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“Durante séculos temos carregado o peso dos crimes e dos

erros do eurocentrismo "científico", os seus dogmas


impostos em nossa carne como marcas ígneas da verdade
definitiva. Agora devolvemos ao obstinado segmento
“branco” da sociedade brasileira as suas mentiras, a sua
ideologia de supremacismo europeu, a lavagem cerebral
que pretendia tirar a nossa humanidade, a nossa
identidade, a nossa dignidade, a nossa liberdade.
Proclamando a falência da colonização mental
eurocentrista, celebramos o advento da libertação
quilombista.” (Nascimento, 2013, p. 6).

CONCEITO DE RELIGIÃO

Em “As formas elementares da vida religiosa”, Durkheim desenvolve sua ideia de


religião com base na distinção entre as representações compartilhadas do que é sagrado
e do que é profano. Para ele, a principal característica da religião conceitua como o
elemento central o que chamamos de "sagrado", algo especial e fora do comum. Em
contrapartida, o "profano" se refere às coisas comuns e mundanas (Durkheim, 2000,
p.19). É importante notar que essa diferença entre sagrado e profano não é a mesma que
a distinção entre coisas sobrenaturais e naturais. Coisas sobrenaturais não são
automaticamente sagradas, e coisas sagradas não precisam ser necessariamente
sobrenaturais. O ponto principal de sua análise é que o sagrado está intimamente ligado
à sociedade. As crenças religiosas são compartilhadas coletivamente, e os principais
rituais religiosos são realizados em grupo. De acordo com Durkheim, a religião é
unificada sob uma ideia central, que é a noção do sagrado. Do ponto de vista dos
crentes, todos os detalhes dos rituais e crenças derivam da própria natureza da divindade
(Durkheim, 2012, p. 33).

COLONIZAÇÃO

A colonização não é apenas uma conquista militar e econômica, mas algo que
transforma profundamente a vida das pessoas. Para os argelinos, foi como uma
revolução que mexeu com suas crenças, ideias e modo de viver. Toda uma nação, que
não estava pronta para isso, teve que se adaptar rapidamente ou enfrentar problemas
sérios. Isso causou um desequilíbrio tanto moral quanto material, que poderia levar à
completa desintegração (Hernandez, 2005). Conforme Hernandez, essas ideias mostram
como a perda da independência e liberdade devido à alienação da soberania levou as
comunidades locais a resistir contra o governo colonial francês. Um exemplo disso foi a
guerra liderada por Abd-al-Qadir, que durou de 1834 a 1847 e foi encerrada por um
grande exército francês. Isso demonstra o quão importante a soberania era para muitas
sociedades africanas, indo além do simples poder político.

De todo modo, o processo de colonização foi sempre


marcado pela violência, pelo despropósito e, não raro,
pela irracionalidade da dominação. O confisco de terras,
as formas compulsórias de trabalho, a cobrança abusiva
de impostos e a violência simbólica constitutiva do
racismo, feriram o dinamismo histórico dos africanos
(HERNANDEZ, 2005, p. 109).
Em várias partes da África, as ideias religiosas tiveram um papel importante nos
movimentos de resistência. Elas estavam ligadas a questões de soberania e legitimidade.
Isso significa que as crenças religiosas eram usadas como apoio à luta contra o domínio
colonial. Essa conexão entre religião e política foi particularmente forte entre 1880 e
1914. Quando os colonizadores se tornavam opressivos, as crenças religiosas ajudavam
as pessoas a se conscientizarem, a se organizarem para protestar e a se oporem ao
controle estrangeiro. O continente começou a ser verdadeiramente explorado graças ao
trabalho dedicado de missionários e exploradores. A partir de 1830, os primeiros a
desbravarem essas terras eram anglicanos, metodistas, batistas e presbiterianos, todos a
serviço da Grã-Bretanha. Eles desempenharam suas atividades em locais como Serra
Leoa, Libéria, Costa do Ouro e Nigéria (Hernandez, 2005). Ao mesmo tempo,
missionários católicos franceses perto do Senegal, desde 1848, protestaram contra o
aprisionamento e a escravidão. Eles alegavam que queriam "salvar as almas dos
selvagens" e "parar o massacre de negros", mas, na verdade, isso escondia o desejo
europeu de conquistar a África.

