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Germinação: Do básico ao aplicado.

Book · August 2004

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Fabian Borghetti Alfredo Gui Ferreira


University of Brasília Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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C A P Í T U L O 3

DESENVOLVIMENTO DE SEMENTES
E CONTEÚDO DE ÁGUA
Renato Delmondez de Castro
Kent J. Bradford
Henk W. M. Hilhorst

O ciclo de vida em plantas superiores compre- 3.1C) tem contribuído com indícios sobre os pro-
ende o desenvolvimento de uma semente se- gramas regulatórios que controlam ambos os pe-
guido por sua germinação e o desenvolvimento ríodos (Chlan e Dure, 1983; Dure, 1985; Peng e
pós-germinativo por meio do crescimento da Harberd, 2002; Nambara e Marion-Poll, 2003).
planta. Conforme pode ser visto na Figura 3.1, Ao longo das décadas, diversas espécies tor-
ambos os períodos são marcados por eventos naram-se modelos para o estudo da biologia
fisiológicos específicos relacionados às mudan- da semente. Sementes da Pisum sativum (ervi-
ças distintas no peso fresco, no peso seco e no lha) foram usadas extensivamente para o estu-
conteúdo de água, além de padrões distintos do do desenvolvimento de sementes e da parti-
de expressão de genes representados pelo acú- ção de assimilados (Wang e Hedley, 1991).
mulo de mRNAs específicos. A água acaba por Grãos de cereais têm sido usados para revelar
ter um papel-chave em todos esses processos, as rotas e o controle da mobilização do endos-
na medida em que a semente muda de um esta- perma pela camada de aleurona. Em Zea mays
do metabolicamente ativo para um estado inativo (milho) e Triticum aestivum (trigo), estudos ex-
após a maturação, por efeito da dessecação, re- tensivos foram empreendidos para aprimorar
tornando depois ao estado metabolicamente ativo a qualidade da semente, tanto para a melhoria
durante a germinação (Bewley e Black, 1994; do estande como para o valor nutritivo (Fincher,
Kermode, 1995; De Castro e Hilhorst, 2000). 1989; Jones e Jacobsen, 1991). As sementes de
Os processos morfológicos e fisiológicos que Arabidopsis thaliana arabidopsis (Arabidopsis tha-
ocorrem durante o desenvolvimento e a germi- liana) estão em uso para estudos genéticos e
nação da semente têm sido extensivamente es- moleculares, empregando grandes grupos de
tudados e descritos (Figura 3.1A e B). Entretan- mutantes (Feldman et al., 1994; Meinke et al.,
to, informações sobre os mecanismos regula- 1998). A semente de Lycopersicon esculentum (to-
tórios que controlam esses processos começa- mate) tem sido usada para estudar a fisiologia
ram a surgir somente após a introdução de téc- e a bioquímica do desenvolvimento da semente,
nicas genéticas e moleculares (Bewley e Black, a germinação e a dormência (De Castro e Hi-
1994; Goldberg, De Paiva e Yadegari, 1994; lhorst, 2000).
Harada, 1997; Raghavan, 1997). A análise das Com tudo isso, a compreensão sobre os pro-
mudanças nos padrões da expressão de genes cessos envolvidos no desenvolvimento e na ger-
que ocorrem durante o desenvolvimento da se- minação de sementes expandiu dramaticamen-
mente e o crescimento pós-germinativo (Figura te ao longo das últimas décadas. Contudo, há

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Desenvolvimento Germinação e crescimento

Histodiferenciação Crescimento
(morfogênese) Maturação Dessecação pós-germinativo
(expansão) Germinação
Semente
seca

A
Divisão celular Metabolismo Metabolismo Mobilização
reduzido reativado de reservas
Expansão celular Respiração,
Deposição de reservas síntese de ácidos
nucléicos e
proteínas
Quiescência
(semente seca madura) Alongamento
celular
Dormência
(em alguns casos) Divisão celular

Reparo de
membranas
e DNA

Intolerante à
Intolerante à dessecação Tolerante à dessecação dessecação

B
Conteúdo de água, % peso fresco (———)

Peso fresco (— —) e peso seco (.........)

C
Constitutivos

Embrião-específico

Embriogênese
Proteínas LEA
inicial
Proteínas de reserva abundantes na
embriogênese tardia

LEA / germinação

Germinação-específico

! Figura 3.1
Desenvolvimento e germinação de sementes. Um esquema geral de eventos associados com as diferentes
fases de desenvolvimento, germinação e crescimento pós-germinativo de sementes, incluindo (A) ciclo celular,
eventos metabólicos e de reparo e períodos em que a semente (embrião) é intolerante ou tolerante à desse-
cação; (B) mudanças no peso fresco, no peso seco e no conteúdo de água de sementes inteiras; (C) padrão
de expressão de genes em estádios específicos, por meio de uma representação conceptual do acúmulo de
sete conjuntos de mRNA que ocorrem durante o desenvolvimento da semente. Adaptada a partir de Dure
(1985), Kermode (1995), Comai e Harada (1990) e De Castro e Hilhorst (2000).

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GERMINAÇÃO 51

muito a ser aprendido sobre o controle do de- lativo ao peso seco) diminui, enquanto a maté-
senvolvimento, principalmente nos níveis mo- ria seca substitui a água nas células. Finalmen-
lecular e hormonal. Eventos como a dormência te, o desenvolvimento da maioria das sementes
(ver Parte 2) e a tolerância à dessecação, assim termina com uma fase pré-programada da seca-
como muitos outros assuntos de importância gem de maturação ou dessecação (Figura 3.1A
primordial na ciência da semente devem ser e B). Caracteristicamente, essas sementes são
ainda desvendados. Isso significa que muito es- chamadas ortodoxas porque se submetem a al-
tudo integrado e interdisciplinar ainda é reque- gum grau de secagem ou de dessecação caracte-
rido na ciência das sementes stricto sensu, a fim rístico em função de um declínio rápido do con-
de compreendermos melhor sua função e seu teúdo de água e da diminuição do peso fresco
comportamento. (Bewley e Black, 1994). Isso resulta em uma
redução gradual no metabolismo da semente,
e o embrião passa para um estado de metabolis-
FASES DO DESENVOLVIMENTO mo mínimo ou estado quiescente. Sementes or-
DE SEMENTES todoxas e outras estruturas tolerantes à desse-
Na maioria das sementes, o desenvolvimento cação, como esporos e grãos de pólen, são exclu-
pode ser dividido convenientemente em três fa- sivas quanto ao grau de perda de água tolerado:
ses confluentes (Figura 3.1). A primeira fase é de 90 a 95% da água é removida durante o de-
caracterizada pelo crescimento inicial devido senvolvimento e a dessecação (Black e
primeiramente à divisão celular e a um aumen- Pritchard, 2002). Nesse estado desidratado, a
to rápido no peso fresco da semente inteira e semente pode sobreviver aos estresses am-
no conteúdo de água. Nessa fase, a água repre- bientais e, a menos que esteja dormente, reco-
senta a maior parte do peso da semente (Figu- meçará a atividade metabólica, o crescimento
ras 3.1A e B). Como descrito no Capítulo 1, du- e o desenvolvimento quando as circunstâncias
rante essa etapa, a histodiferenciação e a mor- condutoras à germinação e ao crescimento fo-
fogênese da semente acontecem à medida que rem fornecidas (Figura 3.1), conforme revisto
o zigoto unicelular se submete a divisões mitó- nos Capítulos 8 e 9.
ticas extensivas, e as células resultantes se di-
ferenciam para dar forma ao plano básico do
corpo do embrião (o eixo embrionário e os co- RELAÇÃO FONTE-DRENO NO
tilédones) (Yadegari e Goldberg, 1997). Simul- DESENVOLVIMENTO DE
taneamente, há a formação do endosperma (ou SEMENTES
xenófito, Capítulos 1 e 4) triplóide nas angios- As sementes são dependentes de outras partes
permas ou do megagametófito haplóide nas da planta como fontes de matéria-prima para
gimnospermas (Bewley e Black, 1994). A divi- o crescimento e o acúmulo de reservas (Egli,
são de células acaba relativamente cedo no de- 1998). Obviamente, as folhas são a fonte primá-
senvolvimento da semente. Depois disso, há ria de açúcares produzidos por meio da fotos-
uma fase intermediária de maturação, na qual síntese; mas, em algumas plantas, os tecidos
a semente aumenta de tamanho devido, princi- verdes do fruto também contribuem substan-
palmente, à expansão das células e à deposi- cialmente. Somada à fotossíntese atual, a re-
ção de reservas (normalmente proteínas junto mobilização de carboidratos e particularmente
com lipídeos ou carboidratos) inicialmente nos de aminoácidos (que contêm nitrogênio) de ou-
tecidos de armazenamento (nos cotilédones, no tras partes da planta também pode contribuir
endosperma ou no megagametófito) (Figura para o crescimento da semente. Nutrientes
3.1A e B). Durante essa fase, os vacúolos dimi- minerais são absorvidos pelas raízes e transpor-
nuem de tamanho à medida que os compostos tados principalmente pelo xilema para os brotos
de armazenamento se acumulam e o peso seco e as folhas. Nesses locais, entretanto, tais nu-
aumenta (Capítulo 2). O conteúdo de água (re- trientes são transferidos para a seiva do floema

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e redistribuídos até a semente em desenvolvi-


mento. Todos esses processos são inteiramente
Membrana
dependentes da água e estão em balanço com apoplástica Alta concentração
a sua disponibilidade e com os mecanismos e semipermeável apoplástica de
rotas de absorção e circulação da água dentro solutos na testa

da planta. Como base de todos os processos bio-


lógicos, a água é essencial como carreador de
nutrientes, assim como para todos os proces-
H2O Solutos
sos metabólicos no desenvolvimento da semen-
te. Conseqüentemente, a água e os nutrientes SEMENTE

se movem da planta-mãe para a semente por Embrião


um processo metabolicamente ativo. Apoplasto
A matéria-prima para o crescimento da se-
mente chega quase que exclusivamente pela
seiva do floema. O transporte ou translocação Floema
de seiva via floema é dirigido pela pressão ge-
Solutos
rada por um gradiente osmótico no crivo dos
chamados elementos seletivos (ou células sele-
tivas) e pelas células companheiras do floema FOLHA
(Taiz e Zeiger, 1998). O floema é carregado de
açúcares e outros solutos pelos tecidos-fonte H2O
(como as folhas), causando um influxo da água
e a geração de pressão (Figura 3.2). Nos tecidos- Xilema
Transpiração
dreno (frutos e sementes), os solutos são des-
carregados do floema, resultando no efluxo da
água e em uma redução da pressão nos elemen-
tos seletivos e nas células companheiras do floe-
H2O
ma. O gradiente de pressão dos tecidos da fonte
para os tecidos do dreno conduz o fluxo maciço ! Figura 3.2
de seiva do floema, disponibilizando a água e Relações fonte-dreno em sementes em desenvolvi-
os solutos para os tecidos do dreno (Figura 3.3). mento. Tanto água como solutos são transportados
O transporte do xilema para a semente é muito como seiva para a semente via floema. O descarrega-
mento do floema ocorre no tegumento da semente,
limitado, visto que a semente inclusa no fruto
e os solutos são então translocados e absorvidos pelo
geralmente não transpira e, conseqüentemente, embrião (e/ou endosperma) a partir do apoplasto. O
não extrai a água do xilema. De fato, há evidên- excesso de água é redistribuído para a planta via
cias indicando que o floema descarrega mais xilema, passando por uma membrana apoplástica se-
água na semente do que é transpirado, e que a mipermeável que retém os solutos. Adaptada a par-
água realmente recircula das sementes em de- tir de Bradford (1994).
senvolvimento de volta para a planta por meio
do xilema (Peoples et al., 1985). Sugere-se que
a recirculação da água de volta para a planta evaporação, a partir da superfície das estruturas
também seja parte do mecanismo e da rota da circunvizinhas da semente (Nechiporenko e Ry-
perda de água das sementes nos estágios mais balova, 1983; Goncharova et al., 1985).
tardios do desenvolvimento, durante o período Não se tem evidência de qualquer conexão
da secagem de maturação ou dessecação (Me- simplástica direta (citoplasmática) entre a testa
redith e Jenkins, 1975). Uma outra sugestão é ou tegumento da semente e o embrião ou en-
a existência de um mecanismo passivo por meio dosperma. Dessa forma, os tecidos do embrião
do qual a água é perdida principalmente por são separados do sistema simplástico da planta-

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GERMINAÇÃO 53

Rota / sentido transportado primariamente como aminoácido,


sobretudo glutamina e asparagina. Os nutrientes
Fonte Dreno
minerais também chegam à semente pelo
floema, em alguns casos conjugados a proteínas
específicas, como no exemplo do acúmulo e do
transporte de ferro pela proteína ferritina.
O suprimento de assimilados tem um im-
pacto primordial no número de embriões fertili-
zados que continuam a se desenvolver até a ma-
turidade. A maioria das plantas produz muito
mais óvulos potenciais do que pode realmente
"p alto "p baixo
suportar para o desenvolvimento em sementes
! Figura 3.3
Mecanismo de fluxo de pressão do transporte via floe-
maduras. Fatores que reduzem a fotossíntese,
ma. Os solutos são carregados no floema pelos teci- tais como o estresse hídrico, o sombreamento
dos da fonte (como as folhas), criando uma concentra- ou a desfoliação, podem diminuir drasticamen-
ção elevada que conduz o influxo osmótico de água, te o sucesso no vingamento das sementes. Des-
gerando uma pressão de turgor elevada (Ψp). Nos sa forma, estresses ambientais durante o
tecidos do dreno, o descarregamento de solutos re-
sulta no movimento de água para fora do floema, re-
florescimento e o desenvolvimento inicial da
duzindo a pressão de turgor. A diferença de pressão semente podem ter efeitos drásticos no rendi-
entre os tecidos da fonte e do dreno conduz o movi- mento potencial da planta e da lavoura por in-
mento da quantidade maciça de conteúdos do floema. duzirem o aborto de sementes imaturas. No mi-
Adaptada a partir de Wolswinkel (1992). lho, mesmo sendo relativamente suave, o es-
tresse hídrico logo após a polinização pode cau-
sar o aborto de um grande número de embriões,
mãe e devem receber todos os seus nutrientes enquanto o estresse hídrico mais tardio durante
por meio do apoplasto (espaço extracelular das o desenvolvimento da semente tem efeito me-
paredes celulares) em algum ponto nessa traje- nor (Westgate e Boyer, 1986). Isso acontece de-
tória. Isso ocorre no pericarpo, no pedicelo ou vido à redução no suprimento de sacarose ao
nos tecidos da calaza em monocotiledôneas ou ovário, visto que é possível verificar a inversão
nos tegumentos de dicotiledôneas. O descarre- desse efeito por meio da infusão artificial de
gamento do floema ocorre de forma simplástica sacarose diretamente no caule da planta, sem
por meio dos plasmodesmatas que conectam que as relações hídricas da planta sejam sig-
os citoplasmas de células adjacentes, mas even- nificativamente alteradas (Zinselmeier, Lauer
tualmente os açúcares, os aminoácidos e outros e Boyer, 1995). Estudos em diversas espécies
nutrientes devem ser liberados das células de de plantas indicam que um suprimento mínimo
efluxo para o apoplasto e reabsorvidos por célu- inicial de assimilados é necessário para o vin-
las de influxo no embrião e no endosperma (Pa- gamento da semente e que um suprimento
trick e Offler, 2001; Borisjuk et al., 2002). crescente de assimilados totais permite que um
A composição do fluido do floema varia, maior número de sementes vingadas continue
mas a sacarose é o principal açúcar transporta- a se desenvolver (Egli, 1998).
do na maioria das plantas. Nas monocotiledô-
neas, ela é convertida em glicose e frutose por
meio da enzima invertase enquanto é descar- FISIOLOGIA DO
regada do floema, sendo em seguida ressinte- DESENVOLVIMENTO
tizada após a absorção pelo embrião ou endos- DE SEMENTES
perma. Nas dicotiledôneas, a sacarose geral- Embora muito do interesse humano por semen-
mente não é quebrada durante a transferência tes esteja associado, do ponto de vista nutri-
do tegumento para o embrião. O nitrogênio é cional, à sua composição, a finalidade biológica

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de uma semente é germinar e estabelecer uma maturação. O último componente da qualida-


nova planta. Assim, o desenvolvimento da ca- de da semente a se desenvolver é a habilidade
pacidade germinativa e, na maioria dos casos, de sobrevivência prolongada no estado seco, ou
a habilidade em manter essa capacidade após longevidade no armazenamento (Sanhewe e
a dessecação e a dispersão são aspectos impor- Ellis, 1996b).
tantes da maturação de sementes. Em geral, a
habilidade do embrião em germinar desenvol-
ve-se cedo se a semente for removida do fruto INTERRUPÇÃO DO
prematuramente, mesmo antes do acúmulo de DESENVOLVIMENTO:
peso seco máximo (Figura 3.4). Entretanto, CONTROLE MOLECULAR
nesse estágio, as sementes podem não sobrevi- E DORMÊNCIA
ver à desidratação ou à dessecação. A tolerância Uma vez que as sementes possuem capacidade
a esta desenvolve-se subseqüentemente à aqui- para germinar relativamente cedo ao longo do
sição de capacidade germinativa ou germina- desenvolvimento se removidas do fruto, o que
bilidade, enquanto o vigor da semente (isto é, então as impede de germinar prematuramente
a taxa de germinação) continua a aumentar. A quando ainda estão na planta-mãe? Uma expli-
desidratação prematura nessa fase pode inclu- cação baseia-se no fato de que muitas sementes
sive melhorar a germinação, comparada à de- tornam-se dormentes durante a fase interme-
sidratação de sementes extraídas diretamente diária de maturação, o que as impede de germi-
do fruto sem secagem. A desidratação (ou mes- nar até que estejam plenamente maduras e, fi-
mo uma perda de água relativamente ligeira) nalmente, dispersas (Capítulo 14). Em muitos
faz com que a semente mude o seu programa casos, essa dormência persiste após a dispersão
de expressão de genes do modo de desenvolvi- e requer que condições específicas sejam pre-
mento para o modo germinativo (Kermode, viamente encontradas para que a germinação
1995). Dessa forma, mesmo que as sementes ocorra.
sejam colhidas prematuramente, depois de se- O tema dormência é extensivamente discu-
cas e reidratadas, iniciarão a germinação em tido na Parte 2 deste livro. Entretanto, aborda-
vez de continuar a expressar o programa de se aqui o controle molecular da dormência e
da interrupção do desenvolvimento das semen-
tes pelo hormônio ácido abscísico (ABA). A in-
terrupção do desenvolvimento e a dormência
100 têm sido associadas por muito tempo à presen-
Germinação ça do ABA durante o desenvolvimento da se-
80
% do valor máximo

mente (Finkelstein, Gampala e Rock, 2002;


60
Tolerância à Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002). Carac-
dessecação
teristicamente, os níveis de ABA elevam-se du-
40 Vigor rante a primeira metade do desenvolvimento e
declinam durante os estágios mais tardios da
20 maturação, quando o conteúdo de água da se-
Longevidade
mente diminui (Figura 3.5). Às vezes ocorrem
Desenvolvimento após a antese
dois picos de ABA, como acontece com o
Phaseolus vulgaris (feijão) e a ervilha. O ABA é
! Figura 3.4 detectado no embrião, no endosperma, na testa
Qualidade da semente durante o desenvolvimento.
e em tecidos do fruto, como o pericarpo e o te-
A germinabilidade e a qualidade da semente aumen-
tam seqüencialmente durante o desenvolvimento. Em cido locular que envolve as sementes (Berry e
geral, a habilidade para germinar é a primeira a se Bewley, 1992). Além da supressão da germina-
desenvolver, seguida por tolerância à dessecação, vi- ção precoce, a ação do ABA é relacionada tam-
gor e longevidade no armazenamento. bém a vários outros processos do desenvolvi-

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GERMINAÇÃO 55

100 5

Conteúdo de ABA (UA)


80 4
Germinação (%)

60 3

40 2

20 1

0 0

Histodiferenciação Maturação Dessecação

21 28 35 42 49 56 63 70
Dias de desenvolvimento após a antese

! Figura 3.5
Germinabilidade (curvas com círculos) e conteúdo de ABA (curvas com triângulos) durante o desenvolvimento
de sementes de tomate do tipo selvagem (símbolos fechados) e de tomate sitw mutante deficiente em ABA
(símbolos abertos). A germinabilidade das sementes do tipo selvagem aumenta durante a histodiferenciação
(embrião) e diminui durante a maturação devido à aquisição de dormência, em uma relação direta com o
aumento no conteúdo de ABA (Unidade Arbitrária – UA). Quando o conteúdo de ABA se torna mínimo, a
dormência é gradualmente perdida, e a germinabilidade volta a aumentar. As sementes sitw não adquirem
qualquer nível de dormência após a histodiferenciação, mantendo-se completamente germináveis, em uma
relação direta com o conteúdo de ABA, que é bastante baixo durante todo o desenvolvimento. O conteúdo de
ABA não foi medido durante a fase de dessecação em sementes sitw em função da ocorrência de viviparidade
após a maturação. Adaptada a partir de De Castro e Hilhorst (2000).

mento, incluindo-se a síntese de proteínas de desenvolvimento da semente resulta na forma-


armazenamento, a indução de proteínas LEA ção de sementes sem dormência (Nambara et
(caracterizadas adiante) e a indução da tolerân- al., 2000; Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002).
cia à dessecação. Estudos com plantas contendo A Figura 3.5 exibe os padrões do conteúdo de
mutações que inativam genes relacionados à ABA e de germinabilidade durante o desenvol-
biossíntese ou à percepção ao hormônio mos- vimento de sementes de tomate do tipo selva-
tram que o ABA é um importante regulador do gem ou silvestre (Lycopersicon esculentum cv.
desenvolvimento e da dormência de sementes Moneymaker) e de seu mutante deficiente em
(Koornneef et al., 1989). ABA (mutante sitiens – sitw). Os níveis de ABA
O ABA tem sido associado por muito tempo são até 10 vezes mais elevados em sementes de
com a dormência, principalmente porque o hor- tomate do tipo selvagem do que nas sementes
mônio foi detectado tanto em sementes em de- do mutante. As primeiras podem tornar-se
senvolvimento quanto em sementes maduras; completamente dormentes durante a fase de
sabe-se também que o mesmo é inibidor da ger- maturação, ao passo que as sementes do mu-
minação quando aplicado exogenamente. A tante deficiente em ABA mantêm plena ger-
disponibilidade de mutantes deficientes ou que minabilidade. Dessa forma, a deficiência de
não respondem ao ABA, especialmente em ara- ABA durante o desenvolvimento é associada à
bidopsis (Karssen et al., 1993), tomate (Groot e ausência de dormência primária em sementes
Karssen, 1992) e milho (Tan et al., 1997; White maduras (Capítulos 5 e 6). Essa associação
et al., 2000), demonstra claramente que a au- ocorre somente se o embrião contiver o alelo
sência ou a insensibilidade ao ABA durante o Aba dominante. Cruzamentos entre plantas dos

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56 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

tipos selvagem e mutante indicam que o ABA envolvidos em manter o estado de desenvolvi-
materno (localizado em tecidos da testa e do mento das mesmas, evitando a transição para
fruto) não tem nenhuma influência na dor- o estágio vegetativo ou de crescimento. Em ou-
mência. O aumento no conteúdo de ABA du- tras palavras, as sementes dos mutantes que ca-
rante o desenvolvimento da semente parece ser recem desses genes tendem a progredir direta-
necessário para que haja a indução de dormên- mente do padrão de desenvolvimento para o de
cia. A manipulação do conteúdo de ABA de se- crescimento pós-germinativo, sem a interrupção
mentes por meio da transformação genética do normal do desenvolvimento que precede a desse-
tabaco mostra que a superexpressão de zeaxan- cação.
tina epoxidase, uma das enzimas da rota de sín- Existem atualmente muitas ferramentas
tese do ABA, resulta em fenótipos mais dor- moleculares disponíveis com a finalidade de
mentes, ao passo que a supressão do gene co- analisar a função dos genes no desenvolvimen-
dificador para essa enzima rende fenótipos me- to. A análise da inativação de genes específicos
nos dormentes (Frey et al., 1999). Um aumento e de mutantes (gene knockout and mutant analy-
similar em dormência foi verificado quando sis) é um método revelador de um grande nú-
uma outra enzima da rota de síntese do ABA, a mero de genótipos com características de dor-
9-cis-epoxicarotenóide dioxigenase (NCED), foi mência alteradas em suas sementes, mas que
superexpressada (Qin e Zeevaart, 2002). As se- possuem conteúdos normais de ABA durante
mentes maduras do mutante sitiens deficiente todo o desenvolvimento. Os mutantes são
em ABA podem germinar dentro do fruto car- exemplos de arabidopsis dos tipos abi3, leafy co-
noso (germinação vivípara ou viviparidade) (Ni tyledon (lec1, lec2), que apresentam cotilédones
e Bradford, 1993; Downie, Gurusingle e folhosos, e fusca (fus3), que acumulam anto-
Bradford, 1999) (Figura 3.5). Isso não ocorre cianina nos cotilédones. Todos esses mutantes
nos frutos do tipo selvagem, apesar de os con- apresentam inativação de um único gene e pos-
teúdos de ABA no fim da maturação serem suem fenótipos que são característicos do es-
comparavelmente baixos em ambos os genóti- tado vegetativo da planta, tais como tolerância
pos. Assim, o ABA faz mais do que inibir direta- reduzida à dessecação, meristemas ativos, ex-
mente a germinação. pressão de genes relacionados à germinação e
Além do conteúdo de ABA, a sensibilidade ausência de dormência. Os loci LEC1 e FUS3
a este também pode ter um papel na expressão provavelmente regulam a interrupção do de-
de dormência ou na inibição da germinação senvolvimento, visto que as mutações nesses
(Welbaum e Bradford, 1990; Still e Bradford, genes causam crescimento continuado em em-
1998). Existem cultivares de trigo e milho que briões imaturos (Parcy et al., 1997). A dormên-
exibem viviparidade sob condições ambientais cia controlada por ABA, observada nos mutan-
mornas e úmidas, evento conhecido na prática tes ABA e ABI, pode representar um mecanismo
como brotação pré-colheita. Cultivares suscep- diferente de impedimento da germinação, que
tíveis à viviparidade apresentam uma sensibili- ocorre tardiamente e é aditivo à interrupção do
dade reduzida ao ABA. Análises conduzidas em desenvolvimento controlada pelos genes LEC1
mutantes de arabidopsis e de milho que apre- e FUS3. Mostrou-se, em arabidopsis, que o ABI3
sentam viviparidade levaram à identificação de também é ativo durante processos vegetativos
genes responsivos ao ABA, os quais são respon- de quiescência em outras partes da planta, nas
sáveis por essas características fenotípicas, sen- quais suprime atividades meristemáticas
do codificados por ABI3 e VP1, respectivamente (Rohde, Kurup e Holdsworth, 2000). Uma vez
(Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002). Esses que a maior parte da maturação é defeituosa
genes homólogos codificam fatores de trans- nos mutantes abi3, lec1, lec2 e fus3, nenhuma
crição com função na regulação da expressão dormência é iniciada, e as sementes podem
de genes. Foram identificados como sendo pi- germinar precocemente (viviparidade), sobre-
votais no desenvolvimento de sementes, estão tudo quando combinadas com a deficiência de

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GERMINAÇÃO 57

ABA (Nambara et al., 2000). Os mutantes fus3, TOLERÂNCIA À DESSECAÇÃO


lec1 e abi3 diferem em sua sensibilidade ao ABA; Adicionalmente às principais reservas de arma-
contudo, isso não parece estar correlacionado zenamento (Capítulo 2), algumas proteínas e
com a extensão de viviparidade de cada um açúcares específicos são sintetizados de forma
desses genótipos. Deve-se anotar, entretanto, tardia no desenvolvimento da semente e po-
que a ocorrência de viviparidade depende for- dem estar associados ao desenvolvimento da
temente da umidade relativa (RH) do ar, o que tolerância à dessecação ou à longevidade da se-
compromete conclusões claras. Dessa forma, é mente. Conforme citado, algumas dessas pro-
possível concluir que a indução de dormência teínas foram denominadas proteínas LEA (late
durante o desenvolvimento é uma resposta so- abundant embryogenesis) por se acumularem nos
mente parcial ao ABA, devendo ser preferenci- estágios tardios do desenvolvimento da semen-
almente considerada como um evento de de- te (Figura 3.1C) (Hughes e Galau, 1991). Essas
senvolvimento. proteínas são amplamente conservadas entre
Os mutantes mais conhecidos possuem ca- espécies de plantas e podem ser agrupadas em
racterísticas alteradas de dormência, sendo, po- diversas famílias homólogas (Wise, 2003). São
rém, normais quanto ao conteúdo e à sensibili- caracterizadas por uma composição de aminoá-
dade ao ABA. Os exemplos são o aberrant testa cidos hidrofílicos, o que as torna altamente so-
shape (ats), que apresenta formato aberrante de lúveis em água e resistentes à denaturação em
testa, e os mutantes transparent testa (tt), com altas temperaturas. Elas também se acumulam
testa transparente, em arabidopsis. O mutante em outras partes da planta quando sujeitas à
com sementes do tipo ats tem uma testa com perda de água ou outros tipos de estresses
espessura reduzida, germinando mais rapida- ambientais, assim como em resposta ao ABA.
mente e em porcentagens mais elevadas do que O mecanismo preciso pelo qual atuam per-
sementes do tipo selvagem. Esse mutante pro- manece desconhecido, mas as proteínas LEA
duz óvulos em que os integumentos não se de- podem agir de modo a manter a conformação
senvolvem apropriadamente (Léon-Klooster- de proteínas e/ou estabilidade de membranas
ziel, Keijxer e Koornneef, 1994). Os mutantes durante a desidratação. Há evidência correla-
tt produzem sementes com defeitos na pigmen- tiva considerável de que elas têm função na
tação da testa. Essa modificação na testa da adaptação para e na proteção contra a desidra-
semente pode realçar a absorção de água e oxi- tação e em outras circunstâncias estressantes
gênio, assim como a lixiviação de substâncias (Wang, Vinocur e Altman, 2003).
inibidoras a partir da semente (Debeaujon, Açúcares e oligossacarídeos específicos que
Léon-Kloostergiel e Koornneef, 2000). podem estar associados à tolerância a estresses
Nas sementes que amadurecem no interior também se acumulam tardiamente no desen-
de frutos carnosos, como no tomate e no Cucu- volvimento da semente. Como visto no Capítulo
mis melo (melão), o conteúdo de umidade da 2, a sacarose é o açúcar solúvel mais abundante
semente não declina de modo tão acentuado em sementes maduras, enquanto os açúcares
na maturidade, embora as sementes sejam tole- redutores, como a glicose e a frutose, são vir-
rantes à dessecação e também tenham capaci- tualmente ausentes. Muitas sementes também
dade germinativa (Welbaum e Bradford, 1990; acumulam açúcares dos tipos rafinose, esta-
Groot e Karssen, 1992; De Castro e Hilhorst, quiose, verbascose e oligossacarídeos correlatos
2000). Essas sementes são impedidas de germi- formados pela adição sucessiva de unidades de
nar precocemente no fruto pelo controle hormo- galactose à sacarose (Obendorf, 1997; Peterbauer
nal durante os estágios intermediários do de- e Richter, 2001). O dissacarídeo trealose tem um
senvolvimento (ABA), assim como pelo poten- papel fundamental na tolerância à dessecação
cial osmótico do fruto nos estágios mais tardios em leveduras e em alguns outros organismos
(Groot e Karssen, 1992; Ni e Bradford, 1993). tolerantes à dessecação (Crowe, Hoekstra e

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58 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Crowe, 1992). A molécula de trealose tem a es- longevidade de sementes secas (Leopold, Sun,
trutura apropriada para a interpolação entre os Bernal-lugo, 1994; Buitink et al., 2000). Assim
grupos polares dos fosfolipídeos de membra- como no caso das proteínas LEA, as contribui-
nas enquanto ocorre a perda de água (Figura ções específicas dos oligossacarídeos para a to-
3.6). A substituição da água pela trealose faz lerância à dessecação e para a longevidade de
com que seja mantida a estrutura de bicamada sementes no estado seco permanecem sem es-
(ou camada dupla da membrana) quando no clarecimentos (Buitink, Hoekstra e Leprince,
estado seco. Similarmente, a trealose pode im- 2002; Gurusinghe e Bradford, 2001).
pedir o desenovelamento e a denaturação das Geralmente, o estágio final do desenvolvi-
proteínas durante o processo de desidratação. mento da semente é a dessecação ou desidrata-
Sementes não contêm trealose. No entanto, a ção do equilíbrio de umidade com o ambiente
sacarose, possivelmente junto com os (algumas exceções serão apontadas subseqüen-
oligossacarídeos, pode executar a mesma fun- temente). Assim, as sementes passam por di-
ção na preservação das estruturas de mem- versos níveis críticos de umidade que afetam a
branas e proteínas. Além disso, esses açúcares atividade metabólica e podem causar danos aos
podem promover a formação de um estado de tecidos intolerantes à desidratação (Figura 3.7)
gel, vítreo ou de vidro em tecidos secos. Um (Vertucci e Farrant, 1995; Walters et al., 2002).
estado de gel ou vítreo caracteriza-se por ser Em algumas sementes, a desidratação ocorre
um estado contínuo amorfo que tem viscosi- rapidamente durante apenas alguns dias, en-
dade muito elevada (vitrificação). A presença quanto em outras, sobretudo naquelas do in-
de um estado vítreo retarda extremamente as terior de frutos carnosos, ocorre durante um
reações químicas que podem conduzir à degra- período mais prolongado, podendo ser bem
dação de componentes da semente, impedin- menos acentuada (como no tomate, no melão,
do ainda a fusão de membranas e o conseqüen- etc.). A tolerância à dessecação contribui para
te rompimento da compartimentalização celu- a dispersão de sementes e permite que uma
lar (Buitink, Hoekstra e Leprince, 2002). O espécie sobreviva durante os períodos desfavo-
estado vítreo contribui provavelmente para a ráveis para o crescimento da planta. Muitas

Estado gel/vítreo
(bicamada seca)

Cristalino líquido Cristalino líquido


(bicamada hidratada) (bicamada hidratada)

Cristalino líquido
(bicamada seca com trealose)

! Figura 3.6
Ilustração do mecanismo de “substituição da água” por meio do qual açúcares estabilizam membranas fosfo-
lipídicas durante a secagem e a hidratação. O açúcar (trealose, sacarose, etc.) substitui a água durante a
dessecação, mantendo espaço apropriado entre as cabeças dos grupos polares das moléculas de fosfolipídeos.
Quando as membranas são reidratadas, elas não passam por uma fase de transição (fase gel para fase cristalino
líquido) e, dessa forma, não lixiviam conteúdos celulares. Adaptada a partir de Oliver, Crowe e Crowe, (1998).

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GERMINAÇÃO 59

5
semente muito recalcitrante
(e.g. Avicenia marina)
estresse
mecânico
enchimento de vacúolos vacuolização
afrouxa a área de superfície
cedendo ao volume
hidrólise de
4
NÍVEL DE HIDRATAÇÃO

síntese de proteínas LEA proteínas de reserva

redução de monossacarídeos iniciação processos


e aumento de oligossacarídeos de reparo
síntese de proteínas a partir
dediferenciação de mRNAs armazenados
de organelas
(intacta seca)
catabolismo semente recalcitrante
(secagem rápida) mobilização
3 desregulado
de açúcares
rompimento proteção de
de membranas membranas

GERMINAÇÃO
GERMINÁVEL

2 atividade catabólica
vidro aquoso

destruição do vidro, perda da fase protetora


1
REINÍCIO
EXPRESSÃO DE GENES
RELACIONADOS À
GERMINAÇÃO

VACUOLIZAÇÃO
PÓS-ABSCISÃO*

PRÉ-DESSECÇÃO*

DESSECÇÃO*

QUIESCÊNCIA*

REINÍCIO DO
METABOLISMO*
DIFERENCIAÇÃO DO
EIXO E
DESENVOLVIMENTO

ACÚMULO DE
MATÉRIA SECA

EMBEBIÇÃO E REATIVAÇÃO
DE MEMBRANAS E
ENZIMAS*

PROTUSÃO RADICULAR E
CRESCIMENTO

DESENVOLVIMENTO

! Figura 3.7
Diagrama esquemático da tolerância à dessecação em sementes em relação a eventos de desenvolvimento.
Cinco níveis de hidratação são representados em relação a eventos de desenvolvimento em sementes ortodo-
xas e recalcitrantes. A linha sólida representa o nível de umidade abaixo do qual a secagem é letal para
sementes ortodoxas; a linha pontilhada representa sementes recalcitrantes. Processos de desenvolvimento
(ao longo da abscissa) que estão marcados com asterisco (*) não ocorrem em sementes recalcitrantes. Adap-
tada a partir de Vertucci e Farrant (1995).

sementes também exibem mecanismos de dis- SEMENTES RECALCITRANTES


persão relacionados à dessecação de tecidos, Embora a maioria das sementes seja tolerante
como os que ejetam as sementes do fruto ao se à dessecação na maturidade, sementes de mui-
completar a secagem; existem ainda os meca- tas espécies não o são. Estas têm, em geral, pe-
nismos que permitem que as sementes sejam ríodos de vida muito limitados no armazena-
carregadas pelo vento ou pelos animais. mento, morrendo devido à secagem. Essas se-

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60 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

mentes, denominadas “recalcitrantes” devido ocorridos durante a desidratação, para assim


à dificuldade de armazená-las, incluem muitas fornecer indícios dos mecanismos pelos quais
lavouras perenes economicamente importan- a tolerância à dessecação é alcançada em se-
tes, incluindo o Theobroma cacao (cacau), o Citrus mentes ortodoxas (ou seja, sementes tolerantes
sp. (citrus), a Mangifera indica (manga), a Hevea à desidratação). Revisões recentes identificam
brasiliensis (seringueira), a Elaeis sp. (palma de diversos fatores que podem contribuir para a
óleo) e o Cocos nucifera (coco) (Roberts e King, tolerância à dessecação de tecidos de planta
1980). A maior parte das sementes recalcitrantes (Pammenter e Berjak, 1999; Buitink, Hoekstra
se adapta aos climas tropicais, mas há muitas e Leprince, 2002): (1) características físicas das
espécies de árvores das zonas temperadas, como células, como o volume vacuolar reduzido; (2)
de Quercus robur (carvalho), que também pro- regulação das rotas metabólicas para impedir
duzem sementes recalcitrantes, sendo geralmen- a geração de compostos prejudiciais durante a
te grandes em tamanho (Hendry et al., 1992; desidratação; (3) sistemas antioxidantes para
Finch-Savage, Pramanik e Bewley, 1994). A vida impedir os danos causados por radicais reativos
curta de sementes recalcitrantes causa sérios de oxigênio ou radicais livres; (4) acumulação
problemas para a conservação de germoplasma de proteínas e solutos protetores, como proteí-
dessas espécies em longo prazo (Capítulo 17). nas LEA, açúcares e moléculas anfipáticas; (5)
Na verdade, o termo recalcitrante abrange mecanismos para impedir a fusão de membra-
uma larga escala de tolerância à dessecação e nas; e (6) operação de sistemas de reparo du-
de comportamento das sementes quanto ao ar- rante a reidratação.
mazenamento. Nas formas mais extremas, As sementes recalcitrantes são freqüente-
como as espécies que ocorrem nos mangues, o mente deficientes em um ou mais desses meca-
desenvolvimento da semente prossegue direta- nismos. Por exemplo, muitas delas têm con-
mente da maturação para a germinação, esca- teúdos de água elevados na maturidade, apre-
pando da fase de desidratação, germinando sentando grandes vacúolos nas células. Durante
muitas vezes quando ainda unida à planta-mãe. a desidratação, a própria perda de volume pode
Em outros casos, a semente consegue tolerar resultar em danos mecânicos estruturais que
uma extensão limitada de desidratação, poden- não são corrigidos durante a reidratação. Se-
do ser armazenada por semanas ou meses, mas mentes recalcitrantes também são aparente-
não pode ser seca ao equilíbrio com umidade mente incapazes de regular seus processos me-
relativa nem ser congelada. Algumas semen- tabólicos durante a desidratação de modo a im-
tes, como Coffea sp. (café) e Azadiracta indica pedir os desequilíbrios metabólicos que podem
(nim), são classificadas como “intermediárias” resultar na geração de compostos danosos,
por apresentarem um tipo de comportamento como radicais livres (Hendry et al., 1992). Al-
em que podem ser desidratadas a conteúdos ternativamente, podem faltar sistemas antio-
de água relativamente baixos, mas ainda as- xidantes eficientes para impedir os danos de
sim apresentam longevidade relativamente cur- tais compostos oxidantes. Algumas sementes
ta, podendo ser também altamente sensíveis a recalcitrantes não acumulam proteínas do tipo
danos de embebição ou a temperaturas baixas LEA (Finch-Savage, Pramanik e Bewley, 1994;
(Ellis, hong e Roberts, 1990; Sacandé et al, Farrant et al., 1996). Da mesma forma, há uma
1996a). Parece existir uma larga escala de com- escala de acúmulo de açúcares e de oligos-
portamentos de tolerância à dessecação e de sacarídeos em sementes recalcitrantes (Lin e
armazenamento entre a diversidade de espéci- Huang, 1994). Assim, é difícil identificar cau-
es classificadas como recalcitrantes (Kermode sas específicas para a intolerância à dessecação
e Finch-Savage, 2002). em sementes recalcitrantes, o que pode ser o
As sementes recalcitrantes têm sido estuda- resultado de uma combinação dos fatores men-
das a fim de identificar as causas dos danos cionados.

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GERMINAÇÃO 61

QUALIDADE DA SEMENTE: mente imaturas e a longevidade reduzida de


EFEITOS DA MATURIDADE tais sementes.
A qualidade máxima da semente (com respeito Os efeitos da maturidade na qualidade da
à germinação e ao vigor) é tradicionalmente semente são particularmente evidentes em es-
associada à acumulação do peso seco máximo pécies de crescimento indeterminado, nas quais
(chamado também de maturidade fisiológica o florescimento e a produção de sementes se
ou maturidade de massa) (Egli, 1998). Esse estendem por um período longo. Em brassicas,
ponto marca a supensão do transporte do floe- como em Brassica napus Brassica napus (canola)
ma à semente, e, em alguns casos, mudanças e em Brassica oleracea (repolho), o florescimento
específicas ocorrem nos tecidos que ligam a se- progride da base (extremidade proximal) para
mente à planta-mãe (por exemplo, a formação o ápice (extremidade distal) de uma inflores-
da camada preta em pedicelos de milho). A in- cência individual, e inflorescências múltiplas
terrupção da importação da seiva do floema e/ são produzidas em momentos diferentes na
ou a separação da semente da planta-mãe na mesma planta (Still e Bradford, 1998) (Figura
região do funículo podem ser o sinal para o iní- 3.8). Assim, sementes de vários estágios de de-
cio da fase final (pré-abscisão) do desenvolvi- senvolvimento estão presentes na planta de
mento da semente. Logo após esse ponto, as forma simultânea. Similarmente, o floresci-
sementes que estão secas na maturidade come- mento em Daucus carota (cenoura) progride das
çam a perder água. Entretanto, a qualidade da umbelas primárias para as umbelas secundárias
semente, medida por sua longevidade no ar- e terciárias durante o desenvolvimento repro-
mazenamento, continua a aumentar após o dutivo (Oliva, Tissaoui e Bradford, 1988). Em
ponto de peso seco máximo. Conforme a espé- tais casos, os efeitos da maturidade na quali-
cie, os últimos 5 a 10 dias do desenvolvimento dade da semente são exarcebados pelo fato de
da semente, antes da desidratação, assim como que nessas espécies as sementes são dispersa-
a taxa de secagem têm uma influência impor- das ao amadurecem. Desse modo, torna-se um
tante na qualidade e no vigor subseqüentes da risco retardar a colheita para permitir a
semente (Demir e Ellis, 1992; Sanhewe e Ellis, maturação das sementes tardias no desenvol-
1996a,b) (Capítulo 18). vimento, visto que pode ocorrer deiscência e
Os efeitos do desenvolvimento na qualida- perda de sementes que já se encontram madu-
de da semente podem ser observados em se- ras antes da colheita. Por outro lado, antecipar
mentes de melão (Welbaum e Bradford, 1989; a colheita resulta em um número maior de se-
Welbaum, 1999). Perto da colheita, sementes mentes imaturas de baixa qualidade que po-
jovens (menos de 45 dias após a antese) germi- dem ser difíceis de remor por métodos tradici-
nam pouco em função de dormência, que é ra- onais de limpeza e classificação durante a eta-
pidamente perdida durante o armazenamento pa de beneficiamento (Capítulo 17).
pós-colheita. Entretanto, após seis anos de ar- A supermaturação (ou maturação excessi-
mazenamento com conteúdo de umidade de va) também pode ser prejudicial à qualidade
6% e temperatura de 10°C, as sementes relativa- da semente. Em sementes que secam natural-
mente imaturas perdem viabilidade, enquanto mente durante a colheita, a maturação excessi-
as sementes maduras não. Quando estas são va não tem significado de desenvolvimento, e
submetidas a condições controladas de deteri- se a semente não for colhida de imediato, o en-
oração (alta temperatura e umidade por um pe- velhecimento e a deterioração podem ocorrer
ríodo curto), somente as sementes colhidas aos enquanto ela ainda estiver na planta. Isso acon-
50 dias ou mais após a antese mantêm a viabi- tece quando a temperatura e a umidade são
lidade elevada. Esse exemplo ilustra, ao mes- elevadas. Para as sementes que amadurecem
mo tempo, o efeito benéfico de curto prazo do dentro de um fruto carnoso, como as de abóbo-
armazenamento seco sobre sementes relativa- ra e melão, a maturação excessiva é geralmente

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62 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Distal Síliqua Grupo Brassica


100
Grupo
1-20 1 na síliqua
80

Conteúdo de água (%PF)


1
21-40 2 2
60 3
4
41-60 3 5
40

61-80 4
20

81-100 5
0
33 40 48 54 61

Proximal Dias após o


florescimento completo

! Figura 3.8
Padrão indeterminado de florescimento em um racemo de Brassica. O diagrama à esquerda mostra que o
florescimento progride da extremidade proximal para a distal em uma dada inflorescência ou racemo. A
figura à direita mostra que a maturidade das sementes (conforme indicado pelo conteúdo de água decrescente)
também progride da extremidade proximal para a distal do racemo. Adaptada a partir de Still e Bradford (1998).

prejudicial à qualidade da semente. O atraso BORISJUK, L.; WANG, T. L.; ROLLETSCHEK, H.;
na colheita de frutos de melão (a ponto de co- WOBUS, U.; WEBER, H. A pea seed mutant affected in
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meçarem a se deteriorar no campo) causa perda
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Germinação_03ok.p65 62 17/05/2004, 17:42


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Germinação_03ok.p65 65 17/05/2004, 17:42


C A P Í T U L O 4

TIPOS DE DIÁSPOROS
E SUAS ORIGENS
Maria Estefânia Alves Aqüila

Em pesquisas que envolvem fruto e semente é Gaertner, em 1788, definiu fruto “o ovário
muito comum a utilização imprecisa de con- desenvolvido, portando, as sementes já feitas”
ceitos, observável em frases facilmente encon- (Font-Quer, 1977). Constata-se que essa defi-
tradas na literatura como as que seguem: “os nição exclui os frutos partenocárpicos. Ao longo
endocarpos germinaram em 30 dias”; “as se- do tempo, outros conceitos foram propostos,
mentes foram escarificadas pela remoção da le- dentre eles o de Barroso e colaboradores (1999),
ma e da pálea”; “as dosagens de açúcares foram que definem fruto “como o último estádio de
feitas nos cotilédones e no embrião”. Essa uti- desenvolvimento do gineceu fecundado ou
lização incorreta da nomenclatura conduz a não”. Essa definição já inclui os frutos parte-
equívocos tanto na compreensão do texto como nocárpicos, mas continua sendo apenas mor-
na reutilização da informação. fológica.
Outro aspecto que envolve a nomenclatura As duas definições fornecidas excluem to-
dessa área é o uso de termos que se consagra- das as estruturas classificadas como pseudo-
ram, mas nem por isso são os mais adequados frutos (Vidal e Vidal, 2003) e dificultam a ca-
ou corretos para conceituar as estruturas que racterização da unidade experimental quando
identificam, como endosperma, óvulo, ovário, essas estruturas são estudadas em seu aspecto
entre outros. Um erro não deixa de ser um erro, funcional, ecológico ou tecnológico. Devido à
e repeti-lo mil vezes não o transforma em um essa dificuldade, no início do século XX, Sin-
acerto: apenas perpetua a ignorância. nott (1935) e, mais tarde, Nitsch (1965) propu-
Confundir fruto com semente tem sido seram uma definição funcional, na qual “um
uma constante desde o século XVIII (Font- fruto consiste daqueles tecidos que contêm os
Quer, 1977). Por isso, este capítulo tem por obje- óvulos da planta sendo fisiologicamente depen-
tivo analisar alguns dos conceitos mais utiliza- dentes das mudanças que ocorrem nos mes-
dos e propor aquele que seria o mais adequado mos”. Por essa definição, os pseudofrutos são
em condições experimentais. Os assuntos es- considerados frutos, mas os partenocárpicos,
tão organizados na seguinte ordem: conceito não, pois estes carecem de óvulos.
de diásporo, sua classificação e sua origem. As Semente, na conceituação morfológica, é
citações entre aspas são transcrições literais. definida como o último estádio de um rudimen-
to seminal (óvulo) fecundado e plenamente de-
senvolvido. Essa definição é ostogenético-estru-
CONCEITO DE DIÁSPORO tural e não satisfaz que o aspecto funcional,
Não se pode falar em diásporo sem esbarrar nas uma vez que nem sempre as estruturas que exer-
dificuldades conceituais encontradas nas áreas cem a função de disseminar uma angiosperma
morfológica, fisiológica, ecológica e tecnológica. se enquadram nessa definição de semente.

Germinação_04ok.p65 67 19/05/2004, 10:59


68 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

A inexistência de uma definição apropriada Nas definições de Overbeck e Müller não


para as áreas fisiológica, ecológica e tecnológica está implícita a necessidade de existir um em-
acarreta as impropriedades já mencionadas na brião para que uma estrutura vegetal seja consi-
introdução, quando estruturas como frutos se- derada um diásporo, diferindo, quanto a esse
cos, “caroço” e até flores são designadas como aspecto, das conceitualizações de Sernander e
sendo sementes. Ferreira. Por outro lado, as definições de Over-
Alguns pesquisadores mais cuidadosos, in- beck e Müller podem ser confundidas com o
comodados com essas impropriedades, passa- conceito de propágulo, definido por Ferreira
ram a utilizar o termo diásporo para identificar (1994) como: “designação de orgânulo desti-
as unidades funcionais e experimentais. Contu- nado a multiplicar vegetativamente as plantas,
do, esse termo merece ser analisado antes de e que pode ser: sorédio (liquens), estolho (fane-
ser empregado de forma indiscriminada. rógamas), bulbilhos (agaváceas), fragmentos
Para Overbeck, citado por Angely (1959), de talo (liquens), corpúsculos especiais, etc.”
“diásporo é qualquer órgão vegetal que serve pa- O conceito de diásporo, proposto por Ser-
ra espalhar e disseminar uma espécie, não im- nander (1927) ou por Ferreira (1994), coincide
portando se de origem sexuada ou assexuada”. com a visão fisiológica, ecológica e tecnológica
Font-Quer (1977) cita duas definições de de semente, uma vez que, nessas áreas, as se-
diásporo: a de Sernander 1927 definiu diásporo mentes são as estruturas que têm por função
como “diásporo é a estrutura constituída de um garantir a sobrevivência, a disseminação e a va-
ou vários embriões acrescidos do complexo riabilidade genética de uma espécie, constituin-
orgânico que os rodeia, e que a planta separa do a forma mais compacta e eficiente de preser-
de si para sua propagação”; e a de Müller, que, vação de um genoma, sendo este conceito, por
em 1933, a definiu como um complexo orgâni- sua abrangência, adequado para a caracteriza-
co autônomo formado pela planta e destinado ção genérica das unidades experimentais utili-
à propagação e à preservação”. zadas nessas áreas de pesquisa.
Ferreira (1994) define diásporo como á Concluindo, fica a sugestão de utilização
“unidade orgânica destinada à propagação das do termo diásporo sempre que as unidades ex-
plantas superiores, e que consiste essencial- perimentais não forem tão-somente uma se-
mente no embrião, acompanhado de estruturas mente, mas abrigarem um embrião.
acessórias, podendo ser uma semente, um fru-
to, um bulbilho, etc”. Nesse elenco de exemplos,
o bulbilho não está adequado, uma vez que essa CLASSIFICAÇÃO DOS
estrutura é definida pelo próprio Ferreira como: DIÁSPOROS
“(1) pequeno bulbo imaturo que nasce na base Não existe uma classificação para os diásporos,
ou nos catafilos de um bulbo adulto, (2) qual- uma vez que esse conceito abriga, sob a mesma
quer tubérculo pequeno, como os de algumas definição, estruturas muito diferentes quanto
begônias e aspargos, (3) gema aérea que nasce à sua ontogenia e morfologia, mas que são fun-
na axila da folha, sobre esta, ou na inflores- cionalmente iguais.
cência, e origina um novo indivíduo”. Segundo As classificações propostas para os frutos po-
Font-Quer (1977), “bulbilho é uma gêmula epí- dem ser utilizadas para classificar os diásporos,
gea (gema aérea) transformada em órgão de não se perdendo de vista o fato de que as inúme-
multiplicação vegetativa com a parte axial e os ras propostas de classificação surgidas nos últi-
catáfilos mais ou menos engrossados e ricos em mos 200 anos produziram muitos conceitos utili-
substâncias de reserva; nascem da axila de uma zados de forma diferente pelos anatomistas
folha comum (Ficaria, Dentaria, Saxifraga), nas (Esau,1974; Fahn, 1982; Mauseth, 1988; Cutter,
inflorescências (diversos tipos de Allium) ou so- 1971; Appezzato-da-Glória e Carmello-Guerrei-
bre as próprias folhas (em várias pteridófitas)”. ro, 2003) e pelos morfologistas (Spjut, 1994;

Germinação_04ok.p65 68 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 69

Barroso et al., 1999). Dentre essas classificações, O caroço típico das drupas não é semente
os frutos secos indeiscentes e monospérmicos porque não se ajusta à definição das mesmas,
são os mais confundidos com sementes, porque, uma vez que, nessa estrutura, as células do en-
com freqüência, constituem as unidades experi- docarpo se transformam em macroesclereídeos
mentais nos ensaios de germinação. durante o desenvolvimento do fruto, formando
O Quadro 4.1 relaciona estruturas que uma estrutura difícil de ser removida (Souza,
deveriam ser chamadas de diásporos quando Moscheta e Mourão, 2003).
utilizadas como unidades experimentais, uma A etimologia do termo endocarpo diz que
vez que, conceitualmente, é mais apropriado endo equivale a interno, e carpo, do grego χαρπóς,
dizer que os diásporos de alface germinaram significa fruto. Literalmente, o termo endocar-
em 12 horas do que chamar aquênio (um tipo po significa um fruto interno, sendo utilizado
de fruto seco) de semente. para identificar a camada mais interna do pe-
As espiguetas fazem parte da inflorescência ricarpo, que pode se formar pela metamorfose
das gramíneas. Nesse caso, quando o tratamen- sofrida pela epiderme interna (adaxial) da folha
to pré-germinativo é a remoção das glumas, po- carpelar durante a transformação do ovário em
de-se estar, de fato, colocando a semente para fruto. Tanto pelo significado da palavra endo-
germinar, de forma que é inadequado dizer que carpo como pelo fato de este ser formado por
a semente foi escarificada pela remoção das glu- um tecido que pode estar morto, no caso dos
mas. Nenhuma semente é escarificada pela re- caroços, não é apropriado usá-lo como sinôni-
moção das partes florais. mo de semente ou mesmo de diásporo. Nesse
Caroço, do latim core, “coração, núcleo”, é caso específico, fica estranho estudar a germi-
o termo que identifica o núcleo, lenhoso e mui- nação de um tecido morto.
to duro, dos frutos do tipo drupa (Ferreira, Barroso e colaboradores (1999) usam o ter-
1986). mo pirênio como sinônimo de endocarpo le-

Quadro 4.1 Exemplos de estruturas que deveriam ser chamadas de diásporo, segundo a conceituação
de Sernander (1927; apud Font-Quer, 1977), em ensaios de germinação, armazenamento e tecnologia

Tipo Taxa Autor

Semente* Feijão, Limão, Pitanga, Abacate Geral


Aquênio Alface, Girassol Geral
Glande Quercus, Carvalho Fahn (1982)
Cariopse Milho Geral
Espigueta Paspalum, Arroz, Trigo, Centeio Geral
Sâmara Tipuana, Casuarina, Cavanillesia, Ulmus Fahn (1982)
Caroço Pêssego, Manga Fahn (1982)
Palmeiras Fahn (1982), Spjut (1994)
Ocotea puberula
Nectandra megapotamica Souza et al. (2003)
Cipsela Asteraceae
Noz Valleriana, Tillia Fahn (1982)
Esquizocarpo do tipo mericarpo Malváceae Fahn (1982)
Cremocarpo Umbeliferae Fahn (1982)
Samarídeos Tipuana, Bamebeya, Serjania Barroso et al. (1999)
Cremocarpo indeiscente Lilaeopisis Barroso et al. (1999)
Coca indeiscente Sebastiania, Hura Barroso et al. (1999)
Mericarpo indeiscente Sida Barroso et al. (1999)
Pinhão Araucaria angustifolia Aqüila e Ferreira (1984)

*São sementes por se enquadrarem na definição morfológica de semente.

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70 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

nhoso. Contudo, em grego, pirênio (πνρητον) depende de fatores fisiológicos, ligados ou não
é diminutivo de pireno, termo que significa um- a ritmos que desencadeiam a floração. Para que
bigo (Font-Quer, 1977), tendo sido usado, por uma planta floresça, são necessários um ama-
analogia, para designar o caroço devido à posi- durecimento fisiológico e um estímulo ambien-
ção central que o mesmo ocupa no fruto. Assim, tal, o qual pode ser o comprimento da noite
para os pesquisadores que têm dificuldade em (curta ou longa) ou a alternância de tempera-
utilizar o termo caroço, por considerá-lo banal, tura ou de umidade (estação seca e chuvosa).
recomenda-se o uso do termo pireno como si- Os fatores internos e externos agindo em
nônimo de caroço. conjunto determinam a fenologia da planta.
Como exemplo, temos Senna macranthera e
Leucaena leucocephala, espécies que, em Porto
ORIGEM DOS DIÁSPOROS Alegre, florescem no início do verão. Observou-
A definição de diásporos envolvendo a presen- se que o lado da árvore que recebe o sol da ma-
ça de um embrião mostra que os mesmos têm nhã floresce antes daquele que recebe o sol da
origem no processo de reprodução sexuada, im- tarde, e que, se essas espécies forem submeti-
portantíssima para a manutenção da variabili- das a um verão quente e seco, de forma que a
dade genética das espécies, sendo impossível árvore sofra um grande estresse hídrico (fique
falar em origem dos diásporos sem referir-se murcha), produzirão uma florada extra no final
às estruturas esporofíticas que compõem a flor. da primavera. As sementes produzidas na
Embora para Font-Quer (1977), em termos florada extra serão menos dormentes que as pro-
botânicos, não exista flor stricto sensu, essas es- duzidas na florada habitual.
truturas são definidas como o conjunto de hip- O ponto inicial da ontogenia de um diás-
sófilos coloridos (ou antófilos do perianto, mais poro pode ser definido de uma forma ampla ou
ou menos vistosos) acompanhados ou não de restrita. De forma ampla, o diásporo começa
estames e pistilos. no estabelecimento da flor, e qualquer evento
Assim, todos os eventos envolvidos no apa- que impeça o desenvolvimento desta também
recimento e no desenvolvimento das flores, di- impedirá sua formação. De forma mais restrita,
reta ou indiretamente, interferem na formação o diásporo começa com a dupla fecundação que
dos diásporos, cuja origem está na metamorfose ocorre dentro do ginófito (saco embrionário);
sofrida pela flor após os eventos de polinização portanto, para se entender a origem dos diás-
e fecundação. poros, deve-se compreender a origem das se-
Esses eventos fazem parte da dinâmica ca- mentes, a qual está vinculada à planta feminina
racterística do processo de reprodução sexuada, que se forma dentro da estrutura conhecida
que envolve uma alternância de geração, for- como pistilo, no qual é possível reconhecer as
mada por organismos (seres) distintos quanto seguintes partes: o estigma, o estilete e o ovário.
à estrutura e à forma de reprodução (Cocucci e Um ou mais pistilos constituem o gineceu.
Mariath, 1995). Dentro do ovário, formam-se estruturas
Dentro dessa seqüência, nas espermatófi- usualmente denominadas óvulos. Contudo, Lin-
tas, o organismo denominado esporófito é au- né (apud Font-Quer, 1977) propôs que tais es-
tótrofo, independente, possui genoma diplóide truturas fossem nominadas rudimentos semi-
e reprodução assexuada mediante a produção nais. Assim, levando em consideração a etimo-
de esporos. Os outros organismos, denomina- logia das palavras, o termo rudimento seminal
dos andrófito e ginófito, têm vida parasitária, é o mais correto para identificar com mais pre-
genoma halóide e se reproduzem sexuadamen- cisão essas estruturas formadas pelo ginospo-
te mediante a produção de gametas. rângio (nucelo) envolto pelos tegumentos, re-
O aparecimento da geração gametofítica presentando o início de uma semente. Em um
depende da expressão de genes relacionados estágio mais avançado, o ginosporângio origina
com a determinação do sexo, que, por sua vez, o ginófito.

Germinação_04ok.p65 70 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 71

A Figura 4.1 é um esquema que mostra a integumento no que se refere a rudimento se-
estrutura de um rudimento seminal e a correla- minal e tegumento no que se refere à semente.
ção existente entre essa estrutura e a da semen- O prefixo “in” significa interno; por isso, é ade-
te que originará, usando-se como modelo Senna quada sua associação ao termo tegumento, uma
macranthera. vez que o mesmo sempre é interno por recobrir
Observando-se o esquema apresentado na o rudimento seminal, que nunca deixa o
Figura 4.1, nota-se a possibilidade de se dis- gineceu antes de se transformar em semente.
tinguir, no rudimento seminal, as seguintes es- Alguns livros nominam de primina e secundina
truturas, de fora para dentro: funículo, integu- os integumentos do rudimento seminal, tratan-
mentos delimitando a micrópila e o ginófito. A do-se, respectivamente, do integumento
seguir, serão abordados alguns aspectos da me- interno e do integumento externo.
tamorfose dessas estruturas. Micrópila é um pequeno poro formado pelo
encontro de um ou ambos os integumentos.
Funículo → Hilo Quando não estão em linha reta, diz-se que a
O funículo é uma estrutura auxiliar, sendo micrópila está em ziguezague.
o órgão que une o rudimento seminal à placenta Embora haja muita variação quanto ao nú-
desenvolvida no ovário. É a via por onde o rudi- mero de integumentos que recobrem o ginos-
mento seminal é vascularizado. Comparado porângio, esse caráter apresenta grande estabi-
com os animais, seria uma espécie de cordão lidade dentro das diferentes taxa (Maheshwa-
umbilical. Apresenta uma grande variedade de ri, 1950). Segundo Bauman (1984), os rudimen-
formas (La Rue, 1954; Gunn, 1981), sendo uma tos seminais podem ser unitégmicos, bitégmi-
estrutura geralmente efêmera, deixando na se- cos ou atégmicos, e os dados de Davis (1966),
mente uma cicatriz conhecida como hilo. Nos organizados por Bauman, são apresentados na
casos em que permanece, pode originar os arilos Tabela 4.1.
(van Der Pijl, 1982). Durante o desenvolvimento, os integumen-
tos que cobrem o ginosporângio podem sofrer
Integumentos → Tegumentos uma simplificação drástica, de forma que, na
Para evitar confusão entre rudimento se- semente, o tegumento fica reduzido a uma pelí-
minal e semente, quando se está tratando dos cula delgada ou desaparece totalmente (Mau-
envoltórios, é aconselhável o uso dos termos seth, 1988). Nesse último caso, as funções do

A B
c
a x

p
y
s r
n z

o
t
e
f m

! Figura 4.1
Esquema mostrando a correspondência entre a estrutura do rudimento seminal (A) e a da semente madura
(B), ambas em corte longitudinal mediano usando Senna macranthera como modelo. p = primina (tegumento
externo do rudimento seminal) s = secundina (tegumento interno do rudimento seminal), c = calaza, a =
antípodas, n = núcleo secundário, o = ovocélula, t = sinérgides, f = funículo, x = testa (tegumento da
semente), e = xenófito (endosperma), y = embrião, m = micrópila, r = nucelo, z = nervura dos cotilédones
(Aqüila, 1995).

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72 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

Tabela 4.1 Distribuição de rudimentos seminais, nas duas divisões das angiospermas, com base no
número de integumentos (os dados estão em porcentagem do número de famílias estudadas)

Número de famílias Bitégmicos Unitégmicos Atégmicos

Monocotiledôneas 69 100 0 0
Dicotiledôneas 341 70,57 28,26 1,17

Dados de Davis, 1966, organizados por Bauman, 1984.

tegumento são exercidas por tecidos do espo- capas (Figura 4.2). O integumento externo do
rófito. Contudo, o mais freqüente é o desenvol- rudimento seminal origina a testa, que também
vimento dos integumentos do rudimento semi- pode apresentar três capas: a endotesta (que é
nal, em produzirem, na semente madura, um adjacente ao exotégmen), a mesotesta e a exo-
tegumento estruturalmente mais complexo, testa (que é a camada mais externa do tegu-
formando um verdadeiro complexo histológico mento) (Aqüila, 1995).
(Foster e Gifford, 1974). No início do desenvolvimento da semente,
O número de tegumentos que a semente as células da exotesta estão em divisão, tanto
apresenta na maturidade, bem como a comple- peri quanto anticlinal (Figura 4.3A, C, E).
xidade dos mesmos depende tanto da sua ori- Quando o embrião atinge a fase globular, as
gem quanto da sua ontogenia. A complexidade células da exotesta começam a alongar no senti-
também depende do tipo de vascularização do anticlinal (Figura 4.3E), originando as célu-
apresentada pelo rudimento seminal. las de Malpighi, que formam a camada em pali-
A ontogenia dos tegumentos da semente é çada (Figura 4.4H).
afetada pelo aumento progressivo do volume No rudimento seminal, a mesotesta é for-
que eles limitam, ajustando-se constantemente mada por três estratos na região não-micropilar,
às tensões tangenciais progressivas criadas pela e as células se dividem nos sentidos anticlinal
expansão da semente. Essa expansão é, em par- e periclinal (Figura 4.3B, C, D). Durante o de-
te, devida ao aumento do número de células e, senvolvimento da semente, há um aumento no
em parte, ao alongamento das mesmas. Para número desses estratos. Esse número é maior
acompanhar o crescimento da estrutura que li- na região por onde passa o feixe vascular, na
mita, o tegumento aumenta seu comprimen- região do hilo e da micrópila (Figura 4.3B). Du-
to, com um maior número de células por divi- rante o desenvolvimento da semente, na região
sões periclinais, e sua espessura, por divisões basal (calazal), ocorre a diferenciação dos os-
anticlinais (Figura 4.2D). Se não ocorrem divi- teoesclereídeos (Figura 4.4E). Na semente ma-
sões periclinais em número e velocidade sufi- dura, a mesotesta é formada por nove estratos
cientes para acompanhar a expansão da se- de osteoesclereídeos cujas paredes não têm es-
mente, há a eliminação da capa onde a atrofia pessamento em forma de vidro de relógio, mas
está ocorrendo. são pontuadas (Figura 4.4H).
Segundo Corner (1976), o integumento in- Na seqüência ontogenética da formação do
terno do rudimento seminal origina o tégmen, tegumento, primeiro ocorre a divisão celular,
que pode ou não ser formado por três capas, o seguindo-se o seu alongamento e só depois sua
endotégmen, na confluência com o ginospo- diferenciação (Figuras 4.2, 4.3, 4.4). O alonga-
rângio, o mesotégmen e o exotégmen, junto à mento pode ocorrer em todas as direções, pro-
testa. O integumento externo formará a testa, duzindo células isodiamétricas e estreladas, em
que também pode ou não ter três capas (exo- direções diferentes ou em apenas uma direção,
testa, mesotesta e endotesta). originando tecidos em paliçada. Embora as di-
Em Senna macranthera (manduirana), o ru- ferentes capas que compõem o tegumento te-
dimento seminal é formado por apenas duas nham uma confluência íntima, seu limite pode

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GERMINAÇÃO 73

A B

C D

! Figura 4.2
Fases iniciais da formação da semente de Senna macranthera em corte longitudinal mediano. (A) rudimento
seminal em formação; (B) rudimento seminal maduro ou semente recém-fecundada; (C) semente com zigoto
em repouso; (D) semente com embrião globular. Legenda: a= saco embrionário, b= mesófilo da folha;
carpelar, c= calaza, d= epiderme adaxial da folha carpelar, e= xenófito nuclear, f= funículo, g= tégmen, k=
endocarpo em diferenciação, l= cavidade gasosa do fruto, n= nucelo, o= epiderme do nucelo, p= primina
(integumento externo), r= capuz nucelar, s= secundina (integumento interno), t’= mesotesta, u=mesocarpo,
v= feixe vascular, x= exotesta, y= endotesta; a seta branca indica micrópila. As barras negras no canto
superior esquerdo são as escalas e representam, para A e D, 6 µm, e para B e C, 10 µm.

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74 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

A B

C D

E F

! Figura 4.3
Seqüência inicial da formação do xenófito de Senna macranthera. Sementes em corte longitudinal mediano.
(A) fecundação; (B) zigoto em repouso e xenófito no início da formação; (C) detalhe da região mediana da
semente mostrando os núcleos do sincício; (D) pólo calazal da semente; (E) região basal de uma semente
com embrião globular e núcleos do xenófito se agrupando em nódulos; (F) região mediana da semente
mostrando o início da celularização do xenófito. Legenda: c= calaza, d= nódulos endospérmicos, e=xenófito,
g= tégmen, n’= núcleo do xenófito próximo à coluna hipostática, n= fusão para formação do núcleo
endospérmico, o’= epiderme do nucelo, o= nucelo, t’= mesotesta, t= testa, x= exotesta, z= zigoto, seta
branca = coluna hipostática, setas pretas = parede do saco embrionário. As barras negras do canto superior
esquerdo são as escalas e representam, para A e C, 6 µm, e para B,D,E e F, 10 µm.

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GERMINAÇÃO 75

A B

C D

E G H

! Figura 4.4
Detalhes de algumas estruturas que se formam durante o desenvolvimento do xenófito de Senna macranthera.
Cortes longitudinais medianos. (A) região mediana da semente quando o embrião está na fase de torpedo;
(B) região calazal quando o embrião já está totalmente diferenciado; (C) região calazal quando o embrião está
na fase de torpedo adiantada; (D) em detalhe, fragmento da parede de transferência e de alguns núcleos da
célula apical do haustório; (E) detalhe da região calazal quando o embrião está terminando a fase de torpedo;
(F) detalhe da região limítrofe da célula haustorial com o nucelo; (G) tegumento lateral da semente quando o
embrião está em torpedo e (H) quando o embrião já está totalmente formado. Legenda: e= região celularizada
do xenófito, f= feixe vascular na calaza em corte transversal, f”= rafe em corte longitudinal, h= haustório, i=
célula basal do haustório, j= célula apical do haustório, l= lfinea lúcida, n= núcleos hipertróficos da célula
basal do haustório, o= nucelo, p= parede da célula haustorial, r= região clara ao redor do xenófito, t= testa,
u= epiderme do nucelo, v= região de células ricas em fenóis, x= exostesta. As barras negras do canto
superior esquerdo são as escalas e representam, para A, B e C, 24 µm, para C e G, 40 µm, e para D e F, 8 µm.

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76 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

ser distinguido pela presença de cutícula, que (1976) denomina como rafe a região do te-
ocorre entre as capas da testa, entre esta e o gumento que abriga os feixes vasculares e que,
tégmen, entre o tégmen e o nucelo e até entre entrando pelo funículo, se estende até a calaza,
este e o xenófito. Devido ao caráter hidrofóbico e como anti-rafe a região do tegumento relacio-
da cutina, a presença desta substância funcio- nada ao prolongamento do feixe vascular para
na como uma barreira à difusão da água, difi- além da calaza. Rudimentos seminais com vas-
cultando a penetração de fixadores e de subs- cularização reticulada têm uma grande proba-
tâncias utilizadas na inclusão de sementes nas bilidade de originar sementes pericalazais. Es-
técnicas histológicas, podendo ser uma das cau- sas sementes possuem uma vascularização in-
sas da dormência imposta pelos tegumentos tensa e, em conseqüência, uma calaza exten-
(Capítulo 7). sa, provinda de rudimentos seminais anátropos
Na semente, a composição ontogenética do cujo revestimento passa a ser a paquicalaza,
tegumento depende da região que se analisa, uma estrutura complexa, construída pela mul-
uma vez que pode diferir na micrópila, na calaza tiplicação das células dos dois integumentos
e na região lateral (Figuras 4.2C, D; 4.3D, F). fundidos entre si e ao ginosporângio. Só na re-
Bhojwani e Bhatnagar (1974) descreveram gião da micrópila é possível distinguir os dois
a ontogenia de Gossypium sp. (algodão), um ru- tegumentos.
dimento seminal com dois integumentos, no Em S. macranthera, a vascularização não está
qual ambos contribuem para a formação do diferenciada no rudimento seminal (Figura
tegumento da semente, mostrando que a 4.2A), notando-se um aumento no número de
ontogenia da endotesta tem valor taxonômico, estratos na região onde se diferencia o feixe vas-
uma vez que pode ser utilizada para distinguir cular (Figura 4.2C). Na fase do desenvolvimen-
a espécie G. arboreum, na qual permanece to da semente, marcada pela presença de um
uniestratificada, das espécies G. hirsutum (que embrião globular, o feixe vascular já está total-
possui dois estratos) e G. herbaceum (que possui mente diferenciado (Figura 4.2D), localizando-
três estratos). As fibras usadas comercialmente se na mesotesta e sendo formado por protoxi-
se formam na exotesta, constituídas por células lema com espessamento anelado. Esse feixe pe-
simples com paredes finas cujo comprimento netra na semente pelo funículo (Figura 4.3D),
pode atingir 45 mm (~5 cm). sendo uma continuação do feixe vascular que
Segundo Barroso e colaboradores (1999), forma a nervura ventral da folha carpelar. Nes-
as Loasaceae possuem rudimentos seminais sa fase, a anti-rafe ainda não está diferenciada
com apenas um integumento, enquanto as se- e, em seu lugar, observam-se células de pro-
mentes maduras têm apenas exo e endotesta. câmbio em divisão (Figura 4.3D). Quando o
As canas possuem rudimentos seminais parci- embrião começa a diferenciação dos cotilédo-
almente integumentados, mas as sementes ma- nes, a anti-rafe é visível e percorre a semente
duras são recobertas por um tecido multiestra- até a sua metade, no lado oposto ao da rafe.
tificado. Em magnólia, o integumento interno Beltrati e Paoli (2003) mencionam que já
forma o tégmen, que é de fato a camada prote- foram encontrados estômatos na testa em 30
tora, enquanto o integumento externo forma famílias de angiospermas. Segundo Corner
uma exotesta carnosa (sarcotesta) e brilhante, (1976), estômatos na exotesta foram registra-
rica em lipídeos, cuja função é auxiliar a disper- dos em Cana maculata, Cochiospermaceae, Malva-
são das sementes (Bhojwani e Bhatnagar, 1974). les, Geraniaceae, Magnoliaceae, Papaveraceae, Gera-
A vascularização do rudimento seminal se niaceae, Amarylidaceae, Leguminosae (Bauhinia),
dá pela entrada de um ramo advindo da vascu- Bombacaceae, Juglandaceae, Myristicaceae e Euphor-
larização do carpelo, que entra nessa estrutura biaceae, enquanto, na endotesta, sua presença
pelo funículo (Figura 4.2D). O padrão de vas- só foi registrada em purskia (Rosaceae).
cularização do rudimento seminal interfere no A estrutura e as substâncias acumuladas
padrão de vascularização da semente. Corner no tegumento podem posteriormente interferir

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GERMINAÇÃO 77

na germinação da semente (Labouriau, 1983), Ginófito


causando o que Barton (1965) classificava como
dormência imposta pelos tegumentos, Bewley
Embrião (2n) Xenófito (3n a xn)
e Black (1978), como dormência estrutural, e
Baskin e Baskin (1998), como dormência física.
Os tegumentos são órgãos multifuncionais Esporófito
porque: (1) protegem tanto o embrião quanto
o xenófito da dessecação, de injúrias, tempera-
turas desfavoráveis, ataque de patógenos e pre-
dadores; (2) nutrem a semente em formação, ginófito originar o embrião e o xenófito. O pri-
conectando-a à planta-mãe por meio dos feixes meiro, pela fecundação da oosfera; e o segundo,
vasculares, via de entrada para os fotoassimi- pela fecundação da célula central. Dessa forma,
lados; (3) participam na dispersão das semen- a ploidia da célula central é fundamental, pois
tes, quando apresentam modificações estrutu- determina a ploidia do xenófito.
rais relacionadas a essa função (Capítulo 14). O caso do xenófito – mais conhecido por
endosperma, é um dos muitos em que um ter-
Ginófito → embrião e xenófito mo mal cunhado ganhou popularidade, impon-
Denomina-se ginosporângio (nucelo) a es- do-se ao longo do tempo. A etimologia da pa-
trutura interna do rudimento seminal. É forma- lavra endosperma mostra que a mesma não
do por um tecido meristemático, limitado por conceitua de forma apropriada a estrutura à
uma epiderme, que pode ou não conter cutina. qual serve de identificador e/ou nominador,
No tecido meristemático do ginosporângio, for- uma vez que endo significa interno e sperma é
mam-se os ginósporos (esporos femininos). O um radical grego que significa semente; portan-
ginosporângio pode ou não ser consumido du- to, a tradução literal da palavra endosperma é
rante a formação da semente. Caso permaneça, “semente interna”. Isso contradiz tanto a sua
origina o perisperma, que, muitas vezes, é con- origem como a sua função, uma vez que essa
fundido com o xenófito. estrutura passa a existir quando os núcleos po-
O ginófito (saco embrionário) é a planta lares da célula central do ginófito se fundem com
feminina que se origina da metamorfose de um o segundo gameta masculino, tendo uma ori-
ginósporo haplóide. Nesse caso, o esporo não gem semelhante à do embrião, e deixa de existir
germina, uma vez que nenhuma das fases ca- durante a germinação, quando é consumida pelo
racterísticas desse processo pode ser identifi- embrião em crescimento. Devido a isso, Cocucci
cada na ontogenia do ginófito, que inicia quan- (1986) propôs o termo xenófito para designar
do o núcleo do ginósporo entra em atividade. essa estrutura, pois xeno significa diferente e fito
O desenvolvimento do ginófito é sempre en- quer dizer planta, de forma que xenófito signi-
dospórico, pois a planta feminina nunca aban- fica “planta diferente”, conceituando perfeita-
dona o ginosporângio e o pistilo. mente essa estrutura única, tanto na sua cons-
Maheshwari (1950) considerava o ginófito tituição genética como na sua posição interme-
como um cenócito octo a polinucleado. Hoje já diária entre o velho e o novo esporófito.
se sabe que essa estrutura cenocítica se forma Na fase inicial do desenvolvimento, todas
no início da metamorfose do ginósporo, quando as sementes possuem xenófito. Contudo, no
ocorrem três ciclos de divisão mitótica que en- transcorrer do desenvolvimento, este pode ser
volvem apenas os núcleos. Subseqüentemente, totalmente absorvido pelo embrião, de forma
ocorre a celularização, originando uma estrutu- que, em muitas espécies, a semente madura ca-
ra formada por sete células, seis mononuclea- rece de um tecido de reserva externo para o xe-
das e uma, a célula central, bi ou polinucleada. nófito.
A importância dessa estrutura para o de- Devido à sua origem, nas angiospermas, o
senvolvimento do diásporo reside no fato de o xenófito é uma planta que varia de triplóide

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78 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

(3n) a poliplóide. O desenvolvimento do xenó- Quadro 4.2 Famílias e espécies em que foi
fito ocorre em sincronia com o desenvolvimento registrado o xenófito celular
do embrião, em vez de simultaneamente. Nas Família Espécies
espécies em que já foi estudada a ontogenia das
Acanthaceae Barleria cristata, Dipteracanthus
sementes, o zigoto entra em repouso logo após patulus, Thumbergia alata,
a fecundação, só saindo desse estado quando o Ruellia tuberosa
xenófito assume um certo grau de desenvolvi- Cryllaceae Cliftonia monophylla, Cyrilla
mento, mesmo nas Faboideae, espécies exal- racemiflora
Gesneriaceae Boschniakia himalaica, Klugia
buminosas cujo embrião assume a liderança do notoniana, Platystemma
desenvolvimento muito precocemente. violoides
O xenófito, como já foi dito, começa com a Loasaceae Blumenbachia hieronymi, B.
fecundação dos núcleos polares (separados ou insignis, Mentzelia laevicalulis
Scrophulariaceae Alectra thomsoni, Celsia
já fundidos), com o segundo gameta masculino coromandeliana, Chelone
originando o núcleo endospérmico. O passo se- glabra, Isoplex canariensis,
guinte é muito variável nas diferentes taxa, mas Melampyrum lineares,
segundo os mais respeitados embriologistas, o Orthocarpus luteus,
Scrophularia marylandica,
núcleo endospérmico pode seguir três tipos de Tetranema mexicanum
desenvolvimento, originando assim os três ti-
pos ontogenéticos básicos de xenófito, a saber: Dados extraídos de Maheshwari (1950 e 1963), Chopra e Sachar
(1963) e Johri, Ambergaokar e Srivastava. (1992).
celular, nuclear e helobial.
No xenófito celular, a célula central entra
em citocinese logo após a primeira cariocinese,
o mesmo acontecendo para todas as subseqüen- (Figuras 4.2 e 4.3) formam-se 36 núcleos ce-
tes divisões, de forma que o xenófito é celular nocíticos antes de começar o processo de celu-
desde o início. Existem poucos estudos histo- larização (Aqüila, 1995).
químicos e ultra-estruturais sobre esse tipo de Em poucas taxas os núcleos e o citoplasma
xenófito e, segundo Vijayaraghavan e Prabha- têm distribuição uniforme ao longo de toda a
kar (1984), em várias taxa as células xenofíti- célula cenocítica. Em geral, concentram-se nos
cas da calaza, da micrópila ou de ambas têm a pólos calazal e micropilar (Bhatnagar e Sawh-
tendência de formar haustórios. O Quadro 4.2 ney, 1981; Mauseth, 1988). Nesse processo, as
fornece alguns exemplos em que esse tipo de cariocineses podem ou não ser sincrônicas, sen-
xenófito pode ser encontrado. do possível encontrar núcleos em diferentes
No xenófito nuclear, as cariocineses não são fases de divisão (Maheshwari, 1963). Os nu-
acompanhadas pelas citocineses corresponden- cléolos dos núcleos cenocíticos são muito variá-
tes, de forma que, no início do seu desenvolvi- veis quanto à forma, ao tamanho e ao número,
mento, o xenófito é constituído por uma célula estando esta última variável associada à viabili-
cenocítica (Mauseth, 1988), com os núcleos dade do xenófito. Jensen, Schulz e Aston (1977)
distribuídos em uma matriz citoplasmática que observaram que os rudimentos seminais de
rodeia um grande vacúolo central (Vijayara- Gossypium hirsutum que abortavam tinham um
ghavan e Prabhakar, 1984), como pode ser vis- número menor de nucléolos que aqueles que
to na Figura 4.3B. completavam seu desenvolvimento.
Essa célula pode se tornar muito grande, Um fenômeno comum nesse tipo de onto-
como no caso de Cocos nucifera, em que a parte genia é a formação de grupos isolados de nú-
branca seria o cenócito, e o líquido (água de cleos, aos quais Chopra e Sachar (1963) cha-
coco), o suco vacuolar dessa célula gigantesca mam de vesículas citoplasmáticas, e Fahn
(Mauseth, 1988). A quantidade de núcleos des- (1982), de nódulos. Esses grupamentos resul-
se cenócito pode variar de centenas a milhares tam da atividade isolada de alguns núcleos que
(Chopra e Sachar, 1963). Em Senna macranthera podem se dividir mais rapidamente que outros

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GERMINAÇÃO 79

D
C

E F

! Figura 4.5
Sementes de Senna macranthera em corte longitudinal mediano. (A) detalhe da região mediana mostrando
parte do xenófito celularizado e início da formação do haustório; (B) semente mostrando embrião na fase de
coração, xenófito celular na parte basal e haustório na parte apical; (C) detalhe da região celularizada do
xenófito e embrião na fase de torpedo; (D) visão do eixo embrionário e xenófito celular com haustório na
região apical da semente; (E) e (F) detalhe da célula basal do haustório. Legenda: c = calaza, d = cotilédones
e eixo do embrião, e = xenófito celular, f = feixe vascular na calaza, h = haustório, i = célula basal do
haustório, j= célula apical do haustório, o= nucelo, p= embrião na fase de coração, r= região clara que
rodeia o embrião, t= testa. As barras negras do canto superior esquerdo são as escalas e representam, para
A, 24 µm, para B, C e D, 40 µm, para E, 12 µm, e para F, 8 µm.

