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Para Aquele que tem o seu Nome
Edição
Luis G. Martín, Íiíigo Castro e Lourdes Lucía
Versão Castelhana
Maria José García Ripoll
Versão Brasileira: GVS
E rigorosamente proibida, sem a autorização escrita dos titulares do Copyright, sob pena de se incor-
rer nas sanções estabelecidas pelas leis, a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio
ou processo, incluindo a reprografia e o tratamento informático, bem como a distribuição de exem-
plares da mesma através de aluguel ou empréstimo público.
I.S.B.N.: 84-7838-785-4
Depósito Legal: M. 39524- 1996
Impresso em Espanha
Impresso por: Gráficas Almudena, Janeiro 1997
Prefácio
Manifestação
Os Quatro Mundos
Adão
Anatomia
A Busca
O Adestramento
O Trabalho de Unificação
O Trabalho de Criação
A Consecução
TEMAS
BIBLIOGRAFIA E AGRADECIMENTOS
Prefácio A cabala é o aspecto interior e místico do judaismo. É o perene
Ensinamento dos Atributos do Divino, da natureza do universo e do
destino do homem, em termos judaicos. Transmitida por revelação,foi
manejada durante séculos mediante uma discreta tradição, que variou
Diz o rabino Ismael: "Todos periodicamente sua dimensão mitológica e metaflsica, segundo as
os cumpanheiros (os necessidades dos diferentes lugares e épocas. Esta longa história,
iriiciados) n coniparam a uni extensamente difundida, dotou a cabala de uma notável riqueza e de
Iir~memque tiipesse uma uma grande variedade de imagens da realidade, que perante os olhos
escada no nwio de sua casa. dos desconhecedores podem parecer bastante estranhas, obscuras e
rrtruvés da qual pudesse subir por vezes até contraditórias ou perversas.
e descer sem que niiiguém o
Ntlpedisse. Lnuvado sejas.
Esta exposição apresenta um sistema cabalístico determinado,
Senhor; Tu que cunheces visando a unijicar e clarijicar um caleidoscópio de diferentespontos de
todos os segredos e és o vista e de práticas extraídas tanto de fontes antigas como modernas.
Serrhor rhs cr~isasc>culias." Devemos por fim esclarecer que, segundo uma estrita regra cabalísti-
(Pirke Hekalot. Babil6nia, ca, a exposição representa a compreensão humana de uma tradição
.século VI.j viva tal como existe no mundo atual.
Londres, outono de 1978/5738
A Árvore da Vida
Manifestação Deus é Deus. Nada existe que se possa comparar a Deus. Deus é Deus.
Na cabala, o Deus Transcedental se chama AYIN. AYIN significa em
hebraico "nada", pois Deus está além da Existência. AYIN não está abaixo
nem acima; nem é movimento ou imobilidade. AYIN não está em lugar
nenhum. Deus é o Nada Absoluto.
AYIN SOF significa "Sem Fim". Este é o nome de Deus que está em
toda parte. AYIN SOF é o Um em relação ao Zero de AYIN. É a totalidade
do que existe e do que não existe. AYIN SOF é o Deus Iminente, o Todo
Absoluto. AYIN SOF não tem atributos, porque estes só podem manifestar-
se no interior da existência, e a existência, é finita.
A tradição oral da cabala afirma que a razão da existência é que "Deus
~i~~~ os ensinamentos:o ~i~~ do desejava contemplar Deus". Houve, pois, previamente uma não-existência
Oculto é O livro que descreve aquilo na qual, segundo a tradição escrita, "o Rosto não contemplava o Rosto".
que é pesado na Balança; porque Num ato de vontade totalmente livre, Deus extraíu de seu lugar O Todo
antes existiu uma Balança ( o Absoluto, AYIN SOF, para permitir que aparecesse um vazio em que
Universo). O Rosto
contemplava o Rosto.
pudesse manifestar-se o espelho da existência. A este ato de "Zimzum", ou
(Zohar, Espanha, século XIII). contradição, diz o ditado rabínico, "o lugar de Deus é o mundo, mas o
mundo não é o lugar de Deus".
Este ato divino se visualiza simbolicamente como segue: de AYIN SOF
OR, a Luz Infinita que rodeia o vazio, emanou um raio de luz que penetrou
da a periferia até o centro. Este, o Kav, ou raio da Divina Vontade, se mani-
festou em dez etapas diferentes de Emanação. Assim refere também outra
máxima rabínica: o mundo adquiriu vida através de Dez Palavras Divinas.
Desde a Idade Média, estas dez etapas se conhecem como as "Sefirot". A
palavra "Sefirah" (sua forma singular) não tem equivalente em nenhuma
outra linguagem, embora por sua raiz esteja aparentada com as palavras
"cifra" (isto é, número) e "safira". Alguns viram nas Sefirot os Poderes ou
Barcos Divinos; outros os vêem como os instrumentos ou ferramentas divi-
nas do Governo Divino. Os místicos descreveram-nas como as dez Faces,
as dez Mãos ou mesmo as dez túnicas de Deus. Todos coincidem, no entan-
to, em considerar que as Sefirot expressam os Atributos Divinos, os quais,
desde o primeiro momento da Emanação, são eternamente mantidos numa
série de relações até que por vontade divina voltem ao Nada, fundindo-se
de novo no Vazio.
As relações entre as Sefirot regem-se por três princípios divinos não
manifestos: os "Esplendores Ocultos" (Zahzahot): a Vontade Primordial,
a Misericórdia e o Rigor (ou Justiça). A Vontade mantém o equilíbrio,
enquanto que a Misericórdia espande e o rigor contrai, relativamente ao
fluxo da Emanação, e desta maneira organizam os dez Atributos Divinos
segundo um arquétipo específico. A pauta assim estabelecida é o mode-
lo no qual se baseia tudo aquilo que for chamado a se manifestar.
Denominou-se a Imagem de Deus, mas é geralmente conhecida como
AYIN NADA ABSOLUTO Árvore da Vida. Cada Sefirah se manifesta por sua vez sob a influência
AY IN SOF TODO ABSOLUTO de uma das Zahzahot em particular. Assim, o fluxo que manifestam as
AYIN SOF KETER COROA LUZ INFINITA dez Sefirot pode ser visualizado como o movimento em zig-zag do "Raio
/íói&JSABEa Relampejante" a partir de sua posição central (Equilíbrio) para a direita
I
BINAH ENTENDIMENTO'
\
HESED M ~ S E R I C ~ R O ~ A
GEVURAH SEVERIDADE
(Expansão), e transversalmente para a esquerda (Contração). Assim, as
Zahzahot conformam as três linhas verticais do diagrama da Árvore da
TIFERET BELEZA Vida, conhecidas como os Pilares: o do Equilíbrio (Graça, Vontade) ao
NEZAH ETERNIDADE centro; o da Misericórdia (Força ativa, Expansão) à direita e a
HOD REVERBERAÇÁO Severidade (Forma passiva, Contração) à esquerda. As relações expostas
YESOD FUNDAMENTO
MALKHUT REINO
na Árvore servem de base à totalidade da existência; assim, as proprie-
LINHA DE LUZ dades das Sefirot podem ser consideradas em termos de qualquer ramo
do saber. Assim, enquanto sua definição básica é a de Atributos de Deus,
podem ser definidas em termos de experiência humana, porque nós tam-
V A Z I O
bém somos moldados à Imagem de Deus. Este método antropomórfico é
comum à cabala e a outros credos, e se aplica livremente como lingua-
gem simbólica a partes da metafísica que não podem ser explicadas por
abstrações puras.
A primeira manifestação A primeira Sefirah, no limite do Vazio, chama-se em hebraico Keter, a
Coroa. Esta manifestação contém tudo o que foi, o que é e o que será. É o
lugar da primeira emanação e do último retorno. Sua natureza de Atributo
Divino se expressa pelo Nome de Deus, tradicionalmente vinculado a ela
EU SOU O QUE SOU. Desde este ponto de equilíbrio, o raio de luz se
espande, sob a influência da Misericórdia, da Força e da Expansão, para
manifestar a segunda Sefirah, a Hokhmah, a Sabedoria. Esta, no espírito
divino e humano, é o intelecto interior e ativo, experimentado pelos seres
humanos como o despertar do gênio, a inspiração ou a revelação. Seu con-
trapeso, pelo lado da Severidade, Forma e Contração, é a terceira Sefirah,
Binah, ou o Entendimento: este é o intelecto em sua capacidade passiva,
receptiva e reflexiva. Em termos humanos, se manifesta através da razão e
da tradição.
Após deixar Binah, que inicia o Pilar da Severidade, o raio atinge o Pilar
do Equilíbrio, que está sob Keter, a Coroa. Este ponto de Equilíbrio na
Árvore é cmcial: é o lugar de Ruah ha Kodesh, o Espírito Santo, suspenso
como um véu sob as três Sefirot supremas. Permanece invisível, mas tem
seu lugar no interior da Manifestação, representada na Árvore pela "não-
Sefirah de Daat, o Conhecimento. Diz-se que aqui é onde o Absoluto pode
introduzir a sua vontade para intervir diretamente na existência, que agora
é mantida eternamente, até que a Vontade Divina o permita desvanecer-se
Dez Sefirot procedentes do como imagem que é. Em termos humanos, Daat é o Conhecimento que
Nada De; niio nove. Dez,
não onze. Entendei isto na
surge do nada e emana diretamente de Deus. É totalmente diferente da reve-
Sabedoria e na Sabedoria lação da Sabedoria (Hokhmah); Daat não apenas se vê, como também se
entendei-o. Examinai-o e sabe. É diferente também daquele que procede do Entendimento (Binah) ou
medita; sobre seu da meditação profunda: Daat, filha das Sefirot supremas, não é apenas
significado, com o fim de observação, como também futuro.
devolver o Criador o Seu
Trono. (Sepher Yezirah,
Sob Daat, o Raio passa para o Pilar da Misericórdia (Expansão) e
Babilônia, século VI). volta ao Pilar da Severidade (Contração), definindo duas Sefirot como
aquelas que regem o nível de emoção como diferente do intelecto supre-
mo. O Atributo da emoção ativa ou interna é Hesed, a Misericórdia; o da
emoção passiva ou externa é Gevurah, a Justiça. As duas Sefirot têm
outros nomes hebraicos e outras traduções equivalentes, mas todos são
inadequados para explicar os Atributos; os utilizados aqui apenas se
aproximam dos princípios Divinos ativo e passivo que implicam. Em
nós, estas qualidades aparecem como tendências complementares, por
VONTADE um lado, (o lado Hesed), ao amor, à tolerância e à generosidade, e por
n outro lado, (o lado Gevurah), à disciplina, ao rigor e à discriminação.
PASSIVO
( ATIVO
Neste nível, o emocional, o procedimento de se opor aos princípios sefi-
róticos e os perigos de ir muito longe em uma ou em outra direção se tor-
BINAH
ENTENDI-
nam parte da experiência cotidiana: a Justiça e a Misericórdia subjazem
sob toda a transação humana, desde uma conferência de cúpula, até a
,,- -. escolha de um presente de aniversário.
