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Filogenia e Classificação dos Peixes


Neotropicais
Luiz Roberto Malabarba e Maria Cláudia de Souza Lima Malabarba

SINOPSE Introdução
Este capitulo descreve a riqueza de espécies e relações fi+ peixes são o grupo mais rico entre os vertebra-
logenéticas entre os peixes de água doce neotropicais, res
saltando as principais características diagnósticas de cada
O dos, correspondendo a aproximadamente metade
do número de espécies. Até o início do ano de 2013
grupo. Estes são dois temas ainda efervescentes em termos eram reconhecidas pouco mais de 32.500 espécies de
de pesquisa, necessitando uma atualização constante face peixes, mas este número aumenta constantemente de-
a elevada taxa de descrição de espécies novas bem como vido à elevada taxa de descrição de novas espécies. Na
de publicação de novas hipóteses de relações filogenéticas última década (2001-2010) foram descritas em média
entre os diferentes grupos. Neste capítulo fornecemos uma 394,5 espécies por ano (Eschmeyer e Fricke, 2011) e
visão do conhecimento disponivel até o início de 2013, e somente em 2012 foram descritas 450 espécies novas
Sugerimos que os leitores busquem sempre novOs dados a (Eschmeyer, 2013). As águas doces da região Neotropi
partir das informações fornecidas aqui. cal (América do Sul e América Central) compreendem
5.577 espécies (números de Reis et al., 2003 atualiza-
PEIXES Do BRASIL - VoL. IIL 603
dos a partir de Eschmeyer, 2013), variando as estima-
tivas mais recentes do número final de espécies entre
istingos mais aigniicalivas pata idenlfcogo 8.000 (Schaefer, 1998), 6.025 (Reis et al., 2003) e mais
das 324bicus_ubeaptcies mogian4 da de 7.000 espécies (Albert e Reis,
2011)
ulama timainae EiGENMANN, 1910
Apesar desta riqueza extrema concentrada em
FIG. 133 menos de 0,003 % dos recursos hídricos
disponíveis
no planeta (águas doces neotropicais; Vari e Malabar-
ba, 1998), a maior parte dos peixes da região perten-
hgame
pabis aybehuo Gabho
bocaaada
(lado wndral)
ental2 cem a um único grande grupo de peixes de água doce
lalo venthal primários, que se tornou dominante na ocupação de
Pplumbea ambientes dulcícolas no planeta: os Otophysa. Estes
Boca L constituem cerca de 75 % das espécies de peixes de
mimal.

gan água doce neotropicais e estão representados pelas


cEoTA s u e m i n a .
Ordens Characiformes, Siluriformes e
Gymnotifor-
mes nas Américas do Sul e Central (Figura 1). Além
gam4
Laiza latiral u llumbea aing laita i lag dos
a aReila. gaa dianos da caugal se
Otophysa, peixes neotropicais são constituídoss
Taina 24cupa. tmvda, cauaal vmea por dois importantes grupos de peixes de água doce
diana Na cauaol.
ou vemelha- aaaaaa
secundários: os
Cyprinodontiformes (cerca de 13 %)
':^:
. 2lagar 'A
Classilicação ecofisiológica empregada aqui de peixes de agua doce em
Lg. con 1maO g i l b e l i - aauga,talral acLa, mais
primários, secundários e periféricos refere-se à origem dos grupos e a
anBla qup em nba, angando
Sua tolerância a
ra bassda cguug t . 2 bouco salinidade. Grupos primários são aqueles originados em
pumbea lg. cauz .ediona couuda, livemesa agua doce e intolerantes à água salgada; grupos secundârios são aqueles

Koca derivados de grupos marinhos e tolerantes à água salgada; e grupos peri


d d2 Chas.iugiulats, latalmernie.
daspscamns a qua rUra fericos säo aquelas espécies de água doce não diádromas pertencentes a
mia Latas
grupos primariamente marinhos (Myers, 1949, 1966).
Doce
Biologia e Fisiologia de Peixes Neotropicais de Agua

Cephalaspidomorphi 2(<1%)
Tetraodontiformes 2(<1%)

Pleuronectiformes 20 (<1%) Chondrichthyes 28(1%)


Holostei 2(<1%)

Gobiiformes 40 (1%). - Dipnoi 1(<1%)


- Elopomorpha 3 (<1%)

Synbranchiformes 5 (<1%)Mugiliformes 2(<1%) Osteoglossomorpha 2 (<1%)

Perciformes 31 (1%) Clupeiformes 35 (1%)

Gasterosteiformes 5 (<1%)

