Você está na página 1de 21

BIOLOGIA

8ª Edição

CAMPBELL • REECE
U R R Y • C A I N • WA S S E R M A N
MINORSKY • JACKSON
Obra originalmente publicada sob o título
Biology, 8th Edition
ISBN 9780805368444
Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE,
published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of
this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying,
recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc.
Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010.
Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL
e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos
reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada
em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc.
A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010.

Capa: Mário Röhnelt


Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra
Leitura final: Magda Regina Chaves
Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima
Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo
Editoração eletrônica: Techbooks

C187b Campbell, Neil.


Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece;
tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010.

Editado também como livro impresso em 2010.


ISBN 978-85-363-2351-0

1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título.

CDU 573

Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


ARTMED® EDITORA S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana
90040-340 Porto Alegre RS
Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer


formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web
e outros), sem permissão expressa da Editora.

SÃO PAULO
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center
Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333

SAC 0800 703-3444

IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
A Base
Molecular da
Hereditariedade
CONCEITOS-CHAVE

16.1
16.2

16.3
16
O DNA é o material genético
Diversas proteínas atuam juntas na replicação e no
reparo do DNA
Um cromossomo consiste em uma molécula de DNA
empacotada com proteínas

VISÃO GERAL
 Figura 16.1 Como a estrutura do DNA foi determinada?

16.1 O DNA é o material genético


Atualmente, mesmo as crianças no começo da vida escolar já ou-
viram falar em DNA, e os cientistas o manipulam rotineiramente
em laboratórios, com frequencia para alterar características he-
reditárias das células em seus experimentos. No início do século
XX, no entanto, a identificação das moléculas da hereditariedade
surgia como o principal desafio dos biólogos.
As instruções operacionais da vida
Em abril de 1953, James Watson e Francis Crick agitaram a co- A procura pelo material genético: Pesquisa
munidade científica com um elegante modelo de dupla-hélice Científica
para a estrutura do ácido desoxirribonucleico, ou DNA. A Figura Tão logo o grupo de T. H. Morgan demonstrou que os genes es-
16.1 mostra Watson (esquerda) e Crick admirando seu modelo de tão localizados ao longo dos cromossomos (conforme descrito no
DNA, construído com folha-de-flandres e arame. Ao longo dos Capítulo 15), os dois componentes químicos dos cromossomos –
últimos 50 anos, este modelo deixou de ser uma nova proposta DNA e proteínas – se tornaram candidatos ao papel de material
para se tornar o ícone da biologia moderna. O DNA – a subs- genético. Até 1940, as opiniões pesavam a favor das proteínas, es-
tância da hereditariedade – é a molécula mais célebre da nossa pecialmente depois que os bioquímicos as identificaram como uma
era. Os fatores de hereditariedade de Mendel e os genes de Mor- classe de macromoléculas com grande heterogeneidade e especifi-
gan nos cromossomos são, na verdade, compostos por DNA. Em cidade de função, características essenciais para o material gené-
termos químicos, nosso conteúdo genético se encontra no DNA tico. Além disso, pouco se sabia acerca dos ácidos nucleicos, cujas
dos 46 cromossomos que herdamos de nossos progenitores, e na propriedades f ísicas e químicas pareciam muito uniformes para
mitocôndria herdada de nossas mães. serem responsáveis pela multitude de características hereditárias
De todas as moléculas da natureza, os ácidos nucleicos são ini- observadas em cada organismo. Essa visão foi alterada gradativa-
gualáveis na habilidade de controlar a própria replicação a partir mente à medida que experimentos com leveduras revelaram resul-
de monômeros. De fato, a semelhança da prole com os pais ba- tados inesperados. Assim como nos trabalhos de Mendel e Mor-
seia-se na replicação precisa do DNA e na sua transmissão de uma gan, o fator essencial para a identificação do material genético foi
geração para a próxima. A informação hereditária é codificada na a escolha apropriada do organismo experimental. O papel do DNA
linguagem química do DNA e reproduzida em todas as células do na hereditariedade foi estabelecido inicialmente por meio de estu-
corpo. É essa programação contida no DNA que controla o de- dos com bactérias e vírus que as infectam, organismos bem mais
senvolvimento de nossas características bioquímicas, anatômicas, simples que ervilhas, moscas-das-frutas ou humanos. Nesta seção,
fisiológicas e, até certo ponto, comportamentais. Neste capítulo, seguiremos o curso da busca pelo material genético com algum de-
vamos aprender como os biólogos deduziram que o DNA é o ma- talhe, na forma de um estudo de caso de pesquisa científica.
terial genético e como a sua estrutura foi descoberta por Watson e
Crick. Vamos abordar também como o DNA é replicado – a base Evidências de que o DNA pode transformar bactérias
molecular da hereditariedade – e como as células reparam o seu A busca para descobrir o papel genético do DNA intensificou-se em
DNA. Por fim, vamos examinar de que modo uma molécula de 1928. Na tentativa de desenvolver uma vacina contra a pneumonia,
DNA é empacotada junto com proteínas nos cromossomos. o médico britânico Frederick Griffith estudou Streptococcus pneu-
306 C a mpbel l & Col s .

moniae, a bactéria que causa pneumonia em mamíferos. Griffith mortas era responsável por essa alteração hereditária, embora a
possuía duas cepas (variedades) da bactéria, uma patogênica (que identidade dessa substância não fosse conhecida. Griffith chamou
causa a doença) e uma não patogênica (inofensiva). Ele se surpre- esse fenômeno de transformação, atualmente definido como uma
endeu ao perceber que ao matar as bactérias patogênicas com calor alteração no genótipo e no fenótipo causada pela assimilação pela
e misturá-las com algumas bactérias vivas da cepa não patogênica, célula de DNA externo. (Esse uso da palavra transformação não
algumas células vivas se tornavam patogênicas (Figura 16.2). Além deve ser confundido com a conversão de célula animal normal em
disso, a nova característica de patogenicidade recém-adquirida era célula cancerosa, discutida no Capítulo 12.)
herdada por todos os descendentes das bactérias transformadas. O trabalho de Griffith foi a centelha para uma pesquisa de
Claramente, algum componente químico das células patogênicas 14 anos realizada pelo bacteriologista americano Oswald Avery,
em busca da identidade da substância transformadora. Avery se
concentrou em três candidatos principais: DNA, RNA (o outro
 Figura 16.2 Pesquisa ácido nucleico) e proteínas. Avery rompeu as bactérias patogê-
Uma característica genética pode ser transferida nicas mortas por calor e extraiu os componentes celulares. Em
entre diferentes cepas de bactérias? amostras separadas, utilizou tratamentos específicos para ina-
EXPERIMENTO Frederick Griffith estudou duas cepas da bactéria tivar cada um dos três tipos de moléculas. Então testou cada
Streptococcus pneumoniae. Bactérias da cepa S (do inglês smooth, “suave”) amostra tratada quanto à habilidade de transformar bactérias
podem causar pneumonia em camundongos; são patogênicas pois pos- vivas não patogênicas. Apenas quando o DNA foi mantido ativo,
suem uma cápsula que as protegem do sistema imune do animal. As bacté-
rias da cepa R (do inglês rough, “rugosa”) não possuem essa cápsula e não
as células não patogênicas foram transformadas. Em 1944, Avery
são patogênicas. Para testar a característica patogenicidade, Griffith injetou e seus colaboradores, Maclyn McCarty e Colin MacLeod, anun-
as duas cepas de bactérias em camundongos, conforme abaixo: ciaram que o agente transformador era o DNA. A descoberta foi
recebida com interesse, mas também com considerável ceticis-
Mistura de
Células S mortas células S mortas mo, em parte pela convicção de que as proteínas eram melhores
Células S vivas Células R vivas com calor com calor e candidatas ao papel de material genético. Muitos biólogos não
(controle) (controle) (controle) células R vivas
estavam convencidos de que os genes das bactérias seriam seme-
lhantes em composição e em função aos genes dos organismos
mais complexos. Mas a principal razão para a dúvida persistir era
o pouco conhecimento sobre o DNA.

Evidências de que o DNA viral pode programar as células


Evidências adicionais de que o DNA é o material genético foram
obtidas através de experimentos com vírus que infectam bacté-
rias (Figura 16.3). Esses vírus são chamados de bacteriófagos
RESULTADOS
(“comedores de bactérias”) ou apenas fagos. Vírus são bem mais
simples que células. O vírus é nada mais que um pouco de DNA
(ou, em alguns casos, RNA) encapsulado por um envoltório pro-
Camundongo Camundongo Camundongo Camundongo
morto saudável saudável morto
Cabeça
do fago

Nas amostras de
sangue, foram
encontradas células Segmento
S vivas capazes de da cauda
se reproduzir, gerando
mais células S. Fibras da
cauda
CONCLUSÃO Griffith concluiu que as bactérias R vivas foram trans- DNA
formadas em bactérias patogênicas S por uma substância hereditária des-
100 nm

conhecida; oriunda das células S; que permitiu às células R a formação de


cápsulas.
Célula
FONTE F. Griffith, The significance of pneumococcal types, Journal bacteriana
of Hygiene 27: 113-159 (1928).

E SE...? De que modo este experimento elimina a possibilidade de as  Figura 16.3 Vírus infectando célula bacteriana. T2 e outros fa-
células R terem simplesmente utilizado as cápsulas das células S mortas gos relacionados se ligam à célula hospedeira e injetam material genético
para se tornarem patogênicas? através da membrana plasmática, enquanto cabeça e partes caudais se
mantêm na superfície externa da bactéria (MET colorido).
B i o l o gi a 307

tetor composto com frequência simplesmente por proteínas. Para De alguma forma, o T2 conseguia programar a célula hospedeira
se reproduzir, o vírus precisa infectar uma célula e tomar conta para produzir vírus. Mas qual dos componentes virais – proteína
da maquinaria metabólica dessa célula. ou DNA – era o responsável?
Os fagos tiveram ampla utilização como ferramentas pelos Hershey e Chase responderam a essa questão por meio de
pesquisadores na área da genética molecular. Em 1952, Alfred um experimento que mostrou que só um dos dois componentes
Hershey e Martha Chase realizaram experimentos mostrando do fago T2 entra realmente nas células de E. coli durante a in-
que o DNA é o material genético do fago conhecido como T2, fecção (Figura 16.4). No experimento, eles utilizaram isótopos
um dos muitos fagos que infectam as células de Escherichia coli radioativos de enxofre para marcar as proteínas em uma série, e
(E. coli), bactéria que normalmente vive no intestino dos mamífe- isótopos radioativos de fósforo para marcar o DNA na segunda
ros. Naquela época, os biólogos já sabiam que o T2, assim como série. Como as proteínas contêm enxofre e o DNA não contém,
muitos outros fagos, é composto quase inteiramente por DNA os átomos de enxofre radioativo foram incorporados apenas pe-
e proteínas. Também sabiam que o fago T2 podia transformar las proteínas dos fagos. De modo similar, os átomos de fósforo ra-
rapidamente uma célula de E. coli numa máquina de produção de dioativo marcaram apenas o DNA, e não as proteínas, pois prati-
fagos T2, liberando muitas cópias quando a célula era rompida. camente todos os átomos de fósforo estão no DNA dos fagos. No

 Figura 16.4 Pesquisa


O material genético do fago T2 é proteína ou DNA?
EXPERIMENTO Alfred Hershey e Martha Chase utilizaram enxofre e fósforo radioativos para rastrear os destinos das proteínas e do DNA, respectivamente,
dos fagos T2 que infectam células bacterianas. Eles queriam saber qual dessas moléculas adentrava e reprogramava as células para a produção de mais fagos.

