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Abstract: This paper investigates the nature of the Courage in philosophical thought of
Aquinas and other virtues to it potential.
1. INTRODUÇÃO.
1
Sobre as referências das obras de Tomás de Aquino: se a obra for citada no original latino,
ela será extraída do site: http://www.corpusthomisticum.org. Se já houver uma tradução
para o português, será utilizada a bibliografia indicada ao final, caso contrário, será nossa.
As datas das obras são, em muitos casos, conjeturais e controversas. Utilizaremos
principalmente as indicações de Torrel (2004). Eth. Sententia libri ethicorum (Comentário à
Ética a Nicômaco), 1271-2. STh. Summa Theologiae (Suma Teológica), 1265-73. Vir.
Quaestiones disputatae de Virtutibus (Questões disputadas sobre a virtude), 1271-2.
2
Doutorando em filosofia pela UFRJ – bolsista Capes. E-mail: bvoa@hotmail.com.
3
STh., II-II, q.123, a.1, rep.
4
STh., II-II, q.123, a.2, rep.
5
STh., II-II, q.123, a.3, rep.
6
STh., II-II, q.123, a.4, rep.
7
“A virtude da fortaleza concerne propriamente ao perigo de morte que nos expõe a
guerra; mas os fortes se comportam igualmente bem na presença de qualquer outro perigo
de morte.” (GILSON, 1974, p. 318, tradução nossa)
8
STh., II-II, q.123, a.5, rep.
9
STh., II-II, q.123, a.6, rep.
10
STh., II-II, q.123, a.10, sol.1.
11
STh., II-II, q.123, a.10, sol.2.
12
STh., II-II, q.123, a.9, rep.
13
STh., II-II, q.127, a.2, sol.3.
14
STh., II-II, q.127, a.2, rep.
15
STh., II-II, q.127, a.2, rep.
futuro difícil ao qual não se pode resistir”16. Só haverá um vício quando tal
paixão se der de modo desordenado contrário à razão. Quando, por exemplo,
se foge de um medo que a razão ordenada fugir, não há vício17. Porém o vício
do temor consiste em uma inclinação desordenada de um amor muito forte a
si mesmo. Em certo sentido, pode-se dizer que todo vício possui parcialmente
temor, enquanto procede de uma concupiscência desordenada, enquanto teme
perder algum bem, como o avarento teme perder o dinheiro e o intemperante
o seu prazer, mas como o temor máximo é o medo da morte, o temor
propriamente, enquanto vício, consiste no medo de perder a vida diante de
uma possibilidade real18.
A intrepidez se dá de três modos. De um, quando o indivíduo ama
menos do que o devido a sua própria vida e possui certo desprendimento dos
bens temporais, por isso se joga diante de um perigo grave sem temer a
própria morte. Ela pode ocorrer também pela pouca consideração das
circunstâncias, sem que se acredite que aquele perigo seja real, ou que possa
efetivamente acontecer com ele, o que implica certa soberba, pois presume a
si e desdenha os outros e a realidade. Ou mesmo por falta de inteligência,
quando não se é capaz de considerar os perigos. Em resumo, a intrepidez é
decorrência da falta de amor próprio, ou por soberba, ou por estupidez19.
O vício da audácia possui raízes na paixão que leva o mesmo nome. Tal
paixão, contrária ao temor, consiste em enfrentar o perigo iminente, porque se
acredita na vitória20. De modo semelhante à ira e ao temor, enquanto paixão, a
audácia não é um vício, ela só toma o nome de vício quando tal
enfrentamento se dá por um excesso contrário à razão21.
3. AS PARTES DA FORTALEZA.
16
STh., I-II, q.41, a.2, rep.
17
STh., II-II, q.125, a.1, rep.
18
STh., II-II, q.125, a.2, rep.
19
STh., II-II, a.126, a.1, rep.
20
STh., I-II, q.45, a.1, rep.
21
STh., II-II, q.127, a.1, rep.
22
“Ser bravo ‘em certo aspecto’ é um tipo de verdadeira fortaleza encontrada nas suas
partes potenciais.” (HOUSER, 2002, p.308, tradução nossa)
23
STh., II-II, q.128, a.único, rep.
24
STh., II-II, q.129, a.3, rep.
