Você está na página 1de 4

Yellowfork #6: A Melancolia Hipnotizante de Mr.

Lonely

Depois de um grande hiatos da nossa coluna Yellowfork, dessa vez voltei com a análise
de um dos álbuns que eu mais criei expectativa pro lançamento.
“Mr. Lonely” é o debut do artista alternativo Vetromn, conhecido no cenário eletrônico
e que agora tem tudo para se tornar um verdadeiro fenômeno no rock nacional. Cheio de
personalidade e talento, ele me cativou a um ponto que eu sabia que tinha que escrever
um texto sobre. Na verdade, eu senti que tinha a obrigação de escrever um texto sobre
ele. Então, eis aqui a minha crítica sobre esse álbum que vai dominar a minha playlist (e
a de vocês também!) até o próximo lançamento do artista.
Lançado no dia 13 de julho de 2020, o EP “Favorite Flavor” foi o primeiro passo de
Vetromn na busca de uma consolidação na sua sonoridade. Tendo feito alguns
experimentos muito interessantes como “Deathboy” (disponível apenas no Soundcloud
dele), “Walls I Build” e “Metallic Angel Vox”, ele provou que não só era extremamente
talentoso na questão de composição, mas também muito competente na parte de
melodia e produção.
Metallic Angel Vox
Walls I Build
Favorite Flavor
Algumas de suas faixas lembram muito o que Charlie XCX está fazendo nos últimos
tempos com seu trabalho no hyperpop (que erroneamente as pessoas chamam de PC
Music), misturando EDM ao pop tradicional que conhecemos. No entanto Vetromn faz
isso de uma maneira que é muito mais palatável ao público mainstream, o que torna sua
persona musical mais atraente. E em Favorite Flavor ele só provou esse ponto.
O EP de três músicas em inglês e português, é um compilado de canções mais
românticas e alegres do que as encontradas em seu debut, servindo mais como um
“aperitivo” para o prato principal que Mr. Lonely seria. Eu confesso que esse EP foi
minha porta de entrada para o universo do artista, e enquanto eu escutava eu sabia que
ele era alguém para se prestar atenção. Nisso eu fiz meu trabalho de pesquisa, voltando
no tempo para escutar os projetos mais antigos que ele já lançara. E ao fazer essa linha
do tempo invertida, eu fui notando a evolução na produção de suas faixas, tanto que eu
digo sem medo que Favorite Flavor é de um nível de profissionalismo que até mesmo
artistas estrangeiros demoram para alcançar em seus projetos.
Tudo isso junto, já tinha me deixado na expectativa para o que o álbum Mr. Lonely seria
e ao ver a capa do projeto, eu senti na hora que ele poderia ser uma coisa puxada para o
pop/rock dos anos 2000, estilo Pitty. Felizmente, Vetromn não me deixou na mão e
serviu tudo o que eu esperava em seu debut. Ao longo das faixas do seu primeiro álbum,
temos uma verdadeira viagem emocional com altos e baixos que foi muito bem
produzida do começo ao fim. Então, pluga os fones no ouvido e vamos pro faixa a faixa
do Mr. Lonely.
Nova Versão é a primeira faixa e logo aos dez segundos ela já começa com uma bateria
que me lembrou o início de “Me Adora” da Pitty. A letra já nos insere ao alter-ego do
artista que intitula o álbum, funcionando como uma dupla introdução do Mr. Lonely que
fica evidente logo no trecho inicial: “Sempre perto da fogueira, mas não me queimo,
não / Só queimei meu antigo eu, essa é a nova versão”. Outro destaque é o refrão da
faixa que é simplesmente viciante, o que me fez querer escutá-la ao menos outra vez
antes de seguir adiante.
Funcionando como um início curioso, impactante, mas ainda não explosivo, Nova
Versão é a faixa que serve como a apresentação perfeita da sonoridade e lirismo de tudo
o que vem a seguir.
Logo em seguida, temos a faixa título do projeto. Mr. Lonely, segundo o próprio
Vetromn, foi a primeira música do álbum a ficar pronta e a responsável por ditar toda a
sonoridade que viria nas faixas restantes. Na minha visão, ela é uma das mais “pesadas”
do álbum, o que é meio contrastante com o fato de ter um dos refrões mais dançantes.
A bateria aqui é um dos instrumentos que mais se destaca, junto com os vocais do
artista que são hipnotizantes de bons. Eu amo a maneira como o Vetromn distorce a
própria voz, mas faz isso de uma maneira que não fica artificial ou robótica demais.
Vale destacar que essa é uma das faixas em inglês e que o único defeito que eu
encontrei é que não vi uma lyric dela rondando a internet. Então, como eu não sou
fluente na língua, tive um pouco de dificuldade pra entender, tendo que escutar mais
vezes pra pegar a letra por inteiro, o que não achei ruim, porque escutar uma música boa
dessas repetidas vezes é algo maravilhoso de se fazer.
As Vezes Eu Me Sinto Assim é a terceira faixa do álbum e também o primeiro feat, com
o artista Garbo. Nessa aqui Vetromn canta de uma maneira bem mais rápida que seu
habitual no começo, e eu amo quando ele canta em português, porque parece que se
torna uma voz totalmente diferente, além de ter aquela naturalidade que surge ao falar
sua língua materna.
O meu verso favorito da música inteira é “Eu também quero te ver, pra quê se esconder.
Porque é que é tudo sempre assim? Eu prefiro amar você, não desaparecer, talvez eu vá
gostar assim”. A intensidade dessa parte é PERFEITA e essa música serve como um
pico depois da construção atmosférica das faixas anteriores. Até mesmo os vocais de
