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ISBN 85- 7~96-{J69- I
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FREGE
que uma expressão nunca seja carente de referência, para que, inad-
vertidamente, nunca se calcule com sinais vazios, na crença de que
se esteja lidando com objetos" (p. 48).
Um projeto centrado na referência (Bedeutung) já é evidente
mesmo em trabalhos anteriores aos três famosos artigos, como em
Fundamentos da aritmética (trabalho de 1884, em que ainda não
aparece a distinção entre sentido e referência), quando Frege já
defendia a determinação da Bedeutung de um termo num contexto
mais amplo (proposição), através do processo de "contribuição" das
palavras no contexto proposicional em que elas ocorrem.
Todo esse processo, que tem como meta chegar aos valores de
verdade dos enunciados, depende do ponto de origem, que é a lin-
guagem, o que equivale a afirmar que não há acesso inteligível à
realidade exceto pelo caminho das estruturas da língua. O enten-
dimento das palavras de acordo com as regras que são logicamente
evidentes por si mesmas dá o sentido das palavras para o usuário
da língua. Qualquer um que domine as propriedades de verdade
semântica pode avaliar a verdade objetiva.
O artigo "Função e conceito", em que Frege defende que a arit-
mética é um desenvolvimento expansivo da lógica, faz a importan-
te distinção entre função e objeto, distinção crucial para se enten-
der a questão do sentido e da referência tal como vai ser formulada
em "Sobre o sentido e a referência". Tudo quanto existe, Frege afir-
ma em "Função e conceito", ou é função ou é objeto. Função e obje-
to são os dois únicos aspectos da realidade. Objeto é tudo aquilo
que não é uma função, de modo que uma expressão dele jamais
contém um lugar vazio. Função é sempre algo incompleto, insatu-
rado, necessitando sempre de um argumento para prover sua satu-
ração. O argumento não é parte da função, mas compõe o todo com
a função. Os nomes próprios designam os objetos e as expressões
funcionais designam as funções. Os nomes próprios não admitem
decomposição lógica, sendo somente possível indicar o que querem
dizer. Pode-se, pois, dizer que aquilo que é saturado se refere a um
objeto, e aquilo que não é saturado se refere a uma função, neces-
sitando de um argumento para prover a sua saturação.
As funções cujos argumentos são e devem ser funções são cha-
madas de "funções de segundo nível"; as funções cujos argumen-
46 A QUESTÃ O DA REFERl l:NCIA
tos devem ser objeto s e nada mais podem ser são chama das
de "fun-
ções de primei ro nível".
Já nesse artigo, embor a mais preocu pado com questõ es da
arit-
mética , Frege empen ha-se em demon strar que "a divers idade
de de-
signaç ões não justifi ca, por si só, uma divers idade de design
ados",
ou seja, que o sentid o não deve ser confun dido com seu
objeto de
referên cia, que o leva a propo r uma distinç ão muito clara
entre os
numer ais (roma nos, arábic os etc.), os objeto s matem áticos
de refe-
rência , que são os númer os, e os modos de aprese ntação
desses ob-
jetos, que consti tuem seus difere ntes sentid os ou expres
sões. As-
sim, 3 + 4, 5 + 2 e 6 + 1 são difere ntes expres sões ou sentid
os da
mesm a referê ncia, o númer o 7. 2. 2 + 6, por sua vez, é um
sentid o,
uma expres são ou um modo de aprese ntação do númer o
1 O (objeto
de referên cia}.
Para se reconh ecer uma função , é necess ário decom por
a ex-
pressã o em que ela ocorre , sendo a possib ilidade da decom
posiçã o
sugeri da pela própri a estrut ura da expres são. Exemp lo:
para o ar-
gumen to 1, a função 2.x 2 + x tem como referê ncia 3; para
o argu-
mento 2, tem como referê ncia 10.
O valor de uma função é um valor de verdad e (o verdad eiro
ou
o falso}. 2 2 =4, 2>1, 2 4 =4 2 se refere m ao mesm o objeto :
o verdad ei-
ro. 2 2 =1, 2>1. 2:4=4 .2 també m têm o mesm o objeto de referên
cia: o
falso. As funçõe s devem ter um valor de verdad e para
cada argu-
mento . Muita s vezes, como em x 2 4x = x (x 4), duas funçõe
s po-
dem ter valor idênti co. Qualq uer argum ento que substi
tua x vai
result ar no mesm o valor.
Trans portan do-se para o plano da lingua gem ordiná ria
(não
formal }, pode-s e dizer que "Estre la da Manhã " e "Estre la
da Tarde"
são dois nomes própri os que têm a mesm a referê ncia (Vênus
}, mas
que se distin guem, pela difere nça de sentid o ou pelos
conce itos
difere ntes que expres sam, ou seja, pelas possív eis distinç
ões que
tornam possív el a identif icação do objeto . Assim como 2 4
e 4.4 não
são iguais na design ação do design ado 16, "Estre la da
Manhã " e
"Estre la da Tarde " não são iguais na design ação do
design ado
"Vênu s".
A expres são "a capita l do impéri o alemã o" tem como referê
ncia
um objeto , que é Berlim . Pode- se dizer que "a capita l
do impéri o
A FILOSOFIA DA LINGUAGEM 47
4. Frege diria que essa frase é sem referência, nem verdadeira, nem falsa.
A FILOSOFIA DA LINGUAGEM 59
afirma-se, com essa frase, que existe uma entidade (e apenas uma)
que é o rei da França, quando na realidade não existe nenhuma.
A análise proposta paFa essa frase (e tantas outras do tipo "o
tal e tal", que, segundo Russell não são orações de sujeito e predi-
cado) é uma análise existencial: há um rei da França (afirmação de
existência), não há mais do que um rei da França (afirmação de
unicidade), não há nada que seja um rei da França e que não seja
calvo. As formas lógicas das proposições existenciais são um tanto
complexas. No caso do exemplo em questão: "não é sempre falso de
x que x é o rei da França e que x é careca e que se y é o atual rei da
França y é idêntico a x é sempre verdadeiro".
Como se disse, Russell juntou numa só categoria sentido (sig-
nificado) e referência (denotação), reservando somente aos nomes
o privilégio de poderem exercer uma função referencial individuali-
zadora. Todavia, a dificuldade de isolar os verdadeiros nomes pró-
prios- tarefa empreendida por Russell em outros trabalhos, como
Significado e verdade ( 197 8, original em inglês de 1940), Human
knowledge (1948), para não se citarem outras obras do autor é
quase intransponível. Os candidatos mais prováveis, e assim mes-
mo não sem problemas, são os demonstrativos isto e aquilo, que fun-
cionam como signos demonstrativos, cujo significado assegura a
existência do objeto que pretende denotar. E é essa a função que
resta ao nome propriamente lógico, ser puramente demonstrativo.
Isso e aquilo pertencem ã problemática categoria dos dêiticos,
que Russell vai chamar de "particulares egocêntricos", dentre os
quais "eu", "aqui", "agora", "perto", "presente", "passado", "futuro"
etc. O que caracteriza os "particulares egocêntricos" é sua depen-
dência da relação do usuário da palavra com o objeto.
A instabilidade referencial de isto, em vez de ser um obstáculo
à sua consideração como nome próprio, como era de esperar, con-
corre a seu favor, já que isto somente pode ser aplicado a um obje-
to de cada vez: