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brutalizada "^1
pela ?famiiia, o orfanato,
graves.aPor exemplo,
fábrica, o da criançao
o explorador mspiredor de atitudes e idéias políticas. Sendo ele próprio ^0^
que sena um traço freqüente no romance do século XIX. N'Os mente apolitico interessado apenas em analisar objetivamente os
miseráveis há a história da pobre mãe solteira Fantine, que confia ünha a ver com suas
rinhTr intenções.
sociedade, estaMas é interessante
conseqüência da suaque a força
obra nada
eé íalva
salva nelo
pelo r' malandros,
cnminoso regenerado, de cuja tirania brutal ela
Jean Valjcan
lo um dos maiores militantes na história da inteligência empenha-
ohr.
obra 7? h' pelo"^'^"^f^stou
a piedade em vários
menor desvalido outros lugares
e brutalizado da sua
inclusive de ele assumiu posição contra a condenação
b^in^êr "ue ri, história do fiiho de 0^0?. famnln panfleto J accuse,
f^oso ^Ifred Dreyfus,
entrou emcujo
faseprocesso, graças
de revisão, ao seu
terminada
espedlhzadós
especializados em deformar
^ entregue
criançasapara
umavendê-las
quadrilhacomo
de bandidos
obietos pela absolvição final. Mas antes desse desfecho (què não chegou
a ver porque já morrera), Zola foi julgado e condenado à prisão
fâWosT™""! ""Ifaçais de maneira a °ter um riausá o3
labros e musculos no
permanente por ofensa ao Exército, o que o obrigou a se refugiar na Inglater
ra. Al está um exemplo de autor identificado com a visão social
rnfa "1?,"'^'" estivesse sempre rindo. É Gwymplaine da sua obra, que acaba por reunir produção literária e militância
de^soroXSSr"'" ° da sociedal política.
Tanto no caso da literatura messiânica e idealista dos român
r.fst°j,tdrnr:tísz':t:z
meninos pelos ladrões organizados, que os transformam no que
ticos, quanto no caso da literatura realista, na qual a crítica assu
me o cunho de verdadeira investigação orientada da sociedade
hoje chamamos de trombadinhas. Leitor de Eugéne Sue e de Dic estamos em face de exemplos de literatura empenhada numa tare-
ta ligada aos direitos humanos. No Brasil isto foi claro nalguns
itcia cniTV'?'""" ° proWenia da Wo: momentos do Naturalismo, mas ganhou- força real sobretudo no
decênio de 1930, quando o homem do povo com todos os seus
(nao
rn5f^ estou incluindo Dostoievski,
^.^®ratura messiânicaque é outro setor)Tos
e humanitária daqueleS
temoo problemas passou a primeiro plano e os escritores deram grande
hoje declamatóna e por vezes cômica. Mas é curioso que o seu intensidade ao tratamento literário do pobre.
Isso foi devido sobretudo ao fato de o romance de tonalida
msiste r<o meio do que já envelheceu de vez. mos de social ter passado da denúncia retórica, ou da mera descrição
trando que a preocupação com o que hoje chamamos direitos hu a uma espécie de crítica corrosiva, que podia ser explícita, como
manos pode dar à literatura uma força insuspeitada. E Soca^^ em Jorge Amado, ou implícita, como em Graciliano Ramos mas
mente, que a literatura pode incutir em cada um de nós o senti- que em todos eles foi muito eficiente naquele período, contribuin
mento de urgência de tais problemas. Por isso. creio que Lmra- do para incentivar os sentimentos radicais que se generalizaram
e o ffato de ser.tratado
temánoneledocom
romance,
a devidanodignidade,
tempo do éRomantismo
um momen no Pats. Foi «ma verdadeira onda de deslscaramemo S
to relevante no capitulo dos direitos humanos através da literatura. que aparece nao apenas nos que ainda lemos hoje. como os doi;
A partir do período romântico a narrativa desenvolveu cada citados e mais Jose Uns do Rego, Rachel de Queiroz ou Érico
vez mais o lado social, como aconteceu no Naturalismo, que tim ^r^ssimo, m^em autores menos lembrados,como AbguaíBastos
brou em tomar comoi personagens centrais o operário, o campo- Guilhermino César, Emil Farhat, Amando Fontes oínâo fl^a;
de tantos outros praticamente esquecidos mas o/ie orf -
ap Na França, Emile
m geral. o desvalido, a prostituta,
Zola conseguiu fazer ouma
discriminado
verdadei
ra epopéia do novo oprimido e explorado, em vários livros da sé- n^cf^™^ escritores