I DAAT %
! CONHF*II-! O Raio Relampejante, após passar do princípio expansivo de Hesed ao
MENTO
princípio constritivo de Gevurah, volta agora para um nível inferior, ao
Pilar do Equilíbrio. Aqui se manifesta a Sefirah central de Tiferet, a Beleza
ou o Adorno. Esta reside no coração da Árvore e está diretamente relacio-
nada com todas as Sefirot dos Pilares da severidade e da Misericórdia.
Sempre que o diagrama da Árvore se aplique - da maneira que se possa
aplicar - à dinâmica de qualquer organismo ou sistema, em Tiferet é onde
se encontra a essência da coisa. Na Árvore Divina, Tiferet é o Coração dos
Corações. Junto com as Sefirot emocionais de Hesed e de Gevurah, forma
a tríade da alma Divina; junto com as Sefirot superiores de Hokmah e de
Binah, forma a grande tríade do espírito Divino, no meio do qual está
supenso o Ruah ha Kodesh. Na psique humana, Tiferet é o Eu, o centro do
indivíduo, subjacente ao ego cotidiano: o "Vigilante" que canaliza as
influências profundamente inconscientes da Misericórdia e da Justiça
(Hesed e Gevurah), da Sabedoria e do Entendimento (Hokhmah e Binah).
O
MALKHUT
REINO
O Raio Relampejante
Sob Tiferet, o Raio Relampejante manifesta outros dois Atributos com-
plementares, os últimos sob os Pilares da Misericórdia e da Severidade. No
lado ativo e expansivo está Nezah, a eternidade, e no passivo e constritivo
está Hod, a reverberação. Tradicionalmnte, os nomes hebraicos destes
Atributos se traduziam por Vitória e Esplendor; mas sua atuação como
Sefirot se expressa melhor pelos nomes utilizados aqui, que correspondem,
da mesma maneira que aqueles, às raízes hebraicas. Pertencem ao nível de
ação operativa e instrumental na estrutura da Árvore; correspondem tradi-
cionalmente, em termos divinos, aos papéis (expansivo e constritivo) das
Hostes de Deus, enviadas para cumprir a Divina Vontade. Em termos huma-
nos, representam os processos vitais psíquicos e biológicos, sejam ativos,
instintivos ou impulsivos (Nezah, a Eternidade), ou passivos, cognitivos ou
controlados (Hod, a Reverberação).
No Pilar do Equilíbrio, no meio e abaixo destas duas Sefirot práticas,
encontra-se Yesod, o Fundamento. Como todas as Sefirot da sequência,
contém tudo o que houve antes; portanto, trata-se de um Atributo com-
plexo com numerosas qualidades. Em primeiro lugar, é generativo: a par-
tir deste ponto, conforme veremos, se manifestam outras Árvores. Em
segundo lugar, é reflexivo: aqui, diretamente sob Tiferet, se pode perce-
ber uma "imagem da imagem" e a Árvore se vê a si mesma; Yesod é o
espelho dentro do Espelho. Estas duas funções complementares signifi-
cam que sua constituição (ou Fundamento) deve ser clara e sólida; daí o
significado interno de pureza sexual associado a esta Sefirah. Sobre nós,
se manifesta como o ego, o posicionamento inferior da consciência, em
que nos vemos a nós mesmos, que projeta a pessoa vista pelos outros e
que pode refletir ou não (segundo nosso estado de equilíbrio e de auto-
conhecimento) a verdadeira personalidade do eu na Tiferet. Grande parte
de nossa percepção do mundo, e grande parte de nosso cumprimento da
Vontade tem lugar na Yesod.
A Sefirah inferior, o complemento de Keter, a Coroa, é Malkhut, o
Reino. Nela se enraiza o Divino Raio Relampejante. Constitui a Shekhinah,
Que círvore é esta de que a Presença de Deus na matéria. Sua natureza é quádrupla e encerra os qua-
falas? Todos os Poderes tro níveis inerentes à Árvore como um todo (a raiz, o tronco, os ramos e os
Divinos rstrio dispostos numa frutos da Árvore, conforme cresce no interior da existência; ou a Vontade,
série de rstatos conio os de
uma Nnlore, e corno uma a Mente, o Coração e o Corpo do Divino). Sobre nós, os quatro níveis de
árvore. dão fruto quando é Malkhut aparecem como o corpo, com seus quatro elementos tradicionais:
regada; o mesmo acontece terra, água, ar e fogo: os sólidos, os líquidos, os gasosos e as radiações cujas
com os Poderes Divinos interações nos mantêm vivos.
quando recebem a água de E assim temos o esquema geral das Sefirot. Três estão alinhadas no
Deus. (Livro de Bahir,
Provença, século XII). Pilar direito ativo da Misericórdia; três no Pilar esquerdo passivo da
Severidade; e quatro (mais a não-Sefirah, Daat) no Pilar central do
Equilíbrio ou da Graça. Suas interrelações, estabelecidas pelo Raio
Relampejante, são verificadas por um total de vinte e dois caminhos, que
por sua vez formam um sistema de configurações triangulares ou tríades,
ativas à direita e passivas à esquerda; as tríades horizontais e centrais, que
unem os três Pilares, estão diretamente relacionadas com a consciência.
O esquema aparece na página 40.
De tudo o que foi dito, se depreende uma configuração metafísica e
mitológica mais sutil. Mais à frente neste volume tratam-se várias etapas no
estudo das diferentes constelações das Sefirot, e da minuciosa dinâmica
pela qual cada Sefirah, como um fluxo reciprocamente impartido e refleti-
do, avança pelos caminhos para atuar sobre a Árvore em miniatura que
constitui cada Sefirah.
Os quatro mundos A Árvore da Vida, tal como assume existência pela primeira vez, cons-
titui um Mundo Divino de Emanação (Azilut ou Proximidade): uma con-
figuração perfeita dos Atributos Divinos. Toda a dinâmica e todas as leis
inerentes ao Mundo de Azilut são completas, exceto que nada tenha acon-
tecido e nada acontecerá, a menos que haja movimento no tempo e no
espaço. Nada existe, porém, porque Azilut ainda está no estado da
Vontade pura. Poderia ter permanecido eternamente só nesta prístina con-
dição se Deus não tivesse desejado o princípio dos Dias, o início da
Criação, numa sequência de grandes ciclos cósmicos ou Eras (Shemittot)
em que a presença divina se manifestaria no espaço, desde o mais alto do
firmamento até à mais minúscula das partículas, e no tempo, desde a
Eternidade, até o menor dos instantes do Agora, avançando desde a
Semana da Criação até o fim do mundo, quando tudo tenha sido comple-
tado. Todo este imenso movimento começa em Azilut e opera segundo as
leis geradas pelas Sefirot.
Em Isaías 43:7, encontramos as palavras: "Mesmo aquele que é nome-
ado pelo Meu Nome, pois eu o criei para a Minha Glória, eu o fiz: em ver-
dade, formei-o." Estes quatro níveis - chamar, criar, formar e fazer - são
constantemente encontrados nas Escrituras e na cabala. Existem na
Árvore primordial da Vida, em Azilut (página 40) e correspondem sim-
bolicamente à raiz, ao tronco, aos ramos e ao fruto, ou às quatro letras do
"Tetragrama" ou do "muito especial Nome de Deus"- YHVH. Também
se percebem, por exemplo, nos quatro elementos familiares da Sefirah
inferior, Malkhut. Como tais, representam quatro níveis ou etapas, em
que são extraídos da fonte do Todo. O primeiro nível, associado ao fogo,
é o mais próximo à Coroa (Keter) e é considerado símbolo da Vontade
pura (o "chamamento" divino). O segundo, associado ao ar, é o símbolo
do Intelecto (a "criação" divina). O terceiro nível, associado à água, é
considerado uma expressão da Emoção, em suas formas em contínua
transformação (a "formação" divina). O quarto símbolo associado a terra,
fala de Ação, a execução prática de tudo o que existiu antes (o "fazer"
divino). Cada nível contém as qualidades e atividades do que o precede,
de maneira que cada nível ulterior seja regido por mais leis, seja mais
completo e esteja mais afastado da fonte.
Ainda que perfeito, Azilut não está plenamente realizado por si mesmo:
Além disto, construirás o é como o desejo de ter uma casa que foi concebida mas ainda não definida,
tabernáculo com dez cortinas não desenhada na sua forma, nem construída e que, contudo, contém o
(Sefirof)de linho finamente germen de todos estes processos. Da mesma forma, estes quatro níveis ine-
tecido (Emanação),azul
(Criação),púrpura
rentes a Azilut representam quatro grandes etapas, cada uma das quais
(Formação) e escarlate constitui um Mundo por si mesma, da seguinte forma: concebida em Azilut
(Ação): deverás confeccioná- (fogo), a Manifestação provoca o início (ar) do processo cósmico da
Ias com querubins Criação (Beriah em hebreu), que pode ser entendido como uma segunda
primorosamente bordados. Árvore completa provinda do primeiro. De Beriah surge um terceiro
(Exodo, 26: 1 )
Mundo fluido de Formação (Yezirah), do qual nasce um quarto Mundo sóli-
do de Ação (Asiyyah). Cada nível tem sua própria Árvore e cada Mundo
segue em seu próprio contexto a configuração exata e a dinâmica da Árvore
de Azilut; portanto, cada um deles tem, no interior de sua própria realida-
de, os mesmos quatro níveis.
A origem desta concepção e da compreensão da dinâmica da relação
entre um Mundo e o seguinte reside no texto hebreu da Bíblia. O divino
"chamamento pelo Meu Nome", que é a essência de Azilut, significa que a
cada Sefirah fica vinculado um dos Nomes de Deus. Keter, a Coroa, tem o
nome de EHYEH ASHER EHYEH, EU SOU AQUELE QUE SOU: o prin-
cípio e o fim de toda a Existência. As Sefirot da Sabedoria e do
Entendimento, Hokhmah e Binah, recebem, respectivamente, os nomes de
YHVH e ELOHIM, que uma antiga crença associa aos aspectos de
Misericórdia e Justiça da Divindade. Em Tiferet, que é a união dos cami-
nhos que partem destas três Sefirot, está Deus o Criador, conhecido pelo
Nome composto de YHVH ELOHIM. O resto das Sefirot têm seus próprios
nomes divinos, e alguns cabalistas entendem-nos como os ELOHIM a que
se refere coletivamente a primeira frase do Gênesis, Berashith bara
ELOHIM, "No princípio ELOHIM criou". A palavra ELOHIM é plural;
assim, o processo da criação começa quando os diferentes Atributos de
Deus, encarnados nos Nomes Divinos, manifestam a vontade de dar origem
à Criação.
