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BIOLOGIA

8ª Edição

CAMPBELL • REECE
U R R Y • C A I N • WA S S E R M A N
MINORSKY • JACKSON
Obra originalmente publicada sob o título
Biology, 8th Edition
ISBN 9780805368444
Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE,
published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of
this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying,
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Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010.
Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL
e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos
reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada
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A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010.

Capa: Mário Röhnelt


Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra
Leitura final: Magda Regina Chaves
Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima
Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo
Editoração eletrônica: Techbooks

C187b Campbell, Neil.


Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece;
tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010.

Editado também como livro impresso em 2010.


ISBN 978-85-363-2351-0

1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título.

CDU 573

Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


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Invertebrados
33.1

33.2
33.3

33.4
33
CONCEITOS-CHAVE

As esponjas são animais basais sem tecidos


verdadeiros
Os cnidários são um filo antigo de eumetazoários
Os lofotrocozoários, um clado identificado por dados
moleculares, têm a mais ampla variedade de formas
corpóreas animais
Os ecdisozoários são o grupo animal mais rico em
 Figura 33.1 Qual a função dos espirais vermelhos deste orga-
nismo?

emergem de um tubo de carbonato de cálcio secretado pelo ver-


me que protege e dá apoio ao seu corpo mole. Estruturas sensí-
veis à luz localizadas nos tentáculos podem detectar uma sombra
projetada por um predador, levando o verme a contrair os mús-
culos que fazem os tentáculos se retraírem para dentro do tubo.
Os poliquetas árvore de natal são invertebrados – animais
sem coluna vertebral. Os invertebrados representam 95% das es-
espécies
pécies animais conhecidas. Eles ocupam quase todos os hábitats
33.5 Os equinodermas e os cordados são deuterostômios da Terra, desde águas escaldantes liberadas por fontes hidroter-
mais marinhas até solos congelados e rochosos da Antártica. As
VISÃO GERAL
adaptações a esses ambientes diversos têm produzido uma imen-
sa diversidade de formas, desde espécies consistindo em apenas
A vida sem coluna vertebral uma dupla camada plana de células até outras espécies com glân-
dulas produtoras de seda, espinhos que giram em torno de um
À primeira vista, você pode confundir o organismo da Figura eixo, dúzias de patas articuladas, ou tentáculos com ventosas,
33.1 com algum tipo de alga marinha. No entanto, este habitante apenas para listar algumas.
colorido de recifes de coral é na verdade um animal e não uma Neste capítulo, viajaremos pelo mundo dos invertebrados,
alga. Especificamente, ele é uma espécie de verme segmentado, utilizando a árvore filogenética da Figura 33.2 como guia. A Fi-
conhecido como poliqueta árvore-de-natal (Spirobranchus gigan- gura 33.3, nas próximas três páginas, faz um resumo dos 23 filos
teus). Os espirais ao longo dos dois eixos em forma de árvore são de invertebrados. Como representantes da diversidade dos inver-
tentáculos que o verme utiliza para fazer trocas gasosas e para tebrados, vamos examinar muitos desses filos em mais detalhe ao
filtrar pequenas partículas de alimento da água. Os tentáculos longo deste capítulo.

Calcarea
e Silicea

PROTISTA Cnidaria
ANCESTRAL
Eumetazoa

Ancestral Lophotrochozoa
comum de
todos os
 Figura 33.2 Revisão da filogenia animal. animais
Bilateria

Ecdysozoa
Com exceção das esponjas (animais basais dos
filos Calcarea e Silicea) e poucos outros grupos,
todos os animais possuem tecidos verdadeiros e
estão no clado Eumetazoa. A maioria dos animais Deuterostomia
está no clado diverso Bilateria.
 Figura 33.3 B i o l o gi a 667
Explorando a diversidade de invertebrados
O reino Animália compreende 1,3 milhões de espécies conhecidas; estima-se que o total de espécies seja mui-
to maior. Dos 23 filos mostrados aqui, aqueles ilustrados com pequenas fotografias são discutidos em mais
detalhe neste capítulo ou em outro.

Calcarea e Silicea (5.500 espécies) Placozoa (1 espécie)


Os animais destes filos são chamados informal- A única espécie conhecida deste filo, 0,5 mm
mente de esponjas. As esponjas são animais sés- Trichoplax adhaerens, não parece
seis sem tecidos verdadeiros. Elas são filtrado- um animal. Ele consiste em poucos
ras de partículas em suspensão que passam milhares de células arranjadas em
através de canais internos dos seus corpos (ver uma placa de camada dupla. O Tri-
item 33.1). choplax pode se reproduzir por fis-
são, resultando em dois indivíduos,
Esponja ou por brotamento, gerando muitos
indivíduos multicelulares.
Cnidaria (10.000 espécies)
Os cnidários incluem corais, medusas e hidras. Verme acelo (MO)
Esses animais são diploblásticos; seu plano
corpóreo de simetria radial inclui uma cavidade Ctenophora (100 espécies)
gastrovascular com abertura única que serve de
boca e de ânus (ver item 33.2). Os ctenóforos são diploblásticos e
possuem simetria radial como os
cnidários, sugerindo que ambos os
Medusa filos divergiram de outros animais
muito cedo. Os ctenóforos consti-
Acoela (400 espécies) tuem parte considerável do plânc-
ton oceânico. Eles possuem muitas
Os vermes acelos possuem sistema nervoso sim- características particulares, incluin-
ples e intestino em forma de saco; por isso, tem do oito “pentes” de cílios que impul-
sido colocados no filo Platyhelminthes. No en- sionam os animais na água. Quando
tanto, análises moleculares indicam que Acoela é um pequeno animal entra em con-
uma linhagem separada que divergiu antes dos Ctenóforo tato com os tentáculos de alguns
1,5 mm três clados principais de Bilateria (ver item 32.4). ctenóforos, células especializadas se
Verme acelo (MO) abrem e cobrem a presa com fios adesivos.

CTENÓFORO

Lofotrocozoários com (20.000 espécies) Rotifera (1.800 espécies)


Vermes chatos (incluindo solitárias, planá- Embora apresentem tamanho microscópico,
rias e trematódeos) com simetria bilateral e os rotíferos possuem sistemas especializados,
sistema nervoso central que processa a in- incluindo um canal alimentar (trato digestó-
formação recebida de estruturas sensoriais. rio). Eles se alimentam de micro-organismos
Eles não têm cavidade corporal nem órgãos em suspensão na água (ver item 33.3).
de circulação (ver item 33.3).
Verme chato marinho Rotífero (MO)

Ectoprocta (4.500 espécies) Brachiopoda (335 espécies)


Ectoproctos (também conhecidos como Os braquiópodes podem ser facilmente con-
briozoários) vivem como colônias sésseis e fundidos com mariscos ou outros moluscos.
são cobertos por um exoesqueleto duro (ver No entanto, a maioria dos braquiópodes tem
item 33.3). pedúnculo diferenciado que os fixam ao subs-
trato (ver item 33.3).

Ectoproctos Braquiópode

Continua na página seguinte


668
 C a mpbel
Figura l & Col s .
33.3 (continuação)

Explorando a diversidade de invertebrados

Acanthocephala (1.100 espécies) Cycliophora (1 espécie)


Os acantocéfalos (do grego acan- A única espécie conhecida de ci-
thias, com espinhos, e cephalo, clióforo, Symbion pandora, foi
cabeça) são assim chamados pelos descoberta em 1995 nas partes
espinhos curvados da probóscide, bucais de uma lagosta. Essa pe-
localizada na parte anterior do cor- quena criatura em forma de vaso
po. Todas as espécies são parasitas. tem plano corpóreo diferenciado
Alguns acantocéfalos manipulam e ciclo de vida particular e bizarro.
os seus hospedeiros intermediários Os machos fecundam as fêmeas
(geralmente artrópodes) de modo a ainda em desenvolvimento dentro
aumentar as chances de chegar ao 100 µm dos corpos das mães. As fêmeas
Acantocéfalo (MO)
hospedeiro definitivo (geralmente fecundadas, então, desvenci-
vertebrados). Por exemplo, os acantocéfalos que infectam caranguejos Ciclióforo (MEV colorida) lham-se e fixam-se em algum lo-
da lama na Nova Zelândia forçam os seus hospedeiros a se moverem cal da lagosta e liberam a sua pro-
para áreas mais visíveis na praia onde existe maior probabilidade dos le. A prole aparentemente sai da lagosta onde nasceu e procura outra
caranguejos serem predados por aves, os hospedeiros definitivos dos para fixar-se.
vermes.

Mollusca (93.000 espécies)


Nemertea (900 espécies)
Os moluscos (incluindo caracóis, mariscos, lu-
Vermes nemertinos nadam na las e polvos) possuem corpo mole, em muitas
água ou se enterram na areia espécies protegido por uma concha dura (ver
estendendo a sua probóscide di- item 33.3).
ferenciada para capturar a presa.
Assim como os vermes chatos, eles
não têm celoma verdadeiro. No
entanto, ao contrário dos vermes Polvo
chatos, os nemertinos possuem
canal alimentar e sistema circu- Annelida (16.500 espécies)
latório fechado, no qual o sangue
está contido em vasos e, portanto, Os anelídeos ou vermes segmentados são dis-
separado do líquido da cavidade Nemertino tinguidos de outros vermes pela sua segmenta-
corporal. ção do corpo. Minhocas são os anelídeos mais
familiares, mas o filo também inclui espécies
marinhas e de água doce (ver item 33.3).

Anelídeo marinho

ECDYSOZOA

Loricifera (10 espécies) Priapula (16 espécies)


Os loricíferos (do Latim, lorica, 50 µm Os priapulídeos são vermes com
armadura, e ferre, carregar) são probóscide grande e arredondada
pequenos animais que vivem no na extremidade anterior (seu
fundo do mar. Um loricífero pode nome deriva de Priapos, o deus
projetar a sua cabeça, pescoço grego da fertilidade, simbolizado
e tórax para fora da lorica, uma por um pênis gigante). Com um
bolsa formada por seis placas ao comprimento entre 0,5 mm a 20
redor do abdome. Embora a his- cm, a maioria das espécies se en-
tória natural dos loricíferos seja terra nos sedimentos do fundo do
um mistério, pelo menos algumas mar. Evidências fósseis sugerem
espécies provavelmente comem que os priapulídeos foram grandes
bactérias. Loricífero (MO) Priapulídeo predadores durante o período
Cambriano.
B i o l o gi a 669

Tardigrades (800 espécies) Onychophora (110 espécies)


100 µm Os tardígrados (do latim tardus, Os onicóforos, também cha-
devagar, e gradus, passo) são, às mados de vermes de veludo, se
vezes, chamados de ursos da água originaram durante a explosão
por sua forma arredondada, apên- do Cambriano (ver o Capítulo
dices curtos e largos e maneira de 32). Originalmente, eles viveram
se locomover. A maioria dos tardí- no oceano, mas em determinado
grados tem comprimento menor momento, tiveram sucesso ao
do que 0,5 mm. Alguns vivem no colonizar a terra. Hoje eles vivem
oceano ou na água doce, e outros somente em florestas úmidas. Os
vivem sob plantas e animais. Den- onicóforos possuem antena macia
sidades de até 2 milhões de tardí- e várias dúzias de pares de patas
Tardígrados (MEV colorida) grados podem ser encontradas em semelhantes a sacos. Onicóforo
um metro quadrado de musgo.
Condições adversas podem levar os tardígrados a entrar em estado de
dormência; dormentes, eles conseguem sobreviver a temperaturas tão
baixas quanto -272ºC, perto do zero absoluto!

Nematoda (25.000 espécies) Arthropoda (1.000.000 de espécies)


Os nematódeos são altamente abundantes e A grande maioria das espécies animais co-
diversos no solo e em hábitats aquáticos; mui- nhecidas, incluindo insetos, crustáceos e
tas espécies são parasitas de plantas e ani- aracnídeos, pertencem aos artrópodes. Todos
mais. A característica mais distintiva dos os artrópodes têm exoesqueleto segmentado e
nematódeos é a cutícula dura que cobre o apêndices articulados (ver item 33.4).
corpo (ver item 33.4).

Nematódeo Escorpião
(um aracnídeo)

DEUTEROSTOMIA

Hemichordata (85 espécies)


Como os equinodermas e os cordados, os
hemicordados são membros do clado deute-
rostômio (ver o Capítulo 32). Os hemicor-
dados compartilham algumas característi-
cas com outros cordados, como aberturas
branquiais e cordão nervoso dorsal. O
maior grupo de hemicordados é o dos ente-
ropneustos. Os enteropneustos são mari-
nhos e geralmente vivem enterrados na
lama ou debaixo de rochas; eles podem atin-
gir mais de 2 m de comprimento.
Enteropneusto

Echinodermata (7.000 espécies) Chordata (52.000 espécies)


Os equinodermas, como as bolachas-do-mar, Mais de 90% de todas as espécies conhecidas
estrelas-do-mar e ouriços-do-mar, são animais de cordados possui coluna vertebral (sendo
aquáticos do clado dos deuterostômios com então vertebrados). No entanto, o filo Cordata
simetria bilateral quando larvas, mas não também inclui três grupos de invertebrados:
quando adultos. Eles se locomovem e se ali- os anfioxos, os tunicados e os peixes-bruxa.
mentam utilizando uma rede de canais inter- Ver o Capítulo 34 para uma discussão comple-
nos que bombeia água a diferentes partes de ta sobre este filo.
Ouriço-do-mar seus corpos (ver item 33.5). Tunicado
670 C a mpbel l & Col s .

33.1 As esponjas são animais basais suem tecidos verdadeiros, grupos de células semelhantes que atuam
como unidade funcional, isolados de outros tecidos por camadas
sem tecidos verdadeiros membranosas. No entanto, o corpo da esponja tem vários tipos di-
Calcarea e Silicea
ferentes de células. Por exemplo, delimitando o interior da espon-
Cnidaria giocele estão os coanócitos flagelados, ou as células de colar (nome
Lophotrochozoa derivado do colar membranoso ao redor da base do flagelo). A se-
Ecdysozoa
melhança entre os coanócitos e as células dos coanoflagelados apoia
Deuterostomia
a evidência molecular que sugere que os animais evoluíram de um
Os animais nos filos Calcarea e Silicea são conhecidos informal- ancestral semelhante a um coanoflagelado (ver Figura 32.3).
O corpo de uma esponja consiste em duas camadas de célu-
mente como “esponjas” (no passado, todas as esponjas eram colo-
las separadas por uma região gelatinosa chamada de mesoílo. Na
cadas em um único filo, Porifera, agora considerado parafilético
região do mesoílo estão células chamadas de amebócitos, assim
com base em dados moleculares). Um dos animais mais simples,
denominadas pelo uso de pseudópodes. Os amebócitos têm mui-
as esponjas são sedentárias e eram confundidas com plantas pe-
tas funções. Eles absorvem alimento da água e dos coanócitos,
los gregos na antiguidade. Elas têm comprimento que varia de
digerem esse alimento e transportam nutrientes para outras cé-
poucos milímetros a poucos metros e vivem em água doce ou no lulas. Também produzem fibras esqueletais rígidas no mesoílo.
mar. As esponjas são animais filtradores: capturam partículas de Em alguns grupos de esponjas, essas fibras são espículas afiadas
alimento suspensas na água que atravessa os seus corpos, que em feitas de carbonato de cálcio ou sílica. Outras esponjas produzem
muitas espécies lembram sacos perfurados com poros. A água é fibras mais flexíveis, compostas de uma proteína chamada de es-
drenada pelos poros para uma cavidade central, a espongiocele, pongina; talvez você tenha visto esses esqueletos sendo vendidos
e sai por uma grande abertura chamada de ósculo (Figura 33.4). como esponjas macias de banho.
As esponjas mais complexas têm a parede do corpo com dobras; A maioria das esponjas é hermafrodita, ou seja, cada indi-
muitas apresentam canais de água ramificados e vários ósculos. víduo atua como macho e fêmea na reprodução sexuada, produ-
As esponjas são animais basais, isto é, representam uma linha- zindo espermatozoide e óvulo. Quase todas as esponjas exibem
gem que se origina perto da raiz da árvore filogenética dos animais. hermafroditismo sequencial, atuando primeiro como um sexo e
Diferente de quase todos os outros animais, as esponjas não pos- depois como outro.