1 Fagos marcados 2 A mistura é agitada em um 3 A mistura é centrifugada 4 A radioatividade


radioativamente são misturados liquidificador para soltar as para que as bactérias é medida no
com bactérias. Os fagos partes do fago ligadas à parte formem um pellet no sedimento e
infectam as células bacterianas. externa das células bacterianas. fundo do tubo de ensaio; no líquido.
os fagos livres e partes
Envoltório
Proteína dos fagos, mais leves,
Fago proteico vazio Radioatividade
radioativa permanecem em
(proteínas do
suspensão no líquido.
fago) no líquido
Célula bacteriana

Série 1: Os fagos são DNA


cultivados com enxofre
radioativo (35S) DNA do
incorporado nas proteínas fago
do fago (rosa).
Centrífuga

DNA Sedimento (células


radioativo bacterianas e
seu conteúdo)

Série 2: Os fagos são


cultivados com fósforo
radioativo (32P), que é
incorporado ao DNA do
fago (azul). Centrífuga
Radioatividade
Sedimento (DNA do fago)
no sedimento

RESULTADOS Quando as proteínas foram marcadas (Série 1), a radioatividade se mantém fora das células; mas quando o DNA é marcado (Série 2), a
radioatividade foi observada no interior das células. As células bacterianas com DNA radioativo dos fagos liberam novos fagos com certa quantidade de fósfo-
ro radioativo.
CONCLUSÃO O DNA dos fagos entra nas células bacterianas, mas as proteínas dos fagos, não. Hershey e Chase concluíram que as moléculas de DNA e
não as proteínas atuam como material genético do fago T2.
FONTE A.D. Hershey e M. Chase, Independent functions of viral protein and nucleic acid in growth of bacteriophage, Journal of General Physiology, 36:39-56 (1952).

E SE...? Se as proteínas fossem as portadoras da informação genética, os resultados seriam diferentes?


308 C a mpbel l & Col s .

experimento, amostras separadas de células não radioativas de E. Esqueleto Bases


coli foram infectadas com fagos T2 com proteínas marcadas ou açúcar-fosfato nitrogenadas
DNA marcado. Os pesquisadores então testaram as duas amos- Extremidade 5'
O– CH3
tras logo após a infecção para verificar qual das duas moléculas
5'
– proteína ou DNA – havia penetrado nas células bacterianas e, O P O CH2 H O
O
portanto, era capaz de reprogramá-las. O –
4'
1'
N N
H H
Hershey e Chase observaram que o DNA dos fagos entrou H
H 2'
H
3' O
nas células hospedeiras, e as proteínas dos fagos não entraram. H Timina (T)
Além disso, quando essas bactérias foram colocadas de volta em
meio de cultura, a infecção seguiu seu curso, e as células de E. coli
O
liberaram fagos com alguma quantidade de fósforo radioativo, H H
O P O CH2 N
demonstrando que o DNA no interior das células desempenha O N
um papel ativo no processo de infecção. O– N H
H H
Hershey e Chase concluíram que o DNA injetado pelo fago H H N
N
deveria ser a molécula portadora da informação genética, res- H
H
ponsável por fazer as células produzirem novas proteínas e DNA Adenina (A)
virais. O experimento de Hershey e Chase foi um marco, pois for-
O H H
neceu evidências poderosas de que os ácidos nucleicos (e não as
O P O CH2 N
proteínas) são o material hereditário, ao menos para os vírus. O
H H
O– N N
H H
Evidências adicionais de que o DNA é o material genético H H
O
Evidências adicionais de que o DNA é o material genético foram H Citosina (C)
obtidas no laboratório do bioquímico Erwin Chargaff. Já se sabia
que o DNA é um polímero de nucleotídeos, cada um formado
O
por três componentes: uma base nitrogenada, um açúcar pentose 5'
H
O P O CH2 N
chamado de desoxirribose e um grupo fosfato (Figura 16.5). A O O
O– 1'
base pode ser adenina (A), timina (T), guanina (G) ou citosina 4' H H N
H H Nucleotídeos
(C). Chargaff analisou a composição das bases do DNA de diver- Fosfato 3' 2' N
N H do DNA
sos organismos distintos. Em 1950, ele relatou que a composi- OH H

ção das bases do DNA varia de um organismo para o outro. Por Açúcar (desoxirribose) N
H
Extremidade 3’ H
exemplo: 30,3% dos nucleotídeos do DNA humano apresentam a Guanina (G)
base A, ao passo que o DNA da bactéria E. coli apresenta apenas
26% de A. Essa prova da diversidade molecular entre as espécies,  Figura 16.5 A estrutura da cadeia de DNA. Cada monômero de
nucleotídeo é composto por uma base nitrogenada (T, A, C ou G), pelo
que se presumia ausente no DNA, tornou o DNA o candidato açúcar desoxirribose (azul) e por um grupo fosfato (amarelo). O fosfato de
mais plausível ao papel de material genético. um nucleotídeo está ligado ao açúcar do próximo, formando um “esquele-
Chargaff também chamou a atenção para a regularidade pe- to” com alternância de grupos fosfato e de açúcares, de onde se projetam
culiar da proporção dos nucleotídeos numa mesma espécie. No as bases. A cadeia polinucleotídica tem orientação da extremidade 5’ (com
grupo fosfato) para a extremidade 3’(com grupo –OH). 5’ e 3’ são aos nú-
DNA de cada espécie estudada, o número de adeninas e timinas meros designados aos átomos de carbono do anel do açúcar.
era aproximadamente o mesmo; e o número de guaninas e citosi-
nas era aproximadamente o mesmo. No DNA dos humanos, por das ligações covalentes nos polímeros de ácidos nucleicos estava
exemplo, as quatro bases estão presentes nas seguintes porcenta- bem estabelecido (ver Figura 16.5), e os pesquisadores se concen-
gens: A ⫽ 30,0% e T ⫽ 30,3%; G ⫽ 19,5% e C ⫽ 19,9%. A equiva- traram no descobrimento da estrutura tridimensional do DNA.
lência observada em qualquer espécie entre o número de bases A Entre os cientistas trabalhando na resolução desse problema es-
e T e entre o número de bases G e C se tornou conhecida como a tavam Linus Pauling, no Instituto de Tecnologia da Califórnia,
regra de Chargaff. A fundamentação para essa regra permaneceu e Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, no King’s College de
inexplicada até a descoberta da dupla-hélice. Londres. Os primeiros a oferecer a resposta correta, no entanto,
foram dois cientistas relativamente desconhecidos na época – o
Construindo um modelo estrutural para o DNA: americano James Watson e o inglês Francis Crick.
Pesquisa Científica Essa breve, mas célebre, parceria que resolveu o quebra-ca-
Assim que a maior parte dos biólogos se convenceu de que o beça da estrutura do DNA teve início logo após a ida de Watson
DNA era o material genético, o desafio passou a ser determinar para a Universidade de Cambridge, onde Crick estudava a estru-
de que modo sua estrutura cumpria o seu papel na transmissão tura de proteínas por meio de uma técnica chamada de cristalo-
das informações hereditárias. No início dos anos 1950, o arranjo grafia por difração de raios X (ver Figura 5.25). Enquanto visitava
B i o l o gi a 309

o laboratório de Maurice Wilkins, Watson viu as imagens de di-


fração de raios X do DNA, produzidas pela colega de laboratório
de Wilkins, Rosalind Franklin (Figura 16.6a). As imagens geradas
por cristalografia de raios X não são as imagens reais das molé-
culas. Os pontos e as sombras na Figura 16.6b foram gerados
por raios X difratados (defletidos) enquanto passavam através de
fibras alinhadas de DNA purificado. Os cristalógrafos utilizam
equações matemáticas para traduzir esses padrões de pontos em
informações sobre a estrutura tridimensional das moléculas, e
Watson estava familiarizado com os tipos de padrões gerados por
moléculas helicoidais. O estudo cuidadoso das fotos de Franklin
da difração de raios X do DNA não apenas lhe mostrou que o
DNA possuía estrutural helicoidal, mas também permitiu de- (a) Rosalind Franklin. (b) Fotografia de Franklin da difração
de raios X do DNA.
terminar a largura aproximada da hélice e o espaçamento entre
as bases nitrogenadas no interior da hélice. A largura da hélice  Figura 16.6 Rosalind Franklin e a sua difração de raios X. Franklin,
sugeria que ela era composta por duas cadeias, ao contrário do uma cristalógrafa consumada, conduziu os experimentos cruciais que resul-
taram na fotografia que permitiu a Watson e Crick a dedução da estrutura
modelo de três cadeias proposto por Linus Pauling pouco tempo em dupla-hélice do DNA. Franklin faleceu de câncer em 1958, com apenas
antes. A presença de duas cadeias é responsável pelo termo hoje 38 anos de idade. Seu colega Maurice Wilkins recebeu o prêmio Nobel em
comum dupla-hélice (Figura 16.7). 1962, junto com Watson e Crick.
Watson e Crick começaram a construir seu modelo de du-
pla-hélice levando em consideração as medidas de raios X e o que pois colocava as bases nitrogenadas, relativamente hidrofóbicas,
já se sabia sobre a química do DNA. Tendo lido o artigo anual não no interior da molécula, longe da solução aquosa do meio. Wat-
publicado que resumia o trabalho de Franklin, eles sabiam que ela son construiu um modelo com as bases nitrogenadas voltadas para
concluíra que a cadeia principal açúcar-fosfato estava localiza- o interior da dupla-hélice. Nesse modelo, os dois esqueletos açú-
da na parte externa da hélice. Esse arranjo era bastante atraente, car-fosfato são antiparalelos – ou seja, as subunidades apresentam

G C Extremidade 5'
O
T OH
A P Ponte de hidrogênio
-O Extremidade 3'
O
T A OH
H2C O
T A
1 nm
O O CH2
O
G C P O
-O O-
3,4 nm O
C G O
P
H2C O O
A T G C
O O CH2
C G O
P O
-O O-
O P
H2C O
O O
C G
T A O
O
O CH2
T A P O
-O O-
O P
A T H2C O
O O
A T
A T O CH2
OH
O
Extremidade 3' O-
P
HO
G C O
0,34 nm
A T Extremidade 5'

(a) Principais características da estrutura do DNA. (b) Estrutura química parcial. (c) Modelo de preenchimento espacial.

