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QA EL 2

Narrativa de autor português

NOME: N.º: TURMA:

DATA: / / AVALIAÇÃO: PROFESSOR:

Lê atentamente o texto que se segue.

Parece impossível mas sou uma nuvem

Um grupo de sonhadores, de nariz no ar, contempla


aquela nuvem – pobre escrava branca de todos os
ventos.
– Parece um cavalo de batalha – diz um.
5 – Qual! – protesta outro. – A mim dá-me a
impressão duma cabeça de romano. Só lhe falta falar
latim.
Uma rapariga franze os lábios no desacordo lento
de ruminar em voz alta:
10 – Cabeça de romano, não… Deixa-me examinar bem… Ah! Já sei! É uma ave… Isso mesmo:
um cisne. Lá está o pescoço. E as asas. Que elegância! Não veem?
– Qual cisne, qual carapuça – acode outro. – A mim parece-me um anjo vaporoso, leve, ténue, de
asas suspensas…
Cada qual aspira reduzir a nuvem ao tamanho dos seus olhos. Este descobre nela um elefante;
15 aquele, um camelo no Deserto das Areias Azuis; estoutro, um templo chinês…
Só eu num dia seco de imaginação continuo a ver apenas uma nuvem. Mas para não fazer má
figura, quando chega a minha vez de opinar, opto resolutamente pelo hipopótamo:
– É tal qual um hipopótamo.
Enquanto com voz nítida e tenaz sustento o meu teimoso ponto de vista do hipopótamo – por
20 dentro, em contraponto, começa o outro mundo a fermentar.
Pela primeira vez, ato certas observações desligadas na aparência, dou-lhes lógica e acabo por
descobrir esta verdade, vestida duma imagem literária, mas nem por isso menos verdadeira: Eu
também sou uma nuvem. Uma nuvem de natureza especial, evidentemente, de carne e osso, com
duas pernas, dois olhos, um baço, um fígado e esta dorzinha de cabeça tão fina… Mas nem por isso
menos
25 nuvem do que qualquer outra – sujeito à tirania de ventos semelhantes e ao mesmo destino vário de
não possuir um carácter de aceitação unânime.
Ninguém me vê do mesmo modo. Como a nuvem do céu – para alguns sou águia; para muitos,
burro; para este, um camelo; e para quase todos um animal indefinido.
José Gomes Ferreira, «Parece impossível mas sou uma nuvem», O mundo dos outros – Histórias e vagabundagens,
Lisboa, Dom Quixote, 1990

O Mundo em Palavras 8 • 8.º Ano • Questões-aula 1


Agora responde às questões sobre o texto.

1. Classifica o narrador do texto quanto à presença.

1.1 Transcreve do texto a primeira frase que possui marcas que comprovam a tua resposta anterior e
sublinha essas marcas.

2. Circunda no texto todas as expressões que identificam as formas que os «sonhadores» veem nas nuvens.

3. Explicita a razão pela qual um dos «sonhadores» imagina que o animal que vê na nuvem se encontra num
«Deserto das Areias Azuis» (linha 15).

4. Seleciona a opção que completa corretamente as afirmações que se seguem.


4.1 Na expressão «pobre escrava branca de todos os ventos» (linhas 2-3) está presente
A uma comparação que compara a nuvem com uma escrava.
B uma hipérbole que exagera a dimensão da nuvem.
C uma metáfora que demonstra a ausência de liberdade da nuvem.
D uma enumeração que lista as qualidades da nuvem.
4.2 Na descrição da nuvem que tem a forma de um «anjo» (linha 12), o recurso usado é a
A comparação.
B anáfora.
C antítese.
D adjetivação.
4.3 A passagem «Cada qual aspira reduzir a nuvem ao tamanho dos seus olhos.» (linha 14) significa que cada
sonhador deseja que a nuvem
A fique do tamanho dos seus olhos.
B assuma a forma que ele vê.
C mude várias vezes de forma.
D desça para a frente dos seus olhos.
4.4 O narrador afirma «É tal qual um hipopótamo.» (linha 18)
A porque essa é a forma que ele vê na nuvem.
B porque quer ser igual aos «sonhadores».
C para evitar ser julgado pelos sonhadores.
D para que todos vejam essa forma na nuvem.

5. Escolhe duas características do narrador que o levam a afirmar «Eu também sou uma nuvem» (linhas 22-
23).
A O facto de ser leve.
B O facto de ser um sonhador.
C O facto de não determinar o seu rumo.
D O facto de ser visto de várias formas.
E O facto de ser feito de carne e osso.
2 O Mundo em Palavras 8 • 8.º Ano • Questões-aula

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