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Interpretação de resultados de germinação

Chapter · August 2004

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2 authors:

Fabian Borghetti Alfredo Gui Ferreira


University of Brasília Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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C A P Í T U L O 1 3

INTERPRETAÇÃO
DE RESULTADOS DE
GERMINAÇÃO
Fabian Borghetti
Alfredo Gui Ferreira

CRITÉRIOS DE GERMINAÇÃO A primeira contagem, as demais (se neces-


A interpretação dos dados obtidos em estudos sárias) e a final variam de espécie para espécie
acerca da germinação das sementes depende e estão listadas nas RAS (Regras para Análise
inicialmente do critério de germinação adotado. de Sementes, Brasil, 1992). Nessas regras, a
No “critério agronômico ou tecnológico”, maioria das plantas cultivadas está contempla-
considera-se germinação a emergência da plan- da. O intervalo entre as contagens intermediá-
ta no solo ou a formação de uma plântula vigo- rias também varia em função da espécie, sen-
rosa no substrato utilizado. Entretanto, esse cri- do mais comum de três em três dias ou a cada
tério inclui não apenas o processo germinativo semana, dependendo da velocidade de germi-
per se, mas também a velocidade de crescimento nação das sementes.
e a profundidade da semente no solo, fatores O “critério botânico ou morfológico”, con-
que influem consideravelmente na emergência sidera a germinação como a protrusão de uma
da plântula. Observa-se que tal critério mistura das partes do embrião de dentro dos envoltó-
dois fenômenos fisiológicos interdependentes, rios, associada a algum sinal de real crescimen-
porém diferentes, a germinação da semente e to, como a curvatura geotrópica da raiz e/ou a
o crescimento inicial da plântula. A diferença parte aérea, a síntese de pigmentos, etc. Tanto
se estabelece no momento em que, para a ger- fatores abióticos, como a temperatura e a umi-
minação, muitos genes são acionados e trans- dade, quanto bióticos, como a presença de subs-
criptomas e proteomas são formados e regula- tâncias tóxicas produzidas por plantas vivas ou
dos pelas condições vigentes. No crescimento mortas presentes no local (como resíduos ve-
inicial, outros genes são acionados, e alguns da getais), têm influência na germinação. É evi-
germinação, desligados ou reprimidos (Capítu- dente que, se o estudo está sendo realizado em
lo 6). Para estudos de “germinação” sob condi- laboratório, em uma placa de petri ou gerbox
ções de campo, entretanto, esse critério é bas- com substrato de papel, a influência biótica não
tante apropriado. Assim, a forma de contagem é significativa. Porém, em solo, ela pode tornar-
e os índices usados diferem. Por exemplo, a pri- se crítica (Capítulo 16).
meira contagem de germinação que analisa o Há ainda o “critério bioquímico”, que, por
vigor da(s) amostra(s) pode ser muito útil na meio de diferentes procedimentos experimen-
avaliação de amostras ou lotes de sementes. En- tais, quantifica variações no metabolismo geral
tretanto, quando se examina sob o ponto de do diásporo, como, por exemplo, testes de ativi-
vista da ecofisiologia da germinação, essa infor- dade enzimática e medidas de consumo de oxi-
mação torna-se insuficiente (ver a seguir). gênio. Um teste bastante empregado em se-

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210 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

mentes é o uso de soluções aquosas de 2,3,5 mesmo de 6 horas (testes-piloto podem dar
tri-fenil tetrazólio. Esse sal, incolor em solução uma idéia da cinética do processo). Por
aquosa, quando colocado em contato com as exemplo, a 22oC, todo um lote de diásporos de
sementes viáveis é reduzido por desidrogenases alface pode germinar em 48 ou, no máximo,
do tecido vivo, adquirindo a cor avermelhada em 72 horas. Intervalos menores entre observa-
na semente. A coloração adquirida é proporcio- ções são apropriados em particular para experi-
nal à atividade enzimática, sendo utilizada mentos de germinação conduzidos em tempe-
como uma estimativa do grau de viabilidade raturas supra-ótimas, em que os processos me-
da semente. Embora apropriado para estimar tabólicos se encontram acelerados.
o grau de viabilidade, esse teste não permite As medidas de germinação podem ser re-
identificar se a semente vai ou não germinar, presentadas graficamente. As mais comuns re-
visto que sementes dormentes também podem lacionam germinação com temperatura, dispo-
apresentar expressiva atividade enzimática (Ca- nibilidade de água, luminosidade e concentra-
pítulo 6). Os critérios citados, assim como al- ção de fitormônios ou reguladores de cresci-
guns efeitos de origem biótica e abiótica na ger- mento. Quando plotadas em uma relação dose-
minação estão listados no Quadro 13.1. dependência, tais curvas representam o com-
portamento germinativo de dada espécie em
função do tratamento aplicado, assim como
GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA permitem comparar a germinação de diferentes
Associada à germinação está a dormência das espécies sob efeito de um mesmo tratamento.
sementes. Esse mecanismo regula o início da Contudo, antes de dar continuidade a esta dis-
germinação, tem uma forte relação espécie-es- cussão, vale relembrar algumas medidas bási-
pecífica e depende muito do tipo de ambiente cas utilizadas para quantificar a germinação.
em que a espécie ocorre (Labouriau, 1983). De
fato, a dormência determina o momento e o
local de germinação, além dos requerimentos MEDIDAS DE GERMINAÇÃO
e características desse evento. Em estudos em Múltiplas formas de medir a germinação fo-
que se investiga a cinética do experimento, deve ram desenvolvidas por diversos autores (Labou-
haver medidas diárias, de preferência na mes- riau, 1983). Dentre elas, a “germinabilidade”
ma hora, de forma que os intervalos entre obser- (%G) talvez seja a mais simples, representan-
vações se aproximem de 24 horas (o que é bas- do a porcentagem de sementes germinadas em
tante comum). Porém, dependendo da veloci- relação ao número de sementes dispostas a ger-
dade de germinação, observações e contagens minar sob determinadas condições experimen-
devem realizar-se em intervalos de 12, 8 ou tais:

Quadro 13.1 Fatores abióticos e bióticos que podem influenciar o critério de germinação de diásporos

Critério Fatores abióticos Fatores bióticos

Bioquímico Água, temperatura. Fitormônios.


Morfológico Temperatura, luz, água, vento, Microrganismos, aleloquímicos.
potencial matricial do substrato,
pH, nitratos.
Agronômico Todos os itens anteriores mais a Microrganismos (tanto por doenças como por
compactação do substrato. interferências químicas externas ao diásporo),
Presença de outras plantas aleloquímicos, presença de outras plantas, predação.
(competição e fatores físicos) e
fatores físicos do solo. Enterramento
muito profundo.

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GERMINAÇÃO 211

%G = (∑ni . N-1) . 100 2


tS =[∑ni . (ti –)2] / (∑ni – 1)

onde ∑ni é o número total de sementes germi- onde ni é o número de sementes germinadas

nadas em relação ao número de sementes dis- entre as observações ti-1 e ti, e t é o tempo mé-
postas para germinar (N), dados expressos em dio de germinação. A variação do tempo médio
porcentagem. A germinabilidade informa o nú- de germinação reflete a distribuição temporal
mero total de sementes germinadas, entretan- desta em torno da média, o que permite avaliar
to, não reflete quanto tempo foi necessário pa- se a germinação de dado conjunto de sementes
ra que as sementes atingissem tal porcentagem é uniforme (pequena variação) ou desunifor-
de germinação. Se dois ou mais lotes de se- me e irregular (grande variação).
mentes apresentam germinabilidade seme- Outra forma utilizada para quantificar a ci-
lhante, isso não quer dizer que o seu comporta- nética da germinação é o cálculo da velocidade

mento germinativo seja o mesmo. Os tempos e média (v ), que é simplesmente o inverso do
a distribuição da germinação podem ser dife- tempo médio de germinação:
rentes. Podem existir lotes ou sementes que ger- – –
v = 1 / t = ∑ni / ∑ni.ti
minam (ou emergem) mais rapidamente (em
geral, mais vigorosas) e outras cuja germinação A velocidade é expressa geralmente em
é mais lenta. Para essas situações, existem me- horas-1. Naturalmente, a velocidade média tam-
didas que quantificam a germinação sob um bém tem sua variação (vS2):
ponto de vista cinético, isto é, informam quanto
2 2 – 4
tempo foi necessário para determinado lote de vS = tS . (v )
sementes germinar. Um parâmetro bastante
– A variação da velocidade média é dada em
utilizado é o tempo médio de germinação (t ),
calculado pela equação a seguir: horas-2.
– Outro índice freqüentemente usado é o ín-
t = ∑ni . ti / ∑ ni dice de velocidade de germinação (Maguire,
1962), simbolizado por IVG, em que o número
onde ni é o número de sementes germinadas de sementes ou plântulas normais é contabili-
dentro de determinado intervalo de tempo ti-1 zado a cada dia:
e ti. Essa informação é comumente expressa
– IVG = G1/N1 + G2/N2 + ... Gn/Nn
em horas. O tempo médio (t ) corresponde à
média do tempo necessário para um conjunto
de sementes germinar, dando ao processo um Quando se considera o critério agronômico,
caráter cinético. Como será visto adiante, essas o IVG é substituído por IVE (índice de velocidade
medidas fornecem tanto as informações quanto de emergência); entretanto, o cálculo permane-
as vias metabólicas envolvidas no processo e ce o mesmo. Assim:
podem, por outro lado, permitir inferências G1, G2, ... Gn = número de diásporos
sobre estratégias de germinação de determina- germinados ou (no caso do IVE)
do lote ou mesmo de espécies sob diferentes E1, E2, ...En = número de plântulas normais
condições ambientais. Sendo a média uma me- na primeira, segunda até enésima ob-
dida de tendência central de um dado conjun- servação.
to de valores (no caso, o número de sementes N1, N2, ... Nn = número de dias (ou horas)
germinadas), existem medidas que quantifi- após a semeadura.
cam a dispersão dos valores em torno da mé-
dia, como a variação e o desvio-padrão. No caso Embora esse índice seja freqüentemente ex-
da germinação das sementes, esse parâmetro é presso sem unidade, a equação relaciona o nú-
a variação do tempo médio (tS2), expressa em mero de diásporos germinados (ou plântulas
horas2: emergidas) por unidade de tempo. Quanto

