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Os Beatles são um dos maiores fenômenos da história da música pop.

Seus recordes são


louváveis e sua importância para a indústria musical, tão admirável quanto. Com isso em
mente, resolvi ouvir toda sua discografia e adicionar breves comentários sobre seus
trabalhos em estúdio.
Abaixo minha opinião sobre a discografia da minha banda favorita, os Beatles.

1- Please please me (1962)

A simplicidade desse disco é o que torna ele uma estreia tão memorável para a banda.
Na época, os meninos de Liverpool já estavam atingindo um sucesso considerável, e este
LP é a prova disso. Com faixas hits, como "Twist and shout", "Please please me" e "Love
me do", os quatro aqui compõem uma boa vontade de cantar músicas sobre
relacionamentos amorosos que, para ouvintes mais exigentes, podem soar bobas e
inocentes demais.
Bobo e inocente é quem ouve essas 14 músicas sem esboçar a mínima reação de
entusiasmo, acompanhando essa festa contagiante que é a estreia dos Beatles na gravação
e lançamento de discos no começo dos anos 60, com as músicas mais honestas e efetivas
possíveis.
Ao todo, o simples não significa ruim, e o que esse disco entrega de simples, ele entrega
com muito mérito.

2. With the Beatles (1963)


Continuando a tradição de fazer músicas simples para um público fervoroso, este segundo
lançamento da banda inglesa The Beatles segue a fórmula de seu antecessor, "Please
please me", porém com uma leve inferioridade nas canções.
Eu não odiei esse trabalho, do contrário, tem canções que eu gosto bastante, "Please mister
postman", "All i've got to do" e "Roll over Beethoven" são os exemplos principais que a
qualidade é garantida aqui.
Mas senti falta da energia mais espontânea do primeiro álbum, mesmo que este consiga
entreter, ainda sinto que é um álbum um pouco repetitivo.
As faixas cansam um pouco rápido, e a ordem das músicas é pouco inspirada. Mas para um
disco pop/rock, ele se garante muito bem, e entrega o que cumpre.
São os Beatles em sua fase mais domesticada que, para todos os fins, deve sempre ser
lembrada com muito respeito.

3. A hard day's night (1964)

É muito bom revisitar esses Beatles mais simplórios mas nem por isso menos artísticos.
Aqui ainda se vê o conforto em escrever canções sobre amor, mas com um pouco mais de
"swing" como em "I'm happy just to dance with you", ou, o que eu considero uma música
romântica muito acima da média para o som que eles faziam nessa época, que é a
inesquecível "And i love her".
A faixa título deste álbum também é uma das mais icônicas primeiras músicas de um LP,
com seu acorde de violão nos primeiros segundos sendo tão marcante que a torna fácil de
reconhecer, bons artistas cativam o público já nos primeiros segundos de suas
composições.
Óbvio que há músicas mais bobas que distraem um pouco o ouvinte, elas soam um pouco
deslocadas, mas não destroem a experiência, como "Any time at all" e "You can't do that".
Uma que me surpreendeu bastante foi "Things we said today", não recordava de ser tão
legal assim.
No mais, vale cada segundo, contém o melhor dos Beatles "iê iê iê".

4- Beatles for sale (1965)

Neste trabalho, os Beatles visivelmente parecem cansados. Cansados das canções de


amor bobas que outrora eram tão empolgantes. E essa falta de entusiasmo reflete a minha
opinião sobre este álbum. Aqui soa desgastado o que antes parecia a fórmula clara do
sucesso. As canções soam bem orquestradas, mas pouco inspiradas, parecendo que
ouvimos a mesma músicas repetidas vezes por meia hora seguida. Entenda, existem sim
bons momentos nesse projeto, como a faixa de introdução, "No reply" e a que vem logo na
sequência, "I'm a loser ", uma das várias composições depreciativas com uma melodia
alegre de John Lennon, e não uma de suas melhores.
Eu confesso que, se não fosse por músicas legais como "Rock and roll music", "Eight days
a week" e "I don't wanna spoil the party", talvez esse seja, em minha visão, o trabalho mais
sem alma ou personalidade que os Beatles já lançaram. Com um ar de obrigação de ser
gravado e não com o anterior carisma que os outros álbuns apresentam, esse é um ponto
final na fase mais ingênua que o quarteto apresentava. Os Beatles estavam à venda, seus
rostos estavam em todo lugar, e estava na hora de uma mudança radical de sonoridade.

5- Help! (1965)
Logo após o pouco inspirado "Beatles for sale", os Beatles lançaram esse joia rara do seu
repertório. Refletindo um grupo bem diferente daquele que o público conheceu e se
apaixonou, aqui suas canções começam a tomar rumos um tanto diferentes. As tão citadas
músicas sobre relacionamentos continuam lá, mas parecem mais maduras se comparadas
com as anteriores, sempre tão repletas de clichê, adoráveis mas quase ordinárias.
Aqui, a seleção de canções conta com grandes baladas como "The night before", "You like
me too much", "Tell me what you see". As mais românticas, entre elas "I need you", It's only
love" e "I've just seen a face" dão uma experiência mais completa e enriquecida para o
álbum.
"Ticket to ride", uma das minhas favoritas da banda, junto de "Yesterday", o super hit
composto por Paul McCartney, "You've got to hide your love away" e a faixa título para mim
compõe o ápice musical deste quinto álbum de estúdio.
Uma queixa que tenho é com relação a última canção, "Dizzy Miss Lizzy" é extremamente
banal para fechar uma sequência tão louvável de músicas.
É um momento decisivo para os Beatles, demonstrando cada vez mais uma evolução
latente para o público e para a indústria musical, merecendo todo o amor que recebe.

