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“A AIA”, DE EÇA DE QUEIRÓS

A PROFESSORA: ANTONIETA COUTO


ANÁLISE DO CONTO A AÇÃO

1ª PARTE – INTRODUÇÃO (1º E 2º PARÁGRAFOS)


“Era uma vez um rei (...) trespassado por sete lanças entre a flor da sua nobreza, à beira de um
grande rio.”
• Situação inicial: apresentação das personagens; contextualização quanto ao tempo e ao
espaço.
2ª PARTE – DESENVOLVIMENTO (DO 3º AO 17º PARÁGRAFO)
“A rainha chorou magnificamente o rei (...) que punhado de rubis ia ela escolher?.”
• Conflito e peripécias: reação das personagens à morte do rei; assalto ao palácio; troca de
bebés pela aia; rapto do “príncipe”; morte do escravozinho e do tio bastardo; júbilo pela
salvação do futuro rei; escolha do punhal como recompensa pela aia.

3ª PARTE – CONCLUSÃO (DO 18º AO 20º PARÁGRAFO)

“A ama estendia a mão (…) E cravou um punhal no coração.”


• Desenlace: Suicídio da aia.
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IDEIAS PRINCIPAIS POR PARÁGRAFOS
SITUAÇÃO INICIAL
Apresentação do rei e do reino, da prosperidade e harmonia familiar, da partida do
1º parágrafo
rei para a guerra, deixando sozinhos a rainha, o filho e o reino.

2º parágrafo Notícia da morte do rei numa batalha.

DESENVOLVIMENTO – CONFLITO E PERIPÉCIAS

3º parágrafo Reação da rainha à morte do seu rei: dor e sofrimento.

4º parágrafo Apresentação e descrição do tio bastardo e das suas ambições – inimigo do rei.

Descrição comparativa (semelhanças e diferenças) entre o príncipe e o escravo –


5º parágrafo ambos bebés.

6º parágrafo Apresentação da aia: crenças e preocupações, lealdade aos senhores e dever moral.
Carinho da aia, cuidadora dos dois bebés (o seu futuro rei e o seu filho); amor
7º parágrafo
maternal vs preocupação da aia com o futuro do príncipe pela sua fragilidade.
IDEIAS PRINCIPAIS POR PARÁGRAFOS

Medo que reinava no palácio. A fragilidade do príncipe contrasta com a


8º parágrafo tranquilidade do escravo. A aia está segura de poder proteger o seu príncipe.

Ameaça iminente; pressentimento da aia de algo potencialmente perigoso;


9º parágrafo avistamento dos homens e compreensão sobre o plano do tio bastardo. Atitude
impulsiva da aia: troca dos bebés (a lealdade supera o amor de mãe).

10º parágrafo Rapto do suposto príncipe pelo tio bastardo.

11º parágrafo Segurança do príncipe no seu novo berço vs inquietação e agonia da aia.

Desespero da rainha ao ver o berço do seu príncipe vazio e depois júbilo por saber
12º parágrafo
que está a salvo; tomada de consciência do ato da aia.

13º parágrafo Notícia da morte do tio e da sua horda, assim como do “tenro príncipe”.
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IDEIAS PRINCIPAIS POR PARÁGRAFOS

14º parágrafo Gratidão da rainha face ao feito da aia. Anúncio de que o herdeiro estava vivo.
Aclamação da multidão para que a aia fosse recompensada pelo seu ato nobre.

15º parágrafo Hipótese de a aia escolher as maiores riquezas da Índia.

Deslocação da rainha, dos empregados e da aia até à câmara dos tesouros. O


16º parágrafo caminhar doloroso da aia. Descrição da magnificência do tesouro real. Reação da aia
ao espaço à sua volta, as suas crenças perante o que observa.

17º parágrafo Escolha da recompensa pela aia (um punhal).

DESENLACE
18º, 19º, 20º Trágica decisão da aia: morte com o punhal escolhido (o amor de mãe supera a
parágrafos lealdade.
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ORGANIZAÇÃO DAS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS

Os acontecimentos são narrados por encadeamento, respeitando a ordem cronológica.

DELIMITAÇÃO DAS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS

Esta é uma narrativa fechada, pois apresenta um desenlace, uma solução final que fecha a
narrativa – a morte da aia.
AS PERSONAGENS

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO RELEVO:

PRINCIPAIS/PROTAGONISTA(S) SECUNDÁRIA(S) FIGURANTES(S)


• A aia • O rei • A horda do tio bastardo
• O principezinho • Senhores
• O escravozinho • As aias
• A rainha • Homens de armas
• O irmão bastardo do rei • O servo
• O cavaleiro do rei • A multidão
• O capitão das guardas
• O velho de casta nobre
AS PERSONAGENS
O REI – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA,
PSICOLÓGICA E SOCIAL

Fisicamente – era jovem “moço” e belo (“formoso”);

Psicologicamente – era corajoso, “valente”, poderoso,


sonhador, ambicioso (desejava ter mais territórios,
mais fama e mais riqueza), alegre, mas pouco sensato,
pois partiu para a guerra, levando os melhores homens
e deixando a rainha e o filho bebé à mercê dos
usurpadores do trono.

