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AFIXOS LATINOS E GREGOS: UMA PROPOSTA PARA

O ENSINO DA TRADUÇÃO MÉDICA

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Universidad Nacional de Rosario

Língua e Gramática Portuguesa IV


Docentes: Luján Vallejos; Leticia Bergero

Aluna: Paula Steiner

2023
Resumo

A medicina possui uma terminologia adequada às suas necessidades, mas que se afigura hermética
ao leigo. No presente artigo, defenderemos o estudo dos afixos e radicais latinos e gregos no auxílio da
tradução médica. Nossa metodologia consistirá em dois eixos: o estudo etimológico e morfológico de afixos
e radicais gregos e latinos na fase de tradução intralinguística; e a análise comparativa e contrastiva de textos
publicados no MSD Manuals, um site que fornece informação médica em inglês, português e espanhol, e
permite alternar entre dados para profissionais e pacientes. Na fase tradutória, será possível observar como a
decodificação é amplamente facilitada. Na fase comparativa, ao perscrutarmos versões dos textos de
divulgação nas três línguas e para diferentes destinatários, será possível observar uma tendência em inglês de
reservar os cultismos latinos e gregos apenas para os médicos; enquanto em português e espanhol, os termos
derivados das línguas clássicas estão mais presentes. Além da compreensão mais rápida e preliminar que o
estudante terá através do estudo dos afixos, nossa proposta metodológica visa dotar o tradutor em formação
com estratégias para aprimorar a precisão terminológica e a (des)terminologização conforme cada língua.

PALAVRAS-CHAVE: tradução médica, afixos greco-latinos, formação de tradutores

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Resumen

La medicina posee una terminología funcional a sus necesidades, pero que resulta hermética para los
legos. En este artículo, defenderemos el estudio de los afijos y radicales grecolatinos en favor de la
traducción médica. Nuestra metodología se dividirá en dos ejes: el estudio etimológico y morfológico de
afijos y radicales grecolatinos en la fase de traducción intralingüística; y el análisis comparativo y contrastivo
de textos publicados en MSD Manuals, una página web que ofrece información médica en inglés, portugués
y español, y permite alternar entre datos para profesionales y pacientes. En la fase traductoria, notaremos
cómo este abordaje facilita la decodificación. En la fase comparativa, al cotejar textos de divulgación en los
tres idiomas y para distintos destinatarios, observaremos una tendencia en inglés a reservar los cultismos
latinos y griegos para los médicos; mientras que en portugués y español, los términos derivados de las
lenguas clásicas están más presentes. Además de la comprensión más rápida y preliminar que tendrán los
estudiantes a través del estudio de los afijos, nuestra propuesta metodológica pretende brindar estrategias a
los traductores en formación para mejorar la precisión terminológica y la (des)terminologización según cada
lengua.

PALABRAS CLAVE: traducción médica, afijos grecolatinos, formación de traductores

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Introdução

A tradução científica desempenha um papel fundamental na disseminação do


conhecimento e na comunicação global entre cientistas, pesquisadores e acadêmicos em
todo o mundo. Com a crescente internacionalização da pesquisa e o acesso à informação
em diferentes línguas, a necessidade de tradutores científicos competentes tornou-se mais
premente do que nunca.

Dentro do âmbito da tradução científica, a tarefa de renderizar textos médicos de


uma língua para outra está em alta demanda. E são vários os fatores que se combinaram
para causar esse aumento.

Em primeiro lugar, o contexto recente da pandemia da COVID-19 contribuiu para


que a importância da tradução médica se tornasse ainda mais evidente e crítica: com a
rápida disseminação da doença globalmente, a necessidade de democratizar o acesso a
informações médicas, orientações clínicas e pesquisas científicas para uma variedade de
idiomas se tornou um direito universal. A tradução médica desempenhou um papel crucial
na comunicação de dados epidemiológicos, diretrizes de prevenção e tratamento, bem
como na divulgação de informações sobre vacinas e ensaios clínicos. Além disso, a
pandemia destacou a importância da tradução não apenas para os profissionais de saúde,
mas também para o público em geral, garantindo que todos tenham acesso a informações
precisas e atualizadas para tomar decisões informadas sobre sua saúde e segurança.

Em segundo lugar e como resultado da globalização e maior mobilidade da


população, o número de pessoas que busca serviços de saúde fora de seu país de origem
está em aumento. A necessidade de traduzir registros de pacientes, dados de ensaios
clínicos e outros textos médicos para a linguagem compreensível pelos profissionais de
saúde surgiu dessa tendência.

Em terceiro lugar, a maior rigorosidade do cenário regulatório global faz com que
as empresas que fabricam produtos farmacêuticos e dispositivos médicos devam apresentar
documentação nos idiomas nacionais dos países nos quais planejam comercializar seus
produtos, o que exige serviços de tradução médica especializados e precisos.

Um último motivo que pode ser atribuído a crescente demanda destes serviços é
que grande parte dos esforços das políticas sanitárias modernas estão voltados para a
prevenção, diferentemente do passado em que apenas o aspecto curativo era comtemplado.

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Nesse sentido, embora no passado o conhecimento científico estivesse restrito às elites,
agora o público não especializado também deseja ter acesso a essas informações para
cuidar de sua saúde, o que tem levado à crescente importância da divulgação nas últimas
décadas (Campos Andrés, 2013; Montalt Resurrecció e González-Davies, 2007; Muñoz-
Miquel, 2012).

