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A tradição

dos conhecimentos
ocultos

- .- - --
edições
de1 :-"rado
Para Aquele que tem o seu Nome

Direção editorial da Série


Ángel Lucía e Juan María Martínez

Coordenação editorial da Série


Carlos Ponce e Juan Ramón Azaola

Direção técnica da Série


Eduardo Peiíalba

Coordenação técnica da Série


Rolando Dias

Edição
Luis G. Martín, Íiíigo Castro e Lourdes Lucía

Fotogra$as e documentação grafica


José María Sáenz Almeida, Ma José García, Juan García Costoso e Nano Caiías.
Texto
Z'ev ben Shimon Halevi

Versão Castelhana
Maria José García Ripoll
Versão Brasileira: GVS

E rigorosamente proibida, sem a autorização escrita dos titulares do Copyright, sob pena de se incor-
rer nas sanções estabelecidas pelas leis, a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio
ou processo, incluindo a reprografia e o tratamento informático, bem como a distribuição de exem-
plares da mesma através de aluguel ou empréstimo público.

Publicado de acordo com Thames and Hudson, Londres.


Título Original: Kabbalah
Editor Geral da série: Jill Purce
O Warren Kenton, 1979
O Da versão catelhana: Editorial Debate S.A.,
O Desta edição, Edições de1 Prado, S.A.
Cea Bermúdez, 39 6"
28003 Madrid

I.S.B.N.: 84-7838-785-4
Depósito Legal: M. 39524- 1996
Impresso em Espanha
Impresso por: Gráficas Almudena, Janeiro 1997

As responsabilidades por qualquer discontinuidade das coleções serão única e exclusivamente


do editor, sendo a Distribuidora uma mera prestadora de serviços. O editor reserva-se
o direito de modificar o preço de venda o repertorio e a periodicidade si as circunstancias do mercado
assim chegarem a existir.

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Femando Chinaglia Distribuidora, S.A.
Rua Teodoro da Silva, 907
Río de Janeiro

Distribuição para Portugal:


Midesa, Rua Dr. Espírito Santo.
Lote 1A. 1900 Lisboa
Sumário

Prefácio
Manifestação
Os Quatro Mundos
Adão
Anatomia
A Busca
O Adestramento
O Trabalho de Unificação
O Trabalho de Criação
A Consecução

TEMAS

As formas mutáveis da cabala


Visões de Eternidade
Os quatro níveis de existência
Sistemas alternativos
Anjos e demônios
A cabala cristã e oculta
Os milagres e a magia
Os métodos cabalísticos: a ação
Os métodos cabalísticos: a devoção
Os métodos cabalísticos: a contemplação
A morte, o renascimento, o destino
Mestres e Messias
A ascensão interior
O trabalho de unificação
O fim dos dias

BIBLIOGRAFIA E AGRADECIMENTOS
Prefácio A cabala é o aspecto interior e místico do judaismo. É o perene
Ensinamento dos Atributos do Divino, da natureza do universo e do
destino do homem, em termos judaicos. Transmitida por revelação,foi
manejada durante séculos mediante uma discreta tradição, que variou
Diz o rabino Ismael: "Todos periodicamente sua dimensão mitológica e metaflsica, segundo as
os cumpanheiros (os necessidades dos diferentes lugares e épocas. Esta longa história,
iriiciados) n coniparam a uni extensamente difundida, dotou a cabala de uma notável riqueza e de
Iir~memque tiipesse uma uma grande variedade de imagens da realidade, que perante os olhos
escada no nwio de sua casa. dos desconhecedores podem parecer bastante estranhas, obscuras e
rrtruvés da qual pudesse subir por vezes até contraditórias ou perversas.
e descer sem que niiiguém o
Ntlpedisse. Lnuvado sejas.
Esta exposição apresenta um sistema cabalístico determinado,
Senhor; Tu que cunheces visando a unijicar e clarijicar um caleidoscópio de diferentespontos de
todos os segredos e és o vista e de práticas extraídas tanto de fontes antigas como modernas.
Serrhor rhs cr~isasc>culias." Devemos por fim esclarecer que, segundo uma estrita regra cabalísti-
(Pirke Hekalot. Babil6nia, ca, a exposição representa a compreensão humana de uma tradição
.século VI.j viva tal como existe no mundo atual.
Londres, outono de 1978/5738

A Árvore da Vida
Manifestação Deus é Deus. Nada existe que se possa comparar a Deus. Deus é Deus.
Na cabala, o Deus Transcedental se chama AYIN. AYIN significa em
hebraico "nada", pois Deus está além da Existência. AYIN não está abaixo
nem acima; nem é movimento ou imobilidade. AYIN não está em lugar
nenhum. Deus é o Nada Absoluto.
AYIN SOF significa "Sem Fim". Este é o nome de Deus que está em
toda parte. AYIN SOF é o Um em relação ao Zero de AYIN. É a totalidade
do que existe e do que não existe. AYIN SOF é o Deus Iminente, o Todo
Absoluto. AYIN SOF não tem atributos, porque estes só podem manifestar-
se no interior da existência, e a existência, é finita.
A tradição oral da cabala afirma que a razão da existência é que "Deus
~i~~~ os ensinamentos:o ~i~~ do desejava contemplar Deus". Houve, pois, previamente uma não-existência
Oculto é O livro que descreve aquilo na qual, segundo a tradição escrita, "o Rosto não contemplava o Rosto".
que é pesado na Balança; porque Num ato de vontade totalmente livre, Deus extraíu de seu lugar O Todo
antes existiu uma Balança ( o Absoluto, AYIN SOF, para permitir que aparecesse um vazio em que
Universo). O Rosto
contemplava o Rosto.
pudesse manifestar-se o espelho da existência. A este ato de "Zimzum", ou
(Zohar, Espanha, século XIII). contradição, diz o ditado rabínico, "o lugar de Deus é o mundo, mas o
mundo não é o lugar de Deus".
Este ato divino se visualiza simbolicamente como segue: de AYIN SOF
OR, a Luz Infinita que rodeia o vazio, emanou um raio de luz que penetrou
da a periferia até o centro. Este, o Kav, ou raio da Divina Vontade, se mani-
festou em dez etapas diferentes de Emanação. Assim refere também outra
máxima rabínica: o mundo adquiriu vida através de Dez Palavras Divinas.
Desde a Idade Média, estas dez etapas se conhecem como as "Sefirot". A
palavra "Sefirah" (sua forma singular) não tem equivalente em nenhuma
outra linguagem, embora por sua raiz esteja aparentada com as palavras
"cifra" (isto é, número) e "safira". Alguns viram nas Sefirot os Poderes ou
Barcos Divinos; outros os vêem como os instrumentos ou ferramentas divi-
nas do Governo Divino. Os místicos descreveram-nas como as dez Faces,
as dez Mãos ou mesmo as dez túnicas de Deus. Todos coincidem, no entan-
to, em considerar que as Sefirot expressam os Atributos Divinos, os quais,
desde o primeiro momento da Emanação, são eternamente mantidos numa
série de relações até que por vontade divina voltem ao Nada, fundindo-se
de novo no Vazio.
As relações entre as Sefirot regem-se por três princípios divinos não
manifestos: os "Esplendores Ocultos" (Zahzahot): a Vontade Primordial,
a Misericórdia e o Rigor (ou Justiça). A Vontade mantém o equilíbrio,
enquanto que a Misericórdia espande e o rigor contrai, relativamente ao
fluxo da Emanação, e desta maneira organizam os dez Atributos Divinos
segundo um arquétipo específico. A pauta assim estabelecida é o mode-
lo no qual se baseia tudo aquilo que for chamado a se manifestar.
Denominou-se a Imagem de Deus, mas é geralmente conhecida como
AYIN NADA ABSOLUTO Árvore da Vida. Cada Sefirah se manifesta por sua vez sob a influência
AY IN SOF TODO ABSOLUTO de uma das Zahzahot em particular. Assim, o fluxo que manifestam as
AYIN SOF KETER COROA LUZ INFINITA dez Sefirot pode ser visualizado como o movimento em zig-zag do "Raio
/íói&JSABEa Relampejante" a partir de sua posição central (Equilíbrio) para a direita
I
BINAH ENTENDIMENTO'
\
HESED M ~ S E R I C ~ R O ~ A
GEVURAH SEVERIDADE
(Expansão), e transversalmente para a esquerda (Contração). Assim, as
Zahzahot conformam as três linhas verticais do diagrama da Árvore da
TIFERET BELEZA Vida, conhecidas como os Pilares: o do Equilíbrio (Graça, Vontade) ao
NEZAH ETERNIDADE centro; o da Misericórdia (Força ativa, Expansão) à direita e a
HOD REVERBERAÇÁO Severidade (Forma passiva, Contração) à esquerda. As relações expostas
YESOD FUNDAMENTO
MALKHUT REINO
na Árvore servem de base à totalidade da existência; assim, as proprie-
LINHA DE LUZ dades das Sefirot podem ser consideradas em termos de qualquer ramo
do saber. Assim, enquanto sua definição básica é a de Atributos de Deus,
podem ser definidas em termos de experiência humana, porque nós tam-
V A Z I O
bém somos moldados à Imagem de Deus. Este método antropomórfico é
comum à cabala e a outros credos, e se aplica livremente como lingua-
gem simbólica a partes da metafísica que não podem ser explicadas por
abstrações puras.
A primeira manifestação A primeira Sefirah, no limite do Vazio, chama-se em hebraico Keter, a
Coroa. Esta manifestação contém tudo o que foi, o que é e o que será. É o
lugar da primeira emanação e do último retorno. Sua natureza de Atributo
Divino se expressa pelo Nome de Deus, tradicionalmente vinculado a ela
EU SOU O QUE SOU. Desde este ponto de equilíbrio, o raio de luz se
espande, sob a influência da Misericórdia, da Força e da Expansão, para
manifestar a segunda Sefirah, a Hokhmah, a Sabedoria. Esta, no espírito
divino e humano, é o intelecto interior e ativo, experimentado pelos seres
humanos como o despertar do gênio, a inspiração ou a revelação. Seu con-
trapeso, pelo lado da Severidade, Forma e Contração, é a terceira Sefirah,
Binah, ou o Entendimento: este é o intelecto em sua capacidade passiva,
receptiva e reflexiva. Em termos humanos, se manifesta através da razão e
da tradição.
Após deixar Binah, que inicia o Pilar da Severidade, o raio atinge o Pilar
do Equilíbrio, que está sob Keter, a Coroa. Este ponto de Equilíbrio na
Árvore é cmcial: é o lugar de Ruah ha Kodesh, o Espírito Santo, suspenso
como um véu sob as três Sefirot supremas. Permanece invisível, mas tem
seu lugar no interior da Manifestação, representada na Árvore pela "não-
Sefirah de Daat, o Conhecimento. Diz-se que aqui é onde o Absoluto pode
introduzir a sua vontade para intervir diretamente na existência, que agora
é mantida eternamente, até que a Vontade Divina o permita desvanecer-se
Dez Sefirot procedentes do como imagem que é. Em termos humanos, Daat é o Conhecimento que
Nada De; niio nove. Dez,
não onze. Entendei isto na
surge do nada e emana diretamente de Deus. É totalmente diferente da reve-
Sabedoria e na Sabedoria lação da Sabedoria (Hokhmah); Daat não apenas se vê, como também se
entendei-o. Examinai-o e sabe. É diferente também daquele que procede do Entendimento (Binah) ou
medita; sobre seu da meditação profunda: Daat, filha das Sefirot supremas, não é apenas
significado, com o fim de observação, como também futuro.
devolver o Criador o Seu
Trono. (Sepher Yezirah,
Sob Daat, o Raio passa para o Pilar da Misericórdia (Expansão) e
Babilônia, século VI). volta ao Pilar da Severidade (Contração), definindo duas Sefirot como
aquelas que regem o nível de emoção como diferente do intelecto supre-
mo. O Atributo da emoção ativa ou interna é Hesed, a Misericórdia; o da
emoção passiva ou externa é Gevurah, a Justiça. As duas Sefirot têm
outros nomes hebraicos e outras traduções equivalentes, mas todos são
inadequados para explicar os Atributos; os utilizados aqui apenas se
aproximam dos princípios Divinos ativo e passivo que implicam. Em
nós, estas qualidades aparecem como tendências complementares, por
VONTADE um lado, (o lado Hesed), ao amor, à tolerância e à generosidade, e por
n outro lado, (o lado Gevurah), à disciplina, ao rigor e à discriminação.
PASSIVO
( ATIVO
Neste nível, o emocional, o procedimento de se opor aos princípios sefi-
róticos e os perigos de ir muito longe em uma ou em outra direção se tor-
BINAH
ENTENDI-
nam parte da experiência cotidiana: a Justiça e a Misericórdia subjazem
sob toda a transação humana, desde uma conferência de cúpula, até a
,,- -. escolha de um presente de aniversário.
I DAAT %
! CONHF*II-! O Raio Relampejante, após passar do princípio expansivo de Hesed ao
MENTO
princípio constritivo de Gevurah, volta agora para um nível inferior, ao
Pilar do Equilíbrio. Aqui se manifesta a Sefirah central de Tiferet, a Beleza
ou o Adorno. Esta reside no coração da Árvore e está diretamente relacio-
nada com todas as Sefirot dos Pilares da severidade e da Misericórdia.
Sempre que o diagrama da Árvore se aplique - da maneira que se possa
aplicar - à dinâmica de qualquer organismo ou sistema, em Tiferet é onde
se encontra a essência da coisa. Na Árvore Divina, Tiferet é o Coração dos
Corações. Junto com as Sefirot emocionais de Hesed e de Gevurah, forma
a tríade da alma Divina; junto com as Sefirot superiores de Hokmah e de
Binah, forma a grande tríade do espírito Divino, no meio do qual está
supenso o Ruah ha Kodesh. Na psique humana, Tiferet é o Eu, o centro do
indivíduo, subjacente ao ego cotidiano: o "Vigilante" que canaliza as
influências profundamente inconscientes da Misericórdia e da Justiça
(Hesed e Gevurah), da Sabedoria e do Entendimento (Hokhmah e Binah).

O
MALKHUT
REINO

O Raio Relampejante
Sob Tiferet, o Raio Relampejante manifesta outros dois Atributos com-
plementares, os últimos sob os Pilares da Misericórdia e da Severidade. No
lado ativo e expansivo está Nezah, a eternidade, e no passivo e constritivo
está Hod, a reverberação. Tradicionalmnte, os nomes hebraicos destes
Atributos se traduziam por Vitória e Esplendor; mas sua atuação como
Sefirot se expressa melhor pelos nomes utilizados aqui, que correspondem,
da mesma maneira que aqueles, às raízes hebraicas. Pertencem ao nível de
ação operativa e instrumental na estrutura da Árvore; correspondem tradi-
cionalmente, em termos divinos, aos papéis (expansivo e constritivo) das
Hostes de Deus, enviadas para cumprir a Divina Vontade. Em termos huma-
nos, representam os processos vitais psíquicos e biológicos, sejam ativos,
instintivos ou impulsivos (Nezah, a Eternidade), ou passivos, cognitivos ou
controlados (Hod, a Reverberação).
No Pilar do Equilíbrio, no meio e abaixo destas duas Sefirot práticas,
encontra-se Yesod, o Fundamento. Como todas as Sefirot da sequência,
contém tudo o que houve antes; portanto, trata-se de um Atributo com-
plexo com numerosas qualidades. Em primeiro lugar, é generativo: a par-
tir deste ponto, conforme veremos, se manifestam outras Árvores. Em
segundo lugar, é reflexivo: aqui, diretamente sob Tiferet, se pode perce-
ber uma "imagem da imagem" e a Árvore se vê a si mesma; Yesod é o
espelho dentro do Espelho. Estas duas funções complementares signifi-
cam que sua constituição (ou Fundamento) deve ser clara e sólida; daí o
significado interno de pureza sexual associado a esta Sefirah. Sobre nós,
se manifesta como o ego, o posicionamento inferior da consciência, em
que nos vemos a nós mesmos, que projeta a pessoa vista pelos outros e
que pode refletir ou não (segundo nosso estado de equilíbrio e de auto-
conhecimento) a verdadeira personalidade do eu na Tiferet. Grande parte
de nossa percepção do mundo, e grande parte de nosso cumprimento da
Vontade tem lugar na Yesod.
A Sefirah inferior, o complemento de Keter, a Coroa, é Malkhut, o
Reino. Nela se enraiza o Divino Raio Relampejante. Constitui a Shekhinah,
Que círvore é esta de que a Presença de Deus na matéria. Sua natureza é quádrupla e encerra os qua-
falas? Todos os Poderes tro níveis inerentes à Árvore como um todo (a raiz, o tronco, os ramos e os
Divinos rstrio dispostos numa frutos da Árvore, conforme cresce no interior da existência; ou a Vontade,
série de rstatos conio os de
uma Nnlore, e corno uma a Mente, o Coração e o Corpo do Divino). Sobre nós, os quatro níveis de
árvore. dão fruto quando é Malkhut aparecem como o corpo, com seus quatro elementos tradicionais:
regada; o mesmo acontece terra, água, ar e fogo: os sólidos, os líquidos, os gasosos e as radiações cujas
com os Poderes Divinos interações nos mantêm vivos.
quando recebem a água de E assim temos o esquema geral das Sefirot. Três estão alinhadas no
Deus. (Livro de Bahir,
Provença, século XII). Pilar direito ativo da Misericórdia; três no Pilar esquerdo passivo da
Severidade; e quatro (mais a não-Sefirah, Daat) no Pilar central do
Equilíbrio ou da Graça. Suas interrelações, estabelecidas pelo Raio
Relampejante, são verificadas por um total de vinte e dois caminhos, que
por sua vez formam um sistema de configurações triangulares ou tríades,
ativas à direita e passivas à esquerda; as tríades horizontais e centrais, que
unem os três Pilares, estão diretamente relacionadas com a consciência.
O esquema aparece na página 40.
De tudo o que foi dito, se depreende uma configuração metafísica e
mitológica mais sutil. Mais à frente neste volume tratam-se várias etapas no
estudo das diferentes constelações das Sefirot, e da minuciosa dinâmica
pela qual cada Sefirah, como um fluxo reciprocamente impartido e refleti-
do, avança pelos caminhos para atuar sobre a Árvore em miniatura que
constitui cada Sefirah.

