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8ª Edição
CAMPBELL REECE
U R R Y C A I N WA S S E R M A N
MINORSKY JACKSON
Obra originalmente publicada sob o título
Biology, 8th Edition
ISBN 9780805368444
Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE,
published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of
this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying,
recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc.
Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010.
Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL
e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos
reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada
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A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010.
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IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Invertebrados
33.1
33.2
33.3
33.4
33
CONCEITOS-CHAVE
Calcarea
e Silicea
PROTISTA Cnidaria
ANCESTRAL
Eumetazoa
Ancestral Lophotrochozoa
comum de
todos os
Figura 33.2 Revisão da filogenia animal. animais
Bilateria
Ecdysozoa
Com exceção das esponjas (animais basais dos
filos Calcarea e Silicea) e poucos outros grupos,
todos os animais possuem tecidos verdadeiros e
estão no clado Eumetazoa. A maioria dos animais Deuterostomia
está no clado diverso Bilateria.
Figura 33.3 B i o l o gi a 667
Explorando a diversidade de invertebrados
O reino Animália compreende 1,3 milhões de espécies conhecidas; estima-se que o total de espécies seja mui-
to maior. Dos 23 filos mostrados aqui, aqueles ilustrados com pequenas fotografias são discutidos em mais
detalhe neste capítulo ou em outro.
CTENÓFORO
Ectoproctos Braquiópode
Anelídeo marinho
ECDYSOZOA
Nematódeo Escorpião
(um aracnídeo)
DEUTEROSTOMIA
33.1 As esponjas são animais basais suem tecidos verdadeiros, grupos de células semelhantes que atuam
como unidade funcional, isolados de outros tecidos por camadas
sem tecidos verdadeiros membranosas. No entanto, o corpo da esponja tem vários tipos di-
Calcarea e Silicea
ferentes de células. Por exemplo, delimitando o interior da espon-
Cnidaria giocele estão os coanócitos flagelados, ou as células de colar (nome
Lophotrochozoa derivado do colar membranoso ao redor da base do flagelo). A se-
Ecdysozoa
melhança entre os coanócitos e as células dos coanoflagelados apoia
Deuterostomia
a evidência molecular que sugere que os animais evoluíram de um
Os animais nos filos Calcarea e Silicea são conhecidos informal- ancestral semelhante a um coanoflagelado (ver Figura 32.3).
O corpo de uma esponja consiste em duas camadas de célu-
mente como “esponjas” (no passado, todas as esponjas eram colo-
las separadas por uma região gelatinosa chamada de mesoílo. Na
cadas em um único filo, Porifera, agora considerado parafilético
região do mesoílo estão células chamadas de amebócitos, assim
com base em dados moleculares). Um dos animais mais simples,
denominadas pelo uso de pseudópodes. Os amebócitos têm mui-
as esponjas são sedentárias e eram confundidas com plantas pe-
tas funções. Eles absorvem alimento da água e dos coanócitos,
los gregos na antiguidade. Elas têm comprimento que varia de
digerem esse alimento e transportam nutrientes para outras cé-
poucos milímetros a poucos metros e vivem em água doce ou no lulas. Também produzem fibras esqueletais rígidas no mesoílo.
mar. As esponjas são animais filtradores: capturam partículas de Em alguns grupos de esponjas, essas fibras são espículas afiadas
alimento suspensas na água que atravessa os seus corpos, que em feitas de carbonato de cálcio ou sílica. Outras esponjas produzem
muitas espécies lembram sacos perfurados com poros. A água é fibras mais flexíveis, compostas de uma proteína chamada de es-
drenada pelos poros para uma cavidade central, a espongiocele, pongina; talvez você tenha visto esses esqueletos sendo vendidos
e sai por uma grande abertura chamada de ósculo (Figura 33.4). como esponjas macias de banho.
As esponjas mais complexas têm a parede do corpo com dobras; A maioria das esponjas é hermafrodita, ou seja, cada indi-
muitas apresentam canais de água ramificados e vários ósculos. víduo atua como macho e fêmea na reprodução sexuada, produ-
As esponjas são animais basais, isto é, representam uma linha- zindo espermatozoide e óvulo. Quase todas as esponjas exibem
gem que se origina perto da raiz da árvore filogenética dos animais. hermafroditismo sequencial, atuando primeiro como um sexo e
Diferente de quase todos os outros animais, as esponjas não pos- depois como outro.
Ósculo
Azure vase sponge (Callyspongia
plicifera)
4 Espongiocele. A água
que passa pelos poros entra
em uma cavidade chamada Fagocitose de
de espongiocele. partículas de Amebócito
alimento
3 Poros. A água entra 6 O movimento de um flagelo do
na epiderme através de coanócito também faz a água passar
poros constituídos por pelo colar ou projeções semelhantes a
células em formato de Espículas dedos. As partículas de alimento presas
rosca que se estendem no muco que reveste estas projeções
pela parede do corpo. são engolfadas por fagocitose e podem
ser digeridas ou transferidas para
2 Epiderme. A camada os amebócitos.
externa consiste em células Fluxo
epidérmicas compactas. de água 7 Amebócitos. Estas células podem
transportar nutrientes a outras células
1 Mesoílo. A parede desta do corpo da esponja, podem produzir
esponja consiste em duas material para as fibras do esqueleto
camadas de células separadas por (espículas) ou se tornar qualquer tipo
uma matriz gelatinosa, o mesoílo de célula da esponja, conforme
(“substância intermediária”). necessário.