O primeiro capítulo do Gênesis deveria ser entendido como o desenvol-
vimento da Criação a partir de um Mundo Divino já existente. Embora isto
seja comumente conhecido na cosmogonia esotérica judaica, não é assim
ainda para muitas pessoas familiarizadas com a Bíblia. Este conceito conta
com os inumeráveis argumentos que se desenvolveram através dos séculos,
segundo os quais a Criação se originou a partir do nada (ex nihilo), basea-
dos todos eles na ignorância da existência prévia da Divina Emanação
(Azilut). A esta noção de pré-existência alude, por exemplo, a afirmação
direta da tradição rabínica de que Deus consultou o Torah (o Ensinamento)
antes do Universo ter sido criado, formado e completado.
A Criação, neste esquema cabalístico concreto, se origina na vontade
ou inspiração de EU SOU AQUELE QUE SOU. Esta Inspiração se mani-
festa no coração da Árvore de Azilut, Tiferet, em que Deus, o Criador,
cria, forma e faz, a partir dos três níveis inferiores de Azilut, uma nova
Árvore e um novo Mundo. Este, o Mundo de Beriah, se revela biblica-
mente em termos dos Sete Dias da Criação. No primeiro Dia, teve lugar
a ordenação da Força e da Forma caóticas da Criação, mediante a sepa-
ração da Luz e das Trevas, isto é, os Pilares da Misericórdia e da Justiça,
realizada por Deus, o Criador, a partir do que seria Keter, a Coroa da
nova Árvore. Esta é a tríade suprema da Árvore da Criação. O segundo
Dia, a tríade azilútica de Nezah, Hod e Malkhut se converte na tríade
superior da Árvore de Beriah: a Sabedoria Criativa, o Entendimento e a
Beleza, Hokhmah, Binah e Tiferet. No Gênesis se denomina este proces-
,, so de divisão das águas que estavam sobre o firmamento e das águas que
estavam sob o firmamento, isto é a separação do Divino daquilo que se
chamaria um Mundo separado. Os cinco Dias seguintes são o desenvol-
vimento passo a passo da Árvore da Criação, cada nível exatamente rela-
cionado com um grupo de Sefirot, até que no último Dia o Criador des-
cansa na Sefirah Beriática inferior, a do Reino (Malkhut), completando
assim o Trabalho, que "era muito bom". Este comentário não é apenas
auto-satisfação: alude às diferentes tentativas prévias de fabricar um uni-
verso equilibrado em relação àqueles a que se refere a tradição esotérica
judaica. Os cabalistas chamam-nos os "Reis de Edom", que reinaram,
segundo a Bíblia, "antes de que houvesse reis em Israel". A razão de seu
fracaso, nos diz, foi o excesso de um Pilar ou de uma Sefirah. A Criação
no Gênesis era equilibrada e, portanto, "boa".
No segundo capítulo do Gênesis, todo o processo parece se repetir;
alguns estudiosos o consideram como uma figura literária, mas para os
cabalistas é evidente que não é assim, porque muda uma palavra crucial.
O versículo 1:27 diz: "E Deus criou o homem", Vayivra ELOHIM et ha
Adam. Isto é, ELOHIM criou Adão. O 2:27 diz: YHVH ELOHIM vayit-
Azilut e Beriah: zer et ha Adam, "e Deus nosso senhor formou o homem". Entre as pala-
A Criação surge da vras "criou" e "formou" há literalmente um mundo de diferença, pois
Emanação este segundo capítulo se refere a outra Árvore Sefirótica mais elaborada,
que costuma se denominar Olam ha Yezirah, o Mundo da Formação.
Este Mundo possui a qualidade dos fenômenos em perpétua transfor-
mação, pois recebe de cima a influência da dinâmica da Criação e da
Divina Vontade. Pode se comparar à fase do desenho, em que uma idéia,
que o arquiteto decidiu (Azilut) e definiu criativamente (Beriah), adqui-
re forma detalhada antes de sua construção. Yezirah é uma esfera de dife-
renciação e complexidade; é o nível em que, por exemplo, o espírito
Beriático do cavalo ou do cão, que são criaturas com sua origem no
Mundo da Criação, experimenta modificações sem fim para adquirir
Tu eras o mesmo antes de que tipos e formas particulares. O Mundo de Yezirah era o Jardim do Eden,
o universofôsse criado: Tu
foste o mesmo desde que o em que o ser andrógino criado em Beriah (Gênesis, 1:27) se separou em
universofoi criado; Tu és o Adão e Eva, os dois reflexos, macho e fêmea, claramente diferenciados
mesmo neste universo, e Tu dos Pilares externos.
serás o mesmo no universo O quarto mundo por sua vez, Asiyyah, surge do anterior. A ele se refe-
que virá. re o Gênesis quando menciona o rio que emanava do Éden e que tinha
(OraçZo matutina judaica).
quatro ramificações; a repetição dos quatro níveis inerentes à Árvore da
Vida, e a cada mundo separado. Este mundo básico do Fazer, ou dos
Elementos e da Ação, é o Mundo ao qual, da mesma forma que Adão e
Eva, nós próprios descemos. Manifesta-se no universo que nós experi-
mentamos através dos nossos sentidoi, com sua (aparente) solidez e seus
aspectos líquido, gasoso e irradiante. Para os cientistas, este Mundo
material contém energia e matéria; isto é, as qualidades dos Pilares direi-
to e esquerdo da Força e da Forma. Aqueles que têm consciência de algo
mais do que a interaqão dos fenômenos sob leis naturais, vêm-no com a
aparência física de Mundos mais sutis e mais elevados que podem per-
mear a existência em sua totalidade. De fato, alguns físicos intuiram que
além da escala sub-atômica, e além da galáxia mais remota, existe outro
tipo de universo que de alguma forma parece estar presente no interior
da própria estrutura desde cosmos científico, talvez não tão sólido como
parece. Assim, inclusive ao nível mais mundano, existe a consciência de
outras dimensões que contêm e influenciam o mundo natural e o impreg-
nam de uma realidade sobrenatural.
Os Quatro Mundos interpenetram a existência em sua totalidade.
Esquematicamente, podem ser vistos como "a Escada de Jacó", em que a
Árvore de cada mundo cresce a partir da estrutura do anterior, de tal manei-
ra que a Vontade de Deus, e o fluxo que conecta tudo o que existe, está pre-
sente em tudo o que é manifesto. Em cada um dos casos, o Fundamento
(Yesod) do mundo Superior serve de base ao Mundo inferior como seu
DAAT. Note-se que neste esquema particular a sequência das Sefirot tam-
bém se desenvolve ao longo do eixo, de tal forma que a linha larga ou Kav
da Divina Vontade atravessa todos os Mundos. Os Quatro Mundos foram
visualizados de muitas formas diferentes, desde as geometrias concêntri-
cas, até a imagem antropomórfica de Adão, ou como uma sucessão de
Vestíbulos ou colinas Santas de jardins. Contudo, deve-se recordar que nen
nhuma imagem pode captar a realidade, da mesma forma que nenhum
retrato, por mais profundo ou genial que seja, pode captar mais de um
aspecto de uma pessoa. A cabala mudou constantemente as formas através
das quais expressa um conceito único da realidade abarcante do todo, com
o objetivo de evitar que nenhuma visão da existência se torne numa ima-
gem fixa, passível de ser considerada definitiva. Lamentavelmente, a orto-
doxia nunca entendeu este princípio, e costuma basear sua autoridade em
formulações redundantes.
Em relação aos habitantes dos Mundos, os Tachutonim, os que "moram
aqui em baixo" em Asiyyah ou a esfera natural, pouco há a dizer; vemo-los
ao nosso redor, enquanto estamos em grande parte inconscientes de nossa
própria participação dos Mundos superiores. Quanto aos Elyonim, os que
"moram em cima", não são perceptíveis através dos sentidos ordinários;
mas é lógico supor - se alguma vez se tenha experimentado uma inter-
- venção sobrenatural - que os Mundos superiores estão povoados de mora-
) dores confinados a outras realidades. Estas criaturas se visualizam no
esquema cabalístico como anjos e arcanjos, ou como "peixes" e como
"aves" (Gênesis, 1:26), que nadam nas águas do Mundo Yezirático da
Formação e voam no ar do Mundo Beriático da Criação. Tais criaturas
desempenham seu papel no grande desígnio da existência. Embora possa-
mos não perceber diretamente suas operações cósmicas, estas, por certo,
nos afetam, da mesma forma que os ritmos naturais, os ciclos planetários e
as varições estelares afetam as condições terrestres para criar as mudanças
climáticas, as épocas da história externa e os períodos de espiritualidade
humana e progressos internos.
Para completar a visão cósmica, existe na cabala um conceito conheci-
do como Kelippot ou o Mundo das Conchas. É o reconhecimento das forças
I
demoníacas ou destmtivas presentes no universo criado. Segundo a tra-
I
'
dição, os restos dos Mundos anteriores desprezados pelo Criador ainda
existem. Sua tarefa, tanto a nível macrocósmico, como microcósmico, con-
L siste em intervir para por à prova sua bondade e comprovar sua solidez.
Os quatro Mundos e Estas forças demoníacas parecem ser maléficas, mas como pode se obser-
a visão de Ezequiel var no Livro de Jó, Satã, o tentador, é um dos Filhos de Deus. É enquanto
"funcionários cósmicos" que as forças do Caos tentam desequilibrar a
balança do universo ao nível de um dos tres Mundos inferiores,e desfazer
o que foi completado. Estas criaturas demoníacas, ou Sheddim, constituem
uma formidável oposição à humanidade, que é particularmente sensível à
sua influência. Sua razão de ser está em que Adão, enquanto imagem de
Deus, possui livre arbítrio e livre escolha. Manifesta o resultado do bem e
do mal, junto com todos os demais privilégios e deveres do ser humano.
O Adestramento Da mesma forma que a saída do Egito implicava várias etapas, o mesmo
acontece com a saída do estado normal de servidão física e psicológica.
Geralmente, durante a tentativa de desprender-se do domínio do corpo e do
eu, surge uma série de crises dramáticas ou pragas que perturbam a vida da
pessoa. O esquema típico é o de mudança de relação com os mais próxi-
mos, ou alterações na sua posição social, na sua profissão e nas suas pos-
ses. Esta mudança não é fácil de se aguentar sozinho; daí que a presença
das outras pessoas de um grupo, simbolizada pelos israelitas, com um mes-
tre, Moisés, seja necessária. Acresce que, uma vez atravessado o Mar
Vermelho, já não há retomo, embora persistam alguns costumes, simboli-
zados pelos israelitas que protestam (Exodo, 16:2-3), se revoltam e lutam
por voltar aos prazeres da carne inerentes à condição anterior ao despertar.
No grupo, seus membros, sob a condução de seu chefe, impedem que os
demais voltem a cair na escravidão. Isto é o que realiza o trabalho cabalís-
tico levado a efeito não apenas no grupo, mas também na vida diária.
