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REO-02
Parte 2
Lavras
2020/II
1. TRATAMENTO SECUNDÁRIO
1.1. Introdução
O principal objetivo do tratamento secundário é a remoção da matéria orgânica. Esta se apresenta nas
seguintes formas:
- matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel ou filtrada), a qual não é removida por processos
meramente físicos, como o de sedimentação, que ocorre no tratamento primário;
- matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa ou particulada), a qual é em grande parte removida no
eventual tratamento primário, mas cujos sólidos de sedimentabilidade mais lenta persistem na massa líquida.
Hidrólise
Uma vez que as bactérias não são capazes de assimilar a matéria orgânica particulada, a primeira fase no
processo de degradação anaeróbia consiste na hidrólise de materiais particulados complexos (polímeros), em
materiais dissolvidos mais simples (moléculas menores), os quais podem atravessar as paredes celulares das
bactérias fermentativas. Esta conversão de materiais particulados em materiais dissolvidos é conseguida
através da ação de exoenzimas excretadas pelas bactérias fermentativas hidrolíticas. Na anaerobiose, a
hidrólise dos polímeros usualmente ocorre de forma lenta, sendo vários os fatores que podem afetar o grau e a
taxa em que o substrato é hidrolisado:
- temperatura operacional do reator;
- tempo de residência do substrato no reator;
- composição do substrato (ex.: teores de lignina, carboidrato, proteína e gordura);
- tamanho das partículas;
- pH do meio;
- concentração de N-NH4+;
- concentração de produtos da hidrólise (ex.: ácidos graxos voláteis).
Acidogênese
Os produtos solúveis oriundos da fase de hidrólise são metabolizados no interior das células das
bactérias fermentativas, sendo convertidos em diversos compostos mais simples, os quais são então
excretados pelas células. Os compostos produzidos incluem ácidos graxos voláteis, álcoois, ácido lático, gás
carbônico, hidrogênio, amônia e sulfeto de hidrogênio, além de novas células bacterianas. Como os ácidos
graxos voláteis são o principal produto dos organismos fermentativos, estes são usualmente designados de
bactérias fermentativas acidogênicas.
A maioria das bactérias acidogênicas é anaeróbia estrita, mas cerca de 1% consiste de bactérias
facultativas que podem oxidar o substrato orgânico por via oxidativa. Isso é particularmente importante, uma
vez que as bactérias anaeróbias estritas são protegidas contra a exposição ao oxigênio eventualmente presente
no meio.
Acetogênese
As bactérias acetogênicas são responsáveis pela oxidação dos produtos gerados na fase acidogênica em
substrato apropriado para as bactérias metanogênicas. Dessa forma, as bactérias acetogênicas fazem parte de
um grupo metabólico intermediário, que produz substrato para as metanogênicas. Os produtos gerados pelas
bactérias acetogênicas são o hidrogênio, o dióxido de carbono e o acetato.
Durante a formação dos ácidos acético e propiônico, uma grande quantidade de hidrogênio é formada,
fazendo com que o valor do pH no meio aquoso decresça. Há, porém duas maneiras pelas quais o hidrogênio
é consumido no meio: i) através das bactérias metanogênicas, que utilizam hidrogênio e dióxido de carbono
para produzir metano; e ii) através da formação de ácidos orgânicos, tais como propiônico e butírico, ácidos
estes formados através da reação do hidrogênio com dióxido de carbono e ácido acético.
Metanogênese
A etapa final no processo global de degradação anaeróbia de compostos orgânicos em metano e dióxido
de carbono é efetuada pelas arqueas metanogênicas. As metanogênicas utilizam somente um limitado número
de substratos, compreendendo ácido acético, hidrogênio/dióxido de carbono, ácido fórmico, metanol,
metilaminas e monóxido de carbono. Em função de sua afinidade por substrato e magnitude de produção de
metano, as metanogênicas são divididas em dois grupos principais, que forma metano a partir de ácido
acético ou metanol, e o segundo que produz metano a partir de hidrogênio e dióxido de carbono.
Temperatura
A degradação anaeróbia, dentro da faixa de temperatura mesofílica (25º a 45°C), tem sido amplamente
empregada nos sistemas em escala real, visto que a digestão anaeróbia termofílica (> 45°C) é de alto custo
(exceto quando a temperatura do efluente é naturalmente elevada). A digestão anaeróbia psicrofílica (< 20°C)
tem sido pouco utilizada, pois se acredita que essa não seja viável em decorrência da baixa atividade
microbiana sob condições de baixa temperatura. Embora sejam desejadas temperaturas mais elevadas para
que se obtenha maior desenvolvimento da flora microbiana, o mais importante é a manutenção de uma
temperatura uniforme dentro dos reatores, pois variações bruscas de temperatura podem provocar o
desequilíbrio entre as populações microbianas envolvidas, com consequente falha do processo.
Nutrientes
O crescimento e a diversificação das populações microbianas em sistemas de tratamento relacionam-se
diretamente com a concentração de nutrientes, os quais fornecem material para síntese protoplasmática e
suprem a energia necessária para o crescimento celular.
O bom desempenho dos processos biológicos requer a disponibilidade de nutrientes essenciais para o
desenvolvimento microbiano, em proporções adequadas. Carbono, nitrogênio e fósforo são importantes
ingredientes para o crescimento da biomassa. Os requisitos nutricionais dos micro-organismos envolvidos em
processos anaeróbios são proporcionalmente menores, quando comparados aos requeridos em processos
aeróbios, pois a síntese celular envolvida nos primeiros é muito menor.
Toxicidade
As arqueas metanogênicas são particularmente sensíveis a uma grande variedade de constituintes tóxicos
presentes nos despejos agroindustriais. Os compostos tóxicos podem ter diferentes efeitos sobre os micro-
organismos, podendo ter ação bactericida, quando as bactérias não se adaptam a determinadas concentrações
do componente e morrem, ou bacteriostático, quando há retardo no desenvolvimento das mesmas, o que pode
ser alterado quando elas se adaptam às condições do meio.
As lagoas anaeróbias são projetadas sempre que possível, em associação com lagoas facultativas ou
aeradas mecanicamente. Têm a finalidade de oxidar compostos orgânicos complexos antes do tratamento nos
outros tipos de lagoas. As lagoas anaeróbias não dependem da ação fotossintética das algas, podendo ser
construídas com profundidade maiores do que outras lagoas, com variação de 2,0 a 5,0 metros, sendo
geralmente superiores a 4,5 m. No balanço entre o consumo e a produção de oxigênio, o consumo é
amplamente superior, predominam, portanto, condições anaeróbias.
A matéria orgânica depositada na parte inferior das lagoas passa pelas seguintes fases: liquefação e
gasificação. Durante a liquefação as bactérias acidogênicas (formadoras de ácidos) convertem carboidratos,
proteínas e gorduras em ácidos graxos por hidrólise. Isso muda a forma da matéria orgânica sem haver
redução de DBO. O material liquefeito através de difusão sobe para as camadas superiores. Na fase de
gasificação as bactérias estritamente anaeróbias (formadoras de metano) convertem carbono orgânico (C) em
gás carbônico (CO2) e metano (CH4). Dessa forma a DBO é removida. As bactérias anaeróbias têm uma taxa
metabólica e de reprodução mais lenta do que as bactérias aeróbias. Em assim sendo, para um período de
permanência de apenas 2 a 5 dias na lagoa anaeróbia, a decomposição da matéria orgânica é apenas parcial.
Mesmo assim, essa remoção da DBO, da ordem de 50 a 70%, apesar de insuficiente, representa uma grande
contribuição, aliviando sobremaneira a carga para as lagoas subseqüentes.
As condições básicas para existir atividade anaeróbia nas lagoas de estabilização são: não haver
oxigênio dissolvido (OD), exceto na zona limítrofe entre o liquido e a atmosfera, e a temperatura ser maior do
que 15ºC. Dessa forma, a remoção anaeróbia de DBO é mais provável em países de clima tropical com lagoas
relativamente profundas. As lagoas anaeróbias funcionam como um tanque séptico aberto e nelas estão
presentes os mesmos grupos de bactérias existentes nas fossas sépticas e reatores anaeróbios.
A grande vantagem das lagoas anaeróbias é poder oxidar altas cargas orgânicas com áreas bastante
reduzidas. A principal desvantagem é o odor produzido principalmente pela liberação de gás sulfídrico (H 2S),
quando o enxofre (S) estiver presente na água residuária.
Em lagoas anaeróbias o tempo de residência hidráulica para esgotos domésticos deve estar entre 3 e 6
dias e para águas residuárias agroindustriais entre 5 e 50 dias. A lagoa anaeróbia deve ter o fundo
impermeabilizado com geomembrana de PEAD (Polietileno de Alta Densidade), cuja espessura, geralmente é
de 0,5 mm.
Deve-se proceder a limpeza das lagoas (retirada do lodo) sempre que este atingir, aproximadamente,
a metade da altura útil da lagoa. O lodo removido deve ser enviado a um leito de secagem para posterior
encaminhamento a aterro sanitário ou uso agrícola.
Lagoa anaeróbia de fundo concretado.
Para a ocorrência da fotossíntese é necessária uma fonte de energia luminosa, neste caso representada
pelo sol. Por esta razão, locais com elevada radiação solar e baixa nebulosidade são bastante propícios à
implantação de lagoas facultativas. A fotossíntese, por depender da energia solar, é mais elevada próximo à
superfície. Profundidades típicas de lagoas facultativas são da ordem de 1,5 a 2,0 m. À medida que se
aprofunda na massa líquida, a penetração da luz é menor, o que ocasiona a predominância do consumo de
oxigênio (respiração) sobre a sua produção (fotossíntese), com a eventual ausência de oxigênio dissolvido a
partir de uma certa profundidade. Ademais, a fotossíntese só ocorre durante o dia, fazendo com que durante a
noite possa prevalecer a ausência de oxigênio. Devido a estes fatos, é essencial que as principais bactérias
responsáveis pela estabilização da matéria orgânica sejam facultativas, para poder sobreviver e proliferar,
tanto na presença, quanto na ausência de oxigênio. Nas lagoas facultativas que recebem esgoto bruto existe
uma fina camada de lodo no fundo das mesmas. A intensa digestão anaeróbia e produção de gás carbônico
(CO2) e metano (CH4) são responsáveis pela remoção de até 30% da DBO nas lagoas facultativas. A redução
de DBO das lagoas facultativas é da ordem de 70 a 90%.
O processo de lagoas facultativas é essencialmente natural, não necessitando de nenhum
equipamento. Por esta razão, a estabilização da matéria orgânica se processa em taxas mais lentas,
implicando na necessidade de um elevado período de detenção na lagoa (usualmente superior a 20 dias). A
fotossíntese, para que seja efetiva, necessita de uma elevada área de exposição para o melhor aproveitamento
da energia solar pelas algas, também implicando na necessidade de grandes unidades. Desta forma, a área
total requerida pelas lagoas facultativas é a maior dentre todos os processos de tratamento de águas
residuárias (excluindo-se os processos de disposição sobre o solo). Por outro lado, o fato de ser um processo
totalmente natural está associado maior simplicidade operacional, fator de fundamental importância em
países desenvolvimento.
A grande vantagem das lagoas facultativas é não produzir mau odor. Sua maior desvantagem é a
grande área que poderão ocupar. O arranjo típico de lagoas de estabilização para o tratamento de esgotos
domésticos, é o chamado sistema australiano. Consiste de 2 lagoas em série, sendo a primeira anaeróbia e a
segunda facultativa. A lagoa facultativa quando precedida de uma lagoa anaeróbia recebe uma carga de
apenas 30 a 50% da carga da água residuária bruta, podendo ter, portanto, dimensões bem menores. O
requisito de área total (lagoa anaeróbia + lagoa facultativa) é tal, que se obtém uma economia de área da
ordem de 1/3, comparado a uma lagoa facultativa única. Além disso, a eficiência do sistema australiano
também é maior. Porém, o arranjo ideal seria um sistema com 3 tipos de lagoas de estabilização em série:
anaeróbia, facultativa e de maturação (item 3.3.4.5). Com esse sistema é possível se obter também uma
grande redução de coliformes termotolerantes no efluente final.
A lagoa facultativa deve ter o fundo impermeabilizado com geomembrana de PEAD (Polietileno de
Alta Densidade), cuja espessura da geomembrana, geralmente é de 0,5 mm.
Deve-se proceder a limpeza das lagoas (retirada do lodo) periodicamente. O lodo removido deve ser
enviado a um leito de secagem para posterior encaminhamento a aterro sanitário ou uso agrícola.
Aeradores de superfície.
