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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE MARÍLIA

CAMPUS POMPÉIA

TECNOLOGIA MECÂNICA

Aula 07

Tratamentos Térmicos das Ligas Ferrosas


(Parte 2)
Tratamentos Termo-Físicos e Termo-Químicos

Prof. Me. Dario de Almeida Jané


TECNOLOGIA MECÂNICA

Tratamentos Térmicos – Parte 2


- Introdução

- Tratamentos Termo-Físicos
- Recozimento
- Normalização
- Têmpera
- Revenido

- Tratamentos Termo-Químicos
- Cementação
- Nitretação
- Boretação
TECNOLOGIA MECÂNICA
Tratamentos Térmicos – Parte 2

Introdução
• Como visto anteriormente (Aula 06) os tratamentos térmicos tem por
objetivo, alterar a estrutura cristalina natural dos metais (em especial das
ligas Ferro-Carbono, com percentual de Carbono variando entre 0,05% e
2,14%), e conseqüentemente suas propriedades mecânicas.

• Dentre tais propriedades mecânicas, podemos citar:


– Aumento/diminuição da dureza;
– Aumento da resistência mecânica;
– Melhora da ductibilidade/usinabilidade;
– Etc ....
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Tratamentos Térmicos – Parte 2

Introdução
• Usualmente, dois tipos diferentes de tratamentos são utilizados para atingir
tais modificações nas estruturas cristalinas e nas propriedades mecânicas:

– Tratamentos Termo-Físicos: consistem nos processos de aquecimento


do material a temperaturas que propiciam mudanças no seu retículo
cristalino, permanência durante certo período nestas condições e
posterior resfriamento (lento ou rápido).

– Tratamentos Termo-Químicos: são processos que também envolvem


aquecimento do material, porém com adição de elementos externos
(ambiente onde o tratamento é executado) que reagindo com os
elementos do material, modificam suas características.
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Tratamentos Térmicos – Parte 2

Tratamentos Termo-Físicos
• Duas são as considerações iniciais que devem estar bem claras, antes de se
realizar a operação de tratamento termo-físico:
– Quais os objetivos do tratamento ?????
– Quais as modificações estruturais necessárias ?????

• Em função destas considerações, podem ser definidos os seguintes


parâmetros:
– Equipamentos e ferramentas;
– Condições de aquecimento;
– Condições de resfriamento;
– Etc .....
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Tratamentos Térmicos – Parte 2

Tratamentos Termo-Físicos (Aplicados aos Aços)


• Pode-se então definir os tratamentos Termo-Físicos, como a seqüência de
processos, envolvendo: aquecimento (normalmente acima da temperatura
de austenitização); manutenção da liga, nesta temperatura, até que sua
estrutura cristalina se austenitize de maneira uniforme; resfriamento com
velocidade controlada, de modo a obter as microestruturas desejadas.

• Estes três processos citados (aquecimento, manutenção e resfriamento),


são normalmente chamados de FATORES DE INFLUÊNCIA nos tratamentos
Termo-Físicos.
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Tratamentos Térmicos – Parte 2

Tratamentos Termo-Físicos (Aplicados aos Aços)


• Vale ressaltar, que independente
do tipo de tratamento aplicado,
Ferro δ
todo o processo de alteração das
características da liga (FeC),
Ferro γ
estará baseado nas propriedades
ALOTRÓPICAS do Ferro em
função da temperatura:

Ferro α
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Tratamentos Térmicos – Parte 2

Tratamentos Termo-Físicos (Aplicados aos Aços)


• Os tratamentos Termo-Físicos objeto desta disciplina serão:

– Recozimento

– Normalização

– Têmpera

– Revenido
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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


• O Recozimento de um aço, tem como objetivos:

– Diminuir a dureza do material, melhorando sua usinabilidade sob o


ponto de vista do desgaste da ferramenta de corte;

– Aliviar as tensões internas, originadas por processos de soldagem,


fundição e tratamentos mecânicos à frio (encruamento);

– Eliminar quaisquer outros tratamentos termo-físicos anteriormente


realizados no material.
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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


• O princípio que explica a ação do Recozimento no material está baseado no
fato de que quando há uma variação em sua energia de deformação
(trabalho aplicado sobre o material) a ponto de deformá-lo plasticamente,
parte desta energia (em torno de 10%) fica armazenada no seu retículo
cristalino na forma de DISCORDÂNCIAS (imperfeições no retículo).

Discordância
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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


• Exemplo de deformação plástica à frio (encruamento):

Grãos Grãos
originais deformados
e alongados
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Recozimento (Aplicado aos Aços)


• Essa energia armazenada atua como força capaz de provocar a volta do
sistema reticular às condições normais, como estrutura não-deformada,
desde que se criem condições capazes de reverter o processo.

• A barreira energética que impede essa volta, é ultrapassada pelo


aquecimento do metal a uma certa temperatura, durante determinado
período.