O latim e o grego desempenham um papel fundamental e duradouro na linguagem


médica, e sua importância é indiscutível. Como línguas clássicas que serviram de base para
muitos termos médicos, oferecem uma precisão e uniformidade linguística que
transcendem as barreiras de idioma. Os termos médicos derivados do latim são
reconhecidos internacionalmente, proporcionando uma linguagem comum que os
profissionais de saúde de diferentes partes do mundo podem compreender e utilizar. Em
palavras do tradutor e médico Fernando Navarro:

Estima-se que mais de 90% dos termos técnicos utilizados em medicina e outras
disciplinas relacionadas correspondem a palavras de origem grega e latina. Não se trata de
exigir que todo tradutor médico tenha um doutorado em filologia clássica, com certeza, mas
sim de conhecer as diferenças mais importantes em relação à forma como nossas línguas de
trabalho refletem essa herança greco-latina (Navarro, 2012, tradução nossa).

De maneira geral, o grego e o latim moldaram as convenções da escrita científica,


principalmente médica, por mais de 2000 anos. A terminologia médica pode ser dividida
em duas partes principais: a anatômica, baseada no latim, e a clínica, baseada no grego
(Bujalkova, 2018). Nesse sentido, o uso da terminologia médica oriunda das línguas
clássicas evita ambiguidades linguísticas, garantindo que os diagnósticos e tratamentos
sejam comunicados com clareza e precisão.

No entanto, como a maioria dos resultados mais recentes da pesquisa são


amplamente divulgados em inglês, e novos termos médicos para doenças, procedimentos
de laboratório e investigação também estão em inglês, pertinente pensar na tradução
médica partindo do inglês para outras línguas. Portanto, a direcionalidade deste trabalho
será do inglês para o português e o espanhol, todas essas línguas sendo permeadas pela
presença irrefutável do latim e do grego na linguagem de especialidade.

Considerações sobre o campo, o gênero e o corpus

Primeiramente, cumpre distinguir entre o campo científico e técnico, embora nem


sempre seja tão fácil diferenciá-los. Aixelá (2013) explica que ciência pode ser resumida

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como o conjunto de conhecimentos teóricos, ao passo que a técnica tem mais a ver com o
procedimento para fazer alguma coisa. Nesse sentido, o gênero textual da ciência por
antonomásia é o paper, e da técnica é o manual de instruções. Outrossim, a técnica
costuma estar ancorada na ciência, sendo estas disciplinas em ocasiões indivisíveis.
Portanto, é muito frequente diretamente descrever este âmbito como técnico-científico.

Em segundo lugar, vamos definir o gênero escolhido e justificar porque ele pertence
ao âmbito da tradução científica. Segundo Sevilla e Sevilla (2003), inicialmente pode-se
chamar de discurso técnico-científico à forma de falar empregada pela comunidade de
cientistas e técnicos na prática profissional. Contudo, isso não significa que todas essas
manifestações do registro sejam cultas, pois o grau de formalidade vai depender da
situação de comunicação.

Nesse sentido, os autores definem três níveis de comunicação dentro do texto


científico-técnico: comunicação formal e culta entre especialistas através de publicações
científicas (na escrita) ou em conferencias e congressos (oral); comunicação entre
cientistas e técnicos em um contexto informal, por exemplo via e-mail ou notas de
laboratório (linguagem informal) e discussões informais (linguagem oral); a disseminação
de informações científicas elaboradas por especialistas para o público geral, seja em
programas de rádio e televisão (linguagem oral) ou em textos de divulgação (linguagem
escrita).

Justamente esse último é o gênero textual que conformará o corpus de nossa


análise. Consideramos que esse gênero é interessante pelo fato de estar dirigido ao público
geral, o permite-nos analisar o fenómeno de desterminologização (Campos Andrés, 2013).
Isto é a forma em que um texto é explicado em termos mais simples para que seja
accessível ao público não especializado. Nessa linha, MSD Manuals, o suporte de onde
obtivemos o corpus, fornece uma perspectiva única, pois inclui artigos de divulgação tanto
para especialistas quanto para pacientes, em mais de cinco idiomas diferentes.

Fundamentos da linguagem médica

Todas as disciplinas possuem uma linguagem de especialidade própria. No âmbito


da medicina, a terminologia é formada a partir de radicais, prefixos e sufixos gregos e
latinos, com os três objetivos principais: simplificação da linguagem; precisão do

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significado das palavras; intercâmbio científico entre as nações com diferentes idiomas de
cultura (Rezende, 2004).

Por simplificação ou economia da linguagem, entende-se que uso de radicais gregos


e latinos permite expressar em poucas palavras fatos e conceitos que, de outro modo,
demandariam locuções e frases extensas. Por exemplo, muitos termos médicos não a
remetem apenas a uma palavra, mas sintetizam ideias, fenômenos ou processos, cujo
sentido está implícito no próprio termo condensado. Rezende ilustra esse ponto com o
termo “colecistectomia laparoscópica”, que consiste em um procedimento complexo que
em linguagem descritiva seria: “operação para retirada da vesícula biliar por um processo
que não necessita abrir a parede abdominal e que utiliza um equipamento de
videolaparoscopia”.