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80 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

A B

E H

G I

! Figura 4.6
Detalhes do xenófito de Senna macranthera em sementes em corte longitudinal mediano. (A) coração; (B
torpedo; (C, final de torpedo; (D) totalmente formado; (E) quase no tamanho final; (F) antes do início da
dessecação; (H) semente quiescente; (G) mesmo que H com mais detalhe; (I) pericarpo. Legenda: c=
citpolasma, e = endocarpo, p = parede espessada, q = células com parede começando a espessar pela
deposição de galactomanano, t = pontuação, u = mesocarpo. As barras negras do canto superior esquerdo
são as escalas e representam, para A, B, D e F, 12 µm, para C e G, 8 µm e para E, 24 µm.

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GERMINAÇÃO 81

(Schulz e Jensen, 1974), podendo ou não origi- e o protoplasma comprimido no interior das cé-
nar núcleos hipertróficos, principalmente no lulas forma um todo contínuo devido à comuni-
pólo calazal, uma vez que esses núcleos gigantes cação ocorrida por meio dos plasmodesmos (Fi-
podem se formar por cariocinese direta (cresci- gura 4.6G). O xenófito nuclear é o mais comum,
mento verdadeiro) ou por fusão de vários nú- tendo sido registrado para 161 famílias, incluin-
cleos (Maheshwari, 1950). As Figuras 4.5 e 4.6 do mono e dicotiledôneas (Mauseth, 1988). O
exemplificam esses acontecimentos registrados Quadro 4.3 lista algumas espécies que possu-
para S. macranthera (Aqüila,1995). em esse tipo de xenófito (endosperma).
O xenófito nuclear pode continuar cenocí- O xenófito helobial se forma quando a ca-
tico até o final da sua ontogenia, porém, o mais riocinese do primeiro núcleo endospérmico é
comum é ocorrer a celularização, dependendo acompanhada de citocinese, formando duas cé-
da fase em que se encontra o embrião. A celu- lulas desiguais. A célula menor é voltada para
larização pode ocorrer em todo o xenófito, res- o pólo calazal e pode ou não se dividir para for-
tringir-se à periferia ou acontecer apenas na re- mar uma estrutura celular. A célula maior é vol-
gião micropilar. Segundo Maheshiwari (1963), tada para o pólo micropilar, cresce rapidamente,
nas famílias Crucifeare, Curcubitaceae, Legumino- e a ocorrência de cariocineses livres origina um
sae e Proteaecea, o xenófito é sempre cenocítico, cenócito que, mais tarde, sofre celularização pe-
uma vez que não se forma nenhum tipo de pa- lo aparecimento de paredes celulares no sentido
rede. Essa generalização, como qualquer outra centrípeto (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984).
em se tratando de sementes, não é adequada, Esse tipo de xenófito é muito raro e parece ocor-
pois a Senna macranthera, uma leguminosa Cae- rer apenas em monocotiledôneas (Swamy e Kri-
salpinioideae, possui, segundo Aqüila (1995), um shnamurthy, 1973). Segundo Johri, Anbergao-
xenófito cenocítico (nas fases iniciais do desen- kar e Srivastava (1992), esse tipo de xenófito
volvimento da semente) e um celular (quando foi descrito em: Halophila ovata, Trillium undu-
maduro) (Figuras 4.3, 4.5 e 4.6). latum, Juncus prismatocarpus, Asphodelus tenuifo-
Durante o desenvolvimento do xenófito, lius, Najas flexilis, Najas marina, Potamogeton no-
pode acontecer a formação de estruturas muito dosus e Haemanthus katherinae.
estranhas denominadas haustórios. Em Senna Além desses três tipos ontogenéticos de xe-
macranthera, o haustório é formado por duas nófito, existe um quarto, chamado xenófito ru-
células muito grandes. Ambas possuem núcle- minante. Foi estudado pela primeira vez por
os hipertróficos (Figuras 4.4A, 4.5D, E, F) e pa-
redes de transferência (Figuras 4.4D e 4.5F). A
célula mais apical do haustório une-se à epis- Quadro 4.3 Exemplo de gênero e de espécies
tase formada pelo ginosporângio bem abaixo que apresentam o xenófito nuclear
do feixe vascular calazal (Figuras 4.4E e 4.5B). Família Espécies
À medida que a celularização progride, o haus-
tório desaparece. Durante todo o desenvolvi- Curcubitaceae Scleria foliosa, Blastania garcini,
Melothira maderaspatana,
mento, o xenófito é um tecido mixoplóide, pos- Trichosanthes anguina,
suindo núcleos hipertróficos na região celula- Curcubita pepo, C. sativus,
rizada contígua ao haustório (Figuras 4.4A, Benincasa cerifera, Cucumis
4.5E e 4.6C). A celularização é centrípeta (Figu- melo, Luffa aegyptica, Melothria
heterophylla
ra 4.3F), o mesmo se dando com a deposição Leguminosae Mimosa pudica, Calliandra
da substância de reserva. O galactomanano é coiled e os gêneros: Cassia,
depositado na parede das células do xenófito, Cyamopsis, Desmodium
de tal forma que, na semente madura, forma Palmae Cocos nucifera
Proteaceae Lomatia polymorpha, Grevillea
uma massa na qual é difícil a distinção dos li- robusta
mites das células (Figuras 4.6E, F, H). Esse xe-
Dados extraídos de Johri et al. (1992).
nófito é vivo (cora facilmente pelo tetrazólio),

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Voigt, em 1888 (Vijayaraghavan e Prabhakar, ploidia é a principal causa do aumento no tama-


1984). Sua formação não está ligada à ontoge- nho nuclear, induzindo o aumento na produção
nia do xenófito, mas à forma como ocorre o de metabólitos essenciais ao crescimento tanto
desenvolvimento dos tegumentos durante a do xenófito como do embrião (Kaltsikes, 1973).
formação da semente. Estruturalmente, é um A amitose é outro processo de produção de
mosaico no qual os tecidos da semente se entre- núcleos hipertróficos, é menos freqüente que a
laçam. Forma-se em qualquer dos três tipos on- poliploidia e foi observada em Gossypium hirsu-
togenéticos de xenófito (Mauseth, 1988). Foi tum (Wang e Chien, 1957), Vicia faba e Lathyrus
encontrado xenófito ruminante em Celsia cora- variegatus (Hristov e Moskov, 1957). Tandon e
mandeliana, Elytraria acaulis, Andrographis serpyl- Kapoor (1961) observaram cinco tipos diferen-
lifolia, Andrographis echioides e Artabotrys odoratis- tes de amitose em trigo.
simus (Chopra e Sachar, 1963). Perisperma: em geral, o ginosporângio (nu-
Independentemente da ontogenia, a celu- celo) é consumido durante a ontogenia do ru-
larização do xenófito é um assunto controverti- dimento seminal. Contudo, em algumas famí-
do. Para Newcomb (1973), a compartimentali- lias como Amananthaceae, Cannaceae, Cappa-
zação do xenófito é interpretada como um pro- ridaceae, Piperaceae, Poetulacaceae e
cesso eficiente de acumular carboidratos inso- Zingiberaceae, ele é persistente e se transfor-
lúveis, em que a parede pode ser muito espessa ma no tecido de reserva da semente, ficando o
no xenófito maduro, inclusive mostrando cam- xenófito como um tecido intermediário
pos primários de pontuação ou pontuações (Bhojwani e Bhatnagar, 1974) entre o perisper-
(Cutter, 1971). ma e o embrião. Denomina-se perisperma o teci-
No início, o xenófito tem a ploidia do núcleo do de reserva da semente formado pelo ginos-
endospérmico, mas, no decorrer de sua forma- porângio persistente.
ção, independendo do tipo ontogenético ao qual
pertence, torna-se uma estrutura mixoplóide
devido à endoploidia (Vijayaraghavan e Prab- CLASSIFICAÇÃO DAS
hakar, 1984), de tal forma que D’Amato (1952) SEMENTES
já sugeria uma demarcação do xenófito com Existem muitas propostas de classificação para
base na ploidia ou politenia nuclear. Segundo as sementes, as quais podem ser agrupadas em
Prabhakar (1979), as diferenças citológicas ob- diferentes níveis. A seguir, estão sintetizadas
servadas nos pólos calazal e micropilar se de- algumas dessas propostas.
vem a diferenças no ambiente interno, sendo
causadas, no pólo calazal, pelo descarregamen- Classificação de Cocucci (tipo de
to do feixe vascular e pela intensa proliferação semente, levando-se em conta o
dos tecidos próximos à calaza e, no pólo micro- tipo de rudimento seminal)
pilar, pela presença do suspensor. Como as sementes se originam dos rudi-
Enquanto o xenófito se forma, os núcleos mentos seminais, na maioria dos casos, elas
de suas células aumentam de tamanho, apare- mantêm o mesmo tipo destes.
cendo núcleos hipertróficos altamente poliplói- Cocucci (1992), ampliando os conceitos de
des. Segundo Mauseth (1988), núcleos 9n são Bocquet e Bersier (1969), propôs uma classifi-
comuns, mas Bhojwani e Bhatnagar (1974) de- cação para o rudimento seminal, levando em
tectaram núcleos 24576n em Arum maculatum. consideração o alinhamento da calaza e o da
Esses núcleos aparecem preferencialmente na micrópila, a dobradura do ginófito e a posição
região calazal. A hipertrofia nuclear em Zea do corpo basal. Adotando esses conceitos, uma
mays foi descrita por Duncan e Ross (1950) semente pode ser ortótropa quando vier da me-
como sendo um processo endomitótico causado tamorfose de um ginófito reto e quando o fu-
pela politenia, mas não pela poliploidia. Segun- nículo não sofrer nenhuma curvatura, de forma
do Vijayaraghavan e Prabhakar (1984), a poli- que a micrópila e a calaza fiquem opostas e ali-

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GERMINAÇÃO 83

nhadas na mesma reta. Esse alinhamento é vis- Quadro 4.4 Alguns exemplos de gêneros e de
to no tegumento da semente onde hilo e mi- famílias em que é possível encontrar sementes
classificadas dentro da proposta de Corner (1976)
crópila são opostos. Em uma semente hemi-
campilótropa, o feixe vascular tem uma curva- Tipo de semente Espécie
tura de 90º, ângulo verificável pela localização
Obcampilótropa Bauhinia, Barklya, Cercis,
do hilo e da micrópila no tegumento da semen- Vitaceae
te, o ginófito sofreu uma curvatura, e o corpo Campilótropa Psidium, Caparidaceae,
basal está localizado entre o ginófito e o tég- Papaveraceae, Cactaceae,
Leguminosae
men. Na semente ananfítropa, o feixe vascular
Hilar Papilionaceae como Canavalia
sofreu uma curvatura de 180º, de forma que o e Erythrina
hilo e a micrópila ficam bem próximos, o ginó- Anátropa com Connaraceae, Dysoxylon
fito também sofreu curvatura, e o corpo basal pré-rafe cauliflorum (Maliaceae)
Anátropa com rafe Ilauraceae, Monimiaceae,
está localizado entre o tégmen e a testa.
Buxaceae, Ebenaceae
Segundo o proposto por Cocucci (1992), ru- Pericalazais Annonaceae, Hortonia
dimentos seminais dos tipos anátropo, anacam- (Monimiaceae), Cryptocarya
pilótropo e ananfítropo originariam sementes (Lauraceae), Aglaia e Lansium
(Meliaceae), Vitaceae
anátropa, anacampilótropa e ananfítropa. Con-
Paquicalazais Meliaceae, Sapindaceae,
tudo, segundo Beltrati e Paoli (2003), um rudi- Lauraceae (abacate),
mento seminal anátropo pode originar uma se- Annonaceae, Myristicaceae,
mente campilótropa ou uma semente obcam- Coco, Cana, Ricinus
Ortótropa Urticaceae, Proteaceae,
pilótropa. Essa afirmação não especifica os au-
Flacourtiaceae, Piperaceae,
tores dos conceitos empregados, e isso é funda- Polygonaceae
mental nessa área, uma vez que os mesmos di-
Nos TAXA Magnoliales, Dilleniaceae, Mimosaceae, Theales, e
ferem de acordo com os autores. Clusiaceae, não ocorrem sementes ortótropas.

Classificação proposta por Corner


(1976)
Corner (1976) classifica as sementes levan- cularizada, a qual, tanto no rudimento seminal
do em conta a localização e o desenvolvimento como na semente, é ampla, envolvendo respec-
da vascularização, o desenvolvimento do hilo tivamente todo o nucelo ou o ginófito com um
(Quadro 4.4) e também a posição e a estrutura capuz ou uma faixa localizada na região media-
da capa mecânica principal. na do tegumento. As sementes paquicalazais
Nas sementes, a vascularização ocorre na são revestidas pela paquicalaza, uma estrutura
mesotesta. Contudo, há casos em que ela está complexa construída pela multiplicação das cé-
localizada na exotesta, de forma que Corner lulas dos dois tegumentos fundidos entre si e
(1976) classifica as sementes em exadérmicas, ao nucelo e uma calaza muito extensa; só na
quando a vascularização ocorre apenas na epi- região da micrópila é possível distinguir os dois
derme ou na capa mais externa da exotesta, e tegumentos. As sementes hilares possuem o
em subdermais, quando a vascularização fica hilo muito grande e, em geral, advêm de um
localizada na hipoderme, a camada mais inter- rudimento seminal anátropo e podem possuir
na e facultativa da exotesta. pré-rafe, paquicalaza ou apenas rafe.
Segundo Corner (1976), uma semente ob- De acordo com a posição e a estrutura da
campilótropa tem a rafe mais desenvolvida que capa mecânica principal da semente madura,
a anti-rafe, enquanto as campilótropas possu- Corner (1976) classifica as sementes em exo-
em a anti-rafe mais desenvolvida. As sementes testais, mesotestais, endotestais, exotégmicas
pericalazais têm uma calaza muito extensa, e endotégmicas. Entende-se por capa mecânica
sendo que o integumento interno fica unido principal aquela que apresenta o maior número
ao externo em toda a extensão da região vas- de estratos celulares, podendo ou não ser ligni-

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84 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

ficada. Embora a construção do tegumento seja bosa, irregular, lenticular, navicular, obo-
essencialmente testal, pode-se encontrar se- vóide (ovóide invertida) ou ovóide.
mentes com tégmen bem-desenvolvido nas or- ◗ Contorno (obtido projetando-se o con-
dens mais evoluídas. torno da semente em um papel) – cu-
Segundo Beltrati e Paoli (2003), a classifica- neiforme, elíptico, espatulado, lanceola-
ção proposta por Corner (1976) vem sendo bas- do, oblanceolado (lanceolado invertido),
tante utilizada pelos anatomistas, embora, na linear, ovado, obovado (ovado invertido),
prática, mostre-se difícil, uma vez que, nas se- orbicular, quadrado, reniforme, rômbico,
mentes maduras, é geralmente difícil distinguir flaciforme (em forma de foice), triangu-
a capa multiplicativa ou camada mecânica, lar ou subtriangular (em forma de cimi-
existindo mais de uma capa com células mecâ- tarra).
nicas e podendo acontecer inúmeras combina- ◗ Transepto – isto é, o formato do contorno
ções entre as diferentes possibilidades. Assim, obtido em corte transversal mediano: cir-
o mais simples é especificar se a semente tem cular (terete), comprimido (sendo o com-
uma testa (ou um tégmen) bem-desenvolvi- primento o dobro da largura) ou trian-
da(o). gular.
◗ Superfície da semente – lisa, rugosa, es-
triada, costada (enfeitada com nervuras
DESCRITORES DOS ou costelas), sulcada, reticulada, glan-
DIÁSPOROS
dulosa, pontuada, pilosa, viscosa, espon-
As sementes podem ser identificadas por um josa, glabra, mucilaginosa, vesiculosa,
conjunto de estruturas internas e externas de espinhosa, aculeada ou papilosa.
fácil visualização, que deveriam constar da ro- ◗ Presença de partes associadas – arilo, ca-
tina de qualquer trabalho com sementes. A se- rúncula, brácteas, estrofíolo (devendo-
guir, apresentamos o conjunto desses descrito- se indicar a coloração e a textura), alas,
res, retirado de três trabalhos: Martin (1946), papus, lente, funículo circinótropo (ro-
para os embriões, Bhojwani e Bhatnagar (1974) deia toda a semente, sendo encontrado
e Groth e Liberal (1988) para as demais estrutu- em Opuntia e Plumbago), ejaculador, tam-
ras. bém conhecido como retináculo (é uma
estrutura formada pelo crescimento do
Descritores externos funículo ao lado da micrópila, sendo ca-
◗ Cor – além da cor em si, informar se esta racterística das sementes das Acanthaceae
ocorre de forma uniforme ou variegada – Barroso et al., 1999).
e se a semente possui apenas uma ou ◗ Hilo – localização, tamanho (bem-visível
mais de uma cor. a quase invisível), cor (homocrômico,
◗ Tamanho – comprimento, largura, espes- tem a mesma cor das sementes, ou hete-
sura. rocrômicos tem cor diferente das semen-
◗ Peso – das sementes individuais ou de tes), forma (puntiforme, oblonga, elíp-
um certo número, uma vez que o peso tica, linear, circular) e presença de para-
pode variar de microgramas (sementes hilo (pequena área que cerca o hilo); nas
de orquídeas pesam, em média, 20 µg) gramíneas, o hilo é indicado pela man-
a quilos (diásporos de coco pesam, em cha hilaris (Barroso, 1978).
média, 2 kg). Seria interessante que esse ◗ Micrópila – localização (perto do hilo ou
peso fosse sempre das sementes frescas, oposta a este) e tamanho.
isto é, recém-colhidas. ◗ Rafe – linha visível no tegumento que
◗ Forma – alada, angulosa, carenada, ci- indica o percurso do feixe vascular, indo,
líndrica, cônica, curva, discóide, elipsói- em geral, do hilo até a calaza. Sua niti-
de, esférica, espiralada, fusiforme, glo- dez é bastante variável e, nas legumino-

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GERMINAÇÃO 85

sas, pode ser bem-desenvolvida, forman- ◗ Posição em relação ao tecido de reserva:


do uma cinta larga e colorida que contor- – periférico: o embrião rodeia a substân-
na a semente (Barroso et al., 1999). cia de reserva
– axial: ocupa boa parte do eixo longi-
Descritores internos tudinal da semente ou ocupa comple-
tamente a cavidade da semente
Tecido de reserva – basal: o embrião está restrito à metade
◗ Ausente – sementes exalbuminosas, o inferior da semente
xenófito não está mais presente (Phaseo- – lateral: o embrião ocupa uma posição
lus vulgaris, Erythrina crista-galli). basal, mas lateral na semente (Poa-
◗ Presente – sementes albuminosas (en- ceae).
dospérmicas); Ricinus comunis, Senna ma- ◗ Forma
cranthera, Mimosa bimucronata: pode ser – linear
um xenófito (= endosperma = albú- – espatulado
men) ou um perisperma (nucelo persis- – circinado (embrião cilíndrico com os
tente), sendo que a distinção entre am- cotilédones enrolados em espiral)
bos só pode ser estabelecida pela onto- – espiralado (semelhante ao circinado,
genia da semente; na dúvida, deve-se in- porém menos enrolado)
dicar apenas a presença do tecido de re-
serva. Como sugestão, pode ser interes- Eixo embrionário
sante voltar a utilizar, nesses casos, o ter- ◗ Tamanho – curto ou longo
mo albúmen, que foi proposto por Grew ◗ Posição – reto ou dobrado
e amplamente utilizado por Gaertner, ◗ Forma – cilíndrico, cônico, elíptico
uma vez que o mesmo não se atém nem
à origem nem à composição química do Em alguns casos o eixo pode adquirir um
tecido presente na semente acompa- desenvolvimento muito grande e, assim, além
nhando o embrião. de poder acumular reservas, os cotilédones são
◗ Textura do tecido de reserva: carnosa, rudimentares.
córnea, farinácea, mucilaginosa ou olea-
ginosa. Cotilédones
◗ Consistência: dura, firme ou mole. ◗ textura – membranáceos, semicarnosos,
◗ Coloração. carnosos (crasso)
◗ cor – branco, verde ou amarelo
Embrião ◗ lisos ou enrugados
◗ Posição em relação ao espaço interno que ◗ forma – retos ou dobrados
ocupa dentro da semente, não em rela- ◗ apresentando ou não nervuras. As ner-
ção à substância de reserva (Martin, vuras cotiledonares são formadas por cé-
1946): lulas procambiais que se mostram mais
– pequenos: ocupam menos de 1/4 do alongadas em relação às meristemáticas,
espaço interno da semente que formam as folhas cotiledonares.
– embriões 1/4: ocupam 1/4 do espaço
interno da semente
– médios não-dominantes: ocupam a ASPECTOS FISIOLÓGICOS
metade do espaço interno da semente Uma semente em formação é uma engrenagem
– médios dominantes: ocupam 3/4 do complexa, cujas estruturas envolvidas têm uma
espaço interno da semente relação muito pouco entendida.
– dominantes: ocupam todo o espaço Estudos sobre a nutrição do embrião come-
interno da semente çaram com o surgimento da cultura in vitro,

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86 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

quando se passou a usar água de coco nos meios guns xenófitos, parecem ser a região por onde
de cultivo. Essa água é um xenófito líquido, e se daria a absorção dos nutrientes (Bhatnagar e
sua composição se revelou rica em nutrientes Kallarackal, 1980). Entretanto, Mauseth (1988)
(íons, aminoácidos, açúcares) e fitormônios. acredita que a absorção se dá através de toda a
Composição semelhante foi encontrada para superfície do xenófito.
xenófitos de outras espécies (Bhojwani e Bhat- O papel do xenófito como nutridor do em-
nagar, 1974). brião é controvertido. Segundo Schulz e Jensen
Para Goebel (1933), o relacionamento entre (1974), o xenófito jovem necessita de uma nu-
as estruturas da semente, durante seu desen- trição adequada ao seu próprio desenvolvimen-
volvimento, seria de autoparasitismo, uma vez to, não estando apto a alimentar o embrião. Al-
que uma vive às expensas da outra. Na opinião guns estudos envolvendo histoquímica e ultra-
de Vijayaraghavan e Prabhakar (1984), somen- estrutura tornam questionável o papel do xe-
te estudos realizados por meio de auto-radio- nófito no início do desenvolvimento da semente
grafia podem solucionar o problema da aquisi- (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984). Nessa fa-
ção de nutrientes pelas diferentes estruturas se, sua atividade metabólica é intensa, e as or-
da semente em formação. ganelas observadas parecem estar ligadas à pro-
Após a fecundação, as sinérgides podem dução de substâncias de reserva (Vijayaragha-
permanecer funcionais, exercendo um impor- van e Prabhakar, 1984) ou de substâncias que
tante papel na nutrição do embrião de Phaseolus parecem interferir no crescimento e na morfo-
coccineus no início do seu desenvolvimento gênese do embrião (Raghavan e Srivastava,
(Yeung e Clutter, 1978). 1982).
As cisternas de retículo endoplasmático li- Nas fases mais adiantadas da embriogêne-
so, que se formam junto à parede do ginófito se, o xenófito já possui uma grande quantidade
de Phaseolus vulgaris, sugerem que a mesma se de substâncias de reserva (que faltam nos está-
modifique a fim de auxiliar na absorção de nu- dios iniciais), as quais podem ser utilizadas pelo
trientes para o endosperma em desenvolvimen- embrião (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1984).
to (Vijayaraghavan e Prabhakar, 1981). Essa hipótese foi levantada depois que análises
O suspensor mostrou-se indispensável para da zona clara que circunda o embrião mostra-
o desenvolvimento de embriões de Lupinus po- ram a presença de substâncias e de partículas
lyphyllus (Palamarchuk,1959) e de Phaseolus coc- nitidamente pertencentes ao endosperma dige-
cineus (Lorenzi et al. 1978). Essa estrutura in- rido (Raghavan, 1966; Newcomb, 1973).
fluencia a morfogênese do embrião e produz Para Smith (1973), a manutenção de um
ácido giberélico (Alpi et al., 1979) e citocinina gradiente de pressão osmótica faz parte das
(Lorenzi et al., 1978). Para Raghavan e Srivas- funções desempenhadas pelo xenófito. Jensen
tava (1982), o suspensor, o qual denominam (1968) explica a diminuição do zigoto, no início
complexo endosperma/suspensor, pode funcio- do desenvolvimento da semente, como uma
nar como o principal local de entrada de subs- conseqüência da alteração no gradiente osmó-
tâncias para o embrião em desenvolvimento. tico. O rápido crescimento do xenófito faz com
O papel do nucelo na nutrição do xenófito que a água saia do vacúolo do zigoto, indo para
e do embrião é bastante controvertido. Para o xenófito. Assim, uma osmorregulação apro-
Brink e Cooper (1947) e Norstog (1974), as cé- priada é uma das mais importantes funções do
lulas do ginosporângio entram em lise, e suas xenófito nos estágios iniciais do desenvolvi-
substâncias são absorvidas pelo xenófito e utili- mento da semente.
zadas em seu próprio desenvolvimento. Tam- Um meio com potencial osmótico alto é
bém não se sabe como o xenófito absorve os essencial para o desenvolvimento normal do
nutrientes liberados do ginosporângio desinte- embrião (Stafford e Davies, 1979), podendo pre-
grado (Folson e Cass, 1988). Os haustórios, es- venir sua germinação precoce (Norstog e Klein,
truturas muito diferentes que aparecem em al- 1972).

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GERMINAÇÃO 87

Schnarf (1929) já declarava que o xenófito quando a semente está na metade do seu perío-
tem a função de liderança no início do desen- do de formação. Segundo o autor, sete dias de-
volvimento da semente, sendo sua presença im- pois da polinização, o embrião de Phaseolus pos-
prescindível mesmo em sementes pseudogâmi- suiria 24.533 células, enquanto o xenófito,
cas (Rutishauser, 1954). Essa liderança, entre- 19.357 células. Essa diferença no número de
tanto, depende da capacidade do xenófito de células foi interpretada como o embrião assu-
estabelecer e manter uma dominância fisiológi- mindo, desde cedo, a dominância do desenvol-
ca em relação ao tecido materno que o rodeia. vimento da semente, sendo esse padrão consi-
Isso porque, no início do desenvolvimento da derado o mais comum nas sementes exalbu-
semente, o tegumento é maior e mais ativo, de minosas.
forma que o xenófito e o embrião competem No início do desenvolvimento, os frutos e
com ele pelos nutrientes disponíveis (Cooper e as sementes estão conectados ao resto da planta
Brink, 1940). por meio do sistema vascular. Os tecidos do fru-
A interação xenófito/tegumento impõe to e o tegumento da semente, nesse momento,
uma coerção fisiológica ao crescimento da se- exercem um papel importante na nutrição das
mente, determinando a extensão na qual o po- sementes, passando posteriormente ao papel
tencial genético do embrião será expresso (Hed- de proteção (Lin et al., 1990).
ley e Ambrose, 1980). A parte vegetativa da planta contribui com
Dentro do equilíbrio delicado existente nas os nutrientes que serão acumulados como re-
condições iniciais do desenvolvimento da se- serva no interior da semente. A separação espa-
mente, seria necessário um mecanismo que in- cial e temporal entre os locais de descarga des-
clinasse o balanço em favor do xenófito. A dupla sas substâncias e sua utilização sugere uma
carga cromossômica, recebida por meio da fe- certa autonomia entre os dois processos (Thor-
cundação secundária, é uma adaptação que fa- ne, 1985). Na descarga dos fotoassimilados, vá-
cilita ao xenófito o exercício de suas funções, rios tecidos e estruturas estão envolvidos (Mur-
em sua posição intercalar entre os esporófitos ray, 1989). Na região da rafe, os solutos impor-
velho e novo (Cooper e Brink, 1940). A dupla tados passam simplasticamente do floema para
fecundação foi interpretada como um mecanis- um ou mais tecidos maternos, antes de serem
mo para aumentar a competitividade do xenó- conduzidos por uma via apoplástica até as cé-
fito, conferindo a este a vantagem fisiológica lulas onde serão acumulados como reservas
da hibridação (Brink e Cooper, 1947). (Rees, 1984).
Brink e Cooper (1947) concluíram que o É difícil estabelecer qualquer generalização
sucesso no desenvolvimento da semente de- para a fisiologia das sementes, mas um grande
pende da proporção da ploidia (número de cro- número de trabalhos detectou que o floema é
mossomos) existente entre o xenófito, o em- o tecido que leva água e nutrientes para a se-
brião e os tecidos da planta-mãe (tegumento e mente, enquanto o xilema atua na drenagem
nucelo). Assim, o desenvolvimento da semente do excesso de água (Thorne, 1985). Em muitas
depende diretamente da constituição genética sementes, a sacarose não é metabolizada na tes-
do xenófito, e sua poliploidia é fundamental ta como acontece com os aminoácidos (Mur-
para a conclusão do processo. ray, 1989), podendo constituir a fonte mais efi-
Outro fator apontado como fundamental ciente de carbono para o embrião em formação
para o sucesso do desenvolvimento da semente (Raghavan e Srivastava, 1982).
é a correlação entre xenófito e embrião. Com Flinn e Pate (1968) estabeleceram os níveis
base nisso, Erdelská (1984) propôs um sistema de proteína e aminoácidos para todos os tecidos
para agrupar os diferentes tipos de desenvolvi- da semente e da vagem de Pisum arvense duran-
mento das sementes. Nesse sistema, os tipos te o seu desenvolvimento. Observaram que o
são caracterizados de acordo com o número de ganho de compostos nitrogenados pelo em-
células que o xenófito e o embrião possuem brião, durante a embrionênese, era muito maior

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88 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

que a perda pela vagem, pelos tegumentos e Paulo, 1995. Tese (Doutorado) – Universidade de São
pelo endosperma, sugerindo que o embrião es- Paulo. 212p.
taria sintetizando substâncias. Essa idéia é cor- AQÜILA, M.E.A.; FERREIRA, A.G. Germinação de se-
roborada por duas observações. Uma nota que mentes de Araucaria angustifólia em solo. Ciência e Cultura,
o fluxo de nutrientes que chega até o rudimento v.36, n.9, p.1583-1587, 1984.
seminal e os tegumentos só continua chegando BARROSO, G. M.; MORIN, M. P.; PEIXOTO, A.L.;
até a semente enquanto o funículo está funci- ICHASO, C.L.F. Frutos e sementes, morfologia aplicada à siste-
onal. Assim, após a obliteração do funículo, a mática de dicotiledôneas. Viçosa: UFV, 1999.
semente se torna um sistema nutricional fecha- BARTON, L.V., Dormancy in seeds imposed by seed
do. O tegumento e o embrião de algumas se- coat.In: RUHLAND,W (Ed.). Handbuch der Pflanzenphy-
siologie, v.15, n.2, Berlin, p. 727-745, 1965.
mentes, como Senna macranthera, possuem clo-
rofila e, portanto, poderiam fazer fotossíntese BASKIN. C.C.; BASKIN, J.M. Seed: ecology, biogeography
(Aqüila, 1995). and evolution of dormancy and germination. San Diego:
Academic Press, 1998.
O aumento dos ácidos nucléicos durante a
formação da semente está relacionado com a BAUMAN, F. The ovule. In: JOHRI, B.M.(Ed.).
atividade metabólica das células, demonstran- Embryology of angiosperms. Berlin: Springer-Verlag, 1984.
p.124-157.
do a intensa atividade de transcrição, necessária
aos eventos envolvidos nesse processo. Para BELTRATI, C.M.; PAOLI, A.A.S. Semente. In: APPEZZA-
muitas sementes, o nível máximo de RNA é TO-DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO, S. Ana-
tomia vegetal. Viçosa: UFV, 2003.Cap. 15, p. 399-424.
atingido um pouco antes do início da síntese
da proteína de reserva, enquanto o nível máxi- BEWLEY, J.D.; BLACK, M. (Eds.). Physiology and
mo de DNA é atingido depois que as células biochemistry of seeds, in relation to germination. Berlim:
Springer Verlag, 1978. v.1 e 2.
param de se dividir, coincidindo com o início
da síntese do amido e da proteína nas células BHATNAGAR, S.P.; KALLARACKAL, J. Cytochemical
de reserva. studies on the endosperm of Linaria bipartita (Vent.)
Wild. with a note on the role of endosperm haustoria.
Convém lembrar que o RNA da semente Cytologia, v.45, p.247-256, 1980.
em formação não é o mesmo da semente em
BHATNAGAR, S.P.; SAWHNEY, V. Endosperm: its
germinação, uma vez que outros genes deverão
morphology, ultrastructure, and histochemistry. Inter.
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PA R T E 2

DORMÊNCIA

Germinação_05ok.p65 91 17/05/2004, 17:42


C A P Í T U L O 5

DORMÊNCIA:
ESTABELECIMENTO DO PROCESSO
Victor José Mendes Cardoso

A SEMENTE QUIESCENTE E ramente é preciso que as condições dos ambien-


DORMENTE tes químico e físico sejam favoráveis a esse pro-
Na grande maioria das espermatófitas, no final cesso. Assim, por exemplo, é necessário que a
do período de maturação da planta-mãe, os pro- disponibilidade de água, a temperatura e a con-
cessos de troca energética entre a semente e o centração de oxigênio no meio não limitem o
meio ambiente reduzem-se a níveis mínimos, metabolismo germinativo. Uma semente quies-
praticamente imperceptíveis, já que, nessa fase, cente é aquela que inicia e completa o processo
cerca de 90% da água originalmente presente germinativo quando não existe insuficiência de
nos tecidos da semente é removida. Labouriau fatores do ambiente e não há a presença de ele-
(1983) utilizou o termo criptobiose para designar mentos tóxicos (como inibidores químicos) ca-
esse estágio do desenvolvimento, situado entre pazes de impedir a germinação. Em suma, des-
o fim da maturação e o início da germinação, de que não haja restrições do meio, uma semen-
quando o embrião passa por uma suspensão te quiescente germinará em um período relati-
temporária do crescimento. vamente curto, produzindo uma plântula.
A semente criptobiótica pode ser classificada Entretanto, há muito constatou-se que al-
como um organismo altamente evoluído, já que, gumas sementes não germinam mesmo quan-
além de atingir um alto grau de independência do colocadas em condições ambientais aparen-
das flutuações do meio em que se encontra, pode temente favoráveis. Tais sementes – denomina-
perceber e reagir a tais flutuações, alterando seu das dormentes – apresentam alguma restrição
desenvolvimento. Nessa condição, portanto, a interna ou sistêmica à germinação, restrição es-
produção de entropia pela semente, que é uma ta que deve ser superada a fim de que o processo
decorrência de sua atividade metabólica, pode germinativo ocorra. Assim, a dormência em se-
variar em função das condições externas e/ou mentes é causada por um bloqueio situado na
internas do sistema. No primeiro caso, o indiví- própria semente ou unidade de dispersão, ao
duo “espera” um ambiente favorável para se de- contrário da quiescência, que é provocada pela
senvolver, enquanto, no segundo, há uma “blin- ausência ou insuficiência de um ou mais fa-
dagem” que protege o sistema, amortecendo os tores externos necessários à germinação.
efeitos de eventuais flutuações do meio.
Uma vez dispersa da planta-mãe, a semente
representa um organismo autônomo, sendo CONCEITO DE DORMÊNCIA:
que a continuidade do desenvolvimento do em- DORMÊNCIA RELATIVA E
ABSOLUTA
brião dependerá de uma série de fatores, seja
da própria semente, seja do ambiente. Para que Embora se reconheçam algumas de suas cau-
o crescimento do embrião possa ser retomado sas, ainda não há uma definição precisa de dor-
– isto é, para que ocorra a germinação –, primei- mência em sementes, tendo em vista o pouco

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94 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

conhecimento a respeito dos mecanismos en- ponderia à faixa de sensibilidade térmica da se-
volvidos. Além disso, as discussões sobre o tema mente, não dependendo da temperatura exter-
baseiam-se principalmente em pesquisas reali- na. Ampliando-se esse conceito de modo que
zadas com sementes de espécies de regiões tem- ele envolva outros fatores, como a luz, a dor-
peradas, na maioria plantas de interesse mência pode ser definida como uma caracterís-
econômico. tica ou estado da semente que determina os
Em uma das primeiras tentativas de classi- requisitos necessários para a germinação. Se as
ficar o fenômeno, Harper (1959, in Vleeshou- condições ambientais atenderem a tais requisi-
wers et al., 1995) reconheceu três tipos de dor- tos, a germinação ocorrerá. Assim, enquanto
mência em sementes: (a) dormência inata, que em seu conceito original a dormência imposta
ocorre antes da dispersão da semente; (b) dor- é causada por uma condição desfavorável do
mência induzida, que se instala na semente após meio, nesse novo conceito a dormência está re-
a dispersão; e (c) dormência imposta, quando a lacionada à capacidade da semente em respon-
semente não germina devido a uma condição der às flutuações ambientais.
adversa do ambiente. Como se pode perceber, A dormência relativa representa essa variação
de acordo com esse conceito, a dormência im- na sensibilidade da semente a fatores ambien-
posta seria equivalente à quiescência, ou seja, tais. Em diversas gramíneas, como Brachiaria
não constituiria uma verdadeira dormência. brizantha (braquiarão), quanto mais dormente
Dessa classificação emergiu uma definição me- o lote de sementes, menor a faixa de temperatu-
nos genérica, segundo a qual dormência é uma
incapacidade temporária de germinação em
uma determinada condição ambiental que não
impede a germinação da semente não-dormente.
Vegis (1964) relacionou dormência com a
capacidade da semente germinar em resposta
à temperatura. Assim, quanto mais dormente TM

a semente, mais estreita a faixa térmica na qual


Temperatura

ela germina, até a condição de dormência total


ou absoluta, quando ela não germina em ne-
nhuma temperatura. Inversamente, a interrup-
ção (quebra) da dormência é acompanhada de
um alargamento do intervalo de temperaturas
no qual a germinação ocorre. Nesse conceito – Tm

que se assemelha ao de dormência imposta –,


uma semente parcialmente dormente pode ger-
minar desde que colocada em uma temperatura
jan mai set dez
adequada, vinculando-se assim a dormência às
mês
condições às quais a semente está exposta.
! Figura 5.1
Um modelo utilizado para explicar a perio-
Esquema mostrando uma hipotética variação na am-
dicidade de emergência de plantas daninhas plitude térmica de germinação, representada pela fi-
anuais propôs que esta seria o resultado da va- gura trapezoidal de uma espécie anual. As faces supe-
riação sazonal da temperatura no campo e da rior e inferior do trapézio representam, respectiva-
amplitude térmica de germinação (Karssen, mente, as variações de temperatura máxima (TM) e
1982). Assim, a germinação ocorre apenas mínima (Tm) de germinação. A linha traçada em forma
de parábola representa a flutuação média da tempera-
quando há uma sobreposição entre a tempera- tura ambiente. As retas verticais indicam o período
tura no campo (fator ambiental) e a faixa térmi- propício à germinação, quando a amplitude térmica
ca de germinação da semente (fator endógeno) da semente e a temperatura externa coincidem. Adap-
(Figura 5.1). Desse modo, a dormência corres- tada de Vleeshouwers et al. (1995).

Germinação_05ok.p65 94 17/05/2004, 17:42


GERMINAÇÃO 95

ra dentro da qual elas germinam. A dormência da radícula – esta sim, uma resposta “tudo ou
relativa manifesta-se também em sementes nada” –, ocorrerá em função do grau de dor-
sensíveis à luz. Em Cucumis anguria (maxixe), mência da população ou lote de sementes, ou
por exemplo, observa-se que, com o armaze- seja, de sua sensibilidade e das condições am-
namento da semente, a luz branca passa a exer- bientais atuais.
cer um efeito inibitório sobre a germinação (No-
ronha, Vicente e Felippe, et al., 1976). Em se-
mentes que dependem da luz para germinar DORMÊNCIA PRIMÁRIA E
(fotoblastismo positivo), como algumas varie- SECUNDÁRIA
dades de Lactuca sativa (alface) e Rumex A dormência é normalmente classificada de
obtusifolius (língua-de-vaca), o tratamento com acordo com sua origem ou com os prováveis
temperaturas altas (≅30oC) pode aumentar (no mecanismos envolvidos. Quanto à origem, com
caso de Rumex) ou diminuir (na alface) a sen- base na classificação de Harper já mencionada,
sibilidade da semente ao fitocromo, pigmento são reconhecidas atualmente duas modalidades
responsável pela percepção da luz (Takaki, de dormência: primária (equivalente à dormên-
1991). Outras manifestações de dormência re- cia inata) e secundária (ou induzida) (Figura 5.2).
lativa ocorrem em diversas Melastomataceae,
como Tibouchina spp., cujas sementes exibem Dormência primária
fotoblastismo positivo, em que a resposta à luz A dormência primária instala-se durante a
pode ser influenciada pelas condições fase de desenvolvimento e/ou maturação, de
ambientais no período de maturação da se- modo que a semente é dispersa da planta-mãe
mente. Esse comportamento também pode ser já em estado dormente, exigindo, portanto, tra-
afetado pela temperatura durante a germina- tamentos ou condições específicas para se tor-
ção, como em Cosmos sulphureus, em que, a 20oC, nar quiescente. A estratificação – exposição da
parte das sementes requer luz branca para ger- semente hidratada a temperaturas baixas ou
minar, e, a 30oC, a germinação é indiferente à altas – é um exemplo de tratamento requerido
luz (Borghetti e Labouriau, 1994). Já em Sida por algumas sementes com dormência primá-
cordifolia (guanxuma), unidades de dispersão ria, como Ilex paraguariensis (erva-mate) e Acer
podem exibir fotoblastismo negativo depen- spp. (Capítulo 6).
dendo da temperatura de germinação (Cardoso, Após a dispersão, a dormência primária
1991). pode diminuir de intensidade em um processo
Desse modo, a dormência relativa – exem-
plificada pela chamada dormência fotoblástica
e pela sensibilidade térmica – caracteriza-se pe-
la variação da capacidade de resposta do em- Dormência
Quiescência Germinação
primária
brião a diferentes doses de um dado estímulo
ambiental, capacidade esta determinada princi- Pós-maturação
palmente pelas condições de maturação e/ou
germinação da semente.
Uma análise dos casos de dormência relati-
va mostra que tanto a entrada como a saída da Dormência
secundária
dormência exibem uma gradação, não consti-
tuindo uma resposta tipo “tudo ou nada”. Em
! Figura 5.2
sementes dormentes de maçã, por exemplo, Transições entre os estados de dormência e quies-
quanto mais longo o tempo de estratificação cência em sementes. Setas em negrito indicam a ação
(pré-tratamento com temperatura baixa), mai- de processos relacionados à quebra da dormência
or a germinação a 25oC (Labouriau, 1983). A (pós-maturação). Adaptada de Hilhorst e Karssen
germinação visível, representada pela protrusão (2000).

Germinação_05ok.p65 95 17/05/2004, 17:42


96 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

conhecido como pós-maturação (Capítulo 8). Em enciam a dormência da semente, enquanto, em


geral, o termo pós-maturação é aplicado a se- outras espécies (tais como beterraba), o genó-
mentes “secas” (com até cerca de 20% de água), tipo materno responde pela influência genética
sendo uma função das condições ambientais, na capacidade de germinação. Já o fotoblastismo
do regime de temperatura, do teor de água na positivo de certas variedades de alface é controla-
semente e do tempo. Outros autores fazem uma do por um gene paterno (contido no pólen).
distinção entre esse tipo de pós-maturação (“a
seco”) e aquele que ocorre em sementes hidra- Indução da dormência primária
tadas (estratificação). Exemplos de pós-matu-
ração a seco são comuns em diversas gramíneas Aspectos fisiológicos
tropicais, tais como capim-braquiária (Brachia- Durante seu desenvolvimento, a semente
ria decumbens), cuja dormência é menor em se- pode adquirir a capacidade de germinar logo
mentes armazenadas do que em recém-colhi- no início da fase de maturação, o que é demons-
das (Lima e Cardoso, 1996). trado experimentalmente pelo cultivo de em-
Os mecanismos envolvidos na transição do briões isolados em meio nutritivo. Assim, na
estado dormente para o estado não-dormente grande maioria dos casos, existem fatores res-
(pós-maturado) ainda não são totalmente com- ponsáveis pelo controle do desenvolvimento do
preendidos, mas, no caso de sementes de embrião, os quais impedem a germinação da
tabaco, devem envolver alterações na expres- semente na planta-mãe. Quando não há essa
são de enzimas (β-1,3-glucanases) que, hidro- restrição, pode ocorrer o fenômeno conhecido
lisando componentes das paredes celulares, au- como viviparidade, que é o crescimento ininter-
mentam a capacidade de embebição da semen- rupto do embrião com a semente ainda ligada
te (Leubner-Metzger, 2003). à planta. Por outro lado, a persistência dos fato-
A presença do fator hereditariedade na dor- res restritivos da germinação após a semente
mência primária tem sido mostrada em inúme- ter atingido a maturidade e após sua dispersão
ras espécies, sendo quase todos os casos refe- caracteriza a dormência primária.
rentes às dormências física e fisiológica (ver Assim, a dormência primária parece ter
item “Mecanismos de dormência”). Estudos duas “funções” básicas: impedir a germinação
genéticos, com base no cruzamento de varieda- precoce da semente durante a fase de matura-
des ou linhagens dormentes e não-dormentes, ção na planta e – estendendo-se após a disper-
mostram que o número de genes envolvidos são da semente madura – prevenir a germina-
na dormência pode variar, dependendo da espé- ção sincronizada das sementes, ou seja, evitar
cie. Em Vicia, por exemplo, a dormência – rela- que germinem todas ao mesmo tempo.
cionada à impermeabilidade do tegumento – é Não se conhece ainda o principal fator –
controlada por dois pares de alelos, sendo que ou fatores – responsável pela supressão da ger-
sementes com genótipo aabb são dormentes. minação precoce e, por conseguinte, pelo esta-
Nesse caso, tegumentos permeáveis são produ- belecimento da dormência, embora se acredite
zidos apenas quando o gene B é dominante (Bb que o ácido abscísico (ABA) participe do proces-
ou BB) e o gene A é duplamente recessivo (aa). so. Evidências experimentais obtidas a partir
Considerando-se que o embrião é diplóide de mutantes deficientes ou pouco sensíveis ao
(50% do genoma é materno, e 50%, paterno), o ABA – principalmente Arabidopsis thaliana, Ly-
endosperma é triplóide (dois terços do genoma copersicum esculentum e Zea mays – fortalecem a
são maternos, e um terço, paterno) e os envol- hipótese de que a ausência de ABA e/ou a insen-
tórios (como o tegumento e o endocarpo) são sibilidade a esse hormônio durante a fase de
diplóides e de origem totalmente materna, a desenvolvimento resultam em sementes sem
herança da dormência pode envolver diferentes dormência primária.
genótipos. Em Sinapis arvensis, tanto o genótipo A busca por genes associados à dormência
do embrião como o componente materno influ- cuja expressão é modificada pelo ABA (ou outro

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GERMINAÇÃO 97

hormônio) vem sendo objeto de inúmeras pes- ou seja, quanto mais madura a semente, maior
quisas. Experimentos nesse sentido sugerem o grau de dormência, requerendo períodos de
que a manutenção da dormência seja um pro- estratificação proporcionalmente mais longos.
cesso ativo governado por um ou mais genes
(Hilhorst, 1998). Alguns desses genes aparente- Efeito das condições ambientais durante a
mente envolvidos na indução da dormência fo- maturação
ram identificados; entretanto, ainda não existe A dormência primária depende não só do
uma relação causal entre sua expressão e a ma- genótipo como também das condições de ma-
nutenção da dormência. turação, mostrando que essa modalidade de
Outros hormônios, particularmente as gi- dormência pode ser induzida. Em Chenopodium
berelinas (GAs), também devem estar envolvi- album, por exemplo, sementes amadurecidas
dos no controle da dormência primária, além em dias curtos possuem tegumentos finos e
de fatores como o meio ambiente osmótico da embebem e germinam relativamente bem, en-
semente. Considerando-se que a ação do ABA quanto as de dias longos apresentam tegumen-
pode ser antagonizada pelas GAs, os níveis e/ tos mais impermeáveis e maior grau de dor-
ou a sensibilidade dos tecidos embrionários ou mência. Sementes de Avena fatua maturadas sob
extra-embrionários a esses hormônios podem estresse hídrico exibem menor dormência, ao
contribuir com o grau de dormência em uma contrário de Cenchrus ciliaris (uma gramínea pe-
ação interativa com outros fatores endógenos rene de regiões áridas e semi-áridas), cujas se-
(genótipo, meio osmótico, etc.) e externos (luz mentes produzidas sob deficiência hídrica ten-
e temperatura). dem a apresentar maior dormência (Murdoch
Além dos aspectos fisiológicos e molecula- e Ellis, 2000). Já em algumas espécies arbóreas
res (Capítulo 6), outros fatores localizados nos de Cerrado, sementes dispersas na estação seca
tecidos extra-embrionários devem participar do tendem a apresentar maior velocidade de ger-
controle da dormência na semente intacta, minação do que sementes disseminadas na es-
como no caso da dormência tegumentar ou de tação chuvosa, as quais apresentam maior dor-
cobertura (ver “Mecanismos de dormência”), mência (Oliveira, 1998).
que é influenciada principalmente pelas ca- A qualidade e/ou a quantidade de luz du-
racterísticas anatômicas dos envoltórios (Ca- rante a maturação também podem influenciar
pítulo 7). Sementes que desenvolvem tegumen- o grau de dormência. Em Cucumis anguria
tos impermeáveis são capazes de embeber e ger- (Cardoso, 1995), sementes amadurecidas em
minar quando coletadas no ponto de maturida- dias curtos (fotoperíodo de 8 h) germinam mais
de fisiológica, antes do início da fase de desse- rapidamente do que em dias longos (16 h), as-
camento. Assim, a impermeabilidade dos tegu- sim como ocorre com aquênios de Bidens sulphu-
mentos se desenvolve durante a rápida fase de rea (Borghetti, 1998). Em algumas Leguminosae,
desidratação, sendo que ela se estabelece com o o fotoperíodo durante a fase final de maturação
conteúdo de água na semente variando de 2 a pode influenciar a germinação, agindo sobre o
21% (Baskin e Baskin, 1998). desenvolvimento do tegumento. Em Ononis si-
Dependendo da espécie, a dormência pri- cula, por exemplo, o aumento da germinabili-
mária pode se instalar já nas fases iniciais do dade de sementes amadurecidas em dias curtos
desenvolvimento, como em Avena fatua, ou no está relacionado ao fato de as sementes apre-
final do período de maturação, como em Sida sentarem o tegumento menos espesso e mais
spinosa, na qual mudanças no tegumento pare- permeável à água (Gutterman, 2000).
cem ser as responsáveis pelo estabelecimento A percepção da luz pela semente ocorre por
da dormência (Bewley e Black, 1994). Diversas intermédio do pigmento fitocromo, uma cromo-
pesquisas também mostraram que embriões de proteína com peso molecular ao redor de 125
maçã apresentam um aumento quantitativo da kDa (quilodaltons). Em plantas mantidas no
dormência em função do tempo de maturação, escuro, esse pigmento é encontrado sob duas

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98 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

formas: Fv, considerada inativa do ponto de vis- rando sua capacidade de germinação. Como
ta fisiológico, cujo pico de absorção de luz (ao exemplos de tais fatores – coletivamente trata-
redor de 660 nm) situa-se na região vermelha dos como fatores maternos – podem ser destaca-
(V) do espectro radiante; e Fve, forma biologica- dos: (a) posição da flor ou inflorescência na
mente ativa, com absorção máxima no verme- planta; (b) posição da semente na inflorescên-
lho extremo (região do espectro situada entre cia ou no fruto; e (c) idade da planta-mãe du-
700 nm e 800 nm). Essas duas formas do fito- rante a indução floral ou maturação da semen-
cromo são interconversíveis, ou seja, Fv é con- te. Em Bidens pilosa (picão-preto), por exemplo,
vertida pela luz vermelha em Fve, e esta é con- há um dimorfismo morfológico dos frutos, com
vertida em Fv pelo vermelho extremo. Compri- aquênios longos no centro e aquênios curtos
mentos de onda ricos em vermelho extremo na periferia do capítulo. Nesse caso, observou-
(VE) em geral inibem a germinação de semen- se que os aquênios longos germinam melhor
tes fotossensíveis devido à fotoconversão do Fve do que os curtos, os quais possuem tegumentos
na forma Fv, inativa. A luz filtrada pelo dossel mais grossos e maior dormência – provavel-
(com baixa razão V/VE) reduz o fotoequilíbrio ou mente relacionada à redução na taxa de difusão
estado fotoestacionário do fitocromo (razão Fve/ de oxigênio para o interior da semente. Deve-
Fitocromo total), inibindo assim a germinação se ressaltar, entretanto, que mesmo esse fator
de sementes expostas a essas condições. Do “materno” é influenciado pela condições am-
mesmo modo, a ação da cobertura vegetal e dos bientais, já que a proporção de aquênios longos
tecidos que envolvem a semente durante sua e curtos varia conforme a estação, e mais frutos
maturação na planta-mãe pode fazer com que curtos por capítulo são produzidos em dias lon-
o fotoequilíbrio no embrião seja baixo ao final gos (Forsyth e Brown, 1982). Em Commelina
de seu desenvolvimento. Portanto, uma semente virginica (trapoeraba), observa-se a produção de
amadurecida em um ambiente rico em VE (como flores aéreas (casmogâmicas) e subterrâneas
sob dossel) pode apresentar maior dormência. (cleistogâmicas), sendo que essas últimas pro-
A exposição de aquênios de Bidens pilosa por 1 h duzem sementes maiores e com maior germi-
ao VE, por exemplo, é suficiente para inibir sua nabilidade do que as sementes originadas de
germinação no escuro (Gutterman, 2000). A res- flores aéreas. Estas, por sua vez, são indiferen-
posta das sementes à qualidade da luz durante tes à luz, enquanto as sementes subterrâneas
a maturação na planta-mãe também pode estar apresentam fotoblastismo positivo (Cardoso,
relacionada à espessura do tecido clorofilado que Beltrati e Paoli, 1994).
envolve a semente nessa fase, aumentando a A posição da semente no fruto também po-
incidência de VE no embrião. de conferir um polimorfismo fisiológico. Um
Na maior parte dos casos relatados, o au- exemplo clássico é Xanthium strumarium, no
mento da temperatura durante a fase de ma- qual cada fruto contém duas sementes: a que
turação tende a produzir sementes com menor ocupa a porção proximal (em relação ao pedún-
grau de dormência, ou seja, quanto maior a culo) exibe uma dormência muito maior do que
temperatura, maior a capacidade de germina- a da semente distal (Esashi et al., 1983).
ção. Entretanto, essa resposta não constitui A idade da planta-mãe também pode afetar
uma regra geral, estando provavelmente rela- a germinabilidade de sua progênie, como no
cionada à fenologia da planta, à sua tolerância caso de Amaranthus retroflexus, uma herbácea
a temperaturas mais elevadas e ao tempo de anual cuja germinabilidade diminui com a ida-
exposição ao estímulo térmico. de da planta-mãe no momento em que ocorre
a indução floral. Plantas adultas jovens de
Efeito de fatores maternos Spergularia diandra produzem sementes mais pe-
Além dos fatores abióticos, fatores biológi- sadas e com dormência menor do que sementes
cos também influenciam diretamente o grau produzidas já no estágio de senescência (Gut-
de dormência primária de uma semente, alte- terman, 2000).

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GERMINAÇÃO 99

Os mecanismos pelos quais a planta-mãe entre as duas modalidades de dormência é de


influencia as características germinativas da natureza principalmente quantitativa, estando
progênie envolvem – além da herança genética, relacionada ao estágio em que se encontra o
tanto cromossômica como extracromossômica ciclo celular antes da indução da dormência.
– a movimentação de substâncias químicas, Assim, enquanto a primária é induzida duran-
como inibidores de crescimento, dos tecidos te o desenvolvimento, quando a síntese de DNA
maternos para a semente em desenvolvimento. está aparentemente interrompida, a secundária
deve ser induzida após o início desse processo
Dormência secundária (Castro et al., 2001).
A expressão “dormência secundária” é pre-
ferível à “dormência induzida”, considerando Os fatores ambientais e a indução da
que a dormência primária também pode ser in- dormência secundária
duzida. A dormência secundária instala-se em Além de se instalar na semente quiescente,
uma semente quiescente, após a dispersão, é comum também que a dormência secundária
quando esta encontra um ambiente desfavorá- seja induzida em uma semente com algum tipo
vel ou estressante para a germinação, principal- de dormência primária. Algumas sementes que
mente quanto aos fatores água, temperatura, necessitam de luz para germinar, como as de
luz e oxigênio. Sementes de Xanthium struma- diversas espécies invasoras de culturas, quando
rium, por exemplo, adquirem dormência quan- mantidas no escuro por períodos relativamente
do embebidas em uma condição de anoxia (au- longos (por exemplo, em caso de enterramen-
sência de oxigênio). Não apenas ambientes des- to), podem vir a apresentar dormência secun-
favoráveis, mas também condições de toxici- dária, perdendo a capacidade de germinar mes-
dade (como a presença de substâncias quími- mo quando colocadas em presença de luz. Além
cas) podem induzir dormência secundária. da resposta à luz, a resposta à temperatura tam-
Esta questão ainda permanece sem respos- bém pode ser alterada. Sementes de Sisymbrium
ta: Até que ponto as dormências primária e se- officinale – uma Brassicaceae potencialmente in-
cundária diferem entre si em termos fisiológi- vasora de culturas e comum no hemisfério Nor-
cos? Estudos realizados em Lycopersicum esculen- te – recém-dispersas apresentam dormência
tum mostram que sementes com dormência pri- primária, germinando melhor em temperaturas
mária mantidas no escuro não exibem qual- altas do que em baixas. Quando essas sementes
quer atividade do ciclo celular (seqüência de permanecem enterradas por períodos longos
eventos necessários para a expansão e a divisão (acima de 5 meses), adquirem dormência se-
celular) e nem respondem a tratamentos com cundária, passando a germinar mais em tempe-
luz e giberelina. A sensibilidade a esses trata- raturas baixas (Vleeshouwers et al., 1995). As-
mentos é aumentada quando a dormência pri- sim, uma semente pode ter seu grau de dor-
mária é quebrada por resfriamento, levando à mência, ou seja, sua faixa de sensibilidade a
formação de microtúbulos, um dos pré-requi- um determinado estímulo ambiental alterada
sitos para o início do ciclo celular. Por outro la- pelas condições do ambiente (dormência relati-
do, em sementes com dormência secundária in- va). Um outro exemplo interessante é o de se-
duzida por vermelho extremo, verifica-se a pre- mentes de Taraxacum megalorrhizon, cuja dor-
sença de microtúbulos, sugerindo que a indu- mência primária foi quebrada por estratificação
ção ocorre após a ativação do ciclo celular, ou e que se tornam novamente dormentes se fo-
seja, quando o processo de germinação já está rem armazenadas a seco, sendo que essa dor-
em andamento. Como as sementes de tomate mência secundária pode ser absoluta ou relati-
com dormência secundária respondem mais à va, dependendo da temperatura de armazena-
luz e à giberelina do que as com dormência pri- mento.
mária, propõe-se que, nesse caso, a diferença

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100 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

A dormência secundária pode ser atenuada Dormência endógena


desde que as condições ambientais permane- A dormência endógena, que também pode
çam favoráveis, propiciando assim a germina- ser chamada de embrionária, é causada por al-
ção da semente. Por outro lado, estudos realiza- gum bloqueio à germinação relacionado ao pró-
dos principalmente em espécies invasoras de prio embrião – mas que eventualmente pode
culturas de regiões temperadas mostram que a envolver tecidos extra-embrionários – , poden-
indução e a atenuação da dormência secundária do ser dividida em: fisiológica, morfológica e
podem se suceder com as estações do ano. Essa morfofisiológica (Quadro 5.1).
variação sazonal da dormência secundária é co-
nhecida como dormência cíclica. Em geral, a dor- Dormência fisiológica (DF)
mência é quebrada durante a estação desfavo- É causada por mecanismos inibitórios en-
rável à germinação e, se porventura a germina- volvendo os processos metabólicos e o controle
ção não ocorrer por insuficiência de um fator do desenvolvimento. Na DF operam diversos
promotor, a dormência é reinduzida na estação mecanismos, localizados não só no embrião
de crescimento (verão, para as anuais de verão, propriamente dito, mas também nos tecidos e
ou outono, para as anuais de inverno), fazendo nas estruturas adjacentes, tais como o tegu-
com que a semente não germine mesmo em mento e o endosperma. Esses mecanismos ain-
condições favoráveis (Hilhorst, 1998). da não são totalmente conhecidos, o que muitas
No Brasil, não há muitos estudos sistemáti- vezes gera alguma confusão na literatura cientí-
cos sobre a ocorrência de dormência cíclica em fica a respeito do enquadramento de casos de
sementes. Segundo um trabalho pioneiro de DF. Fatores responsáveis pela DF, como a sensi-
Silberschmidt (1956), entretanto, é possível bilidade a reguladores químicos e o fotoequilí-
que flutuações endógenas possam contribuir brio do fitocromo, devem estar localizados ex-
para a periodicidade na dormência de semen- clusivamente no embrião. Entretanto, também
tes enterradas, como sugerido para sementes são considerados responsáveis pela DF fatores
de Hedychium gardnerianum e Leonurus sibiricus, relacionados aos tecidos extra-embrionários.
cujas sementes armazenadas parecem exibir Como exemplo, pode-se destacar a restrição fí-
oscilações periódicas em seu potencial germi- sica e/ou mecânica, provocada pelo tegumento
nativo. e/ou endosperma, e a ação exercida por inibi-
dores de crescimento (como compostos fenóli-
cos) presentes no endosperma, na testa ou no
MECANISMOS DE DORMÊNCIA pericarpo. Pesquisas recentes sugerem que di-
Com base nos mecanismos presumivelmente versas modalidades de DF resultam da intera-
envolvidos, a dormência de sementes pode ser ção entre o potencial de crescimento do embrião
classificada em dois grandes grupos: endógena e as restrições impostas pelos tecidos que o en-
e exógena. Seguimos aqui a classificação adotada volvem. Alterações nesse potencial podem en-
por Baskin e Baskin (1998). Outros autores, volver mudanças na sensibilidade de tecidos do
como Bewley e Black (1994), consideram ape- embrião a substâncias inibidoras e/ou a expres-
nas dois tipos de dormência: embrionária, quan- são de enzimas capazes de hidrolisar as paredes
do o embrião não germina mesmo quando iso- celulares do endosperma (Capítulos 6 e 10).
lado do restante da semente, e imposta pelos en- Dentro da DF, costuma-se distinguir três
voltórios ou de cobertura (coat-imposed), quando níveis, dependendo principalmente de sua du-
o bloqueio à germinação se origina dos tecidos ração e dos tratamentos necessários para que-
que envolvem o embrião, o qual cresce normal- brar a dormência: não-profundo ou de curta du-
mente quando isolado. Entendemos que a clas- ração, intermediário e profundo. Nos níveis não-
sificação a seguir reflete um pouco mais a com- profundo e intermediário, em geral, o embrião
plexidade e nosso pouco conhecimento do fenô- germina e produz plântulas normais quando
meno da dormência. isolado do restante da semente, enquanto, na

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GERMINAÇÃO 101

Quadro 5.1 Classificação dos principais tipos de dormência (Baskin e Baskin , 1998; Carvalho, 1994)

TIPO NATUREZA CAUSA MECANISMOS PROVÁVEIS EXEMPLOS

ENDÓGENA
Fisiológica Primária ou Inibição de natureza • inibidores químicos Ocotea puberula
secundária fisiológica envolvendo • resistência dos envoltórios e Tibouchina spp.
uma interação entre o potencial de crescimento do
embrião e os tecidos embrião
adjacentes, mas controlada • fotoequilíbrio do fitocromo
primariamante pelo embrião • balanço hormonal

Morfológica Primária Embrião indiferenciado ou • embrião continua em fase de Phoenyx dactylifera


subdesenvolvido (rudimentar crescimento lento após a
ou em estágio de torpedo) dispersão, sob a influência de
fatores do meio ambiente

Morfofisiológica Primária Dormência fisiológica em • embrião precisa atingir um Annona crassiflora


embrião com dormência tamanho crítico
morfológica • balanço entre promotores
e inibidores
• mobilização de reservas ao
embrião
• inibidores químicos (ABA?)

EXÓGENA
Física Primária ou Estrutura do tegumento e/ou • resistência dos envoltórios à Adenanthera
secundária do pericarpo difusão de água e/ou gases pavonina
ao embrião
• impermeabilidade dos
envoltórios à água e/ou aos
gases

Química Primária Inibidores químicos presentes • inibição do processo de Vitis vinifera


na semente e/ou no fruto germinação de embriões
não-dormentes

Mecânica Primária Estrutura lenhosa/pétrea do • resistência mecânica impede Berthollettia


endocarpo ou mesocarpo crescimento do embrião excelsa

dormência profunda, o embrião não se desen- ção, imersão em água quente ou escarificação.
volve mesmo quando isolado. A dormência pro- Alternância térmica, aplicação de hormônios
funda, freqüentemente encontrada em espécies (como o ácido giberélico e o etileno) e nitrato
arbóreas de regiões temperadas, localiza-se ex- também são normalmente utilizados para in-
clusivamente no embrião, aparentemente não terromper a dormência (Capítulo 8).
sofrendo influência dos envoltórios. Nos níveis
intermediário e não-profundo, o controle da Dormência morfológica (MO)
dormência situa-se fundamentalmente no em- Relaciona-se às sementes que são dispersas
brião, mas existe uma interação com os tecidos com o embrião não-diferenciado (estágio de
adjacentes (tegumentos, endosperma, etc.). É pré-embrião) ou não completamente desenvol-
o caso, por exemplo, da dormência fotoblástica vido (estágio de “torpedo” ou linear). Desse
(como em Piper spp.) e da restrição mecânica modo, o embrião deverá passar por um período
imposta pelo endosperma (como em certas va- de maturação na semente separada da planta-
riedades de Lactuca sativa). mãe, até adquirir a condição de quiescência.
Na semente intacta, dependendo do nível, Assim, o desenvolvimento da semente, nesse
a DF tende a desaparecer com os seguintes tra- caso, ocorre em duas fases, sendo a segunda
tamentos: armazenamento a seco, estratifica- na semente já dispersa. Principalmente em es-

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102 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

pécies tropicais, esse crescimento do embrião é Quadro 5.2 Algumas famílias de plantas de
praticamente contínuo no ambiente natural, fi- ocorrência tropical com pelo menos uma espécie
cujas sementes apresentam dormência morfológica
cando muitas vezes difícil separar os processos
(modificado de Baskin e Baskin , 1998)
de quebra da dormência e de germinação pro-
priamente dita. O termo pós-maturação tem si- Amaryllidaceae Amborellaceae
do aplicado de um modo genérico (lato sensu) Annonaceae Araceae
Araliaceae Arecaceae
na comunidade científica, referindo-se ao con-
Aristollochiaceae Buxaceae
junto de transformações que a semente sofre Cannaceae Cycadaceae
durante a passagem do estado de dormência Daphniphyllaceae Degeneriaceae
para o de quiescência, e não apenas aos casos Iridaceae Loranthaceae
Liliaceae Magnoliaceae
de pós-maturação morfológica do embrião
Monimiaceae Myristicaceae
(pós-maturação stricto sensu). Esta, por sua vez, Oleaceae Piperaceae
é afetada pelas condições ambientais, principal- Santalaceae Winteraceae
mente temperatura, umidade e luz. Heracleum
sphondyllum, por exemplo, apresenta pós-ma-
turação apenas se passar por um período de bai-
morfológica ou stricto sensu, enquanto, em ou-
xas temperaturas, enquanto Elaeis guineensis re-
tras, ambos os processos (quebra de dormência
quer temperaturas na faixa de 35 a 40°C. Esta
e pós-maturação morfológica) ocorrem ao mes-
última espécie deve apresentar também dor-
mo tempo. Sementes de Annona crassiflora, o co-
mência fisiológica, já que as sementes respon-
nhecido araticum (Rizzini, 1973), provavel-
dem à estratificação com temperaturas elevadas
mente se enquadram nessa categoria.
(Baskin e Baskin, 1998).
Dormência morfológica tem sido observada
em representantes de diversas famílias vegetais, Dormência exógena
algumas das quais são listadas no Quadro 5.2. A dormência exógena, ou extra-embrioná-
São escassos os trabalhos tratando dessa moda- ria, é causada primariamente pelo tegumento,
lidade de dormência em espécies brasileiras, re- pelo endocarpo, pelo pericarpo e/ou por órgãos
latada quase que exclusivamente em Annona- extraflorais, em geral com pouca ou nenhuma
ceae, Mimosaceae e Aquifoliaceae. Estudos nes- participação direta do embrião na sua quebra.
se sentido devem envolver um cuidadoso traba- Em geral, os mecanismos responsáveis por essa
lho de anatomia associado à fisiologia, pesqui- modalidade de dormência estão relacionados
sando-se a eventual ocorrência de DF e acompa- à impermeabilidade, ao efeito mecânico e/ou à
nhando-se o crescimento do embrião durante presença de substâncias inibidoras dos tecidos.
a fase de pós-maturação. Pode ser dividida em: física, química e mecânica.

Dormência morfofisiológica (MF) Dormência física (FI)


Nessa modalidade, a semente apresenta Esta dormência é causada pela impermea-
dormência morfológica e fisiológica. Para que bilidade dos tecidos da semente e/ou do fruto,
a germinação ocorra, é preciso que o embrião restringindo total ou parcialmente a difusão de
atinja um determinado tamanho crítico, variá- água ao embrião. Algumas pesquisas sugerem,
vel conforme a espécie, e que a DF seja quebra- todavia, que tegumentos e envoltórios da se-
da por estratificação ou outro tratamento. Nes- mente também podem restringir a difusão de
se caso, a pós-maturação do embrião e a quebra oxigênio para o interior da semente, conside-
da DF podem ou não requerer as mesmas con- rando que os tegumentos embebidos constitu-
dições ambientais e ocorrer ou não ao mesmo em um “filme” contínuo de água ao redor do
tempo, dependendo da espécie. Portanto, em embrião. Quanto maior a temperatura, menor
algumas espécies, a DF precisa ser quebrada a solubilidade e, portanto, menor a disponibili-
antes de o embrião entrar em pós-maturação dade de oxigênio para o embrião (Capítulo 7).