 Figura 16.7 A dupla-hélice. (a) As “fitas” neste diagrama representam o esqueleto açúcar-fosfato das duas cadeias de DNA. A hélice é dextrógira,
enrolando-se para a direita. As duas cadeias são unidas por pontes de hidrogênio (linhas pontilhadas) entre as bases nitrogenadas, que se pareiam no interior
da dupla-hélice. (b) Para maior clareza, as duas cadeias de DNA são mostradas desenroladas nesta estrutura química parcial. Fortes ligações covalentes ligam
as unidades de cada cadeia, enquanto pontes de hidrogênio fracas ligam uma cadeia à outra. Note que as cadeias são antiparalelas, ou seja, tem orientações
opostas. (c) O empacotamento dos pares de bases fica claro no modelo computadorizado. As forças de van der Waals entre os pares de bases adjacentes de-
sempenham importante papel na manutenção da unidade molecular (ver Capítulo 2).
310 C a mpbel l & Col s .

direções opostas (ver Figura 16.7). Você pode imaginar esse arranjo H
como uma escada de cordas com degraus rígidos. As cordas nas
N H O CH3
laterais são equivalentes aos esqueletos açúcar-fosfato, e os degraus N
representam os pares de bases nitrogenadas. Agora imagine que
uma das extremidades da escada permanece fixa enquanto a outra N
é torcida, formando uma espiral. Os dados de difração de raios X de N H N

Franklin indicavam que a hélice fazia um giro completo a cada 3,4 Açúcar N N
nm ao longo do seu comprimento. Com as bases dispostas a 0,34
O Açúcar
nm umas das outras, existem dez camadas de pares de bases, ou
degraus na escada, a cada giro completo da hélice. Adenina (A) Timina (T)
As bases nitrogenadas da dupla-hélice estão pareadas em com-
binações específicas: adenina (A) com timina (T), e guanina (G) H
com citosina (C). Foi principalmente por tentativa e erro que Wat-
N O H N
son e Crick chegaram a essa característica fundamental do DNA.
Inicialmente, Watson imaginou que as bases formassem pares por
semelhança – por exemplo, A com A e C com C. Mas esse modelo N
N H N
não se encaixava nos dados obtidos pela difração de raios X, que
sugeriam que a hélice possuía diâmetro uniforme. Por que essa ca- Açúcar N N
racterística é inconsistente com o pareamento de bases por seme-
N H O Açúcar
lhança? Adenina e guanina são purinas, bases nitrogenadas com
dois anéis orgânicos. Em contraste, citosina e timina pertencem à H
família de bases nitrogenadas conhecidas como pirimidinas, que Guanina (G) Citosina (C)
possuem apenas um anel. Assim, as purinas (A e G) têm aproxima-
damente o dobro da largura das pirimidinas (C e T). Um par puri-  Figura 16.8 Pareamento de bases no DNA. Os pares de bases ni-
trogenadas em uma cadeia de DNA são unidos por pontes de hidrogênio,
na-purina é muito largo, e uma par pirimidina-pirimidina é muito representadas pelas linhas pontilhadas em cor-de-rosa.
estreito para os 2 nm de diâmetro da dupla-hélice. O pareamento
purina-pirimidina, no entanto, resulta em um diâmetro uniforme: cleotídeos ao longo da cadeia de DNA. A sequência linear das
quatro bases pode ser variada de maneiras incalculáveis, e cada
Purina + purina = muito largo gene possui uma ordem, ou sequência de bases, sem paralelo.
Em abril de 1953, Watson e Crick surpreenderam a comuni-
dade científica com um artigo sucinto, de uma página, na revista
Pirimidina + pirimidina = muito estreito britânica Nature.* O artigo descreve o modelo molecular para a
dupla-hélice do DNA, que desde então se tornou símbolo da bio-
logia molecular. A beleza do modelo reside no fato de que a estru-
Purina + pirimidina: largura consistente tura do DNA sugere os mecanismos para a sua replicação.
com os dados de difração de raios X

REVISÃO DO CONCEITO
Watson e Crick ponderaram que devia haver uma especificida- 1. Uma mosca apresenta a seguinte porcentagem de nu-
de adicional no pareamento, determinado pela estrutura das bases. cleotídeos no DNA: 27,3% de A, 27,6% de T, 22,5% de G e
Cada base possui grupos químicos laterais que podem formar pon- 22,5% de C. Como esses números demonstram a regra de
tes de hidrogênio com o par apropriado: adenina pode formar duas Chargaff?
pontes de hidrogênio com timina e só com a timina; guanina forma 2. Como o modelo de Watson e Crick explica a base da regra
três pontes de hidrogênio com citosina e só com citosina. Em resu- de Chargaff?
mo, A pareia com T e G pareia com C (Figura 16.8). 3. E SE...? Se não houvesse ocorrido a transformação no
O modelo de Watson e Crick explica a base da regra de Char- experimento de Griffith, que resultados seriam observa-
gaff. Sempre que uma fita da molécula de DNA apresentar uma dos? Explique.
A, a fita complementar apresentará uma T. E uma G numa fita
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
estará sempre pareada com uma C na fita complementar. Assim,
no DNA de qualquer organismo, a quantidade de adenina será
igual à quantidade de timina, e a quantidade de guanina será igual
à quantidade de citosina. Apesar de a regra de pareamento de ba-
ses determinar a combinação de bases nitrogenadas que formam
os “degraus” da dupla-hélice, ela não restringe a sequência de nu- * J.D. Watson e F.H.C. Crick, Molecular structure of nucleic acids: a structure for
deoxyribose nucleic acids, Nature 171:737-738 (1953).
B i o l o gi a 311

16.2 Diversas proteínas atuam juntas near de bases pode ser determinada através da fita mostrada, com a
aplicação das leis de pareamento. As duas fitas são complementares,
na replicação e no reparo do DNA cada uma armazena a informação necessária para a reconstrução da
A relação entre estrutura e função pode ser observada na du- outra. Quando a célula copia uma molécula de DNA, cada cadeia
pla-hélice. A ideia do pareamento específico das bases nitrogena- serve de molde para o ordenamento de nucleotídeos em uma nova
das do DNA foi a inspiração que levou Watson e Crick à estrutura fita complementar. Os nucleotídeos se alinham ao longo da fita mol-
correta da dupla-hélice. Ao mesmo tempo, eles perceberam o sig- de de acordo com as regras de pareamento e são ligados para formar
nificado funcional das regras de pareamento de bases. Eles finali- novas fitas. Onde havia uma molécula de DNA fita-dupla no início
zaram ser artigo com esta afirmação: “Não fugiu à nossa percep- do processo, haverá duas, cada uma sendo a cópia exata da molécu-
ção o fato de que o pareamento específico por nós postulado logo la “parental”. O mecanismo de cópia é análogo ao uso de negativos
sugere um possível mecanismo de cópia para o material genético”. fotográficos para a obtenção de uma fotografia, que pode ser então
Nesta seção, vamos aprender o princípio básico da replicação do utilizada para produzir outro negativo e assim sucessivamente.
DNA, assim como alguns detalhes importantes desse processo. Esse modelo para a replicação do DNA permaneceu sem tes-
tes por diversos anos depois da publicação da estrutura do DNA.
O princípio básico: pareamento de bases com Os experimentos necessários eram conceitualmente simples,
fita molde mas de dif ícil execução. O modelo de Watson e Crick previa que
quando uma molécula de DNA se replicasse, cada molécula-filha
Em um segundo artigo, Watson e Crick levantaram uma hipótese possuiria uma fita antiga, derivada da molécula parental, e uma
de como o DNA é replicado: fita nova, recém-sintetizada. Esse modelo semiconservativo
Nosso modelo para os ácidos desoxirribonucleicos é, de fato, pode ser distinguido do modelo conservativo de replicação, onde
um par de moldes, um complementar ao outro. Imaginamos que
as duas fitas parentais, de alguma forma, permanecem juntas
antes da duplicação as pontes de hidrogênio são rompidas, e as
após o processo (ou seja, a molécula parental é conservada). Em
duas cadeias destorcidas e separadas. Cada cadeia pode então
um terceiro modelo, chamado de modelo dispersivo, as quatro
servir de molde para a formação de uma nova cadeia comple-
fitas de DNA resultantes da replicação apresentam uma mistura
mentar, de modo que no fim são obtidos dois pares de cadeias
de DNA antigo e novo (Figura 16.10, na próxima página). Em-
onde antes havia apenas uma. Além disso, a sequência de pares
bora os mecanismos para a replicação conservativa ou dispersiva
de bases terá sido duplicada com exatidão.*
do DNA não sejam fáceis de conceber, esses modelos permane-
A Figura 16.9 ilustra a ideia básica de Watson e Crick. Para
ceram como possibilidades até que puderam ser testados. Após
uma melhor compreensão, mostramos apenas uma pequena seção
dois anos de trabalhos preliminares, no final dos anos 1950, Mat-
da dupla-hélice, na forma não helicoidal. Observe que se uma das
thew Meselson e Franklin Stahl elaboraram um inteligente ex-
duas fitas de DNA for omitida na Figura 16.9a, a sua sequência li-
perimento capaz de distinguir os três modelos. O experimento
* F.H.C. Crick e J. D. Watson. The complementary structure of deoxyribonucleic
deles corroborou o modelo semiconservativo de replicação do
acids, Proceedings of Royal Society of London A 223:80 (1954). DNA, conforme proposto por Watson e Crick, e é amplamente

A T A T A T A T
C G C G C G C G
T A T A T A T A
A T A T A T A T

G C G C G C G C

(a) A molécula parental possui duas fitas (b) A primeira etapa da replicação é a (c) Os nucleotídeos complementares se
complementares de DNA. Cada base está separação das duas fitas. Cada fita alinham e são ligados para formar o
pareada por meio de pontes de parental serve agora de molde para esqueleto açúcar-fosfato das novas fitas.
hidrogênio com a base complementar determinar a ordem dos nucleotídeos ao Cada molécula-filha de DNA é composta
específica, A com T e G com C. longo da nova fita complementar. por uma fita parental (azul-escuro) e por
uma fita nova (azul-claro).

 Figura 16.9 O modelo para replicação do DNA: o conceito básico. Nesta ilustração simplificada, um pequeno segmento de DNA foi desenrolado
em uma estrutura que lembra uma escada. Os corrimões da escada correspondem ao esqueleto açúcar-fosfato das duas fitas de DNA; os degraus são os
pares de bases nitrogenadas. Formas simples simbolizam os quatro tipos de bases. As fitas em azul escuro correspondem à molécula de DNA parental, e as
fitas em azul-claro correspondem às cadeias de DNA recém-sintetizadas.
312 C a mpbel l & Col s .