Tecidos contráteis e nervos ocorrem em suas formas mais tados no caso de Obelia, é mais chamativo do que a medusa. As
simples nos cnidários. As células da epiderme (camada externa) hidras, os poucos cnidários encontrados em água doce, são hi-
e da gastroderme (camada interna) têm feixes de microfilamentos drozoários não usuais, pois existem somente na forma de pólipo.
organizados em fibras contráteis (ver Capítulo 6). A cavidade gas- Quando as condições do ambiente são favoráveis, uma hidra se
trovascular atua como esqueleto hidrostático contra o qual as célu- reproduz assexuadamente por brotamento, formando extensões
las contráteis podem trabalhar. Quando um cnidário fecha a boca, que se separam da mãe e vivem independentemente (ver a Figura
o volume da cavidade é fixado e a contração de algumas células 13.2). Quando as condições deterioram, as hidras podem se re-
leva o animal a mudar de forma. Os movimentos são coordenados produzir sexuadamente formando zigotos resistentes que perma-
por uma rede nervosa. Os cnidários não possuem cérebro, e a rede necem dormentes até que as condições melhorem.
nervosa descentralizada é associada com estruturas sensoriais dis-
tribuídas radialmente ao redor do corpo. Assim o animal pode de- Cifozoários
tectar e responder a estímulos vindos de todas as direções. A medusa geralmente é o estágio predominante no ciclo de vida
Como resumido na Tabela 33.1, o filo Cnidaria é dividido em da classe Scyphozoa. A medusa da maioria das espécies vive no
quatro grandes classes: Hydrozoa, Scyphozoa, Cubozoa e Antho- plâncton como água-viva. Muitos cifozoários que habitam am-
zoa (Figura 33.7). bientes costeiros passam por um estágio de pequenos pólipos du-
rante o seu ciclo de vida, ao passo que aqueles que vivem no mar
Hidrozoários aberto geralmente não possuem o estágio de pólipo.
A maioria dos hidrozoários apresenta alternância entre as formas
de pólipo e de medusa, como no ciclo de vida de Obelia (Figura Cubozoários
33.8). O estágio de pólipo, uma colônia de pólipos interconec- Como o seu nome (que significa “animais em forma de cubo”)
sugere, os cubozoários possuem estágio de medusa em forma de
Tabela 33.1 Classes do filo Cnidaria caixa. Os cubozoários podem ser distinguidos dos cifozoários
Classes e exemplos Características principais de outros modos, como por possuírem olhos complexos mer-
gulhados na borda tentacular de sua medusa. Eles são melho-
Hidrozoa (caravela portuguesa, Maioria marinhos, poucos de água doce;
hidras, Obelia, alguns corais; ambos estágios de pólipo e medusa na res nadadores em comparação aos cifozoários; como resultado,
ver Figuras 33.7a e 33.8) maioria das espécies; estágio de pólipo estão menos propensos a serem arrastados para a margem. Os
frequentemente colonial cubozoários, em geral habitantes de oceanos tropicais, estão
Scyphozoa (águas-vivas, urti- Todos marinhos; estágio de pólipo au- frequentemente equipados com cnidócitos altamente tóxicos. A
gas-do-mar; ver Figura 33.7b) sente ou reduzido; livre natantes; medu- vespa-do-mar (Chironex fleckeri), cubozoário que vive no mar
sas podem alcançar até 2 m de diâmetro
do norte da Austrália, é um dos organismos mais fatais: a sua
Cubozoa (cubomedusas, ves- Todos marinhos; medusas em forma de picada provoca dor intensa e pode levar ao colapso respiratório,
pas-do-mar; ver Figura 33.7c) caixa; olhos complexos; veneno potente
parada cardíaca e morte em poucos minutos. Entretanto, o ve-
Anthozoa (anêmonas-do-mar, Todos marinhos; estágio de medusa
a maioria dos corais, leques- completamente ausente; maioria séssil;
neno das vespas-do-mar não é fatal para todos os organismos;
-do-mar; ver Figura 33.7d) muitos são coloniais tartarugas marinhas possuem defesas contra ele, permitindo que
elas se alimentem de cubomedusas em grande quantidade.
(b) Muitas medusas (classe (c) A vespa-do-mar (Chironex (d) As anêmonas-do-mar e outros
Scyphozoa) são bioluminescentes. fleckeri) é um membro da membros da classe Antozoa só
O alimento capturado pelos classe Cubozoa. O seu existem como pólipos.
tentáculos com nematocistos é veneno, que pode paralisar
transferido para braços orais peixes e outras grandes
(a) Estes pólipos coloniais são membros especializados (sem nematocistos) presas, é mais potente do que
da classe Hydrozoa. para ser transportado para a boca. o veneno de uma naja.
Pólipo
reprodutivo
Pólipo que
se alimenta
1 Uma colônia de
pólipos interconectada Brotamento
(micrografia utilizando MEIOSE
de medusa
microscopia óptica) Gônada
resulta da reprodução
assexuada por Medusa
brotamento. Óvulo Esperma-
REPRODUÇÃO
SEXUADA tozoide
REPRODUÇÃO
ASSEXUADA
Porção de (BROTAMENTO)
uma colônia FERTILIZAÇÃO
de pólipos
Zigoto
Pólipo em
desenvolvimento Plânula
(larva)
Pólipo
maduro
CHAVE
1 mm
Figura 33.8 O ciclo de vida do hidrozoário Obelia. O estágio de pólipo é assexuado, e o estágio
de medusa é sexuado; os dois estágios se alternam, um produzindo o outro. Não confunda isso com a
alternância de gerações que ocorre em plantas e em algumas algas: em Obelia, o pólipo e a medusa são
organismos diploides. Típico de animais, somente os gametas unicelulares são haploides. Ao contrário, as
plantas possuem uma geração haploide multicelular e uma geração diploide multicelular.
E SE...? Suponha que os gametas e a medusa de Obelia fossem haploides, mas todos os outros está-
gios fossem diploides. Que aspectos do seu ciclo de vida real deveriam mudar para isto acontecer?