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GERMINAÇÃO 103

Como exemplos, em Serenoa repens (Arecaceae), da semente – apenas quando a umidade exter-
a dormência da semente é causada pela imper- na aumentava gradualmente.
meabilidade do tegumento e do endocarpo ao A dormência física é considerada uma das
oxigênio, e em sementes pós-maturadas de al- formas mais comuns de dormência em semen-
gumas gramíneas, como Brachiaria brizantha, tes de espécies tropicais. Exemplos típicos são:
ocorre uma dormência tegumentar causada por Schizolobium parahyba (ficheira), Erithrina spe-
tecidos da cariopse (lema e pálea), os quais pro- ciosa (eritrina), Dimorphandra mollis (falso bar-
vavelmente diminuem a disponibilidade de oxi- batimão) e Hymenaea courbaril (jatobá) (ver se-
gênio ao embrião. ção “Dormência em espécies tropicais”).
Em geral, a impermeabilidade à água é cau-
sada pelo tegumento e/ou pelo endocarpo. Em Dormência química (DQ)
Fabaceae, a resistência principal à entrada de Inicialmente, considerou-se DQ aquela cau-
água é conferida pela testa, que apresenta uma sada por inibidores de crescimento presentes
camada de células paliçádicas com paredes se- unicamente no pericarpo. A definição foi poste-
cundárias grossas e lignificadas (esclereídeos), riormente estendida para substâncias produzi-
impregnadas com substâncias de natureza hi- das tanto dentro como fora da semente que,
drofóbica, tais como lipídeos, suberina, cutina, translocadas para o embrião, inibem a germina-
substâncias pécticas e lignina. Em Anacardia- ção. Aquênios de Bidens pilosa (picão-preto), por
ceae, algumas espécies apresentam FI causada exemplo, germinam melhor quando submeti-
por tecidos do fruto (endocarpo e pericarpo). dos a uma lavagem com água corrente, sugerin-
O tegumento também pode conter uma muci- do a presença de inibidores no fruto. No caso
lagem que se expande na presença de água, for- do picão, entretanto, é possível que esses inibi-
mando uma barreira à difusão de oxigênio e dores atuem reduzindo, via oxidação, a disponi-
diminuindo a velocidade de germinação, como bilidade de oxigênio ao embrião.
provavelmente ocorre em sementes de Magonia Tem sido bastante comum a detecção –
pubescens (Joly, 1979). A deficiência de oxigênio principalmente por intermédio de bioensaios –
(hipoxia) causada pela hidratação da testa mu- de inibidores de crescimento tanto no fruto co-
cilaginosa também pode provocar dormência mo na semente, embora seu papel no controle
secundária do embrião, como deve ocorrer em endógeno da germinação raramente fique esta-
sementes de Sisymbrium officinale (Baskin e Bas- belecido. É preciso também determinar uma
kin, 1998). distinção entre a DQ (um tipo de dormência
Em condições naturais, a embebição de se- exógena) e a dormência fisiológica, tendo em
mentes com tegumento rígido ocorre por meio vista que, em muitos casos, unidades de dis-
de estruturas especializadas localizadas na sua persão com inibidores químicos também apre-
superfície, tais como a lente (ou estrofíolo), o sentam dormência fisiológica. Um exemplo é
hilo, a calaza e a micrópila, as quais impedem dado por Rosa rugosa, em que lixívia de aquênios
a passagem de água e/ou gases para o interior dormentes inibe a germinação de embriões iso-
da semente dormente. Dependendo das condi- lados de sementes dormentes dessa espécie,
ções ambientais – principalmente da água e da mas não é capaz de inibir a germinação de em-
temperatura –, tais vias de acesso são desblo- briões não-dormentes (Baskin e Baskin, 1998).
queadas, permitindo que a semente controle a Nesse sentido, diversos autores enquadram
entrada e a saída de água. Em um trabalho clás- como DF toda dormência provocada por inibi-
sico de 1954, Hyde (in Labouriau, 1983) obser- dores de crescimento. Como mencionado ante-
vou que, em sementes de Trifolium pratense e riormente, a DF está relacionada fundamental-
Lupinus arboreus, o hilo funcionava como uma mente ao embrião, envolvendo, entre outros
válvula higroscópica, mantendo-se fechado em processos, mudanças na produção e/ou na sen-
casos de aumentos bruscos e transientes da sibilidade do tecido a substâncias de crescimen-
umidade, e abrindo – permitindo a embebição to, necessitando ser quebrada por tratamentos

Germinação_05ok.p65 103 17/05/2004, 17:42


104 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

específicos, como a estratificação. Por outro la- mência em espécies tropicais, sendo o maior
do, na DQ, o embrião está em estado de quies- volume de dados obtido a partir de pesquisas
cência, e o inibidor deve simplesmente impedir realizadas na Malásia e na América Central, em
seu crescimento. Assim, a rigor, a expressão DQ florestas tropicais úmidas. Por falta, talvez, de
deveria ser aplicada apenas às espécies cujas uma melhor fundamentação conceitual e pa-
sementes não apresentam dormência fisiológica. dronização metodológica, a caracterização da
dormência assume muitas vezes uma caráter
Dormência mecânica (DM) arbitrário, sendo, portanto, passíveis de revi-
Por definição, sementes com DM apresen- sões alguns dos diversos casos estudados. As-
tam o endocarpo ou o mesocarpo pétreo, cuja sim, por exemplo, são freqüêntemente classi-
rigidez impede a expansão do embrião. Um ficados como dormência fisiológica casos em
exemplo é a semente de oliveira. Por outro lado, que o fator de restrição está provavelmente lo-
sobretudo em espécies tropicais, faltam estudos calizado no tegumento ou no pericarpo, consi-
para determinar até que ponto a DM atua como derando-se o tratamento realizado para que-
um mecanismo efetivo de restrição da ger- brar a dormência. Além disso, são inúmeros os
minação. É possível que esse tipo de dormên- trabalhos que, ao pretender abordar e discutir
cia seja acompanhado por algum bloqueio si- a dormência, acabam tratando apenas da ger-
tuado no próprio embrião, como na DF. Em ou- minação de sementes.
tras palavras, estando o embrião quiescente e A partir de compilações realizadas por Bas-
em condições adequadas de água, oxigênio e kin e Baskin (1998), elaborou-se a Tabela 5.1,
temperatura, não haveria um impedimento que trata da distribuição dos vários tipos de dor-
mecânico efetivo ao seu crescimento, por parte mência em espécies de diferentes fisionomias
dos tecidos adjacentes. florestais em regiões tropicais. Os autores infe-
riram os tipos de dormência de acordo com da-
dos sobre o tempo necessário para o início da
DORMÊNCIA EM ESPÉCIES germinação – foram consideradas dormentes
TROPICAIS as espécies cujas sementes demoraram mais de
Apesar da riqueza quanto à diversidade de espé- quatro semanas para começar a germinar – e
cies, são relativamente recentes os estudos so- sobre as características morfológicas da semen-
bre os mecanismos e as modalidades de dor- te e do embrião. De modo geral, considerando-

Tabela 5.1 Distribuição de tipos de dormência em espécies de diferentes fisionomias de florestas


tropicais (Baskin e Baskin , 1998)

Floresta Floresta Floresta


tropical semi tropical Savana/
úmida decídua decídua cerrado

Espécies arbóreas (porcentagem do total de casos de dormência registrados)


Dormência fisiológica 52% 40% 33% 24%
Dormência física 18% 40% 67% 70%
Dormência morfológica ou morfofisiológica 30% 20% – 6%

Espécies invasoras/herbáceas (porcentagem do total de casos de dormência registrados)


Dormência fisiológica 100% 65% 70% 25%*
Dormência física – 30% 28% 75%*
Dormência morfológica ou morfofisiológica – 5% 2% –

* Arbustos.

Germinação_05ok.p65 104 17/05/2004, 17:42


GERMINAÇÃO 105

se um gradiente que vai desde o ambiente mais da espécie, observa-se – além da predominância
úmido (floresta tropical úmida) até o mais seco de FI – que a dormência fisiológica é mais co-
(savana/cerrado), nota-se que os casos de dor- mum no grupo das não-pioneiras, enquanto a
mência fisiológica e morfológica decrescem e dormência física tende a ocorrer mais nas espé-
os casos de dormência física aumentam à medi- cies consideradas pioneiras (Figura 5.3). Exem-
da que diminui a disponibilidade de água. Isso plos dos demais tipos de dormência foram ob-
é válido tanto para as espécies arbóreas como servados apenas nas não-pioneiras. A partir das
para as herbáceas. Esses dados sugerem um informações reunidas por Carvalho (1994) so-
“investimento” maior em mecanismos de dor- bre uma centena de espécies arbóreas nativas,
mência tegumentar em ambientes sujeitos a nota-se que as sementes da maioria das espé-
maiores flutuações ambientais. cies (cerca de 63%) não apresentam qualquer
Em um levantamento feito com base em tipo de dormência, o que praticamente coincide
dados de espécies arbóreas da flora brasileira, com o levantamento realizado por Baskin e Bas-
cujas sementes exibem algum tipo de dormên- kin (1998) com essências arbóreas não-pionei-
cia (Tabela 5.2), observa-se uma predominância ras de florestas tropicais úmidas de todo o pla-
(aproximadamente 63%) de dormência física neta. Em ecossistemas mais secos, como deser-
ou mecânica em relação aos demais tipos, sendo tos quentes, por outro lado, a proporção de es-
que a DF respondeu por pouco mais de 30% pécies com sementes dormentes é bastante alta
dos casos. Em uma distribuição dos tipos de (cerca de 80%), mostrando o caráter adaptativo
dormência considerando o grupo sucessional da dormência.

Tabela 5.2 Tipos de dormência de algumas espécies arbóreas brasileiras (Carvalho, 1994)

DF MO FI DQ DM DF MO FI DQ DM

Alchornea triplinervia X Peltophorum dubium X


Adenathera pavonina Cordia trichotoma X
Amburana cearensis X Qualea grandiflora
Mimosa bimucronata X Croton floribundus X
Annona cacans X Rapanea ferruginea X
Mimosa scabrella X Didymopanax morototoni X
Apuleia leiocarpa X Schizolobium parahyba X
Myracrodruon urundeuva X Dipteryx alata X
Bauhinia forticata X Sclerolobium paniculatum X
Nectandra lanceolata X X Enterolobium contortisiliquum X X
Caesalpinea leiostachya X Senna multijuga X
Ochroma pyramidale X Gleditsia amorphoides X
Calophyllum brasiliense X Talauma ovata X
Ocotea odorifera X X Hymenaea courbaril X
Cassia grandis X Tibouchina sp. X
Ocotea porosa X X Ilex paraguariensis X
Colubrina glandulosa Trema micrantha X
Ocotea puberula X Miconia cinnmomifolia X
Copaifera langsdorfii X Vochysia bifalcata X

Germinação_05ok.p65 105 17/05/2004, 17:42


106 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

100 CASTRO, R.D., BINO, R.J., JING, H., KIEFT, H. e


pioneiras HILHORST, H.W.M. Depth of dormancy in tomato
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GERMINAÇÃO 107

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Germinação_05ok.p65 107 17/05/2004, 17:42


C A P Í T U L O 6

DORMÊNCIA EMBRIONÁRIA
Fabian Borghetti

A regeneração de comunidades vegetais a partir ferentes conceitos em função do campo de in-


de sementes depende, em grande parte, destas, vestigação. No conceito agronômico ou tecno-
que devem encontrar uma condição fisiológica lógico, considera-se germinação a emergência
apropriada para germinar, além de local e mo- de parte da planta no solo ou a formação de
mento adequados para o desenvolvimento da uma plântula vigorosa sobre algum tipo de
futura planta. Para algumas espécies, a estraté- substrato. Esse critério é bastante apropriado
gia de regeneração é germinar, tão logo a se- para estudos conduzidos em condições de cam-
mente seja dispersa da planta-mãe, bastando po. Já o critério botânico considera germinadas
que os requisitos básicos para a germinação se- as sementes em que uma das partes do embrião
jam satisfeitos (ver a seguir). Para outras espé- emergiu de dentro dos envoltórios, acompanha-
cies, entretanto, mesmo que as condições am- da de algum sinal de metabolismo ativo, como
bientais estejam apropriadas para a germina- curvatura da radícula (Labouriau, 1983). O cri-
ção, as sementes podem sobreviver por longos tério botânico é mais apropriado para investigar
períodos no solo, apresentando uma germina- aspectos metabólicos associados especificamen-
ção lenta e intermitente de partes da população. te à germinação, sem envolver eventos relacio-
Para que esse padrão de germinação aconteça, nados ao crescimento inicial da plântula. Como
mecanismos internos devem modular a germi- será observado ao longo deste capítulo, a germi-
nação não apenas em função das condições nação da semente e o desenvolvimento inicial
ambientais vigentes, mas principalmente em da plântula são processos fisiológicos distintos.
função de características intrínsecas, espécie- Conforme a espécie em estudo, o processo
específicas, que permitirão a germinação em de germinação de uma semente viável pode se
momentos mais apropriados para o desenvolvi- estender de horas a dias. A hidratação dos te-
mento do futuro indivíduo. Esse mecanismo cidos durante a embebição promove, entre ou-
de controle da germinação tem sido chamado tros eventos, reorganização de organelas e
de dormência. membranas, aumento na atividade respiratória,
Neste capítulo, serão tratados aspectos me- síntese e consumo de ATP, síntese de proteínas
tabólicos da dormência em sementes. Uma dis- e de mRNAs e ativação de enzimas. Isso resulta
cussão mais geral sobre esse tema e, em particu- no início da mobilização de reservas, entre ou-
lar, sobre a dormência imposta pelos tegumentos tros processos, o que promove o acúmulo de
e pelos mecanismos de quebra da dormência é solutos e subseqüente entrada de água nas cé-
tema dos Capítulos 7 e 8, respectivamente. lulas, que culmina no alongamento embrioná-
rio (Bewley e Black, 1994; Obroucheva e Anti-
pova, 2000). Percebe-se, pois, que a germinação
O QUE É GERMINAÇÃO?
engloba eventos bioquímicos diversos, e a pro-
Antes de se buscar definir dormência, seria trusão de uma das partes do embrião para fora
apropriado tratar sobre o que se entende por da semente reflete, sob um ponto de vista meta-
germinação. O termo germinação apresenta di- bólico, o final da germinação.

Germinação_06ok.p65 109 17/05/2004, 17:43


110 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

O QUE É DORMÊNCIA? pedimento à germinação se encontra no próprio


De uma forma simples, a dormência pode ser embrião, caracteriza-se a dormência fisiológica,
interpretada como uma falha de uma semente refletindo um impedimento metabólico ao
intacta e viável em germinar sob condições apa- alongamento embrionário. A dormência pode
rentemente favoráveis à germinação (Bewley, ainda ser categorizada em dois tipos quanto à
1997; De Castro e Hilhorst, 2000). Entende-se sua origem. Se o bloqueio à germinação é
por condições favoráveis (ou essenciais) o su- estabelecido durante a maturação do diásporo
primento de água, oxigênio e temperatura ainda aderido à planta-mãe, caracteriza-se a
adequados ao alongamento embrionário. É cla- dormência primária. Nesse caso, o diásporo já
ro que o “suprimento adequado” para uma es- é disperso dormente. Quando a dormência se
pécie pode não ser para outra, principalmente estabelece após a dispersão do diásporo, como
no que se refere a fatores como luz e tempera- pode acontecer com algumas espécies quando
tura, visto que espécies de diferentes locais e as sementes encontram condições inapropria-
origens podem requerer distintas condições das à germinação, caracteriza-se a dormência
para a germinação (Labouriau, 1983). No en- secundária (Bewley e Black, 1994; Baskin e
tanto, oxigênio e água são elementos necessá- Baskin, 1998).
rios para a germinação das sementes da grande
maioria das espécies.
Quando uma semente encontra condições
DORMÊNCIA EMBRIONÁRIA
apropriadas para a germinação e, de fato, ger- Quando se trata de sementes, a dormência fisio-
mina, considera-se que ela estava quiescente. lógica pode ser também denominada dormên-
Quando uma semente é disposta sob condições cia embrionária, pelo fato de o bloqueio à germi-
adequadas para germinar, mas não germina, nação se localizar nas estruturas do embrião.
considera-se que ela se encontra dormente. Considera-se o embrião dormente quando ele
Uma forma de estimar o grau de dormência de apresenta metabolismo ativo durante a embe-
determinado lote de sementes é subtrair da bição, mas não apresenta diferenciação nem
quantidade de sementes viáveis a quantidade crescimento (Bewley, 1997). A não-germinação
de sementes germinadas. Essa diferença repre- pode resultar da imaturidade do embrião, quan-
senta a proporção de sementes do lote que se do este não se encontra formado e metabolica-
encontram dormentes sob determinada condi- mente apto a germinar, ou da presença, no em-
ção experimental (Murdoch e Ellis, 2000). Sen- brião maduro, de impedimentos metabólicos
do uma medida quantitativa bastante simples, ao alongamento embrionário (Figura 6.1). Se-
essa relação não apresenta informações sobre rão brevemente discutidos e exemplificados ti-
a natureza e as características qualitativas do pos de dormência embrionária antes de uma
tipo de dormência presente no lote. abordagem sobre mecanismos metabólicos en-
volvidos no controle da germinação.

TIPOS DE DORMÊNCIA
Diversos tipos de dormência têm sido identifi- IMATURIDADE DO EMBRIÃO
cados conforme o mecanismo de bloqueio à ger- Diversas espécies produzem sementes que são
minação (Capítulo 5). De modo geral, o blo- dispersas com o embrião imaturo. Em alguns
queio à germinação imposto pelos tegumentos casos, é possível identificar no embrião os coti-
da semente, seja restringindo a embebição, as lédones e o eixo embrionário, o que indica que
trocas gasosas e/ou a expansão do embrião, ca- houve diferenciação; contudo, o desenvolvi-
racteriza a dormência tegumentar ou física (Ca- mento foi incompleto. Nesse estágio, o embrião,
pítulo 7). Os embriões removidos dessas se- em dicotiledôneas, pode apresentar um aspecto
mentes germinam prontamente quando embe- cordiforme. Em casos mais extremos, ele não
bidos sob condições apropriadas. Quando o im- passa de uma massa de células indiferenciadas,

Germinação_06ok.p65 110 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 111

Embriogênese Pós-maturação
e e
maturação germinação
C Embrião
imaturo
Condições
ambientais E
apropriadas Embrião
Influências do maduro
genótipo e do D Embrião maduro,
dormência não-dormente
ambiente
primária

Formação Embrião maduro, Germinação


da semente dormência
secundária F
G B
Sinais Condições
ambientais adversas para
específicos a germinação Condições
apropriadas
para a
Embrião germinação
maduro
A não-dormente

! Figura 6.1
Relação entre os tipos de dormência fisiológica. Durante a embriogênese, o embrião pode atingir sua maturi-
dade morfofisiológica (A) e, eventualmente, germinar sob condições apropriadas (B). Caso se encontre imaturo
(C) ou dormente (D), será necessário um período de pós-maturação para que o embrião atinja sua maturidade
(E). Estando dormente ou não, o embrião pode adquirir dormência secundária (F) caso as condições para a
germinação sejam inapropriadas. Sinais ambientais específicos são necessários para a superação da dormência
secundária (G) e a promoção da germinação (Bewley e Black, 1994).

caracterizando o estágio globular. Os estágios Diversas espécies de ocorrência em biomas


de desenvolvimento embrionário são abordados brasileiros produzem sementes com embriões
no primeiro capítulo, e aspectos mais gerais so- imaturos. Sementes de Ilex paraguariensis (erva-
bre este tipo de dormência são discutidos no mate), uma espécie de ampla ocorrência na re-
Capítulo 5 deste livro. gião sul do Brasil e em outras regiões subtropi-
Sementes com embriões imaturos não ger- cais da América do Sul, apresentam embriões
minam logo após a dispersão. Torna-se necessá- que, quando dispersos, se encontram ainda no
rio um período adicional para o completo de- estágio globular (Ferreira, Cunha e Silveira,
senvolvimento do embrião, período este deno- 1991). Tais embriões necessitam de um perío-
minado pós-maturação (Capítulo 8). Alguns do de baixa temperatura e alta umidade para
autores têm classificado esse tipo de bloqueio seu completo desenvolvimento. Sementes de
como dormência morfológica, visto que o em- Annona crassiflora (araticum), uma espécie de
brião não se encontra totalmente desenvolvido. ocorrência no Cerrado, também apresentam
Entretanto, a imaturidade do embrião pode não embriões imaturos. As sementes necessitam de
ser apenas morfológica, mas implicar também alguns meses de pós-maturação sob alta tem-
a presença de barreiras fisiológicas ou requeri- peratura e umidade para o completo desenvol-
mentos metabólicos que precisam ser supridos vimento embrionário e germinativo (Rizzini,
antes de o embrião se encontrar apto para ger- 1973). Sementes maduras de Parkia pendula
minar. Essa “combinação de bloqueios” tem si- (angelim), uma árvore de ocorrência principal-
do denominada dormência morfofisiológica mente nas Florestas de Terra Firme (Amazô-
(Baskin e Baskin, 1998). nia) e na Mata Atlântica, também apresentam

Germinação_06ok.p65 111 17/05/2004, 17:43


112 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

embriões imaturos no momento da dispersão ção do embrião e sua germinação (Laux e Jür-
(Rizzini, 1977). Acredita-se que as condições gens, 1997).
adequadas (ou necessárias) ao desenvolvimen-
to completo do embrião reflitam características
climáticas predominantes na região de ocor- DORMÊNCIA EM EMBRIÕES
rência da espécie durante o período de pós-ma- MADUROS
turação das sementes (Baskin e Baskin, 1998). Grande parte das espécies produz sementes
As causas do desenvolvimento incompleto com embriões maduros cujas estruturas
do embrião durante a formação da semente na básicas, como cotilédones, eixo embrionário,
planta-mãe não estão bem-elucidadas. Estudos plúmula, escutelo, entre outras, se encontram
conduzidos com o gênero Ilex, entre outros, diferenciadas (Capítulo 4). Entretanto, nem
mostraram que o bloqueio do desenvolvimen- sempre sementes viáveis germinam quando
to embrionário pode ocorrer em diferentes es- dispostas sob condições supostamente apro-
tágios durante a embriogênese. Isso resulta priadas, o que indica que as mesmas se encon-
em que as sementes, quando dispersas, possam tram dormentes. Em um embrião maduro, esse
apresentar embriões cuja imaturidade pode va- tipo de dormência pode resultar de um impedi-
riar entre o estágio globular e o torpedo. A ultra- mento metabólico localizado tanto no eixo em-
estrutura e os eventos celulares (e, provavel- brionário como nos cotilédones.
mente, os bioquímicos), durante a embriogêne-
se, são bastantes similares entre diferentes es- Dormência originada nos
pécies (Hu e Ferreira, 1989), mostrando certo cotilédones
grau de conservação no padrão de formação do O conhecimento de que certos embriões são
embrião (Laux e Jürgens, 1997). impedidos de germinar pelos cotilédones não
As estruturas da semente que envolvem o é recente. Entretanto, a maior parte dos exem-
embrião estão entre os principais agentes de plos de espécies que apresentam dormência in-
controle da embriogênese. No gênero Ilex, por duzida pelos cotilédones é de clima temperado,
exemplo, sabe-se que inibidor(es) presente(s) como Corylus avellana (avelã), Fraxinus excelsior
no endosperma atua(m) bloqueando o desen- e Pirus malus (maçã). A demonstração de que
volvimento embrionário (Hu e Ferreira, 1989). os cotilédones podem estar envolvidos na ini-
No caso de espécies como Pirus malus (maçã) e bição do alongamento embrionário é resultado
Helianthus annuus (girassol), o ácido abscísico de estudos conduzidos com embriões de maçã.
presente na semente tem sido considerado o Embriões isolados de sementes recém-colhidas
principal responsável pela inibição do desenvol- não germinam a 20oC. Contudo, a remoção pro-
vimento embrionário (Bewley e Black, 1994). gressiva de um ou dois cotilédones promove o
Assim como a dormência em embriões ma- alongamento embrionário (Figura 6.2).
duros, a imaturidade do embrião poderia ser A inibição do alongamento embrionário
encarada como uma forma de restringir a vivi- pelos cotilédones sugere a difusão de substân-
paridade ou mesmo a germinação imediata cias inibidoras para o eixo, mantendo-o na con-
após a dispersão. Apesar de o ácido abscísico dição dormente. No caso da maçã, o ácido abs-
estar envolvido na dormência tanto em em- císico é o principal agente envolvido nesse blo-
briões imaturos quanto maduros, acredita-se queio (Bewley e Black, 1994).
que os mecanismos relacionados ao controle A presença de cotilédones que inibem o
desses tipos de dormência sejam distintos. Es- alongamento embrionário não exclui a possi-
tudos mostram que genes atuantes durante di- bilidade de o próprio eixo embrionário estar dor-
ferentes etapas na embriogênese são, em gran- mente também. Em embriões de maçã, a re-
de parte, distintos daqueles envolvidos na ger- moção dos cotilédones promove a germinação,
minação, o que identifica a execução de pro- mas esta não passa dos 50% em sementes re-
gramas genéticos diferentes durante a forma- cém-colhidas (Figura 6.2). Alguns meses de ar-

Germinação_06ok.p65 112 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 113

C
50
Germinação (%)
40

30
B

20

10
A

0
0 20 40 60
Tempo (dias)

! Figura 6.2
Germinação de embriões de Pirus malus (maçã) a 20oC. (A) embriões intactos; (B) embriões com um ou parte
dos dois cotilédones removidos; (C) embriões com os dois cotilédones removidos (Bewley e Black, 1994).

mazenamento sob baixas temperaturas e alta diferentes genes e proteínas são ativados em
umidade são necessários para que uma grande embriões dormentes e germinantes, resultando
porcentagem de germinação seja atingida. ou não no alongamento embrionário.
Diversas espécies de ocorrência em biomas
Dormência localizada no eixo brasileiros produzem sementes dormentes
embrionário (Quadro 6.1). Como os tratamentos utilizados
Sementes de diversas espécies apresentam para a quebra da dormência não dizem respei-
embriões cuja dormência não se origina nos co- to apenas à escarificação, isso sugere que as es-
tilédones. Talvez um dos exemplos mais ilus- pécies citadas produzem sementes com algum
trativos seja o caso do girassol. Estudos revelam tipo de dormência localizada no embrião.
que a remoção dos cotilédones não interfere no
grau de dormência do embrião, implicando que
o bloqueio à germinação está localizado especi- DORMÊNCIA SECUNDÁRIA
ficamente no eixo embrionário. Isso sugere a Dormência secundária corresponde àquela que
existência, no eixo embrionário, de mecanis- se estabelece após a dispersão da semente. Essa
mos de controle da germinação que podem ser condição pode ser induzida quando uma se-
ativados e mantidos tanto por sinais provenien- mente não-dormente encontra condições cli-
tes de outras partes da semente como por sinais máticas inapropriadas para a germinação, ou
provenientes do próprio eixo. por influência de substâncias inibidoras da ger-
Na prática, a dormência embrionária mani- minação presentes no meio, como fenóis e ou-
festa-se durante a embebição da semente, tros metabólitos secundários (Hilhorst, 1998).
quando a reidratação dos tecidos promove a A dormência secundária pode ser tanto induzi-
reativação do metabolismo celular, não resul- da quanto removida pelas condições ambientais
tando, contudo, no alongamento embrionário. nas quais a semente se encontra, e esse fenôme-
O direcionamento do metabolismo, para a ger- no pode ocorrer durante as sucessivas estações
minação ou para a dormência, reflete em parti- do ano (Figura 6.1). Autores têm associado esse
cular o balanço entre fitormônios promotores comportamento “cíclico” entre os estados de
e inibidores da germinação (Figura 6.3). Como dormência e quiescência das sementes aos pa-
será visto adiante, em resposta aos fitormônios, drões de germinação observados sob condições

Germinação_06ok.p65 113 17/05/2004, 17:43


114 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Indução (por GAs) do


enfraquecimento dos
tegumentos, degradação
de reservas, acúmulo de
Aumento da solutos – alongamento
respiração, embrionário
metabolismo de
Conteúdo de água da semente

aminoácidos e
síntese de
mRNAs
e proteínas

Metabolismo da
Síntese e
germinação suprimido
degradação de
(por ABA) –
mRNAs e
manutenção
proteínas e síntese
da dormência
de fitormônios

Tempo

! Figura 6.3
Eventos metabólicos associados à embebição da semente, resultando na germinação ou na manutenção da
dormência no embrião. Adaptada de Bewley (1997) e Obroucheva e Antipova (2000).

ambientais, e esse tipo de comportamento en- bromélias que ocorrem em ecossistemas de


contra-se entre os determinantes da dinâmica Restinga produzem sementes que requerem luz
do banco de sementes no solo (Baskin e Baskin, para a germinação (Mercier e Guerreiro Filho,
1998). 1990; Pinheiro e Borghetti, 2003). Espécies de
Não está bem-definido se a dormência se- ocorrência em campos abertos, como Cuphea
cundária difere fisiologicamente da dormência carthagenensis (Rosa e Ferreira, 1998), requerem
primária. Com freqüência, os sinais ambientais temperaturas alternantes para atingirem uma
que levam à remoção da dormência primária alta germinabilidade. Outras espécies podem
não são os mesmos da secundária; nem mesmo ter a dormência quebrada por KNO3, como é o
o principal agente envolvido no estabelecimen- caso da gramínea Erechtites valerianaefolia, po-
to da dormência primária, o ácido abscísico, pa- pularmente conhecida como capiçova (Zayat e
rece estar envolvido na indução da dormência Ranal, 1997). Os exemplos mostram que os tra-
secundária (Bewley e Black, 1994). Conside- tamentos relacionados à quebra da dormência
rando que as sementes, após dispersas, encon- podem variar entre luminosos, térmicos e quí-
tram-se no solo, acredita-se que entre os princi- micos. Embora os eventos metabólicos envol-
pais fatores ambientais envolvidos no controle vidos na manutenção da dormência durante a
da dormência secundária estejam o potencial os- embebição sejam ainda desconhecidos, esses
mótico e a temperatura (Hilhorst, 1998). resultados permitem postular ao menos duas
possibilidades quanto à natureza da dormência,
não mutuamente exclusivas: (1) existem diver-
QUEBRA DA DORMÊNCIA sos tipos de dormência embrionária nas semen-
Tanto sementes que apresentam embriões ima- tes, cada qual requerendo tratamentos especí-
turos quanto as que apresentam embriões ma- ficos para sua quebra; (2) existe um tipo básico
duros, porém dormentes, requerem determi- e conservado de bloqueio metabólico à germi-
nados tratamentos para a quebra da dormência. nação cuja quebra, entretanto, pode ser media-
Citando exemplos de espécies nativas, certas da por tratamentos tão diversos quanto tempe-

Germinação_06ok.p65 114 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 115

Quadro 6.1 Espécies de ocorrência em biomas brasileiros que produzem sementes dormentes e sinais
envolvidos na quebra da dormência

EMBRIÃO IMATURO
Agente de quebra
Espécie Família Ocorrência da dormência Referência

Annona crassiflora Annonaceae Cerrado Armazenamento Rizzini, 1973


Ilex paraguariensis Aquifoliaceae Matas (de altitude, Armazenamento Ferreira, Cunha e
Silveira, 1991
de pinhais) (?)
Parkia pendula Leguminosae- Floresta Amazônica, Armazenamento Rizzini, 1977
Mimosoideae Mata Atlântica (?)

EMBRIÃO MADURO

Bidens gardneri Asteraceae Cerrado Luz ou Felippe, 1990


armazenamento
Bromelia antiacantaha Bromeliaceae Matas de galeria Armazenamento Rosa e Ferreira,
a 5 ou 25oC 1998
Cuphea carthagenensis Lythraceae Campos abertos Temperaturas
alternantes
Cereus jamacaru Cactaceae Caatinga Luz Prisco, 1966
Clidemia hirta Melastomataceae Cerrado, borda de Pós-maturação Pereira-Diniz, 2003
matas (no solo)
Erechtites valerianaefolia Asteraceae Ambientes úmidos, KNO3 Zayat e Ranal,
perturbados 1997
Solanum lycocarpum Solanaceae Cerrado Lavagem, Borghetti, 2000
temperatura
alternante
Aloysia gratissima Verbenaceae Formações florestais Luz Rosa e Ferreira,
Psychotria leicocarpa Rubiaceae e secundárias Temperatura 2001
alternante
Aechmea nudicaulis e Bromeliaceae Restinga Luz Pinheiro e
Streptocalyx floribundus Borghetti, 2003
Aechmea distinchantha e Bromeliaceae Restinga Luz Mercier e
Neuregelia cruenta Guerreiro Filho,
1990
Três espécies de Cecropia, Cecropiaceae, Floresta Tropical Luz Válio e Scarpa,
Três de Solanum, Croton Solanaceae, (Mata Atlântica) 2001
floribundus e Miconia Euphorbiaceae e
chamissois Melastomataceae
Eupatorium Asteraceae Capoeira e orla Temperatura Maluf e Wizentier,
vauthierianum de Mata e luz 1998

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116 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

ratura e agentes químicos. Evidências têm leva- a atividade de diversas enzimas do metabolis-
do à idéia de que mecanismos comuns e conser- mo são bastante similares em embriões dor-
vados de controle da germinação, pela percep- mentes e germinantes (Bewley e Black, 1994;
ção de sinais ambientais e variações no balanço Ballard, Foley e Bauman, 1996). Esses resulta-
hormonal, modulam a germinação de diversas dos sugerem que a passagem da condição dor-
espécies (Bewley, 1997). mente para a germinante envolve variações “dis-
cretas” no metabolismo embrionário durante a
embebição (Figura 6.3).
FITORMÔNIOS E DORMÊNCIA
Nas sementes, o estabelecimento da dormência
durante a formação do propágulo é um processo MEMBRANAS E O CONTROLE
ativo, isto é, envolve síntese protéica, ativida- DA DORMÊNCIA
de respiratória e consumo de ATP (Bewley e Diversas hipóteses têm tentado explicar meca-
Black, 1994). Estudos comprovaram que o fitor- nismos de controle da dormência embrionária.
mônio ácido abscísico (ABA) é o principal agen- Por exemplo, foi proposto que a restrição ao
te envolvido no estabelecimento da dormência alongamento embrionário em sementes de ma-
embrionária durante a maturação da semente çã poderia decorrer, ao menos em parte, de uma
na planta-mãe. O uso de inibidores da síntese limitação no fornecimento de monossacarídeos
do ABA, durante a embriogênese, resultou na e da baixa eficiência de rotas metabólicas clássi-
formação de embriões não-dormentes (Hilhorst, cas como a glicólise (Lewak et al., 2000). A “ca-
1995), e o uso de mutantes deficientes, na sín- rência de substratos” (em particular para a via
tese ou percepção ao ABA, produziu sementes das pentose-fosfatos) também estaria envolvida
não-dormentes (Karseen, 1995). Além da sua no desenvolvimento anormal dos cotilédones
participação no estabelecimento da dormência dos embriões germinantes. Entretanto, como
durante a embriogênese, verificou-se também os próprios autores salientam, essa hipótese não
que, durante a embebição, a síntese desse fitor- explica eventos primários observados na quebra
mônio é necessária para a manutenção da dor- da dormência embrionária, como mudanças na
mência no embrião (Garello et al., 2000). Esses estrutura e nas propriedades das membranas,
resultados mostram que o ABA tanto induz a variações na síntese de proteínas específicas e
dormência durante a maturação quanto blo- nos níveis hormonais durante a passagem da
queia a germinação durante a embebição. dormência para a germinação (Lewak, Bogatek
A quebra da dormência, por outro lado, en- e Zarska-Maciejewska, 2000).
volve tanto a redução da concentração de inibi- A “hipótese da membrana” sugere que a
dores da germinação, como o ABA, nos tecidos quebra da dormência envolve efeitos (particu-
embrionários quanto a síntese de fitormônios larmente da temperatura) nas propriedades das
promotores da germinação. Entre os principais membranas, alterando características como sua
fitormônios envolvidos na quebra da dormência fluidez e integridade, o que se reflete principal-
em sementes se encontram as giberelinas (GAs) mente na atividade e na disponibilidade de re-
(Karseen, 1995) e o gás etileno (Kepczynski e ceptores protéicos associados às mesmas (Hil-
Kepczynska, 1997). Tanto as giberelinas quanto horst, 1998). Entre estes poderiam se incluir
o etileno modulam o metabolismo celular de ma- receptores ao nitrato e proteínas que interagem
neira a promover o alongamento embrionário. com o fitocromo (como será visto adiante). De
Intrigante, entretanto, é o fato de que gran- acordo com esse conceito, a indução da dor-
de parte dos eventos metabólicos que ocorrem mência seria decorrente da inativação de recep-
durante a embebição em sementes dormentes tores-chave presentes nas membranas, enquan-
também ocorre em sementes germinantes; as to a quebra da dormência resultaria do aumen-
taxas respiratórias, os perfis de síntese de pro- to na atividade e/ou na probabilidade de inte-
teínas e ácidos nucléicos, o consumo de ATP e ração entre receptores e agentes quebradores

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GERMINAÇÃO 117

da dormência, tanto externos (nitrato) como atuando, assim, na expressão gênica. Essas ob-
parceiros intracelulares de reação (fitocromo). servações abrem a possibilidade de incluir no-
Dessa interação iniciaria uma cascata de trans- vas alternativas de abordagem dos mecanismos
dução de sinais que envolveria a síntese de fi- envolvidos no controle da germinação.
tormônios promotores da germinação (GAs) e
da ativação do metabolismo voltado ao alon-
gamento embrionário (Hilhorst, 1998). Por sua DA MEMBRANA AO NÚCLEO –
natureza, essa hipótese é aplicável principal- QUEBRA DA DORMÊNCIA E
mente ao caso de indução e remoção da dor- GERMINAÇÃO
mência secundária em sementes. Estudos mos- A propagação intracelular de sinais provenien-
traram que a indução da dormência secundária tes de receptores localizados na membrana
é caracterizada pela perda da sensibilidade a plasmática ao aparato genético envolve agentes
agentes quebradores da dormência como luz e tão diversos quanto adenilato ciclase, ácidos
nitrato (Bewley e Black, 1994), fatos estes que fosfatídicos, MAPKs1 , lipoxigenase e mesmo re-
argumentam em favor da hipótese. ceptores de membrana que apresentam ativida-
Observações experimentais de que de kinase. Grande parte desses agentes ocorre
substâncias tão diversas quanto álcoois e ácidos no citoplasma. Eles são ativados em resposta a
orgânicos quebravam a dormência de sementes diversos sinais intra e extracelulares que inte-
de diversas espécies levaram à formulação da ragem com os respectivos receptores. A propa-
“hipótese dos anestésicos” (revisada por Cohn gação do sinal é realizada por reações específi-
e Hilhorst, 2000). Essa denominação foi dada cas que seguramente envolvem a atividade de
em virtude de os efeitos de tais agentes nas kinases e fosfatases. Estas enzimas, por sua vez,
membranas serem similares aos gerados pelos atuam na regulação de fatores de transcrição
anestésicos. Considerando que vários desses cuja interação com sítios promotores leva à ini-
agentes químicos quebradores de dormência bição ou à ativação da expressão gênica, modu-
apresentam um certo grau de solubilidade em lando, assim, o metabolismo conforme o tipo
lipídeos, essa hipótese sugere que a quebra da de sinal atuante (Ladyzhenskaya e Protsenko,
dormência passaria pela interação dessas subs- 2002).
tâncias com as membranas, alterando proprie-
dades como permeabilidade, fluidez, estrutura ABA e manutenção da dormência
e atividade de receptores, de forma similar aos Estudos revelam que a transdução do sinal
efeitos promovidos pela temperatura, levando gerado pelo ABA inicia com sua ligação a recep-
à germinação. Recentemente observou-se que tores (ainda desconhecidos) supostamente lo-
a quebra da dormência por agentes químicos, calizados na membrana plasmática ou em
como os álcoois, requer que os mesmos ingres- membranas situadas no citosol. Ao interagir
sem na célula e sejam catabolizados, modifi- com esses receptores, o ABA promove eventos-
cando o metabolismo celular, elicitando a que- cascata que envolvem a ativação de proteínas-
bra da dormência (Cohn e Hilhorst, 2000) am- G e a participação de mensageiros secundários
pliando a gama de efeitos mediados por esses como inositol-3 fostato, fosfatases e kinases, o
agentes no controle da germinação. que resulta na ativação e/ou repressão de di-
Diversos genes e proteínas estão envolvidos versos genes, além de modificações na concen-
na decisão entre germinar ou permanecer dor- tração intracelular de cálcio e calmodulina (Fin-
mente. Sabe-se que agentes quebradores da kelstein, Gampala e Rock, 2002).
dormência (tão diversos quanto luz, GAs e eti-
leno, assim como agentes envolvidos no estabe-
lecimento e na manutenção da dormência, co-
mo o ABA) modulam a atividade de várias 1
MAPK: Mitogen-Activated Protein Kinases, kinases ativadas por agen-
tes mitogênicos (Jonak, Heberle-Bors, Hirt, 1994).
kinases e fosfatases, entre outras proteínas,

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118 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

O ABA induz e bloqueia a expressão de di- primindo a ação de tais polipeptídeos. De fato,
versos genes, entre eles, os que codificam poli- diversos desses transcriptos “inibidores” da ger-
peptídeos com domínio de ligação ao RNA (Ni- minação (como o RGL2) desaparecem sob tra-
colás et al., 1997) e proteínas diversas (Bardu- tamento com GAs exógenas (Peng e Harberd,
che et al., 1999). Embora se desconheça a iden- 2002). Em contrapartida, foram identificados
tidade dos transcriptos, acredita-se que eles genes (CTS) ativados pelas GAs que atuam na
estão envolvidos na dormência e que a inibição promoção da germinação e na repressão da dor-
da síntese e/ou a remoção ativa dos mesmos mência embrionária (Russel et al., 2000).
sejam necessárias para a progressão da germi- As GAs promovem a síntese de enzimas en-
nação (Nicolás et al., 1997). A ação do ABA volvidas no enfraquecimento dos tegumentos
também envolve a inibição da expressão de de- (endo-β-mananases, expansinas) e/ou a hidró-
terminados genes, inclusive dos que codificam lise de reservas (amilases), eventos relaciona-
enzimas envolvidas na degradação de reservas dos principalmente à protrusão da radícula
como amilases e proteinases, cuja síntese é pro- (Bewley e Black, 1994). Esses resultados indi-
movida pelo ácido giberélico (Barduche et al., cam que as GAs agem tanto na quebra da
1999). Assim, o ABA atua tanto promovendo a dormência, por atuar no silenciamento de genes
síntese de proteínas “inibidoras” da germinação envolvidos na manutenção da dormência
como inibindo a síntese de enzimas envolvidas (Koornneef, Bentsink e Hilhorst, 2002), como
na mobilização de reservas. Acredita-se que a na progressão do alongamento embrionário,
quebra da dormência passa pelo silenciamento por promover a síntese de enzimas envolvidas
desses genes e pela remoção ativa de proteínas na mobilização de reservas (Bewley, 1997). Es-
inibidoras da germinação. De fato, diversos sas observações têm colocado as GAs como o
polipeptídeos sintetizados em resposta ao ABA principal agente envolvido na quebra da dor-
desaparecem durante a germinação, e uma das mência em sementes (Peng e Harberd, 2002).
ações desse fitormônio, em sementes, é o blo- A rota intracelular de transdução de sinal
queio da atividade de diversas proteinases do etileno inicia na interação deste gás com re-
(Barduche et al., 1999). ceptores de membrana (codificados por genes
tipo o ETR1) e, por meio da modulação da ativi-
Fitormônios e a quebra da dormência dade de kinases (como o CTR1), regula a ex-
As giberelinas (GAs) apresentam um per- pressão de diversos genes como o EIN3. Em par-
fil de ação intracelular similar ao do ABA, en- ticular, o gene CTR1 codifica um polipeptídeo
tretanto, de efeito antagônico no metabolismo (~90 kDa) com grande similaridade estrutural
embrionário. Este fitormônio se liga a um re- e funcional ao grupo das serina-treonina kina-
ceptor de membrana, que interage provavel- se, que atua negativamente na rota de resposta
mente com proteínas-G também associadas à a este fitormônio. Acredita-se que a ligação do
membrana plasmática. Diversos genes que co- etileno ao receptor resulta na sua ativação, que,
dificam polipeptídeos envolvidos na rota de si- por sua vez, atua inibindo a atividade do CTR1
nalização das GAs foram identificados por es- (Bleecker, 1999). Há evidências que apontam
tudos conduzidos com plantas mutantes para a participação de MAPK kinases no meca-
(Olszewski, Sun e Gubler, 2002). Entre eles, nismo de transdução de sinal do etileno.
genes que codificam fatores de transcrição que Muitas questões permanecem em aberto
atua especificamente no controle da germina- quanto às etapas envolvidas entre a percepção
ção foram identificados em Arabidopsis thaliana, ao etileno e a quebra da dormência. Recentes
Lycopersicum esculentum (tomate) e Nicotiana estudos mostraram que o etileno e o ácido abs-
tabacum (tabaco) (Peng e Harberd, 2002). O císico partilham elementos de transdução de
interessante é que parte desses fatores de trans- sinal. Beaudoin e colaboradores (2000) verifica-
crição atuam como inibidores da germinação, ram que o etileno regula negativamente o grau
e as GAs parecem promover a germinação su- de dormência em A. thaliana por suprimir a ex-

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GERMINAÇÃO 119

pressão de genes envolvidos na sinalização do Nesse esquema, foram desconsideradas as


ABA. Em contrapartida, verificou-se que o eti- diversas formas intermediárias entre o Fv e o
leno promove a síntese de uma cisteína-pro- Fve (Bewley e Black, 1994). Essa fotorreversi-
teinase durante a germinação de sementes de bilidade é dinâmica, e a forma ativa, quando
Cicer arietinum, acúmulo este inibido pelo ABA atinge determinada concentração, elicita a res-
(Cervantes, Rodriguez e Nicolás, 1994). O uso posta em questão. Sabe-se que os requerimen-
de um inibidor específico (lactacistina) da ati- tos de luz para a germinação dependem, em
vidade do complexo multicatalítico proteasoma grande parte, das condições luminosas experi-
mostrou que a quebra da dormência por etileno mentadas pelas sementes durante sua matu-
envolve a proteólise seletiva mediada por essa ração, quando ainda estavam presas à planta-
macromolécula (Borghetti, Noda e de Sá, 2002). mãe (Capítulo 5). Por outro lado, a composição
Esses resultados revelam que a ação do etileno espectral da luz, sob condições naturais, varia
na remoção da dormência em sementes envol- em função de diversos fatores, como horário
ve tanto a síntese como a degradação de deter- do dia e grau de cobertura vegetal. Essa varia-
minadas proteínas. Lembrando que outros agen- ção permite às sementes, via fitocromo, iden-
tes promotores da germinação, como as GAs, tificarem sua posição no solo (se enterradas ou
também induzem a síntese de proteinases du- na superfície) e sua localização no ambiente
rante a germinação (Asano et al., 1999), tais re- (se sob a copa das árvores ou em ambiente aber-
sultados sustentam a hipótese de que tanto o to). Uma discussão mais geral sobre a interfe-
silenciamento de genes envolvidos na dormência rência da luz na germinação é encontrada no
como a remoção de polipeptídeos inibidores da Capítulo 7.
germinação fazem parte do processo de remoção Não se sabe ao certo quais são os passos
da dormência em sementes. metabólicos intermediários entre a ativação do
fitocromo e a resposta fisiológica. Tratando-se
Outros agentes envolvidos na de uma proteína com atividade kinase, acredi-
quebra da dormência ta-se que o fitocromo atua sobre diversos subs-
O pigmento fitocromo tem sido considera- tratos e, por meio de um ou mais parceiros de
do o principal agente envolvido na percepção reação presentes no citoplasma, modula a
do sinal luminoso que induz à germinação. Essa transdução de sinais e a expressão gênica. Na
proteína (~124 KDa) apresenta um cromóforo sua forma ativa (Fve), o fitocromo migra para
ligado covalentemente, ocorre como um dímero o núcleo, interage com fatores de transcrição e
no citosol e está envolvida no controle de diver- controla a expressão de genes cuja transcrição
sos eventos, como floração, ritmos circadianos, é regulada pela luz, elicitando assim distintas
nastismos e germinação. O fitocromo encontra- respostas nas células (Smith, 2000).
se sob duas formas principais: uma inativa, Fv, Entre os tipos de fitocromos conhecidos,
que, ao absorver luz vermelha (660 nm), se aquele codificado pelo gene PHYA parece ser o
transforma na forma ativa, Fve; e esta, que, principal envolvido no controle da germinação
por sua vez, absorve luz na região vermelho- das sementes pela luz. Recentes estudos mos-
extremo do espectro (730 nm), transformando- traram que o fitocromo promove a germinação
se novamente na forma inativa. por meio da síntese de giberelinas (Peng e Har-
berd, 2002). Tais resultados indicam que a ação
→ →
da luz na germinação pode passar pela modula-
↑ ↓
ção, via fitocromo, da concentração intracelular
Fv Fve → → germinação
desse fitormônio na semente.
↑ ↓
Outros agentes que quebram a dormência
← ←
foram identificados nas plantas, entre eles, os
brassinoesteróides (BRs). Os BRs representam
uma família com mais de 40 hormônios este-

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120 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

roidais encontrados em diversas espécies vege- permas ancestrais pudessem deixar os ambien-
tais, principalmente no pólen e nas sementes. tes úmidos, invadir e se estabelecer em ambien-
São reconhecidos por regularem múltiplas res- tes mais secos e até então não-colonizados (Ma-
postas nas plantas, como o alongamento e a pes, Rothwell e Haworth, 1989). Postula-se,
divisão celular, o desenvolvimento do tubo po- pois, que a dormência inicialmente tenha surgi-
línico e o crescimento de plantas no escuro do com uma função morfogenética – organiza-
(skotomorfogênese). Entretanto, recentes estu- ção temporal e espacial do desenvolvimento da
dos sugeriram que os BRs podem atuar de for- planta – antes de tornar-se também um meca-
ma similar às GAs, tanto por quebrar em a dor- nismo de restrição do alongamento embrioná-
mência imposta pelo ABA como por estimular rio sob situações climáticas desfavoráveis (Ma-
em a germinação (Steber e McCourt, 2001). Ob- pes, Rothwell e Haworth, 1989; Viémont e
servou-se que os BRs promovem a germinação Crabbé, 2000).
de sementes de plantas mutantes cuja rota de Espécies vegetais pertencentes aos mais
síntese (ou sensibilidade às GAs) foi suprimida. diversos TAXA, de ocorrência nos mais variados
Acredita-se, contudo, que o efeito de resgatar ecossistemas produzem sementes com alguma
a germinação em plantas mutantes resulta da forma de bloqueio da germinação (Capítulo 5).
ação dos BRs em promover a expansão do hi- Embora existam diversas modalidades de dor-
pocótilo, logo, é um efeito específico no alonga- mência (Baskin e Baskin, 1998), sua origem
mento embrionário. em grupos ancestrais e a redundância de boa
Pouco se conhece sobre a rota de transdução parte dos genes relacionados ao seu controle
de sinais dos brassinoesteróides. Foi identificado (Peng e Harberd, 2002) sugerem certo grau de
um gene (BRI1) que codifica uma proteína de conservação nos mecanismos envolvidos no
membrana com atividade kinase, sugerindo tra- controle da germinação.
tar-se de um receptor aos BRs, e estudos mostra- Acredita-se que a dormência em sementes
ram que a rota de transdução de sinais dos BRs seja um evento programado básico. A embebi-
interage com a sinalização mediada por ABA, ção da semente ativa diversos processos fisioló-
GAs e auxinas (Steber e McCourt, 2001). gicos e bioquímicos e induz, direta ou indireta-
mente, a expressão de genes (tipo RGL2) que
restringem a germinação e mantêm a dormên-
EPÍLOGO – ORIGENS DA cia. Sinais ambientais (temperatura, luz) indu-
DORMÊNCIA E MECANISMOS zem a síntese de GAs que, por sua vez, blo-
DE REGULAÇÃO queiam a expressão de genes repressores da ger-
INTRACELULAR DA minação (RGL2, SPY) e/ou promovem a degra-
GERMINAÇÃO dação dos respectivos produtos (mRNAs e pro-
Acredita-se que a dormência tenha surgido nas teínas), aumentando assim o potencial de ger-
gemas há cerca de 400 milhões de anos (devo- minação do embrião. Ao mesmo tempo, GAs
niano inferior) como um mecanismo restritivo novamente sintetizadas iniciam sinais por meio
da ramificação e do crescimento das plantas de fatores de sinalização (GCR1, SLY, CTS) que,
sob condições ambientais desfavoráveis, como por sua vez, promovem a síntese de enzimas
pouca disponibilidade de nutrientes. Cerca de hidrolíticas que modificam a parede celular, en-
100 milhões de anos mais tarde (devoniano su- fraquecem o tegumento e possibilitam a germi-
perior), começaram a aparecer as primeiras se- nação (Peng e Harberd, 2002).
mentes com embriões dormentes, o que inicial- Pouco a pouco, os mecanismos envolvidos
mente possibilitou que a fertilização e a em- na manutenção da dormência vêm sendo iden-
briogênese sucedessem sem necessidade de tificados, e uma compreensão mais ampla do
água no meio externo (Viémont e Crabbé, controle da germinação está sendo adquirida. O
2000). Essa parada temporária do desenvolvi- esquema a seguir procura integrar recentes in-
mento embrionário permitiu que as gimnos- formações quanto aos componentes celulares

Germinação_06ok.p65 120 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 121

LUZ
GAs VERMELHA
ABA BRs

ETILENO ? ?
PTN-G P PTN-G P BRI1
ETR1 P
? SLY1
P

ABI-1 PHYA
MEMBRANA
PLASMÁTICA
CTS RGL2

CTR1 ?
P EIN2
ABI3 SPY

P Atividade kinase
CITOPLASMA

Setas indicam efeitos promotores,


traços truncados, efeitos inibidores.
GERMINAÇÃO

! Figura 6.4
Esquema integrando as rotas de transdução de sinais dos principais agentes envolvidos na manutenção e na
quebra da dormência em sementes. Etileno e GAs não participam na regulação da dormência durante a
maturação, mas estão envolvidos na quebra da dormência durante a embebição (Beaudoin., et al., 2000;
Finkelstein et al., 2002). Etileno: pode promover a germinação por interferir diretamente na sinalização do
ABA (Ross e O’Neill, 2001); assim como ETR1, EIN2 é um regulador positivo da sinalização do etileno e inibe
a sinalização do ABA (EIN2 suprime ABI1); CTR1 é regulador negativo da rota do etileno, ativa ABI1-1 e
mantém a dormência (não-indicado). ABA: receptor ainda não foi identificado, interage supostamente com
proteínas-G e está associado à membrana plasmática ou no ao citosol. ABI-1 e ABI-5 são reguladores negativos
da rota do ABA. ABI3 e ABI4 codificam fatores de transcrição que atuam positivamente na sinalização do ABA
(inibindo a germinação). GAs: rota de transdução é pouco conhecida, receptor ainda não foi determinado,
poucos intermediários identificados. GAs sozinhos não cobrem todos os efeitos ambientais na dormência e
na germinação. RGL2 e RGL1 codificam fatores de transcrição nucleares e são reguladores negativos da
germinação; SPY é um regulador negativo da rota que leva à germinação. CTS promove germinação e reduz
a dormência. SLY1 é fator-chave na recepção à GA, suprime a sinalização do ABA (Koornneef et al., 2002).
Fitocromo: sinais mediados pelo fitocromo induzem a síntese de GAs (Peng e Harberd, 2002), sugerindo a
participação de GAs na promoção da germinação pela luz. PHYA parece codificar o fitocromo envolvido na
sinalização em sementes (Smith, 2000). Brasinoesteróides: BRI codifica um receptor de membrana com pro-
priedades kinase (Kende, 2001). BRs não são absolutamente requeridos para germinação. Não se sabe se BRs
estimulam síntese ou ação das GAs, mas sabe-se que BRs resgatam a germinação de plantas mutantes
deficientes na produção e/ou na resposta às GAs. Além disso, BRs mutantes são sensíveis ao ABA. e poderi-
am intermediar efeitos da luz e do frio na promoção da germinação. BRs parecem promover expansão do
embrião (Steber e McCourt, 2001). Partilhar rotas de transdução de sinais faz com que menos elementos
sejam necessários para a sinalização hormonal geral (Ross e O’Neill, 2001).

identificados na sinalização que leva à manuten- Como a ponta de um iceberg, este esquema mos-
ção da dormência e à germinação e suas prová- tra apenas os primeiros passos das descobertas
veis interações em nível intracelular (Figura 6.4). que os novos rumos de investigação prometem.

Germinação_06ok.p65 121 17/05/2004, 17:43


122 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

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Germinação_06ok.p65 123 17/05/2004, 17:43


C A P Í T U L O 7

ENVOLTÓRIOS
Sonia Cristina Juliano Gualtieri de Andrade Perez

A semente é uma estrutura na qual o embrião ◗ funciona como uma barreira contra a en-
de uma planta, em geral totalmente desenvolvi- trada de microrganismos na semente;
do, é disperso. Essa estrutura permite ao em- ◗ regula a velocidade de embebição das se-
brião sobreviver durante o período compreendi- mentes;
do entre a maturação da semente e o estabeleci- ◗ controla a velocidade das trocas gasosas;
mento da plântula, iniciando a próxima gera- ◗ regula a germinação, ocasionando a dor-
ção. mência.
Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), as
sementes das angiospermas são constituídas A dormência das sementes é uma forma
pela estrutura protetora (tegumento), pelo em- natural de distribuir a germinação no tempo e
brião (com um, dois ou mais cotilédones, eixo no espaço e de permitir que a semente inicie a
embrionário) e pelo tecido de reserva, que, às germinação quando as condições ambientais
vezes, pode estar ausente. Em relação ao aspec- vierem a favorecer a sobrevivência das plântu-
to funcional, pode-se dizer que as sementes são las. Sementes viáveis que não germinam são
formadas pelo tegumento (casca), pelo(s) teci- consideradas dormentes. A dormência e a ger-
do(s) de reserva (cotilédone[s], endosperma, pe- minação são características adaptativas com-
risperma) e pelo eixo embrionário (Capítulo 4). plexas, influenciadas tanto por genes como por
Denomina-se popularmente de casca o en- fatores ambientais, sendo determinadas pela
voltório externo que define a semente, podendo ação do potencial de crescimento do embrião e
ser constituído somente pelo tegumento, como das restrições impostas pelos envoltórios que
também pelo pericarpo. O tegumento pode in- circundam o mesmo (Koornneef, Bentsink e
cluir estruturas de cobertura como gluma, le- Hilhorst, 2002). Quando a dormência está re-
ma, pálea, fruto, testa e mesmo camadas mais lacionada aos envoltórios, é denominada dor-
profundas como o endosperma. Aparentemen- mência imposta pela casca. Nesse caso, os en-
te, existe uma associação entre a espessura da voltórios funcionam como uma barreira à ger-
casca e o grau de domesticação da espécie, uma minação que o embrião não consegue superar.
vez que muitas espécies selvagens apresentam A dormência imposta pelos envoltórios tem
tegumentos mais espessos. Além disso, os en- os seguintes efeitos sobre o embrião (Bewley e
voltórios sofrem influência do ambiente, que Black, 1994):
provoca alterações em sua espessura e em sua ◗ interferência na absorção da água;
composição. ◗ interferência no alongamento embrioná-
A casca desempenha as seguintes funções: rio;
◗ protege as partes internas contra abra- ◗ interferência nas trocas gasosas;
sões e choques; ◗ impedimento à saída de inibidores e/ou
fonte de inibidores da germinação.

Germinação_07ok.p65 125 17/05/2004, 17:43


126 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Assim, a inibição do processo germinativo várias partes dos tegumentos. Em particular,


pode ser devida à ação de um ou mais dos fato- partes do tegumento da semente nas quais a
res recém-listados. Sob condições naturais, a fita hidrofóbica está localizada mais super-
dormência das sementes é um processo impor- ficialmente tendem a ser mais impermeáveis à
tante na dinâmica das populações naturais, água do que certas partes da chalaza, na qual
uma vez que está relacionada à adaptação das essa fita hidrofóbica está localizada mais pro-
plantas à heterogeneidade do ambiente. fundamente dentro da camada de células pali-
As sementes dormentes têm sua longevi- çádicas (Figura 7.1).
dade aumentada, permanecendo no solo, sem A casca e suas estruturas, como o hilo, a
germinar, até que sejam umedecidas o suficien- micrópila, o estrofíolo e a chalaza, se constitu-
te para permitir a penetração de água, as trocas em em barreiras à entrada de água ou em áreas
gasosas ou a neutralização de inibidores quími- de fraqueza, onde a embebição se inicia. O ca-
cos. A germinação de sementes de algumas es- minho do movimento de água para dentro das
pécies pode ser favorecida pela exposição ao fo- sementes pode ser traçado usando ácido ósmi-
go, ao ataque de microrganismos, ou após a pas- co, corantes ou iodo. Estudos ontogenéticos in-
sagem pelo trato digestivo de animais. O tempo dicam que a impermeabilidade à água ocorre
de duração da dormência pode variar desde al- no final do desenvolvimento das sementes. Essa
gumas semanas até vários anos, dependendo característica pode ser manipulada durante o
da espécie e das condições ambientais (Morris, período de maturação das mesmas, em decor-
Tieu e Dircon, 2000). rência de variações na duração do dia, na nu-
A seguir, serão analisados isoladamente os trição mineral ou na disponibilidade hídrica.
diferentes efeitos dos envoltórios sobre o em- Bewley e Black (1994) ressaltam a presença
brião. das estruturas como o hilo, a micrópila e o es-
trofíolo na casca das sementes pertencentes à
família Fabaceae. A micrópila é aparentemente
INTERFERÊNCIA NA permeável em algumas espécies, mas não em
ABSORÇÃO DE ÁGUA outras. No caso de Phaseolus lunatus, ela está
A casca espessa e/ou impermeável é responsável obstruída, e a pequena fissura do hilo permane-
pelo impedimento da absorção de água, sendo ce fechada até que a semente fique exposta a
bastante comum entre espécies da família Fa- baixos teores de umidade. O estrofíolo perma-
baceae, assim como em Cannaceae, Convolvu- nece intacto até que as sementes sejam expos-
laceae, Chenopodiaceae, Geraniaceae, Liliaceae, tas a condições que ocasionem a ejeção desta
Malvaceae e Solanaceae. estrutura.
A entrada de água pode ser bloqueada por Dessa forma, a casca é um tecido muito efi-
várias partes dos envoltórios, como, por exem- ciente no bloqueio à entrada de água. A com-
plo, uma cutícula serosa, a suberina, o tecido preensão das características físicas e anatômi-
paliçádico e as camadas de macroesclereídes. cas do tegumento permite, a curto prazo, a apli-
(Capítulo 4). cação do melhor tratamento para promover a
Conforme descrito por Serrato-Valenti, Ferro germinação das sementes e, a longo prazo, a
e Modenesi (1990), várias espécies do gênero manipulação, por meio de cruzamento entre
Prosopis apresentam uma fita hidrofóbica na ca- espécies de diferentes procedências, e a alteração
mada de células paliçádicas, que funcionam co- das características dos envoltórios das sementes.
mo uma barreira à entrada da água. Os autores A escarificação mecânica é uma técnica em-
afirmam também que a posição e a estrutura pregada para sobrepor os efeitos de uma cober-
das células paliçádicas, no interior da casca, di- tura impermeável à água e aos gases. Esse tipo
ferem de acordo com a sua localização. Essas de escarificação pode ser realizado rolando-se
diferenças podem ser responsáveis por varia- as sementes entre duas lixas de papel, usando
ções na permeabilidade à água exibida pelas um estilete, uma faca ou um bisturi para rom-

Germinação_07ok.p65 126 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 127

! Figura 7.1
Sementes de Prosopis juliflora. A: Visão do lado achatado (A1) e do lado estreito (A2); hm r = região hilo-
micrópila; ch r = região da calaza. B: Células paliçádicas maceradas, com as setas indicando as diferentes
localizações de tiras hidrofóbicas e as diferentes alturas das células paliçádicas (Serrato-Valenti, Ferro e
Modenesi, 1990).

per os seus envoltórios. Porém, deve-se tomar A escarificação também pode ser realizada
cuidado para não injuriar o embrião. Para isso, misturando-se as sementes com areia grossa.
é preciso abrir algumas sementes e, com o uso Essa mistura é colocada dentro de um recipien-
de uma lupa, determinar a localização exata te hermeticamente fechado, que será agitado
do embrião no interior das mesmas. Pode ser vigorosamente durante um certo período tanto
tomada como referência a micrópila, que é o maior quanto mais espesso for o tegumento.
primeiro ponto de ligação da semente ao fruto. Altas pressões, da ordem de 50 a 200 MPa,
Sementes grandes são facilmente escarifi- também ocasionam fissuras nos envoltórios,
cadas com uma faca ou bisturi. A punção do aumentando assim a permeabilidade das se-
tegumento, feita do lado oposto ao da emissão mentes à água e aos gases.
da radícula, embora seja um método bastante O uso de calor seco pode promover uma
trabalhoso, produz incrementos na velocidade retração do tegumento em várias espécies. O
e na porcentagem de germinação em espécies aquecimento em estufas é mais adequado do
como Chorisia speciosa (paineira) (Fanti, 2001) que o uso de um fogão convencional. Para tra-
e Pterogyne nitens (amendoim do campo) (Nassif tar a casca das sementes dessa forma, utilizam-
e Perez, 1997). se recipientes refratários rasos para acomodar
O uso de lixa para escarificar os envoltórios as sementes, colocando-os em uma estufa pré-
pode ser eficiente para algumas espécies de Sen- aquecida. O tempo de permanência e a tempe-
na (Baskin, Nan e Baskin, 1998) e de Cassia ratura de exposição dependem da espécie em
(Rodriguez, Aguiar e Sader, 1990), mas questão. Após o tratamento, as sementes de-
ineficiente em outros casos, por exemplo, ao vem ser resfriadas imediatamente e semeadas.
provocar a contaminação por fungos, como Entretanto, esse tratamento não é efetivo para
ocorreu em Stryphnodendron polyphyllum (barba- as sementes de amendoim do campo (Nassif e
timão) (Tambelini, 1994). Muitas vezes, é Perez, 1997), Schizolobium atterrimum (mucuna
difícel produzir uma escarificação homogênea preta) (Maeda e Lago, 1986) e Copaifera langs-
em toda a casca da semente e, como conseqüên- dorffii (copaíba) (Perez e Prado, 1993).
cia, pode-se deixar algumas sementes ainda im- Quando a temperatura de aquecimento es-
permeáveis à água e danificar outras. tiver entre 60 e 70oC, é possível que o trata-

Germinação_07ok.p65 127 17/05/2004, 17:43


128 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

mento com água quente, à mesma temperatura a germinação das sementes com casca dura. É
e durante o mesmo período, produza resultados possível que as espécies com essa característica,
semelhantes. dentro de uma mesma área geográfica, difiram
Em sementes com casca espessa, também bastante no tipo de resposta às flutuações de
se pode empregar o calor úmido como forma temperatura. Essa diversidade de resposta oca-
de amolecimento do tegumento. Aconselha-se siona diferenças na distribuição das espécies
um banho das sementes secas em hipoclorito em campo e contribui para a diferenciação dos
de sódio (5 a 10%) durante 15 minutos, antes nichos em populações que coexistem na mesma
do pré-tratamento. Em sementes de Peltopho- comunidade.
rum dubium (canafístula), a exposição durante Sementes de outras espécies que possuem
24 a 48 horas à temperatura de 45oC e 100% de casca espessa apresentam valores mais eleva-
umidade promove o amolecimento do tegu- dos de porcentagem e velocidade de germina-
mento. Esse fato propicia um aumento signifi- ção quando submetidas ao fogo. Em experi-
cativo na porcentagem e na velocidade de ger- mentos conduzidos em comunidades naturais,
minação, em relação ao grupo que não recebe Moreno-Casasola, Grime e Martinez (1994)
nenhum pré-tratamento (Perez, Fanti e Casali, descreveram a germinação induzida pelo fogo
1999). nas sementes com casca espessa e associaram
Ainda em relação ao calor, as flutuações de esse fenômeno a uma exposição a altas tempe-
temperatura no ambiente são as principais fon- raturas. Esses estudos revelaram que a dura-
tes de alterações na estrutura da casca de mui- ção do aquecimento, a profundidade na qual
tas espécies, por exemplo, as anuais de inver- as sementes estão enterradas e o teor de umi-
no da Austrália e da Califórnia. Segundo Rols- dade do solo afetam a resposta de germinação.
ton (1978), existem espécies como Lulinius va- As sementes localizadas mais próximas à su-
rius, Ornithopus compressus e Stylosanthes humilis perfície são as mais estimuladas pelo fogo em
(alfafa) cuja casca só amolece sob flutuações comparação com aquelas enterradas mais pro-
de temperatura, associadas a uma baixa umida- fundamente. Em algumas espécies de legumi-
de relativa, em torno de 8,5%. Além disso, nem nosas, os envoltórios espessos estão relaciona-
o número de ciclos de flutuações de temperatu- dos com a alta longevidade das sementes en-
ra nem a amplitude das flutuações, salientando terradas e parecem restringir a germinação
que deve ser superior a 15 o C, são mais onde a vegetação preexistente foi destruída pelo
importantes que a temperatura máxima diária fogo.
à que a semente fica exposta. Tratamentos empregando ácidos ou bases
Em duas espécies de Vicia (ervilhaca), V. sa- são usados para provocar fissuras no tegumento
tiva e V. grandiflora, Thompson e Grime (1983) das sementes que possuem casca impermeável.
observaram que a impermeabilidade do tegu- Os lotes de sementes são colocados em recipien-
mento é revertida com temperaturas alternadas te apropriado, enquanto o ácido ou a base con-
com o uso do par 4,5 e 21oC, mas não com a centrados são despejados sobre as sementes. O
combinação de 21 e 32oC; porém, em V. angusti- tempo de permanência nessas substâncias é de
folia, ambos os regimes de temperatura são efi- grande importância, pois as sementes devem ser
cazes na reversão da impermeabilidade da cas- retiradas imediatamente antes que o ácido ou a
ca. A reversibilidade natural sob altos teores base penetrem nos tegumentos. Quando o tem-
de umidade das sementes também ocorre, e isso po de exposição é excedido, pode ocorrer desde
implica que o amolecimento da casca está con- uma descamação do tegumento e conseqüente
dicionado ao grau de dessecação da semente e ataque por fungos até danos no eixo embrioná-
da temperatura máxima. rio, os quais resultariam em perda do vigor e da
Há vários casos na literatura que indicam viabilidade das sementes (Quadro 7.1).
a existência de grande diversidade do papel da O ácido ou a base são utilizados em tempe-
temperatura como um mecanismo que propicia ratura ambiente, por um período de poucos mi-

Germinação_07ok.p65 128 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 129

Tabela 7.1 Efeitos de distintos agentes químicos na escarificação de sementes de diversas espécies

Espécie Agente Tempo de exposição Referência

Cassia bicapsularis (caruaru de pito) Ácido sulfúrico 2h Rodriguez, Aguiar e


Sader. (1990)
Cassia javanica (cássia javanessa) Ácido sulfúrico 2h Rodriguez, Aguiar e
Sader. (1990)
Cassia speciosa (aleluia) Ácido sulfúrico 2h Rodriguez, Aguiar e
Sader. (1990)
Stryphnodendron pulcherrimum (faveira) Ácido sulfúrico 2 a 5 min Varel Brocki e Sá,
(1991)
Acacia bonariensis (acácia) Ácido sulfúrico 10 min Ferreira, Hipp e
Heusen. (1992)
Mimosa cesalpinaepholia (sansão do campo) Ácido sulfúrico 10 a 13 min Martins, Carvalho e
Oliveira. (1992)
Senna macranthera (manduirana) Ácido sulfúrico 15 min Santarem e Aquila
(1995)
Peltophorum sp. (canafístula) Ácido sulfúrico 15 a 20 min Perez, Fanti e Casale.
(1999)
Cassia excelsa (cássia do nordeste) Ácido sulfúrico 25 a 30 min Jeller e Perez (1999)
Copaífera sp. (copaíba) Acetona 20 min Perez e Prado (1993)
Stryphnodendron adstringents (barbatimão) Acetona 75 a 90 min Tambelini (1994)
Senna marilandica (sena selvagem) Álcool etílico – Baskin, Nan e Baskin.
(1998)
Senna obtusifolia Álcool etílico – Baskin, Nan e Baskin.
(1998)
Sinapsis avensis (mostarda) Hidróxido de potássio – Duran e Tortosa
(1985)
Sinapsis avensis (mostarda) Ácido sulfúrico – Duran e Tortosa
(1985)

nutos até algumas horas, dependendo da espé- da semente possa ser resultado da remoção da
cie. Durante o tempo de exposição, as sementes cutícula e da exposição das camadas de ma-
devem ser misturadas com o auxílio de um bas- croesclereídes.
tão de vidro. Terminado esse tempo, devem ser Além de ácidos ou bases, a estrutura da cas-
lavadas em água corrente por alguns minutos ca pode ser atacada com o uso de éter e acetona
até que o reagente remanescente seja totalmen- (Tabela 7.1). Mayer e Poljakoff-Mayber (1989)
te removido. Após a lavagem, as sementes po- relatam haver um aumento na permeabilidade
dem ser semeadas, ou secas e armazenadas da casca de várias espécies com a utilização do
durante vários meses. Como essas substâncias álcool etílico e da acetona. O uso desses sol-
são corrosivas, deve-se precauções, como o uso ventes orgânicos reduz a espessura da camada
de roupas adequadas, luvas e proteção para os de cera do envoltório das sementes, a qual cons-
olhos. titui uma barreira à difusão da água.
Egley (1989) apontou, como uma barreira Uma outra forma de amolecimento do te-
à entrada de água nas sementes, a presença de gumento rígido é uma cobertura de palha so-
ceras e compostos graxos na superfície ou de bre as sementes recém-semeadas em campo.
camadas de células abaixo da cutícula, os Pode-se conseguir um efeito bastante rápido
macroesclereídes. Acredita-se que a ação do áci- se essa cobertura de palha for inoculada com
do sulfúrico no amolecimento do tegumento compostos que desencadeiam a ação micro-

Germinação_07ok.p65 129 17/05/2004, 17:43


130 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

biana. Nesse caso, as sementes e o meio em enfraquecimento dos envoltórios. Na alface, por
que elas estão não podem ser tratados com fun- exemplo, os genótipos termotolerantes apre-
gicida. Se esse tratamento for realizado no iní- sentaram maior atividade de mananases e
cio da primavera ou do verão e o meio estiver maior porcentagem de germinação quando
úmido, haverá uma emergência rápida e comparados aos genótipos termossensíveis
sincrônica das plântulas; porém, o transplante (Cantife et al., 2000).
de mudas será muito mais difícil do que com o Morris, Tieu e Dircon (2000) verificaram a
uso das sementeiras. presença de dormência imposta pela casca em
duas espécies de Grevillea linearifolia e G. wilsonii
(grevíleas); porém, a extensão na qual a casca
INTERFERÊNCIA NO das sementes restringiu a germinação foi dife-
ALONGAMENTO rente nas duas espécies. A ocorrência de germi-
EMBRIONÁRIO nação, quando a casca é removida, denota a
Muitas vezes, os envoltórios que circundam o existência de uma barreira mecânica para o em-
embrião permitem a entrada de água, mas fun- brião e/ou do impedimento da saída de inibi-
cionam como uma barreira física que impede o dores. Em particular, em embriões de G. wilsonii,
alongamento embrionário. Como exemplo, são foi detectado um componente de dormência in-
citadas várias espécies das famílias Fabaceae, terna ou endógena (Capítulo 5), visto que a re-
Rosaceae, Protaceae e Myosporaceae e as quais moção de parte da casca permitiu a germinação
apresentam estruturas muito rígidas, que impe- de um pequeno percentual de sementes. A ex-
dem a germinação das sementes. Lemas e pá- posição à fumaça promoveu um aumento na
leas presentes nas sementes de gramíneas, por proporção de sementes (com a casca removida)
exemplo, nos gêneros Paspalum e Setaria, atra- que germinaram, sobrepondo, assim, uma pos-
sam ou impedem a germinação. sível dormência embrionária (Capítulo 6).
A germinação é um processo que se inicia
com a embebição das sementes. Durante essa
fase, ocorre a síntese e a ativação de várias en- INTERFERÊNCIA NAS
zimas, resultando na mobilização de reservas e TROCAS GASOSAS
principalmente na digestão de parede celular, Os envoltórios que circundam o embrião podem
enfraquecendo-a e permitindo que a raiz rompa impedir a entrada de oxigênio e a saída de gás
o tegumento. O enfraquecimento de tecidos ad- carbônico e, dessa forma, inibir a respiração.
jacentes ao ápice radicular (como a micrópila) Esse fato pode ser comprovado quando se raspa
precede a emergência da raiz primária em várias ou perfura a casca da semente. Um furo através
espécies, como Lycopersicom esculentum (- do endosperma, próximo à radícula das semen-
tomate), Lactuca sativa (alface), Capsicum annum tes de alface, ou através do pericarpo de semen-
(pimenta), Picea glauca (abeto-branco) e tes de cereais pode desencadear a germinação
Nicotiana tabacum (fumo) (Carvalho et al., 2001). por permitir a difusão de oxigênio até o embrião.
Em sementes de Sesamum indicum (gergelim), Conforme relatam Bewley e Black (1994),
Carvalho e colaboradores (2001) detectaram a observou-se em vários casos que a permeabili-
manose como o principal monossacarídeo no dade da casca das sementes ao oxigênio é me-
endosperma. Porém, um aumento na ativida- nor que a de uma camada de água de espessura
de da enzima endo-β-mananase, na região mi- equivalente. Essa impermeabilidade resulta
cropilar do endosperma, só foi verificado em provavelmente dos constituintes químicos da
temperatura supra-ótima de germinação. casca, como os compostos fenólicos. Os envol-
Bewley (1997) afirma que a ausência de tórios podem consumir o oxigênio em difusão,
germinação de determinadas espécies pode ser provavelmente graças à oxidação enzimática de
devida à inatividade de enzimas como a β-ma- vários compostos químicos que aí ocorrem. Por
nanase e outras hidrolases, o que dificulta o exemplo, a pálea presente em muitos cereais

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GERMINAÇÃO 131

impõe a dormência por consumir o oxigênio. vidade respiratória em certas porções como a
Em vários cultivares de arroz, a atividade da camada de aleurona, a oxidação de fenóis e a
peroxidase pode fazer parte de um complexo formação de mucilagem, que dificultam a difu-
consumidor de oxigênio. Rolston (1978) cita são do oxigênio. Além do bloqueio aos gases
que foi observada também uma relação entre a respiratórios, pode haver também uma restrição
coloração da semente, o grau de impermeabi- à difusão do etileno, envolvido em vários aspec-
lidade da casca, os altos níveis de compostos tos metabólicos da germinação.
fenólicos e o seu nível de oxidação. A oxidação
dos fenóis é catalisada pela enzima catecol oxi-
dase, que chega a ser muito ativa em algumas FORNECIMENTO E
espécies durante a fase da dessecação. PREVENÇÃO À SAÍDA
Se realmente existe uma redução no teor DE INIBIDORES
de oxigênio disponível para o consumo pelo em- Inibidores de diferentes categorias químicas po-
brião, é necessário saber o quanto o metabolis- dem ser encontrados em sementes de várias es-
mo embrionário necessita deste gás. Segundo pécies (Quadro 7.1).
Bewley e Black (1994), os embriões muitas ve- Observa-se, pelo quadro, que o ácido abs-
zes necessitam de baixa pressão parcial de císico é o inibidor mais comum entre as espé-
oxigênio para a manutenção da respiração. En- cies listadas, embora sua localização nas semen-
tão, a explicação para uma inibição da germi- tes seja bastante variável. Além disso, fica cla-
nação poderia ser a presença de inibidores em ro que os tegumentos podem atuar no bloqueio
sementes, sendoque esses inibidores só seriam à germinação pelo fornecimento de inibidores.
oxidados sob altas concentrações de oxigênio. Nesse sentido, foi observado em sementes de
Além disso, eles também poderiam se difundir Xanthium que o inibidor é capaz de se difundir
do embrião isolado, porém não atravessariam a de embriões isolados, mas não de sementes in-
casca de sementes intactas. Parece provável que tactas. No caso de sementes de aveia, a pálea
a remoção da casca beneficia o embrião por per- impõe a dormência mecânica, mas o embrião
mitir principalmente o escape de inibidores, e germina quando é removido da semente e
não apenas por propiciar uma maior disponibi- colocado sobre papel de filtro úmido. A absor-
lidade de oxigênio. ção de água não é afetada pela pálea, mas pa-
Ballard (1973) sugere a ocorrência de ou- rece que o movimento de substâncias da cario-
tros processos nos tegumentos, como a alta ati- pse está sendo impedido por essa estrutura.

Quadro 7.1 Relação de espécies que apresentam inibidores em diferentes porções da semente (Bewley
e Black, 1994)

Espécie Localização do inibidor Inibidor

Acer negundo Pericarpo ABA


Avena fatua Indeterminada ABA
Beta vulgaris Pericarpo Ácidos fenólicos, ácidos graxos de cadeia curta,
íons inorgânicos, cis –ciclohexano-1,2-dicarboxiamida
Corylus avelana Testa, embrião ABA
Eleagnus angustifolia Pericarpo, testa, embrião Cumarina
Fraxinus americana Pericarpo, embrião ABA
Mendicago sativa Endosperma ABA
Prunus domestica Embrião ABA
Rosa canina Pericarpo, testa ABA
Taxus baccata Embrião ABA
Triticum spp. Pericarpo, testa ABA

ABA = ácido abscísico.