Primeira Segunda
Célula parental replicação replicação  Figura 16.11 Pesquisa
(a) Modelo conservativo. A replicação do DNA segue o modelo
As duas fitas parentais conservativo, semiconservativo ou dispersivo?
se associam novamente EXPERIMENTO
após servirem de No instituto de Tecnologia da Califórnia, Matthew
moldes para a Meselson e Franklin Stahl cultivaram E. coli por diversas gerações em meio
síntese das fitas contendo precursores de nucleotídeos marcados com isótopos pesados de
novas, restaurando nitrogênio, 15N. Os cientistas então transferiram as bactérias para um meio
a dupla-hélice parental. contendo apenas o isótopo mais leve, 14N. Duas amostras de DNA foram
colhidas deste frasco, uma após 20 minutos e outra após 40 minutos,
correspondendo à primeira e à segunda replicação, respectivamente. Me-
selson e Stahl conseguiram distinguir moléculas de DNA de diferentes
densidades por meio da centrifugação do DNA extraído das bactérias.

1 Bactérias são 2 As bactérias


(b) Modelo semi- cultivadas são transferidas
conservativo. em meio para um meio
As duas fitas da contendo contendo
15N 14N
molécula parental
são separadas e RESULTADOS
cada uma serve
de molde para a
3 Amostras de 4 Amostras de Menos
síntese de uma
DNA centrifu- DNA centrifu- denso
nova fita
gadas após gadas após
complementar.
20 minutos 40 minutos
Mais
(após a primeira (após a segunda
replicação) replicação) denso

CONCLUSÃO Meselson e Stahl compararam seus resultados com


(c) Modelo
dispersivo. Cada fita os resultados previstos pelos três modelos da Figura 16.10, conforme mos-
das duas moléculas trado abaixo. A primeira replicação no meio 14N gerou uma banda híbrida
filhas contém uma de DNA (15N-14N). Esse resultado eliminou o modelo conservativo. A se-
mistura de DNA gunda replicação produziu bandas de DNA leve e DNA híbrido, resultado
parental e DNA que refuta o modelo dispersivo e corrobora o modelo semiconservativo.
recém-sintetizado. Eles então concluíram que a replicação do DNA é semiconservativa.

Primeira replicação Segunda replicação

Modelo
conservativo

 Figura 16.10 Três modelos alternativos para a replicação do


DNA. Cada pequeno segmento de dupla-hélice simboliza o DNA no interior
de uma célula. Iniciando com a célula parental, seguimos o DNA por duas
gerações de células – dois ciclos de replicação do DNA. O DNA recém-sinte-
tizado está representado em azul-claro. Modelo
semiconservativo
reconhecido entre os biólogos como exemplo clássico e elegante
de planejamento experimental (Figura 16.11).
O princípio básico da replicação do DNA é conceitualmente
simples. No entanto, o processo real envolve manobras bioquími-
Modelo
cas bastante complicadas, como veremos a seguir. dispersivo

A replicação do DNA: uma visão mais de perto


FONTE M. Mendelson e F. Stahl, The replication of DNA in Escheri-
A bactéria E. coli possui um único cromossomo com 4,6 milhões de chia coli, Proceedings of National Academy of Sciences USA 44: 671-682 (1958).
pares de nucleotídeos. Em ambiente favorável, uma célula de E. coli Pesquisaemação Leia e analise o artigo original em Pesquisa em
pode copiar seu DNA e se dividir em duas células filhas idênticas Ação: Interpretando Artigos Científicos.
em menos de uma hora. Cada célula humana possui 46 moléculas E SE...? Se Meselson e Stahl tivessem cultivado as células em meio
de DNA no núcleo, uma longa molécula de DNA dupla-hélice por com 14N e depois passado as células para o meio com 15N antes de coletar
cromossomo. Ao todo, isto representa cerca de 6 bilhões de pares as amostras, quais seriam os resultados?
de base, ou cerca de mil vezes mais DNA do que é observado na
B i o l o gi a 313

célula bacteriana. Se imprimirmos os símbolos de uma letra para Iniciando


estas bases (A, G, C e T), no tamanho das letras que você está len- A replicação da molécula de DNA inicia em pontos especiais
do agora, os 6 bilhões de pares de base de informações numa célula chamados de origens de replicação, pequenas porções de DNA
humana diploide preencheriam cerca de 1.200 livros de espessura com sequências específicas de nucleotídeos. O cromossomo de
igual a este. Mesmo assim, uma célula leva apenas algumas horas E. coli, assim como diversos outros cromossomos de bactérias,
para copiar todo o seu DNA. Essa replicação de imensas quantida- é circular e possui uma única origem de replicação. As proteínas
des de informação genética é realizada com poucos erros – apenas que iniciam a replicação do DNA reconhecem essa sequência e
um a cada 10 bilhões de nucleotídeos. A cópia do DNA é um pro- se ligam ao DNA, separando as duas fitas e originando a “bolha”
cesso notável, tanto em velocidade quanto em precisão. de replicação. A replicação do DNA então prossegue nas duas
Mais de uma dúzia de enzimas e outras proteínas participam direções, até que toda a molécula seja copiada (Figura 16.12a).
na replicação do DNA. Sabe-se muito mais sobre como essa “ma- Em contraste com o cromossomo bacteriano, um cromossomo
quinaria de replicação” atua nas bactérias (como E. coli) do que eucarioto pode possuir centenas, ou mesmo alguns milhares, de
em eucariotos. Iremos descrever as etapas básicas do processo origens de replicação. Múltiplas bolhas de replicação se formam
em E. coli, exceto quando explicitado. O que os cientistas apren- e por fim se fundem, acelerando a cópia das longas moléculas de
deram sobre a replicação em eucariotos sugere, no entanto, que a DNA (Figura 16.12b). Assim como nas bactérias, a replicação
maior parte dos processos é fundamentalmente similar em pro- do DNA de eucariotos ocorre nas duas direções a partir de cada
cariotos e eucariotos. ponto de origem.

Origem de Fita parental (molde) Origem de replicação Molécula de DNA fita dupla
replicação Fita-filha (nova)
Fita parental (molde)
Forquilha de Fita-filha (nova)
Molécula replicação
de DNA
fita dupla Bolha de
replicação
Bolha Forquilha de replicação

Duas moléculas-
-filhas de DNA

Duas moléculas-filhas de DNA

0,25 μm

0,5 μm

(a) No cromossomo circular de E. coli, e em muitas outras bactérias, (b) Em cada cromossomo linear dos eucariotos, a replicação do DNA se
apenas uma origem de replicação está presente. As fitas parentais inicia quando bolhas de replicação se formam em diversos locais ao
se separam na origem, formando uma bolha de replicação com longo da molécula gigante de DNA. As bolhas se expandem
duas forquilhas. A replicação acontece em ambas as direções até conforme a replicação prossegue em ambas as direções.
que as forquilhas se encontrem no lado oposto do cromossomo, Finalmente, as bolhas se fundem e a síntese das moléculas-filhas
resultando em duas moléculas-filhas. A MET mostra um está completa. A MET mostra três bolhas de replicação ao longo de
cromossomo bacteriano com a forquilha de replicação. uma molécula de DNA de células de hamster chinês em cultura.

 Figura 16.12 Origens de replicação em E. coli e em eucariotos. As setas DESENHE Na MET em (b) adicione setas correspondentes
vermelhas indicam o movimento das forquilhas de replicação e, portanto, a dire- à terceira bolha.
ção da replicação do DNA em cada bolha.
314 C a mpbel l & Col s .

Em cada extremidade da bolha de replicação está a forquilha enzimas DNA-polimerase já descritas até o momento; no entan-
de replicação, região em forma de Y em que as fitas de DNA to, os princípios gerais são os mesmos.
parental estão sendo desenroladas. Diversos tipos de proteínas A maior parte das DNA-polimerases requer a presença de um
participam desse processo de desenrolamento (Figura 16.13). As oligonucleotídeo iniciador e de uma fita de DNA molde, assim como
helicases são enzimas que desenrolam a dupla-hélice nas forqui- nucleotídeos de DNA complementares e alinhados à fita molde. Em
lhas de replicação, separando as duas fitas parentais e tornan- E. coli, a DNA-polimerase III (abreviada como DNA-pol III) adicio-
do-as disponíveis como fitas molde. Após a separação das fitas na um nucleotídeo de DNA ao oligonucleotídeo de RNA; em segui-
parentais, proteínas de ligação à fita simples ligam-se às ca- da, continua adicionando nucleotídeos de DNA complementares à
deias de DNA não pareadas, estabilizando-as. O desenrolamento fita molde de DNA parental na extremidade crescente da nova fita
da dupla-hélice leva ao aumento na torção da cadeia no trecho à de DNA. A taxa de elongação é de cerca de 500 nucleotídeos por
frente da forquilha de replicação. As topoisomerases ajudam a segundo em bactérias e 50 por segundo em células humanas.
aliviar esse aumento na tensão pela quebra, giro e religação das Cada nucleotídeo adicionado à fita crescente de DNA é oriun-
fitas de DNA. do de um nucleosídeo trifosfato, ou seja, um nucleosídeo (um
As seções desenroladas das fitas de DNA parental ficam en- açúcar e uma base) com três grupos fosfato. Já estudamos molé-
tão disponíveis para servirem de molde para a síntese das novas culas assim – o ATP (adenosina trifosfato, ver Figura 8.8). A úni-
fitas de DNA complementar. No entanto, as enzimas que sinteti- ca diferença entre o ATP do metabolismo energético e o dATP (o
zam o DNA não podem iniciar a síntese de um polinucleotídeo: nucleosídeo trifosfato que fornece o nucleotídeo adenina para o
podem apenas adicionar nucleotídeos às extremidades de uma DNA) é o açúcar; é uma desoxirribose nas unidades que compõem
cadeia já existente e pareada com a fita molde. A cadeia de nu- o DNA e uma ribose no ATP. Assim como o ATP, os nucleosídeos
cleotídeos inicial produzida durante a síntese de DNA, na ver- trifosfato utilizados na síntese de DNA são quimicamente reativos,
dade, é uma pequena porção de RNA, não de DNA. Essa cadeia em parte devido ao grupo trifosfato, que possui um conjunto de
de RNA, chamada de oligonucleotídeo iniciador (do inglês, cargas negativas. À medida que cada monômero se junta à extre-
primer), é sintetizada pela enzima primase (ver Figura 16.13). A midade crescente da fita de DNA, dois grupos fosfato são perdidos
primase inicia uma cadeia de RNA a partir de um único nucleotí- na forma de uma molécula de pirofosfato P – P i. A hidrólise sub-
deo de RNA, adicionando nucleotídeos de RNA um de cada vez, sequente do pirofosfato em duas moléculas de fosfato inorgânico
utilizando a fita de DNA parental como molde. O oligonucleotí- P i é uma reação exergônica acoplada que ajuda a impulsionar a
deo iniciador completo, geralmente com 5 a 10 nucleotídeos de reação de polimerização (Figura 16.14).
extensão, é pareado com a fita molde. A nova cadeia de DNA é
iniciada na extremidade 3’ do oligonucleotídeo de RNA. Elongação antiparalela
Conforme salientamos, as duas extremidades de uma fita de DNA
Sintetizando uma nova fita de DNA são diferentes. Isso confere um sentido para a fita; ela se torna
Enzimas chamadas DNA-polimerases catalisam a síntese do uma espécie de rua de mão única (ver Figura 16.5). Além disso, as
novo DNA pela adição de nucleotídeos a uma cadeia pré-exis- duas fitas de DNA em uma dupla-hélice são antiparalelas, ou seja,
tente. Em E. coli, existem diversas enzimas DNA-polimerases têm sentidos opostos uma em relação à outra, assim como uma
distintas, mas duas parecem desempenhar os papéis principais rua de mão dupla (ver Figura 16.4). Claramente, as duas novas fi-
na replicação do DNA: DNA-polimerase III e DNA-polimerase I. tas, formadas durante a replicação do DNA, também precisam ser
A situação em eucariotos é mais complicada, com pelo menos 11 antiparalelas em relação às suas fitas molde.