5 Coanócitos. A espongiocele é delimitada


por células flageladas chamadas de coanócitos.
Ao bater os seus flagelos, os coanócitos criam
uma corrente que leva a água para dentro Flagelo Partículas de
através dos poros e para fora através do ósculo. alimento no muco Coanócito
Colar

Ósculo
Azure vase sponge (Callyspongia
plicifera)

4 Espongiocele. A água
que passa pelos poros entra
em uma cavidade chamada Fagocitose de
de espongiocele. partículas de Amebócito
alimento
3 Poros. A água entra 6 O movimento de um flagelo do
na epiderme através de coanócito também faz a água passar
poros constituídos por pelo colar ou projeções semelhantes a
células em formato de Espículas dedos. As partículas de alimento presas
rosca que se estendem no muco que reveste estas projeções
pela parede do corpo. são engolfadas por fagocitose e podem
ser digeridas ou transferidas para
2 Epiderme. A camada os amebócitos.
externa consiste em células Fluxo
epidérmicas compactas. de água 7 Amebócitos. Estas células podem
transportar nutrientes a outras células
1 Mesoílo. A parede desta do corpo da esponja, podem produzir
esponja consiste em duas material para as fibras do esqueleto
camadas de células separadas por (espículas) ou se tornar qualquer tipo
uma matriz gelatinosa, o mesoílo de célula da esponja, conforme
(“substância intermediária”). necessário.

 Figura 33.4 Anatomia das esponjas.


B i o l o gi a 671

Os gametas das esponjas são originários de coanócitos ou Boca/Ânus


Pólipo Tentáculo Medusa
amebócitos. Os óvulos ficam no mesoílo, mas os espermatozoi-
Cavidade
des são carregados para fora da esponja por correntes de água. gastrovascular
A fertilização cruzada resulta de espermatozoides sendo depo- Gastroderme
sitados em indivíduos vizinhos. A fertilização ocorre no mesoí-
Mesogleia
lo, onde o zigoto se torna uma larva flagelada e nadadora que se Pedúnculo
dispersa da esponja parental. Depois de encontrar um substrato do corpo Epiderme
apropriado, a larva se torna um adulto séssil. Tentáculo
As esponjas produzem uma variedade de antibióticos e outros Boca/Ânus
compostos para defesa. Os pesquisadores estão agora isolando esses  Figura 33.5 Formas de pólipo e medusa dos cnidários. A parede
compostos, que prometem ser úteis no combate a doenças huma- do corpo de um cnidário possui duas camadas de células: uma camada ex-
nas. Por exemplo, um composto chamado de cribrostatina, isolado terna de epiderme (da ectoderme) e uma camada interna de gastroderme
de esponjas marinhas, pode matar cepas da bactéria Streptococcus (da endoderme). A digestão inicia na cavidade gastrovascular e termina
dentro de vacúolos digestivos nas células gastrodermais. Os flagelos das
resistentes à penicilina. Outros compostos derivados de esponjas células gastrodermais agitam os conteúdos da cavidade gastrovascular e
estão sendo testados como potenciais agentes anticâncer. ajudam a distribuir nutrientes. Entre a epiderme e a gastroderme está uma
camada gelatinosa, a mesogleia.
REVISÃO DO CONCEITO
cnidários existem somente como pólipos ou medusas; outros
1. Descreva como as esponjas se alimentam. possuem estágios de pólipo e medusa no seu ciclo de vida.
2. E SE...? Algumas evidências moleculares sugerem que Os cnidários são carnívoros e frequentemente utilizam seus
o grupo irmão dos animais não é um coanoflagelado e sim tentáculos arranjados em um anel ao redor da boca para capturar
um grupo de protistas parasitas, os Mesomicetozoários. a presa e empurrar o alimento para a cavidade gastrovascular onde
Visto que esses parasitas não têm células de colar, essa hi- começa a digestão. Qualquer resto não digerido é expelido através
pótese ser pode estar correta? Explique. da boca/ânus. Os tentáculos são armados com baterias de cnidóci-
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. tos, células exclusivas dos cnidários que atuam na defesa e na captu-
ra de presas (Figura 33.6). Os cnidócitos possuem cnida (do grego
cnide, urtiga), organelas em forma de cápsula capazes de explodir;
essas organelas dão o nome ao filo Cnidária. Cnidas especializadas
33.2 Os cnidários são um filo antigo chamadas de nematocistos possuem um cordão urticante que pode
de eumetazoários penetrar na parede corpórea das presas dos cnidários. Outros tipos
de cnida possuem fios longos que se aderem ou envolvem pequenas
Calcarea e SiliceaTodos os animais, com exceção das
presas que vão ao encontro dos tentáculos dos cnidários.
Cnidaria esponjas e alguns poucos outros
Lophotrochozoa
grupos, pertencem ao clado Eume-
Ecdysozoa
Deuterostomia tazoa, animais com tecidos verda-
deiros (ver o Capítulo 32). Uma das
linhagens mais antigas neste clado é o filo Cnidaria. Os cnidários Tentáculo Cutícula
se diversificaram em uma ampla faixa de formas sésseis e móveis, da presa
incluindo as hidras, os corais e as medusas (geralmente chamadas
de “água-viva”). A maioria dos cnidários ainda exibe um plano
corpóreo relativamente simples, diploblástico e com simetria ra- Fio
dial, existente há aproximadamente 570 milhões de anos.
O plano corporal básico dos cnidários é um saco com com- Nematocisto
partimento digestivo central, a cavidade gastrovascular. Uma “Gatilho”
abertura única desta cavidade funciona como boca e ânus. Exis-
tem duas variações desse plano corpóreo: o pólipo séssil e a me-
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dusa móvel (Figura 33.5). Os pólipos são formas cilíndricas que do fio
aderem ao substrato pela extremidade aboral do seu corpo (a par-
te oposta à boca) e estende os tentáculos esperando pela presa.
Exemplos de pólipos incluem as hidras e as anêmonas-do-mar. A Fio
medusa é uma versão achatada do pólipo, com a boca virada para (enrolado)
Cnidócito
baixo. Ela se move livremente na água combinando deriva passi-
va com contrações do seu corpo em forma de sino. As medusas  Figura 33.6 Cnidócito de hidras. Este tipo de cnidócito com cáp-
incluem as águas-vivas. Os tentáculos de uma medusa estão pen- sula urticante (o nematocisto) tem um fio enrolado. Quando um “gatilho”
é acionado pelo toque ou por certas substâncias químicas, o fio dispara,
durados na superf ície oral que se direciona para baixo. Alguns perfurando e injetando veneno na presa.
672 C a mpbel l & Col s .

Tecidos contráteis e nervos ocorrem em suas formas mais tados no caso de Obelia, é mais chamativo do que a medusa. As
simples nos cnidários. As células da epiderme (camada externa) hidras, os poucos cnidários encontrados em água doce, são hi-
e da gastroderme (camada interna) têm feixes de microfilamentos drozoários não usuais, pois existem somente na forma de pólipo.
organizados em fibras contráteis (ver Capítulo 6). A cavidade gas- Quando as condições do ambiente são favoráveis, uma hidra se
trovascular atua como esqueleto hidrostático contra o qual as célu- reproduz assexuadamente por brotamento, formando extensões
las contráteis podem trabalhar. Quando um cnidário fecha a boca, que se separam da mãe e vivem independentemente (ver a Figura
o volume da cavidade é fixado e a contração de algumas células 13.2). Quando as condições deterioram, as hidras podem se re-
leva o animal a mudar de forma. Os movimentos são coordenados produzir sexuadamente formando zigotos resistentes que perma-
por uma rede nervosa. Os cnidários não possuem cérebro, e a rede necem dormentes até que as condições melhorem.
nervosa descentralizada é associada com estruturas sensoriais dis-
tribuídas radialmente ao redor do corpo. Assim o animal pode de- Cifozoários
tectar e responder a estímulos vindos de todas as direções. A medusa geralmente é o estágio predominante no ciclo de vida
Como resumido na Tabela 33.1, o filo Cnidaria é dividido em da classe Scyphozoa. A medusa da maioria das espécies vive no
quatro grandes classes: Hydrozoa, Scyphozoa, Cubozoa e Antho- plâncton como água-viva. Muitos cifozoários que habitam am-
zoa (Figura 33.7). bientes costeiros passam por um estágio de pequenos pólipos du-
rante o seu ciclo de vida, ao passo que aqueles que vivem no mar
Hidrozoários aberto geralmente não possuem o estágio de pólipo.
A maioria dos hidrozoários apresenta alternância entre as formas
de pólipo e de medusa, como no ciclo de vida de Obelia (Figura Cubozoários
33.8). O estágio de pólipo, uma colônia de pólipos interconec- Como o seu nome (que significa “animais em forma de cubo”)
sugere, os cubozoários possuem estágio de medusa em forma de
Tabela 33.1 Classes do filo Cnidaria caixa. Os cubozoários podem ser distinguidos dos cifozoários
Classes e exemplos Características principais de outros modos, como por possuírem olhos complexos mer-
gulhados na borda tentacular de sua medusa. Eles são melho-
Hidrozoa (caravela portuguesa, Maioria marinhos, poucos de água doce;
hidras, Obelia, alguns corais; ambos estágios de pólipo e medusa na res nadadores em comparação aos cifozoários; como resultado,
ver Figuras 33.7a e 33.8) maioria das espécies; estágio de pólipo estão menos propensos a serem arrastados para a margem. Os
frequentemente colonial cubozoários, em geral habitantes de oceanos tropicais, estão
Scyphozoa (águas-vivas, urti- Todos marinhos; estágio de pólipo au- frequentemente equipados com cnidócitos altamente tóxicos. A
gas-do-mar; ver Figura 33.7b) sente ou reduzido; livre natantes; medu- vespa-do-mar (Chironex fleckeri), cubozoário que vive no mar
sas podem alcançar até 2 m de diâmetro
do norte da Austrália, é um dos organismos mais fatais: a sua
Cubozoa (cubomedusas, ves- Todos marinhos; medusas em forma de picada provoca dor intensa e pode levar ao colapso respiratório,
pas-do-mar; ver Figura 33.7c) caixa; olhos complexos; veneno potente
parada cardíaca e morte em poucos minutos. Entretanto, o ve-
Anthozoa (anêmonas-do-mar, Todos marinhos; estágio de medusa
a maioria dos corais, leques- completamente ausente; maioria séssil;
neno das vespas-do-mar não é fatal para todos os organismos;
-do-mar; ver Figura 33.7d) muitos são coloniais tartarugas marinhas possuem defesas contra ele, permitindo que
elas se alimentem de cubomedusas em grande quantidade.

(b) Muitas medusas (classe (c) A vespa-do-mar (Chironex (d) As anêmonas-do-mar e outros
Scyphozoa) são bioluminescentes. fleckeri) é um membro da membros da classe Antozoa só
O alimento capturado pelos classe Cubozoa. O seu existem como pólipos.
tentáculos com nematocistos é veneno, que pode paralisar
transferido para braços orais peixes e outras grandes
(a) Estes pólipos coloniais são membros especializados (sem nematocistos) presas, é mais potente do que
da classe Hydrozoa. para ser transportado para a boca. o veneno de uma naja.

 Figura 33.7 Cnidários.


B i o l o gi a 673

4 As medusas nadam para


3 Outros pólipos, especializados para
fora da colônia, crescem e se
reprodução, não possuem tentáculos e
reproduzem sexuadamente.
2 Alguns pólipos da
produzem pequenas medusas assexua-
colônia com tentáculos damente por meio de brotamento.
são especializados para
alimentação.

Pólipo
reprodutivo
Pólipo que
se alimenta
1 Uma colônia de
pólipos interconectada Brotamento
(micrografia utilizando MEIOSE
de medusa
microscopia óptica) Gônada
resulta da reprodução
assexuada por Medusa
brotamento. Óvulo Esperma-
REPRODUÇÃO
SEXUADA tozoide

REPRODUÇÃO
ASSEXUADA
Porção de (BROTAMENTO)
uma colônia FERTILIZAÇÃO
de pólipos

Zigoto
Pólipo em
desenvolvimento Plânula
(larva)

Pólipo
maduro
CHAVE
1 mm

6 A plânula encontra um substrato 5 O zigoto se desenvolve em uma Haploide (n)


favorável e desenvolve um novo pólipo. larva sólida ciliada chamada de plânula. Diploide (2n)

 Figura 33.8 O ciclo de vida do hidrozoário Obelia. O estágio de pólipo é assexuado, e o estágio
de medusa é sexuado; os dois estágios se alternam, um produzindo o outro. Não confunda isso com a
alternância de gerações que ocorre em plantas e em algumas algas: em Obelia, o pólipo e a medusa são
organismos diploides. Típico de animais, somente os gametas unicelulares são haploides. Ao contrário, as
plantas possuem uma geração haploide multicelular e uma geração diploide multicelular.
E SE...? Suponha que os gametas e a medusa de Obelia fossem haploides, mas todos os outros está-
gios fossem diploides. Que aspectos do seu ciclo de vida real deveriam mudar para isto acontecer?

Antozoários pode também contribuir para o seu desaparecimento, aumentan-


do a temperatura da água acima da estreita faixa em que os corais
Anêmonas-do-mar (ver Figura 33.7d) e corais pertencem à clas-
conseguem sobreviver.
se Anthozoa (que significa “animais-flores”). Esses cnidários
ocorrem somente como pólipos. Os corais vivem solitários ou
REVISÃO DO CONCEITO
em colônias e muitas espécies secretam um esqueleto externo
duro composto de carbonato de cálcio. Cada geração de pólipo 1. Compare e contraste as formas de pólipo e medusa dos
é construída sobre os restos de esqueleto de gerações anteriores, cnidários.
formando “rochas” com formas características das suas espécies. 2. Descreva a estrutura e a função das células urticantes das
São esses esqueletos que normalmente chamamos de corais. quais os cnidários obtiveram o seu nome.
Recifes de corais estão para os mares tropicais como as flo- 3. E SE...? Se o ancestral comum dos cnidários fosse uma
restas tropicais para áreas terrestres: eles servem de hábitat para medusa de alto mar, o que você poderia inferir sobre as
muitas outras espécies. Infelizmente, assim como as florestas tendências evolutivas na importância relativa dos estágios
tropicais, os recifes de coral estão sendo destruídos em um rit- de pólipo e medusa?
mo alarmante pela ação humana. A poluição e a pesca predatória Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
são as maiores ameaças. O aquecimento global (ver Capítulo 55)
674 C a mpbel l & Col s .

