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C A P Í T U L O 3
DESENVOLVIMENTO DE SEMENTES
E CONTEÚDO DE ÁGUA
Renato Delmondez de Castro
Kent J. Bradford
Henk W. M. Hilhorst
O ciclo de vida em plantas superiores compre- 3.1C) tem contribuído com indícios sobre os pro-
ende o desenvolvimento de uma semente se- gramas regulatórios que controlam ambos os pe-
guido por sua germinação e o desenvolvimento ríodos (Chlan e Dure, 1983; Dure, 1985; Peng e
pós-germinativo por meio do crescimento da Harberd, 2002; Nambara e Marion-Poll, 2003).
planta. Conforme pode ser visto na Figura 3.1, Ao longo das décadas, diversas espécies tor-
ambos os períodos são marcados por eventos naram-se modelos para o estudo da biologia
fisiológicos específicos relacionados às mudan- da semente. Sementes da Pisum sativum (ervi-
ças distintas no peso fresco, no peso seco e no lha) foram usadas extensivamente para o estu-
conteúdo de água, além de padrões distintos do do desenvolvimento de sementes e da parti-
de expressão de genes representados pelo acú- ção de assimilados (Wang e Hedley, 1991).
mulo de mRNAs específicos. A água acaba por Grãos de cereais têm sido usados para revelar
ter um papel-chave em todos esses processos, as rotas e o controle da mobilização do endos-
na medida em que a semente muda de um esta- perma pela camada de aleurona. Em Zea mays
do metabolicamente ativo para um estado inativo (milho) e Triticum aestivum (trigo), estudos ex-
após a maturação, por efeito da dessecação, re- tensivos foram empreendidos para aprimorar
tornando depois ao estado metabolicamente ativo a qualidade da semente, tanto para a melhoria
durante a germinação (Bewley e Black, 1994; do estande como para o valor nutritivo (Fincher,
Kermode, 1995; De Castro e Hilhorst, 2000). 1989; Jones e Jacobsen, 1991). As sementes de
Os processos morfológicos e fisiológicos que Arabidopsis thaliana arabidopsis (Arabidopsis tha-
ocorrem durante o desenvolvimento e a germi- liana) estão em uso para estudos genéticos e
nação da semente têm sido extensivamente es- moleculares, empregando grandes grupos de
tudados e descritos (Figura 3.1A e B). Entretan- mutantes (Feldman et al., 1994; Meinke et al.,
to, informações sobre os mecanismos regula- 1998). A semente de Lycopersicon esculentum (to-
tórios que controlam esses processos começa- mate) tem sido usada para estudar a fisiologia
ram a surgir somente após a introdução de téc- e a bioquímica do desenvolvimento da semente,
nicas genéticas e moleculares (Bewley e Black, a germinação e a dormência (De Castro e Hi-
1994; Goldberg, De Paiva e Yadegari, 1994; lhorst, 2000).
Harada, 1997; Raghavan, 1997). A análise das Com tudo isso, a compreensão sobre os pro-
mudanças nos padrões da expressão de genes cessos envolvidos no desenvolvimento e na ger-
que ocorrem durante o desenvolvimento da se- minação de sementes expandiu dramaticamen-
mente e o crescimento pós-germinativo (Figura te ao longo das últimas décadas. Contudo, há
Histodiferenciação Crescimento
(morfogênese) Maturação Dessecação pós-germinativo
(expansão) Germinação
Semente
seca
A
Divisão celular Metabolismo Metabolismo Mobilização
reduzido reativado de reservas
Expansão celular Respiração,
Deposição de reservas síntese de ácidos
nucléicos e
proteínas
Quiescência
(semente seca madura) Alongamento
celular
Dormência
(em alguns casos) Divisão celular
Reparo de
membranas
e DNA
Intolerante à
Intolerante à dessecação Tolerante à dessecação dessecação
B
Conteúdo de água, % peso fresco (———)
C
Constitutivos
Embrião-específico
Embriogênese
Proteínas LEA
inicial
Proteínas de reserva abundantes na
embriogênese tardia
LEA / germinação
Germinação-específico
! Figura 3.1
Desenvolvimento e germinação de sementes. Um esquema geral de eventos associados com as diferentes
fases de desenvolvimento, germinação e crescimento pós-germinativo de sementes, incluindo (A) ciclo celular,
eventos metabólicos e de reparo e períodos em que a semente (embrião) é intolerante ou tolerante à desse-
cação; (B) mudanças no peso fresco, no peso seco e no conteúdo de água de sementes inteiras; (C) padrão
de expressão de genes em estádios específicos, por meio de uma representação conceptual do acúmulo de
sete conjuntos de mRNA que ocorrem durante o desenvolvimento da semente. Adaptada a partir de Dure
(1985), Kermode (1995), Comai e Harada (1990) e De Castro e Hilhorst (2000).
muito a ser aprendido sobre o controle do de- lativo ao peso seco) diminui, enquanto a maté-
senvolvimento, principalmente nos níveis mo- ria seca substitui a água nas células. Finalmen-
lecular e hormonal. Eventos como a dormência te, o desenvolvimento da maioria das sementes
(ver Parte 2) e a tolerância à dessecação, assim termina com uma fase pré-programada da seca-
como muitos outros assuntos de importância gem de maturação ou dessecação (Figura 3.1A
primordial na ciência da semente devem ser e B). Caracteristicamente, essas sementes são
ainda desvendados. Isso significa que muito es- chamadas ortodoxas porque se submetem a al-
tudo integrado e interdisciplinar ainda é reque- gum grau de secagem ou de dessecação caracte-
rido na ciência das sementes stricto sensu, a fim rístico em função de um declínio rápido do con-
de compreendermos melhor sua função e seu teúdo de água e da diminuição do peso fresco
comportamento. (Bewley e Black, 1994). Isso resulta em uma
redução gradual no metabolismo da semente,
e o embrião passa para um estado de metabolis-
FASES DO DESENVOLVIMENTO mo mínimo ou estado quiescente. Sementes or-
DE SEMENTES todoxas e outras estruturas tolerantes à desse-
Na maioria das sementes, o desenvolvimento cação, como esporos e grãos de pólen, são exclu-
pode ser dividido convenientemente em três fa- sivas quanto ao grau de perda de água tolerado:
ses confluentes (Figura 3.1). A primeira fase é de 90 a 95% da água é removida durante o de-
caracterizada pelo crescimento inicial devido senvolvimento e a dessecação (Black e
primeiramente à divisão celular e a um aumen- Pritchard, 2002). Nesse estado desidratado, a
to rápido no peso fresco da semente inteira e semente pode sobreviver aos estresses am-
no conteúdo de água. Nessa fase, a água repre- bientais e, a menos que esteja dormente, reco-
senta a maior parte do peso da semente (Figu- meçará a atividade metabólica, o crescimento
ras 3.1A e B). Como descrito no Capítulo 1, du- e o desenvolvimento quando as circunstâncias
rante essa etapa, a histodiferenciação e a mor- condutoras à germinação e ao crescimento fo-
fogênese da semente acontecem à medida que rem fornecidas (Figura 3.1), conforme revisto
o zigoto unicelular se submete a divisões mitó- nos Capítulos 8 e 9.
ticas extensivas, e as células resultantes se di-
ferenciam para dar forma ao plano básico do
corpo do embrião (o eixo embrionário e os co- RELAÇÃO FONTE-DRENO NO
tilédones) (Yadegari e Goldberg, 1997). Simul- DESENVOLVIMENTO DE
taneamente, há a formação do endosperma (ou SEMENTES
xenófito, Capítulos 1 e 4) triplóide nas angios- As sementes são dependentes de outras partes
permas ou do megagametófito haplóide nas da planta como fontes de matéria-prima para
gimnospermas (Bewley e Black, 1994). A divi- o crescimento e o acúmulo de reservas (Egli,
são de células acaba relativamente cedo no de- 1998). Obviamente, as folhas são a fonte primá-
senvolvimento da semente. Depois disso, há ria de açúcares produzidos por meio da fotos-
uma fase intermediária de maturação, na qual síntese; mas, em algumas plantas, os tecidos
a semente aumenta de tamanho devido, princi- verdes do fruto também contribuem substan-
palmente, à expansão das células e à deposi- cialmente. Somada à fotossíntese atual, a re-
ção de reservas (normalmente proteínas junto mobilização de carboidratos e particularmente
com lipídeos ou carboidratos) inicialmente nos de aminoácidos (que contêm nitrogênio) de ou-
tecidos de armazenamento (nos cotilédones, no tras partes da planta também pode contribuir
endosperma ou no megagametófito) (Figura para o crescimento da semente. Nutrientes
3.1A e B). Durante essa fase, os vacúolos dimi- minerais são absorvidos pelas raízes e transpor-
nuem de tamanho à medida que os compostos tados principalmente pelo xilema para os brotos
de armazenamento se acumulam e o peso seco e as folhas. Nesses locais, entretanto, tais nu-
aumenta (Capítulo 2). O conteúdo de água (re- trientes são transferidos para a seiva do floema
100 5
60 3
40 2
20 1
0 0
21 28 35 42 49 56 63 70
Dias de desenvolvimento após a antese
! Figura 3.5
Germinabilidade (curvas com círculos) e conteúdo de ABA (curvas com triângulos) durante o desenvolvimento
de sementes de tomate do tipo selvagem (símbolos fechados) e de tomate sitw mutante deficiente em ABA
(símbolos abertos). A germinabilidade das sementes do tipo selvagem aumenta durante a histodiferenciação
(embrião) e diminui durante a maturação devido à aquisição de dormência, em uma relação direta com o
aumento no conteúdo de ABA (Unidade Arbitrária – UA). Quando o conteúdo de ABA se torna mínimo, a
dormência é gradualmente perdida, e a germinabilidade volta a aumentar. As sementes sitw não adquirem
qualquer nível de dormência após a histodiferenciação, mantendo-se completamente germináveis, em uma
relação direta com o conteúdo de ABA, que é bastante baixo durante todo o desenvolvimento. O conteúdo de
ABA não foi medido durante a fase de dessecação em sementes sitw em função da ocorrência de viviparidade
após a maturação. Adaptada a partir de De Castro e Hilhorst (2000).
tipos selvagem e mutante indicam que o ABA envolvidos em manter o estado de desenvolvi-
materno (localizado em tecidos da testa e do mento das mesmas, evitando a transição para
fruto) não tem nenhuma influência na dor- o estágio vegetativo ou de crescimento. Em ou-
mência. O aumento no conteúdo de ABA du- tras palavras, as sementes dos mutantes que ca-
rante o desenvolvimento da semente parece ser recem desses genes tendem a progredir direta-
necessário para que haja a indução de dormên- mente do padrão de desenvolvimento para o de
cia. A manipulação do conteúdo de ABA de se- crescimento pós-germinativo, sem a interrupção
mentes por meio da transformação genética do normal do desenvolvimento que precede a desse-
tabaco mostra que a superexpressão de zeaxan- cação.
tina epoxidase, uma das enzimas da rota de sín- Existem atualmente muitas ferramentas
tese do ABA, resulta em fenótipos mais dor- moleculares disponíveis com a finalidade de
mentes, ao passo que a supressão do gene co- analisar a função dos genes no desenvolvimen-
dificador para essa enzima rende fenótipos me- to. A análise da inativação de genes específicos
nos dormentes (Frey et al., 1999). Um aumento e de mutantes (gene knockout and mutant analy-
similar em dormência foi verificado quando sis) é um método revelador de um grande nú-
uma outra enzima da rota de síntese do ABA, a mero de genótipos com características de dor-
9-cis-epoxicarotenóide dioxigenase (NCED), foi mência alteradas em suas sementes, mas que
superexpressada (Qin e Zeevaart, 2002). As se- possuem conteúdos normais de ABA durante
mentes maduras do mutante sitiens deficiente todo o desenvolvimento. Os mutantes são
em ABA podem germinar dentro do fruto car- exemplos de arabidopsis dos tipos abi3, leafy co-
noso (germinação vivípara ou viviparidade) (Ni tyledon (lec1, lec2), que apresentam cotilédones
e Bradford, 1993; Downie, Gurusingle e folhosos, e fusca (fus3), que acumulam anto-
Bradford, 1999) (Figura 3.5). Isso não ocorre cianina nos cotilédones. Todos esses mutantes
nos frutos do tipo selvagem, apesar de os con- apresentam inativação de um único gene e pos-
teúdos de ABA no fim da maturação serem suem fenótipos que são característicos do es-
comparavelmente baixos em ambos os genóti- tado vegetativo da planta, tais como tolerância
pos. Assim, o ABA faz mais do que inibir direta- reduzida à dessecação, meristemas ativos, ex-
mente a germinação. pressão de genes relacionados à germinação e
Além do conteúdo de ABA, a sensibilidade ausência de dormência. Os loci LEC1 e FUS3
a este também pode ter um papel na expressão provavelmente regulam a interrupção do de-
de dormência ou na inibição da germinação senvolvimento, visto que as mutações nesses
(Welbaum e Bradford, 1990; Still e Bradford, genes causam crescimento continuado em em-
1998). Existem cultivares de trigo e milho que briões imaturos (Parcy et al., 1997). A dormên-
exibem viviparidade sob condições ambientais cia controlada por ABA, observada nos mutan-
mornas e úmidas, evento conhecido na prática tes ABA e ABI, pode representar um mecanismo
como brotação pré-colheita. Cultivares suscep- diferente de impedimento da germinação, que
tíveis à viviparidade apresentam uma sensibili- ocorre tardiamente e é aditivo à interrupção do
dade reduzida ao ABA. Análises conduzidas em desenvolvimento controlada pelos genes LEC1
mutantes de arabidopsis e de milho que apre- e FUS3. Mostrou-se, em arabidopsis, que o ABI3
sentam viviparidade levaram à identificação de também é ativo durante processos vegetativos
genes responsivos ao ABA, os quais são respon- de quiescência em outras partes da planta, nas
sáveis por essas características fenotípicas, sen- quais suprime atividades meristemáticas
do codificados por ABI3 e VP1, respectivamente (Rohde, Kurup e Holdsworth, 2000). Uma vez
(Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002). Esses que a maior parte da maturação é defeituosa
genes homólogos codificam fatores de trans- nos mutantes abi3, lec1, lec2 e fus3, nenhuma
crição com função na regulação da expressão dormência é iniciada, e as sementes podem
de genes. Foram identificados como sendo pi- germinar precocemente (viviparidade), sobre-
votais no desenvolvimento de sementes, estão tudo quando combinadas com a deficiência de
Crowe, 1992). A molécula de trealose tem a es- longevidade de sementes secas (Leopold, Sun,
trutura apropriada para a interpolação entre os Bernal-lugo, 1994; Buitink et al., 2000). Assim
grupos polares dos fosfolipídeos de membra- como no caso das proteínas LEA, as contribui-
nas enquanto ocorre a perda de água (Figura ções específicas dos oligossacarídeos para a to-
3.6). A substituição da água pela trealose faz lerância à dessecação e para a longevidade de
com que seja mantida a estrutura de bicamada sementes no estado seco permanecem sem es-
(ou camada dupla da membrana) quando no clarecimentos (Buitink, Hoekstra e Leprince,
estado seco. Similarmente, a trealose pode im- 2002; Gurusinghe e Bradford, 2001).
pedir o desenovelamento e a denaturação das Geralmente, o estágio final do desenvolvi-
proteínas durante o processo de desidratação. mento da semente é a dessecação ou desidrata-
Sementes não contêm trealose. No entanto, a ção do equilíbrio de umidade com o ambiente
sacarose, possivelmente junto com os (algumas exceções serão apontadas subseqüen-
oligossacarídeos, pode executar a mesma fun- temente). Assim, as sementes passam por di-
ção na preservação das estruturas de mem- versos níveis críticos de umidade que afetam a
branas e proteínas. Além disso, esses açúcares atividade metabólica e podem causar danos aos
podem promover a formação de um estado de tecidos intolerantes à desidratação (Figura 3.7)
gel, vítreo ou de vidro em tecidos secos. Um (Vertucci e Farrant, 1995; Walters et al., 2002).
estado de gel ou vítreo caracteriza-se por ser Em algumas sementes, a desidratação ocorre
um estado contínuo amorfo que tem viscosi- rapidamente durante apenas alguns dias, en-
dade muito elevada (vitrificação). A presença quanto em outras, sobretudo naquelas do in-
de um estado vítreo retarda extremamente as terior de frutos carnosos, ocorre durante um
reações químicas que podem conduzir à degra- período mais prolongado, podendo ser bem
dação de componentes da semente, impedin- menos acentuada (como no tomate, no melão,
do ainda a fusão de membranas e o conseqüen- etc.). A tolerância à dessecação contribui para
te rompimento da compartimentalização celu- a dispersão de sementes e permite que uma
lar (Buitink, Hoekstra e Leprince, 2002). O espécie sobreviva durante os períodos desfavo-
estado vítreo contribui provavelmente para a ráveis para o crescimento da planta. Muitas
Estado gel/vítreo
(bicamada seca)
Cristalino líquido
(bicamada seca com trealose)
! Figura 3.6
Ilustração do mecanismo de “substituição da água” por meio do qual açúcares estabilizam membranas fosfo-
lipídicas durante a secagem e a hidratação. O açúcar (trealose, sacarose, etc.) substitui a água durante a
dessecação, mantendo espaço apropriado entre as cabeças dos grupos polares das moléculas de fosfolipídeos.
Quando as membranas são reidratadas, elas não passam por uma fase de transição (fase gel para fase cristalino
líquido) e, dessa forma, não lixiviam conteúdos celulares. Adaptada a partir de Oliver, Crowe e Crowe, (1998).
5
semente muito recalcitrante
(e.g. Avicenia marina)
estresse
mecânico
enchimento de vacúolos vacuolização
afrouxa a área de superfície
cedendo ao volume
hidrólise de
4
NÍVEL DE HIDRATAÇÃO
GERMINAÇÃO
GERMINÁVEL
2 atividade catabólica
vidro aquoso
VACUOLIZAÇÃO
PÓS-ABSCISÃO*
PRÉ-DESSECÇÃO*
DESSECÇÃO*
QUIESCÊNCIA*
REINÍCIO DO
METABOLISMO*
DIFERENCIAÇÃO DO
EIXO E
DESENVOLVIMENTO
ACÚMULO DE
MATÉRIA SECA
EMBEBIÇÃO E REATIVAÇÃO
DE MEMBRANAS E
ENZIMAS*
PROTUSÃO RADICULAR E
CRESCIMENTO
DESENVOLVIMENTO
! Figura 3.7
Diagrama esquemático da tolerância à dessecação em sementes em relação a eventos de desenvolvimento.
Cinco níveis de hidratação são representados em relação a eventos de desenvolvimento em sementes ortodo-
xas e recalcitrantes. A linha sólida representa o nível de umidade abaixo do qual a secagem é letal para
sementes ortodoxas; a linha pontilhada representa sementes recalcitrantes. Processos de desenvolvimento
(ao longo da abscissa) que estão marcados com asterisco (*) não ocorrem em sementes recalcitrantes. Adap-
tada a partir de Vertucci e Farrant (1995).
61-80 4
20
81-100 5
0
33 40 48 54 61
! Figura 3.8
Padrão indeterminado de florescimento em um racemo de Brassica. O diagrama à esquerda mostra que o
florescimento progride da extremidade proximal para a distal em uma dada inflorescência ou racemo. A
figura à direita mostra que a maturidade das sementes (conforme indicado pelo conteúdo de água decrescente)
também progride da extremidade proximal para a distal do racemo. Adaptada a partir de Still e Bradford (1998).
prejudicial à qualidade da semente. O atraso BORISJUK, L.; WANG, T. L.; ROLLETSCHEK, H.;
na colheita de frutos de melão (a ponto de co- WOBUS, U.; WEBER, H. A pea seed mutant affected in
the differentiation of the embryonic epidermis is
meçarem a se deteriorar no campo) causa perda
impaired in embryo growth and seed maturation.
de viabilidade das sementes (Welbaum, 1993). Development, v. 129, p. 1595-1607, 2002.
As sementes incham tanto que causam fissura
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do tegumento, circunstância conhecida como of seed development: a critical review. Crop Science, v.
“boca de peixe”. Isso resulta em danos ao em- 34, p. 1-11, 1994.
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TIPOS DE DIÁSPOROS
E SUAS ORIGENS
Maria Estefânia Alves Aqüila
Em pesquisas que envolvem fruto e semente é Gaertner, em 1788, definiu fruto “o ovário
muito comum a utilização imprecisa de con- desenvolvido, portando, as sementes já feitas”
ceitos, observável em frases facilmente encon- (Font-Quer, 1977). Constata-se que essa defi-
tradas na literatura como as que seguem: “os nição exclui os frutos partenocárpicos. Ao longo
endocarpos germinaram em 30 dias”; “as se- do tempo, outros conceitos foram propostos,
mentes foram escarificadas pela remoção da le- dentre eles o de Barroso e colaboradores (1999),
ma e da pálea”; “as dosagens de açúcares foram que definem fruto “como o último estádio de
feitas nos cotilédones e no embrião”. Essa uti- desenvolvimento do gineceu fecundado ou
lização incorreta da nomenclatura conduz a não”. Essa definição já inclui os frutos parte-
equívocos tanto na compreensão do texto como nocárpicos, mas continua sendo apenas mor-
na reutilização da informação. fológica.
Outro aspecto que envolve a nomenclatura As duas definições fornecidas excluem to-
dessa área é o uso de termos que se consagra- das as estruturas classificadas como pseudo-
ram, mas nem por isso são os mais adequados frutos (Vidal e Vidal, 2003) e dificultam a ca-
ou corretos para conceituar as estruturas que racterização da unidade experimental quando
identificam, como endosperma, óvulo, ovário, essas estruturas são estudadas em seu aspecto
entre outros. Um erro não deixa de ser um erro, funcional, ecológico ou tecnológico. Devido à
e repeti-lo mil vezes não o transforma em um essa dificuldade, no início do século XX, Sin-
acerto: apenas perpetua a ignorância. nott (1935) e, mais tarde, Nitsch (1965) propu-
Confundir fruto com semente tem sido seram uma definição funcional, na qual “um
uma constante desde o século XVIII (Font- fruto consiste daqueles tecidos que contêm os
Quer, 1977). Por isso, este capítulo tem por obje- óvulos da planta sendo fisiologicamente depen-
tivo analisar alguns dos conceitos mais utiliza- dentes das mudanças que ocorrem nos mes-
dos e propor aquele que seria o mais adequado mos”. Por essa definição, os pseudofrutos são
em condições experimentais. Os assuntos es- considerados frutos, mas os partenocárpicos,
tão organizados na seguinte ordem: conceito não, pois estes carecem de óvulos.
de diásporo, sua classificação e sua origem. As Semente, na conceituação morfológica, é
citações entre aspas são transcrições literais. definida como o último estádio de um rudimen-
to seminal (óvulo) fecundado e plenamente de-
senvolvido. Essa definição é ostogenético-estru-
CONCEITO DE DIÁSPORO tural e não satisfaz que o aspecto funcional,
Não se pode falar em diásporo sem esbarrar nas uma vez que nem sempre as estruturas que exer-
dificuldades conceituais encontradas nas áreas cem a função de disseminar uma angiosperma
morfológica, fisiológica, ecológica e tecnológica. se enquadram nessa definição de semente.
Barroso et al., 1999). Dentre essas classificações, O caroço típico das drupas não é semente
os frutos secos indeiscentes e monospérmicos porque não se ajusta à definição das mesmas,
são os mais confundidos com sementes, porque, uma vez que, nessa estrutura, as células do en-
com freqüência, constituem as unidades experi- docarpo se transformam em macroesclereídeos
mentais nos ensaios de germinação. durante o desenvolvimento do fruto, formando
O Quadro 4.1 relaciona estruturas que uma estrutura difícil de ser removida (Souza,
deveriam ser chamadas de diásporos quando Moscheta e Mourão, 2003).
utilizadas como unidades experimentais, uma A etimologia do termo endocarpo diz que
vez que, conceitualmente, é mais apropriado endo equivale a interno, e carpo, do grego χαρπóς,
dizer que os diásporos de alface germinaram significa fruto. Literalmente, o termo endocar-
em 12 horas do que chamar aquênio (um tipo po significa um fruto interno, sendo utilizado
de fruto seco) de semente. para identificar a camada mais interna do pe-
As espiguetas fazem parte da inflorescência ricarpo, que pode se formar pela metamorfose
das gramíneas. Nesse caso, quando o tratamen- sofrida pela epiderme interna (adaxial) da folha
to pré-germinativo é a remoção das glumas, po- carpelar durante a transformação do ovário em
de-se estar, de fato, colocando a semente para fruto. Tanto pelo significado da palavra endo-
germinar, de forma que é inadequado dizer que carpo como pelo fato de este ser formado por
a semente foi escarificada pela remoção das glu- um tecido que pode estar morto, no caso dos
mas. Nenhuma semente é escarificada pela re- caroços, não é apropriado usá-lo como sinôni-
moção das partes florais. mo de semente ou mesmo de diásporo. Nesse
Caroço, do latim core, “coração, núcleo”, é caso específico, fica estranho estudar a germi-
o termo que identifica o núcleo, lenhoso e mui- nação de um tecido morto.
to duro, dos frutos do tipo drupa (Ferreira, Barroso e colaboradores (1999) usam o ter-
1986). mo pirênio como sinônimo de endocarpo le-
Quadro 4.1 Exemplos de estruturas que deveriam ser chamadas de diásporo, segundo a conceituação
de Sernander (1927; apud Font-Quer, 1977), em ensaios de germinação, armazenamento e tecnologia
nhoso. Contudo, em grego, pirênio (πνρητον) depende de fatores fisiológicos, ligados ou não
é diminutivo de pireno, termo que significa um- a ritmos que desencadeiam a floração. Para que
bigo (Font-Quer, 1977), tendo sido usado, por uma planta floresça, são necessários um ama-
analogia, para designar o caroço devido à posi- durecimento fisiológico e um estímulo ambien-
ção central que o mesmo ocupa no fruto. Assim, tal, o qual pode ser o comprimento da noite
para os pesquisadores que têm dificuldade em (curta ou longa) ou a alternância de tempera-
utilizar o termo caroço, por considerá-lo banal, tura ou de umidade (estação seca e chuvosa).
recomenda-se o uso do termo pireno como si- Os fatores internos e externos agindo em
nônimo de caroço. conjunto determinam a fenologia da planta.
Como exemplo, temos Senna macranthera e
Leucaena leucocephala, espécies que, em Porto
ORIGEM DOS DIÁSPOROS Alegre, florescem no início do verão. Observou-
A definição de diásporos envolvendo a presen- se que o lado da árvore que recebe o sol da ma-
ça de um embrião mostra que os mesmos têm nhã floresce antes daquele que recebe o sol da
origem no processo de reprodução sexuada, im- tarde, e que, se essas espécies forem submeti-
portantíssima para a manutenção da variabili- das a um verão quente e seco, de forma que a
dade genética das espécies, sendo impossível árvore sofra um grande estresse hídrico (fique
falar em origem dos diásporos sem referir-se murcha), produzirão uma florada extra no final
às estruturas esporofíticas que compõem a flor. da primavera. As sementes produzidas na
Embora para Font-Quer (1977), em termos florada extra serão menos dormentes que as pro-
botânicos, não exista flor stricto sensu, essas es- duzidas na florada habitual.
truturas são definidas como o conjunto de hip- O ponto inicial da ontogenia de um diás-
sófilos coloridos (ou antófilos do perianto, mais poro pode ser definido de uma forma ampla ou
ou menos vistosos) acompanhados ou não de restrita. De forma ampla, o diásporo começa
estames e pistilos. no estabelecimento da flor, e qualquer evento
Assim, todos os eventos envolvidos no apa- que impeça o desenvolvimento desta também
recimento e no desenvolvimento das flores, di- impedirá sua formação. De forma mais restrita,
reta ou indiretamente, interferem na formação o diásporo começa com a dupla fecundação que
dos diásporos, cuja origem está na metamorfose ocorre dentro do ginófito (saco embrionário);
sofrida pela flor após os eventos de polinização portanto, para se entender a origem dos diás-
e fecundação. poros, deve-se compreender a origem das se-
Esses eventos fazem parte da dinâmica ca- mentes, a qual está vinculada à planta feminina
racterística do processo de reprodução sexuada, que se forma dentro da estrutura conhecida
que envolve uma alternância de geração, for- como pistilo, no qual é possível reconhecer as
mada por organismos (seres) distintos quanto seguintes partes: o estigma, o estilete e o ovário.
à estrutura e à forma de reprodução (Cocucci e Um ou mais pistilos constituem o gineceu.
Mariath, 1995). Dentro do ovário, formam-se estruturas
Dentro dessa seqüência, nas espermatófi- usualmente denominadas óvulos. Contudo, Lin-
tas, o organismo denominado esporófito é au- né (apud Font-Quer, 1977) propôs que tais es-
tótrofo, independente, possui genoma diplóide truturas fossem nominadas rudimentos semi-
e reprodução assexuada mediante a produção nais. Assim, levando em consideração a etimo-
de esporos. Os outros organismos, denomina- logia das palavras, o termo rudimento seminal
dos andrófito e ginófito, têm vida parasitária, é o mais correto para identificar com mais pre-
genoma halóide e se reproduzem sexuadamen- cisão essas estruturas formadas pelo ginospo-
te mediante a produção de gametas. rângio (nucelo) envolto pelos tegumentos, re-
O aparecimento da geração gametofítica presentando o início de uma semente. Em um
depende da expressão de genes relacionados estágio mais avançado, o ginosporângio origina
com a determinação do sexo, que, por sua vez, o ginófito.
A Figura 4.1 é um esquema que mostra a integumento no que se refere a rudimento se-
estrutura de um rudimento seminal e a correla- minal e tegumento no que se refere à semente.
ção existente entre essa estrutura e a da semen- O prefixo “in” significa interno; por isso, é ade-
te que originará, usando-se como modelo Senna quada sua associação ao termo tegumento, uma
macranthera. vez que o mesmo sempre é interno por recobrir
Observando-se o esquema apresentado na o rudimento seminal, que nunca deixa o
Figura 4.1, nota-se a possibilidade de se dis- gineceu antes de se transformar em semente.
tinguir, no rudimento seminal, as seguintes es- Alguns livros nominam de primina e secundina
truturas, de fora para dentro: funículo, integu- os integumentos do rudimento seminal, tratan-
mentos delimitando a micrópila e o ginófito. A do-se, respectivamente, do integumento
seguir, serão abordados alguns aspectos da me- interno e do integumento externo.
tamorfose dessas estruturas. Micrópila é um pequeno poro formado pelo
encontro de um ou ambos os integumentos.
Funículo → Hilo Quando não estão em linha reta, diz-se que a
O funículo é uma estrutura auxiliar, sendo micrópila está em ziguezague.
o órgão que une o rudimento seminal à placenta Embora haja muita variação quanto ao nú-
desenvolvida no ovário. É a via por onde o rudi- mero de integumentos que recobrem o ginos-
mento seminal é vascularizado. Comparado porângio, esse caráter apresenta grande estabi-
com os animais, seria uma espécie de cordão lidade dentro das diferentes taxa (Maheshwa-
umbilical. Apresenta uma grande variedade de ri, 1950). Segundo Bauman (1984), os rudimen-
formas (La Rue, 1954; Gunn, 1981), sendo uma tos seminais podem ser unitégmicos, bitégmi-
estrutura geralmente efêmera, deixando na se- cos ou atégmicos, e os dados de Davis (1966),
mente uma cicatriz conhecida como hilo. Nos organizados por Bauman, são apresentados na
casos em que permanece, pode originar os arilos Tabela 4.1.
(van Der Pijl, 1982). Durante o desenvolvimento, os integumen-
tos que cobrem o ginosporângio podem sofrer
Integumentos → Tegumentos uma simplificação drástica, de forma que, na
Para evitar confusão entre rudimento se- semente, o tegumento fica reduzido a uma pelí-
minal e semente, quando se está tratando dos cula delgada ou desaparece totalmente (Mau-
envoltórios, é aconselhável o uso dos termos seth, 1988). Nesse último caso, as funções do
A B
c
a x
p
y
s r
n z
o
t
e
f m
! Figura 4.1
Esquema mostrando a correspondência entre a estrutura do rudimento seminal (A) e a da semente madura
(B), ambas em corte longitudinal mediano usando Senna macranthera como modelo. p = primina (tegumento
externo do rudimento seminal) s = secundina (tegumento interno do rudimento seminal), c = calaza, a =
antípodas, n = núcleo secundário, o = ovocélula, t = sinérgides, f = funículo, x = testa (tegumento da
semente), e = xenófito (endosperma), y = embrião, m = micrópila, r = nucelo, z = nervura dos cotilédones
(Aqüila, 1995).
Tabela 4.1 Distribuição de rudimentos seminais, nas duas divisões das angiospermas, com base no
número de integumentos (os dados estão em porcentagem do número de famílias estudadas)
Monocotiledôneas 69 100 0 0
Dicotiledôneas 341 70,57 28,26 1,17
tegumento são exercidas por tecidos do espo- capas (Figura 4.2). O integumento externo do
rófito. Contudo, o mais freqüente é o desenvol- rudimento seminal origina a testa, que também
vimento dos integumentos do rudimento semi- pode apresentar três capas: a endotesta (que é
nal, em produzirem, na semente madura, um adjacente ao exotégmen), a mesotesta e a exo-
tegumento estruturalmente mais complexo, testa (que é a camada mais externa do tegu-
formando um verdadeiro complexo histológico mento) (Aqüila, 1995).
(Foster e Gifford, 1974). No início do desenvolvimento da semente,
O número de tegumentos que a semente as células da exotesta estão em divisão, tanto
apresenta na maturidade, bem como a comple- peri quanto anticlinal (Figura 4.3A, C, E).
xidade dos mesmos depende tanto da sua ori- Quando o embrião atinge a fase globular, as
gem quanto da sua ontogenia. A complexidade células da exotesta começam a alongar no senti-
também depende do tipo de vascularização do anticlinal (Figura 4.3E), originando as célu-
apresentada pelo rudimento seminal. las de Malpighi, que formam a camada em pali-
A ontogenia dos tegumentos da semente é çada (Figura 4.4H).
afetada pelo aumento progressivo do volume No rudimento seminal, a mesotesta é for-
que eles limitam, ajustando-se constantemente mada por três estratos na região não-micropilar,
às tensões tangenciais progressivas criadas pela e as células se dividem nos sentidos anticlinal
expansão da semente. Essa expansão é, em par- e periclinal (Figura 4.3B, C, D). Durante o de-
te, devida ao aumento do número de células e, senvolvimento da semente, há um aumento no
em parte, ao alongamento das mesmas. Para número desses estratos. Esse número é maior
acompanhar o crescimento da estrutura que li- na região por onde passa o feixe vascular, na
mita, o tegumento aumenta seu comprimen- região do hilo e da micrópila (Figura 4.3B). Du-
to, com um maior número de células por divi- rante o desenvolvimento da semente, na região
sões periclinais, e sua espessura, por divisões basal (calazal), ocorre a diferenciação dos os-
anticlinais (Figura 4.2D). Se não ocorrem divi- teoesclereídeos (Figura 4.4E). Na semente ma-
sões periclinais em número e velocidade sufi- dura, a mesotesta é formada por nove estratos
cientes para acompanhar a expansão da se- de osteoesclereídeos cujas paredes não têm es-
mente, há a eliminação da capa onde a atrofia pessamento em forma de vidro de relógio, mas
está ocorrendo. são pontuadas (Figura 4.4H).
Segundo Corner (1976), o integumento in- Na seqüência ontogenética da formação do
terno do rudimento seminal origina o tégmen, tegumento, primeiro ocorre a divisão celular,
que pode ou não ser formado por três capas, o seguindo-se o seu alongamento e só depois sua
endotégmen, na confluência com o ginospo- diferenciação (Figuras 4.2, 4.3, 4.4). O alonga-
rângio, o mesotégmen e o exotégmen, junto à mento pode ocorrer em todas as direções, pro-
testa. O integumento externo formará a testa, duzindo células isodiamétricas e estreladas, em
que também pode ou não ter três capas (exo- direções diferentes ou em apenas uma direção,
testa, mesotesta e endotesta). originando tecidos em paliçada. Embora as di-
Em Senna macranthera (manduirana), o ru- ferentes capas que compõem o tegumento te-
dimento seminal é formado por apenas duas nham uma confluência íntima, seu limite pode
A B
C D
! Figura 4.2
Fases iniciais da formação da semente de Senna macranthera em corte longitudinal mediano. (A) rudimento
seminal em formação; (B) rudimento seminal maduro ou semente recém-fecundada; (C) semente com zigoto
em repouso; (D) semente com embrião globular. Legenda: a= saco embrionário, b= mesófilo da folha;
carpelar, c= calaza, d= epiderme adaxial da folha carpelar, e= xenófito nuclear, f= funículo, g= tégmen, k=
endocarpo em diferenciação, l= cavidade gasosa do fruto, n= nucelo, o= epiderme do nucelo, p= primina
(integumento externo), r= capuz nucelar, s= secundina (integumento interno), t’= mesotesta, u=mesocarpo,
v= feixe vascular, x= exotesta, y= endotesta; a seta branca indica micrópila. As barras negras no canto
superior esquerdo são as escalas e representam, para A e D, 6 µm, e para B e C, 10 µm.
A B
C D
E F
! Figura 4.3
Seqüência inicial da formação do xenófito de Senna macranthera. Sementes em corte longitudinal mediano.
(A) fecundação; (B) zigoto em repouso e xenófito no início da formação; (C) detalhe da região mediana da
semente mostrando os núcleos do sincício; (D) pólo calazal da semente; (E) região basal de uma semente
com embrião globular e núcleos do xenófito se agrupando em nódulos; (F) região mediana da semente
mostrando o início da celularização do xenófito. Legenda: c= calaza, d= nódulos endospérmicos, e=xenófito,
g= tégmen, n’= núcleo do xenófito próximo à coluna hipostática, n= fusão para formação do núcleo
endospérmico, o’= epiderme do nucelo, o= nucelo, t’= mesotesta, t= testa, x= exotesta, z= zigoto, seta
branca = coluna hipostática, setas pretas = parede do saco embrionário. As barras negras do canto superior
esquerdo são as escalas e representam, para A e C, 6 µm, e para B,D,E e F, 10 µm.
A B
C D
E G H
! Figura 4.4
Detalhes de algumas estruturas que se formam durante o desenvolvimento do xenófito de Senna macranthera.
Cortes longitudinais medianos. (A) região mediana da semente quando o embrião está na fase de torpedo;
(B) região calazal quando o embrião já está totalmente diferenciado; (C) região calazal quando o embrião está
na fase de torpedo adiantada; (D) em detalhe, fragmento da parede de transferência e de alguns núcleos da
célula apical do haustório; (E) detalhe da região calazal quando o embrião está terminando a fase de torpedo;
(F) detalhe da região limítrofe da célula haustorial com o nucelo; (G) tegumento lateral da semente quando o
embrião está em torpedo e (H) quando o embrião já está totalmente formado. Legenda: e= região celularizada
do xenófito, f= feixe vascular na calaza em corte transversal, f”= rafe em corte longitudinal, h= haustório, i=
célula basal do haustório, j= célula apical do haustório, l= lfinea lúcida, n= núcleos hipertróficos da célula
basal do haustório, o= nucelo, p= parede da célula haustorial, r= região clara ao redor do xenófito, t= testa,
u= epiderme do nucelo, v= região de células ricas em fenóis, x= exostesta. As barras negras do canto
superior esquerdo são as escalas e representam, para A, B e C, 24 µm, para C e G, 40 µm, e para D e F, 8 µm.
ser distinguido pela presença de cutícula, que (1976) denomina como rafe a região do te-
ocorre entre as capas da testa, entre esta e o gumento que abriga os feixes vasculares e que,
tégmen, entre o tégmen e o nucelo e até entre entrando pelo funículo, se estende até a calaza,
este e o xenófito. Devido ao caráter hidrofóbico e como anti-rafe a região do tegumento relacio-
da cutina, a presença desta substância funcio- nada ao prolongamento do feixe vascular para
na como uma barreira à difusão da água, difi- além da calaza. Rudimentos seminais com vas-
cultando a penetração de fixadores e de subs- cularização reticulada têm uma grande proba-
tâncias utilizadas na inclusão de sementes nas bilidade de originar sementes pericalazais. Es-
técnicas histológicas, podendo ser uma das cau- sas sementes possuem uma vascularização in-
sas da dormência imposta pelos tegumentos tensa e, em conseqüência, uma calaza exten-
(Capítulo 7). sa, provinda de rudimentos seminais anátropos
Na semente, a composição ontogenética do cujo revestimento passa a ser a paquicalaza,
tegumento depende da região que se analisa, uma estrutura complexa, construída pela mul-
uma vez que pode diferir na micrópila, na calaza tiplicação das células dos dois integumentos
e na região lateral (Figuras 4.2C, D; 4.3D, F). fundidos entre si e ao ginosporângio. Só na re-
Bhojwani e Bhatnagar (1974) descreveram gião da micrópila é possível distinguir os dois
a ontogenia de Gossypium sp. (algodão), um ru- tegumentos.
dimento seminal com dois integumentos, no Em S. macranthera, a vascularização não está
qual ambos contribuem para a formação do diferenciada no rudimento seminal (Figura
tegumento da semente, mostrando que a 4.2A), notando-se um aumento no número de
ontogenia da endotesta tem valor taxonômico, estratos na região onde se diferencia o feixe vas-
uma vez que pode ser utilizada para distinguir cular (Figura 4.2C). Na fase do desenvolvimen-
a espécie G. arboreum, na qual permanece to da semente, marcada pela presença de um
uniestratificada, das espécies G. hirsutum (que embrião globular, o feixe vascular já está total-
possui dois estratos) e G. herbaceum (que possui mente diferenciado (Figura 4.2D), localizando-
três estratos). As fibras usadas comercialmente se na mesotesta e sendo formado por protoxi-
se formam na exotesta, constituídas por células lema com espessamento anelado. Esse feixe pe-
simples com paredes finas cujo comprimento netra na semente pelo funículo (Figura 4.3D),
pode atingir 45 mm (~5 cm). sendo uma continuação do feixe vascular que
Segundo Barroso e colaboradores (1999), forma a nervura ventral da folha carpelar. Nes-
as Loasaceae possuem rudimentos seminais sa fase, a anti-rafe ainda não está diferenciada
com apenas um integumento, enquanto as se- e, em seu lugar, observam-se células de pro-
mentes maduras têm apenas exo e endotesta. câmbio em divisão (Figura 4.3D). Quando o
As canas possuem rudimentos seminais parci- embrião começa a diferenciação dos cotilédo-
almente integumentados, mas as sementes ma- nes, a anti-rafe é visível e percorre a semente
duras são recobertas por um tecido multiestra- até a sua metade, no lado oposto ao da rafe.
tificado. Em magnólia, o integumento interno Beltrati e Paoli (2003) mencionam que já
forma o tégmen, que é de fato a camada prote- foram encontrados estômatos na testa em 30
tora, enquanto o integumento externo forma famílias de angiospermas. Segundo Corner
uma exotesta carnosa (sarcotesta) e brilhante, (1976), estômatos na exotesta foram registra-
rica em lipídeos, cuja função é auxiliar a disper- dos em Cana maculata, Cochiospermaceae, Malva-
são das sementes (Bhojwani e Bhatnagar, 1974). les, Geraniaceae, Magnoliaceae, Papaveraceae, Gera-
A vascularização do rudimento seminal se niaceae, Amarylidaceae, Leguminosae (Bauhinia),
dá pela entrada de um ramo advindo da vascu- Bombacaceae, Juglandaceae, Myristicaceae e Euphor-
larização do carpelo, que entra nessa estrutura biaceae, enquanto, na endotesta, sua presença
pelo funículo (Figura 4.2D). O padrão de vas- só foi registrada em purskia (Rosaceae).
cularização do rudimento seminal interfere no A estrutura e as substâncias acumuladas
padrão de vascularização da semente. Corner no tegumento podem posteriormente interferir
(3n) a poliplóide. O desenvolvimento do xenó- Quadro 4.2 Famílias e espécies em que foi
fito ocorre em sincronia com o desenvolvimento registrado o xenófito celular
do embrião, em vez de simultaneamente. Nas Família Espécies
espécies em que já foi estudada a ontogenia das
Acanthaceae Barleria cristata, Dipteracanthus
sementes, o zigoto entra em repouso logo após patulus, Thumbergia alata,
a fecundação, só saindo desse estado quando o Ruellia tuberosa
xenófito assume um certo grau de desenvolvi- Cryllaceae Cliftonia monophylla, Cyrilla
mento, mesmo nas Faboideae, espécies exal- racemiflora
Gesneriaceae Boschniakia himalaica, Klugia
buminosas cujo embrião assume a liderança do notoniana, Platystemma
desenvolvimento muito precocemente. violoides
O xenófito, como já foi dito, começa com a Loasaceae Blumenbachia hieronymi, B.
fecundação dos núcleos polares (separados ou insignis, Mentzelia laevicalulis
Scrophulariaceae Alectra thomsoni, Celsia
já fundidos), com o segundo gameta masculino coromandeliana, Chelone
originando o núcleo endospérmico. O passo se- glabra, Isoplex canariensis,
guinte é muito variável nas diferentes taxa, mas Melampyrum lineares,
segundo os mais respeitados embriologistas, o Orthocarpus luteus,
Scrophularia marylandica,
núcleo endospérmico pode seguir três tipos de Tetranema mexicanum
desenvolvimento, originando assim os três ti-
pos ontogenéticos básicos de xenófito, a saber: Dados extraídos de Maheshwari (1950 e 1963), Chopra e Sachar
(1963) e Johri, Ambergaokar e Srivastava. (1992).
celular, nuclear e helobial.