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212 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

maior o IVG (IVE), maior a velocidade de ger- Sendo o caso, o CVG ou CVE deve ser calcu-
minação, o que permite inferir que mais vigoro- lado para cada repetição, e o resultado será um
so é o lote de sementes (Nakagawa, 1999). valor médio das repetições em porcentagem.
A velocidade de germinação também pode Quanto maior o valor numérico do CVG (ou
ser calculada pela fórmula apresentada por Ed- CVE), maior a velocidade de germinação, indi-
mond e Drapalla (1958), simbolizada por VG: cando que mais vigoroso é o lote ou a amostra
de diásporos em estudo (Nakagawa, 1999). Ob-
VG = (N1 G1 + N2 G2 +...+ Nn.Gn) /
serve que a interpretação a partir desses índices
(G1 + G2 +...+ Gn)
pode ser similar à interpretação obtida a partir

onde: do cálculo de v mostrado anteriormente.
G1, G2, ... Gn = número de sementes (ou
plântulas) germinadas no dia da obser-
INTERPRETAÇÃO DOS
vação (nas últimas 24 horas se as ob- RESULTADOS DE
servações forem diárias). GERMINAÇÃO
N1, N2, + ... + Nn = número de dias (horas)
Além da necessidade de estabelecer um deli-
após a semeadura.
neamento experimental apropriado para inves-
Essa equação também pode ser expressa tigar efeitos de tratamentos diversos na germi-
por: nação (Capítulo 11), também é fundamental,
K K
para chegar a conclusões corretas do trabalho,
VG = Ni. Gi /  i=1 Gi uma apropriada interpretação dos resultados
i=1
obtidos. Essa etapa, com certa freqüência, não
Examinando-se cuidadosamente a fórmula recebe a atenção devida. O propósito deste ca-
de VG, verifica-se que ela é idêntica à fórmula pítulo não é ensinar ao leitor como interpretar
– os resultados, mas sugerir formas de interpreta-
de t ; logo, as interpretações também podem ser
similares (Santana e Ranal, 2000). Assim, ção, atentar para aspectos pouco observados na
– análise de gráficos e tabelas e buscar associar
quanto menor a VG ou o t , mais vigorosa poderá
ser considerada a amostra. Para cada repetição, resultados obtidos com experimentos de germi-
– nação a outros campos de investigação, como
calcula-se a VG ou o t e, ao final, tem-se um
valor médio entre as repetições do experimento a ecologia e a bioquímica.
(desde que realizadas sob as mesmas condi-
ções).
CURVAS DE GERMINAÇÃO
Quanto à velocidade de germinação, outra
maneira de quantificá-la, além da descrita ante- Conforme descrito, a germinabilidade (%G) re-
riormente, é pelo coeficiente de velocidade de presenta o número total de sementes germina-
germinação (CVG) ou de emergência (CVE), das sob determinada condição experimental.
sugerido por Kotowski (1926): Nesse contexto, tal medida pode ser utilizada
na comparação da germinação sob diferentes
K K
CVG ou CVE = [  fi /  fi.xi] . 100 temperaturas de incubação, por exemplo (Fi-
i=1 i=1
gura 13.1).
Verifica-se, pelas curvas de germinação, que
onde: as quatro espécies apresentam germinabilida-
fi = número de sementes germinadas no des diferentes em função da temperatura de
i-ésimo dia. incubação. Por exemplo, a 25oC, sementes de
xi = número de dias contados desde a se- Salvia hispanica apresentam germinabilidade
meadura até o dia da leitura (i). próxima dos 60%, enquanto sementes das ou-
k = último dia de observação. tras espécies têm valores próximos de 100%.

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GERMINAÇÃO 213

100

80
Vicia graminea
Germinabilidade (%)

Pereskia acuelata
60
Calotropis procera
40 Salvia hispanica

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Temperatura (oC)

! Figura 13.1
Curvas de germinação de sementes de Calotropis procera (Labouriau e Valadares, 1976), Pereskia acuelata
(Dau e Labouriau, 1974), Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987) e Vicia graminea (Labouriau, 1970) em
um gradiente de temperatura.