Proteínas de ligação ao A primase sintetiza oligonucleotídeos


DNA fita simples estabilizam de RNA, utilizando o DNA parental
as fitas parentais separadas. como molde.

A topoisomerase cliva, gira e


religa o DNA parental à frente
da forquilha de replicação,
aliviando a tensão causada
por seu desenrolamento. 3’
5’ 3’
Oligonucleotídeo
iniciador de RNA

 Figura 16.13 Algumas proteí-


nas envolvidas no início da repli-
cação do DNA. As mesmas proteínas 5’
atuam nas duas forquilhas de replica- 5’
ção na bolha de replicação. Para maior 3’
clareza, apenas uma forquilha é mos- A helicase desenrola e separa
trada. as fitas de DNA parental.
B i o l o gi a 315

Fita nova Fita molde


Extremidade 5‘ Extremidade 3‘ Extremidade 5‘ Extremidade 3‘

Açúcar A T A T
Base
Fosfato

C G C G

G C G C
OH
DNA-polimerase
Extremidade 3‘ A T A  Figura 16.14 A incorporação de nucleotídeos
T na fita de DNA. A DNA-polimerase catalisa a adição
P P Pi OH de um nucleosídeo trifosfato à extremidade 3’ da fita
P Extremidade 3‘
P C Pirofosfato C crescente de DNA, com a liberação de duas moléculas
OH de fosfato.
Utilize este diagrama para explicar o que quere-
? mos
Nucleosídeo 2Pi
dizer ao falarmos que cada fita de DNA pos-
trifosfato Extremidade 5‘ Extremidade 5‘ sui um sentido.

Como o arranjo antiparalelo da dupla-hélice afeta a replicação? Visão geral


Em função da sua estrutura, as enzimas DNA-polimerases só po-
Origem de replicação
dem adicionar nucleotídeos à extremidade 3’ livre de um oligonu- Fita líder Fita retardada
cleotídeo iniciador ou de uma fita crescente de DNA, e nunca à ex-
tremidade 5’ (ver Figura 16.14). Dessa forma, uma nova fita de DNA Oligonucleotídeo
iniciador
pode ser aumentada apenas no sentido 5’→ 3’. Com isto em mente,
vamos examinar a forquilha de replicação (Figura 16.15). Ao longo Fita líder
Fita retardada
de uma fita molde, a DNA-polimerase III pode sintetizar uma fita Sentido da
complementar continuamente pelo acréscimo de nucleotídeos na replicação
fita nova, no único sentido possível, 5’→3’. A DNA-pol III se liga à
1 Após o oligonucleotídeo iniciador
fita molde na forquilha de replicação e adiciona nucleotídeos à nova Origem de
de RNA ter sido feito, a DNA-pol III
fita complementar continuamente, conforme a forquilha progride. inicia a síntese da fita líder. replicação
A fita de DNA feita por esse mecanismo é chamada de fita líder ou
contínua*. Apenas um oligonucleotídeo iniciador é necessário para
a síntese da fita líder pela DNA-pol III (ver Figura 16.15). 3’

Para alongar a outra fita de DNA no sentido obrigatório 5’→ 5’


Oligonucleotídeo
3’, a DNA-pol III precisa atuar sobre a outra fita molde no senti- 5’ iniciador de RNA
do contrário ao da forquilha de replicação. A fita de DNA alongada “Grampo deslizante”
3’
nessa direção é chamada de fita retardada ou descontínua*. Ao 5’ DNA-pol III
contrário da fita líder, continuamente alongada, a fita retardada é DNA parental
sintetizada de forma descontínua, numa série de fragmentos. Es-
ses fragmentos da fita retardada são chamados de fragmentos de 3’
5’
Okazaki, em homenagem ao cientista japonês que os descobriu. Os
fragmentos têm entre 1.000 e 2.000 nucleotídeos de extensão em E.
coli e 100 a 200 nucleotídeos de extensão em eucariotos.
5’
A Figura 16.16 ilustra as etapas de síntese da fita retarda- 2 A fita líder é alongada
da. Enquanto apenas um oligonucleotídeo iniciador é necessário 3’ continuamente no sentido
para a síntese da fita líder, cada fragmento de Okazaki na fita re- 5’→ 3’; à medida que a
5’ forquilha progride.
tardada deve ser iniciado separadamente. Outra DNA-polimera-
se, a DNA-polimerase I (DNA-pol I), substitui os nucleotídeos
 Figura 16.15 Síntese da fita líder durante a replicação do
DNA. Este diagrama se concentra na forquilha de replicação mostrada à
* A síntese da fita líder e a síntese da fita retardada ocorrem concomitantemente e esquerda no quadro Visão geral. A DNA-polimerase III (DNA-pol III), com
na mesma velocidade. A fita retardada foi nomeada desta forma, pois a sua síntese o formato de mão côncava, está intimamente associada a uma proteína
é ligeiramente atrasada em relação à síntese da fita líder; cada novo fragmento da chamada de “grampo deslizante”, que circunda a dupla-hélice recém-sin-
fita retardada não pode ser iniciado até que uma porção extensa o suficiente da tetizada como um anel. O grampo deslizante se move juntamente com a
fita molde tenha sido exposta na forquilha de replicação. DNA-pol III ao longo da fita molde.
316 C a mpbel l & Col s .

de RNA dos oligonucleotídeos iniciadores por seus equivalentes


Visão geral
em DNA, adicionando-os um a um à extremidade 31 do frag-
Origem de replicação
Fita líder Fita retardada mento de Okazaki adjacente (fragmento 2 na Figura 16.16). A
DNA-pol I não pode unir o nucleotídeo final desse fragmento de
Fita retardada DNA de reposição com o primeiro nucleotídeo de DNA do frag-
2
1
mento de Okazaki cujo oligonucleotídeo iniciador foi substituído
Fita líder (fragmento 1 na Figura 16.16). Outra enzima, a DNA-ligase, re-
Sentido da aliza essa tarefa, unindo os esqueletos açúcar-fosfato de todos os
replicação fragmentos de Okazaki em uma fita contínua de DNA.
As Figuras 16.17 e a Tabela 16.1, na próxima página, resumem
1 A primase une os a replicação do DNA. Estude-as com cuidado antes de prosseguir.
nucleotídeos de RNA em um
3′ oligonucleotídeo iniciador. 5′
O complexo de replicação do DNA
5′ 3′ É tradicional – e conveniente – representar as moléculas de
Fita
molde 2 A DNA-pol III DNA-polimerase como locomotivas que se deslocam ao longo dos
adiciona nucleotídeos
de DNA ao oligonucle- “trilhos” formados pela molécula de DNA, mas esse modelo não é
otídeo iniciador, correto em dois pontos importantes. Em primeiro lugar, as várias
formando o fragmento proteínas que participam da replicação do DNA na verdade for-
de Okazaki 1.
mam um grande complexo, a “maquinaria de replicação do DNA”.
3′ Oligonucleotídeo
iniciador de RNA 3′
5′ Diversas interações proteína-proteína aumentam a eficiência desse
1 complexo. Por exemplo, através de interações com outras proteínas
5′
na forquilha de replicação, a primase aparentemente atua como me-
3 Após alcançar o canismo de freio molecular, retardando o progresso da forquilha de
próximo oligonucleotídeo replicação e coordenando a velocidade de replicação das fitas líder e
iniciador de RNA à direita,
a DNA-pol III se destaca 3′
retardada. Em segundo lugar, o complexo de replicação do DNA não
Fragmento
da cadeia de DNA.
de Okazaki 5′ se desloca ao longo do DNA; o DNA se move através do complexo
3′ durante o processo de replicação. Em células eucarióticas, múltiplas
1
cópias do complexo podem estar ancoradas na matriz nuclear, um
5′
arcabouço de fibras que se projeta do interior do núcleo. Estudos re-
centes sustentam um modelo em que duas moléculas de DNA-po-
4 Após o fragmento 2 ser
iniciado, a DNA-pol III adiciona limerase, uma em cada fita molde, “absorvem” o DNA parental e
5′
3′ nucleotídeos de DNA até atingir liberam as moléculas-filhas de DNA recém-sintetizado. Evidências
o fragmento 1 e se destaca da adicionais sugerem que a fita retardada é curvada em direção à parte
cadeia de DNA.
3′
posterior do complexo. Assim, quando a DNA-polimerase comple-
2 1 5′ ta a síntese de um fragmento de Okazaki e se dissocia da cadeia de
DNA, ela não precisa se deslocar grandes distâncias para chegar ao
oligonucleotídeo iniciador do próximo fragmento, adjacente à for-
5 A DNA-pol I substitui o RNA quilha de replicação. Essa curvatura da fita retardada permite que
5′ por DNA, adicionando nucleo-
3′ tídeos à extremidade 3’ mais fragmentos de Okazaki sejam sintetizados em menos tempo.
do fragmento 2.
3′ Verificação e reparo do DNA
5′
2 1 Não podemos atribuir a exatidão da replicação do DNA somente
à especificidade do pareamento de bases. Embora os erros em
uma molécula completa de DNA sejam de apenas um em 10
6 A DNA-ligase forma 7 A fita retardada
as ligações entre o DNA
bilhões de nucleotídeos, erros iniciais de pareamento entre um
agora está completa
5′ mais novo e o DNA nesta região. novo nucleotídeo e os nucleotídeos presentes na fita molde são
3′ do fragmento 1. 100.000 vezes mais comuns – uma taxa de erro de um em 100.000
3′ nucleotídeos. Durante a replicação do DNA, a DNA-polimerase
1 5′ compara cada nucleotídeo com seu molde no momento em que
2
é adicionado à cadeia nascente. Ao encontrar um pareamento
incorreto de nucleotídeos, a polimerase remove o nucleotídeo e
então recomeça a síntese. (Essa atividade é similar ao processo
Sentido da replicação
de correção de uma palavra em um programa de edição de texto
 Figura 16.16 A síntese da fita retardada. utilizando a tecla “del” e então digitando a letra correta.)
B i o l o gi a 317

Visão geral
Origem de replicação
3 A fita líder é sintetizada Fita líder Fita retardada
continuamente no sentido
2 Moléculas de 5’ → 3′, pela DNA- pol III.
proteína de ligação à
fita simples estabilizam o
DNA molde desenrolado.
Fita líder
Fita retardada
Sentido da
1 A helicase replicação
desenrola a
dupla-hélice
parental.
Fita líder

5′ DNA-pol III
3′
3′ Oligonucleotídeo
iniciador Primase

DNA parental 5′
3′
DNA-pol III Fita retardada
5′
DNA-pol I DNA-ligase
4 3′
5′
3
2 1 3′
4 A primase começa a
sintetizar o oligonucleotídeo 5′
iniciador de RNA para o
quinto fragmento de Okazaki.