6- Rubber soul (1965)

Nessa ruptura com o tradicional e inocente período "iê iê iê", os Beatles se demonstram
agora não só grandes produtos de uma indústria, mas grandes artistas.
Nunca antes na história da banda tantos assuntos foram retratados de maneira líricamente
mais criativa e com uma sonoridade tão moderna e sofisticada.
Nesse momento os quatro estavam em outro "mood", começando a usar maconha, e dessa
forma, estimulando suas produções. O artista é o que seu tempo é, e aqui, os quatro
mostraram todo o potencial criativo que nunca antes foi explorado.
Esse talvez seja meu trabalho favorito da discografia dos Beatles, pelo simples fator criativo
e, por que não, corajoso de sua seleção de faixas.
A começar por "Drive my car" um rock muito bem pensado e chutando a porta do que havia
de mais óbvio no gênero. Em seguida, a enigmática letra e densa composição de
"Norwegian wood (this bird has flown)" continua o clima inesperado mas instigante do LP.
"Nowhere man" composta por John Lennon, mais uma vez mostra o jovem cantor em suas
letras triste, mas animadas melodicamente falando,além de outra colaboração controversa,
"Run for your life" sequer tocaria hoje em dia por conta de sua letra ácida. "Think for
yourself", de George Harrison, começa a mostrar o talento escondido dentro da banda. Uma
canção que sempre me soou como um aviso, no caso "I'm looking through you", tem o verso
que, traduzido, diz algo como: "você não parece diferente, mas você mudou" (you don't look
different, but you have change.) resume e define para mim perfeitamente qual a experiência
de ouvir esse álbum.
"Girl", de John Lennon, e "Michelle", de Paul McCartney, para mim estão entre as melhores
românticas do grupo, com um quê "sensual" em sua execução. Não podemos esquecer
também da subestimada "If i needed someone" de George Harrison, também na vibe
romântica.
Creio que com exceções, estas sendo "What goes on",única composição de Ringo Starr
neste disco, "You Won't see me" e "Wait", que não são de todo ruim, mas perto das outras,
ficam levemente ofuscadas, mas até as canções mais simples tem uma força sensacional
das baterias de Ringo Starr. Convenhamos, um álbum que tem "In my life", não precisa de
mais justificativas para elogios.
Eu adoro este disco, mudou minha forma de enxergar música e Beatles ao mesmo tempo,
abriu um leque de possibilidades do qual nunca vou e não posso esquecer.
As portas estavam abertas, não, estavam escancaradas para um futuro de composições
sem precedentes.

7- Revolver (1966)
Na sequência de Rubber soul temos Revolver, outra obra prima dos Beatles.
Não satisfeitos em tornar sua sonoridade mais moderna e experimental, neste projeto essa
ideia se intensifica ainda mais. Entregues de vez às gravações em estúdio, e encerrando
uma tradição de turnês, os Beatles agora tinham seus olhos e atenção para o
melhoramento da performance de seus álbuns. Decisão essa, na época polêmica, garantiu
que agora a banda não mais irá compor apenas para um público sedento por
entretenimento de astros pop, mas com um propósito artístico genuíno.
O disco abre com "Taxman", de George Harrison, com guitarras e som mais pesados que o
usual. Na continuação, "Eleanor Rigby", melancólica balada de Paul McCartney estabelece
um clima depressivo mas cativante na sequência de faixas. "I'm only sleeping", com um
ritmo mais lento e letra misteriosa torna a audição inesperada e fascinante. A subestimada
"Love you to", segunda canção de Harrison no disco, usando de instrumentos da música
indiana mostram toda sua visão e talento como compositor.
Revolver é como uma viagem à mente alterada dos quatro nesse período, com um cuidado
e um polimento nunca antes ensaiado pela banda.
O disco segue com belas melodias e cantos, como em "Here, there and everywhere", a
icônica "Yellow submarine" de Ringo Starr, compõe o tom lisérgico empregado no álbum
inteiro.
As pesadas batidas de bateria de Ringo continuam em "She said she said", além de outros
bons momentos da audição, como "Good day sunshine" e "And you bird can sing".
A reta também ótimas canções. "For no one", uma delas, é extremamente subestimada,
talvez por ser curta, mas que diz e fez muito nesse curto espaço de tempo. "Doctor Robert",
"I want to tell you" e "Got to get you into my life" também são ótimas.
Mas é com a última música faixa, "Tomorrow never knows", que essa trip de drogas e boas
músicas se consome numa audição muito psicodélica e única.
Desta vez os Beatles superaram todos os limites, com um álbum diferente que não possui
baixas e brilha de forma intensa em seus momentos de maior apreço. Indispensável para
todos na obra do quarteto e um candidato inegável entre os maiores álbuns da história.

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