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132 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Muitas barreiras são impostas pelos envol- tretanto, esse tratamento não foi eficiente para
tórios das sementes ao embrião e, para que este sementes de paineira (Fanti, 2001).
os penetre, é necessário haver uma certa pres- Um tratamento mais drástico pode ser em-
são de crescimento. A habilidade de crescer do pregado para sementes com casca muito rígida.
embrião está relacionada, entre outros fatores, Utiliza-se a água em ebulição, e o tempo de per-
com a diminuição da concentração de inibido- manência das sementes nessas condições pode
res na semente e/ou com o aumento da con- variar de um minuto a vários, dependendo da
centração nos tecidos de agentes promotores rigidez do tegumento. Decorrido o período dese-
da germinação, como o ácido giberélico, o ni- jado de imersão em água em ebulição, as se-
trato de potássio e a tiouréia. A concentração e mentes devem ser removidas e colocadas para
a duração do tratamento dependem da espécie resfriar em água fria. Baskin, Nan e Baskin
a ser tratada, e a principal vantagem desses (1998) relataram que a água fervente pode cau-
compostos químicos é a facilidade de utilização sar um incremento na permeabilidade da casca
e a rapidez na obtenção de resultados. da semente ao dissolver ou deslocar um ou mais
A cinza de troncos queimados tem sido uti- elementos estruturais da barreira impermeável.
lizada com bons resultados para neutralizar ou Entretanto, sementes de certas espécies, como
adsorver inibidores de germinação. Ela pode ser a canafístula (Perez, Fanti e Casali, 1999) e a
preparada com a queima de madeira, podendo paineira (Fanti, 2001), não suportam a imersão
ser previamente moída para produzir um talco em água fervente, mesmo por curtos períodos
uniforme e ser adicionada às placas de petri de tempo (um a cinco minutos).
contendo as sementes. As cinzas também po- Em qualquer tratamento com a utilização
dem ser obtidas pelo uso de mufla. de água, alguns cuidados devem ser tomados,
Em geral, usa-se a água corrente quando como evitar o uso de recipiente de alumínio ou
se deseja amolecer o tegumento e/ou remover água salobra. Após o uso de alguns desses trata-
inibidores hidrofílicos, com o conseqüente au- mentos, as sementes podem ser semeadas ime-
mento da permeabilidade dos envoltórios e do diatamente, não devendo ser armazenadas.
potencial germinativo, o que resulta em maior Uma vez que os envoltórios representam a
velocidade de embebição e de germinação. A interface entre a semente e o ambiente, qual-
duração do período de permanência das semen- quer interferência neles afeta também a inte-
tes em água varia em função das características ração entre o ambiente e o embrião. Os meios
do tegumento. Por exemplo, a permanência de de reverter os efeitos dos envoltórios sobre os
sementes de Enterolobium contortisiliquum (ore- embriões têm importância econômica para o
lha-de-negro) por 72 horas em água corrente processo de produção de mudas e importância
foi eficiente para promover 100% de germina- ecológica para o entendimento da dinâmica do
ção (Capelanes, 1991). banco de sementes no solo e do processo de
Quando se trabalha com sementes de tama- regeneração das comunidades naturais. Assim,
nho pequeno ou médio, o uso de água quente pesquisadores e produtores de mudas utilizam
é um tratamento muito mais prático do que a vários métodos artificiais para permitir a absor-
lixa ou a punção dos envoltórios. A utilização ção de água e uma posterior germinação sincro-
de água quente é mais eficaz quando as semen- nizada. Entre esses métodos, os mais utilizados
tes ficam mergulhadas na água pré-aquecida são: a escarificação, o calor ou frio seco, o fogo,
(cerca de 70 a 80oC) em volume maior do que o a água quente ou corrente, o ácido e outros
seu. Elas podem ficar imersas na água até o compostos químicos, a estratificação seca e a
esfriamento ou em banho-maria para manu- úmida. Cabe ao interessado identificar o mé-
tenção da temperatura de trabalho. Por exem- todo mais eficiente para a espécie em questão.
plo, Zpevak (1994) utilizou água a 70oC para Como pode ser visto na Tabela 7.2, os testes
promover a embebição e a germinação de se- de escarificação mostraram que os envoltórios
mentes de Dimorphandra mollis (faveira). En- impedem a absorção de água das sementes de

Germinação_07ok.p65 132 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 133

Tabela 7.2 Porcentagem de embebição (Emb%) e velocidade de embebição (Vemb), porcentagem (G) e
velocidade de germinação (V) e entropia informacional (E) para sementes de Peltophrum dubium submetidas
a diferentes tratamentos pré-germinativos antes da incubação a 27oC (Perez, Fanti e Casali, 1999)

Pré-tratamento Emb (%) Vemb (Dias-1 ) G(%) V ( dias-1) E (Bits)

Controle 59,20 0,26 40,80 0,11 3,09


Acetona 30 minutos 96,67 0,43 75,00 0,17 2,62
Acetona 60 minutos 95,60 0,73 26,12 0,18 1,11
Éter etílico 30 minutos 85,96 0,30 65,61 0,16 2,87
Éter etílico 60 minutos 81,46 0,47 61,58 0,20 2,71
Água corrente 24 horas 52,44 0,27 35,27 0,10 3,04
Água corrente 48 horas 68,08 0,49 34,59 0,11 3,16
Água corrente 72 horas 58,58 0,30 16,93 0,08 2,39
Água fervente 5 minutos 100 0,99 0,0 0,0 0,0
Água fervente 10 minutos 100 1,00 0,0 0,0 0,0
Lixa 94,06 0,65 75,15 0,28 1,74
Punção do tegumento 100 1,00 82,27 0,33 2,80
Ácido sulfúrico 5 minutos 79,24 0,33 74,24 0,14 2,01
Ácido sulfúrico 10 minutos 97,81 0,59 82,13 0,19 1,49
Ácido sulfúrico 15 minutos 100 0,98 92,30 0,39 1,20
Ácido sulfúrico 20 minutos 100 1,00 76,19 0,39 0,83
Ácido sulfúrico 25 minutos 100 1,00 80,78 0,43 1,56
Ácido sulfúrico 30 minutos 100 0,99 66,93 0,32 2,66
Frio seco 24 h 3oC 52,61 0,25 28,86 0,15 2,22
Calor seco 24 h 65oC 66,60 0,37 39,26 0,19 1,72
Calor seco 24h 100oC 100 1,00 0,0 0,0 0,0

canafístula. Os valores de porcentagem e veloci- que demonstrou ser o mais eficiente dentre os
dade de embebição foram baixos nas sementes pré-tratamentos utilizados (Tabela 7.2).
intactas (controle). Quando vários tratamentos Uma ressalva importante deve ser feita
pré-germinativos são aplicados, verifica-se um quando se trabalha com espécies nativas. Como
aumento na porcentagem de embebição e/ou os envoltórios sofrem influência genética e do
germinação. A escolha do melhor tratamento ambiente durante a ontogenia das sementes, é
requer uma combinação de valores mais eleva- necessário confirmar o tipo e a eficácia do tra-
dos de porcentagem e velocidade de germina- tamento pré-germinativo indicado na literatu-
ção e menores valores de variância de germina- ra em uma amostra do lote de sementes, antes
ção ou entropia informacional (Capítulo 13). de aplicar esse tratamento a todo o lote.
Quando se obtêm elevados valores de porcenta-
gem de germinação, isso significa que os trata-
mentos aplicados possibilitaram a embebição BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
e não danificaram o embrião. Elevados valores BALLARD, L.T. Physical barriers to germination Seed Science
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BEWLEY, J.D. Breaking dow the walls – a role for endo
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betamananase in release from seed dormancy. Trend in Plant
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perda de viabilidade. Mas quando se deseja uma
BEWLEY, J.D & BLACK, M. Seeds: Physiology of development
germinação rápida e sincrônica, recomenda-se and germination 2a.ed. New York : Plenum Press, 1994. p.444.
o uso de ácido sulfúrico entre 15 e 20 minutos,

Germinação_07ok.p65 133 17/05/2004, 17:43


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A comparative study of effects of flutuations in temperature
ção (Mestrado) 1994.
and moist supply on hard coat dormancy seeds of coastal

Germinação_07ok.p65 134 17/05/2004, 17:43


C A P Í T U L O 8

QUEBRA DE DORMÊNCIA
EM SEMENTES
Lilian B.P. Zaidan
Claudio J. Barbedo

A dormência de sementes tem fundamental que sempre houvesse a possibilidade de produ-


importância para a perpetuação e o estabeleci- zir uma nova planta tão logo as condições do
mento de muitas espécies vegetais nos mais va- meio fossem favoráveis.
riados ambientes. Embora ocorra mais freqüen- A grande maioria das plantas cultivadas
temente em sementes tolerantes à dessecação, atualmente com fins agrícolas é formada de va-
as chamadas ortodoxas, há registros de sua riedades, cultivares ou híbridos geneticamente
ocorrência também em sementes que precisam melhorados, que passaram por processos de se-
manter elevado teor de água, ou seja, as recalci- leção nos quais a dormência das sementes foi
trantes (Capítulo 3). Contudo, os processos se- progressivamente sendo eliminada. Isso porque
letivos impostos às espécies vegetais com se- o modelo agrícola ainda predominante é fa-
mentes dormentes que resistiram até a atuali- vorecido quando a germinação das sementes e
dade provavelmente tiveram como base a exis- as demais fases da produção ocorrem de forma
tência de mecanismos capazes de atravessar pe- rápida e uniforme, sobretudo nas culturas de
ríodos adversos ao crescimento vegetativo. ciclo anual. Contudo, ainda hoje há muitas es-
No que se refere à existência ou não de dor- pécies, cultivadas ou não, que têm sementes
mência nas sementes, independentemente da dormentes, algumas das quais se valem dessa
tolerância à dessecação, a exigência de que as dormência para sobreviver.
sementes produzidas pela planta-mãe germi- Diversas plantas invasoras de campos agrí-
nassem paulatinamente ao longo do tempo foi colas apresentam sementes que têm sua dor-
provavelmente fundamental para que, em vá- mência quebrada de forma progressiva. Assim,
rias regiões, as espécies pudessem passar por freqüentemente se verificam novas plântulas
períodos com condições desfavoráveis ao seu emergindo durante o desenvolvimento da cul-
estabelecimento, tais como temperatura muito tura agrícola, dificultando seu manejo e, por
baixa ou seca prolongada. A germinação rápida vezes, trazendo prejuízos econômicos. Essa ca-
e uniforme de todas as sementes produzidas racterística, porém, tem evitado a erradicação
em um determinado momento poderia resultar da espécie. Por outro lado, várias plantas culti-
na morte subseqüente de todas as plântulas vadas apresentam sementes dormentes por não
imediatamente após sua emergência. Dessa for- terem sido submetidas a intenso melhoramento
ma, a seleção natural das espécies deve ter ocor- genético com essa finalidade.
rido no sentido de favorecer aquelas que produ- O uso de espécies nativas arbóreas para pro-
ziram sementes com diferentes graus de dor- gramas de reflorestamento em manejo susten-
mência, ou seja, que tiveram sua dormência tado ou, ainda, para a arborização urbana vem
quebrada em diferentes momentos, garantindo se intensificando nos últimos anos. Dentre es-

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136 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

sas espécies, muitas apresentam mecanismos ciclo curto. O atraso na germinação pode, ainda,
de dormência, dificultando o planejamento dos diminuir o número de ciclos econômicos por ano.
viveiristas para a obtenção de mudas. Algumas espécies são utilizadas como fonte
de adubação verde para culturas agrícolas. Elas
são semeadas para que desenvolvam grande
NECESSIDADE DE QUEBRA DA massa vegetal, que será incorporada ao solo
DORMÊNCIA EM SEMENTES antes do plantio da espécie principal. Isso re-
Se, por um lado, a dormência das sementes se sulta em enriquecimento nutricional do solo,
apresenta vantajosa para a perpetuação das es- principalmente com nitrogênio. Contudo, al-
pécies, ampliando a possibilidade de estabeleci- gumas espécies que têm alto valor nutricional
mento de novos indivíduos ou colonização de como adubo verde apresentam sementes com
áreas por distribuir a germinação no espaço e diferentes graus de dormência. Isso acarreta
no tempo (Kigel e Galili, 1995; Carvalho e Na- dois problemas para os agricultores: primeiro,
kagawa, 2000), por outro, pode trazer desvanta- a necessidade de grande número de sementes,
gens, principalmente considerando a explora- pois nem todas germinarão na época de produ-
ção vegetal. A agricultura tradicional atual é ção de massa verde; segundo, muitas sementes
facilitada quando as práticas culturais podem germinarão durante o desenvolvimento da cul-
ser aplicadas de forma contínua e uniforme. tura agrícola e, assim, serão consideradas plan-
Para isso, há necessidade de uniformidade de tas invasoras e entrarão em competição por luz,
desenvolvimento entre as plantas da mesma água e nutrientes com as plantas da cultura
cultura, o que se inicia na germinação das se- principal.
mentes e na emergência das plântulas. Portan- Finalmente, até mesmo a correta avaliação
to, um determinado lote com sementes dor- da qualidade fisiológica de lotes de sementes
mentes poderá resultar em campos de produção pode ser dificultada pela existência de dormên-
irregulares, com plantas em diferentes estádios cia. Testes de germinação realizados com espé-
de desenvolvimento. Nesse caso, a dormência cies que têm sementes dormentes podem pro-
é desvantajosa, tanto mais quanto menor o ciclo duzir resultados insuficientes para a correta
da cultura. Além disso, quanto maior o tempo previsão do comportamento das mesmas após
de permanência das sementes no solo sem ger- sua semeadura. Isso porque são registradas, nos
minar, maiores as chances de perdê-las, seja por boletins de análise, a porcentagem de sementes
deterioração ou predação. que germinaram e a de sementes dormentes
O atraso na germinação, algumas vezes, po- (ISTA, 1985). Estas últimas, após a semeadura,
de resultar em falhas na produção agrícola. Al- podem germinar no campo em períodos prati-
gumas plantas podem não estar suficientemen- camente imprevisíveis. Assim, tornam-se ne-
te desenvolvidas na época em que devem rece- cessários tratamentos para quebra da dormên-
ber estímulos ambientais para, por exemplo, cia após sua constatação nos testes de germina-
florescer ou acumular reservas em órgãos ve- ção. Contudo, dependendo da espécie, nem
getativos. Além disso, quando esses estímulos sempre há suficiente informação quanto ao mé-
são recebidos, o atraso na germinação pode pro- todo mais adequado ou eficiente para a quebra
duzir atraso na colheita, acarretando desvalo- da dormência das sementes.
rização do produto no mercado. Isso porque Deve-se salientar, porém, que, mesmo
muitos produtos agrícolas apresentam oscila- quando se pensa em utilização das sementes
ções de preço, regulados aos períodos de safra pelo homem, a dormência pode representar
e entressafra. A colocação de um produto agrí- vantagens. Em muitas sementes, a impermea-
cola no mercado antes da entrada da safra prin- bilidade do tegumento à água, por exemplo, é
cipal muitas vezes significa obtenção de preço o principal mecanismo de manutenção de bai-
mais elevado do produto. Esse fato é impor- xos teores de água no interior da semente, o
tante, por exemplo, para algumas hortaliças de que evita o metabolismo mais intenso, reduz a

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GERMINAÇÃO 137

respiração e, assim, diminui o consumo de re- sensibilidade das sementes aos processos de su-
servas, fundamentais para a germinação e o peração de dormência (Egley, 1995), o que pode
crescimento inicial da plântula. O mesmo po- provocar maior ou menor sucesso da aplicação
deria ser dito quanto à impermeabilidade a dos métodos. Para cada tipo de dormência e
gases, evitando a entrada de O2 e a saída de para cada condição na qual as sementes estão
CO2. Além disso, mantendo-se baixo o teor de inseridas haverá um ou mais métodos mais
água nas sementes, dificulta-se o desenvolvi- adequados e eficientes.
mento de microrganismos causadores de dete- Quando a dormência é causada pela im-
rioração, bem como o ataque mais intenso de permeabilidade do tegumento à água (Capítulo
insetos e roedores. Em sementes de Hymenaea 7), os métodos a serem empregados deverão
courbaryl (jatobá) e de Lathyrus nervosus (espé- promover aberturas neste, permitindo a embe-
cie forrageira nativa do Brasil), por exemplo, a bição, como ocorre com as escarificações ou cor-
escarificação do tegumento, impermeável à tes do tegumento. Nesse caso, é importante
água, pode resultar em deterioração mais rápi- identificar as vias e os mecanismos de entrada
da (Franke e Baseggio, 1998; Guimarães et al., da água na semente, pois o tipo e a posição da
1995), conforme ilustrado na Figura 8.1. Por- abertura podem causar maior ou menor eficiên-
tanto, a dormência das sementes muitas vezes cia do método, algumas vezes chegando a pre-
contribui para sua melhor conservação e arma- judicar a germinação. Por exemplo, o desponte
zenamento (Capítulo 17). (corte na extremidade) da semente de Attalea
funifera (piaçaveira) pode dificultar a entrada
de água por remover, parcialmente, o feixe de
ESCOLHA DO MÉTODO DE fibras que funciona como eficiente captador de
QUEBRA DE DORMÊNCIA água (Melo, 2001). Por outro lado, em sementes
A dormência das sementes pode ter diversas de jatobá, quando a escarificação é feita na late-
causas (Capítulo 5). Assim, antes da tomada ral da semente, a embebição é mais rápida do
de decisão quanto ao método a ser adotado para que quando feita na região do hilo, o que prova-
a quebra da dormência, deve-se identificar, tan- velmente está relacionado à maior superfície
to quanto possível, suas causas. Além disso, é de contato com a água e à abertura de novas
necessário considerar a existência de ciclos de vias de entrada para esta. (Santos, 2002).

Germinação Sementes mortas

75 75

50 50
(%)

(%)

25 25

0 0
Testemunha Escarificação Escarificação Testemunha Escarificação Escarificação
mecânica química mecânica química

! Figura 8.1
Germinação e deterioração de sementes de Hymenaea courbaryl (coluna preta) e Lathyrus nervosus (coluna
cinza) submetidas ao processo de escarificação mecânica ou química. Fontes: Franke e Baseggio (1998),
Guimarães et al. (1995).

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138 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Quando a dormência é ocasionada por um ciente apenas um planejamento de utilização


balanço desfavorável entre promotores e inibi- do lote de sementes. Por exemplo, em semen-
dores de germinação (Capítulo 6), métodos que tes de Styzolobium aterrimum (mucuna-preta),
aumentem a concentração de estimuladores da uma leguminosa bastante empregada como
germinação ou que atuem impedindo a ação adubo verde, a separação das sementes em cate-
dos inibidores deverão ser empregados, como gorias de tamanho pode ser um procedimento
é o caso da estratificação, da aplicação direta útil para controlar a dormência (Barbedo,
de substâncias como giberelinas e citocininas Nakagawa e Machado, 1988). As sementes
e, ainda, da lixiviação. maiores dessa espécie perdem a dormência
Nos casos em que há impedimento à entra- mais rapidamente que as menores (Figura 8.2).
da de oxigênio para o embrião, causado por Portanto, seria possível adquirir sementes su-
substâncias presentes na superfície das semen- ficientes para dois ciclos, guardando-se as se-
tes, uma simples lavagem permitirá a quebra mentes pequenas para um segundo plantio.
da dormência. Em outros casos, há necessidade A eficiência na quebra de dormência é, sem
de se fornecer maiores quantidades de O2. Para dúvida, uma das principais características a
algumas sementes, a dormência é resultante considerar na escolha do método. Na literatura,
do impedimento físico de estruturas mais exter- encontram-se diversos trabalhos nos quais mais
nas, que impedem a expansão dos tecidos do de um método resulta em grande porcentagem
embrião. Nesses casos, muitas vezes há necessi- de sementes que têm sua dormência quebra-
dade de remoção completa das estruturas que da. Contudo, muitas vezes há diferenças na
conferem a resistência mecânica à germinação, eficiência dos métodos. Além das variações que
como em Ocotea corymbosa, popularmente co- podem existir na sensibilidade das sementes
nhecida por canela-preta ou canela-fedida (Bi- de uma mesma espécie, conforme citado ante-
lia, Barbedo e Maluf, 1998). riormente (Egley, 1995), é preciso considerar
Uma vez identificadas as causas da dor- as diferentes condições nas quais esses méto-
mência, outros fatores devem ser considerados dos são aplicados, tais como as condições cli-
antes de se escolher o método de quebra da dor- máticas, a habilidade do executor e o equipa-
mência. Em função de sua causa pode ser sufi- mento e o material disponíveis. Em sementes

Germinação Sementes duras

100 60

75
40
(%)

(%)

50
20
25

0 0
3 meses 11 meses 24 meses 3 meses 11 meses 24 meses

! Figura 8.2
Germinação e dormência (impermeabilidade do tegumento à água) de sementes de Styzolobium aterrimum
(mucuna preta) de diferentes tamanhos, após 3, 11 e 24 meses de armazenamento. Coluna preta, sementes
sem separação de tamanho; coluna cinza, sementes grandes; coluna branca, sementes pequenas. Até o
terceiro mês de armazenamento, o grupo das sementes pequenas apresentou maior proporção de sementes
duras (que não embeberam). No decorrer do tempo de armazenamento, a proporção de sementes duras
diminuiu em todos os grupos, e a germinação passou a ser uniforme e elevada. Fonte: Barbedo, Nakagawa e
Machado. (1988).

Germinação_08ok.p65 138 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 139

de Senna macranthera (manduirana), árvore 100


nativa de grande potencial ornamental, e em
Mimosa caesalpiniaefolia (sansão-do-campo, sa- 75

biá), as escarificações química e mecânica, em


diferentes experimentos (Martins, Carvalho e 50

Oliveira, 1992; Santarém e Aquila, 1995;


25
Eschiapati-Ferreira e Perez, 1997; Nascimento
e Oliveira, 1999), apresentaram respostas di-
0
ferentes quanto à eficiência dos métodos (Fi-
S1 S2 M1 M2
gura 8.3). Assim, antes de se optar por um mé-
todo de quebra de dormência, deve-se ter em ! Figura 8.3
mente o grau de eficiência desejado para atingir Germinação de sementes de Senna macranthera (S1
e S2) e de Mimosa caesalpiniaefolia (M1 e M2) sub-
um objetivo, com elevado grau de reprodutibi-
metidas às escarificações química e mecânica, em
lidade. dois experimentos: S. macranthera, S1 = Santarém
Nem sempre o método eficiente é o mais e Aquila, 1995; S2 = Eschiapati-Ferreira e Perez, 1997;
adequado à situação. Um fator importante na M. caesalpiniaefolia, M1 = Nascimento e Oliveira,
escolha é a viabilidade do uso. Muitas vezes, 1999; M2 = Martins, Carvalho e Oliveira. 1992. Colu-
na preta: testemunha; coluna branca: ácido sulfúri-
um método eficiente exige condições ou recur-
co por 10 min; coluna cinza: escarificação mecânica.
sos de execução que não estão à disposição do
usuário, tais como equipamento adequado,
mão-de-obra suficientemente qualificada e,
ainda, custo acessível de reguladores de cresci- bra de dormência nos casos de impermeabili-
mento. dade do tegumento à água. Contudo, para es-
Como exemplo, pode-se citar o caso do sa- carificar grandes quantidades de sementes, há
biá (Martins, Carvalho e Oliveira, 1992; Nasci- necessidade de equipamentos específicos, pois
mento e Oliveira, 1999), cujas sementes, quan- a escarificação manual demandaria quantidade
do colocadas em água a 80oC por 5 minutos, tão grande de tempo e de mão-de-obra que in-
têm sua germinação aumentada; contudo, a viabilizaria o processo. Muitas vezes, porém,
elevação dessa temperatura para 100oC, mes- tais equipamentos não existem ou são de difícil
mo que por apenas 3 minutos, resulta em mor- aquisição, quer por sua pequena disponibilida-
te de todas as sementes (Tabela 8.1). de no mercado, quer por seu custo elevado.
Um outro exemplo é a escarificação mecâ- Um outro fator a ser considerado na escolha
nica das sementes, que tem se apresentado co- do método de quebra de dormência é o seu grau
mo um dos mais eficientes métodos para que- de periculosidade. Escarificações ácidas, por

Tabela 8.1 Germinação e morte de sementes de Mimosa caesalpiniaefolia. submetidas ao


pré-tratamento com água a 80 ou 100oC

Tratamento Tipo de semente Germinação (%) Fonte

Testemunha 1 com casca 31,5 1


sem casca 38,0 1
Testemunha 2 com casca 14,5 2
sem casca 17,0 2
Água a 80oC por 5 minutos com casca 38,0 1
sem casca 73,0 1
Água a 100oC por 3 minutos com casca 0 2
sem casca 0 2

Fontes: 1. Nascimento e Oliveira, 1999; 2. Martins, Carvalho e Oliveira. 1992.

Germinação_08ok.p65 139 17/05/2004, 17:43


140 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

exemplo, são bastante eficientes para muitas dades de dispersão) por meio dos tipos de agen-
sementes. Contudo, a manipulação do produto, tes que atuam nesse processo. Serão abordados
principalmente quando é necessário o uso de a seguir alguns métodos de superação da dor-
ácidos concentrados, exige mão-de-obra alta- mência, agrupados segundo sua principal for-
mente qualificada para que se evitem riscos à ma de atuação na semente.
saúde dos usuários. Ainda assim, os riscos de
acidentes tornam tais métodos pouco recomen- Agentes mecânicos
dáveis em escala comercial. Não é difícil imaginar que uma semente
Há estudos sobre quebra de dormência de com tegumento rígido, impermeável à água, só
sementes de várias espécies. Em alguns casos, poderá germinar se for aplicado algum tipo de
já se tem tecnologia adequada e difundida, com tratamento que possibilite a remoção total ou
técnicas e procedimentos bem-estabelecidos e parcial da casca, facilitando a entrada de água
de amplo domínio público (ISTA, 1985), como na semente, de modo a permitir sua embebição,
as estratificações feitas em sementes de frutei- etapa inicial da germinação. A casca da semente
ras de clima temperado ou as escarificações me- também pode agir como barreira às trocas gaso-
cânicas em várias leguminosas arbóreas tropi- sas ou à entrada de luz, como impedimento à
cais. Em outras situações, porém, os estudos saída de inibidores endógenos ou, ainda, forne-
não são ainda conclusivos ou, mesmo, não há cendo inibidores para o embrião, impedindo
estudos. Nesses casos, além dos cuidados des- assim a germinação.
critos anteriormente, também pode ser de gran- A ocorrência de tegumentos rígidos, resis-
de ajuda analisar as características do ambiente tentes, provocando uma resistência mecânica,
no qual a espécie ocorre naturalmente, sua re- é muito comum nas Leguminosae, principal-
gião de origem, formas de dispersão, etc. Tais mente nas Faboideae. Em sementes de determi-
observações podem fornecer informações im- nadas espécies, a entrada de água e oxigênio é
portantes para a escolha do método de quebra impedida por uma tampa de suberina, seme-
de dormência, tais como período de baixas tem- lhante a uma rolha (estrofíolo), localizada em
peraturas após a dispersão natural das semen- uma pequena abertura na casca (Salisbury e
tes, passagem das sementes pelo trato digestivo Ross, 1992). A agitação vigorosa das sementes
de animais, entre outras. pode deslocá-la e permitir a entrada de água,
levando à germinação. Esse tratamento é co-
nhecido como quebra de dormência por impac-
MÉTODOS PARA QUEBRA DE tação e é aplicado em sementes de Melilotus alba
DORMÊNCIA EM SEMENTES (trevo-doce, trevo-doce-branco) e Crotallaria
A dormência das sementes consiste na incapa- aegyptica (crotalária), espécies utilizadas como
cidade de germinação do embrião devido a al- adubo verde. A remoção total ou parcial da cas-
gum problema inerente à semente. Quando ca da semente por tratamentos diversos é de-
todas as condições necessárias à germinação nominada escarificação.
são oferecidas e mesmo assim a semente não A escarificação mecânica é feita com mate-
germina, existe uma forte possibilidade de ela riais cortantes, como facas, canivetes, estiletes,
apresentar algum tipo de bloqueio que deve ser alicates, ou com materiais abrasivos, como li-
removido ou superado para que o processo da mas, lixas, areia, etc. Na maioria das vezes, não
germinação ocorra. Para que se perca a dormên- é necessário retirar todo o tegumento da se-
cia, a semente deve sofrer a ação de algum fator mente, basta uma leve escarificação, suficiente
ambiental e/ou metabólico. Desse modo, a que- para permitir a entrada de água a fim de que a
bra da dormência está relacionada a fatores ex- germinação venha a ocorrer. Exemplos de se-
ternos e internos à semente. mentes que necessitam desse tipo de tratamen-
Para fins didáticos, costuma-se estudar a to: as plantas arbóreas do bioma Cerrado, como
quebra da dormência de sementes (ou de uni- jatobá, Dipteryx alata (baru) e Stryphnodendron

Germinação_08ok.p65 140 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 141

barbadetimam (barbatimão); Rumex obtusifolius que a germinação em canteiro sob temperatura


(língua-de-vaca, espécie invasora), Xanthium ambiente (ao redor de 25oC) foi de 40% após 7
strumarium (espécie muito utilizada em estu- a 10 meses; em embriões isolados, entre 35 e
dos de floração), várias leguminosas, como Cae- 39oC, a germinação ocorreu após oito dias, atin-
salpinia ferrea (pau-ferro), Bauhinia forficata (pa- gindo 90% (Felippe e Silva, 1984). Em algumas
ta-de-vaca) e Schizolobium parahyba (guapuru- plantas de Cerrado, temperaturas relativamen-
vu), conforme Felippe e Silva (1984), Lorenzi te altas (cerca de 35oC) podem acelerar a germi-
(1992) e Guimarães e colaboradores (1995). A nação. Esse efeito da temperatura não deve ser
semente de Eugenia dysenterica (cagaita), espécie confundido com o efeito de água quente na
do Cerrado, apresenta uma testa coriácea, gros- quebra de dormência em algumas sementes.
sa, permeável à água, mas que se torna pouco Nessas, como em guapuruvu, para que ocorra
permeável ao oxigênio quando fica saturada de a germinação, é preciso ferver as sementes por
água; nesse caso, é necessário perfurar ou reti- alguns minutos. A fervura vai apenas retirar
rar a testa da semente para acelerar a germi- as ceras presentes no tegumento da semente,
nação (Rizzini, 1970). A escarificação mecânica diminuindo sua impermeabilidade e permitin-
também pode ser feita por agentes químicos do a entrada de água e as trocas gasosas.
fortes, como o ácido sulfúrico concentrado. A exposição a um calor intenso, como nas
queimadas, pode provocar a ruptura da testa
Temperatura de algumas sementes. Esse efeito é descrito em
As sementes de várias espécies não-tropi- Acacia melanoxylon, uma espécie das savanas
cais podem ter sua dormência quebrada quando africanas, e em Calluna vulgaris (urze européia),
hidratadas ou expostas a baixas temperaturas. não sendo confirmado em sementes de plantas
Esse efeito também é conhecido como estrati- do Cerrado. Sementes de Albizzia lophanta, uma
ficação. Esta é uma prática comum em horti- leguminosa de pequeno tamanho que ocorre
cultura e silvicultura, e o nome advém da forma na Austrália, germinam quando expostas à pas-
como as sementes são colocadas, em camadas, sagem do fogo e, quando isso não ocorre, ape-
no substrato umedecido, para receber o trata- nas 5% das sementes germinam (Salisbury e
mento de baixa temperatura. É fácil imaginar Ross, 1992).
como a estratificação se dá em condições natu- Finalmente, é importante mencionar os
rais, durante o inverno, quando as sementes efeitos de temperatura alternada na quebra de
são expostas por vários dias a temperaturas dormência de sementes, como ocorre em algu-
entre 1 e 10oC e têm sua dormência quebrada, mas espécies de Rumex (Metivier, 1979). Em
vindo a germinar no início da primavera. Al- Bidens gardneri (picão-do-cerrado), uma herbá-
guns pinheiros (Pinus spp.), espécies do gênero cea ocorrente em áreas abertas e marginais de
Pyrus (macieira e pereira), cereais como Avena Cerrado, temperaturas alternantes de 20 a 30oC
sativa (aveia), Rosa spp. (rosa) e Vitis vinifera (vi- durante o armazenamento de aquênios com
deira) são exemplos de plantas cultivadas cujas teor alto de água aumentam a germinação no
sementes requerem frio para germinar (Meti- escuro e, portanto, alteram a resposta fotoblás-
vier, 1979; Bewley e Black, 1994). tica (Rondon et al., 2001). Esse efeito explicaria
Mais raramente, outras espécies requerem a germinação dos aquênios presentes em solo
temperaturas altas para que ocorra a quebra de Cerrado, onde oscilações diárias de tempera-
de dormência. Porophyllum lanceolatum, uma As- tura nessa faixa podem ocorrer. O efeito da al-
teraceae que ocorre no Cerrado, apresenta ternância de temperatura é uma resposta difícil
aquênios que germinam bem a 25oC, em pre- de ser quantificada, pois pode ser extremamen-
sença de luz; aquênios mantidos no escuro e te variável em termos de tempo de exposição,
que receberam choques de temperatura entre magnitude da variação entre a temperatura alta
34 e 42oC germinaram na total ausência de luz. e a baixa, número de ciclos de exposição, etc.
Em Andira humilis (mata-barata), observou-se Em algumas espécies, a alternância de tempe-

Germinação_08ok.p65 141 17/05/2004, 17:43


142 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

ratura pode substituir o efeito da luz na germi- Os reguladores de crescimento exercem um


nação. papel primordial na eliminação da dormência.
As giberelinas (geralmente o ácido giberélico,
Lixiviação GA3, mas também GA4 e GA7) as citocininas
O efeito físico da água na quebra de dor- (principalmente a cinetina e a benziladenina)
mência pode ser entendido quando ela exerce e o etileno são os compostos mais relacionados
o papel de agente de lixiviação (lavagem) de à quebra da dormência. Em geral, as sementes
inibidores de crescimento presentes na semen- que necessitam de estratificação, luz ou um pe-
te. Em condições naturais, tal efeito pode ser ríodo de pós-maturação respondem bem a apli-
obtido quando ocorre uma chuva torrencial ou cações de hormônios que, freqüentemente, ace-
mesmo chuvas freqüentes. Em laboratório, cos- leram a germinação de sementes não-dormen-
tuma-se deixar as sementes que necessitam tes. Entre os efeitos de reguladores de cres-
desse tipo de tratamento por um certo período cimento, estaria o de aumentar o nível endó-
de tempo sob água corrente, antes de colocá- geno desses compostos ou antagonizar o efeito
las para germinar. Lembramos aqui que semen- de inibidores no metabolismo embrionário. Em
tes presentes no solo ou na serapilheira estão língua-de-vaca, as sementes necessitam de luz
sujeitas à ação de inúmeros tipos de inibidores constante para germinar, a qual pode ser subs-
presentes em outras sementes, em folhas e mi- tituída por um choque de luz durante uma hora
crorganismos. Nesses casos, a ocorrência de ou um choque de temperatura a 40°C pelo mes-
chuvas pode atuar na lixiviação de inibidores, mo período (Tabela 8.2). Foi observada a exis-
propiciando a germinação (Capítulo 16). tência de inibidores endógenos cuja concentra-
ção diminui após os choques de luz e de tem-
peratura, que, concomitantemente, provoca-
Agentes químicos e reguladores do
crescimento
ram aumento significativo do teor de gibereli-
Dentre estes, destacam-se os ácidos fortes, nas das sementes. Em outras situações, uma
como o ácido sulfúrico, que, quando em contato embebição prévia no escuro por um período va-
com os tegumentos duros de uma semente, po- riável pode quebrar a dormência. Aquênios de
de levar à ruptura da testa, como anteriormente Acanthospermum hispidum (carrapicho-de-car-
mencionado. O tempo que as sementes ficam neiro) necessitam de um período de pós-ma-
expostas ao efeito corrosivo do ácido varia de turação para a interrupção da dormência, o que
acordo com a espécie. As sementes de legumi- é obtido quando são embebidos no escuro por
nosas arbóreas, como sabiá, Cassia spp., Mimosa 10 a 20 dias (Garcia e Sharif, 1995).
bimucronata (maricá) e Dimorphandra mollis (fal- As giberelinas constituem o grupo de regu-
so-barbatimão, farinheiro), são exemplos de se- ladores de crescimento que tem o mais amplo
mentes cuja dormência pode ser quebrada por espectro de ação em relação à quebra de dor-
ácido sulfúrico (Lorenzi, 1992; Martins, Car- mência em sementes. O efeito na germinação
valho e Oliveira, 1992; Jeller e Perez, 1999). de alface é um dos mais conhecidos, tendo tam-
Imersão em hipoclorito de sódio (NaClO3),
ácido nítrico (HNO 3), nitrato de potássio
(KNO3), etanol (para remoção de ceras do te- Tabela 8.2 Efeito do choque de luz e de
gumento) ou água oxigenada (H2O2) é prática temperatura na germinação de Rumex obtusifolius L
comum, usada para superar a dormência. Es- Tratamento Germinação (%)
ses agentes químicos podem atuar em vários
Escuro 25oC 15,3
processos do metabolismo das sementes, como
Escuro 25oC (1h a 40oC) 75,3
nos processos oxidativos, no ciclo das pentoses Escuro 25oC (1h de luz) 88,0
e na respiração. Luz constante 25oC 89,3

Fonte: Felippe et al., 1970.

Germinação_08ok.p65 142 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 143

bém sido observado em língua-de-vaca (Tabela dia do último comprimento de onda fornecido
8.3). (Tabela 8.4). Por meio desse e de outros estu-
As citocininas parecem ser menos eficientes dos se estabeleceu que a luz é absorvida por
e podem induzir uma germinação anormal, por um pigmento, denominado fitocromo, que se
exemplo, com a emissão dos cotilédones antes converte em duas formas, ativa e inativa.
da protrusão da radícula. Em geral, as aplica- As duas formas do fitocromo podem ser
ções exógenas de reguladores de crescimento simbolizadas por Fv e Fve. A primeira, inativa,
são mais eficazes quando fornecidas juntamen- absorve luz vermelha, com pico de absorção má-
te com outro fator, como a luz, ou com outro xima em 660 nm. Quando o Fv é ativado pela
regulador de crescimento, combinados entre si luz vermelha, converte-se na segunda forma,
em termos de concentração. Assim, em Cheno- o Fve (pico de absorção máxima em 730 nm),
podium album (ançarinha-branca), a aplicação que é a forma ativa e, para a maior parte das
de etileno estimula a germinação com maior sementes fotoblásticas, promove a germinação.
eficácia na presença de luz e de giberelina O esquema clássico que explica essa conversão
(Bewley e Black, 1994). mútua está apresentado a seguir (Bewley e
Black, 1994):
Luz
luz vermelha
Em 1954, Borthwick e colaboradores (apud, Fv Fve
Quebra da
dormência
Bewley e Black, 1994), estudando os efeitos de luz vermelho-extremo
diferentes comprimentos de onda na germina-
escuro
ção, estabeleceram o espectro de ação para a
germinação de sementes de alface (Lactuca sa-
tiva), cultivar Grand Rapids (Bewley e Black, Sob efeito do tratamento luminoso, tanto
1994). A maior germinação foi encontrada na a passagem de Fv para Fve como o inverso ocor-
faixa de 660 nm, e a inibição desta foi encontra- rem rapidamente. A conversão de Fve para Fv
da em 730 nm. Esses comprimentos de onda pode ocorrer também no escuro, porém essa
referem-se, respectivamente, à luz vermelha e reação é mais lenta. Além disso, sob luz branca,
à luz vermelho-longo ou vermelho-extremo. há maior conversão de Fv para Fve (pois a luz
Esta última situa-se entre o vermelho e o infra branca apresenta maior proporção de vermelho
vermelho. Por volta dessa mesma época, ob- que o vermelho-extremo), o que explica o su-
servou-se também que os efeitos desses com-
primentos de onda antagonizavam-se mutua-
Tabela 8.4 Fotorreversibilidade do fitocromo na
mente, ou seja, a resposta à exposição
quebra de dormência de sementes de Lactuca
seqüencial de sementes de alface a irradiações sativa (alface) Grand Rapids. As sementes foram
de luz vermelha e de vermelho-extremo depen- embebidas no escuro e expostas à luz vermelha (V)
por 1,5 min e à luz vermelho-extremo (VE) por 4
min, na seqüência mostrada. As sementes foram
colocadas no escuro por 24 h, sendo avaliada a
Tabela 8.3 Efeito de diferentes concentrações de germinação
GA3 na germinação de sementes de Rumex
obtusifolius no escuro Irradiação Germinação (%)

Tratamento Germinação (%) Escuro 4


V 98
Controle (água) 9 VE 3
GA3 1 mg mL-1 36 V, VE 2
GA3 2,5 mg mL-1 20 V, VE, V 97
GA3 5 mg mL-1 14 V, VE, V, VE 0
GA3 10 mg mL-1 4 V, VE, V, VE, V 95

Fonte: Felippe et al.,1970. Fonte: Bewley e Black, 1994.

Germinação_08ok.p65 143 17/05/2004, 17:43


144 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

cesso de vários autores em utilizar luz branca de rochas, também podem sofrer uma escarifi-
para a quebra da dormência de sementes, como cação mecânica ou lixiviação.
em sementes de pereira (Maeda et al., 1997) e Como apresentado anteriormente, trata-
de espécies florestais (Borges e Rena, 1993). mentos térmicos utilizados experimentalmente
As Regras para análise de sementes (Brasil, 1992) na quebra da dormência ocorrem de forma na-
e o Manual técnico de sementes florestais (Figliolia tural no ambiente onde a semente se encontra.
e Piña-Rodrigues, 1995) também sugerem o uso Temperaturas alternantes, altas temperaturas
da luz na condução de testes de germinação de ou mesmo o próprio fogo são comuns em am-
algumas espécies. bientes abertos, formações savânicas, e, para
A luz pode ser considerada um fator impor- uma dada semente, podem servir como um in-
tante na quebra de dormência em sementes. A dicativo do tipo de ambiente ou da época do
ação de diferentes comprimentos de onda sobre ano em que a mesma se encontra.
o fitocromo constitui um dos fatores mais rele- De maneira similar, a luz pode servir como
vantes para a germinação de sementes. Sendo um excelente indicativo da localização da se-
o fitocromo um cromóforo ligado a uma proteí- mente no ambiente. Sabe-se que a composição
na (Capítulo 6), os efeitos da luz na quebra de do espectro luminoso varia em função de diver-
dormência podem ser dependentes da tempera- sos fatores, como o horário do dia, o grau de
tura. Algumas sementes, como certos cultivares cobertura vegetal e a profundidade do solo. A
de alface, são indiferentes à luz a 20°C, mas luz solar, em ambiente aberto, apresenta maior
em temperaturas mais elevadas (em torno de quantidade de vermelho que vermelho-extre-
35°C) tornam-se fotoblásticas. Sementes de pi- mo na maior parte do dia. Entretanto, a passa-
cão-do-cerrado e de Porophyllum lanceolatum, gem da luz solar através da copa das árvores
ambas herbáceas de Cerrado, necessitam de luz inverte essa relação, visto que boa parte do ver-
para germinar; no entanto, quando armazena- melho é absorvido pelas clorofilas, resultando
das, vão perdendo gradativamente essa caracte- no fato de que a luz que atinge o sub-bosque
rística, vindo a germinar também na ausência apresenta maior proporção de vermelho-extre-
de luz (Felippe e Silva, 1984). A escarificação mo. Uma semente enterrada a poucos centíme-
de sementes, além de ser necessária para permi- tros de profundidade recebe mais vermelho-
tir a entrada de água ou as trocas gasosas, tam- extremo que vermelho, pois este comprimento
bém pode servir como uma quebra de barreira de onda tem maior poder de penetração entre
à entrada de luz. as partículas do solo. Todas essas variações po-
dem ser percebidas por meio do pigmento fito-
cromo, identificando a posição e o tipo de am-
CONSIDERAÇÕES FINAIS biente em que a semente se encontra, encon-
Grande parte dos mecanismos de quebra de trando assim respostas fisiológicas distintas
dormência descritos ocorre na natureza. A que- (germinação ou dormência) em função das
bra de tegumentos rígidos por diversos agen- condições ambientais predominantes.
tes acontece em condições naturais, talvez mais As sementes possuem características mor-
lentamente. Além da degradação por micror- fológicas e fisiológicas que devem ser considera-
ganismos, a passagem pelo trato digestivo de das quando se estudam os bancos de sementes
animais durante a dispersão, especialmente de do solo (Capítulo 14). São essas características
aves que possuem moela rígida para a trituração que aumentarão suas chances de permanência
de alimentos, pode ser caracterizada como uma no banco, facilitando ou não a germinação
forma de escarificação mecânica. Em diversos quando houver condições ambientais para isso.
animais, a escarificação química pode ocorrer Antes de serem consideradas empecilhos,
no trato digestivo. Sementes levadas por uma as barreiras à germinação presentes nas semen-
corredeira, onde a água percorre áreas cobertas tes devem ser encaradas como mecanismos de-

Germinação_08ok.p65 144 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 145

senvolvidos de proteção ao embrião e de impe- FRANKE, L.B.; BASEGGIO, J. Superação da dormência


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Germinação_08ok.p65 146 17/05/2004, 17:43


PA R T E 3

GERMINAÇÃO

Germinação_09ok.p65 147 17/05/2004, 17:43


C A P Í T U L O 9

EMBEBIÇÃO E REATIVAÇÃO
DO METABOLISMO
Renato Delmondez Castro
Henk W. M. Hilhorst

Muitas sementes concluem seu desenvolvi- ABSORÇÃO DE ÁGUA


mento com uma etapa chamada “secagem ou EM UMA CÉLULA
dessecação de maturação”. Conforme descrito Todas as substâncias têm uma energia interna,
no Capítulo 3, isto é característico das sementes dita energia livre, que permite que elas realizem
ortodoxas, as quais, quando dispersas da plan- alguma forma de trabalho. Essa energia livre
ta-mãe, apresentam baixo conteúdo de água, na água é elevada, sendo chamada de potencial
em torno de 5 a 10% de seu peso fresco. Em químico da água, o qual é freqüentemente ex-
sementes recalcitrantes, geralmente não se ve- presso em unidades de pressão (MPa), como
rifica uma etapa característica de dessecação potencial hídrico (Ψ). A água pura tem um po-
ao final do desenvolvimento e da dispersão da tencial químico elevado, podendo dissolver so-
semente, podendo o conteúdo de água ser man- lutos e hidratar substâncias. Quando solutos
tido relativamente elevado, em torno de 60 a (açúcares e/ou sais) são adicionados à água,
70% de seu peso fresco. Sob baixos conteúdos esta usa a energia para dissolvê-los, diminuindo
de água, a atividade metabólica é reduzidíssi- assim seu potencial químico. Quanto mais so-
ma, sendo evidente que a água deve ser reab- lutos a água dissolve, mais baixo torna-se o seu
sorvida antes que a atividade metabólica possa potencial. Pela definição, a água pura tem um
recomeçar. Em algumas sementes, a testa e/ou potencial hídrico igual a zero (Ψ=0). Assim,
os tegumentos impermeáveis impedem a absor- toda e qualquer solução deve ter um potencial
ção de água (ver Captítulo 7), estendendo o pe- hídrico negativo (sinal -). A diferença entre o
ríodo seco das mesmas até que a resistência seja potencial da água pura e o da água mais soluto
superada por exposição ao tempo ou por ação é chamada de potencial osmótico ou Ψπ. A água
biológica (ver Capítulo 8), tornando-as permeá- ganha energia quando sob pressão, de forma
veis à absorção de água e à hidratação. Outras que o Ψ se torna mais positivo (sinal +). A di-
sementes se hidratam muito rapidamente ferença entre o potencial da água pura e o da
quando em contato com água. Assim, a taxa água sob pressão é chamada de potencial de
inicial de embebição pode variar extensamente, pressão ou Ψp. Portanto, o potencial da água
dependendo das características da testa e/ou pode ser expresso em função das forças negati-
do pericarpo que cerca o embrião. Para com- vas e positivas a que é sujeita:
preender a força dirigida de absorção de água
Ψ = Ψπ + Ψp (valores absolutos)
por organismos vivos, é necessária alguma com-
preensão dos princípios básicos de relações hí- ou Ψ = (-Ψπ) + Ψp (valores reais)
dricas (Taiz e Zeiger, 1998).
Ψπ tem um valor negativo
Ψp tem um valor positivo

Germinação_09ok.p65 149 17/05/2004, 17:43


150 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Uma célula viva consiste de diversos com- vivo (dicotiledôneas) ou morto (monocotiledô-
partimentos separados por membranas semi- neas), pelo perisperma, pela testa ou tegumen-
permeáveis seletivas. Canais nas membranas, tos, ou mesmo pelo pericarpo, dependendo da
formados por proteínas, permitem a passagem espécie (Capítulo 4). Todas as células dos teci-
da água, mas impedem a de solutos. Por causa dos embrionários e dos demais tecidos apresen-
disso, existem gradientes de potencial hídrico tam potencial hídrico, que pode ser específico
entre o meio externo e o interno à membrana, a cada tecido, célula ou até mesmo a cada com-
que propiciam o movimento da água, sempre partimento celular, conforme visto anterior-
do potencial hídrico mais elevado para o mais mente. Conseqüentemente, a semente como
baixo ou mais negativo. O potencial hídrico de um todo pode comportar-se como uma célula
uma célula corresponde a Ψcélula=Ψπ + Ψp (va- gigante, apresentando relações hídricas
lores absolutos). O Ψp do líquido no vacúolo específicas. Ao monitorar o conteúdo de água
assume valor negativo em função dos solutos de sementes secas submetidas a embebição em
que contém. Se a célula é envolvida por água água, muito freqüentemente se observa um
em um Ψ mais elevado, esta então flui para padrão típico trifásico de absorção de água e
dentro ao longo do gradiente de potencial hidratação (Figura 9.1; Bewley e Black, 1994).
hídrico (do potencial elevado para o baixo). Os A fase inicial de embebição ou de absorção de
solutos não podem fluir para fora porque o água, ou fase I, é um processo dirigido pelo gra-
plasmalema e o tonoplasto são seletivamente diente de potencial hídrico (ψ) entre a semen-
permeáveis. À medida que a água entra na cé- te e seu ambiente. Como em células individu-
lula, o volume aumenta, mas é contido pela rí- ais, o potencial hídrico da semente consiste dos
gida parede celular, resultando em pressão hi- três componentes que contribuem para a força
drostática ou Ψp. Quando essa pressão de turgor dirigida de absorção de água:
é igual à diferença entre o Ψ externo e o Ψπ
(por exemplo, Ψp = Ψ – Ψπ), a absorção líqui- Ψsemente = Ψπ + Ψm + Ψp (valores absolutos)
da de água é zero (o fluxo de saída da água é
igual ao de entrada), fazendo com que haja um ou
equilíbrio dinâmico. Se o Ψ externo=0 MPa, a
célula torna-se então completamente túrgida. Ψsemente = (-Ψπ) + (-Ψm) + Ψp (valores reais)
Matrizes (paredes celulares, componentes inso-
lúveis na célula, tais como amido e algumas em que:
proteínas) absorvem a água. O potencial de Ψπ = potencial osmótico (depende do
absorção desta é então chamado de potencial número de moléculas dissolvidas;
matricial ou Ψm. A água perde energia enquan- valor negativo)
to é absorvida, fazendo com que o Ψm assuma Ψm = potencial matricial (depende do
um valor negativo. Isso não constitui fator em número de sítios de ligação de água;
células inteiramente hidratadas, mas em situ- valor negativo)
ações secas (por exemplo, sementes), faz com Ψp = potencial de pressão ou de turgor (valor
que as matrizes absorvam água. Nessa situação, positivo).
o Ψcélula é determinado primariamente pelo Ψm
(Ψcélula = Ψπ + Ψp + Ψm) (Taiz e Zeiger, 1998). Em geral, a fase I é rápida, dirigida sobre-
tudo pelo potencial matricial da semente seca
(Figura 9.1). É um processo puramente físico,
ABSORÇÃO DE ÁGUA EM que depende somente da ligação da água à ma-
SEMENTES triz da semente. Isso ocorre em qualquer mate-
Em geral, as sementes consistem de um em- rial, morto ou vivo, que contiém sítios de ligação
brião e de tecidos circunvizinhos, que podem ou de afinidade pela água. Quando todas as ma-
ser representados pelo xenófito ou endosperma trizes atingem hidratação plena (e o Ψm se tor-

Germinação_09ok.p65 150 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 151

Fase I Fase II Fase III


absorção intervalo de preparação germinação
de água ativação metabólica crescimento
Conteúdo de água, (%) peso fresco

80
$%
9
$%
60 $m
8
5 6 7 $% = $p
4
40 3
2

20 1
Tolerante
Tolerante Intolerante
Intolerante
à
a dessecação
dessecação aàdessecação
dessecação

Tempo de embebição

! Figura 9.1
Representação esquemática do padrão trifásico de absorção de água durante a embebição de sementes, em
relação aos conteúdos aproximados de água em que os diferentes eventos do processo germinativo são
iniciados. (1) Respiração e acúmulo de ATP. (2) Síntese de mRNA e reparo de DNA. (3) Ativação de polissomos.
(4) Síntese de proteínas a partir de mRNAs recentemente sintetizados. (5) Síntese e duplicação de DNA (2C a
4C). (6) Início da degradação de reservas (tecidos de revestimento começam a enfraquecer). (7) As células da
radícula alongam-se. (8) Protrusão da radícula. (9) Mitose. Nota-se que, na fase I da embebição, a semente
inicialmente seca acumula água e aumenta em volume e tamanho em função do potencial matricial (Ψm). A
duração da fase II é variável, dependendo principalmente da temperatura. Nesta fase, a semente encontra-se
túrgida, não havendo influência de Ψm. Portanto, a absorção de água é mínima, e o potencial hídrico total da
semente é zero (Ψsemente = 0) quando a embebição acontece em “água pura”. Conseqüentemente, o potencial
osmótico encontra-se em equilíbrio com o potencial de pressão ou turgor (Ψπ = Yp). Durante a fase III, a
semente absorve água em função de o potencial de pressão da semente ser menor que o potencial osmótico
do embrião (Ψp < Ψπ) quando considerados os “valores absolutos” (desconsiderando os sinais + ou -). Ou
seja, nessa fase, o valor absoluto de Ψπ do embrião é maior (ou valor real mais negativo) que o potencial de
pressão (ou valor real mais positivo), fazendo com que o potencial total da semente se torne menor que zero
(Ψsemente < 0). Quanto mais negativo, maior a capacidade de absorver água. Observa-se também que as
sementes podem ainda ser secas desde que não seja iniciada a fase III, momento em que se tornam intoleran-
tes à dessecação.

na zero), o Ψπ se torna então a força que faz a las no interior das sementes não podem absor-
água continuar se movendo para dentro da se- ver mais água porque não podem mais expan-
mente até que seja balanceada pelo turgor ou dir; Ψsemente = 0 (se estiver em água pura) e,
Ψp. Nessa situação, o conteúdo de água da se- conseqüentemente, o Ψπ = Ψp. Isso pode ter
mente, em geral, alcança um nível de platô, duas causas: ou as paredes celulares das células
mantido relativamente constante, ou aumenta embrionárias estão demasiadamente rígidas ou
pouco e muito lentamente por um período co- as estruturas que cercam o embrião impedem
nhecido como intervalo ou fase de preparação sua expansão. Entretanto, em muitos casos, o
e ativação do metabolismo, ou apenas fase II embrião absorverá água quando isolado da se-
da embebição (Figura 9.1). Nesta fase, as célu- mente, indicando que as estruturas (ou tecidos)

Germinação_09ok.p65 151 17/05/2004, 17:43


152 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

que o envolvem estão limitando a sua expan- concomitante com divisão celular e conseqüen-
são (Haigh e Barlow, 1987; Dahal e Bradford, te alongamento embrionário – protrusão da ra-
1990; Welbaum e Bradford, 1990). Isso indica dícula), conforme visto anteriormente. Uma vez
que o potencial hídrico embrionário, em um iniciado o crescimento, as sementes perdem ra-
determinado momento, pode ser negativo, ao pidamente sua tolerância à desidratação (Le-
passo que o Ψ total da semente intacta é zero prince et al., 2000). Assim, a iniciação da emer-
(Ψsemente = 0), mesmo quando a pressão externa gência (ou protrusão da radícula) geralmente
exercida pelos tecidos de revestimento é dimi- marca um “ponto sem retorno” para a semente,
nuiída ou perdida (Welbaum et al., 1998). que se encontra então comprometida com a ger-
Assim, para que seja reiniciada a absorção de minação e com o desenvolvimento da plântula.
água durante a fase III da embebição, o Ψπ do Esse é um dos estágios mais críticos no ciclo de
embrião deve se tornar um valor real mais ne- vida de uma planta, visto que as plântulas são
gativo, e/ou o Ψp, menos positivo. Em valores altamente vulneráveis aos estresses ambientais
absolutos (desconsiderando os sinais + ou -), (ver Capítulo 15).
isso implica que o Ψπ do embrião torna-se maior
que o Ψp. Existem evidências para ambos os ca-
sos. O Ψπ pode tornar-se mais negativo (maior TEMPERATURA DE
em valor absoluto) quando as macromoléculas, EMBEBIÇÃO E INTEGRIDADE
tais como as proteínas e os carboidratos, são DE MEMBRANAS
quebradas em componentes menores, aumen- A taxa inicial de embebiçãoe a temperatura po-
tando a concentração de solutos nas células; o dem alterar acentuadamente a germinação e a
Ψp pode tornar-se menos positivo (menor em qualidade da semente (vigor), sobretudo em
valor absoluto) quando as estruturas circunvi- sementes grandes. Tem-se observado por mui-
zinhas são enfraquecidas e/ou afrouxadas, a to tempo que algumas sementes, como feijão
exemplo do processo de degradação enzimática (Phaseolus vulgaris) e milho (Zea mays L.), são
das paredes celulares dos tecidos que envolvem danificadas pela embebição rápida em tempe-
o embrião, ilustrado na Figura 9.7. raturas baixas, evento este conhecido como
Durante a fase II, são ativados os processos “dano de embebição” (Pollock e Toole, 1966).
metabólicos requeridos para o crescimento do Se essas sementes estiverem demasiado secas
embrião e a conclusão do processo germinativo quando colocadas na água, podem sofrer danos
(momento em que há emergência ou protrusão irreparáveis no nível do sistema de membranas,
da radícula). A duração dessa fase depende o que leva à lixiviação de conteúdos celulares,
principalmente da temperatura (T), mas tam- afetando negativamente a germinação. Tempe-
bém do Ψsemente, sendo que a T e o Ψsemente baixos raturas baixas aumentam esses danos (Wolk
(pouco negativos) estendem-na. Da mesma et al., 1989). Esse efeito prejudicial pode ser
maneira, quando as sementes estão dormentes, reduzido retardando-se a taxa de absorção de
a duração da fase II pode ser consideravelmente água, permitindo que a hidratação inicial da
prolongada (ver Capítulo 6), assim como em semente ocorra com a fase de vapor d’água,
sementes submetidas a tratamentos de envi- quando na presença de umidade relativa eleva-
goramento por meio de tecnologias de embe- da, ou revestindo a semente para retardar a taxa
bição controlada ou priming (Figura 9.8). Du- inicial do influxo de água.
rante essa fase, as sementes também tendem a Pesquisas recentes sobre a estrutura de
se manter tolerantes à desidratação ou à des- membranas em relação ao conteúdo e à tempe-
secação (Bradford, 1995). ratura da água fornecem uma explanação do
A fase III da embebição é marcada por um fenômeno “dano de embebição”. As membra-
aumento no conteúdo de água da semente, que nas celulares são compostas de uma camada
acontece devido à absorção associada com a ini- dupla (ou bicamada) de fosfolipídeos. As extre-
ciação do crescimento do embrião (expansão midades hidrofílicas das moléculas são voltadas

Germinação_09ok.p65 152 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 153

para fora, enquanto as cadeias hidrofóbicas se dratação, interpolando-se entre os grupos pola-
associam à parede interna da membrana (Oli- res que encabeçam as moléculas de fosfolipí-
ver, Crowe e Crowe, 1998). Esta estrutura é de- deos, mantendo a estrutura cristalina líquida
pendente da presença da água para manter a (Buitink, Hoekstra e Leprince, 2002). Essenci-
orientação hidrofóbica/hidrofílica. Visto que a almente, esse é o mesmo efeito no caso de a
água é removida durante a desidratação, a temperatura ser mais elevada. Assim, quando
membrana então muda normalmente do esta- secas na presença dos açúcares, as membranas
do mais fluido, ou estado cristalino líquido, para fosfolipídicas assumem temperaturas muito
o estado menos fluido, mais seco, ou estado de mais baixas de transição do estado cristalino
gel. Nessa condição, há um efeito de empaco- líquido para o estado de gel. A quantidade ele-
tamento e aproximação das moléculas, restrin- vada de sacarose presente na maioria das se-
gindo seu movimento. Assim sendo, as mem- mentes maduras parece estar envolvida no pro-
branas de uma semente seca podem estar cesso de tolerância à dessecação (como discu-
primeiramente no estado de gel, o que não tido no Capítulo 3) e na prevenção dos danos
constitui uma boa barreira à lixiviação de con- de embebição, mantendo a estrutura cristalina
teúdos celulares. Se as sementes embeberem líquida da membrana mesmo quando em tem-
muito rapidamente em água, não haverá tem- peraturas mais baixas.
po suficiente para que as membranas possam
voltar ao estado cristalino líquido, situação em
que ocorrem danos celulares e lixiviação (Fi- REATIVAÇÃO DA RESPIRAÇÃO
gura 9.2A). A transição entre os estados de gel E METABOLISMO
e cristalino líquido também depende da tem- A atividade respiratória é rapidamente iniciada
peratura. Se as membranas secas forem uma vez que a semente começa a embeber, a
aquecidas, elas poderão entrar em estado de partir de um conteúdo de água ao redor de 20%,
“derretimento”, passando para o estado cris- seguindo um padrão similar àquele da absorção
talino líquido. Se a água for então introduzida, de água (Figura 9.3; Bewley e Black, 1994).
acontecerá pouca lixiviação ou dano à semen- Diversas rotas e ciclos, como o ciclo de Krebs,
te (Figura 9.2B). Hidratação com vapor d’água são ativados. Uma temperatura mais baixa ou
também permite a transição de estado da mem- o potencial hídrico reduzido atrasam ou redu-
brana antes que a água líquida seja introduzida zem a taxa absoluta de respiração, mas o pa-
(Figura 9.2C). Isso explica por que o dano de drão geral é consistente (Dahal, Kim e
embebição é maior em temperaturas mais bai- Bradford, 1996). É dessa forma que, na maioria
xas e como a pré-hidratação em temperaturas dos casos, mitocôndrias sobrevivem ao período
baixas aumenta o conteúdo de umidade das se- seco, mantendo-se intactas e capazes de fosfo-
mentes antes da embebição, reduzindo os da- rilação oxidativa logo após a embebição, ainda
nos. Em temperaturas mais quentes, as mem- que danos durante o armazenamento prolon-
branas da semente já se encontram no estado gado possam reduzir ou retardar o desenvolvi-
cristalino líquido e, assim, podem tolerar o in- mento da função mitocondrial (McDonald,
fluxo rápido de água. O mesmo vale para se- 1999). A quantidade de trifosfato de adenosina
mentes com conteúdos de água mais elevados (ATP) em sementes secas é extremamente bai-
em temperaturas mais baixas. Os dados exis- xa, mas aumenta depressa durante a
tentes são, portanto, bastante convincentes embebição, seguindo a atividade respiratória
sobre o fato de que a transição de estado de aeróbica (Figura 9.3), que é a principal fonte
membranas contribui para o “dano de embe- de ATP antes da emergência da radícula. Os
bição” (Crowe, Hoekstra e Crowe, 1989). níveis de ATP são mantidos constantes duran-
Carboidratos como a trealose (nos animais te o intervalo entre a absorção de água e o con-
e leveduras) ou a sacarose (nas plantas) podem sumo de oxigênio, apresentando valor global
substituir as moléculas de água durante a desi- dinâmico, como resultado de síntese e utiliza-

Germinação_09ok.p65 153 17/05/2004, 17:43


154 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

A
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40

A embebição de sementes
secas em temperaturas baixas
20 provoca a transição do estado
de gel para o cristalino líquido,
causando danos nas
0 membranas e lixiviação.

Gel (bicamada seca)


20
0 5 10 15 20 25
Temperatura de transição da membrana (oC)

B
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40
O aquecimento das sementes
secas, antes da embebição,
permite que a transição do
20 estado de gel para o cristalino
líquido aconteça antes que a
água seja introduzida, estando
as membranas prontamente
0 no estado cristalino líquido.

Gel (bicamada seca)


20
0 5 10 15 20 25

C
60
Cristalino líquido
(bicamada hidratada)
40
Alternativamente, as sementes podem ser
hidratadas em vapor d´água quando em
temperaturas baixas, elevando o conteúdo
20 de água da semente antes de expô-la à
presença de água líquida. Isso também
permitirá que as membranas estejam
prontamente no estado cristalino líquido
0 antes que a embebição aconteça.

Gel (bicamada seca)


20
0 5 10 15 20 25

Conteúdo de água da semente (%)


! Figura 9.2
Transições de estado da membrana (bicamada fosfolipídica) durante a embebição da semente. (A) A embebição
rápida em temperatura baixa causa a transição imediata do estado de gel (bicamada seca) ao estado cristalino
líquido (bicamada hidratada), resultando em danos irreparáveis e em lixiviação. (B) A embebição rápida em
temperaturas mais mornas não é prejudicial, pois as membranas se encontram prontamente no estado crista-
lino líquido. (C) Mesmo em uma temperatura mais baixa, as sementes podem se hidratar com a fase de vapor
d’água, causando a mudança de estado da membrana antes que a água líquida seja introduzida.

ção contínua do ATP. Quando as sementes são mitocôndrias. Quando colocado de volta na pre-
postas em uma atmosfera de nitrogênio (sem sença do ar, o valor de ATP é então restabeleci-
oxigênio), o ATP é rapidamente usado (em pou- do com rapidez (Pradet, 1982; Bewley e Black,
cos minutos), sem haver reposição de ATP de- 1994). O ATP é requerido para os processos que
vido à parada da oxidação terminal nas exigem energia e que são associados à iniciação

Germinação_09ok.p65 154 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 155

1,4 INICIAÇÃO DA SÍNTESE DE


DNA, RNA E PROTEÍNAS
1,2 8
A síntese de DNA, RNA e proteínas pode ocorrer
Absorção de oxigênio (&mol/min)
Absorção de água (g/g semente)

ATP (nmol/g semente ' 10-2)


1,0 em um conteúdo de água de aproximadamente
água
6 50%. As primeiras atividades em sementes em
0,8
nitrogênio
embebição são associadas ao reparo dos danos
0,6
acumulados durante a secagem e o período de
ATP
4 armazenamento das sementes, como o reparo
0,4 oxigênio do DNA. A formação de polissomos a partir de
ribossomos livres também acontece cedo du-
0,2 2
rante a embebição, de modo a criar o maqui-
nário para a tradução de RNAs mensageiros
0 4 8 12 16 20
(mRNAs) em proteínas (Bewley e Black, 1994).
Tempo a partir do início da embebição (h)
A síntese de proteínas é iniciada usando, em
! Figura 9.3 primeiro lugar, os mRNAs preexistentes acu-
Curso de tempo dos aumentos na absorção de água mulados durante o desenvolvimento e a ma-
(círculos abertos), no consumo de O2 (círculos fecha- turação das sementes, mas, posteriormente,
dos) e no conteúdo de ATP (quadrados abertos) em
trocando-os pelos novos mRNAs, recentemen-
sementes de alface. A seta indica o momento de trans-
ferência das sementes para uma atmosfera de nitrogê-
te sintetizados durante a embebição. Como
nio; e a linha pontilhada, o declínio imediato e rápido exemplo, nas primeiras horas de embebição, a
do conteúdo de ATP ao nível zero em pouquíssimos síntese de proteínas em embriões de rabanete
minutos, indicando que a absorção de O2 está relacio- é insensível à cordicepina (um composto quí-
nada à respiração. mico inibidor da síntese de RNA), indicando
que o mRNA já existente é que está sendo usa-
do (Figura 9.4). Entretanto, depois de algumas
do crescimento do embrião (Perl, 1986). Em horas, esse mRNA é degradado, e a síntese de
alguns casos, a penetração do oxigênio no em- proteínas torna-se dependente do mRNA novo,
brião é restringida pelos tegumentos da semen- recentemente sintetizado (Figura 9.4; Bewley
te, sendo a geração inicial de ATP feita por meio e Black, 1994). Muitas das enzimas requeridas
da glicólise e/ou da respiração anaeróbica, resul- para a mobilização de reservas são sintetizadas
tando no acúmulo de etanol (Pradet e Raymond, de novo, sendo alguns dos produtos iniciais da
1983). No último caso, há a produção de etanol, síntese de proteínas (Bewley, 1997).
um processo natural que pode durar de algu-
mas horas a vários dias. A maioria das sementes
é equipada com enzimas capazes de neutralizar INICIAÇÃO DO CICLO CELULAR
o potencial tóxico do etanol. A respiração mito- O alongamento da radícula embrionária dentro
condrial é iniciada nesses casos somente a partir da semente ocorre, em geral, por alongamento
da emergência da radícula, quando o embrião ou expansão das células, seguido pela diferen-
fica em contato direto com a atmosfera. Os ciação e pelo crescimento da plântula, como re-
substratos iniciais para a respiração são açúca- sultado tanto de expansão como de divisão ce-
res solúveis (sucrose e oligossacarídeos), mas lular. Entretanto, geralmente a preparação para
reservas, como amido e lipídeos, também são a divisão celular ocorre bem antes que a pro-
logo utilizadas (Akazawa e Miyata, 1982), como trusão da radícula, visto que requer a iniciação
descrito em detalhes no Capítulo 10. O ATP e a do ciclo celular (Bino et al., 1992; De Castro et
nicotinamida adenina de fosfato (NADPH), ge- al., 1995). A relação do estado em que se encon-
rados via respiração, são utilizados para iniciar tra o DNA com o ciclo celular é ilustrada na
a síntese de ácidos nucléicos e de proteínas. Figura 9.5. Imediatamente após a divisão celu-

Germinação_09ok.p65 155 17/05/2004, 17:43


156 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

100
Síntese de proteínas
80
Quantidade relativa a partir de embriões

60 S 4C G2
de sementes secas – controle (%)

40 + cordicepina

20
A
0 2C
Conteúdo de mRNA G1 M
140

água
100

60

B + cordicepina
20 ! Figura 9.5
0 2 4 6 8 Diagrama simplificado para ilustrar as configurações
do DNA nuclear durante o ciclo celular. Após a divisão
Tempo a partir do início da embebição (h)
celular ou mitose (M*), as duas “células-filhas” apre-
! Figura 9.4 sentam seus cromossomos na configuração 2C. As
Declínio na quantidade de proteínas sintetizadas in células crescem durante a primeira fase de cresci-
vivo, codificadas pelo mRNA atual, presente em em- mento (G1), preparando-se para a subseqüente fase
briões secos de sementes de rabanete. (A) nova sínte- de síntese (S) do DNA e para a duplicação dos cro-
se de RNA durante o período experimental foi impedi- mossomos na configuração 4C. Posteriormente, ocor-
da pela adição de cordicepina; (B) conteúdo de mRNA re uma segunda fase de crescimento (G2), seguida
em embriões de rabanete durante a germinação, na pela fase mitótica (M), que mais uma vez origina duas
presença ou na ausência de cordicepina. células-filhas, cada uma com o conteúdo de DNA e o
número de cromossomos reduzido de 4C para 2C.

lar (mitose), os cromossomos estão em sua con-


figuração 2C. A partir daí, as células crescem subseqüente da citocinese. Evidentemente, a
normalmente (fase de crescimento 1 ou fase fração de células com DNA 4C aumenta com o
G1, representação em inglês para Gap phase 1), decorrer da embebição e da germinação (pro-
preparando-se para a fase subseqüente de sín- trusão da radícula). Como exemplo, em radí-
tese do DNA. Esta etapa (fase S) resulta na du- cula de embriões de tomate, a fração de células
plicação dos cromossomos em uma configura- com DNA 4C aumenta já durante as primeiras
ção 4C. Depois disso, um segundo período pre- 12 horas de embebição (mas sem citocinese),
parativo de crescimento (fase G2) ocorre, sendo visto que a primeira semente com protrusão da
seguido pela fase mitótica ou mitose (M), que radícula é observada após 24 horas (Figura 9.6)
reduz novamente o conteúdo de DNA de 4C (De Castro et al., 1995). Tem sido observado
para 2C em cada uma das células produzidas. em muitas sementes que o período entre as fa-
As fases G1 e G2 podem ser bastante longas. ses S e G2 é de cerca de 9 a 12 horas. A iniciação
Isso significa que células com núcleos conten- do ciclo celular envolve não somente a síntese
do DNA 2C e 4C podem coexistir sem que haja de DNA, mas também a regeneração do citoes-
mitose imediata. Em geral, embriões dentro de queleto. O principal componente deste consiste
sementes maduras secas contêm células com de microtúbulos que são subestruturas celula-
DNA 2C e uma pequena fração das células com res formadas essencialmente por polipeptídeos
DNA 4C (Bewley e Black, 1994; Liu et al., 1997). α e β da proteína chamada tubulina. Microtú-
Assim, nas células com DNA 4C, a síntese do bulos têm um papel importante nos processos
DNA acontece sem que seja requerida a indução de expansão celular, assim como em guiar os

Germinação_09ok.p65 156 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 157

cromossomos na posição correta durante as 100


A
fases de crescimento G1 e G2 ou durante a sub-

Sementes germinadas (%)


80
seqüente mitose. Em sementes de tomate,
acontecem divisões celulares na radícula em- 60
brionária antes da sua protrusão (De Castro e
40
Hilhost, 2000). Contudo, em outras espécies, a
germinação parece independer da ocorrência 20
de mitose, visto que as sementes germinam na
presença de inibidores da mitose (Labouriau e 0
B
Spillmann, 1989). A embebição de sementes 15

Núcleos com DNA 4C (%)


de repolho em solução aquosa de hidroxiuréia,
um inibidor específico da síntese de DNA, acon-
10
tece sem efeito inibidor sobre o acúmulo de tu-
bulina e a expansão celular (Górnik et al., 5
1997), mostrando que a mitose não é aparente-
mente essencial à protrusão radicular. 0

24 48 72
INICIAÇÃO DO Tempo a partir do início da embebição (h)
CRESCIMENTO DO EMBRIÃO
! Figura 9.6
E ENFRAQUECIMENTO DOS (A) Germinação e (B) aumento na fração de células
TECIDOS DE REVESTIMENTO com núcleos contendo DNA 4C em radículas de se-
Durante a fase II de absorção de água, uma se- mentes de tomate. A seta indica a protrusão da radí-
mente viável ativa sistemas de produção de cula da primeira semente da população.
energia, repara os danos acumulados durante
o armazenamento ou dispersão e prepara-se pa-
ra iniciar o crescimento do embrião. Conforme crescimento, ou turgor, por parte do embrião,
visto anteriormente, o crescimento inicial po- para superar a resistência exercida pelos teci-
de envolver expansão celular e divisão celular, dos de revestimento (quando Ψp < Ψπ, conside-
dependendo da espécie. Em alguns casos, a pro- rando-se valores absolutos, ou seja, desconsi-
trusão inicial do embrião através dos tecidos derando-se os sinais + ou -), permitindo as-
de revestimento envolve apenas a expansão das sim o alongamento (ou expansão celular). Em
células existentes, enquanto, em outros, pode inúmeras sementes contendo endosperma, en-
ocorrer um número substancial de divisões ce- zimas hidrolíticas ou hidrolases que degradam
lulares e morfogênese antes da protrusão e da a parede celular tornam-se ativas no próprio
emergência, como acontece em sementes de to- tecido de endosperma, principalmente na re-
mate e de cenoura (De Castro e Hilhorst, 2000; gião designada cápsula de endosperma, a qual
Homrichhausen, Hewit e Nonogaki, 2003). Em cerca a extremidade da radícula embrionária
muitas sementes, os tecidos circunvizinhos que (Figura 9.7; Bradford et al., 2000). Os produtos
cobrem o embrião (xenófito ou endosperma, da degradação enzimática da parede celular
perisperma, testa ou tegumentos, pericarpo) são, em geral, carboidratos (conforme será visto
podem restringir mecanicamente a emergên- no Capítulo 10) que, por sua vez, são transpor-
cia da radícula. Para que ocorra a expansão tados à extremidade da radícula, contribuindo
desta e a germinação, é necessário haver: (a) o muito provavelmente para o aumento no valor
enfraquecimento e/ou afrouxamento dos teci- absoluto do potencial osmótico das células
dos circunvizinhos de revestimento, que podem radiculares (Ψπ mais negativo). Assim, a de-
controlar o sincronismo de emergência da gradação das rígidas paredes celulares traba-
radícula, e/ou (b) o aumento do potencial de lha em ambos os sentidos: enfraquecendo o te-

Germinação_09ok.p65 157 17/05/2004, 17:43


158 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Cápsula de endosperma
Embrião Enfraquecimento das
paredes celulares:
Testa mananase
poligalacturonase
celulase
Endosperma arabinosidase
expansina

GAs hidrolases

GAs Enfraquecimento

Embrião
Potencial de crescimento Ruptura

Testa
(radícula)

Cápsula
de
Endosperma
(região da micrópila)

! Figura 9.7
Representação esquemática da germinação de uma semente de dicotiledônea contendo endosperma como
tecido de reserva e retenção, ilustrando as possíveis forças que conduzem à protrusão da radícula. A radícula
embrionária produz um promotor, giberelinas (GAs), que é lançado no endosperma. Esse promotor induz
enzimas hidrolíticas (hidrolases) que atuam na degradação de paredes celulares, enfraquecendo o tecido na
cápsula de endosperma. Observa-se então a geração de um potencial de crescimento embrionário e a ruptura
do endosperma. Algumas das hidrolases estão listadas.

cido do endosperma e aumentando o potencial seja bem-sucedida. Fica claro que a exigência
de crescimento do embrião, permitindo a pro- de um conjunto específico de condições para a
trusão da radícula (Figuras 9.1 e 9.7). germinação está relacionada às características
particulares de cada espécie. Conforme aborda-
do nos Capítulos 5 e 8, há espécies que crescem
O CONTROLE DA sob um dossel ou cobertura vegetal espessa e
GERMINAÇÃO geralmente não requerem muita luz para ger-
As sementes germinam quando as condições minar. Ao contrário, espécies que requerem luz
para o crescimento são favoráveis e elas não para o crescimento desenvolvem-se freqüente-
apresentam algum tipo de dormência (ver Parte mente em clareiras, locais abertos sem cobertu-
2). Obviamente, a primeira exigência para a ger- ra vegetal sobreposta, exigindo quantidades re-
minação é a água. Além disso, a germinação lativamente maiores de luz para que ocorra a
ocorre em uma temperatura ótima. Existem germinação. Dessa maneira, as sementes po-
temperaturas mais apropriadas para a germina- dem detectar a presença de concorrentes poten-
ção, assim como temperaturas limitantes, de- ciais. De modo semelhante, elas são capazes de
pendendo da espécie (Labouriau, 1983; Baskin perceber plantas vizinhas, visto que estas po-
e Baskin, 1998). As sementes podem também dem ter usado determinados nutrientes no solo,
requerer luz e nutrientes para que a germinação que são requeridos para a germinação. Com

Germinação_09ok.p65 158 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 159

esses mecanismos, as espécies reduzem a possi- et al., 2002; Peng e Harberd, 2002). Mesmo
bilidade de competição e aumentam a de sobre- quando embebidas e hidratadas, algumas en-
vivência (Baskin e Baskin, 1998). zimas hidrolíticas essenciais são inibidas em se-
Os sinais do ambiente são traduzidos em mentes dormentes (ou em sementes que te-
sinais internos na semente, que assim inicia o nham sido expostas a condições naturais ou ar-
processo de germinação. Os sinais externos tificiais de indução de dormência), por exem-
(ambientais) percebidos pela semente desenca- plo, quando expostas à luz vermelho-distante
deiam sinais internos em nível molecular, que (Quadro 9.1), conforme discutido em detalhes
podem induzir a ativação ou a inativação de no Capítulo 6.
compostos e/ou reações metabólicas diversas.
O ácido geberélico (ou giberelinas, GAs) consti-
tui uma classe de hormônios vegetais (fitormô- PREPARAÇÃO PARA O
nios) envolvidos na iniciação do crescimento. CRESCIMENTO DA PLÂNTULA
Sementes percebem sinais ambientais especí- Embora a germinação stricto sensu termine com
ficos que induzem a síntese e/ou a ativação de a protrusão da radícula, o processo germina-
GAs, que, por sua vez, induzem a síntese e/ou tivo também pode envolver a preparação para
a ativação das enzimas hidrolíticas ou hidrola- o crescimento da plântula. Sob circunstâncias
ses, responsáveis pela degradação das paredes naturais, as sementes podem germinar abaixo
de células do endosperma, entre outros efeitos da superfície do solo. A plântula em crescimen-
no metabolismo. GAs podem também estar en- to tem que cumprir uma determinada distân-
volvidas no aumento do potencial de cresci- cia até a superfície; em seguida, a luz induz a
mento embrionário e na degradação de reserva síntese de clorofila e o começo da fotossíntese.
da semente. No tomate, a expressão de enzimas A partir daí, a plântula em crescimento torna-
hidrolíticas acontece principalmente na região se um organismo autotrófico. Entretanto, até
da cápsula de endosperma que reveste a ponta esse momento, o crescimento da plântula é
da radícula, levando à degradação de reservas abastecido pelos carboidratos derivados das re-
e ao conseqüente enfraquecimento e/ou afrou- servas da semente. Tanto o amido como os li-
xamento dessa região do endosperma, de modo pídeos são convertidos em sacarose, que é re-
a permitir a protrusão da radícula (Figura 9.7, querida como a fonte de energia para o cresci-
Quadro 9.1; Bewley, 1997; Bradford et al., mento. Nesse estádio, a plântula em crescimen-
2000). Em geral, a inibição da síntese de GAs to é essencialmente um organismo heterotró-
em sementes por determinados compostos quí- fico que confia na disponibilidade de energia
micos inibe a germinação. O fitormônio ácido dos tecidos de reserva da semente. Embora ge-
abscísico (ABA) tem efeito inibidor sobre a ger- ralmente considerado um evento pós-germina-
minação. O ABA não impede o enfraquecimen- tivo, o início da mobilização desses alimentos
to do endosperma em sementes intactas, mes- de reserva ocorre bem antes da protrusão da
mo inibindo a expressão de algumas enzimas radícula.
hidrolíticas (Quadro 9.1; Chen e Bradford,
2000; Toorop, Van Aelst e Hilhorst, 2000; Wu
et al., 2001). Parece que, enquanto as GAs esti- PRIMING DE SEMENTES
mulam a germinação, induzindo o enfraqueci- O termo priming, do inglês, significa em portu-
mento do endosperma, o ABA inibe a germina- guês dar início a, começar, preparar, etc. É de co-
ção por meio de outro processo qualquer, ainda nhecimento geral que muitos eventos do pro-
não completamente elucidado (Nambara e cesso de germinação são iniciados mesmo em
Marion-Poll, 2003) (ver Capítulo 6). Resultados conteúdos limitados de água na semente. Esse
recentes indicam que as GAs reduzem a expres- conhecimento acabou sendo posto em prática
são e a ação de certos genes e proteínas que por muitas companhias de sementes com a fi-
bloqueiam o crescimento e a germinação (Fu nalidade de aumentar sua qualidade (Halmer,

Germinação_09ok.p65 159 17/05/2004, 17:43


160 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Quadro 9.1 Alguns dos genes que foram clonados de sementes de tomate durante a embebição, antes
da protrusão da radícula, estão listados à esquerda, junto ao correspondente DNA-complementar (cDNA).
Se conhecida, é indicada a localização do tecido de expressão do gene (CAP, cápsula de endosperma;
LAT, endosperma lateral; RE, radícula do embrião; RSE, restante da semente). Se conhecidos, são indica-
dos também os efeitos qualitativos de GAs, ABA, potencial hídrico baixo (Baixo Ψ, pouco negativo), luz
vermelho-distante (FR) e dormência primária. Símbolos indicam: (+) promove a expressão; (o) nenhum
efeito sobre a expressão; (–) inibe a expressão; (espaço em branco) informação indisponível

Gene cDNA Localização Regulagem da expressão do gene


de tecido GAs ABA Baixo Ψ FR Dormência

Endo-β-mananase LeMAN2 CAP, LAT + o – o –


LeMAN1
Celulase Cel55 CAP, RE, RSE + o – – –
Poligalacturonase LeXPG1 CAP, RE o –
Arabinosidase LeARA1 CAP, LAT + o – –
Expansina LeEXP4 CAP + o – –

2000). A técnica do priming baseia-se em colo- Em geral, a fase I de absorção de água aconte-
car as sementes para embeber em uma solução cerá normalmente, uma vez que é dirigida pelo
osmótica (de polietilenoglicol ou solução sali- potencial matricial muito elevado da semente
na), na qual a hidratação acontece, mas de for- (valor real muito negativo). Entretanto, na fase
ma restrita, limitada, permitindo que alguns II, quando o Ψπ da solução osmótica é aproxi-
eventos metabólicos do processo germinativo mado ao do Ψembrião, a fase II torna-se relativa-
aconteçam sem que a germinação seja comple- mente mais extensa, de modo que a iniciação
tada (Figura 9.8; Bray, 1995; McDonald, 2000). da fase III será atrasada. Em outra situação,
quando o Ψπ da solução é mais negativo que
for o Ψembrião, a fase III então não ocorrerá, sen-
do o processo germinativo mantido continua-
mente na fase II. A extensão desta permite que
Conteúdo de água, (%) peso fresco

0 MPa
80 as sementes ativem inúmeros eventos do pro-
-0,5 MPa
cesso germinativo, sem que ocorra a protrusão
60 da radícula ou germinação propriamente dita,
-1 MPa incluindo eventos como o reparo e a síntese de
40 DNA (S a G2). O processo de germinação não
pode ser completado, na medida em que é re-
20 querida absorção de água adicional para iniciar
a fase III. Isso permite que as sementes mais
lentas “alcancem” as mais rápidas. Nesse mo-
Tempo de embebição mento, as sementes ainda são tolerantes à des-
! Figura 9.8 secação, podendo então ser apropriadamente
Absorção de água por sementes embebidas em água secas e armazenadas sem danificar o embrião
(0 MPa), em uma solução osmótica com potencial e sem que tenham entrado na fase III. Esse mé-
osmótico próximo do potencial hídrico do embrião todo de (pré-)tratamento ou de (pré-)condicio-
(-0,5 MPa) e em outra com potencial osmótico muito
namento osmótico é chamado de priming
mais negativo que o potencial hídrico do embrião (-
1,0 MPa), situação na qual se verifica a completa inibi- (McDonald, 2000). É fato que as sementes
ção da protrusão radicular. A linha pontilhada indica “(pré-)iniciadas” com este método germinam
a protrusão da radícula (no conteúdo de água de apro- mais rapidamente, de modo mais simultâneo
ximadamente 60%). MPa = Mega Pascal, em que 1 e uniforme, do que as sementes sem priming;
MPa equivale a 10 bars.