O segundo objetivo envolve a precisão da linguagem, onde cada termo usado deve
ter uma única interpretação, uma definição estabelecida e aceita pela comunidade
científica, ao contrário do que acontece na linguagem literária ou coloquial, na qual as
palavras podem ter várias interpretações, dependendo do contexto. Voltando para o
exemplo anterior, ao empregar o termo “colecistectomia laparoscópica”, a significação é
biunívoca (cada conceito é adscrito a uma única denominação e vice-versa) para toda a
comunidade científica (Torre, 2004).

O terceiro objetivo da terminologia médica tange à internacionalização,


simplificando a troca de informações entre diferentes países. Isso é alcançado ao utilizar
termos que sejam comuns a todas as línguas cultas e que possam ser adaptados
morfologicamente para cada uma delas. Por exemplo, o termo “esplenomegalia”, que
significa “baço aumentado de tamanho” é formado a partir das raízes gregas “splén”
(baço), “megalo” (grande) e pelo sufixo “ia”. Esse termo é universal e comum a todos os
idiomas. Ao adotar a palavra grega “splén” na terminologia médica internacional, todos os
termos relacionados ao baço serão formados com a mesma raiz em diferentes idiomas.
Rezende inclusive teoriza que se tivéssemos que usar a palavra “baço” fora do contexto
médico, teríamos “spleen” em inglês, “mitz” em alemão, “rate” em francês, “milza” em
italiano, “bazo” em espanhol e “baço” em português, o que tornaria a comunicação muito
mais complicada.

Processos de formação de palavras

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Antes de iniciar a nossa análise propriamente dita, cumpre salientar algumas noções
morfológicas e semânticas básicas dos prefixos, sufixos e radicais latinos que podem
auxiliar os tradutores no seu trabalho. Nesta secção só comentaremos algumas questionas
básicas que consideramos elucidárias para a análise a seguir. Para obter mais informações,
vide o anexo.

A língua portuguesa e espanhola apresentam dois processos básicos para a


formação das palavras (Neto e Infante, 1998; Moliner, 1982): derivação e a composição. A
derivação pode ser prefixal, sufixal, parassintética e regressiva; ao passo que a composição
surge da justaposição e aglutinação. É importante destacar que o morfema comum de uma
família de palavras é chamado de radical e as que pertencem a uma são “cognatos”. O
radical é a parte da palavra responsável pela sua significação principal. Quando são
colocados antes do radical, os afixos recebem o nome de prefixos, e de sufixos quando
aparecem depois.

1. Derivação: utilizam-se, na grande maioria das vezes, prefixos gregos e latinos. Na


derivação sufixal, também chamada progressiva, utilizam-se sufixos nominais na
formação de substantivos e adjetivos, sufixos verbais na formação de verbos em
português, e sufixos verbais (Ex: -mente) na formação de advérbios. A derivação
parassintética consiste na utilização simultânea, na mesma palavra, de um prefixo e
de um sufixo.
2. Composição: na composição por justaposição duas palavras se unem, com ou sem
hífen, sem que nenhuma delas sofra qualquer modificação; na aglutinação ocorre
modificação em uma delas ou em ambas.

Declinação

Outra noção pertinente para a compreensão da terminologia médica é a declinação.


Tanto o grego como o latim possuem um sistema de flexões casuais dos substantivos e
adjetivos, que permite reconhecer a função sintática da palavra na oração por sua
terminação. Na língua grega, encontramos cinco casos: nominativo, genitivo, dativo,
acusativo e vocativo. No latim, há um caso adicional, que é o ablativo. O nominativo
desempenha a função de sujeito na oração, o genitivo age como adjunto adnominal, o
acusativo representa o objeto direto, o dativo é usado para o objeto indireto, o ablativo é

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atribuído aos adjuntos adverbiais e o vocativo é empregado para expressar um apelo direto
ao sujeito. Em grego, o caso ablativo é substituído pelo genitivo ou pelo dativo.

Nenhuma das línguas deste trabalho possui um sistema de declinação; portanto,


preposições são utilizadas. Os termos médicos oriundos do grego são formados em sua
maioria a partir do genitivo e do nominativo, enquanto os termos derivados do latim,
utilizam de preferência o acusativo (Rezende, 2004)

Eixo 1: tradução consultando listas de afixos

Antes de realizar uma análise comparativa-contrastiva das traduções no MSD


Manuals para diferentes destinatários, consideramos importante exemplificar
didaticamente com um trecho brevíssimo quanto o tradutor pode-se beneficiar do estudo
dos afixos greco-latinos na prática profissional, quando se deparar com um texto altamente
complexo que versa sobre uma temática desconhecida e especializada.

Nesta etapa, nossa proposta visa que o aluno faça uma tradução intralinguística, isto
é que tente desverbalizar (Averbach, 2011) o conteúdo para compreender o sentido sem
pensar em como redigirá isso na língua de chegada. Além disso, como o estudante se
defrontará com terminologia desconhecida, sugerimos que essa fase de desverbalização
seja impulsionada inicialmente por uma decodificação morfológica-etimológica, fazendo
uso de listas de afixos accessíveis na Internet. Resumindo, nossa proposta para abordar o
texto antes de traduzir é a seguinte: decomposição morfológica + pesquisa etimológica +
desverbalização para construir sentido. Uma vez perfeitas essas etapas, o tradutor poderá
passar para a fase de pesquisa terminológica monolíngue e bilingue, para depois focalizar
na fase de expressão na língua de chegada, levando em consideração as diferentes
exigências de cada língua, além da revisão antes de finalizar o trabalho.