nunciar a misena, a exploração empenhados
econômica, em exporTd^o
a marginalSlcão-
ne dos Rougon-Macquart, retratando as conseqüências da miséria que os toma. como outros, figurantes de umaZ^v^^ios
LaurPalhZ etc °
122 DIREITOS HUMANOS E LITERATURA
VI ANTONIO CÂNDIDO J23
Acabei de focalizar a relação da literatura com os direitos Soviética (que neste capítulo é mo
humanos de dois ângulos diferentes. Primeiro, verifiquei que a delar) fez um grande esforço para isto, e lá as tiragens editoriais
literatura co^esponde a uma necessidade universal que deve ser alcançam números para nós inverossímeis, inclusive de textos ines
satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato perados, como os de Sh^espeare, que em nenhum outro país é tão
lido, segundo vi registrado em algum lugar. Como seria a situaria
de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos orga idealmente organizada com base na sonhada ig,Ll-
niza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a frui dade completa, que nunca conhecemos e talvez nunca venhamnc
ção da literatura e mutilar a nossa humanidade. Em segundo lu a conhecer? No entusiasmo da construção socialista, Trotski previa
gar, a literatura pode ser um instrumento consciente de desmasca- que nela a media dos homens seria do nível de Aristóteles Goethe
tS" as situações de restrição dos direi- e Mare... Utopia a parte, é certo que quanto mais igualitária for a
scrciedade, e quanto mais lazer proporcionar, maior deverá ser a
IsDirimÍ
espintual. Tamf
Tanto °
num ' T""®
nível a.miséria,
quanto a servidão,
no outro a mutilação
ela tem muito a ver difusão humanizadora das obras literárias, e, portanto, a possibUida-
com a luta pelos direitos humanos. de de contribuírem para o amadurecimento de cada um
Nas sociedades de extrema desigualdade, o esforço dos gover
cão dMte^^hem^híf° socied^e pode restringir ou ampliar a frui- nos escl^cidos e dos homens de boa vontade tenta remediar na
romn
omo a K. f e que ela mantém
brasileira ^ grave dureza
com a maior numa sociedade
a estrati- medida do possível a falta de oportunidades culturais. Nesse rumo
ficaçao das possibilidades, tratando como se fossem compressí- a obra mais impressionante que conheço no Brasil foi de Mário
® espirituais que são incompressíveis. de Andrade no breve período em que chefiou o Departamento de
aZ
Cultura da cidade de São Paulo, de 1935 a 1938. P^Tnmeim
q e nm
um homem ^do povo está praticamente
segundo asprivado
classes da
na possibilida-
medida em vez entre nós viu-se uma organização da cultura com vistas ao dú-
^ de conhecer e aproveitar a leitura de'Machado de Assis ou bhco mais amplo possível. Além da remodelação em larga escala
de Andrade. Para ele, ficam a literatura de niassa, o folclo- da Biblioteca Municipal, foram criados: parques infantis nas zonas
A - espontânea,
popul^es; bibliotecas ambulantes, em furgões que estacionavam
modalidades sao importantesaecanção
nobres,popular, o provérbio.
mas é grave Estas
considerá-las nos diversos bairros; a discoteca pública; os concertos de amola
como suficientes para a grande maioria que, devido à pobreza e difusão, baseados na novidade de conjuntos organizados aqui co
à Ignorância, e impedida de chegar às obras eruditas. ^ ® mo quarteto de cordas, trio instrumental, orquestra sinfônica' co
„ rais. A partir de então a cultura musical média alcançou públicos
va .a difusãoaltura é preciso
possível fazer de
das formas duasliteratura
considerações:
erudita uma relati
em função maiores e subiu de nível, como demonstram as fichas de consulta
da estrutura e da organização da sociedade; outra, relativa à da Discot^a Pública Municipal e os programas de eventos oelos
municaçao entre as esferas da produção literária. quais se observa diminuição do gosto até então quase exclusivo oe
Para que a litera^tura chamada erudita deixe de ser privilégio Ia opera e o solo de piano, com incremento concomitante do gos
to pela musica de camara e a sinfônica. E tudo isso concebido co-
fa feita de maneia a garant^ uma distribuição
^ ^ organização da sociedade
cqüitativa fe-
dos bens.