Germinação_09ok.p65 160 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 161

por isso, podem também ser chamadas (incon- DAHAL, P.; BRADFORD, K. J. Effects of priming and
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PA R T E 4

ABORDAGEM
EXPERIMENTAL

Germinação_11ok.p65 187 17/05/2004, 17:43


C A P Í T U L O 11

DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
Marli A. Ranal
Denise Garcia de Santana

Escrever sobre planejamentos ou delineamen- micas próximas, sendo, portanto, oriundas de


tos experimentais não é muito fácil, uma vez uma mesma espécie, variedade ou cultivar, sub-
que muita literatura boa tem sido acumulada metidas às mesmas práticas culturais e às mes-
nos últimos anos. Para a área agronômica, o mas condições edafo-climáticas. As sementes
delineamento experimental faz parte do dia-a- dessa população são submetidas à primeira tria-
dia, em função da necessidade econômica de gem para a retirada das danificadas e de outras
se determinar os tratamentos que propiciam a impurezas e para a separação por tamanho.
melhor e a maior produtividade. Isso, associado Após esse processamento, porções uniformes
à importância das predições, faz do delinea- quanto a tamanho e danos são retiradas para
mento a ferramenta primordial da agronomia. outras avaliações. Cada porção uniforme de se-
Para as ciências biológicas, o planejamento ex- mentes quanto a essas características, e dentro
perimental assume um perfil diferente. Primei- de tolerâncias permitidas pelas Regras para
ro, porque a maioria dos cursos de ciências bio- Análise de Sementes – RAS (Brasil, 1992), é
lógicas não tem uma disciplina específica para denominada lote. Um lote de sementes assim
tratar do assunto como ocorre na agronomia; constituído segue para um laboratório de análi-
segundo, porque o material biológico não é uni- se de sementes para receber o laudo técnico.
forme e nem sempre está disponível em gran- No laboratório, uma amostra de sementes, de-
des quantidades. nominada amostra média, é retirada desse lote,
No sentido de tentar auxiliar o jovem pes- de acordo com os procedimentos descritos nas
quisador a tomar decisões, neste capítulo serão RAS (Brasil, 1992), podendo essa retirada ser
tratados alguns aspectos referentes ao delinea- feita por amostragem simples ou composta. Da
mento experimental. Maiores detalhes referen- amostra média, é retirada uma amostra, confor-
tes ao assunto poderão ser obtidos em alguns me padrões preestabelecidos, denominada
bons livros, como os de Cochran e Cox (1957), amostra de trabalho. As sementes restantes da
Scheffé (1959), Steel e Torrie (1980), Snedecor amostra média, depois de separada a de traba-
e Cochran (1989), Banzatto e Kronka (1989), lho, são denominadas amostra de arquivo e de-
Pimentel-Gomes (1990) e Sokal e Rohlf (1997). vem ser armazenadas de acordo com os procedi-
Apesar de o delineamento experimental ser mentos prescritos para a espécie (Brasil, 1992).
uma técnica estatística que segue parâmetros Cabe agora ao laboratório que emitirá o laudo
e modelos predeterminados comuns a várias do lote de sementes recebido retirar da amostra
áreas do conhecimento, as designações confe- de trabalho subamostras para os testes de pure-
ridas à amostra podem variar entre tecnologis- za, de umidade e de germinação, sendo que
tas de sementes, fisiólogos e ecólogos. Entre os cada um deles também tem procedimentos es-
tecnologistas, a população é um conjunto de pecíficos para cada cultura quanto a tamanho
sementes que possuem características agronô- da amostra (número de repetições e de semen-

Germinação_11ok.p65 189 17/05/2004, 17:43


190 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

tes por repetição), manuseio das sementes, tão arranjados dentro de um delineamento ex-
equipamentos, recipientes, substâncias e trata- perimental. Assim, define-se delineamento ex-
mentos utilizados, critério de contagens, cálcu- perimental como o desenho do experimento no
los e limites de tolerância (Brasil, 1992). Da campo, na casa de vegetação ou outro local
amostra de trabalho, além dos testes padroniza- (Banzatto e Kronka, 1989). A forma como os
dos descritos nas RAS (Brasil, 1992), o pesqui- tratamentos são dispostos na área experimental
sador também pode retirar subamostras para define o tipo de delineamento.
outros procedimentos experimentais não-pa- Em experimentação, três princípios básicos
dronizados. devem ser atendidos – a repetição, a casualiza-
Em estudos de ecofisiologia da germinação, ção e o controle local. A repetição consiste na
a população de plantas das quais serão coleta- reprodução do experimento básico e tem por
das as sementes normalmente é formada por finalidade propiciar a obtenção de uma
um conjunto de indivíduos submetidos a condi- estimativa do erro experimental ou resíduo. A
ções bióticas e abióticas muito similares. De al- casualização tem por objetivo propiciar a todos
guns desses indivíduos, selecionados ou não de os tratamentos a mesma probabilidade de se-
acordo com algum critério, são tomadas porções rem alocados em qualquer ponto da área
de sementes que, misturadas, formam uma experimental. O controle local, específico para
única amostra. Esta pode então ser dividida em alguns delineamentos, como em blocos casua-
subamostras para experimentos específicos ou lizados, tem a finalidade de dividir um ambien-
pode ser estudada dessa única forma se o nú- te heterogêneo em subambientes homogêneos,
mero de sementes não for muito grande. O es- tornando o delineamento mais eficiente pela
tudo pode ainda ser feito utilizando-se amos- redução do erro experimental.
tras retiradas de cada indivíduo e mantidas
separadas para a avaliação da variabilidade
intra-específica quanto à germinação. A po- DELINEAMENTO
pulação de sementes é então constituída por INTEIRAMENTE
todas as sementes dos indivíduos da espécie que CASUALIZADO (DIC)
crescem em determinado ambiente, conceito es- O delineamento inteiramente casualizado é o
te similar ao adotado na tecnologia de sementes. mais simples: utiliza apenas os princípios da
Tanto para tecnologistas quanto para eco- casualização e da repetição. Portanto, deve ser
fisiologistas, se o interesse está centrado em empregado quando as condições experimentais
uma população específica de sementes, o pri- são consideradas homogêneas. Detectar homo-
meiro passo é o estudo da distribuição (normal, geneidade ou heterogeneidade na área experi-
binomial ou outra) da variável a ser analisada mental nem sempre é muito fácil, mesmo para
(germinação). Esse estudo, realizado a partir um pesquisador mais experiente. Às vezes, a
de amostras tomadas de uma única população, heterogeneidade existente no local de trabalho
permite fazer inferências sobre essa população, não é controlável, como, por exemplo, variações
utilizando-se intervalos de confiança e testes quanto à irradiância e à temperatura em uma
de hipóteses (para médias e proporções). Medi- mesma prateleira de uma câmara de germina-
das descritivas como média, mediana, moda, ção. Nesse caso, é importante que o pesquisador
desvio-padrão, variâncias, entre outras, sinteti- esteja ciente de que o erro experimental crecerá
zam a informação em uma única medida e são com o aumento da heterogeneidade, levando à
úteis nas inferências sobre a população. No en- perda na precisão. Assim, dois tratamentos po-
tanto, se o interesse é dividir a amostra, subme- dem ser considerados iguais quanto à caracte-
tendo-a a vários métodos cujo efeito se deseja rística estudada em decorrência das condições
medir ou comparar, têm-se definidos os trata- não-controláveis do ambiente (erro experimen-
mentos que, quando dispostos em condições tal), e não dos tratamentos. Deve-se pensar em
experimentais predeterminadas, diz-se que es- homogeneidade também com relação à mão-

Germinação_11ok.p65 190 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 191

de-obra envolvida na coleta dos dados. Depen- R3, R4 e R5), montados em duas prateleiras
dendo do experimento e do tipo de dado a ser homogêneas entre si, os seguintes passos de-
coletado, esse delineamento exige que apenas vem ser seguidos:
um manipulador esteja envolvido.
O modelo matemático desse delineamento 1o Passo: Numerar o croqui de 1 a 45, números
(yij = µ + αi + eij, onde yij é o valor da parcela estes correspondentes ao número de parcelas
que recebeu o tratamento i na repetição j; µ é a do experimento;
média geral do experimento; αi é o efeito do i-
ésimo tratamento; eij é o erro da parcela que Prateleira 1
recebeu o tratamento i na repetição j) mostra 1 2 3 4 5 6 7 8
que cada observação recebe o efeito da média 9 10 11 12 13 14 15
geral do experimento, do tratamento e do erro
16 17 18 19 20 21 22
experimental. Por isso, cabe ao pesquisador de-
cidir sobre a redução ou não do erro experimen-
Prateleira 2
tal ou resíduo. Quanto maior ele for, mais difícil
será detectar diferenças entre tratamentos, por- 23 24 25 26 27 28 29 30
que esse erro sobrepuja o efeito do tratamento, 31 32 33 34 35 36 37 38
que normalmente se deseja medir. 39 40 41 42 43 44 45
Para esse tipo de delineamento, realizado
na área agronômica, recomenda-se que o nú-
mero de parcelas do experimento (número de 2o Passo: Sortear 45 números aleatórios, de pre-
tratamentos multiplicado pelo número de repe- ferência com três dígitos, para evitar empates;
tições) não seja inferior a 20 e que o número 525 204 975 928 039 164 915 021 114
de graus de liberdade do erro experimental não
seja inferior a 10. Essa informação é melhor 072 561 186 053 728 327 817 138 777
visualizada quando se monta a primeira coluna
715 218 098 180 183 993 147 472 173
do quadro da análise da variância, de tal forma
que 037 613 819 983 639 584 189 152 791

194 190 801 987 996 415 123 490 178


Fontes de variação gl
Tratamento t–1
Erro experimental (resíduo) t (r – 1) 3o Passo: Numerá-los em ordem crescente (ou
Total t (r – 1) decrescente);
gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número 525 → 27 204 → 21 975 → 41 928 → 40
de repetições. 039 → 3 164 → 12 915 → 39 021 → 1
114 → 7 072 → 5 561 → 28 186 → 17
Como o conhecimento que se tem para es- 053 → 4 728 → 33 327 → 23 817 → 37
138 → 9 777 → 34 715 → 32 218 → 22
pécies nativas é pequeno, esses números míni- 098 → 6 180 → 15 183 → 16 993 → 44
mos exigidos na área agronômica passaram a 147 → 10 472 → 25 173 → 13 037 → 2
ser adotados também na área biológica. 613 → 30 819 → 38 983 → 42 639 → 31
584 → 29 189 → 18 152 è 11 791 → 35
A casualização do delineamento pode ser 194 → 20 190 → 19 801 → 36 987 → 43
feita de várias formas, entre elas o sorteio, uti- 996 → 45 415 → 24 123 → 8 490 → 26
lizando-se uma urna com os números das par- 178 → 14
celas, tabelas de números aleatórios ou outro
método, desde que o sorteio seja garantido. Para 4o Passo: Distribuir os tratamentos com as re-
a utilização de números aleatórios em um expe- petições, seguindo qualquer seqüência. Para fa-
rimento com nove tratamentos (T1, T2, T3, T4, cilitar, recomenda-se que sejam distribuídos em
T5, T6, T7, T8 e T9) e cinco repetições (R1, R2, ordem, ou seja, T1R1 até T1R5; T2R1 até T2R5

Germinação_11ok.p65 191 17/05/2004, 17:43


192 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

e assim por diante. Veja que, nesse momento, zado, ou seja, a posição de cada unidade experi-
a seqüência dos números aleatórios é mantida mental ou parcela deve ser fixa, do início até o
(a 1a coluna do 3o passo e a 1a coluna do 4o passo final do experimento. A justificativa para isso
têm a 27a posição dos números sorteados, segui- é que, ao se deslocar uma placa de Petri posi-
da da 5a posição, da 32a e assim por diante). cionada no meio de uma lâmpada fluorescente
27 → T1R1 21 → T2R1 41 → T3R1 40 → T4R1 para a sua extremidade, as sementes que antes
3 → T5R1 12 → T6R1 39 → T7R1 1 → T8R1 estavam recebendo irradiância, por exemplo,
7 → T9R1 5 → T1R2 28 → T2R2 17 → T3R2 de 55 µmol m-2 s-1 passarão a receber 35 µmol
4 → T4R2 33 → T5R2 23 → T6R2 37 → T7R2
9 → T8R2 34 → T9R2 32 → T1R3 22 → T2R3
m-2 s-1. Como não se sabe qual a resposta das
6 → T3R3 15 → T4R3 16 → T5R3 44 → T6R3 sementes a essas irradiâncias e qual o tempo
10 → T7R3 25 → T8R3 13 → T9R3 2 → T1R4 que elas gastam para alterar seu metabolismo
30 → T2R4 38 → T3R4 42 → T4R4 31 → T5R4
29 → T6R4 18 → T7R4 11 → T8R4 35 → T9R4]
com essa mudança na quantidade de luz rece-
20 → T1R5 19 → T2R5 36 → T3R5 43 → T4R5 bida, é recomendável que a posição da placa
45 → T5R5 24 → T6R5 8 → T7R5 26 → T8R5 não seja alterada. Provavelmente a velocidade,
14 → T9R5
a sincronia e a homogeneidade de germinação
sofram, de maneira não-controlada, forte efeito
5o Passo: Alocar cada tratamento e repetição, dessas mudanças contínuas de irradiância ao
associando a distribuição do 4o passo com a nu- longo do experimento, e isso, apesar de ser uma
meração do croqui do 1o passo. Assim, T1R1 aparente homogeneização, aumenta ainda
será alocado na parcela 27 do croqui; T2R1 na mais o erro experimental. Mesmo que uma re-
parcela 21 e assim por diante, até o final da petição fique sob a luz mais forte e a outra, na
distribuição de todas as parcelas. extremidade mais fraca da lâmpada ao longo
do período experimental, essa variação no pro-
Prateleira 1 cesso de germinação, que será registrada em
T8R1 T1R4 T5R1 T4R2 T1R2 T3R3 T9R1 T7R5 cada placa, informará sobre o grau de homo-
1 2 3 4 5 6 7 8 geneidade do local do experimento e, portanto,
T8R2 T7R3 T8R4 T6R1 T9R3 T9R5 T4R3 sobre a precisão dos dados obtidos. Quanto mais
9 10 11 12 13 14 15 homogêneas forem as condições experimentais,
T5R3 T3R2 T7R4 T2R5 T1R5 T2R1 T2R3 mais fielmente se medirá a heterogeneidade do
16 17 18 19 20 21 22 material biológico em estudo. Se as condições
experimentais forem muito heterogêneas, o va-
Prateleira 2 lor do quadrado médio do resíduo que mostra
a grandeza do erro experimental aumentará,
T6R2 T6R5 T8R3 T8R5 T1R1 T2R2 T6R4 T2R4 diminuindo o valor do F da análise da variância
23 24 25 26 27 28 29 30
e reduzindo a chance de ser detectada diferença
T5R4 T1R3 T5R2 T9R2 T9R4 T3R5 T7R2 T3R4
significativa entre os tratamentos (F=quadrado
31 32 33 34 35 36 37 38
médio do tratamento/quadrado médio do resí-
T7R1 T4R1 T3R1 T4R4 T4R5 T6R3 T5R5
39 40 41 42 43 44 45
duo).
Essas colocações fornecem subsídio para a
tomada de certas decisões. Por exemplo, em
uma câmara de germinação com lâmpadas fluo-
Uma prática antiga, ainda utilizada em al- rescentes de 1,50 m, verticais na porta e no fun-
guns laboratórios, recomenda que periodica- do, tem-se uma variação de irradiância ao longo
mente o local das parcelas seja mudado (“escra- das prateleiras, com irradiâncias baixas nas pra-
vo de Jó” ou a dança das placas). Essa é uma teleiras localizadas nas extremidades das lâm-
prática não-recomendada e contrária ao que de- padas e altas nas prateleiras de posição me-
termina o delineamento inteiramente casuali- diana. Também, em uma mesma prateleira, as

Germinação_11ok.p65 192 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 193

mais altas irradiâncias ocorrem na frente e no perimental, garantindo a eficiência do delinea-


fundo, ficando o meio com irradiâncias mais mento. Assim, esse tipo de delineamento tem
baixas. O que fazer nessa situação? A primeira a vantagem de levar em conta a heterogeneida-
coisa é tomar medidas dos fatores físicos pre- de do local do experimento, separando-a e evi-
sentes no local (luz, temperatura, umidade e tando que as diferenças ambientais dificultem
outros). Segundo, distribuir as parcelas do ex- a detecção de diferenças entre os tratamentos,
perimento em pontos similares quanto aos fato- ou seja, conduz a uma estimativa mais exata
res físicos mencionados. No exemplo dado da do erro experimental. Em cada bloco deve exis-
câmara de germinação, escolhe-se duas ou três tir uma parcela de cada tratamento, de tal for-
prateleiras próximas, efetuando-se o sorteio. ma que todos os tratamentos estejam represen-
Melhor ainda se as placas puderem ser dispos- tados no bloco que retrata uma condição
tas apenas nas fileiras do fundo e da frente, homogênea, dentro da heterogeneidade da área
evitando-se o meio com menor irradiância. O experimental. Contudo, se um mesmo trata-
mesmo procedimento deve ser efetuado quan- mento for designado mais de uma vez em um
do se trabalha com câmaras tendo luz apenas bloco, isso deverá acontecer para os demais tra-
na porta, com mais de uma câmara, com banca- tamentos, e o delineamento passa a se denomi-
das diferentes em uma casa de vegetação ou nar delineamento em blocos casualizados, com
com porções de solo diferentes em testes de repetição dentro do bloco.
emergência de plântulas. Caso as parcelas não Utilizando ainda o exemplo das câmaras de
caibam no espaço uniforme, o melhor é optar germinação, pode-se montar um bloco em cada
pelo delineamento em blocos casualizados. prateleira, um bloco em cada câmara ou mesmo
um bloco em cada posição da mesma prateleira
(frente, meio e fundo). Às vezes, não se pode
DELINEAMENTO EM BLOCOS optar por esse tipo de delineamento por falta
CASUALIZADOS (DBC) de espaço físico, material ou mão-de-obra. Is-
O delineamento em blocos casualizados é uti- so porque o espaço disponível para se montar
lizado em experimentos quando as condições um bloco (espaço homogêneo) pode ser muito
experimentais são heterogêneas e a heteroge- pequeno em cada prateleira da câmara, por
neidade ocorre em um único sentido (a hete- exemplo. Nesse caso, se for necessário optar pe-
rogeneidade em dois sentidos é própria para lo DIC, é importante que a interpretação dos
delineamento em quadrado latino). Por isso, resultados obtidos leve em consideração que as
inclui, além dos princípios da casualização e placas foram submetidas a uma heterogenei-
da repetição, também o do controle local, que dade que dificulta detectar diferenças entre tra-
trabalha com as diferenças da área experimental. tamentos.
O modelo matemático desse delineamento O sorteio do delineamento em blocos ca-
(yij = µ + αj + βi+ eij, onde yij é o valor da parce- sualizados é feito por bloco, e não para todas
la que recebeu o tratamento i no bloco j; µ é a as parcelas do experimento. Assim, para um
média geral do experimento; ai é o efeito do i- experimento com seis tratamentos (T1, T2, T3,
ésimo tratamento; βj é o efeito do j-ésimo bloco; T4, T5 e T6) e quatro blocos (repetições), tem-
eij é o erro da parcela que recebeu o tratamento se os seguintes passos para o sorteio do bloco I:
i no bloco j) mostra que cada observação leva
consigo o efeito da média geral do experimento, 1o Passo: Numerar o croqui do bloco I de 1 a 6,
do tratamento, do bloco e do erro experimental. números estes correspondentes aos tratamen-
Nesse tipo de delineamento, há perda dos graus tos;
de liberdade do erro experimental, mas, em 1 3 5
contrapartida, a variação devida ao efeito do
2 4 6
bloco não é incorporada ao resíduo ou erro ex-

Germinação_11ok.p65 193 17/05/2004, 17:43


194 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

2o Passo: Sortear seis números aleatórios cor- ENSAIOS FATORIAIS


respondentes ao número de tratamentos; Muitas vezes, o pesquisador tem interesse em
781 273 142 612 846 329 analisar no mesmo experimento dois fatores,
como, por exemplo, o tamanho de semente e o
3o Passo: Numerá-los em ordem crescente (ou
local de produção. Essa análise pode ser feita
decrescente); independentemente do tipo de delineamento.
Pode-se ter, então, DIC em esquema fatorial,
781→5 273→2 142→1 612→4 846→6 329→3
DBC em esquema fatorial ou outro delineamen-
to. Nesse caso, o número de tratamentos é o
4o Passo: Distribuir, seguindo qualquer seqüên- total de combinações entre os dois fatores. Por
cia, os seis tratamentos; exemplo, sementes de Gossypium hirsutum L.
5→T1 2→T2 1→T3 4→T4 6→T5 3→T6 (algodoeiro) de peneiras 8 e 11, oriundas de
três municípios diferentes, serão comparadas
quanto à germinabilidade, ao tempo, à veloci-
5o Passo: Alocar os tratamentos, associando a
dade, à uniformidade e à sincronia de germina-
distribuição do 4o passo com a numeração do
ção. O fator tamanho de semente tem, portanto,
croqui do 1o passo;
dois níveis (peneira 8 e peneira 11), enquanto
Bloco I o fator local de produção tem três níveis (os
1→T3 3→T6 5→T1
três municípios produtores). Isso significa que
o experimento tem seis tratamentos (sementes
2→T2 4→T4 6→T5 de peneira 8 do município A, peneira 8 do mu-
nicípio B, peneira 8 do município C e o mesmo
6o Passo: Repetir os passos de 1 a 5 para cada para peneira 11). Esses seis tratamentos defini-
um dos demais blocos. Após o sorteio para todos rão o número de repetições do experimento,
os blocos, tem-se: que, no caso, deverá ser de no mínimo quatro,
totalizando 24 parcelas com 18 graus de liber-
Bloco I
dade para o erro experimental. A primeira per-
1→T3 3→T6 5→T1 gunta que deve ser respondida é se há ou não
2→T2 4→T4 6→T5 interação entre os dois fatores. Nesse exemplo,
é importante saber se o município A tem se-
Bloco II mentes de boa qualidade independentemente
do tamanho ou se ele é bom produtor apenas
1→T1 3→T6 5→T2 de sementes menores. Ao desconsiderar a
2→T5 4→T3 6→T4 estrutura fatorial do experimento, converten-
do-o em um DIC ou DBC com apenas um fator
Bloco III (tratamentos), perde-se a informação do fator
1→T6 3→T2 5→T1
que mais influencia a variável em estudo e a
de se os fatores interagem entre si, detectan-
2→T1 4→T4 6→T3
do-se apenas o(s) melhore(s) tratamento(s).
Como mencionado, os tratamentos de en-
Bloco IV saios fatoriais com dois fatores são combinações
1→T4 3→T6 5→T3 dos níveis de cada fator, de tal forma que o fator
2→T5 4→T1 6→T2 lote (L1, L2, L3 e L4) e o fator métodos de supe-
ração de dormência (M1, M2 e M3), por exem-
plo, têm as seguintes combinações, correspon-
dentes aos 12 tratamentos (ver esquema na
página seguinte).

Germinação_11ok.p65 194 17/05/2004, 17:43


GERMINAÇÃO 195

Lote 1 Lote 2 Lote 3 Lote 4

M1 M2 M3 M1 M2 M3 M1 M2 M3 M1 M2 M3

L1M1 L1M2 L1M3 L2M1 L2M2 L2M3 L3M1 L3M2 L3M3 L4M1 L4M2 L4M3

Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Se esse experimento com 12 tratamentos CONSIDERAÇÕES GERAIS


(4 lotes x 3 métodos) e cinco repetições for Independentemente do tipo de delineamento
montado em delineamento inteiramente casua- e do número de fatores em análise, um ponto
lizado ou em blocos casualizados, os graus de importante a ser considerado é o número de
liberdade das causas da variação serão respecti- sementes por repetição. Se, em uma placa de
vamente: Petri, forem colocadas para germinar duas se-
mentes e apenas uma delas germinar, a porcen-
DIC
tagem final de germinação dessa unidade ex-
Fontes de variação gl
perimental será de 50%; se forem colocadas
Lote 3 = no de lotes –1 quatro sementes, para alcançar essa mesma
Método 2 = no de métodos –1 porcentagem, será necessário o registro de duas
Lote*Método 6 = (no de lotes –1) (no de métodos –1)
Resíduo 48 = (59-3-2-6) sementes germinadas, e, se utilizadas 50 se-
Total 59= no de parcelas –1 mentes, 25 delas precisarão germinar para que
gl: graus de liberdade.
se registre 50% de germinação. Isso significa
que quanto menor for o número de sementes,
e
maior será o peso de cada uma delas, devendo-
DBC se ainda levar em conta o risco de se ter uma
Fontes de variação gl semente atípica, o que complica ainda mais a
Lote 3 = no de lotes –1 interpretação do resultado final. Com um
Método 2 = no de métodos –1 número baixo de sementes, mas com a possi-
Lote*Método 6 = (no de lotes –1) (no de métodos –1)
bilidade de instalação de um experimento com
Bloco 4 = (no de blocos –1)
Resíduo 44 = (59-3-2-6-4) mais de um tratamento, é preferível trabalhar
Total 59= no de parcelas –1 com um número menor de tratamentos e maior
gl: graus de liberdade.
de sementes por repetição do que o contrário.
Quando não se tem limite nem de sementes
Nos dois delineamentos, os graus de liber- nem de espaço ou mão-de-obra, o emprego de
dade referentes ao tratamento foram desdobra- 50 ou 100 sementes por repetição é mais indi-
dos em três causas de variação (Lote, Método e cado.
Lote*Método). Esse desdobramento permite sa- Nos experimentos com germinação, alguns
ber a contribuição individual (Lote e Método) fatores não permitem, por motivos práticos, a
e conjunta (interação, designada Lote*Método) casualização. O exemplo mais comum é a tem-
desses fatores na medida de germinação, além peratura, que, quando considerada um fator da
de definir o melhor tratamento. análise e, portanto, um efeito a ser testado, im-
Quando o número de fatores aumenta, possibilita a casualização das parcelas. A prática
cresce também o número de combinações ou usual é manter, dentro de cada germinador ou
tratamentos, dificultando a interpretação dos câmara, uma temperatura fixa, variando o nú-
resultados, principalmente pelo maior número mero de germinadores de acordo com as tempe-
de interações. raturas a serem testadas. A implicação é que

Germinação_11ok.p65 195 17/05/2004, 17:43


196 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

os resíduos do modelo para o efeito da tempera- Mann-Whitney, desde que o quadrado médio
tura passam a não ser mais independentes pela do resíduo dentro de cada época ou local seja
falta de casualização (Capítulo 12). No caso do mantido.
exemplo, cada germinador tem a precisão de É importante destacar ainda que, em al-
seu funcionamento associada a um dos trata- guns casos, o insucesso da análise estatística
mentos (temperatura). Assim, se um dos ger- dos dados se deve ao planejamento inadequado
minadores ou câmara apresentar maior varia- do experimento, associado ao uso de técnicas
ção da temperatura regulada em relação aos estatísticas não-aplicáveis a certos conjuntos de
demais germinadores, as repetições desse trata- dados.
mento poderão originar um valor médio subes- As informações aqui apresentadas são váli-
timado ou superestimado de germinação. Isso das para quaisquer unidades de dispersão, se-
ocorreria até em um delineamento casualizado jam sementes, frutos, esporos ou gemas.
e, nesse caso, o efeito da temperatura, mesmo
que variável, poderia ser isolado do resíduo, mas
no delineamento não-casualizado esses efeitos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
podem ser confundidos. BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação agríco-
Além da temperatura, fatores como época la. Jaboticabal: FUNEP, 1989. p. 247.
e local, amplamente estudados por pesquisado- BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária.
res, também podem impossibilitar a casualiza- Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLV,
ção. Esses fatores surgem como uma fonte de 1992. p. 365.
variação da análise estatística quando experi- COCHRAN, W.G.; COX, G.M. Experimental designs. 2.ed.
mentos independentes, em diferentes épocas New York: John Wiley, 1957. p. 617.
ou locais, são analisados conjuntamente. São PIMENTEL-GOMES, F. Curso de estatística experimental.
exemplos experimentos nos quais os mesmos São Paulo: Nobel, 1990. p. 468.
tratamentos e repetições são instalados em dife- SCHEFFÉ, H. The analysis of variance. New York: John
rentes locais. Nesses casos, técnicas estatísticas Wiley, 1959. p. 447.
específicas são aplicadas, como a análise con- SNEDECOR, G.W.; COCHRAN, W.G. Statistical methods.
junta de experimentos e os esquemas de parce- 8.ed. Ames: Iowa State University Press, 1989. p. 593.
las subdivididas no tempo ou no espaço (Pi-
SOKAL, R.R.; ROHLF, F.J. Biometry. 3.ed. New York: W.H.
mentel-Gomes, 1990). Além dessas técnicas, Freeman and Company, 1997. p. 897.
comparações binárias entre diferentes épocas
STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H. Principles and procedures of
ou locais também podem ser efetuadas, utili-
statistics. 2.ed. New York: McGraw-Hill Book Company,
zando-se estatísticas como t de “Student” e 1980. p. 633.

Germinação_11ok.p65 196 17/05/2004, 17:43


C A P Í T U L O 12

ANÁLISE ESTATÍSTICA
Denise Garcia de Santana
Marli A. Ranal

A análise estatística de dados obtidos a partir i no bloco j), pode ocorrer um efeito multipli-
de parcelas ou unidades experimentais que fo- cativo entre αi e βj, ou seja, o efeito do trata-
ram arranjadas seguindo delineamentos pré- mento (αi) interage com o efeito do bloco (βj).
planejados (experimentais) inicia-se com os Isso também pode ocorrer nos modelos de en-
testes das pressuposições do modelo da análise saios fatoriais em delineamento inteiramente
da variância (ANOVA). Independentemente do casualizado (DIC) ou delineamento em blocos
delineamento experimental, os principais efei- casualizados (DBC), e um efeito não-aditivo en-
tos do modelo devem ser aditivos; os resíduos tre os fatores pode tornar a estatística F da in-
(eij), independentes e normalmente distribuí- teração ineficiente devido ao aumento no efei-
dos; e as variâncias, homogêneas. Essas condi- to da interação (Sokal e Rohlf, 1997). O método
ções são fundamentais para a eficiência da es- mais comumente aplicado para testar a não-
tatística F da análise da variância, mas não são aditividade é o de Tukey (1949); e para esse
necessárias para os testes não-paramétricos (Fi- teste, quando a hipótese de aditividade é rejei-
gura 12.1). Das pressuposições, a única não tes- tada, a transformação logarítmica pode ser apli-
tável é a independência dos resíduos, mas esta cada na tentativa de tornar os efeitos aditivos.
é garantida pela casualização (Steel e Torrie,
1980).
Em situações experimentais pouco fre- TESTES DE NORMALIDADE E
qüentes, os principais efeitos do modelo podem HOMOGENEIDADE
não ser aditivos, mas multiplicativos, por exem- Dos testes de normalidade, o de Kolmogorov-
plo. Nos modelos de delineamentos inteiramen- Smirnov não tem restrição quanto ao tamanho
te casualizados, com apenas um fator principal da amostra ou número de parcelas, além de não
(yij = µ + αi + eij, onde yij é o valor da parcela perder informação devido ao agrupamento,
que recebeu o tratamento i na repetição j; µ, a como o teste de aderência ou qui-quadrado
média geral do experimento; ai, o efeito do i- (Campos, 1983). O teste de Lilliefors é uma va-
ésimo tratamento; eij, o erro da parcela que rece- riação do de Kolmogorov-Smirnov para os casos
beu o tratamento i na repetição j), a aditividade em que a média e a variância populacionais des-
não precisa ser testada, pelo fato de µ ser cons- conhecidas são estimadas por meio dos dados
tante e os erros serem independentes. Nos mo- da amostra (Lilliefors, 1967). Esse teste tam-
delos de delineamentos em blocos casualizados bém não tem restrição quanto ao tamanho da
(yij = µ + αi +βj + eij, , onde yij é o valor da amostra ou ao número de parcelas. Por outro
parcela que recebeu o tratamento i no bloco j; lado, o de Shapiro-Wilk (Shapiro e Wilk, 1965)
µ, a média geral do experimento; αi, o efeito do é recomendado quando o tamanho da amostra
i-ésimo tratamento; βj, o efeito do j-ésimo bloco; e/ou o número de parcelas do experimento são
eij, o erro da parcela que recebeu o tratamento pequenos (n < 50). Como os modelos de análi-

Germinação_12ok.p65 197 17/05/2004, 17:44


198 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Delineamento inteiramente Delineamento em blocos


casualizado (DIC) casualizados (DBC)

Coleta e organização
dos dados
para análise

Teste de aditividade

Teste de normalidade

Resíduos normais Resíduos não-normais

Teste de Transformação Estatística


homogeneidade dos dados não-paramétrica

Variâncias Variâncias Kruskal-Wallis Friedman


homogêneas heterogêneas DIC DBC

Análise
da variância

DIC DBC

! Figura 12.1
Fluxograma da seqüência da análise estatística paramétrica e não-paramétrica.

se da variância exigem resíduos, e não dados tativa de todos os tratamentos. O teste de Bartlett
com distribuição normal, esses testes devem ser (1937), apesar de exigir normalidade dos resí-
aplicados aos resíduos do modelo. Nos delinea- duos, é o mais recomendado para testar a ho-
mentos inteiramente casualizados, os resíduos mogeneidade entre as variâncias quando se tem
são calculados por eij = yij – yi., onde yij é o valor mais de duas amostras ou tratamentos. O méto-
da parcela que recebeu o tratamento i na repeti- do proposto por Hartley (1950), apesar de fácil
ção j, e yi. é a média do tratamento i. Nos mode- aplicação, é pouco eficiente (Sokal e Rohlf,
los de delineamentos em blocos casualizados, 1997), menos sensível que o teste de Bartlett
os resíduos são calculados por eij = yij – yi. – y.j + (Snedecor e Cochran, 1989), exigindo também
y.. , onde yij é o valor da parcela que recebeu o normalidade dos resíduos (Neter, Wasserman e
tratamento i no bloco j; yi. a média do tratamen- Kutner, 1985). Por isso, no fluxograma (Figura
to i; y.j é a média do bloco yi; e y.., a média geral 12.1), o teste de homogeneidade aparece após o
do experimento. de normalidade e deve ser aplicado somente
A homogeneidade entre as variâncias (ou quando os resíduos têm distribuição normal.
homocedasticidade) também é uma condição Quando as hipóteses de aditividade, nor-
para a aplicação da maioria dos testes estatísti- malidade e homogeneidade são atendidas, o
cos (Sokal e Rohlf, 1997), tendo importância teste F da análise da variância pode ser aplicado
ainda maior na análise da variância. Isso porque, e tem maior poder. Na Tabela 12.1 estão apre-
nessa análise, qualquer efeito de tratamento é sentadas algumas opções para testes de aditi-
comparado com o quadrado médio do resíduo, vidade, normalidade e homogeneidade, segui-
que é a variância média do experimento, e, por- das da expressão mais usual e das referências
tanto, ela deve ser homogênea por ser represen- para consultas mais detalhadas.

Germinação_12ok.p65 198 17/05/2004, 17:44


Tabela 12.1 Resumo de alguns testes de pressuposições para a análise da variância, com as expressões mais usuais e as referências correspondentes

Teste de aditividade1 Característica/condição Expressão Referências

Germinação_12ok.p65
Tukey para não-aditividade A não-aditividade dos efeitos principais SQBL * TRAT Tukey (1949); Neter, Wasserman e
Kutner (1985); do modelo é pouco freqüente SQBL.TRAT = Sokal e Rohlf (1997)
SQBL + SQTR
r t

Teste de normalidade2

199
Shapiro-Wilk n < 50 g2 Shapiro e Wilk (1965), Gill (1978);
Wc = , sendo g = $ #i,n (en-i+1 – ei) Santana e Ranal (2004)
SQR i=1

Kolmogorov-Smirnov n de qualquer tamanho 1 ^ Campos (1983); Sokal e Rohlf


Dmáx = gmáx + , sendo: g = F (zi) – F0,5 (1997); Santana e Ranal (2004)
2n
(i – 0,5)
F0,5 =
n

Lilliefors Variação do teste de Kolmogorov-Smirnov; D = sup F(Z) – S(Z) , sendo:

n de qualquer tamanho zi Lilliefors (1967); Campos (1983)


k
F(zi) = P(z % zi) = & f(z)dz S(zi)=
-' n

Teste de homogeneidade3
2
F máximo de Hartley Exige resíduos com distribuição normal; s máx Hartley (1950); Neter, Wasserman
conhecido por ter baixa eficiência; Fmáx = 2 e Kutner (1985); Sokal e Rohlf
s min
aplicável para qualquer número de (1997); Santana e Ranal (2004)
amostras ou tratamentos
# #
2 -2 2
Bartlett Exige resíduos com distribuição normal; ( = $ (ni – 1)1n s – $ (ni – 1) ln si , sendo Bartlett (1937); Neter, Wasserman

17/05/2004, 17:44
número de amostras ou tratamentos maior i=1 i=1 (1985); Sokal e Rohlf (1997); Zar
que dois (1999); Santana e Ranal (2004)
–2 2
s = $ (ni – 1) si $ (ni – 1)
i i

1
SQBL*TRAT: soma de quadrados da interação do bloco com o tratamento; SQBL: soma de quadrados de blocos; SQTR: soma de quadrados de tratamentos; r: número de repetições;
GERMINAÇÃO

t: número de tratamentos.
2
SQR: soma de quadrados do resíduo; a: coeficientes tabelados para o teste de Shapiro-Wilk (Gill, 1978); e: erro experimental ou resíduo; n: número de parcelas; gmáx: maior diferença
absoluta de g; ^F(zi): função de distribuição normal acumulada; i: número da amostra; k: número de observações a partir da primeira até o valor de zi encontrado, inclusive.
3 2
199

s máx: maior variância entre os tratamentos; s2mín: menor variância entre os tratamentos; ni = ri: número de repetições do tratamento i; s2i: variância do tratamento i.
200 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

A Tabela 12.2 apresenta o resultado da aná- terística analisada. Os resultados da análise da


lise das pressuposições do modelo de um deli- variância para a germinabilidade (Tabela 12.3)
neamento inteiramente casualizado para ger- e para o tempo médio de germinação (Tabela
minabilidade, tempo médio, velocidade média 12.4) das sementes de couve-da-Malásia mos-
e sincronia de germinação de sementes de Bras- tram que há, pelo menos, duas médias estatis-
sica chinensis L. var. parachinensis (Bailey) Sins- ticamente diferentes para ambas as caracterís-
kaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas ticas avaliadas.
com deficiência nutricional. As probabilidades Outra forma de analisar estatisticamente
(valores entre parênteses) maiores que o valor as medidas de germinação obtidas a partir de
nominal (α > 0,01) indicam que todas as ca- valores ponderados, como é o caso do tempo
racterísticas das sementes estudadas seguem médio e da velocidade média de germinação, é
as pressuposições do modelo para a análise da a análise da variância com peso de pondera-
variância (P > 0,01). A tabela mostra ainda que, ção. Nesse caso, a média ponderada é calculada
apesar de a germinabilidade ser uma medida para o conjunto de unidades de dispersão do
expressa em porcentagem, não necessita da tratamento. A Tabela 12.5 apresenta o quadro
transformação dos dados, porque, nesse caso, de análise da variância para o tempo médio de
as pressuposições para o modelo da ANOVA fo- germinação de esporos de Pteris denticulata Sw.
ram atendidas. Isso significa que dados em por- (Pteridaceae, Pteridophyta), submetidos a qua-
centagem só precisam ser transformados para tro temperaturas (18,5; 22,2; 25,2 e 29,8oC), em
valores angulares quando essas pressuposições que o peso de ponderação é o número de espo-
não forem atendidas. ros germinados (Ranal, 1999). O valor da pro-
babilidade (P < 0,05) indica que o tempo médio
de germinação difere, pelo menos, para duas
ANÁLISE DA VARIÂNCIA temperaturas estudadas.
Garantidas as pressuposições para essas medi- Como nesse caso cada unidade de dispersão
das de germinação, a análise da variância pode representa uma parcela do experimento, isso
ser realizada tendo como hipótese nula que as aumenta os graus de liberdade do resíduo em
médias dos tratamentos são iguais para a carac- comparação com a ANOVA não-ponderada,

Tabela 12.2 Padrão de germinação das sementes de Brassica chinensis L. var. parachinensis (Bailey)
Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional (dados fornecidos por E.F.M.
Pereira, W.Z. Gonçalves, C.C. Borges e M.A. Ranal). Médias de cinco repetições
Medidas1
Tratamento G (%) (hora) (hora –1) (bit)

T1 96,00 29,304 0,0342 2,11994


T2 94,04 22,926 0,0440 1,60728
T3 94,24 22,406 0,0448 1,44244
T4 92,37 24,854 0,0403 1,86042
T5 96,40 28,230 0,0357 2,00552
T6 94,00 21,726 0,0461 1,34852
T7 98,81 23,771 0,0423 1,43858
T8 94,40 29,054 0,0345 2,12136
T9 98,80 28,022 0,0358 2,07688
Shapiro-Wilk (W)2 0,964 (0,2732) 0,938 (0,0252) 0,950 (0,0766) 0,953 (0,1045)
Bartlett (X 2) 6,586 (0,5819) 4,939 (0,7641) 5,324 (0,7224) 5,754 (0,6750)
1
G: germinabilidade; tempo médio de germinação (Labouriau, 1983); velocidade média de germinação (Labouriau, 1970); índice
de sincronização (Labouriau e Valadares, 1976).
2
Valores entre parênteses referem-se à probabilidade; quando são maiores que 0,01, indicam normalidade dos resíduos ou
homogeneidade entre as variâncias.

Germinação_12ok.p65 200 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 201

Tabela 12.3 Análise da variância para a germinabilidade das sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional

Fontes de variação gl1 Soma de quadrados2 Quadrado médio3 F4 Probabilidade

Tratamento t–1=8 SQT = 199,1130 QMT = 24,8891 2,63 0,0222


Resíduo t ( r – 1) = 36 SQR = 340,4216 QMR = 9,4562
Total tr – 1 = 44 SQTO = 39,6435

gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = Y2ij – (y..)2 /tr; SQR
1

= SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij: valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3
QMT = SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.

ampliando a eficiência da estatística F (aumen- pótese nula, ou seja, indicaria que não há dife-
to do valor do F) e, conseqüentemente, a chance rença significativa entre os tratamentos a 1%
de se detectarem diferenças entre os tratamen- de probabilidade.
tos. Esse aumento nos graus de liberdade pode
ser exemplificado quando se comparam, para
o mesmo experimento, as Tabelas 12.5 e 12.6. TRANSFORMAÇÃO DE DADOS
Uma das maiores dificuldades de interpre- Uma tentativa de aplicar a análise da variância
tação de uma análise da variância é o entendi- quando uma ou mais pressuposições do modelo
mento do valor da probabilidade. Depois de es- não são atendidas é a transformação de dados,
tabelecido o valor da significância, α = 0,05, escolhida de acordo com a natureza da caracte-
por exemplo, valores de probabilidade acima rística em estudo (contagem, porcentagem, no-
desse valor nominal (P > 0,05) indicam a região tas, etc.). A principal finalidade da transforma-
de aceitação da hipótese de que os tratamentos ção de dados é estabilizar as variâncias entre os
são iguais (RAHo); caso contrário (P < 0,05), tratamentos e, como conseqüência, garantir a
indicam a região de rejeição dessa hipótese normalidade dos resíduos (Neter, Wasserman e
(RRHo), e o teste é dito significativo (Figura Kutner, 1985). Segundo esses autores, quando
12.2). O valor da estatística F e o da probabilida- os resíduos apresentam distribuição normal, a
de a ela associada, apresentados na Tabela 12.3, transformação das observações que estabiliza a
mostram que a hipótese nula foi rejeitada e que, variância pode afetar a normalidade. Essa con-
portanto, há diferença significativa entre os tra- sideração justifica a necessidade de novamente
tamentos (dados da Tabela 12.2). Se o valor α se testar a normalidade para as observações trans-
estabelecido fosse maior, o teste teria sido mais formadas (Figura 12.1).
rigoroso (α = 0,01), e o valor calculado da pro- A heterogeneidade entre as variâncias sur-
babilidade estaria mostrando a aceitação da hi- ge quando um ou mais tratamentos apresen-

Tabela 12.4 Análise da variância para o tempo médio de germinação das sementes de Brassica
chinensis L. var. parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência
nutricional. O tempo médio (Labouriau, 1983) foi calculado para cada placa de Petri (repetição), sendo
então processada a ANOVA

Fontes de variação gl1 Soma de quadrados2 Quadrado médio3 F4 Probabilidade

Tratamento t–1=8 SQT = 373,4034 QMT = 46,6754 13,30 0,0000


Resíduo t ( r – 1) = 36 SQR = 126,3630 QMR = 3,5101
Total tr – 1 = 44 SOTO = 499,7664

gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = y2ij – (y..)2 /tr; SQR
1

= SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3
QMT = SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.

Germinação_12ok.p65 201 17/05/2004, 17:44


202 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Tabela 12.5 Análise da variância com peso de ponderação para o tempo médio de germinação de
esporos de Pteris denticulata Sw. (Pteridaceae, Pteridophyta) estudados por Ranal (1999). O tempo médio
foi calculado para o conjunto de esporos germinado em cada temperatura5

Fontes de variação gl1 Soma de quadrados2 Quadrado médio3 F4 Probabilidade

Temperatura t–1=3 SQT = 1112,3992 QMT = 370,7996 130,431 0,0000


Resíduo n – t = 1157 SQR = 3289,2192 QMR = 2,8429
Total n – 1 1160 SOTO = 4401,6172
1
gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; n: número total de esporos germinados; 2SQT = Σ (niti)2 / ni – Σ (nti) 2 / n;
SQTO = Σ niti)2 – (Σ niti)2 / n; SQR = SQTO – SQT, onde ni: é o número de esporos germinados no tratamento i; ti: tempo médio do
tratamento i; 3 QMT = SQT / t – 1; QMR = SQR / n – t; 4 F = QMT / QMR; 5A análise da variância com peso de ponderação é
executada por alguns programas estatísticos, entre eles, o SAS (1990) e o SPSS (1999).

tam maior variabilidade que os demais do ex- de esporófitos e outros, a transformação do tipo
perimento, gerando efeitos discrepantes, ou raiz quadrada (vx ou vx+k é mais apropriada.
quando existe dependência entre a média e a A constante k = 0,5 proposta por Bartlett
variância ou desvio-padrão. No primeiro caso, (1936) é preferida, especialmente quando há
a heterogeneidade é do tipo irregular, e o me- um grande número de dados iguais a (ou próxi-
lhor procedimento para tentar estabilizar a va- mos) de zero (Zar, 1999). Transformações do
riância é a retirada dos tratamentos discrepan- tipo logarítmica, log (x) ou log (x+k) são suge-
tes para a análise (Steel e Torrie, 1980). O se- ridas para corrigir a não-aditividade dos efeitos
gundo caso retrata o tipo regular de heteroge- (Zar, 1999), e não para estabilizar variâncias.
neidade, e esta pode ser corrigida pela transfor- Apesar da recomendação de muitos esta-
mação dos dados. tísticos de que dados transformados não devem
A transformação angular (arcoseno) ser substituídos por suas médias originais, tec-
% 100 é própria para estabilizar variâncias nologistas, ecólogos e fisiólogos discordam des-
de tratamentos quando a variável em estudo é sa recomendação. Como a porcentagem de ger-
uma proporção (varia entre 0 e 1) ou porcenta- minação em escala angular não permite uma
gem (varia entre 0 e 100%). Dados de conta- interpretação prática, os pesquisadores da área
gem que geram proporções são conhecidos por de germinação recomendam que a apresenta-
seguirem a distribuição binomial em vez da ção e a discussão dos resultados sejam baseadas
normal, sendo os desvios entre as duas distri- na escala em que os dados foram coletados.
buições maiores para pequenas (0 a 30%) e Uma alternativa para associar as questões esta-
grandes (70 a 100%) porcentagens (Zar, 1999; tísticas teóricas com as práticas é apresentar a
Snedecor e Cochran, 1989). Para dados de con- tabela nas duas escalas, como fizeram Ferreira
tagem, como o número de plântulas normais, e Ranal (1999).

Tabela 12.6 Análise da variância para o tempo médio de germinação de esporos de Pteris denticulata
Sw. (Pteridaceae, Pteridophyta) estudados por Ranal (1999). O tempo médio foi calculado para cada
repetição (área de 1 cm2), em um total de quatro repetições por tratamento

Fontes de variação gl1 Soma de quadrados2 Quadrado médio3 F4 Probabilidade

Temperatura t – 1 =3 SQT = 16,8365 QMT = 5,6122 13,792 0,0003


Resíduo t (r – 1) =12 SQR = 4,8830 QMR = 0,4069
Total tr – 1 = 15 SOTO = 21,7196

gl: graus de liberdade; t: número de tratamentos; r: número de repetições; 2SQT = y2i. / r-(y..)2 / tr; SQTO = y2ij – (y..)2 /tr; SQR =
1

SQTO – SQT, onde yi: é o total do tratamento i; y: total geral; yij: valor da parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; 3 QMT
= SQT / t – 1; QMR = SQR / t (r – 1); 4 F = QMT / QMR.

Germinação_12ok.p65 202 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 203

P > 0,05
RAHo
0,95
P < 0,05

# = 0,05

RRHo

F F F
P > 0,05 0,05 P < 0,05

! Figura 12.2
Distribuição F mostrando as regiões de aceitação (RAHo) e rejeição (RRHo) da hipótese Ho à significância 0,05.

N
A
P
Ã
R
A
C
O
M
S
-E
S
T
R
IÉ A Tabela 12.7 apresenta o resultado da análi-
Se uma ou mais pressuposições não são aten- se não-paramétrica de medidas de germinação
didas, mesmo com a transformação dos dados, para sementes da couve-da-Malásia, submetidas
devem-se utilizar os testes não-paramétricos. à ação de extratos obtidos a partir de folhas e cas-
As versões não-paramétricas do delineamento cas de Copaifera langsdorffii Desf. (Ranal e Santana,
inteiramente casualizado e dos blocos casuali- 2002).
zados são os testes de Kruskall-Wallis e Fried- Os valores de probabilidade associados ao
man, respectivamente, não exigentes quanto valor da estatística H de Kruskal-Wallis indicam
às pressuposições da análise da variância para- que há diferença significativa entre os trata-
métrica. A desvantagem dos testes não-para- mentos (P < 0,05) para todas as características
métricos é que, quando a distribuição da po- estudadas, exceto para o coeficiente de variação
pulação é conhecida ou quando os dados po- do tempo (P > 0,05).
dem ser transformados, esses testes extraem Outros testes paramétricos e não-paramé-
menos informação do que a disponível no con- tricos são apresentados na Tabela 12.8., segui-
junto de dados (Steel e Torrie, 1980). dos da expressão mais usual e das referências
Mesmo utilizando uma estatística de postos para consultas mais detalhadas.
ou ranks, como é a estatística não-paramétrica, Tanto o teste F da análise da variância para
as hipóteses de nulidade e alternativa têm o o DIC ou o DBC quanto as estatísticas dos testes
mesmo objetivo das hipóteses da análise da va- de Kruskal-Wallis e Friedman, ao rejeitarem a
riância, ou seja, o de não detectar ou o de de- hipótese Ho, indicam apenas que pelo menos
tectar diferenças entre os tratamentos. Os tes- duas amostras ou tratamentos são diferentes,
tes não-paramétricos não apresentam análise mas não apontam os tratamentos que diferem
da variância, e as estatísticas H de Kruskal- entre si. A literatura é abrangente no que se refere
Wallis e X2 de Friedman, da mesma forma que aos testes para comparações entre os tratamentos,
o teste F, têm a hipótese de nulidade rejeitada e cada teste tem sua especificidade e seu rigor.
quando os valores H ou X2 são maiores que o Entretanto, um ponto importante é saber se os
valor crítico ou, ainda, quando a probabilidade testes serão escolhidos independentemente do re-
é menor que o valor da significância (α) esta- sultado do experimento. A razão é que existem
belecido (P < α). testes apropriados para comparações pré-planeja-

Germinação_12ok.p65 203 17/05/2004, 17:44


204 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Tabela 12.7 Medidas de germinação (valores médios) para sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia) submetidas à ação de extratos obtidos a partir de folhas
e cascas de Copaifera langsdorffii Desf. (Ranal e Santana, 2002). Médias de quatro repetições

Tratamento
Medida Alcalóide2 Alcalóide2 Alcalóide2 Extrato3
(unidade)1 Água 62,5 mg mL-1 125,0 mg mL-1 250 mg mL-1 Bruto H4 P

G (%) 96,33 100,00 100,00 98,67 22,67 23,256 0,0001



t (h) 35,96 32,10 33,76 50,92 88,47 19,832 0,0005

v (h-1) 0,0313 0,0315 0,0309 0,0203 0,0115 19,818 0,0005
VE (sem.h-1) 1,701 1,771 1,743 1,136 0,165 19,901 0,0005

E (bits) 2,508 2,301 2,561 3,058 2,716 12,215 0,0158
CVt (%) 35,38 31,60 35,18 31,80 45,12 9,269 0,0547
– –
1
G: germinabilidade; t : tempo médio de germinação – (Labouriau, 1983); v: velocidade média de germinação (Labouriau, 1970);
VE: velocidade de emergência (Maguire, 1962); E : índice de sincronização (Labouriau e Valadares, 1976); CVt: coeficiente de
variação do tempo (Ranal e Santana, 2002).
2
Solução aquosa de alcalóide salino à base de cloreto de amônio.
3
Extrato aquoso de folhas (1:10 massa/volume).
4
Estatística do teste de Kruskal-Wallis; valores em negrito indicam diferença significativa entre os tratamentos.

das, como os contrastes, e não-planejadas, como O teste de Mann-Whitney e Wilcoxon-


as comparações múltiplas (Sokal e Rohlf, 1997). Mann-Whitney, apesar de comparar tratamen-
tos ou amostras duas a duas, não se baseia na
variabilidade geral do experimento (quadrado
TESTES PARA COMPARAÇÕES médio do resíduo), como o fazem os testes de
MÚLTIPLAS Tukey, Duncan e Scott-Knott. Por isso, não é
Os chamados testes para comparações múlti- apropriado para comparar pares de tratamentos
plas (paramétricos) são apropriados para com- ou amostras de um conjunto maior que dois.
parações não-planejadas de tratamentos e, em Uma forma de comparação entre tratamen-
geral, exigem as mesmas pressuposições dos tos pouco utilizada em germinação de semen-
modelos da análise da variância (Zar, 1999). tes é o uso de regressão, recurso disponível
Em todos os testes de comparações múltiplas, quando os tratamentos são atributos quantita-
o máximo poder e a máxima consistência são tivos como doses, níveis, tempo, temperatura,
alcançados quando o tamanho da amostra ou entre outros. Das análises estatísticas, a regres-
o número de repetições é igual para todos os são é a de mais difícil interpretação e, portanto,
tratamentos ou amostras (Zar, 1999). os modelos são pouco aplicados. Talvez, por isso,
A Tabela 12.9 apresenta o resultado de tes- os pesquisadores tratem os atributos quantitati-
tes paramétricos para comparações múltiplas vos como qualitativos e apliquem os testes para
dos dados de velocidade média de germinação comparações múltiplas.
de sementes de couve-da-Malásia. A diferença A Tabela 12.10 apresenta alguns dos testes
de rigor entre os testes de Tukey, Duncan e de comparações múltiplas mais utilizados e fre-
Scott-Knott pode ser observada para os trata- qüentes nos trabalhos científicos.
mentos T4 e T9 cujas médias de velocidade não
diferiram significativamente para o Tukey, mas
diferiram para Duncan e Scott-Knott. Ainda na ENSAIOS FATORIAIS
Tabela 12.9, pode-se observar a característica Os exemplos apresentados e discutidos ante-
mais importante do teste Scott-Knott, que é a riormente envolveram apenas um fator. Entre-
separação das médias em grupos exclusivos tanto, o pesquisador pode comparar dois ou
(apenas uma letra para cada média). mais fatores, nos chamados ensaios fatoriais

Germinação_12ok.p65 204 17/05/2004, 17:44


Tabela 12.8 Principais expressões e referências de testes paramétricos e não-paramétricos

Análise paramétrica Características/condições Expressão Referências

Germinação_12ok.p65
Análise da variância (DIC) Aplicável a condições experimentais homogêneas; segue os QMT Cochran e Cox (1957);
F=
princípios da repetição e da casualização QMR Scheffé (1959); Snedecor e
Cochran (1989); Steel e
Análise da variância (DBC) Aplicável a condições experimentais heterogêneas; segue os QMT Torrie (1980);
princípios da repetição, da casualização e do controle local F= Neter, Wasserman e Kutner
QMR
(1985); Banzatto e Kronka
(1989); QMA QMB QMA*B

205
Análise da variância (DIC São testados os principais efeitos ou fatores e a interação F= ; F= ; F= Pimentel-Gomes (1990);
QMR QMR QMR
ou DBC) com dois fatores entre eles Sokal e Rohlf (1997)

Análise da variância com Condições experimentais homogêneas; número de unidades QMT SAS (1990), SPSS (1999)
peso de ponderação de dispersão germinadas em cada repetição como peso de F=
QMR
ponderação

Análise não-paramétrica

Kruskall-Wallis Versão não-paramétrica do delineamento inteiramente 12 t Ri2 Friedman (1937);


H= $ – 3 (n + 1)
casualizado n(n+1) i=1 ni Friedman (1940);
Mann e Whitney (1947);
Friedman Versão não-paramétrica do delineamento em blocos 2 12 2 Kruskal e Wallis (1952);
( = $ Ri – 3n (r + 1)
casualizados nr (r+1) i Siegel (1975);
Campos (1983),
Mann-Whitney Versão não-paramétrica do teste t de Student n1 (n1 + 1) Neter, Wasserman, Kutner.
U = n1 n2 + – R1
2 (1985), Zar (1999),
Santana e Ranal (2004)
n2 (n2 + 1)
U = n1 n2 + – R2
2

Análise fatorial não- Versão não-paramétrica da análise da variância com dois Scheirer et al. (1976;

17/05/2004, 17:44
SQA SQB
paramétrica ou mais fatores H= ;H= ; citados por Zar, 1984)
QMTO QMTO

SQA*B
H=
QMTO
GERMINAÇÃO

QMT: quadrado médio do tratamento; QMR: quadrado médio do resíduo; QMA: quadrado médio do fator A; QMB: quadrado médio do fator B; QMA*B: quadrado médio da interação
entre os fatores A e B; n: número de parcelas do experimento; Ri: soma dos postos do tratamento i; ni= r: número de repetições do tratamento i; R1: soma dos postos do tratamento 1;
R2: soma dos postos do tratamento 2; n1: número de repetições do tratamento 1; n2: número de repetições do tratamento 2; SQA: soma de quadrados para o fator A; SQB: soma de
205

quadrados para o fator B; SQA*B: soma de quadrados da interação entre os fatores A e B; QMTO: quadrado médio total.
206 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Tabela 12.9 Testes para comparações de V médias de das sementes de Brassica chinensis L. var.
parachinensis (Bailey) Sinskaja (couve-da-Malásia), oriundas de plantas com deficiência nutricional (dados
fornecidos por E.F.M. Pereira, W.Z. Gonçalves, C.C. Borges e M.A. Ranal)

Tratamento v (hora-1) Tukey Duncan Scott-Knott

T6 0,0461 0,0461 a 0,0461 a 0,0461 a


T3 0,0448 0,0448 a 0,0448 a 0,0448 a
T2 0,0440 0,0440 a 0,0440 ab 0,0440 a
T7 0,0423 0,0423 a 0,0423 ab 0,0423 b
T4 0,0403 0,0403 ab 0,0403 b 0,0403 b
T9 0,0358 0,0358 bc 0,0358 c 0,0358 c
T5 0,0357 0,0357 bc 0,0357 c 0,0357 c
T8 0,0345 0,0345 bc 0,0345 c 0,0345 c
T1 0,0342 0,0342 c 0,0342 c 0,0342 c
1
médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelos testes de Tukey, Duncan e Scott-Knott (P < 0,05);

v : velocidade média de germinação (Labouriau, 1970).

(planejamento discutido no Capítulo 11). Nos da situação ocorre quando a interação não é
ensaios fatoriais com dois fatores, duas situa- significativa e, portanto, é desprezada; um es-
ções distintas quanto à significância podem tudo de cada um dos fatores pode ser realizado
ocorrer. A primeira (e a mais esperada) é o re- isoladamente.
sultado da interação entre os fatores, que, quan- Como os ensaios fatoriais, em geral, não
do significativa, estabelece uma relação de de- são tratados dessa forma pelos biólogos e ecó-
pendência entre eles. Nesse caso, o procedimen- logos, ou seja, cada fator e a sua interação não
to é o chamado desdobramento da interação, são mantidos em separado, mas analisados co-
que consiste na fixação dos níveis de um fator mo se fossem apenas um fator (tratamentos),
para o estudo dos níveis do outro podendo-se recomenda-se para maior detalhamento dessas
efetuar esse estudo por meio de um teste para estruturas os trabalhos de Banzatto e Kronka
comparações múltiplas ou regressão. A segun- (1989) e de Pimentel-Gomes (1990).

Germinação_12ok.p65 206 17/05/2004, 17:44


Tabela 12.10 Testes para comparações múltiplas e contrastes para comparação entre tratamentos

Comparações múltiplas Característica/condição Expressão Referências

Germinação_12ok.p65
LSD Primeiro teste para comparações de médias LSD = t 2 QMR/d Newman (1939);
duas a duas; conhecido como diferença de Keuls (1952);
mínimos quadrados Tukey (1953);
Duncan (1955);
Tukey Compara médias duas a duas; mais rigoroso; DMS = - = q#(t,v) QMR/d
O´Neill e Wetherill (1971);
não recomendável para mais de 20 tratamentos Scott e Knott (1974);
ou amostras Steel e Torrie (1980);

207
Zar (1999)
SNK Compara médias duas a duas; rigor intermediário DMSi = Ki = q#(t,v) QMR/d
entre Tukey e Duncan

Duncan Compara médias duas a duas; menos rigoroso


DMSi = -i= z#(t,v) QMR/d
que Tukey e SNK

* Bo t
Scott-Knott Separa os tratamentos em grupos exclusivos += sendo: ,
ˆo2 = $ (yi. – y)2 + vs2 (yi) /(t+v)
2
2 (* – 2) ,
ˆo i=1

Contrastes

Teste t de Student Testa contrastes envolvendo duas ou mais médias; $ c i2 Scheffé (1953);
as comparações devem ser planejadas antes do DMS = T = t Vˆ (yˆ ) sendo: Vˆ (yˆ ) = QMR Dunnett (1955);
d
acesso aos dados; os contrastes devem ser Steel e Torrie (1980);
ortogonais Zar (1999)

Teste F Exige contrastes ortogonais e mutuamente ($ ciyi.)2 QMŷ


ortogonais SQyˆ = 2
; F=
d$ci QMR
2
Scheffé Testa contrastes envolvendo mais de duas médias; ˆ $ci
exige F da análise da variância significativo DMS = S = (t – 1) F#V(yˆ ) sendo: V(yˆ ) = QMR

17/05/2004, 17:44
d
Dunnett Compara individualmente a testemunha com 1 1
qualquer outro tratamento tD = yi. – yc + QMR
ri rc

DMS: diferença mínima significativa; qα (t,v): valor da amplitude total estudentizada da tabela de Tukey, à significância α; obtido em função do número de médias envolvidas e do número
GERMINAÇÃO

de graus de liberdade de erro (v); d: número de observações de cada amostra ou tratamento normalmente coincide com o número de repetições; zα (k,v): valor da amplitude total
estudentizada da tabela de Duncan, à significância α; obtido em função do número de médias envolvidas no teste (k) e do número de graus de liberdade de erro (v); t: valor da distribuição

de “Student”; QMR: quadrado médio do resíduo; ci: coeficientes do contraste; yi total do tratamento i; Fα: valores tabelados da distribuição de Snedecor para a significância α; yi: média

207

do tratamento i; yc: média do tratamento controle ou testemunha; ri: número de repetições do tratamento i; rc número de repetições do tratamento-controle ou testemunha.
208 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

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Germinação_12ok.p65 208 17/05/2004, 17:44


C A P Í T U L O 1 3

INTERPRETAÇÃO
DE RESULTADOS DE
GERMINAÇÃO
Fabian Borghetti
Alfredo Gui Ferreira

CRITÉRIOS DE GERMINAÇÃO A primeira contagem, as demais (se neces-


A interpretação dos dados obtidos em estudos sárias) e a final variam de espécie para espécie
acerca da germinação das sementes depende e estão listadas nas RAS (Regras para Análise
inicialmente do critério de germinação adotado. de Sementes, Brasil, 1992). Nessas regras, a
No “critério agronômico ou tecnológico”, maioria das plantas cultivadas está contempla-
considera-se germinação a emergência da plan- da. O intervalo entre as contagens intermediá-
ta no solo ou a formação de uma plântula vigo- rias também varia em função da espécie, sen-
rosa no substrato utilizado. Entretanto, esse cri- do mais comum de três em três dias ou a cada
tério inclui não apenas o processo germinativo semana, dependendo da velocidade de germi-
per se, mas também a velocidade de crescimento nação das sementes.
e a profundidade da semente no solo, fatores O “critério botânico ou morfológico”, con-
que influem consideravelmente na emergência sidera a germinação como a protrusão de uma
da plântula. Observa-se que tal critério mistura das partes do embrião de dentro dos envoltó-
dois fenômenos fisiológicos interdependentes, rios, associada a algum sinal de real crescimen-
porém diferentes, a germinação da semente e to, como a curvatura geotrópica da raiz e/ou a
o crescimento inicial da plântula. A diferença parte aérea, a síntese de pigmentos, etc. Tanto
se estabelece no momento em que, para a ger- fatores abióticos, como a temperatura e a umi-
minação, muitos genes são acionados e trans- dade, quanto bióticos, como a presença de subs-
criptomas e proteomas são formados e regula- tâncias tóxicas produzidas por plantas vivas ou
dos pelas condições vigentes. No crescimento mortas presentes no local (como resíduos ve-
inicial, outros genes são acionados, e alguns da getais), têm influência na germinação. É evi-
germinação, desligados ou reprimidos (Capítu- dente que, se o estudo está sendo realizado em
lo 6). Para estudos de “germinação” sob condi- laboratório, em uma placa de petri ou gerbox
ções de campo, entretanto, esse critério é bas- com substrato de papel, a influência biótica não
tante apropriado. Assim, a forma de contagem é significativa. Porém, em solo, ela pode tornar-
e os índices usados diferem. Por exemplo, a pri- se crítica (Capítulo 16).
meira contagem de germinação que analisa o Há ainda o “critério bioquímico”, que, por
vigor da(s) amostra(s) pode ser muito útil na meio de diferentes procedimentos experimen-
avaliação de amostras ou lotes de sementes. En- tais, quantifica variações no metabolismo geral
tretanto, quando se examina sob o ponto de do diásporo, como, por exemplo, testes de ativi-
vista da ecofisiologia da germinação, essa infor- dade enzimática e medidas de consumo de oxi-
mação torna-se insuficiente (ver a seguir). gênio. Um teste bastante empregado em se-

Germinação_13ok.p65 209 17/05/2004, 17:44


210 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

mentes é o uso de soluções aquosas de 2,3,5 mesmo de 6 horas (testes-piloto podem dar
tri-fenil tetrazólio. Esse sal, incolor em solução uma idéia da cinética do processo). Por
aquosa, quando colocado em contato com as exemplo, a 22oC, todo um lote de diásporos de
sementes viáveis é reduzido por desidrogenases alface pode germinar em 48 ou, no máximo,
do tecido vivo, adquirindo a cor avermelhada em 72 horas. Intervalos menores entre observa-
na semente. A coloração adquirida é proporcio- ções são apropriados em particular para experi-
nal à atividade enzimática, sendo utilizada mentos de germinação conduzidos em tempe-
como uma estimativa do grau de viabilidade raturas supra-ótimas, em que os processos me-
da semente. Embora apropriado para estimar tabólicos se encontram acelerados.
o grau de viabilidade, esse teste não permite As medidas de germinação podem ser re-
identificar se a semente vai ou não germinar, presentadas graficamente. As mais comuns re-
visto que sementes dormentes também podem lacionam germinação com temperatura, dispo-
apresentar expressiva atividade enzimática (Ca- nibilidade de água, luminosidade e concentra-
pítulo 6). Os critérios citados, assim como al- ção de fitormônios ou reguladores de cresci-
guns efeitos de origem biótica e abiótica na ger- mento. Quando plotadas em uma relação dose-
minação estão listados no Quadro 13.1. dependência, tais curvas representam o com-
portamento germinativo de dada espécie em
função do tratamento aplicado, assim como
GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA permitem comparar a germinação de diferentes
Associada à germinação está a dormência das espécies sob efeito de um mesmo tratamento.
sementes. Esse mecanismo regula o início da Contudo, antes de dar continuidade a esta dis-
germinação, tem uma forte relação espécie-es- cussão, vale relembrar algumas medidas bási-
pecífica e depende muito do tipo de ambiente cas utilizadas para quantificar a germinação.
em que a espécie ocorre (Labouriau, 1983). De
fato, a dormência determina o momento e o
local de germinação, além dos requerimentos MEDIDAS DE GERMINAÇÃO
e características desse evento. Em estudos em Múltiplas formas de medir a germinação fo-
que se investiga a cinética do experimento, deve ram desenvolvidas por diversos autores (Labou-
haver medidas diárias, de preferência na mes- riau, 1983). Dentre elas, a “germinabilidade”
ma hora, de forma que os intervalos entre obser- (%G) talvez seja a mais simples, representan-
vações se aproximem de 24 horas (o que é bas- do a porcentagem de sementes germinadas em
tante comum). Porém, dependendo da veloci- relação ao número de sementes dispostas a ger-
dade de germinação, observações e contagens minar sob determinadas condições experimen-
devem realizar-se em intervalos de 12, 8 ou tais:

Quadro 13.1 Fatores abióticos e bióticos que podem influenciar o critério de germinação de diásporos

Critério Fatores abióticos Fatores bióticos

Bioquímico Água, temperatura. Fitormônios.


Morfológico Temperatura, luz, água, vento, Microrganismos, aleloquímicos.
potencial matricial do substrato,
pH, nitratos.
Agronômico Todos os itens anteriores mais a Microrganismos (tanto por doenças como por
compactação do substrato. interferências químicas externas ao diásporo),
Presença de outras plantas aleloquímicos, presença de outras plantas, predação.
(competição e fatores físicos) e
fatores físicos do solo. Enterramento
muito profundo.

Germinação_13ok.p65 210 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 211

%G = (∑ni . N-1) . 100 2


tS =[∑ni . (ti –)2] / (∑ni – 1)

onde ∑ni é o número total de sementes germi- onde ni é o número de sementes germinadas

nadas em relação ao número de sementes dis- entre as observações ti-1 e ti, e t é o tempo mé-
postas para germinar (N), dados expressos em dio de germinação. A variação do tempo médio
porcentagem. A germinabilidade informa o nú- de germinação reflete a distribuição temporal
mero total de sementes germinadas, entretan- desta em torno da média, o que permite avaliar
to, não reflete quanto tempo foi necessário pa- se a germinação de dado conjunto de sementes
ra que as sementes atingissem tal porcentagem é uniforme (pequena variação) ou desunifor-
de germinação. Se dois ou mais lotes de se- me e irregular (grande variação).
mentes apresentam germinabilidade seme- Outra forma utilizada para quantificar a ci-
lhante, isso não quer dizer que o seu comporta- nética da germinação é o cálculo da velocidade

mento germinativo seja o mesmo. Os tempos e média (v ), que é simplesmente o inverso do
a distribuição da germinação podem ser dife- tempo médio de germinação:
rentes. Podem existir lotes ou sementes que ger- – –
v = 1 / t = ∑ni / ∑ni.ti
minam (ou emergem) mais rapidamente (em
geral, mais vigorosas) e outras cuja germinação A velocidade é expressa geralmente em
é mais lenta. Para essas situações, existem me- horas-1. Naturalmente, a velocidade média tam-
didas que quantificam a germinação sob um bém tem sua variação (vS2):
ponto de vista cinético, isto é, informam quanto
2 2 – 4
tempo foi necessário para determinado lote de vS = tS . (v )
sementes germinar. Um parâmetro bastante
– A variação da velocidade média é dada em
utilizado é o tempo médio de germinação (t ),
calculado pela equação a seguir: horas-2.
– Outro índice freqüentemente usado é o ín-
t = ∑ni . ti / ∑ ni dice de velocidade de germinação (Maguire,
1962), simbolizado por IVG, em que o número
onde ni é o número de sementes germinadas de sementes ou plântulas normais é contabili-
dentro de determinado intervalo de tempo ti-1 zado a cada dia:
e ti. Essa informação é comumente expressa
– IVG = G1/N1 + G2/N2 + ... Gn/Nn
em horas. O tempo médio (t ) corresponde à
média do tempo necessário para um conjunto
de sementes germinar, dando ao processo um Quando se considera o critério agronômico,
caráter cinético. Como será visto adiante, essas o IVG é substituído por IVE (índice de velocidade
medidas fornecem tanto as informações quanto de emergência); entretanto, o cálculo permane-
as vias metabólicas envolvidas no processo e ce o mesmo. Assim:
podem, por outro lado, permitir inferências G1, G2, ... Gn = número de diásporos
sobre estratégias de germinação de determina- germinados ou (no caso do IVE)
do lote ou mesmo de espécies sob diferentes E1, E2, ...En = número de plântulas normais
condições ambientais. Sendo a média uma me- na primeira, segunda até enésima ob-
dida de tendência central de um dado conjun- servação.
to de valores (no caso, o número de sementes N1, N2, ... Nn = número de dias (ou horas)
germinadas), existem medidas que quantifi- após a semeadura.
cam a dispersão dos valores em torno da mé-
dia, como a variação e o desvio-padrão. No caso Embora esse índice seja freqüentemente ex-
da germinação das sementes, esse parâmetro é presso sem unidade, a equação relaciona o nú-
a variação do tempo médio (tS2), expressa em mero de diásporos germinados (ou plântulas
horas2: emergidas) por unidade de tempo. Quanto

Germinação_13ok.p65 211 17/05/2004, 17:44


212 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

maior o IVG (IVE), maior a velocidade de ger- Sendo o caso, o CVG ou CVE deve ser calcu-
minação, o que permite inferir que mais vigoro- lado para cada repetição, e o resultado será um
so é o lote de sementes (Nakagawa, 1999). valor médio das repetições em porcentagem.
A velocidade de germinação também pode Quanto maior o valor numérico do CVG (ou
ser calculada pela fórmula apresentada por Ed- CVE), maior a velocidade de germinação, indi-
mond e Drapalla (1958), simbolizada por VG: cando que mais vigoroso é o lote ou a amostra
de diásporos em estudo (Nakagawa, 1999). Ob-
VG = (N1 G1 + N2 G2 +...+ Nn.Gn) /
serve que a interpretação a partir desses índices
(G1 + G2 +...+ Gn)
pode ser similar à interpretação obtida a partir

onde: do cálculo de v mostrado anteriormente.
G1, G2, ... Gn = número de sementes (ou
plântulas) germinadas no dia da obser-
INTERPRETAÇÃO DOS
vação (nas últimas 24 horas se as ob- RESULTADOS DE
servações forem diárias). GERMINAÇÃO
N1, N2, + ... + Nn = número de dias (horas)
Além da necessidade de estabelecer um deli-
após a semeadura.
neamento experimental apropriado para inves-
Essa equação também pode ser expressa tigar efeitos de tratamentos diversos na germi-
por: nação (Capítulo 11), também é fundamental,
K K
para chegar a conclusões corretas do trabalho,
VG =" Ni. Gi / " i=1 Gi uma apropriada interpretação dos resultados
i=1
obtidos. Essa etapa, com certa freqüência, não
Examinando-se cuidadosamente a fórmula recebe a atenção devida. O propósito deste ca-
de VG, verifica-se que ela é idêntica à fórmula pítulo não é ensinar ao leitor como interpretar
– os resultados, mas sugerir formas de interpreta-
de t ; logo, as interpretações também podem ser
similares (Santana e Ranal, 2000). Assim, ção, atentar para aspectos pouco observados na
– análise de gráficos e tabelas e buscar associar
quanto menor a VG ou o t , mais vigorosa poderá
ser considerada a amostra. Para cada repetição, resultados obtidos com experimentos de germi-
– nação a outros campos de investigação, como
calcula-se a VG ou o t e, ao final, tem-se um
valor médio entre as repetições do experimento a ecologia e a bioquímica.
(desde que realizadas sob as mesmas condi-
ções).
CURVAS DE GERMINAÇÃO
Quanto à velocidade de germinação, outra
maneira de quantificá-la, além da descrita ante- Conforme descrito, a germinabilidade (%G) re-
riormente, é pelo coeficiente de velocidade de presenta o número total de sementes germina-
germinação (CVG) ou de emergência (CVE), das sob determinada condição experimental.
sugerido por Kotowski (1926): Nesse contexto, tal medida pode ser utilizada
na comparação da germinação sob diferentes
K K
CVG ou CVE = [ " fi / " fi.xi] . 100 temperaturas de incubação, por exemplo (Fi-
i=1 i=1
gura 13.1).
Verifica-se, pelas curvas de germinação, que
onde: as quatro espécies apresentam germinabilida-
fi = número de sementes germinadas no des diferentes em função da temperatura de
i-ésimo dia. incubação. Por exemplo, a 25oC, sementes de
xi = número de dias contados desde a se- Salvia hispanica apresentam germinabilidade
meadura até o dia da leitura (i). próxima dos 60%, enquanto sementes das ou-
k = último dia de observação. tras espécies têm valores próximos de 100%.

Germinação_13ok.p65 212 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 213

100

80
Vicia graminea
Germinabilidade (%)

Pereskia acuelata
60
Calotropis procera
40 Salvia hispanica

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Temperatura (oC)

! Figura 13.1
Curvas de germinação de sementes de Calotropis procera (Labouriau e Valadares, 1976), Pereskia acuelata
(Dau e Labouriau, 1974), Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987) e Vicia graminea (Labouriau, 1970) em
um gradiente de temperatura.

Germinabilidade abaixo de 100% pode indicar característica adaptativa de V. graminea, visto


que as sementes não-germinadas encontram- que essa leguminosa ocorre em regiões de cli-
se inviáveis ou dormentes. Testes de viabilidade ma temperado como o extremo sul do Brasil, a
podem mostrar o que, de fato, está limitando a Argentina e o Chile. A distribuição geográfica
germinação sob dada condição. Se as sementes das espécies depende, em grande parte, da ca-
se encontram viáveis, pode-se inferir que são pacidade das suas sementes de germinar sob
dormentes. as condições climáticas predominantes.
Em outras temperaturas de incubação, ob- Ademais, como a germinabilidade depende
serva-se que a germinabilidade varia conforme do tempo de incubação, a duração dos ensaios
a espécie, havendo inclusive temperaturas (p. de germinação é importante para o estabeleci-
ex., 5, 15, 35oC) nas quais nem todas as espécies mento dos pontos cardeais. Pré-tratamentos,
germinam. Para cada espécie, existem tempera- como escarificação, também podem alterar as
turas-limite de germinação, isto é, temperatu- respostas (Labouriau, 1970). A não-germinação
ras abaixo ou acima das quais a germinação pode indicar que as sementes estão fora da faixa
não ocorre. Elas são, chamadas de temperatu- de temperatura apropriada para a germinação,
ras cardeais (Labouriau, 1983) e definem, para acima da temperatura máxima ou abaixo da
cada espécie, a faixa de temperatura na qual a mínima. Para verificar se as sementes não-ger-
germinação é possível. Tais intervalos são espé- minadas nas temperaturas extremas estão mor-
cie-específicos, o que reflete as características tas ou dormentes, sugere-se transferi-las para
de germinação da espécie e permite inferir a a faixa ótima de germinação e aguardar o re-
procedência ou o local de ocorrência da espécie sultado. Se germinarem, isso indica que a tem-
em estudo (Figura 13.1). Por exemplo, semen- peratura não era apropriada para a germinação.
tes de Pereskia acuelata, uma cactácea que ocorre Se não germinarem e, ao mesmo tempo, não se
em comunidades de restinga, germinam bem apresentarem deterioradas, recomenda-se tes-
em altas temperaturas (Dau e Labouriau, 1974). tes de viabilidade (Capítulo 18) para identificar
Em contraste, sementes de Vicia graminea não se elas estão mortas ou dormentes.
toleram altas temperaturas, mas germinam em A germinabilidade pode ser utilizada de for-
temperaturas abaixo de 5oC (Labouriau, 1970). ma similar em outros tipos de investigação, co-
Possivelmente, esses parâmetros refletem uma mo o efeito de fitormônios e luminosidade na

Germinação_13ok.p65 213 17/05/2004, 17:44


214 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

germinação das sementes. No exemplo a seguir, mentos conduzidos com sementes coletadas em
sementes de Schefflera (Didymopanax) morototoni, apenas uma época de produção, especialmente
coletadas em diferentes épocas do ano, foram de um único material genético (planta), podem
dispostas a germinar na presença do fitormônio induzir a erros ou interpretações limitadas.
cinetina (uma citocinina) na luz e no escuro Apesar de a germinabilidade oferecer infor-
(Figura 13.2). mações importantes sobre as características de
Essa análise permite identificar, por exem- germinação de um conjunto de sementes face
plo, qual a eficácia de um tratamento hormonal a determinado tratamento, ou mesmo permitir
em promover (ou inibir) a germinação de deter- uma discussão mais profunda sobre procedên-
minada espécie e, de maneira análoga aos efei- cia/local de ocorrência da espécie, uma análise
tos da temperatura descritos no exemplo ante- da germinação sob um enfoque cinético requer
rior, pode-se comparar o comportamento ger- outras formas de abordagens. Nesse sentido,
minativo de diferentes espécies ao fitormônio as curvas de tempo médio e de velocidade de
aplicado. Nesse caso, a aplicação de citocinina germinação permitem interpretações adicionais
promoveu a germinação, quando comparada ao desse processo fisiológico.
controle em água (C). Além disso, observa-se
que, na presença do fitormônio, as sementes
coletadas em junho apresentaram-se fo- TEMPO MÉDIO DE
toblásticas negativas, enquanto as coletadas em GERMINAÇÃO
setembro apresentaram-se afotoblásticas. Es- O tempo necessário para determinada amostra
sas observações permitem extrair outras infor- de sementes germinar depende, primariamen-
mações a partir da análise do gráfico. O foto- te, da espécie em estudo e das condições expe-
blastismo depende da época de coleta das se- rimentais ou ambientais nas quais as mesmas
mentes. Para plantas que apresentam uma fru- se encontram. Curvas de germinação que tra-
tificação que se estende por longa parte do ano, tam sobre o tempo médio ou o seu recíproco, a
como é o caso da espécie utilizada, o local e a velocidade média, podem ser plotadas sob dife-
época em que as sementes são produzidas tam- rentes maneiras. Quando, para efeitos de com-
bém são importantes (Figura 13.2). Esses resul- paração, o número de tratamentos é grande,
tados mostram que dados pontuais de experi- como o é o número de medidas de tempo médio
(ou velocidade média), costuma-se apresentar
tais medidas em função do tratamento aplica-
40 do. Esse caso pode ser exemplificado pela Fi-
C – Controle
35 L – Luz gura 13.3, que relaciona a velocidade de germi-
E – Escuro nação de sementes de Peltophorum dubium, uma
30
25 espécie de ampla distribuição nas matas de ga-
20
leria do Brasil Central, em função da tempera-
15
tura de incubação.
10
Como se pode observar, a velocidade média
de germinação cresce com o aumento da tem-
5
peratura até um máximo próximo dos 23oC. Em
0
C L L E L E temperaturas acima desse valor, a velocidade
Abril Junho Setembro começa a diminuir até a temperatura limite de
germinação, que se localiza entre 37 e 39oC.
! Figura 13.2
Efeito da cinetina (1 mg.L-1) na germinação de semen-
Esse tipo de estudo tem sido conduzido com
tes de Schefflera morototoni coletadas em diferentes diversas outras espécies cultivadas e nativas
meses do ano, incubadas sob condição de luz (L) e (Labouriau, 1983; Lima, Borghetti e Sousa,
escuro (E). C – controle em água. Adaptada de Franco 1997; Santos e Cardoso, 2001), e mostra que a
e Ferreira (2002). velocidade de germinação, assim como a ger-

Germinação_13ok.p65 214 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 215

100 30

25
80

Velocidade média de
Germinabilidade (%)

germinação (h-1. 10-3)


20
60
15
40
10

20
5

0 0
11 14 18 20 23 26 29 33 36 39
o
Temperatura ( C)

! Figura 13.3
Germinabilidade (%) e velocidade média de germinação (h-1.10-3) de sementes de Peltophorum dubium
coletadas no ano de 1998 no campus da Universidade de Brasília (L.A.Z Andrade et al., inédito).

minabilidade, depende das condições de incu- (-0,156 MPa) ficou em 32 horas, enquanto, sob
bação das sementes. estresse grave (-0,414 MPa), aumentou para
Das curvas de germinação podem ser obti- 40 horas. Percebe-se, pois, que os parâmetros
dos tanto o tempo médio de germinação quanto de tendência central em estudos de germinação
outros parâmetros de tendência central, como podem variar de forma distinta em função do
a moda (Figura 13.4). tratamento aplicado.
Embora não haja diferenças significativas A partir das medidas de tempo médio (e
entre os tratamentos quanto ao parâmetro ger- velocidade média) de germinação, diversas in-
minabilidade (entre 94 e 99%), observa-se na terpretações são possíveis. Por exemplo, pode-
Figura 13.4 que, sob estresse osmótico, o tempo se inferir que germinação rápida é característica
médio de germinação (identificado pelas barras de espécies cuja estratégia é se estabelecer o
verticais) de sementes de Mimosa bimucronata mais rápido possível ou quando oportuno, apro-
é progressivamente aumentado. Por outro lado, veitando condições ambientais favoráveis ao
no controle e com estresse moderado a moda desenvolvimento do novo indivíduo. Essa si-

60
Controle
Número de sementes

50
(-0,156MPa)
germinadas

40 (-0,414MPa)
30

20

10

0
0 24 32 40 48 56 64
Tempo (horas)

! Figura 13.4
Germinação de sementes escarificadas de Mimosa bimucronata. As barras verticais representam o tempo
médio de germinação para cada tratamento. Os potenciais osmóticos foram gerados com NaCl (Rodrigues,
Passini e Ferreira, 1999).

Germinação_13ok.p65 215 17/05/2004, 17:44


216 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

tuação pode ser criada, por exemplo, com a for- 1.000


mação de clareiras ou a ocorrência de chuvas.
800
Em contrapartida, a germinação rápida pode
ser imprópria ou não-estratégica ao estabeleci- 600
mento de uma espécie, por exemplo, germinar
em resposta a chuva errática e isolada durante

Entalpia de ativação (Kj . Mol-1)


400
a estação seca. As sementes germinadas pode-
riam perecer na continuidade da seca. 200
Efeitos da temperatura na cinética da ger-
0
minação podem ser abordados também sob um
290 300 310 320
ponto de vista bioquímico. Sabe-se que a ativi-
-200
dade de enzimas (assim como de qualquer ou- Temperatura (K)

tro evento metabólico que envolva proteínas) -400


tem uma forte dependência da temperatura de
incubação. Existem temperaturas nas quais a -600
velocidade de reação (enzimática) é máxima,
e outras nas quais o processo ocorre muito len- -800

tamente ou se encontra inibido. Consideran-


-1.000
do-se que a germinação das sementes pode ser
encarada como um somatório de reações par- -1.200
ciais concatenadas envolvendo enzimas diver-
sas, a velocidade desse processo fisiológico se- ! Figura 13.5
Variação de entalpia de ativação em função da tempe-
rá também dependente da temperatura de in- ratura na germinação de sementes de Sesamum in-
cubação das sementes, apresentando tempera- dicum (P.G. Carvalho e F. Borghetti, inédito).
turas nas quais a velocidade de germinação é
máxima, e outras nas quais a velocidade é re-
duzida ou em que a germinação não ocorre (Fi- se que a inibição da germinação em temperatu-
gura 13.3). Em uma abordagem termodinâmica ras abaixo do mínimo é reversível, enquanto o
(Labouriau, 1978; Labouriau e Labouriau, bloqueio da germinação por temperaturas de
1997), foi proposto que a desnaturação de pro- incubação acima do máximo é irreversível (-
teínas e a transição de fase de membranas po- Carvalho et al., 2001).
deriam estar entre os fatores limitantes da ger- Curvas de velocidade média de germinação
minação nas temperaturas próximas dos li- também podem ser representadas em função
mites mínimos e máximos de germinação. Am- do tempo de duração do experimento. Esse pro-
bos os eventos envolvem grande variação de cedimento é apropriado quando se pretende in-
entalpia de ativação, concordando com os va- vestigar a germinação não apenas em função
lores de entalpia calculados para as velocida- da velocidade média, mas também quanto à
des de germinação nas temperaturas infra e su- distribuição da germinação ao longo do tempo.
pra-ótimas da germinação para diversas espé- Nesse caso, as curvas podem ser apresentadas
cies (Labouriau e Osborn, 1984; Labouriau e ao menos sob duas formas: curvas cumulativas
Pacheco, 1979), como, por exemplo, Sesamum ou não-cumulativas da germinação. Como
indicum, o conhecido gergelim (Figura 13.5). exemplo do primeiro caso, pode-se observar a
De fato, foi comprovado experimentalmente curva de germinação de sementes de duas bro-
que a transconformação de proteínas está en- mélias de ocorrência em comunidades de res-
volvida na restrição da germinação, próximo tinga (Figura 13.6).
tanto da temperatura mínima (Labouriau, O gráfico representa o número acumulado
1980) como da temperatura máxima de germi- de sementes germinadas de duas espécies de
nação (Labouriau, 1977). Além disso, observou- bromélias a cada dia de observação. Diferente-

Germinação_13ok.p65 216 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 217

100

80
Germinabilidade (%)
60

40
Luz vermelha

20

0 48 96 144 192 240 288 336 384 432

Tempo (horas)

! Figura 13.6
Germinação cumulativa de sementes de Aechmea nudicaulis (linha contínua) e Streptocalyx floribundus
(tracejado) sob temperaturas alternantes de 20 a 30oC. As sementes foram incubadas sob luz vermelha (sím-
bolos abertos) ou no escuro (símbolos pretos). Após 240 horas de incubação no escuro, as sementes foram
expostas à luz vermelha (Pinheiro e Borghetti, 2003).

mente do exemplo anterior, a Figura 13.6 de curvas não-cumulativas, os dados de cada


permite visualizar a distribuição da germina- observação não são adicionados aos anteriores.
ção ao longo do tempo, o que possibilita iden- Aqui cabe uma nota de advertência. Recomen-
tificar o início e o fim da germinação para cada da-se remover as sementes germinadas da placa
espécie e/ou tratamento considerado. Por exem- de petri (gerbox, sementeira, etc.) para evitar
plo, a germinação das sementes de Aechmea nu- erros de contagem como pela não-contagem,
dicaulis, sob tratamento luminoso, iniciou-se que podem ocorrer tanto pela dupla contagem
após 96 horas de incubação, estendendo-se até de uma semente germinada.
aproximadamente 240 horas após o início do A partir das curvas de freqüência cumulati-
experimento. Comparando essa espécie com vas e não-cumulativas, diversas informações
Streptocalyx floribundus, observa-se que o período podem ser extraídas. O que pode informar um
de germinação de A. nudicaulis foi mais amplo, ou outro tipo de curva? Em si, a mesma coisa;
iniciando antes e finalizando após o período de porém, dependendo do que se quer destacar no
germinação de S. floribundus. Com esse gráfico, comportamento germinativo, usa-se uma ou
pode-se também verificar a germinabilidade outra (Figura 13.7).
(para o caso de A. nudicaulis foi cerca de 100%). Observa-se, no gráfico A, que a germinação
Além disso, é possível a comparação dos efeitos a 25oC apresenta uma distribuição próxima à
de diferentes tratamentos (luz versus escuro), sigmóide, caracterizando uma distribuição nor-
mostrando que a luz é necessária para a germi- mal da germinação. A germinação das semen-
nação de ambas as espécies. tes a 35oC apresenta-se similar àquela ocorrida
O uso de curvas de freqüência absoluta ou a 25oC, embora não tenha um aspecto sigmoi-
relativa da germinação é apropriado quando se dal. No entanto, quando a germinação é distri-
pretende analisar a distribuição da germinação buída em freqüência não-acumulada (B), a cur-
ao longo do tempo de duração do experimento. va de germinação a 35oC apresenta um padrão
Para a construção de curvas cumulativas, o nú- trimodal, bastante distinto de uma distribuição
mero de sementes germinadas em determinada normal (como aquela apresentada a 25oC), su-
contagem é somado ao número de sementes gerindo perda da sincronia no controle do pro-
germinadas contadas previamente. No preparo cesso (Labouriau, 1983).

Germinação_13ok.p65 217 17/05/2004, 17:44


218 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

35

30
Número de sementes

25
germinadas

20

15 25oC

10 35oC

0
0 3 6 9 12 15 18 21

Tempo (dias)

B
15
25oC

o
12 35 C
Número de sementes

9
germinadas

0
0 3 6 9 12 15 18 21

Tempo (dias)

! Figura 13.7
Germinação de sementes de Talinum patens sob duas temperaturas de incubação. (A): dados acumulados;
(B): dados não-acumulados ou freqüências (Rosa e Ferreira, 1998).

As Figuras 13.6 e 13.7 mostram o número tal, o número de sementes germinadas a cada
absoluto de sementes germinadas em função dia (ou intervalo de tempo utilizado) é dividido
do tempo de incubação. Esse tipo de gráfico po- pelo número total de sementes germinadas, mi-
de ser utilizado quando o número de sementes nimizando assim efeitos de diferenças no tama-
dispostas para germinar nos diferentes trata- nho das amostras e na interpretação do resultado.
mentos é similar (o que é recomendável). En- As curvas de germinação podem-se apre-
tretanto, quando o número de sementes utiliza- sentar sob as mais diversas formas; entretanto,
das nos tratamentos é diferente, sugere-se o elas podem ser identificadas por modelos de
uso de freqüência relativa de germinação. Para curvas já existentes. Por exemplo, a distribuição

Germinação_13ok.p65 218 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 219

temporal da germinação pode apresentar um esse tipo de comportamento tendem a estabele-


padrão normal (ou gaussiano), conforme o cer bancos de sementes persistentes, isto é,
exemplo mostrado na Figura 13.7 (25oC). Alter- aqueles cujo recrutamento ocorre de forma bas-
nativamente, a curva pode apresentar uma dis- tante espaçada no tempo. Esse tipo de banco é
tribuição leptocúrtica, quando a germinação comum em formações savânicas, desertos e am-
das sementes ocorre mais concentrada no tem- bientes que apresentam estresses ambientais,
po (o que resulta em uma baixa variação de como estação seca, e/ou imprevisíveis, como
germinação), ou uma distribuição platicúrtica, queimadas (Leck, Parker e Simpson, 1989). Se-
quando a germinação se apresenta bastante es- mentes de Solanum lycocarpum, uma espécie de
palhada no tempo (refletindo uma grande va- ampla distribuição no Cerrado, apresentam esse
riação de germinação). Um exemplo de distri- tipo de comportamento; a germinação se es-
buição platicúrtica é o comportamento germi- tende por meses, e a viabilidade se mantém alta
nativo de M. bimucronata sob potencial osmótico por anos (F. Borghetti, inédito). Em contraste,
mais grave (Figura 13.4). Assim, conforme o sementes com germinação rápida e uniforme,
tratamento recebido, uma mesma espécie pode o que reflete uma variação de germinação pe-
apresentar diferentes padrões de distribuição quena, em geral estabelecem bancos de semen-
da germinação (Figura 13.8). tes transientes, isto é, de curta duração. Esse
Estudos de germinação conduzidos com se- tipo de comportamento é típico de espécies que
mentes de Cassia excelsa, uma leguminosa da ocorrem em ambientes úmidos, como flores-
Caatinga amplamente utilizada na ornamenta- tas; normalmente as sementes são de curta
ção urbana, mostram que, em temperaturas ex- viabilidade e germinam prontamente quando
tremas, a germinação tende a apresentar um dispersas (Leck, Parker e Simpson, 1989). Di-
comportamento platicúrtico, enquanto, próxi- versas espécies da Amazônia apresentam esse
ma da faixa ou temperatura ótima, há uma ten- comportamento (I. Ferraz, comunicação pes-
dência da distribuição da germinação tornar- soal). Assim, a variação de germinação permite
se meso ou mesmo leptocúrtica. Polígonos de prever ou postular o comportamento germina-
freqüência têm sido utilizados amplamente tivo de dada espécie sob condições naturais. A
para avaliar efeitos de tratamentos diversos (em dinâmica do banco de sementes é discutida no
especial da temperatura) na distribuição tem- Capítulo 14.
poral da germinação para diversas espécies (La- Por outro lado, as curvas de distribuição
bouriau e Valadares, 1976; Lima, Borghetti e temporal da germinação sob diferentes tempe-
Sousa, 1997). De modo geral, a análise dos raturas (ou outros tratamentos) permitem infe-
polígonos de freqüência mostra que a variação rir sobre mecanismos moleculares envolvidos
da germinação, assim como a velocidade mé- no controle do processo. Sabe-se que a distri-
dia, também depende da temperatura de incu- buição normal (gaussiana) reflete a máxima
bação das sementes. Se for considerado que a incerteza de um sistema ou entropia informa-
temperatura no solo varia em função de diver- cional. A informação fornecida por esse tipo de
sos fatores, como profundidade, tipo e cor do curva sobre o sistema em estudo é mínima. En-
solo e incidência luminosa, a velocidade e a dis- tretanto, se a distribuição das freqüências é sig-
tribuição temporal da germinação das semen- nificativamente diferente de uma normal, isso
tes in situ também poderão ser completamente implica a existência de sinais que se sobrepõem
diferentes em função dos fatores que afetam a ao ruído (térmico) aleatório no controle da ger-
temperatura do substrato. minação (Labouriau, 1983). Esse caso se ma-
Uma grande variação de germinação sugere nifesta, por exemplo, em padrões de germina-
que, sob condições naturais, a germinação pode ção leptocúrticos, quando grande parte das se-
se estender de dias a meses, desde que os diás- mentes germina em um curto espaço de tempo.
poros se mantenham viáveis no substrato em Esse tipo de curva sugere que a germinação não
que se encontram. Espécies que apresentam está ocorrendo ao acaso no lote em estudo, mas

Germinação_13ok.p65 219 17/05/2004, 17:44


220 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

80 12oC
60 Nt = 9
40 Tm = 19,08
20
0
80 o
15 C
60 Nt = 164
40 Tm = 12,37
20
0
80
18oC
60
Nt = 187
40 Tm = 6,11
20
0
80
60 21oC
Nt = 188
40
Freqüência relativa (%)

Tm = 4,12
20
0
80
24oC
60
Nt = 177
40 Tm = 3,05
20
0
80
60 27oC
40 Nt = 185
20 Tm = 3,13
0
80
30oC
60 Nt = 193
40 Tm = 7,72
20
0
80 o
33 C
60
Nt = 187
40
Tm = 8,87
20
0
80 o
60 36 C
Nt = 174
40
Tm = 11,92
20
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27

Tempo (dias)
! Figura 13.8
Freqüências de germinação das sementes de Cassia excelsa sob diferentes temperaturas de incubação (Jellez
e Perez, 1999).

sim respondendo a algum mecanismo de con- sob temperaturas extremas e tende a ser maior
trole da germinação que resulta na sincroniza- quanto mais próxima a temperatura de incuba-
ção do processo. ção estiver da faixa ótima para a germinação
Diversos estudos têm estimado o grau de (Tabela 13.1).
sincronismo na germinação das sementes, nor- O predomínio de distribuições de freqüên-
malmente sob diferentes temperaturas de incu- cia não-gaussianas (e polimodais) da germina-
bação. De modo geral, o sincronismo é menor ção das sementes sob temperaturas extremas

Germinação_13ok.p65 220 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 221

Tabela 13.1 Alguns parâmetros da distribuição de freqüências isotermas dos tempos médios de
germinação de sementes de Salvia hispanica (Labouriau e Agudo, 1987)

Índice de Kolmogorov-
Temperatura Moda sincronização Smirnov
(oC) (horas) (U, em bits) Dmax.105 Assimetria (G1) Curtose (G2)

4,2 1198 2,05 47336 * 2,273 4,785


6,7 384 6,47 16948 * 1,129 0,860
9,9 184 5,57 20036 * 1,208 0,365
12,0 96 3,67 11215 * -0,275 -0,764
13,9 72;88 3,66 17915 * 0,751 -0,876
16,2 56 3,42 30592 * 1,597 1,517
18,4 40 2,95 34666 * 2,074 3,720
22,2 32 2,33 32297 * 1,583 1,445
23,2 24 2,27 31828 * 1,750 1,595
24,8 24 1,99 34339 * 2,778 8,051
26,7 24 2,03 35473 * 2,680 7,566
28,1 16 1,80 36301 * 1,405 0,004
30,2 16 1,70 33957 * 1,576 1,173
32,3 16 1,76 34404 * 1,570 1,175
35,2 24 2,03 25735 * 1,101 -0,046
37,9 24 2,83 14129 NS -0,991 1,185
39,3 64 2,94 27312 * 0,461 -1,578

mostra, por exemplo, a heterogeneidade fisioló- BIBLIOGRAFIA SELECIONADA


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Germinação_13ok.p65 221 17/05/2004, 17:44


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ECOLOGIA
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Germinação_14ok.p65 223 17/05/2004, 17:44


C A P Í T U L O 1 4

DISPERSÃO E BANCO
DE SEMENTES
Jarcilene S. Almeida-Cortez

A dispersão de sementes representa a última vento freqüentemente são alados ou possuem


fase do ciclo reprodutivo das plantas, sendo estruturas (plumas) que aumentam a razão su-
também crítica na regeneração de populações perfície/volume, reduzindo a velocidade de que-
e comunidades naturais (Janzen, 1970). Disper- da. Diásporos dispersos por animais comumen-
são refere-se à retirada ou liberação dos diás- te apresentam apêndices comestíveis ou algum
poros, partes reprodutivas da planta-mãe como tipo de polpa que servem de atrativos aos agen-
frutos, sementes, bulbos e plântulas, e ao seu tes, que os ingerem como parte de sua dieta e,
deslocamento para outros sítios (Howe e Small- mais tarde, liberam as sementes no ambiente;
wood, 1982). A dispersão aumenta as chances as sementes podem ainda ser coletadas,
de sobrevivência de sementes e plântulas, tanto escondidas (enterradas) e, por vezes, esqueci-
por evitar condições freqüentemente desfavorá- das pelo coletor. Outros diásporos são dispersos
veis encontradas próximas à planta-mãe (como aderidos ao pêlo do animal por meio de estru-
a elevada competição entre plântulas e o ataque turas especializadas como ganchos e envoltório
de patógenos e predadores) como também por aderente. As síndromes de dispersão são defi-
aumentar as chances de recrutamento em lo- nidas com base nas características estruturais
cais propícios para o estabelecimento de novos dos frutos e sementes. Pode-se também classi-
indivíduos (Capítulo 15). Os processos envolvi- ficar os agentes de dispersão em abióticos (ven-
dos na dispersão criam padrões de distribuição to, água, peso) e bióticos (mamíferos, aves, rép-
espacial das plantas adultas, que, em contra- teis, peixes, formigas).
partida, dependem desses processos. Portanto,
a dispersão de sementes é uma estratégia que
aumenta a probabilidade de recrutamento em SÍNDROMES DE DISPERSÃO
ambientes ou locais mais apropriados para o Existem diversas síndromes de dispersão, fre-
desenvolvimento da futura planta (Willson e qüentemente associadas a pelo menos um de-
Traveset, 2000). terminado agente dispersor.
Considerando a dispersão como um evento
vantajoso, pode-se esperar que os diásporos Anemocórica
apresentem adaptações que a facilitem. Carac- É o tipo de dispersão que utiliza as correntes
terísticas morfológicas associadas à dispersão de ar para o transporte de diásporos leves e que
freqüentemente são evidentes nos diásporos, apresentam adaptações morfológicas para re-
sendo interpretáveis de imediato. Entretanto, duzir seu peso específico, como papus (modifi-
algumas características, como a presença de flu- cação do cálice, como ocorre em espécies de As-
tuadores (sementes dispersas pela água), teraceae), cálice persistente, alas membraná-
podem ser menos óbvias (Willson e Traveset, ceas circulares ou parciais (como ocorre em Kiel-
2000). Sementes e frutos transportados pelo meyera coriacea – pau-santo – e Tabebuia spp. –

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ipês), pêlos longos ou cerdas (como em Erio- Hidrocoria


theca sp.) entre outras adaptações. A anemoco- Sementes dispersas pelo deslocamento da
ria ocorre em um grande número de famílias e água da chuva, nos rios, em enchentes e corren-
está distribuída na maior parte dos habitats (- tes marítimas, possuem estruturas adaptadas
Oliveira e Moreira, 1992; Griz, Machado e Ta- à dispersão pela água, como câmaras de reten-
barelli, 2002). Algumas espécies, como diversas ção de ar ou camadas de células especializadas
orquídeas, produzem sementes extremamente para isso. Em relação ao transporte dos diás-
pequenas como forma de se beneficiarem da poros pelas correntes marítimas, destacam-se
ação das correntes de ar. As unidades de disper- as espécies de Arecaceae, sendo o representante
são anemocóricas podem ser classificadas, se- mais conhecido o coco (Cocus nucifera). Espécies
gundo Augspurger (1986), em: flutuante (Pseu- de manguezais (Rhizophora mangle e Laguncu-
dobombax pubescens – Bombacaceae), planadora laria racemosa) e da Amazônia (Swartzia polyphy-
(Aspidosperma macrocarpon, A. pyrifolium – Apo- lla, Pentaclethra macroloba) também utilizam esse
cynaceae), autogiro (Baristeriopsis latifolia, Janu- mecanismo de dispersão. Em alguns casos, os
sia schwannioides – Malpighiaceae), autogiro ro- diásporos também podem envolver a participa-
tativa (Dalbergia violaceae – Papilionoideae; Pa- ção de agentes como peixes (Ficus spp., Bertho-
rapiptademia zehntneri Mimosoideae), helicóptero lletia excelsa), caracterizando assim a zoocoria.
(Eremanthus glomerulatus – Asteraceae; Myracro-
druon urundeuva – Anacardiaceae) e acrobata Zoocoria
(Combretum pysonioides – Combretaceae). Dispersão feita por animais, podendo ser
dividida em epizoocoria e endozoocoria. A pri-
Balística
meira compreende plantas produtoras de fru-
Dispersão que ocorre por meio de mecanis- tos e sementes com mecanismos especiais como
mos especiais ligados à abertura das valvas do ganchos, pêlos ou substâncias pegajosas que
propágulo, que, ao se romperem, expelem as se prendem ao pêlo do animal a fim de serem
sementes para longe da planta-mãe (Bauhinia transportadas. Como exemplo, temos Pavonia
bongardi, Indigofera truxillensis). Griz e Machado spp., Sida spp. e Desmodium spp. (carrapicho e
(2001), estudando síndromes de dispersão em pega-pega) e Bidens spp. (picão). A endozooco-
uma área de caatinga, observaram que espécies ria está representada por espécies que produ-
de Euphobiaceae apresentaram dispersão “ba- zem diásporos com algum atrativo ao consumo,
lística pela chuva”. As autoras constataram que como arilo ou polpa carnosa, por exemplo,
este tipo de dispersão está relacionado com a Caryocar brasiliensis (pequi), Xylopia aromatica,
umidade do habitat em floresta tropical seca. Miconia spp., Psychotria spp., Eugenia dysenterica
(cagaita), etc. Podem também servir de atrati-
vos cores vistosas, como o vermelho e o preto
Barocoria
em sementes de tento (Ormosia paraensis), ou o
A barocoria caracteriza-se pela separação do
azul-escuro e o branco em sementes de Abarema
diásporo da planta-mãe por ação do peso. Para
sp., leguminosas de ocorrência na Amazônia.
muitos pesquisadores, esse processo não carac-
Outras espécies produzem diásporos com cheiro
teriza um tipo de dispersão, por não envolver
forte, como a lobeira (Solanum lycocarpum). To-
nenhum tipo de agente ambiental. Está repre-
das essas estratégias visam atrair animais que
sentada por aquelas plantas possuidoras de fru-
ingerem os frutos e sementes e as transportam
tos pesados que, normalmente, caem junto da
para outros sítios normalmente distantes da
planta-mãe, e ali as sementes germinam (Ana-
planta-mãe. Aves e mamíferos são os agentes
denanthera colubrina). Uma vez no chão, entre-
dispersores de sementes mais comuns nos
tanto, as sementes podem ser transportadas para
neotrópicos. A relação entre os vertebrados e
outros locais por animais, geralmente roedores,
as plantas frutíferas é tão importante que, em
caracterizando uma forma ativa de dispersão.
algumas áreas tropicais, cerca de 90% das es-

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GERMINAÇÃO 227

pécies arbóreas são zoocóricas. Dentre os ma- zam a dispersão primária e a secundária. A dis-
míferos dispersores, os ungulados são particu- persão primária ocorre quando o diásporo se
larmente importantes na distribuição de gran- desprende da planta-mãe e atinge um de-
de quantidade de sementes, transportando-as terminado sítio por meio de apenas um agente
a grandes distâncias. No quadro 14.1, estão dispersor. Quando o processo de dispersão en-
listados tipos de dispersão, grupo(s) taxonô- volve mais de um agente, o segundo agente ca-
micos envolvidos e algumas características dos racteriza a dispersão secundária, pois é um mo-
diásporos associados ao tipo de dispersão. vimento que sucede a primária. Como exem-
Vale lembrar que os carnívoros também são plo, temos as sementes de lobeira. Os frutos
dispersores e se deslocam a grandes distâncias, dessa planta são consumidos pelo lobo-guará,
como Chrysocyon brachyurus, o conhecido lobo- que defeca em ambientes normalmente abertos
guará (Lombardi e Motta-Júnior, 1993), embo- (dispersão primária). As sementes presentes
ra existam poucos estudos relatando a disper- nas fezes do lobo podem tanto germinar como
são por carnívoros que usam frutos em sua dieta. ser removidas por formigas cortadeiras (Atta
spp.) e transportadas aos respectivos formiguei-
ros (dispersão secundária), onde pode ocorrer
DISPERSÃO PRIMÁRIA E o recrutamento de indivíduos de lobeira (Pin-
DISPERSÃO SECUNDÁRIA to, 1998). Plantas que apresentam síndrome do
Às vezes, a dispersão de frutos e sementes é tipo barocórica (primária) geralmente têm seus
bem mais complexa do que se pode imaginar, frutos transportados por roedores (secundária),
podendo envolver mais de uma etapa até atingir isto é, quando as sementes de exocarpo duro
um local para a germinação e o estabelecimento são carregadas a outros sítios. Sementes que
de um novo indivíduo. Essas etapas caracteri- foram previamente enterradas podem ser de-

Quadro 14.1 Síndromes de dispersão zoocóricas de acordo com o grupo taxonômico responsável pela
dispersão

Síndrome Agente Características dos propágulos

Ornitocórica aves Frutos bacóides ou drupóides, de cores vistosas como vermelho,


amarelo a laranja, azul a roxo, preto e branco, recobertos por arilo ou
polpa, ricos em lipídeos e/ou proteínas
Mamaliocórica mamíferos Presença de proteção resistente à mastigação, com arilo ou polpa
carnosa e freqüentemente aromática; ricos em proteínas, carboidratos
e/ou lipídeos, cores como marrom, verde, laranja, amarelo e branco
Quiropterocórica morcegos Diásporos grandes ou pequenos, geralmente pendentes, polpa
carnosa aromática, comumente verde ou verde-amarelada, amarela,
branca
Primatocórica primatas Frutos grandes (> 14 mm), de cor marrom, verde, laranja ou amarela,
geralmente protegidos por uma película
Saurocórica répteis Típico de espécies basicaulicárpicas, frutos se desenvolvem no caule,
próximos ao chão
Diszoocórica pequenos roedores Geralmente são plantas arbustivas portadoras de bagas ou pequenas
drupas que são consumidas e transportadas, podendo, por vezes, ser
enterradas
Mirmecocórica formigas Com elaiossomo ou arilo, ricos em lipídeos; tanto dispersão
primária como secundária
Antropocórica ser humano Em geral, têm importância econômica

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228 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

senterradas e enterradas novamente em outros um parâmetro importante para a eficiência da


locais. Nem as sementes que passaram pelo tra- anemocoria. Quanto maior a altura de libera-
to digestivo dos dispersores vertebrados esca- ção da semente, maior o tempo de vôo e maior
pam do transporte para outros locais por car- a distância de dispersão. De modo geral, a ve-
nívoros que se alimentam dos herbívoros ou locidade do vento também aumenta com a dis-
por animais que usam as fezes como fonte de tância do solo, tanto que, em ambiente de flo-
recurso alimentar. resta tropical, a anemocoria está associada a
A importância da dispersão secundária é o árvores emergentes, trepadeiras e lianas (Jan-
rearranjo do padrão de distribuição espacial das zen, 1980; Gentry, 1983; Mantovani, 1993). Em
sementes, favorecendo, com isso, o recruta- áreas de clima sazonal, a dispersão pelo vento
mento em pequenos habitats com maiores é mais comum durante a estação seca, pois a
chances de sobrevivência, o que pode gerar um umidade dificulta a liberação das sementes e
grande impacto nos padrões de estabelecimento afeta a estrutura das alas e das plumas carac-
das plantas (Capítulo 15). Em contrapartida, di- terísticas desse tipo de síndrome. Formações
versos roedores pequenos costumam enterrar vegetais em ambientes de sazonalidade bem-
suas sementes em buracos profundos ou em definida, como o Cerrado, apresentam maior
troncos ocos, os quais definitivamente não são freqüência de anemocoria durante a estação
locais favoráveis ao estabelecimento de plântulas. seca, em contraste com a maior frutificação de
espécies zoocóricas durante a estação chuvosa
(Oliveira e Moreira, 1992; Griz, Machado e Ta-
SÍNDROMES DE DISPERSÃO barelli, Machado, 2001; Barbosa, Silva e Barbo-
NOS DIFERENTES HABITATS sa, 2002; Griz et al., 2002).
O predomínio de determinado mecanismo de A anemocoria provavelmente surgiu de for-
dispersão em dado habitat sugere que pressões ma independente entre as famílias de lenhosas
proporcionadas pelos agentes dispersores e pe- tropicais, visto ocorrer em grupos filogenetica-
las condições físicas do ambiente tenham atua- mente distantes como Apocynaceae, Bignonia-
do na seleção das espécies com determinadas ceae, Bombacaceae, Caesalpinoideae, Combre-
estratégias de dispersão (Howe e Smallwood, taceae, Dipterocarpaceae, Faboideae, Malpig-
1982). Na vegetação tropical úmida, como a hiaceae, Mimosoidae, Papilionoidae, Sapinda-
Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, a dis- ceae e Sterculiaceae (Janzen, 1980; Barbosa,
persão ocorre com maior freqüência por meio Silva e Barbosa, 2002; Griz, Machado e Tabare-
biótico que por vetores abióticos. Nas florestas lli, 2002). A convergência no formato dos diás-
tropicais secas, principalmente no período de poros é bastante notável, e uma grande varieda-
estiagem, há maior percentual de espécies com de de estruturas contribui para os mecanismos
síndromes de dispersão associadas a meios de vôo e flutuação (Oliveira e Moreira, 1992;
abióticos, como o vento. Griz, 1996). Em florestas pluviais tropicais, as
A dispersão pelo vento em formações tropi- sementes dispersas pelo vento, em geral, são
cais está geralmente associada às espécies pio- encontradas nas espécies de dossel, em trepa-
neiras (Janzen, 1988), aos ambientes mais se- deiras e epífitas. No estrato inferior, a anemo-
cos e/ou sazonais (Oliveira e Moreira, 1992; Griz coria não ocorre pelo simples fato de haver es-
e Machado, 2001; Barbosa, Silva e Barbosa, cassez de vento nesse ambiente. Entretanto, há
2002), às áreas de vegetação mais abertas várias trepadeiras tropicais cujas sementes são
(Howe e Smallwood, 1982; Marques, 2001), aos dispersas pelo vento quase independentemente
estratos superiores da vegetação (Mantovani, do seu habitat, como em Apocynaceae, Ascle-
1993) ou, ainda, a determinadas formas de vida piadaceae e Bignoniaceae (Janzen, 1980).
(Janzen, 1980; Gentry, 1983; Marques, 2001). A anemocoria envolve pouco investimento
Oliveira e Moreira (1992) observaram que, no energético por parte da planta-mãe na formação
Cerrado, a altura da liberação das sementes é do propágulo e não fica na dependência de ani-

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GERMINAÇÃO 229

mais dispersores. Todavia, não está claro até que (1993) inferiu que, por mais eficiente que seja
ponto a (normalmente maior) quantidade de a forma de dispersão, há normalmente um acú-
sementes dispersas pelo vento compensa a perda mulo de sementes próximas à planta-mãe, o
de exatidão e direcionamento conseguidos por que atrai grande número de herbívoros, favore-
outros mecanismos de dispersão, como a zoo- ce a ação de patógenos e acarreta uma competi-
coria. Houve uma forte seleção para a ocorrência ção intra-específica intensa entre as plântulas.
de sementes grandes – característica morfológica Diversos fatores ecológicos podem ter seleciona-
que não favorece a dispersão pelo vento – em do formas de dispersão, e algumas hipóteses
ambientes de floresta, visando aumentar a ca- visam explicar as vantagens da dispersão (Qua-
pacidade de a plântula sobreviver ao desfolha- dro 14.2). Essas hipóteses não são excludentes
mento, à baixa luminosidade e à competição por e todas podem ser aplicadas às espécies como
recursos (Janzen, 1980; Capítulo 15). vantagens da dispersão.
Em florestas neotropicais, de 50 a 90% das Se, por um lado, a mortalidade de plântulas
árvores de dossel e aproximadamente 100% dos sob a copa da planta-mãe é grande, devido
arbustos e árvores de sub-bosque possuem fru- inclusive à alta densidade de sementes nesses
tos adaptados à dispersão por animais (Howe locais, por outro, em distâncias crescentes a par-
e Smallwood, 1982). O predomínio de zoocoria tir da planta-mãe, a mortalidade tende a dimi-
entre plantas lenhosas da Mata Atlântica foi nuir, mas também a densidade de sementes
encontrado por diversos autores (Mantovani, (Figura 14.1; Janzen, 1970). Isso pode favorecer
1993; Silva e Tabarelli, 2000; Marques, 2001). e explicar o estabelecimento de plântulas de
Silva e Tabarelli (2000) constataram que, na diferentes espécies em uma mesma área, resul-
Mata Atlântica, ao norte do rio São Francisco, tando em uma diversidade cujos efeitos têm
33,8% das espécies estavam associadas à disper- magnitude variada para cada espécie (Capítulo
são por grandes vertebrados. Mantovani (1993) 15). Todavia, a mortalidade de sementes e plân-
observou que espécies típicas de sub-bosque da tulas em uma relação densidade-dependente
Mata Atlântica, no Estado de São Paulo, apre- não é seguramente suficiente para explicar a
sentavam síndromes de dispersão zoocórica, se- grande diversidade de espécies em florestas tro-
ja através de frutos carnosos ou de sementes picais.
com estruturas favoráveis a esse tipo de disper- Em se tratando das hipóteses da dispersão
são. Em um estudo acerca da dinâmica de dis- (Quadro 14.2), a “hipótese de fuga” propõe que
persão em espécies ocorrentes em uma área de pequenos habitats sob e fora da copa de árvores
planície litorânea, Marques (2001) observou em frutificação são idênticos, exceto para inte-
que 74 e 49% das espécies da floresta de restinga rações bióticas formadas pela grande quantida-
e de restinga arbustiva, respectivamente, eram de de sementes caída próxima do indivíduo pa-
dispersas por animais, destacando a família rental. Nesse sentido, seria estratégico que a
Myrtaceae, cujas espécies presentes na área de espécie evitasse a dispersão muito próxima da
estudo eram 100% zoocóricas. No Cerrado, em planta-mãe (Howe e Smallwood, 1982).
particular nas matas de galeria, a zoocoria (es- A “hipótese de colonização ou perturbação”
pecialmente a ornitocoria) também foi observa- propõe que a maior vantagem da distância na
da como uma síndrome de dispersão predomi- disseminação de sementes é a ocupação de ha-
nante (Mantovani e Martins, 1988; Melo, Ben- bitats diferentes daqueles onde os parentais se
to, Oliveira, 2003). encontram (Howe, 1986). Algumas espécies
têm requerimentos especiais para a germinação
e o estabelecimento, que são encontrados ape-
CONSEQÜÊNCIAS DA nas em raros locais, como uma clareira no dos-
DISPERSÃO DE SEMENTES sel da floresta ou uma área perturbada no sub-
Analisando a estrutura e a dinâmica de espécies bosque (Howe e Smallwood, 1982). Espécies
em trechos da Floresta Atlântica, Mantovani colonizadoras podem apresentar duas estraté-

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230 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Quadro 14.2 Hipóteses que visam explicar as dispersas, pois o estabelecimento é pouco pro-
vantagens da dispersão de propágulos vável sob a copa da planta-mãe ou de espécies
Hipótese de fuga: dispersão a maiores distâncias tende
competitivas presentes no local. Associada à
a afastar a progênie da alta mortalidade comum nas dormência, a dispersão tende a aumentar a pro-
proximidades dos indivíduos parentais. babilidade de que, pelo menos, alguns descen-
Hipótese de colonização: ocupação de áreas abertas e dentes encontrem locais apropriados para seu
outros habitats ainda não colonizadas pela espécie, au- estabelecimento.
mentando as chances de estabelecimento de novos in- A terceira hipótese, da “dispersão direcio-
divíduos.
nada”, questiona a eficiência da dispersão ao
Hipótese de dispersão direcionada: ocupação de pe- acaso (como a anemocoria) e as implicações des-
quenos habitats normalmente raros no ambiente e, às
se processo caso as sementes não se depositem
vezes, necessários para o estabelecimento de plântulas
de determinadas espécies. em local favorável ao estabelecimento da plân-
tula. Normalmente, não é aplicada às espécies
zoocóricas, exceto para as espécies com dispersão
secundária, como por formigas (Howe, 1986).
gias para ocupar rapidamente locais abertos:
(1) sementes pequenas, típicas de diversas
espécies herbáceas, que permanecem dormen- CHUVA DE SEMENTES
tes no solo até que um evento imprevisível, A chuva de sementes compreende os eventos
como a abertura de clareira devido à queda de relacionados à dispersão de diásporos e a área
uma árvore (Holthuijzen e Boerboom, 1982), o abrangida por esse processo até o estabeleci-
fogo ou o desabamento de terra, promova a mento da plântula. A síndrome de dispersão
germinação; (2) sementes grandes que germi- varia enormemente de acordo com seu poten-
nam e permanecem, como plantas jovens, no cial. Os fatores relacionados à dispersão pelo
sub-bosque, prontas para continuarem a cres- vento e por vertebrados podem virtualmente
cer tão logo haja a abertura de uma clareira. levar sementes a grandes distâncias da planta-
Sementes sem dormência também precisam ser mãe, enquanto a dispersão por formigas e a ba-
lística geram chuvas de semente mais curtas.
Willson (1983) demonstrou que, em espécies
Alta herbáceas, o pico e a distância máxima de dis-
Densidade de sementes
persão são grandes e que a curva da distribui-
ção de sementes é menos abrupta para as es-
pécies anemocóricas e balísticas, comparadas
com as espécies que não dispõem de diásporos
Probabilidade de sobrevivência com artifícios especiais de dispersão. Vale salien-
tar que existe uma grande variação no potencial
de dispersão dentro de cada mecanismo conheci-
do. A anemocoria sofre significativa influência
da estrutura física do ambiente em relação a ou-
tros tipos de dispersão, como a biótica, que são
Baixa
Distância da planta matriz
mais influenciadas pela densidade inicial da
chuva de sementes, pela proximidade da planta-
! Figura 14.1
mãe e pelas condições biológicas do meio.
Gráfico representativo da distância ótima de dispersão
para o estabelecimento de plântulas de acordo com Em espécies que apresentam dispersão zoo-
a “hipótese de fuga”. Densidade de sementes (-). Pro- córica, as características dos diásporos e os hábi-
babilidade de recrutamento de plântulas (..) Relação tos dos animais influenciam a chuva de semen-
sobrevivência de semente/plântula (—). Adaptada de tes. O tamanho relativo das sementes e das es-
Barbour e colaboradores (1999). truturas das asas ou plumas pode ter um efei-

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GERMINAÇÃO 231

to bem mais evidenciado na chuva de semen-


tes das espécies anemocóricas (Sacchi, 1987). Chuva de sementes
A composição química e o tamanho do elaios-
somo, em sementes mirmecóricas, podem in-
fluenciar a sua taxa de remoção, bem como o
grupo de formigas dispersoras e a direção da
dispersão (Horvitz e Schemske, 1986). A disper-
são de frutos suculentos por vertebrados forra-
Banco de sementes
geadores gera chuvas de sementes distintas da-
quelas produzidas por frugívoros alados, como
aves e morcegos (Howe, 1986).
Acredita-se que as plantas exercem um cer-
to tipo de controle sobre a chuva de sementes
produzida pelos frugívoros, por meio de com- Germinação Danos físicos
postos secundários de ação laxativa ou consti-
pativa presentes na polpa do fruto, afetando o
tempo de retenção no trato digestivo do dis-
Perda da viabilidade Predação
persor. Esse tempo, associado a outros fatores
(Traveset, 1998), pode afetar também os parâ-
metros de germinação, como a germinabilidade ! Figura 14.2
Esquema da dinâmica do banco de sementes no solo.
e a taxa de germinação dos diásporos ingeridos. Adaptada de Luken (1990).

BANCO DE SEMENTES
Banco de sementes pode ser definido como sen- As entradas e as saídas do banco contro-
do o estoque de sementes viáveis existentes no lam diretamente a densidade, a composição de
solo, desde a superfície até as camadas mais espécies e a reserva genética. Geralmente, uma
profundas, em uma dada área e em um dado (ou poucas) espécie(s) predomina(m) no ban-
momento. O acúmulo de sementes no banco co (Holthuijzen e Boerboom, 1982; Garwood,
varia de acordo com a entrada (dispersão) e saí- 1989). O predomínio de sementes de gramí-
da (germinação, morte) de sementes (Figura neas, de espécies arbustivas e de herbáceas no
14.2). O banco pode ser formado por sementes banco de florestas tropicais reflete o importante
alóctomas (originárias de outros locais) e/ou papel dessas formas de vida na composição da
autóctomas (sementes das espécies do local). vegetação nos primeiros estágios da sucessão
A incorporação de novas sementes ao banco (Young, Ewel, Brown, 1987).
varia amplamente ao longo do ano, e a suces- A composição do banco de sementes varia
são é provavelmente regulada por padrões sa- ao longo das estações do ano. Além disso, em
zonais de ingresso de sementes (Young, Ewel e função da longevidade dos diásporos, os bancos
Brown, 1987). Além das saídas do banco, por podem ser caracterizados como transitórios, ou
exemplo, via germinação, processos bióticos e seja, formados por sementes de curta viabilida-
abióticos podem ocasionar nova dispersão ou de, e persistentes, compostos por sementes de
movimentação das sementes às camadas mais maior longevidade sob condições naturais.
profundas do solo. Predação, patógenos e enve- Estudos efetuados por Gorresio-Roizman
lhecimento natural podem ocasionar a mortali- (1993) no banco de sementes, em trechos de
dade de sementes, reduzindo, assim, a densida- florestas pluviais tropicais em São Paulo indi-
de no banco. O banco de sementes é, portanto, caram que, no banco de semente transitório,
produto dos eventos bióticos e abióticos que havia um predomínio de sementes grandes,
ocorrem no ambiente. com curta longevidade, altas taxas de recruta-

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232 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

mento de plântulas e elevada taxa de mortalidade, um banco persistente tornam-se muito impor-
enquanto o banco persistente era composto predo- tantes para o estabelecimento em clareiras onde
minantemente por sementes de espécies arbóreas. não houve chuva recente de sementes. No en-
Diferenças nas características de dispersão tanto, para a maioria das espécies, a regenera-
e de dormência das sementes refletem as varia- ção a partir de sementes enterradas a uma certa
ções espacial e temporal na composição do ban- profundidade depende de algum tipo de pertur-
co de sementes. Por meio de uma revisão da bação do solo, pois sementes muito pequenas
literatura acerca dos padrões de síndromes de só conseguem emergir se estiverem na superfí-
dispersão e do banco de sementes do ecossis- cie ou a poucos centímetros de profundidade
tema caatinga, Barbosa, Silva e Barbosa (2002) (Holthuijzen e Boerboom, 1982; Baider, Taba-
concluíram que as espécies autocóricas e zoo- relli e Mantovani, 1999). Estudando a influên-
córicas apresentaram características relaciona- cia da densidade e a composição de espécies
das à formação de banco de sementes perma- lenhosas no banco de sementes na Mata Atlân-
nente, ao contrário das anemocóricas, que ge- tica, no sudeste do Brasil, Baider, Tabarelli e
ralmente não formam banco de sementes. Mantovani (2001) constataram que o banco
Sementes presentes no solo de florestas tro- não continha sementes médias e grandes de
picais podem ser uma fonte importante de re- espécies lenhosas tolerantes à sombra, sendo a
crutamento após a perturbação e influenciar o maioria de tamanho pequeno pertencente às
direcionamento da regeneração da floresta, espécies pioneiras herbáceas/sublenhosas das
bem como a sucessão secundária. Baider, famílias Asteraceae, Poaceae, Malvaceae e
Tabarelli e Mantovani (1999) concluíram que, Solanaceae. Portanto, a composição de espéci-
após a abertura de clareiras naturais em flo- es presentes no banco sugeriu que este teria
resta Atlântica Montana, no sudeste brasilei- sua contribuição para a regeneração da Mata
ro, o banco de sementes contribuiu para o es- Atlântica em termos de grupos ecológicos, mas
tabelecimento de espécies da família Melasto- não no restabelecimento da riqueza de espéci-
mataceae, principal grupo de árvores e arbustos es lenhosas, daí a necessidade de sementes
pioneiros observados nas clareiras da área es- oriundas de outros locais para a regeneração
tudada. das sementes que formavam o banco (Baider,
A redução da densidade e da riqueza de es- Tabarelli e Mantovani, 2001).
pécies no banco de sementes com o aumento A disponibilidade de sementes no banco
da profundidade do solo foi demonstrada (Hol- para a regeneração após uma perturbação pode
thuijzen e Boerboom, 1982; Dalling, Swainel e ser influenciada por padrões temporais de pro-
Garwood, 1997; Baider, Tabarelli e Mantovani, dução, modos de dispersão e longevidade das
2001). As densidades encontradas por Baider, sementes (Grubb, 1977). A avaliação de padrões
Tabarelli e Mantovani (2001), em áreas de flo- de estocagem de sementes no solo durante a
resta Atlântica em diferentes idades de rege- sucessão em floresta na Costa Rica e a habili-
neração, sugerem um decréscimo no estoque dade de a vegetação de diferentes idades res-
de sementes no solo com o avanço da regene- ponder à perturbação foram estudadas por
ração e com a profundidade do solo; trechos Young, Ewel e Brown (1987). Os autores cons-
dessa floresta em regeneração, com cinco e 27 tataram que, imediatamente após uma pertur-
anos, respectivamente, apresentaram 67,4 e bação na floresta, o número de sementes no
56,9 % de sementes enterradas até 2,5 cm de solo caiu vertiginosamente devido à mortalida-
profundidade. Por outro lado, os autores encon- de, ao pequeno ingresso de novas sementes e à
traram uma correlação positiva entre a idade germinação. À medida que a vegetação crescia,
da floresta e a riqueza de sementes de espécies o número de sementes no banco aumentava e,
lenhosas no banco. Dalling e colaboradores após atingir um pico, decresceu gradualmente
(1997, 1998) observaram que sementes enter- até uma quantidade próxima à existente no
radas em maiores profundidades e que formam banco antes da perturbação. A alta freqüência

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GERMINAÇÃO 233

desses períodos resulta no decréscimo de rique- rindo assim no recrutamento de novos indiví-
za de espécies, no domínio por espécies de se- duos (Howe, 1977).
mentes de longevidade alta e no estabelecimen- A predação de sementes e plântulas pode
to de novas plântulas a partir do banco (Young, influenciar a abundância de plantas se a den-
Ewel e Brown, 1987). sidade estiver reduzida. Silva e Tabarelli (2001)
A resistência a patógenos é outro fator que constataram que a dispersão e a demografia de
pode ter influência na composição do banco, uma palmeira, Bactris acanthocarpa, em um frag-
determinando de forma diferenciada a longe- mento da Mata Atlântica, foram influenciadas
vidade das sementes. Infelizmente, poucos es- pela extinção local de frugívoros vertebrados.
tudos são realizados in situ, especialmente sobre Os autores também observaram um aumento
bancos de espécies de florestas neotropicais. na taxa de infestação por bruchídeos dos fru-
Augspurger e Kelly (1984) investigaram a in- tos ainda verdes. A predação de sementes na
fluência de patógenos na taxa de mortalidade pré e pós-dispersão pode estar entre os deter-
em banco de plântulas e constataram o efeito minantes dos genótipos que comporão a po-
direto no aumento da mortalidade em plântulas pulação. Se isso realmente acontecer, as carac-
estabelecidas sob a copa da planta-mãe em ár- terísticas que favorecem as sementes de esca-
vores de florestas tropicais. par da predação podem conflitar com caracte-
rísticas que favorecem o estabelecimento. As-
sim sendo, os herbívoros poderiam influenciar
O EFEITO DA FRAGMENTAÇÃO diretamente os genótipos estabelecidos em uma
SOBRE A DISPERSÃO E O população. Em plântulas ou plantas jovens, a
BANCO DE SEMENTES habilidade competitiva (Dirzo, 1984) e o cres-
Atualmente, a fragmentação dos ecossistemas cimento (Coley, 1986) estão inversamente
tropicais representa a maior causa de extinção correlacionados com as resistências, ao menos
local de populações (Wilcox e Murphy, 1985). em algumas espécies. Essa relação entre a re-
Mesmo as áreas de preservação tornaram-se sistência ao ataque enquanto semente e a re-
ilhas em virtude da expansão de cidades, da sistência, a taxa de crescimento, e a habilidade
abertura de estradas e do desenvolvimento so- competitiva enquanto plântula ainda é desco-
cial desorganizado; conseqüentemente, deter- nhecida, sendo necessários mais estudos, es-
minadas espécies têm desaparecido. Quanto pecialmente acerca de ecossistemas em avan-
menor é a área da reserva, mais acelerado é esse çado processo de fragmentação, como a Mata
processo (Howe, 1984). Em florestas tropicais, Atlântica, o Cerrado e a Amazônia.
onde as inter-relações são tênues e frágeis e
cada caso pode ter uma conotação particular,
qualquer distúrbio antrópico torna as interações AGRADECIMENTOS
muito vulneráveis (Futuyma, 1973). Por exem- À professora Dilosa C. A. Barbosa (Departamen-
plo, a extinção local de frugívoros (caça, etc.) to de Botânica da UFPE) pela revisão e pelas
reduz o recrutamento de árvores zoocóricas por sugestões efetuadas no manuscrito.
afetar a taxa de dispersão e reprodução e, conse-
qüentemente, aumentar o risco de extinção lo-
cal de espécies focais. Com a fragmentação, os BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
primeiros grupos a desaparecer são freqüente- AUGSPURGER, C.K. Morphology and dispersal
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Germinação_14ok.p65 235 17/05/2004, 17:44


C A P Í T U L O 1 5

RECRUTAMENTO
E ESTABELECIMENTO
DE PLÂNTULAS
Felipe Pimentel Lopes de Melo
Antônio Venceslau de Aguiar Neto
Eliana Akie Simabukuro
Marcelo Tabarelli

Uma plântula é um indivíduo vegetal desenvol- que afetam o estabelecimento, o desenvolvi-


vido a partir de uma semente. Em um sentido mento e a sobrevivência de plântulas. A impor-
estritamente fisiológico, um indivíduo será uma tância relativa desses fatores, como disponibili-
plântula (1) enquanto depender da reserva de dade de luz, fogo, estresse hídrico e herbivoria,
sua semente, (2) enquanto uma porção signifi- varia entre populações, entre espécies em um
cativa da sua biomassa for oriunda das reservas mesmo ecossistema e entre os ecossistemas,
da semente ou (3) quando apresentar alguma pois há diferenças significativas nos padrões de
estrutura funcional produzida a partir das reser- perturbações naturais a que cada ambiente está
vas da semente. Na prática, nem sempre é pos- submetido, como incêndios, inundações, aber-
sível identificar essas condições. Como conse- turas de clareiras e ataque de patógenos. Toda-
qüência, há uma tendência de se reconhecer via, as espécies tendem a apresentar respostas
como plântulas os indivíduos jovens com até adaptativas similares a determinados fatores,
50 cm de altura. Dessa forma, uma plântula independentemente de suas relações filogené-
consiste inicialmente de radícula, hipocótilo, ticas e do ecossistema onde ocorrem (conver-
cotilédone(s) e gema plumular, que posterior- gência adaptativa). Cada conjunto de adapta-
mente darão origem à raiz, aos caules e às fo- ções define uma estratégia de regeneração que
lhas. é parte integrante da história de vida de cada
Dentro do ciclo de vida das plantas com se- espécie vegetal.
mentes, o recrutamento, o desenvolvimento e Neste capítulo serão abordados alguns dos
a sobrevivência das plântulas são eventos cru- fatores que afetam o estabelecimento, o desen-
ciais para o crescimento e/ou manutenção das volvimento e a sobrevivência de plântulas. As
populações. Recrutamento significa o ingresso principais estratégias de regeneração serão dis-
de indivíduos em uma categoria qualquer e, no cutidas, e a importância relativa de fatores e
caso de plântulas, esse evento depende da ger- estratégias presentes nos principais ecossiste-
minação de sementes – emissão da radícula – e mas brasileiros será analisada com base em
do estabelecimento das plântulas – emissão das estudos desenvolvidos com espécies vegetais
superfícies fotossintéticas. nativas. Por fim, será discutida a importância
Os ecossistemas tropicais terrestres com- de investigar como os fatores de natureza an-
partilham muitos dos fatores físicos e biológicos trópica podem afetar o recrutamento de espé-

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238 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

cies vegetais e ameaçar uma parcela significa- casos, se as reservas contidas na semente foram
tiva da diversidade biológica brasileira. Este ca- totalmente utilizadas durante a expansão da
pítulo apresenta um enfoque ecológico e res- plântula, essa fase pode ser inconspícua ou ine-
tringe-se à discussão dos aspectos citados para xistente (plântulas que apresentam cotilédones
plântulas de espécies lenhosas tropicais (sobre- fotossintetizantes). Na fase juvenil, os tecidos
tudo árvores e arbustos), em função da impor- formados na etapa de utilização das reservas
tância desse grupo na flora brasileira e tropical. possibilitam que a planta se torne independente
dos cotilédones, mesmo que estes ainda estejam
ligados a ela. Entre os fatores que afetam o esta-
FATORES MORFOFISIOLÓGICOS belecimento, o desenvolvimento (fases 2 e 3) e
E AMBIENTAIS QUE INFLUENCIAM a sobrevivência de plântulas estão: (1) quanti-
O ESTABELECIMENTO, O dade e qualidade das reservas das sementes,
DESENVOLVIMENTO E A (2) morfologia funcional dos cotilédones, (3)
SOBREVIVÊNCIA DE PLÂNTULAS fatores abióticos e (4) interações com outras
São muitos os fatores que afetam o estabeleci- espécies.
mento, o desenvolvimento e a sobrevivência das
plântulas, como patógenos (Janzen, 1970), es- Reservas das sementes e morfologia
tresse hídrico, danos mecânicos, herbivoria e funcional dos cotilédones
competição intra e interespecífica. A maneira A quantidade e a qualidade das reservas
como cada espécie vegetal responde a esses fa- energéticas das sementes estão positivamente
tores é determinada, em parte, por adaptações associadas à morfologia funcional do cotilédone
das plântulas, as quais representam respostas (monocotiledôneas) ou dos cotilédones (dico-
evolutivas aos mesmos. Em outras palavras, en- tiledôneas) e afetam de forma significativa o
tender essas adaptações significa compreender estabelecimento e o desenvolvimento das plân-
como as plântulas interagem com o ambiente tulas. A reserva contida nas sementes provê
físico e com os outros organismos que as cer- energia e nutrientes para que elas possam
cam. emergir da serrapilheira, crescer em ambientes
De acordo com Garwood (1996), espécies com baixa disponibilidade de luz, propiciar a
lenhosas tropicais apresentam cinco estádios substituição de tecidos mortos ou removidos
ontogenéticos (ou fases) que podem ser reco- por herbívoros ou mesmo proporcionar energia
nhecidos: (1) semente, (2) expansão ou alonga- para a produção de compostos secundários para
mento da plântula, (3) utilização das reservas, a defesa contra herbívoros e patógenos. O perío-
(4) juvenil e (5) adulto. Apesar de não ser espe- do de esgotamento das reservas deve coincidir
cificamente tratada neste capítulo, a fase 1 é com o estádio em que as plântulas apresentam
de extrema importância para a compreensão sistema radicular e estruturas fotossintéticas
do desenvolvimento da plântula, uma vez que bem-desenvolvidas; caso contrário, as plântulas
sua estrutura e sua morfologia revelam muito tendem a morrer (Kitajima, 1992).
sobre a estrutura e a morfologia inicial da res- O total de reservas disponíveis para uma
pectiva plântula. A fase de alongamento da plântula não é determinado somente pela mas-
plântula (2) ocorre imediatamente após a ger- sa da semente, mas é influenciado também pela
minação e vai até a emissão do primeiro tecido composição química da mesma. Três tipos bási-
fotossintetizante. Nessa fase, a plântula utiliza cos de reserva são freqüentemente encontrados
somente os recursos provenientes dos tecidos nas sementes (Capítulo 2): carboidratos (se-
de reserva da semente. A fase (3) é aquela na mentes amiláceas), proteínas (sementes pro-
qual a plântula faz uso dos tecidos de reserva téicas) e lipídeos (sementes oleaginosas). Em-
da semente ou das estruturas desenvolvidas a bora os cotilédones sejam a estrutura mais co-
partir de recursos previamente transferidos des- nhecida, fazem parte dos tecidos de reserva o
tes para a plântula em expansão. Em alguns endosperma e o perisperma. A variação entre

Germinação_15ok.p65 238 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 239

as espécies na concentração de minerais é pe-


quena se comparada à variação no tamanho das
sementes, apesar de a concentração de nutrien- A
tes estar relacionada ao peso das mesmas.
De forma geral, durante a embebição, os
cotilédones absorvem recursos do endosperma
da semente. Durante e após a geminação, eles
transferem reservas para os tecidos em forma- B

ção, como caule, folhas e raízes. O padrão de


utilização e alocação dessas reservas depende
muito da posição e da morfologia funcional dos
cotilédones. Parte da diversidade morfológica
das plântulas pode ser considerada como adap-
tação a fatores bióticos ou abióticos, uma vez
que a sobrevivência nessa fase de vida de uma
planta é essencial para o sucesso reprodutivo
da espécie (Garwood, 1996). Há, na verdade,
grande variação morfológica das plântulas, que
podem ter desde poucos milímetros até 0,5 m 1 cm
de altura. Variações na morfologia dos cotilé-
dones também são muito grandes e podem for-
! Figura 15.1
necer importantes pistas sobre a estratégia de Morfotipos funcionais de cotilédones em plântulas
regeneração de uma espécie. Há uma enorme com aproximadamente a mesma idade. A) Plântula
gama de classificações elaboradas e utilizadas de Eschweilera ovata com cotilédone do tipo de reser-
por vários autores. Todavia, todas têm em co- va nutritiva (seta) e B) plântula de Mabea ocitendalis
mum o fato de separar as plântulas em grupos com cotilédones foliáceos fotossintetizantes (seta).
(foto dos autores).
ecológicos de acordo com a morfologia, a função
e a posição dos cotilédones. Resumidamente,
podem-se distinguir dois grandes grupos nessas
classificações: as plântulas possuidoras de co- mais rapidamente que as possuidoras de coti-
tilédones fotossintetizantes e aquelas com co- lédones de reserva. Portanto, a reserva das se-
tilédones de reserva nutritiva (Figura 15.1). mentes e o tipo funcional dos cotilédones interfe-
Os cotilédones foliáceos e fotossintetizantes rem, significativamente, no estabelecimento e
estão associados a sementes com baixo conteú- no desenvolvimento das plântulas (Figura 15.2).
do de reservas (sementes pequenas), e seu esta-
belecimento praticamente consome as reservas Fatores abióticos
da semente. Todavia, esses tipos de cotilédones Luz, temperatura e umidade estão entre os
são capazes de suprir as demandas energéticas principais fatores que interferem no crescimen-
iniciais das plântulas, caso haja disponibilidade to das plântulas. A radiação solar que alcança
de luz adequada para a realização de fotossín- a superfície da Terra apresenta comprimento
tese (Kitajima, 1992). Em contraste, os cotilé- de ondas que variam entre 290 e 3.000 nm, sen-
dones de reserva garantem energia e nutrientes do que ondas com comprimento entre 400 e
para o desenvolvimento da plântula enquanto 700 nm compõem a radiação fotossintetica-
a produção de fotossintatos é limitada. Além mente ativa (RFA). Tanto a quantidade como a
desse fato, existe uma associação entre o tipo qualidade da luz podem ser alteradas antes de
funcional de cotilédone e a velocidade de germi- atingirem o solo (e as plântulas). Por exemplo,
nação das sementes, visto que as plântulas com ao passarem pelo dossel das árvores, certos
cotilédones fotossintetizantes se desenvolvem comprimentos de onda, em particular na re-

Germinação_15ok.p65 239 17/05/2004, 17:44


240 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

da radiação fotossinteticamente ativa, ou RFA),


Tamanho Concentração de
da semente nutrientes na aumentando as taxas de germinação, as de re-
semente crutamento e a velocidade de desenvolvimento
das plântulas. Em ambientes iluminados, as ta-
Morfologia xas de respiração e fotossíntese aumentam tan-
funcional dos
cotilédones to nessas espécies quanto nas de crescimento
lento (Chazdon, Lee e Fetcher, 1996). Entre-
Alongamento tanto, a magnitude do aumento é determina-
da plântula
da pelo que se denomina plasticidade fotossin-
Tamanho da plântula Duração das reservas tética, que pode ser definida como a amplitude
antes da abertura da semente das taxas máximas de fotossíntese, ou seja, o
das folhas
quanto a plântula pode aumentar sua taxa fo-
tossintética quando estimulada por mais luz.
Aclimatação Alocação
à luz de carbono Espécies de crescimento rápido, quando subme-
tidas à alta intensidade luminosa, aumentam
em várias vezes a taxa de assimilação de car-
Sobrevivência Taxa máxima
à sombra de crescimento bono; da mesma forma, essas taxas podem di-
minuir bruscamente quando submetidas à bai-
! Figura 15.2 xa luminosidade, caracterizando uma grande
Esquema geral demonstrativo dos fatores morfofisio- plasticidade fotossintética (Strauss-Debenede-
lógicos que influenciam o desenvolvimento da plân- tti e Bazzaz, 1991). Por outro lado, espécies de
tula. Adaptada de Kitajima (1996). crescimento lento possuem uma amplitude
muito menor de variação na taxa fotossintética
quando comparadas às de crescimento rápido,
gião do vermelho e do azul do espectro lumino- indicando adaptação a ambientes sombreados.
so, são absorvidos pelas folhas, resultando em Da mesma forma que a luz, as temperaturas
que a luz (filtrada) que chega até o solo da mata próximas à superfície do solo podem variar bas-
apresenta menor irradiância e, ao mesmo tem- tante entre os ambientes e afetar as plântulas.
po, maior proporção de luz vermelho-extremo Grandes clareiras nas florestas tropicais, por
em relação ao vermelho, quando comparada exemplo, podem apresentar maiores amplitu-
com a luminosidade sob sol pleno. Nesses am- des térmicas do que locais sombreados do sub-
bientes sombreados, as plantas de sol, por ação bosque. O aumento da temperatura resulta em
do fitocromo predominantemente na forma altas taxas de respiração na maioria das semen-
inativa (Fv), apresentam alongamento do in- tes, diminuindo assim o tempo de dormência e
ternó, redução da área foliar, e das ramificações a quiescência (Baskin e Baskin, 2001). Altas
e emissão de folhas de cor verde-clara, carac- taxas de respiração também são desencadeadas
terizando o estiolamento. Para compensar re- nas plântulas devido ao aumento de temperatu-
duções na quantidade e mudanças na qualida- ra nos ambientes onde estas se encontram.
de da luz, plântulas mantidas em sombreamen- Plântulas que não são capazes de suprir as per-
to ampliam a eficiência da captura de luz com das de carbono via altas taxas de respiração ter-
o aumento da razão clorofila b/a, aumento da minam por dessecar e morrer.
razão de área foliar e redução da razão raiz/parte A disponibilidade de água é outro fator que
aérea. Essas mudanças morfofuncionais carac- pode ser considerado limitante para o cresci-
terizam um maior investimento por parte das mento das plântulas. Mais especificamente, o
plântulas em aproveitar o pouco de luz disponí- balanço entre o ganho de água por meio da ab-
vel no sub-bosque. sorção pelas raízes e a perda de água por eva-
Em geral, espécies de crescimento rápido potranspiração determina a probabilidade de
respondem positivamente à luz (i.e. aumento sobrevivência das plântulas. Nos trópicos, as

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GERMINAÇÃO 241

plantas desenvolveram mecanismos para evitar sal ou compartimentalização iônica (Cordazzo,


a perda excessiva de água, como a queda das 1999).
folhas durante a estação seca e o fechamento
dos estômatos em períodos críticos ao longo do Interações entre espécies
dia (como períodos mais quentes). O fecha- De modo geral, a quantidade de plântulas
mento temporário dos estômatos é uma estraté- recrutadas para a fase juvenil é impressionan-
gia capaz de manter o turgor do mesófilo, sendo temente menor do que a que germinou. Esse
bem-documentada tanto para espécies que se “controle” das populações vegetais é, em mui-
estabelecem em ambientes de baixa disponibili- tos casos, exercido por patógenos (fungos, bac-
dade luminosa (Mukley, Smith e Wright, 1991) térias, helmintos) e herbívoros (insetos e ma-
quanto para aquelas que se desenvolvem em míferos). A remoção de cotilédones e de folhas
ambientes de luz solar direta (Fetcher, 1979). nos primeiros dias após a emergência, por
Todavia, o regime de fechamento/abertura exemplo, (1) reduz o peso dos nódulos que ocor-
estomático parece variar bastante entre as espé- rem em espécies de Leguminosae; (2) causa
cies, tornando difícil estabelecer um padrão ge- decréscimo na taxa de crescimento das plân-
ral entre elas. Até mesmo espécies com taxas tulas; (3) reduz a capacidade de as plântulas
fotossintéticas idênticas podem apresentar pa- produzirem brotação nas axilas cotiledonares;
drões distintos de fechamento e abertura dos e (4) aumenta as taxas de mortalidade, pois
estômatos, sugerindo diferentes graus de efi- carboidratos, proteínas, lipídeos e enxofre, en-
ciência no uso da água (Press et al., 1996). Nas tre outros, são translocados dos cotilédones
espécies que demandam elevada disponibilida- para a plântula. Em ambientes úmidos, vários
de de luz para crescer, uma menor relação mas- fungos, principalmente os presentes nas se-
sa foliar/área foliar produz uma folha menos mentes, inibem a germinação e provocam a
densa se comparada àquelas que demandam mortalidade de muitas plântulas. Os fungos pa-
pouca luz, aumentando assim a taxa fotossin- recem atuar como fonte de mortalidade na fase
tética e a ventilação. Em geral, as plântulas de plântula, não afetando significativamente
morrem por dessecação se submetidas a estres- os estádios posteriores.
se hídrico antes de ter seu sistema radicular Esses fatos denotam a importância das in-
bem-desenvolvido, ou seja, especialmente na terações entre espécies para o sucesso do esta-
fase de expansão. belecimento, do desenvolvimento e da sobrevi-
Se, por um lado, a baixa disponibilidade de vência das plântulas. As respostas morfofisio-
água resulta em menor massa da parte aérea e, lógicas das plantas, como rápida expansão da
conseqüentemente, emergência lenta das plân- folha, desenvolvimento de compostos secundá-
tulas (Paulilo, Felippe e Dale, 1993), por outro, rios, associação com formigas por meio de nec-
a saturação hídrica é superada por adaptações tários e domáceas, produção sincrônica de fo-
que incluem: (1) formação de lenticelas lhas e retardamento da coloração esverdeada
hipertróficas, (2) raízes adventícias, (3) inibi- (delayed greening), são consideradas defesas con-
ção do alongamento dos entrenós, (4) acelera- tra a herbivoria. Para se ter uma idéia da magni-
ção da senescência e abscisão foliar e (5) dete- tude das respostas à herbivoria: as espécies de
rioração das raízes (por ação de microrganis- florestas tropicais podem apresentar entre 5 e
mos), com substituição por outras mais espes- 20% do peso seco das folhas formado por com-
sas e pouco ramificadas (Medri et al., 1998). postos secundários, como taninos, alcalóides e
Além de luz, temperatura e umidade, o estresse terpenos, o que significa que as plantas inves-
salino também pode afetar o desenvolvimento tem uma grande quantidade de energia na ela-
e a sobrevivência das plântulas. Folhas enrola- boração desses compostos. Em muitos casos, da-
das, clorose e necrose apical são comuns, caso nos por herbivoria ocorrem concentrados em
as plântulas não possuam adaptações para a plântulas e folhas jovens, porque são mais ten-
salinidade, como ajuste osmótico, glândulas de ras, nutritivas e podem conter menor quantidade

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242 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

de defesas químicas (Coley, Bryan e Chaplin, padrão de alocação de energia de forma inversa.
1985). Assim, cada estratégia compartilha um conjunto
Um dos aspectos mais interessantes da de atributos comuns que se referem a regenera-
mortalidade de plântulas causada pela ação de ção, crescimento, esforço reprodutivo, modo de
patógenos e de herbívoros é a relação com a polinização e dispersão de sementes, entre outros
distância da planta-mãe. Janzen (1970) e Con- (Whitmore, 1990). No caso de árvores e arbustos
nell (1971) caracterizaram a mortalidade de das florestas tropicais, as estrategistas r e k cor-
plântulas próximas aos adultos co-específicos respondem com freqüência às plantas pioneiras
como uma função densidade-dependente, ou e às tolerantes à sombra, respectivamente. Cada
seja, o adensamento das plântulas próximas à grupo de espécies compartilha atributos comuns,
matriz facilitaria o ataque de patógenos e herbí- como descrito a seguir.
voros e possivelmente aumentaria a competição
intra-específica (modelo Janzen-Connell). Os Pioneiras
níveis de predação de sementes e de mortalida- Entre as características das espécies pionei-
de de plântulas próximas das plantas matrizes ras estão: (1) produção abundante de sementes,
seriam tão drásticos que inviabilizariam a subs- (2) sementes pequenas e com pouca reserva
tituição de uma árvore adulta por outro adulto energética, (3) sementes com dormência, (4)
da mesma espécie nas proximidades. produção de plântulas pequenas e dotadas de
cotilédones fotossintetizantes, (5) dispersão
abiótica ou conduzida por vertebrados de há-
ESTRATÉGIAS DE bito alimentar generalista, (6) polinização abió-
REGENERAÇÃO DE PLANTAS tica ou pouco especializada, (7) ciclo de vida
LENHOSAS TROPICAIS curto e (8) necessidade de luz solar direta (al-
O estabelecimento, o desenvolvimento e a so- tos níveis de RFA) para germinação, recruta-
brevivência de plântulas são afetados por diver- mento, desenvolvimento e sobrevivência de
sos fatores morfofisiológicos e abióticos e por plântulas, indivíduos jovens e adultos.
interações biológicas, como descrito na seção A principal interpretação dessas caracterís-
anterior. A forma como as espécies respondem ticas é que elas representam adaptações à colo-
a esses fatores determina o sucesso ou a falha nização de habitats efêmeros, como clareiras
no estabelecimento de um conjunto de plân- naturais e áreas de deslizamentos de terra, onde
tulas capazes de se desenvolver e atingir os pró- temporariamente há maior disponibilidade de
ximos estádios do ciclo de vida. Dá-se o nome luz. Uma outra característica desse tipo de ha-
de estratégia de regeneração ao conjunto de bitat é a imprevisibilidade de sua ocorrência no
atributos fisiológicos e morfológicos que con- tempo e no espaço (Alvarez-Buylla et al., 1996).
ferem às espécies vegetais a capacidade de esta- Por exemplo, em florestas tropicais úmidas, as
belecer novos indivíduos no ambiente (sensu clareiras naturais ocupam cerca de 1 a 5% da
Swaine e Whitmore, 1988). Mais especifica- área total (Clark, 1990), e qualquer árvore da
mente, trata-se de atributos das sementes, das floresta pode ser atingida por um raio, rachar e
plântulas e dos indivíduos jovens. cair abrindo uma clareira natural. A produção
De maneira geral, podemos distinguir as de um grande número de sementes aumenta a
plantas quanto a duas grandes estratégias probabilidade de algumas delas alcançarem os
biológicas: as estrategistas r e as estrategistas k sítios favoráveis à germinação ou permanece-
(sensu Pianka, 1974). De forma muito sucinta, rem dormentes no solo enquanto não ocorre
estrategistas r são plantas que alocam grande alguma perturbação natural ou antrópica que
parte de sua energia no esforço reprodutivo, em incremente a disponibilidade de luz (Baskin e
detrimento de investimentos na manutenção Baskin, 2001).
dos indivíduos (defesa química e estrutural Por outro lado, é energeticamente possível
contra herbivoria). As espécies k apresentam produzir grande quantidade de sementes se

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GERMINAÇÃO 243

estas apresentarem quantidades limitadas de processo de germinação por meio da escarifi-


reserva. Nesse caso, a redução na quantidade cação física ou química durante a manipulação
de reservas pode ser, em contrapartida, com- ou até mesmo pelo processo de enterramento
pensada por cotilédones fotossintetizantes, os das sementes. Além disso, os vertebrados são
quais incrementam a produção de fotossintatos fundamentais para dispersar as sementes di-
para as plântulas. Elevada atividade fotossin- retamente em sítios adequados ao re-
tética é essencial para o rápido desenvolvimento crutamento (hipótese da dispersão direta sensu
da plântula e do indivíduo jovem e para que o Howe e Smallwood, 1982).
adulto entre na fase reprodutiva antes que no- A grande quantidade de reserva energética
vas perturbações ocorram ou que plantas tole- nas sementes de plantas tolerantes à sombra
rantes à sombra dominem o ambiente (Whit- possibilita o estabelecimento e o desenvolvi-
more, 1990). Árvores e arbustos pioneiros das mento de plântulas maiores que emergem da
florestas tropicais participam, dessa forma, dos serrapilheira e conseguem captar a pequena
estágios iniciais da regeneração da floresta após quantidade de luz que alcança o chão da flores-
a abertura de clareiras naturais ou depois de ta. Em muitos casos, a luz que consegue atra-
qualquer perturbação que desencadeie o pro- vessar a copa das árvores permite taxas fotos-
cesso de regeneração. sintéticas que apenas compensam as perdas de
Alguns exemplos de espécies de árvores carbono com a respiração, sendo que as plân-
pioneiras são bem-conhecidos para diversos tulas enfrentam um período crítico quando
ecossistemas brasileiros. Na região amazônica, ocorre os esgotamento das reservas. Em muitas
destacam-se as espécies de Cecropia (Mora- situações, elas apresentam desenvolvimento
ceae) e Vismia (Guttiferae), as quais dominam expressivo (incremento de matéria seca) so-
os estágios iniciais da regeneração das florestas mente quando ocorre um crescimento
de terra firme (Mesquita, Delamônica e Lau- significativo da disponibilidade de luz solar,
rance, 1999). Na Mata Atlântica, espécies de com aumento na proporção vermelho/verme-
Melastomataceae, Flacourtiaceae e Myrsina- lho longo. O desenvolvimento lento torna esse
ceae, entre outras, são citadas como pioneiras tipo de plântula vulnerável ao ataque de pató-
e ocorrem em estágios iniciais de regeneração genos e herbívoros e, dessa forma, ela precisa
da floresta em clareiras naturais e em áreas de investir parte de sua energia em defesas quími-
agricultura abandonadas (Tabarelli e Manto- cas e estruturais.
vani, 2000). Na Caatinga, a freqüência de pio- Pode-se deduzir, a partir dessas característi-
neiras também é elevada, destacando-se espé- cas biológicas, qual o tipo de habitat é ocupado
cies de Mimosa, Caesalpinia, Jatropha e Cnidosculus por esse grupo de espécies. Também conhecidas
(leguminosa e euphorbiaceas). como espécies “clímax”, as espécies que conse-
guem germinar e se estabelecer sob condições
Tolerantes à sombra de pouca luminosidade são os componentes
Espécies tolerantes à sombra podem ser re- mais conspícuos dos estágios mais avançados
conhecidas por algumas características gerais da regeneração das florestas tropicais e dos tre-
como: (1) germinação de sementes, estabeleci- chos de floresta madura (Swaine e Whitmore,
mento e desenvolvimento das plântulas em 1988). Exemplos de espécies tolerantes à som-
ambientes com baixa disponibilidade de luz so- bra são fáceis de encontrar em qualquer dos
lar, (2) produção de sementes com grande ecossistemas brasileiros. Na Amazônia Central,
quantidade de reservas, (3) dispersão de se- árvores com grandes sementes das famílias
mentes por vertebrados, (4) plântulas com co- Lecythidaceae, Chrysobalanaceae e Sapotaceae
tilédones de reserva e (5) ciclo de vida longo. ocorrem com muita freqüência nas florestas de
Para serem dispersas, sementes grandes ge- terra firme. Na Mata Atlântica, são comuns as
ralmente precisam de um vetor biológico, como espécies de Lauraceae e Myrtaceae (Ta-barelli e
mamíferos e aves, que pode também facilitar o Mantovani, 1999).

