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Alves F, et al. e-TECH, Florianópolis, v. 15 n.

2 (2022)

Revista e-TECH: Tecnologias para


Competitividade Industrial
T E C N O L O G I A S PA R A
COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
DOI:https://doi.org/10.18624/etech.v15i1.1186

Análise da abordagem LOW-CODE como facilitador da


transformação digital em indústrias
Analysis of the low-code approach as a facilitator of digital
transformation in industries
Fábio Ramos Alves1 , Symone Gomes Soares Alcalá .
Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Ciências e Tecnologia
1

Correspondente: fabioramos05@hotmail.com
*

Resumo
A transformação digital é uma tendência nas indústrias decorrente da Quarta Revolução Industrial
e da crescente necessidade de as empresas aumentarem a eficiência e a agilidade para se manterem
competitivas. Nesse sentido, a digitalização de processos é um importante componente para essa
transformação. No entanto, os métodos de desenvolvimento clássicos para a criação de aplicações
digitais têm altos custos e tempos de implementação – o que dificulta a digitalização dos processos.
Nesse contexto, surge a abordagem low-code como uma alternativa viável para facilitar a transfor-
mação digital das indústrias. Esse paradigma tem como principais benefícios a maior velocidade
para implementação de soluções digitais e a maior eficiência gerada por meio de integrações de
dados. Essas e outras características possibilitam uma menor complexidade para realizar melhorias
de processos, utilizando as tecnologias digitais. Porém, por ser um tema recente, existem poucos
estudos que analisam as formas de aplicação, as vantagens e os desafios dessa abordagem na digi-
talização de processos da indústria. Assim, este trabalho tem como principal objetivo investigar a
transformação digital de indústrias por meio do low-code. Para isso, foram realizadas uma revisão
bibliográfica deste tema e uma análise de estudos de caso relacionados. Como principal resultado,
foi proposto um modelo para implementação de aplicativos utilizando essa abordagem. Além disso,
foi possível contribuir com um melhor entendimento sobre os benefícios do low-code como uma
estratégia para transformação digital da indústria.
Palavras-chave: low-code; transformação digital; digitalização; processo; indústria.

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Abstract
Digital transformation is a trend in industries arising from the fourth industrial revolution and the
growing need for companies to increase efficiency and agility to remain competitive. In this sense,
the digitization of processes is an important component for this transformation. However, the classic
development methods for creating digital applications have high costs and implementation times -
which make it difficult to digitize the processes. In this context, the low-code approach emerges as
a viable alternative to facilitate the digital transformation of industries. This paradigm has as main
benefits the greater speed for implementing digital solutions and the greater efficiency generated
through data integrations. These and other characteristics allow for less complexity to carry out pro-
cess improvements, using digital technologies. However, as it is a recent theme, there are few studies
that analyze the forms of application, advantages and challenges of this approach in the digitization
of industry processes. Thus, this work has as main objective to investigate the digital transformation
of industries through low-code. For this, a bibliographical review of this theme and an analysis of
related case studies were carried out. As main result, a model for application implementation using
this approach was proposed. Furthermore, it was possible to contribute with a better understanding
of the benefits of low-code as a strategy for the digital transformation of the industry.
Keywords: low-code; digital transformation; digitization; process; industry.

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1. INTRODUÇÃO plataformas low-code, surgem os chamados


“desenvolvedores cidadãos”. Esses profissio-
O crescente uso da internet e das tecno- nais não têm necessariamente experiência
logias digitais impactou a indústria global, de com programação, mas com um treinamento
modo que elas já estão presentes em diversos em ferramentas low-code, já se tornam habi-
estágios da cadeia de valor do setor produtivo litados para a criação de soluções para a in-
(SAVASTANO et al., 2019). Nesse contexto, dústria em um espaço de tempo relativamente
há uma tendência crescente de transforma- curto (HORVÁTH et al., 2020; SAHAY et al.
ção digital das indústrias, impulsionada pela 2020).
Quarta Revolução Industrial. Esse fenômeno Na literatura especializada, também são
é caracterizado pela digitalização de proces- discutidos os desafios impostos por essa nova
sos e comunicações, uso de dados digitais e abordagem. Entre outros, são citados a falta
inovação (BOGNER et al., 2016; FRANK et de consenso sobre as vantagens e desvanta-
al., 2019; SAVASTANO et al., 2019) e ain- gens do low-code, a depuração de aplicações
da tem como principais objetivos geração de e a documentação técnica (ALAMIN et al.,
valor e impacto econômico para obter van- 2021; LUO et al., 2021). De acordo com Luo
tagens competitivas (GÖKALP et al., 2017; et al. (2021), em determinadas situações pode
GHOBAKHLOO; FATHI, 2019). surgir uma falta de consenso se determinado
A transformação digital impõe novos de- recurso de alguma plataforma low-code pode
safios para as indústrias. Entre eles, destaca- ser adequado para um projeto ou melhoria. Já
-se a necessidade de um plano tecnológico e Alamin et al. (2021) justificam que é preciso
estratégico capaz de viabilizar e suportar essa adotar estratégias específicas para o aprendi-
mudança organizacional (GHOBAKHLOO, zado e a depuração de aplicativos, uma vez
2019). Nesse cenário, surgiu o low-code. Esse que essas questões ainda não foram totalmen-
termo refere-se à abordagem de desenvol- te resolvidas pelas plataformas que oferecem
vimento de software com o mínimo de co- essa tecnologia. Ademais, de acordo com a
dificação manual possível e caracteriza-se, literatura, as principais lacunas de conheci-
principalmente, pela abstração de alto nível, mento sobre o low-code concentram-se na
uso de diagramas visuais e linguagens decla- compreensão pouco apurada dos benefícios
rativas que possibilitam a criação de aplica- deste tema e na ausência de uma metodolo-
ções digitais com menores tempos e custos gia consolidada para a sua implementação em
em comparação com modelos de desenvolvi- processos da indústria.
mento tradicionais (KHORRAM et al., 2020; Tendo em vista as questões apresenta-
SAHINASLAN et al., 2021). das, o objetivo geral deste estudo é investi-
Por ser um paradigma recente, alguns gar a transformação digital de indústrias por
autores ainda buscam entender de forma mais meio da abordagem low-code, assim como
precisa as vantagens das plataformas low-co- apresentar uma metodologia capaz de apoiar
de no desenvolvimento de aplicações e auto- a sua implementação. Nesse escopo, os obje-
mações para a indústria. Nessa linha, Sahay tivos específicos são:
et al. (2020) argumentam que um dos prin- • realizar uma análise qualitativa de es-
cipais objetivos das plataformas low-code é tudos de caso de empresas de médio e grande
lidar com a baixa oferta de desenvolvedores porte para avaliar os benefícios percebidos na
avançados no mercado de trabalho. Segundo utilização de plataformas low-code;
os autores, com a facilidade proposta pelas • efetuar um benchmarking entre as prin-

