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O LIVRO DOS ESPÍRITOS

A Filosofia Espírita na “voz” de J.


Herculano Pires
WGarcia
Recife, PE

Eis aqui um documento importante para o estudioso do Espiritismo, datado de 24 de


agosto de 1974. J. Herculano Pires – cujo centenário de nascimento está sendo comemorado
desde 25 de setembro de 2013 – em palestra para espíritas faz uma abordagem dos principais
livros escritos por Allan Kardec com o objetivo de destacar a importância do seu estudo e das
correlações dos diversos temas que os livros abordam.

Vazada numa linguagem coloquial, familiar, onde a intenção do diálogo se sobressai


como verdadeiro convite à conversa ao pé do ouvido, Herculano mostra sua particular
preocupação em olhar para a codificação em seu conjunto como forma de poder integrar-se
nela e descer às suas reais profundezas.

Todo o texto resulta de um trabalho longo e paciente de decupação de fitas


magnéticas onde a palestra foi gravada, mantendo a coloquialidade da conversa, fator esse
que permite acompanhar o professor em sua “aula” e com sua forma peculiar de se relacionar
com a plateia de modo próximo, espontâneo, em que busca trazer para perto de si aqueles
que se encontram na condição de alunos.

O texto está sendo apresentado abaixo na forma como foi decupado. Fiz pequenos
ajustes, apenas, como a introdução de subtítulos e a correção de alguns senões gramaticais,
naturais em situações como a que o professor se encontra. A introdução de subtítulos visa
tornar o texto um pouco mais explícito e facilitar a identificação dos assuntos abordados.

Vale ressaltar que Herculano estuda os livros com os olhos voltados à particularidade
de cada um e ao conjunto do qual faz parte, ocasião em que realiza o enquadramento deles
como obra relacionada à filosofia, à ciência ou à religião. É assim que deixa clara a sua
natureza mas, também, as razões pelas quais entende o Espiritismo como doutrina
fundamentalmente preocupada com o Espírito e voltada ao seu conhecimento.

O tom familiar da palestra não impede que Herculano apresente uma riqueza de
informações impressionante, decorrente de sua constante atualização em relação ao
conhecimento que se produzia à sua época mas, também – e disso devemos estar certos –
resultante daquela bagagem que é inerente a todos os seres humanos multiexistenciais e que,
nele, Herculano, surgia como que à flor da pele sempre que seu espírito se punha a comparar
o novo com o velho, as tendências com a realidade, a parte e o todo.

A seguir, você tem a oportunidade de conhecer o pensamento de Herculano Pires


sobre O Livro dos Médiuns, quando o enquadra na área da Ciência e o interpreta como obra
geral do Espiritismo. Para ler o texto completo vá ao blog:
http://www.expedienteonline.com.br/?p=641
O LIVRO DA CIÊNCIA ESPÍRITA
Sendo assim O Livro dos Espíritos numa visão de conjunto da doutrina, ele precisava ser
desenvolvido em outros livros. Então logo a seguir a O Livro dos Espíritos vem O Livro dos
Médiuns. O Livro dos Médiuns é praticamente o livro da ciência espírita, o livro da ciência. Por
que? Porque ali Kardec trata cientificamente da investigação dos fenômenos, da metodologia a
seguir para a pesquisa espírita, e ao mesmo tempo oferece as teorias explicativas dos fatos,
dos fatos mediúnicos de todas as formas, tanto os da simples comunicação quanto os da
materialização, o da aparição, da materialização, da movimentação de objetos e assim por
diante. Então O Livro dos Médiuns é a parte científica do Espiritismo colocado também no
sentido de fundamento dessa parte. Quando se lê bem O Livro dos Médiuns chega-se a uma
conclusão muito interessante que Kardec já deixou n’O Livro dos Espíritos, mas que só lá é que
vai se completar. O que é a Ciência Espírita? Muita gente pergunta, o que é a Ciência Espírita?
Muita gente pensa que a ciência espírita seja uma espécie de parapsicologia, uma espécie de
metapsíquica. Não é nada disso. A Ciência Espírita, diz Kardec, é a ciência do espírito. Porque
existem as ciências da matéria, são várias, numerosas as ciências da matéria. Mas não existe
uma ciência do espírito. No tempo de Kardec, principalmente, quando a Psicologia devia ser a
ciência do espírito ela já estava se desviando do campo propriamente anímico, do campo da
alma que ela devia estudar, para entrar no campo experimental, tratando da psicologia no
sentido de simples relação do indivíduo com o meio. Tratando do comportamento humano,
que é o que faz até hoje. Então a própria psicologia já saía do campo do espírito, em que ela
havia nascido, porque nós falamos que psicologia quer dizer estudo da alma, pesquisa da alma,
né. Saía desse campo para entrar no campo também da investigação material, das relações do
homem, do sujeito, do indivíduo com o meio em que ele vive, com o seu comportamento
social, essas coisas todas que no final não correspondem a uma pesquisa do espírito, o espírito
ficou esquecido. E realmente a psicologia experimental reduziu a psicologia apenas aos
fenômenos materiais do homem. O problema da sensação, das emoções, das reações do
homem aos estímulos que vem de fora para ele, né. Tudo isto reduziu a este campo. Então
sendo a psicologia também uma ciência que se voltou para a matéria o espírito ficou
abandonado. O espírito ficou na mão das religiões.