Vejamos a seguir, um trecho de um resumo que forma parte de um artigo científico


intitulado “Pancytopenia revealing acute brucellosis” (Lalhou et al., 2021). Vamos analisar
apenas uma oração só para ilustrar o grau em que as línguas clássicas permeiam a
terminologia médica, colocando o significado etimológico dos termos em forma de tabela.

Hematological complications like mild anemia and leukopenia have been


frequently associated with acute brucellosis, but pancytopenia and thrombocytopenia are
less frequently encountered (Lalhou et al., 2021).

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Afixo Significado etimológico
Hematological haimato- gr. ‘sangue’ + -logíā gr. ‘estudo’ →
relacionado com a hematologia
⚠︎≠sanguineous/blood = hemático
Anemia gr. anaimíā ‘carência de sangue’ [an- ‘no’ + -haimíā
‘sangue’] → vocábulo de formação etimológica
imprópria, pois hoje é empregado no senso de
“conteúdo de hemoglobina baixo em sangue”
Leukopenia: forma abreviada de leukocytopenia → leuko- gr.
‘branco’, gr. cient. ‘glóbulo branco’ + peníā
gr.‘carência’, ‘pobreza’
Brucellosis Brucell(a) + -ōsis gr. ‘processo patológico’
Acute (lat. acūt-u(m)/-a(m) [acū- ‘aguçar’ + -t-um/-am
Pancytopenia pân gr. ‘tudo’ [eritrócitos + leucócitos + plaquetas], +
kyto- gr. cient. ‘célula’ + peníā gr.‘‘carência’
Thrombocytopenia trombocito + peníā gr. ‘carência’ → trombócito =
plaqueta

Salientemos novamente que, nesta etapa, só estamos procurando a significação dos


afixos, mas mesmo assim, resulta evidente como a construção de sentido já é amplamente
facilitada. Desverbalizando, depreende-se que a brucelosis, uma doença causada pela
bactéria Brucella, quando surge de forma repentina e grave (aguda), está associada com
complicações do sangue como a anemia, contagem baixa de hemoglobina, e a leucopenia,
baixa concentração de leucócitos, porém outras complicações menos frequentes são a
diminuição de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas. Agora, já temos uma maior
compreensão preliminar do assunto para começar a traduzir:

Inglês Espanhol Português


Hematological Las complicaciones Complicações hemáticas,
complications like mild hemáticas, como la anemia como anemia leve e
anemia and leukopenia leve y la leucocitopenia, leucopenia, têm sido
have been frequently con frecuencia se asocian a frequentemente associadas
associated with acute la brucelosis aguda, pero la à brucelose aguda, mas a
brucellosis, but pancitopenia y la pancitopenia e a

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pancytopenia and trombocitopenia son menos trombocitopenia são menos
thrombocytopenia are less frecuentes. frequentes.
frequently encountered

A pesquisa morfológica e etimológica também lança luz sobre certas questões na


hora de traduzir. Por exemplo, em inglês o termo “hematological” é utilizado, mas ao
perscrutarmos o significado dessa palavra, depreende-se que não se refere a complicações
relacionadas com a hematologia, mas sim complicações do sangue, eis “hemáticas”.
Idênticos esclarecimentos devem ser feitos a respeito da diferença entre “leucopenia” e
“leucocitopenia”, que seria o termo mais correto em espanhol, mas de uso minoritário.
Contudo, essas decisões sobre frequência de uso e precisão terminológica poderão ser
aprimoradas só uma vez que o tradutor tenha atingido uma compreensão global do texto.

Eixo 2: Análise contrastiva-comparativa de traduções

Passemos agora para a análise comparativa e contrastiva de artigos publicados no


MSD Manuals, um recurso que disponibiliza informações médicas em inglês, português e
espanhol, além de outros idiomas, com diferentes níveis de complexidade para.
profissionais de saúde e pacientes. Ao acessar no site, o usuário pode escolher o idioma e o
destinatário:

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Comecemos, então, observando um fragmento muito breve de um texto sobre a
conjuntivite, retirado da versão para profissionais da saúde, para favorecer a clareza,
vamos identificar os termos e suas traduções em cores diferentes.

Inglês Espanhol Português


Overview of Conjunctivitis Generalidades sobre la Visão geral da conjuntivite
conjuntivitis
Conjunctival inflammation A inflamação da conjuntiva
typically results from La inflamación conjuntival é tipicamente decorrente de
infection, allergy, or ocurre normalmente por infecção, alergia ou
irritation. Symptoms are infección, alergia o irritação. Sintomas são
conjunctival hyperemia and irritación. Los síntomas son hiperemia conjuntival e
ocular discharge and, hiperemia conjuntival, secreção ocular e,
depending on the etiology, secreción ocular y, según la dependendo da etiologia,
discomfort and itching. etiología, malestar y prurido e desconforto.
prurito.