Os quatro mundos A Árvore da Vida, tal como assume existência pela primeira vez, cons-
titui um Mundo Divino de Emanação (Azilut ou Proximidade): uma con-
figuração perfeita dos Atributos Divinos. Toda a dinâmica e todas as leis
inerentes ao Mundo de Azilut são completas, exceto que nada tenha acon-
tecido e nada acontecerá, a menos que haja movimento no tempo e no
espaço. Nada existe, porém, porque Azilut ainda está no estado da
Vontade pura. Poderia ter permanecido eternamente só nesta prístina con-
dição se Deus não tivesse desejado o princípio dos Dias, o início da
Criação, numa sequência de grandes ciclos cósmicos ou Eras (Shemittot)
em que a presença divina se manifestaria no espaço, desde o mais alto do
firmamento até à mais minúscula das partículas, e no tempo, desde a
Eternidade, até o menor dos instantes do Agora, avançando desde a
Semana da Criação até o fim do mundo, quando tudo tenha sido comple-
tado. Todo este imenso movimento começa em Azilut e opera segundo as
leis geradas pelas Sefirot.
Em Isaías 43:7, encontramos as palavras: "Mesmo aquele que é nome-
ado pelo Meu Nome, pois eu o criei para a Minha Glória, eu o fiz: em ver-
dade, formei-o." Estes quatro níveis - chamar, criar, formar e fazer - são
constantemente encontrados nas Escrituras e na cabala. Existem na
Árvore primordial da Vida, em Azilut (página 40) e correspondem sim-
bolicamente à raiz, ao tronco, aos ramos e ao fruto, ou às quatro letras do
"Tetragrama" ou do "muito especial Nome de Deus"- YHVH. Também
se percebem, por exemplo, nos quatro elementos familiares da Sefirah
inferior, Malkhut. Como tais, representam quatro níveis ou etapas, em
que são extraídos da fonte do Todo. O primeiro nível, associado ao fogo,
é o mais próximo à Coroa (Keter) e é considerado símbolo da Vontade
pura (o "chamamento" divino). O segundo, associado ao ar, é o símbolo
do Intelecto (a "criação" divina). O terceiro nível, associado à água, é
considerado uma expressão da Emoção, em suas formas em contínua
transformação (a "formação" divina). O quarto símbolo associado a terra,
fala de Ação, a execução prática de tudo o que existiu antes (o "fazer"
divino). Cada nível contém as qualidades e atividades do que o precede,
de maneira que cada nível ulterior seja regido por mais leis, seja mais
completo e esteja mais afastado da fonte.
Ainda que perfeito, Azilut não está plenamente realizado por si mesmo:
Além disto, construirás o é como o desejo de ter uma casa que foi concebida mas ainda não definida,
tabernáculo com dez cortinas não desenhada na sua forma, nem construída e que, contudo, contém o
(Sefirof)de linho finamente germen de todos estes processos. Da mesma forma, estes quatro níveis ine-
tecido (Emanação),azul
(Criação),púrpura
rentes a Azilut representam quatro grandes etapas, cada uma das quais
(Formação) e escarlate constitui um Mundo por si mesma, da seguinte forma: concebida em Azilut
(Ação): deverás confeccioná- (fogo), a Manifestação provoca o início (ar) do processo cósmico da
Ias com querubins Criação (Beriah em hebreu), que pode ser entendido como uma segunda
primorosamente bordados. Árvore completa provinda do primeiro. De Beriah surge um terceiro
(Exodo, 26: 1 )
Mundo fluido de Formação (Yezirah), do qual nasce um quarto Mundo sóli-
do de Ação (Asiyyah). Cada nível tem sua própria Árvore e cada Mundo
segue em seu próprio contexto a configuração exata e a dinâmica da Árvore
de Azilut; portanto, cada um deles tem, no interior de sua própria realida-
de, os mesmos quatro níveis.
A origem desta concepção e da compreensão da dinâmica da relação
entre um Mundo e o seguinte reside no texto hebreu da Bíblia. O divino
"chamamento pelo Meu Nome", que é a essência de Azilut, significa que a
cada Sefirah fica vinculado um dos Nomes de Deus. Keter, a Coroa, tem o
nome de EHYEH ASHER EHYEH, EU SOU AQUELE QUE SOU: o prin-
cípio e o fim de toda a Existência. As Sefirot da Sabedoria e do
Entendimento, Hokhmah e Binah, recebem, respectivamente, os nomes de
YHVH e ELOHIM, que uma antiga crença associa aos aspectos de
Misericórdia e Justiça da Divindade. Em Tiferet, que é a união dos cami-
nhos que partem destas três Sefirot, está Deus o Criador, conhecido pelo
Nome composto de YHVH ELOHIM. O resto das Sefirot têm seus próprios
nomes divinos, e alguns cabalistas entendem-nos como os ELOHIM a que
se refere coletivamente a primeira frase do Gênesis, Berashith bara
ELOHIM, "No princípio ELOHIM criou". A palavra ELOHIM é plural;
assim, o processo da criação começa quando os diferentes Atributos de
Deus, encarnados nos Nomes Divinos, manifestam a vontade de dar origem
à Criação.
O primeiro capítulo do Gênesis deveria ser entendido como o desenvol-
vimento da Criação a partir de um Mundo Divino já existente. Embora isto
seja comumente conhecido na cosmogonia esotérica judaica, não é assim
ainda para muitas pessoas familiarizadas com a Bíblia. Este conceito conta
com os inumeráveis argumentos que se desenvolveram através dos séculos,
segundo os quais a Criação se originou a partir do nada (ex nihilo), basea-
dos todos eles na ignorância da existência prévia da Divina Emanação
(Azilut). A esta noção de pré-existência alude, por exemplo, a afirmação
direta da tradição rabínica de que Deus consultou o Torah (o Ensinamento)
antes do Universo ter sido criado, formado e completado.
A Criação, neste esquema cabalístico concreto, se origina na vontade
ou inspiração de EU SOU AQUELE QUE SOU. Esta Inspiração se mani-
festa no coração da Árvore de Azilut, Tiferet, em que Deus, o Criador,
cria, forma e faz, a partir dos três níveis inferiores de Azilut, uma nova
Árvore e um novo Mundo. Este, o Mundo de Beriah, se revela biblica-
mente em termos dos Sete Dias da Criação. No primeiro Dia, teve lugar
a ordenação da Força e da Forma caóticas da Criação, mediante a sepa-
ração da Luz e das Trevas, isto é, os Pilares da Misericórdia e da Justiça,
realizada por Deus, o Criador, a partir do que seria Keter, a Coroa da
nova Árvore. Esta é a tríade suprema da Árvore da Criação. O segundo
Dia, a tríade azilútica de Nezah, Hod e Malkhut se converte na tríade
superior da Árvore de Beriah: a Sabedoria Criativa, o Entendimento e a
Beleza, Hokhmah, Binah e Tiferet. No Gênesis se denomina este proces-
,, so de divisão das águas que estavam sobre o firmamento e das águas que
estavam sob o firmamento, isto é a separação do Divino daquilo que se
chamaria um Mundo separado. Os cinco Dias seguintes são o desenvol-
vimento passo a passo da Árvore da Criação, cada nível exatamente rela-
cionado com um grupo de Sefirot, até que no último Dia o Criador des-
cansa na Sefirah Beriática inferior, a do Reino (Malkhut), completando
assim o Trabalho, que "era muito bom". Este comentário não é apenas
auto-satisfação: alude às diferentes tentativas prévias de fabricar um uni-
verso equilibrado em relação àqueles a que se refere a tradição esotérica
judaica. Os cabalistas chamam-nos os "Reis de Edom", que reinaram,
segundo a Bíblia, "antes de que houvesse reis em Israel". A razão de seu
fracaso, nos diz, foi o excesso de um Pilar ou de uma Sefirah. A Criação
no Gênesis era equilibrada e, portanto, "boa".
No segundo capítulo do Gênesis, todo o processo parece se repetir;
alguns estudiosos o consideram como uma figura literária, mas para os
cabalistas é evidente que não é assim, porque muda uma palavra crucial.
O versículo 1:27 diz: "E Deus criou o homem", Vayivra ELOHIM et ha
Adam. Isto é, ELOHIM criou Adão. O 2:27 diz: YHVH ELOHIM vayit-
Azilut e Beriah: zer et ha Adam, "e Deus nosso senhor formou o homem". Entre as pala-
A Criação surge da vras "criou" e "formou" há literalmente um mundo de diferença, pois
Emanação este segundo capítulo se refere a outra Árvore Sefirótica mais elaborada,
que costuma se denominar Olam ha Yezirah, o Mundo da Formação.
Este Mundo possui a qualidade dos fenômenos em perpétua transfor-
mação, pois recebe de cima a influência da dinâmica da Criação e da
Divina Vontade. Pode se comparar à fase do desenho, em que uma idéia,
que o arquiteto decidiu (Azilut) e definiu criativamente (Beriah), adqui-
re forma detalhada antes de sua construção. Yezirah é uma esfera de dife-
renciação e complexidade; é o nível em que, por exemplo, o espírito
Beriático do cavalo ou do cão, que são criaturas com sua origem no
Mundo da Criação, experimenta modificações sem fim para adquirir
Tu eras o mesmo antes de que tipos e formas particulares. O Mundo de Yezirah era o Jardim do Eden,
o universofôsse criado: Tu
foste o mesmo desde que o em que o ser andrógino criado em Beriah (Gênesis, 1:27) se separou em
universofoi criado; Tu és o Adão e Eva, os dois reflexos, macho e fêmea, claramente diferenciados
mesmo neste universo, e Tu dos Pilares externos.
serás o mesmo no universo O quarto mundo por sua vez, Asiyyah, surge do anterior. A ele se refe-
que virá. re o Gênesis quando menciona o rio que emanava do Éden e que tinha
(OraçZo matutina judaica).
quatro ramificações; a repetição dos quatro níveis inerentes à Árvore da
Vida, e a cada mundo separado. Este mundo básico do Fazer, ou dos
Elementos e da Ação, é o Mundo ao qual, da mesma forma que Adão e
Eva, nós próprios descemos. Manifesta-se no universo que nós experi-
mentamos através dos nossos sentidoi, com sua (aparente) solidez e seus
aspectos líquido, gasoso e irradiante. Para os cientistas, este Mundo
material contém energia e matéria; isto é, as qualidades dos Pilares direi-
to e esquerdo da Força e da Forma. Aqueles que têm consciência de algo
mais do que a interaqão dos fenômenos sob leis naturais, vêm-no com a
aparência física de Mundos mais sutis e mais elevados que podem per-
mear a existência em sua totalidade. De fato, alguns físicos intuiram que
além da escala sub-atômica, e além da galáxia mais remota, existe outro
tipo de universo que de alguma forma parece estar presente no interior
da própria estrutura desde cosmos científico, talvez não tão sólido como
parece. Assim, inclusive ao nível mais mundano, existe a consciência de
outras dimensões que contêm e influenciam o mundo natural e o impreg-
nam de uma realidade sobrenatural.
Os Quatro Mundos interpenetram a existência em sua totalidade.
Esquematicamente, podem ser vistos como "a Escada de Jacó", em que a
Árvore de cada mundo cresce a partir da estrutura do anterior, de tal manei-
ra que a Vontade de Deus, e o fluxo que conecta tudo o que existe, está pre-
sente em tudo o que é manifesto. Em cada um dos casos, o Fundamento
(Yesod) do mundo Superior serve de base ao Mundo inferior como seu
DAAT. Note-se que neste esquema particular a sequência das Sefirot tam-
bém se desenvolve ao longo do eixo, de tal forma que a linha larga ou Kav
da Divina Vontade atravessa todos os Mundos. Os Quatro Mundos foram
visualizados de muitas formas diferentes, desde as geometrias concêntri-
cas, até a imagem antropomórfica de Adão, ou como uma sucessão de
Vestíbulos ou colinas Santas de jardins. Contudo, deve-se recordar que nen
nhuma imagem pode captar a realidade, da mesma forma que nenhum
retrato, por mais profundo ou genial que seja, pode captar mais de um
aspecto de uma pessoa. A cabala mudou constantemente as formas através
das quais expressa um conceito único da realidade abarcante do todo, com
o objetivo de evitar que nenhuma visão da existência se torne numa ima-
gem fixa, passível de ser considerada definitiva. Lamentavelmente, a orto-
doxia nunca entendeu este princípio, e costuma basear sua autoridade em
formulações redundantes.
Em relação aos habitantes dos Mundos, os Tachutonim, os que "moram
aqui em baixo" em Asiyyah ou a esfera natural, pouco há a dizer; vemo-los
ao nosso redor, enquanto estamos em grande parte inconscientes de nossa
própria participação dos Mundos superiores. Quanto aos Elyonim, os que
"moram em cima", não são perceptíveis através dos sentidos ordinários;
mas é lógico supor - se alguma vez se tenha experimentado uma inter-
- venção sobrenatural - que os Mundos superiores estão povoados de mora-
) dores confinados a outras realidades. Estas criaturas se visualizam no
esquema cabalístico como anjos e arcanjos, ou como "peixes" e como
"aves" (Gênesis, 1:26), que nadam nas águas do Mundo Yezirático da
Formação e voam no ar do Mundo Beriático da Criação. Tais criaturas
desempenham seu papel no grande desígnio da existência. Embora possa-
mos não perceber diretamente suas operações cósmicas, estas, por certo,
nos afetam, da mesma forma que os ritmos naturais, os ciclos planetários e
as varições estelares afetam as condições terrestres para criar as mudanças
climáticas, as épocas da história externa e os períodos de espiritualidade
humana e progressos internos.
Para completar a visão cósmica, existe na cabala um conceito conheci-
do como Kelippot ou o Mundo das Conchas. É o reconhecimento das forças
I
demoníacas ou destmtivas presentes no universo criado. Segundo a tra-
I
'
dição, os restos dos Mundos anteriores desprezados pelo Criador ainda
existem. Sua tarefa, tanto a nível macrocósmico, como microcósmico, con-
L siste em intervir para por à prova sua bondade e comprovar sua solidez.
Os quatro Mundos e Estas forças demoníacas parecem ser maléficas, mas como pode se obser-
a visão de Ezequiel var no Livro de Jó, Satã, o tentador, é um dos Filhos de Deus. É enquanto
"funcionários cósmicos" que as forças do Caos tentam desequilibrar a
balança do universo ao nível de um dos tres Mundos inferiores,e desfazer
o que foi completado. Estas criaturas demoníacas, ou Sheddim, constituem
uma formidável oposição à humanidade, que é particularmente sensível à
sua influência. Sua razão de ser está em que Adão, enquanto imagem de
Deus, possui livre arbítrio e livre escolha. Manifesta o resultado do bem e
do mal, junto com todos os demais privilégios e deveres do ser humano.

Adão Ao longo dos séculos, o Mundo Divino de Azilut recebeu numerosos


títulos e foi descrito de diferentes maneiras. Alguns rabinos viram-no como
a Túnica de Luz com que Deus envolve a Divina Presença; alguns o sim-
bolizaram como o Shem ha Meforash, "o muito especial Nome de Deus",
representado pelas quatro letras YHVH. Foi chamado a Glória de Deus e
em certo momento da história da cabala, foi projetado na imagem de uma
grande figura humana radiante chamada o Kabod. Este Homem Divino
aparece na visão do profeta Ezequiel, que viu os Quatro Mundos como a
imagem de um homem (Azilut) sentado num trono celestial (Beriah) colo-
cado sobre um carro (Yezirah) o qual, por sua vez, avançava sobre a terra
(Asiyyah).
O primeiro Homem Azilútico, inspirado (como cada um de nós) na con-
figuração das dez Sefirot, foi, pois, um Adão antes de que o Adão do
Gênesis fôsse criado e formado; seu nome é Adam Kadmon. É o primeiro
dos quatro reflexos de Deus que se torna manifesto ao estender a existên-
cia a partir da Divindade até a Materialidade, antes de voltar a unir-se de
novo no fim dos Tempos. Adam Kadmon contém tudo aquilo que é neces-
sário para completar a tarefa da semelhança Divina. É ao memo tempo
espelho e observador, e dentro de seu ser possui vontade, intelecto, emoção
e capacidade de ação. Mas, acima de tudo, Adam Kadmon está consciente
do Divino, embora no momento de sua inspiração, apenas tenha conheci-
mento inocente disto, assim com um peixe está inconsciente do mar onde
vive. Apenas depois de uma descida através de todos os Mundos chegará a
conhecer por experiência todos os aspectos da Divindade, percebendo em
si mesmo e no universo a Face de Deus; seu reflexo, contudo, como o de
qualquer espelho, é apenas uma imagem, nunca a realidade. O contato dire-
to apenas se dá por meio da Graça, ou através da Conclusão do ciclo com-
pleto, em ambos os casos, através da Manifestação e voltando à sua origem
através de Teshuvah, ou redenção.
A composição de Adão Kadmon se baseia nas Sefirot. Enquanto a
Árvore da Vida cresce para baixo a partir da Coroa, Adam Kadmon per-
manece de pé (página 68). Por cima de sua cabeça está Keter, a Coroa,
enquanto as duas Sefirot laterais da Sabedoria e do Entendimento,
Hokhmah e Binah, estão relacionadas com seus dois hemisférios e sua
garganta, pois é aí onde ele vê, ouve, cheira e fala. As Sefirot do coração,
Gevurah e Hesed, a justiça e a misercórdia, estão colocadas à esquerda e
à direita de seu peito; enquanto a Sefirah central, Tiferet ou o eu, se situa
sobre seu plexo solar. As duas Sefirot interiores, exteriores e funcionais,
Hod e Nezah, estão associadas às pernas e o Yesod, o Fundamento gene-
rativo, aos órgãos genitais; Malkhut, o Reino, encontra-se a seus pés.
Geralmente, embora nem sempre, é representado de costas, tal como
Moisés viu a imagem Divina (Exodo, 33:20: "Pois nenhum homem que
tenha visto (Meu Rosto) viverá"), de modo que os lados ativo e passivo
encontram sua posição natural à direita e à esquerda do Pilar central da
espinha dorsal.
Encontram-se referências a esta enorme figura Divina em numerosos
trabalhos cabalísticos antigos, e algumas pessoas que a levam ao pé da letra
ficam receosas do detalhe do rosto, barbas e membros sugerindo a gigan-
tesca estatura de Deus. Na realidade, o símbolo de Adão Kadmon, como
muitos outros, não é mais do que uma analogia, forma metafórica, das leis
expressas pela disposição dos Divinos Atributos. Muitas outras tradições
consideraram o Homem, enquanto imagem de Deus, como modelo perfei-
to para o estudo do Divino. Os cabalistas não são exceção e continuam a
máxima exotérica: "O que está em cima está em baixo" em seu estudo do
macrocosmo e do microcosmo.
Do Homem Divino Adam Kadmon, bem como do Azilut, surge o
Adão Beriático, criado ao sexto Dia, quando a ação se concentrou em
O homem contém tudo o que está Yesod ou Fundamento da Árvore da Criação (página 10). A lenda judai-
em cima, nos céus, e em baixo ca estabelece que este Adão Beriático foi criado como a última de todas
sobre a terra. tanto as criaturas as criaturas para que fosse humilde; o conceito cabalístico é que todas as
terrestres, como as celestes; por demais criaturas sem exceção - inclusive anjos e arcanjos - têm seu fun-
esta razão, o Ancião entre os
Anciões escolheu o Homem como
damento no Adão de Azilut, mas foram deixados incompletos: apenas o
Sua Divina manifestação. Nenhum Adão Beriático foi uma imagem completa do Divino. Este fato explica o
Mundo poderia existir antes de mito dos ciúmes e da discórdia entre as legiões angélicas; aqueles que
Adão ter recebido vida. pois a não quiseram reconhecer a superioridade humana, como Lúcifer, foram
figura humana contém todas as relegados à tarefa de conduzir as forças caóticas que assolam o univer-
coisas e tudo o que é existe em
virtude dele. (Zohar. Espanha,
so, em especial o homem. A rebelião na Criação, ainda antes da queda de
século XIII). Adão, ocorreu porque os habitantes da Criação, que foi o primeiro dos
Mundos separados procedente do Divino, permitiu-lhes inicialmente
certo grau de livre arbítrio. Este traço inerente de desvio do plano cós-
mico era corrigido, segundo diz a lenda, pelo vínculo do Nome Divino
EL ao nome funcional de cada criatura angélica, de modo que nunca
pudesse exercer mais poder do que o desejado por Deus. Assim, cada ser
celestial foi limitado à sua tarefa, como o anjo Shalgiel, que apenas se
ocupava da neve.
Em Beriah, Adão, existindo agora como entidade separada a nível do
espírito, ainda não tinha sido posto à prova, pelo que a manifestação da
imagem de Deus foi projetada no interior do terceiro Mundo da Formação,
Yezirah, ou o Eden. Ali, os dois aspectos, macho e fêmea,já separados, mas
relacionados entre si, assumiram o papel ativo e passivo (ou, conforme
definem alguns cabalistas, a relação interna entre Adão o espírito e a alma
de Eva). Com a intmsão da tentação em seu mundo idílico, deu-se o rom-
pimento deliberado da única regra que lhes fora imposta. Com ela chegou
o Conhecimento do Mundo da Criação e a possibilidade de comer da
Árvore da Vida, isto é, Azilut; assim foram precipitados no Mundo inferior
da materialidade e receberam túnicas de pele (Gênesis, 3:21), isto é, corpos
carnais. Ali foram submetidos ao maior número de leis, para resguardarem-
se relativamente ao universo das consequências de seu livre arbítrio até
amadurecerem e adquirirem maior responsabilidade. Sob forma mitológica,
esta é uma explicação de como chegamos à terra. Alguns cabalistas consi-
deram que o acontecimento da Queda foi previsto por Deus, como um pai
que deixa a criança cometer uma falta para aprender. Desta forma, Adão
experimenta todos os níveis da existência, tanto para cima como para baixo,
no seu intento por recuperar, primeiro o Éden, depois o Céu da Criação e,
finalmente, a União com o Divino.
A tradição cabalística, vendo a situação a partir de baixo, considera
numerosos detalhes com relação as nossas origens e encarnação enquanto
corpo Azilútico de Adam Kadmon, e portanto, já tínhamos existência antes
O arcanjo Merrarori disse cio do princípio da Criação; a Criação iria ser o assentamento de nosso destino
rabino 1.vtnael: "Vem e eu te
ensinarei os espíritos dos justos individual. Quando os Quatro Mundos ficaram completos e operacionais, a
que foram criados e que parte Divina de cada ente humano se diferenciou em células dentro do ser
voltaram, e os espíritos dos do Adão Criado (Beriático). Aí, no reino do espírito puro, permanecíamos
justos que ainda não foram na inocência até sermos arremessados para o Paraíso, a casa do tesouro das
criados. " almas, onde a parte Beriática diferenciada de nossa natureza, que continha
(Livro hebraico de Enoch,
Palestina-Babilônia(?), século o resplendor divino de Azilut, assumiu uma forma Yezirática, na espera de
111). baixar e encarnar-se no universo físico de Asiyyah. Quando esse momento
chegou, fomos chamados perante o Mais Alto, Que nos disse qual a tarefa
individual e os dons que havíamos recebido para levá-la a cabo. Este é
nosso destino, embora aparentemente haja uma grande resitência a descer
ao que um cabalista chamou "vale de lágrimas". A resposta é sempre: "Para
isto foste chamado, criado, formado e feito."
Uma tradição diz-nos, também, que quando um casal está em união
sexual, a presença invisível de seu filho paira por cima deles, e que quan-
do se dá a concepção, o corpo Beriático ou espírito, e o corpo Yezirático
ou alma se unem ao corpo embriônico Asiyyático deste mundo. Conforme
o feto cresce, a pessoa que há de ser encarnada dedica-se a adquirir uma
túnica de pele. Os relatos detalhados acrescentam que durante este tempo
de gestação física é mostrado h pessoa sua vida futura, as pessoas com
quem se encontrará e os lugares por onde irá. Percebe também os resulta-
dos das vidas de outras pessoas depois da morte, e os níveis a que indivi-
dualmente poderiam subir ou descer segundo sua atuação; de maneira que
já não está num estado de inocência, pois inicia o processo da experiên-
cia enquanto passa por meio da gestação à encarnação. Quando a criança
nasce, o processo pré-natal se interrompe e a pessoa começa a esquecer
suas visões dos Mundos superiores ao ficar cada vez mais envolvida na
vida física que supõe ser a de um bebê. De vez em quando, porém, recor-
dará vagamente um momento pré-natal e mais tarde até reconhecerá uma
cena ou um indivíduo que lhe foram mostrados antes de seu nascimento.
As pessoas que conhecerá estão também envolidas no plano cósmico e
também têm que viver sua sina e seu destino; assim, quando se encontram
duas pessoas que tinham se conhecido antes da vida, dá-se uma estranha
familiaridade.
Uma vez nascida no reino natural, submetida a leis - tais como ser
composto de matéria mineral, ter de alimentar-se e propagar-se como um
vegetal e de mover-se e relacionar-se com outros como um animal
-pode-se dizer que a pessoa já atravessou pessoalmente de cima abaixo os
quatro Mundos completos. Todavia, à medida que vai amadurecendo,
passando pelas diferentes etapas da sua vida, veremos também que
começa sua ascensão para o retorno aos Mundos superiores. Este proces-
so de subida segue o Raio Relampejante invertido, desenvolvendo pri-
meiro todo o seu corpo, o Malkhut, durante o período fetal; depois o ego,
o Yesod, durante a infância, o Hod, sua capacidade de aprender, durante
a adolescência, e por fim, a Nezah, correspondente às preocupações ati-
vas e instintivas da juventude.
Ao atingir a etapa do Tiferet, ou a consciência do eu - a primeira da vida
- pode optar por parar e não desenvolver-se mais, e passar simplesmente o
resto da vida repetindo ou cultivando as forças e as debilidades das Sefirot
inferiores, tendo por preocupação única o materialismo de Malkhut, o ego-
ísmo de Yesod, os jogos de inteligência de Hod ou os prazeres sensuais de
Nezah. Caso a pessoa desenvolva certa vontade própria ou poder de Tiferet,
pode tomar-se indivíduo dominante ou mesmo importante (mas natural),
um "homem animal" dedicado a dirigir os demais com boa ou perversa
vontade. Tais indivíduos se encontram entre políticos e em qualquer pro-
fissão de influência, desde a ciência à arte e à indústria. Aqui mais uma vez
o indivíduo pode permanecer durante toda sua vida, até perder seu poder e
ser substituído por outro rei ou rainha natural. Apenas aqueles que vêm a
vida como algo mais que o conforto, o poder e a posição social podem
seguir em frente para perceber as conexões internas e mais elevadas com os
Mundos superiores. Esta etapa requer, porém, algo mais do que o desejo de
elevar-se ou de suposições sobre essa outra realidade. É necessário começar
pelo conhecimento de si mesmo, o que nos conduz à visão cabalística da
anatomia da psique.

