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INTRODUÇÃO
A Região Sul da Bahia, inserida no Bioma Mata Atlântica, abriga um alto percentual de
espécies remanescentes, compondo um patrimônio genético arbóreo de valor inestimável
(Lobão, e. al. 2007). Segundo Setenta e Lobão (2012), o sistema agroflorestal cabruca,
modelo de plantio de cacau (Theobroma cacao) desenvolvido pelos povos dessa região, é
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado na fazenda Bela Cruz (UTM WGS 89: Zona 24L - E – 0443808;
N - 8366262), município de Barro Preto (BA, BR), que compõe o agrossistema cacaueiro
Vale do Almada na região cacaueira do Sul da Bahia. A propriedade faz parte do Projeto
Barro Preto (2015) resultante do consórcio entre a Prefeitura e o Sindicato Rural de Barro
Preto, MARS CACAU e CEPLAC.
A Faz. Bela Cruz possui área total de 11 hectares (ha), dos quais 09 hectares
possuem sistema agroflorestal com cacau cabruca, com produtividade média de 1500 kg
ha-1 ano; 01 ha com pastagem e 01 ha com pupunheira (Bactris gasipae). Na área de cacau
cabruca foi demarcado 1,4 ha para fins de estudo. A área está localizada na micro bacia do
rio Salgado, que compõe a macro bacia do rio Cachoeira; é banhada pelo córrego Jussara,
formado por três nascentes (duas localizadas na área do projeto) e outros três pequenos
córregos perenes.
Essa microrregião possui clima quente e úmido sem estação seca, segundo a
classificação de Köppen, é do tipo Af; com precipitação mensal acima de 60 mm, umidade
relativa acima de 80% e temperatura média em torno de 24º C. Os solos são classificados
pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (US Soil Taxonomy) com variação
Podzólica (Spodossolo) Itabuna Modal, Cepec e Morro Redondo, Latossolo Una, variação
Água Sumida e variação Inceptisol Rio Branco.
Na região existem áreas com vegetação natural em estádio inicial e médio de
regeneração (capoeira), bem como áreas de florestas tropicais úmidas, com características
primárias e secundárias, classificadas por Veloso et al. (1991) como floresta ombrófila densa,
pertencente à zona neotropical. A topografia da região varia de ondulada a fortemente
ondulada. A área trabalhada é caracterizada como ondulada.
A área de estudo teve o componente arbóreo do sombreamento inventariado a 100%
(censo), onde o fator de inclusão adotado para medir as árvores foi o diâmetro à altura do
peito (DAP) ≥ 8 cm, conforme determina a Portaria Sema-Inema 03/2019. O Herbário André
Maurício de Carvalho - CEPLAC foi utilizado como referência e o sistema de classificação
botânica adotado foi o Grupo Filogenético de Angiospermas II (APG II, 2003). O manejo
das árvores foi baseado na ética da conservação produtiva (Setenta e Lobão, 2012), o
Decreto Florestal da Bahia 15.180/2014 e na Portaria Conjunta Sema-Inema 03/2019. Os
cacaueiros, por não ser objeto de estudo, não foram inventariados.
As árvores inventariadas foram registradas: espécie, circunferência à altura do peito
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As decisões quanto ao manejo agroflorestal a serem adotados na recuperação
da lavoura cacaueira envolvem importantes aspectos fitotécnicos que não são aderentes
ao objetivo deste estudo. Será abordada apenas a análise quanto ao uso de descritores
fitossociológicos e dendrométricos e o efeito da interferência no sombreamento do
cacaueiro.
No censo florestal da área (1,4 ha), foram identificadas 136 árvores adultas,
pertencentes a 30 espécies, distribuídas em 20 famílias botânicas, perfazendo uma
Densidade média total de 97 ind ha-1 (Figura 1). As estimativas dos parâmetros relacionados
à fitossociologia da área antes e depois da intervenção de manejo são apresentadas na
Tabela 1. A Área Basal (AB) total foi estimada em 17,15 m2 ha-1. A espécie arbórea nativa
com maior AB (3,6 m2 ha-1) foi P. foliolosa (21%) e A. heterophyllus, espécie exótica, com
3,22 m2 ha-1 de Área Basal total, equivalente a 18,78% da área estudada.
O levantamento possibilitou quantificar o número de indivíduos por espécie, sendo
que as espécies consideradas muito abundantes (A. heterophyllus (DA = 22); C. odorata
(DA = 12); e P. foliolosa (DA = 10) que representaram DR de 43,5%; enquanto duas outras
espécies Nectandra sp. (DA = 7) e Lonchocarpus sp. (DA = 7) com DR de 14% do total
podem ser consideradas como abundantes.
A grande maioria das espécies apresentou baixa abundância com a soma de DR de
43,7%, enquanto 12% dessas espécies se apresentaram com apenas um indivíduo. Quanto
ao Índice de Abundância, o A. heterophyllus, introduzido há muitos anos e disseminado
junto com o cacau, confirma que está integrado e adaptado ecológica, cultural e socialmente
(Tabela 1). A que apresentou maior Densidade Relativa (DR) entre as espécies foi A.
