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XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2014

SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO INFORMATIZADA DE EQUIPAMENTOS


MÉDICO-HOSPITALARES
E. L. Cavalcante*, A. F. da Fonseca**, M. G. N. M. da Silva***,
M. A. B. Rodrigues* e P. S. Lessa*

*Departamento de Eletrônica e Sistemas, UFPE, Recife, Brasil


**Engenharia Clínica do HC de PE, UFPE, Recife, Brasil
***Departamento de Engenharia Biomédica, UFPE, Recife, Brasil
e-mail: ericolcavalcante@gmail.com

Resumo: A gestão dos equipamentos médico- manutenções, as ordens de serviços, a disponibilidade e


hospitalares (EMHs), ao qual o núcleo de Engenharia a confiabilidade dos EMHs do Estabelecimento
Clínica é responsável, demanda a necessidade de Assistencial de Saúde (EAS) [2].
gerenciar manutenções, disponibilidade e confiabilidade Sistemas de RFID (Identificação por
dos EMHs no Estabelecimento Assistencial de Saúde Radiofrequência) tem se destacado entre os outros
(EAS). A determinação real da localização dos EMHs é sistemas de identificação devido a suas capacidades de
a maior dificuldade dos núcleos de Engenharia Clínica comunicação à distância, sem visada entre o leitor e a
perante o critério de disponibilidade dos EMHs. O tag; armazenamento de dados; e localização e
presente trabalho realizou a integração entre o sistema rastreamento automático dos itens [3].
de gestão de EMH, iHospital, e um sistema de A proposta deste trabalho é a especificação das
identificação por radiofrequência (RFID) a ser características do sistema RFID a ser implantado num
implantado num Hospital Universitário. O iHospital é Hospital Universitário, as alterações do ERP iHospital e
um dos primeiros softwares livre a ter integrado um a estrutura de comunicação entre os sistemas gerada em
sistema de RFID, permitindo a rastreabilidade mais fácil parceria com uma empresa privada. O Hospital alvo
e precisa dos equipamentos médico-hospitalares no apresenta um parque tecnológico com 1500 EMHs
EAS. distribuídos em 30 setores. Desta forma, o objetivo
Palavras-chave: RFID, engenharia clínica, gestão de deste trabalho foi suprir as necessidades de controle dos
equipamentos e sistema de informação. EMHs, informando sua disponibilidade e rastreabilidade
dentro do EAS.
Abstract: Medical equipment (ME) management, which
is one of the duties of the Clinical Engineering Office, Materiais e métodos
requires a multitude of management tasks regarding
MEs, including: maintenance, availability and Sistemas de RFID, integrados aos ERPs, vem sendo
reliability. Finding the actual location of the ME in need utilizados para inibir erros humanos nos registros de
of service is the main bottleneck under the availability transporte de insumos e de equipamentos, possibilitando
criterion. This work performed the integration between sua localização exata na instituição.
the ME management system, iHospital, and a radio O presente projeto foi divido em quatro etapas.
frequency identification system (RFID), it to be Neste trabalho são expostas as etapas de especificação
deployed in a University Hospital. The iHospital is one do Sistema RFID e da reestruturação do ERP iHospital
of the first free software to have integrated an RFID para receber os dados do Sistema RFID. A etapa de
system, allowing easy and accurate tracing of hospital comunicação entre os sistemas será desenvolvida por
medical equipment in EAS. uma empresa privada, que realizará a instalação e
Keywords: RFID, clinical engineering, medical implantação do sistema RFID especificado. A etapa de
equipment management and information system. implantação da tecnologia nos setores do hospital
encontra-se em licitação, com isto os resultados obtidos
Introdução são oriundos do protótipo do sistema RFID.
Sistema RFID – A identificação por radiofrequência
A procura por uma melhor gestão dos custos e vem crescendo rapidamente e sendo adotada inclusive
serviços levou os hospitais a um processo de na área da saúde, como é o caso do Hospital Israelita
informatização. Tal processo culminou na adoção de Albert Einstein, que atualmente utiliza para
sistemas de gestão ERPs (Enterprise Resource rastreamento de ativos (equipamentos portáteis). Dentre
Planning) específicos para o segmento da saúde [1]. as tecnologias de identificação presentes no mercado, o
A gestão de equipamentos médico-hospitalares RFID se destaca principalmente por realizar o
(EMH), ao qual o núcleo de Engenharia Clínica é rastreamento e localização de forma automática. A
responsável, depende de um ERP com ferramentas Tabela 1 apresenta um comparativo entre as tecnologias
apropriadas ao núcleo, que deve gerenciar as de identificação mais utilizadas.