Anatomia Vimos como os antigos cabalistas relacionaram um esquema antropo-


mórfico com a Árvore Sefirótica, já que Adam Kadmon possui uma anato-
mia de Vontade, Intelecto, Emoção e Ação. Este modelo se estende para
baixo através dos Quatro Mundos, que representam cada um a manifes-
tação cósmica de um destes mesmos níveis. No microcosmo de um ser
humano encarnado como indivíduo, o esquema se repete em miniatura.
Através dos tempos, os cabalistas sempre expressaram sua compreensão
destes princípios eternos na linguagem de sua própria época. Isto pode
observar-se, por exemplo, na psicologia simbólica do Zohar, ou Livro do
Yeriah e Asiyyah:
a mente e o corpo. Esplendor, escrito na Espanha medieval, e na análise detalhada dos dife-
rentes níveis do homem feito pela Escola Hasídica Habad da Rússia no
século XVIII. Os cabalistas modernos continuam a tradição e expõem seu
saber em termos da psicologia de nosso próprio tempo. É assim que uma
tradição se mantém viva.
Partindo do Mundo inferior, fixemo-nos no corpo. Este veículo físico,
que evoluiu através de milhões de anos, baseia-se numa série de princí-
pios concretos que, embora relacionados com as condições terrestres,
também têm sua raiz nas leis arquetípicas que governam a existência, ou
seja, as Sefirot. Assim, a seu nível mais elementar, o corpo opera sobre as
interações da terra, da água, do ar e do fogo. Podemos observá-lo nas
estruturas e sistemas tais como os ossos e os músculos, as correntes quí-
micas, os intercâmbios gasosos e a atividade eletro-química. A nível mais
detalhado, a hierarquia dos tecidos orgânicos e mecânicos dos sistemas
metabólico e eletromagnético pode ser vista como a interação dos Pilares
da Força e da Forma, da energia e da matéria, o mesmo que os lados ativo
e passivo da Árvore atuando sob a direção da vontade dos sentidos em
Malkhut, o sistema nervoso autônomo em Yesod ou Fundamento, e o sis-
tema nervoso central, instalado no cérebro, em Tiferet, o Trono de
Salomão. Assim, a energia e a matéria estão ligadas durante a vida do
corpo à vontade e à consciência inerentes ao Pilar central. A face superior
da Árvore Asyyática é a parte sutil do corpo e representa a imagem ou,
na cabala, o Zelim, que corresponde à conexão etérea entre o corpo e a
psique. Na parte física, se compõe da energia e das matérias mais sutis
das que se encontram no Mundo mais inferior, correspondentes às mais
grosseiras do Mundo seguinte acima, com cuja metade inferior, ou face
inferior, se interpenetra. Algumas pessoas conseguem perceber com seu
olho interno este nível e ver sua aura radiante ao redor do corpo. A Keter
ou coroa da Árvore do corpo corresponde, neste esquema cabalístico, ao
Tiferet do Mundo Formativo Yezirático da alma ou psique, e ao Malkhut
ou Mundo Criativo Beriático do espírito. Isto mostra como os três mun-
dos inferiores se encontram nos que vivem na carne e como é possível
experimentar os Mundos invisíveis nos momentos em que percebemos
uma realidade mais profunda após o aspecto do mundo físico.
A anatomia da psique se baseia no mesmo modelo Sefirótico da do
corpo; mas a sua energia, sua substância e sua consciência são as do Mundo
sutil da Formação. Mais exatamente, o único contato direto com o Mundo
físico se dá através do Malkhut elementar da Árvore Yezirática, ralaciona-
da com o Tiferet do corpo, isto é, com o cérebro e o sistema nervoso cen-
tral. Isto demonstra a exatidão deste esquema de Mundos interpenetrados,
pois é aí onde o cérebro, o órgão físico da cognição, funde a consciência
com os tecidos, o metabolismo e os campos eletromagnéticos. A Sefirah
imediatamente superior é a não-Sefirah de Daat ou Conhecimento do
" E Deus criou o homem ?I Sua corpo, que corresponde à Yesod ou Fundamento da psique. Desta forma, se
intagent. " É esta imagem a que
recebentos ern pririleira encontram e interagem os Mundos, o inferior proporcionando dados sobre
instância quartdo viritos este o Mundo exterior, e o superior percebendo-os psicologicamente e transmi-
Mundo: ela se desenvolve tindo ao corpo, e ao mundo exterior, a Vontade que emana dos reinos inte-
conosco, enquanto crescemos e riores e superiores.
nos acontpanhu quando A Yesod da psique, o ego ordinário, é o nível de consciência, em parte
deixantos a terra. Sua origern
está no céu. " física, em parte psicológica, que constitui o Fundamento do que pensamos,
(Zohar, Espailha. slculo XII). sentimos e fazemos. Com efeito, isto se inscreve na configuração da Árvore
mediante as figuras triangulares ou tríades que rodeiam Yesod; estas são
formadas pelos três caminhos que surgem de Malkhut, Hod e Nezah (pági-
na 40),cujos ângulos se denominam a tríade vegetal da psique. Esta se refe-
re aos processos rotineiros de ação, alimentação e pensamento que confor-
mam a atividade diária da vida. Veremos, portanto, que a tríade da esquer-
da possui a qualidade reflexiva e passiva do pensamento; a da direita ou
lado ativo, a da ação, e a tríade horizontal central sobre o ego, com sua
natureza dual ativa e passiva, possui a qualidade introvertida do sentimen-
to. Uma pequena observação pessoal do estado mutável do ego denota a
veracidade do esquema. Por exemplo, embora possa se sentir deprimida
ao pensar num problema, a pessoa pode continuar fazendo seu trabalho.
O estado vegetal do ego pode receber a influência de acontecimentos
profundos a nível da psique, mas sua visão do mundo é primordialmente
formada pelo que absorveu de sua educação e ensinamento. Assim, uma
pessoa criada na cidade denota numerosas diferenças em relação a um
indivíduo nascido no campo, quanto a atitudes e valores ao nível vegetal
ordinário da vida. Juntamente com Hod e Nezah - as Sefirot psico-bioló-
gicas do controle e do desejo, que definem a fronteira ou umbral da cons-
ciência diária - e Malkhut, a conexão com o corpo, Yesod o ego faz deste
grande triângulo inferior, com suas três sub-divisões, a principal área de
experiências para a maioria das pessoas. Além disto, Yesod foca a ima-
gem que uma pessoa tem de si mesma, seja um estudante, um vaqueiro ou
uma dona-de-casa.
A tríade seguinte, composta pelas Yeziráticas Hod, Nezah e Tiferet,
forma a zona que se estende exatamente para o outro lado do que se chama
a linha liminar normal da consciência. Situada entre Hod e Nezah, que
equilibram e potenciam os processos bio-psicológicos, e atingindo Tiferet,
o eu ou Vigilante interno, esta tríade é conhecida como o umbral animal ou
do despertar. Aqui, quando se desperta o poder de Nezah e se estimula a
sensibilidade de Hod, se produz uma concientização mais elevada, que se
experimenta por vezes em momentos de paz profunda ou de grande tragé-
dia. É o lugar do primeiro êxtase, da lucidez repentina, da paixão profunda
e da iluminação parcial. É totalmente diferente da consciência ordinária do
ego, e pode conduzir inclusive a um estado ulterior ao da vontade dirigida
pela condição animal, ao reconhecimento de outros Mundos acima do físi-
co, e inclusive além do psicológico, porque o eu não é apenas a Coroa
(Keter) do corpo e do coração (Tiferet) da psique, mas também a base ele-
mentar (Malkhut) do espírito.
Uma experiência deste nível não é rara, embora opere na maioria das
vezes a partir do inconsciente, isto é, através do umbral Hod-Yesod, que
separa o eu do ego. O caminho que une Tiferet e Yesod, através deste
umbral foi denominado por alguns cabalistas como o caminho de Zadek ou
do Homem Honesto; mas apenas chega a sê-10 quando está livre do auto-
engano e da preguiça psicológica.
O eu reside no Trono de Salomão da psique. É uma parte de nós mes-
mos que observa tudo. Como nele desembocam os caminhos que procedem
de cima e de baixo, constitui o centro de uma série de tríades formadas
tanto pelas Sefirot superiores, como pelas inferiores. Conforme veremos, as
Sefirot passiva e ativa do intelecto (Binah e Hokhmah) e da emoção
(Gevurah e Hesed) atuam a partir de seus respectivos Pilares, e se relacio-
nam entre si não só por meio dos caminhos, mas também se concentram em
Tiferet. As tríades da esquerda são os bancos emocionais e intelectuais pas-
Um só homem equivale a toda a sivos dos complexos que mantêm em xeque a psique, enquanto que os da
Criação. Um homem é um mundo direita são ativos e estimulam a atividade emocional e intelectual. Na
em miniatura. (Abot de Rabi Árvore da psique, as tríades laterais se complementam mutuamente, pois
Nathan, Palestina, século 11).
armazenam idéias e emoções, e ajustam continuamente seu equilíbrio inter-
no aos progressos individuais ao longo da vida.
A tríade horizontal, que está acima do eu, é o nível da alma. Composta
de Gevurah, Hesed e Tiferet - as Sefirot emocionais da Justiça e da
Misericórdia e a Sefirat do eu - é o lugar do auto-conhecimento e da cons-
ciência. É aí, na que foi tradicionalmente chamada a tríade moral, onde o
indivíduo percebe sua própria atuação ética e a dos demais, e a partir de
onde reparte justiça e misericórdia. Segundo uma antiga opinião, é o lugar
onde residem os anjos bons e maus de cada um, para tentar e dar alento. Ali
se encontram também as portas do Paraíso e do Purgatório. Estes símbolos
arquetípicos descrevem estados de alma, e quem opere neste nível de auto-
conhecimento sabe que tais critérios não pertencem ao mundo natural. A
verdadeira moralidade não é o mesmo que um uso ou costume social ou tri-
bal. A alma está profundamente imersa nos níveis normalmente incons-
cientes da psique e está intimamente associada às tríades laterais das
emoções e dos conceitos. Também tem acesso, por meio do eu em Tiferet,
ao espírito, à grande tríade superior de Hokhmah, Binah, Tiferet.
A tríade do espírito compõe-se das Sefirot da Sabedoria e do
Entendimento e do eu, com o Saber psicológico ao centro. Esta tríade,
como se constatará, é também a tríade inferior do Mundo da Criação supe-
rior. Assim, no lado Yezirático se encontra o aspecto espiritual da psique,
onde a individualidade do eu, tal como se expressa na alma, se vê dentro de
um contexto cósmico. A face inferior da Árvore Yezirática - seu aspecto
físico que culmina em Tiferet - está, como veremos, num nível quase fora
de alcance, que pode ser experimentado apenas em profundas excursões
místicas tais como a meditação. A tríade espiritual, como a Divina ou
suprema que está diretamente acima, tem um vínculo direto, através de
Keter, com o Mundo da Emanação; tem pouco sentido para os que não
estão conscientes dos Mundos ocultos situados além do aspecto do mundo
físico e das imagens do ego ordinário da mente. Aqueles que desejam expe-
rimentar e explorar esta realidade interna recebem um vislumbre destes
Mundos superiores durante aquele momento de veneração religiosa pelo
qual todo o ser humano passa pelo menos uma vez na sua vida.
A psique como um todo é um organismo tão completo como o corpo.
Nela estão presentes muitos processos paralelos aos físicos. O ego é o sis-
tema autônomo da psique e do eu, o controle central. A alma é o metabo-
lismo da psique de equilíbrio e saúde internos da psique, e a tríade do
espírito é esta zona onde se revela outro Mundo. Como o corpo, a psique
funciona segundo leis inconscientes, e uma pessoa pode nascer, viver e
morrer sem utilizar uma fração de seu potencial. O cabalista se esforça
para levar a cabo esta plena capacidade, com o fim de não só perceber os
Mundos superiores, mas também de participar deles de forma consciente.
Contudo, antes de que o indivíduo possa chegar a isto, deve primeiro dar-
se conta de que esta possibilidade existe e de que há outros com o conhe-
cimento e a experiência necessários para adentrá-la. Frequentemente, os
apetrechos necessários para começar são alguns estranhos momentos de
visão, um ou dois livros que exponham o que o mundo normal não pode
sequer reconhecer e uma profunda necessidade de procurar e de enconta-
rar uma chave para o Éden, do qual se tem a noção vaga de que é dele que
procede sua alma.

A Busca O Livro do Gênesis descreve como os Mundos da Criação, da Formação


e da Ação assumiram existência, e como a humanidade chegou a descer ao
reino natural; o Êxodo trata da subida de regresso às Origens. O Sefer Torah
(título que significa "Livro da Instmção" e não como muitos acreditam
"Livro da Lei") constitui o ensinamento contido no Antigo Testamento e,
em particular, nos cinco Livros de Moisés. Esta instrução, tecida numa
trama de antigos mitos cósmicos, sagas e legislações tribais, está direta-
mente relacionada com a situação humana, posto que descreve de forma
simbólica as condições em que nos encontramos ao nascer e o método
mediante o qual podemos abrir caminho à Terra Prometida da qual proce-
demos.
Existem duas linhas de conhecimento bíblico no judaismo: a escrita e
a oral. A primeira está incorporada no cânone bíblico, e a segunda é
aquela aludida pelos comentários rabínicos do Talmud, que alguns ainda
denominam "orais", embora existam textos escritos desde há séculos. A
verdadeira linha oral é a compartilhada diretamente por um mestre com
um aluno, com o qual tenha uma relação esotérica, baseada num nível
espiritual de compreensão. Este é o método da cabala, que significa
"receber". O conhecimento compartilhado desta forma foi geralmente
elaborado em forma de analogia bíblica, daí que grande número de caba-
listas que trabalham no interior da tradição ortodoxa tenham sido pro-
fundamente versados na Bíblia. Assim, cada capítulo, cada versículo, ou
mesmo cada letra, pode se tornar uma chave decifradora para compre-
ender entre linhas um texto cuidadosamente elaborado para preservar os
segredos da existência.
O relato da descida ao Egito da família de Jacó é uma descrição da
encamação da alma. Mizraim, o nome hebreu de Egito, significa "confina-
do" e "limitado". O mesmo ocorre com a alma, cujo habitat natural é o jar-
dim do Éden (O Mundo de Yezirah). Ali em baixo, no Egito, a alma é escra-
vizada e depois de um tempo esquece a terra de onde procede. Por vezes,
contudo, apesar do peso da carne e das preocupações do trabalho, da dor e
do prazer, um momento de tranquilidade pode trazer à mente este outro
lugar mais livre, a vaga recordação da terra natal. Para muitas pessoas, este
fenômeno se desvanece na juventude, conforme a paixão e a ambição vão
ocupando a atenção, e o refúgio cuja, perda choramos na infância, se perde
sob as preocupações comuns do trabalho ou da família. Porém, para alguns,
esta conexão nunca chega a se perder totalmente e procuram os lugares e as
pessoas que os ajudem a evocar este débil relembrar de outro Mundo.
Alguns encontram livros onde se fala dele; mas, lamentavelmente, as visões
dos poetas e dos profetas não deixam de ser imagens a posteriori sobre o
papel e não dão mapa nem direções para encontar o caminho de regresso a
esse remoto país. Estas pessoas, ditas estranhas por alguns, continuam
escravas, como todos os seus companheiros limitados pela carne, mas são
particulamente infelizes porque sabem que estão escravizadas e não podem,
como os demais, perder-se simplesmente nos jogos da vida diária. Querem
se libertar, porque intuem que a existência tem outros propósitos além de
alimentar-se e propagar-se como as plantas, ou socializar-se e dominar
como os animais.
Muitas vezes, uma destas pessoas estranhas foge, como o jovem
Moisés, de sua sociedade. Quando Moisés dá a morte ao egípcio (Exodo,
2:ll-12), trata-se do ato simbólico de romper seu vínculo com os níveis
vegetal e animal, mesmo quando, sendo um homem inteligente e privile-
giado, gozava de boa posição no Egito. Suas andanças pelo deserto, descri-
tas com todo o detalhe nos contos populares judaicos, resultariam familia-
res para muitos forasteiros de qualquer idade. O mesmo que o seu encontro
com Jetro, que ia ser seu sogro e seu mestre espiritual. No relato do Talmud,
Eu sou o homem que se preparou para poder se casar com a filha de Jetro, Moisés deve desenterrar uma vara
para a luta de safira profundamente enterrada e que tem gravados os Nomes de Deus.
E nüo terá descanso até cumprir Este mecanismo, comum na literatura esotérica como prova iniciática, é
seu juramento, necessário antes de poder receber mais instrução. O episódio da Salsa
Cujo coração dividido luta contra Ardente (Exodo, 3) é o culminar, segundo os relatos rabínicos, de vários
si mesmo,
Cuja almri despreza sua morada anos de adestramento sob a direção de Jetro. Denota o estado de Graça
carnal. outorgado à pessoa que atingiu um nível crucial de realização interior,
Que escolheu, como um menino, o quando se pode confiar a ele uma responsabilidade. A renúncia inicial de
Caminho da Sabedoria. Moisés a voltar ao Egito para cumprir sua missão (Exodo, 4) é mesmo
(Tormenta noturna, Rabino assim característica da oposição inicial da própria vontade à Vontade
Salomüo Ibn Gabirol, Espanha,
século XI). Divina, antes do estado de submissão que manifesta: "Faça-se Tua Vontade,
e não a minha." Ao aceitar seu destino, Moisés volta à sua gente para ajudá-
la a sair da casa da servidão e alcançar a terra onde recolhe o leite e o mel,
isto é, os Mundos superiores. Em termos pessoais, isto significa, interior-
mente, educar as partes indisciplinadas de si próprio e, exteriormente, ensi-
nar os outros que desejam a iniciação.
A Alegoria do Exodo tem um importante significado pessoal para o
cabalista, porque se refere às primeiras condições da vida e ao desenvolvi-
mento espiritual. As pessoas nascem no interior das e sob as leis de uma
existência física muito dura, onde têm que aprender as artes e as ciências da
sobrevivência antes de estar preparadas para estudar a cabala. Esta é a razão
pela qual uma pessoa pode ser aceita por um mestre apenas conforme seu
estado de maturidade (que nem sempre é aos querenta anos, a idade da qual
se fala tradicionalmente como idade madura: muitos grandes cabalistas
morreram antes desta idade). Assim, a pessoa deve seguir um longo ades-
tramento, tal como Moisés cuidou das ovelhas de Jetro, o que pode ser
interpretado como a aprendizagem para dominar os instintos e impulsos do
corpo e da psique. O episódio da Salsa Ardente é o momento em que uma
pessoa realiza sua própria conexão interna e deve deixar seu mestre para
iniciar seu próprio trabalho; mas está a muitos anos de distância das pri-
meiras etapas do despertar espiritual.
Embora o desejo inicial de escapar à escravidão do Egito seja muito
forte, a capacidade de fazê-lo pode não ser equivalente. Muitas almas sen-
síves abandonaram a busca da liberdade e voltaram a sumir nas esferas
vegetal e animal do homem, tornando-se cínicas, ou pior ainda, diabólicas,
porque certamente sabem mais do que aqueles que os rodeiam. O mago
Balaam do Livro dos Números representa uma pessoa assim. Aquele que
procura encontrará estes indivíduos, obscuros mas poderosos, durante sua
busca da verdade, e durante um tempo é possível que se deixe enganar
pelos conhecimentos que denotam para impressionar. Mas o tempo, ou
alguma ação egoista, demonstrarão que esse indivíduo transformou o saber
espiritual em poder mágico. Estes encontros são uma parte necessária do
adestramento por desígnio da Providência e despertam o interesse ativo no
autêntico pesquisador da verdade.
O fenômeno da Providência vai se tornando cada vez mais aparente
durante a busca da porta que conduz aos Mundos superiores; por exemplo,
aparecem certos livros num momento crucial, ou ocorre um encontro com
alguém, o que pode resultar ser uma conexão com alguma tradição esotéri-
ca. Aquele momento em que Moisés chega ao poço justamente quando as
filhas de Jetro estavam sendo perseguidas por pastores do lugar é um exem-
plo do oportunismo da Providência. Este tipo de encontro pode conduzir a
uma conexão instantânea, mas o mais provável é que propicie uma série de
conversações com um iniciado durante vários anos, período durante a qual
o pesquisador não se dá conta de que está sendo submetido à prova como
candidato à sua própria iniciação. Este método confere a numerosas tra-
dições, incluindo a cabala, a reputação de secretas. Um rabino polaco, por
exemplo, nem sabia qual era a profissão de seu mestre, porque lhe tinha
ensinado a cabala através desta técnica de discreta instnição. O passo
seguinte do caminho consiste muitas vezes em tomar consciência de que o
instrutor da pessoa não está sozinho, mas sim, que é parte do elo de uma
antiga cadeia de ensinamentos. Muitos estudiosos acadêmicos da cabala
consideram este fenômeno desconcertante, porque existem poucas ou ne-
nhuma prova literal das realizações internas e da organização da tradição
viva; mas isto é exatamente o que se entende por linha oral.
Existiram escolas da cabala ao longo dos séculos e algumas delas dei-
xaram provas de suas reuniões esotéricas e inclusive descrições de suas teo-
rias e práticas. Todavia, estas descrições geralmente foram escritas ou
publicadas muito tempo depois dos acontecimentos esotéricos terem ocor-
rido, porque tais grupos, contrariamente aos progressos contínuos dos
aspectos mais formais da religião, dão-se a conhecer apenas em caso de
manifesta necessidade na sua época. Por exemplo, sabe-se que houve uma
importante escola cabalísta na Espanha, em Gerona, no século XIII, e outra
durante o século XVI em Safed, na Palestina. Contudo, muito pouco de seu
ensinamento interno ficou documentado, apesar do volume de textos escri-
tos produzido naqueles lugares. Além disto, nem todas as escolas cabalis-
tas são necessariamente judaicas ou mesmo orientadas pela Biblia. Uma
cabala cristã e oculta foi praticada na França, em Flandres e na Itália da
época medieval, e não eram desconhecidas na Alemanha no século XVII,
nem na América do século XVIII. Por outro lado, embora a cabala continue
O rabino Simeão sentou-se e chorou sendo uma tradição principalmente judaica, influenciou tanto o misticismo
dizendo: Ai de mim se revelo estes islâmico, como o cristão e, reciprocamente. Lamentavelmente, a cabala
segredos, e ai de mim se não os também foi utilizada de maneira errônea, tanto pelos judeus, como pelos
revelo. Os companheiros presentes gentios, em práticas de magia; este fato, unido à aplicação de uma compre-
permaneceram em silCncio. até que o ensão incompleta por parte de alguns seguidores de Shabbetai Zvi, figura
rabino Abba se levantou e disse: "Se
nosso mestre deseja revelar estas messiânica do século XVII, desacreditou o nome da Tradição. Todavia,
matérias, não está por acaso escrito uma linha de conhecimento espiritual tão antiga pode sobreviver a qualquer
que "O segredo do Senhor pertence vicissitude, e nem sequer as investidas da denominada "razão científica"
aos que O temem?" e "não remam impediu-a de emergir quando foi necessário, sob uma forma contemporâ-
estes Companheiros perante o nea, para os pesquisadores da nova geração.
Altíssimo, que Louvado seja?"
("A Grande Assembléia Santa" Voltando à viagem interior para sair da escravatura: quando um indiví-
segundo o Zohar, Espanha, século duo atinge um ponto de desenvolvimento no qual sabe que definitivamen-
XIII). te há outras coisas na vida além dos jogos praticados pelas pessoas, e dese-
ja participar do trabalho dos Mundos superiores, então muitas vezes ocorre
algum acontecimento especial que muda o curso da vida. Isto é simboliza-
do pela passagem do Mar Vermelho, quando na vida de uma pessoa se dá
uma mudança inesperada, talvez no trabalho ou nas relações, que constitui
um ponto sem retomo. Depois de um acontecimento desta envergadura, a
pessoa já não pode simplesmente pensar ou ler sobre o desenvolvimento
espiritual. Tem que haver um verdadeiro compromisso. Quando este se dá,
então a conexão com o mentor espiritual se abre por norma a algum grupo
onde a pessoa pode realmente se encontrar e trabalhar com outros que estão
no caminho. Neste ponto, o relato do êxodo do Egito se toma uma realida-
de viva: é a partida para uma viagem através do deserto da psique até a terra
do espírito.