No xenófito celular, a célula central entra
em citocinese logo após a primeira cariocinese,
o mesmo acontecendo para todas as subseqüen- (Figuras 4.2 e 4.3) formam-se 36 núcleos ce-
tes divisões, de forma que o xenófito é celular nocíticos antes de começar o processo de celu-
desde o início. Existem poucos estudos histo- larização (Aqüila, 1995).
químicos e ultra-estruturais sobre esse tipo de Em poucas taxas os núcleos e o citoplasma
xenófito e, segundo Vijayaraghavan e Prabha- têm distribuição uniforme ao longo de toda a
kar (1984), em várias taxa as células xenofíti- célula cenocítica. Em geral, concentram-se nos
cas da calaza, da micrópila ou de ambas têm a pólos calazal e micropilar (Bhatnagar e Sawh-
tendência de formar haustórios. O Quadro 4.2 ney, 1981; Mauseth, 1988). Nesse processo, as
fornece alguns exemplos em que esse tipo de cariocineses podem ou não ser sincrônicas, sen-
xenófito pode ser encontrado. do possível encontrar núcleos em diferentes
No xenófito nuclear, as cariocineses não são fases de divisão (Maheshwari, 1963). Os nu-
acompanhadas pelas citocineses corresponden- cléolos dos núcleos cenocíticos são muito variá-
tes, de forma que, no início do seu desenvolvi- veis quanto à forma, ao tamanho e ao número,
mento, o xenófito é constituído por uma célula estando esta última variável associada à viabili-
cenocítica (Mauseth, 1988), com os núcleos dade do xenófito. Jensen, Schulz e Aston (1977)
distribuídos em uma matriz citoplasmática que observaram que os rudimentos seminais de
rodeia um grande vacúolo central (Vijayara- Gossypium hirsutum que abortavam tinham um
ghavan e Prabhakar, 1984), como pode ser vis- número menor de nucléolos que aqueles que
to na Figura 4.3B. completavam seu desenvolvimento.
Essa célula pode se tornar muito grande, Um fenômeno comum nesse tipo de onto-
como no caso de Cocos nucifera, em que a parte genia é a formação de grupos isolados de nú-
branca seria o cenócito, e o líquido (água de cleos, aos quais Chopra e Sachar (1963) cha-
coco), o suco vacuolar dessa célula gigantesca mam de vesículas citoplasmáticas, e Fahn
(Mauseth, 1988). A quantidade de núcleos des- (1982), de nódulos. Esses grupamentos resul-
se cenócito pode variar de centenas a milhares tam da atividade isolada de alguns núcleos que
(Chopra e Sachar, 1963). Em Senna macranthera podem se dividir mais rapidamente que outros
D
C
E F
! Figura 4.5
Sementes de Senna macranthera em corte longitudinal mediano. (A) detalhe da região mediana mostrando
parte do xenófito celularizado e início da formação do haustório; (B) semente mostrando embrião na fase de
coração, xenófito celular na parte basal e haustório na parte apical; (C) detalhe da região celularizada do
xenófito e embrião na fase de torpedo; (D) visão do eixo embrionário e xenófito celular com haustório na
região apical da semente; (E) e (F) detalhe da célula basal do haustório. Legenda: c = calaza, d = cotilédones
e eixo do embrião, e = xenófito celular, f = feixe vascular na calaza, h = haustório, i = célula basal do
haustório, j= célula apical do haustório, o= nucelo, p= embrião na fase de coração, r= região clara que
rodeia o embrião, t= testa. As barras negras do canto superior esquerdo são as escalas e representam, para
A, 24 µm, para B, C e D, 40 µm, para E, 12 µm, e para F, 8 µm.
A B
E H
G I
! Figura 4.6
Detalhes do xenófito de Senna macranthera em sementes em corte longitudinal mediano. (A) coração; (B
torpedo; (C, final de torpedo; (D) totalmente formado; (E) quase no tamanho final; (F) antes do início da
dessecação; (H) semente quiescente; (G) mesmo que H com mais detalhe; (I) pericarpo. Legenda: c=
citpolasma, e = endocarpo, p = parede espessada, q = células com parede começando a espessar pela
deposição de galactomanano, t = pontuação, u = mesocarpo. As barras negras do canto superior esquerdo
são as escalas e representam, para A, B, D e F, 12 µm, para C e G, 8 µm e para E, 24 µm.
(Schulz e Jensen, 1974), podendo ou não origi- e o protoplasma comprimido no interior das cé-
nar núcleos hipertróficos, principalmente no lulas forma um todo contínuo devido à comuni-
pólo calazal, uma vez que esses núcleos gigantes cação ocorrida por meio dos plasmodesmos (Fi-
podem se formar por cariocinese direta (cresci- gura 4.6G). O xenófito nuclear é o mais comum,
mento verdadeiro) ou por fusão de vários nú- tendo sido registrado para 161 famílias, incluin-
cleos (Maheshwari, 1950). As Figuras 4.5 e 4.6 do mono e dicotiledôneas (Mauseth, 1988). O
exemplificam esses acontecimentos registrados Quadro 4.3 lista algumas espécies que possu-
para S. macranthera (Aqüila,1995). em esse tipo de xenófito (endosperma).
O xenófito nuclear pode continuar cenocí- O xenófito helobial se forma quando a ca-
tico até o final da sua ontogenia, porém, o mais riocinese do primeiro núcleo endospérmico é
comum é ocorrer a celularização, dependendo acompanhada de citocinese, formando duas cé-
da fase em que se encontra o embrião. A celu- lulas desiguais. A célula menor é voltada para
larização pode ocorrer em todo o xenófito, res- o pólo calazal e pode ou não se dividir para for-
tringir-se à periferia ou acontecer apenas na re- mar uma estrutura celular. A célula maior é vol-
gião micropilar. Segundo Maheshiwari (1963), tada para o pólo micropilar, cresce rapidamente,
nas famílias Crucifeare, Curcubitaceae, Legumino- e a ocorrência de cariocineses livres origina um
sae e Proteaecea, o xenófito é sempre cenocítico, cenócito que, mais tarde, sofre celularização pe-
uma vez que não se forma nenhum tipo de pa- lo aparecimento de paredes celulares no sentido
rede. Essa generalização, como qualquer outra centrípeto (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984).
em se tratando de sementes, não é adequada, Esse tipo de xenófito é muito raro e parece ocor-
pois a Senna macranthera, uma leguminosa Cae- rer apenas em monocotiledôneas (Swamy e Kri-
salpinioideae, possui, segundo Aqüila (1995), um shnamurthy, 1973). Segundo Johri, Anbergao-
xenófito cenocítico (nas fases iniciais do desen- kar e Srivastava (1992), esse tipo de xenófito
volvimento da semente) e um celular (quando foi descrito em: Halophila ovata, Trillium undu-
maduro) (Figuras 4.3, 4.5 e 4.6). latum, Juncus prismatocarpus, Asphodelus tenuifo-
Durante o desenvolvimento do xenófito, lius, Najas flexilis, Najas marina, Potamogeton no-
pode acontecer a formação de estruturas muito dosus e Haemanthus katherinae.
estranhas denominadas haustórios. Em Senna Além desses três tipos ontogenéticos de xe-
macranthera, o haustório é formado por duas nófito, existe um quarto, chamado xenófito ru-
células muito grandes. Ambas possuem núcle- minante. Foi estudado pela primeira vez por
os hipertróficos (Figuras 4.4A, 4.5D, E, F) e pa-
redes de transferência (Figuras 4.4D e 4.5F). A
célula mais apical do haustório une-se à epis- Quadro 4.3 Exemplo de gênero e de espécies
tase formada pelo ginosporângio bem abaixo que apresentam o xenófito nuclear
do feixe vascular calazal (Figuras 4.4E e 4.5B). Família Espécies
À medida que a celularização progride, o haus-
tório desaparece. Durante todo o desenvolvi- Curcubitaceae Scleria foliosa, Blastania garcini,
Melothira maderaspatana,
mento, o xenófito é um tecido mixoplóide, pos- Trichosanthes anguina,
suindo núcleos hipertróficos na região celula- Curcubita pepo, C. sativus,
rizada contígua ao haustório (Figuras 4.4A, Benincasa cerifera, Cucumis
4.5E e 4.6C). A celularização é centrípeta (Figu- melo, Luffa aegyptica, Melothria
heterophylla
ra 4.3F), o mesmo se dando com a deposição Leguminosae Mimosa pudica, Calliandra
da substância de reserva. O galactomanano é coiled e os gêneros: Cassia,
depositado na parede das células do xenófito, Cyamopsis, Desmodium
de tal forma que, na semente madura, forma Palmae Cocos nucifera
Proteaceae Lomatia polymorpha, Grevillea
uma massa na qual é difícil a distinção dos li- robusta
mites das células (Figuras 4.6E, F, H). Esse xe-
Dados extraídos de Johri et al. (1992).
nófito é vivo (cora facilmente pelo tetrazólio),
nhadas na mesma reta. Esse alinhamento é vis- Quadro 4.4 Alguns exemplos de gêneros e de
to no tegumento da semente onde hilo e mi- famílias em que é possível encontrar sementes
classificadas dentro da proposta de Corner (1976)
crópila são opostos. Em uma semente hemi-
campilótropa, o feixe vascular tem uma curva- Tipo de semente Espécie
tura de 90º, ângulo verificável pela localização
Obcampilótropa Bauhinia, Barklya, Cercis,
do hilo e da micrópila no tegumento da semen- Vitaceae
te, o ginófito sofreu uma curvatura, e o corpo Campilótropa Psidium, Caparidaceae,
basal está localizado entre o ginófito e o tég- Papaveraceae, Cactaceae,
Leguminosae
men. Na semente ananfítropa, o feixe vascular
Hilar Papilionaceae como Canavalia
sofreu uma curvatura de 180º, de forma que o e Erythrina
hilo e a micrópila ficam bem próximos, o ginó- Anátropa com Connaraceae, Dysoxylon
fito também sofreu curvatura, e o corpo basal pré-rafe cauliflorum (Maliaceae)
Anátropa com rafe Ilauraceae, Monimiaceae,
está localizado entre o tégmen e a testa.
Buxaceae, Ebenaceae
Segundo o proposto por Cocucci (1992), ru- Pericalazais Annonaceae, Hortonia
dimentos seminais dos tipos anátropo, anacam- (Monimiaceae), Cryptocarya
pilótropo e ananfítropo originariam sementes (Lauraceae), Aglaia e Lansium
(Meliaceae), Vitaceae
anátropa, anacampilótropa e ananfítropa. Con-
Paquicalazais Meliaceae, Sapindaceae,
tudo, segundo Beltrati e Paoli (2003), um rudi- Lauraceae (abacate),
mento seminal anátropo pode originar uma se- Annonaceae, Myristicaceae,
mente campilótropa ou uma semente obcam- Coco, Cana, Ricinus
Ortótropa Urticaceae, Proteaceae,
pilótropa. Essa afirmação não especifica os au-
Flacourtiaceae, Piperaceae,
tores dos conceitos empregados, e isso é funda- Polygonaceae
mental nessa área, uma vez que os mesmos di-
Nos TAXA Magnoliales, Dilleniaceae, Mimosaceae, Theales, e
ferem de acordo com os autores. Clusiaceae, não ocorrem sementes ortótropas.
ficada. Embora a construção do tegumento seja bosa, irregular, lenticular, navicular, obo-
essencialmente testal, pode-se encontrar se- vóide (ovóide invertida) ou ovóide.
mentes com tégmen bem-desenvolvido nas or- ◗ Contorno (obtido projetando-se o con-
dens mais evoluídas. torno da semente em um papel) – cu-
Segundo Beltrati e Paoli (2003), a classifica- neiforme, elíptico, espatulado, lanceola-
ção proposta por Corner (1976) vem sendo bas- do, oblanceolado (lanceolado invertido),
tante utilizada pelos anatomistas, embora, na linear, ovado, obovado (ovado invertido),
prática, mostre-se difícil, uma vez que, nas se- orbicular, quadrado, reniforme, rômbico,
mentes maduras, é geralmente difícil distinguir flaciforme (em forma de foice), triangu-
a capa multiplicativa ou camada mecânica, lar ou subtriangular (em forma de cimi-
existindo mais de uma capa com células mecâ- tarra).
nicas e podendo acontecer inúmeras combina- ◗ Transepto – isto é, o formato do contorno
ções entre as diferentes possibilidades. Assim, obtido em corte transversal mediano: cir-
o mais simples é especificar se a semente tem cular (terete), comprimido (sendo o com-
uma testa (ou um tégmen) bem-desenvolvi- primento o dobro da largura) ou trian-
da(o). gular.
◗ Superfície da semente – lisa, rugosa, es-
triada, costada (enfeitada com nervuras
DESCRITORES DOS ou costelas), sulcada, reticulada, glan-
DIÁSPOROS
dulosa, pontuada, pilosa, viscosa, espon-
As sementes podem ser identificadas por um josa, glabra, mucilaginosa, vesiculosa,
conjunto de estruturas internas e externas de espinhosa, aculeada ou papilosa.
fácil visualização, que deveriam constar da ro- ◗ Presença de partes associadas – arilo, ca-
tina de qualquer trabalho com sementes. A se- rúncula, brácteas, estrofíolo (devendo-
guir, apresentamos o conjunto desses descrito- se indicar a coloração e a textura), alas,
res, retirado de três trabalhos: Martin (1946), papus, lente, funículo circinótropo (ro-
para os embriões, Bhojwani e Bhatnagar (1974) deia toda a semente, sendo encontrado
e Groth e Liberal (1988) para as demais estrutu- em Opuntia e Plumbago), ejaculador, tam-
ras. bém conhecido como retináculo (é uma
estrutura formada pelo crescimento do
Descritores externos funículo ao lado da micrópila, sendo ca-
◗ Cor – além da cor em si, informar se esta racterística das sementes das Acanthaceae
ocorre de forma uniforme ou variegada – Barroso et al., 1999).
e se a semente possui apenas uma ou ◗ Hilo – localização, tamanho (bem-visível
mais de uma cor. a quase invisível), cor (homocrômico,
◗ Tamanho – comprimento, largura, espes- tem a mesma cor das sementes, ou hete-
sura. rocrômicos tem cor diferente das semen-
◗ Peso – das sementes individuais ou de tes), forma (puntiforme, oblonga, elíp-
um certo número, uma vez que o peso tica, linear, circular) e presença de para-
pode variar de microgramas (sementes hilo (pequena área que cerca o hilo); nas
de orquídeas pesam, em média, 20 µg) gramíneas, o hilo é indicado pela man-
a quilos (diásporos de coco pesam, em cha hilaris (Barroso, 1978).
média, 2 kg). Seria interessante que esse ◗ Micrópila – localização (perto do hilo ou
peso fosse sempre das sementes frescas, oposta a este) e tamanho.
isto é, recém-colhidas. ◗ Rafe – linha visível no tegumento que
◗ Forma – alada, angulosa, carenada, ci- indica o percurso do feixe vascular, indo,
líndrica, cônica, curva, discóide, elipsói- em geral, do hilo até a calaza. Sua niti-
de, esférica, espiralada, fusiforme, glo- dez é bastante variável e, nas legumino-
quando se passou a usar água de coco nos meios guns xenófitos, parecem ser a região por onde
de cultivo. Essa água é um xenófito líquido, e se daria a absorção dos nutrientes (Bhatnagar e
sua composição se revelou rica em nutrientes Kallarackal, 1980). Entretanto, Mauseth (1988)
(íons, aminoácidos, açúcares) e fitormônios. acredita que a absorção se dá através de toda a
Composição semelhante foi encontrada para superfície do xenófito.
xenófitos de outras espécies (Bhojwani e Bhat- O papel do xenófito como nutridor do em-
nagar, 1974). brião é controvertido. Segundo Schulz e Jensen
Para Goebel (1933), o relacionamento entre (1974), o xenófito jovem necessita de uma nu-
as estruturas da semente, durante seu desen- trição adequada ao seu próprio desenvolvimen-
volvimento, seria de autoparasitismo, uma vez to, não estando apto a alimentar o embrião. Al-
que uma vive às expensas da outra. Na opinião guns estudos envolvendo histoquímica e ultra-
de Vijayaraghavan e Prabhakar (1984), somen- estrutura tornam questionável o papel do xe-
te estudos realizados por meio de auto-radio- nófito no início do desenvolvimento da semente
grafia podem solucionar o problema da aquisi- (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984). Nessa fa-
ção de nutrientes pelas diferentes estruturas se, sua atividade metabólica é intensa, e as or-
da semente em formação. ganelas observadas parecem estar ligadas à pro-
Após a fecundação, as sinérgides podem dução de substâncias de reserva (Vijayaragha-
permanecer funcionais, exercendo um impor- van e Prabhakar, 1984) ou de substâncias que
tante papel na nutrição do embrião de Phaseolus parecem interferir no crescimento e na morfo-
coccineus no início do seu desenvolvimento gênese do embrião (Raghavan e Srivastava,
(Yeung e Clutter, 1978). 1982).
As cisternas de retículo endoplasmático li- Nas fases mais adiantadas da embriogêne-
so, que se formam junto à parede do ginófito se, o xenófito já possui uma grande quantidade
de Phaseolus vulgaris, sugerem que a mesma se de substâncias de reserva (que faltam nos está-
modifique a fim de auxiliar na absorção de nu- dios iniciais), as quais podem ser utilizadas pelo
trientes para o endosperma em desenvolvimen- embrião (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984).
to (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1981). Essa hipótese foi levantada depois que análises
O suspensor mostrou-se indispensável para da zona clara que circunda o embrião mostra-
o desenvolvimento de embriões de Lupinus po- ram a presença de substâncias e de partículas
lyphyllus (Palamarchuk,1959) e de Phaseolus coc- nitidamente pertencentes ao endosperma dige-
cineus (Lorenzi et al. 1978). Essa estrutura in- rido (Raghavan, 1966; Newcomb, 1973).
fluencia a morfogênese do embrião e produz Para Smith (1973), a manutenção de um
ácido giberélico (Alpi et al., 1979) e citocinina gradiente de pressão osmótica faz parte das
(Lorenzi et al., 1978). Para Raghavan e Srivas- funções desempenhadas pelo xenófito. Jensen
tava (1982), o suspensor, o qual denominam (1968) explica a diminuição do zigoto, no início
complexo endosperma/suspensor, pode funcio- do desenvolvimento da semente, como uma
nar como o principal local de entrada de subs- conseqüência da alteração no gradiente osmó-
tâncias para o embrião em desenvolvimento. tico. O rápido crescimento do xenófito faz com
O papel do nucelo na nutrição do xenófito que a água saia do vacúolo do zigoto, indo para
e do embrião é bastante controvertido. Para o xenófito. Assim, uma osmorregulação apro-
Brink e Cooper (1947) e Norstog (1974), as cé- priada é uma das mais importantes funções do
lulas do ginosporângio entram em lise, e suas xenófito nos estágios iniciais do desenvolvi-
substâncias são absorvidas pelo xenófito e utili- mento da semente.
zadas em seu próprio desenvolvimento. Tam- Um meio com potencial osmótico alto é
bém não se sabe como o xenófito absorve os essencial para o desenvolvimento normal do
nutrientes liberados do ginosporângio desinte- embrião (Stafford e Davies, 1979), podendo pre-
grado (Folson e Cass, 1988). Os haustórios, es- venir sua germinação precoce (Norstog e Klein,
truturas muito diferentes que aparecem em al- 1972).
Schnarf (1929) já declarava que o xenófito quando a semente está na metade do seu perío-
tem a função de liderança no início do desen- do de formação. Segundo o autor, sete dias de-
volvimento da semente, sendo sua presença im- pois da polinização, o embrião de Phaseolus pos-
prescindível mesmo em sementes pseudogâmi- suiria 24.533 células, enquanto o xenófito,
cas (Rutishauser, 1954). Essa liderança, entre- 19.357 células. Essa diferença no número de
tanto, depende da capacidade do xenófito de células foi interpretada como o embrião assu-
estabelecer e manter uma dominância fisiológi- mindo, desde cedo, a dominância do desenvol-
ca em relação ao tecido materno que o rodeia. vimento da semente, sendo esse padrão consi-
Isso porque, no início do desenvolvimento da derado o mais comum nas sementes exalbu-
semente, o tegumento é maior e mais ativo, de minosas.
forma que o xenófito e o embrião competem No início do desenvolvimento, os frutos e
com ele pelos nutrientes disponíveis (Cooper e as sementes estão conectados ao resto da planta
Brink, 1940). por meio do sistema vascular. Os tecidos do fru-
A interação xenófito/tegumento impõe to e o tegumento da semente, nesse momento,
uma coerção fisiológica ao crescimento da se- exercem um papel importante na nutrição das
mente, determinando a extensão na qual o po- sementes, passando posteriormente ao papel
tencial genético do embrião será expresso (Hed- de proteção (Lin et al., 1990).
ley e Ambrose, 1980). A parte vegetativa da planta contribui com
Dentro do equilíbrio delicado existente nas os nutrientes que serão acumulados como re-
condições iniciais do desenvolvimento da se- serva no interior da semente. A separação espa-
mente, seria necessário um mecanismo que in- cial e temporal entre os locais de descarga des-
clinasse o balanço em favor do xenófito. A dupla sas substâncias e sua utilização sugere uma
carga cromossômica, recebida por meio da fe- certa autonomia entre os dois processos (Thor-
cundação secundária, é uma adaptação que fa- ne, 1985). Na descarga dos fotoassimilados, vá-
cilita ao xenófito o exercício de suas funções, rios tecidos e estruturas estão envolvidos (Mur-
em sua posição intercalar entre os esporófitos ray, 1989). Na região da rafe, os solutos impor-
velho e novo (Cooper e Brink, 1940). A dupla tados passam simplasticamente do floema para
fecundação foi interpretada como um mecanis- um ou mais tecidos maternos, antes de serem
mo para aumentar a competitividade do xenó- conduzidos por uma via apoplástica até as cé-
fito, conferindo a este a vantagem fisiológica lulas onde serão acumulados como reservas
da hibridação (Brink e Cooper, 1947). (Rees, 1984).
Brink e Cooper (1947) concluíram que o É difícil estabelecer qualquer generalização
sucesso no desenvolvimento da semente de- para a fisiologia das sementes, mas um grande
pende da proporção da ploidia (número de cro- número de trabalhos detectou que o floema é
mossomos) existente entre o xenófito, o em- o tecido que leva água e nutrientes para a se-
brião e os tecidos da planta-mãe (tegumento e mente, enquanto o xilema atua na drenagem
nucelo). Assim, o desenvolvimento da semente do excesso de água (Thorne, 1985). Em muitas
depende diretamente da constituição genética sementes, a sacarose não é metabolizada na tes-
do xenófito, e sua poliploidia é fundamental ta como acontece com os aminoácidos (Mur-
para a conclusão do processo. ray, 1989), podendo constituir a fonte mais efi-
Outro fator apontado como fundamental ciente de carbono para o embrião em formação
para o sucesso do desenvolvimento da semente (Raghavan e Srivastava, 1982).
é a correlação entre xenófito e embrião. Com Flinn e Pate (1968) estabeleceram os níveis
base nisso, Erdelská (1984) propôs um sistema de proteína e aminoácidos para todos os tecidos
para agrupar os diferentes tipos de desenvolvi- da semente e da vagem de Pisum arvense duran-
mento das sementes. Nesse sistema, os tipos te o seu desenvolvimento. Observaram que o
são caracterizados de acordo com o número de ganho de compostos nitrogenados pelo em-
células que o xenófito e o embrião possuem brião, durante a embrionênese, era muito maior
que a perda pela vagem, pelos tegumentos e Paulo, 1995. Tese (Doutorado) – Universidade de São
pelo endosperma, sugerindo que o embrião es- Paulo. 212p.
taria sintetizando substâncias. Essa idéia é cor- AQÜILA, M.E.A.; FERREIRA, A.G. Germinação de se-
roborada por duas observações. Uma nota que mentes de Araucaria angustifólia em solo. Ciência e Cultura,
o fluxo de nutrientes que chega até o rudimento v.36, n.9, p.1583-1587, 1984.
seminal e os tegumentos só continua chegando BARROSO, G. M.; MORIN, M. P.; PEIXOTO, A.L.;
até a semente enquanto o funículo está funci- ICHASO, C.L.F. Frutos e sementes, morfologia aplicada à siste-
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DORMÊNCIA
DORMÊNCIA:
ESTABELECIMENTO DO PROCESSO
Victor José Mendes Cardoso
conhecimento a respeito dos mecanismos en- ponderia à faixa de sensibilidade térmica da se-
volvidos. Além disso, as discussões sobre o tema mente, não dependendo da temperatura exter-
baseiam-se principalmente em pesquisas reali- na. Ampliando-se esse conceito de modo que
zadas com sementes de espécies de regiões tem- ele envolva outros fatores, como a luz, a dor-
peradas, na maioria plantas de interesse mência pode ser definida como uma caracterís-
econômico. tica ou estado da semente que determina os
Em uma das primeiras tentativas de classi- requisitos necessários para a germinação. Se as
ficar o fenômeno, Harper (1959, in Vleeshou- condições ambientais atenderem a tais requisi-
wers et al., 1995) reconheceu três tipos de dor- tos, a germinação ocorrerá. Assim, enquanto
mência em sementes: (a) dormência inata, que em seu conceito original a dormência imposta
ocorre antes da dispersão da semente; (b) dor- é causada por uma condição desfavorável do
mência induzida, que se instala na semente após meio, nesse novo conceito a dormência está re-
a dispersão; e (c) dormência imposta, quando a lacionada à capacidade da semente em respon-
semente não germina devido a uma condição der às flutuações ambientais.
adversa do ambiente. Como se pode perceber, A dormência relativa representa essa variação
de acordo com esse conceito, a dormência im- na sensibilidade da semente a fatores ambien-
posta seria equivalente à quiescência, ou seja, tais. Em diversas gramíneas, como Brachiaria
não constituiria uma verdadeira dormência. brizantha (braquiarão), quanto mais dormente
Dessa classificação emergiu uma definição me- o lote de sementes, menor a faixa de temperatu-
nos genérica, segundo a qual dormência é uma
incapacidade temporária de germinação em
uma determinada condição ambiental que não
impede a germinação da semente não-dormente.
Vegis (1964) relacionou dormência com a
capacidade da semente germinar em resposta
à temperatura. Assim, quanto mais dormente TM
ra dentro da qual elas germinam. A dormência da radícula – esta sim, uma resposta “tudo ou
relativa manifesta-se também em sementes nada” –, ocorrerá em função do grau de dor-
sensíveis à luz. Em Cucumis anguria (maxixe), mência da população ou lote de sementes, ou
por exemplo, observa-se que, com o armaze- seja, de sua sensibilidade e das condições am-
namento da semente, a luz branca passa a exer- bientais atuais.
cer um efeito inibitório sobre a germinação (No-
ronha, Vicente e Felippe, et al., 1976). Em se-
mentes que dependem da luz para germinar DORMÊNCIA PRIMÁRIA E
(fotoblastismo positivo), como algumas varie- SECUNDÁRIA
dades de Lactuca sativa (alface) e Rumex A dormência é normalmente classificada de
obtusifolius (língua-de-vaca), o tratamento com acordo com sua origem ou com os prováveis
temperaturas altas (≅30oC) pode aumentar (no mecanismos envolvidos. Quanto à origem, com
caso de Rumex) ou diminuir (na alface) a sen- base na classificação de Harper já mencionada,
sibilidade da semente ao fitocromo, pigmento são reconhecidas atualmente duas modalidades
responsável pela percepção da luz (Takaki, de dormência: primária (equivalente à dormên-
1991). Outras manifestações de dormência re- cia inata) e secundária (ou induzida) (Figura 5.2).
lativa ocorrem em diversas Melastomataceae,
como Tibouchina spp., cujas sementes exibem Dormência primária
fotoblastismo positivo, em que a resposta à luz A dormência primária instala-se durante a
pode ser influenciada pelas condições fase de desenvolvimento e/ou maturação, de
ambientais no período de maturação da se- modo que a semente é dispersa da planta-mãe
mente. Esse comportamento também pode ser já em estado dormente, exigindo, portanto, tra-
afetado pela temperatura durante a germina- tamentos ou condições específicas para se tor-
ção, como em Cosmos sulphureus, em que, a 20oC, nar quiescente. A estratificação – exposição da
parte das sementes requer luz branca para ger- semente hidratada a temperaturas baixas ou
minar, e, a 30oC, a germinação é indiferente à altas – é um exemplo de tratamento requerido
luz (Borghetti e Labouriau, 1994). Já em Sida por algumas sementes com dormência primá-
cordifolia (guanxuma), unidades de dispersão ria, como Ilex paraguariensis (erva-mate) e Acer
podem exibir fotoblastismo negativo depen- spp. (Capítulo 6).
dendo da temperatura de germinação (Cardoso, Após a dispersão, a dormência primária
1991). pode diminuir de intensidade em um processo
Desse modo, a dormência relativa – exem-
plificada pela chamada dormência fotoblástica
e pela sensibilidade térmica – caracteriza-se pe-
la variação da capacidade de resposta do em- Dormência
Quiescência Germinação
primária
brião a diferentes doses de um dado estímulo
ambiental, capacidade esta determinada princi- Pós-maturação
palmente pelas condições de maturação e/ou
germinação da semente.
Uma análise dos casos de dormência relati-
va mostra que tanto a entrada como a saída da Dormência
secundária
dormência exibem uma gradação, não consti-
tuindo uma resposta tipo “tudo ou nada”. Em
! Figura 5.2
sementes dormentes de maçã, por exemplo, Transições entre os estados de dormência e quies-
quanto mais longo o tempo de estratificação cência em sementes. Setas em negrito indicam a ação
(pré-tratamento com temperatura baixa), mai- de processos relacionados à quebra da dormência
or a germinação a 25oC (Labouriau, 1983). A (pós-maturação). Adaptada de Hilhorst e Karssen
germinação visível, representada pela protrusão (2000).
hormônio) vem sendo objeto de inúmeras pes- ou seja, quanto mais madura a semente, maior
quisas. Experimentos nesse sentido sugerem o grau de dormência, requerendo períodos de
que a manutenção da dormência seja um pro- estratificação proporcionalmente mais longos.
cesso ativo governado por um ou mais genes
(Hilhorst, 1998). Alguns desses genes aparente- Efeito das condições ambientais durante a
mente envolvidos na indução da dormência fo- maturação
ram identificados; entretanto, ainda não existe A dormência primária depende não só do
uma relação causal entre sua expressão e a ma- genótipo como também das condições de ma-
nutenção da dormência. turação, mostrando que essa modalidade de
Outros hormônios, particularmente as gi- dormência pode ser induzida. Em Chenopodium
berelinas (GAs), também devem estar envolvi- album, por exemplo, sementes amadurecidas
dos no controle da dormência primária, além em dias curtos possuem tegumentos finos e
de fatores como o meio ambiente osmótico da embebem e germinam relativamente bem, en-
semente. Considerando-se que a ação do ABA quanto as de dias longos apresentam tegumen-
pode ser antagonizada pelas GAs, os níveis e/ tos mais impermeáveis e maior grau de dor-
ou a sensibilidade dos tecidos embrionários ou mência. Sementes de Avena fatua maturadas sob
extra-embrionários a esses hormônios podem estresse hídrico exibem menor dormência, ao
contribuir com o grau de dormência em uma contrário de Cenchrus ciliaris (uma gramínea pe-
ação interativa com outros fatores endógenos rene de regiões áridas e semi-áridas), cujas se-
(genótipo, meio osmótico, etc.) e externos (luz mentes produzidas sob deficiência hídrica ten-
e temperatura). dem a apresentar maior dormência (Murdoch
Além dos aspectos fisiológicos e molecula- e Ellis, 2000). Já em algumas espécies arbóreas
res (Capítulo 6), outros fatores localizados nos de Cerrado, sementes dispersas na estação seca
tecidos extra-embrionários devem participar do tendem a apresentar maior velocidade de ger-
controle da dormência na semente intacta, minação do que sementes disseminadas na es-
como no caso da dormência tegumentar ou de tação chuvosa, as quais apresentam maior dor-
cobertura (ver “Mecanismos de dormência”), mência (Oliveira, 1998).
que é influenciada principalmente pelas ca- A qualidade e/ou a quantidade de luz du-
racterísticas anatômicas dos envoltórios (Ca- rante a maturação também podem influenciar
pítulo 7). Sementes que desenvolvem tegumen- o grau de dormência. Em Cucumis anguria
tos impermeáveis são capazes de embeber e ger- (Cardoso, 1995), sementes amadurecidas em
minar quando coletadas no ponto de maturida- dias curtos (fotoperíodo de 8 h) germinam mais
de fisiológica, antes do início da fase de desse- rapidamente do que em dias longos (16 h), as-
camento. Assim, a impermeabilidade dos tegu- sim como ocorre com aquênios de Bidens sulphu-
mentos se desenvolve durante a rápida fase de rea (Borghetti, 1998). Em algumas Leguminosae,
desidratação, sendo que ela se estabelece com o o fotoperíodo durante a fase final de maturação
conteúdo de água na semente variando de 2 a pode influenciar a germinação, agindo sobre o
21% (Baskin e Baskin, 1998). desenvolvimento do tegumento. Em Ononis si-
Dependendo da espécie, a dormência pri- cula, por exemplo, o aumento da germinabili-
mária pode se instalar já nas fases iniciais do dade de sementes amadurecidas em dias curtos
desenvolvimento, como em Avena fatua, ou no está relacionado ao fato de as sementes apre-
final do período de maturação, como em Sida sentarem o tegumento menos espesso e mais
spinosa, na qual mudanças no tegumento pare- permeável à água (Gutterman, 2000).
cem ser as responsáveis pelo estabelecimento A percepção da luz pela semente ocorre por
da dormência (Bewley e Black, 1994). Diversas intermédio do pigmento fitocromo, uma cromo-
pesquisas também mostraram que embriões de proteína com peso molecular ao redor de 125
maçã apresentam um aumento quantitativo da kDa (quilodaltons). Em plantas mantidas no
dormência em função do tempo de maturação, escuro, esse pigmento é encontrado sob duas
formas: Fv, considerada inativa do ponto de vis- rando sua capacidade de germinação. Como
ta fisiológico, cujo pico de absorção de luz (ao exemplos de tais fatores – coletivamente trata-
redor de 660 nm) situa-se na região vermelha dos como fatores maternos – podem ser destaca-
(V) do espectro radiante; e Fve, forma biologica- dos: (a) posição da flor ou inflorescência na
mente ativa, com absorção máxima no verme- planta; (b) posição da semente na inflorescên-
lho extremo (região do espectro situada entre cia ou no fruto; e (c) idade da planta-mãe du-
700 nm e 800 nm). Essas duas formas do fito- rante a indução floral ou maturação da semen-
cromo são interconversíveis, ou seja, Fv é con- te. Em Bidens pilosa (picão-preto), por exemplo,
vertida pela luz vermelha em Fve, e esta é con- há um dimorfismo morfológico dos frutos, com
vertida em Fv pelo vermelho extremo. Compri- aquênios longos no centro e aquênios curtos
mentos de onda ricos em vermelho extremo na periferia do capítulo. Nesse caso, observou-
(VE) em geral inibem a germinação de semen- se que os aquênios longos germinam melhor
tes fotossensíveis devido à fotoconversão do Fve do que os curtos, os quais possuem tegumentos
na forma Fv, inativa. A luz filtrada pelo dossel mais grossos e maior dormência – provavel-
(com baixa razão V/VE) reduz o fotoequilíbrio ou mente relacionada à redução na taxa de difusão
estado fotoestacionário do fitocromo (razão Fve/ de oxigênio para o interior da semente. Deve-
Fitocromo total), inibindo assim a germinação se ressaltar, entretanto, que mesmo esse fator
de sementes expostas a essas condições. Do “materno” é influenciado pela condições am-
mesmo modo, a ação da cobertura vegetal e dos bientais, já que a proporção de aquênios longos
tecidos que envolvem a semente durante sua e curtos varia conforme a estação, e mais frutos
maturação na planta-mãe pode fazer com que curtos por capítulo são produzidos em dias lon-
o fotoequilíbrio no embrião seja baixo ao final gos (Forsyth e Brown, 1982). Em Commelina
de seu desenvolvimento. Portanto, uma semente virginica (trapoeraba), observa-se a produção de
amadurecida em um ambiente rico em VE (como flores aéreas (casmogâmicas) e subterrâneas
sob dossel) pode apresentar maior dormência. (cleistogâmicas), sendo que essas últimas pro-
A exposição de aquênios de Bidens pilosa por 1 h duzem sementes maiores e com maior germi-
ao VE, por exemplo, é suficiente para inibir sua nabilidade do que as sementes originadas de
germinação no escuro (Gutterman, 2000). A res- flores aéreas. Estas, por sua vez, são indiferen-
posta das sementes à qualidade da luz durante tes à luz, enquanto as sementes subterrâneas
a maturação na planta-mãe também pode estar apresentam fotoblastismo positivo (Cardoso,
relacionada à espessura do tecido clorofilado que Beltrati e Paoli, 1994).
envolve a semente nessa fase, aumentando a A posição da semente no fruto também po-
incidência de VE no embrião. de conferir um polimorfismo fisiológico. Um
Na maior parte dos casos relatados, o au- exemplo clássico é Xanthium strumarium, no
mento da temperatura durante a fase de ma- qual cada fruto contém duas sementes: a que
turação tende a produzir sementes com menor ocupa a porção proximal (em relação ao pedún-
grau de dormência, ou seja, quanto maior a culo) exibe uma dormência muito maior do que
temperatura, maior a capacidade de germina- a da semente distal (Esashi et al., 1983).
ção. Entretanto, essa resposta não constitui A idade da planta-mãe também pode afetar
uma regra geral, estando provavelmente rela- a germinabilidade de sua progênie, como no
cionada à fenologia da planta, à sua tolerância caso de Amaranthus retroflexus, uma herbácea
a temperaturas mais elevadas e ao tempo de anual cuja germinabilidade diminui com a ida-
exposição ao estímulo térmico. de da planta-mãe no momento em que ocorre
a indução floral. Plantas adultas jovens de
Efeito de fatores maternos Spergularia diandra produzem sementes mais pe-
Além dos fatores abióticos, fatores biológi- sadas e com dormência menor do que sementes
cos também influenciam diretamente o grau produzidas já no estágio de senescência (Gut-
de dormência primária de uma semente, alte- terman, 2000).
Quadro 5.1 Classificação dos principais tipos de dormência (Baskin e Baskin , 1998; Carvalho, 1994)
ENDÓGENA
Fisiológica Primária ou Inibição de natureza • inibidores químicos Ocotea puberula
secundária fisiológica envolvendo • resistência dos envoltórios e Tibouchina spp.
uma interação entre o potencial de crescimento do
embrião e os tecidos embrião
adjacentes, mas controlada • fotoequilíbrio do fitocromo
primariamante pelo embrião • balanço hormonal
EXÓGENA
Física Primária ou Estrutura do tegumento e/ou • resistência dos envoltórios à Adenanthera
secundária do pericarpo difusão de água e/ou gases pavonina
ao embrião
• impermeabilidade dos
envoltórios à água e/ou aos
gases
dormência profunda, o embrião não se desen- ção, imersão em água quente ou escarificação.
volve mesmo quando isolado. A dormência pro- Alternância térmica, aplicação de hormônios
funda, freqüentemente encontrada em espécies (como o ácido giberélico e o etileno) e nitrato
arbóreas de regiões temperadas, localiza-se ex- também são normalmente utilizados para in-
clusivamente no embrião, aparentemente não terromper a dormência (Capítulo 8).
sofrendo influência dos envoltórios. Nos níveis
intermediário e não-profundo, o controle da Dormência morfológica (MO)
dormência situa-se fundamentalmente no em- Relaciona-se às sementes que são dispersas
brião, mas existe uma interação com os tecidos com o embrião não-diferenciado (estágio de
adjacentes (tegumentos, endosperma, etc.). É pré-embrião) ou não completamente desenvol-
o caso, por exemplo, da dormência fotoblástica vido (estágio de “torpedo” ou linear). Desse
(como em Piper spp.) e da restrição mecânica modo, o embrião deverá passar por um período
imposta pelo endosperma (como em certas va- de maturação na semente separada da planta-
riedades de Lactuca sativa). mãe, até adquirir a condição de quiescência.
Na semente intacta, dependendo do nível, Assim, o desenvolvimento da semente, nesse
a DF tende a desaparecer com os seguintes tra- caso, ocorre em duas fases, sendo a segunda
tamentos: armazenamento a seco, estratifica- na semente já dispersa. Principalmente em es-
pécies tropicais, esse crescimento do embrião é Quadro 5.2 Algumas famílias de plantas de
praticamente contínuo no ambiente natural, fi- ocorrência tropical com pelo menos uma espécie
cujas sementes apresentam dormência morfológica
cando muitas vezes difícil separar os processos
(modificado de Baskin e Baskin , 1998)
de quebra da dormência e de germinação pro-
priamente dita. O termo pós-maturação tem si- Amaryllidaceae Amborellaceae
do aplicado de um modo genérico (lato sensu) Annonaceae Araceae
Araliaceae Arecaceae
na comunidade científica, referindo-se ao con-
Aristollochiaceae Buxaceae
junto de transformações que a semente sofre Cannaceae Cycadaceae
durante a passagem do estado de dormência Daphniphyllaceae Degeneriaceae
para o de quiescência, e não apenas aos casos Iridaceae Loranthaceae
Liliaceae Magnoliaceae
de pós-maturação morfológica do embrião
Monimiaceae Myristicaceae
(pós-maturação stricto sensu). Esta, por sua vez, Oleaceae Piperaceae
é afetada pelas condições ambientais, principal- Santalaceae Winteraceae
mente temperatura, umidade e luz. Heracleum
sphondyllum, por exemplo, apresenta pós-ma-
turação apenas se passar por um período de bai-
morfológica ou stricto sensu, enquanto, em ou-
xas temperaturas, enquanto Elaeis guineensis re-
tras, ambos os processos (quebra de dormência
quer temperaturas na faixa de 35 a 40°C. Esta
e pós-maturação morfológica) ocorrem ao mes-
última espécie deve apresentar também dor-
mo tempo. Sementes de Annona crassiflora, o co-
mência fisiológica, já que as sementes respon-
nhecido araticum (Rizzini, 1973), provavel-
dem à estratificação com temperaturas elevadas
mente se enquadram nessa categoria.
(Baskin e Baskin, 1998).
Dormência morfológica tem sido observada
em representantes de diversas famílias vegetais, Dormência exógena
algumas das quais são listadas no Quadro 5.2. A dormência exógena, ou extra-embrioná-
São escassos os trabalhos tratando dessa moda- ria, é causada primariamente pelo tegumento,
lidade de dormência em espécies brasileiras, re- pelo endocarpo, pelo pericarpo e/ou por órgãos
latada quase que exclusivamente em Annona- extraflorais, em geral com pouca ou nenhuma
ceae, Mimosaceae e Aquifoliaceae. Estudos nes- participação direta do embrião na sua quebra.
se sentido devem envolver um cuidadoso traba- Em geral, os mecanismos responsáveis por essa
lho de anatomia associado à fisiologia, pesqui- modalidade de dormência estão relacionados
sando-se a eventual ocorrência de DF e acompa- à impermeabilidade, ao efeito mecânico e/ou à
nhando-se o crescimento do embrião durante presença de substâncias inibidoras dos tecidos.
a fase de pós-maturação. Pode ser dividida em: física, química e mecânica.
Como exemplos, em Serenoa repens (Arecaceae), da semente – apenas quando a umidade exter-
a dormência da semente é causada pela imper- na aumentava gradualmente.
meabilidade do tegumento e do endocarpo ao A dormência física é considerada uma das
oxigênio, e em sementes pós-maturadas de al- formas mais comuns de dormência em semen-
gumas gramíneas, como Brachiaria brizantha, tes de espécies tropicais. Exemplos típicos são:
ocorre uma dormência tegumentar causada por Schizolobium parahyba (ficheira), Erithrina spe-
tecidos da cariopse (lema e pálea), os quais pro- ciosa (eritrina), Dimorphandra mollis (falso bar-
vavelmente diminuem a disponibilidade de oxi- batimão) e Hymenaea courbaril (jatobá) (ver se-
gênio ao embrião. ção “Dormência em espécies tropicais”).