Este método de trabalho, o Avodah em hebreu, que também significa
"serviço" e "devoção", se baseia no modelo da Árvore. A primeira fase se
centra na Sefirah Malkhut, relacionada com a compreensão prática dos qua-
tro estados elementares. Nesta fase, estes problemas materiais como o che-
gar a certo lugar em certo momento, são tratados como exercícios; da
mesma forma são tratados os assuntos quotidianos. Como afirma um caba-
lista do século XVIII, "vim para observar como o meu mestre aperta os
cadarços de suas botas". Isto ajuda a desenvolver uma aguda consciência
do mundo elementar e a reconhecer que todas as coisas físicas estão em
permanente estado de mudança. Esta sensibilidade se intensifica, até que a
pessoa se dá conta de que os quatro Mundos estão inteiramente presentes
no interior do nosso próprio corpo e dentro do Universo físico.
O passo seguinte, com a ajuda dos demais e do mestre, é identificar a
natureza do ego Yesódico. Isto é feito pelos diferentes membros do grupo
dando exemplos de seu próprio pensar, seu próprio sentir e seus próprios
processos de ação, matizados por sua educação, propensões e debilidades
particulares. A base desta tríplice visão se encontra nas três pequenas tría-
des que alimentam o Yesod do ego e compõem a grande tríade dos proces-
sos vegetais e rotineiros da psique. Desta maneira, o estudante se familiari-
za com a Árvore, trabalhando em foro interno e vendo como o lado ativo
da psique estimula a ação e o sentimento e como o lado passivo refreia o
sentimento e conduz ao pensamento reflexivo. Na cabala, este método se
chama estudo da ação, da devoção e da contemplação. Nele, o estudante
executa diferentes exercícios, tais como a realização de um ato sagrado -
talvez acender uma vela antes de recitar uma oração a partir do fundo de
seu coração, ou refletir sobre uma idéia cabalística durante uma semana -
O Caminho da Cabala após a qual apresenta-a ao grupo para que seja comentada e comparada.
Desta forma, pode chegar a conhecer seu próprio tipo de ego e seus dese-
quilíbrios, de forma a perceber se é principalmente pensador, sensitivo ou
ativo, e pode trabalhar sobre as duas outras tríades centradas no ego para
corrigir qualquer deficiência.
O seguinte passo consiste em examinar as qualidades das duas Sefirot
"Cotno podes esperar que seja da função bio-psicológica, Hod e Nezah. Estas duas são particularmente
perfeito ... se esrou repleto de difíceis de definir, dada a grande diversidade de sua atividade. Na organi-
contradições?"
(Rabino Abraüo Ibna Ecra, zação de um grupo cabalístico, elas estão reciprocamente relaciondas com
Espanho. s k u l o XII.) a teoria e a prática. A teoria se situa sobre a coluna passiva da Forma em
Hod, porque tem que ver com o controle da aprendizagem e com os pro-
cessos de realimentação. Isto se exprime no estudo dos textos e diagramas
cabalísticos, da mesma forma que o exame das palavras e dos números.
Pode igualmente consistir na análise detalhada de uma parábola ou na
compilação de dados sobre um princípio constante para ver como se fun-
damenta numa Sefirat em particular. A energia de Nezah, ao ser ativa por
oposição à reflexiva, tem relação com a prática; isto se pode manifestar de
diferentes formas. No grupo, pode designar um ritual especial que se pra-
ticará para evocar uma tríade sefirótica, ou pode consistir num exercício
prático sobre os princípios cabalísticos aplicados ao trabalho na vida da
pessoa, como seja, aplicar a metafísica da Árvore a problemas médicos ou
de negócios. Da mesma maneira se pode construir um edifício ou um obje-
to ritual baseados na teoria cabalística, prestando especial atenção durante
o trabalho à oração ou a uma idéia em concreto, como a unidade entre a
terra e o céu.
O mestre (ou Maggid) se situa em Tiferet ou posição do observador, em
relação ao estudante, que está no coletivo do grupo e no Yesod pessoal.
Atua como o eu que guia o ego ainda indisciplinado do estudante, da
mesma maneira que Moisés guiou os israelitas de mente escravizada. As
diretrizes são dadas a partir do Trono de Salomão, mas não apenas por parte
do mestre, mas também por aquele que passa através dele a partir de cima,
por meio dos caminhos procedentes das outras Sefirot da Árvore do grupo.
Desta forma, são controlados os desequilíbrios pessoais do Maggid e se
estabelece uma corrente entre os Mundos superiores, em sua maior parte
intactos, e os estudantes, abaixo. Assim, a cadeia do ensinamento adquire
uma dimensão e uma escala totalmente diferentes. Alguns grandes cabalis-
tas disseram terem sido ensinados por Elijah, que é o vínculo entre o Céu e
a Terra. Na Árvore da instrução é onde o Malkhut do Mundo do Espírito
(Beriah) encontra a Tiferet da psique (Yezirah) e o Keter do corpo
(Asiyyah). Assim, a cabala se reparte e é recebida a todos os níveis da linha
dos Mundos, desde Metatron, o mais alto iniciado, até ao estudante mais
modesto, desde que seja receptivo.
Quando o estudante atinge o nível de Tiferet dentro de si mesmo - isto
é, quando desenvolveu suficiente vontade para atravessar a tríade do des-
pertar sempre que queira - toma-se tutor de si mesmo, dado que, a partir
daí, passa a entrar em contato com a tríade da alma formada pelas Sefirot
Hesed, Gevurah e Tiferet, as quais põem em jogo a disciplina da Justiça e
a tolerância da Misericórdia. Esta tríade emocional, que gira em tomo do
eu, trabalha para purificar a alma, agora consciente de si mesma, por vezes
mediante um toque de Severidade desde a esquerda, e por vezes com um
toque de Misericórida, desde a direita; estes, percebidos pelo eu, equilibram
as discrepâncias entre a expansão e a contração emocionais. Este trabalho,
Na busca da Sabedoria, aprimeira realizado com os parceiros do grupo e para eles destinado, prossegue
etapa é o silêncio. a segundo a durante muitos anos: a cabala é uma tradição não dramática, que requer
escuta, a terceira a memória, a grande paciência e estabilidade. Uma das razões deste tempo é o fato de
quarta a prática e a quinta o cada um ter de amadurecer seu potencial gradual e profundamente ao seu
ensinamento.
(Rabino Salomão Ibn Gabirol,
ritmo natural. Desta forma, o trabalho de sua vida se desenvolve no
Espanha. século XII.) momento adequado dentro de seu próprio tempo e do tempo cósmico. Esta
distribuição do tempo corresponde ao destino dos indivíduos e das escolas
místicas, cobrindo as necessidades do Mundo visível e invisível, segundo a
configuração de um momento particular da história.
Em termos do grupo, a grande tríade superior está relacionada com
questões cósmicas, tais como o gerar novas épocas religiosas ou sociais
(contrariamente aos assuntos individuais, da parte inferior da Árvore).
Aqui, Binah e Hokhmah, as Sefirot da tradição e da revelação, junto com a
não-Sefirah do Conhecimento, Daat, outorgam a todo aquele que possa
alcançar este nível uma visão dos acontecimentos celestes, ou seja, uma
visão pan-histórica. Esta aparece nas profecias bíblicas e também nos
esquemas cabalísticos do universo, que foram transmitidos por manuscritos
ou de boca em boca através das gerações. Qualquer estudante da cabala
pode ter acesso a estes níveis, mas não necessariamente só por ser membro
de um grupo ou de uma seita, ou por ter toda uma biblioteca de livros sobre
a cabala. Tem que se desenvolver uma conexão interna mais profunda, para
que exista um contato pessoal com o que se denominou a Academia do
Elevado. Outras tradições denominaram este nível de realidade da Ilha dos
Santos, o Círculo Interior da Humanidade, ou a Grande Fratemidade dos
Iniciados. Não tem localização neste mundo; seu lugar está na parte supe-
rior de Yiezirah (a psique) e na parte inferior da Beriah (o espírito). Está
fora do tempo e do espaço normais.
A tríade mais alta da Árvore do grupo é o contato direto com o Divino.
Correspondente aos níveis internos do indivíduo, assim como aos do
grupo, este é o lugar onde é possível chegar perante a presença do
Shekhinah, ou lugar do Senhor. Algumas pessoas experimentam-no
espontaneamente num ato de Graça, como um estado de profundo respei-
to reverencia1 em que se sentem plenas e rodeadas de uma luz dourada e
de uma sensação de unidade e de paz. O cabalista busca conscientemen-
te este ato de Yehud ou Unidade, com outros ou sozinho, sob as asas da
tradição, em que o Conhecimento permite e ajuda ao conhecedor a se tor-
nar uno com o conhecido.
Os grupos cabalistas costumam trabalhar dentro de um marco discipli-
nado. Ao operar no interior da tradição oral, podem se encontrar em qual-
quer parte do mundo e nem sempre no âmbito da ortodoxia judaica.
Encontrá-los não é fácil, porque apenas as pessoas que querem desenvolver
todos os níveis de sua natureza podem trabalhar na cabala. Muitos dos que
sentem temor ou fascínio pela cabala apenas sabem dela por uma imagem
supersticiosa ou mal informada e, inclusive, por vezes, os inteirados do
tema ignoram mais de sua verdadeira natureza do que outros, que tiveram
um contato passageiro com ela. A cabala apenas abre suas portas àqueles
que estão preparados para a receber. Uma fábula adaptada de um clássico
da cabala, o Zohar, ilustra este ponto:
Certo jovem viu uma vez a figura de uma moça coberta com um véu na
Aquele que conheça o mistério janela de um palácio. No início, por simples curiosidade, ia vê-la todos os
das Portas do Entendirtíento
conhecer&tumbém o Mistério do
dias fugazmente. Depois de um tempo, ela começou a olhar em sua direção,
Grande~~b~~~~ ( a co,lclusão do como se O esperasse. Pouco a pouco, ele foi aumentando o interesse por
ciclo espiritual). aquilo que ia tomando a forma de uma relação, ainda que distante. Com o
(Pico de Ia Mirutlidolu, cabalista passar do tempo, a moça baixou o véu para revelar seu rosto. Isto aumen-
cristão, Itália, século XV). tou o interesse dele, de modo que passava muitas horas junto ao palácio,
esperando contemplar toda a sua beleza. Aos poucos, foi se apaixonando
profundamente pela moça e passava a maior parte do dia perto da sua jane-
la. Mais adiante, ela se tomou mais acessível a ele e conversaram: ela lhe
revelava os segredos do palácio, contando-lhe histórias sobre seu pai, o Rei.
Por fim, já não podia suportar sua paixão, e a única coisa que desejava era
unir-se a ela para poder desfrutar de tudo o que ela lhe falava. O jovem
desta alegoria é a alma; a princesa, o espírito; o palácio, a existência, e o
rei, o Rei dos Reis.
O Trabalho de Criação Da mesma forma que a Criação surgiu do Mundo das Sefirot para ini-
ciar a Semana cósmica dos Dias, o Tempo foi retirado da Eternidade. O
movimento da Criação, a formação e a Ação será constante até o Fim dos
Dias, quando a missão da existência tenha sido cumprida. Neste ponto do
processo de fluxo e refluxo estamos, segundo a tradição cabalística, na
metade do caminho, pois já se atingiu o limite da matéria, e o despertar da
consciência e da evolução começa a elevar o nível do universo acima dos
estados mineral, vegetal e animal, para o estado do humano encarnado.