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Tabela 1: Comparativo Entre Tecnologias de capacidade de armazenamento de dados no CI varia de


Identificação. Modificado de [3]. acordo com o modelo de cada tag. A antena prover a
comunicação com o leitor RFID através da emissão de
Código de Cartão de RFID RFID
Aspectos
Barras Memória Passivo Ativo um sinal modulado. E o encapsulamento acopla o chip e
Capacidade de
a antena e protegendo a tag.
Não Com relação ao modelo da tag estes são
Alteração dos Alterável. Alterável. Alterável.
alterável.
Dados. classificados em passivo, semi-passivo e ativo. Os
Segurança dos
Baixo nível
Alto nível
Entre baixo e Alto nível modelos passivos não possuem fonte própria de energia,
de alto nível de de necessitando da energia eletromagnética gerada e
Dados. de segurança
segurança. segurança segurança
emitida pelos leitores RFID para o fornecimento da
Código de energia necessária ao funcionamento do CI e à
Capacidade de barras
Acima de 8 Acima de 64 Acima de 8 comunicação. Modelos semi-passivos são dependentes
armazenamento linear: de 8
Mb Kb Mb do sinal do leitor para se comunicar, assim como os
de dados. a 30
caracteres. passivos, no entanto são constituídas por uma bateria
Médio
Muito alto interna, para alimentar o CI, que permite os processos
Alto (mais (entre de escrita e leitura como os presentes nos ativos. Os
(menos de
Custo relativo. Baixo de R$ 2 por R$ 10 e
item)
R$ 0,50 por
200 por modelos ativos possuem sua própria fonte de energia, ou
item). seja, possuem uma bateria acoplada que fornece a
item).
Proprietário energia para a operacionalidade do chip e comunicação
Proprietário, Em evolução
Padrão. Padronizado não para
e evoluindo com o leitor RFID. A Tabela 2 apresenta os tipos de
para identificadores e suas descrições.
padronizado. padronização
abertura
3 a 5 anos,
Vida útil. Curta Longa Indefinida dependendo
Tabela 2: Classes de Identificadores, [4].
da bateria.
Tipo Descrição
15 metros,
Até 1,5 dependendo Classe 0 Passiva, apenas leitura.
Distância de Apenas por Até 100
metros com da Passiva, grava uma vez (mas usando
leitura. contato metros Classe 0+
visada frequência protocolos da Classe 0).
do sinal.
Classe I Passiva, grava uma vez.
Rastreamento e
Manual Manual Automático Automático Passiva, grava uma vez com extras (como
localização. Classe II
criptografia)
O Sistema RFID é composto por três módulos: tag Regravável, semi-passiva (chip com bateria,
ou etiqueta é responsável pela identificação dos itens; o Classe III comunicações com energia do leitor),
sensores integrados.
leitor constituído por leitor e antena, é responsável pelo
reconhecimento da presença e leitura de suas Regravável, ativa, identificadores “nos dois
sentidos”, que podem conversar com outros
informações; e o mediador (geralmente um computador) Classe IV
identificadores, energizando suas próprias
é responsável pela integração dos componentes a um comunicações.
sistema de informação. A Figura 1 apresenta um modelo
Podem energizar e ler identificadores das
de Sistema RFID. Classe V Classes I, II e III e ler identificadores das
Classes IV e V.

O leitor é responsável pelo envio da frequência


portadora do comando de leitura, e também pela
recepção e decodificação do sinal recebido, enviando-o
diretamente ao mediador.
O mediador movimenta os dados entre as tags e o
ERP. Além disto, a utilização do mediador para
realização da interface do sistema RFID fornece
recursos como: coleta de dados, direcionamento dos
dados, gerenciamento de processos, gerenciamento de
dispositivos, centro de processamento e interface do
leitor.
Figura 1: Composição de um sistema RFID. Modificada A frequência operacional do sistema RFID é
de [4]. responsável por ativar o identificador. O espectro
eletromagnético é dividido em baixa frequência (LF),
A tag ou etiqueta é constituída de um CI (circuito alta frequência (HF), ultra-alta frequência (UHF) e
integrado), uma antena e um encapsulamento. O CI é microondas. O alcance de leitura de acordo com a
capaz de executar comandos específicos e armazenar frequência é apresentado na Tabela 3.
informações e dados de identificação, sendo que a