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cipais plataformas de low-code para compa- mudanças abrangentes no modelo de negó-


rar seus pontos fortes e limitações; cio da empresa para aproveitar as vantagens
• propor uma metodologia de implemen- das tecnologias digitais. Essa transformação
tação de aplicativos de negócio utilizando o exige mudanças na mentalidade, na cultura,
paradigma de low-code. nos processos, nos recursos e métodos ope-
Com este trabalho, pretende-se apoiar racionais (HENRIETTE et al., 2016; MO-
a compreensão do conceito low-code, bem RAKANYANE, 2017).
como evidenciar o seu potencial estratégi- As estratégias de transformação digital
co para a transformação digital da indústria. possuem alguns pontos em comum, indepen-
Dessa forma, a principal contribuição deste dentemente da empresa ou da área de atua-
estudo consiste na análise do low-code como ção. Esses pontos podem ser divididos em
um facilitador para a transição de proces- quatro dimensões essenciais: uso de tecnolo-
sos manuais para o digital na indústria, bem gias, mudanças na criação de valor, mudan-
como propor uma metodologia para a sua ças estruturais e aspectos financeiros (MATT
implementação. et al., 2015).
Este trabalho está estruturado da seguin- O uso de tecnologias permite que as em-
te forma: na Seção 2 é apresentada uma revi- presas realizem a integração de processos e
são da literatura, na Seção 3 é mostrada a me- operações de modo que seja alcançada uma
todologia de pesquisa utilizada, na Seção 4 os inteligência organizacional (FRANK et al.,
resultados são apresentados e analisados, na 2019). Dessa maneira, é possível analisar
Seção 5 é exposta a proposta de metodologia grandes quantidades de dados, prever com
para implementação low-code e na Seção 6 é maior facilidade falhas nos sistemas e, conse-
feita a conclusão. quentemente, aumentar a eficiência de produ-
ção (GHOBAKHLOO; FATHI, 2019). Nesse
sentido, é esperado aumento na produtivida-
2. REVISÃO DA LITERATURA de, assim como na vantagem competitiva das
empresas que adotam essas tecnologias.
Esta seção está organizada da seguinte
Na perspectiva da criação de valor, a vi-
forma: na subseção 2.1 é realizada uma revi-
são é a de analisar o impacto da transforma-
são bibliográfica sobre o tema transformação
ção digital na cadeia de valor das empresas,
digital e na subseção 2.2 é feita uma verifica-
ou seja, compreende uma mudança das ativi-
ção da literatura sobre low-code, incluindo a
dades clássicas para as digitais nos negócios
sua motivação (subseção 2.2.1), a abordagem
(MATT et al., 2015). As mudanças estrutu-
(subseção 2.2.2) e as plataformas de desenvol-
rais, por sua vez, referem-se às mudanças
vimento low-code (subseção 2.2.3).
observadas na gestão de operações. Nesse
contexto, podem-se citar, por exemplo, as es-
2.1 Transformação digital tratégias de manufatura distribuídas. Essas
estratégias, conforme descrito por Savastano
A transformação digital, de um modo
(2019), têm o objetivo de tornar as cadeias de
geral, pode ser definida como um fenômeno
valor da manufatura mais próximas dos usuá-
social ou evolução cultural, e para as empre-
rios finais por meio de tecnologias, como, por
sas como uma evolução ou criação de modelo
exemplo, a impressão 3D.
de negócios (HENRIETTE et al., 2016). Nes-
se contexto, a transformação digital envolve Além disso, os aspectos financeiros for-
mam a dimensão principal da transformação