Beloniformes 11 (<1%)- Cichliformes


(Cichlidae)
494 (99%)

yprinodontiformes Characiformes
Atheriniformes 98 (2%)
703 (13%)
1791 (33%)
Gobiesociformes8 (<1%
Batrachoidiformes
5(1%)
Gymnotiformes de
"Ophidiiformes"7 (<1%)J 202 (4%) Figura 1. Riqueza (número de espécies)
peixes de água doce na região Neotropical
Salmoniformes 7 (<1%) J
relativa
por grandes grupos e sua frequncia
Siluriformes (em parênteses). Note que os Otophysa
2073 (38%)
(representados pelos Characiformes,
Siluriformes e Gymnotiformes), Cypriniformes
e Cichlidae (Cichliformes) representam cerca
de 97 % desta fauna. Total: 5.577 espécies
(número atualizado em março de 2013).

e os ciclídeos (Ordem Cichliformes) (cerca de 9 %). Os potencialmente informativos para a reconstrução da


cerca de 3 % restantes são formados por, pelo menos, história evolutiva e descoberta de grupos monofilé
20 ordens diferentes, a maioria de peixes periféricos ticos. Caracteres que constituem uma novidade na
de origem primariamente marinha. evolução de um grupo (surgimento da mandíbula, por
exemplo),. permitem formulara hipótese de que todos
os organismos que compartilham este caráter descen
Filogenias e organização da diversidade dem de um ancestral comum, no qual surgiu este ca-
ráter pela primeira vez. Assim, tubarões são parentes
biológica mais próximos de mamiferos do que de lampreias,
por compartilharem um caráter derivado - presença

Filogenias buscam representar da maneira mais de uma mandibula ausente em lampreias. Caracte-
fel possível a história evolutiva dos organismos atra res derivados compartilhados por mais de um táxon,
vés da definição de agrupamentos naturais (monoh e que permitem formular hipóteses de relações, são
léticos) que representem histórias de ancestralidade chamados de sinapomorhas.
comum. Todos os organismos pertencentes a um A formulação de uma classificação
filogenéti
determinado grupo monofilético possuem um ances- ca é a melhor forma de organizar informações sobre
tral comum único, o qual não é ancestral de nenhum
biodiversidade e se tornou uma
prática universal em
organismo externo ao grupo. Estes grupos naturais,
classificaçõesbiológicas. compreensão não só da
A
ou clados, devem estar refletidos na classificação ta diversidade especifica, mas também da diversidade
xonômica em gêneros, famílias, ordens, classes, filos filogenética na composição de espécies, fornece uma
e reinos monofiléticos. Grupos monofiléticos menores visão comparada da distribuição de caracteres, sejam
eles
gêneros) fazem parte de grupos monofiléticos maio-
res (famílias) e assim sucessivamente.
morfológicos,
biológicos ou moleculares.
teres de quaisquer tipos estão distribuídos entre os
Carac
A formulação de hipóteses de relações de pa- seres vivos de acordo com a sua origem filogenética e,
rentesco pode ser feita através da busca de caracteres como tal, servem como fontes de informação para a
que documentem estas relações. Quaisquer tipos de descoberta desta história filogenética.
caracteres herdáveis entre indivíduos de uma linha- Os ostariofíseos, por exemplo, possuem uma
gem filogenética, sejam eles morfológicos, fisiológi- substância de alarme única alojada em células hol
cos, biológicos, comportamentais ou moleculares são crinas na epiderme, e cuja ruptura causa uma reação
Filogenia e Classificação dos Peixes Neotropicais

estereotipada demedo entre


indivíduos da mesma es
pécie, ou mesmo
em
outros ostariofíseos. Este
e
compreendem pelo menos seis linhagens modernas
ocorre somente em caráter distintas, com histórias filogenéticas únicas, e que, por
Gonorynchiformes, Ostariophysi (incluindo as ordens
Cypriniformes, Characiformes tanto, devem ser tratadas separadamente (Figura 2):
e
Siluriformes; perdido
secundariamente nos peixes
Mixini, Cephalaspidomorphi, Chondrichthyes, Coela-
elétricos da ordem canthimorpha, Dipnomorpha e Actinopterygii.
a
origem única Gymnotifornmes)
do grupo evidenciandoo Os Mixini, ou peixes-bruxa, têm sido considera-
modo, podemos inferir (Fink e Fink, 1981). Deste dos o grupo irmão de todos os vertebrados. São exclu
que tais células secretoras es- sivamente marinhos, de águas frias e de distribuição
tejam presentes
mes) ou bagres
em
espécies de lambaris (Characifor- antitropical. Os Cephalaspidomorphi, ou lampreias,
(Siluriformes)
relação à sua epiderme, mas não
nunca
investigadas em são de água doce ou diádromos, neste último caso
sua devemos esperar a habitando o ambiente marinho na fase adulta e retor
presença em ciclídeos, por
proximamente relacionados aos exemplo, que
Ostariophysi.
não so nando a água doce para a desova e desenvolvimento
larval (anádromos). Na América do Sul ocorrem so-
Outro exemplo refere-se à
culos durante a organização dos testí mente duas espécies de lampreias no sul do continen-