• Durante este período de exposição à determinada temperatura, há como


que um re-arranjo e eliminação dos defeitos cristalinos.
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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


• Existem basicamente três estágios principais no Recozimento:

– Recuperação ou Alívio de Tensões (Sub-Crítico): Este primeiro estágio é


verificado a temperaturas mais baixas (entre 10 e 20 C abaixo da linha
A1). Nele ocorre um re-arranjo das discordâncias, de modo a adquirir
configurações mais estáveis, embora não haja mudança na quantidade
de defeitos (começa a haver diminuição nas tensões internas).

– Recristalização ou Recozimento Pleno: Neste estágio, imediatamente


após a Recuperação, e portanto, a temperaturas mais elevadas (50 C
acima da linha A3 para os aços hipoeutetóides e 50 C acima da linha A1
para os hipereutetóides), verifica-se o surgimento de novos cristais de
composição e estrutura idênticas aos grãos originais não-deformados.
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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


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Tratamentos Termo-Físicos

Recozimento (Aplicado aos Aços)


– Crescimento de Grão: Em temperaturas ainda mais elevadas, os grãos
recristalizados tendem a crescer, mediante o mecanismo de absorção
por parte de alguns grãos dos grãos vizinhos.

Como os contornos de grãos representam descontinuidades que


impedem o deslizamento ou o movimento entre as discordâncias,
quanto menor o número de contornos de grãos, menor a resistência a
esse movimento, ou seja, “granulação fina” favorece a resistência
mecânica, enquanto que a “granulação grosseira” diminui a resistência
mecânica e dureza, melhorando a plasticidade e usinabilidade do aço.
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Recozimento (Aplicado aos Aços)


• O diagrama a seguir, mostra que para
a curva de resfriamento no
Recozimento, as velocidades de
resfriamento indicadas (resfriamento
lento – no próprio forno) produzem
as microestruturas perlita, ou perlita
+ ferrita, ou perlita + cementita.

Ae3 = fim da austenita.


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Normalização (Aplicada aos Aços)


• O processo de Normalização de um aço, tem como objetivo:

– Refinar e homogeneizar a estrutura do aço, conferindo-lhe melhores


propriedades que as obtidas no Recozimento.

PERLITA FINA
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Normalização (Aplicada aos Aços)


• Os princípios que explicam a ação da Normalização no material são os
mesmos do Recozimento, com a diferença de que toda a estrutura cristalina
do material será austenitizada.
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Tratamentos Termo-Físicos

Normalização (Aplicada aos Aços)


• Curva de resfriamento na Normalização,
mostrando a formação de perlita fina e
as demais microestruturas (ferrita ou
cementita).
Durante a Normalização, a
austenitização é feita totalmente
(temperaturas acima de A1 ou Acm) e
segue-se um resfriamento ao ar livre
(mais rápido que no Recozimento).
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Têmpera (Aplicada aos Aços)


• A têmpera, ao contrário do recozimento e da normalização, objetiva a
formação de uma fase chamada Martensita, que é dura e frágil. A têmpera
caracteriza-se por um resfriamento rápido (alguns segundos) a partir de uma
temperatura onde exista 100% (?????) de austenita.

• O mecanismo de formação dessa microestrutura chamada Martensita é


caracterizado pela rapidez com que o processo acontece, sendo que os
átomos de carbono não se difundem (migram) para formar a ferrita e a
cementita, e são retidos nos interstícios octaédricos da estrutura CCC
produzindo essa nova fase. A solubilidade do Carbono na estrutura CCC é
muito baixa, então, os átomos de carbono expandem a célula unitária em
uma direção, fazendo com que a martensita assuma a estrutura tetragonal
de corpo centrado, e gerando grandes tensões no retículo cristalino.
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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços) – Estrutura Martensítica (TCC)


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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços)


• A têmpera, é composta por um conjunto de três etapas:

– Aquecimento até a temperatura de austenitização do aço (em torno de


50 C acima da linha A3 para aços hipoeutetóides e 50 C acima da linha
A1 para os hipereutetóides). Isto significa que nos hipoeutetóides, toda a
ferrita e perlita se transformam em austenita. Já nos aços
hipereutetóides, apenas a perlita se austenitizará, enquanto que a
cementita continuará existindo (já é uma microestrutura de elevada
dureza).
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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços)


– A permanência do aço na temperatura de austenitização deve ser
suficiente para que a superfície e o centro da peça adquiram a mesma
temperatura e ocorra a solubilidade completa do carbono na estrutura
CFC do ferro.

Adota-se na prática, 2 minutos por milímetro de espessura do material.


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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços)


– O resfriamento na têmpera determina efetivamente a existência da
estrutura martensítica do retículo cristalino. Portanto, ela deve ser tal
que a curva de resfriamento passe à esquerda do “cotovelo” da curva C
para aquele material.
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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços)


• Diagrama do tratamento de
Têmpera – Curva C para um aço
eutetóide.