Recorrendo às estratégias supramencionadas, a análise morfológica-etimológica


acusa o seguinte:

 Conjunctivitis: coniunctīu(am) lat. mediev. ‘conjuntiva’ + -îtis gr. ‘inflamação’


 Conjunctival: coniunctiva(m) lat. mediev. ‘conjuntiva’ + -āl(em), da conjuntiva ou
relacionado com ela
 Inflammation: lat. inflammātiōn(em) - inflammā(re)/ gr. phlegmónē
 Hyperemia: hypér gr. ‘en exceso’ + -haimíā gr. ‘sangre
 Ocular: lat. oculār(em) [ocul(um) ‘olho’ + -ārem]; do olho ou relacionado com ele
 Discharge (sem origem clássico), mas seria sinônimo de
secretion/secreción/secreção → lat. secrētum, supino de secernĕre 'segregar'.
 Etiology: gr. aitiologíā [aití(ā) ‘causa’ + -o- + -logíā ‘estudio [uso metonímico
desaconselhado, mas frequente]
 Itching: prurito/prurido → lat. prūrītu(m) [prūrī(re) ‘picar/coçar’ + -tum;

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Uma vez facilitada a compreensão através do estudo dos afixos, podemos observar
algumas questões interessantes na comparativa dessas três versões. Resulta evidente que os
três textos são muito semelhantes entre si em termos de terminologia, só constatando-se
uma preferência do inglês no uso de “discharge” e “itching” ao invés de “secretion” e
“pruritus”, que poderiam ser opções logicamente possíveis também. Nesse sentido, é
patente que as línguas clássicas funcionam como um elo de sentido entre as três línguas, o
que demonstra a pertinência da inclusão deste abordagem na formação de tradutores.

Em seguida, vejamos o que acontece no mesmo texto, mas adaptado para pacientes.
Antes de aprofundar na análise, convém definir o processo de desterminologização, um
conceito intimamente vinculado à acessibilidade do conhecimento e à disseminação do
conhecimento científico. Campos Andrés (2012) define a desterminologização da seguinte
forma:

Fenômeno formal, comunicativo e cognitivo que se manifesta por meio de uma


série de procedimentos relacionados ao tratamento de unidades lexicais especializadas e
que se concentra em garantir a acessibilidade de um texto especializado a destinatários não
especializados (Campos Andrés, 2012, tradução nossa).

No seu trabalho, Campos Andrés identifica as diversas estratégias empregadas no


gênero “guia para pacientes” para desterminologizar o conteúdo. Entre elas, destaca a
definição, a paráfrase, a sinonímia, a analogia e a hiperonímia. No nosso trabalho, vamos
acudir ao conceito de desterminologização apenas para analisar o grau em que os termos de
origem grega e latina permeiam o texto nos idiomas em escopo.

Inglês Espanhol Português


What Is Pink Eye? ¿Qué es la conjuntivitis O que é olho vermelho?
aguda?
Although most eye Embora a maioria das
inflammations result in a Aunque la mayoría de las inflamações oculares
pink discoloration of the inflamaciones oculares resulte em uma alteração da
eye (because of dilated tienen como resultado una cor dos olhos para rosada
blood vessels in the coloración rosada del ojo (a (devido aos vasos
conjunctiva), doctors causa de la dilatación de los sanguíneos dilatados na
usually use the term "pink vasos sanguíneos en la conjuntiva), em geral os
eye" for conjunctivitis conjuntiva), en inglés se médicos usam o termo
caused by infection with a utiliza el término «pinkeye» “olho vermelho” para a

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bacterium or virus. (literalmente, ojo rosa) para conjuntivite aguda causada
la conjuntivitis aguda, por infecção bacteriana ou
causada por la infección viral.
con una bacteria o un virus.

Comecemos, mais um vez, pela pesquisa morfológica-etimológica para compreender, de


forma preliminar o conteúdo do texto:

 Pink eye: conjuntivitis/conjuntivite aguda/olho vermelho → coniunctīu(am) lat.


mediev. ‘conjuntiva’ + -îtis gr.‘inflamação’
 Eye inflammations: inflamaciones/inflamações oculares → lat. oculār(em)
[ocul(um) ‘olho’ + -ārem]
 Discolorations ≠ decoloration: qualquer tipo de alteração na cor, falso congado do
inglês
 Blood vessels: termo anatômico “vas sanguineum” em inglês → vasos sanguíneos
 Dilated: dī-lātār(e) lat. [dī- ‘en distintas direcciones’ + lāt- ‘llevar’ + -āre

Perfeita essa pesquisa preliminar, resulta interessante salientar algumas diferenças


observadas. Primeiramente, vemos como o termo “conjunctivitis” só aparece no inglês
depois do seu eufemismo “pink eye”. Essa é uma clara estratégia de desterminologização,
pois explica-se o significado da doença a partir da imagem visual do efeito produzido nos
olhos. Em inglês, o termo “pink eye” é biunívoco e é interpretado como sinônimo de “pink
eye”. Outrossim, o tradutor deverá levar em consideração que a biunivocidade não é
semelhante em todas as línguas. Vejamos a seguir o que se passa em português e espanhol.