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244 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Apesar da validade e da utilidade do concei- com adaptações fisiológicas e morfológicas para


to de pioneiras e tolerantes à sombra, é preciso enfrentar períodos de escassez de água no solo.
ressaltar que estudos têm identificado espécies, Dentre essas adaptações, pode-se salientar: (1)
nas florestas tropicais, com requerimentos in- crescimento rápido da raiz principal ou axial,
termediários de luz e que compartilham carac- que pode atingir as camadas inferiores do solo,
terísticas biológicas comuns a ambos os grupos e (2) desenvolvimento de raízes tuberosas com
(veja Thompson, Stocker, Kriedermann, 1998). fibras gelatinosas, capazes de armazenar água
Muitas espécies de árvores tropicais que ocor- e amido. Entre as espécies que apresentam es-
rem na floresta madura, mais exatamente no sas adaptações estão árvores comuns na caa-
dossel e no extrato emergente, possuem elevada tinga, como Anadenanthera colubrina (Legumino-
exigência de luz, seja na fase de germinação, sae), Myracroduon urundeuva (Anacardiaceae) e
de estabelecimento ou de crescimento (Clark, Schinopsis brasiliensis (Anacardiaceae). No caso de
1986). Em alguns casos, árvores emergentes A. colubrina, Barbosa e Barbosa (1996) constata-
chegam a cessar o seu crescimento em determi- ram que a tuberização está restrita ao estágio de
nada fase da vida, retomando-o novamente plântula, o que evidencia a importância do es-
quando uma clareira é aberta e quando ocorre tresse hídrico nesse estádio de desenvolvimento
maior disponibilidade de luz solar direta. Uma das plantas.
síntese das características de sementes e plân- Dois outros fatores podem ser importantes
tulas de espécies lenhosas tropicais tolerantes na Caatinga: o ataque de patógenos e a herbi-
à sombra e pioneiras encontra-se no Quadro voria por caprinos. Experimentos realizados em
15.1. caso de vegetação com Auxema oncocalyx (Bora-
ginaceae) indicam que o ataque de fungos pode
afetar significativamente o desenvolvimento e
ESTABELECIMENTO, a sobrevivência de plântulas. Silveira (2002)
DESENVOLVIMENTO E constatou que plântulas com até 75% da área
SOBREVIVÊNCIA DE cotiledonar atacada por fungos acumularam
PLÂNTULAS EM apenas 15% do total de matéria seca acumulada
ECOSSISTEMAS BRASILEIROS por plantas sadias, e 75% delas morreram até o
Os fatores que afetam o estabelecimento, o de- quinto mês de vida, enquanto as plântulas sa-
senvolvimento e a sobrevivência de plântulas dias apresentaram 100% de sobrevivência no
de espécies lenhosas nos ecossistemas brasilei- mesmo período.
ros têm importâncias relativas distintas. No A população caprina no Brasil é de cerca
caso da Caatinga, a deficiência de água no solo de 12 milhões de cabeças, sendo que 92% en-
(estresse hídrico) parece ser um dos fatores que contram-se nos estados do Nordeste, principal-
mais interfere no sucesso do estabelecimento mente na região semi-árida coberta por vegeta-
a na sobrevivência das plântulas. A Caatinga é ção de Caatinga (Medeiros et al., 2000). No que
um mosaico vegetacional composto por flores- se refere à herbivoria por caprinos, ainda não
tas secas e porções de vegetação arbustiva (sa- existem estudos quantitativos sobre o impacto
vana-estépica, sensu Veloso, Rangel-Filho e desses animais sobre o estabelecimento e a so-
Lima, 1991), em decorrência de níveis de pre- brevivência de plântulas na Caatinga. Todavia,
cipitação média anual que variam entre 240 e um estudo recente (Leal, Vicente e Tabarelli,
900 mm e de estações secas com duração entre no prelo), realizado com base em entrevistas
7 e 11 meses. Em algumas regiões, secas com com criadores na região de Xingó, Alagoas, in-
mais de 12 meses de duração ocorrem periodi- dica que esses animais consomem quase todos
camente. Segundo Barbosa (no prelo), a maio- os tipos de tecidos e estruturas vegetais dispo-
ria das espécies lenhosas apresenta recruta- níveis, o que inclui, além de folhas, flores, fru-
mento de plântulas no início da estação chu- tos, sementes, cascas e plântulas de espécies
vosa, e algumas espécies apresentam plântulas lenhosas. De acordo com o estudo de Leal, Vi-

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GERMINAÇÃO 245

Quadro 15.1 Características de sementes e plântulas de espécies lenhosas tropicais tolerantes à


sombra e pioneiras (adaptado de Kitajima, 1996)

Espécies
Características tolerantes à sombra Pioneiras

Tamanho da semente grande pequeno


Conteúdo lipídico ou de nitrogênio na semente variável variável
Germinação em ambiente de clareira baixa alta
Função primária dos cotilédones armazenamento fotossintética
Tempo de utilização da reserva longo curto
Tamanho inicial da plântula grande pequeno
Alocação de recursos para substâncias de defesa alta baixa
Velocidade de aclimatação lenta rápida
Plasticidade fotossintética baixa alta
Sobrevivência de plântulas à sombra alta baixa

cente e Tabarelli, no prelo), cerca de 30% das ocorrem com intervalos entre um e cinco anos
espécies de árvores e arbustos da região têm (Moreira, 2000). Freqüentemente, trata-se de
suas plântulas consumidas pelos caprinos, que incêndios rápidos, de superfície, que queimam
podem atingir densidades de 0,5 a 1,2 animal/ o componente herbáceo da vegetação e a bio-
hectare. Dessa forma, é razoável supor que os massa morta sobre o solo (Moreira, 2000). Hoff-
caprinos não só afetam a sobrevivência de mann (1999) registrou as taxas de mortalidade
plântulas (impacto demográfico), mas também de plântulas por fogo para cinco espécies de ár-
constituem um fator de seleção natural impor- vores e arbustos que ocorrem no Cerrado. A
tante para as plantas lenhosas nesse ecos- taxa de mortalidade variou entre 33% para
sistema. Dois outros aspectos do recrutamento plântulas de Rourea induta (arbusto, Connara-
de plântulas lenhosas ainda carecem de in- ceae) e 100% das plântulas de Miconia albicans
vestigação na Caatinga: o efeito da salinidade (arbusto, Melastomataceae). No caso de M. al-
e a importância da dispersão de sementes por bicans, Hoffmann (1999) estimou que seria ne-
agentes bióticos como formigas. cessário um período de cinco anos sem a ocor-
Como a Caatinga, o Cerrado é um mosaico rência de incêndios para que essa espécie apre-
vegetacional composto por savanas, florestas sentasse um recrutamento significativo de indi-
secas, florestas de galeria e campos. Nos tipos víduos provenientes de sementes (i.e., reprodu-
savânicos, a deficiência de água no solo durante ção sexual).
a estação seca afeta o estabelecimento e a so- Em outro estudo, Hoffmann (2000) avaliou
brevivência das plântulas, sendo comuns plân- a capacidade de sobrevivência de plântulas a
tulas com estruturas de reserva como xilopódios incêndios, comparando plantas lenhosas típicas
(Rizzini, 1975). Oliveira e Silva (1993) argu- das formas savânicas e aquelas consideradas
mentaram, por exemplo, que várias espécies do espécies florestais. O autor concluiu que: (1)
Cerrado apresentam plântulas que perdem a as espécies florestais apresentam plântulas
parte área todos os anos. Caules definitivos só mais susceptíveis ao fogo (nenhuma plântula
são emitidos quando as raízes alcançam as ca- sobreviveu) e (2) entre as espécies de savana,
madas mais úmidas de solo e, no caso de Kiel- a susceptibilidade das plântulas ao fogo está
meyera coriacea (árvore, Guttiferae), o conhecido inversamente correlacionada com o peso das
pau-santo, isso pode acontecer somente após o sementes (R2 = 0,6), pois essa característica
quinto ano de vida das plântulas. está associada com a capacidade de rebrotar das
Mas, ao contrário da Caatinga, as formas plântulas. No caso de K. coriacea, o percentual
savânicas do Cerrado são submetidas a incên- de sobrevivência das plântulas em parcelas
dios periódicos (naturais ou antrópicos) que queimadas variou entre 40 e 100%, dependendo

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246 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

da quantidade de vegetação lenhosa nas parce- a 80%, visto que essa espécie forma densos ban-
las. Além da capacidade de rebrotar, o recruta- cos com dezenas de milhares de plântulas por
mento de plântulas no início da estação chuvo- hectare (Conte et al., 2000).
sa é outra característica que pode minimizar o Embora a disponibilidade de luz seja um
impacto do fogo sobre o estabelecimento e a fator-chave nas florestas tropicais, doenças, her-
sobrevivência das plântulas, pois os incêndios bivoria, danos mecânicos e alagamentos perió-
ocorrem preferencialmente no final da estação dicos podem afetar, de forma isolada, combina-
seca (Moreira, 2000). da ou sinérgica, o destino das plântulas nas flo-
Nas florestas tropicais, como a Mata Atlân- restas Atlântica e Amazônica. Isso decorre, em
tica e a Floresta Amazônica, a quantidade e a parte, da elevada riqueza de organismos que
composição da luz que chega ao chão da floresta habitam o chão dessas florestas e que desenvol-
parecem ser um dos fatores mais importantes veram habilidades para explorar sementes e
para o estabelecimento e a sobrevivência de plântulas como fonte de alimento (p. ex., un-
plântulas de espécies lenhosas, principalmente gulados e roedores) e da enorme heterogenei-
em porções dessas florestas sem estação seca dade do ambiente físico no interior destas flo-
definida. De acordo com Chazdon e Fetcher restas.
(1984), entre 0,5 e 4% de radiação fotossinteti- A combinação de fatores agindo sobre a so-
camente ativa (RFA) alcança o chão da flores- brevivência de plântulas está bem-descrita para
ta. Dessa forma, muitas espécies de árvores da algumas espécies de árvores do gênero Pouteria
floresta madura têm como estratégia de regene- (Sapotaceae) que ocorrem nas florestas de ter-
ração a formação de “banco de plântulas”, as ra firme na Amazônia brasileira. Spironello
quais permanecem com desenvolvimento lento (1999) acompanhou durante 15 meses a mor-
até que ocorram mudanças significativas na talidade de plântulas de Pouteria platyphylla e P.
disponibilidade de RFA. Baider (1994) registrou rostrata, ambas árvores do dossel da floresta. No
um banco de plântulas com até 23 indivíduos/ primeiro caso, 58% das plântulas morreram,
m2 em trechos da Mata Atlântica, no sudeste entre as quais 96,5% devido a doenças e 3,5%
do Brasil, e concluiu que grande parte da flora devido aos danos causados pela queda de ga-
de árvores da floresta madura estava represen- lhos e folhas. No segundo caso, a mortalidade
tada nesses bancos. foi devida à ação de patógenos (89% das mor-
Talvez uma das espécies da Mata Atlântica tes), à herbivoria por insetos (7,3%) e à
mais conhecidas do ponto de vista de sua rege- herbivoria por vertebrados (3,7%). Todavia, es-
neração natural seja a Euterpe edulis (Palmae), ses padrões podem variar drasticamente entre
vulgarmente conhecida como palmiteiro. O pal- coortes distantes poucos metros entre si, ou en-
miteiro é uma espécie típica de sub-bosque e tre coortes estabelecidas sob a copa das árvo-
ocorre de forma abundante nos trechos mais res-matrizes e outras estabelecidas fora da zona
úmidos dessa floresta, entre a Bahia e o Rio de copa. Spironello (1999) encontrou evidên-
Grande do Sul. De acordo com Paulilo (2000), cias de mortalidade associada à distância da
de 0,5 a 4% do total de RFA é limitante para o planta-matriz, estando de acordo com o modelo
crescimento das plântulas de palmiteiro, que Janzen-Connell.
são capazes de incrementar a produção de ma- Dois estudos desenvolvidos em fragmentos
téria seca à medida que ocorre aumento nos da Mata Atlântica, no nordeste do Brasil, reve-
níveis de RFA. Esse incremento de matéria seca, laram mecanismos relacionados aos padrões de
associado à disponibilidade de luz, é conse- mortalidade, associados à proximidade da plan-
qüência do aumento na atividade fotossintéti- ta-matriz. No caso de Attalea oleifera, palmeira
ca, que atinge seu máximo no nível de 20% de freqüente em clareiras e em bordas de floresta,
RFA. A competição intra-específica por luz é, as elevadas taxas de mortalidade de plântulas
sem dúvida, um dos fatores que explicam a próximas das matrizes – estão associadas com
mortalidade de plântulas de palmiteiro superior a intensa queda de folhas velhas que as aba-

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GERMINAÇÃO 247

fam que podem chegar a 100% (Pimentel, tulas apresentam dependem de certas caracte-
2002) – . Em outra situação, as plântulas de rísticas físico-químicas das águas de inundação.
Protium heptaphyllum (árvore, Burseraceae) são Para dar um exemplo, o aparecimento de es-
intensamente cortadas por formigas saúvas clerofilia foi observado em plântulas estabele-
(Atta sexdens) e, apesar de as plântulas apresen- cidas em áreas inundadas de igapó, e não em
tarem capacidade de rebrota, os níveis de mor- áreas de várzea na Amazônia Central. É interes-
talidade alcançam mais de 90% durante seu pri- sante que muitas espécies de árvores abundan-
meiro ano de vida (Silva, 2002). Três aspectos tes em florestas ciliares, como Talauma ovata,
merecem atenção nessa relação entre a P. têm sementes que são incapazes de germinar
heptaphyllum e as formigas: (1) as saúvas esta- em anaerobiose, mas suas plântulas apresen-
belecem suas colônias e cortam as plântulas tam tolerância à inundação (Lobo e Joly, 1996).
embaixo das copas matrizes, (2) 50% das árvo- Em contraste com os mecanismos de adaptação
res reprodutivas apresentam colônias e (3) as das plântulas, algumas espécies de árvores que
formigas não utilizam as plântulas para o cul- ocorrem em florestas periodicamente inunda-
tivo de fungos, e sim o arilo das sementes dos das podem apresentar frutificação, recrutamen-
frutos que caem no chão da floresta e se acu- to e desenvolvimento das plântulas durante a
mulam próximos às colônias. Dessa forma, estação seca, como forma de evitar os proble-
embora as plântulas sejam ricas em compostos mas causados pela submersão (Lobo e Joly,
secundários, como terpenos (Bandeira et al., 2000).
2001), a presença dessas substâncias não im- Esse pequeno conjunto de estudos desen-
pede a ação devastadora das formigas, que pa- volvidos com espécies de arbustos e árvores na-
recem estabelecer colônias próximas às árvo- tivas dos ecossistemas brasileiros demonstra a
res mais produtivas. enorme variedade de fatores que afetam o re-
Em contraste com as florestas de terra fir- crutamento, o desenvolvimento e a sobrevivên-
me, nas porções de floresta periodicamente cia de plântulas e a diversidade de característi-
inundadas, a submersão é um dos fatores que cas adaptativas apresentadas pelas espécies pa-
afetam significativamente o destino de semen- ra minimizar alguns de seus impactos negati-
tes e plântulas. Em florestas de várzea e de iga- vos.
pó, na Amazônia, por exemplo, o nível médio
dos rios pode aumentar mais de 15 metros na
época de inundação, o que pode deixar plântu- FATORES ANTRÓPICOS,
las submersas por até sete meses (Parolin, RECRUTAMENTO DE
2001). A inundação resulta em solos anóxicos, PLÂNTULAS E CONSERVAÇÃO
na redução da luminosidade e da disponibilida- DA BIODIVERSIDADE
de de nutrientes e, muitas vezes, no soterra- Um dos grandes paradigmas sobre recrutamen-
mento das plântulas. Esses quatro fatores geral- to e sobrevivência de plântulas de espécies le-
mente acarretam redução de crescimento, de- nhosas nas florestas tropicais é o modelo Jan-
composição de clorofila e perda de folhas. As zen-Connell, o qual propõe que a predação de
plântulas não-adaptadas tendem, assim, a sementes e a mortalidade de plântulas estão
sofrer altos níveis de mortalidade. Estudos com diretamente associadas à distância da planta-
Astrocaryum jauari, Hevea brasiliensis (seringuei- matriz. Além das implicações demográficas pa-
ra), Tabebuia avellanedae (ipê) e Inga affinis (inga) ra populações, esse modelo representa um pos-
identificaram adaptações à submersão total ou sível mecanismo para a manutenção da elevada
parcial, como a formação de lenticelas hiper- riqueza de árvores dessas florestas (98 a 307
tróficas e de raízes adventícias (veja Lobo e Joly espécies/ha; Tabarelli e Mantovani, 1999), pois
[2000] para uma síntese). um indivíduo teria pouca probabilidade de ser
Conforme Parolin (2001), a intensidade e substituído por outro da mesma espécie. Esse
o tipo das respostas ou adaptações que as plân- paradigma tem catalisado a atenção de grande

Germinação_15ok.p65 247 17/05/2004, 17:44


248 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

parte dos ecólogos, estimulando o desenvolvi- turbações em interações com polinizadores e


mento de dezenas de estudos no sentido de tes- dispersores de sementes (Araújo e Tabarelli,
tar sua validade para diversas espécies e ecos- 2002).
sistemas (Harms et al., 2000). Tabarelli, Marins e Silva (2002) apresen-
Todavia, novas demandas de conhecimento tam um modelo sintético descrevendo como a
surgem à medida que atividades humanas fragmentação de habitats, a eliminação de dis-
transformam os ecossistemas terrestres tropi- persores de sementes, a extração de madeira e
cais em arquipélagos de fragmentos ou “ilhas”, o efeito de borda agem de forma isolada, combi-
cercados por ambientes hostis aos elementos nada ou sinérgica sobre o recrutamento e a so-
da biota original, como áreas urbanas ou agríco- brevivência de plântulas, jovens e adultos de
las (Gascon, Willianson e Fonseca, 2000). Frag- espécies de árvores nas florestas neotropicais,
mentação e perda de habitat, extração de ma- principalmente nas florestas Atlântica e Ama-
deira, incêndios florestais e caça tendem a ocor- zônica (Figura 15.3). O resultado desses proces-
rer de forma sinérgica e ameaçar grande parte sos sobre plântulas, jovens e adultos é o declínio
dos organismos das biotas fragmentadas (Law- de populações, extinção local (i.e., fragmento),
rance e Cochrane, 2001). Com a fragmentação regional e global de espécies. As grandes árvores
das florestas tropicais, por exemplo, espécies tolerantes à sombra que ocupam o dossel e o
de plantas lenhosas podem ser extintas direta- estrato emergente da floresta (além das que
mente pela perda e dissecação do habitat, pelo produzem madeiras nobres) são particularmen-
aumento nas populações de lianas e por per- te susceptíveis.

Fragmentação
da floresta

Caça Extração Efeito


(eliminação dos dispersores) de madeira de borda

Alteração da estrutura física


da floresta
Invasão de plantas ruderais

Incêndios
florestais

Redução do Redução do recrutamento e


recrutamento da sobrevivência de
plântulas, jovens e adultos

Declínio de populações

! Figura 15.3
Relações entre fragmentação, caça, extração de madeira, efeito de borda, incêndios florestais e declínio de
populações de árvores em florestas neotropicais. Adaptada de Tabarelli, Martins e Silva, 2002).

Germinação_15ok.p65 248 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 249

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GERMINAÇÃO 251

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Germinação_15ok.p65 251 17/05/2004, 17:44


C A P Í T U L O 1 6

INTERFERÊNCIA:
COMPETIÇÃO E ALELOPATIA
Alfredo Gui Ferreira

Este tópico não é comumente abordado nos COMPETIÇÃO


compêndios que se dedicam à germinação. Mas A competição entre plantas pode ser intra-espe-
quando se examina a ecologia da regeneração cífica (indivíduos da mesma espécie) ou inte-
das plantas, essa matéria é de fundamental im- respecífica (espécies diferentes). Adotaremos
portância. Na maioria dos casos, quando o fenô- o conceito de que a “interferência” é entre in-
meno germinação é examinado, tenta-se o iso- divíduos (da mesma espécie ou de espécies di-
lamento de fatores. Amiúde os ensaios são re- ferentes) por exploração de um mesmo local
alizados em laboratório, examinando um, dois de fatores abióticos como “competição”. Ela po-
ou, no máximo, três variáveis e a interação en- derá ser por meio de:
tre aspectos abióticos que podem influenciar a
germinação. Essa forma analítica do exame não
está errada, mas propicia uma visão limitada animal – interação PLANTA
de como o fenômeno germinação ocorre na na-
tureza. Nesta, além de vários fatores abióticos,
há a influência de fat ores bióticos e a interação
interferência
entre eles. É evidente que isso torna o estudo
muito mais complexo.
PLANTA

INTERAÇÃO
A interação tem sido muitas vezes interpreta-
competição alelopatia
da apenas como a relação planta-animal. De
fato, desde a polinização até a dispersão do
diásporo, diferentes TAXA de animais são im-
portantes e, por vezes, a planta tem dependên-
cia acentuada dessa interação (Capítulos 14 e FATORES ABIÓTICOS FATORES BIÓTICOS
15). No entanto, aqui se dará destaque para a
interação existente entre plantas e, por isso,
deve ser designada por “interferência”, seja por
competição (fatores abióticos), seja por “alelo- competição alelopatia
patia” (fatores químicos produzidos por outro
indivíduo) na germinação. A seguir, pode-se
observar como essas relações se hierarquizam. MICRORGANISMOS NO SOLO

Germinação_16ok.p65 253 17/05/2004, 17:44


254 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

◗ Luz: há sementes que necessitam de luz plantas mais tolerantes e que utilizam
para germinar (Capítulo 8) ou de sua au- os poucos recursos existentes, por exem-
sência para disparar o processo germi- plo, de nitrogênio (N) e de fósforo (P).
nativo. As plantas competem em um A não ser para certos grupos de plantas,
mesmo local, no qual outra planta pode como muitas gramíneas nas quais a pre-
estar sombreando uma semente ou alte- sença de nitratos estimula a germinação,
rando a qualidade e a composição espec- a competição por nutrientes entre plan-
tral da radiação, funcionando aí a relação tas só se manifesta após a da instalação
entre Fr/Fre, seja favorecendo, em alguns planta.
casos, ou inibindo, em outros, a germi-
nação; a própria intermitência pelo som- Ademais, plantas sofrendo uma interferên-
breamento temporário pode interferir no cia negativa por competição podem produzir
processo. Após a germinação, no entan- menos sementes e/ou sementes de menor quali-
to, é que a interferência pode ser mais dade, e isso poderá determinar o sucesso de ins-
drástica, pois o processo de fotossíntese talação do futuro indivíduo. Sabe-se que a his-
e de todo o controle morfogenético pode tória da planta-mãe, com os percalços que ocor-
ser alterado pela quantidade e/ou pela rem durante a formação e o amadurecimento
qualidade da luz incidente. da semente, pode alterar a qualidade e o sucesso
◗ Temperatura: o sombreamento, além de germinação das sementes da prole. A seguir,
de mudar a qualidade espectral da ener- pode-se observar como estas relações se hie-
gia radiante, ameniza as variações térmi- rarquizam: interação, interferência e alelopatia.
cas. Há várias sementes que necessitam
do (ou são sinalizadas a germinar, quan-
do há) aumento das variações térmicas ALELOPATIA
em um curto espaço de tempo, como 24 A alelopatia pode ser definida como a interfe-
horas. Isso pode favorecer um tipo de se- rência positiva ou negativa de compostos do
mente ou indivíduo em detrimento de metabolismo secundário produzidos por uma
outro no mesmo local. planta (aleloquímicos) e lançados no meio dire-
◗ Água: a quantidade limitada de preci- tamente sobre o desenvolvimento de outra
pitação pode propiciar que os indivíduos planta ou indiretamente, por meio da transfor-
já instalados ou os que têm capacidade mação das substâncias no solo pela atividade
de sobreviver em lugares onde o poten- de microrganismos.
cial hídrico é mais negativo, competindo Os aleloquímicos chegam ao ambiente por
pelo recurso, alijam ou não permitam a meios aéreos (como os terpenos, que são volá-
germinação e o desenvolvimento de ou- teis), pelo lixiviado das plantas ou por restos
tras plantas. destas, em resteva de culturas ou na serrapi-
◗ Vento: importante para as sementes pe- lheira que cobre o chão das matas, (no caso
quenas que podem ter seus microssítios dos que são solúveis).
modificados, podendo ser enterradas ou A vegetação de uma determinada área pode
desenterradas, o que influi decisivamen- ter um modelo de sucessão condicionado às
te na germinação. plantas preexistentes e às substâncias químicas
◗ pH e nutrientes: o pH do solo em ge- que elas liberaram no meio conforme seu tem-
ral tem níveis que permitem que uma po de residência. Assim, a distribuição e a ocor-
grande quantidade de plantas se desen- rência de associação ou exclusão de plantas po-
volva. No entanto, algumas plantas que dem estar condicionadas às parcerias em ambi-
estão na faixa extrema de tolerância do entes naturais. Quando se cultivam plantas, a
pH, já estressadas, podem sofrer mais ou alelopatia pode ser um fator determinante do
ser inviabilizadas pela ação de outras sucesso ou insucesso da cultura.

Germinação_16ok.p65 254 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 255

Alguns aleloquímicos que podem ser usa- biam a germinação de algumas espécies de hor-
dos como defensivos agrícolas são substâncias tículas e que esse efeito dependia da época do
que aparecem e se conservam na evolução das ano em que as folhas eram coletadas (Tabela
plantas e que representam alguma vantagem 16.1) ou de a espécie ser ou não sensível ao
contra a ação de microrganismos, vírus, insetos efeito alelopático (Jacobi e Ferreira, 1991).
e outros patógenos e pastadores, seja inibindo Muitas vezes, o efeito alelopático não se dá
a ação destes, seja estimulando a crescimento sobre a germinabilidade (percentual final de
das plantas ou ainda oferecendo vantagens ao germinação no tempo), mas sobre a velocidade
indivíduo (ou espécies) na competição com ou- de germinação ou sobre outro parâmetro do
tros vegetais. processo, como pode ser visto na Figura 16.1.
O efeito alelopático pode provocar alterações
Alelopatia na germinação na curva de distribuição da germinação (que
A germinação é menos sensível aos alelo- passa de distribuição normal para uma errática,
químicos do que o crescimento da plântula. Po- alongando a curva através do eixo do tempo
rém, a quantificação experimental é muito mais [Figura 16.2]) ou um padrão complexo de dis-
simples, pois, para cada semente, o fenômeno tribuição de germinação das sementes devido
é discreto, germinando ou não. Nesse contexto, ao ruído informacional (interferências ambien-
substâncias alelopáticas podem induzir o apare- tais que bloqueiam ou retardam o andamento
cimento de plântulas anormais, sendo a necrose de processos metabólicos). Dessa forma, o
da radícula um dos sintomas mais comuns. acompanhamento da germinação deve ser di-
Assim, a avaliação da normalidade das plântu- ário ou em períodos mais curtos que 24 horas.
las é um instrumento valioso. Essas alterações no padrão de germinação
Abordaremos apenas alguns problemas re- podem resultar de efeitos sobre a permeabili-
levantes acerca da germinação de sementes, dade de membranas, a transcrição e tradução
como época do ano de coleta de material com do DNA; do funcionamento dos mensageiros
possível efeito alelopático e distribuição da cur- secundários; da respiração, por seqüestro de
va germinativa. oxigênio (fenóis); da conformação de enzimas
Observou-se que extratos aquosos de folhas e de receptores ou, ainda, da combinação des-
de Mimosa bimucronata (DC) OK (maricá) ini- ses fatores (Rizvi e Rizvi, 1992).

Tabela 16.1 Efeito de extratos aquosos de folhas de Mimosa bimucronata em duas concentrações
sobre a germinação de seis espécies hortículas. Dados em percentual dos controles

Época do ano Concentração gr. Cultura


Folhas/mL água alface Arroz Cenoura Chicória Repolho Tomate

Primavera 01:08 100 100 94 102 96 104


01:04 100 99 90 90 102 103
Verão 01:08 91 99 93 85 100 82
01:04 73* 100 69* 72* 93 46*
Outono 01:08 79* 105 97 83 103 97
01:04 61** 101 75* 62* 105 37**
Inverno 01:08 91 103 95 105 105 81*
01:04 67** 101 65** 75** 98 36**

Significativamente diferente do controle ao nível de 5% (*) ou 1% (**).


Adaptada de Jacobi e Ferreira (1991).

Germinação_16ok.p65 255 17/05/2004, 17:44


256 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

100
a
90 a
Percentagem de germinação

80
70
60
50
40
30 Controle
20 Ext. (-0,156)
10
0
0 24 32 40 48 56 64 72 84 92 100

Tempo (horas)

! Figura 16.1
Percentuais de germinação acumulada de sementes de Mimosa bimucronata (maricá) no extrato (ext.) das
folhas dessa espécie na concentração osmótica de –0,156 MPa. Observe que, após 90 horas, a germinabilidade
é estatisticamente igual. Adaptada de Astarita, Ferreira e Bergonci. (1996).

Germinação de sementes em e a ação alelopática, o controle desta é desejável.


laboratório O uso da temperatura entre 22 e 28oC é o pro-
Os testes de germinação são simples; no en- cedimento mais comum. Deve-se cuidar para
tanto, há uma série de cuidados que devem ser que as placas não sequem. A colocação de duas
tomados para que se possa ter respostas repro- ou três folhas de papel-filtro ou absorvente no
duzíveis. Os testes podem ser realizados em la- fundo da placa diminui o problema. Colocar al-
boratório a temperatura ambiente, porém, godão sob o papel ou uma fina camada de es-
como a temperatura influi sobre a germinação ponja neutra desinfestada pode ser uma boa

45
Germinação (%) não-acumulada

40 Controle

35 Ext. (-0,156)
30
25
20
15

10
5

0
16 24 32 40 48 56 64 72 84 92 100

Tempo (horas)

! Figura 16.2
Germinação no extrato (ext) de folhas de Mimosa bimucronata na concentração osmótica de –0,156 MPa.
Observe que os dados do controle têm distribuição próxima da normal, enquanto, no extrato, além do retar-
do no início da germinação, a curva de distribuição não se aproxima da normal (Ferreira e Aquila, 2000)

Germinação_16ok.p65 256 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 257

alternativa. O uso de ágar-gel também é uma Tomate e alface são duas espécies em que as
possibilidade interessante, mas, nesse caso, o “sementes” (alface é um aquênio) são facil-
gel deve ser de boa qualidade para que não mente encontradas e bastante sensíveis a vários
acrescente mais fontes de interferência. Deve- aleloquímicos.
se evitar o alagamento das placas para impedir A germinação deve ser verificada diaria-
que as sementes bóiem. O uso de películas plás- mente ou em intervalos menores para contabi-
ticas vedando as tampas das placas ou caixas- lizar as sementes germinadas. O critério deve
gerbox também auxilia. Por último, a colocação ser o do aparecimento da curvatura geotrópica
de uma ou mais vasilhas com água no interior da radícula ou o de o tamanho ser no mínimo
da câmara pode evitar problemas de secamento 50% do da semente para evitar falsa germinação
das placas. Esses cuidados são fundamentais, por expansão do embrião com a embebição.
pois a evaporação dos extratos torna-os mais Muitas vezes, o possível alelopático apenas re-
concentrados, o que pode falsear os resultados. tarda o processo germinativo (Figura 16.4A, B).
As sementes-teste podem ser de espécies Alface, gergelim e tomate, em geral, germinam
que se encontrem no local a campo. Como as em 72 horas, dependendo da temperatura. A
espécies nativas, amiúde, possui em algum tipo análise da velocidade e do comportamento da
de dormência, o uso de sementes de espécies curva acumulada de germinação (Capítulo 13)
cultivadas de boa qualidade é aconselhável. pode fornecer indicações importantes sobre o

A
80
70
Controle
% de germinação

60
50 4%

40
30
20
10
0
12 24 36 48 60
Tempo (horas)

B
100
Controle
80
Extrato
% de germinação

60

40

20

0
8 16 24 32 40 48
Tempo (horas)

! Figura 16.3
(A) Comportamento germinativo de aquênios de alface em resposta à ação de extratos de folhas de Myrciaria
cuspidata (camboim), a uma temperatura constante de 20oC (adaptada de Rodrigues, 2002). (B) Comporta-
mento germinativo de sementes de Sesanum indicum (gergelim) na presença de extrato de folhas de Solanum
lycocarpum (lobeira) a uma temperatura de 30oC (Oliveira, 2003).

Germinação_16ok.p65 257 17/05/2004, 17:44


258 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Bomba

! Figura 16.4
Sistema de lixiviar: A – bandeja plástica de 55x40x15 cm com inúmeras perfurações e cheia de água, de
forma a ocorrer um gotejamento contínuo; B – o mesmo tipo de bandeja, com material de serrapilheira ou
material picado e seco da planta que se deseja estudar; C – bandeja sem furos, para coleta do lixiviado, com
bomba de recalque, de forma a reconduzir a substância ao nível A. Adaptada de Chou (1999).

alelopático. O controle do pH e da concentração dos, podem ser utilizados, mas fumigações de-
dos extratos brutos é fundamental, pois pode vem ser evitadas para estudos de alelopatia.
haver neles substâncias como açúcares, aminoá- Então, ao utilizar substrato natural sem esterili-
cidos e ácidos orgânicos, os quais influem na zação, deve-se assumir que há uma dinâmica
concentração iônica e são osmoticamente ativos. de transformações no solo difícil de acompa-
Com o uso de rolo de papel ou solo, a vi- nhar e reproduzir. A germinação será acompa-
sualização da radícula não é o critério utilizado nhada pela emergência da plântula na superfí-
para contabilizar a germinação. Para testes ale- cie do substrato, uma vez que a semente pode
lopáticos, recomenda-se o critério morfológico estar enterrada. Nesse caso, se houver dormên-
(emergência da radícula) como primeira abor- cia regida pela luz, será necessário um pré-tra-
dagem, devendo ser seguido por testes de ger- tamento para sua quebra. Aliás, quaisquer ti-
minação em solo ou areia. Tendo sido inicial- pos de dormência eventualmente existentes de-
mente usado rolo de papel para verificar a ger- vem ser quebrados antes do teste de alelopatia.
minação, se houver desconfiança de alelopatia, Com a utilização de vasos ou canteiros, dois
deve-se realizar os testes em placas conforme procedimentos mais usuais são seguidos: (1)
foi descrito. adicionar o material que se suspeita tenha o
alelopático, incorporando-o ao substrato; (2)
Germinação em casa de vegetação ou lixiviar o material repetidas vezes, obtendo-se
canteiro assim um percolado que contenha o(s) alelo-
Areia lavada (que tem menor interação com químico(s). Na Figura 16.5, tem-se um modelo
as substâncias-teste) e/ou solo, após esteriliza- usado para extrações de aleloquímicos. O lixi-

Germinação_16ok.p65 258 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 259

viado também pode ser obtido de plantas vice- rando substâncias que não estariam ativas se o
jando em vasos, conforme se observa na Figu- processo natural fosse observado, com queda
ra 16.6. Quando o aleloquímico é volátil, ele ao solo, desidratação e decomposição gradativa
pode ser testado usando-se o procedimento de do material. A maceração é um atalho que pode
colocar o material em frascos menores e estes levar a maximizar o fenômeno alelopático. No
dentro de um frasco maior, o qual será tampa- entanto, havendo alguma indicação de alelo-
do, após a colocação de placas forradas com um químicos no material vegetal, a extração com
substrato úmido com as sementes dos bioen- solventes orgânicos pode ser usada para sua ca-
saios. O(s) volátil(eis) liberado(s) poderá(ão) racterização química.
influir na germinação.
Dois procedimentos não são recomenda- Alelopatia no desenvolvimento inicial
dos: (1) extrair o aleloquímico com solventes A emergência da plântula e o seu cresci-
orgânicos (clorofórmio, éter, álcool, etc.), pois mento são as fases mais sensíveis na ontogê-
na natureza isso não ocorre e poder-se-ia estar nese do indivíduo. A massa seca da raiz ou parte
liberando compostos que, em condições natu- aérea e o comprimento das plântulas ou radí-
rais, não atuariam como alelopáticos; (2) macer culas são os parâmetros mais usados para ava-
o material vegetal, pois isso poderia estar libe- liar o efeito alelopático sobre o crescimento. A

Solução nutritiva

Vaso com substrato

Ar

Resina retentora

Suporte para resina

Bomba

! Figura 16.5
Sistema de fluxo contínuo para seqüestrar exsudados de raízes intactas não-perturbadas. O substrato contido
no vaso é retido por filtro apoiado sobre a coluna de resina Ämberlite XAD-4”. A substância filtrada pela
resina é recalcada e oxigenada, servindo para umedecer o topo do vaso. Adaptada de Friedman e Waller
(1985).

Germinação_16ok.p65 259 17/05/2004, 17:44


260 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

quantidade de pêlos absorventes também é um Alface é a planta mais comum como espé-
parâmetro bastante sensível, particularmente cie-alvo para examinar alelopatia entre as hi-
no milho, no qual eles são muito conspícuos drófitas, devido ao pequeno período requerido
(Tabela 16.1). tanto para a sua germinação (24 a 48 horas)
Os testes podem ser realizados seguindo os quanto para o seu crescimento. As reservas que
procedimentos expostos para a germinação, a semente de alface possui, no entanto, não per-
desde que, nos de laboratório, alguns cuidados mitem um desenvolvimento expressivo da
sejam observados rigorosamente, como não dei- plântula sem o uso de nutrientes externos, o
xar secar e concentrar muito, pela evaporação, que é uma limitação. Por outro lado, oferecem
os extratos em teste. Placas de Petri têm a res- uma vantagem extra de ela poder ser cultivada
trição da sua pouca altura e, como a parte aé- em soluções hidropônicas, o que pode ser
rea tem gravitropismo negativo, seu desenvol- manejado para a exploração de algum proble-
vimento nos extratos pode ser limitado pela ma de alelopatia.
tampa da placa.
É interessante, quando se testam extratos, Mecanismo de ação, compostos
não realizar a sua germinação, colocando as se- secundários e outros intervenientes
mentes para germinar previamente em água no fenômeno de alelopatia
destilada e só depois transferindo as plântulas
que tiverem um certo tamanho de radícula, por Mecanismo de ação
exemplo, cinco milímetros, para a solução-tes- O efeito visível dos aleloquímicos sobre as
te. Com isso, pode-se uniformizar a amostra e plantas é somente uma sinalização secundária
obter resultados dos efeitos alelopáticos mais de mudanças anteriores. Assim, os estudos so-
uniformes, o que facilita as análises pela dimi- bre o efeito de aleloquímicos sobre a germina-
nuição da variabilidade, além da possível obten- ção e/ou o desenvolvimento da planta são mani-
ção de amostras do mesmo tamanho. festações secundárias de efeitos ocorridos ini-
A maioria das plantas de interesse econô- cialmente em níveis molecular e celular. Ainda
mico são angiospermas terrestres. No meio ter- há poucas informações sobre esses mecanismos.
restre, as interações das plantas com o substrato O modo de ação dos aleloquímicos pode ser
são difíceis de seguir e testar. Assim, foram pro- grosseiramente dividido em ações direta e indi-
postos alguns testes em meio líquido, mais fá- reta. Nestas últimas, podem-se incluir altera-
ceis de manipular e analisar sob vários aspec- ções nas propriedades do solo, em suas condi-
tos experimentais. A principal vantagem é de ções nutricionais e em populações e/ou ativi-
o(s) aleloquímico(s) já estar(em) no meio dade dos microrganismos. O modo de ação di-
aquoso, sem a necessidade de liberação de com- reto ocorre quando o aleloquímico se liga às
plexos com a matriz do solo. membranas da planta receptora ou penetra nas

Tabela 16.2 Efeito dos extratos de frutos de I. paraguariensis (p/v) e PEG 6000 (MPa) na mesma concentração
dos extratos (n=10) em plantas de milho (4 dias após semeadura)

Variável de crescimento Controle -0,24 MPa 1:16 p/v -0,48 MPa 1:8 p/v -0,96 MPa 1:4 p/v

Comprimento da parte aérea (cm) 7,1a 5,5b 3,8d 4,6c 2,9e 2,0f 1,9f
Comprimento da 1a folha (cm) 4,2a 3,3a 1,1c 2,6b 0,8c 0,6c 0,3c
Massa seca da parte aérea (mg) 26,0a 21,0b 18,0cd 20,0bc 15,0d 11,0e 11,0e
Massa seca da raiz (mg) 32,0a 33,0a 23,0b 32,0a 21,0b 26,0b 11,0c
Comprimento da raiz primária (cm) 14,9a 14,8a 2,2d 11,8b 1,8d 8,0c 1,4d
Número de pêlos absorventes 27,0a 22,6ab 4,7c 19,7b 3,0c 5,7c 0,1c

Média seguida pela mesma letra na linha não-significante pelo teste de Tukey (5%).

Germinação_16ok.p65 260 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 261

células, interferindo diretamente no seu me- Potencial osmótico


tabolismo. Nos estudos de alelopatia, o potencial os-
As alterações do aleloquímico podem ser mótico é um aspecto pouco considerado e que
pontuais, mas, como o metabolismo consiste pode mascarar o fenômeno alelopático. Os efei-
em uma série de reações com vários controles tos do potencial osmótico podem ser notados
do tipo feedback, rotas inteiras podem ser alte- no comportamento germinativo pelo atraso na
radas, mudando processos. velocidade de germinação. Também podem ser
verificados sobre o crescimento da plântula
(Tabela 16.3), na qual se observou que, além
Compostos secundários
Os recentes avanços na química de produ- do efeito osmótico provocado pelo PEG 6000,
tos naturais, por meio de métodos modernos que não penetra nas células, houve efeito ale-
de extração, isolamento, purificação e identifi- lopático do extrato de folhas de Mimosa bimu-
cação, têm contribuído para um conhecimento cronata. O efeito osmótico provocou um cresci-
mais acurado de inúmeros compostos secundá- mento relativo diferencial entre raiz/parte aé-
rios, que podem ser agrupados de diversas for- rea. Quanto mais negativo o potencial, mais a
mas (Quadro 16.1). Muitos desses compostos planta alongou suas raízes em detrimento da
são potencialmente aleloquímicos. Eles variam parte aérea (Figura 16.7).
na planta em concentração, localização e com-
posição, podendo ser excretados para o meio Nitrogênio e outros elementos
no solo ou no ar de forma ativa ou simplesmen- As plantas terrestres estão fixadas ao solo,
te lixiviados. O tempo de residência, a persis- de onde retiram, além de água, a maior parte
tência e a transformação podem aumentar, di- dos nutrientes minerais. Para essas plantas, os
minuir ou fazer cessar o seu efeito alelopático aleloquímicos provêm de restos de plantas vi-
pela ação de microrganismos no solo. Inclusi- zinhas (advindos de folhas, flores, frutos e pó-
ve, o próprio andamento diário do metabolismo len que formam a serrapilheira) e de compostos
primário, com formação de cadeias carbonadas lixiviados pela ação da chuva sobre as copas e
que variam nas diferentes horas do dia, tem os troncos. Podem vir também dos exsudados
repercussões no metabolismo secundário (Fi- das raízes. Os aleloquímicos são transformados
gura 16.6). pela ação dos microrganismos e de vários or-

Tabela 16.3 Efeitos de extratos aquosos de


Quadro 16.1 Principais grupos de compostos
folhas de Mimosa bimucronata em duas
secundários
concentrações sobre a germinação de seis
1 Ácidos: húmico e fúlvico
espécies hortículas. Dados em percentual dos
2 Alcalóides controles. Adaptada de Jacobi e Ferreira, 1991)
3 Aminoácidos não-protéicos
Comprimento (cm)
4 Antocianinas
5 Cianohidrinas e cianohidrinas-glicosídeos Tratamento Plântula Radícula Hipocótilo
6 Esterol e esteróides
Controle 6,56a 3,20a 3,29a
7 Fitoalexinas
PEG (-0,158) MPa 5,63b 2,84b 2,72b
8 Flavonóides, isoflavonóides, chalconas,
Extrato 1:8 (p/v) 2,93c 1,13c 1,82c
auronas e xantinas
PEG (-0414) MPa 5,71b 3,79d 1,90c
9 Naftoquinonas, quinonas, estilbeno e fenantrenos
Extrato 1:4 (p/v) 2,34d 0,85c 1,39d
10 Poliacetilenos
11 Policetonas Nas colunas, valores com mesma letra, diferenças não-significa-
12 Saponinas tivas (LSD de 5%).
13 Taninos *PEG 6000 – Poliotileno Glicol, que pode ter moléculas maiores
14 Terpenos (mono, di, tri e poli) e sesquiterpenos ou menores. Os mais usuais são PEG 4000, 6000 e 8000.

Germinação_16ok.p65 261 17/05/2004, 17:44


262 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

Morfina – média diária = 4,93%

200 HO

150
O
100 N–CH3
HO
50
Morfina
Conteúdo de alcalóides expresso como % diárias

Codeína – média diária = 0,72%

300
H3CO

200
O
N–CH3
100 HO
Codeína

Tebaína – média diária = 0,51%

150 H3CO

100 O
N–CH3
50
CH3O

Tebaína
0

Horas do dia

! Figura 16.6
Mudanças diárias no conteúdo de alcalóides na planta de Papaver somniferum. Adaptada de Waller, Flug e Fujii
(1999).

ganismos que vivem no estrato superior do solo de N disponível para as plantas devido à alta
(minhocas, insetos, fungos, etc.). Na serrapi- atividade e à quantidade de microrganismos
lheira em degradação e na camada superficial que utilizam esse elemento para seu próprio
do solo logo abaixo dela, onde convivem comu- metabolismo, formando uma cadeia de eventos
nidades multivariadas, há, por parte dos micror- que pode ser resumida da seguinte maneira:
ganismos, uma grande demanda de N. A rela- moléculas orgânicas → alta atividade de micror-
ção entre o carbono de matéria carbonada e o ganismos → privação temporária de nitrogênio
nitrogênio é de aproximadamente C:N 30:1. → crescimento limitado das plantas. Isso não
Isso pode levar a uma deficiência temporária é efeito alelopático. De outra parte, os alelo-

Germinação_16ok.p65 262 17/05/2004, 17:44


GERMINAÇÃO 263

Comprimento da plântula
64

60
y = 2,4229x + 44,32
Porcentagem

56 2
R = 0,9922

52 Raíz

48 Parte aérea
y = -2,4x + 55,6
44 2
R = 0,9919
40
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Potencial osmótico (-MPa)

! Figura 16.7
Percentuais de alongamento de plântulas de Mimosa bimucronata em diferentes potenciais osmóticos provo-
cados por PEG 6000, depois de 90 horas de tratamento. Adaptada de Astarita, Ferreira e Bergonci. (1996).

químicos podem influir sobre a atividade desses CONSIDERAÇÕES FINAIS


decompositores, especialmente sobre bactérias A interferência de uma planta sobre outra pode
dos gêneros Nitrosomas, que oxidam amônia a se dar por competição ou alelopatia. O fenô-
nitrito, e Nitrobacter, que oxidam nitrito a nitra- meno da germinação pode sofrer inúmeras
to. Há evidências de que a baixa concentração interferências de natureza abiótica (competição)
de nitratos em áreas-clímax é, muitas vezes, e biótica (alelopatia), podendo ser impedido ou
devida à inibição alelopática da nitrificação (Ri- apenas retardado. Essa dificuldade de instala-
ce, 1984). ção pode ser a determinante do sucesso ou não
Finalmente, deve-se mencionar que meta- de uma certa espécie em um local. Muitas vezes,
bólitos secundários inertes sob o ponto de vista mesmo germinando, a plântula não consegue
alelopático podem ser ativados pela ação dos vencer e se instalar. A análise cuidadosa das cur-
decompositores. vas de germinação não-acumulada, do tempo
Compostos fenólicos inibiram o crescimen- médio de germinação e do vigor da plântula re-
to de fixadores de nitrogênio dos gêneros Azo- cém-germinada pode prever o futuro sucesso ou
tobacter sp., Enterobacter sp. e Clostridium sp. Es- fracasso da instalação de uma espécie, quer como
ses compostos também influenciam o acúmu- cultura, quer como elemento agregado à flora es-
lo e a disponibilidade de fosfato, uma vez que pontânea.
competem pelos sítios de absorção nas micelas
das argilas. A textura e a composição do solo,
como decorrência do que foi exposto, têm in- BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
fluência no efeito alelopático. Em solos areno- ASTARITA, L.V., FERREIRA, A.G.; BERGONCI, J.I. Mi-
sos, há menor adsorção que nos solos coloidais, mosa bimucronta: Allelopathy and osmotic stress.
e, nesse caso, os aleloquímicos liberados seriam Allelopathy Journal v.3 p. 43-50. 1996.
mais efetivos por ficarem livres na fase aquosa CHOU, C.H. Methodologies for Allelopathic Research:
do solo. Embora os efeitos possam ocorrer sobre from Fields to Laboratory. In MACIAS, F.A., GALINDO,
a germinação, o mais comum é eles aconte- J.C.G.; MOLINILLO, J.M.G., CUTLER, H.G. Recent
advances in Allelopathy. IAS. 1999. P. 3-24.
cerem sobre a plântula em instalação.

Germinação_16ok.p65 263 17/05/2004, 17:44


264 FERREIRA, BORGHETTI & COLS.

FERREIRA, A.G.; AQUILA, M.E.A. Alelopatia: uma área RICE, E.R. Allelopathy. New York Acad. Press .1984. p. 442.
emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiolo-
RIZVI, S.J.H. & RIZVI, V. Allelopathy: basic and applied
gia Vegetal v.12(especial) p. 175-204. 2000.
aspects. London. Chapman & Hall. 1992. p.480
FRIEDMAN, J. & WALLER, G.R. Allelopathy and
RODRIGUES, B.N.; PASSINI, T.; FERREIRA, A.G.
autotoxicity. Trends in Biochemical Sciences. V.10 p. 47-
Research on allelopathy in Brazil In NARWALL, S.S.
50. 1985.
Allelopathy Update v.1 Enfield. Science Pub. 1999. p. 307-
INDERJIT; DAKSHINI, K.M.M. & FOY, C.L. Principles 323.
and practices in plant ecology. CRC Press(Boca Raton)..
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JACOBI, U.S.; FERREIRA, A.G. Efeitos alelopáticos de PPG-Botânica/UFRGS. 78p. 2002.
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Germinação_16ok.p65 264 17/05/2004, 17:44


C A P Í T U L O 1 7

COLETA, BENEFICIAMENTO E
ARMAZENAMENTO
Francisco Amaral Villela
Wolmer Brod Peres

COLETA DE SEMENTES lação deve ser tomado aleatoriamente, em de-


A redução da variabilidade genética de popula- trimento do conjunto das sementes colhidas.
ções, causada pela atividade humana, pel acen- Certamente, existe considerável variação gené-
tuado desenvolvimento tecnológico e pela ex- tica nas populações tanto naturais como do-
ploração agropastoril irracional, gera a neces- mésticas; por isso, a amostragem precisa incluir
sidade de estabelecer estratégias adequadas a máxima quantidade de variabilidade genética
para a preservação das reservas de genes ainda útil, com manutenção da coleta de amostras
disponíveis, por meio de coletas periódicas e dentro de limites práticos. Entretanto, quando
da adequada conservação das amostras, com se pretende verificar a variabilidade genética
manutenção de alelos e de complexos gênicos. em uma população de plantas, as coletas devem
Na composição de uma amostra de semen- ser realizadas separadamente por planta.
tes, para assegurar a representatividade, de- Inevitavelmente, os procedimentos de coleta
vem-se coletar sementes de maior número pos- de amostras são passíveis de erro em decorrência
sível de plantas genitoras, tomadas ao acaso, da heterogeneidade do produto. Assegurar que
colhendo preferencialmente igual número de determinado produto possui as características
sementes de cada planta. Em espécies alóga- indicadas é tarefa difícil. A preservação da identi-
mas, as quais predominam em florestas tropi- dade começa na escolha da área de coleta e da
cais, a colheita de pequeno número de sementes semente, estende-se pelas etapas de produção,
de maior número de plantas tem representati- colheita, secagem, beneficiamento, armazena-
vidade maior em comparação a um grande nú- mento, transporte e comercialização e encerra
mero de sementes colhido de reduzido número no consumidor final. A preservação efetiva da
de plantas (Vencovsky, 1987). identidade de lotes individuais pressupõe a ras-
Assim, por exemplo, a representatividade treabilidade por meio de procedimentos de veri-
genética da coleta de 3.000 sementes de 100 ficação e certificação em todas as etapas, tornan-
plantas (30 sementes/planta) é maior quando do de fundamental importância a coleta de
comparada a 5.000 sementes tomadas de 50 amostras e a avaliação da qualidade. O monito-
plantas (100 sementes/planta). Da mesma for- ramento formal e rotineiro para garantir o iso-
ma, na coleta de 3.000 sementes, é preferível a lamento e a rastreabilidade introduz custos adi-
amostragem de 100 plantas, coletando-se 30 cionais no processo produtivo, os quais se tor-
sementes por planta, do que de 50 plantas, to- nam, muitas vezes, insignificantes comparativa-
mando 60 sementes por planta. mente aos custos de descarte, rebeneficiamento,
Convém destacar que, na coleta de amos- devolução ou rejeição do produto, sem levar em
tras, o conjunto das plantas genitoras da popu- conta a perda de reputação, de custo inestimável.

Germinação_17ok.p65 265 19/05/2004, 10:59


266 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

Persistentes esforços devem ser feitos para Empregado para sementes acondicionadas em
assegurar que a amostra representa, de maneira sacarias, deve ter comprimento total não infe-
fidedigna, a composição do lote. Por mais minu- rior a 50 cm.
cioso e preciso que seja o procedimento técnico O amostrador do tipo duplo consiste de um
empregado na análise de laboratório, os resulta- tubo cilíndrico metálico, oco, que se ajusta in-
dos podem não indicar, de fato, a qualidade do ternamente a outro tubo cilíndrico, com extre-
lote caso a amostra não tenha sido adequada- midade afilada. Os dois tubos apresentam aber-
mente coletada, manuseada e conservada. turas que podem ser justapostas por meio de
Entende-se por amostra determinada rotação, com ou sem divisões internas. Confor-
quantidade de um produto retirada do lote, ca- me as dimensões, pode ser empregado para se-
paz de representar, com segurança, os atributos mentes em sacaria (comprimento de 76,2 cm)
deste. Cada porção individual, retirada de dife- ou a granel (comprimento até 2 m).
rentes partes constituintes do lote, é denomina- A amostragem de sementes armazenadas
da amostra simples. As amostras simples reuni- a granel ou durante o beneficiamento deve
das em um recipiente adequado, uma vez ho- atender à seguinte exigência mínima quanto
mogeneizadas, originam a amostra composta às intensidades de amostragem:
que, apropriadamente dividida, forma a amos-
◗ lotes de sementes de até 500 kg: não me-
tra média a ser encaminhada ao laboratório de
nos de cinco amostras simples;
análise. Amostras destinadas à determinação
◗ lotes de sementes de 501 a 3.000 kg: uma
de umidade devem ser enviadas ao laboratório
amostra simples de cada 300 kg, porém
separadamente das que serão usadas para ou-
não menos de cinco amostras simples;
tros fins e acondicionadas em recipientes hermé-
◗ lotes de sementes de 3.001 a 20.000 kg:
ticos, impermeáveis e completamente cheios.
uma amostra simples de cada 500 kg, po-
As amostras retiradas a campo não devem
rém não menos de 10 amostras simples.
ser expostas a temperaturas elevadas, sendo ne-
cessária sua conservação em ambiente com bai-
Para sementes acondicionadas em sacos
xa temperatura (manutenção em caixas térmi-
(na recepção em sacaria ou nas pilhas em arma-
cas com sistema de resfriamento).
zéns convencionais), devem ser retiradas amos-
O técnico responsável pela amostragem de-
tras simples em diferentes sacos:
ve retirar as amostras simples de posições varia-
das, sempre ao acaso, evitando a tendenciosi- ◗ lotes de sementes de até cinco sacos: ca-
dade, verificada ao selecionar, por exemplo, lo- da saco deve ser amostrado, coletando-
cais de fácil acesso. Ao se proceder à amostra- se, no mínimo, cinco amostras simples;
gem, os princípios básicos da representativida- ◗ lotes de sementes de 6 a 30 sacos: uma
de e da aleatoriedade devem ser atendidos. amostra simples de cada três sacos e não
Uma amostra apresenta maior representativi- menos de cinco amostras simples;
dade do lote conforme aumenta a homogenei- ◗ lotes de sementes de 31 a 400 sacos uma
dade dos seus componentes. amostra simples a cada cinco sacos, e
As amostras simples devem ser retiradas não menos de 10 amostras simples;
do lote, sempre que possível, por meio de amos- ◗ lotes de sementes de 401 ou mais sacos:
tradores do tipo simples ou duplo. Para semen- uma amostra simples a cada sete sacos
tes que não deslizam com facilidade, a coleta e não menos de 80 amostras simples.
de amostras deve ser preferencialmente realiza-
da de forma manual. Os pesos máximos dos lotes e mínimos das
O amostrador do tipo simples consta de um amostras médias de sementes das diferentes
tubo cilíndrico apontado, oco, com cabo perfu- espécies são indicados nas Regras para Análise
rado para o descarregamento das sementes. de Sementes (Brasil, 1992).

Germinação_17ok.p65 266 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 267

SECAGEM de de investimentos em infra-estrutura para se-


Na colheita, as sementes apresentam, geral- cagem artificial, apresenta diversas vantagens,
mente, teor de água inadequado para o arma- como possibilidade de colheita antecipada, re-
zenamento. dução de perdas no campo, planejamento da
A maturidade fisiológica representa o mo- colheita, compatibilizando as capacidades de
mento em que é alcançada a máxima produção colheita e secagem, manutenção do produto por
e a melhor qualidade do produto, com as se- período mais prolongado, com redução da velo-
mentes apresentando o máximo peso de maté- cidade de deterioração e obtenção de produto
ria seca. de qualidade superior e com teor de água ade-
Permanecendo na planta após a maturida- quado ao armazenamento.
de fisiológica, as sementes ficam expostas à Para cada binômio umidade relativa do ar
ação das flutuações de temperatura, umidade e temperatura, a semente alcançará um teor
relativa, orvalho e/ou chuvas, que, em proces- de água denominado ponto de equilíbrio hi-
sos alternados de sorção (ganho) e dessorção groscópico (Tabela 17.1). A relação entre a umi-
(perda) de água, potencializam a probabilida- dade relativa do ar e a umidade da semente a
de de ocorrência de deterioração. uma determinada temperatura mostra varia-
O planejamento e a adequada condução da ções pronunciadas na umidade de equilíbrio em
colheita exercem significativa influência na baixas e em altas umidades relativas, e modera-
qualidade e na quantidade de sementes produ- das na faixa de 25 a 70%.
zidas. A antecipação da colheita poderá ocasio- Os principais fatores, além da umidade re-
nar baixas produtividade e qualidade fisiológica lativa do ar, que influem no ponto de equilíbrio
pela presença de sementes imaturas. Por outro higroscópico das sementes são:
lado, colheitas tardias são potencialmente pre- ◗ Constituição química – as sementes ricas
judiciais às sementes que cedo atingiram a ma- em amido apresentam maior teor de
turidade fisiológica e permaneceram por perío- água de equilíbrio do que as ricas em
dos consideráveis no campo. óleo, a uma mesma condição climática,
A antecipação de colheita, embora envolva porque os carboidratos têm maior afini-
aumento no custo de produção, pela necessida- dade higroscópica do que os lipídeos. As

Tabela 17.1 Teor de água (%) de equilíbrio de sementes em diferentes umidades relativas e tempe-
ratura do ar de 25oC

Umidade relativa do ar (%)


Espécie (nome científico) 15 30 45 60 75 90

Abóbora (Cucurbita spp.) 3,7 5,6 7,4 9,0 10,8 –


Algodão (Gossypium spp.) 3,9 6,0 7,5 9,1 11,2 17,8
Amendoim (Arachis hypogaea) 2,6 4,2 5,6 7,2 9,8 13,0
Arroz (Oryza sativa) 6,8 9,0 10,7 12,6 14,4 18,1
Aveia (Avena sativa) 5,7 8,0 9,6 11,8 13,8 18,5
Cebola (Allium cepa) 5,6 8,0 9,5 11,2 13,4 –
Ervilha (Pisum sativum) 6,4 8,6 10,1 11,0 15,0 –
Feijão (Phaseolus vulgaris) 5,6 7,7 9,2 11,1 14,5 18,6
Linho (Linum usitatissimum) 4,4 5,6 6,3 7,9 10,1 15,2
Milho (Zea mays) 6,4 8,4 10,5 12,9 14,8 19,1
Soja (Glycine max) 4,3 6,5 7,4 9,3 13,1 18,8
Tomate (Lycopersicon esculentum) 4,2 6,3 7,8 9,2 11,1 –
Trigo (Triticum aestivum L.) 6,3 8,6 10,6 11,9 14,6 19,7

Germinação_17ok.p65 267 19/05/2004, 10:59


268 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

proteínas são compostos mais higroscó- gráficos ou tabulares; entretanto, será conside-
picos do que os carboidratos, enquanto rada apenas a determinação gráfica, utilizan-
os lipídeos são essencialmente hidrófobos; do-se o gráfico psicrométrico (Figura 17.1). As
◗ Temperatura ambiental – o aumento da propriedades psicrométricas do ar mais utiliza-
temperatura causa redução da umidade das são:
da semente a uma determinada umida-
de relativa. As variações extremas de ◗ Temperatura do bulbo seco (TBS) – é a
temperatura durante o armazenamento temperatura indicada por um termôme-
podem ocasionar variações na umidade tro, expressa em oC. Representada por
de equilíbrio de até dois pontos percen- linhas perpendiculares à base da figura,
tuais; a TBS é determinada na parte inferior
◗ Histerese – as sementes no processo de do gráfico;
sorção (ganho) de água entram em equi- ◗ Temperatura do bulbo úmido (TBU) – é
líbrio higroscópico a teores de água mais a temperatura obtida por um termôme-
baixos em relação ao processo de dessor- tro, com o bulbo revestido com uma gaze
ção (perda) de água, podendo causar dife- úmida cujo contato com uma corrente
renças de até dois pontos percentuais; de ar proporciona a vaporização da água,
◗ Integridade física da semente – as se- que, dependendo de sua intensidade,
mentes danificadas atingem teores de baixará mais ou menos a temperatura.
água de equilíbrio mais elevados do que A TBU é determinada pelas linhas mais
as sementes fisicamente íntegras. oblíquas, e sua leitura é realizada no lado
externo da parte curva do gráfico;
As propriedades físicas do ar podem ser de- ◗ Ponto de orvalho (PO) – é a temperatura
terminadas por meio de métodos analíticos, do ar atingida quando a umidade relativa
5
11

35 37 39
33

30
0
10

30
co

27
r se

C
o

Razão de mistura – g água/kg ar seco


do
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10 100
15
10

5 6
10
5

0
-5 3
0
-5

0
-10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

0,75 0,80 0,85 Temperatura 0,90 Volume específico 0,95


o 3
bulbo seco C m kg ar seco

! Figura 17.1
Gráfico psicrométrico (Peres, 2001).

Germinação_17ok.p65 268 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 269

do ar chega a 100%. Obtido por resfria- A quantidade de água retirada será igual a
mento à razão de mistura constante, é 4 g/kg de ar seco (RM em C – RM em B), e a
representado por linhas horizontais cuja quantidade de calor necessária para aquecer o
leitura é realizada no lado externo da ar será de 19 kJ/kg (E em B – E em A).
parte curva do gráfico; O vapor d’água contido na semente tende
◗ Umidade relativa (UR) – expressa a a ocupar todos os espaços intercelulares dispo-
quantidade de água existente no ar em níveis, gerando pressões em todas as direções,
relação à quantidade máxima que esse inclusive na interface entre a semente e o ar,
ar poderia conter a uma determinada denominada pressão parcial de vapor d’água
temperatura. Por exemplo, se o ar possui na superfície da semente. Por sua vez, a água
18 g e pode conter 30 g de água/kg de ar presente no ar sob a forma de vapor exerce,
seco a uma mesma temperatura, a umi- também, uma pressão parcial, designada pres-
dade relativa é de 60%; são parcial de vapor d’água no ar.
◗ Razão de mistura (RM) – indica a massa O processo de secagem envolve a retirada
de água do ar em relação à unidade da parcial de água da semente pela transferência
massa de ar seco. Representada por li- simultânea de calor do ar para a semente e de
nhas horizontais, a leitura é feita na li- água, por meio de fluxo de vapor, da semente
nha vertical à direita da figura e expressa para o ar.
em gramas de água/kg de ar seco; A secagem de sementes mediante convec-
◗ Volume específico (VE) – expressa o vo- ção forçada do ar aquecido compreende, essen-
lume ocupado pelo ar seco em relação à cialmente, dois processos simultâneos:
unidade de massa de ar seco. O VE é re-
◗ Transferência (evaporação) da água su-
presentado por linhas oblíquas cuja lei-
perficial da semente para o ar circun-
tura é feita na parte mais externa da base
dante, causada pelo gradiente de pressão
da figura, sendo expressa em m3 de ar
parcial de vapor entre a superfície da
seco/kg ar seco;
semente e o ar de secagem;
◗ Entalpia (E) – função termodinâmica re-
◗ Movimento de água do interior para a
presentativa da energia total associada
superfície da semente, em virtude de
à unidade de massa de ar seco. Determi-
gradiente hídrico entre essas duas re-
nada no prolongamento das linhas mais
giões.
oblíquas, sua leitura é feita no lado exter-
no mais distante da parte curva da figu-
O derramamento hidrodinâmico sob a ação
ra.
da pressão total interna e/ou um processo de
difusão resultante de gradientes internos de
O conhecimento dos processos e dos parâ-
temperatura e teor de água é a teoria capaz de
metros psicrométricos permite estabelecer o
explicar o transporte de água do interior para a
consumo energético e o tempo de secagem.
superfície da semente durante a secagem (Las-
Por exemplo, considerando um ambiente
seran, 1978).
em que um psicrômetro fornece TBS = 17oC e
A forma mais utilizada para aumentar o di-
TBU = 15oC, tem-se o estado A (UR = 80%;
ferencial entre as pressões de vapor da superfí-
RM = 10 g/kg ar seco e E = 42 kJ/kg). Quando
cie da semente e do ar de secagem é o aqueci-
o ar é aquecido até 35oC a razão de mistura per-
mento deste último, diminuindo, em conse-
manece constante e, dessa forma, atinge o esta-
qüência, a sua UR, que, dessa forma, adquire
do B (UR = 30% e E = 61 kJ/kg). Se o ar, ao
maior capacidade de retirada de água.
sair do secador, após atravessar a massa de se-
Em termos práticos, a UR tem sido utilizada
mentes, atingir a TBS = 25oC, em um processo
como referência para inferir se a semente irá
isentálpico, teremos o estado C (UR = 70%, RM
perder (secagem), ganhar (umedecimento) ou
= 14 g/kg e TBU = 21oC).

Germinação_17ok.p65 269 19/05/2004, 10:59


270 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

manter sua umidade (equilíbrio higroscópico) ou alta temperatura. A secagem sob baixa tem-
sob determinada condição atmosférica. Confor- peratura pode ser feita com ar à temperatura
me aumenta a temperatura do ar, a UR diminui, ambiente ou parcialmente aquecido, sendo o
elevando a sua capacidade de retenção de água. mesmo forçado através da camada de sementes.
De acordo com o mecanismo de movimenta- Na secagem sob alta temperatura, o ar sofre
ção do ar (movimento relativo do ar e da semen- acentuada elevação de temperatura e, conse-
te), com o aquecimento do ar e com o tempo de qüentemente, ocorre pronunciada redução em
exposição da semente ao ar de secagem, têm-se sua umidade relativa, elevando sua capacidade
diferentes métodos de secagem (Figura 17.2). de retenção de água.
A secagem natural utiliza as energias solar A secagem em camada fixa consiste basica-
e eólica para a remoção da água da semente. É mente em forçar o ar através da massa de se-
realizada na própria planta, no período compre- mentes que permanece sem movimento. Na se-
endido entre a maturidade fisiológica e a colhei- cagem de fluxo cruzado, o ar é movimentado
ta, ou empregando recursos complementares, perpendicularmente à direção de movimento
como terreiros, tabuleiros ou encerados, nos da semente no interior do secador. O ar e as
quais as sementes são esparramadas. A depen- sementes avançam paralelamente no interior
dência das condições psicrométricas do ar e a do secador nas secagens concorrente e contra-
lentidão do processo representam as principais corrente, apesar de os sentidos serem, respec-
limitações, enquanto a simplicidade técnica e tivamente, iguais ou opostos. Na secagem con-
o baixo custo operacional são aspectos positivos tínua, a semente fica o tempo todo sob a ação
do método. do ar aquecido, até que seu teor de água alcance
A secagem artificial realizada com movi- o valor pretendido. Por sua vez, na secagem in-
mentação mecânica do ar pode ser sob baixa termitente, a semente sofre a ação do ar aqueci-

Camada fixa
NATURAL Cruzado
Quanto ao
fluxo Concorrente

Alta temperatura Contracorrente

Quanto à Contínuo
operação Intermitente

Ar ambiente forçado
Baixa temperatura
Aquecimento complementar

ARTIFICIAL

Em combinação

Seca-aeração

! Figura 17.2
Métodos de secagem.