33.3 Os lofotrocozoários, um Tabela 33.2 Classes do Filo Platyhelminthes

clado identificado por dados Classe e exemplos Características principais

moleculares, têm a mais ampla Turbellaria (a maioria A maioria marinhos, alguns de água doce e pou-
vermes chatos de vida li- cos terrestres; predadores ou necrófagos; superfí-
variedade de formas corpóreas vre como a Dugesia; ver cie do corpo ciliada
Figuras 33.9 e 33.10)
animais Monogenea (monogê- Parasitas marinhos e de água doce; a maioria
neos) infecta as superfícies externas de peixes; história
Calcarea e Silicea A grande maioria das espécies
de vida simples; larva ciliada inicia a infecção sob
Cnidaria animais pertence ao clado Bilaté- o hospedeiro
Lophotrochozoa
ria, cujos membros exibem sime- Trematoda A maioria parasitas de vertebrados; duas vento-
Ecdysozoa
Deuterostomia tria bilateral e desenvolvimento (trematódeos; sas se aderem ao hospedeiro; a maioria dos ciclos
triploblástico (ver Capítulo 32). A ver Figura 33.11) de vida inclui hospedeiros intermediários e finais
maioria dos bilatérios são também celomados. Enquanto a se- Cestoda (cestoides; ver Parasitas de vertebrados; o escólex se adere ao
quência da evolução dos bilatérios ainda é um assunto em inves- Figura 33.12) hospedeiro; as proglótides produzem ovos e se
tigação, a maioria dos pesquisadores pensa que o ancestral co- desprendem após a fertilização; não possuem
cabeça nem sistema digestivo; ciclo de vida com
mum mais recente dos bilatérios atuais provavelmente existiu no
um ou mais hospedeiros intermediários
final do éon Proterozoico (mais ou menos há 575 milhões de
anos). A maioria dos grandes grupos de bilatérios apareceu pela
primeira vez no registro fóssil durante a explosão do Cambriano. são espécies de vida livre quase microscópicas, ao passo que as
Como você leu no Capítulo 32, as evidências moleculares solitárias podem medir mais de 20 m de comprimento.
sugerem que existem três grandes clados de animais bilateral- Embora os vermes chatos possuam desenvolvimento triplo-
mente simétricos: Lophotrochozoa, Ecdysozoa e Deuterosto- blástico, eles são acelomados (animais sem cavidade corporal).
mia. Esta seção irá enfatizar o primeiro destes clados, os lofo- Devido à sua forma achatada, suas células ficam próximas à água
trocozoários. Os itens 33.4 e 33.5 irão explorar os outros dois presente no ambiente ou no intestino. Devido a essa proximidade
clados. com a água, as trocas gasosas e a eliminação de compostos nitro-
Embora o clado dos lofotrocozoários seja identificado por genados (amônia) podem ocorrer por difusão através da super-
dados moleculares, o seu nome deriva de características encon- f ície do corpo. Os vermes chatos não têm órgãos especializados
tradas em alguns dos seus membros. Alguns lofotrocozoários para trocas gasosas ou para a circulação, e o seu aparelho excre-
desenvolvem uma estrutura chamada de lofóforo, uma coroa de tor relativamente simples funciona principalmente para manter
tentáculos ciliados que atua na alimentação, ao passo que outros o balanço osmótico com o meio. Esse aparelho consiste em pro-
passam por um estágio distinto chamado de larva trocófora (ver tonefrídeos, redes de túbulos com células ciliadas conhecidas
Figura 32.13). Outros membros do grupo não possuem nenhuma como bulbos flama que sugam o líquido através de ductos ramifi-
dessas características. Algumas poucas características morfológi- cados que se abrem para o exterior (ver Figura 44.11). A maioria
cas peculiares são amplamente compartilhadas dentro do grupo dos vermes chatos tem uma cavidade gastrovascular com apenas
– de fato, os lofotrocozoários são o clado animal mais diverso em uma abertura. Os vermes chatos não possuem sistema circulató-
termos de plano corporal. Essa diversidade de formas é refletida rio, mas os ramos finos da cavidade gastrovascular distribuem o
no número de filos animais classificados no grupo: o clado Lofo- alimento diretamente às células do animal.
trocozoa inclui aproximadamente 18 filos animais, mais do que o Os vermes chatos são divididos em quatro classes (Tabela 33.2):
dobro de qualquer outro clado de animais. Turbelaria (a maioria são vermes chatos de vida livre), Monogenea
Vamos agora apresentar seis filos de lofotrocozoários: os ver- (monogêneos), Trematoda (trematódeos) e Cestoda (cestoides).
mes chatos, os rotíferos, os ectoproctos, os braquiópodes, os mo-
luscos e os anelídeos. Turbelários
Os turbelários são quase todos de vida livre e a maioria é marinha
Vermes chatos (Figura 33.9). Os turbelários de água doce mais conhecidos são
Os vermes chatos (filo Platyhelminthes) vivem em ambientes ma- os membros do gênero Dugesia, comumente chamados de pla-
rinhos, de água doce e em hábitats terrestres úmidos. Além das nárias. Abundantes em lagos e riachos não poluídos, as planárias
formas de vida livre, os vermes chatos incluem muitas espécies predam animais menores ou se alimentam de animais mortos.
parasitas, como os trematódeos e as solitárias. Os vermes chatos Elas se movem utilizando cílios da superf ície ventral, arrastan-
são assim chamados porque possuem corpos finos e achatados do-se sobre uma camada de muco que elas secretam. Outros
dorsiventralmente (entre as superf ícies dorsal e ventral); pla- turbelários também utilizam os músculos para se mover na água
tyhelminth significa “verme chato”. (Observe que a palavra verme com movimentos ondulantes.
não é um nome taxonômico formal e sim um termo geral para A cabeça da planária é equipada com um par de olhos sensíveis
animais com corpos longos e finos.) Os menores vermes chatos à luz e também com abas laterais que funcionam na percepção de
B i o l o gi a 675

 Figura 33.10 Anatomia de A digestão é completada dentro das


uma planária, um turbelário. células que delimitam a cavidade
Faringe. A boca está na ponta de gastrovascular, que possui muitas
uma faringe muscular. Sucos sub-ramificações finas proporcionan-
digestivos são jogados na presa e do uma extensa área de superfície.
a faringe suga pequenos pedaços
de alimento para dentro da Materiais não digeridos
cavidade gastrovascular, onde a são regurgitados pela
digestão continua. boca.

Cavidade gastrovascular

Boca

 Figura 33.9 Verme chato marinho (classe Turbellaria).


Olhos
substâncias químicas específicas. O sistema nervoso da planária é
mais complexo e centralizado do que as redes nervosas dos cnidá-
rios (Figura 33.10). Experimentos demonstraram que as planárias
podem aprender a modificar suas respostas a estímulos. Gânglios. Na extremidade anterior Cordões nervosos centrais.
Algumas planárias podem-se reproduzir assexuadamente por do verme, perto das fontes principais Originando-se nos gânglios,
de estímulos sensoriais, está um par um par de cordões nervosos
fissão. O animal sofre uma constrição mais ou menos no meio do de gânglios, aglomerados densos de ventrais se estende ao
corpo, separando uma parte com a cabeça da outra com a cauda; células nervosas. longo do corpo.
cada um dos lados irá regenerar as partes perdidas. Reprodução
sexuada também ocorre. As planárias são hermafroditas e os pa-
res geralmente fazem fertilização cruzada. 1 Trematódeos maduros vivem nos vasos sanguíneos
do intestino humano. Uma fêmea de trematódeo se
Monogêneos e trematódeos aloja em uma reentrância presente ao longo do
corpo do macho, como mostrado na microscopia
Os monogêneos e os trematódeos vivem como óptica à direita. Macho
parasitas dentro ou em cima de outros animais.
Muitos possuem ventosas que aderem aos ór-
gãos internos ou superf ícies externas do animal
hospedeiro. Uma cobertura espessa ajuda a pro- Fêmea

teger os parasitas dentro dos hospedeiros. Os ór-


gãos reprodutivos ocupam quase todo o interior
desses vermes. 5 Essas larvas penetram 1 mm
na pele e nos vasos
Como grupo, os trematódeos parasitam sanguíneos de humanos 2 Os trematódeos do sangue
uma ampla faixa de hospedeiros, e a maioria das que trabalham em se reproduzem
espécies apresenta ciclos de vida complexos com campos irrigados com sexuadamente dentro do
água contaminada com hospedeiro humano. Os
alternância de estágios sexuados e assexuados. fezes humanas ovos fertilizados são
Muitos trematódeos necessitam de um hospe- infectadas. liberados nas fezes.
deiro intermediário, em que a larva se desen- 3 Se as fezes encontram
volve antes de infectar o hospedeiro definitivo um lago ou outra
(geralmente um vertebrado), onde o adulto irá fonte de água, os
ovos se desenvolvem
viver. Por exemplo, os trematódeos que parasi- em larvas ciliadas.
tam humanos passam parte da vida em caracóis Essas larvas infectam
os caracóis, os
hospedeiros (Figura 33.11). No mundo, mais ou 4 A reprodução assexuada hospedeiros
menos 200 milhões de pessoas estão infectadas dentro do caracol resulta intermediários.
com o trematódeo do sangue (Schistosoma) e so- em outro tipo de larva
móvel que escapa do Caracol hospedeiro
frem de esquistossomose, doença cujos sintomas hospedeiro.
incluem dor, anemia e disenteria.
Viver em diferentes hospedeiros obriga  Figura 33.11 Ciclo de vida de um trematódeo do sangue (Schistosoma mansoni).
E SE...? Caracóis comem algas, as quais crescem estimuladas por nutrientes encontrados
aos trematódeos vivenciarem situações que
em fertilizantes. Como a contaminação da água de irrigação com fertilizantes poderia afetar a
os animais de vida livre não encontram. Um
ocorrência de esquistossomose? Explique.
676 C a mpbel l & Col s .

trematódeo do sangue, por exemplo, precisa escapar do sistema contaminam o alimento ou a água de hospedeiros intermediários,
imunitário de ambos os hospedeiros, o caracol e o humano. Ao como porcos e gado, e os ovos do cestoide desenvolvem larvas que
imitar as proteínas de superf ície dos hospedeiros, o tremató- se encistam nos músculos desses animais. Os humanos adquirem
deo do sangue cria uma camuflagem imunológica parcial para si a larva ao se alimentar de carne malpassada contaminada com os
próprio. Ele também libera moléculas que manipulam o sistema cistos. Os vermes se desenvolvem em adultos maduros dentro dos
imunitário do hospedeiro para tolerar a existência do parasita. humanos. Os cestoides grandes podem bloquear os intestinos e re-
Essas defesas são tão eficientes que trematódeos de sangue po- tirar nutrientes suficientes do hospedeiro humano para causar defi-
dem sobreviver em humanos por mais de 40 anos. ciência nutricional. Os médicos utilizam um remédio administrado
A maioria dos monogêneos, no entanto, são por via oral, a niclosamida, para matar os vermes adultos.
parasitas externos de peixes. O ciclo de vida de
monogêneos é relativamente simples: uma larva Rotíferos
ciliada de vida livre inicia a infecção de um peixe Os rotíferos (filo Rotifera) são pequenos animais que vivem em am-
hospedeiro. Embora monogêneos tenham sido bientes de água doce, marinhos e solos úmidos. Com tamanho que
tradicionalmente agrupados com trematódeos, varia entre 50 μm e 2 mm, os rotíferos são menores do que mui-
algumas evidências químicas e estruturais suge- tos protistas; no entanto, são multicelulares e possuem sistemas de
rem que eles são mais próximos de cestoides. órgãos especializados (Figura 33.13). Ao contrário dos cnidários e
vermes chatos com cavidade gastrovascular, os rotíferos possuem
Cestoides
canal alimentar, um tubo digestivo que separa a boca e o ânus. Os
Os cestoides (classe Cestoidea) são também órgãos internos se localizam no pseudoceloma, cavidade corpo-
parasitas (Figura 33.12). A maioria dos adultos ral não completamente delimitada pela mesoderme (ver a Figura
vive dentro de vertebrados, incluindo humanos. 32.8b). O líquido no pseudoceloma atua como esqueleto hidrostáti-
Em muitos cestoides, a porção anterior, ou es- co (ver Capítulo 50). O movimento corporal de um rotífero distribui
cólex, possui ventosas e às vezes ganchos que o o líquido pelo corpo, circulando os nutrientes.
verme utiliza para se aderir à cobertura intesti- A palavra rotífero, derivada do latim, significa “portador de ro-
nal do hospedeiro. Os cestoides não possuem das”, referência à coroa ciliada que dirige um redemoinho de água
boca nem cavidade gastrovascular; absorvem para a boca. Posterior à boca, uma região do trato digestório chama-
os nutrientes liberados pela digestão no intesti- da de faringe possui mandíbulas chamadas de trofos que trituram o
no do hospedeiro. A absorção ocorre através da alimento, em sua maioria micro-organismos suspensos na água.
superf ície do corpo do cestoide. Os rotíferos exibem algumas formas incomuns de reprodu-
Posterior ao escólex existe um longo feixe ção. Algumas espécies são constituídas apenas de fêmeas que
de unidades chamadas de proglótides, nada mais produzem mais fêmeas a partir de ovos não fertilizados, tipo de
que sacos de órgãos sexuais. Depois da reprodu- reprodução chamada de partenogênese. Outras espécies produ-
ção sexuada, as proglótides com milhares de ovos zem dois tipos de ovos que se desenvolvem por partenogênese.
fertilizados são liberadas da porção final de um Um dos tipos forma fêmeas enquanto o outro tipo (produzido
cestoide e deixam o corpo do hospedeiro através sob condições desfavoráveis) se desenvolve em machos simples
das fezes. No ciclo de vida, as fezes infectadas que não podem se alimentar. Esses machos sobrevivem apenas o