Germinabilidade abaixo de 100% pode indicar característica adaptativa de V. graminea, visto


que as sementes não-germinadas encontram- que essa leguminosa ocorre em regiões de cli-
se inviáveis ou dormentes. Testes de viabilidade ma temperado como o extremo sul do Brasil, a
podem mostrar o que, de fato, está limitando a Argentina e o Chile. A distribuição geográfica
germinação sob dada condição. Se as sementes das espécies depende, em grande parte, da ca-
se encontram viáveis, pode-se inferir que são pacidade das suas sementes de germinar sob
dormentes. as condições climáticas predominantes.
Em outras temperaturas de incubação, ob- Ademais, como a germinabilidade depende
serva-se que a germinabilidade varia conforme do tempo de incubação, a duração dos ensaios
a espécie, havendo inclusive temperaturas (p. de germinação é importante para o estabeleci-
ex., 5, 15, 35oC) nas quais nem todas as espécies mento dos pontos cardeais. Pré-tratamentos,
germinam. Para cada espécie, existem tempera- como escarificação, também podem alterar as
turas-limite de germinação, isto é, temperatu- respostas (Labouriau, 1970). A não-germinação
ras abaixo ou acima das quais a germinação pode indicar que as sementes estão fora da faixa
não ocorre. Elas são, chamadas de temperatu- de temperatura apropriada para a germinação,
ras cardeais (Labouriau, 1983) e definem, para acima da temperatura máxima ou abaixo da
cada espécie, a faixa de temperatura na qual a mínima. Para verificar se as sementes não-ger-
germinação é possível. Tais intervalos são espé- minadas nas temperaturas extremas estão mor-
cie-específicos, o que reflete as características tas ou dormentes, sugere-se transferi-las para
de germinação da espécie e permite inferir a a faixa ótima de germinação e aguardar o re-
procedência ou o local de ocorrência da espécie sultado. Se germinarem, isso indica que a tem-
em estudo (Figura 13.1). Por exemplo, semen- peratura não era apropriada para a germinação.
tes de Pereskia acuelata, uma cactácea que ocorre Se não germinarem e, ao mesmo tempo, não se
em comunidades de restinga, germinam bem apresentarem deterioradas, recomenda-se tes-
em altas temperaturas (Dau e Labouriau, 1974). tes de viabilidade (Capítulo 18) para identificar
Em contraste, sementes de Vicia graminea não se elas estão mortas ou dormentes.
toleram altas temperaturas, mas germinam em A germinabilidade pode ser utilizada de for-
temperaturas abaixo de 5oC (Labouriau, 1970). ma similar em outros tipos de investigação, co-
Possivelmente, esses parâmetros refletem uma mo o efeito de fitormônios e luminosidade na

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214 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

germinação das sementes. No exemplo a seguir, mentos conduzidos com sementes coletadas em
sementes de Schefflera (Didymopanax) morototoni, apenas uma época de produção, especialmente
coletadas em diferentes épocas do ano, foram de um único material genético (planta), podem
dispostas a germinar na presença do fitormônio induzir a erros ou interpretações limitadas.
cinetina (uma citocinina) na luz e no escuro Apesar de a germinabilidade oferecer infor-
(Figura 13.2). mações importantes sobre as características de
Essa análise permite identificar, por exem- germinação de um conjunto de sementes face
plo, qual a eficácia de um tratamento hormonal a determinado tratamento, ou mesmo permitir
em promover (ou inibir) a germinação de deter- uma discussão mais profunda sobre procedên-
minada espécie e, de maneira análoga aos efei- cia/local de ocorrência da espécie, uma análise
tos da temperatura descritos no exemplo ante- da germinação sob um enfoque cinético requer
rior, pode-se comparar o comportamento ger- outras formas de abordagens. Nesse sentido,
minativo de diferentes espécies ao fitormônio as curvas de tempo médio e de velocidade de
aplicado. Nesse caso, a aplicação de citocinina germinação permitem interpretações adicionais
promoveu a germinação, quando comparada ao desse processo fisiológico.
controle em água (C). Além disso, observa-se
que, na presença do fitormônio, as sementes
coletadas em junho apresentaram-se fo- TEMPO MÉDIO DE
toblásticas negativas, enquanto as coletadas em GERMINAÇÃO
setembro apresentaram-se afotoblásticas. Es- O tempo necessário para determinada amostra
sas observações permitem extrair outras infor- de sementes germinar depende, primariamen-
mações a partir da análise do gráfico. O foto- te, da espécie em estudo e das condições expe-
blastismo depende da época de coleta das se- rimentais ou ambientais nas quais as mesmas
mentes. Para plantas que apresentam uma fru- se encontram. Curvas de germinação que tra-
tificação que se estende por longa parte do ano, tam sobre o tempo médio ou o seu recíproco, a
como é o caso da espécie utilizada, o local e a velocidade média, podem ser plotadas sob dife-
época em que as sementes são produzidas tam- rentes maneiras. Quando, para efeitos de com-
bém são importantes (Figura 13.2). Esses resul- paração, o número de tratamentos é grande,
tados mostram que dados pontuais de experi- como o é o número de medidas de tempo médio
(ou velocidade média), costuma-se apresentar
tais medidas em função do tratamento aplica-
40 do. Esse caso pode ser exemplificado pela Fi-
C – Controle
35 L – Luz gura 13.3, que relaciona a velocidade de germi-
E – Escuro nação de sementes de Peltophorum dubium, uma
30
25 espécie de ampla distribuição nas matas de ga-
20
leria do Brasil Central, em função da tempera-
15
tura de incubação.
10
Como se pode observar, a velocidade média
de germinação cresce com o aumento da tem-
5
peratura até um máximo próximo dos 23oC. Em
0
C L L E L E temperaturas acima desse valor, a velocidade
Abril Junho Setembro começa a diminuir até a temperatura limite de
germinação, que se localiza entre 37 e 39oC.
! Figura 13.2
Efeito da cinetina (1 mg.L-1) na germinação de semen-
Esse tipo de estudo tem sido conduzido com
tes de Schefflera morototoni coletadas em diferentes diversas outras espécies cultivadas e nativas
meses do ano, incubadas sob condição de luz (L) e (Labouriau, 1983; Lima, Borghetti e Sousa,
escuro (E). C – controle em água. Adaptada de Franco 1997; Santos e Cardoso, 2001), e mostra que a
e Ferreira (2002). velocidade de germinação, assim como a ger-