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digital, uma vez que esta é a responsável por da e contínua, bem como para a realização de
financiar essa mudança. Dessa forma, a di- teste e obtenção de aprendizado (SANCHIS,
mensão financeira pode viabilizar, limitar ou 2020). As abordagens que deram origem à
impossibilitar a transformação digital nas in- programação low-code foram as de desenvol-
dústrias (GHOBAKHLOO, 2019). vimento de software baseado em modelo, de-
senvolvimento de aplicação rápida, geração
automática de código e programação visual
2.2 Low-code (WASZKOWSKI, 2019; CABOT, 2020; PHI-
LIPPE et al., 2020).
2.2.1 Motivação Além disso, esse paradigma permite que
o desenvolvedor gaste menos tempo com co-
Com a crescente competitividade en- dificação e foque em questões de alto nível,
tre as empresas, a capacidade de mudança como funcionalidades, estética e experiência
e a resposta rápida são habilidades cada vez do usuário (WASZKOWSKI, 2019). Assim,
mais importantes para o sucesso de uma or- há um aumento na geração de valor e maiores
ganização. Assim, as ferramentas low-co- ganhos estratégicos para o negócio.
de passam a ser estratégicas, tendo em vis-
ta que elas proporcionam uma forma mais
rápida e econômica para implementação de 2.2.3 Pataformas de desenvolvimento
softwares na indústria (LOURENÇO; GOU- low-code
LÃO, 2018; WASZKOWSKI, 2019; PHILI- Uma Plataforma de Desenvolvimento
PPE et al., 2020). Além disso, o paradigma Low-Code (LCDP, do inglês Low-Code De-
low-code oferece a vantagem de requerer um velopment Platform) consiste em um con-
treinamento mais curto para habilitar novos junto de recursos para programadores e não
desenvolvedores (KHORRAM et al., 2020, programadores. Ela viabiliza a criação e a en-
SAHAY et al., 2020). trega rápida de aplicativos de negócios com o
mínimo de esforço para escrever em uma lin-
guagem de codificação. Além disso, requer o
2.2.2 A abordagem
mínimo de energia para instalação e configu-
Low-code é uma abordagem que aproxi- ração de ambientes, treinamento e implemen-
ma as equipes de negócio e processos da área tação (WASZKOWSKI, 2019; ALMONTE et
de Tecnologia da Informação (TI) e as envol- al., 2020; SAHINASLAN et al.; 2020).
ve no ciclo de vida da criação de aplicativos O principal objetivo das LCDPs é per-
(LOURENÇO; GOULÃO, 2018; KHOR- mitir que as empresas desenvolvam aplica-
RAM et al., 2020). Isso possibilita a obtenção tivos sem engenharia complexa, facilitando
de uma maior eficiência e redução de falhas sua configuração para alcançar rapidez e agi-
nos processos, uma vez que as partes com lidade (SANCHIS, 2020). Além disso, essas
maior conhecimento dos procedimentos têm soluções são baseadas na computação em nu-
participação ativa desde a etapa de concepção vem e podem ser classificadas como uma Pla-
até a fase de validação das soluções digitais. taforma como Serviço (PaaS, do inglês Pla-
O termo low-code foi usado, pela pri- tform-as-a-Service), que possuem padrões de
meira vez, no contexto da transformação di- arquitetura e design comprovados para ga-
gital, em 2014, pela Forrester Research, que rantir eficiência e eficácia em desenvolvimen-
afirma que as empresas preferem escolher al- to, implantação e manutenção de aplicações
ternativas de baixo código para entrega rápi- (SAHAY et al., 2020).

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Entre os principais benefícios apontados low-code os aplicativos possuem pouco có-