Em espanhol, contudo, o termo “olho rosado” não é muito frequente, e os pacientes


simplesmente falam de “conjuntivitis”. Essa falta de equivalência do eufemismo torna-se
patente com a explicação “en inglés se utiliza el término «pinkeye» (literalmente, ojo rosa)
para la conjuntivitis aguda”, que é muito pertinente se pensarmos que MSD Manuals é um
site muito consultado pela população hispana nos Estados Unidos, que pode estar
acostumada a empregar o termo “pink eye” mesmo em espanhol. Por sua vez, em
português, o eufemismo “olho vermelho” é utilizado, e o termo “conjuntivite aguda” só é
acrescentado na mesma posição que em inglês. Em rigor, tanto “ojo rosado” quanto “olho
vermelho” remetem apenas à alteração na cor dos olhos, um signo não excludente da

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conjuntivite. Portanto, ambos os dicionários de tradução médica em português e espanhol
recomendam traduzir “pink eye” por “conjuntivitis/conjuntivite aguda” (Cosnautas, 2023).

O segundo termo ressaltado “eye inflammations” é um claro exemplo de como o


inglês tenta fugir dos termos de origem grega e latina no intuito de simplificar um texto
para pacientes. Na versão para profissionais da saúde, o adjetivo “ocular” era empregado,
sendo substituído pelo substantivo “eye”. Tanto em espanhol quanto em português,
observa-se que o termo derivado do latim “oculum” é mantido, certamente porque é
compreensível que se refere ao olho, pois há muitos termos com esse radical empregados
na linguagem cotidiana (por exemplo, “oculista” é a versão desterminologizada de
“oftalmologista).

O exemplo de “blood vessels” é bem simples, pois o termo “vaso sanguíneo” é


muito frequente em espanhol, tanto entre médicos como pacientes. No entanto, cumpre
salientar que, em inglês, existe um termo mais específico que é utilizado em anatomia “vas
sanguineum”, e que é oriundo diretamente do latim. Neste exemplo, resulta evidente como
o adjetivo “sanguíneo” em português e espanhol é derivado diretamente do termo
anatómico em latim. Já o exemplo de “dilated” é muito transparente, pois a permeabilidade
do latim é equivalente nas três línguas.

Por último, o termo “discoloration” não mantém a significação atribuída nas línguas
clássicas, e o tradutor deverá procurar o significado do termo que, conforme advertido
pelos dicionários médicos (Cosnautas, 2023) é um falso cognato, pois não significa
“descoloração” ou “decoloración”, mas sim “alteração da cor”.

Considerações finais

No presente trabalho, propusemos analisar a presença de termos derivados do grego


e do latim em textos médicos em inglês, português e espanhol destinados a especialistas e
pacientes. Para tal fim, escolhemos como corpus o MSD Manuals, um site plurilíngue que
publica textos de divulgação para diferentes destinatários. Nossa metodologia foi
estruturada em dois eixos: uma etapa de tradução consultando listas de afixos gregos e
latinos no intuito de exemplificar a utilidade deste prática; uma análise comparativa-
contrastiva de traduções retiradas do site para perscrutar a presença dos termos derivados

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das línguas clássicas e as diferenças ao desterminologizar o texto e adaptá-lo para
pacientes.

Foi possível constatar que a presença de termos derivados do grego e do latim é


ubíqua é todos os textos, mas com uma marcante tendência do inglês de tentar depurar o
textos de latinismos e helenismos nas versões para pacientes, como uma clara estratégia de
desterminologização.

Nossa abordagem pretende ser apenas mais uma ferramenta para refletirmos no
trabalho como tradutores, especialmente nas instancias de formação, em que os estudantes
podem alavancar seus conhecimentos incipientes de latim e/ou grego para criarem pontes
com a tradução médica. Aliás, os tradutores em formação têm conhecimentos ativos de
morfologia, motivo pelo qual o estudo de afixos pode ser revelador.

Contudo, esta abordagem não pretende ser uma solução mágica nem uma
perspectiva prescritivista que tente substituir a pesquisa terminológica e conceptual, mas
pode ser muito útil para refletir e aprimorar a especialização. Como já comentamos, a
pesquisa tradutória tem muitas camadas diferentes. Neste trabalho, salientamos as
seguintes etapas: pesquisa terminológica-etimológica, desverbalização, procura conceptual
em sites especializados, análise de estratégias de (des)terminologização, reexpressão na
língua de chegada (que obviamente incluirá uma revisão). Acreditamos que é essencial que
o tradutor conheça todas essas camadas e saiba justamente até que nível de
aprofundamento deve chegar. De qualquer forma, a dúvida continua a ser o melhor aliado
do tradutor, e encorajamos qualquer tipo de abordagem conducente à reflexão.

Referências bibliográficas

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Márgara. (2011). Traducir literatura. Una escritura controlada. Córdoba,
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15
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Acesso em 10/20/2023

16
Anexo

Relação de afixos greco-latinos mais comuns para consulta, retirado de Rezende


(2004)