Aegiphila
fumo-bravo 2 0,151 2,21 0,88 3,09 5,3 1,11 0 1,11 0 4,18 1,11 0,01 0,14
sellowiana
Aleurites
nogueira 1 0,017 0,74 0,1 6,58 1,54 0,13 0 0,13 0 1,41 0,13 0 0,01
moluccana
Annona pinha-do-
2 0,066 2,21 0,38 2,59 4,8 0,43 2 0 0,43 4,8 0 0 0,07
silvestres mato
Apeiba jangada-
1 0,192 1,43 1,12 2,59 4,06 1,07 1 0 1,07 4,06 0 0 0,19
tibourbou branca
Arthorcarpus
jaqueira 21 3,227 22,09 18,81 40,9 62,99 19,61 12 7,98 11,63 55,01 7,98 0,06 3,16
heterophyllus
Bauhiniafus unha-de-
1 0,035 1,47 0,2 1,67 3,15 0,26 1 0 0,26 3,15 0 0 0,03
conervis vaca
Bertholletia castanha-
1 0,014 0,74 0,08 0,82 1,56 0,13 1 0 0,13 1,56 0 0 0,01
excelsa do-pará
Cedrela odorata cedro-rosa 11 2,176 11,78 12,69 24,47 36,25 16,41 9 0,52 15,89 35,73 0,52 0,01 2,17
Centrolobium
putumuju 1 0,512 0,74 2,98 2,87 3,6 4,25 1 0 4,25 3,6 0 0 0,37
sp.
Cordia
claraíba 4 0,822 3,68 4,79 8,47 12,16 7,82 3 1,14 6,69 11,02 1,14 0,01 0,82
trichotoma
Croton sp. velame 4 0,371 4,42 2,16 6,58 11 3,05 1 2,2 0,85 8,79 2,2 0,02 0,36
Erythrina eritrina-de-
1 0,104 0,74 0,6 1,34 2,08 0,71 1 0 0,71 2,08 0 0 0,1
poeppigiana alta
Genipa
jenipapeiro 1 0,109 1,47 0,63 2,11 3,58 1,12 1 0 1,12 3,58 0 0 0,11
americana
mamão-de-
Jaracatia sp. 1 0,128 0,74 0,75 1,27 2,01 0,42 1 0 0,42 2,01 0 0 0,09
veado
Lonchocarpus
cabelouro 7 1,384 7,36 8,07 15,43 22,8 8,08 5 1,57 6,52 21,23 1,57 0,02 1,36
sp.
farinha-
Molinedia sp. 1 0,032 0,74 0,19 0,92 1,66 0,21 1 0 0,21 1,66 0 0 0,03
seca (Una)
Myrciaria
jaboticaba 1 0,098 1,47 0,57 2,04 3,52 0,42 1 0 0,42 3,52 0 0 0,1
cauliflora
Nectrandra sp. louro 6 0,642 6,63 3,75 7,4 14,03 5,16 5 0,59 4,58 13,44 0,59 0 0,13
Persea
abacateiro 2 0,179 2,21 1,04 3,25 5,46 0,71 2 0 0,71 5,46 0 0 0,18
americana
Plathymenia
vinhático 9 3,602 9,57 21 30,57 40,14 35,41 9 0 35,41 40,14 0 0 3,6
foliolosa
Pouteria sp. bapeba 1 0,082 0,74 0,48 1,21 1,95 0,3 1 0 0,3 1,95 0 0 0,08
Roupala sp. aderno 1 0,024 0,74 0,14 0,88 1,61 0,21 1 0 0,21 1,61 0 0 0,02
Sparattosperma
carobussu 2 0,31 2,21 1,81 4,02 6,23 2,03 1 0,5 1,53 5,73 0,5 0 0,31
leucanthum
Spondias
cajarana 1 0,063 0,74 0,37 1,1 1,84 0,46 1 0 0,46 1,84 0 0 0,06
venulosa
Swartzia grão-de-
3 0,345 2,86 2,01 4,95 7,9 1,85 2 0,23 1,63 7,67 0,23 0 0,34
macrostachya burro
Tabebuia pau-d’arco-
4 0,219 3,68 1,27 4,96 8,64 2,06 4 0 2,06 8,64 0 0 0,22
serratifolia amarelo
Trema micranta corindiba 1 0,024 0,74 0,14 0,88 1,61 0,17 0 0,12 0,05 1,49 0,12 0 0,02
rosa-
Trichilia pallida 1 0,082 0,74 0,48 1,08 1,81 0,52 1 0 0,52 1,81 0 0 0,06
branca
desconhe-
Desconhecida 1 0,041 0,74 0,24 0,98 1,71 0,3 1 0 0,3 1,71 0 0 0,04
cida
TOTAIS 97 17,11 99,3 99,8 201,7 294,4 128,1 74 16,09 112,05 280 16,09 0,13 16,3
N = núm. árvores, AB = área basal; DR = densidade relativa; DoR = dominância relativa; IVC = índice
de valor de cobertura; IVI = índice de valor de importância; Vc(m3) = volume comercial; Vcd(m3) = Vc
desbastado; Vcr(m3) = Vc após desbaste; IVId = desbastado; IVIr = remanescente pós desaste; ABd =
desbastado; ABr = remanescente pós desbaste.
Tabela 1- Descritores fitossociológicos das árvores inventariadas na cabruca da fazenda Bela Cruz no
sudeste da Bahia.
AGRADECIMENTOS
Às instituições do Projeto Barro Preto: MARS, CEPLAC, Prefeitura e Sindicato
Rural de Barro Preto. À equipe técnica de implantação e condução do Projeto Barro Preto:
Alcimar José Santos, Adriano Crispiniano, André Luiz da Silva Bina, Ednaldo Ribeiro Bispo,
Guilherme Galvão, João Dantas das Virgens, José Carlos Santana, José F. Assunção Neto,
Leonardo Celso Costa Cabral, José Raimundo Oliveira Santos, José Edson Rosa Santos,
Paulo Campos de Oliveira Santos e Reginaldo Barreto Paim.
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