5 A DNA-pol III está completando a síntese 6 A DNA-pol I remove o oligonucleotídeo 7 A DNA-ligase une
do quarto fragmento de Okazaki. Quando ela iniciador da extremidade 5' do segundo a extremidade 3' do
alcança o oligonucleotídeo iniciador de RNA fragmento, substituindo-o por nucleotídeos de segundo fragmento à
do terceiro fragmento, ela se dissocia da DNA que ela adiciona um a um à extremidade 3' extremidade 5' do
cadeia e se desloca até a forquilha de do terceiro fragmento. A substituição do ultimo primeiro fragmento.
replicação, onde então adiciona nucleotídeos nucleotídeo de RNA por DNA deixa o esqueleto
de DNA à extremidade 3' do oligonucleotídeo açúcar-fosfato com a extremidade 3' livre.
iniciador do quinto fragmento.

 Figura 16.17 Um resumo da replicação de DNA em bactérias. O Tabela 16.1 Proteínas de replicação do DNA
diagrama detalhado mostra uma forquilha de replicação. Porém, conforme bacteriano e suas funções
indicado no quadro Visão geral (canto superior direito), a replicação em geral
ocorre simultaneamente nas duas forquilhas, uma em cada extremidade da Proteína Função
bolha de replicação. Observando cada fita filha em sua totalidade no quadro Helicase Desenrola a dupla-hélice parental na forquilha de
Visão geral, é possível perceber que metade é sintetizada continuamente, replicação.
constituindo a fita líder, e a outra metade (no lado oposto da origem de repli-
Proteína de ligação Liga e estabiliza cadeias de DNA fita simples, até
cação) é sintetizada em fragmentos, constituindo a fita retardada.
à fita simples que estas possam ser utilizadas como fitas molde.
Os nucleotídeos malpareados podem, algumas vezes, escapar Topoisomerase Alivia a tensão na região anterior à forquilha de
do mecanismo de verificação da DNA-polimerase. No reparo de replicação, através da quebra, da torção e da reli-
gação das fitas de DNA.
malpareamento, enzimas removem e substituem nucleotídeos
Primase Sintetiza de um oligonucleotídeo iniciador de RNA
pareados erroneamente, resultantes de erros da replicação. Pes-
na extremidade 5’ da fita líder e em cada frag-
quisadores ressaltaram a importância dessas enzimas quando mento de Okazaki da fita retardada.
descobriram que um defeito hereditário em uma delas está as- DNA-pol III Utilizando o DNA parental como molde, sintetiza
sociado a uma forma de câncer de cólon. Aparentemente, esse uma nova fita de DNA através da ligação cova-
defeito permite que erros causadores de câncer se acumulem no lente de nucleotídeos na extremidade 3’ de uma
DNA em taxas maiores que o normal. cadeia de DNA preexistente ou de um oligonu-
cleotídeo iniciador de RNA.
Pareamentos incorretos ou nucleotídeos alterados podem
surgir também após a replicação. De fato, a manutenção da infor- DNA-pol I Remove os nucleotídeos de RNA do oligonucleotí-
deo iniciador, a partir da sua extremidade 5’, e os
mação genética codificada pelo DNA requer reparos frequentes substitui por nucleotídeos de DNA.
contra os diversos tipos de danos que podem ocorrem no DNA.
DNA-ligase Liga a extremidade 3’ do DNA que substitui o oli-
As moléculas de DNA são expostas continuamente a agentes quí- gonucleotídeo iniciador ao restante da fita líder e
micos e f ísicos potencialmente danosos, como iremos discutir no liga os fragmentos de Okazaki da fita retardada.
318 C a mpbel l & Col s .

Capítulo 17. Reagentes químicos (do ambiente e de ocorrência 1 Um dímero de timina


natural nas células), emissões radioativas, raios X, luz ultravioleta torce a molécula de DNA.
e algumas moléculas presentes na fumaça dos cigarros podem
alterar os nucleotídeos de modo a afetar a informação genética
por eles codificada. Além disso, as bases sofrem, frequentemen-
te, alterações químicas espontâneas sob as condições normais 2 A enzima nuclease
cliva a fita do DNA
da célula. No entanto, essas alterações no DNA são geralmente danificado em dois
corrigidas antes de se tornarem mutações perpetuadas através de pontos, e a seção
sucessivas replicações. Cada célula monitora e repara continua- danificada é removida.
mente o seu material genético. Como o reparo do DNA danifi- Nuclease
cado é muito importante para a sobrevivência de um organismo,
não é de causar surpresa que diversas enzimas de reparo distintas
estejam envolvidas no processo. Quase 100 são conhecidas em E.
coli, e cerca de 130 já foram identificadas em humanos.
3 A síntese de reparo,
A maioria dos sistemas para reparo de nucleotídeos pareados DNA- catalisada por uma DNA-
-polimerase -polimerase, preenche os
incorretamente, seja devido a danos no DNA ou a erros de repli-
nucleotídeos que
cação, utiliza um mecanismo que se vale da estrutura dos pares ficaram faltando.
de base do DNA. Frequentemente, um segmento de fita de DNA
contendo algum dano é removido por excisão por uma enzima
que cliva o DNA – uma nuclease – e essa lacuna resultante é
então preenchida com nucleotídeos, utilizando a fita não danifi-
cada como molde. As enzimas envolvidas no preenchimento das DNA-
lacunas são a DNA-polimerase e a DNA-ligase. Esse sistema de -ligase 4 A DNA ligase une as
reparo do DNA é chamado de reparo por excisão de nucleotí- terminações livres do DNA
novo ao DNA antigo,
deos (Figura 16.18). tornando a fita completa.
Uma função importante das enzimas de reparo de DNA nas
nossas células da pele é o reparo dos danos genéticos causados
pela radiação ultravioleta do sol. Um tipo de dano, mostrado na  Figura 16.18 Reparo por excisão de nucleotídeos de um DNA
Figura 16.18, é a ligação covalente de bases de timina adjacentes danificado. Um conjunto de enzimas detecta e repara os danos sofridos
pelo DNA. Esta figura mostra uma cadeia de DNA contendo um dímero
à cadeia de DNA. Esses dímeros de timina afetam a estrutura do de timina, um tipo de dano causado frequentemente pela radiação ultra-
DNA e a sua replicação. A importância de reparar esse tipo de violeta. Uma enzima nuclease cliva a região de DNA danificada, e uma
dano é salientada na doença xeroderma pigmentosum. Essa con- DNA-polimerase (DNA-pol I, nas bactérias) a substitui por nucleotídeos
dição, na maioria dos casos, é causada por um defeito hereditário complementares à fita não danificada. A DNA-ligase completa o processo,
unindo as terminações livres do esqueleto açúcar-fosfato.
na enzima de reparo por excisão de nucleotídeos. Pessoas com
esse distúrbio são hipersensíveis à luz do sol; as mutações que
resultado, ciclos repetidos de replicação geram moléculas de DNA
sofrem na pele em decorrência da luz ultravioleta não são corri-
cada vez mais curtas e com extremidades desiguais.
gidas e podem causar câncer de pele.
O encurtamento do DNA não ocorre na maioria dos proca-
riotos, pois o seu DNA é circular e, portanto, não possui extremi-
Replicando as extremidades das moléculas
dades. O que protege os genes dos eucariotos de serem erodidos
de DNA
durante ciclos sucessivos de replicação do DNA? As moléculas de
Apesar das capacidades impressionantes das enzimas DNA-po- DNA cromossômico dos eucariotos possuem sequências especiais
limerase, existe uma pequena porção de DNA das células que a de nucleotídeos, chamadas de telômeros, nas suas extremidades
DNA-polimerase não consegue replicar ou reparar. Para cadeias (Figura 16.20). Os telômeros não contêm genes; o seu DNA é com-
lineares de DNA, como o DNA nos cromossomos de eucariotos, o posto, tipicamente, por repetições de uma sequência curta de nu-
fato de uma DNA-polimerase ser capaz de adicionar nucleotídeos cleotídeos. Em cada telômero humano, por exemplo, a sequência
apenas à extremidade 3’ de um polinucleotídeo preexistente in- de seis nucleotídeos, TTAGGG, é repetida entre 100 e 1.000 vezes.
duz a um problema visível. A maquinaria de replicação usual não O DNA dos telômeros protege os genes do organismo. Além disso,
fornece meios para completar a extremidade 5’ das fitas filhas de proteínas específicas, associadas ao DNA dos telômeros, previnem
DNA. Mesmo que um fragmento de Okazaki seja iniciado com um a ativação, pelas extremidades desiguais, dos sistemas celulares de
oligonucleotídeo iniciador de RNA ligado à extremidade da fita monitoramento contra danos no DNA. (As extremidades desi-
molde, tão logo esse oligonucleotídeo tenha sido removido, ele não guais de uma molécula de DNA, que frequentemente resultam em
poderá ser substituído por DNA, pois não há uma extremidade quebras na dupla-hélice, podem disparar vias de sinalização que
3’ disponível para a adição de nucleotídeos (Figura 16.19). Como levam à parada do ciclo celular ou à morte celular.)
B i o l o gi a 319