incluindo espermiogênese. Os Atherinomorphae, te, Mordacia lapicida (Gray, 1851), endêmica do Chile,
osAtheriniformes (peixes-rei),
(barrigudinhos e peixes-anuais) e Cyprinodonti
formes e Geotria australis (Gray, 1851), presente no Chile, Ar-
Beloniformes gentina, Austrália e Nova Zelândia (Malabarba e Ma-
peixes-agulha), possuem um padrão único de esper- labarba, 2007). Os peixes-bruxa (Mixini) e lampréias
miogenese com as espermatogônias formando-se na
extremidade distal de cada lóbulo do testículo e as de-
(Cephalaspidomorphi) não possuem mandibula, o
que facilmente os diferencia de outros vertebrados.
mais etapas da
espermiogênese sucedendo-se ordena-
damente em direção ao lúmen.
Chor ichthyes são primariamente marinhos,
Entretanto, nos demais com uma família de arraias exclusiva de água doce,
teleósteos as espermatogônias se formam ao
longo de
todo o túbulo, intercaladas com outras fases da
Potamotrygonidae, com 25 espécies endêmicas das
esper- grandes bacias hidrográicas da América do Sul. A
miogênese (ver Grier et al., 1980: Figura 1). Assim, monofilia da família suporta a hipótese de que to
pode-se supor que este tipo único de espermiogênese das as arraias de água doce neotropicais descendem
surgiu em um ancestral comum de todos os Atherino- de um ancestral único que invadiu este ambiente a
morphae, e que ocorra nos testículos de outras espécies partir de um ancestral marinho (Lovejoy, 1996), sen-
do grupo ainda não investigadas. Não se deve do considerados como u m grupo de peixes de
supor, água
no entanto, que este tipo de espermiogênese ocorra em doce periférico. Os Potamotrygonidae são
espêcies de grupos não aparentados de Atherinomor-
filogeneti-
camente relacionados às arraias marinhas da família
phae, como Characiformes, por exemplo. Dasyatidae, tendo como grupo irmão duas arraias
dogênero Himantura, H. schmardae (Werner, 1904) e
H. a a (Beebe e Tee-Van, 1941), que ocorrem na
Relações filogenéticas entre grupos de costa caribenha da América do Sul e na costa do Pa-
cifico na América Central,
peixes modernos e os Tetrapodomorpha respectivamente (Lovejoy
et al., 2006). Além dos Potamotrygonidae, o tubarão
de cabeça-chata, Carcharhinus leucas
Atualmente, o termo "peixes" se refere a todos
(Müller e Henle,
1839) da família Carcharhinidae, e duas espéécies de
os vertebrados aquáticos sem membros locomotores peixe-serra, Pristis pectinata (Latham, 1794) e Pristis
terrestres ou pisciformes, porém não constitui um gru- pristis (Linnaeus, 1758) (Pristidae) ocorrem em am-
po taxonômico como largamente utilizado no século bientes de água doce na região norte da América do
passado. "Peixes"' no formam um grupo monofilético Sul e na América Central.

Actinopterygii (31.298 espécies, marinhas,


de água doce e diádromas)
(Peixes ósseosemgeral
Tetrapodomorpha Figura 2. Filogenia dos Craniata
(Anfibios, Tartarugas, Cobras e Lagartos, Aves, Mamiferos)
representando as relações de parentesco
Gnathostomata Dipnomorpha (6 espécies; água doce) entre as seis linhagens de peixes
(Peixes-pulmonados) modernos e Tetrapodomorpha. A direita
Coelacanthimorpha (2 espécies; marinhas) são intormados o número de espécies
Vertebrata (Celacanto) existentes em cada grupo e o hábito
Chondrichthyes (1.208 espécies; marinhas; (marinhas, de água doce ou diádromas).
1 familia água doce)
(Tubaröes, arraias e quimeras) Os quatro grupos representados em caixas
Craniata (44 espécies; água doce
Cephalaspidomorphi e anádromas)
possuem representantes na ictiofauna
(Lampréias) neotropical. As relações entre os grupos
Mixini (75 espécies; marinhas) internos de Actinopterygi são detalhadas
(Peixes-bruxa) na Figura 3.
4 Fisiologia de Peixes NeotropIcais de Agua Doce
Biologia e

