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À Rasca/What a fool I am

À Rasca / What a fool I am


Photos & design Luis Martins Pisco
All rights reserved ©Luis Martins Pisco 2011
Cobalt Blue Press, Porto, 2023
1ºst edition of 50 copies

_______/ 50
Manifesto
Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos
disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores
independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-
estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.. Nós, que até agora
compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no
sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque À RASCA / What a fool I am
não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados.
Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro
digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza
políticos, empregadores e nós mesmos ‒ actuem em conjunto para uma alteração Em 2011 a canção, “Que parva que eu sou” traduzia o
rápida desta realidade, que se tornou insustentável. sentimento de insatisfação de uma geração que ficaria conhecida
Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso
por “Geração à Rasca”. Nesse ano alguns jovens incentivados pela
potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país.
canção dos Deolinda criou uma página numa rede social que inti-
Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar. tulou de “Geração à Rasca”, adaptando a expressão utilizada em
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso 1994 pelo director do jornal Público, Vicente Jorge Silva, “Geração
acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa Rasca” para classificar o comportamento dos jovens que nesse ano
liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação. se manifestavam contra o aumento das propinas no ensino superi-
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos or.
e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os A página foi um enorme sucesso e das inúmeras partici-
recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico. pações e comentários nasceu a vontade de organizar uma manifes-
Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos
deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas.
tação que materializasse esse descontentamento e revolta contra
Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a
a precariedade, os baixos salários e sobretudo a falta de expecti-
nós mesmos e a Portugal.. vas num futuro melhor.
Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar No dia 12 de Março de 2011, a manifestação organizada
à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser pelo Movimento mobilizou cerca de 300 mil pessoas de todas as
parte dela. idades, que participaram em manifestações em 11 cidades do país.
No Porto estima-se que a iniciativa reuniu cerca de 80 mil mani-
Manifesto festantes.
We, the unemployed, “quinhentoseuristas”* and others underpaid, disguised slaves, Esta é a minha memória desse dia único.
subcontractors, fixed-term contractors, false independent workers, intermittent
workers, interns, scholarship holders, student workers, students, mothers, fathers
Luís Martins Pisco
and children of Portugal.
We, who until now have agreed to this condition, are here today to make our In 2011, the song “Wath a foll I am” translated the feel-
contribution towards qualitative change in the country. We are here today because ing of dissatisfaction of a generation that would become known
we cannot continue to accept the precarious situation into which we have been as “Geração à rasca”.*
dragged. We are here today because we strive daily to deserve a dignified future, In the same year, a group of young people, encouraged by
with stability and security in all areas of our lives. Deolinda’s song, created a social media page they called “Geração
We protest so all those responsible for our current situation of uncertainty – à Rasca”. The name was inspired by the Vicente Jorge Silva, the
politicians, employers and ourselves – can act together to quickly change this director of newspaper Público who in 1994 used this term when
reality, which has become unsustainable.
Otherwise:
reffering to a group of students who were protesting against the
a) The present will be defrauded, as we do not have the opportunity to fulfill
increase in tuition fees in higher education.
our potential, by blocking the improvement of the country’s economic and social The page was a major success and, from the numerous
conditions. The aspirations of an entire generation will be wasted, since they interactions and comments, emerged the desire to organize a pro-
cannot prosper. test that could materialize the feeling of discontent and revolt
b) The past is insulted, because previous generations worked for our access to against the precariousness of living.
education, for our security, for our labor rights and for our freedom. Decades of On March 12, 2011, the protest organized by the “Geração
effort, investment and dedication are wasted. à Rasca” mobilized 300,000 people of all ages around 11 cities
c) The future is mortgaged, which is envisioned without quality education for all across the country. In Porto, it is estimated that the initiative
and without fair retirement for those who work all their lives. Resources and
skills that could lead the country to economic success are wasted.
brought together around 80,000 protesters.
We are the generation with the highest level of education in the history of the
This is my memory of that unique day.
country. For this reason, we do not allow ourselves to be overcomed by fatigue, Luís Martins Pisco
frustration, or lack of prospects. We believe we have the resources and tools to
give ourselves and Portugal a better future. *struggling generation.
We do not protest against other generations. We just aren’t, nor do we want to be,
waiting for the problems to solve themselves. We protest for a solution and we
want to be part of it.
*those earning less than 500 euros.
Que Parva que eu sou
Sou da geração sem remuneração / E nem me incomoda /
esta condição / Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar / Já é uma sorte eu
poder estagiar / Que parva que eu sou
E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser
escravo /É preciso
estudar / Sou da geração casinha dos pais / Se já tenho
tudo, p’ra quê querer mais? / Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar / E ainda me falta
o carro pagar / Que parva que eu sou
E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser
escravo / É preciso estudar / Sou da geração vou queix-
ar-me p’ra quê? / Há alguém bem pior do que eu na TV /
Que parva que eu sou
Sou da geração eu já não posso mais / E esta situação
dura há tempo demais /
E parva eu não sou!
E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Onde para ser
escravo / É preciso
estudar
Deolinda

What a fool I am
I’m from the unpaid generation\ and this condition
doesn’t bother me. \What a fool I am! \ For this is bad,
and will continue like that, \ I’m lucky I have an in-
ternship \ What a fool I am!\ And I think \ what a silly
world \ where one has to study to become a slave.\ I’m
from the “parent’s home” generation,\ if I already have
everything, why want more?
What a fool I am \Children, husband, I’m always post-
poning \ I have yet to pay off my car and I still have
to pay my car \ What a fool I am! \ And I think \ what a
silly world \ where one has to study to become a slave.
\ I’m from the “ why would I complain?” generation \
When there’s someone doing worse than me on tv
What a fool I am!\ I’m from the I can’t stand it!” ge-ner-
ation \ this situation has lasted too long And I’m am
not fool! \ And I think what a silly world \ where one
has to study to become a slave.
Deolinda

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