5′
Extremidades Fita líder
das fitas de Fita retardada
DNA parental 3′

Último fragmento Fragmento anterior

Fita retardada Oligonucleotídeo iniciador de RNA


5′
3′
Fita parental 1 μm
Remoção dos
O oligonucleotídeo oligonucleotídeos
iniciador é removido, iniciadores e substituição  Figura 16.20 Telômeros. Os eucariotos apresentam sequências re-
mas não pode ser por DNA onde existir petitivas e não codificantes, chamadas de telômeros, nas extremidades do
substituído por DNA, uma extremidade 3' livre. seu DNA. Os telômeros foram marcados em laranja nestes cromossomos
pois não há
extremidade 3' livre de camundongos (MO).
para a DNA-polimerase. 5′
3′ produzidos. No entanto, isso não acontece: uma enzima chama-
da telomerase catalisa o alongamento dos telômeros nas células
Segundo ciclo
germinativas eucarióticas, restaurando seu tamanho original e
de replicação
compensando a perda que ocorre durante a replicação do DNA.
5′ A telomerase é inativa na maior parte das células somáticas hu-
Nova fita líder 3′ manas, mas a sua atividade nas células germinativas resulta em
zigotos com telômeros de comprimento máximo.
Nova fita retardada 5′
O encurtamento normal dos telômeros pode proteger os or-
3′ ganismos contra o câncer por limitar o número de divisões que
Mais ciclos uma célula somática pode realizar. As células de grandes tumores
de replicação possuem telômeros anormalmente curtos, como seria de se espe-
rar em células que sofreram diversas divisões celulares. Um maior
Encurtamento
progressivo das encurtamento levaria à autodestruição das células dos tumores.
moléculas-filhas Curiosamente, cientistas observaram atividade da telomerase nas
células somáticas de tumor, sugerindo que a sua habilidade em
 Figura 16.19 Encurtamento das extremidades de moléculas li-
neares de DNA. Aqui acompanhamos a extremidade de uma fita de mo- estabilizar a extensão dos telômeros pode permitir a persistência
lécula de DNA por dois ciclos de replicação. Após a primeira replicação, a das células cancerosas. Muitas células cancerosas parecem capa-
nova fita retardada é mais curta que a fita molde. Após a segunda replica- zes de divisões ilimitadas, assim como as cepas imortais de cul-
ção, as fitas líder e retardada se tornaram mais curtas que a cadeia de DNA
turas de células (ver Capítulo 12). Se a telomerase for de fato um
parental original. Apesar de não aparecerem aqui, as outras extremidades
destas moléculas de DNA também se tornam mais curtas. fator importante em diversos tumores, ela pode ser um alvo útil
no diagnóstico do câncer e na quimioterapia.
Os telômeros não previnem o encurtamento das moléculas Até aqui neste capítulo, aprendemos sobre a estrutura e a re-
de DNA pelos múltiplos ciclos de replicação; eles apenas poster- plicação da molécula de DNA. Na próxima seção, vamos exami-
gam a erosão dos genes próximos às extremidades das moléculas nar como o DNA é empacotado nos cromossomos, as estruturas
de DNA. Conforme mostrado na Figura 16.19, o telômeros se tor- portadoras da informação genética.
nam mais curtos a cada ciclo de replicação. Como seria esperado,
o DNA dos telômeros tende a ser mais curto em células somáti- REVISÃO DO CONCEITO
cas em divisão de indivíduos mais velhos e em culturas de células 1. Que papel o pareamento de bases complementares de-
onde já ocorreram diversos ciclos de divisão. Foi proposto que sempenha na replicação do DNA?
o encurtamento dos telômeros está de alguma forma conectado 2. Identifique as duas principais funções da DNA-pol III na
com o processo de envelhecimento de alguns tecidos e mesmo do replicação do DNA.
organismo com um todo. 3. E SE...? Se a DNA-pol I de uma célula não fosse fun-
O que acontece com as células cujo genoma precisa perma- cional, como isso afetaria a síntese da fita líder? No quadro
necer inalterado de um organismo para a sua prole, através de Visão geral da Figura 16.17, indique onde a DNA-pol I
diversas gerações? Se os cromossomos das células germinativas funcionaria normalmente na fita líder.
(que dão origem aos gametas) se tornassem mais curtos a cada
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
ciclo celular, genes essenciais acabariam faltando nos gametas
320 C a mpbel l & Col s .

16.3 Um cromossomo consiste é bastante diferente de um cromossomo eucariótico, composto


por uma molécula de DNA linear associada a uma grande quanti-
em uma molécula de DNA dade de proteínas. Em E. coli, o DNA cromossômico é composto
empacotada com proteínas por cerca de 4,6 milhões de pares de nucleotídeos, representando
cerca de 4.400 genes. Isto é 100 vezes mais DNA do normalmente
O principal componente do genoma da maioria das bactérias é observado em vírus típicos, mas apenas um centésimo da quan-
uma molécula de DNA fita-dupla circular, que se encontra as- tidade de DNA observada em células somáticas eucarióticas.
sociada a uma pequena quantidade de proteínas. Apesar de nos Mesmo assim, é uma grande quantidade de DNA que precisa ser
referirmos a essa estrutura como o cromossomo bacteriano, ela armazenada em local bastante pequeno.

 Figura 16.21

Investigando o empacotamento da cromatina nos cromossomos


eucarióticos
Esta série de diagramas e micrografias eletrônicas de transmissão demonstra o modelo atual dos ní-
veis de empacotamento progressivo do DNA. A ilustração inicia com uma única molécula de DNA e
continua até um cromossomo em metáfase, grande o suficiente para ser visto em microscópio óptico.

Nucleossomo
(10 nm de diâmetro)

Dupla-hélice
de DNA (2 nm
de diâmetro)

H1
Cauda das histonas

Histonas

1 DNA, a dupla-hélice 2 Histonas 3 Nucleossomos, ou “colar de


Mostramos aqui o modelo de fitas do DNA. Proteínas chamadas histonas são responsá- contas” (fibra de 10 nm)
Cada fita representa uma das cadeias principais veis pelo primeiro nível de empacotamento do Em micrografias eletrônicas, a cromatina des-
açúcar-fosfato. Como você deve se lembrar da DNA em cromatina. Apesar de cada histona ser dobrada apresenta diâmetro de 10 nm (a fibra
Figura 16.7, os grupos fosfato ao longo da ca- pequena – com cerca de 100 aminoácidos –, a de 10 nm). Esta cromatina lembra a aparência
deia principal contribuem para a carga negativa massa total de histonas na cromatina é quase de um colar de contas (ver a MET). Cada “con-
ao longo da face externa de cada fita. A MET igual à massa de DNA. Mais de 20% dos amino- ta” é um nucleossomo, a unidade básica do em-
mostra moléculas de DNA nu; a dupla-hélice ácidos das histonas apresentam carga positiva pacotamento do DNA; a porção de DNA entre
por si só tem 2 nm de diâmetro. (lisina ou arginina) e se ligam fortemente ao as contas é chamada de DNA espaçador.
DNA com carga negativa. Um nucleossomo consiste em DNA enrola-
Quatro tipos de histonas são mais comuns do duas vezes ao redor de um núcleo de proteí-
na cromatina: H2A, H2B, H3 e H4. As histonas nas composto por duas moléculas de cada um
são bastante similares entre os eucariotos; por dos quatro tipos de histonas. A porção amino
exemplo, todos os aminoácidos, exceto dois, na ou N-terminal de cada histona (a cauda da his-
histona H4 de bovinos são idênticos aos amino- tona) se projeta do nucleossomo.
ácidos da histona H4 de ervilhas. A conservação No ciclo celular, as histonas deixam o DNA
aparente dos genes das histonas durante a evo- apenas brevemente durante a sua replicação.
lução provavelmente é um reflexo do seu papel Geralmente, elas também o fazem durante a
central na organização do DNA nas células. expressão gênica, outro processo que requer o
Os quatro tipos principais de histonas são acesso ao DNA pela maquinaria molecular da
fundamentais para o próximo nível de empaco- célula. No Capítulo 18 serão discutidas algumas
tamento do DNA. (Um quinto tipo de histona, descobertas recentes sobre o papel das caudas
chamado H1, está envolvido em um nível pos- das histonas e dos nucleossomos na regulação
terior de empacotamento.) da expressão gênica.
B i o l o gi a 321

Se espichado, o DNA de uma célula de E. coli teria cerca de 1 Cada cromossomo eucariótico contém uma única dupla-héli-
mm de comprimento, 500 vezes maior do que a célula. No inte- ce de DNA linear com em média 1,5 × 108 pares de nucleotídeos.
rior da bactéria, entretanto, devido à ação de algumas proteínas, Essa é uma enorme quantidade de DNA em relação à extensão
o cromossomo enrola-se e “superenrrola-se”, empacotando-se do cromossomo condensado. Se fosse completamente espichada,
densamente de forma a ocupar apenas parte do volume da célula. uma molécula de DNA alcançaria 4 cm de comprimento, milha-
Diferente do núcleo de uma célula eucariótica, essa região densa res de vezes o diâmetro do núcleo da célula – e isto sem conside-
onde o DNA está localizado na bactéria, chamada de nucleoide, rar os demais 45 cromossomos humanos!
não é delimitada por membrana (ver Figura 6.6). No interior da célula, o DNA eucariótico combina-se de modo
preciso com uma grande quantidade de proteínas. De maneira con-

Cromátide
(700 nm)

Fibra de 30 nm

Alças Suporte

Fibra de 300 nm

Cromossomo
replicado
(1.400 nm)

4 Fibras de 30 nm 5 Domínios em alça (fibra de 6 Cromossomo metafásico


O próximo nível de empacotamento ocorre por 300 nm) No cromossomo mitótico, os domínios em alça
meio de interações entre as caudas das histonas A fibra de 30 nm, por sua vez, forma alças cha- se enrolaram e enovelaram de maneira ainda
de um nucleossomo e o DNA espaçador e os nu- madas de domínio em alça, ligadas ao cerne não totalmente compreendida, compactando
cleossomos adjacentes. Uma quinta histona, H1, (suporte) do cromossomo, uma estrutura com- ainda mais toda a cromatina, gerando o cro-
está envolvida com esse nível de empacotamen- posta por proteínas, formando uma fibra de mossomo metafásico característico, mostrado
to. Devido a essas interações, a fibra de 10 nm 300 nm. O cerne do cromossomo é rico em um na micrografia acima. A espessura de uma cro-
se enrola, ou enovela, formando uma fibra de tipo de topoisomerase. Moléculas H1 também mátide é de 700 nm. Genes específicos sem-
cromatina com 30 nm de espessura, a fibra de parecem estar presentes. pre estão localizados nos mesmos lugares nos
30 nm. Apesar de a fibra de 30 nm ser preva- cromossomos metafásicos, indicando que as
lescente no núcleo em interfase, o arranjo dos etapas de empacotamento são altamente espe-
nucleossomos neste nível de empacotamento da cíficas e precisas.
cromatina ainda é uma questão em aberto.
322 C a mpbel l & Col s .