Devido à introdução de mecanização, as lagoas aeradas são menos simples em termos de manutenção
e operação, comparadas com as lagoas facultativas convencionais. A redução dos requisitos de área é
conseguida, portanto, com uma certa elevação no nível de operação, além da introdução do consumo de
energia elétrica, que eleva o custo do processo.
A lagoa aerada facultativa deve ter o fundo impermeabilizado com geomembrana de PEAD
(Polietileno de Alta Densidade), cuja espessura da geomembrana, geralmente é de 0,5 mm ou ser construída
em concreto armado.
Deve-se proceder a limpeza da lagoa (retirada do lodo) periodicamente. O lodo removido deve ser
enviado a um leito de secagem para posterior encaminhamento a aterro sanitário ou uso agrícola.
Fluxograma típico de um sistema de lagoas aeradas facultativas.
Sistema Descrição
A DBO solúvel e finamente particulada é estabilizada aerobiamente por bactérias
dispersas no meio líquido, ao passo que a DBO suspensa tende a sedimentar, sendo
Lagoa facultativa
estabilizada anaerobiamente por bactérias no fundo da lagoa. O oxigênio requerido
pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas através da fotossíntese.
A DBO é em torno de 50% estabilizada na lagoa anaeróbia (mais profunda e com
Lagoa anaeróbia –
menor volume), enquanto a DBO remanescente é removida na lagoa facultativa. O
lagoa facultativa
sistema ocupa uma área inferior ao de uma lagoa facultativa única.
Os mecanismos de remoção da DBO são similares aos de uma lagoa facultativa. No
Lagoa aerada entanto, o oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos, ao invés de através da
facultativa fotossíntese. Como a lagoa é também facultativa, uma grande parte dos sólidos do
esgoto e da biomassa sedimenta sendo decomposta anaerobiamente no fundo.
A energia introduzida por unidade de volume da lagoa é elevada, o que faz com que
os sólidos (principalmente a biomassa) permaneçam dispersos no meio liquido, ou em
mistura completa. A decorrente maior concentração de bactérias no meio líquido
Lagoa aerada de
aumenta a eficiência do sistema na remoção da DBO, o que permite que a lagoa tenha
mistura completa –
um volume inferior ao de uma lagoa aerada facultativa. No entanto, o efluente contém
unidade de
elevados teores de sólidos (bactérias), que necessitam ser removidos antes do
decantação
lançamento no corpo receptor. A lagoa de decantação a jusante proporciona condições
para esta remoção. O lodo da lagoa de decantação deve ser removido em períodos de
poucos anos.
O objetivo principal da lagoa de maturação é a remoção de patogênicos. Nas lagoas
de maturação predominam condições ambientais adversas para os patogênicos, como
radiação ultravioleta, elevado pH, elevado OD, temperatura mais baixa que a do corpo
humano, falta de nutrientes e predaçao por outros organismos. As lagoas de
Lagoa de maturação
maturação constituem um pós-tratamento de processos que objetivem a remoção da
DBO, sendo usualmente projetadas como uma série de lagoas, ou como uma lagoa
única com divisões por chicanas. A eficiência na remoção de coliformes é bastante
elevada.
É apresentada abaixo uma análise comparativa das principais vantagens e desvantagens entre as
lagoas de tratamento discutidas anteriormente.
Eficiências típicas de remoção dos principais poluentes de interesse nos esgotos domésticos.
1.6. LODOS ATIVADOS
O sistema de lodos ativados é amplamente utilizado, a nível mundial, para o tratamento de despejos
domésticos e industriais, em situações em que é necessária uma elevada qualidade do efluente e reduzidos
requisitos de área. No entanto, o sistema de lodos ativados inclui um índice de mecanização superior ao de
outros sistemas de tratamento, implicando em uma operação mais sofisticada e em maiores consumos de energia
elétrica.
As seguintes unidades são parte integrante da etapa biológica do sistema de lodos ativados (fluxo do
líquido):
Tanque de aeração (reator)
Tanque de decantação (decantador secundário)
Recirculação de lodo
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orgânica já ter sido removida na etapa anaeróbia, o crescimento da biomassa é menor (menor disponibilidade de
alimentos), ou seja, a produção de lodos é menor.
O sistema de lodos ativados pode ser adaptado para incluir remoções biológicas de nitrogênio e fósforo,
atualmente praticadas de forma sistemática em diversos países. O presente texto enfoca em maior detalhe a
remoção de matéria carbonácea, representada como DBO ou DQO.
Com relação à remoção de coliformes e organismos patogênicos, devido aos reduzidos tempos de
residência nas unidades do sistema de lodos ativados, tem-se que a eficiência é baixa e usualmente insuficiente
para atender aos requisitos de qualidade dos corpos receptores. Esta baixa eficiência é típica também de outros
processos compactos de tratamento de esgotos. Caso necessário, o efluente deve ser submetido a uma etapa
posterior de desinfecção.
Deve-se destacar que os sistemas de lodos ativados podem ser integrados a outros sistemas de tratamento,
tais como filtros biológicos e reatores anaeróbios. Neste último caso, têm ganhado crescente importância
sistemas constituídos por reatores UASB seguidos por lodos ativados para remoção de nutrientes e remoção
adicional de DBO e SS. Os reatores UASB substituem os decantadores primários, efetuando a remoção de
grande parte da DBO e dos sólidos afluentes, permitindo um sistema de lodos ativados de menor porte, com
menor consumo de energia e com menor produção de lodo excedente.
Variantes do processo
Existem diversas variantes do processo de lodos ativados. O presente texto enfoca apenas as principais e
mais utilizadas. Dentro deste conceito, tem-se as seguintes visões dos sistemas de lodos ativados:
Divisão quanto à idade do lodo: Divisão quanto ao fluxo
- Lodos ativados convencional - Fluxo contínuo
- Aeração prolongada - Fluxo intermitente (batelada)
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Os sistemas de lodos ativados podem ser classificados, em função da idade do lodo, em uma das seguintes
principais categorias:
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1.6.2. Sistema de lodos ativados por aeração prolongada (fluxo contínuo)
Caso a biomassa (lodo) permaneça no sistema por um período mais longo, da ordem de 18 a 30 dias (daí o
nome aeração prolongada), recebendo a mesma carga de DBO do esgoto que o sistema convencional, haverá
menor disponibilidade de alimento para as bactérias. A quantidade de biomassa é maior que no sistema de lodos
ativados convencional, o volume do reator aeróbio é também maior, e o tempo de residência do líquido é em
torno de 16 a 24 horas. Portanto, há menos matéria orgânica por unidade de volume do tanque de aeração e
também por unidade de biomassa do reator. Em decorrência, as bactérias, para sobreviver, passam a utilizar nos
seus processos metabólicos a própria matéria orgânica biodegradável componente das suas células. Esta matéria
orgânica celular é convertida em gás carbônico e água, por meio da respiração. Isto corresponde a uma
estabilização da biomassa (lodo), ocorrendo no próprio tanque de aeração. Enquanto no sistema convencional a
estabilização do lodo é feita em separado (na etapa de tratamento de lodo), usualmente em ambiente anaeróbio,
na aeração prolongada ela é feita conjuntamente, no próprio reator, tendo-se, portanto, um ambiente aeróbio. O
consumo adicional de oxigênio para a estabilização de lodo é significativo e inclusive pode ser maior que o
consumo para metabolizar o material orgânico do afluente.