Então só havia como autoridade para falar sobre o espírito, haviam os grandes sacerdotes,
os representantes das grandes religiões que eram os incumbidos disto, só eles podiam falar
disto, tratar disto, porque os outros não entendiam nada e nem queriam entender. Os
cientistas achavam que este problema de alma, de espírito, de sobrevivência após a morte era
um problema que devia competir apenas às religiões, eles não queriam saber disto. Então
Kardec diz, não mas o problema não é este não. A existência do espírito e a sua sobrevivência
estão integrados na própria natureza. Se as ciências tem por finalidade estudar a natureza e
revelar-nos a verdade sobre os processos naturais, se ela busca conhecer a realidade ela tem
que cuidar do espírito também. Mas como não havia ciência pra cuidar disso, ele disse o
Espiritismo funda a ciência do espírito. E fundou mesmo. A ciência do espírito. Então, esta
ciência do espírito parte da manifestação do espírito, só tem que partir disto, nós não
podemos estudar o espírito no plano puramente abstrato. Não podemos nos afastar da
realidade em que nós vivemos para mergulhar no infinito e estudar o espírito lá. Então, a
ciência do espírito tem de se apoiar nas manifestações do espírito. Estas manifestações do
espírito são dadas, como sabemos, através de toda a fenomenologia mediúnica, através das
manifestações mediúnicas. Então nós temos esse campo como o campo de pesquisa da ciência
espírita. Mas diz Kardec, o objeto da ciência espírita é o espírito, não é portanto os fenômenos
em si, é o espírito.

Para termos uma ideia do que seja a ciência espírita podemos ver, não só n’O Livro dos
Médiuns como também no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, na última parte do livro, as
pesquisas feitas por ele com relação ao estado, a situação dos espíritos depois da morte. Quer
dizer, ele então investigava os espíritos através da mediunidade, mas tendo como objetivo
principal saber o que era o espírito, como o espírito sobrevivia ao corpo, como ele permanecia
e vivia no mundo espiritual, o que ele faz no mundo espiritual, qual é o seu destino, tudo enfim
que se relaciona com o espírito. Quer dizer, os fenômenos são apenas a porta de entrada da
ciência espírita, apenas o elemento que facilita a pesquisa.

Eu estou dizendo isto porque é bom a gente conhecer bem este assunto para não fazer
confusões. Por exemplo, muita gente diz assim. A parapsicologia está suplantando o
Espiritismo. Não é verdade, a parapsicologia até agora só confirmou o espiritismo. O Padre
Quevedo por exemplo diz. A parapsicologia matou o espiritismo, não existe mais nada.
Mentira do padre, ele não devia mentir mas mente. Mentira porque ele sabe que não é assim.
Ele sabe, ele tem estudado o assunto e ele sabe que não é. Quer dizer, a parapsicologia só tem
confirmado o espiritismo. Até hoje, nenhuma pesquisa da parapsicologia, da parapsicologia
moderna, nenhuma pesquisa dela derrubou um único princípio espírita, nenhum. Não é
extraordinário isto? Desde 1930 quando começou a pesquisa parapsicológica nos Estados
Unidos, até hoje não houve nada na parapsicologia que derrubasse um só princípio do
espiritismo. Pelo contrário, todos os princípios foram confirmados.