25
Tomás esclarece, recorrendo a Aristóteles que a magnanimidade é um meio-termo,
mesmo que esteja voltada à grandeza, como seu extremo: “deve-se dizer que Aristóteles diz
o seguinte: ‘O magnânimo está no extremo da grandeza’, porquanto tende ao máximo; ‘mas
está no meio-termo, porque tende para o máximo obedecendo sempre a regra da razão.
‘Ele se estima exatamente à medida de seu próprio valor’, porque não tem nenhuma
pretensão de ser maior do que é.” (STh., II-II, q.129, sol.1)
26
“A honra é prestada a alguém devido a alguma excelência sua: e assim, é um sinal e
testemunho daquela excelência que está no honrado.” (STh., I-II, q.2, a.2, rep.)
27
STh., II-II, q.129, a.1, rep.
28
STh., II-II, q.129, a.2, rep.
29
STh., II-II, q.129, a.4, sol.1.
30
STh., II-II, q.129, a.5, rep.
31
STh., II-II, q.129, a.6, rep.
32
STh., II-II, q.129, a.7, rep.
33
STh., II-II, q.129, a.8, sol.1.
o desprezo aos bens exteriores. Ele os considera enquanto úteis à prática das
obras das virtudes, mas não se preocupa com a sua perda, caso haja, porque
não os julga algo suficientemente grandioso34, nem se alegra demais quando a
conquista, nem se entristece demais quando os perde. E neste aspecto, quanto
às disposição em relação aos bens – não tanto quanto à autossuficiência da
virtude –, o Aquinate se assemelha a Aristóteles35.
Ele também retoma certa descrição aristotélica do magnânimo em
relação a algumas disposições práticas. Citaremos todo o argumento de
Tomás que visa justificar algumas posições de Aristóteles em relação ao
comportamento magnânimo:
34
STh., II-II, q.129, a.8, sol.2.
35
Tomás concorda plenamente com essa passagem de Aristóteles: “O homem de grandeza
de alma [magnânimo], como foi dito, diz respeito especialmente à honra. Entretanto,
observará a devida medida com relação à riqueza, o poder e a sorte (boa ou má) em geral, já
que estas o podem atingir; não se regozijará excessivamente na prosperidade e nem se
entristecerá demasiado na adversidade; pois ele não se importa muito mesmo com a honra,
que é o maior dos bens externos (uma vez que o poder e a riqueza só são desejáveis em
função da honra que trazem, pois, ao menos, seus possuidores desejam ser honrados por
causa deles) e assim, para quem até mesmo a honra é uma coisa pequena, também serão
indiferentes as demais coisas.” (1124a13-19)
36
Referentes ao texto de Aristóteles ao longo do livro IV, cap.3 da Ética a Nicômaco.
37
A ironia em Tomás consiste em dizer menos do que se é, mas neste caso, haveria uma
ação próxima à ironia, não propriamente ela, que não seria condenável, como uma boa
maneira de se depreciar. (STh., II-II, q.113, a.1. rep.)
utilidade, como algo maior. O útil serve para remediar uma insuficiência, o
que é contrário à magnanimidade.38
38
STh., II-II, q.129, a.3, sol.5.
39
STh., II-II, q.161, a.1, rep.
40
“Magnanimidade e humildade não são realmente opostas, uma vez que elas se encaixam
em duas áreas diferentes do esquema das virtudes. Magnanimidade é um tipo de coragem,
enquanto humildade cai na temperança. Humildade dá aquele autocontrole sobre querer
bens difíceis de obter (boni ardui), mas quando eles são apropriados para nós possuí-los, a
magnanimidade nos dá a coragem para ir atrás deles (IIa IIae, q.161, a.1).” (HOUSER,
2002, p. 311, tradução nossa)
41
STh., II-II, q.129, a.3, sol.4.
42
STh., II-II, q.130, a.2, rep.
43
STh., II-II, q.131, a.1, rep.
44
STh., II-II, q.132, a.2, rep.
45
STh., II-II, q.130, a.1, rep.
46
STh., II-II, q.130, a.2, sol.3.