Hernandez ainda cita em sua obra, que é importante notar que a cristianização na África,
seja pelos católicos ou pelos protestantes, tinha três objetivos comuns. Primeiro,
queriam que os africanos adotassem não só o cristianismo, mas também os valores da
cultura europeia. Em segundo lugar, ensinavam a ideia de separar a parte espiritual da
vida diária, o que ia contra a tradição africana que via a vida e a religião como uma
coisa só. Por fim, opunham-se aos rituais sagrados locais, enfraquecendo a influência
dos líderes tradicionais africanos.
Para entender como isso afetou as pessoas, é crucial considerar a reação dos africanos,
que muitas vezes resistiam abertamente ou secretamente às proibições dos missionários
e mantinham seus rituais tradicionais. Além disso, alguns adotavam uma abordagem
sincretista, misturando elementos das crenças locais com a nova fé cristã.

Em várias partes da África, as ideias religiosas foram muito importantes nos


movimentos de resistência. Isso fez com que os pesquisadores notassem que crenças e
símbolos religiosos, às vezes diretamente, apoiavam questões como soberania e
legitimidade. É essencial destacar que, ao mesmo tempo, as ideias religiosas tinham um
lado político, pois o sagrado sempre esteve ligado à forma como as sociedades eram
organizadas (Hernandez, 2005).

Assim, é relevante enfatizar que a reação religiosa desempenhou um papel forte nos
movimentos de resistência na África, especialmente entre 1880 e 1914. Em outras
palavras, quando a colonização causava problemas, a religião, de diferentes maneiras,
ajudava as pessoas a ficarem conscientes, a se organizarem para protestar e se tornava
uma forma de oposição.

A obra "Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda oferece uma análise


aprofundada sobre o papel da religião na formação da cultura e sociedade brasileira,
buscando sintetizar as principais ideias e observações do autor a respeito da religião no
contexto da construção do Brasil como nação. Sérgio Buarque de Holanda enfatiza o
sincretismo religioso como um traço distintivo da religião brasileira. Este fenômeno é
resultado da fusão e interação de tradições religiosas de origens africanas, indígenas e
europeias ao longo da história do país, culminando em práticas religiosas únicas, como
o Candomblé e a Umbanda. O mesmo destaca a influência contínua do catolicismo na
sociedade brasileira descrevendo como o catolicismo romano desempenhou um papel
central na vida das pessoas e na organização social, tanto durante o período colonial
quanto em períodos posteriores. Além disso, reconhece a presença das religiões
indígenas e sua contribuição para a diversidade religiosa do Brasil, ressaltando como os
povos indígenas conseguiram manter suas práticas religiosas tradicionais, mesmo sob a
pressão da colonização.

O autor menciona as religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, e


sua relevância na cultura religiosa brasileira. Ele observa como essas religiões se
desenvolveram a partir da fusão de tradições africanas com elementos do catolicismo e
da cultura indígena. No contexto da identidade nacional brasileira, Buarque de Holanda
sugere que a religião desempenhou um papel significativo na construção de uma cultura
única e complexa, influenciada por diversas tradições religiosas.

No cenário do século XVI, além das motivações políticas e econômicas, a descoberta de


terras desconhecidas despertou uma profunda curiosidade e alimentou o imaginário
popular com mitos e lendas envolvendo seres extraordinários e reinos fantásticos.
Portugal desembarcou no Brasil em 1500. e após três décadas de esforços para
consolidar sua presença no território, a colonização finalmente começou a ganhar forma
(Cardoso, 2020).

Cardoso ainda cita que inicialmente, a escravização de indígenas foi adotada como
prática e embora fossem uma opção mais econômica em comparação com os africanos,
os povos nativos apresentavam desafios significativos para seus senhores. Além do mito
infundado de que a cultura indígena era incompatível com o trabalho árduo exigido
pelos europeus - uma noção sem respaldo em qualquer cultura -, a resistência indígena
era notável, uma vez que estavam mais familiarizados com a terra, o que facilitava
rebeliões e fugas. Assim, a transição da escravidão indígena para a africana ocorreu, o
que fez com que o tráfico de escravos africanos se tornasse um empreendimento atrativo
e lucrativo, emergindo como uma significativa fonte de acumulação de riqueza.