pelos especialistas, podem-se indicar: maior digo, há poucas demandas por manutenção
privacidade, rapidez, redução de custos, re- (OUTSYSTEMS, 2019).
dução da complexidade, manutenção fácil, Em virtude das interfaces simples e in-
envolvimento de perfis de negócio e mini- tuitivas oferecidas pelas LCDPs, nenhum
mização de requisitos instáveis ou inconsis- conhecimento avançado é necessário. Dessa
tentes (SANCHIS, 2020). Como os aplicati- forma, os usuários finais desses aplicativos
vos podem ser desenvolvidos por usuários se tornam, também, os seus desenvolvedores.
sem um conhecimento técnico avançado em Isso é vantajoso na medida em que eles pos-
programação, as empresas confiam em suas suem um conhecimento profundo sobre os
equipes e essas tarefas de desenvolvimento processos (WASZKOWSKI, 2019; KHOR-
não são terceirizadas. Consequentemente, há RAM, 2020).
um aumento da confidencialidade (OUTSYS- Finalmente, em decorrência dos outros
TEMS, 2019). benefícios já citados, há o ganho que consiste
Em razão da parte principal do código já na possibilidade de validar ideias e requisitos,
estar pronta, os usuários só precisam realizar antes de desperdiçar recursos em funcionali-
configurações visuais ou fazer alguns ajustes dades que não agregam valor para o processo
necessários. Com isso, tem-se uma redução no (RICHARDSON et al., 2016).
tempo total de desenvolvimento e uma maior
velocidade na disponibilização do aplicativo 2.2.3.1 Análise das plataformas
(OUTSYSTEMS, 2019; RICHARDSON et
al., 2016). Como o ciclo de desenvolvimento Foi feita uma comparação entre as prin-
é reduzido em termos de tempo, o custo da cipais plataformas low-code atuais (HENRI-
criação de aplicações também é minimizado QUES; AMARAL, 2018; SANCHIS et al.,
(RICHARDSON et al., 2014). 2019; WASZKOWSKI, 2019; ALMONTE et
al., 2020; KHORRAM et al., 2020; SAHAY
Ainda, como as aplicações não são cons-
et al., 2020). Essa análise verificou os pon-
truídas do zero, no ambiente low-code o de-
tos fortes e as limitações de cada serviço (Ta-
senvolvimento é simplificado e isso permite
bela 1). Assim, foi constatado que, em geral,
direcionar maior atenção para a personaliza-
as plataformas de maior destaque atualmente
ção do software para atender aos requisitos
têm priorizado recursos relacionados ao su-
dos usuários, o que contribui com a melhoria
porte de colaboração, integrações com outros
na experiência do usuário (SANCHIS, 2020).
serviços e gestão. Por outro lado, a principal
Outro ponto relevante é o da manutenção, já
limitação encontrada nesses serviços é o bai-
que esta é uma fase fundamental para adap-
xo suporte para a realização de testes.
tar-se rapidamente às necessidades emergen-
tes. Nesse sentido, como nas plataformas de

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Tabela 1 - Benchmarking das LCDPs

PLATAFORMA PONTOS FORTES LIMITAÇÕES

Integração de serviços baseados em nu- Licenciamento complicado; baixo supor-


vem; APIs personalizadas; suporte à po- te para desenvolvedores profissionais e
Power Apps
lítica de dados; suporte para colaboração; indisponibilidade de compartilhamento
automação de fluxo de trabalho. externo.

Boa experiência de usuário; escalabilidade; Poucos conectores externos; baixo suporte


OutSystems Analisador de desempenho; a estruturas de testes; indisponibilidade de
interoperabilidade. desenvolvimento off-line.

Suporte móvel off-line para qualquer dis-


positivo; gerenciamento ágil de projetos; Baixa integração com ERPs; inconsistên-
Mendix
suporte para colaboração; variedade de cias em novas versões; alto custo.
opções para implantação.

Escalabilidade;
Instabilidades em integrações com outros
SalesForce disponibilidade de ferramentas para testes;
serviços; maior nível de treinamento re-
Lightning suporte de alto nível para blockchain e IA; querido; baixo nível de automação.
gerenciamento amigável; serviço robusto.

Histórico de processo agregado; processa-


mento de eventos complexos; colaboração Personalização limitada; depuração demo-
Appian
simultânea; interfaces de usuário intuitivas; rada; baixo suporte para testes.
implantação instantânea.

Fonte: dos Autores

Conforme Khorram et al. (2020), a co- e mecanismos de autenticação relacionados


laboração é uma característica considerada (SAHAY et al., 2020).
em todas LCDPs. Isso acontece pelo fato de, Além disso, a gestão de processos é uma
normalmente, haver uma especialização no preocupação emergente das LCDPs, confor-
desenvolvimento de aplicativos, isto é, cada me observado por Waszkowsky (2019), San-
equipe foca em diferentes aspectos da aplica- chis et al. (2019), Sahay et al. (2020), Khor-
ção (HORVÁTH et al., 2020). Dessa forma, ram et al. (2020) e Horváth et al. (2020). As
isso justifica a importância dada a esse ponto, plataformas estão buscando inserir módulos
pelos fornecedores do serviço de low-code. específicos para gerenciar políticas organiza-
A disponibilidade de fácil integração cionais, fluxos de aprovação e demais proces-
com outros serviços também é um ponto for- sos integrados.
te das soluções low-code. Segundo Sanchis et E o baixo suporte para realização de tes-
al. (2019), aspectos como integração, intero- tes é uma limitação presente na maioria dos
perabilidade e comunicação são fundamen- serviços low-code. De acordo com Khorram
tais para facilitar a adoção deste paradigma. (2020), os testes compõem uma etapa essen-
Essas integrações podem ser feitas utilizan- cial para fornecer um maior nível de confian-
do Application Programming Interface (API) ça para o produto final. No entanto, as LCDPs

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ainda apresentam baixa maturidade para rea- dologia para implementação do low-code.
lização fácil e rápida desses testes. Na revisão bibliográfica, foram consulta-
das as bases de dados de trabalhos científicos
3. METODOLOGIA DE BUSCA Web of Science e Scopus. Inicialmente, foi
DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E feita uma busca pela palavra-chave “low-co-
DOS ESTUDOS DE CASO de”. Em seguida, essa pesquisa foi estendida,
utilizando as palavras-chave “application” e
Para a realização deste trabalho, foi rea- “process”, respectivamente. Essas palavras-
lizada uma revisão bibliográfica sobre o tema -chave foram buscadas no título, resumo e
de low-code, com o intuito de proceder com palavra-chave dos artigos no dia 30 de abril
uma análise do estado da arte. Em seguida, de 2021. E foi considerado todo período de
estudos de casos de implantação de tecnolo- busca, sem outros filtros. A Tabela 2 resume
gias low-code em empresas de médio e grande os resultados obtidos (ou seja, o número de
porte foram examinados. E assim, com base publicações) utilizando as palavras-chave de
nas pesquisas feitas, foi proposta uma meto- pesquisa definidas nas duas bases.