Proglótides com Mandíbulas Coroa de


estruturas reprodutivas cílios
200 µm

Ganchos
Escólex
Ventosa
Ânus
Estômago 0,1 mm

 Figura 33.13 Um rotífero. Estes pseudocelomados, menores do que


 Figura 33.12 Anatomia de um cestoide. A micrografia menor muitos protistas, são em geral mais complexos anatomicamente do que os
mostra um detalhe do escólex (MEV colorida). vermes chatos (MO).
B i o l o gi a 677

suficiente para fertilizar os ovos que formam zigotos resistentes


Lofóforo
capazes de sobreviver quando o lago seca. Quando as condições
são favoráveis, os zigotos quebram a dormência e criam uma
nova geração de fêmeas que se reproduz por partenogênese até
as condições se tornarem desfavoráveis novamente.
É intrigante que muitas espécies de rotíferos consigam so-
breviver sem machos. A grande maioria de animais e plantas se Lofóforo
reproduz sexuadamente pelo menos por algum tempo, e a repro-
dução sexuada possui certas vantagens em relação à reprodução
assexuada. Por exemplo, espécies que se reproduzem assexuada-
mente tendem a acumular mutações deletérias nos genomas em
taxa maior do que espécies que se reproduzem sexuadamente.
Como resultado, espécies assexuadas deveriam apresentar altas
taxas de extinção e baixas taxas de especiação.
(a) Ectoproctos como este tapete- (b) Braquiópodes possuem uma
Tentando entender esse grupo pouco convencional, o ganhador -do-mar (Membranipora membra- concha articulada. As duas partes
do Prêmio Nobel, o biólogo Matthew Meselson, da Universidade de nacea) são lofoforados coloniais. da concha são dorsal e ventral.
Harvard, vem estudando uma classe de rotíferos assexuados cha-
 Figura 33.14 Lofoforados.
mada de Bdelloidea. Aproximadamente 360 espécies de rotíferos
bdeloides são conhecidas e todas se reproduzem por partenogê- Os braquiópodes superficialmente se assemelham a maris-
nese, sem machos. Paleontólogos descobriram rotíferos bdeloides cos e a outros moluscos com conchas articuladas, mas as duas
preservados em âmbar de 35 milhões de anos, e a morfologia des- metades das conchas dos braquiópodes são dorsal e ventral, e não
ses fósseis se assemelha apenas à forma feminina, sem evidência de laterais como nos mariscos (Figura 33.14b). Todos os braquió-
machos. Ao comparar o DNA de bdeloides com os rotíferos mais podes são marinhos. A maioria vive aderida ao fundo do mar por
próximos que se reproduzem sexuadamente, Meselson e seus cola- um pedúnculo, abrindo levemente a sua concha e permitindo o
boradores concluíram que provavelmente os bdeloides apresentam fluxo de água por meio do lofóforo. Os braquiópodes atuais são
reprodução assexuada há muito mais do que 35 milhões de anos. remanescentes de um passado muito mais rico que incluía 30.000
Como esses animais conseguem fazer oposição à regra geral contra espécies nas eras Paleozoica e Mesozoica. Alguns braquiópodes
a reprodução assexuada de vida longa continua um mistério. atuais, como aqueles do gênero Lingula, são quase idênticos às
espécies fósseis que viveram há 400 milhões de anos.
Lofoforados: ectoproctos e braquiópodes
Os bilatérios nos filos Ectoprocta e Brachiopoda estão entre Moluscos
aqueles conhecidos como lofoforados. Esses animais possuem Caracóis, lesmas, ostras, mariscos, polvos e lulas são todos mo-
lofóforo, uma coroa de tentáculos ciliados que circunda a boca luscos (Filo Mollusca). A maioria dos moluscos é marinha, embo-
(ver Figura 32.13a). À medida que os cílios movem a água em ra alguns vivam na água doce e alguns caracóis e lesmas possuam
direção à boca, esses tentáculos retêm partículas de alimento em hábitos terrestres. Moluscos são animais de corpo mole (do latim
suspensão. Outras semelhanças, como canal alimentar em forma molluscus, mole), mas a maioria secreta uma concha dura pro-
de U e ausência de cabeça distinta, refletem a existência séssil tetora composta de carbonato de cálcio. Lesmas, lulas e polvos
desses organismos. Ao contrário dos vermes chatos sem cavidade possuem concha interna reduzida ou perderam completamente a
corporal e dos rotíferos com pseudoceloma, os lofoforados têm concha no curso de sua evolução.
celoma verdadeiro completamente delimitado pela mesoderme Embora tenham diferenças, todos os moluscos apresentam pla-
(ver Figura 32.8a). no corporal semelhante (Figura 33.15, na próxima página). Os mo-
Os ectoproctos (do grego ecto, fora e procta, ânus) são animais luscos são celomados e os seus corpos possuem três partes princi-
coloniais superficialmente parecidos com grupos de musgos (de pais: um pé muscular normalmente utilizado para locomoção; uma
fato, o seu nome comum briozoários significa “animais musgos”). Na massa visceral contendo a maioria dos órgãos do animal; e o man-
maioria das espécies, a colônia está envolvida por um exoesqueleto to, dobra de tecido que recobre a massa visceral e secreta a concha
(esqueleto externo) rígido com poros pelos quais os lofóforos se es- (se estiver presente). Em muitos moluscos, o manto se estende além
tendem (Figura 33.14a). A maioria das espécies de ectoproctos vive da massa visceral produzindo uma câmara cheia de água, a cavida-
no mar; estão entre os mais numerosos e amplamente distribuídos de do manto, que abriga brânquias, ânus e poros excretores. Mui-
animais sésseis. Muitas espécies são importantes construtores de re- tos moluscos se alimentam utilizando um órgão em forma de fita
cifes. Os ectoproctos também vivem em lagos e rios. As colônias do denteada chamado de rádula, utilizado para raspar o alimento.
ectoprocto de água doce Pectinatella magnifica crescem em galhos A maioria dos moluscos possui sexos separados; suas gônadas
submersos ou rochas e podem se transformar em uma massa gelati- (ovários ou testículos) estão localizadas na massa visceral. Muitos
nosa com forma arredondada com mais de 10 cm de diâmetro. caracóis, no entanto, são hermafroditas. O ciclo de vida de muitos
678 C a mpbel l & Col s .

Coração. A maioria dos moluscos possui sistema circulatório aberto.


Nefrídio. Órgãos excretórios O coração localizado dorsalmente bombeia o líquido circulatório
chamados nefrídios removem os chamado de hemolinfa pelas artérias até os sínus (espaços corpóreos). Os
resíduos metabólicos da hemolinfa. órgãos dos moluscos são então continuamente banhados com hemolinfa.

Massa visceral
O longo trato digestório é
enrolado na massa visceral.
Celoma Intestino
Gônadas
Manto Rádula. A região da
boca em muitas
Estômago espécies de
Cavidade do
Concha Boca moluscos possui um
manto
órgão denteado
Rádula
para alimentar-se.
Ânus Este cinto de dentes
O sistema nervoso curvados para trás
consiste em um anel Brânquia vai repetidas vezes
nervoso ao redor do para frente e
esôfago, do qual depois se retrai
cordões nervosos se para dentro da
Boca boca, raspando e
estendem. Pé Cordões Esôfago
nervosos removendo o
substrato como
uma escavadeira.

 Figura 33.15 O plano corporal básico dos moluscos.

Tabela 33.3 Principais classes do filo Mollusca


Classes e exemplos Características principais
Polyplacophora (quítons; Marinhos; conchas com oito placas; pé utili-
ver Figura 33.16) zado para a locomoção; rádula; sem cabeça
Gastropoda (caracóis, Marinhos, de água doce ou terrestres; cabe-
lesmas; ver Figuras 33.17 ça presente; corpo simétrico normalmente
e 33.18) com concha espiralada; concha reduzida ou
ausente; pé para a locomoção; rádula
Bivalvia (mariscos, mexi- Marinhos e de água doce; concha acha-
lhões, vieiras, ostras; ver tada com duas valvas; cabeça reduzida;
Figuras 33.19 e 33.20) brânquias pareadas; sem rádula; a maioria
se alimenta de partículas em suspensão; o
manto forma sifões
Cephalopoda (lulas, pol- Marinhos; cabeça circundada por tentácu-  Figura 33.16 Um quíton. Observe a concha com oito placas, carac-
vos, sépias, náutilos; ver los, geralmente com ventosas, utilizados terística dos moluscos na classe Polyplacophora.
Figura 33.21) para segurar a presa; concha externa, inter-
na ou ausente; boca com ou sem rádula; lo- é segmentado. É possível encontrar esses animais marinhos ade-
comoção por propulsão em jatos utilizando ridos em rochas na praia na maré baixa. Se você tentar deslocar
o sifão formado pelo pé.
um quíton, ficará surpreso ao ver que o pé do animal atua como
ventosa aderida à superf ície da rocha. Um quíton pode também
moluscos marinhos inclui um estágio de larva ciliada, trocófora utilizar o pé dele para rastejar lentamente sobre a rocha. Os quí-
(ver Figura 32.13b), também característica de anelídeos marinhos tons utilizam a rádula para raspar algas da superf ície das rochas.
(vermes segmentados) e de alguns outros lofotrocozoários.
O plano corporal básico dos moluscos evoluiu de vários mo- Gastrópodes
dos nas oito classes do filo. Examinaremos quatro dessas classes Mais ou menos três quartos de todas as espécies atuais de molus-
aqui (Tabela 33.3): Polyplacophora (quítons), Gastropoda (cara- cos são gastrópodes (Figura 33.17). A maioria dos gastrópodes
cóis e lesmas), Bivalvia (mariscos, ostras e outros bivalves) e Ce- é marinha, mas também existem muitas espécies de água doce.
phalopoda (lulas, polvos, sépias e náutilos). Alguns gastrópodes se adaptaram à vida na terra, incluindo ca-
racóis de jardim e lesmas. Uma característica distintiva da classe
Quítons Gastropoda é o processo de desenvolvimento conhecido como
Os quítons têm corpo ovalado e uma concha dividida em oito torção. À medida que o embrião de um gastrópode se desenvol-
placas dorsais (Figura 33.16). O corpo do quíton, no entanto, não ve, a sua massa visceral pode apresentar uma rotação de até 180o;
B i o l o gi a 679

com isso, o ânus e a cavidade do manto do animal se localizam Bivalves


acima de sua cabeça (Figura 33.18). Depois da torção, alguns Os moluscos da classe Bivalvia incluem muitas espécies de maris-
órgãos antes bilaterais podem apresentar tamanho reduzido, ao cos, ostras, mexilhões e vieiras. Os bivalves possuem a concha divi-
passo que outros podem estar perdidos em um dos lados do cor- dida em duas metades (Figura 33.19). As metades são articuladas
po. A torção não deve ser confundida com a formação de uma na linha médio-dorsal, e poderosos músculos adutores as mantêm
concha espiralada, processo de desenvolvimento independente. unidas para proteger o corpo mole do animal. Os bivalves não têm
A maioria dos gastrópodes possui concha única espiralada na cabeça distinta, e a rádula foi perdida. Alguns bivalves possuem
qual o animal pode se abrigar quando ameaçado. A concha é fre- olhos e tentáculos sensoriais ao longo da borda externa do manto.
quentemente cônica e um pouco achatada como em abalones e A cavidade do manto de um bivalve possui brânquias utilizadas
lapas. Muitos gastrópodes possuem cabeça distinta com olhos nas para trocas gasosas e também para alimentação na maioria das espé-
pontas dos tentáculos. Os gastrópodes se movem literalmente em cies (Figura 33.20). A maioria dos bivalves filtra partículas em sus-
ritmo de lesma pelo movimento ondulatório do pé ou por meio de pensão. Eles retêm partículas finas de alimento no muco que cobre
cílios, com frequência deixando um rastro de muco por onde pas- as brânquias, e os cílios dirigem essas partículas para a boca. A água
sam. A maioria dos gastrópodes utiliza a rádula para se alimentar entra na cavidade do manto através de um sifão de entrada, passa
de algas ou plantas. Muitos grupos, no entanto, são predadores: a pelas brânquias e sai da cavidade do manto por um sifão de saída.
rádula se modificou para perfurar as conchas de outros moluscos
ou para cortar a presa. Na família Conidae, os dentes da rádula
atuam como dardos envenenados utilizados para abater a presa.
Caracóis terrestres não possuem as brânquias típicas da
maioria dos gastrópodes aquáticos. Em vez disso, a cobertura da
cavidade do manto funciona como um pulmão, trocando gases
da respiração com o ar.

 Figura 33.19 Um bivalve. Esta vieira possui muitos olhos (pontos


azuis-escuros) que espiam em cada metade da concha articulada.
(a) Um caracol terrestre.
Zona de Celoma
articulação
Manto Intestino Coração Músculo
adutor
Glândula
(b) Uma lesma-do-mar. Os nudibrânquios ou digestória
lesmas-do-mar perderam a concha durante Ânus
a sua evolução. Boca
 Figura 33.17 Gastrópodes. Sifão de
saída
Cavidade Estômago Intestino
do Manto
Ânus

Boca
Concha
Fluxo
Palpo
de água
Pé Sifão de
Cavidade
Gônada Brânquias entrada
do manto
 Figura 33.18 Os resultados da torção em gastrópodes. Devido
à torção (giro da massa visceral) durante o desenvolvimento embrionário,  Figura 33.20 Anatomia dos mariscos. Partículas de alimento em
o trato digestório é espiralado e o ânus se localiza perto da extremidade suspensão na água que chega pelo sifão de entrada são coletadas pelas
anterior do animal. brânquias e passam através dos cílios para a boca.
680 C a mpbel l & Col s .

A maioria dos bivalves é sedentária, característica que com- Os cefalópodes são os únicos moluscos com sistema circu-
bina com o hábito de ingerir partículas em suspensão. Os me- latório fechado. Também possuem órgãos sensoriais bem de-
xilhões sésseis secretam estruturas de adesão semelhantes a fios senvolvidos e cérebro complexo. A habilidade de aprender e se
que os aderem a rochas, ancoradouros, barcos e conchas de ou- comportar de maneira complexa é provavelmente mais crucial
tros animais. No entanto, mariscos podem se enterrar na areia para predadores que se movem rápido do que para animais se-
ou na lama utilizando o pé muscular como âncora, e as vieiras dentários como os mariscos.
podem deslizar no fundo do mar batendo as suas conchas para Os ancestrais dos polvos e lulas foram provavelmente mo-
cima e para baixo, de um modo que lembra aquelas dentaduras luscos com conchas que adquiriram um estilo de vida predató-
falsas vendidas em lojas de curiosidades. rio; a concha foi perdida tardiamente na evolução. Cefalópodes
com carapaça chamados de amonitas, alguns tão grandes quanto
Cefalópodes pneus de caminhão, foram os invertebrados predadores domi-
Os cefalópodes são predadores ativos (Figura 33.21). Eles utilizam nantes nos mares por centenas de milhões de anos até o seu de-
os tentáculos para segurar a presa. Em seguida, cravam nela suas saparecimento durante a extinção em massa do final do período
mandíbulas semelhantes a um bico e a imobilizam com sua saliva Cretáceo, há 65,5 milhões de anos (ver Capítulo 25).
envenenada. O pé de um cefalópode adotou o formato de um si- A maioria das espécies de lula tem menos de 75 cm de compri-
fão muscular e em parte dos tentáculos. Lulas se locomovem por mento, mas algumas são consideravelmente maiores. A lula gigante
meio de movimentos repentinos: o animal injeta água na cavidade (Architeuthis dux) foi por muito tempo a maior lula conhecida, com
do manto e depois solta um jato de água pelo sifão; elas se movem o comprimento do manto atingindo 2,25 m e um comprimento total
apontando o sifão para diferentes direções. Os polvos utilizam um de 18 m. Em 2003, no entanto, um espécime de uma espécie rara
mecanismo semelhante para escapar dos predadores. Mesonychoteuthis hamiltoni foi capturado perto da Antártica; seu
Um manto cobre a massa visceral dos cefalópodes, mas manto possuía 2,5 m de comprimento. Alguns biólogos consideram
a concha é reduzida e interna (em lulas e sépias) e totalmente que esse espécime era jovem e estimam que adultos dessa espécie
ausente (em muitos polvos). Um pequeno grupo de cefalópodes possam possuir o dobro do tamanho! Diferente de A. dux, que pos-
com conchas, os náutilos, continua vivo atualmente. sui ventosas grandes e pequenos dentes nos tentáculos, M. hamilto-
ni tem duas fileiras de ganchos afiados nas pontas dos tentáculos, o
que pode produzir lacerações mortais.
 Polvos estão entre os
invertebrados mais É provável que A. dux e M. hamiltoni passem a maior parte do
inteligentes. tempo em mar profundo, onde talvez se alimentem de peixes gran-
des. Restos de ambas as espécies de lula gigante têm sido encontra-
dos no estômago de cachalotes, provavelmente o seu único predador
 Lulas são carnívoros natural. Em 2005, cientistas registraram as primeiras observações de
rápidos com mandíbulas
em forma de bico e olhos A. dux na natureza, fotografada enquanto atacava anzóis com isca a
bem desenvolvidos. uma profundidade de 900 m. M. hamiltoni ainda não foi observada
na natureza. Em resumo, esses gigantes marinhos ainda permane-
cem entre os grandes mistérios da vida dos invertebrados.