Assim, tomando como referência uma área do universo próxima de nós,
como a Via Láctea, constatamos que ela progrediu o suficiente para depu-
rar-se numa formação concreta em espiral, com uma estrutura composta de
estrelas formadas de átomos, que por sua vez evoluiram em planetas for-
mados de moléculas e na superfície de um deles existe vida orgânica for-
mada de células. Esta ordem na escala da evolução pode muito bem ser
comum a outras galáxias e sistemas solares e incluir minerais, plantas, ani-
mais e humanóides que não seriam totalmente estranhos à humanidade: esta
noção se fundamenta no princípio de que todos os organismos se baseiam
no mesmo modelo sefirótico que gera criaturas possuidoras de vontade,
intelecto, emoção e capacidade de ação.
O planeta Terra, após ter passado pelas diferentes fases ígnea, gasosa,
líquida e sólida, adquiriu o que parece ser uma relativa estabilidade. A
longo prazo, isto é ilusório: os ritmos cósmicos, se são percebidos à sua
própria escala temporal, são tudo menos estáticos e imóveis. Por exemplo,
as condições adequadas para a vida apenas aparecem nos últimos milhões
de anos, e apenas numa pequena fração deste período apareceu a humani-
dade. A esta escala do tempo, a história da humanidade revela um drama de
acontecimentos sucedendo-se rapidamente, como os períodos de crises e de
quietude que se desenvolvem com seus episódios segundo certo ritmo; por
exemplo, o surgimento de uma parte da humanidade que domina a cena,
como no mundo mediterrânico os gregos deram lugar aos romanos, substi-
tuídos estes pelos árabes. Esta alterância de florescimento e decadência
corresponde às flutuações planetárias e estelares, e são a resposta humana
Quando o Ser Sacrossanto que à tensão cósmica entre a ordem e o caos, que na esfera pessoal se concei-
criou o Universo quis revelar seu tua como o conflito entre o bem e o mal.
aspecto oculto. a luz entre as
trevas, mostrou como as coisas
Segundo alguns cabalistas, no momento em que a Criação se separou do
estavam ligadas entre si Assim, Mundo da Emanação, surgiu o princípio do mal. Mas o mal não é sempre
das trevas procede a luz, e do o que parece ser. Há diferentes classes de mal. Sua forma mais aguda é a
oculto procede o revelado. D a obstinação; esta se encarna no arcanjo Lúcifer, que se rebelou contra Deus.
mesma forma, o bem surge do mal Manifesta-se de cima para baixo, através de todos os Mundos, como o prin-
e a Misericórdia da Justira. pois
ambas estão entrelaçadas. (Zohar,
cípio que sempre sabe mais, e se encontra nos orgulhosos e nos arrogantes
Espanha. século XIII). a todos os níveis. Em seguida está o papel do Tentador, ao qual está desti-
nado um dos trabalhos sujos da existência. Esta tarefa requer grande habi-
lidade, e é aí onde Lúcifer, encarregado de cumpri-la, utiliza seu grande
engenho. A serpente do Gênesis é esta mesma manifestação, como Satanás
perante Jó. Estas categorias de mal pertencem ao Pilar central da Árvore e
estão relacionadas com a consciência. Existem, contudo, elementos malig-
nos associados aos Pilares laterais da função sefirótica. São males gerados
pela excessiva contração de demasiada Forma ou Severidade, ou pela
excessiva expansão de demasiada Força ou Misericórdia. Estes males estão
encarnados nos remanescentes demoníacos dos Mundos anteriores que
existiam antes deste universo. Como tais, desempenham o trabalho de por
à prova e atenuar os processos e produtos da Criação. Vemo-los, por exem-
plo, nas tensões produzidas pela extrema riqueza ou extrema privação exis-
tentes na sociedade humana. O Último e menos agudo tipo de mal não é na
realidade maldade em absoluto; seus resultados parecem prejudiciais ou
desagradáveis, mas não o são. Os processos naturais tais como a excreção,
a morte e a dissolução são as fases residuais dos ciclos de Criação, de
Formação e de Ação, e sem elas o universo estaria repleto de sobras.
Dentro do plano divino, a humanidade tem um papel crucial a desem-
penhar. Segundo a tradição, cada indivíduo é enviado aqui para baixo para
cumprir uma tarefa relacionada com um aspecto em particular do esquema
total. Claro que isto não é possível no transcurso de uma vida, pelo que a
cabala subscreve a idéia da reencaranção, denominada Gilgulim ou os
Todas as são submetidas Retornos, em hebreu. Nosso livre arbítrio, que conduz a ações obstinadas,
prova da Transrnigração... O
indivíduo não sabe que 6chamodo carentes de vontade ou voluntariosas, gera o que na índia se chama o
ao juizo antes de entrar neste Karma e, na cabala, recompensa e castigo ("até a terceira e quarta
Mundo, assim como ao deixá-lo. gerações"). Quando se percebe esta imagem multidimensional do destino
Não sabe quantas transformaçõe.y da humanidade, vemos que o indivíduo não é apenas uma célula de Adão
e provas esotéricas tem que Kadmon, com certos dotes e propriedades, mas uma entidade que nasce
passa r... nem que as almas giram
como uma lançada com periodicamente num corpo físico para desempenhar uma tarefa. Assim, o
uma funda. nascimento e o renascimento não são acontecimentos fortuitos, mas uma
(Zohar, Espanha, século XIII). operação cuidadosamente organizada sob a tutela da denominada
Supervisão do Céu; esta, como uma agência cósmica geral da Divina
Vontade, tem domínio sobre tudo nos Mundos inferiores. Os antigos
nomes dos cabalistas, tais como "Os que sabem" ou "Os Ceifadores do
Campo", se referem a esta dimensão e explicam porque muitos deles sen-
tem um profundo afeto ou possuem um profundo conhecimento em
relação a outros períodos e a outros países. Estavam ali desempenhando o
Trabalho da Criação.
O Trabalho da Criação para a humanidade é a participação consciente na
realização da intenção Divina. Mediante esta participação, o cabalista não só
se toma mais consciente dos acontecimentos que ocorrem nos Mundos maio-
res e invisíveis de cima, como também ajuda efetivamente a introduzir os
influxos que procedem dos Mundos superiores sobre os inferiores. E o con-
segue mediante a habilidade na vida prática, a solidez psicológica e a clareza
espiritual. O que o transforma num bom instrumento para desempenhar qual-
quer tarefa que a providência lhe possa destinar. Significa que não apenas
funciona inconscientemente conforme seu destino, como fazem muitos, mas
também que atua a partir do conhecimento, de maneira a poder se ajustar ou
se adaptar aos acontecimentos ou atos, com o objetivo de preenchê-los de
maior claridade, pureza, equilíbrio e eficiência; por outras palavras, dotá-los
das qualidades dos quatro Mundos completos. Um exemplo disto foi o gran-
de mestre e cabalista do século XVIII Baal Shem Tov, que propiciou um pro-
fundo despertar espiritual a uma desolada comunidade judia do leste da
Europa. Isto apenas podia suceder enquanto fosse um ser carnal.
A idéia da presença na terra dessas pessoas tão desenvolvidas, que estão
aqui por escolha de Deus, é comum a todas as tradições espirituais. Na
cabala, a fábula dos Lamed Vav, os trinta e seis homens justos, aponta para
a presença de uma irmandade, dispersa pelo mundo, formada por pessoas
sábias que velam pela vida espiritual da humanidade. A este nível, pode se
tratar tanto de hindus que vivem nas grutas do Himalaia, de muçulmanos
que trabalham a prata em Damasco, de cristãos que praticam medicina em
Londres ou de judeus que ensinam economia na Rússia. Consta que apenas
eles sabem quem são os trinta e seis, porque perante o mundo aparecem de
forma completamente natural em seu contexto diário. A tradição vai mais
além e alude a toda uma hierarquia de pessoas espiritualmente evoluidas,
situadas em cada nível relativo a uma etapa diferente do progresso da
humanidade. Alguns desses indivíduos podem ser perfeitamente conheci-
dos do público; outros estão ocultos, como aquele denominado no
Islamismo "o Eixo do Tempo". Na cabala, o mais perfeito dos humanos
encarnados é o que representa o Messias, atuando como conexão entre
todos os Mundos. Neste único homem se unificaram todos os níveis possí-
veis do estágio atual da evolução encarnada, e ele atua como ponta de lança
da humanidade. Diz-se que esta pessoa está presente em todas as gerações,
pelo que o conceito comum de que o Messias chegou, ou de que está para
chegar ainda, adquire a dimensão do Divino, que é "Eu Fui, Eu Sou e Eu
Serei". Para os cabalistas, não poderia ser de outra forma, exceto que o
Messias, ao se aproximar o Final dos Dias, se dará a conhecer abertamente
a toda a humanidade, quando o Trabalho de Criação se acerque a sua per-
feição final.
Segundo se diz, Deus ensinou que Deus pudesse contemplar Deus. de novo ao Jardim do Paraíso, como
primeiro os segredos da existência (Deus, Arquiteto da Criação, segundo também recordar que ele era,
aos arcanjos superiores, que um manuscrito da Bíblia de enquanto imagem de Deus, o
formavam um conselho interno na Holkham, Inglaterra, século XIV). observador do espelho da existência
Corte do Todo-Poderoso. Nesta onde poderia perceber o Rosto
versão cristã do Ensinamento (na arte Divino. Este livro nos foi
judaica não pode haver representação Diz-se que Deus se compadeceu de transmitido, embora algumas
natural de Deus) o Criador dita as Adão depois de ter sido expulso do versões escritas alteradas tenham
leis que governarão a Criação. Estas Paraíso e que lhe enviou o arcanjo obscurecido seu conteúdo. Dele
se baseiam, segundo a Cabala, nas Raziel, cujo nome significa ainda existe uma versão oral na
dez Sefirot, Atributos Divinos ou "Segredos de Deus", para lhe cabala. (Escritura angélica, segundo
Manifestações do Absoluto, cuja entregar um livro, graças ao qual o o Livro de Raziel, Holanda,
existência foi disposta com o fim de homem poderia não apenas aceder século XVII).
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na página 6).
O Shem-ha-Meforash,o Nome
especial de Deus que foi dito a
Moisés, pode ser observado numa
disposição vertical, como a imagem
aproximada de Adam Kadmon, o
Primeiro Homem. As letras hebraicas
Yod, He, Vav, He são consideradas a
representação não só da divina
Vontade, do Intelecto, da Emoção e da
Ação, mas também dos quatro níveis
da Emanação, da Criação, da
Formação e do Fazer, situados nos três
Pilares da Vontade, da Misericórdia e
da Severidade. A esta figura do Kavod
ou Glória Divina, composta de fogo
branco e preto, se alude em Ezequiel
como a "aparência de um homem". (O
Nome Divino, representado como
Adam Kadmon).