Socialmente – era da nobreza, muito rico, possuía vastas “cidades e searas”.


AS PERSONAGENS
A RAINHA– CARACTERIZAÇÃO PSICOLÓGICA
E SOCIAL
Psicologicamente: era apaixonada pelo rei. Sentiu profundamente a
morte do rei (pois temia pelo futuro do Reino), a morte do “esposo”
(chorou pelo seu próprio futuro, agora que estava viúva), a morte do
pai (pois receava pelo futuro do filho);
• Temerosa - temia os inúmeros inimigos do filho;
• Carinhosa - sentia igual carinho pelo filho da aia, apesar de ser
um “escravozinho”;
• Frágil - mostrava uma grande fraqueza no que diz respeito à
defesa do reino e do herdeiro do trono;
• Desventurosa, infeliz, receosa, preocupada, desorientada,
angustiada - face aos acontecimentos trágicos, a rainha apenas
sabia correr a cada instante até ao berço do filho;
• Surpreendida e grata - quando descobriu que o filho
sobrevivera, ficou extremamente feliz e abraçou e beijou a aia,
chamando-a “irmã do seu coração”.
Socialmente: era da nobreza, era rica.
AS PERSONAGENS

O PRINCIPEZINHO O ESCRAVOZINHO
• Viviam no mesmo palácio;
• “… tinham nascido na mesma noite de Verão.”;
Semelhanças • “… o mesmo seio os criava….”;
• Ambos eram beijados pela rainha antes de adormecerem;
• Tinham ambos olhos brilhantes;
• Eram tratados pela aia com o mesmo carinho.
• Era príncipe; • Era escravo;
• Era rico • Era pobre;
• Era filho da rainha; • Era filha de escrava;
• Tinha o cabelo “louro e fino”; • Tinha o cabelo “negro e crespo”;
Diferenças • Dormia num “berço de marfim”; • Dormia num “berço pobre de verga”
• Era frágil e estava sujeito a perigos; • Nada tinha a recear pela vida;
• O seu futuro seria cheio de • Teria uma existência simples e seria
responsabilidades e de preocupações uma alma livre de preocupações
O TIO – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA, AS PERSONAGENS
PSICOLÓGICA E SOCIAL

Fisicamente:
- Era enorme, tinha a “face flamejante e mais escura do que a noite”.

Psicologicamente:
- Era mau, depravado, “bravio e cruel”, “tinha o coração mais escuro
do que a face;
- Possuía uma ambição desmedida de “cobiças grosseiras”, desejando
só a realeza por causa dos seus tesouros (faminto de trono);
- Era um assassino; por onde passava deixava um “rasto de matança e
ruínas”;
- Era selvagem, traidor e vingativo (é identificado com o lobo);
- Era ladrão, violento (é como uma ave de rapina);

Socialmente:
- Era o irmão bastardo do rei;
- Era um marginal, que vivia “num castelo sobre os montes”, com um bando de rebeldes.
A AIA – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA, AS PERSONAGENS
PSICOLÓGICA:
Fisicamente:
- Era “bela e robusta”; tinha os olhos brilhantes.
Psicologicamente:
- Era fiel aos seus senhores e dedicada ao filho e ao príncipe
- Colocava o dever acima de tudo; via no rei a representação suprema da divindade
- Considerava a morte como uma continuidade da vida no céu;
- Era feliz (não se importava de ser escrava, porque era mais livre do que se fosse rica);
- Era segura, forte, corajosa, protetora, confiante (“como se os braços em que estreitava o seu
príncipe fossem muralhas de uma cidadela que nenhuma audácia pode transpor”);
- Era perspicaz, inteligente, dotada de uma grande intuição e de uma sensibilidade profunda (quando
vê o perigo reage imediatamente);
- Morre “psicologicamente” após a morte do filho, fica triste e angustiada.
- Fica “muda e hirta”, a sua face tem a rigidez e a palidez da morte (“face de mármore”), e o seu
andar é também um “andar de morte”, como se estivesse num pesadelo;
- Tem um carácter decidido. Ao escolher um punhal para se suicidar, tenta provar que a ambição e a
cobiça devem estar arredadas de um coração leal. Acreditava que o filho estava à sua espera e
precisava dela.
DA HISTÓRIA - CRONOLÓGICO O TEMPO
• Tempo do decurso da ação. Não há referências a datas que permitam localizar a ação no tempo.
Há apenas algumas expressões referentes ao tempo; “A Lua cheia que o vira marchar”; “noite
de Verão”, “Ora uma noite, noite de silêncio”, “E nesse instante um novo clamor abalou a
galeria de mármore…”; “luz da madrugada”, “o Sol já se erguia”.
• É à noite que acontecem os principais acontecimentos desta história como:
✓ O nascimento do príncipe e do escravo;
✓ A morte do rei;
✓ O ataque do tio bastardo e das suas tropas ao palácio para tomar o trono;
✓ A troca dos bebés;
✓ A morte do escravo, do tio bastardo e da sua horda.
• No entanto, a ação fecha com a morte da aia, de madrugada, já quando surgia o dia.