Já que não há necessidade de se estabilizar o lodo biológico excedente, procura-se evitar também, no
sistema de aeração prolongada, a geração de alguma outra forma de lodo, que venha a requerer posterior
estabilização. Deste modo, os sistemas de aeração prolongada usualmente não possuem decantadores primários,
para evitar a necessidade de se estabilizar o lodo primário. Com isto, obtém-se uma grande simplificação no
fluxograma do processo: não há decantadores primários nem unidades de digestão de lodo.
A conseqüência desta simplificação do sistema é o aumento do gasto com energia para aeração, já que o
lodo é estabilizado aerobiamente no tanque de aeração. Por outro lado, a reduzida disponibilidade de alimento e
a sua praticamente total assimilação fazem com que a aeração prolongada seja a variante do lodos ativados mais
eficiente na remoção de DBO.
Deve-se destacar, no entanto, que a eficiência de qualquer variante do processo de lodos ativados está
intimamente associada ao desempenho do decantador secundário. Caso haja perda de sólidos no efluente final,
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haverá uma grande deterioração na qualidade do efluente, independentemente do bom desempenho do tanque
de aeração na remoção da DBO.
No processo é utilizado apenas um reator, onde ocorrem todas as etapas do tratamento. Isso é conseguido
por meio do estabelecimento de ciclos de operação com durações definidas. A massa biológica permanece no
reator durante todos os ciclos, eliminando, dessa forma, a necessidade de decantadores separados. Os ciclos
normais de tratamento são:
- Enchimento (entrada da água residuária bruta, decantada ou anaeróbia no reator);
- Reação (aeração e/ou mistura da massa líquida contida no reator);
- Sedimentação (sedimentação e separação dos sólidos em suspensão da água residuária tratada);
- Descarte do efluente tratado (retirada da água residuária tratada do reator);
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- Repouso (ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente).
A duração usual de cada ciclo pode ser alterada em função das variações da carga afluente, dos objetivos
operacionais do tratamento e das características do esgoto e da biomassa no sistema.
Quando comparado aos sistemas de lodos ativados de fluxo contínuo, o fluxograma do processo é bastante
simplificado, devido à eliminação de diversas unidades.
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digerido e com concentrações similares às de um lodo efluente de adensadores, possui ainda ótimas
características de desidratabilidade. Abaixo é apresentado o fluxograma desta configuração
As principais vantagens desta configuração, comparada com a concepção tradicional do sistema de lodos
ativados convencional, são:
- Redução na produção de lodo;
- Redução no consumo de energia;
- Redução no consumo de produtos químicos para desidratação;
- Menor número de unidades diferentes a serem implementadas;
- Menor necessidade de equipamentos;
- Maior simplicidade operacional.
O volume total das unidades é similar ou um pouco inferior ao volume total das unidades do sistema de
lodos ativados convencional. A eficiência de remoção de DBO é similar à concepção tradicional de lodos
ativados convencional. Uma desvantagem é a menor capacitação para a remoção biológica de nutrientes (N e P).
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2. TRATAMENTO TERCIÁRIO
2.1 Desinfecção
Efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitários ou dejetos animais, tanto aeróbios quanto
anaeróbios, geralmente ainda contêm relativamente grande quantidade de microrganismos patogênicos e,
portanto, necessitam passar por desinfecção para assegurar proteção à saúde pública. Os sistemas de tratamento
convencionais são projetados para remoção de matéria orgânica, sendo, portanto, pouco eficientes na remoção de
organismos patogênicos. Assim, os seus efluentes quase sempre requerem desinfecção para garantir segurança à
saúde pública.
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A seguir é apresentada a capacidade de diversas tecnologias de tratamento de águas residuárias em atingir
consistentemente os níveis indicados de qualidade do efluente em termos de coliformes fecais (termotolerantes)
e ovos de helmintos.
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diversos usos, como captação e tratamento para consumo, preservação da flora e da fauna, irrigação (padrões de
qualidade em geral ou padrões ambientais) e padrões microbiológicos para banho (padrões de balneabilidade).
A desinfecção de esgotos sanitários não visa à eliminação total de microrganismos (esterilização),
conforme ocorre na medicina e na indústria de alimentos. Desinfetar esgotos é uma prática que busca inativar
seletivamente espécies de organismos presentes no esgoto sanitário, em especial aquelas que ameaçam a saúde
humana, em consonância com os padrões de qualidade estabelecidos para diferentes situações. Os mecanismos
envolvidos na desinfecção dos organismos patogênicos podem ser reunidos em três grupos:
a) Destruição ou danificação da parede celular, do citoplasma ou do núcleo celular. O agente desinfetante atua
sobre os componentes dessas estruturas celulares, impedindo que desenvolvam suas funções elementares
adequadamente.
b) Alteração de importantes compostos envolvidos no catabolismo, como enzimas e seus substratos, alterando o
balanço de energia na célula.
c) Alteração nos processos de síntese e crescimento celular, mediante alteração de funções como a síntese de
proteínas, de ácidos nucléicos e coenzimas.
Os processos de desinfecção não são equivalentes. É necessário escolher aqueles mais apropriados, devido
a condições particulares (características e usos da água ou efluente e tipos de microrganismo a eliminar). Para
tanto, um desinfetante ou processo de desinfecção deve apresentar idealmente as seguintes características:
- não ser tóxico para o homem ou qualquer outro animal;
- ser tóxico em baixa concentração para os organismos-alvo;
- ser suficientemente solúvel em água;
- ser eficaz nas condições de temperatura e pH encontrados no meio líquido;
- ser de custo razoável em relação aos volumes de água ou efluente a desinfetar;
- não apresentar elevado risco aos operadores;
- permitir fácil medida e controle de sua concentração.
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No tocante à radiação ultravioleta, suas aplicações experimentam aceitação crescente, tanto pela técnica de
solarização, que utiliza a luz solar para a potabilização de águas em pequena escala, quanto por reatores que
geram artificialmente a radiação ultravioleta. A filtração em membranas já integra o fluxograma de algumas
estações de tratamento de esgotos e experimenta crescente aplicação devido à redução de preço das membranas.
A desinfecção química é realizada pela aplicação de compostos do grupo fenólico, álcoois, halogênios e metais
pesados. Os agentes químicos mais utilizados na desinfecção de esgotos são: cloro, dióxido de cloro e ozônio.
Nos processos naturais, além dos agentes químicos e físicos naturalmente presentes, a ação de predação ou
competição de outros organismos resulta na inativação de patógenos.
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Diversos fatores contribuem para tal, como temperatura, insolação, pH, escassez de alimento, organismos
predadores, competição, compostos tóxicos, entre outros. A lagoa de maturação é dimensionada de forma a fazer
uma utilização ótima de alguns destes mecanismos. Vários destes mecanismos se tomam mais efetivos com
menores profundidades da lagoa, o que justifica o fato de que as lagoas de maturação sejam mais rasas
(profundidades de 1,0 m ou menos), comparadas aos demais tipos de lagoas. Dentre os mecanismo associados à
profundidade da lagoa, pode-se citar:
- Radiação solar (radiação ultravioleta)
- Elevado pH (pH > 8,5) (remoção de CO2 pelas algas)
- Elevada concentração de OD (favorecendo uma comunidade aeróbia, mais eficiente na eliminação dos
coliformes, e reações de foto-oxidação)
As lagoas de maturação devem atingir elevadíssimas eficiências na remoção de coliformes (E > 99,9 a
99,999%), para que possam ser cumpridos padrões ou recomendações usuais para utilização direta do efluente
para fertirrigação, ou para a manutenção de diversos usos no corpo receptor. As lagoas de maturação usualmente
atingem ainda remoção total de ovos de helmintos.
De forma a maximizar a eficiência na remoção de coliformes, as lagoas de maturação são projetadas em
uma das duas seguintes configurações: (a) três ou quatro lagoas em série ou (b) lagoa única com chicanas.
Fluxograma típico de um sistema de lagoas de estabilização seguidas por lagoas de maturação em série.
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Sistema de lagoa de maturação com chicanas.
2.1.2.1. Cloração
Nos últimos anos o cloro e seus derivados têm sido largamente empregados na desinfecção de efluentes
tratados (80% da desinfecção mundial). Entretanto, devido aos subprodutos formados pela combinação do cloro
com as substâncias orgânicas presentes nos efluentes, potencialmente carcinogênicas, mutagênicas e
teratogênicas, têm-se intensificado a pesquisa e testes piloto de desinfetantes alternativos mais seguros e tão
eficientes quanto àqueles clorados.
A cloração é uma tecnologia mundialmente conhecida, normalmente aplicada nas formas de cloro gasoso,
hipoclorito de sódio ou cálcio e outros compostos na forma líquida ou sólida.
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Uma vez em contato com as bactérias presentes no esgoto sanitário, o cloro induz uma série de eventos
associados à atividade da membrana celular, como alteração da permeabilidade, e modifica os ácidos nucléicos,
causando mutações. A inativação dos vírus ocorre por modificações nos ácidos nucléicos e na envoltória
protéica. O cloro não apresenta boa eficiência na remoção de protozoários, devido a seu maior tamanho, devendo
haver um processo auxiliar de filtração, a fim de removê-los.
O cloro e seus derivados apresentam alto poder oxidante e reagem com vários compostos presentes nos
esgotos. A demanda de cloro, calculada pela diferença entre a dose inicial e o residual de cloro, é proveniente
dessa variedade de reações nas quais o cloro é consumido por vários constituintes da água residuária e por
decomposição.
De modo simplificado, o cloro reage com a amônia para produzir uma série de compostos chamados
cloraminas e, eventualmente, oxida a amônia em gás nitrogênio (N2). O mecanismo de reação é complexo, e os
produtos variam com o pH, razão entre o cloro adicionado e a amônia presente e o tempo de contato. A
monocloramina (NH2Cl) e a dicloramina (NHCl2), denominadas cloro combinado, têm poder desinfetante,
apesar deste ser inferior ao dos produtos resultantes da dissociação de qualquer forma de cloro na água,
conhecidos como cloro livre (HOCl e OCl–). Das reações com os compostos orgânicos deve-se dar atenção
àquelas que ocorrem com o nitrogênio orgânico e com os compostos não nitrogenados que podem formar
trihalometanos (THM’s), compostos nocivos a várias formas de vida.
Os processos de desinfecção têm maior ou menor eficiência em função dos fatores que podem intervir
neles. As características físico-químicas do afluente a ser desinfetado exercem papel fundamental nas reações
desencadeadas desde o momento em que se adiciona o desinfetante, determinando os reais compostos que
realizam a desinfecção. Compostos redutores à base de enxofre e a presença de nitrogênio amoniacal diminuem
a eficiência da cloração. Os sólidos podem atuar como barreira, protegendo os agentes patogênicos da ação do
desinfetante.
Dentre os fatores intervenientes, a dosagem do desinfetante e o tempo de contato, bem como a
homogeneidade do desinfetante na mistura, são aqueles em que a intervenção externa pode propiciar aumento na
eficiência do processo.
Na desinfecção de esgotos com compostos de cloro, a concentração do desinfetante se altera com o tempo
e, particularmente durante os momentos iniciais da aplicação do cloro, passa por transformações rápidas, desde a
forma livre até as formas combinadas. Dessa forma, torna-se mais importante determinar a concentração de cloro
residual do que a de cloro aplicado. Outros aspectos relevantes e que interferem no processo de desinfecção são:
- presença de sólidos no efluente, uma vez que estes podem proteger os microrganismos da ação do
desinfetante. Infelizmente, poucos métodos encontram-se disponíveis para avaliar quantitativamente esse
fenômeno;
- pH do efluente, já que a inativação de microrganismos aumenta com o decréscimo do pH, tanto para
residuais de cloro livre como de cloro combinado;
- temperatura, uma vez que seu aumento também leva a taxa de inativação dos microrganismos.
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O impacto do cloro livre ou combinado em corpos d’água, resultante da desinfecção de efluentes, tem sido
controlado por padrões ambientais. Pelas regras da Resolução CONAMA nº 357 de 2005 (Classe II), o padrão
ambiental é de 0,01 mg L-1 de cloro livre ou combinado para proteção da vida aquática. A descloração com
compostos químicos pode ser realizada com: dióxido de enxofre, sulfito de sódio, sulfito de sódio, metabissulfito
de sódio e tiossulfato de sódio.. Para a descloração do cloro livre (Cl 2), pode-se, também, empregar carvão
ativado e peróxido de hidrogênio, com a vantagem de controlar odores.
2.1.2.2. Ozonização
O ozônio é um poderoso agente oxidante, muito efetivo na destruição de vírus, bactérias, protozoários e
outros parasitas, bem como na oxidação da matéria orgânica.
O ozônio age nos constituintes da membrana citoplasmática, nos sistemas enzimáticos e nos ácidos
nucléicos dos microrganismos. Nos vírus, o ozônio ataca tanto as proteínas da célula como os ácidos nucléicos.
A desinfecção de efluentes de tratamento de esgotos sanitários com ozônio vem despertando interesse,
devido à preocupação com a formação de organoclorados, toxicidade dos efluentes e o custo adicional da
decloração. A desinfecção com ozônio destaca-se pelos seguintes aspectos:
- rapidez da ação de desinfecção;
- elevada eficiência na inativação de microrganismos;
- baixa toxicidade encontrada nos efluentes ozonizados.
Sendo o ozônio um gás instável e de alto poder oxidante, essas características o tornam atrativo para a
desinfecção de esgotos domésticos. Sua instabilidade é uma característica desejável, pois não deixa residual
danoso ao meio ambiente. O alto poder oxidante é desejável porque diminui a concentração e o tempo
necessários para desinfecção. Sendo o tempo de contato e a concentração reduzidos, haverá economia na
construção e na operação das instalações. Outro benefício a considerar, devido ao alto poder oxidante, é que os
subprodutos orgânicos da ozonização de efluentes domésticos, tratados em nível secundário, geralmente
apresentam pouca ou nenhuma toxicidade em nível agudo. Há, ainda, a vantagem da redução de cor, que mesmo
nas dosagens relativamente baixas necessárias à desinfecção tem se mostrado efetiva.
O poder desinfetante do ozônio é cerca de dez vezes superior ao do cloro, para todos os tipos de
microrganismos. Ele é eficaz contra esporos e cistos que são as formas mais resistentes.
As principais características físico-químicas que influem no processo de desinfecção por ozônio são:
- Temperatura: a taxa de decaimento dos microrganismos aumenta com o aumento da temperatura do
líquido. A temperatura determina em parte a taxa de difusão do desinfetante através das membranas do
microrganismo e também sua taxa de reação com o substrato. No entanto, quando ocorre aumento de
temperatura, o ozônio torna-se menos solúvel e menos estável em água, embora a taxa de reação com o substrato
orgânico dos microrganismos aumente.
- Turbidez: os microrganismos geralmente aparecem em meio aquático agregados a partículas sólidas de
origem mineral ou orgânica que podem protegê-los do contato direto com o agente desinfetante. Ainda pode
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ocorrer de bactérias e vírus serem protegidos do desinfetante por serem ingeridos por nematóides ou outros
macroinvertebrados. Partículas de natureza mineral, de difícil oxidação, têm mostrado pouco efeito de inibição
sobre a taxa de decaimento dos microrganismos, ao passo que partículas orgânicas, mesmo em baixas
concentrações, têm sido bem mais efetivas em reduzir essa taxa.
- COT: a concentração de carbono orgânico total na fase líquida é um dos parâmetros mais importantes
para a determinação da concentração de ozônio a ser aplicada, uma vez que a matéria orgânica provoca o
consumo de oxidante.
- pH: a maioria dos dados disponíveis na literatura indica que a eficiência da desinfecção por ozônio é
pouco afetada na faixa de pH dos efluentes domésticos (entre 6 e 8). O efeito do pH está, provavelmente,
relacionado ao tipo de microrganismo-alvo, e não a uma influência relacionada à especiação do ozônio em água.
Recentemente, o emprego de radiação ultravioleta se estendem para diversos setores da atividade humana,
com particular interesse por sua ação germicida. No tratamento de esgotos sanitários, a radiação UV mostra-se
altamente competitiva com a cloração, nos casos em que a implantação de uma etapa adicional de descloração se
faz necessária. Esta última etapa tem por função o controle de subprodutos tóxicos de cloro nos efluentes
tratados, como os organoclorados (trihalometanos e outros), que não são gerados nos processos de desinfecção
UV.
O emprego da radiação UV é, portanto, uma importante alternativa à desinfecção química de águas
residuárias. Nenhum tipo de produto é adicionado à corrente líquida, resultando em processos simples, de baixo
custo e com pouca exigência de operação e manutenção.
Basicamente, a desinfecção com ultravioleta é conseguida pela exposição dos microrganismos presentes
nos esgotos à radiação emitida por lâmpadas ultravioleta. Essa exposição dos esgotos à radiação UV é feita em
canais ou em dutos sob pressão, denominados reatores fotoquímicos, foto-reatores ou simplesmente reatores UV.
A desinfecção por radiação UV baseia-se em alterações por fotólise do material genético (DNA, RNA)
dos organismos presentes no esgoto. As moléculas de DNA dos organismos a serem inativados absorvem
radiações com comprimento de onda entre 200 e 300 nm, em especial aquelas em torno de 260 nm, que alteram
sua composição e comprometem sua funcionalidade. A radiação UV atravessa a parede celular e é absorvida
pelos ácidos nucléicos e, em menor extensão, pelas proteínas e por outras moléculas biologicamente importantes.
A energia absorvida rompe as ligações não saturadas, principalmente as bases nitrogenadas pirimídicas.
As principais vantagens e desvantagens da aplicação da radiação ultravioleta na desinfecção de esgoto
são:
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O principal fator de interferência física no processo de desinfecção por radiação UV é a presença de
sólidos em suspensão. A agregação ou oclusão dos microrganismos na matéria particulada impede a penetração
da radiação ultravioleta, reduzindo a eficiência da inativação.