Tabela 2 - Número de publicações de acordo com a base de dados

“LOW-CODE”
“LOW-CODE”
BASE DE DADOS “LOW-CODE” AND “APPLICATION”
AND “APPLICATION”
AND “PROCESS”

Web of Science 485 91 26

Scopus 269 66 14

Fonte: dos Autores ([s.d.])

Conforme mostrado na Tabela 2, utili- A Figura 1 mostra a distribuição dos ar-


zando somente a palavra-chave “low-code”, tigos retornados na busca ao longo dos anos.
foram encontrados 485 e 269 artigos nas bases Conforme mostrado na Figura 1, as primei-
de dados Web of Science e Scopus, respecti- ras publicações que contêm as palavras-cha-
vamente. Adicionando o termo “application” ve buscadas ocorreram no ano de 2016. Além
na pesquisa, os resultados foram reduzidos disso, é possível notar uma tendência de cres-
para 91 na base Web of Science e 66 na Sco- cimento no número de publicações, com ápi-
pus. Finalmente, a palavra “process” também ce, no ano de 2020 (15 publicações no total).
foi inserida nessa busca e foram retornados Vale destacar que o ano de 2021 foi verifica-
26 artigos na primeira base e 14 na segunda, do até o mês de abril (período de busca das
totalizando 40 artigos. Os termos “applica- publicações).
tion” e “process” foram considerados na pes-
quisa em função da busca de trabalhos sobre
a aplicação do low-code em processos.

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Imagem 01 - Número de publicações por ano com uma linha de tendência

Fonte: dos Autores

Após a pesquisa, os artigos foram orde- Para o levantamento dos estudos de caso,
nados com base no número de citações e os foi utilizada a plataforma Featured Custo-
resultados foram salvos em planilha eletrôni- mers (https://www.featuredcustomers.com/).
ca Excel. Posteriormente, foi realizada leitura Esse site possui uma base de dados pública
dos resumos de cada publicação. Os artigos e gratuita, na qual há dezenas de estudos de
sem relação com os objetivos deste trabalho, caso reais referentes à utilização de soluções
ou seja, que não se relacionavam com os te- low-code, escritos por especialistas da área.
mas transformação digital e low-code no con- Dito isso, os filtros utilizados nessa busca de
texto da indústria, foram descartados, totali- estudos de casos foram:
zando 15 artigos. E os demais documentos fo- 1. Empresas de médio e grande porte.
ram lidos de forma integral, os quais somam 2. Utilização de uma das principais pla-
25 artigos e compõem o referencial teórico taformas low-code (isto é, Power Apps, Out-
deste estudo. Systems, Mendix, SalesForce Lightning ou
A partir do estudo bibliográfico realiza- Appian).
do, foram verificadas nas publicações sele- As empresas de pequeno porte não fo-
cionadas as principais vantagens da transfor- ram consideradas nesta busca, em razão da
mação digital utilizando tecnologias low-co- verificação de que essas empresas eram pre-
de. Esses benefícios foram registrados para dominantemente do setor de serviços e não
posterior análise qualitativa dos estudos de industrial (foco deste trabalho). A partir des-
caso onde essas ferramentas foram utilizadas. tes critérios, foram selecionados 30 estudos
Além disso, essas publicações auxiliaram na de caso. Esses documentos foram registrados
elaboração e proposta de uma metodologia de em uma planilha eletrônica Excel. Em segui-
implementação de aplicativos de negócio uti- da, foram feitas análises observando as van-
lizando a abordagem low-code. tagens do low-code levantadas na etapa ante-

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rior de revisão bibliográfica. cional à sua frequência correspondente. Esta


Além disso, com base na avaliação dos nuvem de palavras-chave foi gerada por meio
trabalhos científicos, foram mapeadas e con- do serviço on-line gratuito Mentimeter (ht-
solidadas as melhores práticas do uso de tec- tps://www.mentimeter.com/). Entre as mais
nologias low-code e foi proposta uma meto- citadas, estão: “low-code development”, “in-
dologia para a sua implementação, capaz de dustry 4.0”, “platform”, “low-code” e “digi-
apoiar o processo de transformação digital talization”. Isso indica que a abordagem low-
nas indústrias. -code vem sendo discutida como uma alter-
Finalmente, a Figura 2 apresenta, visu- nativa para a digitalização dos processos e
almente, as palavras-chave citadas nas publi- como uma solução viável para o contexto da
cações selecionadas, com tamanho propor- Indústria 4.0.