Em geral, a impermeabilidade à água é cau-
sada pelo tegumento e/ou pelo endocarpo. Em Dormência química (DQ)
Fabaceae, a resistência principal à entrada de Inicialmente, considerou-se DQ aquela cau-
água é conferida pela testa, que apresenta uma sada por inibidores de crescimento presentes
camada de células paliçádicas com paredes se- unicamente no pericarpo. A definição foi poste-
cundárias grossas e lignificadas (esclereídeos), riormente estendida para substâncias produzi-
impregnadas com substâncias de natureza hi- das tanto dentro como fora da semente que,
drofóbica, tais como lipídeos, suberina, cutina, translocadas para o embrião, inibem a germina-
substâncias pécticas e lignina. Em Anacardia- ção. Aquênios de Bidens pilosa (picão-preto), por
ceae, algumas espécies apresentam FI causada exemplo, germinam melhor quando submeti-
por tecidos do fruto (endocarpo e pericarpo). dos a uma lavagem com água corrente, sugerin-
O tegumento também pode conter uma muci- do a presença de inibidores no fruto. No caso
lagem que se expande na presença de água, for- do picão, entretanto, é possível que esses inibi-
mando uma barreira à difusão de oxigênio e dores atuem reduzindo, via oxidação, a disponi-
diminuindo a velocidade de germinação, como bilidade de oxigênio ao embrião.
provavelmente ocorre em sementes de Magonia Tem sido bastante comum a detecção –
pubescens (Joly, 1979). A deficiência de oxigênio principalmente por intermédio de bioensaios –
(hipoxia) causada pela hidratação da testa mu- de inibidores de crescimento tanto no fruto co-
cilaginosa também pode provocar dormência mo na semente, embora seu papel no controle
secundária do embrião, como deve ocorrer em endógeno da germinação raramente fique esta-
sementes de Sisymbrium officinale (Baskin e Bas- belecido. É preciso também determinar uma
kin, 1998). distinção entre a DQ (um tipo de dormência
Em condições naturais, a embebição de se- exógena) e a dormência fisiológica, tendo em
mentes com tegumento rígido ocorre por meio vista que, em muitos casos, unidades de dis-
de estruturas especializadas localizadas na sua persão com inibidores químicos também apre-
superfície, tais como a lente (ou estrofíolo), o sentam dormência fisiológica. Um exemplo é
hilo, a calaza e a micrópila, as quais impedem dado por Rosa rugosa, em que lixívia de aquênios
a passagem de água e/ou gases para o interior dormentes inibe a germinação de embriões iso-
da semente dormente. Dependendo das condi- lados de sementes dormentes dessa espécie,
ções ambientais – principalmente da água e da mas não é capaz de inibir a germinação de em-
temperatura –, tais vias de acesso são desblo- briões não-dormentes (Baskin e Baskin, 1998).
queadas, permitindo que a semente controle a Nesse sentido, diversos autores enquadram
entrada e a saída de água. Em um trabalho clás- como DF toda dormência provocada por inibi-
sico de 1954, Hyde (in Labouriau, 1983) obser- dores de crescimento. Como mencionado ante-
vou que, em sementes de Trifolium pratense e riormente, a DF está relacionada fundamental-
Lupinus arboreus, o hilo funcionava como uma mente ao embrião, envolvendo, entre outros
válvula higroscópica, mantendo-se fechado em processos, mudanças na produção e/ou na sen-
casos de aumentos bruscos e transientes da sibilidade do tecido a substâncias de crescimen-
umidade, e abrindo – permitindo a embebição to, necessitando ser quebrada por tratamentos
específicos, como a estratificação. Por outro la- mência em espécies tropicais, sendo o maior
do, na DQ, o embrião está em estado de quies- volume de dados obtido a partir de pesquisas
cência, e o inibidor deve simplesmente impedir realizadas na Malásia e na América Central, em
seu crescimento. Assim, a rigor, a expressão DQ florestas tropicais úmidas. Por falta, talvez, de
deveria ser aplicada apenas às espécies cujas uma melhor fundamentação conceitual e pa-
sementes não apresentam dormência fisiológica. dronização metodológica, a caracterização da
dormência assume muitas vezes uma caráter
Dormência mecânica (DM) arbitrário, sendo, portanto, passíveis de revi-
Por definição, sementes com DM apresen- sões alguns dos diversos casos estudados. As-
tam o endocarpo ou o mesocarpo pétreo, cuja sim, por exemplo, são freqüêntemente classi-
rigidez impede a expansão do embrião. Um ficados como dormência fisiológica casos em
exemplo é a semente de oliveira. Por outro lado, que o fator de restrição está provavelmente lo-
sobretudo em espécies tropicais, faltam estudos calizado no tegumento ou no pericarpo, consi-
para determinar até que ponto a DM atua como derando-se o tratamento realizado para que-
um mecanismo efetivo de restrição da ger- brar a dormência. Além disso, são inúmeros os
minação. É possível que esse tipo de dormên- trabalhos que, ao pretender abordar e discutir
cia seja acompanhado por algum bloqueio si- a dormência, acabam tratando apenas da ger-
tuado no próprio embrião, como na DF. Em ou- minação de sementes.
tras palavras, estando o embrião quiescente e A partir de compilações realizadas por Bas-
em condições adequadas de água, oxigênio e kin e Baskin (1998), elaborou-se a Tabela 5.1,
temperatura, não haveria um impedimento que trata da distribuição dos vários tipos de dor-
mecânico efetivo ao seu crescimento, por parte mência em espécies de diferentes fisionomias
dos tecidos adjacentes. florestais em regiões tropicais. Os autores infe-
riram os tipos de dormência de acordo com da-
dos sobre o tempo necessário para o início da
DORMÊNCIA EM ESPÉCIES germinação – foram consideradas dormentes
TROPICAIS as espécies cujas sementes demoraram mais de
Apesar da riqueza quanto à diversidade de espé- quatro semanas para começar a germinar – e
cies, são relativamente recentes os estudos so- sobre as características morfológicas da semen-
bre os mecanismos e as modalidades de dor- te e do embrião. De modo geral, considerando-
* Arbustos.
se um gradiente que vai desde o ambiente mais da espécie, observa-se – além da predominância
úmido (floresta tropical úmida) até o mais seco de FI – que a dormência fisiológica é mais co-
(savana/cerrado), nota-se que os casos de dor- mum no grupo das não-pioneiras, enquanto a
mência fisiológica e morfológica decrescem e dormência física tende a ocorrer mais nas espé-
os casos de dormência física aumentam à medi- cies consideradas pioneiras (Figura 5.3). Exem-
da que diminui a disponibilidade de água. Isso plos dos demais tipos de dormência foram ob-
é válido tanto para as espécies arbóreas como servados apenas nas não-pioneiras. A partir das
para as herbáceas. Esses dados sugerem um informações reunidas por Carvalho (1994) so-
“investimento” maior em mecanismos de dor- bre uma centena de espécies arbóreas nativas,
mência tegumentar em ambientes sujeitos a nota-se que as sementes da maioria das espé-
maiores flutuações ambientais. cies (cerca de 63%) não apresentam qualquer
Em um levantamento feito com base em tipo de dormência, o que praticamente coincide
dados de espécies arbóreas da flora brasileira, com o levantamento realizado por Baskin e Bas-
cujas sementes exibem algum tipo de dormên- kin (1998) com essências arbóreas não-pionei-
cia (Tabela 5.2), observa-se uma predominância ras de florestas tropicais úmidas de todo o pla-
(aproximadamente 63%) de dormência física neta. Em ecossistemas mais secos, como deser-
ou mecânica em relação aos demais tipos, sendo tos quentes, por outro lado, a proporção de es-
que a DF respondeu por pouco mais de 30% pécies com sementes dormentes é bastante alta
dos casos. Em uma distribuição dos tipos de (cerca de 80%), mostrando o caráter adaptativo
dormência considerando o grupo sucessional da dormência.
Tabela 5.2 Tipos de dormência de algumas espécies arbóreas brasileiras (Carvalho, 1994)
DF MO FI DQ DM DF MO FI DQ DM
(Eds.). Cerrado: ambiente e flora. Embrapa, Planaltina, TAKAKI, M. O fitocromo no controle da germinação de
1998. pp. 169-194. sementes. Biologica Brasilica 3: 137-155, 1991.
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ção de sementes no Brasil. Anais da Academia Brasileira dormancy: an attempt to integrate physiology and
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DORMÊNCIA EMBRIONÁRIA
Fabian Borghetti
TIPOS DE DORMÊNCIA
Diversos tipos de dormência têm sido identifi- IMATURIDADE DO EMBRIÃO
cados conforme o mecanismo de bloqueio à ger- Diversas espécies produzem sementes que são
minação (Capítulo 5). De modo geral, o blo- dispersas com o embrião imaturo. Em alguns
queio à germinação imposto pelos tegumentos casos, é possível identificar no embrião os coti-
da semente, seja restringindo a embebição, as lédones e o eixo embrionário, o que indica que
trocas gasosas e/ou a expansão do embrião, ca- houve diferenciação; contudo, o desenvolvi-
racteriza a dormência tegumentar ou física (Ca- mento foi incompleto. Nesse estágio, o embrião,
pítulo 7). Os embriões removidos dessas se- em dicotiledôneas, pode apresentar um aspecto
mentes germinam prontamente quando embe- cordiforme. Em casos mais extremos, ele não
bidos sob condições apropriadas. Quando o im- passa de uma massa de células indiferenciadas,
Embriogênese Pós-maturação
e e
maturação germinação
C Embrião
imaturo
Condições
ambientais E
apropriadas Embrião
Influências do maduro
genótipo e do D Embrião maduro,
dormência não-dormente
ambiente
primária
! Figura 6.1
Relação entre os tipos de dormência fisiológica. Durante a embriogênese, o embrião pode atingir sua maturi-
dade morfofisiológica (A) e, eventualmente, germinar sob condições apropriadas (B). Caso se encontre imaturo
(C) ou dormente (D), será necessário um período de pós-maturação para que o embrião atinja sua maturidade
(E). Estando dormente ou não, o embrião pode adquirir dormência secundária (F) caso as condições para a
germinação sejam inapropriadas. Sinais ambientais específicos são necessários para a superação da dormência
secundária (G) e a promoção da germinação (Bewley e Black, 1994).
embriões imaturos no momento da dispersão ção do embrião e sua germinação (Laux e Jür-
(Rizzini, 1977). Acredita-se que as condições gens, 1997).
adequadas (ou necessárias) ao desenvolvimen-
to completo do embrião reflitam características
climáticas predominantes na região de ocor- DORMÊNCIA EM EMBRIÕES
rência da espécie durante o período de pós-ma- MADUROS
turação das sementes (Baskin e Baskin, 1998). Grande parte das espécies produz sementes
As causas do desenvolvimento incompleto com embriões maduros cujas estruturas
do embrião durante a formação da semente na básicas, como cotilédones, eixo embrionário,
planta-mãe não estão bem-elucidadas. Estudos plúmula, escutelo, entre outras, se encontram
conduzidos com o gênero Ilex, entre outros, diferenciadas (Capítulo 4). Entretanto, nem
mostraram que o bloqueio do desenvolvimen- sempre sementes viáveis germinam quando
to embrionário pode ocorrer em diferentes es- dispostas sob condições supostamente apro-
tágios durante a embriogênese. Isso resulta priadas, o que indica que as mesmas se encon-
em que as sementes, quando dispersas, possam tram dormentes. Em um embrião maduro, esse
apresentar embriões cuja imaturidade pode va- tipo de dormência pode resultar de um impedi-
riar entre o estágio globular e o torpedo. A ultra- mento metabólico localizado tanto no eixo em-
estrutura e os eventos celulares (e, provavel- brionário como nos cotilédones.
mente, os bioquímicos), durante a embriogêne-
se, são bastantes similares entre diferentes es- Dormência originada nos
pécies (Hu e Ferreira, 1989), mostrando certo cotilédones
grau de conservação no padrão de formação do O conhecimento de que certos embriões são
embrião (Laux e Jürgens, 1997). impedidos de germinar pelos cotilédones não
As estruturas da semente que envolvem o é recente. Entretanto, a maior parte dos exem-
embrião estão entre os principais agentes de plos de espécies que apresentam dormência in-
controle da embriogênese. No gênero Ilex, por duzida pelos cotilédones é de clima temperado,
exemplo, sabe-se que inibidor(es) presente(s) como Corylus avellana (avelã), Fraxinus excelsior
no endosperma atua(m) bloqueando o desen- e Pirus malus (maçã). A demonstração de que
volvimento embrionário (Hu e Ferreira, 1989). os cotilédones podem estar envolvidos na ini-
No caso de espécies como Pirus malus (maçã) e bição do alongamento embrionário é resultado
Helianthus annuus (girassol), o ácido abscísico de estudos conduzidos com embriões de maçã.
presente na semente tem sido considerado o Embriões isolados de sementes recém-colhidas
principal responsável pela inibição do desenvol- não germinam a 20oC. Contudo, a remoção pro-
vimento embrionário (Bewley e Black, 1994). gressiva de um ou dois cotilédones promove o
Assim como a dormência em embriões ma- alongamento embrionário (Figura 6.2).
duros, a imaturidade do embrião poderia ser A inibição do alongamento embrionário
encarada como uma forma de restringir a vivi- pelos cotilédones sugere a difusão de substân-
paridade ou mesmo a germinação imediata cias inibidoras para o eixo, mantendo-o na con-
após a dispersão. Apesar de o ácido abscísico dição dormente. No caso da maçã, o ácido abs-
estar envolvido na dormência tanto em em- císico é o principal agente envolvido nesse blo-
briões imaturos quanto maduros, acredita-se queio (Bewley e Black, 1994).
que os mecanismos relacionados ao controle A presença de cotilédones que inibem o
desses tipos de dormência sejam distintos. Es- alongamento embrionário não exclui a possi-
tudos mostram que genes atuantes durante di- bilidade de o próprio eixo embrionário estar dor-
ferentes etapas na embriogênese são, em gran- mente também. Em embriões de maçã, a re-
de parte, distintos daqueles envolvidos na ger- moção dos cotilédones promove a germinação,
minação, o que identifica a execução de pro- mas esta não passa dos 50% em sementes re-
gramas genéticos diferentes durante a forma- cém-colhidas (Figura 6.2). Alguns meses de ar-
C
50
Germinação (%)
40
30
B
20
10
A
0
0 20 40 60
Tempo (dias)
! Figura 6.2
Germinação de embriões de Pirus malus (maçã) a 20oC. (A) embriões intactos; (B) embriões com um ou parte
dos dois cotilédones removidos; (C) embriões com os dois cotilédones removidos (Bewley e Black, 1994).
mazenamento sob baixas temperaturas e alta diferentes genes e proteínas são ativados em
umidade são necessários para que uma grande embriões dormentes e germinantes, resultando
porcentagem de germinação seja atingida. ou não no alongamento embrionário.
Diversas espécies de ocorrência em biomas
Dormência localizada no eixo brasileiros produzem sementes dormentes
embrionário (Quadro 6.1). Como os tratamentos utilizados
Sementes de diversas espécies apresentam para a quebra da dormência não dizem respei-
embriões cuja dormência não se origina nos co- to apenas à escarificação, isso sugere que as es-
tilédones. Talvez um dos exemplos mais ilus- pécies citadas produzem sementes com algum
trativos seja o caso do girassol. Estudos revelam tipo de dormência localizada no embrião.
que a remoção dos cotilédones não interfere no
grau de dormência do embrião, implicando que
o bloqueio à germinação está localizado especi- DORMÊNCIA SECUNDÁRIA
ficamente no eixo embrionário. Isso sugere a Dormência secundária corresponde àquela que
existência, no eixo embrionário, de mecanis- se estabelece após a dispersão da semente. Essa
mos de controle da germinação que podem ser condição pode ser induzida quando uma se-
ativados e mantidos tanto por sinais provenien- mente não-dormente encontra condições cli-
tes de outras partes da semente como por sinais máticas inapropriadas para a germinação, ou
provenientes do próprio eixo. por influência de substâncias inibidoras da ger-
Na prática, a dormência embrionária mani- minação presentes no meio, como fenóis e ou-
festa-se durante a embebição da semente, tros metabólitos secundários (Hilhorst, 1998).
quando a reidratação dos tecidos promove a A dormência secundária pode ser tanto induzi-
reativação do metabolismo celular, não resul- da quanto removida pelas condições ambientais
tando, contudo, no alongamento embrionário. nas quais a semente se encontra, e esse fenôme-
O direcionamento do metabolismo, para a ger- no pode ocorrer durante as sucessivas estações
minação ou para a dormência, reflete em parti- do ano (Figura 6.1). Autores têm associado esse
cular o balanço entre fitormônios promotores comportamento “cíclico” entre os estados de
e inibidores da germinação (Figura 6.3). Como dormência e quiescência das sementes aos pa-
será visto adiante, em resposta aos fitormônios, drões de germinação observados sob condições
aminoácidos e
síntese de
mRNAs
e proteínas
Metabolismo da
Síntese e
germinação suprimido
degradação de
(por ABA) –
mRNAs e
manutenção
proteínas e síntese
da dormência
de fitormônios
Tempo
! Figura 6.3
Eventos metabólicos associados à embebição da semente, resultando na germinação ou na manutenção da
dormência no embrião. Adaptada de Bewley (1997) e Obroucheva e Antipova (2000).
Quadro 6.1 Espécies de ocorrência em biomas brasileiros que produzem sementes dormentes e sinais
envolvidos na quebra da dormência
EMBRIÃO IMATURO
Agente de quebra
Espécie Família Ocorrência da dormência Referência
EMBRIÃO MADURO
ratura e agentes químicos. Evidências têm leva- a atividade de diversas enzimas do metabolis-
do à idéia de que mecanismos comuns e conser- mo são bastante similares em embriões dor-
vados de controle da germinação, pela percep- mentes e germinantes (Bewley e Black, 1994;
ção de sinais ambientais e variações no balanço Ballard, Foley e Bauman, 1996). Esses resulta-
hormonal, modulam a germinação de diversas dos sugerem que a passagem da condição dor-
espécies (Bewley, 1997). mente para a germinante envolve variações “dis-
cretas” no metabolismo embrionário durante a
embebição (Figura 6.3).
FITORMÔNIOS E DORMÊNCIA
Nas sementes, o estabelecimento da dormência
durante a formação do propágulo é um processo MEMBRANAS E O CONTROLE
ativo, isto é, envolve síntese protéica, ativida- DA DORMÊNCIA
de respiratória e consumo de ATP (Bewley e Diversas hipóteses têm tentado explicar meca-
Black, 1994). Estudos comprovaram que o fitor- nismos de controle da dormência embrionária.
mônio ácido abscísico (ABA) é o principal agen- Por exemplo, foi proposto que a restrição ao
te envolvido no estabelecimento da dormência alongamento embrionário em sementes de ma-
embrionária durante a maturação da semente çã poderia decorrer, ao menos em parte, de uma
na planta-mãe. O uso de inibidores da síntese limitação no fornecimento de monossacarídeos
do ABA, durante a embriogênese, resultou na e da baixa eficiência de rotas metabólicas clássi-
formação de embriões não-dormentes (Hilhorst, cas como a glicólise (Lewak et al., 2000). A “ca-
1995), e o uso de mutantes deficientes, na sín- rência de substratos” (em particular para a via
tese ou percepção ao ABA, produziu sementes das pentose-fosfatos) também estaria envolvida
não-dormentes (Karseen, 1995). Além da sua no desenvolvimento anormal dos cotilédones
participação no estabelecimento da dormência dos embriões germinantes. Entretanto, como
durante a embriogênese, verificou-se também os próprios autores salientam, essa hipótese não
que, durante a embebição, a síntese desse fitor- explica eventos primários observados na quebra
mônio é necessária para a manutenção da dor- da dormência embrionária, como mudanças na
mência no embrião (Garello et al., 2000). Esses estrutura e nas propriedades das membranas,
resultados mostram que o ABA tanto induz a variações na síntese de proteínas específicas e
dormência durante a maturação quanto blo- nos níveis hormonais durante a passagem da
queia a germinação durante a embebição. dormência para a germinação (Lewak, Bogatek
A quebra da dormência, por outro lado, en- e Zarska-Maciejewska, 2000).
volve tanto a redução da concentração de inibi- A “hipótese da membrana” sugere que a
dores da germinação, como o ABA, nos tecidos quebra da dormência envolve efeitos (particu-
embrionários quanto a síntese de fitormônios larmente da temperatura) nas propriedades das
promotores da germinação. Entre os principais membranas, alterando características como sua
fitormônios envolvidos na quebra da dormência fluidez e integridade, o que se reflete principal-
em sementes se encontram as giberelinas (GAs) mente na atividade e na disponibilidade de re-
(Karseen, 1995) e o gás etileno (Kepczynski e ceptores protéicos associados às mesmas (Hil-
Kepczynska, 1997). Tanto as giberelinas quanto horst, 1998). Entre estes poderiam se incluir
o etileno modulam o metabolismo celular de ma- receptores ao nitrato e proteínas que interagem
neira a promover o alongamento embrionário. com o fitocromo (como será visto adiante). De
Intrigante, entretanto, é o fato de que gran- acordo com esse conceito, a indução da dor-
de parte dos eventos metabólicos que ocorrem mência seria decorrente da inativação de recep-
durante a embebição em sementes dormentes tores-chave presentes nas membranas, enquan-
também ocorre em sementes germinantes; as to a quebra da dormência resultaria do aumen-
taxas respiratórias, os perfis de síntese de pro- to na atividade e/ou na probabilidade de inte-
teínas e ácidos nucléicos, o consumo de ATP e ração entre receptores e agentes quebradores
da dormência, tanto externos (nitrato) como atuando, assim, na expressão gênica. Essas ob-
parceiros intracelulares de reação (fitocromo). servações abrem a possibilidade de incluir no-
Dessa interação iniciaria uma cascata de trans- vas alternativas de abordagem dos mecanismos
dução de sinais que envolveria a síntese de fi- envolvidos no controle da germinação.
tormônios promotores da germinação (GAs) e
da ativação do metabolismo voltado ao alon-
gamento embrionário (Hilhorst, 1998). Por sua DA MEMBRANA AO NÚCLEO –
natureza, essa hipótese é aplicável principal- QUEBRA DA DORMÊNCIA E
mente ao caso de indução e remoção da dor- GERMINAÇÃO
mência secundária em sementes. Estudos mos- A propagação intracelular de sinais provenien-
traram que a indução da dormência secundária tes de receptores localizados na membrana
é caracterizada pela perda da sensibilidade a plasmática ao aparato genético envolve agentes
agentes quebradores da dormência como luz e tão diversos quanto adenilato ciclase, ácidos
nitrato (Bewley e Black, 1994), fatos estes que fosfatídicos, MAPKs1 , lipoxigenase e mesmo re-
argumentam em favor da hipótese. ceptores de membrana que apresentam ativida-
Observações experimentais de que de kinase. Grande parte desses agentes ocorre
substâncias tão diversas quanto álcoois e ácidos no citoplasma. Eles são ativados em resposta a
orgânicos quebravam a dormência de sementes diversos sinais intra e extracelulares que inte-
de diversas espécies levaram à formulação da ragem com os respectivos receptores. A propa-
“hipótese dos anestésicos” (revisada por Cohn gação do sinal é realizada por reações específi-
e Hilhorst, 2000). Essa denominação foi dada cas que seguramente envolvem a atividade de
em virtude de os efeitos de tais agentes nas kinases e fosfatases. Estas enzimas, por sua vez,
membranas serem similares aos gerados pelos atuam na regulação de fatores de transcrição
anestésicos. Considerando que vários desses cuja interação com sítios promotores leva à ini-
agentes químicos quebradores de dormência bição ou à ativação da expressão gênica, modu-
apresentam um certo grau de solubilidade em lando, assim, o metabolismo conforme o tipo
lipídeos, essa hipótese sugere que a quebra da de sinal atuante (Ladyzhenskaya e Protsenko,
dormência passaria pela interação dessas subs- 2002).
tâncias com as membranas, alterando proprie-
dades como permeabilidade, fluidez, estrutura ABA e manutenção da dormência
e atividade de receptores, de forma similar aos Estudos revelam que a transdução do sinal
efeitos promovidos pela temperatura, levando gerado pelo ABA inicia com sua ligação a recep-
à germinação. Recentemente observou-se que tores (ainda desconhecidos) supostamente lo-
a quebra da dormência por agentes químicos, calizados na membrana plasmática ou em
como os álcoois, requer que os mesmos ingres- membranas situadas no citosol. Ao interagir
sem na célula e sejam catabolizados, modifi- com esses receptores, o ABA promove eventos-
cando o metabolismo celular, elicitando a que- cascata que envolvem a ativação de proteínas-
bra da dormência (Cohn e Hilhorst, 2000) am- G e a participação de mensageiros secundários
pliando a gama de efeitos mediados por esses como inositol-3 fostato, fosfatases e kinases, o
agentes no controle da germinação. que resulta na ativação e/ou repressão de di-
Diversos genes e proteínas estão envolvidos versos genes, além de modificações na concen-
na decisão entre germinar ou permanecer dor- tração intracelular de cálcio e calmodulina (Fin-
mente. Sabe-se que agentes quebradores da kelstein, Gampala e Rock, 2002).
dormência (tão diversos quanto luz, GAs e eti-
leno, assim como agentes envolvidos no estabe-
lecimento e na manutenção da dormência, co-
mo o ABA) modulam a atividade de várias 1
MAPK: Mitogen-Activated Protein Kinases, kinases ativadas por agen-
tes mitogênicos (Jonak, Heberle-Bors, Hirt, 1994).
kinases e fosfatases, entre outras proteínas,
O ABA induz e bloqueia a expressão de di- primindo a ação de tais polipeptídeos. De fato,
versos genes, entre eles, os que codificam poli- diversos desses transcriptos “inibidores” da ger-
peptídeos com domínio de ligação ao RNA (Ni- minação (como o RGL2) desaparecem sob tra-
colás et al., 1997) e proteínas diversas (Bardu- tamento com GAs exógenas (Peng e Harberd,
che et al., 1999). Embora se desconheça a iden- 2002). Em contrapartida, foram identificados
tidade dos transcriptos, acredita-se que eles genes (CTS) ativados pelas GAs que atuam na
estão envolvidos na dormência e que a inibição promoção da germinação e na repressão da dor-
da síntese e/ou a remoção ativa dos mesmos mência embrionária (Russel et al., 2000).
sejam necessárias para a progressão da germi- As GAs promovem a síntese de enzimas en-
nação (Nicolás et al., 1997). A ação do ABA volvidas no enfraquecimento dos tegumentos
também envolve a inibição da expressão de de- (endo-β-mananases, expansinas) e/ou a hidró-
terminados genes, inclusive dos que codificam lise de reservas (amilases), eventos relaciona-
enzimas envolvidas na degradação de reservas dos principalmente à protrusão da radícula
como amilases e proteinases, cuja síntese é pro- (Bewley e Black, 1994). Esses resultados indi-
movida pelo ácido giberélico (Barduche et al., cam que as GAs agem tanto na quebra da
1999). Assim, o ABA atua tanto promovendo a dormência, por atuar no silenciamento de genes
síntese de proteínas “inibidoras” da germinação envolvidos na manutenção da dormência
como inibindo a síntese de enzimas envolvidas (Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002), como
na mobilização de reservas. Acredita-se que a na progressão do alongamento embrionário,
quebra da dormência passa pelo silenciamento por promover a síntese de enzimas envolvidas
desses genes e pela remoção ativa de proteínas na mobilização de reservas (Bewley, 1997). Es-
inibidoras da germinação. De fato, diversos sas observações têm colocado as GAs como o
polipeptídeos sintetizados em resposta ao ABA principal agente envolvido na quebra da dor-
desaparecem durante a germinação, e uma das mência em sementes (Peng e Harberd, 2002).
ações desse fitormônio, em sementes, é o blo- A rota intracelular de transdução de sinal
queio da atividade de diversas proteinases do etileno inicia na interação deste gás com re-
(Barduche et al., 1999). ceptores de membrana (codificados por genes
tipo o ETR1) e, por meio da modulação da ativi-
Fitormônios e a quebra da dormência dade de kinases (como o CTR1), regula a ex-
As giberelinas (GAs) apresentam um per- pressão de diversos genes como o EIN3. Em par-
fil de ação intracelular similar ao do ABA, en- ticular, o gene CTR1 codifica um polipeptídeo
tretanto, de efeito antagônico no metabolismo (~90 kDa) com grande similaridade estrutural
embrionário. Este fitormônio se liga a um re- e funcional ao grupo das serina-treonina kina-
ceptor de membrana, que interage provavel- se, que atua negativamente na rota de resposta
mente com proteínas-G também associadas à a este fitormônio. Acredita-se que a ligação do
membrana plasmática. Diversos genes que co- etileno ao receptor resulta na sua ativação, que,
dificam polipeptídeos envolvidos na rota de si- por sua vez, atua inibindo a atividade do CTR1
nalização das GAs foram identificados por es- (Bleecker, 1999). Há evidências que apontam
tudos conduzidos com plantas mutantes para a participação de MAPK kinases no meca-
(Olszewski, Sun e Gubler, 2002). Entre eles, nismo de transdução de sinal do etileno.
genes que codificam fatores de transcrição que Muitas questões permanecem em aberto
atua especificamente no controle da germina- quanto às etapas envolvidas entre a percepção
ção foram identificados em Arabidopsis thaliana, ao etileno e a quebra da dormência. Recentes
Lycopersicum esculentum (tomate) e Nicotiana estudos mostraram que o etileno e o ácido abs-
tabacum (tabaco) (Peng e Harberd, 2002). O císico partilham elementos de transdução de
interessante é que parte desses fatores de trans- sinal. Beaudoin e colaboradores (2000) verifica-
crição atuam como inibidores da germinação, ram que o etileno regula negativamente o grau
e as GAs parecem promover a germinação su- de dormência em A. thaliana por suprimir a ex-
roidais encontrados em diversas espécies vege- permas ancestrais pudessem deixar os ambien-
tais, principalmente no pólen e nas sementes. tes úmidos, invadir e se estabelecer em ambien-
São reconhecidos por regularem múltiplas res- tes mais secos e até então não-colonizados (Ma-
postas nas plantas, como o alongamento e a pes, Rothwell e Haworth, 1989). Postula-se,
divisão celular, o desenvolvimento do tubo po- pois, que a dormência inicialmente tenha surgi-
línico e o crescimento de plantas no escuro do com uma função morfogenética – organiza-
(skotomorfogênese). Entretanto, recentes estu- ção temporal e espacial do desenvolvimento da
dos sugeriram que os BRs podem atuar de for- planta – antes de tornar-se também um meca-
ma similar às GAs, tanto por quebrar em a dor- nismo de restrição do alongamento embrioná-
mência imposta pelo ABA como por estimular rio sob situações climáticas desfavoráveis (Ma-
em a germinação (Steber e McCourt, 2001). Ob- pes, Rothwell e Haworth, 1989; Viémont e
servou-se que os BRs promovem a germinação Crabbé, 2000).
de sementes de plantas mutantes cuja rota de Espécies vegetais pertencentes aos mais
síntese (ou sensibilidade às GAs) foi suprimida. diversos TAXA, de ocorrência nos mais variados
Acredita-se, contudo, que o efeito de resgatar ecossistemas produzem sementes com alguma
a germinação em plantas mutantes resulta da forma de bloqueio da germinação (Capítulo 5).
ação dos BRs em promover a expansão do hi- Embora existam diversas modalidades de dor-
pocótilo, logo, é um efeito específico no alonga- mência (Baskin e Baskin, 1998), sua origem
mento embrionário. em grupos ancestrais e a redundância de boa
Pouco se conhece sobre a rota de transdução parte dos genes relacionados ao seu controle
de sinais dos brassinoesteróides. Foi identificado (Peng e Harberd, 2002) sugerem certo grau de
um gene (BRI1) que codifica uma proteína de conservação nos mecanismos envolvidos no
membrana com atividade kinase, sugerindo tra- controle da germinação.
tar-se de um receptor aos BRs, e estudos mostra- Acredita-se que a dormência em sementes
ram que a rota de transdução de sinais dos BRs seja um evento programado básico. A embebi-
interage com a sinalização mediada por ABA, ção da semente ativa diversos processos fisioló-
GAs e auxinas (Steber e McCourt, 2001). gicos e bioquímicos e induz, direta ou indireta-
mente, a expressão de genes (tipo RGL2) que
restringem a germinação e mantêm a dormên-
EPÍLOGO – ORIGENS DA cia. Sinais ambientais (temperatura, luz) indu-
DORMÊNCIA E MECANISMOS zem a síntese de GAs que, por sua vez, blo-
DE REGULAÇÃO queiam a expressão de genes repressores da ger-
INTRACELULAR DA minação (RGL2, SPY) e/ou promovem a degra-
GERMINAÇÃO dação dos respectivos produtos (mRNAs e pro-
Acredita-se que a dormência tenha surgido nas teínas), aumentando assim o potencial de ger-
gemas há cerca de 400 milhões de anos (devo- minação do embrião. Ao mesmo tempo, GAs
niano inferior) como um mecanismo restritivo novamente sintetizadas iniciam sinais por meio
da ramificação e do crescimento das plantas de fatores de sinalização (GCR1, SLY, CTS) que,
sob condições ambientais desfavoráveis, como por sua vez, promovem a síntese de enzimas
pouca disponibilidade de nutrientes. Cerca de hidrolíticas que modificam a parede celular, en-
100 milhões de anos mais tarde (devoniano su- fraquecem o tegumento e possibilitam a germi-
perior), começaram a aparecer as primeiras se- nação (Peng e Harberd, 2002).
mentes com embriões dormentes, o que inicial- Pouco a pouco, os mecanismos envolvidos
mente possibilitou que a fertilização e a em- na manutenção da dormência vêm sendo iden-
briogênese sucedessem sem necessidade de tificados, e uma compreensão mais ampla do
água no meio externo (Viémont e Crabbé, controle da germinação está sendo adquirida. O
2000). Essa parada temporária do desenvolvi- esquema a seguir procura integrar recentes in-
mento embrionário permitiu que as gimnos- formações quanto aos componentes celulares
LUZ
GAs VERMELHA
ABA BRs
ETILENO ? ?
PTN-G P PTN-G P BRI1
ETR1 P
? SLY1
P
ABI-1 PHYA
MEMBRANA
PLASMÁTICA
CTS RGL2
CTR1 ?
P EIN2
ABI3 SPY
P Atividade kinase
CITOPLASMA
! Figura 6.4
Esquema integrando as rotas de transdução de sinais dos principais agentes envolvidos na manutenção e na
quebra da dormência em sementes. Etileno e GAs não participam na regulação da dormência durante a
maturação, mas estão envolvidos na quebra da dormência durante a embebição (Beaudoin., et al., 2000;
Finkelstein et al., 2002). Etileno: pode promover a germinação por interferir diretamente na sinalização do
ABA (Ross e O’Neill, 2001); assim como ETR1, EIN2 é um regulador positivo da sinalização do etileno e inibe
a sinalização do ABA (EIN2 suprime ABI1); CTR1 é regulador negativo da rota do etileno, ativa ABI1-1 e
mantém a dormência (não-indicado). ABA: receptor ainda não foi identificado, interage supostamente com
proteínas-G e está associado à membrana plasmática ou no ao citosol. ABI-1 e ABI-5 são reguladores negativos
da rota do ABA. ABI3 e ABI4 codificam fatores de transcrição que atuam positivamente na sinalização do ABA
(inibindo a germinação). GAs: rota de transdução é pouco conhecida, receptor ainda não foi determinado,
poucos intermediários identificados. GAs sozinhos não cobrem todos os efeitos ambientais na dormência e
na germinação. RGL2 e RGL1 codificam fatores de transcrição nucleares e são reguladores negativos da
germinação; SPY é um regulador negativo da rota que leva à germinação. CTS promove germinação e reduz
a dormência. SLY1 é fator-chave na recepção à GA, suprime a sinalização do ABA (Koornneef et al., 2002).
Fitocromo: sinais mediados pelo fitocromo induzem a síntese de GAs (Peng e Harberd, 2002), sugerindo a
participação de GAs na promoção da germinação pela luz. PHYA parece codificar o fitocromo envolvido na
sinalização em sementes (Smith, 2000). Brasinoesteróides: BRI codifica um receptor de membrana com pro-
priedades kinase (Kende, 2001). BRs não são absolutamente requeridos para germinação. Não se sabe se BRs
estimulam síntese ou ação das GAs, mas sabe-se que BRs resgatam a germinação de plantas mutantes
deficientes na produção e/ou na resposta às GAs. Além disso, BRs mutantes são sensíveis ao ABA. e poderi-
am intermediar efeitos da luz e do frio na promoção da germinação. BRs parecem promover expansão do
embrião (Steber e McCourt, 2001). Partilhar rotas de transdução de sinais faz com que menos elementos
sejam necessários para a sinalização hormonal geral (Ross e O’Neill, 2001).
identificados na sinalização que leva à manuten- Como a ponta de um iceberg, este esquema mos-
ção da dormência e à germinação e suas prová- tra apenas os primeiros passos das descobertas
veis interações em nível intracelular (Figura 6.4). que os novos rumos de investigação prometem.
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ENVOLTÓRIOS
Sonia Cristina Juliano Gualtieri de Andrade Perez
A semente é uma estrutura na qual o embrião ◗ funciona como uma barreira contra a en-
de uma planta, em geral totalmente desenvolvi- trada de microrganismos na semente;
do, é disperso. Essa estrutura permite ao em- ◗ regula a velocidade de embebição das se-
brião sobreviver durante o período compreendi- mentes;
do entre a maturação da semente e o estabeleci- ◗ controla a velocidade das trocas gasosas;
mento da plântula, iniciando a próxima gera- ◗ regula a germinação, ocasionando a dor-
ção. mência.
Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), as
sementes das angiospermas são constituídas A dormência das sementes é uma forma
pela estrutura protetora (tegumento), pelo em- natural de distribuir a germinação no tempo e
brião (com um, dois ou mais cotilédones, eixo no espaço e de permitir que a semente inicie a
embrionário) e pelo tecido de reserva, que, às germinação quando as condições ambientais
vezes, pode estar ausente. Em relação ao aspec- vierem a favorecer a sobrevivência das plântu-
to funcional, pode-se dizer que as sementes são las. Sementes viáveis que não germinam são
formadas pelo tegumento (casca), pelo(s) teci- consideradas dormentes. A dormência e a ger-
do(s) de reserva (cotilédone[s], endosperma, pe- minação são características adaptativas com-
risperma) e pelo eixo embrionário (Capítulo 4). plexas, influenciadas tanto por genes como por
Denomina-se popularmente de casca o en- fatores ambientais, sendo determinadas pela
voltório externo que define a semente, podendo ação do potencial de crescimento do embrião e
ser constituído somente pelo tegumento, como das restrições impostas pelos envoltórios que
também pelo pericarpo. O tegumento pode in- circundam o mesmo (Koornneef, Bentsink e
cluir estruturas de cobertura como gluma, le- Hilhorst, 2002). Quando a dormência está re-
ma, pálea, fruto, testa e mesmo camadas mais lacionada aos envoltórios, é denominada dor-
profundas como o endosperma. Aparentemen- mência imposta pela casca. Nesse caso, os en-
te, existe uma associação entre a espessura da voltórios funcionam como uma barreira à ger-
casca e o grau de domesticação da espécie, uma minação que o embrião não consegue superar.
vez que muitas espécies selvagens apresentam A dormência imposta pelos envoltórios tem
tegumentos mais espessos. Além disso, os en- os seguintes efeitos sobre o embrião (Bewley e
voltórios sofrem influência do ambiente, que Black, 1994):
provoca alterações em sua espessura e em sua ◗ interferência na absorção da água;
composição. ◗ interferência no alongamento embrioná-
A casca desempenha as seguintes funções: rio;
◗ protege as partes internas contra abra- ◗ interferência nas trocas gasosas;
sões e choques; ◗ impedimento à saída de inibidores e/ou
fonte de inibidores da germinação.
! Figura 7.1
Sementes de Prosopis juliflora. A: Visão do lado achatado (A1) e do lado estreito (A2); hm r = região hilo-
micrópila; ch r = região da calaza. B: Células paliçádicas maceradas, com as setas indicando as diferentes
localizações de tiras hidrofóbicas e as diferentes alturas das células paliçádicas (Serrato-Valenti, Ferro e
Modenesi, 1990).
per os seus envoltórios. Porém, deve-se tomar A escarificação também pode ser realizada
cuidado para não injuriar o embrião. Para isso, misturando-se as sementes com areia grossa.
é preciso abrir algumas sementes e, com o uso Essa mistura é colocada dentro de um recipien-
de uma lupa, determinar a localização exata te hermeticamente fechado, que será agitado
do embrião no interior das mesmas. Pode ser vigorosamente durante um certo período tanto
tomada como referência a micrópila, que é o maior quanto mais espesso for o tegumento.
primeiro ponto de ligação da semente ao fruto. Altas pressões, da ordem de 50 a 200 MPa,
Sementes grandes são facilmente escarifi- também ocasionam fissuras nos envoltórios,
cadas com uma faca ou bisturi. A punção do aumentando assim a permeabilidade das se-
tegumento, feita do lado oposto ao da emissão mentes à água e aos gases.
da radícula, embora seja um método bastante O uso de calor seco pode promover uma
trabalhoso, produz incrementos na velocidade retração do tegumento em várias espécies. O
e na porcentagem de germinação em espécies aquecimento em estufas é mais adequado do
como Chorisia speciosa (paineira) (Fanti, 2001) que o uso de um fogão convencional. Para tra-
e Pterogyne nitens (amendoim do campo) (Nassif tar a casca das sementes dessa forma, utilizam-
e Perez, 1997). se recipientes refratários rasos para acomodar
O uso de lixa para escarificar os envoltórios as sementes, colocando-os em uma estufa pré-
pode ser eficiente para algumas espécies de Sen- aquecida. O tempo de permanência e a tempe-
na (Baskin, Nan e Baskin, 1998) e de Cassia ratura de exposição dependem da espécie em
(Rodriguez, Aguiar e Sader, 1990), mas questão. Após o tratamento, as sementes de-
ineficiente em outros casos, por exemplo, ao vem ser resfriadas imediatamente e semeadas.
provocar a contaminação por fungos, como Entretanto, esse tratamento não é efetivo para
ocorreu em Stryphnodendron polyphyllum (barba- as sementes de amendoim do campo (Nassif e
timão) (Tambelini, 1994). Muitas vezes, é Perez, 1997), Schizolobium atterrimum (mucuna
difícel produzir uma escarificação homogênea preta) (Maeda e Lago, 1986) e Copaifera langs-
em toda a casca da semente e, como conseqüên- dorffii (copaíba) (Perez e Prado, 1993).
cia, pode-se deixar algumas sementes ainda im- Quando a temperatura de aquecimento es-
permeáveis à água e danificar outras. tiver entre 60 e 70oC, é possível que o trata-
mento com água quente, à mesma temperatura a germinação das sementes com casca dura. É
e durante o mesmo período, produza resultados possível que as espécies com essa característica,
semelhantes. dentro de uma mesma área geográfica, difiram
Em sementes com casca espessa, também bastante no tipo de resposta às flutuações de
se pode empregar o calor úmido como forma temperatura. Essa diversidade de resposta oca-
de amolecimento do tegumento. Aconselha-se siona diferenças na distribuição das espécies
um banho das sementes secas em hipoclorito em campo e contribui para a diferenciação dos
de sódio (5 a 10%) durante 15 minutos, antes nichos em populações que coexistem na mesma
do pré-tratamento. Em sementes de Peltopho- comunidade.
rum dubium (canafístula), a exposição durante Sementes de outras espécies que possuem
24 a 48 horas à temperatura de 45oC e 100% de casca espessa apresentam valores mais eleva-
umidade promove o amolecimento do tegu- dos de porcentagem e velocidade de germina-
mento. Esse fato propicia um aumento signifi- ção quando submetidas ao fogo. Em experi-
cativo na porcentagem e na velocidade de ger- mentos conduzidos em comunidades naturais,
minação, em relação ao grupo que não recebe Moreno-Casasola, Grime e Martinez (1994)
nenhum pré-tratamento (Perez, Fanti e Casali, descreveram a germinação induzida pelo fogo
1999). nas sementes com casca espessa e associaram
Ainda em relação ao calor, as flutuações de esse fenômeno a uma exposição a altas tempe-
temperatura no ambiente são as principais fon- raturas. Esses estudos revelaram que a dura-
tes de alterações na estrutura da casca de mui- ção do aquecimento, a profundidade na qual
tas espécies, por exemplo, as anuais de inver- as sementes estão enterradas e o teor de umi-
no da Austrália e da Califórnia. Segundo Rols- dade do solo afetam a resposta de germinação.
ton (1978), existem espécies como Lulinius va- As sementes localizadas mais próximas à su-
rius, Ornithopus compressus e Stylosanthes humilis perfície são as mais estimuladas pelo fogo em
(alfafa) cuja casca só amolece sob flutuações comparação com aquelas enterradas mais pro-
de temperatura, associadas a uma baixa umida- fundamente. Em algumas espécies de legumi-
de relativa, em torno de 8,5%. Além disso, nem nosas, os envoltórios espessos estão relaciona-
o número de ciclos de flutuações de temperatu- dos com a alta longevidade das sementes en-
ra nem a amplitude das flutuações, salientando terradas e parecem restringir a germinação
que deve ser superior a 15 o C, são mais onde a vegetação preexistente foi destruída pelo
importantes que a temperatura máxima diária fogo.
à que a semente fica exposta. Tratamentos empregando ácidos ou bases
Em duas espécies de Vicia (ervilhaca), V. sa- são usados para provocar fissuras no tegumento
tiva e V. grandiflora, Thompson e Grime (1983) das sementes que possuem casca impermeável.
observaram que a impermeabilidade do tegu- Os lotes de sementes são colocados em recipien-
mento é revertida com temperaturas alternadas te apropriado, enquanto o ácido ou a base con-
com o uso do par 4,5 e 21oC, mas não com a centrados são despejados sobre as sementes. O
combinação de 21 e 32oC; porém, em V. angusti- tempo de permanência nessas substâncias é de
folia, ambos os regimes de temperatura são efi- grande importância, pois as sementes devem ser
cazes na reversão da impermeabilidade da cas- retiradas imediatamente antes que o ácido ou a
ca. A reversibilidade natural sob altos teores base penetrem nos tegumentos. Quando o tem-
de umidade das sementes também ocorre, e isso po de exposição é excedido, pode ocorrer desde
implica que o amolecimento da casca está con- uma descamação do tegumento e conseqüente
dicionado ao grau de dessecação da semente e ataque por fungos até danos no eixo embrioná-
da temperatura máxima. rio, os quais resultariam em perda do vigor e da
Há vários casos na literatura que indicam viabilidade das sementes (Quadro 7.1).
a existência de grande diversidade do papel da O ácido ou a base são utilizados em tempe-
temperatura como um mecanismo que propicia ratura ambiente, por um período de poucos mi-
Tabela 7.1 Efeitos de distintos agentes químicos na escarificação de sementes de diversas espécies
nutos até algumas horas, dependendo da espé- da semente possa ser resultado da remoção da
cie. Durante o tempo de exposição, as sementes cutícula e da exposição das camadas de ma-
devem ser misturadas com o auxílio de um bas- croesclereídes.
tão de vidro. Terminado esse tempo, devem ser Além de ácidos ou bases, a estrutura da cas-
lavadas em água corrente por alguns minutos ca pode ser atacada com o uso de éter e acetona
até que o reagente remanescente seja totalmen- (Tabela 7.1). Mayer e Poljakoff-Mayber (1989)
te removido. Após a lavagem, as sementes po- relatam haver um aumento na permeabilidade
dem ser semeadas, ou secas e armazenadas da casca de várias espécies com a utilização do
durante vários meses. Como essas substâncias álcool etílico e da acetona. O uso desses sol-
são corrosivas, deve-se precauções, como o uso ventes orgânicos reduz a espessura da camada
de roupas adequadas, luvas e proteção para os de cera do envoltório das sementes, a qual cons-
olhos. titui uma barreira à difusão da água.