moleculares, têm a mais ampla Turbellaria (a maioria A maioria marinhos, alguns de água doce e pou-
vermes chatos de vida li- cos terrestres; predadores ou necrófagos; superfí-
variedade de formas corpóreas vre como a Dugesia; ver cie do corpo ciliada
Figuras 33.9 e 33.10)
animais Monogenea (monogê- Parasitas marinhos e de água doce; a maioria
neos) infecta as superfícies externas de peixes; história
Calcarea e Silicea A grande maioria das espécies
de vida simples; larva ciliada inicia a infecção sob
Cnidaria animais pertence ao clado Bilaté- o hospedeiro
Lophotrochozoa
ria, cujos membros exibem sime- Trematoda A maioria parasitas de vertebrados; duas vento-
Ecdysozoa
Deuterostomia tria bilateral e desenvolvimento (trematódeos; sas se aderem ao hospedeiro; a maioria dos ciclos
triploblástico (ver Capítulo 32). A ver Figura 33.11) de vida inclui hospedeiros intermediários e finais
maioria dos bilatérios são também celomados. Enquanto a se- Cestoda (cestoides; ver Parasitas de vertebrados; o escólex se adere ao
quência da evolução dos bilatérios ainda é um assunto em inves- Figura 33.12) hospedeiro; as proglótides produzem ovos e se
tigação, a maioria dos pesquisadores pensa que o ancestral co- desprendem após a fertilização; não possuem
cabeça nem sistema digestivo; ciclo de vida com
mum mais recente dos bilatérios atuais provavelmente existiu no
um ou mais hospedeiros intermediários
final do éon Proterozoico (mais ou menos há 575 milhões de
anos). A maioria dos grandes grupos de bilatérios apareceu pela
primeira vez no registro fóssil durante a explosão do Cambriano. são espécies de vida livre quase microscópicas, ao passo que as
Como você leu no Capítulo 32, as evidências moleculares solitárias podem medir mais de 20 m de comprimento.
sugerem que existem três grandes clados de animais bilateral- Embora os vermes chatos possuam desenvolvimento triplo-
mente simétricos: Lophotrochozoa, Ecdysozoa e Deuterosto- blástico, eles são acelomados (animais sem cavidade corporal).
mia. Esta seção irá enfatizar o primeiro destes clados, os lofo- Devido à sua forma achatada, suas células ficam próximas à água
trocozoários. Os itens 33.4 e 33.5 irão explorar os outros dois presente no ambiente ou no intestino. Devido a essa proximidade
clados. com a água, as trocas gasosas e a eliminação de compostos nitro-
Embora o clado dos lofotrocozoários seja identificado por genados (amônia) podem ocorrer por difusão através da super-
dados moleculares, o seu nome deriva de características encon- f ície do corpo. Os vermes chatos não têm órgãos especializados
tradas em alguns dos seus membros. Alguns lofotrocozoários para trocas gasosas ou para a circulação, e o seu aparelho excre-
desenvolvem uma estrutura chamada de lofóforo, uma coroa de tor relativamente simples funciona principalmente para manter
tentáculos ciliados que atua na alimentação, ao passo que outros o balanço osmótico com o meio. Esse aparelho consiste em pro-
passam por um estágio distinto chamado de larva trocófora (ver tonefrídeos, redes de túbulos com células ciliadas conhecidas
Figura 32.13). Outros membros do grupo não possuem nenhuma como bulbos flama que sugam o líquido através de ductos ramifi-
dessas características. Algumas poucas características morfológi- cados que se abrem para o exterior (ver Figura 44.11). A maioria
cas peculiares são amplamente compartilhadas dentro do grupo dos vermes chatos tem uma cavidade gastrovascular com apenas
– de fato, os lofotrocozoários são o clado animal mais diverso em uma abertura. Os vermes chatos não possuem sistema circulató-
termos de plano corporal. Essa diversidade de formas é refletida rio, mas os ramos finos da cavidade gastrovascular distribuem o
no número de filos animais classificados no grupo: o clado Lofo- alimento diretamente às células do animal.
trocozoa inclui aproximadamente 18 filos animais, mais do que o Os vermes chatos são divididos em quatro classes (Tabela 33.2):
dobro de qualquer outro clado de animais. Turbelaria (a maioria são vermes chatos de vida livre), Monogenea
Vamos agora apresentar seis filos de lofotrocozoários: os ver- (monogêneos), Trematoda (trematódeos) e Cestoda (cestoides).
mes chatos, os rotíferos, os ectoproctos, os braquiópodes, os mo-
luscos e os anelídeos. Turbelários
Os turbelários são quase todos de vida livre e a maioria é marinha
Vermes chatos (Figura 33.9). Os turbelários de água doce mais conhecidos são
Os vermes chatos (filo Platyhelminthes) vivem em ambientes ma- os membros do gênero Dugesia, comumente chamados de pla-
rinhos, de água doce e em hábitats terrestres úmidos. Além das nárias. Abundantes em lagos e riachos não poluídos, as planárias
formas de vida livre, os vermes chatos incluem muitas espécies predam animais menores ou se alimentam de animais mortos.
parasitas, como os trematódeos e as solitárias. Os vermes chatos Elas se movem utilizando cílios da superf ície ventral, arrastan-
são assim chamados porque possuem corpos finos e achatados do-se sobre uma camada de muco que elas secretam. Outros
dorsiventralmente (entre as superf ícies dorsal e ventral); pla- turbelários também utilizam os músculos para se mover na água
tyhelminth significa “verme chato”. (Observe que a palavra verme com movimentos ondulantes.
não é um nome taxonômico formal e sim um termo geral para A cabeça da planária é equipada com um par de olhos sensíveis
animais com corpos longos e finos.) Os menores vermes chatos à luz e também com abas laterais que funcionam na percepção de
B i o l o gi a 675
Cavidade gastrovascular
Boca
trematódeo do sangue, por exemplo, precisa escapar do sistema contaminam o alimento ou a água de hospedeiros intermediários,
imunitário de ambos os hospedeiros, o caracol e o humano. Ao como porcos e gado, e os ovos do cestoide desenvolvem larvas que
imitar as proteínas de superf ície dos hospedeiros, o tremató- se encistam nos músculos desses animais. Os humanos adquirem
deo do sangue cria uma camuflagem imunológica parcial para si a larva ao se alimentar de carne malpassada contaminada com os
próprio. Ele também libera moléculas que manipulam o sistema cistos. Os vermes se desenvolvem em adultos maduros dentro dos
imunitário do hospedeiro para tolerar a existência do parasita. humanos. Os cestoides grandes podem bloquear os intestinos e re-
Essas defesas são tão eficientes que trematódeos de sangue po- tirar nutrientes suficientes do hospedeiro humano para causar defi-
dem sobreviver em humanos por mais de 40 anos. ciência nutricional. Os médicos utilizam um remédio administrado
A maioria dos monogêneos, no entanto, são por via oral, a niclosamida, para matar os vermes adultos.