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Tabela 3: Aplicação dos Identificadores, conforme [3]. do sistema RFID a distância entre o leitor e a etiqueta
apresenta-se nesta faixa de alcance.
Características LF HF UHF Microondas
O mediador utilizado no protótipo foi uma placa
10 a 850 a com microprocessador, memoria flash, placa de rede e
< 135
Frequência 13,56 950 2,5 a 5,8 GHz. bateria de lítio CR2032. A estrutura desenvolvida
KHz
MHz MHz
possibilita o envio dos dados via rede e seu
Alcance de empilhamento, caso exista uma falha na comunicação
~ 10 cm ~1m 2a5m ~ 15 m
Leitura
com o servidor. Ainda, apresenta um custo reduzido em
relação ao uso de um computador como mediador.
A Tabela 4 apresenta as características dos Reestruturação do iHospital – O iHospital, é um
identificadores passivos, semi-passivos e ativos perante sistema de gestão de EMHs, implementado em
suas vantagens e desvantagens. plataforma livre, que funciona via WEB, desenvolvido
em linguagem PHP e banco de dados MySQL, com o
Tabela 4: Características dos identificadores, [4]. intuito de suprir as necessidades da rede de saúde
Classificação Vantagens Desvantagens pública do país [2].
A necessidade de gerenciar quantidades maiores de
Distância limitada
entre quatro e
informações traz ao ERP a necessidade de
Tempo de vida reestruturação do banco de dados, bem como suas telas
cinco metros;
mais longo; de cadastro e informações.
Controlados
Passivo Mecanicamente O protótipo de mediador utilizado apresenta uma
rigorosamente
mais flexíveis
pelas placa de rede para comunicação com o servidor do
Baixo custo.
regulamentações iHospital, para aumentar a segurança, o sistema verifica
locais o endereço MAC do mediador antes de permitir o
acesso. Uma vez conectado, o mediador envia os dados
Preço de alterando a localização do equipamento para o setor que
produção maior, o mediador pertence.
devido à matéria A reestruturação do iHospital foi realizada de forma
e aos materiais modular para que os outros hospitais que o utilizam não
Grande distância em que são sofram com a implantação da nova ferramenta. Para os
de comunicação; embalados;
testes, foi desenvolvido um clone do servidor existente
Podem ser usados Confiabilidade na
identificação do
no hospital alvo, para que os testes do sistema fossem
para controlar validados sem interferir com o trabalho da equipe de
outros estado da bateria,
especialmente se Engenharia Clínica. Essa reestruturação foi realizada em
dispositivos,
Semi-passivo e como sensores; submetidos a um duas fases, a análise de requisitos para a nova
Ativo Não entram nas ambiente com ferramenta, e a análise do sistema para enumerar as
rigorosas diversos necessidades de alterações para o desenvolvimento da
regulamentações identificadores; nova ferramenta.
de alimentação, a A rápida A fase de análise de requisitos demonstrou as
que são impostos proliferação de
seguintes necessidades: diferenciar o setor ao qual o
os elementos dispositivos
ativos representa
equipamento pertence da localização que este se
passivos. encontra; gerar nível de permissão responsável pela
um risco
ambiental, devido modificação da localização dos equipamentos, uma vez
aos produtos que o sistema RFID automatiza este processo; e gerar
químicos alertas aos usuários para as mudanças de localização dos
utilizados nas equipamentos, principalmente nos pontos de leitura
baterias. RFID mais próximos às saídas do hospital.
Já a fase de análise de sistema gerou as seguintes
Analisando todas as informações e características alterações: criação dos campos localização e tag_rfid na
definidas para o sistema, foi escolhido o uso de tabela equipamentos; criação do campo alterar_loc na
identificadores passivos. Essa escolha foi devida, tabela permissão; criação dos campos rfid e mac_rfid na
principalmente, à vantagem de possuir baixo custo e tabela usuários; alteração das telas referentes a
apresentarem tempo de vida longo. O tipo de informações e cadastro dos equipamentos e criação de
encapsulamento das tags foi o modelo cartão plástico, trigger para gerar alertas de modificações da localização
para possibilitar a limpeza dos equipamentos sem causar dos EMHs.
danos à etiqueta. Esta etiqueta será colada como as de
tombamento. Resultados
Quanto à faixa de frequência escolhida, a UHF
permite um alcance de leitura de 2 a 5 metros [4], como Os resultados obtidos são referentes às mudanças
é apresentado na Tabela 3. Analisando as necessidades estruturais do iHospital e aos testes cabíveis ao
do hospital estudado em relação aos pontos de leituras