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O interesse na filtração terciária vem aumentando bastante nos últimos anos devido principalmente à
legislação sobre qualidade de água, que se torna cada vez mais restritiva. No Brasil, poucos sistemas desse tipo
estão instalados, possivelmente devido aos poucos estudos consistentes existentes sobre o assunto.
O objetivo da filtração terciária é remover partículas suspensas e coloidais do efluente secundário ou do
esgoto quimicamente tratado. Isso é conseguido pela passagem do esgoto através de um meio granular. À
medida que os sólidos vão sendo removidos e o filtro vai se tornando mais “entupido”, ele perde sua eficácia
devido à restrição da passagem da água ou pela perda de eficiência na remoção de sólidos suspensos. A limpeza
do leito sujo é realizada através da retro-lavagem, um processo onde a água passa em fluxo ascendente através
do leito e é descartada juntamente com os sólidos que se encontravam retidos, preparando o leito para o próximo
ciclo de filtração.
Os projetos de filtros granulares para esgoto basicamente seguiram os procedimentos desenvolvidos para o
tratamento de água potável. Entretanto, existem muitas diferenças entre a filtração de água potável e de esgoto.
Em geral, filtros de esgoto recebem partículas maiores, mais pesadas e de tamanhos mais variados, além de
cargas de sólidos mais irregulares. A filtração de esgoto é complexa e consiste de muitos processos físicos e
químicos.
Uma filtração de partículas coloidais eficiente geralmente requer uma desestabilização das mesmas,
acompanhada de coagulação e floculação. Isso permite a formação de partículas maiores que poderão ser
removidas por interceptação ou outros mecanismos. Portanto, os coagulantes serão eficientes auxiliares da
filtração se uma floculação adequada for promovida.
Podem ser utilizados como material filtrante a areais, carvão ativado entre outros.
2.1.2.3. Ultrafiltração
Os processos de separação por membranas, designadamente a ultrafiltração (UF), têm se tornado, nos
últimos anos, uma tecnologia cada vez mais atrativa como possível alternativa ao tratamento convencional
(cloração). Apesar das membranas de ultrafiltração terem uma malha maior relativamente a outros processos de
separação por membranas, como a osmose inversa, por exemplo, e desta forma menos eficientes na remoção de
moléculas dissolvidas de pequenas dimensões, a ultrafiltração é efetiva na remoção de partículas e de macro
moléculas. A filtração vai de 0,1 a 1 (1 x 10-6 m), a ultrafiltração de 20 a 50 Angstron (1 x 10-10 m) e a osmose
reversa de 1 a 20 Angstron.
Na ultrafiltração o elemento filtrante é uma membrana semipermeável, plana, tubular ou espiral. As
técnicas de membrana permitem a eliminação de efluentes líquidos, bem como a sua recuperação. A retenção por
ultrafiltração se efetiva a nível molecular. Só é possível se obter moléculas com peso molecular menor que um
certo valor (normalmente macromoléculas) , passando pelas membranas.
O tamanho das moléculas retidas depende da natureza das membranas, e, em certos casos e mesmo
possíveis associações moleculares entre os componentes do soluto. A ultrafiltração tem uma relação muito
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grande com a osmose inversa, pois ambas necessitam de agitação na interface fluido/membrana, limitando a
polarização do concentrado. Para tanto se observa que a recirculação do fluido tem elevada velocidade
Para que o ultrafiltro desempenhe satisfatoriamente funções, os cuidados com as membranas são
fundamentais. Quando a vazão de UF diminui abaixo de um certo nível deve-se efetuar uma operação de
lavagem da membrana. Tal operação é diferente para cada tipo de membrana, sendo, por isso, impossível se
descrever tal operação neste trabalho, e, no entanto possível citar algumas operações comuns como a lavagem
com UF, com água deionizada. e o uso de tensoativos. A sua conservação, assim como sua limpeza, difere muito
entre fabricantes e modelos, sendo, porém, importante citar que tais cuidados são fundamentais na durabilidade
das membranas, as quais são a parte mais importante do equipamento.
A filtração por membranas, comparada com os outros tratamentos, oferece uma série de vantagens:
(a) qualidade superior ao efluente tratado, através da remoção de macromoléculas, bactérias e vírus,
designadamente de microorganismos resistentes aos tratamentos químicos como cloração e ozonização;
(b) sistema mais compacto e modular, portanto facilmente adaptável às variações de qualidade e
quantidade efluente a tratar;
(c) fácil controle de operação e de manutenção;
(d) menor utilização de químicos que podem originar efeitos danosos à saúde pública;
No entanto, além destas vantagens, a aplicação da UF ao tratamento de efluentes está limitada devido ao
declínio do fluxo verificado ao longo do tempo (perda de carga), originando uma menor produção de efluente
tratado, maiores consumos de energia e necessidades freqüentes de limpeza das membranas com químicos.
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2.2. Remoção de nutrientes (N e P)
A remoção de nitrogênio (N) e fósforo (P) pode ser um objetivo explícito do tratamento dos esgotos,
dependendo do impacto causado nos corpos receptores. No entanto, deve-se lembrar que nem sempre é desejada
a remoção destes constituintes: no caso da utilização do efluente tratado para fertirrigação, pode ser interessante
a preservação de N e P, os quais, em dosagens adequadas, são nutrientes para a cultura fertirrigada.
O presente item aborda, de forma sucinta, os processos mais comumente utilizados para a remoção de
nitrogênio e fósforo no tratamento de esgotos. São os seguintes os processos abordados:
- Remoção de N e P em lagoas de estabilização;
- Remoção de N e P em lodos ativados e reatores aeróbios com biofilmes;
- Remoção de N e P por processos físico-químicos;
- Remoção de N e P nos sistemas de disposição controlada no solo.
NH3 H NH 4
A amônia livre (NH3) é passível de volatilização, ao passo que a amônia ionizada não pode ser removida
por volatilização. Com a elevação do pH, o equilíbrio da reação se desloca para a esquerda, favorecendo a maior
presença de NH3. No pH em tomo da neutralidade, praticamente toda a amônia encontra-se na forma de NH4+.
No pH próximo a 9,5, aproximadamente 50% da amônia está na forma de NH3 e 50% na forma de NH4+. Em pH
superior a 11, praticamente toda a amônia está na forma de NH3.
