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POTENCIAL ALELOPÁTICO DE Conyza bonariensis NA GERMINAÇÃO DE

Lactuca sativa L.

PICCININI, F. (UFSM, Santa Maria/RS - piccininiroca@hotmail.com), REIMCHE, G. (UFSM,


Santa Maria/RS - Geovane_reimche@yayoo.com), RECK, L. (UFSM, Santa Maria/RS –
liareck@yahoo.com.br), CORADINI, C. (UFSM, Santa Maria/RS –
cesar_coradini@hotmail.com), MACHADO, S.L.O. (UFSM, Santa Maria/RS –
slomachado@yahoo.com.br)

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo avaliar a influência do extrato aquoso de Conyza
bonariensis (buva) em diferente estágio de desenvolvimento na germinação de Lactuca
sativa (alface). O experimento foi conduzido no laboratório de Controle de Plantas Daninhas
do Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições.
Os dados obtidos foram submetidos à Análise de Variância Bifatorial sendo o fator A
representado por dois estágios de desenvolvimento (vegetativo e reprodutivo) e o fator B
pelas partes da planta (folha, caule e raiz). Os tratamentos foram comparados através do
teste de Tukey, ao nível de 5% de significância pelo programa Assistat Versão 7.6 (2012).
As características avaliadas em L. sativa foram: porcentagem de germinação e índice de
velocidade de germinação (IVG). Pode-se concluir que ocorreu efeito alelopático do extrato
aquoso de buva na germinação de sementes de alface.

Palavras-chave: buva, compostos secundários, alelopatia.

INTRODUÇÃO
C. bonariensis popularmente conhecida como “buva” pertence à família Asteraceae,
são encontradas nas zonas subtropicais e temperadas da América do Sul. O gênero Conyza
tem importância mundial, já que é uma espécie cosmopolita e de caráter negativo por ser
planta invasora de diferentes culturas (Kissmann & Groth, 1991).
As plantas superiores possuem a capacidade de sintetizar, acumular e secretar
grande variedade de metabólitos secundários, denominados de aleloquímicos. Quando
lançados no ambiente os aleloquímicos promovem reações bioquímicas entre plantas e
microrganismos, cujos efeitos podem ser benéficos ou prejudiciais (Silva & Silva, 2007).
Estudos conduzidos por Wandscheer & Pastorini (2008) revelam que o uso de
extratos de Raphanus raphanistrum L. apresentou efeito alelopático na germinação de
alface e tomate. Segundo Rizzardi et al. (2008) revelaram que extratos aquosos de canola e

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também sua palha influenciaram negativamente a porcentagem de germinação e a
velocidade de emergência de plantas de picão-preto Bidens pilosa (picão-preto) e de
Glycine max (soja).
Bernarcki (2004) relata que as espécies C. canadenses são alelopáticas e impedem
a germinação de outras plantas. Sabe-se que, está espécie possui metabólitos associados à
poliacetilenos, exsudados principalmente pelas raízes (Weaver, 2001). Entretanto, são
poucas pesquisas corroborando com os autores.
O aparecimento de biótipos resistentes aos diferentes mecanismos de ação por meio
de herbicidas tem dificultado controlar Conyza sp. acarretando novas técnicas para
substituição ou utilização concomitante a métodos químicos. Por sua importância
principalmente em lavouras de soja sob o sistema de plantio direto este trabalho teve como
objetivo determinar os possíveis efeitos alelopáticos de C. bonariensis sobre a germinação
de L. sativa L.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Controle de Plantas Daninhas da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul (RS).
Foram coletadas plantas de buva no estágio vegetativo e reprodutivo em Fevereiro
de 2012 no Departamento de Defesa Fitossanitária, Santa Maria - RS. Após coletadas as
plantas permaneceram a sombra secando por oito dias até a sua utilização.
Os materiais secos e moídos foram submetidos à trituração no liquidificador; 10 g de
matéria seca de cada parte da planta, e adicionado 100 mL de água destilada, obtendo-se a
solução estoque. Após trituração da solução, os materiais foram filtrados e o extrato
permaneceu em temperatura ambiente por 24 horas.
O bioensaio de germinação foi desenvolvido em câmara de germinação com
temperatura constante de 25ºC e fotoperíodo de 12 horas. Como planta indicadora dos
efeitos potências alelopáticos foi utilizado alface. Foram colocadas 50 sementes de alface
por placa de Petri de vidro com 9 cm de diâmetro com duas folhas de papel filtro
previamente esterilizado. Em cada placa foi adicionado 5,0 mL de cada extrato a ser
testado.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com esquema
fatorial e quatro repetições, sendo que os tratamentos constaram de dois fatores: fator A -
preparo do extrato (planta no estádio vegetativo e planta no estádio reprodutivo) e fator B -
órgão da planta (raiz, caule e folha), para o controle utilizou-se 5 mL de água destilada. As
avaliações foram realizadas em intervalos de 24 horas durante um período de sete dias.
Considerou-se germinadas as sementes que apresentavam a radícula com tamanho
superior a 50% ao da semente. Posteriormente foram calculados a porcentagem de