Anelídeos
Annelida significa “pequenos anéis”, referindo-se à semelhança
do corpo do anelídeo com uma série de anéis fundidos. Os anelí-

Tabela 33.4 Classes do filo Annelida


Classe e exemplos Características principais
Oligochaeta (vermes segmen- Cabeça reduzida, sem parapódios, mas
tados de água doce, marinhos com cerdas epidérmicas presentes.
e terretres; ver Figura 33.22)
Polychaeta (a maioria vermes Muitos têm cabeça bem desenvolvida;
segmentados marinhos; ver cada segmento geralmente possui para-
Figura 33.23) pódios e muitas cerdas epidérmicas; de
vida livre.
 Náutilus são os
únicos cefalópodes Hirudinea (sanguessugas; ver Corpo geralmente achatado com celo-
existentes com Figura 33.24) ma e segmentação reduzidos; cerdas
concha externa. epidérmicas geralmente ausentes;
ventosas nas partes anterior e posterior;
parasitas, predadores e necrófagos.
 Figura 33.21 Cefalópodes.
B i o l o gi a 681

deos são vermes segmentados que vivem no mar, na maioria dos esparsas, feitas de quitina. Essa classe de vermes segmentados
hábitats de água doce e no solo úmido. Os anelídeos são celoma- inclui as minhocas e uma variedade de espécies aquáticas. A Fi-
dos e podem variar de 1 mm até mais do que 3 m, o tamanho da gura 33.22 é um guia da anatomia das minhocas, espécies re-
minhoca gigante australiana. presentativas dos anelídeos. As minhocas se movimentam pelo
O filo Annelida pode ser dividido em três classes (Tabela solo ingerindo terra; então os nutrientes são extraídos quando
33.4, na página anterior): Oligochaeta (as minhocas e seus paren- essa terra passa pelo canal alimentar. O material não digerido
tes), Polychaeta (os poliquetos) e Hirudinea (as sanguessugas). é misturado com o muco secretado no canal e eliminado como
matéria fecal pelo ânus. Os produtores rurais dão valor às mi-
Oligoquetas nhocas porque esses animais lavram e fazem a aeração do solo,
Os oligoquetas (do grego oligos, pouco e chaite, pelo longo) pos- e as suas fezes melhoram sua textura (Charles Darwin estimou
suem esse nome devido às cerdas epidérmicas, relativamente que um único acre de área agricultável na Inglaterra possuía

Cada segmento é circundado por músculos longitudinais, por sua Celoma. O celoma de Metanefrídio. Cada
vez circundado por músculos circulares. As minhocas coordenam as uma minhoca é segmento do verme
contrações destes dois conjuntos de músculos para se mover (ver dividido por septos. possui um par de tubos
Figura 50.33). Estes músculos pressionam o líquido celomático não secretores chamados de
comprimido, que atua como esqueleto hidrostático. metanefrídios, com
aberturas ciliadas em
forma de funil chamadas
Epiderme Cutícula de nefróstomos. Os
Muitas estruturas Septo metanefrídios removem
internas são repetidas Músculo (divisão as excretas do sangue e
em cada segmento circular entre líquido celomático através
da minhoca. segmentos) de poros exteriores.

Músculo
longitudinal Ânus

Vaso
Cerdas epidérmicas. dorsal
Cada segmento possui
quatro pares de cerdas Pequenos vasos
epidérmicas, que sanguíneos são
conferem tração quando Intestino abundantes na
o animal se enterra. pele da
minhoca, que
funciona como
Cordões Vaso órgão
nervosos ventral respiratório. O
photo to come fusionados sangue contém
from 7e archive Nefróstomo
hemoglobina
que carrega o
oxigênio.
Moela

Esôfago Metanefrídio
Faringe Papo
Intestino
Minhoca gigante australiana

Gânglios cerebrais. O sistema


nervoso da minhoca possui um Clitelo
par de gânglios cerebrais
semelhantes a um cérebro que se Boca
localiza acima e à frente da Gânglio
faringe. Um anel de cordões subfaringeal
nervosos ao redor da faringe
conecta-se a gânglios Cordões nervosos ventrais com gânglios
subfaringeais, a partir dos quais O sistema circulatório, uma rede de vasos, é fechado. segmentados. Os cordões nervosos
um par de cordões nervosos Os vasos dorsais e ventrais são ligados por pares de penetram os septos e percorrem o
fundidos corre posteriormente. vasos segmentados. O vaso dorsal e cinco pares de comprimento do animal, assim como o
vasos que circundam o esôfago são musculares e trato digestório e os vasos sanguíneos
bombeiam sangue pelo sistema circulatório. longitudinais.

 Figura 33.22 Anatomia das minhocas, um oligoqueta.


682 C a mpbel l & Col s .

mais ou menos 50.000 minhocas produzindo 18 toneladas de


fezes por ano).
As minhocas são hermafroditas, mas apresentam fecundação
cruzada. No cruzamento, duas minhocas se alinham em direções
opostas de maneira a trocar os espermatozoides (ver Figura 46.1)
e depois se separam. Os espermatozoides recebidos são armaze-
nados temporariamente enquanto um órgão chamado de clitelo  Figura 33.24 Uma sangues-
secreta um casulo de muco. O casulo escorrega pelo corpo do suga. Uma enfermeira aplicou esta
verme coletando os óvulos e o esperma armazenado. O casulo sanguessuga medicinal (Hirudo medi-
cinalis) no polegar inchado de um pa-
então sai pela cabeça do verme e permanece no solo enquanto os
ciente para retirar sangue de um he-
embriões se desenvolvem. Algumas minhocas também podem se matoma (acúmulo anormal de sangue
reproduzir assexuadamente por fragmentação seguida de rege- ao redor de um ferimento interno).
neração.

Poliquetas que sugam sangue ao se aderir temporariamente a outros ani-


mais, incluindo os humanos (Figura 33.24). Algumas espécies
Cada segmento de um poliqueta possui um par de estruturas em
parasitas utilizam mandíbulas semelhantes a lâminas para cor-
forma de nadadeira ou espinho chamado de parapódio (“quase
tar a pele do hospedeiro, e outras secretam enzimas que fazem
pés”) que funcionam na locomoção (Figura 33.23). Cada para-
um buraco na pele. O hospedeiro geralmente está alheio a este
pódio possui numerosas cerdas epidérmicas; por isso, os po-
ataque, pois a sanguessuga secreta um anestésico. Depois de fa-
liquetas geralmente têm muito mais cerdas por segmentos do
zer a incisão, a sanguessuga secreta outra substância química, a
que os oligoquetas. Em muitos poliquetas, os parapódios são
hirudina, que evita que o sangue do hospedeiro, perto da incisão,
supridos com vasos sanguíneos e também funcionam como
coagule. O parasita então suga o máximo de sangue, frequente-
brânquias.
mente mais do que dez vezes o seu peso. Depois desse banquete,
Os poliquetas constituem uma classe grande e diversa, com-
a sanguessuga pode ficar meses sem outra refeição.
posta em sua maioria por espécies marinhas. Poucas espécies se
As sanguessugas eram frequentemente utilizadas em san-
deslocam e nadam entre os organismos planctônicos, muitas se
grias medicinais. Hoje elas são utilizadas para retirar o sangue
arrastam ou se enterram no fundo do mar e muitas outras vi-
que acumula nos tecidos depois de cirurgias ou machucados. Os
vem em tubos. Alguns habitantes de tubos, como os sabelídeos,
pesquisadores também investigam a utilidade potencial da hiru-
constroem os seus tubos com uma mistura de muco com areia
dina em dissolver coágulos sanguíneos indesejáveis que se for-
e conchas quebradas. Outros, como o poliqueta árvore-de-natal
mam durante cirurgias ou como resultado de doenças cardíacas.
(ver Figura 33.1), constroem os tubos utilizando apenas as suas
Muitas formas recombinantes da hirudina foram desenvolvidas,
próprias secreções.
duas das quais foram aprovadas recentemente para uso clínico.
Sanguessugas Como grupo, os Lophotrochozoa reúnem uma admirável fai-
xa de planos corpóreos como ilustrado pelos membros de filos
A maioria das sanguessugas vive na água doce, mas existem al-
como Rotifera, Ectoprocta, Mollusca e Annelida. A seguir, ex-
gumas espécies marinhas e também terrestres encontradas em
ploraremos a diversidade do Ecdysozoa, presença dominante na
vegetação úmida. As sanguessugas possuem comprimento que
Terra em termos de número total de espécies.
varia entre um e trinta centímetros. Muitas são predadoras se
alimentando de outros invertebrados, mas algumas são parasitas
REVISÃO DO CONCEITO

1. Explique como os cestoides podem sobreviver sem celo-


ma, boca, sistema digestório e sistema excretor.
2. Como a modificação do pé dos moluscos em gastrópodes
e cefalópodes se relaciona aos seus respectivos modos de
vida?
3. A anatomia dos anelídeos pode ser descrita como “tubo
dentro de um tubo”. Explique.
4. E SE...? Relativamente poucos lofotrocozoários de
vida livre vivem na terra, acima da superf ície do solo. Le-
vando em conta a gravidade, faça uma hipótese de por que
isto ocorre.
 Figura 33.23 Um poliqueta. He- Parapódio
siolyra bergi vive perto de fontes hidro- Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
termais no fundo do mar.
B i o l o gi a 683

33.4 Os ecdisozoários são o grupo Um grande número de nematódeos vive no solo úmido e em
matéria orgânica em decomposição no fundo de lagos e ocea-
animal mais rico em espécies nos. Vinte e cinco mil espécies são conhecidas, mas um número
talvez 20 vezes maior realmente exista. Diz-se que se nada mais
Embora definido primariamente
Calcarea e Silicea
além de nematódeos permanecesse na Terra, eles preservariam
Cnidaria por evidência molecular, o clado
Lophotrochozoa muitas das características do planeta. Esses vermes de vida livre
Ecdysozoa inclui animais que tro-
Ecdysozoa desempenham importante papel na decomposição e no ciclo de
Deuterostomia cam uma camada externa dura
nutrientes, mas pouco é conhecido sobre a maioria das espécies.
(cutícula) à medida que eles cres-
Uma espécie de nematódeo de solo, Caenorhabditis elegans, no
cem; de fato, o grupo possui o nome derivado desse processo,
entanto, é muito bem estudada e se tornou um organismo mo-
chamado de muda ou ecdise. Os Ecdysozoa consistem em apro-
delo em biologia (ver Capítulo 21). Estudos com C. elegans estão
ximadamente oito filos animais; contêm mais espécies conheci-
revelando alguns mecanismos envolvidos com o envelhecimento
das do que todos os protistas, fungos, plantas e outros grupos
em humanos, entre outras descobertas.
animais combinados. Abordaremos aqui os dois maiores filos de
O filo Nematoda inclui muitas pragas que atacam as raízes de
ecdisozoários: os nematódeos e os artrópodes, dois mais bem su-
plantas de importância agrícola. Outras espécies de nematódeos
cedidos e abundantes dos grupos de animais.
parasitam animais. Os humanos são hospedeiros de pelo menos
Nematódeos 50 espécies de nematódeos, incluindo vários oxiúros e ancilósto-
mos. Um nematódeo conhecido é o Trichinella spiralis, o verme
Alguns dos animais mais cosmopolitas, os nematódeos (Filo Ne- que causa a triquinose (Figura 33.26). Os humanos adquirem
matoda), ou vermes arredondados, são encontrados na maioria esse nematódeo ao comer carne de porco ou outra carne crua ou
dos hábitats aquáticos, no solo, nos tecidos úmidos das plantas e malpassada (incluindo carne de caças como urso e morsa) que
nos líquidos corporais e tecidos dos animais. Em contraste com possua os vermes juvenis encistados no tecido muscular. Dentro
os anelídeos, os nematódeos não têm corpo segmentado. Os cor- do intestino humano, os juvenis se tornam adultos sexualmente
pos cilíndricos dos nematódeos medem desde menos de 1 mm até maduros. As fêmeas penetram nos músculos intestinais e produ-
mais de 1 m de comprimento e frequentemente são mais finos na zem mais juvenis, que fazem perfurações pelo corpo ou viajam
parte posterior e mais grossos na parte anterior (Figura 33.25). O nos vasos linfáticos até outros órgãos, incluindo os músculos es-
corpo de um nematódeo é coberto por uma cutícula dura; à me- queléticos onde eles encistam.
dida que o animal cresce, periodicamente, perde a cutícula velha Os nematódeos parasitas possuem um extraordinário apa-
e secreta uma nova e maior. Os nematódeos possuem canal ali- rato molecular que os habilita a redirecionar algumas funções
mentar, embora não tenham sistema circulatório. Os nutrientes celulares dos hospedeiros e assim escapar do seu sistema imu-
são transportados pelo corpo através do líquido do pseudocelo- nitário. Nematódeos parasitas de plantas injetam moléculas que
ma. Os músculos da parede do corpo são todos longitudinais e a induzem o desenvolvimento de células radiculares que irão for-
sua contração produz um movimento de chicote. necer nutrientes aos parasitas. A Trichinella controla a expressão
Os nematódeos em geral se reproduzem sexuadamente, por de alguns genes específicos de células musculares que codificam
fertilização interna. Na maioria das espécies, os sexos são separa- proteínas para tornar a célula elástica o suficiente e abrigar o ne-
dos e as fêmeas são maiores do que os machos. Uma fêmea pode
depositar 100.000 ou mais ovos fertilizados (zigotos) por dia. Os
zigotos da maioria das espécies são células resistentes que podem Encistado juvenil Tecido muscular 50 µm
sobreviver a condições adversas.