Imagem 02 - Nuvem de palavras-chave das publicações selecionadas

Fonte: dos Autores

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES de aplicativos de cinco a dez vezes. Ainda,


Sahinaslan et al. (2020) indicam que as pla-
taformas low-code reduzem de 50% a 90%
do tempo necessário para a realização de me-
4.1 Resultados e análise dos be- lhorias em aplicações digitais, se comparadas
nefícios do low-code com os métodos clássicos.
Com base na consulta bibliográfica do Também é uma vantagem frequente, na
referencial teórico, foram identificadas 12 análise realizada, o aumento da eficiência do
vantagens na utilização do low-code. Esse re- processo. Foi constatado que o tempo de exe-
sultado consta na Tabela 3. cução do processo foi otimizado, após a im-
Tabela 3 - Levantamento dos benefícios plantação da solução digital. Esse fato é res-
da utilização do low-code paldado por Waszkowski (2019) e Sahay et al.
(2020). Waszkowski (2019) ressalta que nas
BENEFÍCIO
aplicações low-code os processos são execu-
tados por ações. Essas ações são divididas em
Redução de custos
padrões que, por sua vez, são utilizados em
Redução no tempo total de desenvolvimento
de aplicativos todas as tarefas ou ações individualizadas.
Redução de erros nos processos da indústria Somado a isso, os serviços low-code permi-
Aumento no envolvimento de perfis de tem uma vasta integração de dados que ge-
negócios ram ganhos de eficiência.
Aumento de eficiência do processo Além disso, os relatos indicam a melho-
Melhoria da qualidade dos processos da ria da experiência do usuário como um bene-
indústria
fício do low-code. Essa melhoria também é
Aumento de flexibilidade
apoiada pelos estudos de Sanchis et al. (2019),
Entrega de insights em tempo real
Waszkowski (2019 e 2020), Khorram et al.
Maior privacidade
(2020); Sahay et al. (2020) e Sahinaslan et al.
Redução da complexidade
(2020). Conforme Sahinaslan et al. (2020), as
Manutenção ágil LCDPs oferecem diversos recursos de design
Melhoria na experiência do usuário que possibilitam aprimorar a experiência do
usuário. Ainda, de acordo com Sanchis et al.
Fonte: dos Autores (2019), essas soluções têm boa usabilidade e
são intuitivas.
Com a utilização de ferramentas low-co-
de, a escala de tempo para a digitalização de 4.2 Resultados e análise dos es-
processos foi reduzida de meses para semanas tudos de caso encontrados
ou dias, nos casos avaliados. Essa informa-
ção está de acordo com a literatura apresen-
tada por Henriques e Amaral (2018), Sanchis 4.2.1 Perfil das empresas
et al. (2019), Waszkowski (2019), Almonte et Conforme descrito anteriormente, foram
al. (2020), Khorram et al. (2020), Sahay et selecionados 30 estudos de caso em empresas
al. (2020), Sahinaslan et al. (2020) e Sanchis de médio e grande porte. A Figura 3 apresen-
et al. (2019), por exemplo, apontam que essa ta a distribuição dos estudos de caso por país.
abordagem pode acelerar o desenvolvimento Estados Unidos possui um maior número de

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estudos casos (cinco casos), seguido por Fran- Assim, percebe-se que as empresas
ça e Itália (três casos cada). Apenas um estu- que adotam o low-code, atualmente, es-
do de caso no Brasil foi verificado. tão localizadas, principalmente, em países
desenvolvidos.

Imagem 03 - Quantidade de estudos de caso por país

Fonte: dos Autores

A proporção de estudos de caso por setor sente em diversos setores da indústria, com
industrial pode ser vista na Figura 4. É possí- destaque para os de alimentos, de produtos de
vel verificar que o uso do low-code está pre- saúde, automóveis e químicos.

Imagem 04 - Proporção de estudos de caso por setor industrial

Fonte: dos Autores

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A quantidade de estudos de caso por recursos disponíveis para utilização de novas


porte de empresa é apresentada na Figura 5. tecnologias e, também, por terem o poten-
É possível observar que, atualmente, a maior cial de obter maiores resultados em razão da
parte das empresas que utilizam o low-code grande quantidade de processos e de dados
é de grande porte. Isso pode acontecer devi- gerados em suas operações industriais.
do ao fato dessas empresas possuírem mais
Imagem 05 - Quantidade de estudos de caso por porte

Fonte: dos Autores

4.2.2 Análise dos benefícios do low- processos (3%), maior privacidade (5%) e re-
code descritos nos estudos de caso dução de erros nos procedimentos operacio-
nais (5%). Tendo isso em vista, é importante
Na Figura 6 é apresentada a proporção alcançar um aumento percentual nesses be-
dos benefícios do low-code descritos nos es- nefícios menos observados, uma vez que eles
tudos de caso avaliados. Nessa linha, os be- são estratégicos para o desempenho das em-
nefícios mais recorrentes foram a redução no presas. Para isso, são necessários a expansão
tempo total de desenvolvimento de aplicativos dessa estratégia tecnológica na indústria e um
(14%), o aumento da eficiência do processo plano para divulgação interna dos resultados
(13%) e a melhoria na experiência do usuário obtidos com essa abordagem.
(13%). Em contrapartida, as vantagens menos
observadas foram melhoria da qualidade de

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Alves F, et al. e-TECH, Florianópolis, v. 15 n. 2 (2022)