O Adestramento Da mesma forma que a saída do Egito implicava várias etapas, o mesmo
acontece com a saída do estado normal de servidão física e psicológica.
Geralmente, durante a tentativa de desprender-se do domínio do corpo e do
eu, surge uma série de crises dramáticas ou pragas que perturbam a vida da
pessoa. O esquema típico é o de mudança de relação com os mais próxi-
mos, ou alterações na sua posição social, na sua profissão e nas suas pos-
ses. Esta mudança não é fácil de se aguentar sozinho; daí que a presença
das outras pessoas de um grupo, simbolizada pelos israelitas, com um mes-
tre, Moisés, seja necessária. Acresce que, uma vez atravessado o Mar
Vermelho, já não há retomo, embora persistam alguns costumes, simboli-
zados pelos israelitas que protestam (Exodo, 16:2-3), se revoltam e lutam
por voltar aos prazeres da carne inerentes à condição anterior ao despertar.
No grupo, seus membros, sob a condução de seu chefe, impedem que os
demais voltem a cair na escravidão. Isto é o que realiza o trabalho cabalís-
tico levado a efeito não apenas no grupo, mas também na vida diária.
Este método de trabalho, o Avodah em hebreu, que também significa
"serviço" e "devoção", se baseia no modelo da Árvore. A primeira fase se
centra na Sefirah Malkhut, relacionada com a compreensão prática dos qua-
tro estados elementares. Nesta fase, estes problemas materiais como o che-
gar a certo lugar em certo momento, são tratados como exercícios; da
mesma forma são tratados os assuntos quotidianos. Como afirma um caba-
lista do século XVIII, "vim para observar como o meu mestre aperta os
cadarços de suas botas". Isto ajuda a desenvolver uma aguda consciência
do mundo elementar e a reconhecer que todas as coisas físicas estão em
permanente estado de mudança. Esta sensibilidade se intensifica, até que a
pessoa se dá conta de que os quatro Mundos estão inteiramente presentes
no interior do nosso próprio corpo e dentro do Universo físico.
O passo seguinte, com a ajuda dos demais e do mestre, é identificar a
natureza do ego Yesódico. Isto é feito pelos diferentes membros do grupo
dando exemplos de seu próprio pensar, seu próprio sentir e seus próprios
processos de ação, matizados por sua educação, propensões e debilidades
particulares. A base desta tríplice visão se encontra nas três pequenas tría-
des que alimentam o Yesod do ego e compõem a grande tríade dos proces-
sos vegetais e rotineiros da psique. Desta maneira, o estudante se familiari-
za com a Árvore, trabalhando em foro interno e vendo como o lado ativo
da psique estimula a ação e o sentimento e como o lado passivo refreia o
sentimento e conduz ao pensamento reflexivo. Na cabala, este método se
chama estudo da ação, da devoção e da contemplação. Nele, o estudante
executa diferentes exercícios, tais como a realização de um ato sagrado -
talvez acender uma vela antes de recitar uma oração a partir do fundo de
seu coração, ou refletir sobre uma idéia cabalística durante uma semana -
O Caminho da Cabala após a qual apresenta-a ao grupo para que seja comentada e comparada.
Desta forma, pode chegar a conhecer seu próprio tipo de ego e seus dese-
quilíbrios, de forma a perceber se é principalmente pensador, sensitivo ou
ativo, e pode trabalhar sobre as duas outras tríades centradas no ego para
corrigir qualquer deficiência.
O seguinte passo consiste em examinar as qualidades das duas Sefirot
"Cotno podes esperar que seja da função bio-psicológica, Hod e Nezah. Estas duas são particularmente
perfeito ... se esrou repleto de difíceis de definir, dada a grande diversidade de sua atividade. Na organi-
contradições?"
(Rabino Abraüo Ibna Ecra, zação de um grupo cabalístico, elas estão reciprocamente relaciondas com
Espanho. s k u l o XII.) a teoria e a prática. A teoria se situa sobre a coluna passiva da Forma em
Hod, porque tem que ver com o controle da aprendizagem e com os pro-
cessos de realimentação. Isto se exprime no estudo dos textos e diagramas
cabalísticos, da mesma forma que o exame das palavras e dos números.
Pode igualmente consistir na análise detalhada de uma parábola ou na
compilação de dados sobre um princípio constante para ver como se fun-
damenta numa Sefirat em particular. A energia de Nezah, ao ser ativa por
oposição à reflexiva, tem relação com a prática; isto se pode manifestar de
diferentes formas. No grupo, pode designar um ritual especial que se pra-
ticará para evocar uma tríade sefirótica, ou pode consistir num exercício
prático sobre os princípios cabalísticos aplicados ao trabalho na vida da
pessoa, como seja, aplicar a metafísica da Árvore a problemas médicos ou
de negócios. Da mesma maneira se pode construir um edifício ou um obje-
to ritual baseados na teoria cabalística, prestando especial atenção durante
o trabalho à oração ou a uma idéia em concreto, como a unidade entre a
terra e o céu.
O mestre (ou Maggid) se situa em Tiferet ou posição do observador, em
relação ao estudante, que está no coletivo do grupo e no Yesod pessoal.
Atua como o eu que guia o ego ainda indisciplinado do estudante, da
mesma maneira que Moisés guiou os israelitas de mente escravizada. As
diretrizes são dadas a partir do Trono de Salomão, mas não apenas por parte
do mestre, mas também por aquele que passa através dele a partir de cima,
por meio dos caminhos procedentes das outras Sefirot da Árvore do grupo.
Desta forma, são controlados os desequilíbrios pessoais do Maggid e se
estabelece uma corrente entre os Mundos superiores, em sua maior parte
intactos, e os estudantes, abaixo. Assim, a cadeia do ensinamento adquire
uma dimensão e uma escala totalmente diferentes. Alguns grandes cabalis-
tas disseram terem sido ensinados por Elijah, que é o vínculo entre o Céu e
a Terra. Na Árvore da instrução é onde o Malkhut do Mundo do Espírito
(Beriah) encontra a Tiferet da psique (Yezirah) e o Keter do corpo
(Asiyyah). Assim, a cabala se reparte e é recebida a todos os níveis da linha
dos Mundos, desde Metatron, o mais alto iniciado, até ao estudante mais
modesto, desde que seja receptivo.
Quando o estudante atinge o nível de Tiferet dentro de si mesmo - isto
é, quando desenvolveu suficiente vontade para atravessar a tríade do des-
pertar sempre que queira - toma-se tutor de si mesmo, dado que, a partir
daí, passa a entrar em contato com a tríade da alma formada pelas Sefirot
Hesed, Gevurah e Tiferet, as quais põem em jogo a disciplina da Justiça e
a tolerância da Misericórdia. Esta tríade emocional, que gira em tomo do
eu, trabalha para purificar a alma, agora consciente de si mesma, por vezes
mediante um toque de Severidade desde a esquerda, e por vezes com um
toque de Misericórida, desde a direita; estes, percebidos pelo eu, equilibram
as discrepâncias entre a expansão e a contração emocionais. Este trabalho,
Na busca da Sabedoria, aprimeira realizado com os parceiros do grupo e para eles destinado, prossegue
etapa é o silêncio. a segundo a durante muitos anos: a cabala é uma tradição não dramática, que requer
escuta, a terceira a memória, a grande paciência e estabilidade. Uma das razões deste tempo é o fato de
quarta a prática e a quinta o cada um ter de amadurecer seu potencial gradual e profundamente ao seu
ensinamento.
(Rabino Salomão Ibn Gabirol,
ritmo natural. Desta forma, o trabalho de sua vida se desenvolve no
Espanha. século XII.) momento adequado dentro de seu próprio tempo e do tempo cósmico. Esta
distribuição do tempo corresponde ao destino dos indivíduos e das escolas
místicas, cobrindo as necessidades do Mundo visível e invisível, segundo a
configuração de um momento particular da história.
Em termos do grupo, a grande tríade superior está relacionada com
questões cósmicas, tais como o gerar novas épocas religiosas ou sociais
(contrariamente aos assuntos individuais, da parte inferior da Árvore).
Aqui, Binah e Hokhmah, as Sefirot da tradição e da revelação, junto com a
não-Sefirah do Conhecimento, Daat, outorgam a todo aquele que possa
alcançar este nível uma visão dos acontecimentos celestes, ou seja, uma
visão pan-histórica. Esta aparece nas profecias bíblicas e também nos
esquemas cabalísticos do universo, que foram transmitidos por manuscritos
ou de boca em boca através das gerações. Qualquer estudante da cabala
pode ter acesso a estes níveis, mas não necessariamente só por ser membro
de um grupo ou de uma seita, ou por ter toda uma biblioteca de livros sobre
a cabala. Tem que se desenvolver uma conexão interna mais profunda, para
que exista um contato pessoal com o que se denominou a Academia do
Elevado. Outras tradições denominaram este nível de realidade da Ilha dos
Santos, o Círculo Interior da Humanidade, ou a Grande Fratemidade dos
Iniciados. Não tem localização neste mundo; seu lugar está na parte supe-
rior de Yiezirah (a psique) e na parte inferior da Beriah (o espírito). Está
fora do tempo e do espaço normais.
A tríade mais alta da Árvore do grupo é o contato direto com o Divino.
Correspondente aos níveis internos do indivíduo, assim como aos do
grupo, este é o lugar onde é possível chegar perante a presença do
Shekhinah, ou lugar do Senhor. Algumas pessoas experimentam-no
espontaneamente num ato de Graça, como um estado de profundo respei-
to reverencia1 em que se sentem plenas e rodeadas de uma luz dourada e
de uma sensação de unidade e de paz. O cabalista busca conscientemen-
te este ato de Yehud ou Unidade, com outros ou sozinho, sob as asas da
tradição, em que o Conhecimento permite e ajuda ao conhecedor a se tor-
nar uno com o conhecido.
Os grupos cabalistas costumam trabalhar dentro de um marco discipli-
nado. Ao operar no interior da tradição oral, podem se encontrar em qual-
quer parte do mundo e nem sempre no âmbito da ortodoxia judaica.
Encontrá-los não é fácil, porque apenas as pessoas que querem desenvolver
todos os níveis de sua natureza podem trabalhar na cabala. Muitos dos que
sentem temor ou fascínio pela cabala apenas sabem dela por uma imagem
supersticiosa ou mal informada e, inclusive, por vezes, os inteirados do
tema ignoram mais de sua verdadeira natureza do que outros, que tiveram
um contato passageiro com ela. A cabala apenas abre suas portas àqueles
que estão preparados para a receber. Uma fábula adaptada de um clássico
da cabala, o Zohar, ilustra este ponto:
Certo jovem viu uma vez a figura de uma moça coberta com um véu na
Aquele que conheça o mistério janela de um palácio. No início, por simples curiosidade, ia vê-la todos os
das Portas do Entendirtíento
conhecer&tumbém o Mistério do
dias fugazmente. Depois de um tempo, ela começou a olhar em sua direção,
Grande~~b~~~~ ( a co,lclusão do como se O esperasse. Pouco a pouco, ele foi aumentando o interesse por
ciclo espiritual). aquilo que ia tomando a forma de uma relação, ainda que distante. Com o
(Pico de Ia Mirutlidolu, cabalista passar do tempo, a moça baixou o véu para revelar seu rosto. Isto aumen-
cristão, Itália, século XV). tou o interesse dele, de modo que passava muitas horas junto ao palácio,
esperando contemplar toda a sua beleza. Aos poucos, foi se apaixonando
profundamente pela moça e passava a maior parte do dia perto da sua jane-
la. Mais adiante, ela se tomou mais acessível a ele e conversaram: ela lhe
revelava os segredos do palácio, contando-lhe histórias sobre seu pai, o Rei.
Por fim, já não podia suportar sua paixão, e a única coisa que desejava era
unir-se a ela para poder desfrutar de tudo o que ela lhe falava. O jovem
desta alegoria é a alma; a princesa, o espírito; o palácio, a existência, e o
rei, o Rei dos Reis.

O Trabalho Após o adestramento inicial na teoria e na prática, vem a busca pela


de Unificação unificação e pela perfeição, isto é, a reunião do corpo e da psique e a har-
monização num acordo com os Mundos superiores. Para a maioria dos
cabalistas, as diferentes etapas da unificação são atingidas por mérito do
trabalho diligente; contudo, à medida que uma pessoa se eleva através dos
sete níveis da psique, a Graça desce ao encontro desta pessoa, outorgando-
lhe profundas intuições Yeziráticas ou psicológicas, e profundas experiên-
cias Beriáticas ou espirituais. Estas nunca se podem explicar em termos
normais, embora os escritos cabalísticos tenham deixado através dos sécu-
los testemunhos que descrevem um tipo de fenômeno reconhecido por
outras tradições esotéricas. As técnicas utilizadas pelos cabalistas são mui-
tas e variadas, mas todas costumam ser abrangidas por três definições:
ação, devoção e contemplação, segundo as leis das três tríades do ego.
Ações tais como transformar as rotinas físicas diárias em testemunhas de
um ritual sagrado. Estas podem constituir cerimônias tão normais como a
de um judeu ortodoxo que cinge o braço e a cabeça com as tefilin, ou "cai-
xas de orações"; mas podem também consistir numa profunda atenção
para com as atividades normais. e que são dedicadas a Deus. Como disse
um cabalista russo: "Se uma pessoa pode pensar nos negócios enquanto
reza, então também pode rezar enquanto faz negócios." Exercícios devo-
Pode se aprender inclusive com tos baseados no amor e no temor a Deus também podem ser praticados a
um ladrúo: está sempre qualquer momento; o cabalista observa a Glória do Divino presente no
vigilante. aproveita qualqrrer
oportunidade e nfio despreia o mundo que o rodeia e, desta forma, dá continuamente graças pela chuva,
menor dos lucros. O cabalista pelos alimentos, pela família e inclusive pelas crises que periodicamente
deveria utilizar os mesmos interrompem o ritmo da sua vida, porque são enviadas pela Providência
critérios para seu para ensiná-lo, como uma lição. Nada é considerado insignificante, tudo é
desenvolvimento interno. um dom de Deus que deve ser apreciado. Inclusive a ameça ou o contato
(Rabino Hasidic, Polrinia,
século XVIII). com o mal se percebe como uma benção, um ato de amor dissimulado. O
ato constante da contemplação é levado a cabo por todos os cabalistas,
pois a cabala é principalmente um Caminho de Conhecimeno. Isto é,
enquanto muitos crentes podem pensar que amar ou temer a Deus e cum-
prir os Mandamentos é suficiente, o cabalista deseja conhecer a Deus e
com este fim estuda tanto o microcosmo que leve em si, como o macro-
cosmo do universo, para se familiarizar com os caminhos de Deus. Esta
aproximação intelectual contemplativa recebe um grande apoio com o
conhecimento mais e mais profundo da Árvore Sefirótica; esta vai reve-
lando constantemente na sua estrutura viva, faceta por faceta e a um nível
cada vez mais profundo, a Vontade do Criador de contemplar a Divindade
em cada uma das coisas.
Durante este longo trabalho têm lugar numerosas transformações,
tanto internas, como externas. De início, tudo é excitante com a desco-
berta de que existe uma resposta para todas as perguntas; muitas vezes,
todo o estilo de vida do indivíduo é radicalmente modificado. Depois,
segue um período apagado em que aparentemente pouco acontece, com
exceção de pequenas mudanças graduais que parecem insignificantes,
por contraste com o dramatismo do primeiro período. Esta fase tranqui-
la é, contudo, uma preparação, um prelúdio de acontecimentos internos
que surgem lentamente desde o Mundo do espírito, atravessando os
estratos mais profundos da psique para desembocar na consciência nor-
mal. Esta mudança pode tomar a forma de uma reorientação gradual para
o próprio círculo cabalístico de uma pessoa, ou de uma alteração da pró-
pria visão dos quatro Mundos em sua totalidade. Um médico, por exem-
plo, pode chegar a ver seu papel profissional cabalisticamente como
parte de um impulso mais amplo no sentido de levar a medicina conven-
cional ao contato com a cura interior, quando descobre em si próprio a
preparação para um trabalho não relacionado diretamente com seu
âmbito original de atividade, por ser um especialista. Um homem ou uma
mulher podem começar a se dar conta da possibilidade de elevar o nível
ético dos negócios com sua simples presença, ou podem adquirir a capa-
cidade de ver ou ouvir a grandes distâncias, inclusive até os Mundos
superiores, em benefício de outros que não têm esta visão. Estes são dons
que vêm naturalmente com a evolução interna, sem a ajuda artificial de
técnicas mágicas ou ocultas. Como disse um dos maiores cabalistas:
"Procura acima de tudo o Reino dos Céus (isto é, o Malkhut de Beriah),
e tudo o mais te será dado."
Os relatos de visões interiores nos chegam fragmentados. Alguns destes
documentos também descrevem as condições físicas e psicológicas neces-
sárias para que estes acontecimentos possam ocorrer. Muitas vezes se utili-
za o jejum ou o esforço intenso como preparação, ou então o retiro ou a abs-
tinência sexual. Estas técnicas variam segundo as épocas ou as escolas, mas
todas tentam conseguir o mesmo estado de equilíbrio e de lucidez. Uma
série de instruções recomendava, por exemplo, a satisfação do corpo para
que não interferisse, enquanto outra diretriz sugeria escrever tudo o que
ocorresse, ao acaso, rápida e continuamente, em forma de cartas hebraicas,
com o fim de sobrecarregar e confundir a mente Yesódica normal; outra ins-
trução ainda entendia o ato de amor sexual como um método para entrar
nos Mundos superiores. A cabala é suficientemente ampla para dar cabi-
mento a qualquer coisa, desde a dança estática, até a imobilidade absoluta
e o silêncio interior.
Nos tempos antigos, o processo de aprofundar-se em si mesmo durante
o ritual, a meditação ou a contemplação era chamado de "descer no Carro".
Esta ação propiciava simultaneamente a elevação e a saída do mundo físi-
co, atravessando-se então os denominados sete Vestíbulos Menores ou
inferiores da psique (página 91). Estes passos compreendiam a consciên-
cia do corpo, o Malkhut Yezirático, o estado normal do ego em Yesod, as
condições do despertar de Hod, Nezah, Tiferet, a consciência da tríade da
alma, e por fim as tríades espirituais e Divinas na Coroa da Árvore
Yezirática. Preparavam assim o caminho para os sete Vestíbulos Maiores do
Mundo Beriático. Neste processo ordenado e disciplinado, os cabalistas
penetram e experimentam o Mundo da Criação ainda em seu estado carnal,
e contemplam o panorama dos Céus e seus habitantes. Todavia, esta viagem
interior está pejada de riscos para os imaturos, para os desequilibrados e
para os que partem com uma motivação errônea. Um antigo relato sobre
três rabinos que entraram no Mundo do espírito puro é com frequência refe-
rido, a título de advertência contra uma incursão não preparada ao reino dos
Céus: o primeiro morreu, o segundo ficou louco e o terceiro perdeu a fé. O
que se segue é um resumo desta experiência.
No primeiro Vestíbulo, que corresponde ao Reino da Criação ou ao
aspecto espiritual do Eu, Akiba diz que se encontrava num estado de
devoção Hasídica. Ali, onde se encontra e se abre o denominado Véu do
Céu, entrou no Mundo do espírito puro. A partir deste lugar, onde anjos e
humanos podem conversar, elevou-se até Tahor, um estado de pureza, o
E entrei e me aproximei de Segundo Vestíbulo Celestial, chamado Rakiyah ou Firmamento, onde se
uma parede feita de cristais e diz que reside o grande arcanjo Gabriel. Aí, em Yesod de Beriah, o
rodeada de línguas de fogo; e
começou a me causar temor: Fundamento da Criação, se encontra o nível onde os signos do Céu são
E entrei nas línguas de fogo e revelados aos profetas. É também o lugar do Espírito Santo no homem, e
me aproximei de uma grande corresponde a Daat, a não-Sefirah do conhecimento em sua psique. O ter-
casa feita de cristais; e as ceiro nível se chama Shehakim dos Céus, onde Akiba se encontrou numa
paredes da casa eram como condição de Yashar, sinceridade, o terceiro Céu, onde os moinhos do
um mosaico móvel de
cristal. e seu chão era de Universo giram lentamente, moendo o Tempo. Então se elevou até o quar-
cristal. Seu feto era como o to Céu, onde entrou em contato direto com o Divino numa situação de
caminho das estrelas e do Tamim ou plenitude: é aí onde os três Mundos superiores se encontram,
relâmpago e entre eles havia pois a Tiferet de Beriah e o Malkhut de Azilut, o Reino do Divino, tocam
querubins de fogo e seu céu a Keter de Yezirah, a Coroa da psique. Neste nível, ocupado pelo grande
era (claro como) a água.
(Livro Etíope de Enoch, 1, arcanjo Miguel, se encontram a Jerusalém Celestial e seu Templo. Tendo
Palestina, século 11 a.C.). transposto os limites normais da psique humana, já que havia desenvol-
vido um veículo espiritual estável, Akiba entrou no quinto Céu, chamado
Maon, ou a Morada, onde se encontrou com os grandes arcanjos guar-
diães Samuel e Zadkiel, perante os quais teve que rezar a oração
Kedushah de santificação: Santo! Santo! Santo! para demonstrar sua san-
tidade antes de poder passar ao sexto Céu de Makom ou o Onipresente,
onde entrou em companhia dos mais elevados seres criados, perante o
Trono Celestial. Ali, cantou com o coro celestial os louvores a Deus, ante
cuja Presença chegou quando ascendeu ao sétimo Céu, o Grande
Vestíbulo do Arabot. Ali permaneceu "erguido, mantendo o equilíbrio
com todas as suas forças", pois tremia perante seu Criador.
Akiba retirou-se então da Presença do Divino, descendo através dos sete
estados do espírito até os sete Vestíbulos menores ou níveis da psique, e
voltando ao corpo, porque estava solidamente implantado na vida ordiná-
ria. Na cabala, esta estabilidade é um requisito prévio indispensável, por-
que qualquer defeito importante ou qualquer desequilíbrio no corpo ou na
psique se amplia durante uma experiência deste tipo. Assim, o cabalista não
se separa dos Mundos inferiores nem procura condições especiais ou o iso-
lamento para se desenvolver, mas utiliza a situação cotidiana e os aconteci-
mentos normais que o rodeiam como método de trabalho e como enraiza-
mento nos momentos em que penetra nos altos níveis carregados e rarifica-
dos dos Mundos superiores. Além disto, existe outra razão pela qual o caba-
lista não se retira ou tenta escapar dos Mundos inferiores, o que constitui
diferença fundamental entre a cabala e algumas outras tradições espirituais:
a cabala não considera a matéria como maligna, nem o Mundo natural
como indesejável ou inibidor da alma ou do espírito: é parte de um todo.
Como poderia não ser assim? A existência emana de Deus e, portanto,
embora existam graus crescentes de separação, não há fracionamento da
existência que possa existir durante um segundo sem a Divina Vontade,
nem mesmo o mal, que tem seu próprio desígnio cósmico para cumprir,
existe sem Ela.
Todo o universo é uma só peça, como uma túnica sem costuras com a
qual Deus envolveu a Divindade. Entretanto, posto que há quatro
Mundos, a cabala reconhece cada um deles com seu complexo de níveis
e funções que podem ter aparentemente diferentes realidades. Assim, os
Tachutonim, as criaturas que moram em baixo no reino natural, não
podem perceber as Elyonim, as que moram em cima. Apenas o Homem
possui a capacidade de perceber ao mesmo tempo o Mundo superior e o
inferior. A aquisição desta faculdade de visão interior e exterior é uma das
metas da cabala, pois sua teoria e prática capacitam os indivíduos a
expandir sua consciência tanto para baixo, como para cima e, se for
necessário, criam uma ponte sobre o espaço entre os Mundos, de manei-
ra a acrescentar o fluxo divino e o influxo celestial e conduzi-lo para onde
a evolução está obstruída, onde prevalece a desordem, ou onde a harmo-
nia necessita ser estimulada, ou a consciência da Presença Divina deve se
tornar manifesta entre a humanidade.
Estas operações são o trabalho fundamental da cabala. Embora uma pes-
soa possa contemplar enquanto indivíduo as elevadas paisagens na Criação,
vislumbrar o governo do Céu e inclusive perceber seres angélicos e suas
atividades, pode não ser mais do que uma viagem espiritual pessoal, como
as descritas em alguns dos primeiros relatos místicos. É um risco, ao qual
O indivíduo deveria manter aludem numerosas tradiçoes espirituais, como o são os perigos de adquirir
constantemente sua consciência poderes sobrenaturais sobre determinadas faculdades físicas, mediante a
de Deus e de Seu amor: Não
deveria separar sua consciência concentração motivada pelo ego. O trabalho de unificação não se refere
do Divino enquanto viaja pelo unicamente ao desenvolvimento individual, mas também à ajuda para a rea-
caminho, nem quando se deita. lização da unidade dos Mundos que ainda se encontram nas "dores do
nem quando se levanta. parto" da Criação. Da mesma forma que os níveis pessoais do corpo, da psi-
(Rabino Nahmanides, Espanha, que, do espírito e da centelha Divina são impregnados de harmonia, o
século XIII).
cabalista procura ser utilizado para ajudar a existêntica como um todo, em
pró do cumprimento de seu próprio destino coletivo e individual. Tudo isto
para se tomar espelho individual no interior do espelho cósmico, onde o
"pequeno Adão" de um homem normal pode contemplar cada vez com
maior profundidade a imagem do Grande Adão do universo, e perceber
assim o reflexo do Divino. Desta forma, cada cabalista, junto com todos os
que seguem o caminho da tradição espiritual, ajuda a Deus a contemplar
Deus, muito antes da maioria da humanidade começar a estar consciente do
propósito da vida, além do viver ordinário. Esta participação no plano
Divino chama-se Trabalho de Criação.