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GERMINAÇÃO 215

100 30

25
80

Velocidade média de
Germinabilidade (%)

germinação (h-1. 10-3)


20
60
15
40
10

20
5

0 0
11 14 18 20 23 26 29 33 36 39
Temperatura (oC)

! Figura 13.3
Germinabilidade (%) e velocidade média de germinação (h-1.10-3) de sementes de Peltophorum dubium
coletadas no ano de 1998 no campus da Universidade de Brasília (L.A.Z Andrade et al., inédito).

minabilidade, depende das condições de incu- (-0,156 MPa) ficou em 32 horas, enquanto, sob
bação das sementes. estresse grave (-0,414 MPa), aumentou para
Das curvas de germinação podem ser obti- 40 horas. Percebe-se, pois, que os parâmetros
dos tanto o tempo médio de germinação quanto de tendência central em estudos de germinação
outros parâmetros de tendência central, como podem variar de forma distinta em função do
a moda (Figura 13.4). tratamento aplicado.
Embora não haja diferenças significativas A partir das medidas de tempo médio (e
entre os tratamentos quanto ao parâmetro ger- velocidade média) de germinação, diversas in-
minabilidade (entre 94 e 99%), observa-se na terpretações são possíveis. Por exemplo, pode-
Figura 13.4 que, sob estresse osmótico, o tempo se inferir que germinação rápida é característica
médio de germinação (identificado pelas barras de espécies cuja estratégia é se estabelecer o
verticais) de sementes de Mimosa bimucronata mais rápido possível ou quando oportuno, apro-
é progressivamente aumentado. Por outro lado, veitando condições ambientais favoráveis ao
no controle e com estresse moderado a moda desenvolvimento do novo indivíduo. Essa si-

60
Controle
Número de sementes

50
(-0,156MPa)
germinadas

40 (-0,414MPa)
30

20

10

0
0 24 32 40 48 56 64
Tempo (horas)

! Figura 13.4
Germinação de sementes escarificadas de Mimosa bimucronata. As barras verticais representam o tempo
médio de germinação para cada tratamento. Os potenciais osmóticos foram gerados com NaCl (Rodrigues,
Passini e Ferreira, 1999).

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216 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

tuação pode ser criada, por exemplo, com a for- 1.000


mação de clareiras ou a ocorrência de chuvas.
800
Em contrapartida, a germinação rápida pode
ser imprópria ou não-estratégica ao estabeleci- 600
mento de uma espécie, por exemplo, germinar
em resposta a chuva errática e isolada durante

Entalpia de ativação (Kj . Mol-1)


400
a estação seca. As sementes germinadas pode-
riam perecer na continuidade da seca. 200
Efeitos da temperatura na cinética da ger-
0
minação podem ser abordados também sob um
290 300 310 320
ponto de vista bioquímico. Sabe-se que a ativi-
-200
dade de enzimas (assim como de qualquer ou- Temperatura (K)

tro evento metabólico que envolva proteínas) -400


tem uma forte dependência da temperatura de
incubação. Existem temperaturas nas quais a -600
velocidade de reação (enzimática) é máxima,
e outras nas quais o processo ocorre muito len- -800

