do governo, mas por parte da
própria população.

Os campos de concentração nazistas eram os locais destinados para abrigar e


executar os judeus e as outras vítimas dos alemães. Os prisioneiros eram
explorados, mal alimentados e sofriam todos os tipos de abusos. Durante as
execuções, os condenados iam para as câmaras de gás, onde eram envenenados
com monóxido de carbono.

O objetivo dos nazistas com as mortes em massa nas câmaras de gás era formar
uma sociedade pura, livre de deficientes, homossexuais e judeus.

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