Egley (1989) apontou, como uma barreira Uma outra forma de amolecimento do te-
à entrada de água nas sementes, a presença de gumento rígido é uma cobertura de palha so-
ceras e compostos graxos na superfície ou de bre as sementes recém-semeadas em campo.
camadas de células abaixo da cutícula, os Pode-se conseguir um efeito bastante rápido
macroesclereídes. Acredita-se que a ação do áci- se essa cobertura de palha for inoculada com
do sulfúrico no amolecimento do tegumento compostos que desencadeiam a ação micro-
biana. Nesse caso, as sementes e o meio em enfraquecimento dos envoltórios. Na alface, por
que elas estão não podem ser tratados com fun- exemplo, os genótipos termotolerantes apre-
gicida. Se esse tratamento for realizado no iní- sentaram maior atividade de mananases e
cio da primavera ou do verão e o meio estiver maior porcentagem de germinação quando
úmido, haverá uma emergência rápida e comparados aos genótipos termossensíveis
sincrônica das plântulas; porém, o transplante (Cantife et al., 2000).
de mudas será muito mais difícil do que com o Morris, Tieu e Dircon (2000) verificaram a
uso das sementeiras. presença de dormência imposta pela casca em
duas espécies de Grevillea linearifolia e G. wilsonii
(grevíleas); porém, a extensão na qual a casca
INTERFERÊNCIA NO das sementes restringiu a germinação foi dife-
ALONGAMENTO rente nas duas espécies. A ocorrência de germi-
EMBRIONÁRIO nação, quando a casca é removida, denota a
Muitas vezes, os envoltórios que circundam o existência de uma barreira mecânica para o em-
embrião permitem a entrada de água, mas fun- brião e/ou do impedimento da saída de inibi-
cionam como uma barreira física que impede o dores. Em particular, em embriões de G. wilsonii,
alongamento embrionário. Como exemplo, são foi detectado um componente de dormência in-
citadas várias espécies das famílias Fabaceae, terna ou endógena (Capítulo 5), visto que a re-
Rosaceae, Protaceae e Myosporaceae e as quais moção de parte da casca permitiu a germinação
apresentam estruturas muito rígidas, que impe- de um pequeno percentual de sementes. A ex-
dem a germinação das sementes. Lemas e pá- posição à fumaça promoveu um aumento na
leas presentes nas sementes de gramíneas, por proporção de sementes (com a casca removida)
exemplo, nos gêneros Paspalum e Setaria, atra- que germinaram, sobrepondo, assim, uma pos-
sam ou impedem a germinação. sível dormência embrionária (Capítulo 6).
A germinação é um processo que se inicia
com a embebição das sementes. Durante essa
fase, ocorre a síntese e a ativação de várias en- INTERFERÊNCIA NAS
zimas, resultando na mobilização de reservas e TROCAS GASOSAS
principalmente na digestão de parede celular, Os envoltórios que circundam o embrião podem
enfraquecendo-a e permitindo que a raiz rompa impedir a entrada de oxigênio e a saída de gás
o tegumento. O enfraquecimento de tecidos ad- carbônico e, dessa forma, inibir a respiração.
jacentes ao ápice radicular (como a micrópila) Esse fato pode ser comprovado quando se raspa
precede a emergência da raiz primária em várias ou perfura a casca da semente. Um furo através
espécies, como Lycopersicom esculentum (- do endosperma, próximo à radícula das semen-
tomate), Lactuca sativa (alface), Capsicum annum tes de alface, ou através do pericarpo de semen-
(pimenta), Picea glauca (abeto-branco) e tes de cereais pode desencadear a germinação
Nicotiana tabacum (fumo) (Carvalho et al., 2001). por permitir a difusão de oxigênio até o embrião.
Em sementes de Sesamum indicum (gergelim), Conforme relatam Bewley e Black (1994),
Carvalho e colaboradores (2001) detectaram a observou-se em vários casos que a permeabili-
manose como o principal monossacarídeo no dade da casca das sementes ao oxigênio é me-
endosperma. Porém, um aumento na ativida- nor que a de uma camada de água de espessura
de da enzima endo-β-mananase, na região mi- equivalente. Essa impermeabilidade resulta
cropilar do endosperma, só foi verificado em provavelmente dos constituintes químicos da
temperatura supra-ótima de germinação. casca, como os compostos fenólicos. Os envol-
Bewley (1997) afirma que a ausência de tórios podem consumir o oxigênio em difusão,
germinação de determinadas espécies pode ser provavelmente graças à oxidação enzimática de
devida à inatividade de enzimas como a β-ma- vários compostos químicos que aí ocorrem. Por
nanase e outras hidrolases, o que dificulta o exemplo, a pálea presente em muitos cereais
impõe a dormência por consumir o oxigênio. vidade respiratória em certas porções como a
Em vários cultivares de arroz, a atividade da camada de aleurona, a oxidação de fenóis e a
peroxidase pode fazer parte de um complexo formação de mucilagem, que dificultam a difu-
consumidor de oxigênio. Rolston (1978) cita são do oxigênio. Além do bloqueio aos gases
que foi observada também uma relação entre a respiratórios, pode haver também uma restrição
coloração da semente, o grau de impermeabi- à difusão do etileno, envolvido em vários aspec-
lidade da casca, os altos níveis de compostos tos metabólicos da germinação.
fenólicos e o seu nível de oxidação. A oxidação
dos fenóis é catalisada pela enzima catecol oxi-
dase, que chega a ser muito ativa em algumas FORNECIMENTO E
espécies durante a fase da dessecação. PREVENÇÃO À SAÍDA
Se realmente existe uma redução no teor DE INIBIDORES
de oxigênio disponível para o consumo pelo em- Inibidores de diferentes categorias químicas po-
brião, é necessário saber o quanto o metabolis- dem ser encontrados em sementes de várias es-
mo embrionário necessita deste gás. Segundo pécies (Quadro 7.1).
Bewley e Black (1994), os embriões muitas ve- Observa-se, pelo quadro, que o ácido abs-
zes necessitam de baixa pressão parcial de císico é o inibidor mais comum entre as espé-
oxigênio para a manutenção da respiração. En- cies listadas, embora sua localização nas semen-
tão, a explicação para uma inibição da germi- tes seja bastante variável. Além disso, fica cla-
nação poderia ser a presença de inibidores em ro que os tegumentos podem atuar no bloqueio
sementes, sendoque esses inibidores só seriam à germinação pelo fornecimento de inibidores.
oxidados sob altas concentrações de oxigênio. Nesse sentido, foi observado em sementes de
Além disso, eles também poderiam se difundir Xanthium que o inibidor é capaz de se difundir
do embrião isolado, porém não atravessariam a de embriões isolados, mas não de sementes in-
casca de sementes intactas. Parece provável que tactas. No caso de sementes de aveia, a pálea
a remoção da casca beneficia o embrião por per- impõe a dormência mecânica, mas o embrião
mitir principalmente o escape de inibidores, e germina quando é removido da semente e
não apenas por propiciar uma maior disponibi- colocado sobre papel de filtro úmido. A absor-
lidade de oxigênio. ção de água não é afetada pela pálea, mas pa-
Ballard (1973) sugere a ocorrência de ou- rece que o movimento de substâncias da cario-
tros processos nos tegumentos, como a alta ati- pse está sendo impedido por essa estrutura.
Quadro 7.1 Relação de espécies que apresentam inibidores em diferentes porções da semente (Bewley
e Black, 1994)
Muitas barreiras são impostas pelos envol- tretanto, esse tratamento não foi eficiente para
tórios das sementes ao embrião e, para que este sementes de paineira (Fanti, 2001).
os penetre, é necessário haver uma certa pres- Um tratamento mais drástico pode ser em-
são de crescimento. A habilidade de crescer do pregado para sementes com casca muito rígida.
embrião está relacionada, entre outros fatores, Utiliza-se a água em ebulição, e o tempo de per-
com a diminuição da concentração de inibido- manência das sementes nessas condições pode
res na semente e/ou com o aumento da con- variar de um minuto a vários, dependendo da
centração nos tecidos de agentes promotores rigidez do tegumento. Decorrido o período dese-
da germinação, como o ácido giberélico, o ni- jado de imersão em água em ebulição, as se-
trato de potássio e a tiouréia. A concentração e mentes devem ser removidas e colocadas para
a duração do tratamento dependem da espécie resfriar em água fria. Baskin, Nan e Baskin
a ser tratada, e a principal vantagem desses (1998) relataram que a água fervente pode cau-
compostos químicos é a facilidade de utilização sar um incremento na permeabilidade da casca
e a rapidez na obtenção de resultados. da semente ao dissolver ou deslocar um ou mais
A cinza de troncos queimados tem sido uti- elementos estruturais da barreira impermeável.
lizada com bons resultados para neutralizar ou Entretanto, sementes de certas espécies, como
adsorver inibidores de germinação. Ela pode ser a canafístula (Perez, Fanti e Casali, 1999) e a
preparada com a queima de madeira, podendo paineira (Fanti, 2001), não suportam a imersão
ser previamente moída para produzir um talco em água fervente, mesmo por curtos períodos
uniforme e ser adicionada às placas de petri de tempo (um a cinco minutos).
contendo as sementes. As cinzas também po- Em qualquer tratamento com a utilização
dem ser obtidas pelo uso de mufla. de água, alguns cuidados devem ser tomados,
Em geral, usa-se a água corrente quando como evitar o uso de recipiente de alumínio ou
se deseja amolecer o tegumento e/ou remover água salobra. Após o uso de alguns desses trata-
inibidores hidrofílicos, com o conseqüente au- mentos, as sementes podem ser semeadas ime-
mento da permeabilidade dos envoltórios e do diatamente, não devendo ser armazenadas.
potencial germinativo, o que resulta em maior Uma vez que os envoltórios representam a
velocidade de embebição e de germinação. A interface entre a semente e o ambiente, qual-
duração do período de permanência das semen- quer interferência neles afeta também a inte-
tes em água varia em função das características ração entre o ambiente e o embrião. Os meios
do tegumento. Por exemplo, a permanência de de reverter os efeitos dos envoltórios sobre os
sementes de Enterolobium contortisiliquum (ore- embriões têm importância econômica para o
lha-de-negro) por 72 horas em água corrente processo de produção de mudas e importância
foi eficiente para promover 100% de germina- ecológica para o entendimento da dinâmica do
ção (Capelanes, 1991). banco de sementes no solo e do processo de
Quando se trabalha com sementes de tama- regeneração das comunidades naturais. Assim,
nho pequeno ou médio, o uso de água quente pesquisadores e produtores de mudas utilizam
é um tratamento muito mais prático do que a vários métodos artificiais para permitir a absor-
lixa ou a punção dos envoltórios. A utilização ção de água e uma posterior germinação sincro-
de água quente é mais eficaz quando as semen- nizada. Entre esses métodos, os mais utilizados
tes ficam mergulhadas na água pré-aquecida são: a escarificação, o calor ou frio seco, o fogo,
(cerca de 70 a 80oC) em volume maior do que o a água quente ou corrente, o ácido e outros
seu. Elas podem ficar imersas na água até o compostos químicos, a estratificação seca e a
esfriamento ou em banho-maria para manu- úmida. Cabe ao interessado identificar o mé-
tenção da temperatura de trabalho. Por exem- todo mais eficiente para a espécie em questão.
plo, Zpevak (1994) utilizou água a 70oC para Como pode ser visto na Tabela 7.2, os testes
promover a embebição e a germinação de se- de escarificação mostraram que os envoltórios
mentes de Dimorphandra mollis (faveira). En- impedem a absorção de água das sementes de
Tabela 7.2 Porcentagem de embebição (Emb%) e velocidade de embebição (Vemb), porcentagem (G) e
velocidade de germinação (V) e entropia informacional (E) para sementes de Peltophrum dubium submetidas
a diferentes tratamentos pré-germinativos antes da incubação a 27oC (Perez, Fanti e Casali, 1999)
canafístula. Os valores de porcentagem e veloci- que demonstrou ser o mais eficiente dentre os
dade de embebição foram baixos nas sementes pré-tratamentos utilizados (Tabela 7.2).
intactas (controle). Quando vários tratamentos Uma ressalva importante deve ser feita
pré-germinativos são aplicados, verifica-se um quando se trabalha com espécies nativas. Como
aumento na porcentagem de embebição e/ou os envoltórios sofrem influência genética e do
germinação. A escolha do melhor tratamento ambiente durante a ontogenia das sementes, é
requer uma combinação de valores mais eleva- necessário confirmar o tipo e a eficácia do tra-
dos de porcentagem e velocidade de germina- tamento pré-germinativo indicado na literatu-
ção e menores valores de variância de germina- ra em uma amostra do lote de sementes, antes
ção ou entropia informacional (Capítulo 13). de aplicar esse tratamento a todo o lote.
Quando se obtêm elevados valores de porcenta-
gem de germinação, isso significa que os trata-
mentos aplicados possibilitaram a embebição BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
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QUEBRA DE DORMÊNCIA
EM SEMENTES
Lilian B.P. Zaidan
Claudio J. Barbedo
sas espécies, muitas apresentam mecanismos ciclo curto. O atraso na germinação pode, ainda,
de dormência, dificultando o planejamento dos diminuir o número de ciclos econômicos por ano.
viveiristas para a obtenção de mudas. Algumas espécies são utilizadas como fonte
de adubação verde para culturas agrícolas. Elas
são semeadas para que desenvolvam grande
NECESSIDADE DE QUEBRA DA massa vegetal, que será incorporada ao solo
DORMÊNCIA EM SEMENTES antes do plantio da espécie principal. Isso re-
Se, por um lado, a dormência das sementes se sulta em enriquecimento nutricional do solo,
apresenta vantajosa para a perpetuação das es- principalmente com nitrogênio. Contudo, al-
pécies, ampliando a possibilidade de estabeleci- gumas espécies que têm alto valor nutricional
mento de novos indivíduos ou colonização de como adubo verde apresentam sementes com
áreas por distribuir a germinação no espaço e diferentes graus de dormência. Isso acarreta
no tempo (Kigel e Galili, 1995; Carvalho e Na- dois problemas para os agricultores: primeiro,
kagawa, 2000), por outro, pode trazer desvanta- a necessidade de grande número de sementes,
gens, principalmente considerando a explora- pois nem todas germinarão na época de produ-
ção vegetal. A agricultura tradicional atual é ção de massa verde; segundo, muitas sementes
facilitada quando as práticas culturais podem germinarão durante o desenvolvimento da cul-
ser aplicadas de forma contínua e uniforme. tura agrícola e, assim, serão consideradas plan-
Para isso, há necessidade de uniformidade de tas invasoras e entrarão em competição por luz,
desenvolvimento entre as plantas da mesma água e nutrientes com as plantas da cultura
cultura, o que se inicia na germinação das se- principal.
mentes e na emergência das plântulas. Portan- Finalmente, até mesmo a correta avaliação
to, um determinado lote com sementes dor- da qualidade fisiológica de lotes de sementes
mentes poderá resultar em campos de produção pode ser dificultada pela existência de dormên-
irregulares, com plantas em diferentes estádios cia. Testes de germinação realizados com espé-
de desenvolvimento. Nesse caso, a dormência cies que têm sementes dormentes podem pro-
é desvantajosa, tanto mais quanto menor o ciclo duzir resultados insuficientes para a correta
da cultura. Além disso, quanto maior o tempo previsão do comportamento das mesmas após
de permanência das sementes no solo sem ger- sua semeadura. Isso porque são registradas, nos
minar, maiores as chances de perdê-las, seja por boletins de análise, a porcentagem de sementes
deterioração ou predação. que germinaram e a de sementes dormentes
O atraso na germinação, algumas vezes, po- (ISTA, 1985). Estas últimas, após a semeadura,
de resultar em falhas na produção agrícola. Al- podem germinar no campo em períodos prati-
gumas plantas podem não estar suficientemen- camente imprevisíveis. Assim, tornam-se ne-
te desenvolvidas na época em que devem rece- cessários tratamentos para quebra da dormên-
ber estímulos ambientais para, por exemplo, cia após sua constatação nos testes de germina-
florescer ou acumular reservas em órgãos ve- ção. Contudo, dependendo da espécie, nem
getativos. Além disso, quando esses estímulos sempre há suficiente informação quanto ao mé-
são recebidos, o atraso na germinação pode pro- todo mais adequado ou eficiente para a quebra
duzir atraso na colheita, acarretando desvalo- da dormência das sementes.
rização do produto no mercado. Isso porque Deve-se salientar, porém, que, mesmo
muitos produtos agrícolas apresentam oscila- quando se pensa em utilização das sementes
ções de preço, regulados aos períodos de safra pelo homem, a dormência pode representar
e entressafra. A colocação de um produto agrí- vantagens. Em muitas sementes, a impermea-
cola no mercado antes da entrada da safra prin- bilidade do tegumento à água, por exemplo, é
cipal muitas vezes significa obtenção de preço o principal mecanismo de manutenção de bai-
mais elevado do produto. Esse fato é impor- xos teores de água no interior da semente, o
tante, por exemplo, para algumas hortaliças de que evita o metabolismo mais intenso, reduz a
respiração e, assim, diminui o consumo de re- sensibilidade das sementes aos processos de su-
servas, fundamentais para a germinação e o peração de dormência (Egley, 1995), o que pode
crescimento inicial da plântula. O mesmo po- provocar maior ou menor sucesso da aplicação
deria ser dito quanto à impermeabilidade a dos métodos. Para cada tipo de dormência e
gases, evitando a entrada de O2 e a saída de para cada condição na qual as sementes estão
CO2. Além disso, mantendo-se baixo o teor de inseridas haverá um ou mais métodos mais
água nas sementes, dificulta-se o desenvolvi- adequados e eficientes.
mento de microrganismos causadores de dete- Quando a dormência é causada pela im-
rioração, bem como o ataque mais intenso de permeabilidade do tegumento à água (Capítulo
insetos e roedores. Em sementes de Hymenaea 7), os métodos a serem empregados deverão
courbaryl (jatobá) e de Lathyrus nervosus (espé- promover aberturas neste, permitindo a embe-
cie forrageira nativa do Brasil), por exemplo, a bição, como ocorre com as escarificações ou cor-
escarificação do tegumento, impermeável à tes do tegumento. Nesse caso, é importante
água, pode resultar em deterioração mais rápi- identificar as vias e os mecanismos de entrada
da (Franke e Baseggio, 1998; Guimarães et al., da água na semente, pois o tipo e a posição da
1995), conforme ilustrado na Figura 8.1. Por- abertura podem causar maior ou menor eficiên-
tanto, a dormência das sementes muitas vezes cia do método, algumas vezes chegando a pre-
contribui para sua melhor conservação e arma- judicar a germinação. Por exemplo, o desponte
zenamento (Capítulo 17). (corte na extremidade) da semente de Attalea
funifera (piaçaveira) pode dificultar a entrada
de água por remover, parcialmente, o feixe de
ESCOLHA DO MÉTODO DE fibras que funciona como eficiente captador de
QUEBRA DE DORMÊNCIA água (Melo, 2001). Por outro lado, em sementes
A dormência das sementes pode ter diversas de jatobá, quando a escarificação é feita na late-
causas (Capítulo 5). Assim, antes da tomada ral da semente, a embebição é mais rápida do
de decisão quanto ao método a ser adotado para que quando feita na região do hilo, o que prova-
a quebra da dormência, deve-se identificar, tan- velmente está relacionado à maior superfície
to quanto possível, suas causas. Além disso, é de contato com a água e à abertura de novas
necessário considerar a existência de ciclos de vias de entrada para esta. (Santos, 2002).
75 75
50 50
(%)
(%)
25 25
0 0
Testemunha Escarificação Escarificação Testemunha Escarificação Escarificação
mecânica química mecânica química
! Figura 8.1
Germinação e deterioração de sementes de Hymenaea courbaryl (coluna preta) e Lathyrus nervosus (coluna
cinza) submetidas ao processo de escarificação mecânica ou química. Fontes: Franke e Baseggio (1998),
Guimarães et al. (1995).
100 60
75
40
(%)
(%)
50
20
25
0 0
3 meses 11 meses 24 meses 3 meses 11 meses 24 meses
! Figura 8.2
Germinação e dormência (impermeabilidade do tegumento à água) de sementes de Styzolobium aterrimum
(mucuna preta) de diferentes tamanhos, após 3, 11 e 24 meses de armazenamento. Coluna preta, sementes
sem separação de tamanho; coluna cinza, sementes grandes; coluna branca, sementes pequenas. Até o
terceiro mês de armazenamento, o grupo das sementes pequenas apresentou maior proporção de sementes
duras (que não embeberam). No decorrer do tempo de armazenamento, a proporção de sementes duras
diminuiu em todos os grupos, e a germinação passou a ser uniforme e elevada. Fonte: Barbedo, Nakagawa e
Machado. (1988).
exemplo, são bastante eficientes para muitas dades de dispersão) por meio dos tipos de agen-
sementes. Contudo, a manipulação do produto, tes que atuam nesse processo. Serão abordados
principalmente quando é necessário o uso de a seguir alguns métodos de superação da dor-
ácidos concentrados, exige mão-de-obra alta- mência, agrupados segundo sua principal for-
mente qualificada para que se evitem riscos à ma de atuação na semente.
saúde dos usuários. Ainda assim, os riscos de
acidentes tornam tais métodos pouco recomen- Agentes mecânicos
dáveis em escala comercial. Não é difícil imaginar que uma semente
Há estudos sobre quebra de dormência de com tegumento rígido, impermeável à água, só
sementes de várias espécies. Em alguns casos, poderá germinar se for aplicado algum tipo de
já se tem tecnologia adequada e difundida, com tratamento que possibilite a remoção total ou
técnicas e procedimentos bem-estabelecidos e parcial da casca, facilitando a entrada de água
de amplo domínio público (ISTA, 1985), como na semente, de modo a permitir sua embebição,
as estratificações feitas em sementes de frutei- etapa inicial da germinação. A casca da semente
ras de clima temperado ou as escarificações me- também pode agir como barreira às trocas gaso-
cânicas em várias leguminosas arbóreas tropi- sas ou à entrada de luz, como impedimento à
cais. Em outras situações, porém, os estudos saída de inibidores endógenos ou, ainda, forne-
não são ainda conclusivos ou, mesmo, não há cendo inibidores para o embrião, impedindo
estudos. Nesses casos, além dos cuidados des- assim a germinação.
critos anteriormente, também pode ser de gran- A ocorrência de tegumentos rígidos, resis-
de ajuda analisar as características do ambiente tentes, provocando uma resistência mecânica,
no qual a espécie ocorre naturalmente, sua re- é muito comum nas Leguminosae, principal-
gião de origem, formas de dispersão, etc. Tais mente nas Faboideae. Em sementes de determi-
observações podem fornecer informações im- nadas espécies, a entrada de água e oxigênio é
portantes para a escolha do método de quebra impedida por uma tampa de suberina, seme-
de dormência, tais como período de baixas tem- lhante a uma rolha (estrofíolo), localizada em
peraturas após a dispersão natural das semen- uma pequena abertura na casca (Salisbury e
tes, passagem das sementes pelo trato digestivo Ross, 1992). A agitação vigorosa das sementes
de animais, entre outras. pode deslocá-la e permitir a entrada de água,
levando à germinação. Esse tratamento é co-
nhecido como quebra de dormência por impac-
MÉTODOS PARA QUEBRA DE tação e é aplicado em sementes de Melilotus alba
DORMÊNCIA EM SEMENTES (trevo-doce, trevo-doce-branco) e Crotallaria
A dormência das sementes consiste na incapa- aegyptica (crotalária), espécies utilizadas como
cidade de germinação do embrião devido a al- adubo verde. A remoção total ou parcial da cas-
gum problema inerente à semente. Quando ca da semente por tratamentos diversos é de-
todas as condições necessárias à germinação nominada escarificação.
são oferecidas e mesmo assim a semente não A escarificação mecânica é feita com mate-
germina, existe uma forte possibilidade de ela riais cortantes, como facas, canivetes, estiletes,
apresentar algum tipo de bloqueio que deve ser alicates, ou com materiais abrasivos, como li-
removido ou superado para que o processo da mas, lixas, areia, etc. Na maioria das vezes, não
germinação ocorra. Para que se perca a dormên- é necessário retirar todo o tegumento da se-
cia, a semente deve sofrer a ação de algum fator mente, basta uma leve escarificação, suficiente
ambiental e/ou metabólico. Desse modo, a que- para permitir a entrada de água a fim de que a
bra da dormência está relacionada a fatores ex- germinação venha a ocorrer. Exemplos de se-
ternos e internos à semente. mentes que necessitam desse tipo de tratamen-
Para fins didáticos, costuma-se estudar a to: as plantas arbóreas do bioma Cerrado, como
quebra da dormência de sementes (ou de uni- jatobá, Dipteryx alata (baru) e Stryphnodendron
bém sido observado em língua-de-vaca (Tabela dia do último comprimento de onda fornecido
8.3). (Tabela 8.4). Por meio desse e de outros estu-
As citocininas parecem ser menos eficientes dos se estabeleceu que a luz é absorvida por
e podem induzir uma germinação anormal, por um pigmento, denominado fitocromo, que se
exemplo, com a emissão dos cotilédones antes converte em duas formas, ativa e inativa.
da protrusão da radícula. Em geral, as aplica- As duas formas do fitocromo podem ser
ções exógenas de reguladores de crescimento simbolizadas por Fv e Fve. A primeira, inativa,
são mais eficazes quando fornecidas juntamen- absorve luz vermelha, com pico de absorção má-
te com outro fator, como a luz, ou com outro xima em 660 nm. Quando o Fv é ativado pela
regulador de crescimento, combinados entre si luz vermelha, converte-se na segunda forma,
em termos de concentração. Assim, em Cheno- o Fve (pico de absorção máxima em 730 nm),
podium album (ançarinha-branca), a aplicação que é a forma ativa e, para a maior parte das
de etileno estimula a germinação com maior sementes fotoblásticas, promove a germinação.
eficácia na presença de luz e de giberelina O esquema clássico que explica essa conversão
(Bewley e Black, 1994). mútua está apresentado a seguir (Bewley e
Black, 1994):
Luz
luz vermelha
Em 1954, Borthwick e colaboradores (apud, Fv Fve
Quebra da
dormência
Bewley e Black, 1994), estudando os efeitos de luz vermelho-extremo
diferentes comprimentos de onda na germina-
escuro
ção, estabeleceram o espectro de ação para a
germinação de sementes de alface (Lactuca sa-
tiva), cultivar Grand Rapids (Bewley e Black, Sob efeito do tratamento luminoso, tanto
1994). A maior germinação foi encontrada na a passagem de Fv para Fve como o inverso ocor-
faixa de 660 nm, e a inibição desta foi encontra- rem rapidamente. A conversão de Fve para Fv
da em 730 nm. Esses comprimentos de onda pode ocorrer também no escuro, porém essa
referem-se, respectivamente, à luz vermelha e reação é mais lenta. Além disso, sob luz branca,
à luz vermelho-longo ou vermelho-extremo. há maior conversão de Fv para Fve (pois a luz
Esta última situa-se entre o vermelho e o infra branca apresenta maior proporção de vermelho
vermelho. Por volta dessa mesma época, ob- que o vermelho-extremo), o que explica o su-
servou-se também que os efeitos desses com-
primentos de onda antagonizavam-se mutua-
Tabela 8.4 Fotorreversibilidade do fitocromo na
mente, ou seja, a resposta à exposição
quebra de dormência de sementes de Lactuca
seqüencial de sementes de alface a irradiações sativa (alface) Grand Rapids. As sementes foram
de luz vermelha e de vermelho-extremo depen- embebidas no escuro e expostas à luz vermelha (V)
por 1,5 min e à luz vermelho-extremo (VE) por 4
min, na seqüência mostrada. As sementes foram
colocadas no escuro por 24 h, sendo avaliada a
Tabela 8.3 Efeito de diferentes concentrações de germinação
GA3 na germinação de sementes de Rumex
obtusifolius no escuro Irradiação Germinação (%)
cesso de vários autores em utilizar luz branca de rochas, também podem sofrer uma escarifi-
para a quebra da dormência de sementes, como cação mecânica ou lixiviação.
em sementes de pereira (Maeda et al., 1997) e Como apresentado anteriormente, trata-
de espécies florestais (Borges e Rena, 1993). mentos térmicos utilizados experimentalmente
As Regras para análise de sementes (Brasil, 1992) na quebra da dormência ocorrem de forma na-
e o Manual técnico de sementes florestais (Figliolia tural no ambiente onde a semente se encontra.
e Piña-Rodrigues, 1995) também sugerem o uso Temperaturas alternantes, altas temperaturas
da luz na condução de testes de germinação de ou mesmo o próprio fogo são comuns em am-
algumas espécies. bientes abertos, formações savânicas, e, para
A luz pode ser considerada um fator impor- uma dada semente, podem servir como um in-
tante na quebra de dormência em sementes. A dicativo do tipo de ambiente ou da época do
ação de diferentes comprimentos de onda sobre ano em que a mesma se encontra.
o fitocromo constitui um dos fatores mais rele- De maneira similar, a luz pode servir como
vantes para a germinação de sementes. Sendo um excelente indicativo da localização da se-
o fitocromo um cromóforo ligado a uma proteí- mente no ambiente. Sabe-se que a composição
na (Capítulo 6), os efeitos da luz na quebra de do espectro luminoso varia em função de diver-
dormência podem ser dependentes da tempera- sos fatores, como o horário do dia, o grau de
tura. Algumas sementes, como certos cultivares cobertura vegetal e a profundidade do solo. A
de alface, são indiferentes à luz a 20°C, mas luz solar, em ambiente aberto, apresenta maior
em temperaturas mais elevadas (em torno de quantidade de vermelho que vermelho-extre-
35°C) tornam-se fotoblásticas. Sementes de pi- mo na maior parte do dia. Entretanto, a passa-
cão-do-cerrado e de Porophyllum lanceolatum, gem da luz solar através da copa das árvores
ambas herbáceas de Cerrado, necessitam de luz inverte essa relação, visto que boa parte do ver-
para germinar; no entanto, quando armazena- melho é absorvido pelas clorofilas, resultando
das, vão perdendo gradativamente essa caracte- no fato de que a luz que atinge o sub-bosque
rística, vindo a germinar também na ausência apresenta maior proporção de vermelho-extre-
de luz (Felippe e Silva, 1984). A escarificação mo. Uma semente enterrada a poucos centíme-
de sementes, além de ser necessária para permi- tros de profundidade recebe mais vermelho-
tir a entrada de água ou as trocas gasosas, tam- extremo que vermelho, pois este comprimento
bém pode servir como uma quebra de barreira de onda tem maior poder de penetração entre
à entrada de luz. as partículas do solo. Todas essas variações po-
dem ser percebidas por meio do pigmento fito-
cromo, identificando a posição e o tipo de am-
CONSIDERAÇÕES FINAIS biente em que a semente se encontra, encon-
Grande parte dos mecanismos de quebra de trando assim respostas fisiológicas distintas
dormência descritos ocorre na natureza. A que- (germinação ou dormência) em função das
bra de tegumentos rígidos por diversos agen- condições ambientais predominantes.
tes acontece em condições naturais, talvez mais As sementes possuem características mor-
lentamente. Além da degradação por micror- fológicas e fisiológicas que devem ser considera-
ganismos, a passagem pelo trato digestivo de das quando se estudam os bancos de sementes
animais durante a dispersão, especialmente de do solo (Capítulo 14). São essas características
aves que possuem moela rígida para a trituração que aumentarão suas chances de permanência
de alimentos, pode ser caracterizada como uma no banco, facilitando ou não a germinação
forma de escarificação mecânica. Em diversos quando houver condições ambientais para isso.
animais, a escarificação química pode ocorrer Antes de serem consideradas empecilhos,
no trato digestivo. Sementes levadas por uma as barreiras à germinação presentes nas semen-
corredeira, onde a água percorre áreas cobertas tes devem ser encaradas como mecanismos de-
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SANTARÉM, E.R.; AQUILA, M.E.A. Influência de mé-
rado) – Universidade Estadual de Campinas. p. 137.
todos de superação de dormência e do armazenamento
na germinação de sementes de Senna macranthera
(Colladon) Irwin & Barneby (Leguminosae). Revista
Brasileira de Sementes, v.17 p. 205-209, 1995.
GERMINAÇÃO
EMBEBIÇÃO E REATIVAÇÃO
DO METABOLISMO
Renato Delmondez Castro
Henk W. M. Hilhorst
Uma célula viva consiste de diversos com- vivo (dicotiledôneas) ou morto (monocotiledô-
partimentos separados por membranas semi- neas), pelo perisperma, pela testa ou tegumen-
permeáveis seletivas. Canais nas membranas, tos, ou mesmo pelo pericarpo, dependendo da
formados por proteínas, permitem a passagem espécie (Capítulo 4). Todas as células dos teci-
da água, mas impedem a de solutos. Por causa dos embrionários e dos demais tecidos apresen-
disso, existem gradientes de potencial hídrico tam potencial hídrico, que pode ser específico
entre o meio externo e o interno à membrana, a cada tecido, célula ou até mesmo a cada com-
que propiciam o movimento da água, sempre partimento celular, conforme visto anterior-
do potencial hídrico mais elevado para o mais mente. Conseqüentemente, a semente como
baixo ou mais negativo. O potencial hídrico de um todo pode comportar-se como uma célula
uma célula corresponde a Ψcélula=Ψπ + Ψp (va- gigante, apresentando relações hídricas
lores absolutos). O Ψp do líquido no vacúolo específicas. Ao monitorar o conteúdo de água
assume valor negativo em função dos solutos de sementes secas submetidas a embebição em
que contém. Se a célula é envolvida por água água, muito freqüentemente se observa um
em um Ψ mais elevado, esta então flui para padrão típico trifásico de absorção de água e
dentro ao longo do gradiente de potencial hidratação (Figura 9.1; Bewley e Black, 1994).
hídrico (do potencial elevado para o baixo). Os A fase inicial de embebição ou de absorção de
solutos não podem fluir para fora porque o água, ou fase I, é um processo dirigido pelo gra-
plasmalema e o tonoplasto são seletivamente diente de potencial hídrico (ψ) entre a semen-
permeáveis. À medida que a água entra na cé- te e seu ambiente. Como em células individu-
lula, o volume aumenta, mas é contido pela rí- ais, o potencial hídrico da semente consiste dos
gida parede celular, resultando em pressão hi- três componentes que contribuem para a força
drostática ou Ψp. Quando essa pressão de turgor dirigida de absorção de água:
é igual à diferença entre o Ψ externo e o Ψπ
(por exemplo, Ψp = Ψ – Ψπ), a absorção líqui- Ψsemente = Ψπ + Ψm + Ψp (valores absolutos)
da de água é zero (o fluxo de saída da água é
igual ao de entrada), fazendo com que haja um ou
equilíbrio dinâmico. Se o Ψ externo=0 MPa, a
célula torna-se então completamente túrgida. Ψsemente = (-Ψπ) + (-Ψm) + Ψp (valores reais)
Matrizes (paredes celulares, componentes inso-
lúveis na célula, tais como amido e algumas em que:
proteínas) absorvem a água. O potencial de Ψπ = potencial osmótico (depende do
absorção desta é então chamado de potencial número de moléculas dissolvidas;
matricial ou Ψm. A água perde energia enquan- valor negativo)
to é absorvida, fazendo com que o Ψm assuma Ψm = potencial matricial (depende do
um valor negativo. Isso não constitui fator em número de sítios de ligação de água;
células inteiramente hidratadas, mas em situ- valor negativo)
ações secas (por exemplo, sementes), faz com Ψp = potencial de pressão ou de turgor (valor
que as matrizes absorvam água. Nessa situação, positivo).
o Ψcélula é determinado primariamente pelo Ψm
(Ψcélula = Ψπ + Ψp + Ψm) (Taiz e Zeiger, 1998). Em geral, a fase I é rápida, dirigida sobre-
tudo pelo potencial matricial da semente seca
(Figura 9.1). É um processo puramente físico,
ABSORÇÃO DE ÁGUA EM que depende somente da ligação da água à ma-
SEMENTES triz da semente. Isso ocorre em qualquer mate-
Em geral, as sementes consistem de um em- rial, morto ou vivo, que contiém sítios de ligação
brião e de tecidos circunvizinhos, que podem ou de afinidade pela água. Quando todas as ma-
ser representados pelo xenófito ou endosperma trizes atingem hidratação plena (e o Ψm se tor-
80
$%
9
$%
60 $m
8
5 6 7 $% = $p
4
40 3
2
20 1
Tolerante
Tolerante Intolerante
Intolerante
à
a dessecação
dessecação aàdessecação
dessecação
Tempo de embebição
! Figura 9.1
Representação esquemática do padrão trifásico de absorção de água durante a embebição de sementes, em
relação aos conteúdos aproximados de água em que os diferentes eventos do processo germinativo são
iniciados. (1) Respiração e acúmulo de ATP. (2) Síntese de mRNA e reparo de DNA. (3) Ativação de polissomos.
(4) Síntese de proteínas a partir de mRNAs recentemente sintetizados. (5) Síntese e duplicação de DNA (2C a
4C). (6) Início da degradação de reservas (tecidos de revestimento começam a enfraquecer). (7) As células da
radícula alongam-se. (8) Protrusão da radícula. (9) Mitose. Nota-se que, na fase I da embebição, a semente
inicialmente seca acumula água e aumenta em volume e tamanho em função do potencial matricial (Ψm). A
duração da fase II é variável, dependendo principalmente da temperatura. Nesta fase, a semente encontra-se
túrgida, não havendo influência de Ψm. Portanto, a absorção de água é mínima, e o potencial hídrico total da
semente é zero (Ψsemente = 0) quando a embebição acontece em “água pura”. Conseqüentemente, o potencial
osmótico encontra-se em equilíbrio com o potencial de pressão ou turgor (Ψπ = Yp). Durante a fase III, a
semente absorve água em função de o potencial de pressão da semente ser menor que o potencial osmótico
do embrião (Ψp < Ψπ) quando considerados os “valores absolutos” (desconsiderando os sinais + ou -). Ou
seja, nessa fase, o valor absoluto de Ψπ do embrião é maior (ou valor real mais negativo) que o potencial de
pressão (ou valor real mais positivo), fazendo com que o potencial total da semente se torne menor que zero
(Ψsemente < 0). Quanto mais negativo, maior a capacidade de absorver água. Observa-se também que as
sementes podem ainda ser secas desde que não seja iniciada a fase III, momento em que se tornam intoleran-
tes à dessecação.
na zero), o Ψπ se torna então a força que faz a las no interior das sementes não podem absor-
água continuar se movendo para dentro da se- ver mais água porque não podem mais expan-
mente até que seja balanceada pelo turgor ou dir; Ψsemente = 0 (se estiver em água pura) e,
Ψp. Nessa situação, o conteúdo de água da se- conseqüentemente, o Ψπ = Ψp. Isso pode ter
mente, em geral, alcança um nível de platô, duas causas: ou as paredes celulares das células
mantido relativamente constante, ou aumenta embrionárias estão demasiadamente rígidas ou
pouco e muito lentamente por um período co- as estruturas que cercam o embrião impedem
nhecido como intervalo ou fase de preparação sua expansão. Entretanto, em muitos casos, o
e ativação do metabolismo, ou apenas fase II embrião absorverá água quando isolado da se-
da embebição (Figura 9.1). Nesta fase, as célu- mente, indicando que as estruturas (ou tecidos)
que o envolvem estão limitando a sua expan- concomitante com divisão celular e conseqüen-
são (Haigh e Barlow, 1987; Dahal e Bradford, te alongamento embrionário – protrusão da ra-
1990; Welbaum e Bradford, 1990). Isso indica dícula), conforme visto anteriormente. Uma vez
que o potencial hídrico embrionário, em um iniciado o crescimento, as sementes perdem ra-
determinado momento, pode ser negativo, ao pidamente sua tolerância à desidratação (Le-
passo que o Ψ total da semente intacta é zero prince et al., 2000). Assim, a iniciação da emer-
(Ψsemente = 0), mesmo quando a pressão externa gência (ou protrusão da radícula) geralmente
exercida pelos tecidos de revestimento é dimi- marca um “ponto sem retorno” para a semente,
nuiída ou perdida (Welbaum et al., 1998). que se encontra então comprometida com a ger-
Assim, para que seja reiniciada a absorção de minação e com o desenvolvimento da plântula.
água durante a fase III da embebição, o Ψπ do Esse é um dos estágios mais críticos no ciclo de
embrião deve se tornar um valor real mais ne- vida de uma planta, visto que as plântulas são
gativo, e/ou o Ψp, menos positivo. Em valores altamente vulneráveis aos estresses ambientais
absolutos (desconsiderando os sinais + ou -), (ver Capítulo 15).
isso implica que o Ψπ do embrião torna-se maior
que o Ψp. Existem evidências para ambos os ca-
sos. O Ψπ pode tornar-se mais negativo (maior TEMPERATURA DE
em valor absoluto) quando as macromoléculas, EMBEBIÇÃO E INTEGRIDADE
tais como as proteínas e os carboidratos, são DE MEMBRANAS
quebradas em componentes menores, aumen- A taxa inicial de embebiçãoe a temperatura po-
tando a concentração de solutos nas células; o dem alterar acentuadamente a germinação e a
Ψp pode tornar-se menos positivo (menor em qualidade da semente (vigor), sobretudo em
valor absoluto) quando as estruturas circunvi- sementes grandes. Tem-se observado por mui-
zinhas são enfraquecidas e/ou afrouxadas, a to tempo que algumas sementes, como feijão
exemplo do processo de degradação enzimática (Phaseolus vulgaris) e milho (Zea mays L.), são
das paredes celulares dos tecidos que envolvem danificadas pela embebição rápida em tempe-
o embrião, ilustrado na Figura 9.7. raturas baixas, evento este conhecido como
Durante a fase II, são ativados os processos “dano de embebição” (Pollock e Toole, 1966).
metabólicos requeridos para o crescimento do Se essas sementes estiverem demasiado secas
embrião e a conclusão do processo germinativo quando colocadas na água, podem sofrer danos
(momento em que há emergência ou protrusão irreparáveis no nível do sistema de membranas,
da radícula). A duração dessa fase depende o que leva à lixiviação de conteúdos celulares,
principalmente da temperatura (T), mas tam- afetando negativamente a germinação. Tempe-
bém do Ψsemente, sendo que a T e o Ψsemente baixos raturas baixas aumentam esses danos (Wolk
(pouco negativos) estendem-na. Da mesma et al., 1989). Esse efeito prejudicial pode ser
maneira, quando as sementes estão dormentes, reduzido retardando-se a taxa de absorção de
a duração da fase II pode ser consideravelmente água, permitindo que a hidratação inicial da
prolongada (ver Capítulo 6), assim como em semente ocorra com a fase de vapor d’água,
sementes submetidas a tratamentos de envi- quando na presença de umidade relativa eleva-
goramento por meio de tecnologias de embe- da, ou revestindo a semente para retardar a taxa
bição controlada ou priming (Figura 9.8). Du- inicial do influxo de água.
rante essa fase, as sementes também tendem a Pesquisas recentes sobre a estrutura de
se manter tolerantes à desidratação ou à des- membranas em relação ao conteúdo e à tempe-
secação (Bradford, 1995). ratura da água fornecem uma explanação do
A fase III da embebição é marcada por um fenômeno “dano de embebição”. As membra-
aumento no conteúdo de água da semente, que nas celulares são compostas de uma camada
acontece devido à absorção associada com a ini- dupla (ou bicamada) de fosfolipídeos. As extre-
ciação do crescimento do embrião (expansão midades hidrofílicas das moléculas são voltadas
para fora, enquanto as cadeias hidrofóbicas se dratação, interpolando-se entre os grupos pola-
associam à parede interna da membrana (Oli- res que encabeçam as moléculas de fosfolipí-
ver, Crowe e Crowe, 1998). Esta estrutura é de- deos, mantendo a estrutura cristalina líquida
pendente da presença da água para manter a (Buitink, Hoekstra e Leprince, 2002). Essenci-
orientação hidrofóbica/hidrofílica. Visto que a almente, esse é o mesmo efeito no caso de a
água é removida durante a desidratação, a temperatura ser mais elevada. Assim, quando
membrana então muda normalmente do esta- secas na presença dos açúcares, as membranas
do mais fluido, ou estado cristalino líquido, para fosfolipídicas assumem temperaturas muito
o estado menos fluido, mais seco, ou estado de mais baixas de transição do estado cristalino
gel. Nessa condição, há um efeito de empaco- líquido para o estado de gel. A quantidade ele-
tamento e aproximação das moléculas, restrin- vada de sacarose presente na maioria das se-
gindo seu movimento. Assim sendo, as mem- mentes maduras parece estar envolvida no pro-
branas de uma semente seca podem estar cesso de tolerância à dessecação (como discu-
primeiramente no estado de gel, o que não tido no Capítulo 3) e na prevenção dos danos
constitui uma boa barreira à lixiviação de con- de embebição, mantendo a estrutura cristalina
teúdos celulares. Se as sementes embeberem líquida da membrana mesmo quando em tem-
muito rapidamente em água, não haverá tem- peraturas mais baixas.
po suficiente para que as membranas possam
voltar ao estado cristalino líquido, situação em
que ocorrem danos celulares e lixiviação (Fi- REATIVAÇÃO DA RESPIRAÇÃO
gura 9.2A). A transição entre os estados de gel E METABOLISMO
e cristalino líquido também depende da tem- A atividade respiratória é rapidamente iniciada
peratura. Se as membranas secas forem uma vez que a semente começa a embeber, a
aquecidas, elas poderão entrar em estado de partir de um conteúdo de água ao redor de 20%,
“derretimento”, passando para o estado cris- seguindo um padrão similar àquele da absorção
talino líquido. Se a água for então introduzida, de água (Figura 9.3; Bewley e Black, 1994).
acontecerá pouca lixiviação ou dano à semen- Diversas rotas e ciclos, como o ciclo de Krebs,
te (Figura 9.2B). Hidratação com vapor d’água são ativados. Uma temperatura mais baixa ou
também permite a transição de estado da mem- o potencial hídrico reduzido atrasam ou redu-
brana antes que a água líquida seja introduzida zem a taxa absoluta de respiração, mas o pa-
(Figura 9.2C). Isso explica por que o dano de drão geral é consistente (Dahal, Kim e
embebição é maior em temperaturas mais bai- Bradford, 1996). É dessa forma que, na maioria
xas e como a pré-hidratação em temperaturas dos casos, mitocôndrias sobrevivem ao período
baixas aumenta o conteúdo de umidade das se- seco, mantendo-se intactas e capazes de fosfo-
mentes antes da embebição, reduzindo os da- rilação oxidativa logo após a embebição, ainda
nos. Em temperaturas mais quentes, as mem- que danos durante o armazenamento prolon-
branas da semente já se encontram no estado gado possam reduzir ou retardar o desenvolvi-
cristalino líquido e, assim, podem tolerar o in- mento da função mitocondrial (McDonald,
fluxo rápido de água. O mesmo vale para se- 1999). A quantidade de trifosfato de adenosina
mentes com conteúdos de água mais elevados (ATP) em sementes secas é extremamente bai-
em temperaturas mais baixas. Os dados exis- xa, mas aumenta depressa durante a
tentes são, portanto, bastante convincentes embebição, seguindo a atividade respiratória
sobre o fato de que a transição de estado de aeróbica (Figura 9.3), que é a principal fonte
membranas contribui para o “dano de embe- de ATP antes da emergência da radícula. Os
bição” (Crowe, Hoekstra e Crowe, 1989). níveis de ATP são mantidos constantes duran-
Carboidratos como a trealose (nos animais te o intervalo entre a absorção de água e o con-
e leveduras) ou a sacarose (nas plantas) podem sumo de oxigênio, apresentando valor global
substituir as moléculas de água durante a desi- dinâmico, como resultado de síntese e utiliza-
A
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40
A embebição de sementes
secas em temperaturas baixas
20 provoca a transição do estado
de gel para o cristalino líquido,
causando danos nas
0 membranas e lixiviação.
