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MACAÉ/RJ
2018
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MACAÉ/RJ
2018
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BANCA EXAMINADORA:
NOME DO PROFESSOR(A)
____________________________________________________
NOME DO PROFESSOR(A)
____________________________________________________
NOME DO PROFESSOR(A)
____________________________________________________
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Dedico este trabalho a todos os que não se conformam com o status quo.
A cada um que nunca se encaixou, mas que, ao invés de se encaixar,
preferiu construir um mundo novo.
Aos que não se escondem, mas oferecem
o seu melhor ao mundo.
5
Leonardo da Vinci
6
AGRADECIMENTOS
RESUMO
O presente estudo investigou as motivações para uma vida minimalista e seus impactos no
consumo. Foram utilizadas para tal a pesquisa bibliográfica e a pesquisa exploratória por
meio de entrevistas em profundidade com pessoas que se consideram adeptas ao estilo de
vida minimalista. Ao concluir a pesquisa foi possível identificar que as motivações para
uma vida minimalista são principalmente de cunho pessoal. As principais motivações são a
busca pela liberdade e felicidade, desejo de melhor utilização do tempo e dinheiro. Aderir
ao estilo de vida minimalista leva a grandes mudanças no consumo que afetam a forma de
se vestir, se locomover, morar e até mesmo a forma como se dão os relacionamentos
intrapessoais e interpessoais.
ABSTRACT
In the proposed study it was investigated the motivations for a minimalist life and its
impacts in the consumption of products. Some thorough interviews with people who
consider living the minimalist lifestyle were applied for these bibliographic and
exploratory research. Concluding the research, it was possible to identify the reasons why
people takes a minimalist lifestyle and they are mainly about personal stamp. The major
reasons are the quest for freedom and happiness, the wish of making better use of time and
money. To join the minimalist lifestyle brings big changes in the consumption, affecting
the way of dressing, moving, residing and so the way of relating either intrapersonal or
interpersonal relationships.
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................11
1.1 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................12
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................12
1.3 DELIMITAÇÃO............................................................................................................12
1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA.............................................................................12
2 CONSUMO MINIMALISTA.........................................................................................14
2.1 O QUE É MINIMALISMO...........................................................................................14
2.2 MOTIVAÇÃO PARA SE TORNAR MINIMALISTA.................................................19
2.3 BENEFÍCIOS DE SE TORNAR MINIMALISTA........................................................22
3 METODOLOGIA...........................................................................................................25
3.1 QUANTO AOS FINS....................................................................................................25
3.2 QUANTO AOS MEIOS.................................................................................................25
3.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS..............................................................................25
3.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA.....................................................................................27
4 ANÁLISE DE RESULTADOS......................................................................................29
4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS................................................................................29
4.2 O QUE É O ESTILO DE VIDA MINIMALISTA PARA OS ENTREVISTADOS.....29
4.3 MUDANÇA DE HÁBITOS APÓS ADERIR AO MINIMALISMO............................30
4.4 MOTIVAÇÃO................................................................................................................32
4.4.1 Influência da Família...................................................................................................32
4.4.2 Busca Por Mais Tempo e Dinheiro.............................................................................33
4.4.3 Busca Por Liberdade de Escolhas e Felicidade..........................................................33
4.4.4 Preocupação com a Natureza......................................................................................35
4.5 MUDANÇAS NOS HÁBITOS DE CONSUMO..........................................................35
4.6 BENEFÍCIOS.................................................................................................................37
4.7 DIFICULDADES...........................................................................................................39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................43
ANEXOS.............................................................................................................................45
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INTRODUÇÃO
materiais. Por este motivo, este estudo buscou entender os porquês motivacionais dos
adeptos ao consumo minimalista.
Este estudo objetiva investigar qual a motivação que impulsiona uma pessoa a
adotar o estilo de vida minimalista e quais são os impactos causados por este estilo de vida
no consumo.
1.3 DELIMITAÇÃO
O estudo do Minimalismo tem sua importância porque não existe apenas um tipo
de consumidor. Constantemente surgem novos grupos de consumo, com características
distintas e especificações do que pretendem consumir e o que não pretendem. Os adeptos
ao Minimalismo demandam um novo tipo de consumo e novos produtos ou serviços
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podem ser oferecidos pensando especificamente neste público. Para tal, é preciso entendê-
lo na sua essência.
Este estudo será relevante para profissionais de administração, marketing e
diversos outros profissionais que se relacionam com os estudos relacionados ao consumo,
pois mostra um olhar diferente do ‘comum’ sobre hábitos dos consumidores.
Academicamente, este estudo será relevante para pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento por abordar um tema ainda pouco explorado pela área de marketing.
Estudantes de áreas como marketing, ciências sociais e comportamento do consumidor,
além de outras, poderão encontrar respostas a alguns questionamentos relacionados ao
comportamento dos consumidores adeptos ao Minimalismo.
Do ponto de vista gerencial, este estudo é relevante por abordar um novo olhar
sobre o comportamento do consumidor, mostrando que existem consumidores que não se
encaixam no padrão de consumo mais praticado hoje. Conhecendo o estilo de consumo
minimalista, poderão ser tomadas decisões estratégicas mais acertadas pensando também
neste público, quando este for o objetivo.
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2 CONSUMO MINIMALISTA
Puls e Becker (2018) consideram o consumo consciente como algo que está
diretamente atrelado às questões pessoais de cada indivíduo. O que é essencial para um, em
questões de estilo de vida e consumo de bens, não necessariamente será para outro. Isto
acontece porque nossas decisões não são tomadas pensando sempre no coletivo. Portanto,
o minimalismo não é como uma “receita de bolo”, cada um o vive de acordo com sua
individualidade.
O minimalismo parte de uma ótica individual, na qual o indivíduo ressignifica o
consumo e muda suas práticas como forma de melhorar a própria vida. A noção de
coletividade também conta, mas não é o ponto central. A mudança é, primeiramente,
individual, vindo depois a consciência maior de coletividade (NEGRETTO, 2013).
Em sua pesquisa acerca da “vida simples”, que seria outra forma de nomear o
minimalismo, Candido (2016) explica que não é possível dimensionar com limites rígidos
o que seria a vida simples, já que este é um estilo de vida do qual participam pessoas de
diferentes culturas, religiões e partes geograficamente distintas do Brasil e do mundo. A
autora classificou os adeptos e as ações do minimalismo/vida simples em “pontuais ou
contínuas” e “duras ou flexíveis”. Ela explica cada uma dessas classificações (CANDIDO,
2016):
Puls e Becker (2018) seguem pela mesma linha de raciocínio, declarando que
enquanto muitos pensam que o minimalismo tem a ver com usar roupas dentro de uma
cartela que limita a variedade de cores e ter poucos acessórios, ele pode não ser nada disso,
ou muito mais que isso, a vida minimalista se relaciona com aprender a trabalhar o dia-a-
dia com consciência e significado. As autoras afirmam que a vida simples é sobre se
libertar dos excessos para se concentrar no que tem real sentido.
Concordando que aderir ao estilo de vida minimalista é se libertar dos excessos,
Negretto (2013) faz uma observação. A autora argumenta que talvez o estado de
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consciência que leva a uma vida minimalista seja alcançado após o indivíduo ter acesso a
uma vida de luxos e excessos. Uma vez que ter mais poder aquisitivo e adquirir muitos
bens pode levar o indivíduo a refletir sobre o que é necessário e o que é supérfluo.
Candido, que se graduou em Ciências Sociais, trabalhou promovendo ações que
tinham como objetivo gerar conscientização sobre consumo e sustentabilidade. Algumas
das referências provenientes de dados secundários utilizadas neste estudo foram retiradas
de suas pesquisas. Candido (2016) cita que movimentos em busca da vida simples, mesmo
sem líderes, vão ganhando forma e dimensão casa vez maiores, como forma de oposição ao
estilo de consumo na modernidade. A autora afirma que o hiperconsumo é a aprofundação
no consumismo, o que levaria à “mercantilização da vida”.
Silva e Hor-Meyll (2016) citaram alguns dos valores básicos da simplicidade
determinados por Elgin e Mitchell (1977):
1. “simplicidade material”, que seria valorizar o ser mais do que o ter;
2. “escala humana”, ou seja, valorizar o consumo de produtos artesanais em
detrimento dos industrializados, para “reduzir a complexidade da vida”;
3. “autodeterminação” para ter mais domínio próprio;
4. “consciência ambiental”, ou seja, conservação dos recursos do planeta;
5. “crescimento pessoal” que inclui os aspectos relacionados à vida interior,
como crescimento espiritual, psicológico e autorrealização.
Sobre o tema motivação, sabe-se que são várias. Este capítulo trata de estudos
ligados às motivações que levam pessoas a optarem por uma vida minimalista.
Candido (2016) cita que movimentos contra o consumo exagerado estiveram
presentes em vários momentos da história das sociedades. Estes movimentos eram
discursos contra o luxo, desperdício e consumo apenas por prazer. Na década de 1990,
quando o consumo exagerado veio a ser foco de estudo, percebeu-se que a crise ambiental
se deve, também, ao padrão elevado de consumo de bens.
Candido (2016) fala sobre um dos motivos que levariam pessoas a se tornarem
minimalistas. Ela explica que os impactos ambientais e sociais gerados pelos modelos de
produção e de consumo característicos da sociedade estão no centro de muitas das análises
relacionadas às mudanças climáticas, crises econômicas e ao futuro do planeta. Entre
outros, este é um importante motivo para que as práticas sejam revistas e assim o
movimento minimalista vai tomando forma.
Elgin e Mitchell (1977) e Elgin (2012) também ressaltam que muitos adeptos à
uma vida mais simples o fazem por causa de motivos ambientais, ou seja, porque têm uma
consciência ambiental e sabem que esse comportamento é benéfico para o planeta.
Já Negretto (2013) considera motivações pessoais e individualistas que levam o
indivíduo a aderir ao estilo de vida minimalista. Algumas destas motivações seriam a
vontade de obter alívio por se livrar das pressões sociais do consumismo,
autoconhecimento e maior controle sobre a própria vida. Assim, os indivíduos buscariam
alcançar estes benefícios através de uma vida mais simples, que inclui a diminuição da
quantidade de itens consumidos, bem com o descarte de bens anteriormente adquiridos que
possam ser considerados não essenciais. Estes efeitos almejados, de fato, são constatados
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por indivíduos que decidem por viver uma vida minimalista, alcançando, muitas vezes, a
plenitude e o equilíbrio estimados.
Em seu estudo acerca das motivações para uma vida simples, Silva e Hor-Meyll
(2016), documentaram algumas motivações que levavam as pessoas a aderirem a este
estilo de vida. Seu estudo foi realizado em um grupo do Facebook, no qual as pessoas
discutiam sobre vida simples. Algumas das motivações percebidas foram: insatisfação com
o trabalho e insatisfação com o consumo exagerado. Conforme documentado, as pessoas
que participaram do estudo relataram que o desejo e a pressão pelo consumo exagerado
levavam as pessoas a trabalharem exageradamente para ter condições de arcar com os
custos de uma vida cara, mas que isso não estava lhes trazendo satisfação. Algumas
pessoas acrescentaram que a busca por uma vida de consumo seria como uma ilusão que
leva à frustração.
Silva e Hor-Meyll (2016) comentam que dentro do grupo, algumas pessoas
relataram terem deixado um trabalho remunerado, porém não prazeroso, para se dedicarem
a um trabalho com o qual se identificavam, mesmo com uma remuneração mais baixa.
Além disso, os mesmos passaram a usar o dinheiro ganho em atividades que lhes dessem
satisfação, ao contrário de apenas pagar luxos e extravagâncias. Ou seja, nesse caso, o
estudo de Silva e Hor-Meyll (2016) também revelou motivações pessoais para adotar esse
estilo de vida.
Negretto (2013) reforça este ponto quando diz que muitas pessoas procuram no
estilo de vida minimalista uma forma de desocupar espaço mental, com o objetivo de ter
melhores relacionamentos e viver uma vida com intenção, ao contrário de fazer o mesmo
que a maioria está fazendo, apenas para se “encaixar”. Um passo para uma ter vida com
mais propósito seria o “destralhamento mental”, não apenas esvaziando a casa de tudo que
não faz sentido, mas também os pensamentos e todas as atitudes do dia-a-dia.
Puls e Becker (2018) corroboram este ponto ao citar que algumas pessoas buscam
o minimalismo com a intenção de entender quais coisas são mais importantes para elas, no
sentido de descobrir seu propósito de vida. Elgin (2012) também vai nessa linha e o título
do seu livro inclusive cita que se trata de uma “vida exteriormente simples, mas
interiormente rico”.
Existe também, uma busca pela plenitude pelas pessoas que escolhem viver o
estilo de vida minimalista. O estilo de vida minimalista oferece uma ressignificação do
consumo, uma vez que o consumo é uma prática tão importante para minimalistas quanto
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simples, como tinham na infância, por terem percebido que eram felizes com menos bens e
mais tempo para as coisas essenciais na vida. A “Libertação da Pressão da Sociedade”
também foi tida como fator importante para a decisão de ser adepto da simplicidade
voluntária. Não queriam mais “ser conduzidos por ambição profissional” ou viver em
busca de agradar a outros com suas posses, também não queriam se vestir de forma pré-
determinada pela moda. Os entrevistados sugeriram que gostam de se sentir livres do
consumo, para tal, eles procuram produzir alguns produtos em casa, como alimentos ou
produtos artesanais.
Para Candido (2016), na sociedade contemporânea existe uma maior autonomia
do indivíduo em relação ao consumo, pois, de certa forma, houve uma quebra na relação de
dependência entre status e estilo de vida. Conforme ela considera, as instituições não são,
no momento atual, influentes o suficiente para decidir pelo indivíduo, ou seja, está mais
forte a liberdade de escolha.
3 METODOLOGIA
seu perfil na rede social Facebook, começou a integrar uma comunidade virtual chamada
“Minimalismo”.
A comunidade é fechada, ou seja, para entrar, é preciso enviar uma solicitação de
participação e aguardar a autorização.
Após ingressar no grupo virtual, a pesquisadora passou a observar as conversas
entre os participantes, porém sem interagir com os mesmos.
O grupo Minimalismo possui cerca de trinta e quatro mil membros que utilizam o
grupo para troca de experiências sobre este estilo de vida. Diariamente as pessoas postam
dúvidas e pedem dicas sobre descarte, compras, organização da casa, organização
financeira, metas de vida, etc.
Após pedir autorização para o administrador da comunidade virtual, foi feita uma
postagem aberta no grupo recrutando entrevistados. A mensagem dizia.:
“Boa tarde! Estou fazendo meu TCC para a faculdade com o tema “Consumo
Minimalista” e preciso entrevistar voluntários para enriquecer o trabalho.
Gostaria de saber se alguém aqui do grupo gostaria de participar. A entrevista será via
Messenger ou WhatsApp e qualquer pessoa que adota o minimalismo como estilo de vida
pode participar.
Caso alguém se interesse, favor comentar aqui na publicação para já agendarmos a
nossa conversa.
Obrigada!”
encontram-se conectadas a todo tempo, sendo, portanto, um novo meio de coletar dados
(NICOLACI-DA-COSTA; ROMÃO-DIAS; DI LUCCIO, 2009). As entrevistas foram
marcadas nos horários sugeridos pelos entrevistados, para que eles tivessem tempo e
disposição para participar da pesquisa.
Após as entrevistas, os dados foram analisados. Buscou-se analisar as entrevistas
como um todo, buscando pontos em comum e diferenças, e a análise das entrevistas
individuais de forma detalhada (NICOLACI-DA-COSTA; ROMÃO-DIAS; DI LUCCIO,
2009).
Os nomes dos entrevistados foram trocados por siglas para preservação de sua
identidade. Dessa forma, pretende-se deixar os entrevistados mais à vontade para
responderem e comentarem o que quiserem.
Para identificar os homens foi utilizada a inicial “H” e para as mulheres a inicial
“M”. Dessa forma, a identificação dos entrevistados ficou como M1, M2, H1, H2, e assim
por diante.
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Viver com poucas coisas, sem excessos, permitindo alguns luxos às vezes.
Um iPhone eu considero um luxo, pois tem smartphones que fazem o mesmo por
1/3 do valor ou menos. Mas eu tenho um iPhone e gosto muito dele. Um carro
maior pode ser um luxo se não precisamos dele, sendo que um usado e menor
também serviria na maioria dos casos. (ENTREVISTADO H1)
que, para ela, ter um estilo de vida minimalista é gastar menos dinheiro com coisas
“inúteis”. M6 acrescenta que, em sua opinião, o estilo de vida minimalista é tirar o foco
dos bens materiais e focar nas pessoas e no cuidado com o meio ambiente: “O estilo de
vida minimalista é ter uma vida com a felicidade em aproveitar momentos e pessoas e não
em ter mais coisas. E também reduzir o volume de lixo que produzimos.”
A entrevistada M4, afirma que ter uma vida minimalista é voltar atenção para si
mesma e viver orientada pelo seu propósito e não pela mídia ou vontade de outros. Sobre
o que significa ter um estilo de vida minimalista ela diz: “penso que significa olhar para o
outro com mais criticidade e humanidade e viver segundo nossos próprios desejos.”
A grande variedade de opiniões individuais sobre o minimalismo está de acordo
com o que afirma Cândido (2016) em seu estudo. Cândido diz que o conceito de
minimalismo não é apenas um, mas múltiplo, já que cada indivíduo o vive de acordo com a
sua realidade de forma única. Cândido explica que não há necessidade de definir um
conceito engessado, uma vez que o minimalismo não é estático, mas muda de uma
sociedade para outra e transforma-se dentro de cada sociedade.
para se referir ao descarte de bens que não estejam sendo úteis. Geralmente este descarte é
feito em forma de doação ou troca com amigos. A entrevistada M4 relata que tem realizado
grandes mudanças em sua vida após aderir ao estilo de vida minimalista.
Hoje eu penso com muito mais criticidade e clareza sobre a vida. Aplico o
minimalismo em várias coisas na minha vida: alimentação, vestimenta,
decoração, criação do meu filho, compro com muito mais responsabilidade. [...]
meu filho, por exemplo, mostra que não precisa de muitas coisas que a indústria
inventa. Eu reciclo muita coisa que acaba servindo como brinquedo e percebo
que chama muito mais a atenção dele. Ele adora brincar com garrafa PET e
várias outras coisas que não são brinquedo e acabam sendo. (ENTREVISTADA
M4)
Ela continua relatando que usa o minimalismo como parâmetro para muitas
decisões em sua vida. A entrevistada conta que decidiu parar de trabalhar fora para se
dedicar completamente à educação do filho e isso foi possível por adotar este estilo de
vida. Ela explica que tomou essa decisão baseando-se na lógica financeira da família e
também no que considera mais importante oferecer ao seu filho nos primeiros anos de sua
vida: “Por essa razão, escolhi ser presente ao invés de dar presentes. Ser presente é
essencial.”
A entrevistada M3 avaliou que busca ter um estilo de vida minimalista até no que
diz respeito a relacionamentos e experiências, buscando viver de forma alinhada com seus
valores.
As amizades também são avaliadas com mais critério, o que exponho diante dos
meus sentidos são coisas de utilidade para meu melhoramento pessoal, moral e
espiritual. Em relação a conversas, também costumo falar (tento) assuntos de
valor moral, espiritual, evitando frivolidades, fofocas, maledicências,
julgamentos. Esse é um processo mais demorado (o de não comentar certos
acontecimentos da vida de alguém). (ENTREVISTADA M3)
Puls e Becker (2018) registram em seu estudo que o minimalismo não está
relacionado apenas a posses, mas também a todos os outros aspectos da vida, assim como
relatou a entrevistada M3. Puls e Becker dizem que o consumo é uma parte do
minimalismo, mas não o único aspecto, por isso, muitos de seus adeptos o estendem para
relacionamentos e muitas outras áreas da vida.
32
4.4 MOTIVAÇÃO
Os entrevistados que já vinham de uma família que praticava uma vida simples,
seja pela falta de recursos ou por escolha, afirmam que tiveram seus valores familiares
reforçados ao conhecer o minimalismo.
Já os outros entrevistados, viviam uma vida de consumo com pouca reflexão e
buscavam um estilo de vida que gerasse menos estresse e pressão causada pelo
hiperconsumo. Eles estavam em busca de uma vida leve e com praticidade. H1 diz que
desde a adolescência sempre prezou pela simplicidade, buscando economizar e ter atitudes
objetivas. Segundo ele, ainda não conhecia a expressão “minimalismo”, mas já seguia
vários pontos que o estilo de vida aborda, como comprar conscientemente e evitar
desperdícios.
Passei 29 dias viajando com meu esposo com 2 malas, foi o período mais feliz
deste ano. Quando cheguei em casa me dei conta de que tinha muita coisa e
definitivamente não preciso de todas elas para ser feliz. Eu prefiro gastar meu
dinheiro e energias em planejar viagens, encontro com amigos.
(ENTREVISTADA M6)
ela: a vontade de ter uma vida mais simples, porque ela se sentiu “em casa” em meio aos
hábitos que observava dos alemães.
Puls e Becker (2018) e Negretto (2013) enriquecem este raciocínio ao pontuar que
os minimalistas não buscam a felicidade em posses materiais, por acreditarem que isto é
impossível, assim, eles veem o afastamento dos bens materiais em excesso como um
caminho para a felicidade.
A entrevistada M5 afirma que se sentia cansada mentalmente por ter tantos
objetos com os quais se preocupar, principalmente porque costuma se mudar a cada dois
anos. Ela decidiu aderir ao minimalismo para se livrar de toda esta carga e se sentir mais
livre de coisas materiais. Ou seja, se libertar da ansiedade que sentia. Ela sentia que o
excesso de coisas a limitava de viver a vida que almejava para si.
Tenho uma boa calça jeans (discreta) para trabalhar e uso a mesma a semana
inteira, trabalho administrativo, não suja. Não preciso me preocupar em escolher.
As camisas são uniforme, então [tenho] várias. Um tênis para trabalhar outro
para sair, peças chave, sem erro, sem preocupação. Quem precisa se preocupar
com essas coisinhas, é menos satisfeito. (ENTREVISTADO H1)
escape para o estresse e a ansiedade. Planejando bem as compras, eles buscam fugir de
compras que não sejam necessárias. Nas ocasiões de compra, alguns entrevistados
comentaram que optam por comprar produtos de segunda mão ou produtos de alta
qualidade, que possam durar mais tempo. Alguns citaram que preferem ter poucas coisas
de alta qualidade do que muitas coisas de baixa qualidade.
As mudanças nos hábitos de consumo citadas pelos entrevistados estão de acordo
com as referências encontradas nas pesquisas de Silva e Hor-Meyll (2016), Elgin (2000),
Negretto (2013) e Puls e Becker (2018), pois as mudanças adotadas foram no sentindo de
passar a consumir de forma mais planejada, optando por produtos de melhor qualidade,
mesmo que com preço mais elevado. Além de passar a ter hábitos de alimentação mais
caseiros, ao invés de comprar comidas já prontas, por exemplo. Percebe-se também a
diminuição da quantidade de compras realizadas.
4.6 BENEFÍCIOS
Para M3, ter uma vida minimalista é sinônimo de viver melhor, ser mais com
menos. Todos os entrevistados afirmaram perceber muitos benefícios na vida minimalista.
Bom, economizei grana. Mas o melhor mesmo tem sido a mudança na forma de
ver o mundo e a natureza. Ampliou meu senso de responsabilidade com o
cuidado com o planeta. Eu me sinto melhor em ser assim, melhor comigo
mesma, como se não devesse tanto a Deus e ao todo. (ENTREVISTADA M3)
4.7 DIFICULDADES
conta que usa roupas e calçados de brechó e era muito criticada por isso, o que a fazia se
sentir envergonhada. A entrevistada também relata que desde que casou sofre pressão da
família para comprar um apartamento financiado, que não é o seu desejo nem de seu
marido, já que eles não têm vontade de morar por longos períodos em um único lugar,
então preferem manter uma casa alugada. A família diz “sentir pena” do casal, por achar
que eles querem comprar um apartamento, mas negam este desejo por não ter dinheiro. A
entrevistada M5 concorda neste ponto, ela diz que “às vezes é difícil se fazer entender por
quem não concorda ou apenas não leva este estilo de vida”.
Já a entrevistada M1 comenta que existe uma discriminação de acordo com a forma
como a pessoa se apresenta, por exemplo: vestindo-se de forma simples ou quando opta
por não possuir carro. Ela chega a citar um conhecido que quando vai visitar um cliente
aluga um carro, pois sabe que será prejulgado como malsucedido se chegar até lá por
meios de transporte alternativos, desacreditando sua capacidade profissional.
A entrevistada M6 afirmou que sua maior dificuldade é se desfazer de objetos aos
quais ela atribuiu valor sentimental. Além disso, ela acrescenta que é necessário ter
disciplina e muita força de vontade para praticar este estilo de vida e isto nem sempre é
fácil. A entrevistada M5 reforça este pensamento, pois também considera difícil se
desfazer de alguns objetos, como presentes que tenha recebido no passado.
As dificuldades relatadas pelos entrevistados, estão de acordo com os estudos de
Negretto que apontam que o processo de se tornar minimalista é gradual e é um processo
de grandes mudanças de hábitos. Estas mudanças de hábito muitas vezes incluem aprender
a ressignificar a relação que se tem com objetos e isto pode ser difícil para muitos. Silva e
Hor-Meyll (2016) também encontraram em seus estudos que os adeptos de uma vida mais
simples são incompreendidos pelas pessoas – familiares e amigos, o que foi chamado de
isolamento social.
Portanto, por mais que seja um estilo de vida que traz felicidade aos seus adeptos e
diversos outros benefícios, também existe um outro lado com dificuldades percebidas.
Porém, mesmo com essas dificuldades, os entrevistados continuam dispostos a praticar o
minimalismo, pois, para eles, é um estilo de vida que lhes dá um propósito de vida com o
qual se identificam.
As dificuldades mais citadas foram:
• Pressão exercida por pessoas próximas para consumir mais;
• Dificuldade para desapegar de bens materiais;
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível notar que não há uma grande variedade de estudos sobre o consumo
minimalista. Existem algumas obras que se relacionam com o estilo de vida minimalista,
mas grande parte delas não trata diretamente sobre o comportamento do consumidor. O
presente estudo teve como objetivo investigar qual a motivação que impulsiona uma
pessoa a adotar o estilo de vida minimalista e quais são os impactos causados por este
estilo de vida no consumo. Para alcançar tal objetivo, foram aplicadas entrevistas em
profundidade a dez membros de um grupo do Facebook chamado “Minimalismo”, por
meio do qual também foram acompanhados conversas e debates de seus membros durante
8 meses.
Foi observado que existem diversas motivações para aderir ao estilo de vida
minimalista, sendo estas mais frequentemente de cunho individual. Cada indivíduo pode
ter mais de uma motivação. Geralmente as motivações estão relacionadas aos hábitos
aprendidos através da família, bem como a busca pela liberdade e felicidade, além do
desejo de ter mais tempo e dinheiro disponíveis, ou seja, motivações pessoais.
Secundariamente, foi apontada também a preocupação com o meio ambiente. Os
entrevistados para o estudo citaram que se preocupam com os danos que o hiperconsumo
causa ao meio ambiente, mas esta motivação não foi colocada como principal.
A escolha pelo estilo de vida minimalista está diretamente relacionada a mudanças
no consumo. Consumidores minimalistas deixam de consumir supérfluos com frequência,
alguns deles evitando ao máximo consumo que não seja essencial. Passaram a consumir
com frequência apenas produtos que consideram necessários e muitas vezes optando por
opções com maior padrão de qualidade, para maior durabilidade. Também é possível dizer
que eles compram itens de segunda mão e costumam doar ou vender o que não consideram
útil. Quando possível, eles preferem consertar produtos a comprar novos.
Ao aderir o estilo de vida minimalista, seus adeptos percebem como benefício
principal uma vida com mais felicidade e liberdade. Além de vantagens como menos uso
de tempo e dinheiro com coisas que não trazem satisfação. Foi possível notar que os
consumidores minimalistas puderam perceber uma melhora na qualidade de vida de um
modo geral, já que relatam ter mais tempo para fazer atividades que gostam, sentir menos
ansiedade e ter mais condições de realizar seus sonhos, como viagens e outras conquistas.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA JÚNIOR, S. S.; SILVA, D.; MORETTI, S. L. A.; LOPES, E. L. UMA ANÁLISE
DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA PARA O CONSUMO “VERDE” NO VAREJO
SUPERMERCADISTA. Revista de Gestão Social e Ambiental - RGSA, São Paulo, v. 6,
n. 2, p. 134-148, maio/ago. 2012.
ELGIN, D. Voluntary Simplicity and The New Global Challenge. In: SCHOR, J. B.;
HOLT, D. B. (Orgs). The Consumer Society Reader. New York: The New Press: 2000.
7 ANEXOS
Perguntas:
1. Para você, o que significa ter uma vida minimalista?
5. Como foi o processo de se tornar minimalista? Foi fácil? Por quê? Teve alguma
dificuldade? Qual?
10. Para você, quais são os benefícios para quem adota um estilo de vida minimalista?
E os pontos negativos?
11. Há quanto tempo você participa do grupo no Facebook? Por que participa do
grupo?