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Lenda do Negrinho do Pastoreio

Adaptação do Livro “Lendas Brasileiras”


Prof. Sérgio Campos

Autor: Luís da Câmara Cascudo


Elenco de personagens

Negrinho do Pastoreio:
Fazendeiro:
Vizinho:
Narrador:
Cavalo Mouro:
Filho do Fazendeiro:
Capataz:
Pobre:
Ovelha: Isadora

Cena
Espaço Cênico simulando uma fazenda.

Época
Em uma época do Século passado.

ATO I
Cena 1

NARRADOR
Há muito muito tempo atrás, Numa época em que os animais andavam
livremente pelos pastos, e sabiam exatamente onde se alimentar. Havia um
sujeito fazendeiro muito bravo, de pouca conversa e que não tratava as
pessoas de forma correta.

POBRE
Senhor!! – Tem um trabalho para mim? Estou com fome!!
(Com a fisionomia triste)

FAZENDEIRO
Não tem nada para você aqui e nem de comer, suma daqui!!
(Com a cara de bravo)

NARRADOR
Não gostava de emprestar nada a ninguém, não oferecia pousada a
outras pessoas. Quando outras pessoas trabalhavam para ele, só oferecia
coisas poucas a eles.
Na fazenda com ele, moravam mais três pessoas, o seu capataz, um
filho e um pequeno escravo que era muito escuro e franzino. Era somente
conhecido como negrinho. Pois não tinha família e nem nome, ele adotou a
Virgem Maria como protetora e madrinha. O fazendeiro tinha um cavalo que
era de estimação o Baio Sete-Léguas.
Um belo dia, o fazendeiro foi desafiado pelo seu vizinho uma corrida
do seu cavalo Mouro contra o Sete-Léguas qual era o mais rápido.

VIZINHO
Vamos apostar sim 30 mil! Quem perder deve pagar aos pobres.

FAZENDEIRO
Não!! Quem ganhar leva todo o dinheiro!!
(Os dois concordam com aperto de mãos)

NARRADOR
Chegado o dia, várias pessoas estavam presentes para assistir a
corrida. A certa hora da corrida, o negrinho preocupado com a corrida,
começou a falar consigo mesmo:

NEGRINHO DO PASTOREIO
Minha nossa senhora!! – Se o cavalo Baio perder, o meu patrão me
matar.
(Com as mãos na cabeça e cara de preocupado)
NARRADOR
Já nos instantes finais da corrida, os cavalos correndo lado a lado
quando de repente o baio deu uma freada e o outro cavalo passou a frente
ganhando a corrida.
(O cavalo Baio dá uma freada e o Cavalo Mouro passa à frente)

Então o fazendeiro contestou a vitória do outro cavalo falando que


algo estava errado, mas o juiz deu a sentença final e o outro cavalo ganhou
mesmo.

JUIZ
Não vi nada de errado!! Portanto vitória do Cavalo Mouro!!

O fazendeiro pagou a aposta (Cara de bravo e entrega o dinheiro em uma


sacola) e foi embora para a fazenda muito nervoso. Chegando na fazenda,
mandou pendurar o negrinho pelos pulsos e em seguida mandou dar uma
surra de chicote. De madrugada o fazendeiro pegou o negrinho e levou a um
ponto longe da casa da fazenda e assim disse:

FAZENDEIRO
Tu me fizeste perder muito dinheiro na corrida, tu ficarás aqui 30 dias
pastoreando os meus cavalos e gados. Esse baio me deu prejuízo, ele ficará
aqui também.
NARRADOR
O negrinho começou a chorar, ficando o inteiro até a noite. Cansou
tanto que até dormiu encostado em um cupim. Depois de um tempo, ele
acordou assustado e começou a pensar na Nossa Senhora novamente e
sossegou. Voltou a dormir rapidamente.
Mais pro meio da noite, o negrinho acordou assustado com um
barulho infernal, quando percebeu, todos os animais tinham saído correndo
do pasto, não deu tempo de capturar. Depois disso começou a chorar
novamente. Foi até o fazendeiro e disse:

NEGRINHO DO PASTOREIO
Senhor, os cavalos e os gados se perderam e desapareceram do pasto.
Não pude fazer nada!

FAZENDEIRO
Não acredito!! Peões... peguem esse negrinho e deem uma surra de
chicote até ele parar de chorar.
(Os peões começam a bater nele)

CAPATAZ
Quanto mais você gritar, mais você vai apanhar da gente!!

NARRADOR
Depois de apanhar bastante, o fazendeiro ordenou ele ir procurar nos
campos os cavalos e os gados que estavam perdidos, foi até a casinha dele e
catou uma vela e caminhando, pensou na sua madrinha a Nossa Senhora. Por
onde ele passava, a vela ia pingando cera no chão e clareando o caminho.
Logo adiante, viu todos os cavalos e os gados deitados no pasto. Montou no
cavalo baio e trouxe todos eles de volta para a fazenda.
Assim que clareou o dia, acordou assustado com o barulho infernal
dos animais pois o filho do fazendeiro tinha havia enxotado todos os cavalos
que saíram em disparada e foram para longe.

FILHO DO FAZENDEIRO
Ahahahaha, quero ver esse negrinho apanhar de novo!! – Ahahahaha.

NARRADOR
O fazendeiro mandou novamente amarrar o negrinho e bater nele até
não aguentar mais.
(Os peões começam a bater nele novamente)

Supostamente parecia que ele havia morrido, então o fazendeiro


mandou os peões colocarem o corpo dele em uma panela de formigueiro
para as formigas devorarem. E assim as formigas cobriram todo o seu corpo.
Fazendeiro deu as costas e foi embora.

NARRADOR
Durante três dias, o fazendeiro sonhou que tinha mil vezes o negrinho,
mil filhos negrinhos, mil cavalos baios e todo o gado que ele tinha. Os peões
verificaram por dias e não acharam nenhum rastro dos cavalos e dos gados.
No outro dia quando o fazendeiro chegou perto do formigueiro, para o
seu espanto, viu o negrinho em pé em cima do formigueiro sacudindo as
formigas do corpo totalmente sarado e curado. Os gados e os cavalos
estavam perto dele. O fazendeiro viu a Virgem Maria e arrependido, caiu de
joelhos diante do pequeno negrinho. E então o negrinho montou no cavalo
baio e saiu em disparada.
Logo os dias se passaram e a notícia de que o negrinho havia morrido
devorado pelas formigas e que milagrosamente ele voltou a vida. Durante
dias, várias pessoas passaram pela região ouvindo essas histórias. Algumas
delas juravam ter visto o negrinho montado no cavalo baio correndo junto
com os gados e os cavalos.
Muitas pessoas acenderam velas e rezaram o Pai-Nosso pela alma
dele, daí qualquer pessoa cristã que perdesse alguma coisa, o negrinho
procurava e achava, desde que acendesse uma vela para que ele levasse a luz
para o altar da Nossa Senhora que o salvou e lhe deu gado e cavalos para
pastorear.
Um detalhe interessante a todos: é que todos os anos durante três dias,
o negrinho desaparece, e no amanhecer do terceiro dia, o negrinho aparece
montado no cavalo baio e desaparece junto com os outros cavalos e gados.
Para finalizar essa lenda, o negrinho do pastoreio continua procurando
animais perdidos de quem perdeu, desde que acenda uma vela para ele
procurar os que estão perdidos.

FIM

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