O Trabalho de Criação Da mesma forma que a Criação surgiu do Mundo das Sefirot para ini-
ciar a Semana cósmica dos Dias, o Tempo foi retirado da Eternidade. O
movimento da Criação, a formação e a Ação será constante até o Fim dos
Dias, quando a missão da existência tenha sido cumprida. Neste ponto do
processo de fluxo e refluxo estamos, segundo a tradição cabalística, na
metade do caminho, pois já se atingiu o limite da matéria, e o despertar da
consciência e da evolução começa a elevar o nível do universo acima dos
estados mineral, vegetal e animal, para o estado do humano encarnado.
Assim, tomando como referência uma área do universo próxima de nós,
como a Via Láctea, constatamos que ela progrediu o suficiente para depu-
rar-se numa formação concreta em espiral, com uma estrutura composta de
estrelas formadas de átomos, que por sua vez evoluiram em planetas for-
mados de moléculas e na superfície de um deles existe vida orgânica for-
mada de células. Esta ordem na escala da evolução pode muito bem ser
comum a outras galáxias e sistemas solares e incluir minerais, plantas, ani-
mais e humanóides que não seriam totalmente estranhos à humanidade: esta
noção se fundamenta no princípio de que todos os organismos se baseiam
no mesmo modelo sefirótico que gera criaturas possuidoras de vontade,
intelecto, emoção e capacidade de ação.
O planeta Terra, após ter passado pelas diferentes fases ígnea, gasosa,
líquida e sólida, adquiriu o que parece ser uma relativa estabilidade. A
longo prazo, isto é ilusório: os ritmos cósmicos, se são percebidos à sua
própria escala temporal, são tudo menos estáticos e imóveis. Por exemplo,
as condições adequadas para a vida apenas aparecem nos últimos milhões
de anos, e apenas numa pequena fração deste período apareceu a humani-
dade. A esta escala do tempo, a história da humanidade revela um drama de
acontecimentos sucedendo-se rapidamente, como os períodos de crises e de
quietude que se desenvolvem com seus episódios segundo certo ritmo; por
exemplo, o surgimento de uma parte da humanidade que domina a cena,
como no mundo mediterrânico os gregos deram lugar aos romanos, substi-
tuídos estes pelos árabes. Esta alterância de florescimento e decadência
corresponde às flutuações planetárias e estelares, e são a resposta humana
Quando o Ser Sacrossanto que à tensão cósmica entre a ordem e o caos, que na esfera pessoal se concei-
criou o Universo quis revelar seu tua como o conflito entre o bem e o mal.
aspecto oculto. a luz entre as
trevas, mostrou como as coisas
Segundo alguns cabalistas, no momento em que a Criação se separou do
estavam ligadas entre si Assim, Mundo da Emanação, surgiu o princípio do mal. Mas o mal não é sempre
das trevas procede a luz, e do o que parece ser. Há diferentes classes de mal. Sua forma mais aguda é a
oculto procede o revelado. D a obstinação; esta se encarna no arcanjo Lúcifer, que se rebelou contra Deus.
mesma forma, o bem surge do mal Manifesta-se de cima para baixo, através de todos os Mundos, como o prin-
e a Misericórdia da Justira. pois
ambas estão entrelaçadas. (Zohar,
cípio que sempre sabe mais, e se encontra nos orgulhosos e nos arrogantes
Espanha. século XIII). a todos os níveis. Em seguida está o papel do Tentador, ao qual está desti-
nado um dos trabalhos sujos da existência. Esta tarefa requer grande habi-
lidade, e é aí onde Lúcifer, encarregado de cumpri-la, utiliza seu grande
engenho. A serpente do Gênesis é esta mesma manifestação, como Satanás
perante Jó. Estas categorias de mal pertencem ao Pilar central da Árvore e
estão relacionadas com a consciência. Existem, contudo, elementos malig-
nos associados aos Pilares laterais da função sefirótica. São males gerados
pela excessiva contração de demasiada Forma ou Severidade, ou pela
excessiva expansão de demasiada Força ou Misericórdia. Estes males estão
encarnados nos remanescentes demoníacos dos Mundos anteriores que
existiam antes deste universo. Como tais, desempenham o trabalho de por
à prova e atenuar os processos e produtos da Criação. Vemo-los, por exem-
plo, nas tensões produzidas pela extrema riqueza ou extrema privação exis-
tentes na sociedade humana. O Último e menos agudo tipo de mal não é na
realidade maldade em absoluto; seus resultados parecem prejudiciais ou
desagradáveis, mas não o são. Os processos naturais tais como a excreção,
a morte e a dissolução são as fases residuais dos ciclos de Criação, de
Formação e de Ação, e sem elas o universo estaria repleto de sobras.
Dentro do plano divino, a humanidade tem um papel crucial a desem-
penhar. Segundo a tradição, cada indivíduo é enviado aqui para baixo para
cumprir uma tarefa relacionada com um aspecto em particular do esquema
total. Claro que isto não é possível no transcurso de uma vida, pelo que a
cabala subscreve a idéia da reencaranção, denominada Gilgulim ou os
Todas as são submetidas Retornos, em hebreu. Nosso livre arbítrio, que conduz a ações obstinadas,
prova da Transrnigração... O
indivíduo não sabe que 6chamodo carentes de vontade ou voluntariosas, gera o que na índia se chama o
ao juizo antes de entrar neste Karma e, na cabala, recompensa e castigo ("até a terceira e quarta
Mundo, assim como ao deixá-lo. gerações"). Quando se percebe esta imagem multidimensional do destino
Não sabe quantas transformaçõe.y da humanidade, vemos que o indivíduo não é apenas uma célula de Adão
e provas esotéricas tem que Kadmon, com certos dotes e propriedades, mas uma entidade que nasce
passa r... nem que as almas giram
como uma lançada com periodicamente num corpo físico para desempenhar uma tarefa. Assim, o
uma funda. nascimento e o renascimento não são acontecimentos fortuitos, mas uma
(Zohar, Espanha, século XIII). operação cuidadosamente organizada sob a tutela da denominada
Supervisão do Céu; esta, como uma agência cósmica geral da Divina
Vontade, tem domínio sobre tudo nos Mundos inferiores. Os antigos
nomes dos cabalistas, tais como "Os que sabem" ou "Os Ceifadores do
Campo", se referem a esta dimensão e explicam porque muitos deles sen-
tem um profundo afeto ou possuem um profundo conhecimento em
relação a outros períodos e a outros países. Estavam ali desempenhando o
Trabalho da Criação.
O Trabalho da Criação para a humanidade é a participação consciente na
realização da intenção Divina. Mediante esta participação, o cabalista não só
se toma mais consciente dos acontecimentos que ocorrem nos Mundos maio-
res e invisíveis de cima, como também ajuda efetivamente a introduzir os
influxos que procedem dos Mundos superiores sobre os inferiores. E o con-
segue mediante a habilidade na vida prática, a solidez psicológica e a clareza
espiritual. O que o transforma num bom instrumento para desempenhar qual-
quer tarefa que a providência lhe possa destinar. Significa que não apenas
funciona inconscientemente conforme seu destino, como fazem muitos, mas
também que atua a partir do conhecimento, de maneira a poder se ajustar ou
se adaptar aos acontecimentos ou atos, com o objetivo de preenchê-los de
maior claridade, pureza, equilíbrio e eficiência; por outras palavras, dotá-los
das qualidades dos quatro Mundos completos. Um exemplo disto foi o gran-
de mestre e cabalista do século XVIII Baal Shem Tov, que propiciou um pro-
fundo despertar espiritual a uma desolada comunidade judia do leste da
Europa. Isto apenas podia suceder enquanto fosse um ser carnal.
A idéia da presença na terra dessas pessoas tão desenvolvidas, que estão
aqui por escolha de Deus, é comum a todas as tradições espirituais. Na
cabala, a fábula dos Lamed Vav, os trinta e seis homens justos, aponta para
a presença de uma irmandade, dispersa pelo mundo, formada por pessoas
sábias que velam pela vida espiritual da humanidade. A este nível, pode se
tratar tanto de hindus que vivem nas grutas do Himalaia, de muçulmanos
que trabalham a prata em Damasco, de cristãos que praticam medicina em
Londres ou de judeus que ensinam economia na Rússia. Consta que apenas
eles sabem quem são os trinta e seis, porque perante o mundo aparecem de
forma completamente natural em seu contexto diário. A tradição vai mais
além e alude a toda uma hierarquia de pessoas espiritualmente evoluidas,
situadas em cada nível relativo a uma etapa diferente do progresso da
humanidade. Alguns desses indivíduos podem ser perfeitamente conheci-
dos do público; outros estão ocultos, como aquele denominado no
Islamismo "o Eixo do Tempo". Na cabala, o mais perfeito dos humanos
encarnados é o que representa o Messias, atuando como conexão entre
todos os Mundos. Neste único homem se unificaram todos os níveis possí-
veis do estágio atual da evolução encarnada, e ele atua como ponta de lança
da humanidade. Diz-se que esta pessoa está presente em todas as gerações,
pelo que o conceito comum de que o Messias chegou, ou de que está para
chegar ainda, adquire a dimensão do Divino, que é "Eu Fui, Eu Sou e Eu
Serei". Para os cabalistas, não poderia ser de outra forma, exceto que o
Messias, ao se aproximar o Final dos Dias, se dará a conhecer abertamente
a toda a humanidade, quando o Trabalho de Criação se acerque a sua per-
feição final.

A Consecução O trabalho da Criação purifica pouco a pouco o espelho da existên-


cia, levando-o a um estado mais elevado e mais sutil, para refletir na
consciência evolutiva de Adão uma imagem de Deus mais clara e mais
lúcida. Assim, da mesma forma que se desenvolve o macrocosmo, tam-
bém a humanidade, ao se expandir por todos os Mundos, leva seu olhar
tanto para fora, como para dentro, criando assim e incrementando a uni-
dade acima e abaixo. Uma prova disto pode se observar na terra, que
continuamente foi aprimorando a estrutura de seus elementos e a quali-
Desde o início dos Tempos, dade da vida sobre sua face. No curto tempo em que os humanos toma-
e por mais de uma
eternidade
ram parte nos assuntos do planeta, nos transformamos de tribus de caça-
Eu estava entre Seus dores nômadas a povos agrícolas, a partir dos quais evoluimos para
tesouros ocultos nações, impérios e até civilizações. Certo é que muitas destas grandes
D o Nada Ele me retirou. unidades gregárias da humanidade demonstraram os traços mais selva-
mas no gens do homem, mas também pode se observar que os usos tribais deram
Final dos Tempos
Serei chamado de novo pelo
lugar às regras da lei em diferentes graus de Sabedoria, Entendimento,
Rei. Verdade, Justiça e Misericórdia. Isto se deu graças à presença de gente
(Rabino Nahmanides, sábia e ilustrada por trás de cada nova passagem da civilização, que
Espanha, século XIII). demonstrou, com o exemplo, uma forma mais elevada de pensar, de sen-
tir e de atuar. Este trabalho representa uma força silenciosa durante mil-
hares de anos, sustentada por homens e mulheres incontáveis, conheci-
dos e desconhecidos, que empurram a raça humana para a perfeição,
periodicamente, estimulados por mestres messiânicos tais como Buda,
Moisés, Jesus e Maomé.
Pode se dizer que a humanidade emergiu de seu período vegetal de
mera sobrevivência e se encontra agora em sua etapa animal, na qual as
nações, como os animais, pugnam ainda por dominar. Mas parece vis-
lumbar-se a passagem seguinte através dos Mundos, pois não só existe
uma consciência física global através dos meios massivos de comuni-
cação, como também uma crescente sensibilidade psicológica para os
direitos dos homens e das mulheres. Além disto, em algumas partes do
mundo, durante os últimos anos, tem havido crescente interesse pelas
questões espirituais; assim, pode detectar-se uma lenta unificação dos três
Mundos inferiores da humanidade, a um nível econômico ou vegetal, a
um nível político ou animal, a um nível psicológico ou anímico e a um
nível ecumênico ou espiritual.
Segundo as leis que conformam todos os Mundos, há períodos em
que a balança se inclina momentaneamente para um lado e então há épo-
cas de tremenda atividade e outras em que pouco acontece, da mesma
forma que na vida do homem. Nestes períodos, as coisas podem descon-
trolar-se, porque as forças demoníacas, tanto externas, como internas,
tratam de impor sua vontade. Nestes períodos, algumas pessoas traba-
lharão em pró do equilíbrio, enquanto outras, movidas pela perversidade
ou pelo egoísmo, procurarão ajudar as forças que interrompem ou freiam
a nova fase que está tomando forma. Isto confere a muitas soluções
sociais e políticas uma dimensão cósmica ou espiritual. As guerras de
descolonização na África ilustram este ponto. Mas, segundo se diz, até o
Final do Tempos, quando os grandes ciclos do Shemittot cósmico se
aproximem de seu fim, surgirá uma dimensão totalmente nova que ape-
nas pode ser descrita pela alegoria apocalíptica, pois implica cada vez
OAncião dos Tempos se sentou, mais diretamente os Mundos superiores. A característica deste período
Suas vestes eram brancas 'Om0 a diz-se que será de confrontação final entre o Bem e o Mal, isto é, a pola-
neve,
Sua cabelereira como lã rização entre aqueles que afirmam o propósito da Existência e aqueles
puríssiima que perseguem seus próprios objetivos. Os primeiros serão representa-
Seu trono, chamas de fogo; dos simbolica e literalmente pelo Messias que, segundo se diz, será o
Suas rodas, chamas último espírito encarnado nesta terra, e os últimos, pelo anti-Messias ou
incandescentes, o mal egoista dos seres. Após um conflito em que até os céus e a nature-
Um rio imperuoso de fogo
brotava diante dele. za expressarão a guerra em todos os Mundos mediante estranhos feno-
Milhares e milhares o serviam. menos terrestres e celestes, haverá, com a derrota do Mal, uma paz total
Milhões estavam às suas ordens. e uma ordem universal sobre a qual reinará o Messias. Mas este período,
Começou a sessão e se em que o Tempo, segundo reza a crônica, far-se-á pouco a pouco mais
abriram os livros. lento, não é senão um prelúdio que permitirá a cada um preparar-se para
(Daniel, 7:9-10).
do Dia do Juízo Final.
De acordo com a cabala, neste Dia Final do céu cósmico, todas as cria-
turas de cima e todas as de baixo serão levadas perante o Trono dos Céus e
julgadas segundo suas obras durante a totalidade do Tempo. Alguns serão
elevados às alturas e outros arrojadas às profundezas, enquanto as últimas
horas da Criação aproximam entre si os Mundos separados para unficá-10s.
Quando cada criatura contemple a Divina Presença sobre seu Trono, com-
preenderá que não é senão uma faceta de um todo. Finalmente, da mesma
forma que o último espírito plenamente realizado da humanidade se fundi-
rá com Adão Kadmon, esta grande imagem de Deus contemplará o Espelho
da Existência para ver na experiência total da humanidade o reflexo de sua
própria Divindade. Nestes momento, se atingirá a perfeição e a União com
o Santo Nome de EU SOU O QUE SOU, quando Deus contemple Deus. No
resplendor desta consecução e contemplação, a imagem se funde com a rea-
lidade para dissolver-se no interior de AYIN SOF e confundir-se de novo
com AYIN: Só Deus é Deus.

Santo, Santo, Santo és Tu, Rei do Universo,


Tua Glória cobre todos os Mundos.
Segundo a tradição, Melquizedeque, o
Rei dos Justos e de Salem e sacerdote
do Altíssimo, iniciou Abraão no
conhecimento dos Ensinamentos
Esotérios no que concerne ao homem,
ao universo e a Deus. Melquizedeque
- que segundo consta, não nasceu de
pai e de mãe, e sim que sua vida não
tem princípio nem fim - é chamado
tradicionalmente o filho,de Deus que
perdurará para sempre. E considerado
o mesmo indivíduo que Enoch, o
primeiro iniciado, e que Elijah, o
instrutor dos místicos através dos
tempos. Do encontro entre este ser
celeste e um homem terrestre surgiu a
linha espiritual mais tarde conhecida
como a cabala. (Melquizedeque e
Abraão, retábulo em ouro e esmalte
de Nicholas de Verdun, em
Klosterneuburg, Áustria,
século XII).
N U Na&
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L ! ,iL'i r U LI
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Segundo se diz, Deus ensinou que Deus pudesse contemplar Deus. de novo ao Jardim do Paraíso, como
primeiro os segredos da existência (Deus, Arquiteto da Criação, segundo também recordar que ele era,
aos arcanjos superiores, que um manuscrito da Bíblia de enquanto imagem de Deus, o
formavam um conselho interno na Holkham, Inglaterra, século XIV). observador do espelho da existência
Corte do Todo-Poderoso. Nesta onde poderia perceber o Rosto
versão cristã do Ensinamento (na arte Divino. Este livro nos foi
judaica não pode haver representação Diz-se que Deus se compadeceu de transmitido, embora algumas
natural de Deus) o Criador dita as Adão depois de ter sido expulso do versões escritas alteradas tenham
leis que governarão a Criação. Estas Paraíso e que lhe enviou o arcanjo obscurecido seu conteúdo. Dele
se baseiam, segundo a Cabala, nas Raziel, cujo nome significa ainda existe uma versão oral na
dez Sefirot, Atributos Divinos ou "Segredos de Deus", para lhe cabala. (Escritura angélica, segundo
Manifestações do Absoluto, cuja entregar um livro, graças ao qual o o Livro de Raziel, Holanda,
existência foi disposta com o fim de homem poderia não apenas aceder século XVII).
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O primeiro diagrama manifesto de


ensinamento da tradição esotérica
judaica é a Menorah, o candelabro
que Deus especificou para Moisés no
, Monte Sinai (Exodo, 25). Feito de
uma só peça de ouro puro, para
simbolizar o permanente e unificado
Mundo Divino da Emanação,
compõe-se de haste central da Graça,
de braços direito e esquerdo da
Misericórdia e da Severidade, de dez
mais uma posições sefiróticas e vinte
e duas partes decoradas. Este objeto
ritual é a forma exotérica de um
esquema esotérico da existência e é
um objeto tanto de contemplação,
quanto de culto. (Menorah segundo
uma Bíblia manuscrita em sefardita,
do século XIII; em baixo, diagrama
que mostra as Sefirot e sua
disposição na Menorah).

tlot tievurrh tlinih Kear Hikhrnah Hcird Nczih


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saos!r\ selsg xnaa ap e u y f ) ep [a!nbazgap oI!aw!Jd o[ni!de30 ep o ~ d u i opun8aj
a~ op opopad ON
Os cabalistas fizeram numerosas
tentativas para formular o processo
mediante o qual a existência se
manifestou.Todos falham porque é
impossível encerrar o Divino na
mitafísica. Todavia, os místicos nunca
cessaram de experimentar tais
esquemas nem de encontrar-lhes
utilidade. Na versão mostrada aqui, o
AYIN e o AYIN SOF do Nada
absoluto e do Todo se contraem para
deixar um vazio em que a Divina
Vontade manifesta Dez Atributos
Divinos. A vontade se visualiza como
um raio de luz que atravessa o círculo
até o centro desde a periferia da Luz
Eterna (AY IN SOF O R ) para provocar,
criar, formar e fazer a manifestação
inicial do Divino que é Azilut, o
Mundo da Emanação (Zimzum ou
Contração: a primeira manifestação.A
explicação deste diagrama se encontra
- ~

na página 6).