Imagem 06 - Benefícios do low-code descritos nos estudos de caso

Fonte: dos Autores

4.2.3 Análise dos estudos de caso seus colaboradores se tornassem desenvol-


vedores cidadãos para aproveitar o conheci-
Entre os estudos de caso avaliados, vale mento e a experiência dos processos que eles
destacar os das empresas Toyota, Schneider possuem. Dessa forma, a companhia obteve
Electric e Amarodi. Nesses casos, houve uma como principais benefícios o aumento da agi-
adoção abrangente (em diversas áreas) do lidade, a redução de centenas de horas por ano
low-code como estratégia para maximizar e de centenas de milhares de folhas de papel.
a transformação digital em seus respectivos Isso permitiu uma economia de milhares de
processos industriais. Além disso, essas em- dólares em custos de tempo desperdiçado e
presas apresentaram grandes resultados com em custos de materiais. Ademais, para a con-
essa abordagem tecnológica. solidação do uso da tecnologia low-code, a
A empresa Toyota, do ramo automotivo, empresa está criando um processo de gover-
utilizou a plataforma Power Apps para me- nança para o controle de qualidade e suporte
lhorar a eficiência e acelerar a inovação na de novas aplicações.
companhia. No total, a empresa desenvolveu Para maximizar a agilidade e a eficiên-
mais de 400 aplicativos. Essas aplicações têm cia dos seus processos, a empresa Schneider
como principal objetivo solucionar as inefici- Electric, especializada em produtos e servi-
ências cotidianas e existem desde aplicativos ços para distribuição elétrica, controle e auto-
para equipes especializadas até os mais ge- mação, adotou a plataforma OutSystems para
rais. Nesse contexto, as principais caracterís- transformar o seu cenário de tecnologia. Nos
ticas dessas soluções são abrangência de im- primeiros 20 meses, foram desenvolvidos 60
pacto e velocidade de desenvolvimento. Esses novos aplicativos, sendo que a maioria das
aplicativos estão presentes em quase todas as aplicações foi concluída em 10 semanas. A
operações da Toyota: da gestão de recursos plataforma low-code foi selecionada para pre-
humanos até o gerenciamento de instalações. encher a lacuna entre as demandas da com-
Além disso, a empresa possibilitou que os panhia e os recursos de TI disponíveis. Vale

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destacar que os aplicativos criados se caracte- destacam-se os seguintes benefícios obtidos


rizam, sobretudo, pela consistência de experi- pela companhia com a adoção da solução
ência do usuário oferecida, assim como pela low-code: redução de milhares de papéis uti-
padronização dos processos. Nesse sentido, lizados por ano; redução de 466% do tempo
os principais resultados alcançados foram: a de espera no processo de manutenção; e me-
redução do tempo de desenvolvimento pela lhoria na conformidade regulamentar. Dessa
metade, alcançando economia de 650 dias, forma, a empresa alcançou maior agilidade
no primeiro ano; e o aumento de eficiência em seus processos. Como próximo passo,
em diversas áreas, como na cadeia de supri- a organização espera ampliar e intensificar
mentos, gerenciamento de manufatura, entre o uso de aplicações low-code nos próximos
outras. Adicionalmente à implantação da so- anos.
lução low-code foi criado um centro de exce-
lência para oferecer suporte em todo o ciclo
de vida de cada iniciativa.
5. PROPOSTA DE METODOLO-
GIA PARA IMPLEMENTAÇÃO
A empresa Amarodi, indústria alimentí- DO LOW-CODE
cia, utilizou a plataforma Appian para sim-
plificar o trabalho para todos os seus colabo- A proposta de implementação do low-
radores e reduzir o trabalho manual. Nesse -code é apresentada na Figura 7. Essa meto-
contexto, a organização utilizou a plataforma dologia foi construída após análise de artigos
para criar aplicações com gestão de dados, para desenvolvimento do estado da arte sobre
acesso e confiabilidade aprimorados. Esses low-code. Essa sistematização é respaldada
aplicativos foram implantados em diversas pela ausência de uma referência consolidada,
áreas, como produção, qualidade e logística. na literatura, para implementação de soluções
Entre as aplicações desenvolvidas, vale men- low-code no contexto da indústria. Nesse sen-
cionar a de gestão da inovação do produto: tido, espera-se contribuir com o preenchi-
um aplicativo utilizado pelas equipes de pro- mento dessa lacuna de conhecimento.
dução, pesquisa e marketing para gerenciar
o ciclo de vida dos produtos. Nesse cenário,

Imagem 07 - Metodologia de Implementação da Abordagem Low-Code

Fonte: dos Autores

Na fase de análise do processo, é feito -code. Assim, esta etapa é crucial para se ob-
um mapeamento de todas as etapas que o ter sucesso nas etapas seguintes.
constituem e é realizado um levantamento Já a fase de modelagem de dados é a pri-
dos requisitos e funcionalidades da aplicação meira etapa operacional da abordagem low-
(JANUÁRIO, 2020). A partir dessa análise é -code. Neste momento, o usuário cria as enti-
avaliada, também, a viabilidade de digitaliza- dades, estabelece os relacionamentos, define
ção do processo utilizando a tecnologia low- as restrições e as dependências. Todas essas