Ein pnncipio, só numa sociedade igualitária os produtos literários Stofd'e amadomf ^^s-
poderão circular sem barreiras, e neste domínio a situação é parti Ao mesmo tempo, Mário de Andrade incrementou a oesaui
cularmente dramatica em países como o Brasil, onde a maioria sa folclonca e etnográfica, valorizando as culturas popuU^es no"
da população e analfabeta, ou quase, e vive em condições que pressuposto de que todos os níveis são dignos e oue » oóo ■' ■
nao permitem a margem de lazer indispensável à leitura. Por is deles é função da dinâmica das sociedades. Ele entendia a^nS^
so, numa sociedade estratificada deste tipo, a fruição da literatu pio que as cnações populares eram fontes das eruditos e auTde'
modo geral a arte vinha do povo. Mais tarde, inclusive devido !
ra se estratifica de maneira abrupta e alienante.
_ Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitari-
uma troca de idéias com Roger Bastide, sentiu, qu^nâ veS há
uma copente em dois sentidos, e que a esfera erudita e a nrtmii
zaçao, há aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difúsão trocam influências de maneira incessante, fazendo da criação liter^
na e artística um fenômeno de Vasta intercomunicaçào.
124 DIREITOS HUMANOS E LITERATURA
ANTONIO CÂNDIDO 125
Isto fáz lembr^ que, envolvendo o problema da desigualda- dos à atividade de cada um. Mas para surpresa geral, o que
e social e econômica, está o problema da intercomunicação dos quiseram na grande maiona foi aprender bem a sua língua (mui
níveis culturais. Nar. sociedades que procuram estabelecer regi- tos estavam ainda ligados aos dialetos regionais) e conhecer a lite
mes Igualitários, o p-.pssuposto é que todos devem ter a possibili ratura italiana. Em segundo lugar, queriam aprender violino.
dade de passar dos níveis populares para os níveis eruditos como
. conseqüência normal da transformação de estrutura, prevendo-se Este belo exemplo leva a falar no poder universal dos gran
a elevação sensível da capacidade de cada um graças à aquisição des clássicos, que ultrapassam a barreira da estratificação social
cada vez maior de conhecimentos e experiências. Nas sociedades e de certo modo podem redimir as distâncias impostas pela desi
que mantém a desigualdade como norma, e é o caso da nossa gualdade econômica, pois têm a capacidade de interessar a todos
podem ocorrer movimentos e medidas, de caráter público ou pri e portanto devem ser levados ao maior número. Para ficar na Itá
vado, para diminuir o abismo entre os níveis e fazer chegar ao lia, é o caso assombroso da Divina comédia, conhecida em todos
povo os produtos eruditos. Mas, repito, tanto num caso quanto os níveis sociais e por todos eles consumida como alimento huma-
no oufro esta implícita como questão maior a correlação dos ní- nizador. Mais ainda: dezenas de milhares de pessoas sabem de
veis. E ai a experiência mostra que o principal obstáculo pode ser cor os 34 cantos do "Inferno"; um número menor sabe de cor
a talta de oportunidade, não a incapacidade. não apenas o "Inferno", mas também o "Purgatório"; e muitos
A partir de 1934 e do famoso Congresso de Escritores de mil sabem além deles o "Paraíso", num total de 100 cantos e
Karkov, generalizou-se a questão da "literatura proletária" que mais de 13:000 versos... Lembro de ter conhecido na minha infân
vinha sendo debatida desde a vitória da Revolução Russa, haven cia, em Poços de Caldas, o velho sapateiro italiano Crispim que
do uma especie de convocação universal em prol da produção so sabia o "Inferno" completo e recitava qualquer canto que se pe
cialmente empenhada. Uma das alegações era a necessidade de disse, sem par^ de bater as suas solas.
dar ao povo um tipo de literatura que o interessasse realmente Os italianos são hoje alfabetizados e a Itália é um país satu
^rque versava os seus problemas específicos de um ângulo pro- rado da melhor cultura. Mas noutros países, mesmo os analfabe
^essista. Nessa ocasião, um escritor francês bastante empenha tos podem participar bem da literatura erudita quando lhes é da
do, mas nao sectano, Jean Guéhenno, publicou na revista Euro- da a oportunidade. Se for permitida outra lembrança pessoal, con
relatando uma experiência simples: ele deu pa- tarei que quando eu tinha doze anos, na mesma cidade de Poços
de Caldas, um jardineiro português e sua esposa brasileira, ambos
PmnJnLrf"
empenhados namodcsta,
posiçãodeideológica
pouca instrução,
ao lado romances populistas,
do trabalhador e do analfabetos, me pediram para lhes ler o Amor de perdição, de
pobre. Mas nao houve o menor interesse da parte das pessoas a Camilo Castelo Branco, que já tinham ouvido de uma professora
que se dingiu^. Então, deu-lhes livros de Balzac, Stendhal, Flau- na fazenda onde trabalhavam antes e que os havia fascinado. Eu
bert, que os fascinaram. Guéhenno queria mostrar com isto que atendi e verifiquei como assimilavam bem,com emoção inteligente.