HISTÓRICO
• Toda a atmosfera do conto sugere que a ação se passa na Idade Média, quando o rei e outros
nobres viviam em castelos, tinham escravos, pajens e tesouros, e partiam para a guerra de
conquista, deixando as mulheres no seu lugar. É um tempo de guerras pelo poder e de grande
crueldade.
FÍSICO O ESPAÇO
• A ação localiza-se num reino grande e rico “abundante em cidades e searas” (espaço exterior) e
decorre num palácio (espaço interior).

• Toda a ação decorre neste espaço, sendo que alguns recantos do palácio são sobrevalorizados
por oposição a outros. Por exemplo, a câmara onde o príncipe e o filho da aia dormiam e a
câmara dos tesouros.

• No entanto, alguns espaços exteriores adquirem alguma importância como, por exemplo:
✓ o espaço onde o rei foi derrotado e consequentemente morto (“à beira de um grande rio”),
o que vai deixar o povo sem rei, a rainha viúva e o filho órfão;
✓ o espaço onde o tio bastardo vivia (elemento caracterizador do vilão): “vivia num castelo,
sobre os montes, à maneira de um lobo, que entre a sua alcateia espera a presa”.
✓ a planície e um palácio, onde a população e o príncipe estão desprotegidos e são presa fácil.

SOCIAL
• A ação desenrola-se num ambiente de alta nobreza, de corte – palácio, rei, rainha.
Naturalmente, a aia e o seu filho pertencem à classe dos servos, dos escravos.
NARRADOR
Neste conto, o narrador é:

• não participante, está ausente (heterodiegético), ou seja,


narra na 3ª pessoa;
Quanto à presença: Por exemplo: “Era uma vez um rei…”; “Nascida naquela casa
real, ela tinha a paixão, a religião dos seus senhores”; “A mãe
caiu sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo
morto.”
Quanto à ciência ou • omnisciente.
focalização,
• é objetivo em: “Os olhos de ambos reluziam como pedras
preciosas”; “A rainha tomou a mão da serva. Então a ama
Quanto à posição sorriu e estendeu a mão”.
• é subjetivo em: “Ai!”; “Pobre principezinho da sua alma”.
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO

NARRAÇÃO representa momentos de progressão na ação, peripécias.


• “…deitou-o no berço real que cobriu com um brocado”.

Pretérito perfeito Pretérito imperfeito Gerúndio


• “Escutou”; • “Corriam”; • “indo”;
• “Descerrou”; • … • “Atirando”;
• “Avistou”; • “Tombando”
• “Arrebatou”; • “Vindo”…
• “Atirou-o”;
• “Deitou-o”;
• “Cobriu”;
• “Surgiu”;
• “Arrancou”…
MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO

representa momentos de pausa na ação. Serve para descrever,


DESCRIÇÃO
caracterizar personagens, objetos e espaços, onde decorrem os
acontecimentos
• “… o principezinho, que tinha o cabelo louro e fino (…) o
escravozinho, que tinha o cabelo negro e crespo”

As personagens, falam entre si e o narrador retira-se para segundo


DIÁLOGO
plano.
• “Salvei o meu príncipe – e agora vou dar de mamar ao meu filho!”
RECURSOS EXPRESSIVOS
Neste conto, podemos encontrar diferentes recursos estilísticos que são recorrentes na escrita de
Eça de Queirós. Por exemplo:
DUPLA ADJETIVAÇÃO “bela e robusta escrava”; “beijos pesados e devoradores”;
“maravilhoso e faiscante incêndio”; “Corriam passos pesados e
rudes…”

COMPARAÇÃO “vivia num castelo sobre os montes (…) à maneira de um lobo”; “os
olhos de ambos reluziam como pedras preciosas”, …
ADVÉRBIO DE MODO “violentamente”; “ansiosamente”; “furiosamente”; “magnificamente”

METÁFORA “uma roca não governa como uma espada”.

“filhinho”, “criancinha”, “escravozinho”, “principezinho”, “corpinho”.


DIMUNUTIVO
Todos os diminutivos usados são referentes às duas crianças e, por
isso, denotam pequenez, mas também carinho.
A sua utilização sublinha a fragilidade dos meninos face à enorme
agressividade do inimigo.
A PROFESSORA: ANTONIETA COUTO

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