tamente ou se encontra inibido. Consideran-


-1.000
do-se que a germinação das sementes pode ser
encarada como um somatório de reações par- -1.200
ciais concatenadas envolvendo enzimas diver-
sas, a velocidade desse processo fisiológico se- ! Figura 13.5
Variação de entalpia de ativação em função da tempe-
rá também dependente da temperatura de in- ratura na germinação de sementes de Sesamum in-
cubação das sementes, apresentando tempera- dicum (P.G. Carvalho e F. Borghetti, inédito).
turas nas quais a velocidade de germinação é
máxima, e outras nas quais a velocidade é re-
duzida ou em que a germinação não ocorre (Fi- se que a inibição da germinação em temperatu-
gura 13.3). Em uma abordagem termodinâmica ras abaixo do mínimo é reversível, enquanto o
(Labouriau, 1978; Labouriau e Labouriau, bloqueio da germinação por temperaturas de
1997), foi proposto que a desnaturação de pro- incubação acima do máximo é irreversível (-
teínas e a transição de fase de membranas po- Carvalho et al., 2001).
deriam estar entre os fatores limitantes da ger- Curvas de velocidade média de germinação
minação nas temperaturas próximas dos li- também podem ser representadas em função
mites mínimos e máximos de germinação. Am- do tempo de duração do experimento. Esse pro-
bos os eventos envolvem grande variação de cedimento é apropriado quando se pretende in-
entalpia de ativação, concordando com os va- vestigar a germinação não apenas em função
lores de entalpia calculados para as velocida- da velocidade média, mas também quanto à
des de germinação nas temperaturas infra e su- distribuição da germinação ao longo do tempo.
pra-ótimas da germinação para diversas espé- Nesse caso, as curvas podem ser apresentadas
cies (Labouriau e Osborn, 1984; Labouriau e ao menos sob duas formas: curvas cumulativas
Pacheco, 1979), como, por exemplo, Sesamum ou não-cumulativas da germinação. Como
indicum, o conhecido gergelim (Figura 13.5). exemplo do primeiro caso, pode-se observar a
De fato, foi comprovado experimentalmente curva de germinação de sementes de duas bro-
que a transconformação de proteínas está en- mélias de ocorrência em comunidades de res-
volvida na restrição da germinação, próximo tinga (Figura 13.6).
tanto da temperatura mínima (Labouriau, O gráfico representa o número acumulado
1980) como da temperatura máxima de germi- de sementes germinadas de duas espécies de
nação (Labouriau, 1977). Além disso, observou- bromélias a cada dia de observação. Diferente-

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GERMINAÇÃO 217

100

80

Germinabilidade (%)
60

40
Luz vermelha

20

0 48 96 144 192 240 288 336 384 432

Tempo (horas)

! Figura 13.6
Germinação cumulativa de sementes de Aechmea nudicaulis (linha contínua) e Streptocalyx floribundus
(tracejado) sob temperaturas alternantes de 20 a 30oC. As sementes foram incubadas sob luz vermelha (sím-
bolos abertos) ou no escuro (símbolos pretos). Após 240 horas de incubação no escuro, as sementes foram
expostas à luz vermelha (Pinheiro e Borghetti, 2003).

mente do exemplo anterior, a Figura 13.6 de curvas não-cumulativas, os dados de cada


permite visualizar a distribuição da germina- observação não são adicionados aos anteriores.
ção ao longo do tempo, o que possibilita iden- Aqui cabe uma nota de advertência. Recomen-
tificar o início e o fim da germinação para cada da-se remover as sementes germinadas da placa
espécie e/ou tratamento considerado. Por exem- de petri (gerbox, sementeira, etc.) para evitar
plo, a germinação das sementes de Aechmea nu- erros de contagem como pela não-contagem,
dicaulis, sob tratamento luminoso, iniciou-se que podem ocorrer tanto pela dupla contagem
após 96 horas de incubação, estendendo-se até de uma semente germinada.
aproximadamente 240 horas após o início do A partir das curvas de freqüência cumulati-
experimento. Comparando essa espécie com vas e não-cumulativas, diversas informações
Streptocalyx floribundus, observa-se que o período podem ser extraídas. O que pode informar um
de germinação de A. nudicaulis foi mais amplo, ou outro tipo de curva? Em si, a mesma coisa;
iniciando antes e finalizando após o período de porém, dependendo do que se quer destacar no
germinação de S. floribundus. Com esse gráfico, comportamento germinativo, usa-se uma ou
pode-se também verificar a germinabilidade outra (Figura 13.7).
(para o caso de A. nudicaulis foi cerca de 100%). Observa-se, no gráfico A, que a germinação
Além disso, é possível a comparação dos efeitos a 25oC apresenta uma distribuição próxima à
de diferentes tratamentos (luz versus escuro), sigmóide, caracterizando uma distribuição nor-
mostrando que a luz é necessária para a germi- mal da germinação. A germinação das semen-
nação de ambas as espécies. tes a 35oC apresenta-se similar àquela ocorrida
O uso de curvas de freqüência absoluta ou a 25oC, embora não tenha um aspecto sigmoi-
relativa da germinação é apropriado quando se dal. No entanto, quando a germinação é distri-
pretende analisar a distribuição da germinação buída em freqüência não-acumulada (B), a cur-
ao longo do tempo de duração do experimento. va de germinação a 35oC apresenta um padrão
Para a construção de curvas cumulativas, o nú- trimodal, bastante distinto de uma distribuição
mero de sementes germinadas em determinada normal (como aquela apresentada a 25oC), su-
contagem é somado ao número de sementes gerindo perda da sincronia no controle do pro-
germinadas contadas previamente. No preparo cesso (Labouriau, 1983).