25 µm
 Figura 33.26 Formas juvenis do nematódeo parasita Trichinella
 Figura 33.25 Nematódeo de vida livre (MEV colorida). spiralis encistado no tecido muscular humano (MO).
684 C a mpbel l & Col s .

matódeo. Além disso, a célula muscular infectada libera sinais


que atraem os vasos sanguíneos, os quais suprem o nematódeo  Figura 33.38 Pesquisa
com nutrientes. Esses parasitas extraordinários têm sido consi- O plano corporal dos artrópodes resultou de
derados “animais que atuam como vírus”. novos genes Hox?
EXPERIMENTO Como o altamente bem sucedido plano corporal dos
Artrópodes artrópodes se originou? Uma hipótese sugere que ele resultou da origem
(por um evento de duplicação de genes) de dois genes Hox incomuns en-
Os zoólogos estimam que existem aproximadamente um bilhão
contrados em artrópodes: Ultrabithorax (Ubx) e abdominal-A (abd-A). Para
de bilhão (1018) de artrópodes vivendo na Terra. Mais de um mi- testar essa hipótese, Sean Carroll, da Universidade de Wisconsin, em Ma-
lhão de espécies de artrópodes já foram descritas, a maioria delas dison, e seus colaboradores se voltaram para os onicóforos, um grupo de
são insetos. De fato, duas de cada três espécies conhecidas são invertebrados relacionados aos artrópodes. Diferente de muitos artrópo-
des atuais, os onicóforos têm plano corporal com a maioria dos segmentos
artrópodes, e os membros do filo Arthropoda podem ser encon- idêntica. Assim, Carroll e seus colegas argumentaram que se a origem dos
trados em quase todos os hábitats da biosfera. Pelo critério de genes Hox Ubx e abd-A conduziu a evolução da diversidade de segmentos
diversidade de espécies, distribuição e números absolutos, os ar- do corpo em artrópodes, esses genes provavelmente surgiram no ramo
dos artrópodes na árvore evolutiva:
trópodes devem ser considerados como os mais bem sucedidos
de todos os filos animais. Outros
ecdisozoários
Origem dos genes Hox
Origens dos artrópodes Ubx e abd-A?
Artrópodes
Os biólogos sugeriram que a diversidade e o sucesso dos artrópodes
estão relacionados com o seu plano corporal – corpos segmentados,
exoesqueleto duro e apêndices articulados (arthropod significa “pés
Ancestral comum de Onicóforos
articulados”). Os fósseis mais antigos com esse plano corporal são
artrópodes e onicóforos
da explosão do Cambriano (535-525 milhões de anos atrás), indi-
cando que os artrópodes possuem pelo menos essa idade. Como a hipótese apresentada sugere, Ubx e abd-A não estariam presentes
no ancestral comum dos artrópodes e onicóforos e, consequentemente,
Juntamente com os artrópodes, o registro fóssil da explosão
os onicóforos não deveriam possuir esses genes. Para saber se isto estava
do Cambriano possui muitas espécies de lobópodes, grupo extin- correto, Carroll e seus colegas examinaram os genes Hox do onicóforo
to do qual os artrópodes podem ter evoluído. Os lobópodes como Acanthokara kaputensis.
a Hallucigenia (ver Figura 25.4) tinham corpos segmentados, mas RESULTADOS Descobriu-se que os onicóforos possuem todos os
a maioria dos segmentos do seu corpo eram idênticos. Os artró- genes Hox dos artrópodes, incluindo o Ubx e o abd-A.
podes primitivos como os trilobitas também exibiam pouca va-
O vermelho indica a
riação entre os segmentos (Figura 33.27). Como os artrópodes região do corpo deste
continuaram a evoluir, os segmentos tiveram tendência de se fun- embrião de onicóforo
onde os genes Ubx e
dir, ficando menos numerosos; os apêndices especializaram-se abd-A foram expressos
em uma variedade de funções. Essas mudanças evolutivas resul- (a figura menor mostra
taram não só em uma grande diversificação, mas também num esta região aumentada)
plano corporal eficiente que permite a divisão de tarefas entre as
diferentes regiões do corpo. Ant = antena
J = mandíbulas
Que mudanças genéticas levaram ao aumento da comple- L1–L15 = segmentos
xidade do plano corporal dos artrópodes? Os artrópodes atuais do corpo
têm dois genes Hox incomuns que influenciam a segmentação do
CONCLUSÃO Visto que os onicóforos possuem genes Hox de artró-
podes, a evolução do aumento da diversidade de segmentação corporal em
artrópodes não deve estar relacionada com a origem de novos genes Hox.
FONTE J.K. Grenier, S. Carroll et al., Evolution of the entire arthro-
pod Hox gene set predate the origin and radiation of the onycophoran/arthropod
clade, Current Biology 7:547-553 (1997).

E SE...? Se Carroll e seus colegas tivessem descoberto que os onicófo-


ros não possuíam os genes Hox Ubx e abd-A, de que modo a sua conclu-
são teria sido afetada? Explique.
 Figura 33.27 Fóssil de trilobi-
ta. Os trilobitas eram habitantes co-
muns nos mares rasos da era Paleozoi- corpo. Para testar se a origem desses genes pode ter direcionado
ca, mas desapareceram com as grandes a evolução do aumento da diversidade de segmentação do cor-
extinções do Permiano, há aproximada-
po em artrópodes, Sean Carroll (ver páginas 534-535) estudou
mente 250 milhões de anos. Os paleon-
tólogos descreveram aproximadamente os genes Hox em onicóforos, parentes próximos dos artrópodes
4.000 espécies de trilobitas. (Figura 33.28).
B i o l o gi a 685

Os seus resultados indicam que a diversidade de plano cor- começaram a se diversificar na terra seguindo a colonização das
poral dos artrópodes não surgiu da aquisição de novos genes Hox. plantas terrestres no início do Paleozoico. As evidências incluem
Em vez disso, a evolução da diversidade de segmentos corporais o fóssil de milípede de 428 milhões de anos, encontrado em 2004
nos artrópodes pode ter sido dirigida por mudanças na sequência por um paleontólogo amador na Escócia. Fósseis de outros artró-
ou regulação de genes Hox existentes (ver Capítulo 25 para uma podes terrestres datam de mais ou menos 450 milhões de anos.
discussão de como podem resultar alterações na forma a partir Os artrópodes possuem órgãos sensoriais bem desenvolvi-
de mudanças na sequência ou regulação de genes de desenvolvi- dos, incluindo os olhos, os receptores olfativos (cheiro) e as an-
mento como os genes Hox). tenas que funcionam no tato e no olfato. A maioria dos órgãos
sensoriais está concentrada na parte anterior do animal.
Características gerais do artrópodes
Como a maioria dos moluscos, os artrópodes têm sistema cir-
Durante o curso da evolução, os apêndices de alguns artrópodes culatório aberto, em que o líquido chamado de hemolinfa é bom-
se modificaram, especializando-se em funções como locomoção, beado por um coração para artérias curtas e então para espaços
alimentação, recepção sensorial, reprodução e defesa. A Figura
chamados de sinus que circundam tecidos e órgãos (o termo san-
33.29 ilustra a diversidade dos apêndices e outras características
gue é geralmente reservado para líquido em sistema circulatório
de uma representante dos artrópodes: a lagosta.
fechado). A hemolinfa entra novamente no coração do artrópode
O corpo dos artrópodes é completamente coberto pela cutícu-
através de poros normalmente equipados com válvulas. Os sinus
la, um exoesqueleto construído de camadas de proteínas e do polis-
corporais cheios de hemolinfa são coletivamente chamados de
sacarídeo quitina. A cutícula pode ser espessa e dura em algumas
hemocele, que não fazem parte do celoma. Embora os artrópodes
partes do corpo e da espessura de um papel e flexível em outras
sejam celomados, na maioria das espécies o celoma formado no
como as articulações. O exoesqueleto rígido protege o animal e pro-
picia pontos de adesão para os músculos que movem os apêndices. embrião se torna muito reduzido no decorrer do desenvolvimen-
Isso também significa que um artrópode não consegue crescer sem to, e a hemocele se torna a cavidade principal em adultos. Embo-
esporadicamente perder o exoesqueleto e formar um novo e maior. ra sejam semelhantes, o sistema circulatório aberto de moluscos
Esse processo de muda é energeticamente caro. Um artrópode em e artrópodes provavelmente surgiram independentemente.
ecdise ou que recém mudou fica vulnerável à predação e a outros Uma variedade de órgãos especializados para trocas gasosas
perigos até que o novo esqueleto macio se torne duro. evoluiu nos artrópodes. Esses órgãos permitem a difusão de ga-
Quando o exoesqueleto de um artrópode primeiro evoluiu ses respiratórios apesar do exoesqueleto. A maioria das espécies
no mar, as suas funções principais provavelmente eram proteção aquáticas possui brânquias com extensões finas e plumosas que
e ancoragem para os músculos, mas mais tarde ele também pro- colocam uma grande área superficial em contato com a água cir-
piciou a vida na terra para alguns artrópodes. A relativa imper- cundante. Os artrópodes terrestres geralmente têm superf ícies
meabilidade do exoesqueleto à água ajudou a evitar a dessecação, internas para trocas gasosas. A maioria dos insetos, por exemplo,
e a sua resistência resolveu o problema de apoio quando os artró- possui sistemas traqueais em forma de dutos de ar ramificados
podes perderam a capacidade de flutuar na água. Os artrópodes que se dirigem ao interior através de poros na cutícula.

Cefalotórax Abdome

Tórax
Cabeça
Antena
(recepção
sensorial)

Apêndices utilizados para


natação (um par em cada  Figura 33.29 Anatomia externa de um ar-
segmento abdominal) trópode. Muitas características distintivas dos ar-
trópodes são aparentes nesta vista dorsal de uma
lagosta, juntamente com algumas características ex-
clusivas dos crustáceos. O corpo é segmentado, mas
esta característica é óbvia somente no abdome. Os
apêndices (incluindo as antenas, as quelas, as partes
bucais, as patas e os apêndices utilizados para nata-
Patas ção) são articulados. A cabeça tem um par de olhos
compostos (multilentes); cada olho situa-se em um
Quelas (defesa) Partes bucais (alimentação) pedúnculo móvel. O corpo todo, incluindo os apên-
dices, é coberto por um exoesqueleto.
686 C a mpbel l & Col s .

Tabela 33.5 Subfilos do Filo Arthropoda


Subfilos e exemplos Características principais
Cheliceriformes (límulos, Corpo com uma ou duas partes prin-
aranhas, escorpiões, carra- cipais; seis pares de apêndices (que-
patos, ácaros; ver Figuras líceras, pedipalpos e quatro pares de
33.30-33.32) patas); maioria terrestre ou marinha
Myriapoda (milípedes e cen- Cabeça distinta com antenas e par-
típedes; ver Figuras 33.33 e tes bucais mastigadoras; terrestres;
33.34) os milípedes são herbívoros e têm
dois pares de patas por segmento do
tronco; os centípedes são carnívoros
e têm um par de patas por segmento
do tronco e apêndices venenosos no
primeiro segmento do corpo
Hexapoda (insetos, Collembo- Corpo dividido em cabeça, tórax e  Figura 33.30 Os límulos (Limulus polyphemus). Comum nos
la; ver Figuras 33.35-33.37) abdome; antenas presentes; partes Estados Unidos nas costas do Atlântico e do Golfo, estes “fósseis vivos”
bucais modificadas para mastigar, mudaram muito pouco em centenas de milhões de anos. Eles são mem-
sugar ou lamber; três pares de patas bros sobreviventes da rica diversidade de queliceriformes que preencheu os
e normalmente dois pares de asas; a mares no passado.
maioria terrestre
Crustacea (caranguejos, la- Corpo com duas ou três partes; ante-
gostas, lagostins, camarões; nas presentes; partes bucais mastiga-
ver Figuras 33.29 e 33.38) doras; três pares de patas ou mais; a
maioria marinha e de água doce

Evidências morfológicas e moleculares sugerem que os ar-


trópodes atuais consistem em quatro linhagens principais que
divergiram no início da evolução do filo (Tabela 33.5): quelice-
riformes (aranhas do mar, límulos, escorpiões, carrapatos, áca- 50 µm
 Escorpiões possuem
ros e aranhas); miriápodes (centípedes e milípedes); hexápodes pedipalpos, pinças
(insetos e seus parentes com seis patas e sem asas) e crustáceos especializadas para defesa
(caranguejos, lagostas, camarões, cracas e muitos outros). e captura de alimento. A
ponta da cauda possui um
ferrão venenoso.
Queliceriformes
Os queliceriformes (subfilo Cheliceriformes; do grego cheilos, lá-
bios e cheir, braço) derivam seu nome dos apêndices utilizados
para a alimentação chamados de quelíceras, que servem como
pinças ou presas. Os queliceriformes possuem cefalotórax ante-
rior e abdome posterior. Não possuem antenas e a maioria possui
olhos simples (olhos com lente única).  Ácaros da poeira estão
sempre presentes na
Os queliceriformes primitivos eram euripterídeos, ou escor- matéria morta das
piões aquáticos. Esses predadores marinhos e de água doce atin- habitações humanas, mas
giam até 3 m de comprimento; acredita-se que algumas espécies são inofensivos, exceto para
pessoas alérgicas a eles
possam ter caminhado na terra como os caranguejos terrestres (MEV colorida).
fazem hoje. A maioria dos queliceriformes marinhos, incluindo
todos os euripterídeos, é extinta. Entre os queliceriformes mari-
nhos que sobreviveram estão as aranhas-do-mar (picnogonídeos)
e os límulos (Figura 33.30).
A maioria dos queliceriformes modernos são aracnídeos,
grupo que inclui os escorpiões, as aranhas, os carrapatos e os áca-
ros (Figura 33.31). Os carrapatos e muitos ácaros pertencem a  Aranhas que constroem
um grande grupo de artrópodes parasitas. Quase todos os carra- teias são geralmente mais
ativas durante o dia.
patos são parasitas sugadores de sangue que vivem na superf ície
 Figura 33.31 Aracnídeos.
B i o l o gi a 687

do corpo de répteis ou mamíferos. Ácaros pa- Intestino Estômago


rasitas vivem no exterior ou no interior de uma Coração Cérebro
ampla variedade de vertebrados, invertebrados Glândula
e plantas. digestiva
Os aracnídeos apresentam cefalotórax Olhos
com seis pares de apêndices: as quelíceras, um
par de apêndices chamados de pedipalpos que Ovário
Glândula
atuam na sensibilidade, alimentação ou repro- de veneno
dução; e quatro pares de patas (Figura 33.32).
As aranhas utilizam as quelíceras semelhantes
a presas, equipadas com glândulas de veneno,
para atacar suas presas. Enquanto as quelíceras
Ânus
furam a presa, a aranha secreta sucos digesti- Pulmão foliáceo
vos nos tecidos dilacerados. O alimento amo- Fiandeiras Gonóporo Quelícera Pedipalpo
lece, e a aranha suga a refeição líquida. (saída para ovos) Receptáculo
Na maioria das aranhas, as trocas gasosas Glândulas de seda de esperma
são realizadas por pulmões foliáceos, estru-  Figura 33.32 Anatomia das aranhas.
turas semelhantes a placas contidas numa câ-
mara interna (ver Figura 33.32). A grande área superficial desses
órgãos respiratórios é uma adaptação estrutural que aumenta a
troca de O2 e CO2 entre a hemolinfa e o ar.
Uma adaptação singular de muitas aranhas é a habilidade de
capturar insetos através da construção de teias de seda, uma pro-
teína líquida produzida por glândulas abdominais especializadas.
A seda é transformada por órgãos chamados de fiandeiras em
fibras que se solidificam. Cada aranha constrói uma teia caracte-
rística de sua espécie e a constrói perfeitamente desde a primeira
tentativa. Esse comportamento complexo é aparentemente her-
dado. Várias aranhas também utilizam a seda de outras maneiras:
como linhas para fuga rápida, como cobertura para os ovos e até
mesmo como “embalagem de presente” para alimentos que os
machos oferecem às fêmeas durante a corte. Muitas aranhas pe-
quenas também jogam a seda no ar e se deixam ser transportadas
pelo vento, comportamento conhecido como “balonismo”.
 Figura 33.33 Milípede.
Miriápodes
Os milípedes e centípedes pertencem ao subfilo Myriapoda, os
miriápodes. Todos os miriápodos atuais são terrestres. A cabeça
do miriápode possui um par de antenas e três pares de apêndices
modificados em partes bucais, incluindo as mandíbulas.
Os milípedes (classe Diplopoda) têm um grande número de
patas, embora menos do que as mil que o seu nome sugere (Fi-
gura 33.33). Cada segmento do tronco é formado de dois seg-
mentos fundidos e carregam dois pares de patas. Os milípedes
comem folhas em decomposição e outras partes vegetais. Eles
talvez tenham sido os primeiros animais a colonizarem a terra,
vivendo sobre musgos e plantas vasculares primitivas.
Diferentes dos milípedes, os centípedes (classe Chilopoda)
são carnívoros. Cada segmento da região do tronco dos centípe-
des tem um par de patas (Figura 33.34). Os centípedes possuem
apêndices venenosos no segmento mais anterior do seu tronco
que paralisam a presa e auxiliam na defesa.
 Figura 33.34 Centípede.
688 C a mpbel l & Col s .