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ações são geralmente feitas por meio de re- integrações estão disponíveis e o seu respec-
cursos de arrastar e soltar (SAHAY et al., tivo modo de configuração.
2020). Finalmente, com a conclusão das etapas
A etapa de desenho de interfaces, por de desenvolvimento, o aplicativo pode ser pu-
sua vez, é destinada para a elaboração visu- blicado e compartilhado com os usuários fi-
al das telas que irão compor o aplicativo. As nais (etapa de disponibilização). Na maioria
plataformas low-code são caracterizadas pela das plataformas low-code, a visualização e
sua compatibilidade com a criatividade em a disponibilização do aplicativo podem ser
geral. Dessa forma, como há uma economia feitas com poucos cliques (HENRIQUES;
de tempo com codificação pesada, pode-se AMARAL, 2018; HORVÁTH et al., 2020).
dedicar mais tempo na etapa de desenho (AL-
MONTE et al., 2020; CABOT, 2020). Assim,
as LCDPs possibilitam um aumento na perso-
6. CONCLUSÕES
nalização das aplicações e, consequentemen-
O cenário industrial atual é caracteriza-
te, uma melhor experiência do usuário.
do pela busca constante, por parte das em-
A partir do desenvolvimento low-code, presas, da transformação digital, com vistas
é possível obter benefícios da metodologia a aproximar-se cada vez mais da Indústria
ágil. Ou seja, com a conclusão das três eta- 4.0 e aumentar a competitividade. No entan-
pas iniciais, pode-se liberar um Menor Pro- to, essa mudança impõe alguns desafios. En-
duto Viável (MVP, do inglês Minimum Via- tre outros, podem-se destacar a baixa oferta
ble Product). O paradigma low-code permite de programadores avançados no mercado e a
uma experiência de desenvolvimento rápido, baixa velocidade da criação de soluções tec-
na qual o desenvolvedor consegue visualizar nológicas utilizando abordagens clássicas.
o resultado final durante o desenvolvimento Dessa forma, a abordagem low-code surge
(WYSIWYG, do inglês What-You-See-Is- como uma alternativa para fazer frente a es-
-What-You-Get), que suporta o lançamento ses obstáculos.
rápido de novas versões (OLATUNJI, 2021).
O estudo efetuado mostrou que a redu-
Após a validação do MVP, as regras de ção no tempo total de desenvolvimento de
negócios, definidas na etapa inicial de análise aplicações é o maior benefício (14%) percebi-
do processo, são implementadas. Essa imple- do pelas empresas que utilizam ferramentas
mentação é feita utilizando funções de sin- low-code para digitalizar os seus processos.
taxe simples e de fácil compreensão (SAN- Ainda, foi possível verificar que a maior par-
CHIS, 2020). te das indústrias que adotam esse paradigma
Além disso, as plataformas low-code como facilitador da transformação digital é
também permitem a integração de serviços de grande porte.
externos por meio de uma interface de pro- Além disso, na revisão da literatura da
gramação de aplicações (API, do inglês Appli- área, não foi encontrada uma metodologia
cation Programming Interface) de terceiros. robusta de como implementar soluções low-
Assim, as plataformas fornecem meios para -code na indústria. Assim, foi feita uma con-
consumir serviços e dados de diferentes sis- solidação das melhores práticas e proposta
temas (KHORRAM et al., 2020; SAHAY et uma referência para utilização dessas tecno-
al., 2020). Consultando a documentação do logias. Com isso, espera-se contribuir com
serviço utilizado, podem-se verificar quais uma melhor compressão da abordagem low-

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-code no contexto da transformação digital CABOT, J. Positioning of the low-code mo-


da indústria. vement within the field of model-driven engi-
A partir da revisão bibliográfica de pu- neering. In: Proceedings of the 23rd ACM/
blicações científicas da área e da avaliação IEEE International Conference on Model
de estudos de caso reais, foi possível alcançar Driven Engineering Languages and Sys-
o objetivo proposto neste estudo: analisar a tems: Companion Proceedings. p. 1-3, 2020.
transformação digital de indústrias por meio FRANK, A. G. et al. Servitization and Indus-
da abordagem low-code e sugerir uma meto- try 4.0 convergence in the digital transforma-
dologia para a sua implementação. Para pes- tion of product firms: A business model inno-
quisas futuras, sugere-se investigar a aborda- vation perspective. Technological Forecas-
gem low-code como alternativa para as em- ting and Social Change, v. 141, p. 341-351,
presas de pequeno porte, uma vez que essas 2019.
organizações não foram incluídas neste traba-
lho. Tendo em vista o potencial desse modelo GHOBAKHLOO, M.; FATHI, M. Corporate
para acelerar a transformação digital e a li- survival in Industry 4.0 era: the enabling role
mitação de recursos das pequenas empresas, of lean-digitized manufacturing. Journal of
o low-code é uma oportunidade interessante Manufacturing Technology Management,
para apoiar a evolução tecnológica dessas or- 2019.
ganizações. Ademais, são necessários mais
GÖKALP, E.; ŞENER, U.; EREN, P. E. De-
estudos para avaliar e validar a metodologia
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proposta neste trabalho.
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