suportando radiais e nadadeiras


Coelacanthimorpha (= Actinistia)e Dipnomor- tapterigio expandido Liem, 1983).
(Lauder e
pha correspondem a linhagens mais aparentadas com suportadas por lepidotríquias
Tetrapoda que com outros peixes. Caracteres que evi
denciam esta relação de parentesco incluem o esque
leto das nadadeiras, que possuem ossos homólogos Diversificaçãode Teleostei e principais
de mesma origem) aos ossos dos membros locomo- linhagens neotropicais
tores dos tetrápodos (como úmero, rádio e ulna, por
exemplo). Os dipnóicos apresentam ainda um pulmão
divididos em duas Clas
para respiração aérea homólogo ao pulmão dos Te Os Actinopterygii são
e esta última e m duas sub-
trapodomorpha. Coelacanthimorpha, apesar de abun- ses, Cladistia e Actinopteri,
sendo que somen-
dantes no registro fóssil, têm somente duas espécies classes, Chondrostei e Neopterygi,
naturalmente n a América do
modernas, ambas marinhas, consideradas como fós- te o último grupo ocorre
n a Infraclasse
seis vivos e ocorrentes em grandes profundidades na Sul e Brasil. Os Neopterygii dividem-se
Holostei e Infraclasse Teleostei. Os Holostei são pei-
costa leste da Africa e na Indonésia. Dipnomorpha é
um grupo exclusivo de água doce, com somente seis xes de água doce secundários com somente oito espé-
espécies modernas, uma na América do Sul, a piram- cies modernas, duas ocorrendo na América Central,
bóia. Lepidosiren paradoxa (Fitzinger, 1837) (Lepidosi- Atractosteus tristoechus (Bloch e Schneider, 1801) e A.
renidae), quatro na Africa e uma na Austrália. tropicus (Gill, 1863) (Lepisosteidae). Existem quatro
Os Actinopterygii são peixes de nadadeiras grupos principais dentro de Teleostei: Elopomorpha,
radiadas (actino= raio, ptero asa), que Osteoglossomorpha, Otomorpha e Euteleosteomor-
compre
=

endem a vasta maioria dos peixes conhecidos atual- pha Figura 3).
mente tanto no mar quanto em águas continentais. Os Elopomorpha são peixes prinmariamente mari-
Assumiram com extremo sucesso uma grande varie- nhos, incluindo o tarpão e as enguias. Dentre as sinapo-
dade de tamanhos, formas hábitos morfias que atestam a monofilia do grupo, o estágio de
e como adaptação
para ocupação de ambientes aquáticos. Assim, são en larva leptocéfala no desenvolvimento é com certeza o
contrados desde profundidades abissais nos oceanos mais interessante. Em forma de fita e comumente com
até altitudes de mais de 3.821 m, no lago Titicaca, no 10 cm, mas podendo atingir até 2 m, a larva encolhe du-
Peru e Bolívia; ocorrem tanto em ambientes de águas rante a metamorfose para a forma juvenil. Somente três
perenes como aqueles com águas temporárias, que espécies de Elopomorpha são conhecidas da região Ne-
secam durante certos períodos do ano. Consequência otropical. O tarpão, Megalops atlanticus (Valenciennes,
desta radiação éa enorme riqueza de espécies, consti- 1847) (Megalopidae) é marinho e encontrado na foz de
tuindo-se no mais diverso grupo entre os vertebrados, riose estuários. A
enguia de água doce, Anguilla rostrataa
com mais de 31.000 espécies. O grupo inclui formas
tão diversas que, mesmo sendo reconhecidamente
Lesueur, 1817) (Anguilidae) é encontrada em rios na
região do Caribe. Esta espécie passa a maior parte do ci-
monofilético, não há um conjunto de fortes sinapo clo de vida em água doce, retornando ao mar
morías deinindo-o (Patterson, 1982; Nelson, 2006). para des0
va
(catádroma). Finalmente a enguia-cobra, Stictorhinus
Isto ocorre porque algumas das características exclu- potamius (Böhlke e McCosker, 1975) (Ophichthyidae),
sivas dos actinopterigeos mudaram ao longo da evo- é exclusiva de água doce e endêmica do continente
lução do grupo, podendo estar bem modificadas ou sul americano, ocorrendo nas bacias
terem sido perdidas em formas mais dos rios Orinoco,
especializadas, Amazonas, Tocantins e nordeste do Brasil.
tais como: estrutura histológica das escamas, Os
capuz
de acrodina nos dentes, nadadeira pélvica com me- mente pequeno
Osteoglossomorpha são um grupo relativa-
(240 espécies) de teleósteos de
água

Otomorpha 6 ordens - 10.030 espécies

Figura 3. Filogenia detalhando as relacões


Euteleosteomorpha 29 ordens-20.004 espécies
entre as Classes Cladistia e
Teleostei Subclasses Chondrostei e Actinopterii
Osteoglossomorpha 2 ordens-240 espécies Neopterygu,
Infraclasses Holostei e Teleostei, e das
Neopterygi (aruan epiracucu) Coortes Elopomorpha, Osteoglossomorpha,
Elopomorpha 4 ordens- 986 espécies
Euteleosteomorpha e Otomorpha. Os cinco
Actinopteri (tarpão e enguias) grupos
Holostei representados em caixas possuem
2 ordens-8 espécies representantes na ictiofauna neotropical.
(Amia e Lepisosteus)| A
Actinopterygii Chondrostei
esquerda são informados o numero
de ordens
1 ordem - 28 espécies
e o número total de espécies
(esturjão e paddlefish) existentes em cada grupo. As relacoes
Cladistia entre os grupos
internos de
1 ordem-12 espécies Otomorpha e
(bichir) de
Euteleosteomorpha são detalhadas nas
Figuras 4 e 5, respectivamente.
Filogenia e Classificação dos Peixes Neotropicais 5