O diagrama das Sefirot ou Atributos
Divinos não foi publicado por
completo até à Idade Média. Houve
muitas variantes (vejam-se, por
exemplo, as das páginas 72-73), mas
esta é a versão utilizada por muitos
cabalistas hoje em dia. Sua estrutura
contém todas as leis que regem a
existência, pois revela um processo
universal de interação equilibrada
entre os princípios superior e inferior,
ativo (à direita) e passivo (à
esquerda). O influxo divino pode se
seguir detalhadamente pelos
caminhos entre as Sefirot (designados
pelas vinte e cinco letras hebraicas) e
através das tríades das relações
triangulares que os interconectarn. As
cores diferenciam aqui as tríades
funcionais ou laterais (vermelho ativo
e azul passivo) das tríades centrais,
que denotam os níveis de consciência
e vontade (lilás e amarelo).
Os quatro grandes círculos mostram
os níveis no interior de uma mesma
Árvore que correspondem aos quatro
Mundos (página seguinte) da
Vontade, do Intelecto, da Emoção e
da Ação. Embora sumamente
complexa, a Arvore Sefirótica revela,
contudo, uma imagem da Unidade
Divina. (A Arvore da Vida, sua
estrutura e sua dinâmica. Ver páginas
6-8 e 50-51).
ADOPA'
MIGI
MESS
L..
homem, que tem no seu interior os
quatro níveis correspondentes da
Divindade, o espírito, a psique e o
corpo, pode perceber todos os
Mundos durante seu regresso interior
e exterior à Fonte. Mediante um
processo gradual de realização, o
Adão caído se toma cada vez mais
consciente da Divina Presença em
todos os níveis, e o microcosmo
contempla no macrocosmo a imagem
de Deus. (Escada de Jacó, a
hierarquia dos quatro Mundos. Ver
página 90).
O Beriah da Criação é o Mundo Adão espiritual, o último destes
em que a Vontade de Deus, que seres que foi criado, é o mais
emana do inalterável reino da perfeito de todos eles, dotado além
eternidade (o Mundo de Azilut) disto do livre arbítrio. Aqui se
cria o espaço e o tempo. O livro situa a cena do desenvolvimento
primeiro do Gênesis descreve as do destino da humanidade.
fases iniciais de um drama cósmico (A criação da Luz, mezio tinta de
cujos atores habitam um Mundo de John Marin, Inglaterra, século
espírito puro, regido por seu XIX)
próprio ciclo de dias e estações. O
Se o mundo da,Criação é o Céu, o da
Formação é o Eden. Aqui, as coisas
provocadas e criadas, tais como o
espírito, se revestem de certas
qualidades e características, como
uma idéia que toma forma. Neste
reino, todas as coisas atravessam
metamorfoses sem fim, conforme a
Criação avança desde o início até o
fim dos tempos. Aqui, o Adão da
Criação se dividiu nos dois sexos,
que representam o P,ilar esquerdo e o
direito, enquanto a Arvore do saber
ou a Criação se eleva pelo meio do
jardim. Em cima se encontra a
Árvore da Vida, o Mundo Divino da
Emanação; em baixo, a serpente da
traição tenta o espírito e a alma. (A
tentação de Adão e Eva, gravura em
madeira, França, cerca de 1500).
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O Mundo de Asiyyah, ou da Ação e
dos elementos, é o último dos quatro
níveis a se manifestar. E o Mundo
físico em que as atividades dos
Mundos superiores se desenvolvem na
prática. A presença dos quatro
Mundos completos neste nível físico é
simbolizada por vezes mediante os
quatro elementos tradicionais: o fogo
ou a luz, que representa a Emanação;
o ar, que representa os processos
espirituais e cósmicos da Criação; a
água, que representa o fluxo da
Formação, e a terra, como o solo
firme da existência. Nesta paisagem, o
nível inferior da manifestação - o
último a separar-se da Divindade pura
e o que é submetido ao maior número
de leis - é, contudo, o receptáculo de
tudo o que aconteceu antes. Assim,
embora tudo aquilo que percebem os
sentidos possa ser físico, para o
cabalista, todos os fenômenos são os
efeitos ou as causas que atravessaram
todos os níveis da existência. Uma
paisagem ao entardecer, com seus
elementos de matéria sólida, formas
simbólicas mutáveis, atmosfera e luz,
adquire assim dimensões físicas,
psicológicas, espirituais e Divinas.
(Jerusalém).
Com o Mundo da Criação, surge a arbítrio. O arcanjo Miguel recebeu de símbolos; contudo, alguns
primeira separação do Divino. a ordem de ser o adversário do rabinos consideraram-na legítima
Aqui, apartando-se de uma só vez mal no céu. enquanto que o se aplicada escrupulosamente.
do contato direto com a homem é responsável da ordem Com o transcurso do tempo,
Divindade, o mal assumiu sua sobre a terra. (O conflito entre o aquelas práticas foram
forma. Tradicionalmente é bem e o mal, a ordem e o caos, corrompidas e conferiram à cabala
simbolizado pela rebelião do detalhe do Juízo Final, tríptico de uma reputação duvidosa. Mas as
arcanjo Lúcifer contra a ordem Jerônimo Bosh, Holanda, cerca de técnicas continuam sendo válidas
Divina de que deveria se submeter 1500). na medida em que certos
a Adão. Por esta rebelião, Lúcifer exercícios podem provocar
foi relegado, para cumprir o profundas mudanças na
trabalho do tentador. Trabalha consciência e eliminar problemas
junto com as forças demoniacas da A cabala prática é, uma forma de psicológicos que tempos atrás
desintegração, para por à prova a lidar com o mal. E uma forma de eram considerados em termos de
integridade da Criação e magia, a perigosa arte de obter posse demoníaca. (Amuleto contra
especialmente a do homem, a poder sobre o mundo psicológico o mal. em folha, Holanda, século
única criatura que possui livre (Yezirático) mediante a utilização XVII).
O ponto máximo que a maioria das
pessoas pode se acercar ao tema
deste livro é a experiência sublime e
única na vida de cada um. Um
momento assim pode se dar em
circunstâncias muito diversas, mas
sua qualidade é sempre a mesma. A
consciência física agudizada se toma
em lucidez psicológica, que por sua
vez se transforma numa profunda
consciência da totalidade do universo
e da Presença da Divindade. Uma
pessoa entra em contato direto com
todos os Mundos ao mesmo tempo e
percebe tanto a complexidade, como
a unidade de todas as coisas. Embora
esse momento possa durar apenas, um
segundo, sempre é inesquecível. E o
dom do Céu, e se uma pessoa deseja -
tomar a opção da iniciação, esse
momento pode ser a porta que
conduz ao reino interior e ao
superior. Aqui, MoisCs experimenta
um desses momentos. Suas escolhas
alternativas consistem em conduzir
os escravizados filhos de Israel - a
psique, com sua massa de hábitos de
descontetarnento enraizados - à terra
prometida ou Mundo Espiritual da
Criação, ou em permanecer, sem
atingir sua realização, num deserto
situado entre os cozinhados de carne
do Egito e a terra onde corre leite e
mel. (A Salsa Ardente, pintura de
Emst Fuchs, áustria, século XX).
O primeiro passo da cabala é é o eu que observa tudo e luta
familiarizar-se com a Arvore contra o anjo para impor Minha
Sefirótica. Sem esta chave Vontade à Sua Vontade. Gevurah é
decifradora, pouco se pode a qualidade emocional do Juízo, a
aprender. Para isto, é necessário disciplina e a decisão; é o
traduzir a natureza de cada Sefirah complemento de Hesed, a tendência
em termos humanos, de forma que emocional para a Misericórdia, para
a imagem Divina possa ser o amor e para o perdão. A não-
percebida ao nível do homem. A Sefirah de Daat é a voz do
Arvore é representada aqui por invisível, que concede o
pinturas e temas, através das obras conhecimento desde o mais além
de Rembrandt (que de todo modo deste Mundo. Binah é a capacidade
estava relacionado com a cabala.) intelectual de Entendimento através
Malkhut, o Reino, é visto como o da longa reflexão; a Sabedoria,
corpo físico elementar. Yesod, o Hokhmah, se encarna no momento
Fundamento do ego, é representado da revelação que surge na mente.
através da figura do filho talentoso, Não há imagem de Keter, a Coroa.
mas também ambicioso, Absaláo, A pauta completa de Atributos, com
que queria ser rei. Hod, a suas relações marcadas pelos
Reverberação, é a parte mercurial caminhos da Arvore (página 40).
de nossa inteligência natural, que define a anatomia da psique.
aprende e comunica; Nezah, a (As Sefirot na experiênia humana,
Eternidade, é a esfera dos ciclos vistas através de dez quadros de
instintivos e da preocupação pelo Rembrandt van Rijn, Holanda,
prazer e pela dor. Tiferet, a Beleza, século XVII)
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L ' . c., :
um ato de veneração. tanto no motivação; cria um profundo de uma situação corrente no âmbito
interior, como fora da ortodoxia dos sentimento de gratidão pelo que nos do Plano Divino.
ritos: o único critério é que seja uma foi dado e sensação de obediência à (A Ação; A Sinagoga de Livomo no
ação plena de dedicação e impregnada divina intenção. Simchas Torah, pintura de S.A. Hart,
da consciência do Divino no interior A contemplação é a abordagem da século XIX, esquerda, em cima; A
da realidade física. mente. E função do intelecto penetrar Devoção: A Bênção das Velas,
A devoção pode assumir diferentes e compreender o universo em seu pintura de Isidor Kaufmann, século
formas. Pode estar na oração ou no nível mais profundo. Tais reflexões XIX, esquerda, em-baixo; A
serviço religioso, ou em tudo em que podem compreender o exame da Contemplação: A Ultima Oração,
o principal móbil seja o coração. O última etapa da evolução cósmica, do pintura de Samuel Hirschenberg,
amor e o temor a Deus é sua destino do espírito a longo prazo, ou século XIX, em baixo).
Depois da ação, da devoção e da ao redor do Trono Celestinal. Mas mérito próprio, mediante um forte
contemplação, todas elas como parte esta experiência profética está trabalho espiritual, ou recebendo a
do trabalho do aspirante a cabalista, prenhe de perigo se o indivíduo não Graça a partir de cima. Este contato,
a quarta abordagem, a da percepção estiver preparado ou amadurecido. por mais momentâneo que seja,
mística, constitui o primeiro estágio (Visão de Isaías, segundo o sempre foi considerado como a
da verdadeira experiência manuscrito do Livro de Isaías, coroação de uma vida. E o dever e o
cabalística. Nesta produz-se a Reichenau, Alemanha, século XI). do cabalista esforçar-se
mptura com o Mundo natural, para para atingir a conexão Divina
passar, acima, ao sobrenatural, onde mediante a prática do Devekut, a
o cabalista vê o que costuma estar adesão a Deus, num constante ato de
oculto à vista - como a aura dos rememoração da Presença Divina.
corpos vivos - ou onde conversa O mais alto nível da realização (Moisés fala com Deus, segundo o
com mestres mortos tempos atrás, humana é o contato direto com o manuscrito de Haggadah, Espanha,
ou ainda onde vê os seres angélicos Divino. Este pode ser atingido por século XIII).