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protótipo (disponibilizado pela empresa privada parceira Os sistemas de RFID, que usam tags do tipo passivo,
no projeto). necessitam que o leitor envie energia para elas em forma
As mudanças estruturais do sistema demonstraram de ondas de rádio, desta forma estes apresentam um
que o novo iHospital obteve o controle desejado para a valor mais elevado. Com o objetivo de redução dos
automação da localização dos equipamentos, conforme custos do projeto, o mediador foi desenvolvido sendo
Figura 2. O sistema gera alerta para alterações na composto por um microprocessador, uma placa de rede,
localização dos EMHs, e previne as alterações desta uma memória flash e uma bateria de lítio CR2032.
informação para usuários sem permissão. O núcleo de Engenharia Clínica do hospital
universitário está avaliando a interação entre os
sistemas. Uma vez que a nova ferramenta seja aprovada,
a alteração será disponível aos outros estabelecimentos
cadastrados. E os devidos treinamentos para uso da
nova ferramenta serão ofertados.
O iHospital, como software livre é disponível aos
hospitais públicos do País. Este possibilita a verificação
do parque tecnológico, e agora permite a rastreabilidade
de todos os EMHs registrados no sistema, dentro de
Figura 2: Tela de busca dos equipamentos, mostrando cada hospital cadastrado, em qualquer parte do Brasil. O
um exemplo, onde um equipamento pertencente à Ministério da Saúde ou órgão competente pode analisar
Urgência se encontra localizado na UTI. e verificar de forma on-line a situação dos equipamentos
e os setores onde se encontram, nos Estabelecimentos
A segurança do sistema conta com restrições Assistenciais de Saúde integrados ao sistema.
referentes: a acesso ao endereço MAC da placa de rede
do mediador; de tempo de conexão; e de acesso à rede Agradecimentos
interna do hospital. Desta forma nos testes de invasão ao
sistema, mesmo com o conhecimento do endereço MAC Ao núcleo de Engenharia Clínica e a Direção do
para clonagem, ainda se torna necessário o hospital que permitiram e colaboraram com a
conhecimento de como a informação é passada ao elaboração do trabalho.
servidor, acesso rápido ao sistema e conexão com a rede Ao Ministério da Saúde pelo auxílio financeiro para
interna do hospital, onde esta é “cabeada” e sem pontos o desenvolvimento da primeira versão do sistema
extras para conexão de terceiros. iHospital.
Os testes realizados no protótipo demonstraram que:
o encapsulamento das etiquetas é resistente aos produtos Referências
de limpeza nos testes efetuados; a angulação de leitura
do sistema RFID é próxima a 160 graus e a velocidade [1] Lucatelli MV. Estudo de Procedimentos de
de movimento que permite a leitura é de 20 Km/h o Manutenção Preventiva de Equipamentos
suficiente para detectar um funcionário correndo com Eletromédicos, [dissertação] Santa Catarina,
um desfibrilador de um setor a outro, por exemplo, para Universidade Federal de Santa Catarina, 1998.
executar uma reanimação, um dos casos que requisita [2] Silva M G N M, Rodrigues M A B. Sistema de
maior velocidade de deslocamento dentro do hospital. Informação para Gestão em engenharia Clínica. In:
XXIII Congresso Brasileiro de Engenharia
Discussão Biomédica, 2012, Porto de Galinhas-Ipojuca, p.
1233-1237.
Estudos, na área de Engenharia Clínica, informam a [3] Osaka W G. Plataforma para auxílio ao
necessidade de rastreamento dos equipamentos médicos gerenciamento da tecnologia médico-hospitalar em
dentro dos EASs. Com isso, sistemas de identificação se ambientes assistenciais de saúde usando RFID,
revelam como uma ferramenta eficiente para o auxílio [dissertação] Santa Catarina, Universidade Federal
deste controle. de Santa Catarina, 2010.
Na área hospitalar, sistemas de identificação por [4] Marques CA, Furlan Jr. V, Muniz J, Chaves CA,
radiofrequência encontraram espaço inicial no Urias A. A tecnologia de identificadores de rádio
acompanhamento dos medicamentos. Hoje, os sistemas frequência (RFID) na logística interna industrial:
RFID são empregados em hospitais para rastrear: pesquisa exploratória numa empresa de usinados
equipamentos portáteis; bolsas de sangue, geralmente para o setor aeroespacial. Revista GEPROS- Gestão
com o uso de tags ativas para acompanhar, por exemplo, da Produção, Operações e Sistemas, ano 4, nº 2,
a temperatura do sangue; e pacientes, geralmente com 2009 abril/junho, p.109-122.
uso de tags ativas para gravação dos prontuários [5] Tanembaum AS, Wetherall D. Rede de
ajudando a assegurar que cada paciente receba a Computadores. 5a ed. Pearson; 2011.
medicação adequada ou outros cuidados, reduzindo [6] Centro de Excelência em RFID [internet]. 2014
assim o risco de erros. Neste trabalho ele será utilizado Jun, Available from: http://www.rfid-
para rastrear todos os EMHs do hospital alvo. coe.com.br/_Portugues/SimposioRFID.aspx.

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