47
STh., II-II, q.130, a.2, sol.3.
outra, porque deseja ser honrado sem se referir a Deus; e a terceira, sem ter o
desejo de colocar o seu reconhecimento a serviço dos outros. Assim ter
ambição é se inclinar de modo excessivo à honra.48
O terceiro vício da vanglória se opõe à magnanimidade49 pelo apetite
desordenado da própria glória. Deve-se considerar que Tomás usa o termo
glória para indicar a manifestação de alguma coisa bela que agrada os homens,
tanto um bem corporal quanto espiritual, de maneira que indique que o bem
de alguém se torne conhecido de muitos e receba a aprovação geral. Mas tal
termo pode ser tido num sentido mais vasto, não é importante a quantidade
de pessoas que reconhecem, mas pelo menos um pequeno grupo ou mesmo a
própria pessoa que possui determinado bem. E esse desejo de glória de si
mesmo não é vicioso quando moderado. O vício consiste numa glória vazia,
vã, quando esse reconhecimento não tem sentido. E isso se dá de três
maneiras: primeira, em relação à realidade a qual se refere para se gloriar,
quando julga que uma coisa é gloriosa, mas não é; segunda, quando busca a
glória, ser reconhecido, por alguém que não poderia julgar com segurança
aquele aspecto; e terceira, quando não se deseja glória em relação a um fim
devido.50
Tomás, seguindo o raciocínio de Gregório, diz que a vanglória é um
vício capital e não a soberba51. Pois, entre os bens, a glória confere maior
excelência ao homem, enquanto explicita a manifestação de algum bem que
por natureza deve ser amado e honrado por todos. Tal excelência é máxima
em relação aos bens, tanto pelo que tem em si mesma, quanto pelo
reconhecimento e aceitação dos outros, de maneira que o seu desregramento
pode gerar muitos vícios52.
São sete as filhas da vanglória: a jactância (iactantia), a ânsia de
novidades (novitatum praesumptio) a hipocrisia (hypocrisis), a teimosia (pertinacia), a
discórdia (discordia), a disputa (contentio) e a desobediência (inobedientia). Como o
fim da vanglória é a manifestação da própria excelência, a pessoa pode fazer
48
STh., II-II, q.131, a.2, rep.
49
“Porque quando alguém é louvado, ou recebe alguma demonstração de reverência e
admiração, se torna brilhante e conhecido dos outros. E como a magnanimidade concerne
às honras, como também já foi dito, por via de consequência concerne também à glória.”
(STh., II-II, q.132, a.2, rep.)
50
STh., II-II, q.132, a.1, rep.
51
“Gregório faz da soberba, ‘a rainha de todos os vícios’ e apresenta a vanglória, que nasce
diretamente da soberba, como um vício capital. E isto parece razoável. A soberba, como
veremos mais adiante, implica um apetite desordenado de excelência. Todo bem apetecível
é causa de alguma perfeição e excelência. É a razão pela qual os fins de todos os vícios se
ordenam para o fim da soberba. Por este motivo se vê que a soberba exerce uma espécie de
causalidade geral sobre outros vícios, e não deve ser incluída entre os princípios específicos
dos vícios, que são os vícios capitais.” (STh., II-II, q.132, a.4, rep.)
52
STh., II-II, q.132, a.4, rep.
58
“A magnificência se situa de fato em um extremo, considerada a quantidade do que é
feito. Mas consiste em um meio-termo, se considerada a regra da razão, da qual ela não se
desvia nem por excesso nem por defeito.” (STh., II-II, q.134, a.1, sol.2)
59
STh., II-II, q.134, a.4, rep.
60
Tomás se utiliza da noção de serviço aos deuses que Aristóteles atribui entre as obras do
magnificente (1122b19s) para justificar a construção das grandes obras de honra a Deus,
como as catedrais do seu tempo: “Ora, as obras produzidas pelo homem são ordenadas
para um fim. Mas nenhum dos fins das obras humanas será tão grande quanto a honra que
se deve a Deus. Dessa forma, a magnificência faz principalmente obras grandes dirigidas
para a honra de Deus. E é por isso que Aristóteles acrescenta: ‘os gastos mais louváveis são
aqueles que acompanham os sacrifícios oferecidos a Deus e são, aliás, os que o
magnificente mais pratica.’” (STh., II-II, q.134, a.2, sol.3)
61
“O segundo gênero das despesas honráveis são aqueles feitos magnificamente, com
relação ao bem público, por exemplo, quando alguém dá generosamente à comunidade
algo útil e necessário com magnificência e distinção.” (Eth., IV, 7, 2)
62
STh., II-II, q.134, a.2, rep.
63
STh., II-II, q.134, a.2, sol.2.
64
STh., II-II, q.134, a.3, rep.