parasitas externos de peixes. O ciclo de vida de
monogêneos é relativamente simples: uma larva Rotíferos
ciliada de vida livre inicia a infecção de um peixe Os rotíferos (filo Rotifera) são pequenos animais que vivem em am-
hospedeiro. Embora monogêneos tenham sido bientes de água doce, marinhos e solos úmidos. Com tamanho que
tradicionalmente agrupados com trematódeos, varia entre 50 μm e 2 mm, os rotíferos são menores do que mui-
algumas evidências químicas e estruturais suge- tos protistas; no entanto, são multicelulares e possuem sistemas de
rem que eles são mais próximos de cestoides. órgãos especializados (Figura 33.13). Ao contrário dos cnidários e
vermes chatos com cavidade gastrovascular, os rotíferos possuem
Cestoides
canal alimentar, um tubo digestivo que separa a boca e o ânus. Os
Os cestoides (classe Cestoidea) são também órgãos internos se localizam no pseudoceloma, cavidade corpo-
parasitas (Figura 33.12). A maioria dos adultos ral não completamente delimitada pela mesoderme (ver a Figura
vive dentro de vertebrados, incluindo humanos. 32.8b). O líquido no pseudoceloma atua como esqueleto hidrostáti-
Em muitos cestoides, a porção anterior, ou es- co (ver Capítulo 50). O movimento corporal de um rotífero distribui
cólex, possui ventosas e às vezes ganchos que o o líquido pelo corpo, circulando os nutrientes.
verme utiliza para se aderir à cobertura intesti- A palavra rotífero, derivada do latim, significa “portador de ro-
nal do hospedeiro. Os cestoides não possuem das”, referência à coroa ciliada que dirige um redemoinho de água
boca nem cavidade gastrovascular; absorvem para a boca. Posterior à boca, uma região do trato digestório chama-
os nutrientes liberados pela digestão no intesti- da de faringe possui mandíbulas chamadas de trofos que trituram o
no do hospedeiro. A absorção ocorre através da alimento, em sua maioria micro-organismos suspensos na água.
superf ície do corpo do cestoide. Os rotíferos exibem algumas formas incomuns de reprodu-
Posterior ao escólex existe um longo feixe ção. Algumas espécies são constituídas apenas de fêmeas que
de unidades chamadas de proglótides, nada mais produzem mais fêmeas a partir de ovos não fertilizados, tipo de
que sacos de órgãos sexuais. Depois da reprodu- reprodução chamada de partenogênese. Outras espécies produ-
ção sexuada, as proglótides com milhares de ovos zem dois tipos de ovos que se desenvolvem por partenogênese.
fertilizados são liberadas da porção final de um Um dos tipos forma fêmeas enquanto o outro tipo (produzido
cestoide e deixam o corpo do hospedeiro através sob condições desfavoráveis) se desenvolve em machos simples
das fezes. No ciclo de vida, as fezes infectadas que não podem se alimentar. Esses machos sobrevivem apenas o
Ganchos
Escólex
Ventosa
Ânus
Estômago 0,1 mm
Massa visceral
O longo trato digestório é
enrolado na massa visceral.
Celoma Intestino
Gônadas
Manto Rádula. A região da
boca em muitas
Estômago espécies de
Cavidade do
Concha Boca moluscos possui um
manto
órgão denteado
Rádula
para alimentar-se.
Ânus Este cinto de dentes
O sistema nervoso curvados para trás
consiste em um anel Brânquia vai repetidas vezes
nervoso ao redor do para frente e
esôfago, do qual depois se retrai
cordões nervosos se para dentro da
Boca boca, raspando e
estendem. Pé Cordões Esôfago
nervosos removendo o
substrato como
uma escavadeira.
Boca
Concha
Fluxo
Palpo
de água
Pé Sifão de
Cavidade
Gônada Brânquias entrada
do manto
Figura 33.18 Os resultados da torção em gastrópodes. Devido
à torção (giro da massa visceral) durante o desenvolvimento embrionário, Figura 33.20 Anatomia dos mariscos. Partículas de alimento em
o trato digestório é espiralado e o ânus se localiza perto da extremidade suspensão na água que chega pelo sifão de entrada são coletadas pelas
anterior do animal. brânquias e passam através dos cílios para a boca.
680 C a mpbel l & Col s .
A maioria dos bivalves é sedentária, característica que com- Os cefalópodes são os únicos moluscos com sistema circu-
bina com o hábito de ingerir partículas em suspensão. Os me- latório fechado. Também possuem órgãos sensoriais bem de-
xilhões sésseis secretam estruturas de adesão semelhantes a fios senvolvidos e cérebro complexo. A habilidade de aprender e se
que os aderem a rochas, ancoradouros, barcos e conchas de ou- comportar de maneira complexa é provavelmente mais crucial
tros animais. No entanto, mariscos podem se enterrar na areia para predadores que se movem rápido do que para animais se-
ou na lama utilizando o pé muscular como âncora, e as vieiras dentários como os mariscos.
podem deslizar no fundo do mar batendo as suas conchas para Os ancestrais dos polvos e lulas foram provavelmente mo-
cima e para baixo, de um modo que lembra aquelas dentaduras luscos com conchas que adquiriram um estilo de vida predató-
falsas vendidas em lojas de curiosidades. rio; a concha foi perdida tardiamente na evolução. Cefalópodes
com carapaça chamados de amonitas, alguns tão grandes quanto
Cefalópodes pneus de caminhão, foram os invertebrados predadores domi-
Os cefalópodes são predadores ativos (Figura 33.21). Eles utilizam nantes nos mares por centenas de milhões de anos até o seu de-
os tentáculos para segurar a presa. Em seguida, cravam nela suas saparecimento durante a extinção em massa do final do período
mandíbulas semelhantes a um bico e a imobilizam com sua saliva Cretáceo, há 65,5 milhões de anos (ver Capítulo 25).