O Shem-ha-Meforash,o Nome
especial de Deus que foi dito a
Moisés, pode ser observado numa
disposição vertical, como a imagem
aproximada de Adam Kadmon, o
Primeiro Homem. As letras hebraicas
Yod, He, Vav, He são consideradas a
representação não só da divina
Vontade, do Intelecto, da Emoção e da
Ação, mas também dos quatro níveis
da Emanação, da Criação, da
Formação e do Fazer, situados nos três
Pilares da Vontade, da Misericórdia e
da Severidade. A esta figura do Kavod
ou Glória Divina, composta de fogo
branco e preto, se alude em Ezequiel
como a "aparência de um homem". (O
Nome Divino, representado como
Adam Kadmon).
O diagrama das Sefirot ou Atributos
Divinos não foi publicado por
completo até à Idade Média. Houve
muitas variantes (vejam-se, por
exemplo, as das páginas 72-73), mas
esta é a versão utilizada por muitos
cabalistas hoje em dia. Sua estrutura
contém todas as leis que regem a
existência, pois revela um processo
universal de interação equilibrada
entre os princípios superior e inferior,
ativo (à direita) e passivo (à
esquerda). O influxo divino pode se
seguir detalhadamente pelos
caminhos entre as Sefirot (designados
pelas vinte e cinco letras hebraicas) e
através das tríades das relações
triangulares que os interconectarn. As
cores diferenciam aqui as tríades
funcionais ou laterais (vermelho ativo
e azul passivo) das tríades centrais,
que denotam os níveis de consciência
e vontade (lilás e amarelo).
Os quatro grandes círculos mostram
os níveis no interior de uma mesma
Árvore que correspondem aos quatro
Mundos (página seguinte) da
Vontade, do Intelecto, da Emoção e
da Ação. Embora sumamente
complexa, a Arvore Sefirótica revela,
contudo, uma imagem da Unidade
Divina. (A Arvore da Vida, sua
estrutura e sua dinâmica. Ver páginas
6-8 e 50-51).
ADOPA'
MIGI

MESS

A Árvore ampliada, mostrando as


inter-relações entre os quatro
Mundos, também tem diferentes
versões. Suas cores, tais como as
especificadas no Êxodo. 26 são o
branco (resplendor) para Azilut; o
azul (céu) para Asiyyah, e púrpura
(união do céu e da terra) para
Yezirah, que é a ponte entre o Mundo
superior e o inferior. No esquema
mostrado aqui, cada Mundo ou nível,
com sua própria sub-Arvore, surge do
centro da anterior, de forma que a
Emanação, a Criação, a Formação e a
Ação se interpenetram. Assim, o

L..
homem, que tem no seu interior os
quatro níveis correspondentes da
Divindade, o espírito, a psique e o
corpo, pode perceber todos os
Mundos durante seu regresso interior
e exterior à Fonte. Mediante um
processo gradual de realização, o
Adão caído se toma cada vez mais
consciente da Divina Presença em
todos os níveis, e o microcosmo
contempla no macrocosmo a imagem
de Deus. (Escada de Jacó, a
hierarquia dos quatro Mundos. Ver
página 90).
O Beriah da Criação é o Mundo Adão espiritual, o último destes
em que a Vontade de Deus, que seres que foi criado, é o mais
emana do inalterável reino da perfeito de todos eles, dotado além
eternidade (o Mundo de Azilut) disto do livre arbítrio. Aqui se
cria o espaço e o tempo. O livro situa a cena do desenvolvimento
primeiro do Gênesis descreve as do destino da humanidade.
fases iniciais de um drama cósmico (A criação da Luz, mezio tinta de
cujos atores habitam um Mundo de John Marin, Inglaterra, século
espírito puro, regido por seu XIX)
próprio ciclo de dias e estações. O
Se o mundo da,Criação é o Céu, o da
Formação é o Eden. Aqui, as coisas
provocadas e criadas, tais como o
espírito, se revestem de certas
qualidades e características, como
uma idéia que toma forma. Neste
reino, todas as coisas atravessam
metamorfoses sem fim, conforme a
Criação avança desde o início até o
fim dos tempos. Aqui, o Adão da
Criação se dividiu nos dois sexos,
que representam o P,ilar esquerdo e o
direito, enquanto a Arvore do saber
ou a Criação se eleva pelo meio do
jardim. Em cima se encontra a
Árvore da Vida, o Mundo Divino da
Emanação; em baixo, a serpente da
traição tenta o espírito e a alma. (A
tentação de Adão e Eva, gravura em
madeira, França, cerca de 1500).

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O Mundo de Asiyyah, ou da Ação e
dos elementos, é o último dos quatro
níveis a se manifestar. E o Mundo
físico em que as atividades dos
Mundos superiores se desenvolvem na
prática. A presença dos quatro
Mundos completos neste nível físico é
simbolizada por vezes mediante os
quatro elementos tradicionais: o fogo
ou a luz, que representa a Emanação;
o ar, que representa os processos
espirituais e cósmicos da Criação; a
água, que representa o fluxo da
Formação, e a terra, como o solo
firme da existência. Nesta paisagem, o
nível inferior da manifestação - o
último a separar-se da Divindade pura
e o que é submetido ao maior número
de leis - é, contudo, o receptáculo de
tudo o que aconteceu antes. Assim,
embora tudo aquilo que percebem os
sentidos possa ser físico, para o
cabalista, todos os fenômenos são os
efeitos ou as causas que atravessaram
todos os níveis da existência. Uma
paisagem ao entardecer, com seus
elementos de matéria sólida, formas
simbólicas mutáveis, atmosfera e luz,
adquire assim dimensões físicas,
psicológicas, espirituais e Divinas.
(Jerusalém).
Com o Mundo da Criação, surge a arbítrio. O arcanjo Miguel recebeu de símbolos; contudo, alguns
primeira separação do Divino. a ordem de ser o adversário do rabinos consideraram-na legítima
Aqui, apartando-se de uma só vez mal no céu. enquanto que o se aplicada escrupulosamente.
do contato direto com a homem é responsável da ordem Com o transcurso do tempo,
Divindade, o mal assumiu sua sobre a terra. (O conflito entre o aquelas práticas foram
forma. Tradicionalmente é bem e o mal, a ordem e o caos, corrompidas e conferiram à cabala
simbolizado pela rebelião do detalhe do Juízo Final, tríptico de uma reputação duvidosa. Mas as
arcanjo Lúcifer contra a ordem Jerônimo Bosh, Holanda, cerca de técnicas continuam sendo válidas
Divina de que deveria se submeter 1500). na medida em que certos
a Adão. Por esta rebelião, Lúcifer exercícios podem provocar
foi relegado, para cumprir o profundas mudanças na
trabalho do tentador. Trabalha consciência e eliminar problemas
junto com as forças demoniacas da A cabala prática é, uma forma de psicológicos que tempos atrás
desintegração, para por à prova a lidar com o mal. E uma forma de eram considerados em termos de
integridade da Criação e magia, a perigosa arte de obter posse demoníaca. (Amuleto contra
especialmente a do homem, a poder sobre o mundo psicológico o mal. em folha, Holanda, século
única criatura que possui livre (Yezirático) mediante a utilização XVII).
O ponto máximo que a maioria das
pessoas pode se acercar ao tema
deste livro é a experiência sublime e
única na vida de cada um. Um
momento assim pode se dar em
circunstâncias muito diversas, mas
sua qualidade é sempre a mesma. A
consciência física agudizada se toma
em lucidez psicológica, que por sua
vez se transforma numa profunda
consciência da totalidade do universo
e da Presença da Divindade. Uma
pessoa entra em contato direto com
todos os Mundos ao mesmo tempo e
percebe tanto a complexidade, como
a unidade de todas as coisas. Embora
esse momento possa durar apenas, um
segundo, sempre é inesquecível. E o
dom do Céu, e se uma pessoa deseja -
tomar a opção da iniciação, esse
momento pode ser a porta que
conduz ao reino interior e ao
superior. Aqui, MoisCs experimenta
um desses momentos. Suas escolhas
alternativas consistem em conduzir
os escravizados filhos de Israel - a
psique, com sua massa de hábitos de
descontetarnento enraizados - à terra
prometida ou Mundo Espiritual da
Criação, ou em permanecer, sem
atingir sua realização, num deserto
situado entre os cozinhados de carne
do Egito e a terra onde corre leite e
mel. (A Salsa Ardente, pintura de
Emst Fuchs, áustria, século XX).
O primeiro passo da cabala é é o eu que observa tudo e luta
familiarizar-se com a Arvore contra o anjo para impor Minha
Sefirótica. Sem esta chave Vontade à Sua Vontade. Gevurah é
decifradora, pouco se pode a qualidade emocional do Juízo, a
aprender. Para isto, é necessário disciplina e a decisão; é o
traduzir a natureza de cada Sefirah complemento de Hesed, a tendência
em termos humanos, de forma que emocional para a Misericórdia, para
a imagem Divina possa ser o amor e para o perdão. A não-
percebida ao nível do homem. A Sefirah de Daat é a voz do
Arvore é representada aqui por invisível, que concede o
pinturas e temas, através das obras conhecimento desde o mais além
de Rembrandt (que de todo modo deste Mundo. Binah é a capacidade
estava relacionado com a cabala.) intelectual de Entendimento através
Malkhut, o Reino, é visto como o da longa reflexão; a Sabedoria,
corpo físico elementar. Yesod, o Hokhmah, se encarna no momento
Fundamento do ego, é representado da revelação que surge na mente.
através da figura do filho talentoso, Não há imagem de Keter, a Coroa.
mas também ambicioso, Absaláo, A pauta completa de Atributos, com
que queria ser rei. Hod, a suas relações marcadas pelos
Reverberação, é a parte mercurial caminhos da Arvore (página 40).
de nossa inteligência natural, que define a anatomia da psique.
aprende e comunica; Nezah, a (As Sefirot na experiênia humana,
Eternidade, é a esfera dos ciclos vistas através de dez quadros de
instintivos e da preocupação pelo Rembrandt van Rijn, Holanda,
prazer e pela dor. Tiferet, a Beleza, século XVII)

(a) Malkhut. A lição de anatomia


do doutor Johan Deyman.
(b) Yesod. David e Absalão.
(C)Hod. Tito, o Filho do Artista,
diante de seu atelier.
(d) Nezah. Saskia van Ulenborch
com Atuendo Arcádico.
(e) Tiferet. (Jacó (Israel) lutando
contra o anjo.
(f) Gevurah. O Homem do Elmo de
ouro.
(g) Hesed. Cabeça de Rabino
Ancião.
(h) Daat. São Mateus e o Anjo.
(i) Binah. Santo Anastácio.
(j)Hokhmah. O Festim de Baltazar.
Páginas Seguintes:
O mundo incial do Gênesis,
Bereshith. diz-se que é a raiz de todo
o Ensinamento. Em sua leitura da
Bíblia, os cabalistas utilizam uma
grande variedade de métodos de
interpretação - literal, alegórica ou
metafísica - mas o objetivo é sempre
o de abrir as denominadas sete portas
da compreensão. As três primeiras
são as da ação cotidiana, do
sentimento e do pensamento; as
quatro últimas compreendem o
despertar interior, a consciência da
alma e a consciência espiritual que
conduzem à Divina Presença,
(correspondem às tríades da Arvore
do Caminho Cabalístico da página
22). Em cada uma destas etapas, o
texto da Bl3lia adquire um novo
significado como, por exemplo, o
símbolo de Adão e Eva, que assume
gradualmente uma realidade física,
psicológica e espiritual.
(Frontispício de uma Bíblia hebraica,
com o sumário ilustrado com todas as
narrações bíblicas, Alemanha, cerca
de 1300).

Um dos símbolos mais poderosos da


Bíblia é a Passagem do Mar
Vermelho. Não se trata apenas do
relato de um acontecimento
milagroso na história de uma nação,
mas iambém a descrição de uma
iniciação espiritual. Uma vez que o
aspirante tenha deixado sua antiga
forma de vida, representada pelo
Egito, e tenha cruzado o mar do
compromisso, já não pode voltar
atrás. Tem que enfrentar o deserto
psicológico interior, com suas
rebeliões e sua disciplina, sua
purificação e sua revelação sobre um
Monte Sinai interior, até que a velha
psicologia de escravo desapareça e
então estará pronto para entrar na
terra prometida do espírito.
(A Passagem do Mar Vermelho,
iluminura de um manuscrito por
Belbello de Pavia, Itália, século XV).
A instrução cabalística pode atingir-
se através de muitas vias. Pode se
compartilhar formalmente numa
escola ou pode se receber
individualmente mediante a
conversação, a demonstração ou o
ritual. Não existem regras, exceto a
de que o aluno deve estar
amadurecido e apto a receber a
instrução. A teoria da cabala pode
ensinar-se, por exemplo, em
particular ou publicamente, mediante
a cerimônia da Páscoa judaica, de
maneira que seu significado intemo -
o estar pronto para deixar a casa do
cativeiro - assume uma relevância
direta. Nestes primeiros anos, o
sistema deve ser aprendido a fundo e
seu ensinamento pode provir de um
rabino ou de alguém que
aparentemente possa parecer a pessoa
menos qualificada, mas que
interiormente está em conexão com a
tradição.
(Frontispício que mostra as Sefirot
superiores; as Sefirot inferiores se
encontram no leitor. Haggadah,
Holanda, século XVII).

A teoria se complementa com a


prática. Aqui, as idéias esotéricas se
entretecem no céu das festividades
judaicas e com os principais
acontecimentos da vida. Cada dia tem
suas fases de Misericórdia, de Graça
e de Severidade; cada semana, sua
progressão Sefirótica; cada estação,
seu significado espiritual. Cada etapa
da vida é parte de uma viagem
sagrada. Os ritos da circuncisão, do
Barmitzvah e do casamento
completam o ciclo natural antes do
crescimento interior da alma e do
desenvolvimento do espírito se
tomarem o centro da existência.
(A prática cabalística, litografia,
França, século XIX).
Para o cabalista, a prática nunca deve simples cerimônia se toma o foco do própria natureza com objetividade e
se converter em rotina. Embora influxo Divino. (Mizrah, ou menorah, a receber, por seus próprios méritos
exteriormente possa levar a cabo para orientar a oração no tempo e no e pela Graça que vem de cima, a
exatamente o mesmo processo dos espaço, Iran, século XIX). bênção cujo veículo é o mestre. Isto
seus companheiros, ele tenta só pode ocorrer se o próprio mestre
permanecer consciente do conteúdo é uma pessoa de saber interno e está
interno daquilo que está fazendo em em conexão direta com as Sefirot
relação a si mesmo, ao universo e a Nas primeira etapas da cabala é médias e superiores da Arvore da
Deus. Sua intenção, ou Kavvanah, é necessária a relação com um Tradição (veja-se a página 83). Tal
conscientemente dirigida, porque ele instrutor. O mestre não só mestre deve possuir profunda
sabe que o que está fazendo terá um compartilha conhecimento, como intuição psicológica e experiência
efeito sobre a totalidade da também vela pelo estudante, pessoal dos Mundos espirituais e
existência. Aceita a responsabilidade suprindo a própria consciência deste Divinos.
de seu arbítrio e age segundo seu ainda imperfeitamente (O Mestre, página do Guia para os
conhecimento dos Mundos desenvolvida. Desta forma, o Perplexos de Maimônides,
superiores, de tal forma que uma estudante aprende a observar sua manuscrito, Espanha, século XIV).
Há três abordagens iniciais na cabala
que correspondem ao corpo, ao
coração e à cabeça. São os três
métodos da ação, da devoção e da
contemplação: a abordagem literal, a
alegórica e a metafísica à tradição
religiosa (ver páginas 80-85).
A ação 6 a aproximação mediante o
ritual, seja uma cerimônica
comunitária, seja uma prática privada.
Uma tarefa cotidiana pode se tornar

,. :
. ? . ~
:
L ' . c., :
um ato de veneração. tanto no motivação; cria um profundo de uma situação corrente no âmbito
interior, como fora da ortodoxia dos sentimento de gratidão pelo que nos do Plano Divino.
ritos: o único critério é que seja uma foi dado e sensação de obediência à (A Ação; A Sinagoga de Livomo no
ação plena de dedicação e impregnada divina intenção. Simchas Torah, pintura de S.A. Hart,
da consciência do Divino no interior A contemplação é a abordagem da século XIX, esquerda, em cima; A
da realidade física. mente. E função do intelecto penetrar Devoção: A Bênção das Velas,
A devoção pode assumir diferentes e compreender o universo em seu pintura de Isidor Kaufmann, século
formas. Pode estar na oração ou no nível mais profundo. Tais reflexões XIX, esquerda, em-baixo; A
serviço religioso, ou em tudo em que podem compreender o exame da Contemplação: A Ultima Oração,
o principal móbil seja o coração. O última etapa da evolução cósmica, do pintura de Samuel Hirschenberg,
amor e o temor a Deus é sua destino do espírito a longo prazo, ou século XIX, em baixo).
Depois da ação, da devoção e da ao redor do Trono Celestinal. Mas mérito próprio, mediante um forte
contemplação, todas elas como parte esta experiência profética está trabalho espiritual, ou recebendo a
do trabalho do aspirante a cabalista, prenhe de perigo se o indivíduo não Graça a partir de cima. Este contato,
a quarta abordagem, a da percepção estiver preparado ou amadurecido. por mais momentâneo que seja,
mística, constitui o primeiro estágio (Visão de Isaías, segundo o sempre foi considerado como a
da verdadeira experiência manuscrito do Livro de Isaías, coroação de uma vida. E o dever e o
cabalística. Nesta produz-se a Reichenau, Alemanha, século XI). do cabalista esforçar-se
mptura com o Mundo natural, para para atingir a conexão Divina
passar, acima, ao sobrenatural, onde mediante a prática do Devekut, a
o cabalista vê o que costuma estar adesão a Deus, num constante ato de
oculto à vista - como a aura dos rememoração da Presença Divina.
corpos vivos - ou onde conversa O mais alto nível da realização (Moisés fala com Deus, segundo o
com mestres mortos tempos atrás, humana é o contato direto com o manuscrito de Haggadah, Espanha,
ou ainda onde vê os seres angélicos Divino. Este pode ser atingido por século XIII).
O propósito da unficação do eu é
ajudar a iqtegração dos quatro
Mundos. E uma forma de aproximar
a existência de sua realização plena
como espelho do Divino, que
contemplará o Adão aperfeiçoado no
Final dos Tempos. Este trabalho
externo da Criação é simbolizado
aqui por uma mezuzah, caixa de
orações feita para ser fixada na porta
de uma casa judia. Este desenho
recorda aos que entram e aos que
saem da Escada de Jacó e o
ensinamento dos quatro Mundos.
(Mezuzah, Itália, século XV).

A indumentária do alto sacerdote é


mais do que um simples ornato:
simboliza os quatro níveis no
interior do ser humano. O ephod
exterior, com seu tecido de ouro,
representa a parte Divina do
homem (Azilut), com o manto azul
como aspecto celestial ou espiritual
(Beriah). A túnica interior
representa a alma (Yezirah) e o
próprio corpo do sacerdote é o
veículo físico. A tarefa do cabalista
consiste em unir todos estes níveis
numa unidade harmoniosa, com o
objetivo de tornar-se num ser sobre
o qual - da mesma forma que sobre
o alto sacerdote - o universo e a
Divindade se manifestam
conscientemente.
(Aarão, o alto sacerdote, estátua;
Holanda, cerca de 1700).
Temas A Árvore do Fruto Sagrado, segundo O
nome que por vezes recebe, foi desenhada
de muitas formas diferentes, consoante as
escolas cabalísticas. Aqui, os caminhos
convergem num lugar do Conhecimento,
enquanto em cada lado e em baixo, outros
sistemas subsidiários desenvolvem a visão
metafísica de Isaac Luna (ver páginas 72-
73). (O sistema Sefirótico, segundo
Pa 'amon ve-Rimmon, Amsterdam, 1708).

Esquerda:
Antes de atingir a perfeição, há que
passar por numerosas etapas. Podem
ter-se visões do caminho futuro, mas
não se pode falhar nem um só passo,
para que a alma inocente que desce a
este mundo venha a se tornar de fato
no espírito experimentado que atinge
o final da viagem em união com o
Divino. Esta Escada de Jacó
desenhada por um cabalista
americano contemporâneo mostra as
diferentes etapas da subida através
dos Mundos, incluindo os obstáculos
a superar, tais como a obstinação e a
falta de vontade. Quando se atinge o
desejo de servir, o indivíduo se
submete ao Céu. Então Eu e Tu
estamos em união e se cumpre a
Divina Vontade. (O Caminho da
Perfeição).
Aqui, o Nome de Deus e as letras
hebraicas estão relacionadas com os
conceitos gregos e babilônicos dos
princípios que regem o universo. No
centro, encontra-se o Tetragrama, YHVH,
posto em forma do Tetraktis de Pitágoras
( 1 +2+3+4=1O), com os ângulos
assinalados pelas três letras-mãe: a do ar,
a da água e a do fogo. Os círculos
mostram as 19 letras restantes do alfabeto
hebraico, postas em correspondência com
os sete planetas dos doze signos
zodiacais. Contrariamente a certas idéias
pré-concebidas e amplamente difundidas,
a cabala permaneceu aberta através dos
tempos às idéias contemporâneas.
(Diagrama segundo o Sefer Yezirah, o
Livro da Formação; Babilônia, cerca do
século VI).

Direita. em cima:
Com a passagem da linha esotérica das
escolas babilônicas decadentes para a
Europa, no século X. ocorreram
mudanças importantes. Até o século XIV,
a cabala passara de um estudo exclusivo
para um estudo geral e era conhecida por
grande parte da intelectualidade da época,
incluindo estudiosos cristãos. Apesar da
oposição da ortodoxia, se expressava na
prática religiosa, na metafísica, na
ciência, na literatura e inclusive na arte,
tal como vemos aqui numa Árvore
composta por palavras. Aquela foi uma
idade dourada de inovação e proliferação
da cabala. (Diagrama caligráfico da
Árvore, segundo um manuscrito, França;
século XIII. Bibliothèque Nationale,
Paris).

O mais antigo texto místico é o Torah, o Esquerdo. em baixo:


As formas mutáveis Pentateuco ou os cinco livros de Moisés. Por volta do século XVIII, tinham
da cabala - tribais, na
Baseadas em mitos e sanas ocorrido numerosas mudanças no interior
história e na revelação Divina, as da tradição e, pelas mãos dos sucessores
escrituras constituem um corpo literário de Isaac Luria (ver páginas 72-73-77),
de muitos níveis. concebido para ser tomou-se extremamente complexa. Na
entendido tanto esotérica, como Europa do Leste, isto levou à
praticamente. O Torah (Ou Livro do simplificação exagerada que, entre os
Ensinamento) tornou-se o aspecto exterior incultos, assumiu forma de crendice em
de uma tradição espiritual que era santos fazedores de milagres com poderes
plenamente compartilhada apenas entre sobrenaturais (aqui expressos por meio
aqueles que procuravam seu significado das mãos, os símbolos tradicionais da
mais profundo. (Sefer Torah, ou Rolo da bênção). Isto gerou uma reação entre os
Lei. manuscrito, Jewish Museum, ortodoxos, que viam degradar-se as idéias
Londres). mais profundas. Os judeus assimilados do
Ocidente, que percebiam apenas a
imagem medieval da tradição e sua
Entre o último período bíblico e o período degeneração contemporânea,
posterior ao Templo (século VI a.C.- consideravam a cabala um supertição
século VI d.C.) os místicos judeus irrelevante para a vida numa Época de
receberam fortes influências das culturas Razão. (Mãos com inscriçóes de símbolos
que os rodeavam. Daí que tenha se dado cabalísticos. segundo Shefa Tal. por
uma amálgama de sistemas metafísicos. Shabbetai Horowitz, Polónia, 1712).
Em baixo:
Após a Época da Razão dos séculos
XVII e XIX,em que a tradição se tomou
clandestina, ou era preservada apenas
pelos judeus ortodoxos, o século XX
trouxe um interesse renovado pela
cabala. Em sua forma tradicional, é
estudada como tema acadêmico e como
parte de um movimento,em pró da
regeneração espiritual. E praticada
também tanto dentro, como fora do
judaismo ortodoxo, por grupos do mundo
inteiro, que procuram relacionar seus
princípios eternos com as condições e
com o saber contemporâneos, tal como
fizeram seus predecessores na Espanha
medieval e na antiga Babilônia. (Visão
Cabalística da Terra em relação com o
homem e com o sistema solar, segundo
Halevi, Arvore da Vida)
Visões de eternidade
YHVH, o Shem ha-Meforash ou
Tetragrama, o Nome de Deus de quatro
letras, é o símbolo mais utilizado para a
divindade. Contém em suas letras e em
suas formas todos os poderes da
Eternidade e da Vontade para mantê-la
tanto tempo quanto Deus queira. Se o
Santíssimo deixasse de desejar a
existência do Mundo da Emanação, nós e
o universo inteiro nos desvaneceríamos.
(O Nome de Deus, segundo uma Bíblia
manuscrita em sefardi, 1385. British
Library, Londres).