B
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40
O aquecimento das sementes
secas, antes da embebição,
permite que a transição do
20 estado de gel para o cristalino
líquido aconteça antes que a
água seja introduzida, estando
as membranas prontamente
0 no estado cristalino líquido.
C
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40
Alternativamente, as sementes podem ser
hidratadas em vapor d´água quando em
temperaturas baixas, elevando o conteúdo
20 de água da semente antes de expô-la à
presença de água líquida. Isso também
permitirá que as membranas estejam
prontamente no estado cristalino líquido
0 antes que a embebição aconteça.
ção contínua do ATP. Quando as sementes são mitocôndrias. Quando colocado de volta na pre-
postas em uma atmosfera de nitrogênio (sem sença do ar, o valor de ATP é então restabeleci-
oxigênio), o ATP é rapidamente usado (em pou- do com rapidez (Pradet, 1982; Bewley e Black,
cos minutos), sem haver reposição de ATP de- 1994). O ATP é requerido para os processos que
vido à parada da oxidação terminal nas exigem energia e que são associados à iniciação
100
Síntese de proteínas
80
Quantidade relativa a partir de embriões
60 S 4C G2
de sementes secas – controle (%)
40 + cordicepina
20
A
0 2C
Conteúdo de mRNA G1 M
140
água
100
60
B + cordicepina
20 ! Figura 9.5
0 2 4 6 8 Diagrama simplificado para ilustrar as configurações
do DNA nuclear durante o ciclo celular. Após a divisão
Tempo a partir do início da embebição (h)
celular ou mitose (M*), as duas “células-filhas” apre-
! Figura 9.4 sentam seus cromossomos na configuração 2C. As
Declínio na quantidade de proteínas sintetizadas in células crescem durante a primeira fase de cresci-
vivo, codificadas pelo mRNA atual, presente em em- mento (G1), preparando-se para a subseqüente fase
briões secos de sementes de rabanete. (A) nova sínte- de síntese (S) do DNA e para a duplicação dos cro-
se de RNA durante o período experimental foi impedi- mossomos na configuração 4C. Posteriormente, ocor-
da pela adição de cordicepina; (B) conteúdo de mRNA re uma segunda fase de crescimento (G2), seguida
em embriões de rabanete durante a germinação, na pela fase mitótica (M), que mais uma vez origina duas
presença ou na ausência de cordicepina. células-filhas, cada uma com o conteúdo de DNA e o
número de cromossomos reduzido de 4C para 2C.
24 48 72
INICIAÇÃO DO Tempo a partir do início da embebição (h)
CRESCIMENTO DO EMBRIÃO
! Figura 9.6
E ENFRAQUECIMENTO DOS (A) Germinação e (B) aumento na fração de células
TECIDOS DE REVESTIMENTO com núcleos contendo DNA 4C em radículas de se-
Durante a fase II de absorção de água, uma se- mentes de tomate. A seta indica a protrusão da radí-
mente viável ativa sistemas de produção de cula da primeira semente da população.
energia, repara os danos acumulados durante
o armazenamento ou dispersão e prepara-se pa-
ra iniciar o crescimento do embrião. Conforme crescimento, ou turgor, por parte do embrião,
visto anteriormente, o crescimento inicial po- para superar a resistência exercida pelos teci-
de envolver expansão celular e divisão celular, dos de revestimento (quando Ψp < Ψπ, conside-
dependendo da espécie. Em alguns casos, a pro- rando-se valores absolutos, ou seja, desconsi-
trusão inicial do embrião através dos tecidos derando-se os sinais + ou -), permitindo as-
de revestimento envolve apenas a expansão das sim o alongamento (ou expansão celular). Em
células existentes, enquanto, em outros, pode inúmeras sementes contendo endosperma, en-
ocorrer um número substancial de divisões ce- zimas hidrolíticas ou hidrolases que degradam
lulares e morfogênese antes da protrusão e da a parede celular tornam-se ativas no próprio
emergência, como acontece em sementes de to- tecido de endosperma, principalmente na re-
mate e de cenoura (De Castro e Hilhorst, 2000; gião designada cápsula de endosperma, a qual
Homrichhausen, Hewit e Nonogaki, 2003). Em cerca a extremidade da radícula embrionária
muitas sementes, os tecidos circunvizinhos que (Figura 9.7; Bradford et al., 2000). Os produtos
cobrem o embrião (xenófito ou endosperma, da degradação enzimática da parede celular
perisperma, testa ou tegumentos, pericarpo) são, em geral, carboidratos (conforme será visto
podem restringir mecanicamente a emergên- no Capítulo 10) que, por sua vez, são transpor-
cia da radícula. Para que ocorra a expansão tados à extremidade da radícula, contribuindo
desta e a germinação, é necessário haver: (a) o muito provavelmente para o aumento no valor
enfraquecimento e/ou afrouxamento dos teci- absoluto do potencial osmótico das células
dos circunvizinhos de revestimento, que podem radiculares (Ψπ mais negativo). Assim, a de-
controlar o sincronismo de emergência da gradação das rígidas paredes celulares traba-
radícula, e/ou (b) o aumento do potencial de lha em ambos os sentidos: enfraquecendo o te-
Cápsula de endosperma
Embrião Enfraquecimento das
paredes celulares:
Testa mananase
poligalacturonase
celulase
Endosperma arabinosidase
expansina
GAs hidrolases
GAs Enfraquecimento
Embrião
Potencial de crescimento Ruptura
Testa
(radícula)
Cápsula
de
Endosperma
(região da micrópila)
! Figura 9.7
Representação esquemática da germinação de uma semente de dicotiledônea contendo endosperma como
tecido de reserva e retenção, ilustrando as possíveis forças que conduzem à protrusão da radícula. A radícula
embrionária produz um promotor, giberelinas (GAs), que é lançado no endosperma. Esse promotor induz
enzimas hidrolíticas (hidrolases) que atuam na degradação de paredes celulares, enfraquecendo o tecido na
cápsula de endosperma. Observa-se então a geração de um potencial de crescimento embrionário e a ruptura
do endosperma. Algumas das hidrolases estão listadas.
cido do endosperma e aumentando o potencial seja bem-sucedida. Fica claro que a exigência
de crescimento do embrião, permitindo a pro- de um conjunto específico de condições para a
trusão da radícula (Figuras 9.1 e 9.7). germinação está relacionada às características
particulares de cada espécie. Conforme aborda-
do nos Capítulos 5 e 8, há espécies que crescem
O CONTROLE DA sob um dossel ou cobertura vegetal espessa e
GERMINAÇÃO geralmente não requerem muita luz para ger-
As sementes germinam quando as condições minar. Ao contrário, espécies que requerem luz
para o crescimento são favoráveis e elas não para o crescimento desenvolvem-se freqüente-
apresentam algum tipo de dormência (ver Parte mente em clareiras, locais abertos sem cobertu-
2). Obviamente, a primeira exigência para a ger- ra vegetal sobreposta, exigindo quantidades re-
minação é a água. Além disso, a germinação lativamente maiores de luz para que ocorra a
ocorre em uma temperatura ótima. Existem germinação. Dessa maneira, as sementes po-
temperaturas mais apropriadas para a germina- dem detectar a presença de concorrentes poten-
ção, assim como temperaturas limitantes, de- ciais. De modo semelhante, elas são capazes de
pendendo da espécie (Labouriau, 1983; Baskin perceber plantas vizinhas, visto que estas po-
e Baskin, 1998). As sementes podem também dem ter usado determinados nutrientes no solo,
requerer luz e nutrientes para que a germinação que são requeridos para a germinação. Com
esses mecanismos, as espécies reduzem a possi- et al., 2002; Peng e Harberd, 2002). Mesmo
bilidade de competição e aumentam a de sobre- quando embebidas e hidratadas, algumas en-
vivência (Baskin e Baskin, 1998). zimas hidrolíticas essenciais são inibidas em se-
Os sinais do ambiente são traduzidos em mentes dormentes (ou em sementes que te-
sinais internos na semente, que assim inicia o nham sido expostas a condições naturais ou ar-
processo de germinação. Os sinais externos tificiais de indução de dormência), por exem-
(ambientais) percebidos pela semente desenca- plo, quando expostas à luz vermelho-distante
deiam sinais internos em nível molecular, que (Quadro 9.1), conforme discutido em detalhes
podem induzir a ativação ou a inativação de no Capítulo 6.
compostos e/ou reações metabólicas diversas.
O ácido geberélico (ou giberelinas, GAs) consti-
tui uma classe de hormônios vegetais (fitormô- PREPARAÇÃO PARA O
nios) envolvidos na iniciação do crescimento. CRESCIMENTO DA PLÂNTULA
Sementes percebem sinais ambientais especí- Embora a germinação stricto sensu termine com
ficos que induzem a síntese e/ou a ativação de a protrusão da radícula, o processo germina-
GAs, que, por sua vez, induzem a síntese e/ou tivo também pode envolver a preparação para
a ativação das enzimas hidrolíticas ou hidrola- o crescimento da plântula. Sob circunstâncias
ses, responsáveis pela degradação das paredes naturais, as sementes podem germinar abaixo
de células do endosperma, entre outros efeitos da superfície do solo. A plântula em crescimen-
no metabolismo. GAs podem também estar en- to tem que cumprir uma determinada distân-
volvidas no aumento do potencial de cresci- cia até a superfície; em seguida, a luz induz a
mento embrionário e na degradação de reserva síntese de clorofila e o começo da fotossíntese.
da semente. No tomate, a expressão de enzimas A partir daí, a plântula em crescimento torna-
hidrolíticas acontece principalmente na região se um organismo autotrófico. Entretanto, até
da cápsula de endosperma que reveste a ponta esse momento, o crescimento da plântula é
da radícula, levando à degradação de reservas abastecido pelos carboidratos derivados das re-
e ao conseqüente enfraquecimento e/ou afrou- servas da semente. Tanto o amido como os li-
xamento dessa região do endosperma, de modo pídeos são convertidos em sacarose, que é re-
a permitir a protrusão da radícula (Figura 9.7, querida como a fonte de energia para o cresci-
Quadro 9.1; Bewley, 1997; Bradford et al., mento. Nesse estádio, a plântula em crescimen-
2000). Em geral, a inibição da síntese de GAs to é essencialmente um organismo heterotró-
em sementes por determinados compostos quí- fico que confia na disponibilidade de energia
micos inibe a germinação. O fitormônio ácido dos tecidos de reserva da semente. Embora ge-
abscísico (ABA) tem efeito inibidor sobre a ger- ralmente considerado um evento pós-germina-
minação. O ABA não impede o enfraquecimen- tivo, o início da mobilização desses alimentos
to do endosperma em sementes intactas, mes- de reserva ocorre bem antes da protrusão da
mo inibindo a expressão de algumas enzimas radícula.
hidrolíticas (Quadro 9.1; Chen e Bradford,
2000; Toorop, Van Aelst e Hilhorst, 2000; Wu
et al., 2001). Parece que, enquanto as GAs esti- PRIMING DE SEMENTES
mulam a germinação, induzindo o enfraqueci- O termo priming, do inglês, significa em portu-
mento do endosperma, o ABA inibe a germina- guês dar início a, começar, preparar, etc. É de co-
ção por meio de outro processo qualquer, ainda nhecimento geral que muitos eventos do pro-
não completamente elucidado (Nambara e cesso de germinação são iniciados mesmo em
Marion-Poll, 2003) (ver Capítulo 6). Resultados conteúdos limitados de água na semente. Esse
recentes indicam que as GAs reduzem a expres- conhecimento acabou sendo posto em prática
são e a ação de certos genes e proteínas que por muitas companhias de sementes com a fi-
bloqueiam o crescimento e a germinação (Fu nalidade de aumentar sua qualidade (Halmer,
Quadro 9.1 Alguns dos genes que foram clonados de sementes de tomate durante a embebição, antes
da protrusão da radícula, estão listados à esquerda, junto ao correspondente DNA-complementar (cDNA).
Se conhecida, é indicada a localização do tecido de expressão do gene (CAP, cápsula de endosperma;
LAT, endosperma lateral; RE, radícula do embrião; RSE, restante da semente). Se conhecidos, são indica-
dos também os efeitos qualitativos de GAs, ABA, potencial hídrico baixo (Baixo Ψ, pouco negativo), luz
vermelho-distante (FR) e dormência primária. Símbolos indicam: (+) promove a expressão; (o) nenhum
efeito sobre a expressão; (–) inibe a expressão; (espaço em branco) informação indisponível
2000). A técnica do priming baseia-se em colo- Em geral, a fase I de absorção de água aconte-
car as sementes para embeber em uma solução cerá normalmente, uma vez que é dirigida pelo
osmótica (de polietilenoglicol ou solução sali- potencial matricial muito elevado da semente
na), na qual a hidratação acontece, mas de for- (valor real muito negativo). Entretanto, na fase
ma restrita, limitada, permitindo que alguns II, quando o Ψπ da solução osmótica é aproxi-
eventos metabólicos do processo germinativo mado ao do Ψembrião, a fase II torna-se relativa-
aconteçam sem que a germinação seja comple- mente mais extensa, de modo que a iniciação
tada (Figura 9.8; Bray, 1995; McDonald, 2000). da fase III será atrasada. Em outra situação,
quando o Ψπ da solução é mais negativo que
for o Ψembrião, a fase III então não ocorrerá, sen-
do o processo germinativo mantido continua-
mente na fase II. A extensão desta permite que
Conteúdo de água, (%) peso fresco
0 MPa
80 as sementes ativem inúmeros eventos do pro-
-0,5 MPa
cesso germinativo, sem que ocorra a protrusão
60 da radícula ou germinação propriamente dita,
-1 MPa incluindo eventos como o reparo e a síntese de
40 DNA (S a G2). O processo de germinação não
pode ser completado, na medida em que é re-
20 querida absorção de água adicional para iniciar
a fase III. Isso permite que as sementes mais
lentas “alcancem” as mais rápidas. Nesse mo-
Tempo de embebição mento, as sementes ainda são tolerantes à des-
! Figura 9.8 secação, podendo então ser apropriadamente
Absorção de água por sementes embebidas em água secas e armazenadas sem danificar o embrião
(0 MPa), em uma solução osmótica com potencial e sem que tenham entrado na fase III. Esse mé-
osmótico próximo do potencial hídrico do embrião todo de (pré-)tratamento ou de (pré-)condicio-
(-0,5 MPa) e em outra com potencial osmótico muito
namento osmótico é chamado de priming
mais negativo que o potencial hídrico do embrião (-
1,0 MPa), situação na qual se verifica a completa inibi- (McDonald, 2000). É fato que as sementes
ção da protrusão radicular. A linha pontilhada indica “(pré-)iniciadas” com este método germinam
a protrusão da radícula (no conteúdo de água de apro- mais rapidamente, de modo mais simultâneo
ximadamente 60%). MPa = Mega Pascal, em que 1 e uniforme, do que as sementes sem priming;
MPa equivale a 10 bars.
por isso, podem também ser chamadas (incon- DAHAL, P.; BRADFORD, K. J. Effects of priming and
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ABORDAGEM
EXPERIMENTAL
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
Marli A. Ranal
Denise Garcia de Santana
tes por repetição), manuseio das sementes, tão arranjados dentro de um delineamento ex-
equipamentos, recipientes, substâncias e trata- perimental. Assim, define-se delineamento ex-
mentos utilizados, critério de contagens, cálcu- perimental como o desenho do experimento no
los e limites de tolerância (Brasil, 1992). Da campo, na casa de vegetação ou outro local
amostra de trabalho, além dos testes padroniza- (Banzatto e Kronka, 1989). A forma como os
dos descritos nas RAS (Brasil, 1992), o pesqui- tratamentos são dispostos na área experimental
sador também pode retirar subamostras para define o tipo de delineamento.
outros procedimentos experimentais não-pa- Em experimentação, três princípios básicos
dronizados. devem ser atendidos – a repetição, a casualiza-
Em estudos de ecofisiologia da germinação, ção e o controle local. A repetição consiste na
a população de plantas das quais serão coleta- reprodução do experimento básico e tem por
das as sementes normalmente é formada por finalidade propiciar a obtenção de uma
um conjunto de indivíduos submetidos a condi- estimativa do erro experimental ou resíduo. A
ções bióticas e abióticas muito similares. De al- casualização tem por objetivo propiciar a todos
guns desses indivíduos, selecionados ou não de os tratamentos a mesma probabilidade de se-
acordo com algum critério, são tomadas porções rem alocados em qualquer ponto da área
de sementes que, misturadas, formam uma experimental. O controle local, específico para
única amostra. Esta pode então ser dividida em alguns delineamentos, como em blocos casua-
subamostras para experimentos específicos ou lizados, tem a finalidade de dividir um ambien-
pode ser estudada dessa única forma se o nú- te heterogêneo em subambientes homogêneos,
mero de sementes não for muito grande. O es- tornando o delineamento mais eficiente pela
tudo pode ainda ser feito utilizando-se amos- redução do erro experimental.
tras retiradas de cada indivíduo e mantidas
separadas para a avaliação da variabilidade
intra-específica quanto à germinação. A po- DELINEAMENTO
pulação de sementes é então constituída por INTEIRAMENTE
todas as sementes dos indivíduos da espécie que CASUALIZADO (DIC)
crescem em determinado ambiente, conceito es- O delineamento inteiramente casualizado é o
te similar ao adotado na tecnologia de sementes. mais simples: utiliza apenas os princípios da
Tanto para tecnologistas quanto para eco- casualização e da repetição. Portanto, deve ser
fisiologistas, se o interesse está centrado em empregado quando as condições experimentais
uma população específica de sementes, o pri- são consideradas homogêneas. Detectar homo-
meiro passo é o estudo da distribuição (normal, geneidade ou heterogeneidade na área experi-
binomial ou outra) da variável a ser analisada mental nem sempre é muito fácil, mesmo para
(germinação). Esse estudo, realizado a partir um pesquisador mais experiente. Às vezes, a
de amostras tomadas de uma única população, heterogeneidade existente no local de trabalho
permite fazer inferências sobre essa população, não é controlável, como, por exemplo, variações
utilizando-se intervalos de confiança e testes quanto à irradiância e à temperatura em uma
de hipóteses (para médias e proporções). Medi- mesma prateleira de uma câmara de germina-
das descritivas como média, mediana, moda, ção. Nesse caso, é importante que o pesquisador
desvio-padrão, variâncias, entre outras, sinteti- esteja ciente de que o erro experimental crecerá
zam a informação em uma única medida e são com o aumento da heterogeneidade, levando à
úteis nas inferências sobre a população. No en- perda na precisão. Assim, dois tratamentos po-
tanto, se o interesse é dividir a amostra, subme- dem ser considerados iguais quanto à caracte-
tendo-a a vários métodos cujo efeito se deseja rística estudada em decorrência das condições
medir ou comparar, têm-se definidos os trata- não-controláveis do ambiente (erro experimen-
mentos que, quando dispostos em condições tal), e não dos tratamentos. Deve-se pensar em
experimentais predeterminadas, diz-se que es- homogeneidade também com relação à mão-
de-obra envolvida na coleta dos dados. Depen- R3, R4 e R5), montados em duas prateleiras
dendo do experimento e do tipo de dado a ser homogêneas entre si, os seguintes passos de-
coletado, esse delineamento exige que apenas vem ser seguidos:
um manipulador esteja envolvido.
O modelo matemático desse delineamento 1o Passo: Numerar o croqui de 1 a 45, números
(yij = µ + αi + eij, onde yij é o valor da parcela estes correspondentes ao número de parcelas
que recebeu o tratamento i na repetição j; µ é a do experimento;
média geral do experimento; αi é o efeito do i-
ésimo tratamento; eij é o erro da parcela que Prateleira 1
recebeu o tratamento i na repetição j) mostra 1 2 3 4 5 6 7 8
que cada observação recebe o efeito da média 9 10 11 12 13 14 15
geral do experimento, do tratamento e do erro
16 17 18 19 20 21 22
experimental. Por isso, cabe ao pesquisador de-
cidir sobre a redução ou não do erro experimen-
Prateleira 2
tal ou resíduo. Quanto maior ele for, mais difícil
será detectar diferenças entre tratamentos, por- 23 24 25 26 27 28 29 30
que esse erro sobrepuja o efeito do tratamento, 31 32 33 34 35 36 37 38
que normalmente se deseja medir. 39 40 41 42 43 44 45
Para esse tipo de delineamento, realizado
na área agronômica, recomenda-se que o nú-
mero de parcelas do experimento (número de 2o Passo: Sortear 45 números aleatórios, de pre-
tratamentos multiplicado pelo número de repe- ferência com três dígitos, para evitar empates;
tições) não seja inferior a 20 e que o número 525 204 975 928 039 164 915 021 114
de graus de liberdade do erro experimental não
seja inferior a 10. Essa informação é melhor 072 561 186 053 728 327 817 138 777
visualizada quando se monta a primeira coluna
715 218 098 180 183 993 147 472 173
do quadro da análise da variância, de tal forma
que 037 613 819 983 639 584 189 152 791
e assim por diante. Veja que, nesse momento, zado, ou seja, a posição de cada unidade experi-
a seqüência dos números aleatórios é mantida mental ou parcela deve ser fixa, do início até o
(a 1a coluna do 3o passo e a 1a coluna do 4o passo final do experimento. A justificativa para isso
têm a 27a posição dos números sorteados, segui- é que, ao se deslocar uma placa de Petri posi-
da da 5a posição, da 32a e assim por diante). cionada no meio de uma lâmpada fluorescente
27 → T1R1 21 → T2R1 41 → T3R1 40 → T4R1 para a sua extremidade, as sementes que antes
3 → T5R1 12 → T6R1 39 → T7R1 1 → T8R1 estavam recebendo irradiância, por exemplo,
7 → T9R1 5 → T1R2 28 → T2R2 17 → T3R2 de 55 µmol m-2 s-1 passarão a receber 35 µmol
4 → T4R2 33 → T5R2 23 → T6R2 37 → T7R2
9 → T8R2 34 → T9R2 32 → T1R3 22 → T2R3
m-2 s-1. Como não se sabe qual a resposta das
6 → T3R3 15 → T4R3 16 → T5R3 44 → T6R3 sementes a essas irradiâncias e qual o tempo
10 → T7R3 25 → T8R3 13 → T9R3 2 → T1R4 que elas gastam para alterar seu metabolismo
30 → T2R4 38 → T3R4 42 → T4R4 31 → T5R4
29 → T6R4 18 → T7R4 11 → T8R4 35 → T9R4]
com essa mudança na quantidade de luz rece-
20 → T1R5 19 → T2R5 36 → T3R5 43 → T4R5 bida, é recomendável que a posição da placa
45 → T5R5 24 → T6R5 8 → T7R5 26 → T8R5 não seja alterada. Provavelmente a velocidade,
14 → T9R5
a sincronia e a homogeneidade de germinação
sofram, de maneira não-controlada, forte efeito
5o Passo: Alocar cada tratamento e repetição, dessas mudanças contínuas de irradiância ao
associando a distribuição do 4o passo com a nu- longo do experimento, e isso, apesar de ser uma
meração do croqui do 1o passo. Assim, T1R1 aparente homogeneização, aumenta ainda
será alocado na parcela 27 do croqui; T2R1 na mais o erro experimental. Mesmo que uma re-
parcela 21 e assim por diante, até o final da petição fique sob a luz mais forte e a outra, na
distribuição de todas as parcelas. extremidade mais fraca da lâmpada ao longo
do período experimental, essa variação no pro-
Prateleira 1 cesso de germinação, que será registrada em
T8R1 T1R4 T5R1 T4R2 T1R2 T3R3 T9R1 T7R5 cada placa, informará sobre o grau de homo-
1 2 3 4 5 6 7 8 geneidade do local do experimento e, portanto,
T8R2 T7R3 T8R4 T6R1 T9R3 T9R5 T4R3 sobre a precisão dos dados obtidos. Quanto mais
9 10 11 12 13 14 15 homogêneas forem as condições experimentais,
T5R3 T3R2 T7R4 T2R5 T1R5 T2R1 T2R3 mais fielmente se medirá a heterogeneidade do
16 17 18 19 20 21 22 material biológico em estudo. Se as condições
experimentais forem muito heterogêneas, o va-
Prateleira 2 lor do quadrado médio do resíduo que mostra
a grandeza do erro experimental aumentará,
T6R2 T6R5 T8R3 T8R5 T1R1 T2R2 T6R4 T2R4 diminuindo o valor do F da análise da variância
23 24 25 26 27 28 29 30
e reduzindo a chance de ser detectada diferença
T5R4 T1R3 T5R2 T9R2 T9R4 T3R5 T7R2 T3R4
significativa entre os tratamentos (F=quadrado
31 32 33 34 35 36 37 38
médio do tratamento/quadrado médio do resí-
T7R1 T4R1 T3R1 T4R4 T4R5 T6R3 T5R5
39 40 41 42 43 44 45
duo).
Essas colocações fornecem subsídio para a
tomada de certas decisões. Por exemplo, em
uma câmara de germinação com lâmpadas fluo-
Uma prática antiga, ainda utilizada em al- rescentes de 1,50 m, verticais na porta e no fun-
guns laboratórios, recomenda que periodica- do, tem-se uma variação de irradiância ao longo
mente o local das parcelas seja mudado (“escra- das prateleiras, com irradiâncias baixas nas pra-
vo de Jó” ou a dança das placas). Essa é uma teleiras localizadas nas extremidades das lâm-
prática não-recomendada e contrária ao que de- padas e altas nas prateleiras de posição me-
termina o delineamento inteiramente casuali- diana. Também, em uma mesma prateleira, as
M1 M2 M3 M1 M2 M3 M1 M2 M3 M1 M2 M3
L1M1 L1M2 L1M3 L2M1 L2M2 L2M3 L3M1 L3M2 L3M3 L4M1 L4M2 L4M3
Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
os resíduos do modelo para o efeito da tempera- Mann-Whitney, desde que o quadrado médio
tura passam a não ser mais independentes pela do resíduo dentro de cada época ou local seja
falta de casualização (Capítulo 12). No caso do mantido.
exemplo, cada germinador tem a precisão de É importante destacar ainda que, em al-
seu funcionamento associada a um dos trata- guns casos, o insucesso da análise estatística
mentos (temperatura). Assim, se um dos ger- dos dados se deve ao planejamento inadequado
minadores ou câmara apresentar maior varia- do experimento, associado ao uso de técnicas
ção da temperatura regulada em relação aos estatísticas não-aplicáveis a certos conjuntos de
demais germinadores, as repetições desse trata- dados.
mento poderão originar um valor médio subes- As informações aqui apresentadas são váli-
timado ou superestimado de germinação. Isso das para quaisquer unidades de dispersão, se-
ocorreria até em um delineamento casualizado jam sementes, frutos, esporos ou gemas.
e, nesse caso, o efeito da temperatura, mesmo
que variável, poderia ser isolado do resíduo, mas
no delineamento não-casualizado esses efeitos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
podem ser confundidos. BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação agríco-
Além da temperatura, fatores como época la. Jaboticabal: FUNEP, 1989. p. 247.
e local, amplamente estudados por pesquisado- BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária.
res, também podem impossibilitar a casualiza- Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLV,
ção. Esses fatores surgem como uma fonte de 1992. p. 365.
variação da análise estatística quando experi- COCHRAN, W.G.; COX, G.M. Experimental designs. 2.ed.
mentos independentes, em diferentes épocas New York: John Wiley, 1957. p. 617.
ou locais, são analisados conjuntamente. São PIMENTEL-GOMES, F. Curso de estatística experimental.
exemplos experimentos nos quais os mesmos São Paulo: Nobel, 1990. p. 468.
tratamentos e repetições são instalados em dife- SCHEFFÉ, H. The analysis of variance. New York: John
rentes locais. Nesses casos, técnicas estatísticas Wiley, 1959. p. 447.
específicas são aplicadas, como a análise con- SNEDECOR, G.W.; COCHRAN, W.G. Statistical methods.
junta de experimentos e os esquemas de parce- 8.ed. Ames: Iowa State University Press, 1989. p. 593.
las subdivididas no tempo ou no espaço (Pi-
SOKAL, R.R.; ROHLF, F.J. Biometry. 3.ed. New York: W.H.
mentel-Gomes, 1990). Além dessas técnicas, Freeman and Company, 1997. p. 897.
comparações binárias entre diferentes épocas
STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H. Principles and procedures of
ou locais também podem ser efetuadas, utili-
statistics. 2.ed. New York: McGraw-Hill Book Company,
zando-se estatísticas como t de “Student” e 1980. p. 633.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Denise Garcia de Santana
Marli A. Ranal
A análise estatística de dados obtidos a partir i no bloco j), pode ocorrer um efeito multipli-
de parcelas ou unidades experimentais que fo- cativo entre αi e βj, ou seja, o efeito do trata-
ram arranjadas seguindo delineamentos pré- mento (αi) interage com o efeito do bloco (βj).
planejados (experimentais) inicia-se com os Isso também pode ocorrer nos modelos de en-
testes das pressuposições do modelo da análise saios fatoriais em delineamento inteiramente
da variância (ANOVA). Independentemente do casualizado (DIC) ou delineamento em blocos
delineamento experimental, os principais efei- casualizados (DBC), e um efeito não-aditivo en-
tos do modelo devem ser aditivos; os resíduos tre os fatores pode tornar a estatística F da in-
(eij), independentes e normalmente distribuí- teração ineficiente devido ao aumento no efei-
dos; e as variâncias, homogêneas. Essas condi- to da interação (Sokal e Rohlf, 1997). O método
ções são fundamentais para a eficiência da es- mais comumente aplicado para testar a não-
tatística F da análise da variância, mas não são aditividade é o de Tukey (1949); e para esse
necessárias para os testes não-paramétricos (Fi- teste, quando a hipótese de aditividade é rejei-
gura 12.1). Das pressuposições, a única não tes- tada, a transformação logarítmica pode ser apli-
tável é a independência dos resíduos, mas esta cada na tentativa de tornar os efeitos aditivos.
é garantida pela casualização (Steel e Torrie,
1980).
Em situações experimentais pouco fre- TESTES DE NORMALIDADE E
qüentes, os principais efeitos do modelo podem HOMOGENEIDADE
não ser aditivos, mas multiplicativos, por exem- Dos testes de normalidade, o de Kolmogorov-
plo. Nos modelos de delineamentos inteiramen- Smirnov não tem restrição quanto ao tamanho
te casualizados, com apenas um fator principal da amostra ou número de parcelas, além de não
(yij = µ + αi + eij, onde yij é o valor da parcela perder informação devido ao agrupamento,
que recebeu o tratamento i na repetição j; µ, a como o teste de aderência ou qui-quadrado
média geral do experimento; ai, o efeito do i- (Campos, 1983). O teste de Lilliefors é uma va-
ésimo tratamento; eij, o erro da parcela que rece- riação do de Kolmogorov-Smirnov para os casos
beu o tratamento i na repetição j), a aditividade em que a média e a variância populacionais des-
não precisa ser testada, pelo fato de µ ser cons- conhecidas são estimadas por meio dos dados
tante e os erros serem independentes. Nos mo- da amostra (Lilliefors, 1967). Esse teste tam-
delos de delineamentos em blocos casualizados bém não tem restrição quanto ao tamanho da
(yij = µ + αi +βj + eij, , onde yij é o valor da amostra ou ao número de parcelas. Por outro
parcela que recebeu o tratamento i no bloco j; lado, o de Shapiro-Wilk (Shapiro e Wilk, 1965)
µ, a média geral do experimento; αi, o efeito do é recomendado quando o tamanho da amostra
i-ésimo tratamento; βj, o efeito do j-ésimo bloco; e/ou o número de parcelas do experimento são
eij, o erro da parcela que recebeu o tratamento pequenos (n < 50). Como os modelos de análi-
Coleta e organização
dos dados
para análise
Teste de aditividade
Teste de normalidade
Análise
da variância
DIC DBC
! Figura 12.1
Fluxograma da seqüência da análise estatística paramétrica e não-paramétrica.
se da variância exigem resíduos, e não dados tativa de todos os tratamentos. O teste de Bartlett
com distribuição normal, esses testes devem ser (1937), apesar de exigir normalidade dos resí-
aplicados aos resíduos do modelo. Nos delinea- duos, é o mais recomendado para testar a ho-
mentos inteiramente casualizados, os resíduos mogeneidade entre as variâncias quando se tem
são calculados por eij = yij – yi., onde yij é o valor mais de duas amostras ou tratamentos. O méto-
da parcela que recebeu o tratamento i na repeti- do proposto por Hartley (1950), apesar de fácil
ção j, e yi. é a média do tratamento i. Nos mode- aplicação, é pouco eficiente (Sokal e Rohlf,
los de delineamentos em blocos casualizados, 1997), menos sensível que o teste de Bartlett
os resíduos são calculados por eij = yij – yi. – y.j + (Snedecor e Cochran, 1989), exigindo também
y.. , onde yij é o valor da parcela que recebeu o normalidade dos resíduos (Neter, Wasserman e
tratamento i no bloco j; yi. a média do tratamen- Kutner, 1985). Por isso, no fluxograma (Figura
to i; y.j é a média do bloco yi; e y.., a média geral 12.1), o teste de homogeneidade aparece após o
do experimento. de normalidade e deve ser aplicado somente
A homogeneidade entre as variâncias (ou quando os resíduos têm distribuição normal.
homocedasticidade) também é uma condição Quando as hipóteses de aditividade, nor-
para a aplicação da maioria dos testes estatísti- malidade e homogeneidade são atendidas, o
cos (Sokal e Rohlf, 1997), tendo importância teste F da análise da variância pode ser aplicado
ainda maior na análise da variância. Isso porque, e tem maior poder. Na Tabela 12.1 estão apre-
nessa análise, qualquer efeito de tratamento é sentadas algumas opções para testes de aditi-
comparado com o quadrado médio do resíduo, vidade, normalidade e homogeneidade, segui-
que é a variância média do experimento, e, por- das da expressão mais usual e das referências
tanto, ela deve ser homogênea por ser represen- para consultas mais detalhadas.
Germinação_12ok.p65
Tukey para não-aditividade A não-aditividade dos efeitos principais SQBL * TRAT Tukey (1949); Neter, Wasserman e
Kutner (1985); do modelo é pouco freqüente SQBL.TRAT = Sokal e Rohlf (1997)
SQBL + SQTR
r t
Teste de normalidade2
199
Shapiro-Wilk n < 50 g2 Shapiro e Wilk (1965), Gill (1978);
Wc = , sendo g = $ #i,n (en-i+1 – ei) Santana e Ranal (2004)
SQR i=1
Teste de homogeneidade3
2
F máximo de Hartley Exige resíduos com distribuição normal; s máx Hartley (1950); Neter, Wasserman
conhecido por ter baixa eficiência; Fmáx = 2 e Kutner (1985); Sokal e Rohlf
s min
aplicável para qualquer número de (1997); Santana e Ranal (2004)
amostras ou tratamentos
# #
2 -2 2
Bartlett Exige resíduos com distribuição normal; ( = $ (ni – 1)1n s – $ (ni – 1) ln si , sendo Bartlett (1937); Neter, Wasserman
17/05/2004, 17:44
número de amostras ou tratamentos maior i=1 i=1 (1985); Sokal e Rohlf (1997); Zar
que dois (1999); Santana e Ranal (2004)
–2 2
s = $ (ni – 1) si $ (ni – 1)
i i
1
SQBL*TRAT: soma de quadrados da interação do bloco com o tratamento; SQBL: soma de quadrados de blocos; SQTR: soma de quadrados de tratamentos; r: número de repetições;
GERMINAÇÃO
t: número de tratamentos.
2
SQR: soma de quadrados do resíduo; a: coeficientes tabelados para o teste de Shapiro-Wilk (Gill, 1978); e: erro experimental ou resíduo; n: número de parcelas; gmáx: maior diferença
absoluta de g; ^F(zi): função de distribuição normal acumulada; i: número da amostra; k: número de observações a partir da primeira até o valor de zi encontrado, inclusive.
3 2
199
s máx: maior variância entre os tratamentos; s2mín: menor variância entre os tratamentos; ni = ri: número de repetições do tratamento i; s2i: variância do tratamento i.
200 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.
Tabela 12.2 Padrão de germinação das sementes de Brassica chinensis L. var. parachinensis (Bailey)
Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional (dados fornecidos por E.F.M.
Pereira, W.Z. Gonçalves, C.C. Borges e M.A. Ranal). Médias de cinco repetições
Medidas1
Tratamento G (%) (hora) (hora –1) (bit)
Tabela 12.3 Análise da variância para a germinabilidade das sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional
gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = Y2ij – (y..)2 /tr; SQR
1
= SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij: valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3
QMT = SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.
ampliando a eficiência da estatística F (aumen- pótese nula, ou seja, indicaria que não há dife-
to do valor do F) e, conseqüentemente, a chance rença significativa entre os tratamentos a 1%
de se detectarem diferenças entre os tratamen- de probabilidade.
tos. Esse aumento nos graus de liberdade pode
ser exemplificado quando se comparam, para
o mesmo experimento, as Tabelas 12.5 e 12.6. TRANSFORMAÇÃO DE DADOS
Uma das maiores dificuldades de interpre- Uma tentativa de aplicar a análise da variância
tação de uma análise da variância é o entendi- quando uma ou mais pressuposições do modelo
mento do valor da probabilidade. Depois de es- não são atendidas é a transformação de dados,
tabelecido o valor da significância, α = 0,05, escolhida de acordo com a natureza da caracte-
por exemplo, valores de probabilidade acima rística em estudo (contagem, porcentagem, no-
desse valor nominal (P > 0,05) indicam a região tas, etc.). A principal finalidade da transforma-
de aceitação da hipótese de que os tratamentos ção de dados é estabilizar as variâncias entre os
são iguais (RAHo); caso contrário (P < 0,05), tratamentos e, como conseqüência, garantir a
indicam a região de rejeição dessa hipótese normalidade dos resíduos (Neter, Wasserman e
(RRHo), e o teste é dito significativo (Figura Kutner, 1985). Segundo esses autores, quando
12.2). O valor da estatística F e o da probabilida- os resíduos apresentam distribuição normal, a
de a ela associada, apresentados na Tabela 12.3, transformação das observações que estabiliza a
mostram que a hipótese nula foi rejeitada e que, variância pode afetar a normalidade. Essa con-
portanto, há diferença significativa entre os tra- sideração justifica a necessidade de novamente
tamentos (dados da Tabela 12.2). Se o valor α se testar a normalidade para as observações trans-
estabelecido fosse maior, o teste teria sido mais formadas (Figura 12.1).
rigoroso (α = 0,01), e o valor calculado da pro- A heterogeneidade entre as variâncias sur-
babilidade estaria mostrando a aceitação da hi- ge quando um ou mais tratamentos apresen-
Tabela 12.4 Análise da variância para o tempo médio de germinação das sementes de Brassica
chinensis L. var. parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência
nutricional. O tempo médio (Labouriau, 1983) foi calculado para cada placa de Petri (repetição), sendo
então processada a ANOVA
gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = y2ij – (y..)2 /tr; SQR
1
= SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3
QMT = SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.
Tabela 12.5 Análise da variância com peso de ponderação para o tempo médio de germinação de
esporos de Pteris denticulata Sw. (Pteridaceae, Pteridophyta) estudados por Ranal (1999). O tempo médio
foi calculado para o conjunto de esporos germinado em cada temperatura5
tam maior variabilidade que os demais do ex- de esporófitos e outros, a transformação do tipo
perimento, gerando efeitos discrepantes, ou raiz quadrada (vx ou vx+k é mais apropriada.
quando existe dependência entre a média e a A constante k = 0,5 proposta por Bartlett
variância ou desvio-padrão. No primeiro caso, (1936) é preferida, especialmente quando há
a heterogeneidade é do tipo irregular, e o me- um grande número de dados iguais a (ou próxi-
lhor procedimento para tentar estabilizar a va- mos) de zero (Zar, 1999). Transformações do
riância é a retirada dos tratamentos discrepan- tipo logarítmica, log (x) ou log (x+k) são suge-
tes para a análise (Steel e Torrie, 1980). O se- ridas para corrigir a não-aditividade dos efeitos
gundo caso retrata o tipo regular de heteroge- (Zar, 1999), e não para estabilizar variâncias.
neidade, e esta pode ser corrigida pela transfor- Apesar da recomendação de muitos esta-
mação dos dados. tísticos de que dados transformados não devem
A transformação angular (arcoseno) ser substituídos por suas médias originais, tec-
% 100 é própria para estabilizar variâncias nologistas, ecólogos e fisiólogos discordam des-
de tratamentos quando a variável em estudo é sa recomendação. Como a porcentagem de ger-
uma proporção (varia entre 0 e 1) ou porcenta- minação em escala angular não permite uma
gem (varia entre 0 e 100%). Dados de conta- interpretação prática, os pesquisadores da área
gem que geram proporções são conhecidos por de germinação recomendam que a apresenta-
seguirem a distribuição binomial em vez da ção e a discussão dos resultados sejam baseadas
normal, sendo os desvios entre as duas distri- na escala em que os dados foram coletados.
buições maiores para pequenas (0 a 30%) e Uma alternativa para associar as questões esta-
grandes (70 a 100%) porcentagens (Zar, 1999; tísticas teóricas com as práticas é apresentar a
Snedecor e Cochran, 1989). Para dados de con- tabela nas duas escalas, como fizeram Ferreira
tagem, como o número de plântulas normais, e Ranal (1999).
Tabela 12.6 Análise da variância para o tempo médio de germinação de esporos de Pteris denticulata
Sw. (Pteridaceae, Pteridophyta) estudados por Ranal (1999). O tempo médio foi calculado para cada
repetição (área de 1 cm2), em um total de quatro repetições por tratamento
gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = y2ij – (y..)2 /tr; SQR =
1
SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij: valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3 QMT
= SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.
P > 0,05
RAHo
0,95
P < 0,05
# = 0,05
RRHo
F F F
P > 0,05 0,05 P < 0,05
! Figura 12.2
Distribuição F mostrando as regiões de aceitação (RAHo) e rejeição (RRHo) da hipótese Ho à significância 0,05.
N
A
P
Ã
R
A
C
O
M
S
-E
S
T
R
IÉ A Tabela 12.7 apresenta o resultado da análi-
Se uma ou mais pressuposições não são aten- se não-paramétrica de medidas de germinação
didas, mesmo com a transformação dos dados, para sementes da couve-da-Malásia, submetidas
devem-se utilizar os testes não-paramétricos. à ação de extratos obtidos a partir de folhas e cas-
As versões não-paramétricas do delineamento cas de Copaifera langsdorffii Desf. (Ranal e Santana,
inteiramente casualizado e dos blocos casuali- 2002).
zados são os testes de Kruskall-Wallis e Fried- Os valores de probabilidade associados ao
man, respectivamente, não exigentes quanto valor da estatística H de Kruskal-Wallis indicam
às pressuposições da análise da variância para- que há diferença significativa entre os trata-
métrica. A desvantagem dos testes não-para- mentos (P < 0,05) para todas as características
métricos é que, quando a distribuição da po- estudadas, exceto para o coeficiente de variação
pulação é conhecida ou quando os dados po- do tempo (P > 0,05).
dem ser transformados, esses testes extraem Outros testes paramétricos e não-paramé-
menos informação do que a disponível no con- tricos são apresentados na Tabela 12.8., segui-
junto de dados (Steel e Torrie, 1980). dos da expressão mais usual e das referências
Mesmo utilizando uma estatística de postos para consultas mais detalhadas.
ou ranks, como é a estatística não-paramétrica, Tanto o teste F da análise da variância para
as hipóteses de nulidade e alternativa têm o o DIC ou o DBC quanto as estatísticas dos testes
mesmo objetivo das hipóteses da análise da va- de Kruskal-Wallis e Friedman, ao rejeitarem a
riância, ou seja, o de não detectar ou o de de- hipótese Ho, indicam apenas que pelo menos
tectar diferenças entre os tratamentos. Os tes- duas amostras ou tratamentos são diferentes,
tes não-paramétricos não apresentam análise mas não apontam os tratamentos que diferem
da variância, e as estatísticas H de Kruskal- entre si. A literatura é abrangente no que se refere
Wallis e X2 de Friedman, da mesma forma que aos testes para comparações entre os tratamentos,
o teste F, têm a hipótese de nulidade rejeitada e cada teste tem sua especificidade e seu rigor.
quando os valores H ou X2 são maiores que o Entretanto, um ponto importante é saber se os
valor crítico ou, ainda, quando a probabilidade testes serão escolhidos independentemente do re-
é menor que o valor da significância (α) esta- sultado do experimento. A razão é que existem
belecido (P < α). testes apropriados para comparações pré-planeja-
Tabela 12.7 Medidas de germinação (valores médios) para sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia) submetidas à ação de extratos obtidos a partir de folhas
e cascas de Copaifera langsdorffii Desf. (Ranal e Santana, 2002). Médias de quatro repetições
Tratamento
Medida Alcalóide2 Alcalóide2 Alcalóide2 Extrato3
(unidade)1 Água 62,5 mg mL-1 125,0 mg mL-1 250 mg mL-1 Bruto H4 P
Germinação_12ok.p65
Análise da variância (DIC) Aplicável a condições experimentais homogêneas; segue os QMT Cochran e Cox (1957);
F=
princípios da repetição e da casualização QMR Scheffé (1959); Snedecor e
Cochran (1989); Steel e
Análise da variância (DBC) Aplicável a condições experimentais heterogêneas; segue os QMT Torrie (1980);
princípios da repetição, da casualização e do controle local F= Neter, Wasserman e Kutner
QMR
(1985); Banzatto e Kronka
(1989); QMA QMB QMA*B
205
Análise da variância (DIC São testados os principais efeitos ou fatores e a interação F= ; F= ; F= Pimentel-Gomes (1990);
QMR QMR QMR
ou DBC) com dois fatores entre eles Sokal e Rohlf (1997)
Análise da variância com Condições experimentais homogêneas; número de unidades QMT SAS (1990), SPSS (1999)
peso de ponderação de dispersão germinadas em cada repetição como peso de F=
QMR
ponderação
Análise não-paramétrica
Análise fatorial não- Versão não-paramétrica da análise da variância com dois Scheirer et al. (1976;
17/05/2004, 17:44
SQA SQB
paramétrica ou mais fatores H= ;H= ; citados por Zar, 1984)
QMTO QMTO
SQA*B
H=
QMTO
GERMINAÇÃO
QMT: quadrado médio do tratamento; QMR: quadrado médio do resíduo; QMA: quadrado médio do fator A; QMB: quadrado médio do fator B; QMA*B: quadrado médio da interação
entre os fatores A e B; n: número de parcelas do experimento; Ri: soma dos postos do tratamento i; ni= r: número de repetições do tratamento i; R1: soma dos postos do tratamento 1;
R2: soma dos postos do tratamento 2; n1: número de repetições do tratamento 1; n2: número de repetições do tratamento 2; SQA: soma de quadrados para o fator A; SQB: soma de
205
quadrados para o fator B; SQA*B: soma de quadrados da interação entre os fatores A e B; QMTO: quadrado médio total.