O corpo de um inseto possui três regiões:


cabeça, tórax e abdome. As segmentações do
tórax e do abdome são evidentes, mas os
segmentos que formam a cabeça são fundidos.
Gânglio cerebral. Os dois cordões
Abdome Tórax Cabeça nervosos se encontram na cabeça onde
Olhos compostos Coração. O coração do os gânglios de muitos segmentos
inseto bombeia anteriores estão fundidos em um
hemolinfa pelo sistema gânglio cerebral (cérebro, colorido em
Antenas circulatório aberto. branco abaixo). As antenas, os olhos e
outros órgãos sensoriais estão
concentrados na cabeça.
Artéria
dorsal Papo
Ânus

Túbulos de Malpighi. As
excretas metabólicas são Vagina
removidas da hemolinfa
por órgãos excretores
chamados de túbulos de
Malpighi, bolsas do trato
digestório.
Ovário

Tubos traqueais. As trocas gasosas nos insetos são As partes bucais dos insetos são formadas
efetuadas por um sistema traqueal de tubos Cordões nervosos. de muitos pares de apêndices
ramificados, recobertos por quitina que se infiltram O sistema nervoso do modificados. As partes bucais incluem as
no corpo e levam o oxigênio diretamente para as inseto consiste em um mandíbulas, que os gafanhotos utilizam
células. O sistema traqueal se abre para fora do corpo par de cordões nervosos para mastigar. Em outros insetos, as
através de espiráculos, poros que controlam o fluxo ventrais com muitos partes bucais são especializadas para
de ar e a perda de água se abrindo ou se fechando. gânglios segmentados. lamber, furar ou sugar.

 Figura 33.35 Anatomia de um gafanhoto, um inseto.

Insetos O voo é obviamente a chave para o grande sucesso dos inse-


Insetos e seus parentes (subfilo Hexapoda) possuem mais espé- tos. Um animal capaz de voar consegue escapar de muitos preda-
cies do que a soma de todas as outras formas de vida. Eles vivem dores, encontrar alimento e parceiros e se dispersar para novos
em quase todos os hábitats terrestres, na água doce e também no hábitats muito mais rápido do que um animal que precisa se des-
ar. Os insetos são raros, embora não ausentes, em hábitats mari- locar pelo solo. Muitos insetos têm um ou dois pares de asas que
nhos, onde crustáceos são os artrópodes dominantes. A anatomia emergem do lado dorsal do tórax. Visto que as asas são extensões
interna de um inseto inclui muitos sistemas complexos de órgãos, da cutícula e não apêndices verdadeiros, os insetos podem voar
salientados na Figura 33.35. sem sacrificar nenhuma das suas patas. Ao contrário, vertebrados
O fóssil de inseto mais antigo data do período Devoniano, que voam – aves e morcegos – possuem um dos seus dois pares
que começou há aproximadamente 416 milhões de anos. No en- de patas modificados em asas, com isso algumas dessas espécies
tanto, quando o voo evoluiu durante os períodos Carbonífero e são desengonçadas no solo.
Permiano, ele provocou uma rápida explosão na diversidade de As asas dos insetos talvez tenham evoluído como extensões
insetos. Um registro fóssil de diversas partes bucais de insetos da cutícula que ajudaram os corpos dos insetos a absorver calor;
indica que a alimentação especializada em gimnospermas e ou- somente mais tarde se tornaram órgãos de voo. Outras hipóteses
tras plantas do Carbonífero também contribuiu para as radia- sugerem que as asas permitiram que insetos terrestres planassem
ções adaptativas iniciais dos insetos. Mais tarde, um grande au- da vegetação para o solo, ou que elas serviram de brânquias em
mento na diversidade de insetos parece ter sido estimulado pela insetos aquáticos. Outra hipótese é que as asas dos insetos foram
expansão evolutiva das plantas com flores durante o Cretáceo utilizadas para natação antes de serem utilizadas para o voo.
Médio (há mais ou menos 90 milhões de anos). Embora a diver- Dados morfológicos e moleculares indicam que as asas evo-
sidade de insetos e plantas tenha diminuído durante a extinção luíram somente uma vez nos insetos. As libélulas, com dois pares
em massa do Cretáceo, os dois grupos se recuperaram nos 65 de asas similares, foram um dos primeiros insetos a voar. Muitas
milhões de anos seguintes. Estudos indicam que a recuperação ordens de insetos evoluídas mais tarde do que as libélulas pos-
de grupos particulares de insetos frequentemente estava asso- suem o equipamento de voo modificado. As asas das abelhas e
ciada com as radiações das plantas com flores, das quais eles se vespas, por exemplo, são conectadas e se movem como um só
alimentavam. par. As asas das borboletas operam de modo similar, porque o
B i o l o gi a 689

par anterior se sobrepõe às asas posteriores. Em besouros, as asas óvulos. Muitos insetos acasalam somente uma vez durante a vida.
posteriores atuam no voo, e as anteriores são modificadas em Depois do acasalamento, a fêmea frequentemente deposita os ovos
uma cobertura que protege as asas posteriores quando os besou- em uma fonte apropriada de alimento onde a próxima geração vai
ros caminham no solo ou se enterram. poder começar a se alimentar assim que sair do ovo.
Muitos insetos sofrem metamorfose durante o seu desenvol- Os insetos são classificados em mais de 30 ordens, das quais
vimento. Na metamorfose incompleta de gafanhotos e de alguns 15 são representadas na Figura 33.37, nas próximas duas páginas.
outros grupos de insetos, o juvenil (chamado de ninfa) é seme- Animais tão numerosos, diversos e cosmopolitas como os in-
lhante aos adultos, mas é menor, possuindo diferentes proporções setos certamente afetam a vida de muitos outros organismos ter-
do corpo e não apresentando asas. A ninfa sofre uma série de mu- restres, incluindo os humanos. Dependemos das abelhas, moscas e
das, cada vez se parecendo mais com o adulto. Com a muda final, muitos outros insetos para polinizar nossas plantações e pomares.
o inseto atinge o tamanho adulto, adquire asas e se torna sexual- Por outro lado, os insetos são vetores de muitas doenças, incluindo a
mente maduro. Insetos com metamorfose completa possuem es- doença do sono africana (transmitida por moscas tse-tsé que carre-
tágios larvais especializados em comer e crescer conhecidos como gam o protista Trypanosoma; ver Figura 28.6) e a malária (transmi-
lagarta ou larva. A aparência dos organismos no estágio larval é tida por mosquitos que carregam o Plasmodium; ver Figura 28.10).
completamente diferente do estágio adulto especializado para Além disso, os insetos competem com humanos por alimento. Em
dispersão e reprodução. A metamorfose do estágio larval para o partes da África, por exemplo, os insetos consomem aproximada-
adulto ocorre durante o estágio de pupa (Figura 33.36). mente 75% das plantações. Nos Estados Unidos, bilhões de dólares
A reprodução nos insetos é normalmente sexuada, com indiví- são gastos por ano em potentes defensivos, pulverizados sobre as
duos machos e fêmeas separados. Os adultos se unem e se reconhe- plantações em doses substanciais. Nem mesmo os humanos têm
cem como membros da mesma espécie mostrando cores (como em conseguido desafiar a hegemonia dos insetos e dos seus parentes ar-
borboletas), sons (como em grilos) ou odores (como em mariposas). trópodes. Como o entomólogo da Universidade de Cornell, Thomas
A fertilização é geralmente interna. Na maioria das espécies, os es- Eisner, postula: “Os insetos não vão herdar a Terra. Eles já a pos-
permatozoides são depositados diretamente na vagina da fêmea suem. Então, devemos tratar de ficar em paz com os proprietários”.
na hora da cópula, embora em algumas espécies o macho deposite
um espermatóforo fora da fêmea para ela pegá-lo. Uma estrutura Crustáceos
interna na fêmea chamada de espermateca guarda os espermato- Enquanto os aracnídeos e os insetos habitam predominantemente
zoides, geralmente suficientes para fertilizar mais de um grupo de em ambientes terrestres, a maioria dos crustáceos permaneceu em

(a) Lagarta (caterpillar).


(b) Pupa.
(c) Estágio tardio
de pupa.
(d) Adulto emergindo.

 Figura 33.36 Metamorfose de uma borboleta. (a) A larva (lagarta) passa o tempo comendo,
crescendo e mudando à medida que cresce. (b) Depois de várias mudas, a lagarta se torna uma pupa.
(c) Dentro da pupa, os tecidos larvais são destruídos, e o adulto é construído pela divisão e diferencia-
ção de células que estavam dormentes na larva. (d) Finalmente, o adulto começa a emergir da cutícula
da pupa. (e) A hemolinfa é bombeada nas veias das asas e depois retirada, deixando as veias endure-
cidas como estruturas de suporte para as asas. O inseto sai da pupa e irá se reproduzir; grande parte
dos seus nutrientes é derivada de reservas adquiridas pela larva. (e) Adulto.
690
 C a mpbel
Figura 33.37 l & Col s .

Explorando a diversidade de insetos

Número
Ordem aproximado Características principais Exemplos
de espécies
Blattodea 4.000 Baratas têm corpo achatado dorsiventralmente com patas mo-
dificadas para deslocamento rápido. Asas anteriores, quando
presentes, são endurecidas, e asas posteriores são em forma Barata de
de leque. Menos de 40 espécies de baratas vivem nas casas; as cozinha
demais espécies exploram hábitats que vão desde florestas tro-
picais até cavernas e desertos.

Coleoptera 350.000 Besouros compreendem a ordem mais rica em espécies dentre


os insetos. Possuem dois pares de asas, um dos quais é espesso
e duro e o outro membranoso. Têm exoesqueleto com armadu- Besouro
ra e partes bucais adaptadas para furar e mastigar. Os besouros japonês
sofrem metamorfose completa.

Dermaptera 1.200 As tesourinhas são geralmente necrófagos noturnos. Algu-


mas espécies não possuem asas, e outras possuem dois pa-
res, um dos quais é espesso e duro e o outro é membranoso.
As tesourinhas possuem peças bucais adaptadas para furar
e grandes pinças posteriores. Sofrem metamorfose incom- Tesourinha
pleta.

Diptera 151.000 Os dípteros têm apenas um par de asas; o segundo par se mo-
dificou em órgãos de equilíbrio chamados de halteres. As suas
partes bucais são adaptadas para sugar, furar ou lamber. Os
dípteros sofrem metamorfose completa. Moscas e mosquitos Mosca
estão entre os dípteros mais conhecidos, sendo necrófagos,
predadores e parasitas.

Hemiptera 85.000 Os hemípteros incluem os percevejos e os barbeiros (insetos


de outras ordens são às vezes chamados erroneamente de per-
cevejos). Os hemípteros possuem dois pares de asas: um par é
Percevejo
parcialmente endurecido e o outro membranoso. Possuem par-
tes bucais adaptadas para furar e sugar e sofrem metamorfose
completa.

Hymenoptera 125.000 Formigas, abelhas e vespas são geralmente insetos sociais. Eles
possuem dois pares de asas membranosas, uma cabeça móvel
e partes bucais adaptadas para mastigar e sugar. As fêmeas de
muitas espécies possuem um órgão posterior picador. Os hi-
menópteros sofrem metamorfose completa.
Vespa assassina de cigarras

Isoptera 2.000 Os cupins são insetos sociais cosmopolitas que produzem


colônias enormes. Foi estimado que existem cerca de 700 kg
de cupins para cada pessoa na Terra! Alguns cupins possuem
dois pares de asas membranosas, e outros não possuem asas.
Eles se alimentam de madeira com a ajuda de micróbios
Cupim
simbiontes localizados em câmaras especializadas do seu
intestino.
B i o l o gi a 691

Número
Ordem aproximado Características principais Exemplos
de espécies
Lepidoptera 120.000 Borboletas e mariposas estão entre os insetos mais conhecidos.
Possuem dois pares de asas cobertos por pequenas escamas.
Para alimentar-se elas projetam uma longa probóscide. A
maioria se alimenta de néctar, mas algumas espécies se alimen- Borboleta rabo-
tam de outras substâncias, incluindo sangue animal. -de-andorinha

Odonata 5.000 Libélulas e donzelinhas possuem dois pares de asas grandes


e membranosas. Possuem abdome alongado, olhos grandes e
compostos e partes bucais adaptadas para mastigação. Sofrem
metamorfose incompleta e são predadores ativos.
Libélula

Orthoptera 13.000 Gafanhotos, grilos e seus parentes são essencialmente herbívo-


ros. Têm grandes patas posteriores adaptadas para saltar, dois
pares de asas (um endurecido e um membranoso) e peças bu-
cais adaptadas para furar ou mastigar. Os machos geralmente
produzem sons de corte ao esfregar algumas partes do corpo,
como, por exemplo, a borda das patas posteriores. Os ortópte- Esperança
ros sofrem metamorfose incompleta.

Phasmatodea 2.600 Bichos-pau e bichos-folha são insetos esquisitos que mimeti-


zam plantas. Os ovos de algumas espécies mimetizam semen- Bicho-pau
tes de plantas nas quais os insetos vivem. Os seus corpos são
cilíndricos ou achatados dorsiventralmente. Não possuem asas
anteriores; as asas posteriores têm forma de leque. As suas pe-
ças bucais são adaptadas para picar ou mastigar.

Phthiraptera 2.400 Geralmente chamados de piolhos, esses insetos passam toda a


sua vida como ectoparasitas se alimentando nos pelos ou penas
de um único hospedeiro. As suas patas, equipadas com tarso Piolho
em forma de garra, são adaptadas para aderir ao hospedeiro. humano
Não possuem asas e têm olhos reduzidos. Os piolhos sofrem
metamorfose incompleta.