O propósito da unficação do eu é
ajudar a iqtegração dos quatro
Mundos. E uma forma de aproximar
a existência de sua realização plena
como espelho do Divino, que
contemplará o Adão aperfeiçoado no
Final dos Tempos. Este trabalho
externo da Criação é simbolizado
aqui por uma mezuzah, caixa de
orações feita para ser fixada na porta
de uma casa judia. Este desenho
recorda aos que entram e aos que
saem da Escada de Jacó e o
ensinamento dos quatro Mundos.
(Mezuzah, Itália, século XV).
Esquerda:
Antes de atingir a perfeição, há que
passar por numerosas etapas. Podem
ter-se visões do caminho futuro, mas
não se pode falhar nem um só passo,
para que a alma inocente que desce a
este mundo venha a se tornar de fato
no espírito experimentado que atinge
o final da viagem em união com o
Divino. Esta Escada de Jacó
desenhada por um cabalista
americano contemporâneo mostra as
diferentes etapas da subida através
dos Mundos, incluindo os obstáculos
a superar, tais como a obstinação e a
falta de vontade. Quando se atinge o
desejo de servir, o indivíduo se
submete ao Céu. Então Eu e Tu
estamos em união e se cumpre a
Divina Vontade. (O Caminho da
Perfeição).
Aqui, o Nome de Deus e as letras
hebraicas estão relacionadas com os
conceitos gregos e babilônicos dos
princípios que regem o universo. No
centro, encontra-se o Tetragrama, YHVH,
posto em forma do Tetraktis de Pitágoras
( 1 +2+3+4=1O), com os ângulos
assinalados pelas três letras-mãe: a do ar,
a da água e a do fogo. Os círculos
mostram as 19 letras restantes do alfabeto
hebraico, postas em correspondência com
os sete planetas dos doze signos
zodiacais. Contrariamente a certas idéias
pré-concebidas e amplamente difundidas,
a cabala permaneceu aberta através dos
tempos às idéias contemporâneas.
(Diagrama segundo o Sefer Yezirah, o
Livro da Formação; Babilônia, cerca do
século VI).
Direita. em cima:
Com a passagem da linha esotérica das
escolas babilônicas decadentes para a
Europa, no século X. ocorreram
mudanças importantes. Até o século XIV,
a cabala passara de um estudo exclusivo
para um estudo geral e era conhecida por
grande parte da intelectualidade da época,
incluindo estudiosos cristãos. Apesar da
oposição da ortodoxia, se expressava na
prática religiosa, na metafísica, na
ciência, na literatura e inclusive na arte,
tal como vemos aqui numa Árvore
composta por palavras. Aquela foi uma
idade dourada de inovação e proliferação
da cabala. (Diagrama caligráfico da
Árvore, segundo um manuscrito, França;
século XIII. Bibliothèque Nationale,
Paris).
.. ml
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9 3
E
I
O Mundo Divino das Sefirot foi definido
de muitas formas. Aqui, as letras iniciais
de todas as Sefirot foram colocadas em
ordem, com Keter, a Coroa, que rodeia
todas as demais e Malkhut, o Reino, ao
centro. Provavelmente, baseia-se na idéia
alegórica de que as Sefirot são nozes com
suas cascas umas dentro de outras. O
modelo também ilustra o Absoluto
englobando o todo, que mantém cada
coisa em seu lugar segundo uma
sequência arquetípica. (Diagrama do
Purdes Rimmonim de Moisés Cordovero.
Cracóvia, 1592).
- -
Porta
-
-- - - -
AçBo inkrior
E
As quatro Criaturas Vivas Sagradas de
Ezequiel 1 e do Livro da Revelação
simbolizam os quatro Mundos. A forma
humana é Adam Kadmon (página 68), o
domínio ígneo e Divino da Emanação. A
águia, o nível aéreo da Criação cósmica;
o leão, a água do coração da Formação. e
o touro, o nível terrestre do Mundo
natural da Ação. No centro está o
Messias, segundo um antigo conceito
judaico (ver páginas 88-89),rodeado de
seres angélicos e das almas dos justos.
(Timpano de Saint-Trophine, Arles,
França, século XII).
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Árvore e com os estágios da evolução.
Aqui, Adão o Mago manipulam os
símbolos dos quatro Mundos, enfeitado
com o Chapéu da Eternidade. (Cana do
Tarot, França, século XVI).
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Os métodos buição da mesa e o simbolismo do ser-
viço não apenas narram a história da
cabalísticos: saída do Egito, como também falam da
a ação preparação interior para a viagem h terra
prometida do espírito. Todos os presentes
A confecção de objetos rituais é um dos são instados a se considerar como um
exercícios da ação cabalística. A transpo- dos israelitas dispostos a iniciar o a
sição de uma idéia espiritual, através de Caminho. (Prato de Páscoa, Hungria,
uma forma preconcebida, num símbolo século XVII. Wolfson Museum,
material de uso implica os três Mundos Jerusalém).
inferiores. Aqui, as três coroas numa
bandeja de prata representam as Sefirot Em diversas ocasiões. o judeu ortodoxo
supremas de Keter. Hokhmah e Binah: veste asflacterias ou teJi1lin. Estas, são
os'pilares são os da Severidade e da objetos rituais que contêm os textos
Misericórdia; as sete Sefirot-campainhas sagrados e que se fixam à cabeça ou ao
simbolizam as sete Sefuot inferiores da braço de determinada forma. A reali-
Construção. A bandeja se pendura - se zação desta ação leva o corpo, o coração
apoia em tomo da Sefer Torah (página e a mente à consciência de Deus; cada
34) quando não está sendo interpretada. etapa do ritual, tal como o atar as cintas
("Peto" de prata, Alemanha, 1680. formando a letra inicial de um Nome
Jewish Museum. Londres). Divino, executa-se com grande concen-
tração interior. (As tefillin e sua apli-
A celebração da Páscoa judaica é uma cação. segundo Cérémonies et coutumes
ação esotérica em forma ritual. A distri- religieuses.. ., de B .Picart, 1733).
Esquerda em baixo:
O corpo humano é uma clara expressão
da lei sefirótica no Mundo físico. Tem
quatro níveis de alividade: mecânica,
química, elétrica e consciente. Os Pilares
laterais, no Mundo de Asiyyah, são a
energia e a matéria, com o eixo da
vontade no centro. Tiferet é o sistema
nervoso central, com o componente
autônomo em Yesod. Em Malkhut estão a
pele e os ossos de matéria sólida; junto
com os líquidos, os gases e o calor
formam os quatro níveis da Ação na
carne. "Se queres conhecer o que está Em
Cima, então olha para Baixo", diz um
cabalista. Esta sistema é exposto em
forma de diagrama na página 15; o
esquema mostrado aqui utiliza a analogia
com uma casa para demonstrar não
apenas a correspondência dos órgãos e
das funções, mas também os quatro níveis
elementares na carne, que correspondem
aos quatro Mundos. (A casa do Corpo,
segundo Maaseh Tobiyyah, por Tobias
Cohn, 1707).
KETER
Não tereis outros
deuses senão a mim.
BINAH HOKHMAH
Não pronunciareis o
-
Não fareis imagens
nome do Senhor v o s s o esculpidas
Deus em
viio \ HESED
GEVURAH
Guardareis o dia do
Honrareis vosso
Sabbath. considerando-o
-
pai e vossa
mãe \ santo
TIFERE<
Não matareis
NEZAH
HOD Não cometereis
Não roubareis adultério
Y ESOD
Não cometereis hlso
testemunho contra
vosso próximo
MALKHUT
J,
Nffocobiçareis
O caminho da devoção começa no ver um relâmpago ou por ver o mar ou Púginu seguinte, em cima. a
amor e no temor a Deus e se encarna um homem sábio; bênçãos para o esquerda:Abraham Abulafia, que viveu no
nos Dez Mandamentos. Estes se vinho ou para a boa saúde. Estes atos século XIII. foi um homem estranho,
baseiam nas Sefirot, com os três devotos levam a atenção sobre a inclusive do ponto de vista dos visionários.
primeiros que se relacionam com a veracidade da afirmação de que tudo Em parte profeta, em parte metafísico e
tríade Divina ou suprema. O quarto e o emana do Divino: o devoto tenta em parte poeta. concebeu uma técnica de
quinto, em Hesed e em Gevurah. falam recordar esta consciência em tudo o meditação que perturbava a mente normal
da devoção e do respeito ao nível que vê ou faz. A repetição diária destas (Yesódica), com o objetivo de que o
emocional; os últimos. que se referem orações nunca deve ser apenas da boca coração pudesse compreender o que
a assuntos externos, devem ser vistos para fora. (A oração de açáo de graças acontecia durante a oração. Através destes
como guias adicionais para a prática pelo pão: caligrafia. século XX. "círculos de instrução" e da contínua
interior; assim, uma pessoa não deve Coleção de Joseph Rusell.) recombinação das letras e nomes hebreus.
matar o eu ou sua esperança de a pessoa entregue à meditação tentava
crescimento espiritual (Crime, Tiferet), Os cabalistas escreveram numerosos transcender o racional e perceber as
adulterar a vida espiritual com sua livros sobre o Caminho da Devoção. esferas sobrenaturais. O método não está
busca de poder (Adultério, Nezah), Dão instruções para uma conduta muito distante de certas técnicas orientais
abusar do conhecimento adquirido para correta e uma prática ética, assim dos inantra. (Instruçóes para a meditação,
extrair vantagens injustas (Roubo, como diferentes técnicas de oração e segundo uni manuscrito dos Escritos de
Hod), enganar a si mesmo ou a outros, submissão à Vontade de Deus. No Abulafia).
mediante o ego Yesódico, ou século XI, o judeu espanhol Bahya
ambicionar alguma posse no universo: ibn Pakudah (que escreveu P~íginriseguirite. em cima, ir direita:
tudo é o Reino de Deus (Malkhut). (Os originalmente os Deveres do Coruqão A relaçáo dos Patriarcas entre si pode
Dez Mandamentos, correspondências em língua árabe) discorreu sobre a ser entendida simbolicamente em
sefiróticas). consciência, a humildade e o correspondência com as Sefirot: David
ascetismo, e enfatizou a observância se encontra em Malkhut; José em
"Louvado Sejas, ó Deus nosso Senhor, interior da Lei em agradecimento ao Yesod; Moisés e Aarão em Nezah e em
rei do universo, que obténs o pão da benefício outorgado pelo amor Hod; Jacó (Israel), em Tiferet. Abraão e
terra." Esta oração de dar graças é uma Divino. (Portada de uma edição em Isaac, em Hesed e Gevurah,
das bênçãos que são recitadas pelos latim, ou judeu-espanhol, do Hovot representando a relação entre o amor e o
judeus devotos em todas as ocasiões /lu-Lcvailot. de bahya ibn Pakudah, temor, com a obediência de Abraão no
especiais de sua vida; há bênçãos por Veneza. 17 13). Monte Moriah (Gênesis, 22). como ato
(vlVqv3 UP T V u V 3 O '!AaleH
opun8as 'oEss!uiqns ep sedeia) qwnAaf)
a pasaH ap o ~ J e ~ op
o 3no spuo!Jouia
laiy* sap sapep!lenb se 'o$Jeuyuas!p
e a o~xpduio3e anlonuasap o~Jeui!xaide
q s g .,,!L,
e ~oureo emd ,,na,, oe
JOW op w o d s w ~ sou anb o~J!prrrle uio3
oss!uiaiduio~uin e 'aasaui o oe o ~ k n a p
ep s?nem 'znpuo3 OISI 'sopelwuoa
A direita. em cima:
O método contemplativo se aplica espe-
cialmente ao estudo da metafísica. Aqui,
a mente examina a estrutura e os proces-
sos da existência, enfatizando particular-
mente a interação das Sefirot e seus sub-
sistemas. A finalidade de tais exercícios
intelectuais é religiosa: compreender o
mecanismo mediante o qual a
Providência cumpre a Vontade de Deus.
