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Estudo do conto “A aia”

Estudo do conto “A aia”


ESTRUTURA/ AÇÃO
Divisão do conto em partes
I – Situação inicial: corresponde aos dois primeiros parágrafos, em
que é apresentada a situação das personagens – o jovem rei
ausente na guerra, a rainha sozinha com o herdeiro de berço, a
chegada da notícia da morte do rei.
II – Desenvolvimento: corresponde aos acontecimentos centrais
do conto. Assim, depois da morte do rei, sabemos que o príncipe
corre perigo devido à ameaça do irmão bastardo do rei. A
personagem principal só aparece no quinto parágrafo a qual será
a peça fundamental para o desenrolar do conto. O
desenvolvimento prolonga-se até ao momento em que a aia
escolhe o punhal.
III – Desenlace ou conclusão: corresponde ao suicídio da Aia;
ocupa os três últimos parágrafos.
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Sequências narrativas
São pequenas unidades narrativas que possuem um sentido. Juntas
formam toda a narrativa. As sequências narrativas a seguir

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enunciadas correspondem a momentos de avanço da ação
(narração):
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Neste conto, as sequências narrativas organizam-se por
encadeamento pois as ações sucedem-se por ordem cronológica.
A Aia é uma narrativa fechada pois apresenta um desenlace
irreversível: o príncipe foi salvo, o tio morreu e a aia suicidou-se.
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PERSONAGENS
Relevo das personagens
A aia é a protagonista.

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As personagens secundárias são: o rei, a rainha, o bastardo, as
crianças (embora não tenham ação autónoma, têm importância
fundamental na ação), o capitão das guardas e o velho de casta
nobre, o cavaleiro que traz a notícia da morte do rei,...
Os homens de armas da rainha, a horda de rebeldes, os senhores e
as outras aias são figurantes.
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Caracterização das personagens
Predomina a caracterização direta das personagens. No entanto, a aia
pode também ser caracterizada indiretamente, através das suas ações

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Caracterização do rei:
O Rei, como personagem deste conto, pode ser caracterizado
física, psicológica e socialmente:
• fisicamente era “moço” (jovem), “valente” (forte) e “formoso”;
• psicologicamente era corajoso, sonhador, ambicioso (desejava
ter mais territórios, mais fama e mais riquezas), alegre mas
pouco sensato, pois partiu para a guerra, levando os melhores
soldados, deixando a rainha e o filho bebé à mercê dos
usurpadores do trono;
• socialmente era muito rico, pois o seu reino possuía vastas
“cidades e searas”.
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A personagem secundária: a Rainha
A Rainha pode, igualmente, ser caracterizada psicologicamente:
• amava o Rei. Sentiu profundamente a morte do “Rei” (pois temia
pelo futuro do Reino), a morte do “esposo” (chorou pelo seu próprio

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futuro, agora que estava viúva), a morte do pai (pois receava pelo
futuro do filho);
• temia os inúmeros inimigos do filho;
• sentia igual carinho pelo filho da Aia, apesar de ser um
“escravozinho”;
• mostrava uma grande fraqueza, no que diz respeito à defesa do
Reino e do herdeiro do trono;
• face aos acontecimentos trágicos, a rainha apenas sabia correr a
cada instante até ao berço do filho, desventurosa, infeliz, receosa;
• quando descobriu que o filho sobrevivera, ficou extremamente feliz e
abraçou e beijou a Aia, chamando-a “irmã do seu coração”
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Caracterização direta do tio bastardo: “Desses inimigos o mais
temeroso”; “irmão bastardo do rei”; “homem depravado e bravio,
consumido de cobiças grosseiras, desejando só a realeza por causa
dos seus tesouros, e que havia anos vivia num castelo sobre os

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montes, com uma horda de rebeldes, à maneira de um lobo que,
entre a sua atalaia, espera a presa.”;” tio cruel, de face mais
escura que a noite e coração mais escuro que a face, faminto do
trono”; “o homem de rapina que errava no cimo das serras”; “um
homem enorme de face flamejante”.
A apresentação do tio bastardo como homem cruel, selvagem e
movido pela cobiça está totalmente de acordo com os atos de
crueldade, selvajaria e usurpação que executa.
É identificado com o lobo (que remete para a sua selvajaria, para a
traição e para o desejo de se vingar) e com uma ave “de rapina”
(que está associada ao roubo, à violência, à morte das crias dos
outros animais). Era um marginal, vivia “num castelo sobre os
montes”, com um bando de rebeldes.
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As personagens secundárias: as crianças
O principezinho e o escravozinho têm diversas diferenças que os
distinguem:
O principezinho
- cabelo louro e fino;
- fragilidade;
- espera-o uma longa infância antes que ele fosse sequer do
“tamanho de uma espada”.
Estava, por isso, sujeito a muitos perigos;
- estava num berço magnífico de marfim, entre brocados;
- sofria constante perigo de vida;
- o seu futuro seria cheio de preocupações e de responsabilidades.
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O escravozinho
- cabelo negro e crespo;
- “corpinho gordo”;