65
Aristóteles diz: “a marca do homem magnificente, no gasto de qualquer tipo, [é] produzir
um resultado magnífico (pois este é um padrão dificilmente superado), e um resultado
proporcional ao custo.” (1123a17-19.) E Tomás concorda: “O uso do dinheiro como meio
para realizar uma grande obra é da alçada do magnificente. E tal uso não é possível sem
grandes despesas.” (STh., II-II, q.134, a.3, sol.2)
Deve-se dizer que o ato principal da virtude é aquela escolha interior que a
virtude pode comportar sem que se tenha fortuna exterior. E desta maneira
até um pobre pode ser magnificente. Mas para os atos exteriores da virtude
os bens da fortuna são necessários, como instrumentos. Desta forma, o
pobre não pode exercer o ato exterior da magnificência naquilo que é
absolutamente grande. Mas pode exercê-lo talvez naquilo que é grande
relativamente a uma determinada obra que, embora pequena em si mesma,
pode ser feita magnificamente, de acordo com a medida que comporta.67
66
EN., 1122b23-33.
67
STh., II-II, q.134, a.3, sol.4.
68
STh., II-II, q.134, a.3, obj.4.
69
Um exemplo seria a passagem bíblica da doação da viúva que teria doado o pouco que
tinha ao templo, e teria sido elogiada por ter doado mais do que os outros (Lc 21, 1-14; Mc
12, 41-44).
70
STh., II-II, q.117, a.2, rep.
71
Vir., q.5, a.2, sol.5.
72
“Há outras virtudes morais que aperfeiçoam o homem num grau eminente, como a
magnificência e a magnanimidade. E como o exercício nas matérias dessas virtudes não é
comum a todos, pode alguém ter outras virtudes morais, sem possuir em ato os hábitos
dessas virtudes, falando das virtudes adquiridas. No entanto, uma vez adquiridas as outras
virtudes, ele as possui em potência próxima. Quando, na verdade, alguém alcançou, pelo
exercício, a liberalidade em pequenos gastos e donativos, adquirirá com pequeno sacrifício,
o hábito da magnificência, se lhe sobrevier a abundância de dinheiro, assim como um
geômetra adquire, com pouco estudo, a ciência de um conclusão na qual nunca pensara.
Ora, é comum dizer-se que possuímos aquilo que facilmente podemos conseguir, segundo
a palavra do Filósofo: “o que falta por pouco, parece não faltar nada.” (STh., I-II, q.65,
sol.1, rep.)
73
“Pode também ocorrer que alguém tenha o hábito da virtude sem a exercer em ato. Um
pobre, por exemplo, pode ter o hábito da magnificência sem no entanto exercê-la.” (STh.,
II-II, q.137, a.1, sol.2)
74
“Desta forma, o ato da magnanimidade não convém a todos os homens virtuosos, mas
apenas aos maiores. Mas, as virtudes são conexas entre si de acordo com princípios da
prudência, e da graça, ou seja, pela coexistência de seus hábitos na alma, seja em ato seja
em disposição próxima. E assim, alguém, a quem não convém o ato da magnanimidade,
pode ter o hábito da magnanimidade que o dispõe a cumprir tal ato quando for o caso.”
(STh., II-II, q.129, sol.2.)
75
“As virtudes adquiridas são causadas pelo propósito; e é necessário que sejam causadas
simultaneamente no homem que se propõe adquirir uma virtude; e não adquirirá, se não
adquirir, ao mesmo tempo a prudência, com a qual se tem todas as virtudes.” (Vir., q.5, a.2,
sol.10)
76
STh., II-II, q.135, a.2, rep.
77
STh., II-II, q.135, a.1, rep.
78
STh., II-II, q.135, a.1, sol.3.
79
STh., II-II, q.135, a.1, sol.2.
80
STh., II-II, q.136, a.4, sol.1.
81
STh., II-II, q.136, a.1, rep.
82
“O Aquinate defende que a verdadeira paciência deve ser capaz de se deparar com esse
teste final, uma vez que ele definiu a virtude como o ‘limite’ ou ‘perfeição’ (ultimum) de uma
capacidade. Dessa forma, sua definição de paciência é como sua caracterização de fortaleza,
que é definida pela sua habilidade de permanecer firme contra o maior perigo – o perigo de
morte.” (DEYOUG; MCCLUSKEY; DYKE, 2009, pp. 222-3, tradução nossa)
83
“Se a paciência é a virtude que nos faz suportar por Deus se voltando para a felicidade do
céu, a virtude especial da paciência, na concepção do Aquinate sobre ela, deve ser infusa,
uma virtude cristã. À luz disso, ele imediatamente conclui que, ‘Paciência, na medida em
que é virtude, é causada pela caridade... a partir disso é claro que a paciência não pode ser
obtida sem a ajuda da graça.’ (IIa IIae, q.136, a.3). O Aquinate não intenta negar a
existência de um tipo de paciência secular – o tipo conhecido por Cícero; mas no fim, tal
92
STh., II-II, q.137, a.1, sol.1
93
Vir., q.2, a.2, sol.1.