doce e, ainda assim, bastante diversificados a base da nadadeira caudal, como Pellona castelnae-
mortolo-
gicamente, principalmente no continente africano. Na ana (Valenciennes, 1847) da bacia do rio Amazonas.
América do Sul estão
bem conhecidas":
representados por duas espécies Duas sinapomorfias definem o grup0: a presença de
pirarucu Arapaima gigas (Schinz,
o escudos abdominais na linha médio ventral do corpo
1822) (Arapaimidae), maior espécie de peixe de água e a presença de uma conexão entre a bexiga natató
doce neotropical, aruan Osteoglossum bicirrhosum
e o ria e o ouvido interno, com um divertículo da bexiga
(Cuvier, 1829) (Osteoglossidae). Possuem uma posição natatória que penetra o exocciptal e se expande para
basal entre os teleósteos e por vezes são apontados formar uma bula ossificada no proótico e ås vezes no
como
grupo irmão vivente de todos os demais. Re pterótico.
centes estudos
listam várias
filogenéticos (Wiley e 2010) Johnson, Ostariophysi é um grupo de peixes primaria-
sinapomorfias para o grupo, entre as mente de água doce de distribuição global. A mono-
quais: ausência de ossos epipleurais; um epural; vêr- filia dos Ostariophysi e de seus grupos internos é su
tebra preural 1 com
espinho neural completo; e su- portada por uma série de sinapomorfhas descritas em
praorbital ausente. Fink e Fink (1981, 1996), muitas delas relacionadas
Até recentemente, a modificações do ouvido interno, bexiga natatória
os Clupei e os Ostariophysi
eram grupos distintos em Actinopterygii, mas atual e das quatro ou cinco vértebras anteriores, que for
mente säo classificados como duas subcoortes de um mam uma cadeia de ossículos que conecta a bexiga
grupomonofilético, os Otomorpha (=Ostarioclupeo- natatória ao ouvido interno, o aparelho de Weber
morpha Otocephala) (Figura 4). Três sinapomortias
e
Outra sinapomorfia relevante no grupo é a presença
definem o grupo (Arratia, 1999): o extrascapular me de substância de alarme na epiderme, perdida secun-
dial fusionado aos parietais ou fusionado aos dariamente em Gymnotiformes, nos quais o estímulo
tais e supraocciptal; autopalatino ossificando-se cedo
parie
sensorial é principalmente elétrico. Os Gonorynchi-
na ontogenia; e bases dos hipurais 1 e 2 não unidas formes (milkfishes) incluem duas espécies marinhas e
por cartilagem em nenhum estágio do crescimento. 31 espécies africanas dulcícolas. Os Cypriniformes,
Clupei inclui os Clupeiformes (sardinhas e manjubas, com 3.695 espécies, são o grupo dominante em água
primariamente marinhos), e Ostariophysi inclui os doce no hemisfério Norte e com grande representati-
Gonorynchiformes e os Otophysa com quatro ordens: vidade na Africa.
Cypriniformes, Characiformes, Siluriformes e Gym-
notiformes.
Os Clupeiformes são primariamente marinhos,
Diversidade e classificação dos Otophysa
com muitas espécies estuarinas ou diádromas e algu-
mas espécies totalmente adaptadas à vida em água neotropicais
doce. As espécies inteiramente dulcíicolas variam em
tamanho desde poucos centímetros, como Platani-
chthys platana (Regan, 1917), comum em lagoas costei- Os Characiformes
ras e porção interior de rios do sul do Brasil, Uruguai
e Argentina, até 47 cm de comprimento medido até Os Characiformes são uma das principais or
dens de Ostariophysi, com pouco mais de 2.000 es-
Stewart (2013) propõe, preliminarmente, o reconhecimento de quatro
espécies do gênero Arapaima, e não apenas uma, como reconhecido atu- pécies. Ocorrem somente em água doce, na Africa
almente. e Américas do Sul, Central e do Norte, até o Texas.
Apesar de ocorrerem nos dois lados do Atlântico, sua
diversidade e riqueza é muito maior na região Neotro-
pical, onde ocorrem 234 gêneros, versus apenas 38 gê-
Gymnotiformes neros na Africa (Malabarba e Malabarba, 2010). Sua
(peixes-eltricos) distribuição atuale os registros fósseis documentam a
conexão histórica entre Africa e América do Sul.
Siluriformes
(bagres e cascudos) A ordem foi definida por Finke Fink (1981) com
base em sete sinapomorfias, destacando-se a
Characiformes presen
Otophysa ça de uma cápsula lagenar, a formação dos dentes
(lambaris, piavas) da premaxila e dentário em criptas, e a presença de
Cypriniformes dentes multicuspidados. As relações filogenéticas en-
Ostariophysi (carpas e afins) tre as tamílias, entretanto, ainda são complexas, não
existindo um consenso acerca das relações entre seus
Gonorynchiformes
Otomorpha ('milkfish) componentes. As relações entre os membros da famí-
lia Characidae, a mais rica da ordem, encontram-se
Clupeiformes ainda em grande parte indefinidas, a ponto de Reis
(sardinhas e manjubas) et al. (2003) listarem cerca de 2/3 das espécies como
táxons incertae sedis, ou seja, de relações indefinidas
ordens representadas na tamilia. As três filogenias mais recentes publica-
Figura 4. Filogenia dos Otomorpha. As quatro
neotropical. das sobre o
em caixas possuem representantes
na ictiotauna
grupo, uma morfológica (Mirande, 2010
Biologia e Fisiologia de Peixes Neotropicais de Agua Doce