A imagem humana (Ezequiel, 1:26) era


utilizada pelos primeiros místicos para
descrever a Glória Divina. A figura de um
homem primordial, Azilútico, a imagem
de Deus, é a encarnação das Sefirot. Esta,
a imagem mais perfeita da Divindade, é
vista não como Deus, mas como Seu
reflexo e, portanto, uma representação de
EL que não contradiz o Segundo
Mandamento. Azilut, o Mundo Divino da
Emanaqão, não é Deus, mas Sua túnica de
Luz. (Adam Kadmon, Homem
Primordial, mostrando as Sefirot).

.. ml
: :

9 3
E
I
O Mundo Divino das Sefirot foi definido
de muitas formas. Aqui, as letras iniciais
de todas as Sefirot foram colocadas em
ordem, com Keter, a Coroa, que rodeia
todas as demais e Malkhut, o Reino, ao
centro. Provavelmente, baseia-se na idéia
alegórica de que as Sefirot são nozes com
suas cascas umas dentro de outras. O
modelo também ilustra o Absoluto
englobando o todo, que mantém cada
coisa em seu lugar segundo uma
sequência arquetípica. (Diagrama do
Purdes Rimmonim de Moisés Cordovero.
Cracóvia, 1592).

A letra hebraica Alef não é apenas a


primeira do alfabeto, mas a letra inicial de
Azilut, o Mundo da Emanação. Sua forma
é percebida por alguns cabalistas como
g. um diagrama das Sefirot (com Tiferet ao
centro) e do corpo de Adam Kadmon,
,.c dedos das m5os e dos p6s podem
= ser vistos a cada lado e em baixo. (Alef
do P a r h s Ritninotiinz, de Moisés
Cordovero, Cracóvia, 1592).
A face de Adam Kadmon foi utilizada viram nas divisões da barba e na Face, que expressava o aspecto mais
pelos cabalistas de nossa época como geometria dos traços a definiçáo das rigoroso do Divino. (Face do Amplo Ser,
uma metáfora da Misericórdia, através relações entre as Sefirot. Sob esta Ampla detalhe de um esquema Luriânico.
da qual emanou o resplendor Divino. Face (longo tempo sofredora ou Polônia, século XIX. Ver páginas 72-73).
Alguns sistemas foram mais longe e misericordiosa) se encontrava a Curta
.3,i
Os quatro níveis
de existência
@
/I

O Templo de Jerusalém, apresentado



aqui sob um aspecto idealizado,
expressa a noção dos quatro Mundos
que compõem a existência. Os três
C,
I
níveis inferiores são o plano físico, o
psicológico e o espiritual do universo. O
próprio edifício do Templo é o nível
Divino, com seus pilares gêmeos à
entrada. depois dos quais se encontram
dez Menorot (ver página 36). uma para
cada Sefirah. antes do nível mais
interior, o Santcta Sanctorum. (O
Templo. segundo Haggadah.
Amsterdam, 1695).

O esquema do Tabemáculo. mostrado a


Moisés no Monte Sinai, contém a O
50 c6vados
disposição dos quatro Mundos em sua C " I " ' - - - f
planta (ver página 93). O espaço entre
os querubins sobre a Arca é a parte
superior do Divino; a estrutura da Arca
é a inferior e assim sucessivamente. As SANCTA SANCTORUM
categroais de alto sacerdote, sacerdote.
Levita e Israelita correspondem aos IíKJ
quatro níveis humanos da Divindade. o ErnanaçGii
c6vados Inferior
espírito. a alma e o corpo. (Planta do
Tabernáculo). Véu . Crinçio superior

No interior de Azilut. o Mundo Divino


da Emanação, há quatro níveis: a
Vontade, o Intelecto, a Emoção e a ?O cOvador - Criaqi, inkrior

Acão. Estes. por sua vez, se manifestam 5 Conina Funiiaqdn


ao estender-se à existência fora de Supcrior
Azilut (que é em si mesma o reino da SANTUARIO
vontade) até aos Mundos inferiores de
Beriah (Intelecto). Yezirah (Emoção) e
Asiyyah (Ação). Este esquema é muitas Lavaóno
vezes reproduzido nos "agarradores" FonnaçGo inknor
que rematam os rolos do ~ o r n hA. coroa
representa o Mundo Divino com os três ÁTRIO
níveis correspondentes aos Mundos
separados da Criação, da Formação e da
Ação. (Rimmon. ou "agarradores",
Aliar
Inglaterra, 1767, Jewish Museuni.
Londres).
- Asso superiiir

- -
Porta
-
-- - - -
AçBo inkrior
E
As quatro Criaturas Vivas Sagradas de
Ezequiel 1 e do Livro da Revelação
simbolizam os quatro Mundos. A forma
humana é Adam Kadmon (página 68), o
domínio ígneo e Divino da Emanação. A
águia, o nível aéreo da Criação cósmica;
o leão, a água do coração da Formação. e
o touro, o nível terrestre do Mundo
natural da Ação. No centro está o
Messias, segundo um antigo conceito
judaico (ver páginas 88-89),rodeado de
seres angélicos e das almas dos justos.
(Timpano de Saint-Trophine, Arles,
França, século XII).

Aos quatro Mundos, os cabalistas


acrescentam um quinto nível, o reino dos
Kelippot ou conchas, mais conhecido
como o Inferno. Este lado escuro da
existência está aqui representado com sete
níveis de sofrimento ou de impureza,
onde permanecem aqueles que vão contra
a vontade de Deus, metade no interior da
evolução, metade fora dela, até que se
arrependam ou até que, como únicas
criaturas verdadeiramente mortas, sejam
ressucitadas no Final dos Dias. (Gehena
(Inferno), detalhe do Juizo Final. afresco
atribuído a Andra Orcagna e Nardo,
Camposanto, Pisa, Itália século XIV).
Sistemas alternativos
Dentre os numerosos sistemas existentes
da cabala, o mais conhecido é o esquema
Luriânico. Baseia-se na obra de Isaac
Luria. que viveu na Palestina no século
XVI, no centro cabalístico de Safed. O
mal, tal como o via Luria, era o resultado
de antigos acontecimentos em Azilut. o
Mundo mais elevado, onde as sete Sefimt
inferiores. incapazes de conter o fluxo da
Divindade, estalaram, provocando a
queda dos Mundos inferiores para baixo
do seu verdadeiro nível. Ele definia a
redenção do homem como a participação
na obra de Tikkun, a restituição do
universo mediante a reorganização de seu
sistema sefirótico. Estas boas ações aqui
em baixo ajudariam a eliminar o mal dos
Mundos de cima. Esta noção tinha um
grande atrativo para a comunidade judaica
que estava ainda sob o choque da
expulsão da Espanha em 1492. O sistema
de Luria deslocou fortemente todos os
demais, embora seus discípulos
desenvolvessem versões muito diversas
de suas idéias.
O rolo reproduzido aqui expõe um
complexo sistema (da direita para a
esquerda). Nele, conceitos anteriores a
Luria foram incorporados numa
disposição pós-luriânica, que até o século
XIX apenas era inteligível pelos
entendidos. Mas o comum dos mortais
tomava ao pé da letra conceitos tais como
as faíscas de fogo da Divindade
encerradas nas coisas cotidianas, e se
propunham resgatar estas "luzes ocultas"
como uma fora da cabala em ação. A
popularidade da visão do mundo de Luria
levou muitos a aceitá-la como a principal
corrente da cabala, quando de fato é uma
inovação e um dos muitys esquemas
alternativos. (Rolo das Arvores, Polônia,
século XIX, Coleção de Alfred Cohen).
Anjos e demônios

BERIAH

A criação está repleta de criaturas de cima


abaixo. Os Tachutonim, os que moram em
baixo, costumam não perceber os que
moram em cima, os Elyonim. Todavia, a
presença das criaturas sobrenaturais pode ser
sentida por vezes nos lugares sagrados. onde
se eleva o nível normal de consciência.
(Querubins sobre a Arca do Tabernáculo,
segundo um manuscrito, França. século Xiii,
British Library. Londres).

Diz-se que a natureza das criaturas


angélicas é a mesma das criaturas de
baixo, com a exceção de que não têm
funções físicas nem vontade individual.
Por isto, são em seus Mundos tão
incompletas como as plantas ou os animais
e têm pouca noção dos assuntos humanos.
Executam o trabalho rotineiro dos Mundos
superiores, mas enquanto agentes da
Divindade, não podem atuar fora de suas
funções expressas. (Serafim, relevo sobre
talha de madeira, Síria, século VI).
Esquerda
A hierarquia dos seres angélicos se ajusta
à ordem dos Mundos. Segundo o Gênesis
1. as aves do firmamento são os arcanjos
de Beriah ou da Criação. enquanto o's
peixes do mar sáo os anjos de Yezirah ou
da Formação. Segundo a tradição. cada
Mundo se divide conforme uma
hierarquia de níveis e Pilares. As mais
altas entidades do Mundo angélico da
Criação são os espíritos santos do
conselho interior, sob o comando de
Metratron; no Pilar central, os grandes
arcanjos Miguel e Gabriel têm funções
especiais em relação ao homem, pois são
os veículos da Graça, mediante a-qual o
Divino Metatron se comunica com
Sandalfon ao nível do homem (na Tiferet
ou eu da psique).
(Hierarquia dos anjos e arcanjos, segundo
Halevi, O utiiverr~oCuhalístico).

Lúcifer, o Portador da Luz. era um dos


mais altos arcanjos; mas quando se negou
a se submeter a Adão - tal como tinha
feito também Miguel, o Capitão das
Hostes - recebeu o odioso título de
Samael, o Envenenador de Deus, o
aspecto destrutivo do Juízo Divino
(Gevurah) e o chefe das hostes
demoníacas que põem à prova a Criação.
Mas até mesmo Lúcifer, que também é
Satanás, o tentador do homem, poderá ser
redimido no Final dos Dias em justa
proporção ao seu estado de submissio.
(A Quéda de Satanás, gravura de Gustavo
Doré, segundo O Paraíso perdido. de
John Milton. França, século XIX).

A luta entre o bem e o mal é vigiada pelos


anjos e pelos demônios. Por sobre cada
pessoa, dizem os cabalistas, se encontra
um de cada, quando aquela pessoa toma
suas opçôes morais: no final da vida, um
@#& P
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e outro proclamam sua vitória e levam-lhe


a alma para sua morada de cima ou de
baixo. Visto em termos atuais, é a
manifestação dos arquétipos psicológicos
da obscuridade e da luz; sobre os estados
inconscientes ou post morrem apenas se
pode especular, ou podem ser
experimentados pelos que são sensíveis
aos níveis de realidade em que operam
estes arquétipos.
(Luta entre os demônios e os anjos pelas
almas humanas, detalhe de um afresco
atribuído a Francesco Traini, Camposanto,
Pisa. Itália, século XIV).
Os milagres A diferença entre os milagres e a magia é
que operam a partir de diferentes mundos.
e a magia O milagroso é a Vontade do Céu,
decretada em Beriah, o Mundo espiritual
da Criação; a magia é a aplicação da
vontade humana ao nível psicológico de
Yezirah, o Mundo da Formação. AO
operar sob a Vontade de Deus, MoisCs
superou as proezas mágicas dos
sacerdotes egípcios (Exodo,7). As
serpentes que eles tinham feito aparecer
foram devoradas por aquela criada por
Deus através de Moisés.
(A vara de Moisés transformada em
serpente, segundo Haggadah, Espanha,
século XIV, Britihs Library, Londres).

O milagroso tem uma escala cósmica,


embora possa se realizar através da vida
de um indivíduo. Muda o curso dos
grandes acontecimentos ou intervém para
transformar uma situação ordinária numa
oportunidade enviada do céu. (O sol se
- detém Dara Josué, pintura de John Martin,
Inglaterra, século XIX. Grande Loja
Unida da Inglaterra).

Muitos relatos de milagres e de magia se


baseiam em acontecimentos reais, mas
essencialmente espirituais ou
p~icológicos,transformados em alegorias
para servir de ensinamento e assim serem
divulgados ao pé da letra pela linguagem
popular. O Rabino Naphtali Cohen de
Frankfurt do Main provocou,
metaforicamente, a saída do sol na mente
ignorante de seus discípulos. Esta história
foi transformada em fato físico real por
pessoas ignorantes que viam a cabala
como uma magia e, por isto, quando o
gueto foi incendiado em 1771, Nephtali
foi considerado culpado.
(Naphtali Cohen fazendo sair o sol na
noite com seus poderes cabalísticos.
gravura, século XIX).
A cabala prática ou mágica nunca contou
com a aprovação do pensamento
ortodoxo; contudo, sempre foi praticada.
Existem muitos livros cabalísticos
baseados no fato de que a vontade
humana pode manipular os princípios
psicológicos e. portanto, controlar as
condições do Mundo da Formação e
conseguir, sob certas circunstâncias, a
materialização de um objeto desejado.
Tais operações são levadas a efeito
tradicionalmente através da invocação de
nomes angélicos ou divinos de forma
ritual, com um objetivo claramente
expresso. Aqui se mostra uma fórmula
para conjurar um espírito que se
submeterá à direção do mago. Estas
operações, se acaso fossem necessárias,
apenas podem ser realizadas após solicitar
o consentimento Divino.
(Selo angélico d o denominado Sexto
Livro de Moisés, Alemanha. século
XVIII).

Muitas operações cabalísticas práticas são


preventivas. Aqui, um amuleto atua como
proteção contra a peste. Foi desenhado por
um discípulo do grande Isaac Luna que,
como muitos outros durante o século XVI
ou antes, via estes amuietos como uma
defesa legítima contra os perigos
invisíveis. A enfermidade era um desses
perigos e era em muitos casos interpretada
como o ataque das forças demoníacas. As
palavras e símbolos utilizados aqui são
uma mescla de fórmulas mágicas
cabalísticas e gentias. Esta adulteração da
tradição em favor da magia viria a
desacreditar a cabala aos olhos dos judeus
que tinham recebido educação ocidental.
(Amuleto, segundo Shaar h-Yihud. por
Hayyim Vital, século XVI).

A tradicional objeção à magia por parte de


muitos cabalistas baseia-se no fato de que
isto altera o equilbrio dos Mundos.
retirando as coisas da sua ordem normal. A
magia também é vista como uma obstrução
ao desenvolvimento espiritual, pois o mago
chega a estar tão implicado no Mundo de
Yezirah que não pode entrar nos Mundos
superiores. Além disto, o uso dos Nomes
Divinos para qualquer ato que não seja
sagrado é considerado blasfemo. Ainda
assim, apesar destes traços obviamente
degenerativos. a magia cabalísfica foi com
frequência praticada com boas intenções e
num espírito de submissão à Vontade de
Deus. (Amuleto para proteger a mãe
durante o parto. segundo o Livro de Ra-iel.
Holanda. 1701 ).
A cabala cristã
e oculta
Não há dúvida que grande parte daquilo
que dizia Joshua ben Miriam - também
chamado Jesus de Nazaret - procedia da
tradição esotérica judaica de seu tempo.
Seguramente. também Saul de Tarsus -
São Paulo - estava relacionado com a
linha mística. Mais tarde, a cabala foi
transmitida sob uma forma cristã pelos
judeus convertidos e pelos cristãos que
tinham estudado com os rabinos. Este
processo atingiu seu ponto culminante
durante o século XVI, quando os
estudos cabalísticos se tornaram fonte
material da argum~ntaçãoteológica.
Este diagrama da Arvore em forma de
Menorah provém de uma folha impressa
de um cabalista cristão. (Detalhe de Or
Neror ha-Menorah. por Guillermo
Postel, Veneza, 1548).

A transição da cabala judaica para a


cristã não foi um processo difícil: ambas
as religiões compartilham as mesmas
raízes. A distinção reside no papel do
Messias - a imagem de Deus no homem
terreno - que os cristãos personificam
em Jesus de Nazaret. Nesta adaptação
cristã da cabala, o círculo exterior dos
Dez Mandamentos representa o Mundo
físico de Asiyyah; o alfabeto hebreu, o
Mundo Formativo de Yezirah; as Sefirot
(círculos de nuvens. partindo de cima no
sentido horário), o Mundo Criativo de
Beriah. e os Nomes correspondentes de
Deus (círculo de fogo), o Mundo Divino
de Azilut. No centro se encontra a figura
de Cristo. Esta formulação provém dos
Rosacruzes, uma fraternidade mística
cristã que surgiu durante o século XVII.
(Diagrama cabalístico cristão, segundo o
Amphitheatrum supientiae aeternae
.solius versar. por Heinrich Khunrath,
Hannover, 1609).
Nesta interpretação rosacruziana da
cabala, grande parte do simbolismo
permaneceu oculto sob uma mistura de
metafísica mágica, alquímica e cristã.
Todavia, tanto os estudiosos, como os
iniciados da tradição esotérica ocidental
devem muito aos fragmentos da cabala
que se destacam entre os textos e
diagramas adulterados. (Figura da Divina
Teosofia Cabalística, Mágica, Filosófica e
Alquímica, segundo Geheime Figurrn der
Rosenkreuzer. Altona, 1785).

A origem da franco-maçonaria presta-se à


especulação; mas sua visão de Deus, do
universo e do homem mostra claras
afinidades com a dos cabalistas. Os
maçons utilizam o simbolismo do Templo
de Salomão com seus Pilares da
Misericórdia e da Severidade; e os maçons
que construiram as catedrais medievais
européias fizeram delas diagramas de
pedras baseados essencialmente nos
princípios cabalísticos. (Frontispício de
Masonic Miscellanies, de Stephen Jones,
Londres, 1797).

A cabala oculta tem uma história que


remonta à Babilônia. Um de seus
afloramentos se manifestou na Europa
medieval no desenho das cartas do Tarot,
das quais provêm os naipes modernos.
Existe um pau ou uma cor para cada
Mundo, composto de dez cartas mais um
pajem, um cavaleiro, uma rainha e um rei
que indicam os quatro sub-níveis. O traço
oculto do sistema reside no pau dos
arcanos maiores. vinte e duas cartas que
se relacionam com os caminhos da

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Árvore e com os estágios da evolução.
Aqui, Adão o Mago manipulam os
símbolos dos quatro Mundos, enfeitado
com o Chapéu da Eternidade. (Cana do
Tarot, França, século XVI).
( I.

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I,
Os métodos buição da mesa e o simbolismo do ser-
viço não apenas narram a história da
cabalísticos: saída do Egito, como também falam da
a ação preparação interior para a viagem h terra
prometida do espírito. Todos os presentes
A confecção de objetos rituais é um dos são instados a se considerar como um
exercícios da ação cabalística. A transpo- dos israelitas dispostos a iniciar o a
sição de uma idéia espiritual, através de Caminho. (Prato de Páscoa, Hungria,
uma forma preconcebida, num símbolo século XVII. Wolfson Museum,
material de uso implica os três Mundos Jerusalém).
inferiores. Aqui, as três coroas numa
bandeja de prata representam as Sefirot Em diversas ocasiões. o judeu ortodoxo
supremas de Keter. Hokhmah e Binah: veste asflacterias ou teJi1lin. Estas, são
os'pilares são os da Severidade e da objetos rituais que contêm os textos
Misericórdia; as sete Sefirot-campainhas sagrados e que se fixam à cabeça ou ao
simbolizam as sete Sefuot inferiores da braço de determinada forma. A reali-
Construção. A bandeja se pendura - se zação desta ação leva o corpo, o coração
apoia em tomo da Sefer Torah (página e a mente à consciência de Deus; cada
34) quando não está sendo interpretada. etapa do ritual, tal como o atar as cintas
("Peto" de prata, Alemanha, 1680. formando a letra inicial de um Nome
Jewish Museum. Londres). Divino, executa-se com grande concen-
tração interior. (As tefillin e sua apli-
A celebração da Páscoa judaica é uma cação. segundo Cérémonies et coutumes
ação esotérica em forma ritual. A distri- religieuses.. ., de B .Picart, 1733).
Esquerda em baixo:
O corpo humano é uma clara expressão
da lei sefirótica no Mundo físico. Tem
quatro níveis de alividade: mecânica,
química, elétrica e consciente. Os Pilares
laterais, no Mundo de Asiyyah, são a
energia e a matéria, com o eixo da
vontade no centro. Tiferet é o sistema
nervoso central, com o componente
autônomo em Yesod. Em Malkhut estão a
pele e os ossos de matéria sólida; junto
com os líquidos, os gases e o calor
formam os quatro níveis da Ação na
carne. "Se queres conhecer o que está Em
Cima, então olha para Baixo", diz um
cabalista. Esta sistema é exposto em
forma de diagrama na página 15; o
esquema mostrado aqui utiliza a analogia
com uma casa para demonstrar não
apenas a correspondência dos órgãos e
das funções, mas também os quatro níveis
elementares na carne, que correspondem
aos quatro Mundos. (A casa do Corpo,
segundo Maaseh Tobiyyah, por Tobias
Cohn, 1707).

Em bebraico, a palavra Avodah significa


tanto o trabalho, como a devoção. Sua
utilização na cabala exprime a tentativa
combinada e consciente que sustenta toda
a ação; tudo o que é feito exteriormente
tem um conteúdo interno que transforma
o ato em si em ato sagrado. Desta forma,
os Mundos superiores e inferiores se
encontram e se unificam na Kavvanah, ou
tentativa consciente de trabalho. Aqui.
uma caligrafista escreve o rolo da Lei, o
modo de vida mais perfeito. (Escriba
trabalhando, Jerusalém, século XX).

Os princípios resumidos na Árvore têm


sua aplicação através de todos os
Mundos, em tudo aquilo que funciona
como organismo ou organização,
inclusive um carro. Em Hokhmah e
Binah, estão as idéias que sustentam a
máquina, sua invenção e seu desenho; em
Hesed e em Gevurah, os princípios
mecânicos da Força e da Forma, da
propulsão e da regulagem; em Nezah e
em Hod, as funções
- -
operacionais ativa e
passiva. No Pilar central, podemos ver a
base material (Malkhut) e como a afetam
o aspecto e o comportamento do carro
(Yesod) e a vontade do condutor (Tiferet).
Perceber o funcionamento das Sefirot
numa máquina ou num artefato humano é
compreender o trabalho da Lei no Mundo
inferior quando o homem exerce sua
vontade para criar, da mesma forma que o
seu Criador. (O carro e a Arvore
Sefirótica).
Os métodos cabalísticos: a devoção

KETER
Não tereis outros
deuses senão a mim.