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germinação (PG) e o índice de velocidade de germinação (IVG), segundo Ferreira et al.
(2008).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste
de Tukey a 0,05 de probabilidade de erro com o uso do programa Assistat Versão 7.6
(2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os efeitos dos extratos aquosos obtidos da planta de C. bonariensis coletadas no
estágio vegetativo e reprodutivo apresentaram diferença estatística sobre germinação final
de sementes de alface para folha e caule em relação ao controle (Figura 1). As folhas e o
caule proporcionaram menor porcentagem de germinação para ambos os estágios sendo
que para o estágio vegetativo houve maior inibição. Esses resultados corroboram com os
resultados encontrados por Economou et al. (2002) que mostram que os aleloquímicos nas
plantas variam de acordo com o tipo do tecido, bem como da fenologia da planta.

Figura 1. Germinação (%) de sementes de alface expostas aos exsudatos de folha, caule e
raiz de buva. UFSM, Santa Maria, RS, 2012.
* Médias seguidas pela mesma letra minúscula para colunas e maiúscula para linhas não
diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

O IVG diferiu estatisticamente entre os estágios para as partes raiz e caule (Tabela
1). Observa-se que os valores de IVG reforçam os valores encontrados na porcentagem de
germinação, onde os menores índices foram para a planta no estágio vegetativo e para a
folha. Segundo Yamauti et al. (2010) os possíveis efeitos alelopáticos se devem a parte
aérea da planta, estando de acordo com os estudos de Economou et.al. (2002) no qual
relatam inibição no crescimento de mudas de aveia, principalmente com extratos da parte
aérea (folhas).

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Tabela 1. Índice de velocidade de germinação de sementes de alface, expostas aos
exsudatos de folha, caule e raiz de buva. UFSM, Santa Maria, RS, 2012.
Estágio Partes Média
Folha Caule Raiz Controle
Vegetativo 0 aC* 0,5 bC 45,6 bB 84,9 aA 32,7
Reprodutivo 0,1 aD 38,3 aC 53,8 aB 84,9 aA 44,9
Média 0,5 19,4 49,7 84,9
*As médias seguidas pela mesma letra minúscula para colunas e maiúscula para linhas não
diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

A alelopatia remete muitos estudos, já que ela potencializa um papel substituto a


produtos químicos, sendo uma ótima ferramenta principalmente como inseticida confirmado
por Peterson et al. (1989) que afirma a atividade alelopática de Conyza como inseticida
devido apresentar extrato rico em etanol.
Sabe-se que os compostos secundários de caráter alelopático podem ser benéficos
para a agricultura sustentável, além de poder ajudar quanto à pressão de seleção de
genótipos resistentes aos agroquímicos com mesmos mecanismos de ação utilizados nos
últimos anos.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a espécie Conyza bonariensis apresenta potencial alelopático
sobre o crescimento de Lactuca sativa, sendo mais acentuado no estágio vegetativo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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