Principais prefixos gregos de interesse médico


a, an- privação acloridria, afasia, anaeróbio, analgésico
an, ana- para cima para trás: anionte, anaplasia
ana- de novo anamnese, anastomose
anti- contra antiemético, antídoto, antissepsia
apo- separação, derivação apócrino apófise, aponeurose
dia- através de diagnóstico, diafragma, diarréia, diáfise, diálise
dis- dificuldade disfagia, dispnea, dislalia, distrofia, disúria
ecto- fora de, exterior ectoderma, ectópico, ectoparasito
endo- dentro, parte interna endocárdio, endógeno, endotélio
epi- sobre epiderme, epidemia, epífise, epidídimo
eu- bem, bom euforia, eugenia, eutanásia
exo- para fora, externo exoftalmia, exosmose, exógeno
hemi- metade hemisfério, hemiplegia, hemicrania, hemicolectomia
hiper- aumento, excesso hipertrofia, hipertonia, hiperglicemia.
hipo- diminuição ou posição hipocloridria, hipocôndrio
abaixo
iso- igualdade isotérmico, isogênico, isótopo, isotônico
meta- mudança, sucessão metamorfose, metafase, metacarpo
neo- novo neoplasia, neoformação, neologismo
oligo- pouco oligospermia, oligúria, oligofrênico
orto- reto, direito ortognata, ortopedia, ortodontia
pan- todo pancardite, pangastrite, pandemia, pan-hipopituitarismo
pen- escassez, pobreza citopenia, leucopenia, linfopenia
para- proximidade parasito, paratiróide, paramétrio, paranormal
peri- em torno de periarticular, periférico, peritônio, pericárdio, perimenopausa
poli– muito policitema, polidipsia, polimenorréia, poliúria
pro- anterioridade prognóstico, proglote

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sin- idéia de conjunto, síndrome, sincrônico, sincício.
simultâneo

Principais prefixos latinos de interesse médico


ab, abs- separação, abscesso, abstêmio
afastamento
ad- aproximação, adição adsorção, adstringente
ante- anterioridade, para antebraço, anteflexão
frente
co, con- companhia co-autor, congênere
contra- oposição contraceptivo, contralateral
de, des- sentido contrário, desinfecção, degeneração, desnervação, dessensibilização
separação
en- introdução, mudança de encarcerar (hérnia), envenenar, envolver
estado, revestimento
ex- para fora exfoliativa (citologia), exsudato
in- introdução, para dentro: intubação, invaginação
inter- posição intermediária, intersexualidade, interação
reciprocidade
intro- para dentro introversão, introspecção
per- durante, através peroperatório, peroral
pós, post- depois, em pós-operatório, post mortem
seguida
pre- antecedência, posição pré-coma, pré-frontal
anterior
pro- para diante (não pronação, protrusão
confundir com igual prefixo
grego)
re- repetição, volta, repolarizar, refluxo, reforçar
intensidade
retro- atrás, para trás retroperitônio, retroversão, retroalimentação
semi- parcialmente, semicírculo, seemicúpio, semimorto

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incompleto
sobre, super, supra- posição sobrepor, supercílio, suprapúbico, superinfecção
acima, intensidade
sub- posição inferior, ação subconsciente, subagudo, subliminar
incompleta
trans- através, além transmural, transaminase, transexual

Principais sufixos nominais gregos de interesse médico


ase- enzima amilase, lipase, fosfatase, transaminase
ia- coleção, qualidade, enfermaria, assistolia, cardiologia
ciência
ismo- doença, sistema, alcoolismo, botulismo, vitalismo
crença
íase- doença causada por amebíase, hanseníase
parasito ou bactéria
ite- inflamação apendicite, gastrite, cistite, miosite
oide- semelhante a mastoide, esfenoide, esquizoide
oma- tumor mioma, carcinoma, sarcoma
ose- doença não artrose, dermatose
inflamatória, ou
degenerativa

Principais sufixos nominais latinos de interesse médico

-al < -ale, adjetivos arterial, mental, nasal, sexual


-ança, -ancia < -antia, balança, criança, ambulância
substantivos
ano < -anus, adjetivos craniano, microbiano
-ante, ente < - vogal acidi- ficante, calmante, expectorante, absorvente, emoliente
temática + suf. -nte,
substantivos e adjetivos
-ario, a< -arius, protozoário, coronária, urinário
substantivos e adjetivos

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-atico <- aticum, pancreático, profilático, sintomático
adjetivos
-ção < -tione,- dissecção, hidratação, pigmentação
substantivos
-dade < -tate, enfermidade, fertilidade, insanidade
substantivos
-ento, -lento < -(l)entu, incruento, peçonhento, purulento
adjetivos
-eza < -itia, fraqueza, magreza, pureza
substantivos:
-ivo < -ivus, adjetivos nutritivo, regenerativo, supurativo
-ino < -inu, intestino, mediastino, masculino
substantivos e adjetivos
-io < -ivo, substantivos calafrio, doentio, sadio
e adjetivos
-mento, a < -mentu, a, aleitamento, corrimento, medicamento
substantivos
-oso < -osus, adjetivos aquoso, infeccioso, edematoso, membranoso
-ura < -ura, comissura, estatura, fissura, sutura
substantivos

Termos médicos oriundos do grego

Os termos médicos de origem grega podem ser divididos em dois grupos:

1. Termos já existentes em grego clássico e que transitaram pelo latim antes de


serem incorporados às línguas modernas. O latim foi a língua de comunicação científica
utilizada durante muitos séculos nos países europeus. Mesmo quando o latim vulgar já não
era mais falado pelo povo e havia se transformado nas línguas neolatinas, o latim clássico,
erudito, continuava a ser usado nas Universidades, tanto na publicação de livros como na
comunicação oral, em preleções, aulas e conferências.