Germinação_13ok.p65 217 17/05/2004, 17:44


218 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

35

30
Número de sementes
germinadas 25

20

15 25oC

10 35oC

0
0 3 6 9 12 15 18 21

Tempo (dias)

B
15
25oC

12 35oC
Número de sementes

9
germinadas

0
0 3 6 9 12 15 18 21

Tempo (dias)

! Figura 13.7
Germinação de sementes de Talinum patens sob duas temperaturas de incubação. (A): dados acumulados;
(B): dados não-acumulados ou freqüências (Rosa e Ferreira, 1998).

As Figuras 13.6 e 13.7 mostram o número tal, o número de sementes germinadas a cada
absoluto de sementes germinadas em função dia (ou intervalo de tempo utilizado) é dividido
do tempo de incubação. Esse tipo de gráfico po- pelo número total de sementes germinadas, mi-
de ser utilizado quando o número de sementes nimizando assim efeitos de diferenças no tama-
dispostas para germinar nos diferentes trata- nho das amostras e na interpretação do resultado.
mentos é similar (o que é recomendável). En- As curvas de germinação podem-se apre-
tretanto, quando o número de sementes utiliza- sentar sob as mais diversas formas; entretanto,
das nos tratamentos é diferente, sugere-se o elas podem ser identificadas por modelos de
uso de freqüência relativa de germinação. Para curvas já existentes. Por exemplo, a distribuição

Germinação_13ok.p65 218 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 219

temporal da germinação pode apresentar um esse tipo de comportamento tendem a estabele-


padrão normal (ou gaussiano), conforme o cer bancos de sementes persistentes, isto é,
exemplo mostrado na Figura 13.7 (25oC). Alter- aqueles cujo recrutamento ocorre de forma bas-
nativamente, a curva pode apresentar uma dis- tante espaçada no tempo. Esse tipo de banco é
tribuição leptocúrtica, quando a germinação comum em formações savânicas, desertos e am-
das sementes ocorre mais concentrada no tem- bientes que apresentam estresses ambientais,
po (o que resulta em uma baixa variação de como estação seca, e/ou imprevisíveis, como
germinação), ou uma distribuição platicúrtica, queimadas (Leck, Parker e Simpson, 1989). Se-
quando a germinação se apresenta bastante es- mentes de Solanum lycocarpum, uma espécie de
palhada no tempo (refletindo uma grande va- ampla distribuição no Cerrado, apresentam esse
riação de germinação). Um exemplo de distri- tipo de comportamento; a germinação se es-
buição platicúrtica é o comportamento germi- tende por meses, e a viabilidade se mantém alta
nativo de M. bimucronata sob potencial osmótico por anos (F. Borghetti, inédito). Em contraste,
mais grave (Figura 13.4). Assim, conforme o sementes com germinação rápida e uniforme,
tratamento recebido, uma mesma espécie pode o que reflete uma variação de germinação pe-
apresentar diferentes padrões de distribuição quena, em geral estabelecem bancos de semen-
da germinação (Figura 13.8). tes transientes, isto é, de curta duração. Esse
Estudos de germinação conduzidos com se- tipo de comportamento é típico de espécies que
mentes de Cassia excelsa, uma leguminosa da ocorrem em ambientes úmidos, como flores-
Caatinga amplamente utilizada na ornamenta- tas; normalmente as sementes são de curta
ção urbana, mostram que, em temperaturas ex- viabilidade e germinam prontamente quando
tremas, a germinação tende a apresentar um dispersas (Leck, Parker e Simpson, 1989). Di-
comportamento platicúrtico, enquanto, próxi- versas espécies da Amazônia apresentam esse
ma da faixa ou temperatura ótima, há uma ten- comportamento (I. Ferraz, comunicação pes-
dência da distribuição da germinação tornar- soal). Assim, a variação de germinação permite
se meso ou mesmo leptocúrtica. Polígonos de prever ou postular o comportamento germina-
freqüência têm sido utilizados amplamente tivo de dada espécie sob condições naturais. A
para avaliar efeitos de tratamentos diversos (em dinâmica do banco de sementes é discutida no
especial da temperatura) na distribuição tem- Capítulo 14.
poral da germinação para diversas espécies (La- Por outro lado, as curvas de distribuição
bouriau e Valadares, 1976; Lima, Borghetti e temporal da germinação sob diferentes tempe-
Sousa, 1997). De modo geral, a análise dos raturas (ou outros tratamentos) permitem infe-
polígonos de freqüência mostra que a variação rir sobre mecanismos moleculares envolvidos
da germinação, assim como a velocidade mé- no controle do processo. Sabe-se que a distri-
dia, também depende da temperatura de incu- buição normal (gaussiana) reflete a máxima
bação das sementes. Se for considerado que a incerteza de um sistema ou entropia informa-
temperatura no solo varia em função de diver- cional. A informação fornecida por esse tipo de
sos fatores, como profundidade, tipo e cor do curva sobre o sistema em estudo é mínima. En-
solo e incidência luminosa, a velocidade e a dis- tretanto, se a distribuição das freqüências é sig-
tribuição temporal da germinação das semen- nificativamente diferente de uma normal, isso
tes in situ também poderão ser completamente implica a existência de sinais que se sobrepõem
diferentes em função dos fatores que afetam a ao ruído (térmico) aleatório no controle da ger-
temperatura do substrato. minação (Labouriau, 1983). Esse caso se ma-
Uma grande variação de germinação sugere nifesta, por exemplo, em padrões de germina-
que, sob condições naturais, a germinação pode ção leptocúrticos, quando grande parte das se-
se estender de dias a meses, desde que os diás- mentes germina em um curto espaço de tempo.
poros se mantenham viáveis no substrato em Esse tipo de curva sugere que a germinação não
que se encontram. Espécies que apresentam está ocorrendo ao acaso no lote em estudo, mas