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- socialmente, era um escravozinho;
- estava num berço pobre de verga, coberta apenas por um
pano de linho;
- porque era pobre, não tinha que recear pela vida. Teria
uma existência simples e alma livre.
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A Aia
• Para a aia, o rei era a representação terrena da divindade. Esta
ideia está patente na frase “O rei seu amo, decerto, já estaria
agora reinando num outro reino, para além das nuvens,

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abundante também em searas e cidades”.
• A aia acreditava que “a vida da Terra se continua no Céu”, ou
seja, que a vida e a morte estão indissociavelmente ligadas,
pois a morte não é o fim da vida, é o seu prolongamento, numa
outra dimensão, não terrena.
• De acordo com a sua conceção de vida e de morte, a aia seria
sempre a escrava do seu príncipe e a mãe do seu filho,
independentemente de estarem vivos ou mortos. Uma vez que
para ela a morte era o prolongamento da vida, o facto de o seu
filho morrer não significava que nunca mais o visse, pois
bastaria morrer também para se lhe juntar. A crença neste
princípio é que lhe deu coragem para sacrificar a vida do seu 11
filho.
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A Aia

A Aia é a protagonista deste conto e pode ser caracterizada física e


psicologicamente:
• era “bela e robusta”;
• era carinhosa com as crianças;
• era fiel ao Rei, à Rainha e ao príncipe, daí ter chorado pela
morte do rei;
• era feliz (não se importava de ser escrava, porque era mais livre
do que se fosse rica); considerava a morte como uma
continuidade da vida no Céu;
• era segura, forte, corajosa e protetora (“como se os braços em
que estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela
que nenhuma audácia pode transpor”);
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• era rápida na reação, inteligente, dotada de uma grande


intuição e de uma sensibilidade profunda (quando vê o perigo
reage imediatamente);
• após a morte do filho, a Aia “morre” psicologicamente. Na
verdade, por causa da dor profunda pela morte do filho, ela fica
“muda e hirta”, a sua face tem a rigidez e a palidez da morte
(“face de mármore”), e o seu andar é também um “andar de
morte”, como se estivesse num sonho mau.
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Atendendo aos princípios que regem o conceito de vida e de morte
da aia, o seu suicídio é perfeitamente compreensível e lógico, pois
é a saída que lhe permite juntar-se ao seu filho, no Céu.
•Caracterização física, psicológica e moral da aia:
No seu retrato físico: a aia “era bela e
Direta robusta”, “de olhos brilhantes e secos”
No seu retrato psicológico: a aia era “a
escrava leal,” e “feliz na sua servidão”
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carinhosa: “ambos cercava de carinho igual”
abnegada: “ofereceu o seu filho à morte”
Indireta. desinteressada, não pretende recompensas: “…e agarrou o
punhal”
crente no Além: “a vida da Terra se continua no Céu”
não teme a morte