A = austenita;
P = perlita;
B = bainita;
M = MARTENSITA.
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Tratamentos Termo-Físicos

Têmpera (Aplicada aos Aços)


As temperaturas de aquecimento e o respectivo meio de resfriamento, podem
ser encontrados em tabelas como a seguir.
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Tratamentos Termo-Físicos

Revenido (Aplicada aos Aços)


• Como a estrutura natural do material temperado é CCC na temperatura
ambiente, e com o resfriamento brusco a mesma ficou distorcida, a
concentração de tensões mantém-se elevada, sendo necessária a realização
do tratamento de Revenimento para evitar o surgimento de trincas e a
elevada fragilidade do material.

• Revenido ou Revenimento é portanto um tratamento térmico utilizado nos


aços para correção de inconvenientes decorrentes da Têmpera como
excessiva rigidez (baixa elasticidade) e alta fragilidade (baixa resistência ao
choque).
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Tratamentos Termo-Físicos

Revenido (Aplicada aos Aços)


• A operação de Revenimento ou Revenido, consiste no reaquecimento da
peça temperada a uma temperatura inferior a de austenitização.

• A temperatura de revenido e o tempo de manutenção desta temperatura


influem decisivamente nas propriedades finais obtidas no aço: quanto maior
o tempo e/ou a temperatura, maior será a ductilidade e menor sua dureza.

• A temperatura de revenido normalmente situa-se entre 150°C e 600°C, e o


tempo de duração entre 1h e 3h. Todavia, como dito anteriormente, quanto
maior a temperatura empregada, mais o revenido tende a reduzir a dureza
obtida na têmpera.
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Revenido (Aplicada aos Aços)


• Diagrama Curva C, para Têmpera, seguida de Revenimento:
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Tratamentos Termo-Químicos

Tratamentos Termo-Químicos
• Estes tratamentos visam igualmente o endurecimento superficial dos aços.

• Contudo, o endurecimento da superfície não é resultado de uma simples


transformação da AUSTENITA em MARTENSITA, como acontece na Têmpera.

• Na verdade, em razão das condições do ambiente onde o processo Termo-


Químico está ocorrendo, ocorrem reações entre elementos contidos nesse
ambiente e os elementos contidos nos aços.

• A principal característica deste tipo de tratamento para aumento de dureza


superficial, é a possibilidade de manter o núcleo das peças dúcteis, aliando
boa resistência ao impacto (tenacidade), com elevada dureza superficial
(resistência ao desgaste).
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Tratamentos Termo-Químicos

Cementação
• Aplica-se a aços com até 0,30% de Carbono;

• É aplicada em peças como engrenagens, eixos, parafusos, etc, que


necessitam aliar elevada dureza superficial com boa tenacidade do núcleo;

• O aço é colocado em um meio rico em Carbono e aquecido acima da


temperatura de austenitização, para dissolver uma quantidade maior de
Carbono;

• A camada cementada dependerá essencialmente do tempo em que a peça


estará em contato com o meio cementante;

• Como o processo se dá por difusão, a camada superficial apresentará maior


saturação de Carbono, decrescendo em direção do núcleo da peça.
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Cementação – Influência do Tempo e da Temperatura


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Tratamentos Termo-Químicos

Cementação – Exemplo engrenagem


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Tratamentos Termo-Químicos

Cementação – Meios Cementantes

Tipo de Cementação Meios Cementantes


Carvão vegetal
Sólida
Carvão coque
(caixa)
Ativadores

Líquida
Cianetos
(banho em sais fundidos)

Gasosa Gás metano


(fornos de atmosfera controlada) Gás propano
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Tratamentos Termo-Químicos

Cementação – Equações Fundamentais


• Na cementação, o elemento fundamental é o carbono, na forma de
carvão, monóxido de carbono ou contido em banhos de cianetos. O
carbono do meio, reagirá com o ferro do aço, através da equação:

C + 3Fe  Fe3C
• Na realidade o agente carbonetante é o gás CO, pois nas temperaturas de
operação, verificam-se as seguintes reações:

C + O2  CO2
CO2 + C  2CO
3Fe + 2CO  Fe3C + CO2
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Tratamentos Termo-Químicos

Nitretação
• É um tratamento de endurecimento superficial semelhante a cementação,
que se caracteriza pela introdução superficial do Nitrogênio no aço até
uma certa profundidade;

• A nitretação é realizada a uma temperatura inferior à de austenitização


(entre 500° C e 560 ° C), em meio líquido ou gasoso. O nitrogênio
introduzido na superfície do aço, combina-se com o ferro, formando um
camada de nitreto de ferro de elevada dureza.

• Portanto, nos processos de nitretação, não há modificação no percentual


de carbono da camada superficial endurecida.
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Tratamentos Termo-Químicos

Boretação
• É um processo mais recente entre os tratamentos superficiais nos aços;

• Consiste no enriquecimento superficial do aço com boro e se efetua em


meio sólido de carboneto de boro a uma temperatura de 800° C a 1050° C.

• O composto formado na superfície da peça boretada é o boreto de ferro,


com durezas elevadíssimas.

• Assim como a nitretação, a boretação não tem influência no percentual de


carbono da camada superficial endurecida.

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