A chegada dos povos africanos em solo brasileiro veio acompanhada de suas raízes
religiosas, como a Umbanda e o Candomblé. Essas práticas incluíam a veneração de
ancestrais, o contato com espíritos, danças e música. A Umbanda e o Candomblé são
religiões que se destacam pelo sincretismo religioso e sua capacidade de unir diferentes
tradições espirituais em uma única prática religiosa. Sua história é repleta de influências
culturais e religiosas que a tornam uma das religiões mais distintas e vibrantes do Brasil.

UMBANDA

A Umbanda, por exemplo, como a conhecemos hoje, começou a se desenvolver no


início do século XX. Influenciada por várias correntes religiosas, incluindo o
espiritismo, o catolicismo, o candomblé e o kardecismo, a religião se solidificou. O
Caboclo das Sete Encruzilhadas, considerado o primeiro médium de Umbanda,
desempenhou um papel crucial na consolidação da religião. Com seu crescimento, a
Umbanda foi oficialmente reconhecida como uma religião no Brasil em 1941, quando
foi registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A religião continuou a evoluir,
incorporando elementos de outras tradições espirituais e desenvolvendo várias vertentes,
sendo conhecida por suas práticas de incorporação de espíritos, rituais de cura e respeito
aos orixás, entidades espirituais que representam forças da natureza e promovendo a
comunhão com os ancestrais e busca orientação espiritual por meio de médiuns.

CANDOMBLÉ

BREVE HISTÓRICO LGBTQIAP+

A homossexualidade é retratada na história desde 1200 A.C. e sua proibição se inicia no


século XIII surge um conjunto de leis sob o império de Gengis Khan que condenava a
prática da sodomia, estabelecendo inclusive pena de morte. Em 1533 o Ocidente surge
com suas primeiras leis contrárias à homossexualidade com influência da Inquisição No
Ocidente, o “Buggery Act" na Inglaterra e o Código Penal de Portugal e deste modo, as
leis anti-homossexualidade tomam forças e começam a se espalhar por todo ocidente
(Ferraz,).

Teorias médicas e psicológicas classificavam a homossexualidade como uma condição


mental, sujeitando os praticantes a tratamentos brutais, como castração, terapia de
choque, lobotomia e até "estupros corretivos”, o que se estendeu até os dias de hoje, já
que, clínicas privadas que oferecem serviços de "cura gay" são encontradas em vários
países. Até o momento, durante esta década, as relações homossexuais continuam a ser
criminalizadas em 73 países, sendo que 13 deles preveem a pena de morte como
punição. No Brasil, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos, em
2022, foram contabilizados pelo Dossiê 273 mortes de pessoas LGBTQIAP+, 228
foram assassinados, 30 suicídios e 15 mortes por outras causas.

Com o passar dos anos, a Medicina e a Psicologia reconheceram a homossexualidade


como orientação sexual, foi então que o Conselho Federal de Medicina, em 1985,
removeu “homossexualismo” da classificação de doenças (Ministério da Saúde, 2002).
Na década de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez o mesmo, e em 1999,
foi a vez do Conselho Federal de Psicologia que proibiu que psicólogos realizem
psicoterapias que possuam como objetivo a “cura da homossexualidade” (Resolução
CFP nº 001/99). Apesar disso, o “tratamento para a homossexualidade” voltou a ser
discutido no cenário político brasileiro por meio do projeto PDC 234/2011 com a
proposta da “Cura Gay”, em que a homossexualidade é percebida como uma patologia
que poderia ser tratada por psicólogos (Magalhães & Ribeiro, 2015).

As religiões podem influenciar seus participantes, pois fornecem princípios para a


socialização, organização da sociedade e indicações para a vida cotidiana (Silva, Paiva,
& Parker, 2013). Pois, possuem normas e códigos de conduta que podem atravessar de
modo mais direto ou flexível a expressão das sexualidades, contribuindo para nortear
práticas que se referem ao universo sexual e da intimidade, bem como dos
relacionamentos interpessoais (Etengoff & Daiute, 2014; Jeffries et al., 2014).

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