junta, esse complexo de DNA e proteínas, chamado de cromatina,


cabe no núcleo através de um elaborado sistema com diversos níveis  Figura 16.22 Pesquisa
de empacotamento do DNA. Nosso conhecimento atual sobre os Qual o papel da fosforilação das histonas no
sucessivos níveis de empacotamento do DNA é resumido na Figura comportamento dos cromossomos durante a
16.21. Estude essa figura com atenção antes de prosseguir a leitura. meiose?
A cromatina sofre mudanças admiráveis no seu grau de empa- EXPERIMENTO Terry Orr-Weaver e colaboradores, no Massachusetts
cotamento durante o curso do ciclo celular (ver Figura 12.6). Em Institute of Technology induziram mutações aleatórias em moscas-das-fru-
células em interfase, fixadas para microscopia óptica, a cromatina tas e procuraram mutações que causassem esterilidade, sob a hipótese de
que essas mutações poderiam estar localizadas em genes que codificam
geralmente aparece como massa difusa no núcleo, o que sugere uma
proteínas que desempenham papéis importantes durante a meiose. Eles
cromatina estendida. À medida que a célula se prepara para a mito- encontraram uma mutação no gene nhk-1 que causa esterilidade em fê-
se, a sua cromatina se enrola e enovela (se condensa), formando um meas de Drosophila. Eles sabiam que o produto desse gene, a histona-cina-
número característico de pequenos e finos cromossomos metafási- se-1 nucleossomal, ou NHK-1 (do inglês nucleosomal histone kinase-1), é
uma enzima que fosforila um aminoácido específico da cauda da histona
cos, distinguíveis uns dos outros no microscópio óptico. H2A. Então formularam a hipótese de que a esterilidade era causada por
Em geral, a cromatina em interfase é menos condensada que a meiose malsucedida em função do comportamento anormal dos cromos-
cromatina nos cromossomos mitóticos, mas apresenta diversos ní- somos quando essa enzima não funciona normalmente.
Para testar essa hipótese, eles observaram o comportamento dos cro-
veis de empacotamento também vistos na mitose. Parte da croma- mossomos durante a meiose nas células dos ovários de moscas normais e
tina que compõe um cromossomo parece estar presente em forma de moscas mutantes. Em um experimento, eles utilizaram um marcador
de uma fibra de 10 nm, mas boa parte da cromatina é compactada fluorescente vermelho para visualizar a localização do DNA e um marcador
fluorescente verde para visualizar a localização da proteína condensina,
numa fibra de 30 nm, que em algumas regiões continua o empaco- que normalmente se liga aos cromossomos no final da prófase I e os ajuda
tamento em domínios em alça. Embora os cromossomos na interfa- a se condensar.
se não apresentem uma estruturação óbvia, seus domínios em alça RESULTADOS No final da prófase I das células de ovário das moscas
parecem estar ligados à lâmina nuclear, na face interna do envelope normais, a condensina e o DNA estavam localizados em uma pequena re-
nuclear. Talvez também estejam ligados a fibras da matriz nuclear. gião do núcleo (abaixo, à esquerda; a cor amarela resulta do encontro no
mesmo local dos marcadores vermelho e verde). No entanto, nas moscas
Essas ligações podem ajudar a organizar regiões da cromatina com
mutantes, a condensina estava espalhada aleatoriamente no núcleo, en-
genes ativos. A cromatina ocupa áreas restritas e específicas em quanto o DNA estava restrito à periferia do núcleo (abaixo, à direita; a co-
cada gene dentro do núcleo em interfase, e as fibras de cromatina de loração vermelha do DNA é bastante sutil). Este resultado sugere que a
cromossomos diferentes não se misturam. condensina não se ligou aos cromossomos nas células das moscas mutan-
tes, e que, consequentemente, os cromossomos não se condensaram.
Mesmo durante a interfase, os centrômeros e telômeros dos
cromossomos, assim como outras regiões cromossômicas em algu- Condensina e Delimitação Condensina DNA (vermelho,
DNA (amarelo) do núcleo (verde) na periferia)
mas células, estão presentes em um estado altamente condensado,
a exemplo do que se observa nos cromossomos em metáfase. Essa
cromatina na interfase, visível como aglomerados irregulares ao mi-
croscópio óptico, é chamada de heterocromatina, para distingui-la
da eucromatina (a “cromatina verdadeira”), menos compactada e
mais dispersa. Em função da sua compactação, o DNA presente na
heterocromatina é inacessível à maquinaria da célula responsável
pela expressão (utilização) da informação genética codificada pelo
DNA. Em contraste, o empacotamento mais leve da eucromatina
torna o DNA acessível a essa maquinaria, e os genes presentes na
eucromatina podem ser expressos. Núcleo das células normais Núcleo das células mutantes
O cromossomo é uma estrutura dinâmica que pode ser con-
CONCLUSÃO Como este e outros processos durante a meiose não
densada, relaxada, modificada e remodelada de acordo com a ne-
são completamente bem-sucedidos quando a histona cinase NHK-1 não
cessidade dos vários processos celulares, incluindo mitose, meiose funciona apropriadamente, os pesquisadores concluíram que a fosforila-
e expressão gênica. As vias que controlam essas transformações ção específica da histona H2A é necessária para o comportamento normal
atualmente são alvo de intensas pesquisas. Tornou-se claro que dos cromossomos durante a meiose.
as histonas não são apenas estruturas inertes ao redor das quais o FONTE I. Ivanovska, T. Khandan, T. Ito e T. L. Orr-Weaver, A histone
code in meiosis: the histone kinase NHK-1, is required for proper chromosomal archi-
DNA se encontra enrolado. Elas podem sofrer modificações quími- tecture in Drosophila oocytes, Genes and Debelopment 19:2571-2582 (2005).
cas que resultam em alterações na organização da cromatina. Terry
E SE...? Suponha que um pesquisador tenha descoberto uma mosca
Orr-Weaver, a cientista entrevistada no início desta unidade, tem
mutante em que a cauda da histona H2A não apresente o aminoácido
interesse, há bastante tempo, nos mecanismos moleculares da di- específico, geralmente fosforilado pela histona cinase NHK-1. Como essa
nâmica dos cromossomos durante a mitose e a meiose. Utilizando a mutação irá afetar o comportamento dos cromossomos durante a meiose
abordagem genética em Drosophila, ela e seus colaboradores mos- nas células de ovário?
traram que a fosforilação de um aminoácido específico na cauda das
B i o l o gi a 323

histonas tem um papel crucial no comportamento dos cromosso- REVISÃO DO CONCEITO


mos durante a prófase I da meiose (Figura 16.22). Fosforilação e 1. Descreva a estrutura de um nucleossomo – a unidade bá-
outras modificações químicas das histonas também possuem múlti- sica do empacotamento do DNA nas células eucarióticas.
plos efeitos na atividade gênica, como vamos ver no Capítulo 18. 2. Quais são as duas propriedades que distinguem a hetero-
Neste capítulo, aprendemos como as moléculas de DNA estão cromatina da eucromatina?
organizadas nos cromossomos e como a replicação do DNA fornece 3. E SE...? Apesar de as proteínas responsáveis pelo em-
cópias dos genes que os pais passam para a prole. No entanto, não pacotamento do cromossomo de E. coli não serem histo-
é suficiente que genes sejam copiados e transmitidos; a informação nas, quais propriedades você espera que elas comparti-
que eles carregam precisa ser utilizada pela célula. Em outras pa- lhem com as histonas, uma vez que elas também possuem
lavras, os genes precisam ser “expressados”. No próximo capítulo, a habilidade de se ligarem ao DNA?
vamos examinar como a célula traduz a informação genética codi-
Ver as respostas sugeridas no Apêndice A.
ficada pelo DNA.

RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE


Revisão do Capítulo 16
 Verificação e reparo do DNA As enzimas DNA-polimerases revi-
sam o DNA novo, substituindo os nucleotídeos incorretos. No
16.1 O DNA é o material genético (p. 305 – 310) reparo de maus pareamentos, enzimas corrigem os erros que
ainda persistirem. O reparo por excisão de nucleotídeos é um
 A procura pelo material genético: Pesquisa Científica Experimen- processo não específico, no qual enzimas clivam e substituem
tos com bactérias e fagos forneceram as primeiras evidências porções danificadas de DNA.
contundentes de que o material genético é o DNA.
 Replicando as extremidades das moléculas de DNA As extremi-
 Construindo um modelo estrutural para o DNA: Pesquisa Científi- dades do DNA dos cromossomos dos eucariotos se tornam
ca Watson e Crick deduziram que o DNA é uma dupla-hélice. mais curtas a cada ciclo de replicação. A presença de telômeros,
Duas cadeias açúcar-fosfato antiparalelas se enrolam na face ex- sequências repetitivas nas extremidades das moléculas de DNA
terna da molécula; as bases nitrogenadas se projetam para o seu lineares, posterga a erosão dos genes. A telomerase catalisa o
interior, onde estão pareadas por meio de pontes de hidrogênio alongamento dos telômeros nas células germinativas.
em pares específicos, A com T, G com C.
G
A
C
T
16.3 Um cromossomo consiste em uma molécula de DNA
T A empacotada com proteínas (p. 320 – 323)
Bases nitrogenadas
G C  O cromossomo bacteriano é geralmente uma molécula de DNA
Esqueleto açúcar-fosfato C G circular com algumas proteínas associadas. A cromatina eucarió-
A T
C G
tica que compõem o cromossomo é formada principalmente por
Ponte de hidrogênio
DNA e proteínas histonas. As histonas se ligam umas às outras e ao
T A DNA para formar o nucleossomo, a unidade básica do empacota-
mento do DNA. As caudas das histonas se projetam de cada nucle-
ossomo. Níveis adicionais de empacotamento levam a uma forma
16.2 Diversas proteínas atuam juntas na replicação e no mais condensada da cromatina, observada nos cromossomos me-
reparo do DNA (p. 311 – 319) tafásicos. Nas células em interfase, a maior parte da cromatina está
 O princípio básico: pareamento de bases com fita molde O experi- menos compactada (eucromatina), mas algumas regiões permane-
mento de Meselson-Stahl mostrou que a replicação é semicon- cem altamente condensadas (heterocromatina). Modificações nas
servativa: a molécula parental se desenrola, e cada fita serve de histonas podem influenciar o estado de condensação da cromatina.
molde para a síntese de uma nova fita de acordo com as regras
de pareamento de bases.
 A replicação do DNA: uma visão mais de perto TESTE SEU CONHECIMENTO

DNA-pol III sintetiza a fita 3’ 1. No seu trabalho com bactérias causadoras da pneumonia e com
líder continuamente 5’ camundongos, Griffith descobriu que
DNA a. o envelope proteico das células patogênicas era capaz de
parental DNA-pol III inicia a síntese na transformar as células não patogênicas.
extremidade 3’ do oligonucleotídeo
5’ iniciador e continua no sentido 5’ → 3’ b. as células patogênicas mortas por calor causavam pneumonia.
3’ A fita retardada é sintetizada
5’ c. alguma substância das células patogênicas era transferida
em pequenos fragmentos de
Okazaki, conectados mais para as células não patogênicas, tornando-as patogênicas.
tarde pela DNA-ligase d. o envelope de polissacarídeo da bactéria causa pneumonia.
A primase sintetiza um
pequeno oligonucleotídeo 3’ e. os bacteriófagos injetam DNA nas bactérias.
iniciador de RNA 5’

Você também pode gostar