envenenada. O pé de um cefalópode adotou o formato de um si- A maioria das espécies de lula tem menos de 75 cm de compri-
fão muscular e em parte dos tentáculos. Lulas se locomovem por mento, mas algumas são consideravelmente maiores. A lula gigante
meio de movimentos repentinos: o animal injeta água na cavidade (Architeuthis dux) foi por muito tempo a maior lula conhecida, com
do manto e depois solta um jato de água pelo sifão; elas se movem o comprimento do manto atingindo 2,25 m e um comprimento total
apontando o sifão para diferentes direções. Os polvos utilizam um de 18 m. Em 2003, no entanto, um espécime de uma espécie rara
mecanismo semelhante para escapar dos predadores. Mesonychoteuthis hamiltoni foi capturado perto da Antártica; seu
Um manto cobre a massa visceral dos cefalópodes, mas manto possuía 2,5 m de comprimento. Alguns biólogos consideram
a concha é reduzida e interna (em lulas e sépias) e totalmente que esse espécime era jovem e estimam que adultos dessa espécie
ausente (em muitos polvos). Um pequeno grupo de cefalópodes possam possuir o dobro do tamanho! Diferente de A. dux, que pos-
com conchas, os náutilos, continua vivo atualmente. sui ventosas grandes e pequenos dentes nos tentáculos, M. hamilto-
ni tem duas fileiras de ganchos afiados nas pontas dos tentáculos, o
que pode produzir lacerações mortais.
Polvos estão entre os
invertebrados mais É provável que A. dux e M. hamiltoni passem a maior parte do
inteligentes. tempo em mar profundo, onde talvez se alimentem de peixes gran-
des. Restos de ambas as espécies de lula gigante têm sido encontra-
dos no estômago de cachalotes, provavelmente o seu único predador
Lulas são carnívoros natural. Em 2005, cientistas registraram as primeiras observações de
rápidos com mandíbulas
em forma de bico e olhos A. dux na natureza, fotografada enquanto atacava anzóis com isca a
bem desenvolvidos. uma profundidade de 900 m. M. hamiltoni ainda não foi observada
na natureza. Em resumo, esses gigantes marinhos ainda permane-
cem entre os grandes mistérios da vida dos invertebrados.
Anelídeos
Annelida significa “pequenos anéis”, referindo-se à semelhança
do corpo do anelídeo com uma série de anéis fundidos. Os anelí-
deos são vermes segmentados que vivem no mar, na maioria dos esparsas, feitas de quitina. Essa classe de vermes segmentados
hábitats de água doce e no solo úmido. Os anelídeos são celoma- inclui as minhocas e uma variedade de espécies aquáticas. A Fi-
dos e podem variar de 1 mm até mais do que 3 m, o tamanho da gura 33.22 é um guia da anatomia das minhocas, espécies re-
minhoca gigante australiana. presentativas dos anelídeos. As minhocas se movimentam pelo
O filo Annelida pode ser dividido em três classes (Tabela solo ingerindo terra; então os nutrientes são extraídos quando
33.4, na página anterior): Oligochaeta (as minhocas e seus paren- essa terra passa pelo canal alimentar. O material não digerido
tes), Polychaeta (os poliquetos) e Hirudinea (as sanguessugas). é misturado com o muco secretado no canal e eliminado como
matéria fecal pelo ânus. Os produtores rurais dão valor às mi-
Oligoquetas nhocas porque esses animais lavram e fazem a aeração do solo,
Os oligoquetas (do grego oligos, pouco e chaite, pelo longo) pos- e as suas fezes melhoram sua textura (Charles Darwin estimou
suem esse nome devido às cerdas epidérmicas, relativamente que um único acre de área agricultável na Inglaterra possuía
Cada segmento é circundado por músculos longitudinais, por sua Celoma. O celoma de Metanefrídio. Cada
vez circundado por músculos circulares. As minhocas coordenam as uma minhoca é segmento do verme
contrações destes dois conjuntos de músculos para se mover (ver dividido por septos. possui um par de tubos
Figura 50.33). Estes músculos pressionam o líquido celomático não secretores chamados de
comprimido, que atua como esqueleto hidrostático. metanefrídios, com
aberturas ciliadas em
forma de funil chamadas
Epiderme Cutícula de nefróstomos. Os
Muitas estruturas Septo metanefrídios removem
internas são repetidas Músculo (divisão as excretas do sangue e
em cada segmento circular entre líquido celomático através
da minhoca. segmentos) de poros exteriores.
Músculo
longitudinal Ânus
Vaso
Cerdas epidérmicas. dorsal
Cada segmento possui
quatro pares de cerdas Pequenos vasos
epidérmicas, que sanguíneos são
conferem tração quando Intestino abundantes na
o animal se enterra. pele da
minhoca, que
funciona como
Cordões Vaso órgão
nervosos ventral respiratório. O
photo to come fusionados sangue contém
from 7e archive Nefróstomo
hemoglobina
que carrega o
oxigênio.
Moela
Esôfago Metanefrídio
Faringe Papo
Intestino
Minhoca gigante australiana
33.4 Os ecdisozoários são o grupo Um grande número de nematódeos vive no solo úmido e em
matéria orgânica em decomposição no fundo de lagos e ocea-
animal mais rico em espécies nos. Vinte e cinco mil espécies são conhecidas, mas um número
talvez 20 vezes maior realmente exista. Diz-se que se nada mais
Embora definido primariamente
Calcarea e Silicea
além de nematódeos permanecesse na Terra, eles preservariam
Cnidaria por evidência molecular, o clado
Lophotrochozoa muitas das características do planeta. Esses vermes de vida livre
Ecdysozoa inclui animais que tro-
Ecdysozoa desempenham importante papel na decomposição e no ciclo de
Deuterostomia cam uma camada externa dura
nutrientes, mas pouco é conhecido sobre a maioria das espécies.