Ao longo do conto, a personagem da aia vai ganhando complexidade


psicológica e imprevisibilidade, sendo, por isso, uma personagem
modelada.
A aia, (e também a rainha e a sua gente) defendem os valores conotados
com o Bem – amor, lealdade, coragem, abnegação; o bastardo (e a sua
horda) defende os valores conotados com o Mal – crueldade, cobiça.
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A escrava é uma mulher dedicada ao filho, ao príncipe e aos
reis prova, com o gesto da troca das crianças, uma grandeza
de alma que não pode ser compreendida por nenhum
humano e que, por consequência, não tem nenhuma
recompensa ou pagamento material. A crença espiritual que
alimenta o seu gesto demonstra uma simplicidade de
pensamento que coloca o dever acima de tudo: o dever de
escrava e o dever de mãe. O desejo da aia de provar que a
cobiça e a ambição podem estar arredadas de um coração
leal, fez com que ela escolhesse um punhal para pôr termo à
sua vida. Trata-se de um objeto pequeno, certeiro que
remete para o carácter decidido da personagem e que era o
maior tesouro que aquela mulher ambicionava, pois, esse
objeto lhe abriria caminho para o encontro com o seu filho,
para cumprir o seu dever de mãe, dando-lhe de mamar.
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O rei, a rainha, o tio, o príncipe e o escravo são personagens
secundárias e planas.
Não são identificadas por um nome próprio uma vez que
remetem para a intemporalidade da história e o que importa
é a sua função social. São personagens tipo.
As crianças estão, no conto, marcadas pela sua posição
social: uma dorme em berço de ouro entre brocados, a
outra, num berço pobre e de verga. À hora da morte é por
essa marca que o inimigo vai identificar o futuro rei. O
príncipe não intervém diretamente na ação, mas é o centro
das atenções de todas as personagens.
A personagem escravo existe para salvar a vida do príncipe.
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O ESPAÇO
Espaço físico
A ação desenrola-se num castelo situado “num reino abundante em
cidades e searas”, numa planície (o tio que vivia num” castelo sobre os
montes”, “descera à planície...através de casais e aldeias felizes”),
havendo referência específica ao espaço correspondente às sequências
mais importantes: a câmara do príncipe e a câmara dos tesouros
No 16º parágrafo a câmara dos tesouros é descrita procurando acentuar
as notações visuais de brilho: “As espessas portas…”;“acendeu um
maravilhoso e faiscante incêndio de ouro e pedrarias!”;”por toda a
câmara, reluziam, cintilavam, refulgiam os escudos de ouro, as armas
marchetadas, os montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos
fios de pérolas”; “no meio da Câmara, envolta na refulgência preciosa”.
Espaço social
A ação desenrola-se num ambiente da nobreza, no seio da família real. A
aia e o seu filho pertencem, naturalmente, à classe dos servos.
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O ESPAÇO
Espaço psicológico
Podemos ainda identificar um espaço psicológico no final do conto,
o espaço do pensamento da personagem aia que imagina o seu
filho no céu a precisar de alimento.
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O TEMPO
Tempo cronológico - situa-se entre a partida do rei e a morte da aia.
É vago e indeterminado, à maneira dos contos tradicionais (“era uma
vez...”) contudo, encontramos alguns elementos: “A lua cheia que o vira
marchar (...) começava a minguar quando,...” – decorrera pouco tempo
entre a partida do rei e a chegada da notícia da sua morte; “Ambos tinham
nascido na mesma noite de Verão”.
A noite fatídica ocorre: “Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão...”;
os acontecimentos subsequentes decorrem de madrugada: “... a luz da
madrugada, já clara e rósea ...”; “... já o sol se erguia...” - entram na
Câmara do tesouro;“...céu, onde subiam os primeiros raios de Sol...” -
momento da morte da aia.
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Tempo psicológico
É a representação mental que as personagens fazem do tempo real. Ex.: -
“pensava (...) na sua longa infância, nos anos lentos que correriam ...” –
estas expressões revelam a ansiedade e apreensão da aia face às ameaças
que o herdeiro do trono teria de suportar durante o seu crescimento sem
pai, o qual parecia mais lento que nunca.
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O NARRADOR
O narrador é ausente, pois narra na terceira pessoa, não tendo
qualquer participação na história, é, pois, um narrador não
participante.
Quanto à sua posição, o narrador é subjetivo, pois em certas
passagens do texto percebemos, sobretudo através de alguns
adjetivos e de algumas interjeições que usa, que o narrador sente
carinho pela fragilidade do príncipe, está do lado do Bem, e contra
o bastardo que caracteriza como “depravado”, “cruel”, “homem de
rapina”.
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MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO / MODOS DE
EXPRESSÂO
Sequência de narração - “Era uma vez um rei ... dentro das suas
faixas.”
Sequência de descrição - “Desses inimigos o mais temeroso era seu
tio, ... fechado na mão!”
Única sequência de diálogo, que pode ser considerada sequência
de monólogo, pois, embora se dirija à rainha, a Aia fala para si
própria, não esperando resposta de ninguém, a não ser de si
mesma – a morte – “ – Salvei o meu príncipe, e agora – vou dar de
mamar ao meu filho!”
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RECURSOS ESTILÍSTICOS
Contribuem para a expressividade do texto. Neste conto, os mais abundantes são:
a dupla adjetivação: um rei moço e valente;
a enumeração binária: reino abundante em cidades e searas; noite de silêncio e de
escuridão;
o uso do advérbio de modo: A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda
desoladamente o esposo... chorou ansiosamente o pai;
o uso de diminutivos: filhinho, criancinha, escravozinho, principezinho;
a comparação: Os olhos de ambos reluziam como pedras preciosas; vivia num
castelo sobre os montes...à maneira de um lobo
a antítese: berço de marfim/ berço de verga; cabelo louro e fino/ cabelo negro e
crespo; cimo das serras /planície;
a repetição: forte pela força e forte pelo amor; outro menino noutro berço
dormia; tinham nascido na mesma noite de verão. O mesmo seio os criava.
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Vocabulário
horda; fojo; caçoleta; alfange; chalrar; indigência; roca; ditosa; atalaia; catre,
vergéis; turba...
Sentido das frases:
“...na sua indigência, nada tinha a recear da vida...”
(quem nada possui, nada tem a perder, ninguém lucra em lhe fazer mal);
“Uma roca não governa como uma espada.”
(uma mulher não governa como um homem);
“Nos seus clamores havia, porém, mais tristeza que triunfo.”
(apesar de morto o bastardo, a tristeza pela morte da criança era superior);
“E então a ama sorriu e estendeu a mão.”
(sorriu porque encontrou maneira de ir juntar-se ao seu filho).

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