94
STh., II-II, q.137, a.3, rep.
95
STh., II-II, q.137, a.3, s.c.
96
STh., II-II, q.137, a.4, rep.
97
STh., I-II, q.114, a.9, rep.
98
STh., I-II, q.109, a.10, rep.
99
“O fim da vida humana requer um tipo especial de perseverança, que acompanha ‘as
virtudes cujos atos permanecem ao longo da vida,’ as virtude teologais da ‘fé, esperança, e
caridade’ (IIa IIae, q.137, a.1, ad1). Porque essas virtudes são infusas, a perseverança que as
acompanha deve ser derivada da graça (IIa IIae, q.137, a.4).” (HOUSER, 2002, p. 316)
100
Ver., q.24, a.7, rep.
101
Ver., q.24, a.7, s.c.4.
102
Segundo Rolduc, Maritain defende que a ética aristotélica considera o homem em um
estado de natureza incorrupta, ao passo que possui uma natureza decaída, por isso que aos
princípios de tal ética é conveniente que se acrescentem certas inspirações teológicas, que
tratam o homem conforme o seu estado atual. (ROLDUC, 2008, p. 49)
103
Tomás se utiliza da visão de Agostinho para esclarecer essa distinção de uma natureza
atual que precisa de um maior auxílio para perseverar no bem: “deve-se dizer que como diz
Agostinho, ‘o que foi dado ao primeiro homem, não foi o perseverar, mas o poder de
perseverar pelo livre-arbítrio’; pois não havia então na natureza humana nenhuma
corrupção que tornasse a perseverança difícil. ‘Mas agora, o que é dado pela graça de Cristo
aos homens predestinados não é apenas o poder de perseverar, mas perseverar. Assim, o
primeiro homem, sem sofrer nenhuma ameaça, usou de seu livre arbítrio para desobedecer
a Deus, apesar das ameaças d’Ele, e não se manteve naquela felicidade quando era tão fácil
não pecar. Ao passo que os predestinados, cuja firmeza o mundo atacava, permaneceram
firmes na fé.” (STh., II-II, q.137, a.4, sol.2)
absolutamente errar, porque sempre podem pela liberdade atual, mas teriam
certa dificuldade de fazer o erro, pela inclinação ao bem concedida pela
virtude infusa104.
Os vícios opostos à perseverança são a teimosia (pertinacia), pelo
excesso, e a moleza (mollitie), pela deficiência. A teimosia se opõe à
perseverança enquanto certa obstinação além da medida, em que se obstina
em sua vitória, pois os teimosos são apegados às próprias opiniões mais do
que o conveniente105. Sua obstinação consiste em querer mostrar
superioridade e por isso é considerada uma filha da vanglória, como um vício
derivado106.
Por outro lado, a pessoa que tem o vício da moleza se opõe à
perseverança na medida em que tende a renunciar facilmente ao bem pelas
dificuldades encontradas. O mole tende a ceder à pressão, mesmo as não tão
intensas. Quem cede às pressões muito violentas e fortes não é tido como
mole, mas o que cede às pressões fracas, que se afasta do bem pelas tristezas
que surgem da falta de prazer107. Muitos moles tendem a se refugiar no jogo,
pelo alívio e descanso que a diversão pode proporcionar, não tanto pelo
prazer relativo à virtude da eutrapélia, como se verá, mas pelo alívio e repouso
vindo do jogo108.
4. CONCLUSÃO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
104
Ver., q.24, a.9, rep.
105
STh., II-II, q.138, a.2, rep.
106
STh., II-II, q.138, a.2, rep.
107
STh., II-II, q.138, a.1, rep.
108
STh., II-II, q.138, a.1, sol.3.
Site
http://www.corpusthomisticum.org, acessado entre os dias 18 de abril de
2014 e 7 de junho de 2014.