(cutícula) à medida que eles cres-
Uma espécie de nematódeo de solo, Caenorhabditis elegans, no
cem; de fato, o grupo possui o nome derivado desse processo,
entanto, é muito bem estudada e se tornou um organismo mo-
chamado de muda ou ecdise. Os Ecdysozoa consistem em apro-
delo em biologia (ver Capítulo 21). Estudos com C. elegans estão
ximadamente oito filos animais; contêm mais espécies conheci-
revelando alguns mecanismos envolvidos com o envelhecimento
das do que todos os protistas, fungos, plantas e outros grupos
em humanos, entre outras descobertas.
animais combinados. Abordaremos aqui os dois maiores filos de
O filo Nematoda inclui muitas pragas que atacam as raízes de
ecdisozoários: os nematódeos e os artrópodes, dois mais bem su-
plantas de importância agrícola. Outras espécies de nematódeos
cedidos e abundantes dos grupos de animais.
parasitam animais. Os humanos são hospedeiros de pelo menos
Nematódeos 50 espécies de nematódeos, incluindo vários oxiúros e ancilósto-
mos. Um nematódeo conhecido é o Trichinella spiralis, o verme
Alguns dos animais mais cosmopolitas, os nematódeos (Filo Ne- que causa a triquinose (Figura 33.26). Os humanos adquirem
matoda), ou vermes arredondados, são encontrados na maioria esse nematódeo ao comer carne de porco ou outra carne crua ou
dos hábitats aquáticos, no solo, nos tecidos úmidos das plantas e malpassada (incluindo carne de caças como urso e morsa) que
nos líquidos corporais e tecidos dos animais. Em contraste com possua os vermes juvenis encistados no tecido muscular. Dentro
os anelídeos, os nematódeos não têm corpo segmentado. Os cor- do intestino humano, os juvenis se tornam adultos sexualmente
pos cilíndricos dos nematódeos medem desde menos de 1 mm até maduros. As fêmeas penetram nos músculos intestinais e produ-
mais de 1 m de comprimento e frequentemente são mais finos na zem mais juvenis, que fazem perfurações pelo corpo ou viajam
parte posterior e mais grossos na parte anterior (Figura 33.25). O nos vasos linfáticos até outros órgãos, incluindo os músculos es-
corpo de um nematódeo é coberto por uma cutícula dura; à me- queléticos onde eles encistam.
dida que o animal cresce, periodicamente, perde a cutícula velha Os nematódeos parasitas possuem um extraordinário apa-
e secreta uma nova e maior. Os nematódeos possuem canal ali- rato molecular que os habilita a redirecionar algumas funções
mentar, embora não tenham sistema circulatório. Os nutrientes celulares dos hospedeiros e assim escapar do seu sistema imu-
são transportados pelo corpo através do líquido do pseudocelo- nitário. Nematódeos parasitas de plantas injetam moléculas que
ma. Os músculos da parede do corpo são todos longitudinais e a induzem o desenvolvimento de células radiculares que irão for-
sua contração produz um movimento de chicote. necer nutrientes aos parasitas. A Trichinella controla a expressão
Os nematódeos em geral se reproduzem sexuadamente, por de alguns genes específicos de células musculares que codificam
fertilização interna. Na maioria das espécies, os sexos são separa- proteínas para tornar a célula elástica o suficiente e abrigar o ne-
dos e as fêmeas são maiores do que os machos. Uma fêmea pode
depositar 100.000 ou mais ovos fertilizados (zigotos) por dia. Os
zigotos da maioria das espécies são células resistentes que podem Encistado juvenil Tecido muscular 50 µm
sobreviver a condições adversas.
25 µm
Figura 33.26 Formas juvenis do nematódeo parasita Trichinella
Figura 33.25 Nematódeo de vida livre (MEV colorida). spiralis encistado no tecido muscular humano (MO).
684 C a mpbel l & Col s .
Os seus resultados indicam que a diversidade de plano cor- começaram a se diversificar na terra seguindo a colonização das
poral dos artrópodes não surgiu da aquisição de novos genes Hox. plantas terrestres no início do Paleozoico. As evidências incluem
Em vez disso, a evolução da diversidade de segmentos corporais o fóssil de milípede de 428 milhões de anos, encontrado em 2004
nos artrópodes pode ter sido dirigida por mudanças na sequência por um paleontólogo amador na Escócia. Fósseis de outros artró-
ou regulação de genes Hox existentes (ver Capítulo 25 para uma podes terrestres datam de mais ou menos 450 milhões de anos.
discussão de como podem resultar alterações na forma a partir Os artrópodes possuem órgãos sensoriais bem desenvolvi-
de mudanças na sequência ou regulação de genes de desenvolvi- dos, incluindo os olhos, os receptores olfativos (cheiro) e as an-
mento como os genes Hox). tenas que funcionam no tato e no olfato. A maioria dos órgãos
sensoriais está concentrada na parte anterior do animal.
Características gerais do artrópodes
Como a maioria dos moluscos, os artrópodes têm sistema cir-
Durante o curso da evolução, os apêndices de alguns artrópodes culatório aberto, em que o líquido chamado de hemolinfa é bom-
se modificaram, especializando-se em funções como locomoção, beado por um coração para artérias curtas e então para espaços
alimentação, recepção sensorial, reprodução e defesa. A Figura
chamados de sinus que circundam tecidos e órgãos (o termo san-
33.29 ilustra a diversidade dos apêndices e outras características
gue é geralmente reservado para líquido em sistema circulatório
de uma representante dos artrópodes: a lagosta.
fechado). A hemolinfa entra novamente no coração do artrópode
O corpo dos artrópodes é completamente coberto pela cutícu-
através de poros normalmente equipados com válvulas. Os sinus
la, um exoesqueleto construído de camadas de proteínas e do polis-
corporais cheios de hemolinfa são coletivamente chamados de
sacarídeo quitina. A cutícula pode ser espessa e dura em algumas
hemocele, que não fazem parte do celoma. Embora os artrópodes
partes do corpo e da espessura de um papel e flexível em outras
sejam celomados, na maioria das espécies o celoma formado no
como as articulações. O exoesqueleto rígido protege o animal e pro-
picia pontos de adesão para os músculos que movem os apêndices. embrião se torna muito reduzido no decorrer do desenvolvimen-
Isso também significa que um artrópode não consegue crescer sem to, e a hemocele se torna a cavidade principal em adultos. Embo-
esporadicamente perder o exoesqueleto e formar um novo e maior. ra sejam semelhantes, o sistema circulatório aberto de moluscos
Esse processo de muda é energeticamente caro. Um artrópode em e artrópodes provavelmente surgiram independentemente.