a boa literatura tem alcance universal, e que ela seria acolhida de O Fausto, o Dom Quixote, Os Lusíadas, Machado de Assis
vidamente pelo povo se chegasse até ele. E por aí se vê o efeito podem ser fruídos em todos os níveis e seriam fatores inestimá
mutilador da segregação cultural segundo as classes. veis de afinamento pessoal, se a nossa sociedade iníqua não segre-
Lembro ainda de ter ouvido nos anos de 1940 que o escritor gasse as camadas, impedindo a difusão dos produtos culturais eru
e pensador português Agostinho da Silva promoveu cursos notur- ditos e confinando o povo a apenas uma parte da cultura a cha
nos para operários, nos quais comentava textos de filósofos, co mada popular. A este respeito o Brasil se distingue pela alta taxa
mo Platao, que despertaram o maior interesse e foram devidamen de iniqüidade, pois como é sabido temos de um lado os mais al
te assimilados. tos níveis de instrução e de cultura erudita, e de outro a massa
Maria Vitória Benevides narra a este respeito um caso exem numencamente predominante de espoliados, sem acesso aos bens
plar. Tempos atras foi aprovada em Milão uma lei que assegura desta,e aliás aos próprios bens materiais necessários à sobrevivência
aos operanos certo- número de horas destinadas a aperfeiçoamen- Nesse contexto, é revoltante o preconceito segundo o qual
o cultural em matérias escolhidas por eles próprios. A expectati as mmonas que podem participar das formas requintadas de cultu
va era que aproveitariam a oportunidade para melhorar o seu ní ra sao sempre capazes de apreciá-las — o que não é verdade As
vel profissional por meio de novos conhecimentos técnicos liga- classes dominantes sao freqüentemente desprovidas de percepção
e interesse real pela arte e a literatura ao seu dispor, e muitos dos
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DIREITOS HUMANOS E LITERATURA
Sobre os Autores
™ea^°d?5fcoiaisem''aue^od^^^^^
• níveis abrange
da cultura A dist^ncãr» í. P°^s^rn ter acesso aosadiferentes
luta por
dita nãn rlí^w CO • entre cultura popular e cultura eru-
hu™"or?a"™rçrot'ai:^"fr^^^^
dea e enr\^oI™r„%trru:^
Antonio Cândido de Mello e Souza foi Assistente de Sociolopia
na USP, de 1942 a 1958, quando passou a ensinar Literatura Bra
sileira na Faculdade de Assis-SP. A partir de 1961 foi Professor
de Teoria Literária e Literatura Comparada na USP, da qual se
aposentou em 1978. Publicou diversos livros, entre os quais- For
maçáo da Literatura Brasileira (1959), Os parceiros do Rio Bonito
la^noke 09^7^^(1964), Vários Escritos(1970), A Educação pe-
O paulistano Carlos Alberto Idoeta é membro fundador da Anistia
Internacional no Brasil e primeiro presidente de sua Seção Brasi
leira. Tem artigos e entrevistas publicados, especialmente sobre
dmeitos humanos. Formado em Administração de Empresas nela
FGV, estudou também Economia, Filosofia e Línguas
Herbert de Souza buscou sempre suas utopias, participando dos
moviinentos estudantis que o levaram, após 1964, à oíganiLcâo
paitidma, a luta revolumonária, à clandestinidade, Nos anos TO
no exilm, esteve em Cuba, Chile, México, Canadá.
Voltando, organizou o IBASE e campanhas contra a Dívida Exter-
hfíírf Sem 1986, a bomba relogio
tudo, F' dasuas próprias
AIDS, a dorpalavras: "Nisto
maior pelos ir-
desconheddos) que ainda padecem na clandesti
nidade o peso da doença. E, neste país do capital transnacional,