Em h<ti.ro,ic esquerda A Direita: (Esquema metafísico segundo a
A história revela o estado do universo aos O estudo das letras do alfabeto hebraico, Kabbalah denudata, por Christian Knorr
contemplativos. Segundo a visão com seus números correspondentes, seu von Rosenroth, Frankfurt aus Main
cabalística. os progressos da humanidade, significado interno, suas formas e sua 1677).
e em particular dos judeus, através do coloção nos vinte e dois caminhos da
tempo. são a manifestação da Divina Árvore (ver página 40). revela-as como
Vontade em ação. Nenhum acontecimento chaves decifradoras para a compreensão
é estranho: tudo acontece sob a Lei. Israel da Criação que, segundo a literatura
foi escolhido para exemplificar a esotérica, assumiu vida através da sua
evolução espiritual do homem, no sentido combinação. Idealizaram-se numerosos
em que o respeito ou o incumpriinento esquemas e sistemas, alguns profundos e
dos Ensinamentos conduz a outros superficiais, segundo a
consequências para toda a nação. profundidade da contemplação da qual
Conforme disse um rabino. "os judeus surgem. (Roda das letras, segundo o
são os primeiros e os últiinos a acautelar- Purdes Rimmonini. por Moisés
se dos bons e dos maus tempos". Cordovero. Cracóvia, 1592).
(Expulsão dos Judeus de Praga, 1745;
gravura, século XVIII).
Os métodos
cabalísticos:
a contemplaç
ESPIRITUAL
A Direita:
A Divina Vontade cria as condições c6s-
micas que formam o meio ambiente em
que se encarna o indivíduo. Cada ser
humano, cada lugar e cada instante do
tempo emana do Agora Eterno de Azilut
e se manifesta no universo espiritual de
Beriah; esta é, por sua vez, a esfera em
que se situam os planetas, que no Mundo
psicológico (Yezirah) correspondem aos
princípios arquetípicos da psique huma-
na. O efeito se constata no Mundo da
ação (Asiyyah). Desta forma, o Agora
Eterno se manifesta em cada momento
presente. (A Providência e o Tempo,
segundo Kenton, Anatomy of Fale).
Em b a h :
A contemplação dos acontecimentos uni-
versais requer um conhecimento dos
mecanismos cósmicos. Isto inclui a
astrologia, apesar de sua proscrição da
tradição ortodoxa. Os rabinos costuma-
vam utilizá-la para sustentar que apenas
Israel estava por cima da influência pla-
netária. Israel representa aqui o mais alto
estágio da consciência humana: apenas
aqueles que entendem a Lei que rege a
Criação podem utilizar seu livre arbítrio
para situar-se acima do destino. (Esfera
&milar judaica, segundo Maaseh
Tobiyyah. por Tobias Cohn, 1707).
A morte, o
renascimento,
o destino
Os Gilgulim, os ciclos da reencarnação,
são uma parte aceita da cabala. A
transmigração da alma através de uma
série de vidas é considerada, por sua vez,
como um processo de aprendizagem e
como uma forma de cumprir um destino
pessoal ou uma missão espiritual. Por
vezes, em vista do abuso do livre
arbítrio, a missão pode se ver
entorpecida durante várias vidas - a
visão cabalística do castigo divino "até a
terceira e quarta geração" proclamado no
Êxodo 205. A transmigração explica a
experiência comum das pessoas que têm
a impressão de já conhecer outra pessoa
ou um lugar que nunca tinham visto
antes. e permite que uma injustiça
aparente seja corrigida durante a vida
seguinte. (Morte e ressurreição: o velho
cemitério judeu, Praga).
i
onde contempla suas realizações terrenas e DESTINO
experimenta o paraíso ou o purgatório. O INTER-
organismo Beriático ou espírito pode, se NAMENTE
INFLUENCIADO
estiver suficientementedesenvolvido, subir
ao nível cósmico do Mundo da Criação,
até descer, por necessidade (Karma) ou por DESTINO
escolha, para se juntar de novo com a alma
de um corpo de canre. (O Paraíso e o VONTADE
Purgatório, segundo o manuscrito das PR~PRIA
Hora. de Simon Mannion, França, século
XV.Victoria and Albert Museum,
Londres).
DESTINO
EXTERNA-
MENTE
INFLUENCIADO
u CORPO
Mestres e messias
A direita, em cima:
O rabino Akiba, que viveu na Palestina no Joshua ben Miriam de Nazaré faz parte
século I, foi um místico e também um historicamente da linha judaica. Seus
grude estudioso. Ele e seu contemporâneo, ensinamentos, embora projetados em
o rabino Ishmael, são citados na literatura termos de alegoria e de ação, têm um
cabalística mais recente como homens que fundo metafísico muito preciso. Nunca
ascenderam, mediante a meditação poderemos saber se foi adestrado pelos
profunda, aos Mundos interiores e Essênios (membros de uma antiga seita
superiores, dos quais trouxeram relatos do judaica) ou se pertenceu a algum dos
que viram. (Ver páginas 25-27). Não é rara muitos outros grupos místicos que
a prática da utilização de nomes famosos existiram na Palestina em outros tempos.
para conferir autoridade a um relato de um Foi certamente um mestre, ou então,
escritor posterior; o exemplo mais conforme sustentam os cristãos - a
conhecido é o do Zohar, do qual algumas manifestação terrena do espírito do
seções atribuídas ao rabino Simeon ben Messias, o ser humano ideal que forma o
Yohai foram provavelmente escritas pelo vínculo entre qs Mundos superiores e a
cabalista espanhol do século XIII Moisés humanidade. (Icone de Jesus com cabelos
de Leon (Rabbi Akkiba, gravura em de ouro; Rússia, séculos XII-XIII,
madeira de Haggadah, Itália, século XVI). catedral da Assunção. Moscou).
'(I
A vinda do Messias foi uma idéia
constante na história judaica e,
periodicamente, quando os tempos foram
calamitosos, esperou-se a sua chegada.
Segundo a tradição, profetiza-se um
momento deste tipo para a redenção.
Numerosos pseudo-Messias, homens de
poder carismático e de saber místico,
surgiram em momentos daquele tipo. O
último caso importante deu-se no século
XVIII, quando Shabbetai Zvi atraiu
milhares de seguidores. Sua conversão
forçada ao lslamismo não apenas o
desacreditou, como também originou
numerosos éditos rabínicos restringindo o
estudo da cabala a pessoas amadurecidas,
piedosas e ilustres. (Shabbetai Zvi,
gravura do Falso Messius, foita por Um
Ingl&sde Qualidade, século XVIll).
A direita, em cima:
Nas mais profundas ou nas mais elevadas
experiências interiores, o místico deixa o
reino psicológico de Yezirah, o Mundo da
FormaçZo, e sua consciência entra em
Beriah, o Mundo da Criação. Aí. no
espírito, sobe para contemplar o Trono
Celestial, onde sua visão adquire uma
dimensão universal. Este ponto entre o
cósmico e o Divino (ver página 15) é o
lugar onde confluem os três Mundos
superiores; é chamado o Assento do
Messias, a morada dos seres humanos
mais completamente realizados. Esta
visão é dada a muito poucos, porque
requer uma grande acumulação pessoal de
mérito e de Graça Divina. (Um místico vê
o Messias rodeado das Quatro Criaturas
Sagradas, Apocalipsis, Flandres, cerca de
1400, Bibliothèque Nationale, Paris).
VII VEST~BULOS
MAIORES: ESTADOS
, "'f.. ESPIRITUAIS.
MUNDO DE
BERIAH
u
MINERAL
O trabalho
de unificação
A tarefa do cabalista, que é o fundamento
de todo o seu trabalho de
desenvolvimento pessoal e de todas as
suas visitas às regióes elevadas, é ajudar à
unificação dos Mundos. Ao atingir a
unidade no interior dos quatro níveis de
seu próprio ser, procura a união entre o
que está em cima e o que está em baixo.
Na representação, um cabalista leva a
efeito este ato; toma-se consciente dos
Mundos mais elevados e de seus
habitantes, e faz descer a Luz Divina
através do Mundo da Formação - com
seus arquktipos planetiújos simb6licos
dispostos em forma de Arvore Sefhtica -
sobre si mesmo e sobre a terra. (Cabalista
em trabalho; cortina. Coleção do Autor).
Em baixo:
SANCTA
A Unificação se realiza mediante a ação, SANCTORUM
a devoção e a contemplação. Aqui se
descreve uma oração possui forma da
figura de homem, que possui uma coroa.
Assim, enquanto o cabalista reza, se toma
consciente da cabeça, do corpo e dos
membros como seus individualmente e
como de Adam Kadmon, do qual é um
reflexo e que, por sua vez, é um reflexo
do Divino. Desta maneira, um indivíduo
ajuda a Deus a contemplar Deus.
(Imagem Divina em forma de oração,
seguido um livro hebreu manuscrito de
oraçóes, França ou Alemanha, stculos
XIII-XIV, British Library, Londres).
MUNDO
' EXTERIOR
O fim dos dias
Direitu:
Quando Adam Kadmon tenha absorvido e
experimentado tudo aquilo que tomou
existência, então a imagem do Divino
sabe Quem está dentro e quem está fora.
Neste espelho, o Rosto contempla o Rosto
e se produz a união total. Então EU SOU
AQUELE QUE SOU é Uno, e a
existência se desvanece, deixando apenas
Deus. Deus contemplou Deus. (O Santo
Nome EHYEH ASHER EHYEH, EU
SOU AQUELE QUE SOU. caligrafia,
Coleção de Joseph Russel, Nova York).
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