BINAH HOKHMAH
Não pronunciareis o

-
Não fareis imagens
nome do Senhor v o s s o esculpidas
Deus em
viio \ HESED
GEVURAH
Guardareis o dia do
Honrareis vosso
Sabbath. considerando-o

-
pai e vossa
mãe \ santo
TIFERE<
Não matareis
NEZAH
HOD Não cometereis
Não roubareis adultério

Y ESOD
Não cometereis hlso
testemunho contra
vosso próximo

MALKHUT
J,
Nffocobiçareis

O caminho da devoção começa no ver um relâmpago ou por ver o mar ou Púginu seguinte, em cima. a
amor e no temor a Deus e se encarna um homem sábio; bênçãos para o esquerda:Abraham Abulafia, que viveu no
nos Dez Mandamentos. Estes se vinho ou para a boa saúde. Estes atos século XIII. foi um homem estranho,
baseiam nas Sefirot, com os três devotos levam a atenção sobre a inclusive do ponto de vista dos visionários.
primeiros que se relacionam com a veracidade da afirmação de que tudo Em parte profeta, em parte metafísico e
tríade Divina ou suprema. O quarto e o emana do Divino: o devoto tenta em parte poeta. concebeu uma técnica de
quinto, em Hesed e em Gevurah. falam recordar esta consciência em tudo o meditação que perturbava a mente normal
da devoção e do respeito ao nível que vê ou faz. A repetição diária destas (Yesódica), com o objetivo de que o
emocional; os últimos. que se referem orações nunca deve ser apenas da boca coração pudesse compreender o que
a assuntos externos, devem ser vistos para fora. (A oração de açáo de graças acontecia durante a oração. Através destes
como guias adicionais para a prática pelo pão: caligrafia. século XX. "círculos de instrução" e da contínua
interior; assim, uma pessoa não deve Coleção de Joseph Rusell.) recombinação das letras e nomes hebreus.
matar o eu ou sua esperança de a pessoa entregue à meditação tentava
crescimento espiritual (Crime, Tiferet), Os cabalistas escreveram numerosos transcender o racional e perceber as
adulterar a vida espiritual com sua livros sobre o Caminho da Devoção. esferas sobrenaturais. O método não está
busca de poder (Adultério, Nezah), Dão instruções para uma conduta muito distante de certas técnicas orientais
abusar do conhecimento adquirido para correta e uma prática ética, assim dos inantra. (Instruçóes para a meditação,
extrair vantagens injustas (Roubo, como diferentes técnicas de oração e segundo uni manuscrito dos Escritos de
Hod), enganar a si mesmo ou a outros, submissão à Vontade de Deus. No Abulafia).
mediante o ego Yesódico, ou século XI, o judeu espanhol Bahya
ambicionar alguma posse no universo: ibn Pakudah (que escreveu P~íginriseguirite. em cima, ir direita:
tudo é o Reino de Deus (Malkhut). (Os originalmente os Deveres do Coruqão A relaçáo dos Patriarcas entre si pode
Dez Mandamentos, correspondências em língua árabe) discorreu sobre a ser entendida simbolicamente em
sefiróticas). consciência, a humildade e o correspondência com as Sefirot: David
ascetismo, e enfatizou a observância se encontra em Malkhut; José em
"Louvado Sejas, ó Deus nosso Senhor, interior da Lei em agradecimento ao Yesod; Moisés e Aarão em Nezah e em
rei do universo, que obténs o pão da benefício outorgado pelo amor Hod; Jacó (Israel), em Tiferet. Abraão e
terra." Esta oração de dar graças é uma Divino. (Portada de uma edição em Isaac, em Hesed e Gevurah,
das bênçãos que são recitadas pelos latim, ou judeu-espanhol, do Hovot representando a relação entre o amor e o
judeus devotos em todas as ocasiões /lu-Lcvailot. de bahya ibn Pakudah, temor, com a obediência de Abraão no
especiais de sua vida; há bênçãos por Veneza. 17 13). Monte Moriah (Gênesis, 22). como ato
(vlVqv3 UP T V u V 3 O '!AaleH
opun8as 'oEss!uiqns ep sedeia) qwnAaf)
a pasaH ap o ~ J e ~ op
o 3no spuo!Jouia
laiy* sap sapep!lenb se 'o$Jeuyuas!p
e a o~xpduio3e anlonuasap o~Jeui!xaide
q s g .,,!L,
e ~oureo emd ,,na,, oe
JOW op w o d s w ~ sou anb o~J!prrrle uio3
oss!uiaiduio~uin e 'aasaui o oe o ~ k n a p
ep s?nem 'znpuo3 OISI 'sopelwuoa

O .apmuon ep s!an,y saiuaiaj!p muyop


as-anap s!od '~oureolwnb 'eu!ld!as!p
o1wl ianbai o l s ~'o~Jmoao ~alauiqns
e ~apuaideuia uia1s!suo3 03pS!@qE3

.ou!A!a 014epe3ol euile e s!od


'aisalaa o~Juan~alu! elad op!duioria~u!
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IDO IAS fiiiriincin r n i p c
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R
O Uiph
Mc,h
NiWd
Caha
contemplação. (Bênção para ser proferi-
.".*iiiim..r i
.w ~i sbn n.nie da antes de comer certos alimentos; cali-
m Th Tru SIIXI da Cnir
grafia, século XX, colqão Joseph
Russel).
Gematria Notarikon
Em cima, à esquerda:
As letras hebraicas, como a de muitos
alfabetos antigos, representam números
Metatron= 3 14= Shaddai Torah i- +
Neviim Ketuvim = Tanakh e também símbolos, baseados em suas
+
Pentateuco Profetas+ Hagiografía= Rihlia origens p i ~ t o g r ~ c aNo
s . método inte-
lectual da Gemairia, no qual o valor
numérico das letras de uma palavra se
acrescenta ao mesmto total das de outra
palavra, as palavras se interrelacionam
para extrair seu significado. O
Notarikon combina as letras iniciais de
uma frase para formar uma nova pala-
vra, ou inverte o processo para revelar
uma frase oculta no interior de uma
palavra. (Alfabeto hebraico, segundo
Mathers, A Cabula revelada; exemplos
de Gematria e de Notarikon).

A direita. em cima:
O método contemplativo se aplica espe-
cialmente ao estudo da metafísica. Aqui,
a mente examina a estrutura e os proces-
sos da existência, enfatizando particular-
mente a interação das Sefirot e seus sub-
sistemas. A finalidade de tais exercícios
intelectuais é religiosa: compreender o
mecanismo mediante o qual a
Providência cumpre a Vontade de Deus.
Em h<ti.ro,ic esquerda A Direita: (Esquema metafísico segundo a
A história revela o estado do universo aos O estudo das letras do alfabeto hebraico, Kabbalah denudata, por Christian Knorr
contemplativos. Segundo a visão com seus números correspondentes, seu von Rosenroth, Frankfurt aus Main
cabalística. os progressos da humanidade, significado interno, suas formas e sua 1677).
e em particular dos judeus, através do coloção nos vinte e dois caminhos da
tempo. são a manifestação da Divina Árvore (ver página 40). revela-as como
Vontade em ação. Nenhum acontecimento chaves decifradoras para a compreensão
é estranho: tudo acontece sob a Lei. Israel da Criação que, segundo a literatura
foi escolhido para exemplificar a esotérica, assumiu vida através da sua
evolução espiritual do homem, no sentido combinação. Idealizaram-se numerosos
em que o respeito ou o incumpriinento esquemas e sistemas, alguns profundos e
dos Ensinamentos conduz a outros superficiais, segundo a
consequências para toda a nação. profundidade da contemplação da qual
Conforme disse um rabino. "os judeus surgem. (Roda das letras, segundo o
são os primeiros e os últiinos a acautelar- Purdes Rimmonini. por Moisés
se dos bons e dos maus tempos". Cordovero. Cracóvia, 1592).
(Expulsão dos Judeus de Praga, 1745;
gravura, século XVIII).
Os métodos
cabalísticos:
a contemplaç

ESPIRITUAL

A Direita:
A Divina Vontade cria as condições c6s-
micas que formam o meio ambiente em
que se encarna o indivíduo. Cada ser
humano, cada lugar e cada instante do
tempo emana do Agora Eterno de Azilut
e se manifesta no universo espiritual de
Beriah; esta é, por sua vez, a esfera em
que se situam os planetas, que no Mundo
psicológico (Yezirah) correspondem aos
princípios arquetípicos da psique huma-
na. O efeito se constata no Mundo da
ação (Asiyyah). Desta forma, o Agora
Eterno se manifesta em cada momento
presente. (A Providência e o Tempo,
segundo Kenton, Anatomy of Fale).

Em b a h :
A contemplação dos acontecimentos uni-
versais requer um conhecimento dos
mecanismos cósmicos. Isto inclui a
astrologia, apesar de sua proscrição da
tradição ortodoxa. Os rabinos costuma-
vam utilizá-la para sustentar que apenas
Israel estava por cima da influência pla-
netária. Israel representa aqui o mais alto
estágio da consciência humana: apenas
aqueles que entendem a Lei que rege a
Criação podem utilizar seu livre arbítrio
para situar-se acima do destino. (Esfera
&milar judaica, segundo Maaseh
Tobiyyah. por Tobias Cohn, 1707).
A morte, o
renascimento,
o destino
Os Gilgulim, os ciclos da reencarnação,
são uma parte aceita da cabala. A
transmigração da alma através de uma
série de vidas é considerada, por sua vez,
como um processo de aprendizagem e
como uma forma de cumprir um destino
pessoal ou uma missão espiritual. Por
vezes, em vista do abuso do livre
arbítrio, a missão pode se ver
entorpecida durante várias vidas - a
visão cabalística do castigo divino "até a
terceira e quarta geração" proclamado no
Êxodo 205. A transmigração explica a
experiência comum das pessoas que têm
a impressão de já conhecer outra pessoa
ou um lugar que nunca tinham visto
antes. e permite que uma injustiça
aparente seja corrigida durante a vida
seguinte. (Morte e ressurreição: o velho
cemitério judeu, Praga).

A intrusão de uma alma desencarnada na


mente de uma pessoa viva foi vista por
muitos cabalistas - bem como Dor outras
pessoas - como a realidade que subjaz
sob certas formas de loucura. A alma do
morto, que regressou para cumprir
alguma tarefa incompleta sobre a terra.
pode ser liberada mediante o exorcismo.
A obra teatral Tlte Dybbuk, de Shalom
Anski, é baseada nesta idéia da alma de
um morto retida por um juramento não
cumprido. (A noiva possessa, cena de
The Dybbuk. representada no Habimah
Theatre; gravura em madeira de Miron
Sima, Jerusalém, século XX).

O ritual do casamento não é um simples


acontecimento social: é o entrecruzar de
fios no tecido do destino. Numerosos
vínculos unem o casal e suas famílias e
tecem com suas vidas um tecido que
continuará sendo tecido pelos seus filhos.
A trama da sina humana é Darte da cortina
cósmica do destino que se ergue diante do
Trono do Céu. Todo o encontro e
-. casamento foi determinado para cumprir
um dado objetivo ou .para . . o
preparar
caminho para outros. (Cerimônia nupcial
dos judeus portugueses, segundo
Cérémonies et coutumes religiruses .... de
B.Picart, 1733).
O livre arbítrio é um direito de todos; mas
poucas vezes se exercita plenamente.
Uma pessoa pode se deixar levar pelos
acontecimentos ou pode forjar sua própria
vida através da sua vontade. Mas até
mesmo sua vontade pode não ser mais do
que uma condução inconsciente. Ao nível
da consciência do Eu, o indivíduo atua
conforme escolhas reais. A outro nível
mais alto. a pessoa pode atuar segundo
critérios espirituais, mais do que
psicológicos, tomando sua vida pessoal
em participação na vida cósmica. Homens
como Moisés e Maomé operaram a este
nível do destino. (Graus de escolha,
segundo Kenton, Anatomy of Fure).

Depois da morte, segundo a cabala, o


organismo humano se separa em seus
DESTINO
diferentes níveis. Ao se desintegrar o corpo ESPIRITUAL
Asiyyático, a alma vital (o nível animal do
homem) fica suspensa durante um tempo
sobre a tumba. A alma em si é transportada
ao Mundo de Yezirah ou da Formação,

i
onde contempla suas realizações terrenas e DESTINO
experimenta o paraíso ou o purgatório. O INTER-
organismo Beriático ou espírito pode, se NAMENTE
INFLUENCIADO
estiver suficientementedesenvolvido, subir
ao nível cósmico do Mundo da Criação,
até descer, por necessidade (Karma) ou por DESTINO
escolha, para se juntar de novo com a alma
de um corpo de canre. (O Paraíso e o VONTADE
Purgatório, segundo o manuscrito das PR~PRIA
Hora. de Simon Mannion, França, século
XV.Victoria and Albert Museum,
Londres).
DESTINO
EXTERNA-
MENTE
INFLUENCIADO

u CORPO
Mestres e messias

Enoch, o homem que caminhou com


Deus e foi levado ao céu sem
experimentar a morte, foi transformado,
segundo a lenda, no maior dos arcanjos,
Metatron, que leva o Nome de Deus. Diz-
se que este ser, pela sua experiência
humana, é responsável pela instrução
espiritual da humanidade, e como tal
aparece sobre a terra quando e onde quer.
Elijah é supostamente uma de suas
manifestações, da mesma forma que
Melquizedeque (ver página 33).
(A Morte se afasta de Enoch, segundo o
manuscrito Kosmas indikopleustes, Sinai.
século XII).

Salomão, o homem que, segundo a lenda,


"conheceu três Mundos", foi um rei que
possuía profundo entendimento dos temas
esotéricos. A posse de tal saber outorga
grandes poderes ocultos, mas nem sempre
conduz à sua correta utilização. Apesar de
sua Sabedoria (Hokhmah, no Pilar da
Força), Salomão se descuidou do
conhecimento do Pilar da Forma, caíu
num período de loucura e perdeu seu
reino e a conexão interna com o espírito.
Uma queda destas é possível inclusive ao
nível mais elevado de desenvolvimento.
Sabedoria nem sempre significa
integridade: requer o equilíbrio de Binah,
o Entendimento. (Salomão e a Rainha de
Sabá. detalhe de um afresco de Piero
della Francesca, San Francesco, Arezzo,
Itália. Século XV).

A direita, em cima:
O rabino Akiba, que viveu na Palestina no Joshua ben Miriam de Nazaré faz parte
século I, foi um místico e também um historicamente da linha judaica. Seus
grude estudioso. Ele e seu contemporâneo, ensinamentos, embora projetados em
o rabino Ishmael, são citados na literatura termos de alegoria e de ação, têm um
cabalística mais recente como homens que fundo metafísico muito preciso. Nunca
ascenderam, mediante a meditação poderemos saber se foi adestrado pelos
profunda, aos Mundos interiores e Essênios (membros de uma antiga seita
superiores, dos quais trouxeram relatos do judaica) ou se pertenceu a algum dos
que viram. (Ver páginas 25-27). Não é rara muitos outros grupos místicos que
a prática da utilização de nomes famosos existiram na Palestina em outros tempos.
para conferir autoridade a um relato de um Foi certamente um mestre, ou então,
escritor posterior; o exemplo mais conforme sustentam os cristãos - a
conhecido é o do Zohar, do qual algumas manifestação terrena do espírito do
seções atribuídas ao rabino Simeon ben Messias, o ser humano ideal que forma o
Yohai foram provavelmente escritas pelo vínculo entre qs Mundos superiores e a
cabalista espanhol do século XIII Moisés humanidade. (Icone de Jesus com cabelos
de Leon (Rabbi Akkiba, gravura em de ouro; Rússia, séculos XII-XIII,
madeira de Haggadah, Itália, século XVI). catedral da Assunção. Moscou).
'(I
A vinda do Messias foi uma idéia
constante na história judaica e,
periodicamente, quando os tempos foram
calamitosos, esperou-se a sua chegada.
Segundo a tradição, profetiza-se um
momento deste tipo para a redenção.
Numerosos pseudo-Messias, homens de
poder carismático e de saber místico,
surgiram em momentos daquele tipo. O
último caso importante deu-se no século
XVIII, quando Shabbetai Zvi atraiu
milhares de seguidores. Sua conversão
forçada ao lslamismo não apenas o
desacreditou, como também originou
numerosos éditos rabínicos restringindo o
estudo da cabala a pessoas amadurecidas,
piedosas e ilustres. (Shabbetai Zvi,
gravura do Falso Messius, foita por Um
Ingl&sde Qualidade, século XVIll).

A chegada do Messias anuncia o fim de


um Shemittah ou ciclo cósmico, quando
os espíritos dos justos se reúnam na Terra
Santa, isto é. no Mundo de Beriah. Ali,
Elijah precederá o Messias na sua entrada
na cidade celestial. Para o cabalista, o
Messias é eterno: ele foi, é e será. Seu
aparecimento na história significa o
momento em que todos deverão ver no
Adão perfeito o reflexo encarnado da
Divindade. (Entrada do Messias em
Jerusalém, segundo Haggadah.
Alemanha, 1753).
A ascensão interior

A Ascensão aos Mundos superiores é a


recompensa pelo mérito individual, isto é,
pelo trabalho interior. Contudo, existe
também o fenômeno da Graça, tal como
se manifestou na vida de Jacó em Bethel,
onde ela se manifestou - estando ele ainda
adormecido espiritualmente - através de
uma visão da Escada da Existência. Um
momento assim, de temor reverencial, p6e
o indivíduo em confronto com a decisão
de continuar "em baixo", dormindo, ou
então despertar e subir conscientemente a
escala da evolução. (O sonho de Jacó,
gravura dos Trabalhos, de John Milton,
Londres, 1794-97).

A qualidade dos Mundos interiores é


totalmente diferente de qualquer
experiência terrena. Desde o início, o
tempo e o espaço adquirem valores
insólitos; nada é substancial ou sólido;
tudo se move de maneira inusitada. As
formas adquirem um caráter simbólico e
OS acontecimentos mudam como um
caleidoscópio. Aqui, o artista transmite a
espiritualidade do reino em que existem
anjos e demônios. A ponte marca o
caminho através do caos do Yezirah
inferior em direção aos Mundos
superiores. Tais viagens interiores são
altamente perigosas para os não
preparados e apenas podem ser realizadas
depois de muito treino. (A Ponte sobre o
Caos, mezzo tinta de John Martin, in O
paraíso perdido de John Milton,
Inglaterra, século XIX).

A direita, em cima:
Nas mais profundas ou nas mais elevadas
experiências interiores, o místico deixa o
reino psicológico de Yezirah, o Mundo da
FormaçZo, e sua consciência entra em
Beriah, o Mundo da Criação. Aí. no
espírito, sobe para contemplar o Trono
Celestial, onde sua visão adquire uma
dimensão universal. Este ponto entre o
cósmico e o Divino (ver página 15) é o
lugar onde confluem os três Mundos
superiores; é chamado o Assento do
Messias, a morada dos seres humanos
mais completamente realizados. Esta
visão é dada a muito poucos, porque
requer uma grande acumulação pessoal de
mérito e de Graça Divina. (Um místico vê
o Messias rodeado das Quatro Criaturas
Sagradas, Apocalipsis, Flandres, cerca de
1400, Bibliothèque Nationale, Paris).
VII VEST~BULOS
MAIORES: ESTADOS
, "'f.. ESPIRITUAIS.
MUNDO DE
BERIAH

Na cabala, existem duas fases básicas de


ascensão. A primeira, que pertence ao
Mundo psicológico da Formação,
compreende sete níveis, os Heikhalot
Menores ou Vestíbulos. São as passagens
através das quais uma pessoa se eleva
desde o corpo, através da psique inferior,
em direção ao nível da alma, depois ao
espírito e ao primeiro contato com o
Divino. Os Sete Vestíbulos Maiores (ou
Céus) marcam os níveis sucessivos do
Mundo espiritual da Criação. A
consciência emerge da psique e através
dos níveis inferiores do espírito, onde os
diferentes Céus se percebem como
estados e etapas da existência. O sexto e
sétimo Céus são paralelos as partes
inferiores do Mundo Divino da
Emanação, e aí o místico pode voltar-se e
regressar, ou seguir em frente para
completar sua união com Deus. (Escada
dos Vestíbulos Maiores e Menores

u
MINERAL
O trabalho
de unificação
A tarefa do cabalista, que é o fundamento
de todo o seu trabalho de
desenvolvimento pessoal e de todas as
suas visitas às regióes elevadas, é ajudar à
unificação dos Mundos. Ao atingir a
unidade no interior dos quatro níveis de
seu próprio ser, procura a união entre o
que está em cima e o que está em baixo.
Na representação, um cabalista leva a
efeito este ato; toma-se consciente dos
Mundos mais elevados e de seus
habitantes, e faz descer a Luz Divina
através do Mundo da Formação - com
seus arquktipos planetiújos simb6licos
dispostos em forma de Arvore Sefhtica -
sobre si mesmo e sobre a terra. (Cabalista
em trabalho; cortina. Coleção do Autor).

O trabalho de unificação deve implicar o


contato com outras tradiçóes espirituais.
Neste nível, as formas externas de devoção
se tomam menos importantes; os místicos
se encontram num Mundo espiritual que
está acima da forma. Um cabalista judeu
pode conversar com um Sufi muçulmano
ou com um cristão contemplativo e
descobrir a mesma realidade sob teorias e
práticas diferentes. Esta unidade ao nível
espiritual não siginifica que a forma
externa de uma tradição seja supérflua -
cada religião tem seu papel a desempenhar
- senão que todos os seres humanos são
feitos da mesma imagem Divina. (A união
do Islamismo, do Cristianismo e do
Judaísmo. imaginada pelo rabino Jacob
Emden de Altono, Alemanha, século
XVIII).
Direita:
A construção do Tabemáculo. tal como
descrita no Exodo 25-27, é o símbolo de
todos os Mundos. A organização
hierárquica dos hebreus reflete esta
verdade: a de que todos têm um lugar no
ordenamento da existência e num ato de
devoção comunitária cada nível participa
no Trabalho de Unificação. Para o
cabalista, esta visão do Tabemáculo
revela detalhadamente os diferentes
estágios da espiritualidade. Um exemplo
disto é o típico das profundidades que se
encontram num texto bíblico. (O
simbolismo do Tabemáculo, exposto em
forma de Escada de Jacó, segundo Halevi,
Cabala e Exodo, ver página 70).

Em baixo:
SANCTA
A Unificação se realiza mediante a ação, SANCTORUM
a devoção e a contemplação. Aqui se
descreve uma oração possui forma da
figura de homem, que possui uma coroa.
Assim, enquanto o cabalista reza, se toma
consciente da cabeça, do corpo e dos
membros como seus individualmente e
como de Adam Kadmon, do qual é um
reflexo e que, por sua vez, é um reflexo
do Divino. Desta maneira, um indivíduo
ajuda a Deus a contemplar Deus.
(Imagem Divina em forma de oração,
seguido um livro hebreu manuscrito de
oraçóes, França ou Alemanha, stculos
XIII-XIV, British Library, Londres).

MUNDO
' EXTERIOR
O fim dos dias

Em cada um dos sete céus universais da


Criação, ou Shemittot, o impulso da
consciência divina desce a partir de
Beriah, o Mundo da Criação, através de
uma corrente sefirótica, até a sua plena
manifestação na matéria, e volta a se
elevar, pleno de experiência, até o Mundo
da Criação. No final o! último
Shemittah, atinge sua penúltima etapa.
Esse dia, todo ser que foi chamado,
criado, feito e formado é julgado segundo
seus feitos através do tempo e é enviado
ao seu justo lugar na Criação. Depois,
todos se fundem no Mundo da
Emanação, o ser de Adam Kadmon. (O
Juízo Final. gravura de Gustavo Doré,
França, século XIX).

Direitu:
Quando Adam Kadmon tenha absorvido e
experimentado tudo aquilo que tomou
existência, então a imagem do Divino
sabe Quem está dentro e quem está fora.
Neste espelho, o Rosto contempla o Rosto
e se produz a união total. Então EU SOU
AQUELE QUE SOU é Uno, e a
existência se desvanece, deixando apenas
Deus. Deus contemplou Deus. (O Santo
Nome EHYEH ASHER EHYEH, EU
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