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AULA 3
CONVERSA INICIAL
A aula de prática de aquarela vai oportunizar experiências fundamentais na arte de ilustrar com esta técnica à base d’água. Serão apresentados
tipos de tintas, pincéis e papéis, efeitos pictóricos, procedimentos de pintura e também como explorar as suas características mais predominantes
como as manchas, luminosidade e transparência. Vocês também poderão praticar a pintura com aquarela por meio de exercícios básicos e
específicos.
CONTEXTUALIZANDO
A aquarela é uma das técnicas mais antigas de pintura, surgida há cerca de dois mil anos, na China. Constam também registros de seu uso na
Idade Média, porém foi somente no século XVIII que a aquarela começou a ser disseminada por toda a Europa, nas imagens de artistas viajantes, ao
redor do mundo. Desde lá, muitos artistas encontraram na aquarela seu modo de expressão. Além dos artistas visuais, ilustradores da área científica,
de literatura infantil, didática e publicidade são profissionais que exploram ao máximo as possibilidades deste versátil material.
A aquarela é um tipo de tinta disponível em pastilha ou em bisnaga. Certos pigmentos são mais transparentes e outros mais resistentes à luz,
além disso, o custo da tinta depende muito do tipo do pigmento, ou seja, se ele é natural, mineral ou sintético. Indicamos consultar o livro Manual do
Artista, de Ralph Mayer, um clássico sobre o assunto, no qual é possível conhecer inúmeras características dos materiais artísticos, inclusive de
A escolha do tipo de papel é decisiva no resultado do trabalho. Os papéis de linho ou de algodão, com a gramatura 300g/m², são os mais
utilizados para aquarela e suportam bem a quantidade da aguada, sem ondular. Os tipos de superfície mais conhecidas de papel são: liso (satiné),
para trabalhos que exigem detalhes, grão fino, que permite fazer detalhes e também pinceladas mais soltas, ou grão grosso (torchon), quando se
tem a intenção de explorar a expressividade da fibra do papel e do pincel. Para trabalhos em formatos grandes, é válido saber que muitos artistas
umedecem o papel previamente e o fixam em uma prancheta para que as fibras possam se estabilizar, evitando-se que a folha ondule. Para os
exercícios desta aula, você poderá utilizar um papel mais fino, de 200g, já que as propostas são de estudos em pequenos formatos.
Os pincéis para aquarela devem ser de pelos macios (marta, esquilo ou sintéticos), e que devem voltar à posição normal depois de pressionados
no papel. Existem vários tipos, porém, os mais utilizados são os do tipo “chato” e do tipo “redondo”, sendo que este último deve fazer uma ponta
Na aquarela, são utilizados também outros materiais auxiliares como: godê (ou paleta), borracha macia (usada com cuidado para não machucar
o papel), secador de cabelo (para auxiliar na secagem), papel toalha e fita crepe. Para efeitos especiais, podem ser usados: sal de cozinha,
borrifador spray ou escova de dentes, conta gotas, esponja, tinta guache branca de boa qualidade e máscara líquida (usada para isolar detalhes da
A técnica de aquarela tem várias características, e por ser sempre usada muita água durante o processo de pintura, algumas são mais evidentes,
como os efeitos com manchas, a luminosidade e a transparência, qualidades estas que você pode explorar intensamente nas suas ilustrações.
Para realizar manchas interessantes, utilize sempre o pincel bem carregado de tinta ou trabalhe sobre o papel molhado. Para não ocorrerem
manchas indesejadas, deve-se evitar retornar com o pincel na área já pintada e também não usar pincel pequeno para áreas grandes.
Na aquarela, a cor branca da imagem é o próprio papel, e na indicação de Koch (2006), deve-se planejar previamente as áreas brancas ou com
mais luminosidade para não se perder este “frescor”.
Créditos: Prill/Shutterstock.
Na Figura 4, foram usadas apenas as cores primárias azul ciano, magenta e amarelo, porém, podemos observar também as cores secundárias
vermelho, azul e verde que surgiram pela sobreposição das pinceladas. A transparência é umas das características da aquarela que possibilita
A partir de agora, você conhecerá alguns exercícios básicos de aquarela, e com a prática, passará a realizar pinturas cada vez mais elaboradas.