206 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.
Tabela 12.9 Testes para comparações de V médias de das sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional (dados
fornecidos por E.F.M. Pereira, W.Z. Gonçalves, C.C. Borges e M.A. Ranal)
–
Tratamento v (hora-1) Tukey Duncan Scott-Knott
(planejamento discutido no Capítulo 11). Nos da situação ocorre quando a interação não é
ensaios fatoriais com dois fatores, duas situa- significativa e, portanto, é desprezada; um es-
ções distintas quanto à significância podem tudo de cada um dos fatores pode ser realizado
ocorrer. A primeira (e a mais esperada) é o re- isoladamente.
sultado da interação entre os fatores, que, quan- Como os ensaios fatoriais, em geral, não
do significativa, estabelece uma relação de de- são tratados dessa forma pelos biólogos e ecó-
pendência entre eles. Nesse caso, o procedimen- logos, ou seja, cada fator e a sua interação não
to é o chamado desdobramento da interação, são mantidos em separado, mas analisados co-
que consiste na fixação dos níveis de um fator mo se fossem apenas um fator (tratamentos),
para o estudo dos níveis do outro podendo-se recomenda-se para maior detalhamento dessas
efetuar esse estudo por meio de um teste para estruturas os trabalhos de Banzatto e Kronka
comparações múltiplas ou regressão. A segun- (1989) e de Pimentel-Gomes (1990).
Germinação_12ok.p65
LSD Primeiro teste para comparações de médias LSD = t 2 QMR/d Newman (1939);
duas a duas; conhecido como diferença de Keuls (1952);
mínimos quadrados Tukey (1953);
Duncan (1955);
Tukey Compara médias duas a duas; mais rigoroso; DMS = - = q#(t,v) QMR/d
O´Neill e Wetherill (1971);
não recomendável para mais de 20 tratamentos Scott e Knott (1974);
ou amostras Steel e Torrie (1980);
207
Zar (1999)
SNK Compara médias duas a duas; rigor intermediário DMSi = Ki = q#(t,v) QMR/d
entre Tukey e Duncan
* Bo t
Scott-Knott Separa os tratamentos em grupos exclusivos += sendo: ,
ˆo2 = $ (yi. – y)2 + vs2 (yi) /(t+v)
2
2 (* – 2) ,
ˆo i=1
Contrastes
Teste t de Student Testa contrastes envolvendo duas ou mais médias; $ c i2 Scheffé (1953);
as comparações devem ser planejadas antes do DMS = T = t Vˆ (yˆ ) sendo: Vˆ (yˆ ) = QMR Dunnett (1955);
d
acesso aos dados; os contrastes devem ser Steel e Torrie (1980);
ortogonais Zar (1999)
17/05/2004, 17:44
d
Dunnett Compara individualmente a testemunha com 1 1
qualquer outro tratamento tD = yi. – yc + QMR
ri rc
DMS: diferença mínima significativa; qα (t,v): valor da amplitude total estudentizada da tabela de Tukey, à significância α; obtido em função do número de médias envolvidas e do número
GERMINAÇÃO
de graus de liberdade de erro (v); d: número de observações de cada amostra ou tratamento normalmente coincide com o número de repetições; zα (k,v): valor da amplitude total
estudentizada da tabela de Duncan, à significância α; obtido em função do número de médias envolvidas no teste (k) e do número de graus de liberdade de erro (v); t: valor da distribuição
–
de “Student”; QMR: quadrado médio do resíduo; ci: coeficientes do contraste; yi total do tratamento i; Fα: valores tabelados da distribuição de Snedecor para a significância α; yi: média
–
207
do tratamento i; yc: média do tratamento controle ou testemunha; ri: número de repetições do tratamento i; rc número de repetições do tratamento-controle ou testemunha.
208 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.
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INTERPRETAÇÃO
DE RESULTADOS DE
GERMINAÇÃO
Fabian Borghetti
Alfredo Gui Ferreira
mentes é o uso de soluções aquosas de 2,3,5 mesmo de 6 horas (testes-piloto podem dar
tri-fenil tetrazólio. Esse sal, incolor em solução uma idéia da cinética do processo). Por
aquosa, quando colocado em contato com as exemplo, a 22oC, todo um lote de diásporos de
sementes viáveis é reduzido por desidrogenases alface pode germinar em 48 ou, no máximo,
do tecido vivo, adquirindo a cor avermelhada em 72 horas. Intervalos menores entre observa-
na semente. A coloração adquirida é proporcio- ções são apropriados em particular para experi-
nal à atividade enzimática, sendo utilizada mentos de germinação conduzidos em tempe-
como uma estimativa do grau de viabilidade raturas supra-ótimas, em que os processos me-
da semente. Embora apropriado para estimar tabólicos se encontram acelerados.
o grau de viabilidade, esse teste não permite As medidas de germinação podem ser re-
identificar se a semente vai ou não germinar, presentadas graficamente. As mais comuns re-
visto que sementes dormentes também podem lacionam germinação com temperatura, dispo-
apresentar expressiva atividade enzimática (Ca- nibilidade de água, luminosidade e concentra-
pítulo 6). Os critérios citados, assim como al- ção de fitormônios ou reguladores de cresci-
guns efeitos de origem biótica e abiótica na ger- mento. Quando plotadas em uma relação dose-
minação estão listados no Quadro 13.1. dependência, tais curvas representam o com-
portamento germinativo de dada espécie em
função do tratamento aplicado, assim como
GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA permitem comparar a germinação de diferentes
Associada à germinação está a dormência das espécies sob efeito de um mesmo tratamento.
sementes. Esse mecanismo regula o início da Contudo, antes de dar continuidade a esta dis-
germinação, tem uma forte relação espécie-es- cussão, vale relembrar algumas medidas bási-
pecífica e depende muito do tipo de ambiente cas utilizadas para quantificar a germinação.
em que a espécie ocorre (Labouriau, 1983). De
fato, a dormência determina o momento e o
local de germinação, além dos requerimentos MEDIDAS DE GERMINAÇÃO
e características desse evento. Em estudos em Múltiplas formas de medir a germinação fo-
que se investiga a cinética do experimento, deve ram desenvolvidas por diversos autores (Labou-
haver medidas diárias, de preferência na mes- riau, 1983). Dentre elas, a “germinabilidade”
ma hora, de forma que os intervalos entre obser- (%G) talvez seja a mais simples, representan-
vações se aproximem de 24 horas (o que é bas- do a porcentagem de sementes germinadas em
tante comum). Porém, dependendo da veloci- relação ao número de sementes dispostas a ger-
dade de germinação, observações e contagens minar sob determinadas condições experimen-
devem realizar-se em intervalos de 12, 8 ou tais:
Quadro 13.1 Fatores abióticos e bióticos que podem influenciar o critério de germinação de diásporos
onde ∑ni é o número total de sementes germi- onde ni é o número de sementes germinadas
–
nadas em relação ao número de sementes dis- entre as observações ti-1 e ti, e t é o tempo mé-
postas para germinar (N), dados expressos em dio de germinação. A variação do tempo médio
porcentagem. A germinabilidade informa o nú- de germinação reflete a distribuição temporal
mero total de sementes germinadas, entretan- desta em torno da média, o que permite avaliar
to, não reflete quanto tempo foi necessário pa- se a germinação de dado conjunto de sementes
ra que as sementes atingissem tal porcentagem é uniforme (pequena variação) ou desunifor-
de germinação. Se dois ou mais lotes de se- me e irregular (grande variação).
mentes apresentam germinabilidade seme- Outra forma utilizada para quantificar a ci-
lhante, isso não quer dizer que o seu comporta- nética da germinação é o cálculo da velocidade
–
mento germinativo seja o mesmo. Os tempos e média (v ), que é simplesmente o inverso do
a distribuição da germinação podem ser dife- tempo médio de germinação:
rentes. Podem existir lotes ou sementes que ger- – –
v = 1 / t = ∑ni / ∑ni.ti
minam (ou emergem) mais rapidamente (em
geral, mais vigorosas) e outras cuja germinação A velocidade é expressa geralmente em
é mais lenta. Para essas situações, existem me- horas-1. Naturalmente, a velocidade média tam-
didas que quantificam a germinação sob um bém tem sua variação (vS2):
ponto de vista cinético, isto é, informam quanto
2 2 – 4
tempo foi necessário para determinado lote de vS = tS . (v )
sementes germinar. Um parâmetro bastante
– A variação da velocidade média é dada em
utilizado é o tempo médio de germinação (t ),
calculado pela equação a seguir: horas-2.
– Outro índice freqüentemente usado é o ín-
t = ∑ni . ti / ∑ ni dice de velocidade de germinação (Maguire,
1962), simbolizado por IVG, em que o número
onde ni é o número de sementes germinadas de sementes ou plântulas normais é contabili-
dentro de determinado intervalo de tempo ti-1 zado a cada dia:
e ti. Essa informação é comumente expressa
– IVG = G1/N1 + G2/N2 + ... Gn/Nn
em horas. O tempo médio (t ) corresponde à
média do tempo necessário para um conjunto
de sementes germinar, dando ao processo um Quando se considera o critério agronômico,
caráter cinético. Como será visto adiante, essas o IVG é substituído por IVE (índice de velocidade
medidas fornecem tanto as informações quanto de emergência); entretanto, o cálculo permane-
as vias metabólicas envolvidas no processo e ce o mesmo. Assim:
podem, por outro lado, permitir inferências G1, G2, ... Gn = número de diásporos
sobre estratégias de germinação de determina- germinados ou (no caso do IVE)
do lote ou mesmo de espécies sob diferentes E1, E2, ...En = número de plântulas normais
condições ambientais. Sendo a média uma me- na primeira, segunda até enésima ob-
dida de tendência central de um dado conjun- servação.
to de valores (no caso, o número de sementes N1, N2, ... Nn = número de dias (ou horas)
germinadas), existem medidas que quantifi- após a semeadura.
cam a dispersão dos valores em torno da mé-
dia, como a variação e o desvio-padrão. No caso Embora esse índice seja freqüentemente ex-
da germinação das sementes, esse parâmetro é presso sem unidade, a equação relaciona o nú-
a variação do tempo médio (tS2), expressa em mero de diásporos germinados (ou plântulas
horas2: emergidas) por unidade de tempo. Quanto
maior o IVG (IVE), maior a velocidade de ger- Sendo o caso, o CVG ou CVE deve ser calcu-
minação, o que permite inferir que mais vigoro- lado para cada repetição, e o resultado será um
so é o lote de sementes (Nakagawa, 1999). valor médio das repetições em porcentagem.
A velocidade de germinação também pode Quanto maior o valor numérico do CVG (ou
ser calculada pela fórmula apresentada por Ed- CVE), maior a velocidade de germinação, indi-
mond e Drapalla (1958), simbolizada por VG: cando que mais vigoroso é o lote ou a amostra
de diásporos em estudo (Nakagawa, 1999). Ob-
VG = (N1 G1 + N2 G2 +...+ Nn.Gn) /
serve que a interpretação a partir desses índices
(G1 + G2 +...+ Gn)
pode ser similar à interpretação obtida a partir
–
onde: do cálculo de v mostrado anteriormente.
G1, G2, ... Gn = número de sementes (ou
plântulas) germinadas no dia da obser-
INTERPRETAÇÃO DOS
vação (nas últimas 24 horas se as ob- RESULTADOS DE
servações forem diárias). GERMINAÇÃO
N1, N2, + ... + Nn = número de dias (horas)
Além da necessidade de estabelecer um deli-
após a semeadura.
neamento experimental apropriado para inves-
Essa equação também pode ser expressa tigar efeitos de tratamentos diversos na germi-
por: nação (Capítulo 11), também é fundamental,
K K
para chegar a conclusões corretas do trabalho,
VG =" Ni. Gi / " i=1 Gi uma apropriada interpretação dos resultados
i=1
obtidos. Essa etapa, com certa freqüência, não
Examinando-se cuidadosamente a fórmula recebe a atenção devida. O propósito deste ca-
de VG, verifica-se que ela é idêntica à fórmula pítulo não é ensinar ao leitor como interpretar
– os resultados, mas sugerir formas de interpreta-
de t ; logo, as interpretações também podem ser
similares (Santana e Ranal, 2000). Assim, ção, atentar para aspectos pouco observados na
– análise de gráficos e tabelas e buscar associar
quanto menor a VG ou o t , mais vigorosa poderá
ser considerada a amostra. Para cada repetição, resultados obtidos com experimentos de germi-
– nação a outros campos de investigação, como
calcula-se a VG ou o t e, ao final, tem-se um
valor médio entre as repetições do experimento a ecologia e a bioquímica.
(desde que realizadas sob as mesmas condi-
ções).
CURVAS DE GERMINAÇÃO
Quanto à velocidade de germinação, outra
maneira de quantificá-la, além da descrita ante- Conforme descrito, a germinabilidade (%G) re-
riormente, é pelo coeficiente de velocidade de presenta o número total de sementes germina-
germinação (CVG) ou de emergência (CVE), das sob determinada condição experimental.
sugerido por Kotowski (1926): Nesse contexto, tal medida pode ser utilizada
na comparação da germinação sob diferentes
K K
CVG ou CVE = [ " fi / " fi.xi] . 100 temperaturas de incubação, por exemplo (Fi-
i=1 i=1
gura 13.1).
Verifica-se, pelas curvas de germinação, que
onde: as quatro espécies apresentam germinabilida-
fi = número de sementes germinadas no des diferentes em função da temperatura de
i-ésimo dia. incubação. Por exemplo, a 25oC, sementes de
xi = número de dias contados desde a se- Salvia hispanica apresentam germinabilidade
meadura até o dia da leitura (i). próxima dos 60%, enquanto sementes das ou-
k = último dia de observação. tras espécies têm valores próximos de 100%.
100
80
Vicia graminea
Germinabilidade (%)
Pereskia acuelata
60
Calotropis procera
40 Salvia hispanica
20
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Temperatura (oC)
! Figura 13.1
Curvas de germinação de sementes de Calotropis procera (Labouriau e Valadares, 1976), Pereskia acuelata
(Dau e Labouriau, 1974), Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987) e Vicia graminea (Labouriau, 1970) em
um gradiente de temperatura.
germinação das sementes. No exemplo a seguir, mentos conduzidos com sementes coletadas em
sementes de Schefflera (Didymopanax) morototoni, apenas uma época de produção, especialmente
coletadas em diferentes épocas do ano, foram de um único material genético (planta), podem
dispostas a germinar na presença do fitormônio induzir a erros ou interpretações limitadas.
cinetina (uma citocinina) na luz e no escuro Apesar de a germinabilidade oferecer infor-
(Figura 13.2). mações importantes sobre as características de
Essa análise permite identificar, por exem- germinação de um conjunto de sementes face
plo, qual a eficácia de um tratamento hormonal a determinado tratamento, ou mesmo permitir
em promover (ou inibir) a germinação de deter- uma discussão mais profunda sobre procedên-
minada espécie e, de maneira análoga aos efei- cia/local de ocorrência da espécie, uma análise
tos da temperatura descritos no exemplo ante- da germinação sob um enfoque cinético requer
rior, pode-se comparar o comportamento ger- outras formas de abordagens. Nesse sentido,
minativo de diferentes espécies ao fitormônio as curvas de tempo médio e de velocidade de
aplicado. Nesse caso, a aplicação de citocinina germinação permitem interpretações adicionais
promoveu a germinação, quando comparada ao desse processo fisiológico.
controle em água (C). Além disso, observa-se
que, na presença do fitormônio, as sementes
coletadas em junho apresentaram-se fo- TEMPO MÉDIO DE
toblásticas negativas, enquanto as coletadas em GERMINAÇÃO
setembro apresentaram-se afotoblásticas. Es- O tempo necessário para determinada amostra
sas observações permitem extrair outras infor- de sementes germinar depende, primariamen-
mações a partir da análise do gráfico. O foto- te, da espécie em estudo e das condições expe-
blastismo depende da época de coleta das se- rimentais ou ambientais nas quais as mesmas
mentes. Para plantas que apresentam uma fru- se encontram. Curvas de germinação que tra-
tificação que se estende por longa parte do ano, tam sobre o tempo médio ou o seu recíproco, a
como é o caso da espécie utilizada, o local e a velocidade média, podem ser plotadas sob dife-
época em que as sementes são produzidas tam- rentes maneiras. Quando, para efeitos de com-
bém são importantes (Figura 13.2). Esses resul- paração, o número de tratamentos é grande,
tados mostram que dados pontuais de experi- como o é o número de medidas de tempo médio
(ou velocidade média), costuma-se apresentar
tais medidas em função do tratamento aplica-
40 do. Esse caso pode ser exemplificado pela Fi-
C – Controle
35 L – Luz gura 13.3, que relaciona a velocidade de germi-
E – Escuro nação de sementes de Peltophorum dubium, uma
30
25 espécie de ampla distribuição nas matas de ga-
20
leria do Brasil Central, em função da tempera-
15
tura de incubação.
10
Como se pode observar, a velocidade média
de germinação cresce com o aumento da tem-
5
peratura até um máximo próximo dos 23oC. Em
0
C L L E L E temperaturas acima desse valor, a velocidade
Abril Junho Setembro começa a diminuir até a temperatura limite de
germinação, que se localiza entre 37 e 39oC.
! Figura 13.2
Efeito da cinetina (1 mg.L-1) na germinação de semen-
Esse tipo de estudo tem sido conduzido com
tes de Schefflera morototoni coletadas em diferentes diversas outras espécies cultivadas e nativas
meses do ano, incubadas sob condição de luz (L) e (Labouriau, 1983; Lima, Borghetti e Sousa,
escuro (E). C – controle em água. Adaptada de Franco 1997; Santos e Cardoso, 2001), e mostra que a
e Ferreira (2002). velocidade de germinação, assim como a ger-
100 30
25
80
Velocidade média de
Germinabilidade (%)
20
5
0 0
11 14 18 20 23 26 29 33 36 39
o
Temperatura ( C)
! Figura 13.3
Germinabilidade (%) e velocidade média de germinação (h-1.10-3) de sementes de Peltophorum dubium
coletadas no ano de 1998 no campus da Universidade de Brasília (L.A.Z Andrade et al., inédito).
minabilidade, depende das condições de incu- (-0,156 MPa) ficou em 32 horas, enquanto, sob
bação das sementes. estresse grave (-0,414 MPa), aumentou para
Das curvas de germinação podem ser obti- 40 horas. Percebe-se, pois, que os parâmetros
dos tanto o tempo médio de germinação quanto de tendência central em estudos de germinação
outros parâmetros de tendência central, como podem variar de forma distinta em função do
a moda (Figura 13.4). tratamento aplicado.
Embora não haja diferenças significativas A partir das medidas de tempo médio (e
entre os tratamentos quanto ao parâmetro ger- velocidade média) de germinação, diversas in-
minabilidade (entre 94 e 99%), observa-se na terpretações são possíveis. Por exemplo, pode-
Figura 13.4 que, sob estresse osmótico, o tempo se inferir que germinação rápida é característica
médio de germinação (identificado pelas barras de espécies cuja estratégia é se estabelecer o
verticais) de sementes de Mimosa bimucronata mais rápido possível ou quando oportuno, apro-
é progressivamente aumentado. Por outro lado, veitando condições ambientais favoráveis ao
no controle e com estresse moderado a moda desenvolvimento do novo indivíduo. Essa si-
60
Controle
Número de sementes
50
(-0,156MPa)
germinadas
40 (-0,414MPa)
30
20
10
0
0 24 32 40 48 56 64
Tempo (horas)
! Figura 13.4
Germinação de sementes escarificadas de Mimosa bimucronata. As barras verticais representam o tempo
médio de germinação para cada tratamento. Os potenciais osmóticos foram gerados com NaCl (Rodrigues,
Passini e Ferreira, 1999).
100
80
Germinabilidade (%)
60
40
Luz vermelha
20
Tempo (horas)
! Figura 13.6
Germinação cumulativa de sementes de Aechmea nudicaulis (linha contínua) e Streptocalyx floribundus
(tracejado) sob temperaturas alternantes de 20 a 30oC. As sementes foram incubadas sob luz vermelha (sím-
bolos abertos) ou no escuro (símbolos pretos). Após 240 horas de incubação no escuro, as sementes foram
expostas à luz vermelha (Pinheiro e Borghetti, 2003).
35
30
Número de sementes
25
germinadas
20
15 25oC
10 35oC
0
0 3 6 9 12 15 18 21
Tempo (dias)
B
15
25oC
o
12 35 C
Número de sementes
9
germinadas
0
0 3 6 9 12 15 18 21
Tempo (dias)
! Figura 13.7
Germinação de sementes de Talinum patens sob duas temperaturas de incubação. (A): dados acumulados;
(B): dados não-acumulados ou freqüências (Rosa e Ferreira, 1998).
As Figuras 13.6 e 13.7 mostram o número tal, o número de sementes germinadas a cada
absoluto de sementes germinadas em função dia (ou intervalo de tempo utilizado) é dividido
do tempo de incubação. Esse tipo de gráfico po- pelo número total de sementes germinadas, mi-
de ser utilizado quando o número de sementes nimizando assim efeitos de diferenças no tama-
dispostas para germinar nos diferentes trata- nho das amostras e na interpretação do resultado.
mentos é similar (o que é recomendável). En- As curvas de germinação podem-se apre-
tretanto, quando o número de sementes utiliza- sentar sob as mais diversas formas; entretanto,
das nos tratamentos é diferente, sugere-se o elas podem ser identificadas por modelos de
uso de freqüência relativa de germinação. Para curvas já existentes. Por exemplo, a distribuição
80 12oC
60 Nt = 9
40 Tm = 19,08
20
0
80 o
15 C
60 Nt = 164
40 Tm = 12,37
20
0
80
18oC
60
Nt = 187
40 Tm = 6,11
20
0
80
60 21oC
Nt = 188
40
Freqüência relativa (%)
Tm = 4,12
20
0
80
24oC
60
Nt = 177
40 Tm = 3,05
20
0
80
60 27oC
40 Nt = 185
20 Tm = 3,13
0
80
30oC
60 Nt = 193
40 Tm = 7,72
20
0
80 o
33 C
60
Nt = 187
40
Tm = 8,87
20
0
80 o
60 36 C
Nt = 174
40
Tm = 11,92
20
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27
Tempo (dias)
! Figura 13.8
Freqüências de germinação das sementes de Cassia excelsa sob diferentes temperaturas de incubação (Jellez
e Perez, 1999).
sim respondendo a algum mecanismo de con- sob temperaturas extremas e tende a ser maior
trole da germinação que resulta na sincroniza- quanto mais próxima a temperatura de incuba-
ção do processo. ção estiver da faixa ótima para a germinação
Diversos estudos têm estimado o grau de (Tabela 13.1).
sincronismo na germinação das sementes, nor- O predomínio de distribuições de freqüên-
malmente sob diferentes temperaturas de incu- cia não-gaussianas (e polimodais) da germina-
bação. De modo geral, o sincronismo é menor ção das sementes sob temperaturas extremas
Tabela 13.1 Alguns parâmetros da distribuição de freqüências isotermas dos tempos médios de
germinação de sementes de Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987)
Índice de Kolmogorov-
Temperatura Moda sincronização Smirnov
(oC) (horas) (U, em bits) Dmax.105 Assimetria (G1) Curtose (G2)
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ECOLOGIA
DE REGENERAÇÃO
DISPERSÃO E BANCO
DE SEMENTES
Jarcilene S. Almeida-Cortez
pécies arbóreas são zoocóricas. Dentre os ma- zam a dispersão primária e a secundária. A dis-
míferos dispersores, os ungulados são particu- persão primária ocorre quando o diásporo se
larmente importantes na distribuição de gran- desprende da planta-mãe e atinge um de-
de quantidade de sementes, transportando-as terminado sítio por meio de apenas um agente
a grandes distâncias. No quadro 14.1, estão dispersor. Quando o processo de dispersão en-
listados tipos de dispersão, grupo(s) taxonô- volve mais de um agente, o segundo agente ca-
micos envolvidos e algumas características dos racteriza a dispersão secundária, pois é um mo-
diásporos associados ao tipo de dispersão. vimento que sucede a primária. Como exem-
Vale lembrar que os carnívoros também são plo, temos as sementes de lobeira. Os frutos
dispersores e se deslocam a grandes distâncias, dessa planta são consumidos pelo lobo-guará,
como Chrysocyon brachyurus, o conhecido lobo- que defeca em ambientes normalmente abertos
guará (Lombardi e Motta-Júnior, 1993), embo- (dispersão primária). As sementes presentes
ra existam poucos estudos relatando a disper- nas fezes do lobo podem tanto germinar como
são por carnívoros que usam frutos em sua dieta. ser removidas por formigas cortadeiras (Atta
spp.) e transportadas aos respectivos formiguei-
ros (dispersão secundária), onde pode ocorrer
DISPERSÃO PRIMÁRIA E o recrutamento de indivíduos de lobeira (Pin-
DISPERSÃO SECUNDÁRIA to, 1998). Plantas que apresentam síndrome do
Às vezes, a dispersão de frutos e sementes é tipo barocórica (primária) geralmente têm seus
bem mais complexa do que se pode imaginar, frutos transportados por roedores (secundária),
podendo envolver mais de uma etapa até atingir isto é, quando as sementes de exocarpo duro
um local para a germinação e o estabelecimento são carregadas a outros sítios. Sementes que
de um novo indivíduo. Essas etapas caracteri- foram previamente enterradas podem ser de-
Quadro 14.1 Síndromes de dispersão zoocóricas de acordo com o grupo taxonômico responsável pela
dispersão
mais dispersores. Todavia, não está claro até que (1993) inferiu que, por mais eficiente que seja
ponto a (normalmente maior) quantidade de a forma de dispersão, há normalmente um acú-
sementes dispersas pelo vento compensa a perda mulo de sementes próximas à planta-mãe, o
de exatidão e direcionamento conseguidos por que atrai grande número de herbívoros, favore-
outros mecanismos de dispersão, como a zoo- ce a ação de patógenos e acarreta uma competi-
coria. Houve uma forte seleção para a ocorrência ção intra-específica intensa entre as plântulas.
de sementes grandes – característica morfológica Diversos fatores ecológicos podem ter seleciona-
que não favorece a dispersão pelo vento – em do formas de dispersão, e algumas hipóteses
ambientes de floresta, visando aumentar a ca- visam explicar as vantagens da dispersão (Qua-
pacidade de a plântula sobreviver ao desfolha- dro 14.2). Essas hipóteses não são excludentes
mento, à baixa luminosidade e à competição por e todas podem ser aplicadas às espécies como
recursos (Janzen, 1980; Capítulo 15). vantagens da dispersão.
Em florestas neotropicais, de 50 a 90% das Se, por um lado, a mortalidade de plântulas
árvores de dossel e aproximadamente 100% dos sob a copa da planta-mãe é grande, devido
arbustos e árvores de sub-bosque possuem fru- inclusive à alta densidade de sementes nesses
tos adaptados à dispersão por animais (Howe locais, por outro, em distâncias crescentes a par-
e Smallwood, 1982). O predomínio de zoocoria tir da planta-mãe, a mortalidade tende a dimi-
entre plantas lenhosas da Mata Atlântica foi nuir, mas também a densidade de sementes
encontrado por diversos autores (Mantovani, (Figura 14.1; Janzen, 1970). Isso pode favorecer
1993; Silva e Tabarelli, 2000; Marques, 2001). e explicar o estabelecimento de plântulas de
Silva e Tabarelli (2000) constataram que, na diferentes espécies em uma mesma área, resul-
Mata Atlântica, ao norte do rio São Francisco, tando em uma diversidade cujos efeitos têm
33,8% das espécies estavam associadas à disper- magnitude variada para cada espécie (Capítulo
são por grandes vertebrados. Mantovani (1993) 15). Todavia, a mortalidade de sementes e plân-
observou que espécies típicas de sub-bosque da tulas em uma relação densidade-dependente
Mata Atlântica, no Estado de São Paulo, apre- não é seguramente suficiente para explicar a
sentavam síndromes de dispersão zoocórica, se- grande diversidade de espécies em florestas tro-
ja através de frutos carnosos ou de sementes picais.
com estruturas favoráveis a esse tipo de disper- Em se tratando das hipóteses da dispersão
são. Em um estudo acerca da dinâmica de dis- (Quadro 14.2), a “hipótese de fuga” propõe que
persão em espécies ocorrentes em uma área de pequenos habitats sob e fora da copa de árvores
planície litorânea, Marques (2001) observou em frutificação são idênticos, exceto para inte-
que 74 e 49% das espécies da floresta de restinga rações bióticas formadas pela grande quantida-
e de restinga arbustiva, respectivamente, eram de de sementes caída próxima do indivíduo pa-
dispersas por animais, destacando a família rental. Nesse sentido, seria estratégico que a
Myrtaceae, cujas espécies presentes na área de espécie evitasse a dispersão muito próxima da
estudo eram 100% zoocóricas. No Cerrado, em planta-mãe (Howe e Smallwood, 1982).
particular nas matas de galeria, a zoocoria (es- A “hipótese de colonização ou perturbação”
pecialmente a ornitocoria) também foi observa- propõe que a maior vantagem da distância na
da como uma síndrome de dispersão predomi- disseminação de sementes é a ocupação de ha-
nante (Mantovani e Martins, 1988; Melo, Ben- bitats diferentes daqueles onde os parentais se
to, Oliveira, 2003). encontram (Howe, 1986). Algumas espécies
têm requerimentos especiais para a germinação
e o estabelecimento, que são encontrados ape-
CONSEQÜÊNCIAS DA nas em raros locais, como uma clareira no dos-
DISPERSÃO DE SEMENTES sel da floresta ou uma área perturbada no sub-
Analisando a estrutura e a dinâmica de espécies bosque (Howe e Smallwood, 1982). Espécies
em trechos da Floresta Atlântica, Mantovani colonizadoras podem apresentar duas estraté-
Quadro 14.2 Hipóteses que visam explicar as dispersas, pois o estabelecimento é pouco pro-
vantagens da dispersão de propágulos vável sob a copa da planta-mãe ou de espécies
Hipótese de fuga: dispersão a maiores distâncias tende
competitivas presentes no local. Associada à
a afastar a progênie da alta mortalidade comum nas dormência, a dispersão tende a aumentar a pro-
proximidades dos indivíduos parentais. babilidade de que, pelo menos, alguns descen-
Hipótese de colonização: ocupação de áreas abertas e dentes encontrem locais apropriados para seu
outros habitats ainda não colonizadas pela espécie, au- estabelecimento.
mentando as chances de estabelecimento de novos in- A terceira hipótese, da “dispersão direcio-
divíduos.
nada”, questiona a eficiência da dispersão ao
Hipótese de dispersão direcionada: ocupação de pe- acaso (como a anemocoria) e as implicações des-
quenos habitats normalmente raros no ambiente e, às
se processo caso as sementes não se depositem
vezes, necessários para o estabelecimento de plântulas
de determinadas espécies. em local favorável ao estabelecimento da plân-
tula. Normalmente, não é aplicada às espécies
zoocóricas, exceto para as espécies com dispersão
secundária, como por formigas (Howe, 1986).
gias para ocupar rapidamente locais abertos:
(1) sementes pequenas, típicas de diversas
espécies herbáceas, que permanecem dormen- CHUVA DE SEMENTES
tes no solo até que um evento imprevisível, A chuva de sementes compreende os eventos
como a abertura de clareira devido à queda de relacionados à dispersão de diásporos e a área
uma árvore (Holthuijzen e Boerboom, 1982), o abrangida por esse processo até o estabeleci-
fogo ou o desabamento de terra, promova a mento da plântula. A síndrome de dispersão
germinação; (2) sementes grandes que germi- varia enormemente de acordo com seu poten-
nam e permanecem, como plantas jovens, no cial. Os fatores relacionados à dispersão pelo
sub-bosque, prontas para continuarem a cres- vento e por vertebrados podem virtualmente
cer tão logo haja a abertura de uma clareira. levar sementes a grandes distâncias da planta-
Sementes sem dormência também precisam ser mãe, enquanto a dispersão por formigas e a ba-
lística geram chuvas de semente mais curtas.
Willson (1983) demonstrou que, em espécies
Alta herbáceas, o pico e a distância máxima de dis-
Densidade de sementes
persão são grandes e que a curva da distribui-
ção de sementes é menos abrupta para as es-
pécies anemocóricas e balísticas, comparadas
com as espécies que não dispõem de diásporos
Probabilidade de sobrevivência com artifícios especiais de dispersão. Vale salien-
tar que existe uma grande variação no potencial
de dispersão dentro de cada mecanismo conheci-
do. A anemocoria sofre significativa influência
da estrutura física do ambiente em relação a ou-
tros tipos de dispersão, como a biótica, que são
Baixa
Distância da planta matriz
mais influenciadas pela densidade inicial da
chuva de sementes, pela proximidade da planta-
! Figura 14.1
mãe e pelas condições biológicas do meio.
Gráfico representativo da distância ótima de dispersão
para o estabelecimento de plântulas de acordo com Em espécies que apresentam dispersão zoo-
a “hipótese de fuga”. Densidade de sementes (-). Pro- córica, as características dos diásporos e os hábi-
babilidade de recrutamento de plântulas (..) Relação tos dos animais influenciam a chuva de semen-
sobrevivência de semente/plântula (—). Adaptada de tes. O tamanho relativo das sementes e das es-
Barbour e colaboradores (1999). truturas das asas ou plumas pode ter um efei-
BANCO DE SEMENTES
Banco de sementes pode ser definido como sen- As entradas e as saídas do banco contro-
do o estoque de sementes viáveis existentes no lam diretamente a densidade, a composição de
solo, desde a superfície até as camadas mais espécies e a reserva genética. Geralmente, uma
profundas, em uma dada área e em um dado (ou poucas) espécie(s) predomina(m) no ban-
momento. O acúmulo de sementes no banco co (Holthuijzen e Boerboom, 1982; Garwood,
varia de acordo com a entrada (dispersão) e saí- 1989). O predomínio de sementes de gramí-
da (germinação, morte) de sementes (Figura neas, de espécies arbustivas e de herbáceas no
14.2). O banco pode ser formado por sementes banco de florestas tropicais reflete o importante
alóctomas (originárias de outros locais) e/ou papel dessas formas de vida na composição da
autóctomas (sementes das espécies do local). vegetação nos primeiros estágios da sucessão
A incorporação de novas sementes ao banco (Young, Ewel, Brown, 1987).
varia amplamente ao longo do ano, e a suces- A composição do banco de sementes varia
são é provavelmente regulada por padrões sa- ao longo das estações do ano. Além disso, em
zonais de ingresso de sementes (Young, Ewel e função da longevidade dos diásporos, os bancos
Brown, 1987). Além das saídas do banco, por podem ser caracterizados como transitórios, ou
exemplo, via germinação, processos bióticos e seja, formados por sementes de curta viabilida-
abióticos podem ocasionar nova dispersão ou de, e persistentes, compostos por sementes de
movimentação das sementes às camadas mais maior longevidade sob condições naturais.
profundas do solo. Predação, patógenos e enve- Estudos efetuados por Gorresio-Roizman
lhecimento natural podem ocasionar a mortali- (1993) no banco de sementes, em trechos de
dade de sementes, reduzindo, assim, a densida- florestas pluviais tropicais em São Paulo indi-
de no banco. O banco de sementes é, portanto, caram que, no banco de semente transitório,
produto dos eventos bióticos e abióticos que havia um predomínio de sementes grandes,
ocorrem no ambiente. com curta longevidade, altas taxas de recruta-
mento de plântulas e elevada taxa de mortalidade, um banco persistente tornam-se muito impor-
enquanto o banco persistente era composto predo- tantes para o estabelecimento em clareiras onde
minantemente por sementes de espécies arbóreas. não houve chuva recente de sementes. No en-
Diferenças nas características de dispersão tanto, para a maioria das espécies, a regenera-
e de dormência das sementes refletem as varia- ção a partir de sementes enterradas a uma certa
ções espacial e temporal na composição do ban- profundidade depende de algum tipo de pertur-
co de sementes. Por meio de uma revisão da bação do solo, pois sementes muito pequenas
literatura acerca dos padrões de síndromes de só conseguem emergir se estiverem na superfí-
dispersão e do banco de sementes do ecossis- cie ou a poucos centímetros de profundidade
tema caatinga, Barbosa, Silva e Barbosa (2002) (Holthuijzen e Boerboom, 1982; Baider, Taba-
concluíram que as espécies autocóricas e zoo- relli e Mantovani, 1999). Estudando a influên-
córicas apresentaram características relaciona- cia da densidade e a composição de espécies
das à formação de banco de sementes perma- lenhosas no banco de sementes na Mata Atlân-
nente, ao contrário das anemocóricas, que ge- tica, no sudeste do Brasil, Baider, Tabarelli e
ralmente não formam banco de sementes. Mantovani (2001) constataram que o banco
Sementes presentes no solo de florestas tro- não continha sementes médias e grandes de
picais podem ser uma fonte importante de re- espécies lenhosas tolerantes à sombra, sendo a
crutamento após a perturbação e influenciar o maioria de tamanho pequeno pertencente às
direcionamento da regeneração da floresta, espécies pioneiras herbáceas/sublenhosas das
bem como a sucessão secundária. Baider, famílias Asteraceae, Poaceae, Malvaceae e
Tabarelli e Mantovani (1999) concluíram que, Solanaceae. Portanto, a composição de espéci-
após a abertura de clareiras naturais em flo- es presentes no banco sugeriu que este teria
resta Atlântica Montana, no sudeste brasilei- sua contribuição para a regeneração da Mata
ro, o banco de sementes contribuiu para o es- Atlântica em termos de grupos ecológicos, mas
tabelecimento de espécies da família Melasto- não no restabelecimento da riqueza de espéci-
mataceae, principal grupo de árvores e arbustos es lenhosas, daí a necessidade de sementes
pioneiros observados nas clareiras da área es- oriundas de outros locais para a regeneração
tudada. das sementes que formavam o banco (Baider,
A redução da densidade e da riqueza de es- Tabarelli e Mantovani, 2001).
pécies no banco de sementes com o aumento A disponibilidade de sementes no banco
da profundidade do solo foi demonstrada (Hol- para a regeneração após uma perturbação pode
thuijzen e Boerboom, 1982; Dalling, Swainel e ser influenciada por padrões temporais de pro-
Garwood, 1997; Baider, Tabarelli e Mantovani, dução, modos de dispersão e longevidade das
2001). As densidades encontradas por Baider, sementes (Grubb, 1977). A avaliação de padrões
Tabarelli e Mantovani (2001), em áreas de flo- de estocagem de sementes no solo durante a
resta Atlântica em diferentes idades de rege- sucessão em floresta na Costa Rica e a habili-
neração, sugerem um decréscimo no estoque dade de a vegetação de diferentes idades res-
de sementes no solo com o avanço da regene- ponder à perturbação foram estudadas por
ração e com a profundidade do solo; trechos Young, Ewel e Brown (1987). Os autores cons-
dessa floresta em regeneração, com cinco e 27 tataram que, imediatamente após uma pertur-
anos, respectivamente, apresentaram 67,4 e bação na floresta, o número de sementes no
56,9 % de sementes enterradas até 2,5 cm de solo caiu vertiginosamente devido à mortalida-
profundidade. Por outro lado, os autores encon- de, ao pequeno ingresso de novas sementes e à
traram uma correlação positiva entre a idade germinação. À medida que a vegetação crescia,
da floresta e a riqueza de sementes de espécies o número de sementes no banco aumentava e,
lenhosas no banco. Dalling e colaboradores após atingir um pico, decresceu gradualmente
(1997, 1998) observaram que sementes enter- até uma quantidade próxima à existente no
radas em maiores profundidades e que formam banco antes da perturbação. A alta freqüência
desses períodos resulta no decréscimo de rique- rindo assim no recrutamento de novos indiví-
za de espécies, no domínio por espécies de se- duos (Howe, 1977).
mentes de longevidade alta e no estabelecimen- A predação de sementes e plântulas pode
to de novas plântulas a partir do banco (Young, influenciar a abundância de plantas se a den-
Ewel e Brown, 1987). sidade estiver reduzida. Silva e Tabarelli (2001)
A resistência a patógenos é outro fator que constataram que a dispersão e a demografia de
pode ter influência na composição do banco, uma palmeira, Bactris acanthocarpa, em um frag-
determinando de forma diferenciada a longe- mento da Mata Atlântica, foram influenciadas
vidade das sementes. Infelizmente, poucos es- pela extinção local de frugívoros vertebrados.
tudos são realizados in situ, especialmente sobre Os autores também observaram um aumento
bancos de espécies de florestas neotropicais. na taxa de infestação por bruchídeos dos fru-
Augspurger e Kelly (1984) investigaram a in- tos ainda verdes. A predação de sementes na
fluência de patógenos na taxa de mortalidade pré e pós-dispersão pode estar entre os deter-
em banco de plântulas e constataram o efeito minantes dos genótipos que comporão a po-
direto no aumento da mortalidade em plântulas pulação. Se isso realmente acontecer, as carac-
estabelecidas sob a copa da planta-mãe em ár- terísticas que favorecem as sementes de esca-
vores de florestas tropicais. par da predação podem conflitar com caracte-
rísticas que favorecem o estabelecimento. As-
sim sendo, os herbívoros poderiam influenciar
O EFEITO DA FRAGMENTAÇÃO diretamente os genótipos estabelecidos em uma
SOBRE A DISPERSÃO E O população. Em plântulas ou plantas jovens, a
BANCO DE SEMENTES habilidade competitiva (Dirzo, 1984) e o cres-
Atualmente, a fragmentação dos ecossistemas cimento (Coley, 1986) estão inversamente
tropicais representa a maior causa de extinção correlacionados com as resistências, ao menos
local de populações (Wilcox e Murphy, 1985). em algumas espécies. Essa relação entre a re-
Mesmo as áreas de preservação tornaram-se sistência ao ataque enquanto semente e a re-
ilhas em virtude da expansão de cidades, da sistência, a taxa de crescimento, e a habilidade
abertura de estradas e do desenvolvimento so- competitiva enquanto plântula ainda é desco-
cial desorganizado; conseqüentemente, deter- nhecida, sendo necessários mais estudos, es-
minadas espécies têm desaparecido. Quanto pecialmente acerca de ecossistemas em avan-
menor é a área da reserva, mais acelerado é esse çado processo de fragmentação, como a Mata
processo (Howe, 1984). Em florestas tropicais, Atlântica, o Cerrado e a Amazônia.
onde as inter-relações são tênues e frágeis e
cada caso pode ter uma conotação particular,
qualquer distúrbio antrópico torna as interações AGRADECIMENTOS
muito vulneráveis (Futuyma, 1973). Por exem- À professora Dilosa C. A. Barbosa (Departamen-
plo, a extinção local de frugívoros (caça, etc.) to de Botânica da UFPE) pela revisão e pelas
reduz o recrutamento de árvores zoocóricas por sugestões efetuadas no manuscrito.
afetar a taxa de dispersão e reprodução e, conse-
qüentemente, aumentar o risco de extinção lo-
cal de espécies focais. Com a fragmentação, os BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
primeiros grupos a desaparecer são freqüente- AUGSPURGER, C.K. Morphology and dispersal
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RECRUTAMENTO
E ESTABELECIMENTO
DE PLÂNTULAS
Felipe Pimentel Lopes de Melo
Antônio Venceslau de Aguiar Neto
Eliana Akie Simabukuro
Marcelo Tabarelli
cies vegetais e ameaçar uma parcela significa- casos, se as reservas contidas na semente foram
tiva da diversidade biológica brasileira. Este ca- totalmente utilizadas durante a expansão da
pítulo apresenta um enfoque ecológico e res- plântula, essa fase pode ser inconspícua ou ine-
tringe-se à discussão dos aspectos citados para xistente (plântulas que apresentam cotilédones
plântulas de espécies lenhosas tropicais (sobre- fotossintetizantes). Na fase juvenil, os tecidos
tudo árvores e arbustos), em função da impor- formados na etapa de utilização das reservas
tância desse grupo na flora brasileira e tropical. possibilitam que a planta se torne independente
dos cotilédones, mesmo que estes ainda estejam
ligados a ela. Entre os fatores que afetam o esta-
FATORES MORFOFISIOLÓGICOS belecimento, o desenvolvimento (fases 2 e 3) e
E AMBIENTAIS QUE INFLUENCIAM a sobrevivência de plântulas estão: (1) quanti-
O ESTABELECIMENTO, O dade e qualidade das reservas das sementes,
DESENVOLVIMENTO E A (2) morfologia funcional dos cotilédones, (3)
SOBREVIVÊNCIA DE PLÂNTULAS fatores abióticos e (4) interações com outras
São muitos os fatores que afetam o estabeleci- espécies.
mento, o desenvolvimento e a sobrevivência das
plântulas, como patógenos (Janzen, 1970), es- Reservas das sementes e morfologia
tresse hídrico, danos mecânicos, herbivoria e funcional dos cotilédones
competição intra e interespecífica. A maneira A quantidade e a qualidade das reservas
como cada espécie vegetal responde a esses fa- energéticas das sementes estão positivamente
tores é determinada, em parte, por adaptações associadas à morfologia funcional do cotilédone
das plântulas, as quais representam respostas (monocotiledôneas) ou dos cotilédones (dico-
evolutivas aos mesmos. Em outras palavras, en- tiledôneas) e afetam de forma significativa o
tender essas adaptações significa compreender estabelecimento e o desenvolvimento das plân-
como as plântulas interagem com o ambiente tulas. A reserva contida nas sementes provê
físico e com os outros organismos que as cer- energia e nutrientes para que elas possam
cam. emergir da serrapilheira, crescer em ambientes
De acordo com Garwood (1996), espécies com baixa disponibilidade de luz, propiciar a
lenhosas tropicais apresentam cinco estádios substituição de tecidos mortos ou removidos
ontogenéticos (ou fases) que podem ser reco- por herbívoros ou mesmo proporcionar energia
nhecidos: (1) semente, (2) expansão ou alonga- para a produção de compostos secundários para
mento da plântula, (3) utilização das reservas, a defesa contra herbívoros e patógenos. O perío-
(4) juvenil e (5) adulto. Apesar de não ser espe- do de esgotamento das reservas deve coincidir
cificamente tratada neste capítulo, a fase 1 é com o estádio em que as plântulas apresentam
de extrema importância para a compreensão sistema radicular e estruturas fotossintéticas
do desenvolvimento da plântula, uma vez que bem-desenvolvidas; caso contrário, as plântulas
sua estrutura e sua morfologia revelam muito tendem a morrer (Kitajima, 1992).
sobre a estrutura e a morfologia inicial da res- O total de reservas disponíveis para uma
pectiva plântula. A fase de alongamento da plântula não é determinado somente pela mas-
plântula (2) ocorre imediatamente após a ger- sa da semente, mas é influenciado também pela
minação e vai até a emissão do primeiro tecido composição química da mesma. Três tipos bási-
fotossintetizante. Nessa fase, a plântula utiliza cos de reserva são freqüentemente encontrados
somente os recursos provenientes dos tecidos nas sementes (Capítulo 2): carboidratos (se-
de reserva da semente. A fase (3) é aquela na mentes amiláceas), proteínas (sementes pro-
qual a plântula faz uso dos tecidos de reserva téicas) e lipídeos (sementes oleaginosas). Em-
da semente ou das estruturas desenvolvidas a bora os cotilédones sejam a estrutura mais co-
partir de recursos previamente transferidos des- nhecida, fazem parte dos tecidos de reserva o
tes para a plântula em expansão. Em alguns endosperma e o perisperma. A variação entre
de defesas químicas (Coley, Bryan e Chaplin, padrão de alocação de energia de forma inversa.