salobra.
em aguas s e
representantes

que
incluem todos os continen
e duas moleculares (Javonillo et al., 2010; Oliveira mas
cm
praticamente
Ocorrem
et al., 2011), também chegam a resultados somente doces.
Austrália).
>ao diagnosticados por várias
parcialmente congruentes na detinição de relações tes (exceto
listadas em 'ink e Fink (1981, 1996
de parentesco, propondo duas detinições diferentes sinapomorfias destacar a ausencia de esca.

para a tamília Characidae e, consequentemente, pro- entre as quais pode-se nas


nadadeiras peitorais
de espinhos
presença
postas diterentes em relaç o ao número de famílias mas, a ao supraoccipital
de Characiformes. Hipóteses de consenso incluem o e dorsal, os parietais tusionadoS a o neurocrânio, os
umd
estrutura rigida
fornecendo
reconhecimento dos grandes caracídeos (Brycon, Sal- 4
tusionados e m um complexo
2 a
centros vertebrais
minus, Triportheus) e de Bryconops como táxons basais
na tamília, e o reconhecimento de um o terceiro e quarto
arcos
neurais
tusionados entre si e
s

grande grupo conmplexo.


Mesmo Sendo um
grupo reco-
monofilético interno definido pela ausência de su ao centrum i n t e n s a m e n t e estudado
monotiletico e
nhecidamente
praorbital (Malabarba e Weitzman, 2003) que reúne a serem respodidas sobre
a maioria das espécies de pequeno porte da familia ainda há várias perguntas tamilias.
entre as
relação
(Azevedo, 2010). Recentemente, Oliveira et al. (2011) classificação e
causam
terimentos dolorosos
propuseram, com base em uma filogenia molecular, Varias espécies
e m alguns casos podem
a restrição de Characidae a este através de seus espinhos que
grupo de espécies celulas do epitélio de
sem supraorbital e a criação de novas tamílias
para possuir v e n e n o produzido porc o n s t i t u e m importantes
agrupar os táxons mais basais (Bryconidae, Iguano- cobertura. Os Siluritormes
dectidae e Triportheidae), além da exclusão do aquarioilia, para alimen-
gênero itens comerciais seja, para
de vårias regiðes.
neotropical Chalceus da família Alestidae. tação ou ainda na pesca esportiva
familias desta ordem, 15 o c o r r e m exclu-
Na última proposição (Oliveira et al., 2011), são Das 38
América Central e do Sul, além da fa-
reconhecidas 19 famílias de Characiformes neotropi- sivamente na