2. Termos formados diretamente de elementos gregos em data posterior ao


abandono do latim como língua de comunicação científica, o que ocorreu
progressivamente a partir do século XVIII. O acervo lexical de novos termos cresce dia a

20
dia, em decorrência do progresso científico. Quase sempre os novos termos surgem em
países desenvolvidos, onde são feitas novas descobertas, e devem ser adaptados aos
idiomas de outros países, que os incorporam ao seu léxico. Na composição dos novos
termos usam-se dois ou mais elementos da língua grega, que podem ser prefixos, temas
nominais e sufixos:

 Tipo sintético: o determinante vem em primeiro lugar. Ex: cardiologia,


cromosoma, linfoma, mielócito, oftalmoscópio.
 Tipo analítico: o determinante vem em segundo lugar. Ex: filosofia, hipopótamo
 Tipo anfótero: os elementos são de igual valor, não se distinguindo entre
determinante e determinado. Ex: andrógino, hermafrodita.

Termos médicos oriundos do latim

Os termos de origem latina integrantes do vocabulário médico procedem, em sua


maioria, do latim erudito. Contudo, alguns nomes, sobretudo os relativos a partes visíveis
do corpo humano, são remanescentes do latim vulgar.

Termos médicos oriundos do latim vulgar. Exemplos.

 Cabeça - de capitia, plural de capitium, capuz. No latim erudito caput. Gr.kephalé,


ês
 Nariz - de naricae singular narice. Gr. rhís, rhinós.
 Boca - de bucca, bochecha. Suplantou os, oris. Gr. stóma, atos
 Orelha - de oricla, de auricula, diminutivo de auris. Gr. oûs, otós
 Dedo - de ditu, mod. de digitu. Gr. Dáktylos
 Joelho - de genuculu, diminutivo de genu. Gr.
 Osso - de ossu. No latim erudito os, ossis. Gr. ostéon, osteu
 Fígado - de ficatum (figo). Lat. erudito: jecur. Gr. hepar, hepatós
 Calcanhar - de calcanho, do lat. erudito calcaneum, i.Gr. astrágalus

Termos médicos oriundos do latim erudito. Exemplos:


 Radio - de radiu, vara. Gr. kerkís, ídos
 Cúbito - de cubito, cotovelo. Gr. pêkhus, eos

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 Tíbia - de tibia, flauta, tubo de órgão (instrumento musical).Gr. knéme
 Pálpebra - de palpebra. Gr. Blépharon, utilizado em termos como “blefarite”
 Intestino - substantivação do adj. intestino, do latim intestinu, interior. Gr.: énteron,
utilizado em termos como “enteropatia”
 Reto - de rectus (sem flexuras). Gr. proctos, oû (inclui o ânus), utilizado em termos
como “Proctologia”
 Ânus - de anus, anel
 Ovário - de ovariu, portador de ovos. Gr. oophoros
 Testículo - de testiculus, diminutivo de testis, testemunha. Gr. órkhis
 Pênis - de penis, der. de pendere, pender. Gr. phallós
 Vulva - de vulva. Gr. Hystéra
 Músculo - de musculus, diminutivo de mus, rato. Gr. mys, myós
 Útero - de uterus, ventre, ou de uter, odre. Gr.: métra, as; hystéra, as; delphýs, ýos
 Veia - de vena, conduto. Gr.: phlebós, ou
 Olho - de occulum. Gr. ophtalmós
 Perna - de perna. Gr. skélos, ous
 Coxa - de coxa, osso do quadril. Passou a designar o segmento femoral. Gr. merós
 Fêmur - de femur, coxa. Gr. merós,
 Pé - de pes, pedis. Gr. poús, podós
 Mão - de manu. Gr. kheír, kheirós
 Lábio - de labiu. Gr. kheîlos, ous
 Barba - de barba. Gr. Pólon
 Cabelo - de capillu. Gr. thrix, thrikhós
 Punho - de pugnu. Gr. karpós, oû
 Dente - de dente. Gr. odoús, ontos
 Língua - de lingua. Gr. glôssa, e
 Pele - de pelle. Gr. dérma, ato
 Pulmão - de pulmone. Gr. pneúmon, ono
 Coração - de cor. Gr. cardía
 Rim - singular de renes, órgão duplo. Gr. nefros, utilizado em palavras como
“nefropatia”
 Bexiga - de vesica. Gr. kýstis, eos, utilizado en palabras como “cistite”

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 Escroto - de scrotu, bolsa. Gr. orkhis, ios
 Ombro - de umero. Gr. ômos

Termos híbridos. Exemplos:

 Estômago - do gr. stómakhos, pelo latim stomachu


 Cólon - do gr. kólon, pelo latim erudito colon
 Artéria - do gr. artería, pelo latim artéria
 Catéter - dogr. kathetér, pelo latim cateter
 Faringe - do gr. pháryggx, pelo latim pharynx
 Braço - do gr. brakhíon, pelo latim bracciu
 Uretra - do gr. ouréthra, pelo latim urethra
 Ureter - do gr. ouréter, pelo latim ureter
 Pâncreas - do gr. págkreas, pelo latim pancreas
 Hipertensão (hiper, gr. + tension, lat.)
 Endovenoso (endo, gr. + vena, lat. + o, so, gr.)
 Densímetro (densi, lat. + metron, gr.)

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