Germinação_13ok.p65 219 17/05/2004, 17:44


220 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

80 12oC
60 Nt = 9
40 Tm = 19,08
20
0
80 o
15 C
60 Nt = 164
40 Tm = 12,37
20
0
80
18oC
60
Nt = 187
40 Tm = 6,11
20
0
80
60 21oC
Nt = 188
40
Freqüência relativa (%)

Tm = 4,12
20
0
80
24oC
60
Nt = 177
40 Tm = 3,05
20
0
80
60 27oC
40 Nt = 185
20 Tm = 3,13
0
80
30oC
60 Nt = 193
40 Tm = 7,72
20
0
80
33oC
60
Nt = 187
40
Tm = 8,87
20
0
80
60 36oC
Nt = 174
40
Tm = 11,92
20
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27

Tempo (dias)
! Figura 13.8
Freqüências de germinação das sementes de Cassia excelsa sob diferentes temperaturas de incubação (Jellez
e Perez, 1999).

sim respondendo a algum mecanismo de con- sob temperaturas extremas e tende a ser maior
trole da germinação que resulta na sincroniza- quanto mais próxima a temperatura de incuba-
ção do processo. ção estiver da faixa ótima para a germinação
Diversos estudos têm estimado o grau de (Tabela 13.1).
sincronismo na germinação das sementes, nor- O predomínio de distribuições de freqüên-
malmente sob diferentes temperaturas de incu- cia não-gaussianas (e polimodais) da germina-
bação. De modo geral, o sincronismo é menor ção das sementes sob temperaturas extremas

Germinação_13ok.p65 220 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 221

Tabela 13.1 Alguns parâmetros da distribuição de freqüências isotermas dos tempos médios de
germinação de sementes de Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987)

Índice de Kolmogorov-
Temperatura Moda sincronização Smirnov
(oC) (horas) (U, em bits) Dmax.105 Assimetria (G1) Curtose (G2)

4,2 1198 2,05 47336 * 2,273 4,785


6,7 384 6,47 16948 * 1,129 0,860
9,9 184 5,57 20036 * 1,208 0,365
12,0 96 3,67 11215 * -0,275 -0,764
13,9 72;88 3,66 17915 * 0,751 -0,876
16,2 56 3,42 30592 * 1,597 1,517
18,4 40 2,95 34666 * 2,074 3,720
22,2 32 2,33 32297 * 1,583 1,445
23,2 24 2,27 31828 * 1,750 1,595
24,8 24 1,99 34339 * 2,778 8,051
26,7 24 2,03 35473 * 2,680 7,566
28,1 16 1,80 36301 * 1,405 0,004
30,2 16 1,70 33957 * 1,576 1,173
32,3 16 1,76 34404 * 1,570 1,175
35,2 24 2,03 25735 * 1,101 -0,046
37,9 24 2,83 14129 NS -0,991 1,185
39,3 64 2,94 27312 * 0,461 -1,578

mostra, por exemplo, a heterogeneidade fisioló- BIBLIOGRAFIA SELECIONADA


gica do lote de sementes em estudo, que se ma- ASTARITA, L.V.; FERREIRA, A.G.; BERGONCI, J.I. Mi-
nifesta principalmente pela perda do sincronis- mosa bimucronata allelopathy and osmotic stress.
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evidente nos dados torna a interpretação dos
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resultados muito mais rica e a discussão do tra- gia Vegetal, v. 12(especial), p. 175-204, 2000.
balho muito mais interessante e inovadora.
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Germinação_13ok.p65 221 17/05/2004, 17:44


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