cais: Acestrorhynchidae (26 espécies), Anostomidae mília Ariidae que é cosmopolita, somando 2.073 espé-
(143), Bryconidae (48), Chalceidae (5), Characidae cies neotropicais (Ferraris, 2007; atualizado com base
(1.031), Chilodontidae (8), Crenuchidae (82), Cteno em Eschmeyer, 2013): Ariidae (147 espécies, sendo 51
luciidae (7), Curimatidae (103), Cynodontidae (8), neotropicais), Aspredinidae (39 espécies), Astroblepi-
Erythrinidae (16), Gasteropelecidae (9), Hemiodonti- dae (56), Auchenipteridae (107), Callichthyidae (199),
dae (30), Iguanodectidae (30), Lebiasinidae (72), Pa- Cetopsidae (42), Diplomystidae (6), Doradidae (91),
rodontidae (32), Prochilodontidae (21), Serrasalmidae Heptapteridae (206), Lacantuniidae (1), Loricariidae
(86) e Triportheidae (34). (859), Nematogenyidae (1), Pimelodidae (109), Pseu-
Characiformes são peixes de fecundação exter- dopimelodidae (37), Scoloplacidae (6) e Trichomycte
na, mas em pelo menos dois grupos de caracídeos, ridae (263). Cerca de S0 % desta riqueza (1.636 espé-
na tribo Compsurini de Cheirodontinae e em parte cies) está incluida enm apenas cinco destas familias:
das espécies de Stevardiinae (sensu Mirande, 2010), Callichthyidae, Heptapteridae, Loricariidae, Pimelo-
além de alguns poucos táxons incertae sedis, ocorre didae e Trichomycteridae.
um método alternativo de reprodução denominado Os Loricariidae (cascudos) constituem a maior
de inseminação, em que os machos transferem os
es família de siluriformes Distribuídos neotropicais.
permatozóides para o ovário feminino através de um desde a Costa Rica até o norte da Argentina,
os lo-
ritual envolvendo um complexo comportamento de ricariideos são na sua vasta maioria
coorte. A fecundação, no entanto, não ocorre nos ová cisandinos, mas
várias espécies habitam o oeste dos
rios, sendo desconhecido o momento de fecundação
Andes na porção
norte do
dos ovócitos. Este método de reprodução traz aparen- continente
São essencialmente dulcicolas
com quase nenhuma tolerância à
temente algumas vantagens adaptativas,
como, por
salinidade, exceto
por poucas exceções, como Ancistruse
exemplo, separar os momentos de coorte e desova,
que por vezes são encontradas em Hypostomus
permitindo que a fêmea desove independente da pre- salobras. Com suas bocas águas levemente
sença do macho, sempre que as condições ambientais dores são sugadoras e dentes
raspa-
forem favoráveis. Caracídeos têm demonstrado uma principalmente iliófagos, mas restos vege
tais, pequenos invertebrados
grande variabilidade na forma e ultraestrutura dos e mesmo madeira (sem
que entanto se saiba como
no
espermatozóides, principalmente nas espécies inse- fazem parte da sua dieta seja digerida) tambem
minadoras, com espermatozoides modificados na sua (de Pinna, 1998). A grande
diversidade está associada a uma
forma e distribuição de organelas, cuja análise tem baixa fecundidade e
cuidado parental, uma
combinação
ciclídeos africanos. comparável aque
fornecido uma série de novas características em estu-
la dos flocks de
dos filogenéticos (Burns et al., 2009)
diversidade das mais de 850
Apesar da granae
loricariídeos é legitimada por muitas espécies, a monofilia dos
tre as quais: dentes evidencias, den
bíidos com assimetria
Os Siluriformes des; disco ventral no das cuspl
mesetmóide;
totalmente coberto por três ou mais corpo parcial ou

Os Siluriformes formam um grupo natural de fileiras de


dérmicas portando placas
odontodes;
peixes primariamente de àgua doce, exceto pelas fa-
com o
e
pterótico fusionado
mílias Ariidae e Plotosidae, prncipalmente, marinhas supracleitro e expandido posteriormente
efer, 1987; Armbruster, 2004). iScha
Filogenia e Classificação dos Peixes Neotropicais

A segunda tamília mais entre da típica cobertura dérmica, os Callichthyidae compar-


especiosa
riformes é Trichomycteridae (candirus). OcorremSilu
em
os
tilham várias sinapomorfias, entre as quais: redução da
todas as drenagens neotropicais da Costa Rica até a linha lateral, auséncia do oSso lacrimal-antorbital, au-
regiao patagönica, inclusive a oeste dos Andes, exceto sência de dentes pré-maxilares nos adultos e séérie infra-
pela bacia do Rio Parnaíba onde estão aparentemente orbital reduzida a dois elementos. Sua monofilia, bem
ausentes. Os Trichomycteridae estão unidos por varias como sua posição como grupo irmão de Astroblepidae,
Sinapomorhas das quais a mais conspícua, com certe- Loricariidae e Scoloplacidae, tem sido corroborada em
Za, e a representada pela estrutura do diferentes trabalhos, porém as relações dentro da fa-
aparato opercu mília são mais problemáticas. Enquanto a subfamília
lar. O interopercular é modificado em uma estrutura
compacta com uma base de suporte para odontodes. Callichthyinae (Callichthys, Dianema, Hoplosternum,
O opercular também é altamente modificado em uma Lepthoplosternum e Megalechis) está razoavelmente re-
estrutura de suporte para odontodes, mas esta carac- solvida; Corydoradinae (Aspidoras, Brochis e Corydoras)
terística é ausente nos
copionodontíneos, alguns gla- é mais complicada, especialmente e m se considerando
% das espécies da familía
napterigineos (Pygidianops, Typhlobelus e Glanapteryx) que Corydoras que inclui 80
e estegohlineos (Megalocentor e Apomatoceros). As é considerado um gênero n o-monofilético (Reis, 1998,
mais de 250 espécies est o divididas em nove subfa-
2003)
mílias: Copionodontinae, Glanapteryginae, Sarcogla Apesar dos Pimelodidae (bagres, jaús, mandis,
família modera-
nidinae, Stegophilinae, Tridentinae, Trichogeninae, pintados, sorubins) formarem u m a
Trichomycterinae, Vandelliinae e Pareiodontinae, esta damente diversificada com pouco mais de u m a cen-
não há característica externa
última incluída pela maioria dos autores em Stegophi tena de espécies, u m a