Os que querem combater o espiritismo alegam então: não, mas tal cientista diz que pode
explicar isto da seguinte e seguinte maneira. Bom, o cientista disse baseado numa teoria,
numa hipótese que ele formulou. Mas o que nos interessa não são as hipóteses, são os
resultados da pesquisa. E essas hipóteses que são citadas contra o espiritismo forma todas
derrubadas pela pesquisa, a pesquisa não as comprovou. Então são hipóteses que não tinham
valor, hipóteses apenas como instrumento de trabalho, apresentadas como uma orientação
para pesquisa para ver se conseguia confirmar naquele campo, naquele ponto. Por exemplo,
um indivíduo diz assim: não é espírito que se manifesta, é o próprio espírito do indivíduo, do
médium que está falando. Então esta é uma hipótese, é uma hipótese que foi colocada, vamos
estudar, vamos pesquisar. A pesquisa feita provou o contrário. Quer dizer, se provou o
contrário a hipótese caiu, não existe mais. Eles então alegam baseando-se nessas hipóteses
que não existem, foram derrubadas pela pesquisa. Mas a pesquisa até agora só fez confirmar.

Então a ciência do espírito não se preocupa especialmente com os fenômenos. Ela se


preocupa principalmente com a verificação da situação dos espíritos, da sua condição de vida,
da maneira porque eles se encarnam e desencarnam, tudo isto é problema da ciência espírita.
Atualmente como nós sabemos as próprias ciências físicas estão entrando neste terreno. Mas
por que estão entrando? Porque são obrigadas a entrar. Ao investigar a matéria por exemplo,
os cientistas chegaram a que conclusão? Que a matéria era densa, compacta, impenetrável,
que a matéria por isso mesmo tinha a sua consistência própria e que ela não podia se
relacionar com nada daquilo que se atribuía a ideias abstratas, a pensamentos abstratos. Pois
bem, a investigação da física levou a descoberta de que a matéria nada mais é do que,
segundo a expressão de Einstein, uma condensação de energias. Energias que se condensam e
produzem algo que parece para nós opaco, concreto e ao mesmo tempo impenetrável. No
entanto é apenas uma condensação de energia. Quer dizer, se nós víssemos através de um
aparelho especial, eletrônico, a constituição de uma tábua por exemplo, ou de uma pedra, nós
veríamos que há dentro dela grandes espaços vazios que nós não percebemos. Na constituição
da matéria ela não é opaca, não é compacta como aparece para nós, a aparência é uma coisa a
realidade interna é outra. A teoria atômica veio mostrar que existe mais espaços vazios dentro
da matéria do que espaços concretos. Quer dizer, os átomos constituindo verdadeiras
constelações com grandes espaços vazios entre as partículas atômicas e o núcleo né, os
átomos estão mostrando o vazio que existe dentro da matéria que para nós parece
absolutamente densa. Então nesta investigação da ciência, a ciência teve de penetrar num
campo diferente, teve de ir além da matéria, porque ela por assim dizer desfez a matéria ou a
matéria se desfez na mão dos cientistas, né. E a conclusão foi a descoberta da antimatéria,
quer dizer, além da matéria apareceu uma outra coisa que é a antimatéria. E esta antimatéria
para nós que estamos sempre falando no outro mundo que eles negam, essa outra matéria se
apresentou para eles como sendo o outro mundo. Sim, o outro mundo. Porque todos os
elementos químicos que existem aqui no nosso mundo, existem na antimatéria, só que
constituídos de uma constituição diferente da nossa, diferente apenas na posição e na situação
dos átomos e das partículas atômicas. Por exemplo, os físicos soviéticos conseguiram obter em
laboratório a elaboração de um anti-átomo de hélio, anti-átomo de hélio. Existe o átomo de
hélio no nosso mundo, no mundo da matéria. Um anti-átomo de hélio no mundo da
antimatéria. Este anti-átomo tem todas as partículas que tem o átomo de hélio, só que a
posição, as cargas das partículas são inteiramente diferentes, são ao inverso das partículas da
matéria. Quer dizer, então a antimatéria parece então como o avesso da matéria, segundo
algumas expressões. Aparece como o avesso da matéria, mas ao mesmo tempo indispensável
à existência da matéria.