Germinação_17ok.p65 270 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 271

do por intervalos regulares, intercalados por pe- da semente. Os principais fatores envolvidos
ríodos de equalização (sem exposição ao ar em são a temperatura alcançada pela semente, o
movimento). tempo de exposição a essa temperatura, o teor
Na secagem em combinação, emprega-se de água da semente e a velocidade de secagem.
a secagem sob alta temperatura, ocasião em que Na secagem com ar aquecido forçado, é reco-
a semente apresenta elevado teor de água, se- mendável o emprego de temperaturas do ar
guida de secagem sob baixa temperatura para crescentes na fase inicial e decrescentes no fim
complementar o processo até o teor de água da secagem para minimizar os danos térmicos
desejado. A etapa de complementação pode es- decorrentes da rápida remoção de água no iní-
tender-se por longos períodos, dependendo da cio e do excessivo aquecimento do eixo embrio-
espécie, da umidade da semente, da espessura nário/embrião no final (Peske e Villela, 2003).
da camada, do fluxo de ar e das propriedades A secagem estacionária em silo-secador
psicrométricas do ar. com camada espessa estabelece gradientes tér-
A seca-aeração utiliza inicialmente o méto- mico e hídrico na massa de sementes, com a
do sob alta temperatura para a secagem da se- formação de uma região de transição, na qual
mente com até dois ou três pontos percentuais ocorre retirada de água pelo ar, denominada zo-
acima do teor de água de armazenamento, se- na de secagem (Figura 17.3). Nessa secagem,
guido de um período de equalização que varia o avanço da frente de secagem é bastante influ-
de seis a oito horas num silo e, por fim, de uma enciado pelo fluxo e pela umidade relativa do
complementação de secagem mediante ar de secagem. Reduções no gradiente de umi-
movimentação forçada de ar à temperatura am- dade podem ser obtidas com diminuição da es-
biente. pessura da camada de sementes.
A secagem sob alta temperatura pode exer- Em secador intermitente, a semente sofre
cer influência prejudicial à qualidade fisiológica a ação de elevado fluxo de ar aquecido por pe-

Ar úmido

Semente úmida

Zona de secagem

Ventilador

Aquecedor
Semente seca

Plenum Fundo falso

! Figura 17.3
Secador de camada fixa.

Germinação_17ok.p65 271 19/05/2004, 10:59


272 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

ríodos regulares na câmara de secagem, interca- pré-condicionamento, a limpeza, a classifica-


lados por períodos sem exposição ao ar em mo- ção, o tratamento e a embalagem.
vimento na câmara de equalização (Figura 17. A disposição das máquinas, denominada
4). A intermitência possibilita o deslocamento linha de beneficiamento, não deve ser estática.
de água do interior para a superfície da semente Sua flexibilidade depende do tipo de produto,
no período de equalização. Dessa forma, maio- da sua natureza e do grau de contaminação. É
res taxas de remoção de água são obtidas com- muito importante atender aos padrões estabele-
parativamente à secagem em silo-secador. cidos (padrões de sementes e controle interno
As sementes de espécies ortodoxas apresen- de qualidade).
tam acentuada variação quanto à sensibilidade As sementes e os materiais indesejáveis são
aos danos térmicos decorrentes da secagem. separados com base na diferença de suas carac-
Essa variabilidade é influenciada por fatores terísticas físicas, sendo utilizada para isso uma
como espécie, cultivar, teor de água da semente, variedade de máquinas que, em adequada se-
método de secagem, temperatura de secagem qüência, possibilita que cada máquina remova
e tempo de exposição. uma porção específica de impurezas. A remoção
das impurezas que acompanham o produto
(com o mínimo de perda de material) melhora,
BENEFICIAMENTO assim, os atributos do lote com o mínimo de
O beneficiamento consiste na remoção de ma- dispêndio de trabalho (Vaughan, Gregg e De-
terial inerte, de sementes com características louche, 1976).
indesejáveis (danificadas, chochas, deformadas O adequado beneficiamento ocorre com a
e ardidas) ou de sementes de outras espécies escolha entre um grande número de equipa-
cultivadas ou invasoras. O processo de benefi- mentos que separam materiais distintos entre
ciamento envolve a amostragem, a recepção, o si por diferenças de tamanho (largura, espessu-

! Figura 17.4
Secador intermitente.

Germinação_17ok.p65 272 19/05/2004, 10:59


GERMINAÇÃO 273

ra e comprimento), peso, forma, massa, textura da um equipamento básico e de utilização obri-


superficial, cor, condutividade elétrica, entre gatória no fluxo do beneficiamento de sementes
outras propriedades físicas. As características da maioria das espécies. Uma série de peneiras
físicas mais comumente utilizadas na separação de perfurações redonda e/ou oblonga pode ser
entre sementes e impurezas são o peso e o ta- utilizada em uma única máquina para a obten-
manho. ção de diferentes tipos de separação.
Em razão da reduzida quantidade, as se- Existe, no mercado, uma grande variedade
mentes de espécies não-cultivadas são freqüen- de marcas e modelos de equipamentos, que
temente submetidas à limpeza em peneiras ma- compreendem desde máquinas com duas pe-
nuais e/ou em soprador. Todavia, as sementes neiras planas, sem separação por ar, até equipa-
de espécies cultivadas são limpas nesses equipa- mentos providos de oito peneiras e quatro sepa-
mentos ou em máquinas de ar e peneiradas de- rações por ar. Para executar um trabalho efici-
pendendo da quantidade a ser beneficiada. Se- ente, necessita-se de, no mínimo, uma MAP
mentes de plantas invasoras e de outras plantas com duas peneiras. Entretanto, para aprimorar
cultivadas, caso não sejam removidas, represen- a qualidade do produto final, normalmente uti-
tam sérios problemas de contaminação, assim liza-se uma MAP com quatro peneiras planas
como sementes quebradas e ardidas prejudicam e duas separações por ar. Também são encontra-
o armazenamento e colocam em risco a qualida- das máquinas com uma ou duas peneiras cilín-
de do produto. dricas, utilizadas tanto na pré-limpeza como
Toda empresa que deseja um produto de na classificação de diversos tipos de sementes.
qualidade deve possuir um conjunto de equipa- A MAP deve trabalhar sempre em sua má-
mentos em adequada seqüência que proporcio- xima capacidade, pois os custos de energia e
ne o aprimoramento da qualidade do lote de manutenção são fixos. O tipo de semente, o
sementes. grau de contaminação, bem como o número
Um componente importante no beneficia- de peneiras e o tamanho das perfurações das
mento de sementes é o operador da unidade, telas utilizadas influenciam a capacidade da
que deve ser uma pessoa treinada, conhecedora máquina. Em geral, os equipamentos são di-
dos padrões de qualidade e especializada na mensionados em função da área de telas. Na
identificação das características físicas, limi- limpeza das sementes, procura-se deixar por
tações e potencialidades dos equipamentos, maior tempo o material em contato com a pe-
resultando na remoção das impurezas e na me- neira, dando a oportunidade de ele atravessar
lhor classificação do produto. as perfurações, o que aumenta sua eficiência
A máquina de ar e peneiras (MAP) realiza em detrimento da capacidade.
a separação das sementes com base nas dife- A maior dificuldade relacionada com o con-
renças de tamanho e de peso. A largura e a es- trole de qualidade na MAP está associada às
pessura são as características mais usadas na peneiras utilizadas no beneficiamento. É conve-
separação entre sementes e impurezas. A sepa- niente ter, na unidade de beneficiamento, pe-
ração pela espessura é realizada em peneiras neiras pequenas (20 x 20 cm) do mesmo tipo e
com perfuração oblonga, e a pela largura, em tamanho das perfurações das peneiras usadas
peneiras de perfuração redonda. A MAP pode n MAP. Com uma amostra do lote, são realiza-
ser utilizada tanto na pré-limpeza, em que a dos testes que permitem determinar a escolha
prioridade é a quantidade do material benefi- correta das peneiras. Estas são constituídas de
ciado, como na limpeza, na qual se prioriza a chapas metálicas perfuradas com orifícios re-
qualidade do produto final. dondos, oblongos ou triangulares, ou de ma-
A MAP emprega correntes de ar na separa- lhas de arame entrelaçado com aberturas qua-
ção dos materiais leves e peneiras na separação dradas ou retangulares.
pelo tamanho, por meio de diferentes formas e Os separadores de cilindro alveolado e de
dimensões da malha das telas. Ela é considera- disco são os equipamentos utilizados na indús-

Germinação_17ok.p65 273 19/05/2004, 10:59


274 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

cônicos bem-próximos uns aos outros. Em fun-


cionamento, as sementes entram no cilindro
por um lado e saem pela extremidade oposta.
No fundo do cilindro, fica a massa de semen-
tes a ser separada. Com a rotação, as sementes
curtas e outros materiais curtos são levantados
pelos alvéolos e retirados da massa. A rotação
do cilindro produz uma força centrífuga capaz
de manter as sementes ou partículas curtas no
interior dos alvéolos até ao ponto em que haja
inversão suficiente da posição destes, permi-
tindo que elas caiam dos alvéolos para dentro
da calha receptora pela força da gravidade. O
formato e o tamanho dos alvéolos e das semen-
tes (textura superficial, teor de água e massa)
apresentam efeito combinado que faz certas se-
mentes permanecerem nos alvéolos (Harmond,
! Figura 17.5 Branderburg e Klein, 1968).
Máquina de ar e peneiras. Cada cilindro possui alvéolos de mesmo ta-
manho, embora sua variação possa ser obtida
com a troca dos cilindros. O tamanho do alvéolo
tria de sementes para separar materiais confor- é designado por seu diâmetro junto à borda su-
me as diferenças de comprimento. Ambas as perior.
máquinas efetuam a separação levantando a Devido ao fato de serem utilizados somente
fração de material curto de uma mistura con- um tamanho e um formato de alvéolo em cada
tendo materiais curtos e compridos. cilindro, as separações são feitas principalmente
O separador de cilindro alveolado consiste na base da modificação da velocidade de rotação
em um cilindro rotativo inclinado, contendo do cilindro, aumentando ou diminuindo a força
uma calha receptora de separação ajustável em centrífuga, e do ajuste da posição da calha recep-
seu interior. A superfície interna do cilindro tora das sementes levantadas. As sementes, após
possui uma série de alvéolos semi-esféricos ou serem separadas por espessura e largura, na má-

Sementes curtas
Calha coletora

Sementes compridas

Mistura de
Cilindro alveolado sementes curtas
e compridas

! Figura 17.6
Vista em corte de separador de cilindro alveolado, mostrando a separação das sementes curtas das compridas
e sua deposição na calha.

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GERMINAÇÃO 275

quina de ar e peneiras, e pelo comprimento, em


separador de cilindro alveolado, apresentam ta-
manho similar, não necessitando, na maioria das
vezes, de uma seleção mais apurada.
A qualidade das sementes é a freqüente
busca dos produtores. Procurando aprimorar
cada vez mais o produto, são utilizados métodos
e técnicas científicas modernas em equipamen-
tos que, muitas vezes, por uma única caracterís-
tica física, realizam com precisão a separação
de sementes.
À disposição do produtor de sementes exis- ! Figura 17.7
te, no mercado, um equipamento que, adequa- Mesa densimétrica.
damente operado, realiza uma das mais eficien-
tes operações na unidade de beneficiamento, a
separação das sementes pela diferença de den- (lateral e longitudinal), bem como ao movi-
sidade na mesa densimétrica ou mesa de gravi- mento oscilatório variável, as sementes desli-
dade. Corpos de mesmo material podem apre- zam na superfície da mesa em quatro direções:
sentar densidades e massas específicas diferen- para cima, para a frente, para baixo e para trás.
tes, logo, sementes de mesmo tamanho poderão O movimento de oscilação, acompanhado da
ter massas diferentes e, conseqüentemente, inclinação da mesa, determina a descarga das
densidades diferentes. sementes leves na parte mais baixa do equipa-
A mesa de gravidade consiste em uma pla- mento; o movimento para cima faz com que as
taforma fixada a uma sólida fundação. Por meio sementes mais pesadas tenham maior contato
de dois diferentes eixos, é realizada a regulagem com a superfície da mesa, o que, combinado
das inclinações lateral e longitudinal. Um siste- com o movimento para a frente, direciona-as à
ma de polia excêntrica, regulável, fornece à me- parte mais alta. No movimento para baixo, ins-
sa um movimento oscilatório contínuo, de cima tantaneamente as sementes perdem o contato
para a frente e de baixo para trás. Na parte infe- com a mesa; o movimento para trás não lhes
rior da mesa, uma série de ventiladores centrí- muda a direção (Gregg e Fagundes, 1975).
fugos, com regulagens individuais por meio de Para atingir uma adequada separação, a
diafragma, provoca uma corrente de ar ascen- máquina possui duas ações importantes, a se-
dente de pressão uniforme que, ao atravessar a paradora e a estratificadora. O movimento os-
cobertura da mesa, flui na massa de sementes. cilatório determina uma força resultante que
Essas regulagens criam condições para que as produz o efeito de separação sobre as sementes
sementes sejam estratificadas, em camadas so- em contato com a superfície da mesa. Com a
brepostas contendo sementes leves e pesadas, inclinação desta, as sementes tendem a descer,
enquanto fluem sobre a mesa. Na parte inicial acompanhando a direção fornecida pela incli-
da mesa, no lado mais alto, uma bica de descar- nação. Embora a tendência das sementes seja
ga permite a remoção de pedras e materiais pe- descer devido a esta, o movimento oscilatório
sados. Na parte final da mesa, extremidade da mesa transporta as sementes para cima.
mais baixa, divisores ajustáveis permitem sepa- O fluxo de ar proveniente dos ventiladores
rar o lote de sementes geralmente em três fra- separa, por diferença de densidade, sementes
ções – material pesado, material intermediário leves e pesadas, fazendo com que estas perma-
e material leve – e dirigi-los a diferentes bicas neçam em contato com a superficie, acompa-
de descarga. nhando a mesma direção de movimento de vi-
Devido às regulagens que fazem com que a bração, sendo retiradas na parte terminal mais
mesa densimétrica se incline em duas direções alta da mesa de gravidade. Os materiais de

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276 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

maior densidade serão os primeiros a ser sepa- complica a conservação do germoplasma pela
rados, portanto, pedras e torrões de mesmo ta- dificuldade de armazenamento. Essas semen-
manho das sementes e que não foram separa- tes podem apresentar alta ou baixa recal-
dos nas operações anteriores serão descartados citrância. Sementes de alta recalcitrância apre-
nas bicas laterais da mesa de gravidade. sentam tolerância à retirada de poucos pontos
A escolha da cobertura da superfície para percentuais de água e muita sensibilidade a
cada tipo de semente é de fundamental impor- baixas temperaturas. São sementes comuns de
tância. Para sementes grandes, recomenda-se plantas de florestas tropicais úmidas. Já as de
a utilização de chapas metálicas perfuradas ou baixa recalcitrância exibem tolerância à retira-
tela de arame, com abertura de tamanho menor da de elevados pontos percentuais de água, re-
que a semente e nervuras paralelas colocadas duzida sensibilidade a baixas temperaturas e
acima da tela para diminuir o fluxo de sementes baixa germinação quando não-umedecidas.
e manter uma camada uniforme. Para sementes São exemplos as sementes de determinadas
pequenas, recomenda-se o cobrimento da tela plantas de clima temperado e subtropical, como
com tecido que possibilite a passagem do ar, a araucária e o café.
sem que ocorra a travessia das sementes. As sementes ortodoxas podem ser secas até
Sementes com grande diferença de peso es- baixos teores de água (5 a 7%) e armazenadas
pecífico permitem o aumento considerável da em ambientes com baixas temperaturas. Após
capacidade da máquina, reduzindo a zona de a colheita, podem sofrer secagem artificial e ser
estratificação e facilitando a separação das fra- armazenadas por longos períodos, preferencial-
ções pesada, intermediária e leve. O excesso de mente a baixas temperaturas; são resistentes
ar ocasiona mistura de sementes pesadas e le- às adversidades no período de latência e, em
ves, impossibilitando a estratificação. condições adequadas, germinam. São facilmen-
te armazenadas em regiões de clima frio, neces-
sitam de alguns cuidados no armazenamento
ARMAZENAMENTO em regiões de clima temperado e exigem in-
O armazenamento das sementes deve ser ini- tenso controle das condições de armazenamen-
ciado na maturidade fisiológica, e o maior de- to em regiões tropicais.
safio é conseguir que as sementes, após um cer- As sementes que apresentam comporta-
to período, ainda apresentem elevada qualida- mento ortodoxo quando armazenadas com teor
de fisiológica. Assim sendo, o objetivo é manter a de água entre 9 e 13%, mas que, ao serem secas
qualidade das sementes durante o período em que a 7%, perdem significativamente a viabilidade
ficam armazenadas, visto que seu melhoramento são classificadas como subortodoxas ou inter-
não é possível mesmo sob condições ideais. mediárias.
Quanto ao comportamento em relação ao A deterioração das sementes envolve uma
armazenamento, as sementes são classificadas série de alterações fisiológicas, bioquímicas e
em recalcitrantes e ortodoxas. físicas que, eventualmente, causam a morte da
As sementes recalcitrantes não podem ser semente. As alterações são progressivas e deter-
secas abaixo de determinado teor de água sem minadas por fatores genéticos, bióticos e abió-
que ocorram danos fisiológicos. Por exemplo, ticos (clima, insetos e microrganismos), proce-
os diásporos de Araucaria angustifolia perdem a dimentos de colheita, de secagem, de benefi-
viabilidade ao serem secos a teores de água infe- ciamento, de manuseio e de armazenamento
riores a 37%. Não podem ser secos pelos méto- (Figura 17.8).
dos tradicionais de secagem e, quando armaze- Dentre as principais teorias que buscam ex-
nados com elevado teor de água, perdem a via- plicar a deterioração das sementes, destacam-
bilidade em curto espaço de tempo. se o esgotamento das reservas alimentares, a
Grande número de espécies frutíferas e flo- alteração da composição química, como a oxi-
restais possui sementes recalcitrantes, o que dação dos lipídeos e a quebra parcial das proteí-

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GERMINAÇÃO 277

Vírus Nematóides

Bactérias Ácaros

Fungos Insetos

Maturidade Roedores e
da semente pássaros
SEMENTES
E
Temperatura IMPUREZAS Umidade
o
45-0 C 10-25%

Temperatura SEMENTES Umidade


45-0oC DETERIORADAS 10-25%

Cor Oxigênio
e odor Gás carbônico

Peso Toxicidade

Germinação Vigor

! Figura 17.8
Fatores biológicos e físicos determinantes da qualidade fisiológica de sementes armazenadas.

nas, a alteração das membranas celulares, com no armazenamento, redução de qualidade mais
redução da integridade, aumento da permea- rapidamente do que sementes maduras.
bilidade e desorganização, as alterações enzi- A longevidade da semente é bastante influ-
máticas e as alterações de nucleotídeos. enciada pelas condições de armazenamento, so-
O tamanho, a forma e a localização das es- bretudo pelo teor de água e pela temperatura
truturas reprodutivas na semente estão relacio- ambiental (Figura 17.9).
nados com a susceptibilidade aos danos mecâ- Regras empíricas indicam que a longevida-
nicos. Por exemplo, nas sementes de soja, o eixo de da semente é duplicada a cada 1% de dimi-
embrionário está saliente, protegido por fino nuição no seu teor de água (válido para teores
tegumento, ficando exposto a impactos que fa- de água de 5 a 15%) ou a cada 5,5oC de diminui-
cilmente poderão causar danos mecânicos. ção na temperatura (válido para temperaturas
As fissuras nas sementes ocorrem devido de 0 a 40oC).
às flutuações de umidade e à secagem excessiva A temperatura influencia as atividades res-
da cobertura protetora, facilitando a penetração piratórias das sementes e dos microrganismos
de microrganismos e a perda da capacidade de presentes, bem como a atividade, o desenvol-
regulação das trocas hídricas e gasosas. vimento e a reprodução de insetos. Condições
É importante ressaltar que sementes de te- de ambiente seco e frio são mais favoráveis ao
gumento duro podem ser armazenadas por armazenamento de sementes ortodoxas.
mais tempo comparativamente às de tegumento A aeração é a operação de passagem de um
brando. Sementes imaturas geralmente sofrem, fluxo de ar ambiente na massa de sementes,

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278 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

40

Temperatura do grão (oC)


30

20

C D

10 A

grão seco grão úmido


0
5 10 13 15 20 25
Teor de umidade (%, b.u.)

A Zona de boa conservação C Germinação


B Insetos D Fungos

! Figura 17.9
Gráfico da conservação de sementes de cereais.

proporcionando o esfriamento e a homogenei- com a variação da temperatura externa, as se-


zação da umidade das sementes armazenadas. mentes em contato com as paredes do silo ten-
Visa modificar as condições de armazenamento dem a adquirir essa temperatura mais rapida-
do produto pela redução e/ou uniformização da mente do que as que estão no interior do silo,
temperatura da massa de sementes e pela re- acarretando a formação de zonas com diferen-
moção do excesso de etileno, gás carbônico e tes temperaturas. Isso, ocasiona uma movimen-
outros gases, favorecendo a manutenção da tação do ar existente entre as sementes, de
qualidade das sementes. modo que o ar mais quente sobe e, ao encontrar
Sementes armazenadas em silos e arma- as sementes mais frias na parte superior do silo,
zéns graneleiros, embora estocadas com umida- sofre resfriamento, acarretando a condensação
de recomendável, podem sofrer deterioração da umidade na parte superior central da cama-
devido às variações diárias da temperatura; es- da de sementes armazenadas.
tas provocam aumento de umidade em deter- Para manter a temperatura homogênea nas
minados pontos do silo, influindo no aumento sementes e similar à temperatura externa, efe-
de perdas por deterioração. O ar quente res- tua-se a aeração com determinado volume de
fria-se ao passar por regiões mais frias, sofre ar ambiente e sem aquecimento até que ocorra
aumento de umidade relativa, formando o fe- homogeneidade da temperatura na massa de
nômeno denominado migração de umidade. sementes (Figura 17.10).
A aeração não é o único meio de conserva- A aeração em sementes é possível pelo fato
ção de sementes e, portanto, não deve ser tra- de constituir um leito “poroso” com determina-
tada de maneira isolada, mas aliada a eficiente da porcentagem de “vazios” intersticiais por on-
processo de secagem, tratamento fitossanitário de o ar circula. A natureza da semente, a forma,
e acompanhamento da temperatura da massa o teor de água e a compactação influem no coe-
de sementes e do ar do ambiente externo. ficiente de porosidade, que varia de 10 a 50%.
Em um silo contendo sementes com umi- Esse valor é indicativo da quantidade de energia
dade de 12% a uma determinada temperatura, necessária para vencer as perdas de carga ou con-

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GERMINAÇÃO 279

11 lenta secagem, podendo ser combinada com


aquecimento suplementar, que permite aumen-
10 tar o poder secante do ar. A aeração de manu-
Aeração possível, com riscos de
tenção é empregada no armazenamento inter-
Diferença de temperatura entre grãos e ar exterior (oC)

condensação e secagem excessiva


9
mediário para sementes com teores de água su-
8
periores a 15% enquanto é aguardada a seca-
gem. A aeração de resfriamento é utilizada no
7 armazenamento convencional, em sementes
com teores de água de 13%, sendo aplicada em
6 Aeração doses freqüentes para evitar o aquecimento da
recomendada
massa de sementes e/ou para manter resfriado
5
o lote destas.
4
Sempre que as condições climáticas forem
Aeração adequadas, deve-se realizar preventivamente a
3 possível aeração das sementes armazenadas, procuran-
do que a massa seja mantida a temperaturas
2 Aeração sem inferiores a 18oC.
interesse
No controle da aeração, constata-se que as
1
camadas aeradas são esfriadas sucessivamente.
Observa-se o início de aquecimento nas cama-
30 40 50 60 70 80 90 100 das mais distantes com o desprendimento de
calor da semente, podendo ocasionar o desen-
Umidade relativa do ar exterior (%)
volvimento de fungos e a perda de qualidade.
! Figura 17.10 A velocidade de progressão da frente de res-
Gráfico do uso da aeração para cereais com umida- friamento deve ser tal que a última camada de
de normal, para armazenamento e comercialização.
sementes seja atingida pelo ar frio antes de ser
aquecida. Ao atingir a camada mais distante, é
aconselhável manter a aeração até seu completo
trapressões ocasionadas pela resistência à circu- resfriamento, ou seja, até que a temperatura
lação forçada do ar. As perdas de carga podem dessa camada de sementes se iguale à tempera-
também variar segundo a vazão de ar aplicada, tura do ar de aeração.
a espessura da massa de sementes, as dimensões O desconhecimento e/ou a negligência dos
e a concepção do sistema de distribuição. responsáveis técnicos pelas unidades armaze-
Para o dimensionamento de uma instalação nadoras acarreta a perda da qualidade das se-
de aeração, é indispensável o conhecimento das mentes por aquecimento, infestação de insetos,
propriedades biológicas e físicas das sementes proliferação de fungos, ocasionando a redução
que serão conservadas e das características téc- de vigor na semente.
nicas dos materiais a serem utilizados, levando Os fatores de perdas de sementes armaze-
em consideração que a aeração é um meio para nadas podem ser agrupados em: autodecom-
favorecer a conservação de produtos deteriorá- posição, ataque microbiano, ataque de pragas
veis, como as sementes. É necessário salientar e físicos. Embora haja estreita relação entre eles,
que a aeração tem aplicações múltiplas, confor- é possível estabelecer predominância de carac-
me a natureza e o teor de água das sementes, terísticas diferenciadas para cada origem.
desempenhando um importante papel na su- O êxito no controle das pragas que atacam
cessão das operações de condicionamento e as sementes armazenadas requer a correta
conservação. identificação dos insetos presentes na massa
A aeração de sementes apresenta múltiplas de sementes para a escolha do inseticida e da
funções. A aeração secante é utilizada para uma dose a ser utilizada. O resultado da ação de inse-

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280 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

tos em sementes armazenadas traduz-se em a câmara fria, a câmara seca e a câmara fria e
perdas de peso e poder germinativo, desvalori- seca. A primeira destina-se à conservação de se-
zação comercial do produto, disseminação de mentes sob temperatura controlada, geralmente
fungos e surgimento de bolsas de calor durante inferior a 10oC. Apresenta elevada umidade re-
o armazenamento. lativa do ar, o que pode ocasionar aumento da
A adequada e permanente higienização das umidade das sementes caso não sejam acondi-
instalações de armazenamento é a prática mais cionadas em embalagens impermeáveis.
eficiente e imprescindível para combater os A câmara seca apresenta controle de umi-
insetos que atacam as sementes armazenadas. dade relativa do ar ao redor 40 a 45%, empre-
Antes de iniciar uma nova safra ou receber no- gando dessecantes químicos, como sílica gel e
vos produtos, uma correta limpeza das instala- alumina ativada. As sementes devem ser acon-
ções, de preferência com ar comprimido e as- dicionadas em embalagens permeáveis.
piradores pneumáticos, deve ser efetuada, e os Na câmara fria e seca, a temperatura e a
detritos, queimados ou enterrados. umidade relativa do ar são mantidas em valores
É fundamental que seja realizada uma revi- específicos por meio de refrigeração e desumi-
são completa em telhados, calhas, dutos, ralos dificação. As condições recomendadas para o
e galerias a fim de eliminar eventuais goteiras, armazenamento em longo prazo são tempera-
vazamentos e/ou inadequado escoamento de tura de 5 a 10oC e umidade relativa de 40 a 45 %.
águas pluviais. Fendas e rachaduras nos pisos, Na conservação de sementes ortodoxas em
paredes e calçadas poderão abrigar grãos e resí- bancos de germoplasma, são recomendadas
duos infestados, bem como infiltrações nas épo- temperaturas abaixo de 0oC e umidade relativa
cas chuvosas. É importante verificar as áreas do ar inferior a 25 ou 30% para a preservação
externas das unidades armazenadoras para evi- da qualidade fisiológica das sementes por lon-
tar a ocorrência de vegetação que possa servir gos períodos.
de abrigo ou alimentação a insetos, ratos e ou- A preservação da qualidade fisiológica de
tras pragas. sementes sob determinadas condições ambien-
Adequadas condições de armazenamento tais de temperatura e umidade relativa do ar é
para a conservação de sementes podem ser obti- influenciada pelo tipo de embalagem utilizada.
das pela localização dos armazéns em locais As embalagens, quanto à permeabilidade ao va-
onde as condições climáticas sejam favoráveis, por d’água, podem ser classificadas em permeá-
sendo necessária a secagem da semente até o veis, semipermeáveis e impermeáveis.
teor de água seguro. Por outro lado, se as condi- As embalagens permeáveis permitem a tro-
ções climáticas forem desfavoráveis ou se o pe- ca de vapor entre as sementes e o ambiente ex-
ríodo de armazenamento for prolongado, a al- terno circundante. Por isso, o teor de água das
ternativa será a modificação artificial das con- sementes sofre flutuações com as variações de
dições ambientais. umidade relativa do ar. Os principais materiais
Os armazéns convencionais são unidades empregados comercialmente na confecção de
de piso plano destinados ao armazenamento embalagens permeáveis de sementes são papel,
de sementes em sacos, dispostos em pilhas so- algodão, juta e polipropileno trançado.
bre estrados. As embalagens semipermeáveis mostram-
Os silos são unidades destinadas ao arma- se resistentes à troca de vapor d’água entre as
zenamento a granel, construídos de concreto, sementes e o ambiente externo circundante.
alvenaria, madeira ou metal. Podem ser verti- Para a conservação de sementes em embalagens
cais, quando apresentam altura superior ao di- semipermeáveis, o teor de água das sementes
âmetro, ou horizontais (armazéns graneleiros), deve ser de 2 a 3 pontos percentuais inferior ao
caso a altura seja inferior às dimensões da base. empregado nas embalagens permeáveis. Os
Dentre os sistemas de conservação em am- materiais utilizados nesse tipo de embalagem
biente controlado artificialmente, destacam-se são polietileno de baixa espessura e combina-

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GERMINAÇÃO 281

ções de lâminas de papel e outro material (pa- HARMOND, J. E.; BRANDERBURG, N.E.; KLEIN, L.M.
pel aluminizado, plastificado e com película de Mechanical seed cleaning and handling. Agricultural
Handbook, n. 354, USDA, 1968.
asfalto).
As embalagens impermeáveis impedem o LASSERAN, J. C. Princípios gerais de secagem. Revista
intercâmbio de vapor d’água entre as sementes Brasileira de Armazenamento. n.3, p. 17-45, 1978.
e o meio externo. Geralmente, são empregados LASSERAN, J. C. Aeração de grãos. Viçosa: CETREINAR,
sacos de polietileno espesso, de média e alta 1981. 128p.
densidades, envelopes de alumínio, embala- PERES, W. B. Aeração em grãos armazenados. Pelotas:
gens metálicas de alumínio e folhas de flandres UFPel, 2000, 36 p.
com sistema de recravação e recipientes de vi- PERES, W. B. Manutenção da qualidade de grãos e se-
dro com gaxeta de vedação na tampa. mentes. Pelotas: UFPel, 2001, 78p.
PESKE, S.T.; VILLELA, F.A. Secagem de sementes. In:
Peske, S.T.; Rosenthal, M.D.; Rota, G.R.M. Sementes:
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA fundamentos científicos e tecnológicos. Pelotas: UFPel,
AGUIRRE, R.; PESKE, S. T. Manual de beneficiamento 2003. p.283-322.
de sementes. Cali: CIAT, 1992. 217p.
VAUGHAN, C. E.; GREGG, B. R.; DELOUCHE, J. C. Bene-
BRASIL. Ministério da Agricultura. Regras para análi- ficiamento de sementes. Brasília: AGIPLAN, 1976. 195p.
se de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 1992.
VENCOVSKY, R. Tamanho efetivo populacional e pre-
365p.
servação de germoplasmas de espécies alógamas. IPEF,
BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F. W.; HALL, C. n.35, p. 79-84, 1987.
W. Drying and storage of grains and oilseeds. New York:
VILLELA, F. A.; PESKE, S. T. Secagem e beneficiamento
AVI, 1992. 450 p.
de sementes de arroz irrigado. IN: PESKE, S. T.; NEDEL,
GREGG,B.R.; FAGUNDES, S.R. Manual de operações J. L.; BARROS, A. C. S. A. Produção de arroz irrigado.
da mesa de gravidade. Brasília: AGIPLAN, 1975. 78p. Pelotas: UFPel, 1998. p.431-468.

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C A P Í T U L O 1 8

TESTES DE QUALIDADE
Fatima C. Márquez Piña-Rodrigues
Márcia Balistiero Figliolia
Maria Célia Peixoto

O estabelecimento de testes de avaliação da e Cohn, 1998). Dessa maneira, a metodologia


qualidade de sementes passa, inicialmente, pela de avaliação da qualidade das sementes teve
definição do próprio termo. Tecnicamente de se adaptar e evoluir no mesmo ritmo vertigi-
“qualidade” refere-se às características relativas noso, muitas vezes antecipando-se ao uso em
às propriedades genéticas, físicas, fisiológicas larga escala de novas técnicas de produção.
e sanitárias das sementes e dos lotes (Carvalho No Brasil, esse processo ocorre de forma
e Nakagawa, 2000). mais lenta, sendo, no entanto, visível nos traba-
Enquanto nas décadas de 1970 e 80 as lhos publicados na Revista Brasileira de Semen-
pesquisas enfatizaram a produção, os métodos tes1 e em outros veículos de difusão científica.
de melhoramento genético e os de avaliação da Apesar disso, as Regras para Análise de Semen-
qualidade das sementes, a partir de 1993, os tes (RAS) (Brasil, 1992), publicação oficial que
temas passaram a abordar aspectos da biolo- preconiza os métodos de avaliação da qualidade
gia, em especial sobre mecanismos fisiológicos de sementes, ainda não incorporam os avan-
envolvidos na germinação, na deterioração, na ços da pesquisa nas regiões tropicais, sobretu-
dormência e na interação ecológica entre a se- do de espécies florestais brasileiras.
mente e o ambiente (USDA, 1997). Considerando essa lacuna, foi iniciado um
O advento da biotecnologia tem como con- processo de aferição de metodologias de análise
seqüência direta o aumento do custo da semen- definindo como prioritárias as espécies flores-
te, transformada em um produto tecnológico. tais que apresentassem maior volume de pes-
Por outro lado, isso gera a necessidade de me- quisas e que fossem produzidas pelo maior nú-
lhor estabelecimento das plantas e de avaliação mero de instituições2 .
dessa semente e de sua habilidade de produzir
plantas de alta qualidade. Assim, o aumento
do custo das sementes estimulará mais pesqui-
sas que possam estimar essa qualidade, seja ex-
pressa por sua germinação ou pelo vigor das
sementes ou das plantas no campo (Taylor et 1 A Revista Brasileira de Sementes é o principal veículo de divulgação
al., 1998). técnico-científico da Associação Brasileira de Tecnologia de Semen-
Apesar das mudanças temáticas, a questão tes (ABRATES), vinculada à ISTA (International Seed Testing As-
sociation), e que congrega pesquisadores de vários setores das áre-
principal, ao longo dos 25 anos de pesquisa, as agrícola, biológica e florestal.
continuou sendo a produção, a avaliação da 2 O processo vem sendo realizado pelo Comitê Técnico de Análise

qualidade, a melhoria do seu desempenho e o de Sementes Florestais da Associação Brasileira de Tecnologia de


Sementes (CTSF/ABRATES) e pelas Redes de Sementes Florestais,
entendimento da biologia e da ecologia como criadas por intermédio do Fundo Nacional do Meio Ambiente, pe-
base para a tecnologia de sementes (Bradford los Editais 04/2000 e 01/2001, do Ministério do Meio Ambiente.

Germinação_18ok.p65 283 19/05/2004, 11:00


284 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

AS REGRAS PARA ANÁLISE em espécies altamente melhoradas, das quais


DE SEMENTES (RAS) se espera maior homogeneidade genética, as
A avaliação da qualidade de um lote requer que variações fisiológicas entre sementes (indiví-
se utilizem metodologias padronizadas, de mo- duos da população) são muito maiores do que
do que os testes sejam reproduzíveis em qual- geralmente vem sendo apresentado (Still e
quer laboratório, com o mesmo material gené- Bradford, 1997). Por outro lado, os estudos ge-
tico. As Regras para Análise de Sementes (RAS) néticos conduzidos até agora têm encontrado
estabelecem e especificam padrões a serem uti- menos variação do que se esperaria para mate-
lizados, desde o tamanho da amostra até instru- riais genéticos não-domesticados como os de
ções para realização das análise de qualidade espécies florestais (Kageyama et al., 2003a).
de sementes (Marcos Filho, Cicero, Silva, 1987; Para espécies melhoradas, a pureza genética é o
Carvalho e Nakagawa, 2000). No Brasil, as atu- objetivo principal, em que a composição gené-
ais RAS fundamentam-se nas Regras Interna- tica do material melhorado e, posteriormente,
cionais da ISTA (International Seed Testing As- multiplicado pelo produtor deve ser mantida.
sociation; 1993, 1999) e da AOSA (Association
of Official Seed Analysis; 1983), que regulam Métodos de avaliação da qualidade
os métodos a serem empregados na análise de genética
sementes no comércio internacional. Muitas es- Entre os testes mais utilizados, está a ele-
pécies florestais, ornamentais e medicinais da troforese (Rosa et al., 2000a), descrita em mai-
região neotropical não apresentam metodolo- ores detalhes por Alfenas (1998). Os testes de
gias padronizadas. pureza genética utilizando o método de géis ele-
As RAS apresentam padrões e metodologias troforéticos têm sido criticados por se restringi-
definidos para espécies exóticas de alto valor rem a poucas enzimas que produzem diferentes
comercial para o Brasil, como os gêneros Pinus, padrões de polimorfismo para cada pai envolvi-
Acacia e Eucalyptus, mas para poucas espécies do. Autores como McDonald (1998) conside-
consideradas como nativas brasileiras, como ram que essa ferramenta não apresenta a acu-
Araucaria angustifolia. Nesse sentido, o Comitê rácia necessária para discriminar diferenças en-
Técnico de Sementes Florestais (CTSF) da tre variedades, uma vez que a composição de
Associação Brasileira de Tecnologia de Semen- nucleotídeos de um gene é determinada ape-
tes (ABRATES) vem, desde 1987, promovendo nas indiretamente por seu produto, a enzima.
a publicação de manuais que visam orientar a Além disso, inexiste uma correlação que permi-
realização de testes de qualidade de sementes ta analisar se o padrão de variação obtido se
florestais. Em função disso, vários trabalhos fo- reflete em características da planta, pois não
ram publicados com o objetivo de disponibilizar se sabe quais dessas características são contro-
informações sobre essas espécies (Piña-Rodri- ladas pelas enzimas estudadas (McDonald,
gues, 1988; Oliveira et al., 1989; Piña-Rodrigues, 1990). No entanto, essa técnica foi utilizada
Costa e Reis, 1989; Aguiar, Piña-Rodrigues, com sucesso na estimativa de parâmetros gené-
Figliolia, 1993; Silva, Piña-Rodrigues, Figliolia, ticos para populações de Araucaria angustifolia
1995; Figliolia e Piña-Rodrigues, 1995a). por Sousa (2000).
O teste de DNA polimórfico amplificado ao
acaso, conhecido como RAPD (Random Ampli-
QUALIDADE GENÉTICA fication of Polymorphic DNA), com base na rea-
Os testes de qualidade genética devem conside- ção em cadeia da polimerase (PCR), tem sido
rar que a semente é o produto de uma popula- adotado na comprovação de pureza varietal e
ção, ou seja, de um conjunto de indivíduos, e na identificação de cultivares por ser uma téc-
seus delineamentos experimentais devem in- nica simples, de baixo custo, acessível e que não
cluir a variabilidade existente dentro e entre requer nenhuma informação prévia sobre se-
populações (Bradford e Cohn, 1998). Mesmo qüências de nucleotídeos do genoma de qual-

Germinação_18ok.p65 284 19/05/2004, 11:00


GERMINAÇÃO 285

quer espécie em análise (Binneck, Nedel e De- sua origem. Já a utilização de marcador
lagostin, 2002). O princípio da análise RAPD molecular RAPD foi eficiente na discriminação
baseia-se na utilização de um primer (oligonu- das matrizes, separando-as em quatro grupos
cleotídeo) de seqüência aleatória que poderá, distintos.
ao acaso, complementar algumas seqüências- Outra técnica adotada para avaliar a pureza
alvo, distribuídas ao longo do genoma. Poste- genética é a conhecida como RFLP. Os marca-
riormente, os locos que passam a apresentar dores genéticos usados na técnica de RFLP (Res-
duas seqüências-alvo em fitas opostas são am- triction Fragment Length Polymorphisms) são co-
plificados pelo processo de reação em cadeia dominantes, o que permite a distinção entre
da polimerase (PCR). Cada um dos fragmentos homozigotos e heterozigotos, propiciando a ob-
amplificados representaria diferentes locos, de tenção de vasta informação genética de um
tamanhos variáveis, que poderiam ser distin- simples loco. No entanto, seu principal inconve-
tos entre si utilizando-se a eletroforese (Ferreira niente para a adoção em larga escala baseia-se
e Grattapaglia, 1996) e que, teoricamente, se- na necessidade de alta quantidade de DNA, o
riam considerados como polimórficos. Porém, que torna a automação do processo de mapea-
é nesse processo que vários autores questionam mento gênico uma atividade difícil (McDonald,
a técnica, em especial por se desconhecer os 1998). Para sobrepor essas dificuldades, várias
parâmetros que governam os eventos de am- técnicas têm sido estudadas, entre elas méto-
pliação na análise RAPD (Binneck, Nedel e dos que empregam microssatélites e marcado-
Delagostin, 2002). res genéticos (fingerprints). No entanto, todas
Os principais problemas da utilização des- essas técnicas têm esbarrado com a necessidade
sa técnica são a sua baixa reprodutibilidade e a de agilizar seu uso com a adoção de processos
pequena resolução das bandas e da caracteri- de análise automatizada e produzir marcadores
zação da homologia dos produtos. O uso dessa e microssatélites em escala que permita criar
metodologia tem adeptos por ser conciderada um mapa genotípico específico.
de baixo impacto ambiental, além de requerer
equipamentos bastante semelhantes aos em-
pregados no estudo de eletroforese (Ferreira e QUALIDADE FISIOLÓGICA
Grattapaglia, 1996; McDonald, 1998).
A avaliação da pureza varietal que emprega Teste de germinação
o método marcador RAPD é utilizada para mui- O teste de germinação consiste em determi-
tas espécies agrícolas, como Glycine max (soja), nar o potencial germinativo de um dado lote
Gossypium hirsutum (algodão), Arachis hipogea de forma a avaliar a qualidade fisiológica das
(amendoim), Triticum aestivum (trigo) (McDo- sementes para fins de semeadura e produção
nald, 1995) e Zea mays (milho) (Zhang, McDo- de mudas (Brasil, 1992; Carvalho e Nakagawa,
nald e Sweeney, 1996). O uso mais freqüente 2000). Como se trata de um teste de controle
da análise RAPD tem sido a identificação de de qualidade, deve ser realizado em ambiente
cultivares de diferentes espécies de interesse de laboratório, sob condições controladas de
nas regiões tropicais, como Lycopersicum esculen- temperatura, teor de água e luz. Dessa forma,
tum (tomate) (Noli et al., 1999) e Carica papaya é possibilitado às sementes expressarem seu
(mamão) (Stiles et al., 1993). máximo poder germinativo e vigor sem que ha-
Para espécies florestais, os testes genéticos ja interferências externas indesejáveis. Os testes
têm como principal finalidade avaliar a diver- de germinação em condições de laboratório ob-
sidade intra e interpopulacional (Kageyama et jetivam qualificar e quantificar o valor das se-
al., 2003a, 2003b). Com esse objetivo, Leite mentes vivas, capazes de produzir plantas nor-
(2001) constatou alta diversidade morfométrica mais sob condições favoráveis de campo (Fi-
nos diásporos de Syagrus romanzoffiana, mas que gliolia, Oliveira e Piña-Rodrigues, 1993). Eles
não permitiu agrupar as matrizes com base em devem ser realizados de acordo com as reco-

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286 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

mendações ou prescrições estabelecidas nas em autoclave a 1 atm por 30 minutos ou em


Regras para Análise de Sementes (RAS). Con- estufa com circulação de ar forçado a 105oC por
siderações práticas sobre o teste de germinação 24 horas ou a 150oC por 8 horas. As RAS pres-
com espécies florestais são feitas por Figliolia e crevem outros substratos, como areia e rolo de
Piña-Rodrigues (1995b), que apresentam as papel, que não são muito utilizados pelos labo-
melhores condições de temperatura e substrato ratórios de análise de sementes florestais.
obtidas em levantamento de literatura. Os recipientes mais usados para as semen-
tes pequenas são as tradicionais caixas plás-
Condições e equipamentos ticas transparentes (gerbox) prescritas nas RAS.
Em conformidade com as RAS, a literatura Para as sementes de tamanho médio e grande,
evidencia que, para a maioria das espécies tropi- são empregados recipientes maiores e transpa-
cais e subtropicais, a faixa ótima de temperatu- rentes, de plástico ou de vidro, com ou sem tam-
ra para a germinação se dá entre 15 e 30oC, com pa, de tamanhos variados como 20 × 30, 20 ×
temperaturas alternadas de 20 a 30oC e de 10 a 25, 20 × 20, 20 × 15.
30oC. Para a manutenção das temperaturas, são
utilizados equipamentos (germinadores ou câ- Instalação do teste
maras) com sistema de controle automático. Embora as RAS prescrevam o uso de 400
No regime de alternância, as sementes são sementes para o teste de germinação, nem sem-
mantidas na temperatura mais baixa por 16 pre isso é possível para as espécies florestais,
horas e na mais alta por 8 horas. basicamente por dois motivos: primeiro, pelo
Estudos revelam que o teor de água e o tipo tamanho das sementes e, segundo, pela baixa
de substrato exigido pelas sementes variam produção das mesmas, muito comum pelo fato
muito de acordo com as características ecológi- de a maioria das espécies não estar domestica-
cas (Oliveira, Piña-Rodrigues, Figliolia, 1989). da e, sim ocorre em sua área natural. Isso re-
Espécies com sementes de tamanho médio a quer necessariamente a redução do número de
grande e que ocorrem nas encostas úmidas e sementes por repetição e, em conseqüências
nas margens de rios preferem substratos mais padrões de tolerância mais rígidos. Nesses ca-
granulados e úmidos. Para esse grupo, é reco- sos, os técnicos do setor florestal adotam o uso
mendado o uso de vermiculita e teores de água de 100 sementes (4 repetições de 25 sementes
variando de 60 a 90 ml. Por outro lado, para as ou 5 × 20 sementes). Como exemplo, citamos
espécies de locais mais secos, como as florestas Centrolobium tomentosum, Dipteryx alata e Ocotea
semideciduais e o Cerrado, e com sementes pe- porosa, que apresentam cerca de 100, 60 e 500
quenas, recomenda-se o uso de papel-filtro e sementes por quilograma, respectivamente, e
teores de água variando de 6 a 10 ml. É impor- por outro lado têm produção restrita.
tante salientar que o meio em que a semente é A semeadura pode ser feita sobre ou entre
colocada para germinar deve permanecer sem- os substratos. Para minimizar a ação de fungos
pre úmido para não haver interferência no de- de ambiente, recomenda-se usar a semeadura
senvolvimento da plântula. A vermiculita (ar- entre vermiculita ou areia. No caso de vermi-
gila mineral expandida) tem sido o substrato culita, a quantidade normalmente utilizada é de
mais empregado em espécies florestais pelos 30 g/gerbox ou 90 a 150 g por pirex, conforme o
excelentes resultados demostrada. Apresenta, tamanho descrito anteriormente. Independen-
porém, a necessidade de se empregar recipien- temente do substrato escolhido, é importante
tes de maiores dimensões e, com isso, maior manter um espaçamento amplo entre as semen-
volume de substrato. Sua inclusão nas RAS de- tes a fim de evitar contaminação de fungos ou
pende da fixação e da padronização das bactérias entre elas. O espaçamento adequado é
granulometrias a serem utilizadas para cada de 1,5 a 5 vezes o tamanho da semente.
tipo de semente. Assim como outros substratos, A duração do teste varia muito entre as es-
a vermiculita deve ser esterilizada antes do uso, pécies, podendo ser de 10 dias para os ingás

Germinação_18ok.p65 286 19/05/2004, 11:00


GERMINAÇÃO 287

(Inga spp.) e angicos (Parapiptadenia spp.), de 1994). O princípio do teste baseia-se na reação
20 dias para os ipês e de 60 dias para algumas do sal 2,3,5 trifenil tetrazólio com íons de H+
palmeiras. As contagens são feitas em interva- resultantes do processo de respiração das se-
los de 3 a 4 dias para as espécies que germi- mentes, formando um composto, o formazan,
nam rapidamente e de sete dias para os perío- que apresenta coloração avermelhada (Piña-Ro-
dos mais longos. drigues e Valentini, 1995). Tecidos deteriorados,
A avaliação e a interpretação dos testes se- no entanto, apresentam danos nas membranas,
guem os conceitos descritos nas RAS, de plân- liberando íons H+ e substâncias que reagem de
tulas normais, anormais, sementes duras, fir- modo intenso com o sal, conferindo aos tecidos
mes, dormentes, mortas e chochas. Considera- uma coloração vermelho-intensa (Marcos Filho,
se normal toda plântula que apresenta as es- Cicero e Silva, 1987; Vieira e Carvalho, 1994).
truturas essenciais do seu embrião desenvolvi- Embora o teste apresente um princípio sim-
das e em condições de produzir uma planta nor- ples, requer treinamento dos analistas e aplica
mal no campo. No entanto, há casos como o de critérios bastante subjetivos, com base na colo-
Platyciamus regnelli e Piptadenia gonoacantha, que ração dos tecidos e na localização e extensão
apresentam a raiz e o hipocótilo reduzidos, não das manchas coloridas. Quando as sementes
compatíveis com a descrição de plântula normal são dormentes, o TZ pode apresentar resulta-
das RAS, mas que têm desenvolvimento nor- dos maiores do que os observados no teste de
mal em viveiro. Os resultados são expressos em germinação, enquanto, para sementes duras,
porcentagem ou em número de plântulas nor- a barreira à penetração do sal nos tecidos pode
mais por unidade de peso (g), como é o caso de levar a uma subestimação dos resultados (Piña-
muitos Eucalyptus sp., Tibouchina mutabilis e T. Rodrigues e Valentini, 1995).
granulosa e de outras espécies que possuem se- O teste pode ser instalado em amostras de
mentes muito pequenas. sementes (100 sementes divididas em repeti-
Um dos grandes problemas é a contamina- ções) que devem ser pré-condicionadas em pa-
ção das sementes por patógenos nas condições pel-filtro umedecido por 16 a 24 horas, à tempe-
de campo. Estudos recentes têm apontado a ratura de 25oC. O procedimento visa permitir a
ocorrência da contaminação da semente já na embebição lenta das sementes de modo a esti-
ocasião de sua formação e de seu desenvolvi- mular o processo de germinação e o preparo
mento (Arguedas, 1997). Para minimizar ou até das mesmas. As sementes podem ser utiliza-
mesmo evitar a contaminação, recomenda-se das inteiras ou preparadas para o teste, realizan-
a esterilização e a limpeza diária do ambiente do-se punção do tegumento, corte ou seccio-
do laboratório com hipoclorito e álcool dos ger- namento da semente, retirada do tegumento
minadores, dos recipientes e dos utensílios em- ou extração do embrião. Essas práticas têm por
pregados. objetivo facilitar o contato do sal com os tecidos
das sementes. Finda a fase de preparação, es-
Testes bioquímicos tas são imersas na solução de sal de tetrazólio3
preparado a concentrações que variam de
Teste de tetrazólio
O teste de tetrazólio (TZ) é um dos testes mais
tradicionais na avaliação da qualidade e do vi-
gor de sementes, tendo sido mais divulgado a 3 A solução de tetrazólio deve manter o pH neutro (6,5 a 7). Caso

partir dos trabalhos de Liberal (1980). Sua prin- seja necessário, o pH pode ser corrigido utilizando-se uma solução-
tampão preparada em quatro etapas: (A) KH 2PO 4 (9,078 g)
cipal vantagem é a rapidez com que fornece re- dissolvido em 1 l de água destilada; (B) Na2HPO42H2O (11,876 g)
sultados confiáveis sobre as sementes, além de em água destilada até completar 1 l; (C) mistura de 400 ml da
não ser afetado pela presença de fungos e bacté- solução A com 600 ml da solução B e, finalmente, (D) dissolução
de 10 g de tetrazólio na solução C. Essa mistura originará uma
rias que constantemente mascaram os resulta- solução-estoque com volume de aproximadamente 1000 ml, con-
dos dos testes de germinação (França-Neto, centração de 1% e pH 7.

Germinação_18ok.p65 287 19/05/2004, 11:00


288 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

0,075% para soja (Kryzanowski, Vieira e Fran- turgescência e brilho representam áreas em de-
ça-Neto, 1999) até 1% para espécies florestais terioração. Zonas não-coloridas podem signifi-
(Aguiar, Piña-Rodrigues, Fifliolia, 1993). As se- car tecidos mortos ou procedimentos inadequa-
mentes permanecem na solução de tetrazólio dos para a coloração dos tecidos; (b) a localiza-
no escuro, uma vez que o tetrazólio também ção das manchas – a presença de danos (áreas
reage com a luz. São colocadas à temperatura não-coloridas ou de vermelho-intenso) em zo-
de 35 a 40oC, conforme a espécie, por período nas críticas das sementes, tais como radícula e
variável de 150 a 180 minutos até 36 horas. eixo embrionário, deve ser avaliada cuidado-
Quando atingem a coloração ideal, as semen- samente pelo analista, associada à sua exten-
tes podem ser retiradas, lavadas e analisadas são e à intensidade de coloração; (c) a presen-
em lupa estereoscópica (aumento de 4 a 6 ve- ça de fraturas e turgência dos tecidos – esses
zes). Caso não sejam analisadas imediatamen- fatores estão ligados à integridade dos tecidos.
te, podem ser conservadas em refrigerador. Com base nesses parâmetros, o analista classi-
A interpretação dos resultados depende de fica as sementes em viáveis e inviáveis, calcu-
padrões definidos para algumas espécies, como lando a percentagem de viabilidade a partir do
os apresentados por Vieira e Carvalho (1994), número de sementes utilizadas e da quantida-
ISTA (1999), Kryzanowski (1999) e, para flores- de classificada como viável. Na Tabela 18.1 são
tais, por Piña-Rodrigues e Valentini (1995). Na apresentados métodos empregados no teste de
avaliação do teste, são consideradas: (a) a colo- tetrazólio. O procedimento específico para es-
ração dos tecidos – sementes com vermelho- pécies do gênero Pinus é ilustrado nas Figura
vivo e túrgidos brilhantes são consideradas sa- 18.1 a 18.3, nas quais são apresentadas as es-
dias; zonas das sementes de cor vermelho-in- truturas completas (Figura 18.1), o método de
tenso, quase grená, com tecidos com perda de preparo e avaliação das sementes (Figura 18.2).

Tabela 18.1 Instruções para o preparo de sementes para emprego do teste de tetrazólio, de acordo com
recomendações de Piña-Rodrigues e Valentini (1995) e de outros autores

Espécie Montagem do teste

Araucaria angustifolia Extração do embrião e imersão em solução a 1% por 4 a 5 horas


Bactis gasipae Extração do embrião e imersão em solução a 0,1% por 4 horas ou a 1%
por 5 horas
Dalbergia nigra Pré-condicionamento por 6 horas; corte longitudinal das sementes,
imersão em solução a 0,5% por 2 a 4 horas
Leucaena leucocephalla Pré-condicionamento por 6 horas; corte longitudinal das sementes,
imersão a 0,5% por 1 a 3 horas
Manilkara salzmani Pré-condicionamento por 5 horas; desponte ou corte das sementes,
imersão em solução a 0,5% por 5 horas
Parapipitadenia rigida Pré-condicionamento por 180 minutos, imersão das sementes inteiras em
solução a 0,5% por 3 horas
Pinus cariabaea Pré-condicionamento por 3 horas; corte longitudinal das sementes,
imersão em solução a 0,5% por 2 horas
Tabebuia spp. Pré-condicionamento por 1 hora; imersão das sementes inteiras em
solução a 0,5% por 3 horas
Virola surinamensis Pré-condicionamento por 5 horas, corte longitudinal das sementes,
imersão em solução a 0,5% por 5 horas
Pterodon pubescens Pre-condicionamento por 14 horas após as sementes serem seccionadas
na extremidade apical, excisão dos embriões e imersão em solução de
tetrazólio 0,075%, a na temperatura de 30oC por 6 horas

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GERMINAÇÃO 289

3x Corte com 9x
bisturi
9x 1/
3
2/
3
Asa Tegumento externo

Semente
Embrião

(1)
Gametófito feminino

Micrópila

(1) Estilete
18x 9x
(2) 9x
Corte no
Cotilédones tegumento

Ponto
Hipocótilo
de
punção

(3)
(2)
Radícula

! Figura 18.2
(3) Método de preparo das sementes de espécies do
gênero Pinus para realização do teste de tetrazólio.
! Figura 18.1 (1) Preparo das sementes com utilização de cortes.
(1) Estruturas da semente, (2) corte longitudinal da Corte longitudinal da semente com regiões indicadas
semente indicando as estruturas do embriãoe (3) da para realização de corte com bisturi (aumento de nove
plântula de espécies do gênero Pinus analisadas du- vezes); (2) Preparo das sementes por punção – pon-
rante a realização do teste de tetrazólio. to indicado para a realização da punção com estilete
(aumento de nove vezes); (3) vista lateral do ponto
de punção (aumento de nove vezes).
As classes 1 a 4 e a classe 7 são consideradas
viáveis (Figura 18.3).
do individualmente (por sementes) ou em con-
Teste de pH do exsudado junto (teste massal).
Como o de tetrazólio, esse método bioquí- A substância indicadora mais empregada
mico baseia-se nas reações químicas que ocor- é composta por carbonato de cálcio e fenolfta-
rem no processo de deterioração e que podem leína (Na2CO3 + C20H14O4) dissolvidos em água
determinar a redução da viabilidade das semen- destilada em proporções que podem variar de
tes. Seu surgimento deriva da necessidade de 7,5 a 9,5 g por litro da solução indicadora. Essa
obtenção rápida de padrões de qualidade das solução é misturada na proporção de 1:1 com
sementes para atender às exigências de merca- outra solução composta por 5 g de fenolftaleína
do. Seu princípio decorre da reação bioquímica dissolvida em 500 ml de álcool etílico absoluto
entre as sementes com soluções indicadoras (C2H5OH), misturada a 500 ml de água destila-
que reagem com os íons H+ liberados das célu- da e fervida. Antes da montagem do teste, as
las, contribuindo para a acidificação do meio sementes são cortadas longitudinalmente e em-
(Peske e Amaral, 1994). O teste pode ser realiza- bebidas em água destilada. O volume utilizado

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290 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

(1) (2) (3) (4) (5)

(6) (7) (8) (9) (10)

! Figura 18.3
Ilustração de diferentes níveis de viabilidade de sementes do gênero Pinus. Classes 1 a 4 – sementes viáveis
e vigorosas; Classes 5 e 6 – sementes não-viáveis, com danos no eixo embrionário; Classe 7 – sementes
viáveis porém não-vigorosas; Classes 8 a 10 – sementes que não germinam.

dependerá da quantidade de sementes. Durante lução de 8 g/l de Na2CO3 e 5 g/l de C20H14O4,


o período de imersão na substância indicadora, com pH 10,51.
as sementes são mantidas em temperaturas 20
a 25oC. Testes de vigor
A avaliação do teste é efetuada de acordo A avaliação da qualidade das sementes por
com o tempo em que as sementes permanecem meio dos testes de germinação permite que elas
com a mesma coloração. Quanto maior a viabi- expressem sua máxima germinação sob condi-
lidade das sementes, maior será o tempo que o ções favoráveis. Entretanto, em situações natu-
exsudado permanecerá com a coloração rosa- rais, as sementes estão submetidas a uma série
forte (Santana et al., 1998). Por suas caracterís- de pressões, como variações na umidade do so-
ticas, esse teste também pode ser empregado lo, radiação e competição, condições desfavorá-
como teste de vigor, comparando à qualidade veis para que a semente expresse todo seu po-
entre lotes de sementes, como foi efetuado por tencial germinativo (Hilhorst et al., 2001). Os
Carvalho (2001). primeiros testes de vigor surgiram com o objeti-
Cabrera e Peske (2002) utilizaram 3 ml de vo de identificar os lotes com melhor comporta-
água destilada em testes de sementes indivi- mento no campo.
duais de milho e 50 ml em ensaios com 50 se- O vigor de sementes é definido pela AOSA
mentes. Os dados obtidos pelos autores per- (Association of Official Seed Analysis, 1983)
mitiram a correlação entre o teste de germina- como uma das propriedades das sementes que
ção e o de pH do exsudado após 20 minutos de determina seu potencial para uma emergência
imersão das sementes empregando-se uma so- rápida e uniforme com o desenvolvimento de

Germinação_18ok.p65 290 19/05/2004, 11:00


GERMINAÇÃO 291

plântulas normais em uma ampla faixa de (1983). No Brasil, são utilizados os descritos
condições ambientais. Maiores detalhes sobre para espécies agrícolas por Vieira e Carvalho
conceitos de vigor são apresentados no Capí- (1994) e Kryzanowski, Vieira e França-Neto
tulo 17. (1999). Já para as espécies florestais, utilizam-
Os métodos de avaliação do vigor podem ser se os propostos por Valentini e Piña-Rodrigues
classificados em diretos, quando realizados no (1995). Embora apresente variações entre es-
campo ou em condições de laboratório que simu- pécies, o princípio do teste é o de submeter as
lem fatores adversos de campo, ou indiretos, sementes a altas temperaturas (de 40 a 45oC),
quando realizados em laboratório, mas avaliando sob condições de umidade relativa de 90oC a
as características físicas, fisiológicas e bioquími- 100%, por períodos variáveis de 24 a 72 horas.
cas que expressam a qualidade das sementes. Findo o tempo preconizado, as sementes são
Nos últimos anos, os testes de vigor vêm submetidas aos testes-padrão de germinação
sofrendo aperfeiçoamentos resultantes de pes- conforme as RAS (Brasil, 1992) ou de acordo
quisas sobre os processos bioquímicos envolvi- com metodologias propostas para espécies flo-
dos na deterioração. Durante o envelhecimen- restais nativas por vários autores, como Piña-
to dos tecidos, várias alterações bioquímicas e Rodrigues e Vieira (1988), Silva, Piña-
fisiológicas ocorrem, como a redução da pro- Rodrigues e Figliolia (1995).
dução de etileno (Nascimento, 2000), altera- O uso do EA para avaliar o vigor de semen-
ções na replicação celular e na síntese de DNA tes requer a utilização de uma estufa de enve-
e RNA (Cruz-Garcia et al., 1995) e formação de lhecimento (waterjacket incubator), comerciali-
radicais livres (Ferguson, Tekrony e Egli, 1990). zada em todo o Brasil. O método mais simples
Esses processos podem promover efeitos como é a colocação das sementes sobre telas em cai-
radículas anormais nas plântulas de Lycopersicon xas plásticas tipo gerbox adaptadas, contendo
esculentum (tomate), observadas por Van Pijlen ao fundo 40 ml de água destilada. Todo esse
e colaboradores (1995), perdas da viabilidade de conjunto pode ser mantido em estufa incubado-
sementes, como em Pinus elliottii Engelm. var. ra BOD pelo tempo recomendado (Kryzanow-
elliottii (Márquez-Millano, Elam e Blanche, 1991) ski, Vieira, França-Neto, 1999)
e danos aos cotilédones, como observados para A principal vantagem do teste é a sua facili-
Lactuca sativa (alface) (Smith, 1989). dade de controle e de padronização das condi-
ções ambientais na estufa de envelhecimento
Testes de resistência (McDonald, 1998). Como resultado, várias pes-
quisas têm sido realizadas para determinar as
Envelhecimento acelerado (EA) condições a serem adotadas para a utilização
O teste de envelhecimento é um método do EA como teste de vigor (Martins, 2001). É
indireto que simula condições de estresse nas um teste aplicável apenas para a comparação
sementes, gerando uma alta taxa de respiração entre lotes, mas que apresenta boa correlação
e consumo das reservas e acelerando os proces- com o desempenho no campo (Martins, 2001;
sos metabólicos que levam à sua deterioração. Vanzolini e Carvalho, 2002).
Baseando-se no conceito de Heydecker (1972),
de que sementes com alto vigor apresentam Teste de frio
maior tolerância e resistência às condições de O teste de frio foi desenvolvido para simular
estresse, o teste compara lotes identificando condições desfavoráveis em regiões tempera-
aqueles que apresentam melhor comportamen- das. Atualmente, seu uso tem por base o princí-
to germinativo após serem submetidos às con- pio de que sementes mais vigorosas resistem a
dições do envelhecimento acelerado. condições adversas (Marcos-Filho, Cicero e Sil-
Os métodos mais empregados para a reali- va, 1987; Vieira e Carvalho, 1994). Nos testes
zação do EA são os preconizados pela AOSA de frio, são utilizados como substrato o solo da

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292 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

área de plantio da cultura ou misturas de terra tinguir graus variados de vigor. O princípio des-
e areia na proporção de 2:1 a 1:4 (Gomes et al., se teste considera que sementes mais vigorosas
2001; Menezes, Lersch-Cunha e Storck, 2002). apresentariam plântulas também mais vigo-
Em outra modalidade, utiliza-se o método de rosas. Muito utilizados, os testes de vigor por
rolo de papel. Em ambos os casos, as sementes meio da análise de plântulas foram propostos
são postas a 100C por sete dias; após esse perío- pela International Seed Testing Association
do, são submetidas ao teste de germinação con- (ISTA, 1993, 1999) e pela AOSA (1983) e, para
forme prescrições das RAS. Por sua facilidade, espécies brasileiras, por vários autores como
esse teste tem ampla aplicação com sementes Vieira e Carvalho (1994) e Kryzanowski, Vieira
de culturas agrícolas como soja (Martins et al., e França-Neto (1999).
2000) e milho (Rosa et al., 2000b). Em função de relacionar tamanho com vi-
gor, esse teste exige que sejam utilizadas se-
Testes de vigor com base na análise mentes de tamanhos uniformes para que essa
de germinação variável não interfira no resultado final. Embo-
Os testes mais simples para determinação ra existam controvérsias sobre o efeito do tama-
de vigor são os de velocidade de desenvolvi- nho sobre a qualidade das sementes (Carnei-
mento cujos resultados podem ser obtidos pela ro, Guedes e Anaral, 2001), sementes maiores
análise-padrão de germinação. Os mais utiliza- de espécies como Euterpe espiritosantensis apre-
dos são o tempo médio de germinação, o índi- sentam maior vigor, o que pode afetar a reali-
ce de velocidade de germinação, a primeira con- zação de testes com base no desenvolvimento
tagem do teste de germinação e a análise de das plântulas (Martins et al., 2000).
plântulas (Capítulo 13). Todos esses testes são A instalação dos testes de análise de plân-
classificados como indiretos por serem realiza- tulas pode ser efetuada pelo método de rolo de
dos em condições de laboratório. papel ou sobre papel-filtro (ver teste de germi-
O princípio desses testes baseia-se no pres- nação). Na montagem pelo método rolo de pa-
suposto de que sementes mais vigorosas germi- pel, recomenda-se que seja efetuada em papel
narão mais rapidamente do que outras em con- do tipo filtro (Vieira e Carvalho, 1994). As se-
dições inferiores (Vieira e Carvalho, 1994). Com mentes são depositadas sobre duas folhas de
isso, mesmo sementes com igual germinabi- papel, distribuídas ao longo de uma linha tra-
lidade poderiam apresentar velocidades distin- çada no terço superior do substrato, utilizando-
tas de germinação em função do seu vigor. A se de 10 a 20 sementes por repetição. Caso seja
padronização e a uniformidade do lote a ser necessário, podem ser traçadas duas linhas,
avaliado são necessárias para que fatores como mantendo-se um espaçamento regular entre
tamanho das sementes, sanidade e condições elas. A seguir, assim como no teste de germina-
de germinação (água, luz e substrato) não se- ção, as sementes são cobertas com uma tercei-
jam fontes de variação dentro do teste, além ra folha de papel-toalha, enroladas, protegidas
das inerentes ao próprio vigor (Valentini e Piña- por um saco plástico e depositadas no
Rodrigues, 1995). germinador.
Os testes devem ser instalados seguindo as Outra alternativa é a instalação do teste em
condições preconizadas pelas Regras para Aná- papel-filtro utilizando a metodologia sobre-pa-
lise de Sementes (Brasil, 1992) ou, como no pel. O gerbox ou o recipiente são dispostos no
caso das espécies florestais, por recomendações germinador mantendo um ângulo de 45o com
já publicadas e em uso corrente (Oliveira, Piña- a bandeja (Viera e Carvalho, 1994). Findo o
Rodrigues e Figliolia, 1989; Silva, Piña-Rodri- tempo preconizado pelas contagens, as plân-
gues e Figliolia, 1995). tulas normais obtidas são medidas, simultane-
Os testes de vigor que utilizam a análise de amente, em suas diversas estruturas (radícula,
plântulas fornecem dados adicionais que enri- hipocótilo, epicótilo, cotilédones). Além de da-
quecem o teste de germinação, permitindo dis- dos biométricos das plântulas, pode-se obter o

Germinação_18ok.p65 292 19/05/2004, 11:00


GERMINAÇÃO 293

peso seco. As plântulas, sem suas reservas co- sua forma de uso, recomenda-se a leitura de
tiledonares, são secas em estufa a 80oC por 24 AOSA (1983) e de Vieira e Carvalho (1994).
horas e depois pesadas em balança de precisão Para espécies florestais, esse teste apresenta
de três a quatro casas decimais (Vieira e Carva- problemas devido à necessidade de padronizar
lho, 1994; Kryzanowski, Vieira e França-Neto, o volume de água no qual as sementes serão
1999). Caso se deseje efetuar análises quími- imersas, uma vez que muitas têm tamanho
cas posteriores, as plântulas devem ser secas a grande, em que apenas 75 ml não são suficien-
60oC por 24 a 36 horas, conforme a espécie. Os tes para manter as sementes sob imersão. Ava-
resultados podem ser expressos em peso seco liações efetuadas com sementes de Dalbergia ni-
médio em mg. gra Fr. Allen (jacarandá-da-bahia) indicaram
que o volume de água (100 e 125 ml) utilizado
Testes rápidos de vigor apresenta diferença significativa na realização
O teste de condutividade elétrica (CE) analisa do teste CE e que, isoladamente, o número de
a quantidade de exsudados que são lixiviados sementes não afetou o resultado obtido, mas o
das sementes e tem sido bastante empregado período de imersão dependeu do volume de
na avaliação do vigor de lotes de soja (Vanzolini água utilizado e do número de sementes (Mar-
e Carvalho, 2002). O teste CE pode ser instala- ques, Paula e Rodrigues, 2002a,b,c).
do em dois sistemas: o de condutividade em
massa, que analisa um conjunto de sementes
QUALIDADE FÍSICA
de uma só vez, ou a análise individual, cujo pro-
cedimento é idêntico ao anterior, porém as se- Determinação de umidade
mentes são analisadas individualmente em ban- O teste de umidade visa determinar o con-
dejas com células individuais (Vieira e Carvalho, teúdo de água presente nas sementes com o
1994). A técnica mais empregada atualmente objetivo de estabelecer parâmetros adequados
no Brasil tem sido a condutividade em massa. para a manutenção da qualidade fisiológica das
De modo geral, a técnica consiste em imer- sementes para fins de armazenamento e, princi-
gir as amostras de sementes previamente pesa- palmente, para a comercialização (Silva, 1988).
das (100 sementes divididas em várias repeti- Os testes são realizados de acordo com as
ções) em um recipiente de plástico ou vidro com recomendações ou prescrições das Regras para
75 ml de água deionizada (≅ 2 µmhos/cm de Análise de Sementes (RAS), as quais nem sem-
condutividade), mantida em germinador a 25oC pre são adequadas a determinadas espécies, da-
por 24 horas. Findo esse prazo, a solução de das as grandes variações morfológicas e fisioló-
embebição é ligeiramente agitada, e efetuada gicas das sementes e/ou unidades de dispersão
a leitura da condutividade elétrica empregan- existentes entre as espécies florestais.
do-se um condutivímetro (Digimed cd-21, ASA
610 ou modelos similares). A cada leitura, o
Métodos de estufa
aparelho deve ser calibrado em uma solução
Podem ser empregadas as temperaturas de
de KCl4 . O resultado obtido deve ser dividido
105oC por 24 horas (mais utilizada no Brasil),
pelo peso em gramas das sementes, obtendo-
103oC por 17 horas ou 130oC por 4 horas. Como
se o resultado em µmhoms/cm/g. Para maiores
variação pode-se utilizar o método de estufa a
detalhes sobre o teste e sobre as variações na
70oC até peso constante.
Esse método é utilizado pelos laboratórios
em caráter experimental e realizado comparati-
4 Vieira e Carvalho (1994) recomendam que a calibragem seja efe- vamente ao método de estufa a 105oC por 24
tuada utilizando-se 0,745 g de KCl puro e seco a 150oC por 1 hora e horas. Tem sido testado para as sementes de
resfriado em dessecador, dissolvido em 1 L de água deionizada. Na
calibragem, o aparelho deverá marcar 1273 µmhoms/cm) a 20oC tamanho grande e para as contidas dentro de
ou 1408 µmhoms/cm a 25oC. frutos indeiscentes.

Germinação_18ok.p65 293 19/05/2004, 11:00


294 FERREIRA & BORGHETTI (ORGS.)

Figliolia e Silva (1999), ao compararem os por equipamentos, conforme já mencionado


diferentes métodos, constataram não haver di- por Figliolia, Oliveira e Piña-Rodrigues (1993).
ferenças significativas para Myracrodruon urun- As amostras médias devem ser enviadas ao la-
deuva e Copaifera langsdorffii, embora tenham boratório em embalagens de natureza imper-
apresentado diferenças acima do permitido meável e hermeticamente fechadas, de modo
pelas RAS. Por outro lado, Acacia polyphylla, My- que o conteúdo de água das sementes perma-
roxylon peruiferum e Tabebuia roseo-alba demos- neça inalterado até a realização do teste.
traram diferenças bem-acentuadas entre os O peso da amostra de trabalho deve ser ob-
métodos, sendo recomendada a aferição das tido pela redução da amostra média, por inter-
técnicas. médio de divisores de amostra. As RAS prescre-
Nessas metodologias, as amostras médias vem o peso mínimo das amostras médias e para
devem ser enviadas ao laboratório em embala- análise de sementes das espécies de clima tem-
gens de natureza impermeável e hermetica- perado e Eucalyptus spp. Sobretudo no caso des-
mente fechadas, de modo que o conteúdo de ta última espécie, o tamanho recomendado pra-
água das sementes permaneça inalterado até a ticamente inviabiliza o teste, pois demanda um
realização do teste. As RAS prescrevem o peso período muito longo para a execução da aná-
mínimo das amostras médias nos métodos de lise. Na prática, tem sido empregada amostra
estufa de 100 g para as espécies que devem ser de trabalho de 1 g, conforme proposto por Már-
moídas e de 50 g para as demais espécies que quez e Kageyama (1980). No entanto, para as
não necessitam de moagem. Essas quantida- espécies brasileiras, com exceção de Cedrela spp.,
des nem sempre são possíveis para grande nú- não há recomendação. Oliveira, Piña-Rodrigues
mero de espécies arbóreas com sementes gran- e Figliolia (1989) sugeriram tamanhos de
des, como é o caso de Dypterix alata, que possui amostras médias compatíveis para a realização
em média, 60 sementes por quilograma. dos testes como proposta para padronização das
Figliolia e Piña-Rodrigues (1995b) sugeriram análises de sementes nativas.
tamanhos de amostras médias compatíveis Figliolia, Oliveira, Piña-Rodrigues (1993)
para a realização dos testes. apresentam os equipamentos empregados na
análise de pureza de sementes de tamanho pe-
Teste de pureza queno e médio. Para as sementes de tamanho
Para as espécies florestais, o aspecto mais grande como Araucaria angustifolia, Dipterix alata,
importante do teste de pureza é a proporção Centrolobium robustum, Centrolobium tomentosum
entre sementes puras e impurezas (Figliolia, e Terminalia catappa, todo o processo é feito ma-
Oliveira e Piña-Rodrigues, 1993). Os testes são nualmente.
realizados de acordo com as recomendações ou As RAS descrevem de maneira bem clara
prescrições das Regras para Análise de Semen- as definições de sementes puras, outras semen-
tes (RAS), porém, na maioria das vezes, com tes e material inerte. É importante enfatizar que
adequação dada às variações morfológicas e fi- as expansões aladas de sementes de espécies
siológicas das sementes e /ou unidades de dis- florestais que se encontrem partidas e destaca-
persão existentes entre as espécies florestais. Ca- das, expansões que são facilmente removidas
sos mais difíceis de padronização são os frutos como as de Pinus elliottii, P. caribaea hondurensis,
tipo legume indeiscente que são comercializados P. taeda, P. palustris e P. oocarpa, devem ser
na forma de fruto. consideradas material inerte.
Para se obter um resultado confiável, é ne- Todos os procedimentos sobre o cálculo de
cessário que o lote e a amostra a serem analisa- sementes puras e a informação dos resultados
dos sejam devidamente homogeneizados, pois constam nas RAS. O resultado é expresso nor-
os componentes tendem a se depositar na parte malmente em porcentagem. Para as espécies
inferior do recipiente. Isso pode ser feito ma- com sementes muito pequenas, como Eucalyp-
nualmente, no caso de sementes grandes, ou tus, Tibouchina mutabilis e Tibouchina granulosa,

Germinação_18ok.p65 294 19/05/2004, 11:00


GERMINAÇÃO 295

o resultado é expresso em número de plântulas gia útil: Revista Brasileira de Sementes, v.24, n.1, pp.183-
por peso da amostra. Para Eucalyptus citriodora, 196, 2002.
cujas sementes apresentam cerca de 2 a 3 mm BRADFORD, K.J.; COHN, M.A. Seed biology and
de comprimento, o resultado normalmente é technology: at the crossroads and beyond. Introduction
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