ecdise ou que recém mudou fica vulnerável à predação e a outros Uma variedade de órgãos especializados para trocas gasosas
perigos até que o novo esqueleto macio se torne duro. evoluiu nos artrópodes. Esses órgãos permitem a difusão de ga-
Quando o exoesqueleto de um artrópode primeiro evoluiu ses respiratórios apesar do exoesqueleto. A maioria das espécies
no mar, as suas funções principais provavelmente eram proteção aquáticas possui brânquias com extensões finas e plumosas que
e ancoragem para os músculos, mas mais tarde ele também pro- colocam uma grande área superficial em contato com a água cir-
piciou a vida na terra para alguns artrópodes. A relativa imper- cundante. Os artrópodes terrestres geralmente têm superf ícies
meabilidade do exoesqueleto à água ajudou a evitar a dessecação, internas para trocas gasosas. A maioria dos insetos, por exemplo,
e a sua resistência resolveu o problema de apoio quando os artró- possui sistemas traqueais em forma de dutos de ar ramificados
podes perderam a capacidade de flutuar na água. Os artrópodes que se dirigem ao interior através de poros na cutícula.
Cefalotórax Abdome
Tórax
Cabeça
Antena
(recepção
sensorial)
Túbulos de Malpighi. As
excretas metabólicas são Vagina
removidas da hemolinfa
por órgãos excretores
chamados de túbulos de
Malpighi, bolsas do trato
digestório.
Ovário
Tubos traqueais. As trocas gasosas nos insetos são As partes bucais dos insetos são formadas
efetuadas por um sistema traqueal de tubos Cordões nervosos. de muitos pares de apêndices
ramificados, recobertos por quitina que se infiltram O sistema nervoso do modificados. As partes bucais incluem as
no corpo e levam o oxigênio diretamente para as inseto consiste em um mandíbulas, que os gafanhotos utilizam
células. O sistema traqueal se abre para fora do corpo par de cordões nervosos para mastigar. Em outros insetos, as
através de espiráculos, poros que controlam o fluxo ventrais com muitos partes bucais são especializadas para
de ar e a perda de água se abrindo ou se fechando. gânglios segmentados. lamber, furar ou sugar.
par anterior se sobrepõe às asas posteriores. Em besouros, as asas óvulos. Muitos insetos acasalam somente uma vez durante a vida.
posteriores atuam no voo, e as anteriores são modificadas em Depois do acasalamento, a fêmea frequentemente deposita os ovos
uma cobertura que protege as asas posteriores quando os besou- em uma fonte apropriada de alimento onde a próxima geração vai
ros caminham no solo ou se enterram. poder começar a se alimentar assim que sair do ovo.
Muitos insetos sofrem metamorfose durante o seu desenvol- Os insetos são classificados em mais de 30 ordens, das quais
vimento. Na metamorfose incompleta de gafanhotos e de alguns 15 são representadas na Figura 33.37, nas próximas duas páginas.
outros grupos de insetos, o juvenil (chamado de ninfa) é seme- Animais tão numerosos, diversos e cosmopolitas como os in-
lhante aos adultos, mas é menor, possuindo diferentes proporções setos certamente afetam a vida de muitos outros organismos ter-
do corpo e não apresentando asas. A ninfa sofre uma série de mu- restres, incluindo os humanos. Dependemos das abelhas, moscas e
das, cada vez se parecendo mais com o adulto. Com a muda final, muitos outros insetos para polinizar nossas plantações e pomares.
o inseto atinge o tamanho adulto, adquire asas e se torna sexual- Por outro lado, os insetos são vetores de muitas doenças, incluindo a
mente maduro. Insetos com metamorfose completa possuem es- doença do sono africana (transmitida por moscas tse-tsé que carre-
tágios larvais especializados em comer e crescer conhecidos como gam o protista Trypanosoma; ver Figura 28.6) e a malária (transmi-
lagarta ou larva. A aparência dos organismos no estágio larval é tida por mosquitos que carregam o Plasmodium; ver Figura 28.10).
completamente diferente do estágio adulto especializado para Além disso, os insetos competem com humanos por alimento. Em
dispersão e reprodução. A metamorfose do estágio larval para o partes da África, por exemplo, os insetos consomem aproximada-
adulto ocorre durante o estágio de pupa (Figura 33.36). mente 75% das plantações. Nos Estados Unidos, bilhões de dólares
A reprodução nos insetos é normalmente sexuada, com indiví- são gastos por ano em potentes defensivos, pulverizados sobre as
duos machos e fêmeas separados. Os adultos se unem e se reconhe- plantações em doses substanciais. Nem mesmo os humanos têm
cem como membros da mesma espécie mostrando cores (como em conseguido desafiar a hegemonia dos insetos e dos seus parentes ar-
borboletas), sons (como em grilos) ou odores (como em mariposas). trópodes. Como o entomólogo da Universidade de Cornell, Thomas
A fertilização é geralmente interna. Na maioria das espécies, os es- Eisner, postula: “Os insetos não vão herdar a Terra. Eles já a pos-
permatozoides são depositados diretamente na vagina da fêmea suem. Então, devemos tratar de ficar em paz com os proprietários”.
na hora da cópula, embora em algumas espécies o macho deposite
um espermatóforo fora da fêmea para ela pegá-lo. Uma estrutura Crustáceos
interna na fêmea chamada de espermateca guarda os espermato- Enquanto os aracnídeos e os insetos habitam predominantemente
zoides, geralmente suficientes para fertilizar mais de um grupo de em ambientes terrestres, a maioria dos crustáceos permaneceu em
Figura 33.36 Metamorfose de uma borboleta. (a) A larva (lagarta) passa o tempo comendo,
crescendo e mudando à medida que cresce. (b) Depois de várias mudas, a lagarta se torna uma pupa.
(c) Dentro da pupa, os tecidos larvais são destruídos, e o adulto é construído pela divisão e diferencia-
ção de células que estavam dormentes na larva. (d) Finalmente, o adulto começa a emergir da cutícula
da pupa. (e) A hemolinfa é bombeada nas veias das asas e depois retirada, deixando as veias endure-
cidas como estruturas de suporte para as asas. O inseto sai da pupa e irá se reproduzir; grande parte
dos seus nutrientes é derivada de reservas adquiridas pela larva. (e) Adulto.
690
C a mpbel
Figura 33.37 l & Col s .