1985). Assim, cada estratégia compartilha um conjunto
Um dos aspectos mais interessantes da de atributos comuns que se referem a regenera-
mortalidade de plântulas causada pela ação de ção, crescimento, esforço reprodutivo, modo de
patógenos e de herbívoros é a relação com a polinização e dispersão de sementes, entre outros
distância da planta-mãe. Janzen (1970) e Con- (Whitmore, 1990). No caso de árvores e arbustos
nell (1971) caracterizaram a mortalidade de das florestas tropicais, as estrategistas r e k cor-
plântulas próximas aos adultos co-específicos respondem com freqüência às plantas pioneiras
como uma função densidade-dependente, ou e às tolerantes à sombra, respectivamente. Cada
seja, o adensamento das plântulas próximas à grupo de espécies compartilha atributos comuns,
matriz facilitaria o ataque de patógenos e herbí- como descrito a seguir.
voros e possivelmente aumentaria a competição
intra-específica (modelo Janzen-Connell). Os Pioneiras
níveis de predação de sementes e de mortalida- Entre as características das espécies pionei-
de de plântulas próximas das plantas matrizes ras estão: (1) produção abundante de sementes,
seriam tão drásticos que inviabilizariam a subs- (2) sementes pequenas e com pouca reserva
tituição de uma árvore adulta por outro adulto energética, (3) sementes com dormência, (4)
da mesma espécie nas proximidades. produção de plântulas pequenas e dotadas de
cotilédones fotossintetizantes, (5) dispersão
abiótica ou conduzida por vertebrados de há-
ESTRATÉGIAS DE bito alimentar generalista, (6) polinização abió-
REGENERAÇÃO DE PLANTAS tica ou pouco especializada, (7) ciclo de vida
LENHOSAS TROPICAIS curto e (8) necessidade de luz solar direta (al-
O estabelecimento, o desenvolvimento e a so- tos níveis de RFA) para germinação, recruta-
brevivência de plântulas são afetados por diver- mento, desenvolvimento e sobrevivência de
sos fatores morfofisiológicos e abióticos e por plântulas, indivíduos jovens e adultos.
interações biológicas, como descrito na seção A principal interpretação dessas caracterís-
anterior. A forma como as espécies respondem ticas é que elas representam adaptações à colo-
a esses fatores determina o sucesso ou a falha nização de habitats efêmeros, como clareiras
no estabelecimento de um conjunto de plân- naturais e áreas de deslizamentos de terra, onde
tulas capazes de se desenvolver e atingir os pró- temporariamente há maior disponibilidade de
ximos estádios do ciclo de vida. Dá-se o nome luz. Uma outra característica desse tipo de ha-
de estratégia de regeneração ao conjunto de bitat é a imprevisibilidade de sua ocorrência no
atributos fisiológicos e morfológicos que con- tempo e no espaço (Alvarez-Buylla et al., 1996).
ferem às espécies vegetais a capacidade de esta- Por exemplo, em florestas tropicais úmidas, as
belecer novos indivíduos no ambiente (sensu clareiras naturais ocupam cerca de 1 a 5% da
Swaine e Whitmore, 1988). Mais especifica- área total (Clark, 1990), e qualquer árvore da
mente, trata-se de atributos das sementes, das floresta pode ser atingida por um raio, rachar e
plântulas e dos indivíduos jovens. cair abrindo uma clareira natural. A produção
De maneira geral, podemos distinguir as de um grande número de sementes aumenta a
plantas quanto a duas grandes estratégias probabilidade de algumas delas alcançarem os
biológicas: as estrategistas r e as estrategistas k sítios favoráveis à germinação ou permanece-
(sensu Pianka, 1974). De forma muito sucinta, rem dormentes no solo enquanto não ocorre
estrategistas r são plantas que alocam grande alguma perturbação natural ou antrópica que
parte de sua energia no esforço reprodutivo, em incremente a disponibilidade de luz (Baskin e
detrimento de investimentos na manutenção Baskin, 2001).
dos indivíduos (defesa química e estrutural Por outro lado, é energeticamente possível
contra herbivoria). As espécies k apresentam produzir grande quantidade de sementes se
Espécies
Características tolerantes à sombra Pioneiras
cente e Tabarelli, no prelo), cerca de 30% das ocorrem com intervalos entre um e cinco anos
espécies de árvores e arbustos da região têm (Moreira, 2000). Freqüentemente, trata-se de
suas plântulas consumidas pelos caprinos, que incêndios rápidos, de superfície, que queimam
podem atingir densidades de 0,5 a 1,2 animal/ o componente herbáceo da vegetação e a bio-
hectare. Dessa forma, é razoável supor que os massa morta sobre o solo (Moreira, 2000). Hoff-
caprinos não só afetam a sobrevivência de mann (1999) registrou as taxas de mortalidade
plântulas (impacto demográfico), mas também de plântulas por fogo para cinco espécies de ár-
constituem um fator de seleção natural impor- vores e arbustos que ocorrem no Cerrado. A
tante para as plantas lenhosas nesse ecos- taxa de mortalidade variou entre 33% para
sistema. Dois outros aspectos do recrutamento plântulas de Rourea induta (arbusto, Connara-
de plântulas lenhosas ainda carecem de in- ceae) e 100% das plântulas de Miconia albicans
vestigação na Caatinga: o efeito da salinidade (arbusto, Melastomataceae). No caso de M. al-
e a importância da dispersão de sementes por bicans, Hoffmann (1999) estimou que seria ne-
agentes bióticos como formigas. cessário um período de cinco anos sem a ocor-
Como a Caatinga, o Cerrado é um mosaico rência de incêndios para que essa espécie apre-
vegetacional composto por savanas, florestas sentasse um recrutamento significativo de indi-
secas, florestas de galeria e campos. Nos tipos víduos provenientes de sementes (i.e., reprodu-
savânicos, a deficiência de água no solo durante ção sexual).
a estação seca afeta o estabelecimento e a so- Em outro estudo, Hoffmann (2000) avaliou
brevivência das plântulas, sendo comuns plân- a capacidade de sobrevivência de plântulas a
tulas com estruturas de reserva como xilopódios incêndios, comparando plantas lenhosas típicas
(Rizzini, 1975). Oliveira e Silva (1993) argu- das formas savânicas e aquelas consideradas
mentaram, por exemplo, que várias espécies do espécies florestais. O autor concluiu que: (1)
Cerrado apresentam plântulas que perdem a as espécies florestais apresentam plântulas
parte área todos os anos. Caules definitivos só mais susceptíveis ao fogo (nenhuma plântula
são emitidos quando as raízes alcançam as ca- sobreviveu) e (2) entre as espécies de savana,
madas mais úmidas de solo e, no caso de Kiel- a susceptibilidade das plântulas ao fogo está
meyera coriacea (árvore, Guttiferae), o conhecido inversamente correlacionada com o peso das
pau-santo, isso pode acontecer somente após o sementes (R2 = 0,6), pois essa característica
quinto ano de vida das plântulas. está associada com a capacidade de rebrotar das
Mas, ao contrário da Caatinga, as formas plântulas. No caso de K. coriacea, o percentual
savânicas do Cerrado são submetidas a incên- de sobrevivência das plântulas em parcelas
dios periódicos (naturais ou antrópicos) que queimadas variou entre 40 e 100%, dependendo
da quantidade de vegetação lenhosa nas parce- a 80%, visto que essa espécie forma densos ban-
las. Além da capacidade de rebrotar, o recruta- cos com dezenas de milhares de plântulas por
mento de plântulas no início da estação chuvo- hectare (Conte et al., 2000).
sa é outra característica que pode minimizar o Embora a disponibilidade de luz seja um
impacto do fogo sobre o estabelecimento e a fator-chave nas florestas tropicais, doenças, her-
sobrevivência das plântulas, pois os incêndios bivoria, danos mecânicos e alagamentos perió-
ocorrem preferencialmente no final da estação dicos podem afetar, de forma isolada, combina-
seca (Moreira, 2000). da ou sinérgica, o destino das plântulas nas flo-
Nas florestas tropicais, como a Mata Atlân- restas Atlântica e Amazônica. Isso decorre, em
tica e a Floresta Amazônica, a quantidade e a parte, da elevada riqueza de organismos que
composição da luz que chega ao chão da floresta habitam o chão dessas florestas e que desenvol-
parecem ser um dos fatores mais importantes veram habilidades para explorar sementes e
para o estabelecimento e a sobrevivência de plântulas como fonte de alimento (p. ex., un-
plântulas de espécies lenhosas, principalmente gulados e roedores) e da enorme heterogenei-
em porções dessas florestas sem estação seca dade do ambiente físico no interior destas flo-
definida. De acordo com Chazdon e Fetcher restas.
(1984), entre 0,5 e 4% de radiação fotossinteti- A combinação de fatores agindo sobre a so-
camente ativa (RFA) alcança o chão da flores- brevivência de plântulas está bem-descrita para
ta. Dessa forma, muitas espécies de árvores da algumas espécies de árvores do gênero Pouteria
floresta madura têm como estratégia de regene- (Sapotaceae) que ocorrem nas florestas de ter-
ração a formação de “banco de plântulas”, as ra firme na Amazônia brasileira. Spironello
quais permanecem com desenvolvimento lento (1999) acompanhou durante 15 meses a mor-
até que ocorram mudanças significativas na talidade de plântulas de Pouteria platyphylla e P.
disponibilidade de RFA. Baider (1994) registrou rostrata, ambas árvores do dossel da floresta. No
um banco de plântulas com até 23 indivíduos/ primeiro caso, 58% das plântulas morreram,
m2 em trechos da Mata Atlântica, no sudeste entre as quais 96,5% devido a doenças e 3,5%
do Brasil, e concluiu que grande parte da flora devido aos danos causados pela queda de ga-
de árvores da floresta madura estava represen- lhos e folhas. No segundo caso, a mortalidade
tada nesses bancos. foi devida à ação de patógenos (89% das mor-
Talvez uma das espécies da Mata Atlântica tes), à herbivoria por insetos (7,3%) e à
mais conhecidas do ponto de vista de sua rege- herbivoria por vertebrados (3,7%). Todavia, es-
neração natural seja a Euterpe edulis (Palmae), ses padrões podem variar drasticamente entre
vulgarmente conhecida como palmiteiro. O pal- coortes distantes poucos metros entre si, ou en-
miteiro é uma espécie típica de sub-bosque e tre coortes estabelecidas sob a copa das árvo-
ocorre de forma abundante nos trechos mais res-matrizes e outras estabelecidas fora da zona
úmidos dessa floresta, entre a Bahia e o Rio de copa. Spironello (1999) encontrou evidên-
Grande do Sul. De acordo com Paulilo (2000), cias de mortalidade associada à distância da
de 0,5 a 4% do total de RFA é limitante para o planta-matriz, estando de acordo com o modelo
crescimento das plântulas de palmiteiro, que Janzen-Connell.
são capazes de incrementar a produção de ma- Dois estudos desenvolvidos em fragmentos
téria seca à medida que ocorre aumento nos da Mata Atlântica, no nordeste do Brasil, reve-
níveis de RFA. Esse incremento de matéria seca, laram mecanismos relacionados aos padrões de
associado à disponibilidade de luz, é conse- mortalidade, associados à proximidade da plan-
qüência do aumento na atividade fotossintéti- ta-matriz. No caso de Attalea oleifera, palmeira
ca, que atinge seu máximo no nível de 20% de freqüente em clareiras e em bordas de floresta,
RFA. A competição intra-específica por luz é, as elevadas taxas de mortalidade de plântulas
sem dúvida, um dos fatores que explicam a próximas das matrizes – estão associadas com
mortalidade de plântulas de palmiteiro superior a intensa queda de folhas velhas que as aba-
fam que podem chegar a 100% (Pimentel, tulas apresentam dependem de certas caracte-
2002) – . Em outra situação, as plântulas de rísticas físico-químicas das águas de inundação.
Protium heptaphyllum (árvore, Burseraceae) são Para dar um exemplo, o aparecimento de es-
intensamente cortadas por formigas saúvas clerofilia foi observado em plântulas estabele-
(Atta sexdens) e, apesar de as plântulas apresen- cidas em áreas inundadas de igapó, e não em
tarem capacidade de rebrota, os níveis de mor- áreas de várzea na Amazônia Central. É interes-
talidade alcançam mais de 90% durante seu pri- sante que muitas espécies de árvores abundan-
meiro ano de vida (Silva, 2002). Três aspectos tes em florestas ciliares, como Talauma ovata,
merecem atenção nessa relação entre a P. têm sementes que são incapazes de germinar
heptaphyllum e as formigas: (1) as saúvas esta- em anaerobiose, mas suas plântulas apresen-
belecem suas colônias e cortam as plântulas tam tolerância à inundação (Lobo e Joly, 1996).
embaixo das copas matrizes, (2) 50% das árvo- Em contraste com os mecanismos de adaptação
res reprodutivas apresentam colônias e (3) as das plântulas, algumas espécies de árvores que
formigas não utilizam as plântulas para o cul- ocorrem em florestas periodicamente inunda-
tivo de fungos, e sim o arilo das sementes dos das podem apresentar frutificação, recrutamen-
frutos que caem no chão da floresta e se acu- to e desenvolvimento das plântulas durante a
mulam próximos às colônias. Dessa forma, estação seca, como forma de evitar os proble-
embora as plântulas sejam ricas em compostos mas causados pela submersão (Lobo e Joly,
secundários, como terpenos (Bandeira et al., 2000).
2001), a presença dessas substâncias não im- Esse pequeno conjunto de estudos desen-
pede a ação devastadora das formigas, que pa- volvidos com espécies de arbustos e árvores na-
recem estabelecer colônias próximas às árvo- tivas dos ecossistemas brasileiros demonstra a
res mais produtivas. enorme variedade de fatores que afetam o re-
Em contraste com as florestas de terra fir- crutamento, o desenvolvimento e a sobrevivên-
me, nas porções de floresta periodicamente cia de plântulas e a diversidade de característi-
inundadas, a submersão é um dos fatores que cas adaptativas apresentadas pelas espécies pa-
afetam significativamente o destino de semen- ra minimizar alguns de seus impactos negati-
tes e plântulas. Em florestas de várzea e de iga- vos.
pó, na Amazônia, por exemplo, o nível médio
dos rios pode aumentar mais de 15 metros na
época de inundação, o que pode deixar plântu- FATORES ANTRÓPICOS,
las submersas por até sete meses (Parolin, RECRUTAMENTO DE
2001). A inundação resulta em solos anóxicos, PLÂNTULAS E CONSERVAÇÃO
na redução da luminosidade e da disponibilida- DA BIODIVERSIDADE
de de nutrientes e, muitas vezes, no soterra- Um dos grandes paradigmas sobre recrutamen-
mento das plântulas. Esses quatro fatores geral- to e sobrevivência de plântulas de espécies le-
mente acarretam redução de crescimento, de- nhosas nas florestas tropicais é o modelo Jan-
composição de clorofila e perda de folhas. As zen-Connell, o qual propõe que a predação de
plântulas não-adaptadas tendem, assim, a sementes e a mortalidade de plântulas estão
sofrer altos níveis de mortalidade. Estudos com diretamente associadas à distância da planta-
Astrocaryum jauari, Hevea brasiliensis (seringuei- matriz. Além das implicações demográficas pa-
ra), Tabebuia avellanedae (ipê) e Inga affinis (inga) ra populações, esse modelo representa um pos-
identificaram adaptações à submersão total ou sível mecanismo para a manutenção da elevada
parcial, como a formação de lenticelas hiper- riqueza de árvores dessas florestas (98 a 307
tróficas e de raízes adventícias (veja Lobo e Joly espécies/ha; Tabarelli e Mantovani, 1999), pois
[2000] para uma síntese). um indivíduo teria pouca probabilidade de ser
Conforme Parolin (2001), a intensidade e substituído por outro da mesma espécie. Esse
o tipo das respostas ou adaptações que as plân- paradigma tem catalisado a atenção de grande
Fragmentação
da floresta
Incêndios
florestais
Declínio de populações
! Figura 15.3
Relações entre fragmentação, caça, extração de madeira, efeito de borda, incêndios florestais e declínio de
populações de árvores em florestas neotropicais. Adaptada de Tabarelli, Martins e Silva, 2002).
Os autores argumentam que é fundamental CHAZDON, R.; LEE, D.; FETCHER, N. Photosynthetic
testar o modelo proposto e elaborar diretrizes e responses of tropical forest plants to contrasting light
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INTERFERÊNCIA:
COMPETIÇÃO E ALELOPATIA
Alfredo Gui Ferreira
INTERAÇÃO
A interação tem sido muitas vezes interpreta-
competição alelopatia
da apenas como a relação planta-animal. De
fato, desde a polinização até a dispersão do
diásporo, diferentes TAXA de animais são im-
portantes e, por vezes, a planta tem dependên-
cia acentuada dessa interação (Capítulos 14 e FATORES ABIÓTICOS FATORES BIÓTICOS
15). No entanto, aqui se dará destaque para a
interação existente entre plantas e, por isso,
deve ser designada por “interferência”, seja por
competição (fatores abióticos), seja por “alelo- competição alelopatia
patia” (fatores químicos produzidos por outro
indivíduo) na germinação. A seguir, pode-se
observar como essas relações se hierarquizam. MICRORGANISMOS NO SOLO
◗ Luz: há sementes que necessitam de luz plantas mais tolerantes e que utilizam
para germinar (Capítulo 8) ou de sua au- os poucos recursos existentes, por exem-
sência para disparar o processo germi- plo, de nitrogênio (N) e de fósforo (P).
nativo. As plantas competem em um A não ser para certos grupos de plantas,
mesmo local, no qual outra planta pode como muitas gramíneas nas quais a pre-
estar sombreando uma semente ou alte- sença de nitratos estimula a germinação,
rando a qualidade e a composição espec- a competição por nutrientes entre plan-
tral da radiação, funcionando aí a relação tas só se manifesta após a da instalação
entre Fr/Fre, seja favorecendo, em alguns planta.
casos, ou inibindo, em outros, a germi-
nação; a própria intermitência pelo som- Ademais, plantas sofrendo uma interferên-
breamento temporário pode interferir no cia negativa por competição podem produzir
processo. Após a germinação, no entan- menos sementes e/ou sementes de menor quali-
to, é que a interferência pode ser mais dade, e isso poderá determinar o sucesso de ins-
drástica, pois o processo de fotossíntese talação do futuro indivíduo. Sabe-se que a his-
e de todo o controle morfogenético pode tória da planta-mãe, com os percalços que ocor-
ser alterado pela quantidade e/ou pela rem durante a formação e o amadurecimento
qualidade da luz incidente. da semente, pode alterar a qualidade e o sucesso
◗ Temperatura: o sombreamento, além de germinação das sementes da prole. A seguir,
de mudar a qualidade espectral da ener- pode-se observar como estas relações se hie-
gia radiante, ameniza as variações térmi- rarquizam: interação, interferência e alelopatia.
cas. Há várias sementes que necessitam
do (ou são sinalizadas a germinar, quan-
do há) aumento das variações térmicas ALELOPATIA
em um curto espaço de tempo, como 24 A alelopatia pode ser definida como a interfe-
horas. Isso pode favorecer um tipo de se- rência positiva ou negativa de compostos do
mente ou indivíduo em detrimento de metabolismo secundário produzidos por uma
outro no mesmo local. planta (aleloquímicos) e lançados no meio dire-
◗ Água: a quantidade limitada de preci- tamente sobre o desenvolvimento de outra
pitação pode propiciar que os indivíduos planta ou indiretamente, por meio da transfor-
já instalados ou os que têm capacidade mação das substâncias no solo pela atividade
de sobreviver em lugares onde o poten- de microrganismos.
cial hídrico é mais negativo, competindo Os aleloquímicos chegam ao ambiente por
pelo recurso, alijam ou não permitam a meios aéreos (como os terpenos, que são volá-
germinação e o desenvolvimento de ou- teis), pelo lixiviado das plantas ou por restos
tras plantas. destas, em resteva de culturas ou na serrapi-
◗ Vento: importante para as sementes pe- lheira que cobre o chão das matas, (no caso
quenas que podem ter seus microssítios dos que são solúveis).
modificados, podendo ser enterradas ou A vegetação de uma determinada área pode
desenterradas, o que influi decisivamen- ter um modelo de sucessão condicionado às
te na germinação. plantas preexistentes e às substâncias químicas
◗ pH e nutrientes: o pH do solo em ge- que elas liberaram no meio conforme seu tem-
ral tem níveis que permitem que uma po de residência. Assim, a distribuição e a ocor-
grande quantidade de plantas se desen- rência de associação ou exclusão de plantas po-
volva. No entanto, algumas plantas que dem estar condicionadas às parcerias em ambi-
estão na faixa extrema de tolerância do entes naturais. Quando se cultivam plantas, a
pH, já estressadas, podem sofrer mais ou alelopatia pode ser um fator determinante do
ser inviabilizadas pela ação de outras sucesso ou insucesso da cultura.
Alguns aleloquímicos que podem ser usa- biam a germinação de algumas espécies de hor-
dos como defensivos agrícolas são substâncias tículas e que esse efeito dependia da época do
que aparecem e se conservam na evolução das ano em que as folhas eram coletadas (Tabela
plantas e que representam alguma vantagem 16.1) ou de a espécie ser ou não sensível ao
contra a ação de microrganismos, vírus, insetos efeito alelopático (Jacobi e Ferreira, 1991).
e outros patógenos e pastadores, seja inibindo Muitas vezes, o efeito alelopático não se dá
a ação destes, seja estimulando a crescimento sobre a germinabilidade (percentual final de
das plantas ou ainda oferecendo vantagens ao germinação no tempo), mas sobre a velocidade
indivíduo (ou espécies) na competição com ou- de germinação ou sobre outro parâmetro do
tros vegetais. processo, como pode ser visto na Figura 16.1.
O efeito alelopático pode provocar alterações
Alelopatia na germinação na curva de distribuição da germinação (que
A germinação é menos sensível aos alelo- passa de distribuição normal para uma errática,
químicos do que o crescimento da plântula. Po- alongando a curva através do eixo do tempo
rém, a quantificação experimental é muito mais [Figura 16.2]) ou um padrão complexo de dis-
simples, pois, para cada semente, o fenômeno tribuição de germinação das sementes devido
é discreto, germinando ou não. Nesse contexto, ao ruído informacional (interferências ambien-
substâncias alelopáticas podem induzir o apare- tais que bloqueiam ou retardam o andamento
cimento de plântulas anormais, sendo a necrose de processos metabólicos). Dessa forma, o
da radícula um dos sintomas mais comuns. acompanhamento da germinação deve ser di-
Assim, a avaliação da normalidade das plântu- ário ou em períodos mais curtos que 24 horas.
las é um instrumento valioso. Essas alterações no padrão de germinação
Abordaremos apenas alguns problemas re- podem resultar de efeitos sobre a permeabili-
levantes acerca da germinação de sementes, dade de membranas, a transcrição e tradução
como época do ano de coleta de material com do DNA; do funcionamento dos mensageiros
possível efeito alelopático e distribuição da cur- secundários; da respiração, por seqüestro de
va germinativa. oxigênio (fenóis); da conformação de enzimas
Observou-se que extratos aquosos de folhas e de receptores ou, ainda, da combinação des-
de Mimosa bimucronata (DC) OK (maricá) ini- ses fatores (Rizvi e Rizvi, 1992).
Tabela 16.1 Efeito de extratos aquosos de folhas de Mimosa bimucronata em duas concentrações
sobre a germinação de seis espécies hortículas. Dados em percentual dos controles
100
a
90 a
Percentagem de germinação
80
70
60
50
40
30 Controle
20 Ext. (-0,156)
10
0
0 24 32 40 48 56 64 72 84 92 100
Tempo (horas)
! Figura 16.1
Percentuais de germinação acumulada de sementes de Mimosa bimucronata (maricá) no extrato (ext.) das
folhas dessa espécie na concentração osmótica de –0,156 MPa. Observe que, após 90 horas, a germinabilidade
é estatisticamente igual. Adaptada de Astarita, Ferreira e Bergonci. (1996).
45
Germinação (%) não-acumulada
40 Controle
35 Ext. (-0,156)
30
25
20
15
10
5
0
16 24 32 40 48 56 64 72 84 92 100
Tempo (horas)
! Figura 16.2
Germinação no extrato (ext) de folhas de Mimosa bimucronata na concentração osmótica de –0,156 MPa.
Observe que os dados do controle têm distribuição próxima da normal, enquanto, no extrato, além do retar-
do no início da germinação, a curva de distribuição não se aproxima da normal (Ferreira e Aquila, 2000)
alternativa. O uso de ágar-gel também é uma Tomate e alface são duas espécies em que as
possibilidade interessante, mas, nesse caso, o “sementes” (alface é um aquênio) são facil-
gel deve ser de boa qualidade para que não mente encontradas e bastante sensíveis a vários
acrescente mais fontes de interferência. Deve- aleloquímicos.
se evitar o alagamento das placas para impedir A germinação deve ser verificada diaria-
que as sementes bóiem. O uso de películas plás- mente ou em intervalos menores para contabi-
ticas vedando as tampas das placas ou caixas- lizar as sementes germinadas. O critério deve
gerbox também auxilia. Por último, a colocação ser o do aparecimento da curvatura geotrópica
de uma ou mais vasilhas com água no interior da radícula ou o de o tamanho ser no mínimo
da câmara pode evitar problemas de secamento 50% do da semente para evitar falsa germinação
das placas. Esses cuidados são fundamentais, por expansão do embrião com a embebição.
pois a evaporação dos extratos torna-os mais Muitas vezes, o possível alelopático apenas re-
concentrados, o que pode falsear os resultados. tarda o processo germinativo (Figura 16.4A, B).
As sementes-teste podem ser de espécies Alface, gergelim e tomate, em geral, germinam
que se encontrem no local a campo. Como as em 72 horas, dependendo da temperatura. A
espécies nativas, amiúde, possui em algum tipo análise da velocidade e do comportamento da
de dormência, o uso de sementes de espécies curva acumulada de germinação (Capítulo 13)
cultivadas de boa qualidade é aconselhável. pode fornecer indicações importantes sobre o
A
80
70
Controle
% de germinação
60
50 4%
40
30
20
10
0
12 24 36 48 60
Tempo (horas)
B
100
Controle
80
Extrato
% de germinação
60
40
20
0
8 16 24 32 40 48
Tempo (horas)
! Figura 16.3
(A) Comportamento germinativo de aquênios de alface em resposta à ação de extratos de folhas de Myrciaria
cuspidata (camboim), a uma temperatura constante de 20oC (adaptada de Rodrigues, 2002). (B) Comporta-
mento germinativo de sementes de Sesanum indicum (gergelim) na presença de extrato de folhas de Solanum
lycocarpum (lobeira) a uma temperatura de 30oC (Oliveira, 2003).
Bomba
! Figura 16.4
Sistema de lixiviar: A – bandeja plástica de 55x40x15 cm com inúmeras perfurações e cheia de água, de
forma a ocorrer um gotejamento contínuo; B – o mesmo tipo de bandeja, com material de serrapilheira ou
material picado e seco da planta que se deseja estudar; C – bandeja sem furos, para coleta do lixiviado, com
bomba de recalque, de forma a reconduzir a substância ao nível A. Adaptada de Chou (1999).
alelopático. O controle do pH e da concentração dos, podem ser utilizados, mas fumigações de-
dos extratos brutos é fundamental, pois pode vem ser evitadas para estudos de alelopatia.
haver neles substâncias como açúcares, aminoá- Então, ao utilizar substrato natural sem esterili-
cidos e ácidos orgânicos, os quais influem na zação, deve-se assumir que há uma dinâmica
concentração iônica e são osmoticamente ativos. de transformações no solo difícil de acompa-
Com o uso de rolo de papel ou solo, a vi- nhar e reproduzir. A germinação será acompa-
sualização da radícula não é o critério utilizado nhada pela emergência da plântula na superfí-
para contabilizar a germinação. Para testes ale- cie do substrato, uma vez que a semente pode
lopáticos, recomenda-se o critério morfológico estar enterrada. Nesse caso, se houver dormên-
(emergência da radícula) como primeira abor- cia regida pela luz, será necessário um pré-tra-
dagem, devendo ser seguido por testes de ger- tamento para sua quebra. Aliás, quaisquer ti-
minação em solo ou areia. Tendo sido inicial- pos de dormência eventualmente existentes de-
mente usado rolo de papel para verificar a ger- vem ser quebrados antes do teste de alelopatia.
minação, se houver desconfiança de alelopatia, Com a utilização de vasos ou canteiros, dois
deve-se realizar os testes em placas conforme procedimentos mais usuais são seguidos: (1)
foi descrito. adicionar o material que se suspeita tenha o
alelopático, incorporando-o ao substrato; (2)
Germinação em casa de vegetação ou lixiviar o material repetidas vezes, obtendo-se
canteiro assim um percolado que contenha o(s) alelo-
Areia lavada (que tem menor interação com químico(s). Na Figura 16.5, tem-se um modelo
as substâncias-teste) e/ou solo, após esteriliza- usado para extrações de aleloquímicos. O lixi-
viado também pode ser obtido de plantas vice- rando substâncias que não estariam ativas se o
jando em vasos, conforme se observa na Figu- processo natural fosse observado, com queda
ra 16.6. Quando o aleloquímico é volátil, ele ao solo, desidratação e decomposição gradativa
pode ser testado usando-se o procedimento de do material. A maceração é um atalho que pode
colocar o material em frascos menores e estes levar a maximizar o fenômeno alelopático. No
dentro de um frasco maior, o qual será tampa- entanto, havendo alguma indicação de alelo-
do, após a colocação de placas forradas com um químicos no material vegetal, a extração com
substrato úmido com as sementes dos bioen- solventes orgânicos pode ser usada para sua ca-
saios. O(s) volátil(eis) liberado(s) poderá(ão) racterização química.
influir na germinação.
Dois procedimentos não são recomenda- Alelopatia no desenvolvimento inicial
dos: (1) extrair o aleloquímico com solventes A emergência da plântula e o seu cresci-
orgânicos (clorofórmio, éter, álcool, etc.), pois mento são as fases mais sensíveis na ontogê-
na natureza isso não ocorre e poder-se-ia estar nese do indivíduo. A massa seca da raiz ou parte
liberando compostos que, em condições natu- aérea e o comprimento das plântulas ou radí-
rais, não atuariam como alelopáticos; (2) macer culas são os parâmetros mais usados para ava-
o material vegetal, pois isso poderia estar libe- liar o efeito alelopático sobre o crescimento. A
Solução nutritiva
Ar
Resina retentora
Bomba
! Figura 16.5
Sistema de fluxo contínuo para seqüestrar exsudados de raízes intactas não-perturbadas. O substrato contido
no vaso é retido por filtro apoiado sobre a coluna de resina Ämberlite XAD-4”. A substância filtrada pela
resina é recalcada e oxigenada, servindo para umedecer o topo do vaso. Adaptada de Friedman e Waller
(1985).
quantidade de pêlos absorventes também é um Alface é a planta mais comum como espé-
parâmetro bastante sensível, particularmente cie-alvo para examinar alelopatia entre as hi-
no milho, no qual eles são muito conspícuos drófitas, devido ao pequeno período requerido
(Tabela 16.1). tanto para a sua germinação (24 a 48 horas)
Os testes podem ser realizados seguindo os quanto para o seu crescimento. As reservas que
procedimentos expostos para a germinação, a semente de alface possui, no entanto, não per-
desde que, nos de laboratório, alguns cuidados mitem um desenvolvimento expressivo da
sejam observados rigorosamente, como não dei- plântula sem o uso de nutrientes externos, o
xar secar e concentrar muito, pela evaporação, que é uma limitação. Por outro lado, oferecem
os extratos em teste. Placas de Petri têm a res- uma vantagem extra de ela poder ser cultivada
trição da sua pouca altura e, como a parte aé- em soluções hidropônicas, o que pode ser
rea tem gravitropismo negativo, seu desenvol- manejado para a exploração de algum proble-
vimento nos extratos pode ser limitado pela ma de alelopatia.
tampa da placa.
É interessante, quando se testam extratos, Mecanismo de ação, compostos
não realizar a sua germinação, colocando as se- secundários e outros intervenientes
mentes para germinar previamente em água no fenômeno de alelopatia
destilada e só depois transferindo as plântulas
que tiverem um certo tamanho de radícula, por Mecanismo de ação
exemplo, cinco milímetros, para a solução-tes- O efeito visível dos aleloquímicos sobre as
te. Com isso, pode-se uniformizar a amostra e plantas é somente uma sinalização secundária
obter resultados dos efeitos alelopáticos mais de mudanças anteriores. Assim, os estudos so-
uniformes, o que facilita as análises pela dimi- bre o efeito de aleloquímicos sobre a germina-
nuição da variabilidade, além da possível obten- ção e/ou o desenvolvimento da planta são mani-
ção de amostras do mesmo tamanho. festações secundárias de efeitos ocorridos ini-
A maioria das plantas de interesse econô- cialmente em níveis molecular e celular. Ainda
mico são angiospermas terrestres. No meio ter- há poucas informações sobre esses mecanismos.
restre, as interações das plantas com o substrato O modo de ação dos aleloquímicos pode ser
são difíceis de seguir e testar. Assim, foram pro- grosseiramente dividido em ações direta e indi-
postos alguns testes em meio líquido, mais fá- reta. Nestas últimas, podem-se incluir altera-
ceis de manipular e analisar sob vários aspec- ções nas propriedades do solo, em suas condi-
tos experimentais. A principal vantagem é de ções nutricionais e em populações e/ou ativi-
o(s) aleloquímico(s) já estar(em) no meio dade dos microrganismos. O modo de ação di-
aquoso, sem a necessidade de liberação de com- reto ocorre quando o aleloquímico se liga às
plexos com a matriz do solo. membranas da planta receptora ou penetra nas
Tabela 16.2 Efeito dos extratos de frutos de I. paraguariensis (p/v) e PEG 6000 (MPa) na mesma concentração
dos extratos (n=10) em plantas de milho (4 dias após semeadura)
Variável de crescimento Controle -0,24 MPa 1:16 p/v -0,48 MPa 1:8 p/v -0,96 MPa 1:4 p/v
Comprimento da parte aérea (cm) 7,1a 5,5b 3,8d 4,6c 2,9e 2,0f 1,9f
Comprimento da 1a folha (cm) 4,2a 3,3a 1,1c 2,6b 0,8c 0,6c 0,3c
Massa seca da parte aérea (mg) 26,0a 21,0b 18,0cd 20,0bc 15,0d 11,0e 11,0e
Massa seca da raiz (mg) 32,0a 33,0a 23,0b 32,0a 21,0b 26,0b 11,0c
Comprimento da raiz primária (cm) 14,9a 14,8a 2,2d 11,8b 1,8d 8,0c 1,4d
Número de pêlos absorventes 27,0a 22,6ab 4,7c 19,7b 3,0c 5,7c 0,1c
Média seguida pela mesma letra na linha não-significante pelo teste de Tukey (5%).
200 HO
150
O
100 N–CH3
HO
50
Morfina
Conteúdo de alcalóides expresso como % diárias
300
H3CO
200
O
N–CH3
100 HO
Codeína
150 H3CO
100 O
N–CH3
50
CH3O
Tebaína
0
Horas do dia
! Figura 16.6
Mudanças diárias no conteúdo de alcalóides na planta de Papaver somniferum. Adaptada de Waller, Flug e Fujii
(1999).
ganismos que vivem no estrato superior do solo de N disponível para as plantas devido à alta
(minhocas, insetos, fungos, etc.). Na serrapi- atividade e à quantidade de microrganismos
lheira em degradação e na camada superficial que utilizam esse elemento para seu próprio
do solo logo abaixo dela, onde convivem comu- metabolismo, formando uma cadeia de eventos
nidades multivariadas, há, por parte dos micror- que pode ser resumida da seguinte maneira:
ganismos, uma grande demanda de N. A rela- moléculas orgânicas → alta atividade de micror-
ção entre o carbono de matéria carbonada e o ganismos → privação temporária de nitrogênio
nitrogênio é de aproximadamente C:N 30:1. → crescimento limitado das plantas. Isso não
Isso pode levar a uma deficiência temporária é efeito alelopático. De outra parte, os alelo-
Comprimento da plântula
64
60
y = 2,4229x + 44,32
Porcentagem
56 2
R = 0,9922
52 Raíz
48 Parte aérea
y = -2,4x + 55,6
44 2
R = 0,9919
40
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Potencial osmótico (-MPa)
! Figura 16.7
Percentuais de alongamento de plântulas de Mimosa bimucronata em diferentes potenciais osmóticos provo-
cados por PEG 6000, depois de 90 horas de tratamento. Adaptada de Astarita, Ferreira e Bergonci. (1996).
FERREIRA, A.G.; AQUILA, M.E.A. Alelopatia: uma área RICE, E.R. Allelopathy. New York Acad. Press .1984. p. 442.
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ca/UnB 78p. 2003.
COLETA, BENEFICIAMENTO E
ARMAZENAMENTO
Francisco Amaral Villela
Wolmer Brod Peres
Persistentes esforços devem ser feitos para Empregado para sementes acondicionadas em
assegurar que a amostra representa, de maneira sacarias, deve ter comprimento total não infe-
fidedigna, a composição do lote. Por mais minu- rior a 50 cm.
cioso e preciso que seja o procedimento técnico O amostrador do tipo duplo consiste de um
empregado na análise de laboratório, os resulta- tubo cilíndrico metálico, oco, que se ajusta in-
dos podem não indicar, de fato, a qualidade do ternamente a outro tubo cilíndrico, com extre-
lote caso a amostra não tenha sido adequada- midade afilada. Os dois tubos apresentam aber-
mente coletada, manuseada e conservada. turas que podem ser justapostas por meio de
Entende-se por amostra determinada rotação, com ou sem divisões internas. Confor-
quantidade de um produto retirada do lote, ca- me as dimensões, pode ser empregado para se-
paz de representar, com segurança, os atributos mentes em sacaria (comprimento de 76,2 cm)
deste. Cada porção individual, retirada de dife- ou a granel (comprimento até 2 m).
rentes partes constituintes do lote, é denomina- A amostragem de sementes armazenadas
da amostra simples. As amostras simples reuni- a granel ou durante o beneficiamento deve
das em um recipiente adequado, uma vez ho- atender à seguinte exigência mínima quanto
mogeneizadas, originam a amostra composta às intensidades de amostragem:
que, apropriadamente dividida, forma a amos-
◗ lotes de sementes de até 500 kg: não me-
tra média a ser encaminhada ao laboratório de
nos de cinco amostras simples;
análise. Amostras destinadas à determinação
◗ lotes de sementes de 501 a 3.000 kg: uma
de umidade devem ser enviadas ao laboratório
amostra simples de cada 300 kg, porém
separadamente das que serão usadas para ou-
não menos de cinco amostras simples;
tros fins e acondicionadas em recipientes hermé-
◗ lotes de sementes de 3.001 a 20.000 kg:
ticos, impermeáveis e completamente cheios.
uma amostra simples de cada 500 kg, po-
As amostras retiradas a campo não devem
rém não menos de 10 amostras simples.
ser expostas a temperaturas elevadas, sendo ne-
cessária sua conservação em ambiente com bai-
Para sementes acondicionadas em sacos
xa temperatura (manutenção em caixas térmi-
(na recepção em sacaria ou nas pilhas em arma-
cas com sistema de resfriamento).
zéns convencionais), devem ser retiradas amos-
O técnico responsável pela amostragem de-
tras simples em diferentes sacos:
ve retirar as amostras simples de posições varia-
das, sempre ao acaso, evitando a tendenciosi- ◗ lotes de sementes de até cinco sacos: ca-
dade, verificada ao selecionar, por exemplo, lo- da saco deve ser amostrado, coletando-
cais de fácil acesso. Ao se proceder à amostra- se, no mínimo, cinco amostras simples;
gem, os princípios básicos da representativida- ◗ lotes de sementes de 6 a 30 sacos: uma
de e da aleatoriedade devem ser atendidos. amostra simples de cada três sacos e não
Uma amostra apresenta maior representativi- menos de cinco amostras simples;
dade do lote conforme aumenta a homogenei- ◗ lotes de sementes de 31 a 400 sacos uma
dade dos seus componentes. amostra simples a cada cinco sacos, e
As amostras simples devem ser retiradas não menos de 10 amostras simples;
do lote, sempre que possível, por meio de amos- ◗ lotes de sementes de 401 ou mais sacos:
tradores do tipo simples ou duplo. Para semen- uma amostra simples a cada sete sacos
tes que não deslizam com facilidade, a coleta e não menos de 80 amostras simples.
de amostras deve ser preferencialmente realiza-
da de forma manual. Os pesos máximos dos lotes e mínimos das
O amostrador do tipo simples consta de um amostras médias de sementes das diferentes
tubo cilíndrico apontado, oco, com cabo perfu- espécies são indicados nas Regras para Análise
rado para o descarregamento das sementes. de Sementes (Brasil, 1992).
Tabela 17.1 Teor de água (%) de equilíbrio de sementes em diferentes umidades relativas e tempe-
ratura do ar de 25oC
proteínas são compostos mais higroscó- gráficos ou tabulares; entretanto, será conside-
picos do que os carboidratos, enquanto rada apenas a determinação gráfica, utilizan-
os lipídeos são essencialmente hidrófobos; do-se o gráfico psicrométrico (Figura 17.1). As
◗ Temperatura ambiental – o aumento da propriedades psicrométricas do ar mais utiliza-
temperatura causa redução da umidade das são:
da semente a uma determinada umida-
de relativa. As variações extremas de ◗ Temperatura do bulbo seco (TBS) – é a
temperatura durante o armazenamento temperatura indicada por um termôme-
podem ocasionar variações na umidade tro, expressa em oC. Representada por
de equilíbrio de até dois pontos percen- linhas perpendiculares à base da figura,
tuais; a TBS é determinada na parte inferior
◗ Histerese – as sementes no processo de do gráfico;
sorção (ganho) de água entram em equi- ◗ Temperatura do bulbo úmido (TBU) – é
líbrio higroscópico a teores de água mais a temperatura obtida por um termôme-
baixos em relação ao processo de dessor- tro, com o bulbo revestido com uma gaze
ção (perda) de água, podendo causar dife- úmida cujo contato com uma corrente
renças de até dois pontos percentuais; de ar proporciona a vaporização da água,
◗ Integridade física da semente – as se- que, dependendo de sua intensidade,
mentes danificadas atingem teores de baixará mais ou menos a temperatura.
