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A arte de John Lennon

Agamenon Magalhães Júnior Ensaísta, gramático e educador

Meu primeiro ídolo de juventude foi John Lennon. Eu o conheci através do caminho
mais óbvio: as músicas dos Beatles. Desde cedo, a cada disco comprado ou a cada canção
descoberta, eu ficava fascinado pela criatividade do astro. E o cara fez muita música bonita. A
canção que me arrebatou de vez foi uma do álbum Help!,
Help!, a fantástica “Ticket To Ride”. Nela
John faz mais do que apenas cantar, ele a interpreta de forma magistral. Ao ouvi-la, ainda
hoje, fico arrepiado como naquela primeira vez.
Help! é um álbum emblemático e nele John demonstrou seu poder poético junto com
seu eterno parceiro musical, Paul McCartney. É de John a lírica “You’re Going To Lose That
Girl”, “It’s Only Love” se destaca entre as românticas e “Dizzy Miss Lizzy” revela-nos toda a
agressividade vocal do frontman dos Beatles. Vale lembrar, ainda desse disco, o charme da
música “Tell Me What You See”, em que John faz dueto com McCartney e acompanha a
música com um inusitado instrumento musical: uma tábua de lavar roupa. Esse
experimentalismo o acompanharia por toda a vida.
A história da música moderna passa pelos Beatles. E o conjunto, no auge de seu
esplendor artístico, se valeu do talento dos quatro integrantes. Entretanto, foi John quem deu
alma e sofisticação à banda. Suas composições transbordam poesia, transcendendo à energia,
ao lirismo e ao encantamento da época. Tudo isso comprovado em vários hinos: “Please
Please Me”, “Girl”, “I Feel Fine”, A Day In The Life”, ou “Strawberry Fields Forever”. Quando
os Beatles chegaram ao fim, criou-se uma grande expectativa sobre a produção de John, já
que ele não convencera seus fãs com meia dúzia de músicas conceituais lançadas (em
parceria com Yoko Ono) pelo selo Apple.
Triunfo total: em dezembro de 1970, ele lança o álbum John Lennon/The Plastic Band.Band.
A faixa de abertura, “Mother”, é uma canção reveladora porque mostraria um novo músico,
renovado em sua condição de artista. Um astro que se reinventou, preservando o talento,
exigindo de si um padrão elevado para suas músicas e usando a própria expressão artística
como instrumento de libertação interior. Mais: não só os arranjos, mas também a simbologia
das composições e as letras deveriam ser mais do que criações para satisfazer o mercado
fonográfico, tinham de se transformar em símbolos eternos da inspiração humana. Alguém
poderia imaginar o Natal sem a belíssima “Happy Xmas (War Is Over)”? Pouco provável.
Ex-beatle que mais êxito teve em carreira solo, John criou para a eternidade clássicos:
De “Imagine”, a mais conhecida música do astro, até “Watching The Wheels”, uma
preciosidade digna dos maiores elogios. Por toda a carreira dele, encontram-se sucessos
criados para cada momento importante da vida: “Woman”, “Instant Karma! (We All Shine
On)”, “Cold Turkey”, “Jealous Guy” ou “Mind Games” tornaram-se relampejos geniais de
uma mente em constante produção.
Sempre que desejo materializar a palavra “arte”, coloco alguma obra produzida por
John sobre minha mesa de trabalho, porque é dali que tiro inspiração para entender a
genialidade.

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