Número
Ordem aproximado Características principais Exemplos
de espécies
Blattodea 4.000 Baratas têm corpo achatado dorsiventralmente com patas mo-
dificadas para deslocamento rápido. Asas anteriores, quando
presentes, são endurecidas, e asas posteriores são em forma Barata de
de leque. Menos de 40 espécies de baratas vivem nas casas; as cozinha
demais espécies exploram hábitats que vão desde florestas tro-
picais até cavernas e desertos.
Diptera 151.000 Os dípteros têm apenas um par de asas; o segundo par se mo-
dificou em órgãos de equilíbrio chamados de halteres. As suas
partes bucais são adaptadas para sugar, furar ou lamber. Os
dípteros sofrem metamorfose completa. Moscas e mosquitos Mosca
estão entre os dípteros mais conhecidos, sendo necrófagos,
predadores e parasitas.
Hymenoptera 125.000 Formigas, abelhas e vespas são geralmente insetos sociais. Eles
possuem dois pares de asas membranosas, uma cabeça móvel
e partes bucais adaptadas para mastigar e sugar. As fêmeas de
muitas espécies possuem um órgão posterior picador. Os hi-
menópteros sofrem metamorfose completa.
Vespa assassina de cigarras
Número
Ordem aproximado Características principais Exemplos
de espécies
Lepidoptera 120.000 Borboletas e mariposas estão entre os insetos mais conhecidos.
Possuem dois pares de asas cobertos por pequenas escamas.
Para alimentar-se elas projetam uma longa probóscide. A
maioria se alimenta de néctar, mas algumas espécies se alimen- Borboleta rabo-
tam de outras substâncias, incluindo sangue animal. -de-andorinha
Thysanura 450 Traças são insetos pequenos e sem asas, com corpo achatado e
olhos reduzidos. Vivem em folhas em decomposição e sob cas-
cas de árvores. Também podem infestar habitações humanas,
onde podem se tornar uma praga.
Traça
Trichoptera 7.100 A larva das moscas d’água vive em córregos, onde elas cons-
troem casas a partir de grãos de areia, fragmentos de madeira
ou outro material agrupado com seda. Os adultos têm dois
pares de asas pilosas e peças bucais adaptadas para mastigar ou
lamber. Sofrem metamorfose completa. Mosca d’água
692 C a mpbel l & Col s .
A superfície da estrela-do-mar é
Um pequeno trato digestório se coberta por espinhos que ajudam
estende da boca sobre a base do na defesa contra predadores e
disco central até o ânus na parte também por pequenas brânquias
de cima do disco. que promovem trocas gasosas.
Estômago
Ânus
Espinho
Canal radial. O sistema vascular Cada pé ambulacral consiste em uma ampola em forma de bulbo e de
aquífero consiste em um canal circular um pódio (porção do pé). Quando a ampola é comprimida, a água vai
no disco central e cinco canais radiais, até o pódio que se expande e toca o substrato. Adesivos químicos são
cada um se estendendo por uma então secretados da base do pódio e se aderem ao substrato. Para soltar
reentrância por todo o comprimento o pé ambulacral, substâncias químicas antiadesivas são secretadas e os
do braço. Centenas de pés musculares músculos do pódio se contraem, forçando a água a entrar na ampola e
ocos, repletos de líquido, se ramificam encurtando o tamanho do pódio. À medida que se locomove, uma
de cada canal radial. estrela-do-mar deixa “pegadas” de material adesivo no substrato.
Estrelas-do-mar Pepinos-do-mar
As estrelas-do-mar possuem braços múltiplos partindo de um Com um olhar desatento, os pepinos-do-mar não se parecem
disco central cuja superf ície inferior possui pés ambulacrais. Por muito com outros equinodermas. Não possuem espinhos, e o seu
uma combinação de ações musculares e químicas, os pés ambu- endoesqueleto é muito reduzido. Também são alongados no seu
lacrais podem aderir ou se separar do substrato. A estrela-do-mar eixo oral-aboral, o que lhe dá a forma de onde deriva o seu nome
se adere firmemente a rochas ou se arrasta por elas à medida que e também mascara a relação existente com estrelas-do-mar e ou-
os pés ambulacrais se estendem, agarram, soltam, estendem-se riços-do-mar. Um exame mais detalhado, no entanto, revela que
e agarram-se novamente. Embora a base do pé ambulacral da os pepinos-do-mar têm cinco linhas de pés ambulacrais. Alguns
estrela-do-mar seja um disco achatado semelhante a ventosas, a desses pés estão localizados ao redor da boca e se transforma em
ação de prender resulta de químicos adesivos e não de sucção (ver tentáculos utilizados para a alimentação.
Figura 33.39). As estrelas-do-mar também utilizam os pés am-
bulacrais para segurar presas como mariscos e ostras. Os braços Margaridas-do-mar
das estrelas-do-mar abraçam o bivalve fechado, segurando firme As margaridas-do-mar foram descobertas em 1986. Apenas três
com os pés ambulacrais. A estrela-do-mar então expele parte do espécies são conhecidas (uma perto da Nova Zelândia, a segunda
seu estômago pela boca e o insere pela abertura estreita entre as nas Bahamas e a terceira no Pacífico Norte). Todas vivem em ma-
metades da concha dos bivalves. O sistema digestivo da estre- deira submersa. O corpo de uma margarida-do-mar não possui
la-do-mar secreta sucos que iniciam a digestão do corpo mole do braços. Tem forma típica de disco e organização em cinco lados;
molusco dentro de sua própria concha. mede menos que um centímetro em diâmetro. A borda do cor-
Estrelas-do-mar e alguns outros equinodermas têm con- po é recoberta por pequenos espinhos. As margaridas-do-mar
siderável poder de regeneração. Os braços perdidos das estre- absorvem nutrientes através de uma membrana que circunda o
las-do-mar podem crescer novamente, e o corpo de espécies de corpo. A relação das margaridas-do-mar com os outros equino-
um gênero consegue se regenerar a partir de um único braço se dermas permanece desconhecida; alguns sistematas consideram
parte do disco central permanecer agregado. as margaridas-do-mar o grupo irmão das estrelas-do-mar.