Siphonaptera 2.400 Pulgas são ectoparasitas sugadores de sangue em aves e ma-


míferos. O corpo não possui asas e é comprimido lateralmen-
te. As suas patas são modificadas para aderir ao hospedeiro
e para dar pulos de longa distância. Sofrem metamorfose
completa. Pulga

Thysanura 450 Traças são insetos pequenos e sem asas, com corpo achatado e
olhos reduzidos. Vivem em folhas em decomposição e sob cas-
cas de árvores. Também podem infestar habitações humanas,
onde podem se tornar uma praga.
Traça

Trichoptera 7.100 A larva das moscas d’água vive em córregos, onde elas cons-
troem casas a partir de grãos de areia, fragmentos de madeira
ou outro material agrupado com seda. Os adultos têm dois
pares de asas pilosas e peças bucais adaptadas para mastigar ou
lamber. Sofrem metamorfose completa. Mosca d’água
692 C a mpbel l & Col s .

ambientes marinhos e de água doce. Os crustáceos (subfilo Crus-


tacea) tipicamente possuem apêndices altamente especializados.
Lagostas e lagostins, por exemplo, têm um conjunto de 19 pares
de apêndices (ver Figura 33.29). Os apêndices mais anteriores são
as antenas; os crustáceos são os únicos artrópodes com dois pares.
Três ou mais pares de apêndices são modificados em partes bucais,
incluindo as mandíbulas. As patas estão presentes no tórax e, dife-
rente dos insetos, os crustáceos também têm apêndices no abdome.
Um apêndice perdido pode ser regenerado na próxima muda.
Pequenos crustáceos fazem trocas gasosas em pequenas áreas
da cutícula; espécies de maior tamanho possuem brânquias. Excre-
tas nitrogenadas também se difundem por áreas finas da cutícula,
mas um par de glândulas regula o equilíbrio salino da hemolinfa. (a) Os caranguejos-fantasma ou maria-farinha vivem em praias
Os sexos são separados na maioria dos crustáceos. No caso das arenosas ao redor do mundo. São principalmente noturnos e
se abrigam em buracos durante o dia.
lagostas e dos lagostins, o macho utiliza um par especializado de
apêndices abdominais para transferir os espermatozoides ao poro
reprodutivo da fêmea durante a cópula. A maioria dos crustáceos
aquáticos passa por um ou mais estágios larvais natantes.
Um dos maiores grupos de crustáceos (com aproximadamente
10.000 espécies) é o dos isópodes, que inclui espécies terrestres, de
água doce e marinhas. Algumas espécies de isópodes são abundan-
tes em hábitats nas profundezas do mar. Entre os isópodes terrestres
estão os piolhos da madeira, comuns sob troncos úmidos e folhas.
Lagostas, lagostins, caranguejos e camarões são crustáceos re-
lativamente grandes chamados de decápodes (Figura 33.38a). A
cutícula dos decápodes é endurecida por carbonato de cálcio; a por-
ção que cobre o lado dorsal do cefalotórax forma uma armadura
chamada de carapaça. A maioria das espécies de decápodes é mari-
nha. Lagostins, no entanto, vivem na água doce e alguns carangue- (b) Os crustáceos planctônicos (c) Os apêndices articulados que
jos tropicais vivem na terra. conhecidos como camarões se projetam das conchas destas
Muitos crustáceos pequenos são membros importantes das co- krill são consumidos em cracas capturam organismos e
grandes quantidades por partículas orgânicas em
munidades planctônicas marinhas e de água doce. Os crustáceos algumas baleias. suspensão na água.
planctônicos incluem muitas espécies de copépodes, que estão en-
tre os animais mais numerosos, e também o krill, que atinge apro-  Figura 33.38 Crustáceos.
ximadamente 5 cm de comprimento (Figura 33.38b). Além de ser REVISÃO DO CONCEITO
uma fonte importante de alimento para baleias sem dentes (incluin-
1. No que difere o plano corporal de um nematódeo e de um
do baleias azuis, jubartes e francas), o krill hoje está sendo retirado
anelídeo?
em grande quantidade da natureza por humanos para produção de
2. Em contraste com as nossas maxilas que se movem para
alimentos e fertilizantes. As larvas de muitos crustáceos grandes
cima e para baixo, as partes bucais dos artrópodes se mo-
também são planctônicas.
vem de um lado para o outro. Explique essa característica
As cracas são um grupo de crustáceos sésseis em sua maio-
dos artrópodes em termos da origem de suas peças bucais.
ria, cuja cutícula modificada vira uma concha endurecida como
3. Descreva duas adaptações que habilitaram os insetos a te-
carbonato de cálcio (Figura 33.38c). A maioria das cracas se ade-
rem sucesso na terra.
re a rochas, cascos de embarcações, pilares e outras superf ícies
4. E SE...? Tradicionalmente, acreditava-se que os anelí-
submersas. O seu adesivo natural é tão forte quanto as colas sin-
deos e os artrópodes eram relacionados devido a sua seg-
téticas. As cracas estendem os apêndices para fora de suas cara-
mentação corporal. No entanto, dados moleculares indicam
paças, a fim de capturar o alimento da água. As cracas não foram
que os anelídeos pertencem a um clado (Lophotrochozoa) e
reconhecidas como crustáceos até os anos de 1800, quando na-
os artrópodes a outro (Ecdysozoa). As hipóteses tradicio-
turalistas descobriram que a larva da craca era parecida com as
nais e moleculares poderiam ser testadas estudando a ex-
larvas de outros crustáceos. A notável combinação de caracteres
pressão dos genes Hox que controlam a segmentação do
exclusivos e de homologias de crustáceos encontradas em cracas
corpo? Explique.
serviu de inspiração para Charles Darwin desenvolver a sua teo-
ria da evolução. Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
B i o l o gi a 693

33.5 Os equinodermas e os cordados Equinodermas


são deuterostômios Estrelas-do-mar e muitos outros equinodermas (do grego echin,
com espinhos, e derma, pele) são animais marinhos que se mo-
Estrelas-do-mar, ouriços-do-mar e
Calcarea e Silicea vem devagar ou são sésseis. Uma fina epiderme cobre um exoes-
Cnidaria outros equinodermas (filo Echino- queleto de placas calcárias duras. A maioria dos equinodermas
Lophotrochozoa dermata) parecem possuir pouco tem elevações pontiagudas do esqueleto e espinhos. Exclusivo
Ecdysozoa
Deuterostomia
em comum com o filo Chordata, dos equinodermas é o sistema vascular aquífero, uma rede de
que inclui os vertebrados – ani- canais hidráulicos que se ramificam em extensões chamadas de
mais com coluna vertebral. No entanto, equinodermas e corda- pés ambulacrais que atuam na locomoção, na alimentação e em
dos compartilham características importantes de um modo deu- trocas gasosas (Figura 33.39). A reprodução sexuada dos equino-
terostômio de desenvolvimento, como a clivagem radial e a dermas normalmente envolve indivíduos machos e fêmeas sepa-
formação da boca na extremidade do embrião oposta ao blastó- rados, que liberam os seus gametas na água.
poro (ver Figura 32.9). A sistemática molecular tem reforçado os As partes internas e externas da maioria dos equinodermas
Deuterostomia como um clado de animais bilatérios. No entanto, adultos se radiam de um centro, frequentemente em forma de
as evidências moleculares também indicam que alguns filos de cinco raios. No entanto, as larvas dos equinodermas possuem si-
animais com membros que possuem características de desenvol- metria bilateral. Além disso, a simetria do equinoderma adulto
vimento deuterostômio, incluindo ectoproctos e braquiópodes, não é exatamente radial. Por exemplo, a abertura (madreporito)
não estão no clado deuterostômio (veja o Capítulo 32). Assim, do sistema vascular aquífero da estrela-do-mar não é central e
apesar do seu nome, o clado Deuterostomia é definido principal- sim deslocada lateralmente.
mente por semelhanças de DNA – não por semelhanças de de- Os equinodermas atuais são divididos em seis classes (Ta-
senvolvimento. bela 33.6; Figura 33.40): Asteroidea (estrelas-do-mar), Ophiu-

A superfície da estrela-do-mar é
Um pequeno trato digestório se coberta por espinhos que ajudam
estende da boca sobre a base do na defesa contra predadores e
disco central até o ânus na parte também por pequenas brânquias
de cima do disco. que promovem trocas gasosas.

Estômago
Ânus
Espinho

Disco central. O disco central Brânquias


tem um anel nervoso e
cordões nervosos que se Madreporito. A água
radiam do anel até os braços. pode fluir para
dentro ou para fora
do sistema vascular
aquífero e para o
meio externo através
do madreporito.
Glândulas digestivas secretam Nervo
sucos digestivos e auxiliam na radial
absorção e no armazenamento Gônadas
Canal
de nutrientes.
circular
Ampola
Pódio
Pés
ambulacrais

Canal radial. O sistema vascular Cada pé ambulacral consiste em uma ampola em forma de bulbo e de
aquífero consiste em um canal circular um pódio (porção do pé). Quando a ampola é comprimida, a água vai
no disco central e cinco canais radiais, até o pódio que se expande e toca o substrato. Adesivos químicos são
cada um se estendendo por uma então secretados da base do pódio e se aderem ao substrato. Para soltar
reentrância por todo o comprimento o pé ambulacral, substâncias químicas antiadesivas são secretadas e os
do braço. Centenas de pés musculares músculos do pódio se contraem, forçando a água a entrar na ampola e
ocos, repletos de líquido, se ramificam encurtando o tamanho do pódio. À medida que se locomove, uma
de cada canal radial. estrela-do-mar deixa “pegadas” de material adesivo no substrato.

 Figura 33.39 Anatomia de uma estrela-do-mar, um equinoderma.


694 C a mpbel l & Col s .

Tabela 33.6 Classes do Filo Echinodermata Estrelas-serpente


Classes e exemplos Características principais As estrelas-serpente têm disco central longo e braços flexíveis. Elas
se movem principalmente batendo os braços em movimentos ser-
Asteroidea (estrelas-do-mar; Corpo em forma de estrela com
ver Figura 33.39 e 33.40a) braços múltiplos; boca voltada ao pentiformes. A base do pé ambulacral das estrelas-serpente não
substrato possui o disco achatado encontrado nas estrelas-do-mar, mas secre-
Ophiuroidea (estrelas-ser- Disco central distinto; braços longos e ta adesivos químicos. Do mesmo modo que as estrelas-do-mar e ou-
pente; ver Figura 33.40b) flexíveis; sistema digestivo incompleto tros equinodermas, as estrelas-serpente podem utilizar o pé ambu-
Echinoidea (ouriços-do-mar, Aproximadamente esférico ou em for- lacral para se prender ao substrato. Algumas espécies se alimentam
bolachas-do-mar; ver Figura ma de disco; sem braços; cinco linhas de partículas em suspensão, outras são predadores ou necrófagos.
33.40c) de pés ambulacrais que proporcionam
um movimento lento; boca circunda- Ouriços-do-mar e bolachas-do-mar
da por uma estrutura complexa seme-
lhante a uma maxila Ouriços-do-mar e bolachas-do-mar não têm braços, mas pos-
Crinoidea (crinoides e Braços plumosos ao redor da boca suem cinco fileiras de pés ambulacrais que proporcionam um
lírios-do-mar; ver Figura direcionada para cima; alimentam-se movimento lento. Os ouriços-do-mar também possuem múscu-
33.40d) de partículas em suspensão los para girar os longos espinhos que auxiliam na locomoção e
Holothuroidea (pepi- Corpo em forma de pepino; cinco proteção. A boca do ouriço-do-mar é circundada por estruturas
nos-do-mar; ver Figura linhas de pés ambulacrais; pés ambu- semelhantes a mandíbulas altamente complexas, adaptadas para
33.40e) lacrais ao redor da boca são modifi-
comer algas marinhas. Os ouriços-do-mar são arredondados; as
cados em tentáculos que auxiliam na
alimentação; esqueleto reduzido; sem bolachas-do-mar são discos achatados.
espinhos
Lírios-do-mar
Concentricycloidea (mar- Sem braços; corpo em forma de disco
garidas-do-mar; ver Figura anelado com pequenos espinhos; Os lírios-do-mar vivem aderidos ao substrato por um pedúnculo;
33.40f) sistema digestivo incompleto; vivem algumas espécies se arrastam utilizando braços longos e flexíveis.
sobre madeira submersa. Todas as espécies utilizam os braços para se alimentar de partícu-
las em suspensão. Os braços circundam a boca voltada para cima,
roidea (estrelas-serpente), Echinoidea (ouriços-do-mar e para longe do substrato. A classe Crinoidea é uma classe primi-
bolachas-do-mar), Crinoidea (crinoides e lírios-do-mar), Ho- tiva cuja evolução tem sido bastante conservativa; lírios-do-mar
lothuroidea (pepinos-do-mar) e Concentricycloidea (margari- fossilizados há aproximadamente 500 milhões de anos são extre-
das-do-mar). mamente parecidos com os membros atuais da classe.

Estrelas-do-mar Pepinos-do-mar
As estrelas-do-mar possuem braços múltiplos partindo de um Com um olhar desatento, os pepinos-do-mar não se parecem
disco central cuja superf ície inferior possui pés ambulacrais. Por muito com outros equinodermas. Não possuem espinhos, e o seu
uma combinação de ações musculares e químicas, os pés ambu- endoesqueleto é muito reduzido. Também são alongados no seu
lacrais podem aderir ou se separar do substrato. A estrela-do-mar eixo oral-aboral, o que lhe dá a forma de onde deriva o seu nome
se adere firmemente a rochas ou se arrasta por elas à medida que e também mascara a relação existente com estrelas-do-mar e ou-
os pés ambulacrais se estendem, agarram, soltam, estendem-se riços-do-mar. Um exame mais detalhado, no entanto, revela que
e agarram-se novamente. Embora a base do pé ambulacral da os pepinos-do-mar têm cinco linhas de pés ambulacrais. Alguns
estrela-do-mar seja um disco achatado semelhante a ventosas, a desses pés estão localizados ao redor da boca e se transforma em
ação de prender resulta de químicos adesivos e não de sucção (ver tentáculos utilizados para a alimentação.
Figura 33.39). As estrelas-do-mar também utilizam os pés am-
bulacrais para segurar presas como mariscos e ostras. Os braços Margaridas-do-mar
das estrelas-do-mar abraçam o bivalve fechado, segurando firme As margaridas-do-mar foram descobertas em 1986. Apenas três
com os pés ambulacrais. A estrela-do-mar então expele parte do espécies são conhecidas (uma perto da Nova Zelândia, a segunda
seu estômago pela boca e o insere pela abertura estreita entre as nas Bahamas e a terceira no Pacífico Norte). Todas vivem em ma-
metades da concha dos bivalves. O sistema digestivo da estre- deira submersa. O corpo de uma margarida-do-mar não possui
la-do-mar secreta sucos que iniciam a digestão do corpo mole do braços. Tem forma típica de disco e organização em cinco lados;
molusco dentro de sua própria concha. mede menos que um centímetro em diâmetro. A borda do cor-
Estrelas-do-mar e alguns outros equinodermas têm con- po é recoberta por pequenos espinhos. As margaridas-do-mar
siderável poder de regeneração. Os braços perdidos das estre- absorvem nutrientes através de uma membrana que circunda o
las-do-mar podem crescer novamente, e o corpo de espécies de corpo. A relação das margaridas-do-mar com os outros equino-
um gênero consegue se regenerar a partir de um único braço se dermas permanece desconhecida; alguns sistematas consideram
parte do disco central permanecer agregado. as margaridas-do-mar o grupo irmão das estrelas-do-mar.

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