Então existem dois mundo interpenetrados, é essa a teoria espírita, dois mundos
interpenetrados, é o mundo espiritual e o mundo material. Mas a antimatéria não é o espírito.
Então o que seria a antimatéria? Para nós a antimatéria é o fluído universal, é o fluído
universal de que se constitui o mundo espiritual mais próximo da terra, aquele que nós
sabemos habitados por espíritos ainda revestidos de perispírito pesado, de corpo espiritual
pesado, muitas vezes tão densos que quase se aproximam da materialidade. Então a pesquisa
da própria ciência material acabou confirmando também um princípio espírita que a
parapsicologia não podia confirmar porque não era do campo de pesquisas dela, foi
confirmado pela Física. Atualmente como sabemos o avanço das pesquisas nesse terreno
chegou a descoberta do perispírito, do corpo espiritual do homem né, que os cientistas
soviéticos chamaram de corpo bioplástico ou bioplasmático. Então esse corpo também está
confirmado pelas ciências, e pelas ciências físicas. Temos mais uma confirmação que seria
muito difícil se obter na parapsicologia, mas que se obteve na Física e na Biologia, porque
biólogos e físicos estão empenhados no estudo disso.

O problema da morte por exemplo, também as comprovações científicas no campo dessa


pesquisa dos físicos e biólogos é absoluta, quer dizer, eles verificam no momento em que o
moribundo está morrendo eles conseguem verificar através das chamadas câmaras Kirliam de
fotografia da antimatéria, eles conseguem ver e fotografar a saída dos elementos vitais do
corpo humano constituindo depois um corpo que é o corpo que eles chamam de
bioplasmático que é o perispírito. Este corpo se retira completamente do corpo material e só
quando ele se retira o corpo vira cadáver, antes disso ele não vira. Quer dizer, então nós
vemos que as comprovações foram decisivas neste terreno.

Mas a ciência espírita ela trata como já dissemos não desses aspectos que pertencem a
área de ciências né, a área de ciências que dividem os dois campos. Aqui nós temos por
exemplo as ciências da matéria, aqui nós temos as ciências do espírito e aqui no meio nós
temos a área das ciências intermediárias, que são metapsíquica, a área psicologia, ciência
psíquica inglesa, e assim por diante, as várias ciências que estudam os fenômenos mediúnicos.
Se temos aqui a matéria e aqui o espírito, temos aqui a mediunidade. Quer dizer, esta área das
ciências que é ocupada pela Parapsicologia hoje, e pela Metapsíquica que ainda também
subsiste, continua a se desenvolver. Então, esta área das ciências é a área que trata da
mediunidade e não do espírito, mas esta área que é do Espiritismo é a Ciência do Espírito.
Olha, então nós já vemos que a doutrina tem aspectos que a gente precisa compreender,
prestando bem atenção no estudo porque se não nós podemos fazer confusões, né. Por
exemplo, lá na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas um companheiro de Kardec propôs a
ele certa vez. Vamos trabalhos de materialização aqui. Kardec disse acho que não, mas vou
consultar o espírito guia. Consultou o espírito guia do trabalho e o espírito disse não.
Materializações, efeitos físicos, essa coisa toda é para os cientistas, eles vão verificar isto, você
trata do espírito, da pesquisa do espírito.

Então as pesquisas de Kardec a gente pode ver, principalmente no final do livro O Céu e o
Inferno, e ver de maneira completa na Revista Espírita, a Revista Espírita em seus doze
volumes da Revista Espírita, ali a gente vai encontrando as várias investigações feitas por
Kardec, tudo publicado integralmente ali, com as manifestações dos espíritos, as respostas
dadas a Kardec sobre as suas perguntas, mostrando como o espírito se sente no mundo
espiritual, como inclusive o espirito de pessoas vivas, que foi uma pesquisa muito importante
de Kardec, espírito de pessoas vivas durante o sono, quando estão dormindo se retiram e
passam a viver no espaço. Então como esse espírito se sente no espaço, o espírito da pessoa
viva, quais são as sensações que ele tem, tudo isto foi pesquisado intensivamente por Kardec,
durante doze anos de pesquisas. Então aí nós temos a Ciência Espírita realmente e O Livro dos
Médiuns é o livro fundamental dessa ciência.

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