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A fotossíntese que ocorre nas lagoas facultativas e, principalmente nas lagoas de maturação e de
polimento, contribui para a elevação do pH, por retirar do meio líquido o CO 2, ou seja, a acidez carbônica. Em
condições de elevada atividade fotossintética, o pH pode subir a valores superiores a 9,0, proporcionando
condições para a volatilização do NH3. Ademais, em condições de alta taxa de fotossíntese, a elevada produção
de algas contribui com o consumo direto de NH3 pelas algas.
O mecanismo da volatilização tende a ser mais importante em lagoas de maturação e de polimento as
quais, em função da sua reduzida profundidade, e conseqüente atividade fotossintética ao longo de toda a coluna
d'água, usualmente atingem valores de pH bastante elevados. Adicionalmente, nestas lagoas, o desprendimento
de bolhas de oxigênio da fase líquida supersaturada pode acelerar o desprendimento de NH3.
Os demais mecanismos de remoção de nitrogênio atuam simultaneamente, mas são considerados de menor
importância. A nitrificação é pouco representativa em lagoas facultativas e lagoas aeradas. Nas lagoas
anaeróbias, não há, naturalmente, nenhuma reação de oxidação da amônia, devido à ausência de oxigênio.
Remoção de fósforo
O fósforo presente nos esgotos é composto de fósforo orgânico e fosfatos, sendo que os últimos
representam a maioria. O principal mecanismo de remoção de fósforo em lagoas (principalmente de maturação e
de polimento) é a precipitação de fosfatos em condições de elevado pH. O fosfato pode precipitar-se na forma de
hidroxiapatita ou estruvita. Em lagoas especialmente rasas, a remoção de fósforo pode ser elevada, ao passo que
em lagoas facultativas e aeradas, a eficiência de remoção é mais baixa.
Remoção biológica de nitrogênio e fósforo em sistemas de lodos ativados e reatores aeróbios com biofilmes
Remoção de nitrogênio em sistemas de lodos ativados e reatores aeróbios com biofilmes
Os sistemas de lodos ativados e, em certas condições, os reatores aeróbios com biofilmes, são capazes de
produzir, sem alterações de processo, conversão satisfatória de amônia para nitrato (nitrificação). Neste caso, a
amônia é removida, mas o nitrogênio não, já que há apenas uma conversão da forma do nitrogênio. Em regiões
de clima quente, a nitrificação ocorre quase que sistematicamente no sistema de lodos ativados, a menos que
haja algum problema ambiental no tanque de aeração, como falta de oxigênio dissolvido, baixo pH, pouca
biomassa ou a presença de substâncias tóxicas ou inibidoras. Para que ocorra nitrificação em reatores aeróbios
com biofilmes, é necessário que eles sejam dimensionados com baixas cargas, compatíveis com a reprodução
mais lenta das bactérias nitrificantes. Este pode ser o caso dos filtros biológicos percoladores de baixa carga e
dos biofiltros aerados submersos.
A remoção biológica de nitrogênio é alcançada em condições de ausência de oxigênio, mas na presença de
nitratos (denominadas condições anóxicas). Nestas condições, um grupo de bactérias utiliza nitratos no seu
processo respiratório, convertendo-os a nitrogênio gasoso, que escapa na atmosfera. Este processo é denominado
desnitrificação. Para se alcançar a desnitrificação no sistema de lodos ativados e em certos reatores aeróbios com
biofilmes (ex: biofiltros aerados submersos), são necessárias ainda modificações no processo, incluindo a criação
de zonas anóxicas e possíveis recirculações internas.
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Em sistemas de lodos ativados onde ocorre a nitrificação é interessante que se realize também a
desnitrificação, praticada intencionalmente no reator. As razões estão normalmente associadas a aspectos
puramente operacionais, bem como à qualidade do efluente final:
(a) Economia de oxigênio (economia de energia na aeração). Em condições anóxicas, as bactérias facultativas
removem a DBO utilizando os nitratos nos seus processos respiratórios, conduzindo, portanto, a uma economia
de oxigênio ou, em outras palavras, de energia para aeração. Esta economia compensa, parcialmente, os gastos
energéticos com a nitrificação, que ocorre, obrigatoriamente, em condições aeróbias.
(b) Economia de alcalinidade (preservação da capacidade tampão). Durante a nitrificação, há geração de íons H+
e consumo de alcalinidade, o que pode conduzir a um abaixamento do pH no tanque de aeração. A
desnitrificação, por sua vez, consome H+ e gera alcalinidade, compensando, parcialmente, os mecanismos de
redução de pH que ocorrem na nitrificação.
(c) Operação do decantador secundário (evitar lodo ascendente). Caso a desnitrificação ocorra nas condições
anóxicas do decantador secundário, haverá a produção de pequenas bolhas de nitrogênio gasoso. Estas bolhas
tendem a se aderir aos flocos em sedimentação, arrastando-os para a superfície, causando perda de biomassa e
deterioração da qualidade do efluente final. Por este motivo, incentiva-se que a desnitrificação ocorra fora do
decantador secundário.
(d) Controle de nutrientes (eutrofização). A redução nos teores de nitrogênio no efluente final é importante
quando se faz o lançamento em corpos d' água sensíveis, sujeitos à eutrofização.
Deve-se destacar que sistemas de lodos ativados e biofiltros aerados submersos, atuando como pós-
tratamento de efluentes de reatores UASB, têm maior dificuldade em proporcionar a remoção biológica de
nitrogênio. A prévia remoção de grande parte da matéria orgânica no reator UASB faz com que haja menor
disponibilidade de alimento para as bactérias responsáveis pela desnitrificação.
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teores elevados no efluente final, ter-se-á, como conseqüência, teores também elevados de P particulado. Por
este motivo, é essencial que em sistemas com remoção biológica de fósforo, os teores de SS no efluente final
sejam bastante baixos. Caso se necessite de concentrações especialmente baixas de fósforo no efluente, pode
haver necessidade da complementação da remoção de sólidos por filtração ou flotação.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MATOS, A. T. Manejo e tratamento de resíduos agroindustriais. Viçosa: Departamento de engenharia
Agrícola/Associação dos engenheiros Agrícolas de Minas Gerais (DEA/AEA-MG), 2004.120p. (Série Caderno
Didático, 31).
VON SPERLING. M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 4.ed. Belo Horizonte:
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA/UFMG), 2014. 452p. (Princípios do tratamento
biológico de águas residuárias; v.1).
VON SPERLING. M. Lagoas de estabilização. 2. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental (DESA/UFMG), 2006. 140p. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias; v.3).
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