Garbo na segunda parte da música estão devidamente encaixados, o que torna esse feat
muito harmônico analisando-o por inteiro.
Já “Emboscada / Interferência” são faixas que servem como uma transição da primeira
parte do álbum para a parte final. A primeira tem como versos “Toda vez que você me
vê bem, eu sei que é foda, toda vez que você vê que eu tô bem, eu sei que pra você é
foda, mas o que eu posso fazer?” e a guitarra ao fim dessa parte é um dos meus
momentos favoritos do disco. Já a segunda faixa é um instrumental que serve pra gente
respirar antes de seguir em frente. Eu amei essa decisão, porque mostra que o Vetromn
pensou com cuidado na elaboração da tracklist para fazer algo coeso e não apenas um
amontoado de músicas.
A segunda parte do álbum abre com Connotations, outra faixa em inglês. Essa é uma
das musicais mais pesadas sonoramente, seja pelas distorções vocais ou pelos
sintetizadores que estão pesados do começo ao fim. Felizmente, ela vem em uma boa
posição devido ao respiro proporcionado por “Interferência” e mesmo que esses
elementos sonoros se destaquem ao longo da faixa, nada nela parece desorganizado ou
fora do lugar. Não é uma das minhas favoritas, mas ela mantém a mesma qualidade que
as anteriores.
Agora, vamos ter um pouco de babação de ovo porque “Tentei Ligar” é uma das minhas
faixas favoritas. O começo dela é em inglês com os vocais de Vetromn, mas logo depois
temos a participação de Leo Mel, que é a estrela desse segundo feat. Meu momento
favorito é o “Pô, Vetromn. Eu tentei ligar” com vocais extremamente exagerados que
funcionam muito bem com a explosão musical que é o encerramento dessa faixa. Essa
aqui é rock de qualidade, é participação especial muitíssima bem encaixada, é
literalmente perfeita do começo ao fim e eu tenho certeza que vai ser a favorita de muita
gente.
Preparando o final do álbum, “Come Alive” é liricamente a faixa mais triste e pesada na
minha opinião. Essa é a canção que encapsula toda a melancolia do álbum com os
versos “Call my name, when you feel depressed, don’t knowing why”. Não sei se foi
intencional ou não, mas eu amo o fato da música se torna mais animada conforme vai
avançado como se estivesse ganhando vida fazendo jus ao seu título. Depois da
explosão que é a faixa anterior, essa aqui pode parecer um pouco calma demais, mas
sem dúvidas tem seus pontos fortes.
Em seguida, “Euforia” entra em cena como uma das faixas mais curtas e uma das
melhores também. Tendo apenas um minuto e trinta e dois segundos de duração, ela
poderia entrar perfeitamente na trilha sonora da série Euphoria da HBO. Tendo versos
como “Quando essa euforia passar, eu vou voltar pros seus braços, quando essa euforia
passar, eu juro que eu vou tá do seu lado” acompanhados de um dos instrumentais mais
interessantes e hipnóticos do álbum, Vetromn vai nos conduzindo por um caminho
melancólico que é o encerramento do álbum. Aqui eu senti ecos daquele romantismo
que é muito mais presente no Favorite Flavor e essa similaridade é a prova de que o EP
teve sucesso ao apresentar a consolidação da sonoridade do artista.
Finalizando o álbum, “Coração de Pedra” é a última faixa e é aquela que é mais rock ao
estilo Pitty em “Admirável Chip Novo”. O refrão dela é um dos meus preferidos com os
versos “Coração de pedra me faz não ver nada além de acabar com tudo, coração de
pedra me impede de ver você, de ficarmos juntos”.
Sem dúvidas, se eu pudesse escolher uma faixa pra ver uma live, seria essa. Aqui temos
todos os pontos fortes do álbum unidos em uma única faixa que se torna perfeita como
encerramento. Tendo faixas sempre muito diferentes, mas ao mesmo tempo coesas, Mr.
Lonely é um debut perfeito para mostrar que Vetromn não é uma moda passageira.
Além disso, devido a sua curta duração, ele também serve para deixar os fãs ansiando
por mais conteúdo. Até lá, vamos escutar esse trabalho no repeat e valorizar o trabalho
de artistas nacionais como ele, que está dando seu nome no cenáio do rock nacional.
Não sendo apenas talentoso, Vetromn também é um artista muito simpático e sempre
está interagindo em suas redes sociais, principalmente no twitter. Então, se você está
procurando um artista talentoso, simpático e que está servindo tudo o que queríamos e
não sabíamos, esse alguém é o Vetromn. Pare tudo o que estiver fazendo e vá dar stream
em Mr. Lonely, já disponível em todas as plataformas musicais.
Para seguir ele no twitter, você pode clicar aqui. Para conhecer um pouco mais do
artista, eu recomendo as entrevistas que ele concedeu ao site Indieoclock, onde ele fala
um pouco mais sobre si e suas inspirações para a criação do Mr. Lonely. Ambas as
entrevistas você pode encontrar clicando aqui e aqui.
Agora, se você gostou da parte visual do projeto Mr. Lonely então recomendo conhecer
o trabalho do artista Gabriel Gahesa, você pode segui-lo no twitter clicando aqui ou
conhecer seu portfólio clicando aqui.
Finalizando o texto, eu queria desejar muito sucesso ao Vetromn e eu espero que o Mr.
Lonely seja um hit. Obrigado por fazer um álbum tão bom e eu espero que os leitores
também gostem do seu trabalho tanto como eu gostei. Ao escutá-lo, chega bate um
orgulho de ter um artista como você no país. Obrigado, Vetromn!
Que esse seja apenas o primeiro de muitos álbuns que você irá fazer!

Você também pode gostar