É importante lembrar que esta é uma técnica que se manifesta por meio da grande quantidade de água, a qual cria caminhos para os mais bonitos
efeitos visuais. Os exercícios a seguir são algumas sugestões e você pode escolher as cores, formatos e imagens de acordo com a sua preferência.
Para estes exercícios, você vai precisar de tinta aquarela semiprofissional ou profissional, folhas de papel Canson 200g A4, 2 pincéis redondos nº 2 e
nº 6, e 1 pincel chato nº 12 (esta é uma dica de alguns tamanhos, mas você poderá usar os que já tem, desde que sejam macios), papel toalha, 2
potes com água, godê com vários compartimentos, papel Canson para teste, um pedacinho pequeno de esponja comum, uma escova de dentes,
tinta guache de boa qualidade, uma caneta nanquim nº 1 ou nº 2, caneta gel ou caneta Posca, máscara líquida para aquarela (opcional).
Prepare no seu godê uma cor em cada compartimento, incluindo as cores primárias. Lembre-se que a cor mais clara depende da quantidade de
água na tinta e no papel, por isso evite utilizar o branco da aquarela pois ele pode deixar as cores opacas. Para aquarelas em pastilha, umedeça a
tinta no estojo e a retire com o próprio pincel, passando-a para o godê. Acrescente água, misture bem e faça o teste da transparência em um pedaço
de papel Canson 200g. É fundamental lavar e secar no papel o pincel antes de trocar de cor. Depois de várias cores preparadas, “brinque” com elas
fazendo pinceladas aleatórias no papel, observando a mistura de cores que se formam com as aguadas. Procure preparar a quantidade suficiente de
tinta para que esta não falte no momento que você estiver pintando, já que a aquarela seca rápido e isso pode resultar em emendas não desejadas.
Figura 5 – Materiais básicos para aquarela: Tinta em pastilha, papel para teste, pote com água, godê (ou paleta) e pincéis variados
Além das pinceladas mais soltas e expressivas, existem outros tipos que requerem mais habilidade, de acordo com o propósito da imagem. Para
isso, sugerimos alguns exercícios que podem ser realizados com variados tipos de pincéis e cores. Para conseguir efeitos com mais precisão, espere
Créditos: Mattponchik/Shutterstock.
Figura 7 – Pinceladas com a ponta do pincel redondo médio
Nesta técnica, a pintura é feita em partes, respeitando-se sempre a secagem da tinta durante o processo. A área que já foi pintada deve sempre
estar seca antes de se pintar uma área vizinha, para que as partes da imagem não se misturem, o que ocorreria se ambas estivessem molhadas. Para
saber se a área já está seca o suficiente, observe se ainda permanece o “brilho” da água e se a cor não sai ao tocar a tinta com o dorso da mão. Uma
outra dica é abastecer o pincel com bastante tinta, evitando retornar ao godê diversas vezes, já que isso pode ocasionar manchas não planejadas.
Créditos: Lenaer/Shutterstock.
Nesta técnica, o papel deve estar previamente molhado antes de receber a tinta. É fundamental que a superfície se mantenha úmida durante
É uma máscara feita de látex indicada para isolar as áreas brancas. É passada antes da tinta com pincel e tem secagem rápida. Depois que a
pintura está pronta e bem seca, podemos retirar com uma borracha a película formada.
Este efeito é muito fácil de ser alcançado ao se esfregar o dedo nas cerdas da escova de dentes previamente entintada sobre o papel. Os efeitos
O mesmo efeito pode ser realizado com a tinta guache levemente espessa sobre uma área já pintada e seca. Desse modo conseguiremos algo
semelhante a uma galáxia, como na Figura 12.
Figura 12 – Efeito borrifado com tinta guache branca e escova de dentes
Créditos: Natalysiyah/Shutterstock.
Devemos “salpicar” a água batendo suavemente o pincel molhado no dedo, sobre a imagem, ou “espirrar” a água com a ponta dos dedos.
Atenção: a superfície pintada deve estar ainda bem molhada para que as gotas da água se espalhem na tinta. Resultados bem interessantes
acontecem quando invertemos o processo e “salpicamos” tinta sobre um fundo molhado apenas com água limpa.
Esta técnica é ideal para representar folhas de árvores e arbustos. Com um pincel, coloque a cor desejada sobre um pequeno pedaço de
esponja e bata suavemente sobre o desenho. Uma dica é começar com as cores mais claras.