água de equilíbrio mais elevados do que A TBU é determinada pelas linhas mais
as sementes fisicamente íntegras. oblíquas, e sua leitura é realizada no lado
externo da parte curva do gráfico;
As propriedades físicas do ar podem ser de- ◗ Ponto de orvalho (PO) – é a temperatura
terminadas por meio de métodos analíticos, do ar atingida quando a umidade relativa
5
11
35 37 39
33
30
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0
-10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
! Figura 17.1
Gráfico psicrométrico (Peres, 2001).
do ar chega a 100%. Obtido por resfria- A quantidade de água retirada será igual a
mento à razão de mistura constante, é 4 g/kg de ar seco (RM em C – RM em B), e a
representado por linhas horizontais cuja quantidade de calor necessária para aquecer o
leitura é realizada no lado externo da ar será de 19 kJ/kg (E em B – E em A).
parte curva do gráfico; O vapor d’água contido na semente tende
◗ Umidade relativa (UR) – expressa a a ocupar todos os espaços intercelulares dispo-
quantidade de água existente no ar em níveis, gerando pressões em todas as direções,
relação à quantidade máxima que esse inclusive na interface entre a semente e o ar,
ar poderia conter a uma determinada denominada pressão parcial de vapor d’água
temperatura. Por exemplo, se o ar possui na superfície da semente. Por sua vez, a água
18 g e pode conter 30 g de água/kg de ar presente no ar sob a forma de vapor exerce,
seco a uma mesma temperatura, a umi- também, uma pressão parcial, designada pres-
dade relativa é de 60%; são parcial de vapor d’água no ar.
◗ Razão de mistura (RM) – indica a massa O processo de secagem envolve a retirada
de água do ar em relação à unidade da parcial de água da semente pela transferência
massa de ar seco. Representada por li- simultânea de calor do ar para a semente e de
nhas horizontais, a leitura é feita na li- água, por meio de fluxo de vapor, da semente
nha vertical à direita da figura e expressa para o ar.
em gramas de água/kg de ar seco; A secagem de sementes mediante convec-
◗ Volume específico (VE) – expressa o vo- ção forçada do ar aquecido compreende, essen-
lume ocupado pelo ar seco em relação à cialmente, dois processos simultâneos:
unidade de massa de ar seco. O VE é re-
◗ Transferência (evaporação) da água su-
presentado por linhas oblíquas cuja lei-
perficial da semente para o ar circun-
tura é feita na parte mais externa da base
dante, causada pelo gradiente de pressão
da figura, sendo expressa em m3 de ar
parcial de vapor entre a superfície da
seco/kg ar seco;
semente e o ar de secagem;
◗ Entalpia (E) – função termodinâmica re-
◗ Movimento de água do interior para a
presentativa da energia total associada
superfície da semente, em virtude de
à unidade de massa de ar seco. Determi-
gradiente hídrico entre essas duas re-
nada no prolongamento das linhas mais
giões.
oblíquas, sua leitura é feita no lado exter-
no mais distante da parte curva da figu-
O derramamento hidrodinâmico sob a ação
ra.
da pressão total interna e/ou um processo de
difusão resultante de gradientes internos de
O conhecimento dos processos e dos parâ-
temperatura e teor de água é a teoria capaz de
metros psicrométricos permite estabelecer o
explicar o transporte de água do interior para a
consumo energético e o tempo de secagem.
superfície da semente durante a secagem (Las-
Por exemplo, considerando um ambiente
seran, 1978).
em que um psicrômetro fornece TBS = 17oC e
A forma mais utilizada para aumentar o di-
TBU = 15oC, tem-se o estado A (UR = 80%;
ferencial entre as pressões de vapor da superfí-
RM = 10 g/kg ar seco e E = 42 kJ/kg). Quando
cie da semente e do ar de secagem é o aqueci-
o ar é aquecido até 35oC a razão de mistura per-
mento deste último, diminuindo, em conse-
manece constante e, dessa forma, atinge o esta-
qüência, a sua UR, que, dessa forma, adquire
do B (UR = 30% e E = 61 kJ/kg). Se o ar, ao
maior capacidade de retirada de água.
sair do secador, após atravessar a massa de se-
Em termos práticos, a UR tem sido utilizada
mentes, atingir a TBS = 25oC, em um processo
como referência para inferir se a semente irá
isentálpico, teremos o estado C (UR = 70%, RM
perder (secagem), ganhar (umedecimento) ou
= 14 g/kg e TBU = 21oC).
manter sua umidade (equilíbrio higroscópico) ou alta temperatura. A secagem sob baixa tem-
sob determinada condição atmosférica. Confor- peratura pode ser feita com ar à temperatura
me aumenta a temperatura do ar, a UR diminui, ambiente ou parcialmente aquecido, sendo o
elevando a sua capacidade de retenção de água. mesmo forçado através da camada de sementes.
De acordo com o mecanismo de movimenta- Na secagem sob alta temperatura, o ar sofre
ção do ar (movimento relativo do ar e da semen- acentuada elevação de temperatura e, conse-
te), com o aquecimento do ar e com o tempo de qüentemente, ocorre pronunciada redução em
exposição da semente ao ar de secagem, têm-se sua umidade relativa, elevando sua capacidade
diferentes métodos de secagem (Figura 17.2). de retenção de água.
A secagem natural utiliza as energias solar A secagem em camada fixa consiste basica-
e eólica para a remoção da água da semente. É mente em forçar o ar através da massa de se-
realizada na própria planta, no período compre- mentes que permanece sem movimento. Na se-
endido entre a maturidade fisiológica e a colhei- cagem de fluxo cruzado, o ar é movimentado
ta, ou empregando recursos complementares, perpendicularmente à direção de movimento
como terreiros, tabuleiros ou encerados, nos da semente no interior do secador. O ar e as
quais as sementes são esparramadas. A depen- sementes avançam paralelamente no interior
dência das condições psicrométricas do ar e a do secador nas secagens concorrente e contra-
lentidão do processo representam as principais corrente, apesar de os sentidos serem, respec-
limitações, enquanto a simplicidade técnica e tivamente, iguais ou opostos. Na secagem con-
o baixo custo operacional são aspectos positivos tínua, a semente fica o tempo todo sob a ação
do método. do ar aquecido, até que seu teor de água alcance
A secagem artificial realizada com movi- o valor pretendido. Por sua vez, na secagem in-
mentação mecânica do ar pode ser sob baixa termitente, a semente sofre a ação do ar aqueci-
Camada fixa
NATURAL Cruzado
Quanto ao
fluxo Concorrente
Quanto à Contínuo
operação Intermitente
Ar ambiente forçado
Baixa temperatura
Aquecimento complementar
ARTIFICIAL
Em combinação
Seca-aeração
! Figura 17.2
Métodos de secagem.
do por intervalos regulares, intercalados por pe- da semente. Os principais fatores envolvidos
ríodos de equalização (sem exposição ao ar em são a temperatura alcançada pela semente, o
movimento). tempo de exposição a essa temperatura, o teor
Na secagem em combinação, emprega-se de água da semente e a velocidade de secagem.
a secagem sob alta temperatura, ocasião em que Na secagem com ar aquecido forçado, é reco-
a semente apresenta elevado teor de água, se- mendável o emprego de temperaturas do ar
guida de secagem sob baixa temperatura para crescentes na fase inicial e decrescentes no fim
complementar o processo até o teor de água da secagem para minimizar os danos térmicos
desejado. A etapa de complementação pode es- decorrentes da rápida remoção de água no iní-
tender-se por longos períodos, dependendo da cio e do excessivo aquecimento do eixo embrio-
espécie, da umidade da semente, da espessura nário/embrião no final (Peske e Villela, 2003).
da camada, do fluxo de ar e das propriedades A secagem estacionária em silo-secador
psicrométricas do ar. com camada espessa estabelece gradientes tér-
A seca-aeração utiliza inicialmente o méto- mico e hídrico na massa de sementes, com a
do sob alta temperatura para a secagem da se- formação de uma região de transição, na qual
mente com até dois ou três pontos percentuais ocorre retirada de água pelo ar, denominada zo-
acima do teor de água de armazenamento, se- na de secagem (Figura 17.3). Nessa secagem,
guido de um período de equalização que varia o avanço da frente de secagem é bastante influ-
de seis a oito horas num silo e, por fim, de uma enciado pelo fluxo e pela umidade relativa do
complementação de secagem mediante ar de secagem. Reduções no gradiente de umi-
movimentação forçada de ar à temperatura am- dade podem ser obtidas com diminuição da es-
biente. pessura da camada de sementes.
A secagem sob alta temperatura pode exer- Em secador intermitente, a semente sofre
cer influência prejudicial à qualidade fisiológica a ação de elevado fluxo de ar aquecido por pe-
Ar úmido
Semente úmida
Zona de secagem
Ventilador
Aquecedor
Semente seca
! Figura 17.3
Secador de camada fixa.
! Figura 17.4
Secador intermitente.
Sementes curtas
Calha coletora
Sementes compridas
Mistura de
Cilindro alveolado sementes curtas
e compridas
! Figura 17.6
Vista em corte de separador de cilindro alveolado, mostrando a separação das sementes curtas das compridas
e sua deposição na calha.
maior densidade serão os primeiros a ser sepa- complica a conservação do germoplasma pela
rados, portanto, pedras e torrões de mesmo ta- dificuldade de armazenamento. Essas semen-
manho das sementes e que não foram separa- tes podem apresentar alta ou baixa recal-
dos nas operações anteriores serão descartados citrância. Sementes de alta recalcitrância apre-
nas bicas laterais da mesa de gravidade. sentam tolerância à retirada de poucos pontos
A escolha da cobertura da superfície para percentuais de água e muita sensibilidade a
cada tipo de semente é de fundamental impor- baixas temperaturas. São sementes comuns de
tância. Para sementes grandes, recomenda-se plantas de florestas tropicais úmidas. Já as de
a utilização de chapas metálicas perfuradas ou baixa recalcitrância exibem tolerância à retira-
tela de arame, com abertura de tamanho menor da de elevados pontos percentuais de água, re-
que a semente e nervuras paralelas colocadas duzida sensibilidade a baixas temperaturas e
acima da tela para diminuir o fluxo de sementes baixa germinação quando não-umedecidas.
e manter uma camada uniforme. Para sementes São exemplos as sementes de determinadas
pequenas, recomenda-se o cobrimento da tela plantas de clima temperado e subtropical, como
com tecido que possibilite a passagem do ar, a araucária e o café.
sem que ocorra a travessia das sementes. As sementes ortodoxas podem ser secas até
Sementes com grande diferença de peso es- baixos teores de água (5 a 7%) e armazenadas
pecífico permitem o aumento considerável da em ambientes com baixas temperaturas. Após
capacidade da máquina, reduzindo a zona de a colheita, podem sofrer secagem artificial e ser
estratificação e facilitando a separação das fra- armazenadas por longos períodos, preferencial-
ções pesada, intermediária e leve. O excesso de mente a baixas temperaturas; são resistentes
ar ocasiona mistura de sementes pesadas e le- às adversidades no período de latência e, em
ves, impossibilitando a estratificação. condições adequadas, germinam. São facilmen-
te armazenadas em regiões de clima frio, neces-
sitam de alguns cuidados no armazenamento
ARMAZENAMENTO em regiões de clima temperado e exigem in-
O armazenamento das sementes deve ser ini- tenso controle das condições de armazenamen-
ciado na maturidade fisiológica, e o maior de- to em regiões tropicais.
safio é conseguir que as sementes, após um cer- As sementes que apresentam comporta-
to período, ainda apresentem elevada qualida- mento ortodoxo quando armazenadas com teor
de fisiológica. Assim sendo, o objetivo é manter a de água entre 9 e 13%, mas que, ao serem secas
qualidade das sementes durante o período em que a 7%, perdem significativamente a viabilidade
ficam armazenadas, visto que seu melhoramento são classificadas como subortodoxas ou inter-
não é possível mesmo sob condições ideais. mediárias.
Quanto ao comportamento em relação ao A deterioração das sementes envolve uma
armazenamento, as sementes são classificadas série de alterações fisiológicas, bioquímicas e
em recalcitrantes e ortodoxas. físicas que, eventualmente, causam a morte da
As sementes recalcitrantes não podem ser semente. As alterações são progressivas e deter-
secas abaixo de determinado teor de água sem minadas por fatores genéticos, bióticos e abió-
que ocorram danos fisiológicos. Por exemplo, ticos (clima, insetos e microrganismos), proce-
os diásporos de Araucaria angustifolia perdem a dimentos de colheita, de secagem, de benefi-
viabilidade ao serem secos a teores de água infe- ciamento, de manuseio e de armazenamento
riores a 37%. Não podem ser secos pelos méto- (Figura 17.8).
dos tradicionais de secagem e, quando armaze- Dentre as principais teorias que buscam ex-
nados com elevado teor de água, perdem a via- plicar a deterioração das sementes, destacam-
bilidade em curto espaço de tempo. se o esgotamento das reservas alimentares, a
Grande número de espécies frutíferas e flo- alteração da composição química, como a oxi-
restais possui sementes recalcitrantes, o que dação dos lipídeos e a quebra parcial das proteí-
Vírus Nematóides
Bactérias Ácaros
Fungos Insetos
Maturidade Roedores e
da semente pássaros
SEMENTES
E
Temperatura IMPUREZAS Umidade
o
45-0 C 10-25%
Cor Oxigênio
e odor Gás carbônico
Peso Toxicidade
Germinação Vigor
! Figura 17.8
Fatores biológicos e físicos determinantes da qualidade fisiológica de sementes armazenadas.
nas, a alteração das membranas celulares, com no armazenamento, redução de qualidade mais
redução da integridade, aumento da permea- rapidamente do que sementes maduras.
bilidade e desorganização, as alterações enzi- A longevidade da semente é bastante influ-
máticas e as alterações de nucleotídeos. enciada pelas condições de armazenamento, so-
O tamanho, a forma e a localização das es- bretudo pelo teor de água e pela temperatura
truturas reprodutivas na semente estão relacio- ambiental (Figura 17.9).
nados com a susceptibilidade aos danos mecâ- Regras empíricas indicam que a longevida-
nicos. Por exemplo, nas sementes de soja, o eixo de da semente é duplicada a cada 1% de dimi-
embrionário está saliente, protegido por fino nuição no seu teor de água (válido para teores
tegumento, ficando exposto a impactos que fa- de água de 5 a 15%) ou a cada 5,5oC de diminui-
cilmente poderão causar danos mecânicos. ção na temperatura (válido para temperaturas
As fissuras nas sementes ocorrem devido de 0 a 40oC).
às flutuações de umidade e à secagem excessiva A temperatura influencia as atividades res-
da cobertura protetora, facilitando a penetração piratórias das sementes e dos microrganismos
de microrganismos e a perda da capacidade de presentes, bem como a atividade, o desenvol-
regulação das trocas hídricas e gasosas. vimento e a reprodução de insetos. Condições
É importante ressaltar que sementes de te- de ambiente seco e frio são mais favoráveis ao
gumento duro podem ser armazenadas por armazenamento de sementes ortodoxas.
mais tempo comparativamente às de tegumento A aeração é a operação de passagem de um
brando. Sementes imaturas geralmente sofrem, fluxo de ar ambiente na massa de sementes,
40
20
C D
10 A
! Figura 17.9
Gráfico da conservação de sementes de cereais.
tos em sementes armazenadas traduz-se em a câmara fria, a câmara seca e a câmara fria e
perdas de peso e poder germinativo, desvalori- seca. A primeira destina-se à conservação de se-
zação comercial do produto, disseminação de mentes sob temperatura controlada, geralmente
fungos e surgimento de bolsas de calor durante inferior a 10oC. Apresenta elevada umidade re-
o armazenamento. lativa do ar, o que pode ocasionar aumento da
A adequada e permanente higienização das umidade das sementes caso não sejam acondi-
instalações de armazenamento é a prática mais cionadas em embalagens impermeáveis.
eficiente e imprescindível para combater os A câmara seca apresenta controle de umi-
insetos que atacam as sementes armazenadas. dade relativa do ar ao redor 40 a 45%, empre-
Antes de iniciar uma nova safra ou receber no- gando dessecantes químicos, como sílica gel e
vos produtos, uma correta limpeza das instala- alumina ativada. As sementes devem ser acon-
ções, de preferência com ar comprimido e as- dicionadas em embalagens permeáveis.
piradores pneumáticos, deve ser efetuada, e os Na câmara fria e seca, a temperatura e a
detritos, queimados ou enterrados. umidade relativa do ar são mantidas em valores
É fundamental que seja realizada uma revi- específicos por meio de refrigeração e desumi-
são completa em telhados, calhas, dutos, ralos dificação. As condições recomendadas para o
e galerias a fim de eliminar eventuais goteiras, armazenamento em longo prazo são tempera-
vazamentos e/ou inadequado escoamento de tura de 5 a 10oC e umidade relativa de 40 a 45 %.
águas pluviais. Fendas e rachaduras nos pisos, Na conservação de sementes ortodoxas em
paredes e calçadas poderão abrigar grãos e resí- bancos de germoplasma, são recomendadas
duos infestados, bem como infiltrações nas épo- temperaturas abaixo de 0oC e umidade relativa
cas chuvosas. É importante verificar as áreas do ar inferior a 25 ou 30% para a preservação
externas das unidades armazenadoras para evi- da qualidade fisiológica das sementes por lon-
tar a ocorrência de vegetação que possa servir gos períodos.
de abrigo ou alimentação a insetos, ratos e ou- A preservação da qualidade fisiológica de
tras pragas. sementes sob determinadas condições ambien-
Adequadas condições de armazenamento tais de temperatura e umidade relativa do ar é
para a conservação de sementes podem ser obti- influenciada pelo tipo de embalagem utilizada.
das pela localização dos armazéns em locais As embalagens, quanto à permeabilidade ao va-
onde as condições climáticas sejam favoráveis, por d’água, podem ser classificadas em permeá-
sendo necessária a secagem da semente até o veis, semipermeáveis e impermeáveis.
teor de água seguro. Por outro lado, se as condi- As embalagens permeáveis permitem a tro-
ções climáticas forem desfavoráveis ou se o pe- ca de vapor entre as sementes e o ambiente ex-
ríodo de armazenamento for prolongado, a al- terno circundante. Por isso, o teor de água das
ternativa será a modificação artificial das con- sementes sofre flutuações com as variações de
dições ambientais. umidade relativa do ar. Os principais materiais
Os armazéns convencionais são unidades empregados comercialmente na confecção de
de piso plano destinados ao armazenamento embalagens permeáveis de sementes são papel,
de sementes em sacos, dispostos em pilhas so- algodão, juta e polipropileno trançado.
bre estrados. As embalagens semipermeáveis mostram-
Os silos são unidades destinadas ao arma- se resistentes à troca de vapor d’água entre as
zenamento a granel, construídos de concreto, sementes e o ambiente externo circundante.
alvenaria, madeira ou metal. Podem ser verti- Para a conservação de sementes em embalagens
cais, quando apresentam altura superior ao di- semipermeáveis, o teor de água das sementes
âmetro, ou horizontais (armazéns graneleiros), deve ser de 2 a 3 pontos percentuais inferior ao
caso a altura seja inferior às dimensões da base. empregado nas embalagens permeáveis. Os
Dentre os sistemas de conservação em am- materiais utilizados nesse tipo de embalagem
biente controlado artificialmente, destacam-se são polietileno de baixa espessura e combina-
ções de lâminas de papel e outro material (pa- HARMOND, J. E.; BRANDERBURG, N.E.; KLEIN, L.M.
pel aluminizado, plastificado e com película de Mechanical seed cleaning and handling. Agricultural
Handbook, n. 354, USDA, 1968.
asfalto).
As embalagens impermeáveis impedem o LASSERAN, J. C. Princípios gerais de secagem. Revista
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Peske, S.T.; Rosenthal, M.D.; Rota, G.R.M. Sementes:
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da mesa de gravidade. Brasília: AGIPLAN, 1975. 78p. Pelotas: UFPel, 1998. p.431-468.
TESTES DE QUALIDADE
Fatima C. Márquez Piña-Rodrigues
Márcia Balistiero Figliolia
Maria Célia Peixoto
quer espécie em análise (Binneck, Nedel e De- sua origem. Já a utilização de marcador
lagostin, 2002). O princípio da análise RAPD molecular RAPD foi eficiente na discriminação
baseia-se na utilização de um primer (oligonu- das matrizes, separando-as em quatro grupos
cleotídeo) de seqüência aleatória que poderá, distintos.
ao acaso, complementar algumas seqüências- Outra técnica adotada para avaliar a pureza
alvo, distribuídas ao longo do genoma. Poste- genética é a conhecida como RFLP. Os marca-
riormente, os locos que passam a apresentar dores genéticos usados na técnica de RFLP (Res-
duas seqüências-alvo em fitas opostas são am- triction Fragment Length Polymorphisms) são co-
plificados pelo processo de reação em cadeia dominantes, o que permite a distinção entre
da polimerase (PCR). Cada um dos fragmentos homozigotos e heterozigotos, propiciando a ob-
amplificados representaria diferentes locos, de tenção de vasta informação genética de um
tamanhos variáveis, que poderiam ser distin- simples loco. No entanto, seu principal inconve-
tos entre si utilizando-se a eletroforese (Ferreira niente para a adoção em larga escala baseia-se
e Grattapaglia, 1996) e que, teoricamente, se- na necessidade de alta quantidade de DNA, o
riam considerados como polimórficos. Porém, que torna a automação do processo de mapea-
é nesse processo que vários autores questionam mento gênico uma atividade difícil (McDonald,
a técnica, em especial por se desconhecer os 1998). Para sobrepor essas dificuldades, várias
parâmetros que governam os eventos de am- técnicas têm sido estudadas, entre elas méto-
pliação na análise RAPD (Binneck, Nedel e dos que empregam microssatélites e marcado-
Delagostin, 2002). res genéticos (fingerprints). No entanto, todas
Os principais problemas da utilização des- essas técnicas têm esbarrado com a necessidade
sa técnica são a sua baixa reprodutibilidade e a de agilizar seu uso com a adoção de processos
pequena resolução das bandas e da caracteri- de análise automatizada e produzir marcadores
zação da homologia dos produtos. O uso dessa e microssatélites em escala que permita criar
metodologia tem adeptos por ser conciderada um mapa genotípico específico.
de baixo impacto ambiental, além de requerer
equipamentos bastante semelhantes aos em-
pregados no estudo de eletroforese (Ferreira e QUALIDADE FISIOLÓGICA
Grattapaglia, 1996; McDonald, 1998).
A avaliação da pureza varietal que emprega Teste de germinação
o método marcador RAPD é utilizada para mui- O teste de germinação consiste em determi-
tas espécies agrícolas, como Glycine max (soja), nar o potencial germinativo de um dado lote
Gossypium hirsutum (algodão), Arachis hipogea de forma a avaliar a qualidade fisiológica das
(amendoim), Triticum aestivum (trigo) (McDo- sementes para fins de semeadura e produção
nald, 1995) e Zea mays (milho) (Zhang, McDo- de mudas (Brasil, 1992; Carvalho e Nakagawa,
nald e Sweeney, 1996). O uso mais freqüente 2000). Como se trata de um teste de controle
da análise RAPD tem sido a identificação de de qualidade, deve ser realizado em ambiente
cultivares de diferentes espécies de interesse de laboratório, sob condições controladas de
nas regiões tropicais, como Lycopersicum esculen- temperatura, teor de água e luz. Dessa forma,
tum (tomate) (Noli et al., 1999) e Carica papaya é possibilitado às sementes expressarem seu
(mamão) (Stiles et al., 1993). máximo poder germinativo e vigor sem que ha-
Para espécies florestais, os testes genéticos ja interferências externas indesejáveis. Os testes
têm como principal finalidade avaliar a diver- de germinação em condições de laboratório ob-
sidade intra e interpopulacional (Kageyama et jetivam qualificar e quantificar o valor das se-
al., 2003a, 2003b). Com esse objetivo, Leite mentes vivas, capazes de produzir plantas nor-
(2001) constatou alta diversidade morfométrica mais sob condições favoráveis de campo (Fi-
nos diásporos de Syagrus romanzoffiana, mas que gliolia, Oliveira e Piña-Rodrigues, 1993). Eles
não permitiu agrupar as matrizes com base em devem ser realizados de acordo com as reco-
(Inga spp.) e angicos (Parapiptadenia spp.), de 1994). O princípio do teste baseia-se na reação
20 dias para os ipês e de 60 dias para algumas do sal 2,3,5 trifenil tetrazólio com íons de H+
palmeiras. As contagens são feitas em interva- resultantes do processo de respiração das se-
los de 3 a 4 dias para as espécies que germi- mentes, formando um composto, o formazan,
nam rapidamente e de sete dias para os perío- que apresenta coloração avermelhada (Piña-Ro-
dos mais longos. drigues e Valentini, 1995). Tecidos deteriorados,
A avaliação e a interpretação dos testes se- no entanto, apresentam danos nas membranas,
guem os conceitos descritos nas RAS, de plân- liberando íons H+ e substâncias que reagem de
tulas normais, anormais, sementes duras, fir- modo intenso com o sal, conferindo aos tecidos
mes, dormentes, mortas e chochas. Considera- uma coloração vermelho-intensa (Marcos Filho,
se normal toda plântula que apresenta as es- Cicero e Silva, 1987; Vieira e Carvalho, 1994).
truturas essenciais do seu embrião desenvolvi- Embora o teste apresente um princípio sim-
das e em condições de produzir uma planta nor- ples, requer treinamento dos analistas e aplica
mal no campo. No entanto, há casos como o de critérios bastante subjetivos, com base na colo-
Platyciamus regnelli e Piptadenia gonoacantha, que ração dos tecidos e na localização e extensão
apresentam a raiz e o hipocótilo reduzidos, não das manchas coloridas. Quando as sementes
compatíveis com a descrição de plântula normal são dormentes, o TZ pode apresentar resulta-
das RAS, mas que têm desenvolvimento nor- dos maiores do que os observados no teste de
mal em viveiro. Os resultados são expressos em germinação, enquanto, para sementes duras,
porcentagem ou em número de plântulas nor- a barreira à penetração do sal nos tecidos pode
mais por unidade de peso (g), como é o caso de levar a uma subestimação dos resultados (Piña-
muitos Eucalyptus sp., Tibouchina mutabilis e T. Rodrigues e Valentini, 1995).
granulosa e de outras espécies que possuem se- O teste pode ser instalado em amostras de
mentes muito pequenas. sementes (100 sementes divididas em repeti-
Um dos grandes problemas é a contamina- ções) que devem ser pré-condicionadas em pa-
ção das sementes por patógenos nas condições pel-filtro umedecido por 16 a 24 horas, à tempe-
de campo. Estudos recentes têm apontado a ratura de 25oC. O procedimento visa permitir a
ocorrência da contaminação da semente já na embebição lenta das sementes de modo a esti-
ocasião de sua formação e de seu desenvolvi- mular o processo de germinação e o preparo
mento (Arguedas, 1997). Para minimizar ou até das mesmas. As sementes podem ser utiliza-
mesmo evitar a contaminação, recomenda-se das inteiras ou preparadas para o teste, realizan-
a esterilização e a limpeza diária do ambiente do-se punção do tegumento, corte ou seccio-
do laboratório com hipoclorito e álcool dos ger- namento da semente, retirada do tegumento
minadores, dos recipientes e dos utensílios em- ou extração do embrião. Essas práticas têm por
pregados. objetivo facilitar o contato do sal com os tecidos
das sementes. Finda a fase de preparação, es-
Testes bioquímicos tas são imersas na solução de sal de tetrazólio3
preparado a concentrações que variam de
Teste de tetrazólio
O teste de tetrazólio (TZ) é um dos testes mais
tradicionais na avaliação da qualidade e do vi-
gor de sementes, tendo sido mais divulgado a 3 A solução de tetrazólio deve manter o pH neutro (6,5 a 7). Caso
partir dos trabalhos de Liberal (1980). Sua prin- seja necessário, o pH pode ser corrigido utilizando-se uma solução-
tampão preparada em quatro etapas: (A) KH 2PO 4 (9,078 g)
cipal vantagem é a rapidez com que fornece re- dissolvido em 1 l de água destilada; (B) Na2HPO42H2O (11,876 g)
sultados confiáveis sobre as sementes, além de em água destilada até completar 1 l; (C) mistura de 400 ml da
não ser afetado pela presença de fungos e bacté- solução A com 600 ml da solução B e, finalmente, (D) dissolução
de 10 g de tetrazólio na solução C. Essa mistura originará uma
rias que constantemente mascaram os resulta- solução-estoque com volume de aproximadamente 1000 ml, con-
dos dos testes de germinação (França-Neto, centração de 1% e pH 7.
0,075% para soja (Kryzanowski, Vieira e Fran- turgescência e brilho representam áreas em de-
ça-Neto, 1999) até 1% para espécies florestais terioração. Zonas não-coloridas podem signifi-
(Aguiar, Piña-Rodrigues, Fifliolia, 1993). As se- car tecidos mortos ou procedimentos inadequa-
mentes permanecem na solução de tetrazólio dos para a coloração dos tecidos; (b) a localiza-
no escuro, uma vez que o tetrazólio também ção das manchas – a presença de danos (áreas
reage com a luz. São colocadas à temperatura não-coloridas ou de vermelho-intenso) em zo-
de 35 a 40oC, conforme a espécie, por período nas críticas das sementes, tais como radícula e
variável de 150 a 180 minutos até 36 horas. eixo embrionário, deve ser avaliada cuidado-
Quando atingem a coloração ideal, as semen- samente pelo analista, associada à sua exten-
tes podem ser retiradas, lavadas e analisadas são e à intensidade de coloração; (c) a presen-
em lupa estereoscópica (aumento de 4 a 6 ve- ça de fraturas e turgência dos tecidos – esses
zes). Caso não sejam analisadas imediatamen- fatores estão ligados à integridade dos tecidos.
te, podem ser conservadas em refrigerador. Com base nesses parâmetros, o analista classi-
A interpretação dos resultados depende de fica as sementes em viáveis e inviáveis, calcu-
padrões definidos para algumas espécies, como lando a percentagem de viabilidade a partir do
os apresentados por Vieira e Carvalho (1994), número de sementes utilizadas e da quantida-
ISTA (1999), Kryzanowski (1999) e, para flores- de classificada como viável. Na Tabela 18.1 são
tais, por Piña-Rodrigues e Valentini (1995). Na apresentados métodos empregados no teste de
avaliação do teste, são consideradas: (a) a colo- tetrazólio. O procedimento específico para es-
ração dos tecidos – sementes com vermelho- pécies do gênero Pinus é ilustrado nas Figura
vivo e túrgidos brilhantes são consideradas sa- 18.1 a 18.3, nas quais são apresentadas as es-
dias; zonas das sementes de cor vermelho-in- truturas completas (Figura 18.1), o método de
tenso, quase grená, com tecidos com perda de preparo e avaliação das sementes (Figura 18.2).
Tabela 18.1 Instruções para o preparo de sementes para emprego do teste de tetrazólio, de acordo com
recomendações de Piña-Rodrigues e Valentini (1995) e de outros autores
3x Corte com 9x
bisturi
9x 1/
3
2/
3
Asa Tegumento externo
Semente
Embrião
(1)
Gametófito feminino
Micrópila
(1) Estilete
18x 9x
(2) 9x
Corte no
Cotilédones tegumento
Ponto
Hipocótilo
de
punção
(3)
(2)
Radícula
! Figura 18.2
(3) Método de preparo das sementes de espécies do
gênero Pinus para realização do teste de tetrazólio.
! Figura 18.1 (1) Preparo das sementes com utilização de cortes.
(1) Estruturas da semente, (2) corte longitudinal da Corte longitudinal da semente com regiões indicadas
semente indicando as estruturas do embriãoe (3) da para realização de corte com bisturi (aumento de nove
plântula de espécies do gênero Pinus analisadas du- vezes); (2) Preparo das sementes por punção – pon-
rante a realização do teste de tetrazólio. to indicado para a realização da punção com estilete
(aumento de nove vezes); (3) vista lateral do ponto
de punção (aumento de nove vezes).
As classes 1 a 4 e a classe 7 são consideradas
viáveis (Figura 18.3).
do individualmente (por sementes) ou em con-
Teste de pH do exsudado junto (teste massal).
Como o de tetrazólio, esse método bioquí- A substância indicadora mais empregada
mico baseia-se nas reações químicas que ocor- é composta por carbonato de cálcio e fenolfta-
rem no processo de deterioração e que podem leína (Na2CO3 + C20H14O4) dissolvidos em água
determinar a redução da viabilidade das semen- destilada em proporções que podem variar de
tes. Seu surgimento deriva da necessidade de 7,5 a 9,5 g por litro da solução indicadora. Essa
obtenção rápida de padrões de qualidade das solução é misturada na proporção de 1:1 com
sementes para atender às exigências de merca- outra solução composta por 5 g de fenolftaleína
do. Seu princípio decorre da reação bioquímica dissolvida em 500 ml de álcool etílico absoluto
entre as sementes com soluções indicadoras (C2H5OH), misturada a 500 ml de água destila-
que reagem com os íons H+ liberados das célu- da e fervida. Antes da montagem do teste, as
las, contribuindo para a acidificação do meio sementes são cortadas longitudinalmente e em-
(Peske e Amaral, 1994). O teste pode ser realiza- bebidas em água destilada. O volume utilizado
! Figura 18.3
Ilustração de diferentes níveis de viabilidade de sementes do gênero Pinus. Classes 1 a 4 – sementes viáveis
e vigorosas; Classes 5 e 6 – sementes não-viáveis, com danos no eixo embrionário; Classe 7 – sementes
viáveis porém não-vigorosas; Classes 8 a 10 – sementes que não germinam.
plântulas normais em uma ampla faixa de (1983). No Brasil, são utilizados os descritos
condições ambientais. Maiores detalhes sobre para espécies agrícolas por Vieira e Carvalho
conceitos de vigor são apresentados no Capí- (1994) e Kryzanowski, Vieira e França-Neto
tulo 17. (1999). Já para as espécies florestais, utilizam-
Os métodos de avaliação do vigor podem ser se os propostos por Valentini e Piña-Rodrigues
classificados em diretos, quando realizados no (1995). Embora apresente variações entre es-
campo ou em condições de laboratório que simu- pécies, o princípio do teste é o de submeter as
lem fatores adversos de campo, ou indiretos, sementes a altas temperaturas (de 40 a 45oC),
quando realizados em laboratório, mas avaliando sob condições de umidade relativa de 90oC a
as características físicas, fisiológicas e bioquími- 100%, por períodos variáveis de 24 a 72 horas.
cas que expressam a qualidade das sementes. Findo o tempo preconizado, as sementes são
Nos últimos anos, os testes de vigor vêm submetidas aos testes-padrão de germinação
sofrendo aperfeiçoamentos resultantes de pes- conforme as RAS (Brasil, 1992) ou de acordo
quisas sobre os processos bioquímicos envolvi- com metodologias propostas para espécies flo-
dos na deterioração. Durante o envelhecimen- restais nativas por vários autores, como Piña-
to dos tecidos, várias alterações bioquímicas e Rodrigues e Vieira (1988), Silva, Piña-
fisiológicas ocorrem, como a redução da pro- Rodrigues e Figliolia (1995).
dução de etileno (Nascimento, 2000), altera- O uso do EA para avaliar o vigor de semen-
ções na replicação celular e na síntese de DNA tes requer a utilização de uma estufa de enve-
e RNA (Cruz-Garcia et al., 1995) e formação de lhecimento (waterjacket incubator), comerciali-
radicais livres (Ferguson, Tekrony e Egli, 1990). zada em todo o Brasil. O método mais simples
Esses processos podem promover efeitos como é a colocação das sementes sobre telas em cai-
radículas anormais nas plântulas de Lycopersicon xas plásticas tipo gerbox adaptadas, contendo
esculentum (tomate), observadas por Van Pijlen ao fundo 40 ml de água destilada. Todo esse
e colaboradores (1995), perdas da viabilidade de conjunto pode ser mantido em estufa incubado-
sementes, como em Pinus elliottii Engelm. var. ra BOD pelo tempo recomendado (Kryzanow-
elliottii (Márquez-Millano, Elam e Blanche, 1991) ski, Vieira, França-Neto, 1999)
e danos aos cotilédones, como observados para A principal vantagem do teste é a sua facili-
Lactuca sativa (alface) (Smith, 1989). dade de controle e de padronização das condi-
ções ambientais na estufa de envelhecimento
Testes de resistência (McDonald, 1998). Como resultado, várias pes-
quisas têm sido realizadas para determinar as
Envelhecimento acelerado (EA) condições a serem adotadas para a utilização
O teste de envelhecimento é um método do EA como teste de vigor (Martins, 2001). É
indireto que simula condições de estresse nas um teste aplicável apenas para a comparação
sementes, gerando uma alta taxa de respiração entre lotes, mas que apresenta boa correlação
e consumo das reservas e acelerando os proces- com o desempenho no campo (Martins, 2001;
sos metabólicos que levam à sua deterioração. Vanzolini e Carvalho, 2002).
Baseando-se no conceito de Heydecker (1972),
de que sementes com alto vigor apresentam Teste de frio
maior tolerância e resistência às condições de O teste de frio foi desenvolvido para simular
estresse, o teste compara lotes identificando condições desfavoráveis em regiões tempera-
aqueles que apresentam melhor comportamen- das. Atualmente, seu uso tem por base o princí-
to germinativo após serem submetidos às con- pio de que sementes mais vigorosas resistem a
dições do envelhecimento acelerado. condições adversas (Marcos-Filho, Cicero e Sil-
Os métodos mais empregados para a reali- va, 1987; Vieira e Carvalho, 1994). Nos testes
zação do EA são os preconizados pela AOSA de frio, são utilizados como substrato o solo da
área de plantio da cultura ou misturas de terra tinguir graus variados de vigor. O princípio des-
e areia na proporção de 2:1 a 1:4 (Gomes et al., se teste considera que sementes mais vigorosas
2001; Menezes, Lersch-Cunha e Storck, 2002). apresentariam plântulas também mais vigo-
Em outra modalidade, utiliza-se o método de rosas. Muito utilizados, os testes de vigor por
rolo de papel. Em ambos os casos, as sementes meio da análise de plântulas foram propostos
são postas a 100C por sete dias; após esse perío- pela International Seed Testing Association
do, são submetidas ao teste de germinação con- (ISTA, 1993, 1999) e pela AOSA (1983) e, para
forme prescrições das RAS. Por sua facilidade, espécies brasileiras, por vários autores como
esse teste tem ampla aplicação com sementes Vieira e Carvalho (1994) e Kryzanowski, Vieira
de culturas agrícolas como soja (Martins et al., e França-Neto (1999).
2000) e milho (Rosa et al., 2000b). Em função de relacionar tamanho com vi-
gor, esse teste exige que sejam utilizadas se-
Testes de vigor com base na análise mentes de tamanhos uniformes para que essa
de germinação variável não interfira no resultado final. Embo-
Os testes mais simples para determinação ra existam controvérsias sobre o efeito do tama-
de vigor são os de velocidade de desenvolvi- nho sobre a qualidade das sementes (Carnei-
mento cujos resultados podem ser obtidos pela ro, Guedes e Anaral, 2001), sementes maiores
análise-padrão de germinação. Os mais utiliza- de espécies como Euterpe espiritosantensis apre-
dos são o tempo médio de germinação, o índi- sentam maior vigor, o que pode afetar a reali-
ce de velocidade de germinação, a primeira con- zação de testes com base no desenvolvimento
tagem do teste de germinação e a análise de das plântulas (Martins et al., 2000).
plântulas (Capítulo 13). Todos esses testes são A instalação dos testes de análise de plân-
classificados como indiretos por serem realiza- tulas pode ser efetuada pelo método de rolo de
dos em condições de laboratório. papel ou sobre papel-filtro (ver teste de germi-
O princípio desses testes baseia-se no pres- nação). Na montagem pelo método rolo de pa-
suposto de que sementes mais vigorosas germi- pel, recomenda-se que seja efetuada em papel
narão mais rapidamente do que outras em con- do tipo filtro (Vieira e Carvalho, 1994). As se-
dições inferiores (Vieira e Carvalho, 1994). Com mentes são depositadas sobre duas folhas de
isso, mesmo sementes com igual germinabi- papel, distribuídas ao longo de uma linha tra-
lidade poderiam apresentar velocidades distin- çada no terço superior do substrato, utilizando-
tas de germinação em função do seu vigor. A se de 10 a 20 sementes por repetição. Caso seja
padronização e a uniformidade do lote a ser necessário, podem ser traçadas duas linhas,
avaliado são necessárias para que fatores como mantendo-se um espaçamento regular entre
tamanho das sementes, sanidade e condições elas. A seguir, assim como no teste de germina-
de germinação (água, luz e substrato) não se- ção, as sementes são cobertas com uma tercei-
jam fontes de variação dentro do teste, além ra folha de papel-toalha, enroladas, protegidas
das inerentes ao próprio vigor (Valentini e Piña- por um saco plástico e depositadas no
Rodrigues, 1995). germinador.
Os testes devem ser instalados seguindo as Outra alternativa é a instalação do teste em
condições preconizadas pelas Regras para Aná- papel-filtro utilizando a metodologia sobre-pa-
lise de Sementes (Brasil, 1992) ou, como no pel. O gerbox ou o recipiente são dispostos no
caso das espécies florestais, por recomendações germinador mantendo um ângulo de 45o com
já publicadas e em uso corrente (Oliveira, Piña- a bandeja (Viera e Carvalho, 1994). Findo o
Rodrigues e Figliolia, 1989; Silva, Piña-Rodri- tempo preconizado pelas contagens, as plân-
gues e Figliolia, 1995). tulas normais obtidas são medidas, simultane-
Os testes de vigor que utilizam a análise de amente, em suas diversas estruturas (radícula,
plântulas fornecem dados adicionais que enri- hipocótilo, epicótilo, cotilédones). Além de da-
quecem o teste de germinação, permitindo dis- dos biométricos das plântulas, pode-se obter o
peso seco. As plântulas, sem suas reservas co- sua forma de uso, recomenda-se a leitura de
tiledonares, são secas em estufa a 80oC por 24 AOSA (1983) e de Vieira e Carvalho (1994).
horas e depois pesadas em balança de precisão Para espécies florestais, esse teste apresenta
de três a quatro casas decimais (Vieira e Carva- problemas devido à necessidade de padronizar
lho, 1994; Kryzanowski, Vieira e França-Neto, o volume de água no qual as sementes serão
1999). Caso se deseje efetuar análises quími- imersas, uma vez que muitas têm tamanho
cas posteriores, as plântulas devem ser secas a grande, em que apenas 75 ml não são suficien-
60oC por 24 a 36 horas, conforme a espécie. Os tes para manter as sementes sob imersão. Ava-
resultados podem ser expressos em peso seco liações efetuadas com sementes de Dalbergia ni-
médio em mg. gra Fr. Allen (jacarandá-da-bahia) indicaram
que o volume de água (100 e 125 ml) utilizado
Testes rápidos de vigor apresenta diferença significativa na realização
O teste de condutividade elétrica (CE) analisa do teste CE e que, isoladamente, o número de
a quantidade de exsudados que são lixiviados sementes não afetou o resultado obtido, mas o
das sementes e tem sido bastante empregado período de imersão dependeu do volume de
na avaliação do vigor de lotes de soja (Vanzolini água utilizado e do número de sementes (Mar-
e Carvalho, 2002). O teste CE pode ser instala- ques, Paula e Rodrigues, 2002a,b,c).
do em dois sistemas: o de condutividade em
massa, que analisa um conjunto de sementes
QUALIDADE FÍSICA
de uma só vez, ou a análise individual, cujo pro-
cedimento é idêntico ao anterior, porém as se- Determinação de umidade
mentes são analisadas individualmente em ban- O teste de umidade visa determinar o con-
dejas com células individuais (Vieira e Carvalho, teúdo de água presente nas sementes com o
1994). A técnica mais empregada atualmente objetivo de estabelecer parâmetros adequados
no Brasil tem sido a condutividade em massa. para a manutenção da qualidade fisiológica das
De modo geral, a técnica consiste em imer- sementes para fins de armazenamento e, princi-
gir as amostras de sementes previamente pesa- palmente, para a comercialização (Silva, 1988).
das (100 sementes divididas em várias repeti- Os testes são realizados de acordo com as
ções) em um recipiente de plástico ou vidro com recomendações ou prescrições das Regras para
75 ml de água deionizada (≅ 2 µmhos/cm de Análise de Sementes (RAS), as quais nem sem-
condutividade), mantida em germinador a 25oC pre são adequadas a determinadas espécies, da-
por 24 horas. Findo esse prazo, a solução de das as grandes variações morfológicas e fisioló-
embebição é ligeiramente agitada, e efetuada gicas das sementes e/ou unidades de dispersão
a leitura da condutividade elétrica empregan- existentes entre as espécies florestais.
do-se um condutivímetro (Digimed cd-21, ASA
610 ou modelos similares). A cada leitura, o
Métodos de estufa
aparelho deve ser calibrado em uma solução
Podem ser empregadas as temperaturas de
de KCl4 . O resultado obtido deve ser dividido
105oC por 24 horas (mais utilizada no Brasil),
pelo peso em gramas das sementes, obtendo-
103oC por 17 horas ou 130oC por 4 horas. Como
se o resultado em µmhoms/cm/g. Para maiores
variação pode-se utilizar o método de estufa a
detalhes sobre o teste e sobre as variações na
70oC até peso constante.
Esse método é utilizado pelos laboratórios
em caráter experimental e realizado comparati-
4 Vieira e Carvalho (1994) recomendam que a calibragem seja efe- vamente ao método de estufa a 105oC por 24
tuada utilizando-se 0,745 g de KCl puro e seco a 150oC por 1 hora e horas. Tem sido testado para as sementes de
resfriado em dessecador, dissolvido em 1 L de água deionizada. Na
calibragem, o aparelho deverá marcar 1273 µmhoms/cm) a 20oC tamanho grande e para as contidas dentro de
ou 1408 µmhoms/cm a 25oC. frutos indeiscentes.
o resultado é expresso em número de plântulas gia útil: Revista Brasileira de Sementes, v.24, n.1, pp.183-
por peso da amostra. Para Eucalyptus citriodora, 196, 2002.
cujas sementes apresentam cerca de 2 a 3 mm BRADFORD, K.J.; COHN, M.A. Seed biology and
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