A pintura com aquarela não interfere na superfície do papel, portanto, é possível adicionar à imagem outros materiais como nanquim, guache
branco, caneta gel ou caneta Posca, grafite, pastel seco, lápis de cor e acrílica.
O nanquim pode ser aplicado depois da aquarela estar bem seca, para não borrar a linha do desenho. É possível também fazer ao contrário,
desenhando com nanquim e depois colorindo com aquarela.
Os efeitos em branco devem ser realizados após a completa secagem da aquarela. Uma dica é explorar os variados tipos de hachuras que você
já praticou, seja com tinta branca e pincel, canetas gel ou caneta Posca.
Créditos: Krisart/Shutterstock.
Saiba mais
Para você ampliar o seu olhar na área da ilustração, acesse o Catálogo Ibero-América Ilustra, que desde 2010 catálogos com obras de
ilustradores nascidos em território ibero-americano. Disponível em:<http://iberoamericailustra.com/catalog/index> .
TROCANDO IDEIAS
Pratique os exercícios propostos nos Temas 3, 4 e 5. Poste no Fórum, comente os seus resultados e os resultados dos seus colegas de curso.
NA PRÁTICA
A proposta deste último exercício de prática é pintar uma paisagem simples, com uma leve perspectiva e em tons monocromáticos, com o qual
você poderá aplicar algumas técnicas que aprendeu nesta aula. Observe os vários tons da imagem e veja como as silhuetas dos troncos das árvores
mais ao fundo são mais claras e, à medida que se aproximam do primeiro plano, vão escurecendo e se tornando mais nítidas. Observe também as
sombras das árvores no chão e como elas se projetam para a frente em função do foco de luz (sol). Esta é uma proposta com efeitos cromáticos
menos manchados, a fim de dar a impressão de uma paisagem fria com névoa, ao amanhecer.
Créditos: Blacograf/Shutterstock.
Faça um esboço a lápis com linhas suaves, de formato pequeno (em torno de 10x7cm), na folha de papel Canson para desenho 200g.
Para a pintura da paisagem, você vai precisar de 3 tonalidades da tinta: 1 cor em tom claro (para todo o fundo incluindo o céu),1 cor em tom
médio (para as árvores do 2° plano e sombras) e 1 cor em tom escuro (para as árvores do 1° plano). Para facilitar a pintura de quem ainda não
conhece a técnica, sugerimos os passos a seguir. 1º passo: Pintura do fundo da imagem. Com o pincel maior, aplique água por toda a imagem e em
seguida uma camada clara de tinta. Use o seu pincel maior. Aguarde secar. 2º passo: com um pouco de tinta preparada em tom médio, pinte o chão
e as silhuetas das árvores mais ao longe do 2º plano. Dica: Procure não deixar secar a tinta no papel entre uma pincelada e outra. Aguarde secar.
passo: Com a tinta preparada em tom mais forte, pinte as árvores que estão mais à frente, incluindo os galhos. Dica: Você pode acrescentar uma
outra cor na tinta para deixá-la mais próxima da cor de tronco de árvore. Use a ponta do pincel redondo fino para fazer os galhos mais delicados.
passo: A sombra das árvores poderá ser feita com um tom médio mais acinzentado. 5º passo: Depois de tudo seco, faça as folhas de outono
borrifando a tinta com a escova ou com a ponta do pincel. Apague suavemente as linhas do rascunho a lápis. Dicas: usar pincéis pequenos para
pintar áreas menores e pincéis maiores para áreas grandes; lavar os pincéis com água e sabão e guardá-los em pé; a tinta que sobrar no godê
poderá ser reutilizada mesmo depois de seca, basta acrescentar água. Bom trabalho!
Como você deve ter notado, a aquarela é um dos materiais mais interessantes em função dos muitos efeitos que ela proporciona, porém é uma
técnica que exige muita paciência e prática constante. Observe quais dificuldades você encontrou e procure refazer os exercícios para fixar melhor o
conteúdo. Procure exercitar a criatividade fazendo anotações de desenho e de cores no seu sketchbook e insira as melhores imagens da sua prática
de aquarela no seu Portfólio digital.
REFERÊNCIAS
DALLEY, T. The complete guide to illustration and design: techniques and materials. Oxford: Phaidon, 1980.
MAYER, R. Manual do artista: de técnicas e materiais. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
OCVIRK, O. G. et al. Fundamentos de arte: teoria e prática. 12. ed. São Paulo: Bookman, 2013.