linae (de Pinna e Wosiacki, 2003). Se por um lado a única que os identifique. Entretanto, eles podem ser
maioria dos representantes, pertencentes à subfamí- reconhecidos por uma combinaç o de caracteres que
lia Trichomycterinae, são predadores generalizados de inclui: pele nua, teto craniano nunca coberto por
musculatura e recoberto por uma pele fina, três pa-
pequenos invertebrados, os tricomicterídeos incluem
as mais notáveis especializações alimentares. Os Van- res de barbilhões (maxilar, mental externo e interno),

delliinae, por exemplo, se alimentam exclusivamente narinas bem separadas e sem barbilhões, nadadeira
de sangue das brânquias de outros peixes, represen- adiposa bem desenvolvida e espinhos das nadadeiras
tando os únicos gnatostomados hematófagos além dos dorsal e peitoral pungentes ou ao menos resistentes

morcegos (de Pinna, 1998). Os Stegophilinae, por sua (Lundberge Littmann, 2003). Em sua maioria, os pi-
vez, se alimentam de escamas, muco ou pedaços de melodideos são carnívoros ou omnívoros, mais ativos
carne superficiais. Entretanto, os mais famosos esto à noite ou no crepúsculo quando então seus barbi-
ilíneos e vandelineos são os candirus, conhecidos na lhões sensitivos têm um importante papel na busca
amazônica por penetrarem acidentalmente na por comida. Os pimelodideos habitam uma ampla
região
uretra humana e de outros mamiferos. gama de habitats nos neotrópicos, atingindo a máxi-
Os Heptapteridae incluem siluriformes de ta- ma diversidade na região Amazônica, onde são com
manho pequeno a médio, extremamente comuns nas ponentes abundantes da ictiofauna. O dimorfismo
sexual é praticamente inexistente, a fertilização é ex-
drenagens sul-americanas. Antes considerada um sub-
-grupode Pimelodidae, u m a boa parte dos gêneros da terna e não é conhecido cuidado parental. O tamanho
família Heptapteridae, até recentemente, estava alo- é moderado, em geral de 20 a 80 cm, mas há exemplos
cada e m outras famílias, c o m o por exemplo Rhamdia extremos como o jaú (Zungaro zungaro) que pode atin-
em Pimelodidae, e Nannoglanis em Trichomycteridae gir 140 cme a piraíba (Brachyplatystoma filamentosum)
e Guazelli, 2003). Em vista disto,
mesmo que pode ultrapassar 3 m de comprimento (Lundberg
Bockmann
representando importantes faunísticos,
elementos a e Littmann, 2003).
sistemática e biologia dos heptapterídeos ainda é pou-
co conhecida.
Outra família diversificada é Callichthyidae Os Gymnotiformes
membros são facilmen-
tamboatá, limpa-fundo) cujos
te reconhecíveis por possuirem o corpo recoberto por Gymnotiformes são peixes elétricos neotropicais
dérmicas. S orelativamente facilmente reconhecidos pelo corpo de formato angui-
duas fileiras de placas
maioria alimentadores liforme, com perda das nadadeiras dorsal, adiposa, pél-
pequenos, dulcícolas e
n a s u a

variedade de ha- vicas e caudal (somente Apteronotidae mantém uma


de fundo, ocorrendo e m u m a grande
da América do Sul e no nadadeira caudal). Apesar do formato anguiliforme,
bitas n a s maiores drenagens
Panamá. Além disto, todos os calictiídeos são respira- seu deslocamento se dá principalmente pela ondulação
n a supertície da água, da nadadeira anal que se estende ao longo de quase
dores aéreos: o a r é engolido
onde são feitas as trocas gasosas todo o comprimento do corpo. Esta disposição da na-
intestino
passa para o dadeira anal e de seu esqueleto de sustentação resulta
ânus. Esta combinação de cobertura
e é expelido pelo
aérea con- no deslocamento do ánus para uma posição anterior,
do corpo contra dessecação e a respiração
toleráncia a águas es- situando-se sob a cabeça em algumas espécies.
fere aos calictiídeos u m a grande
Todas as espécies da ordem produzem um cam-
tagnadas e lodosas e os torna aptos ao "descolamento"
(de Pinna, 1998). Além po elétrico ininterruptamente a partir de musculatura
por terra, entre corpos d'água
de Peixes Neotropicais de Agua Doce
3 Biologia e Fisiologia

Está dividida nas subcortes Lepido.


e Patterson,
1996).
eletrogènica. Esta elétrica contínua tem fun-
descarga Protacanthopterygii,
Stomiati
e Neoteleostei
galaxii, inclui uma única e s .
ção sensorial comunicação entre indivíduos, com
e de Lepidogalaxii
A subcorte
trequencias e comprimentos de onda específicos ou
salamandroides, que sobrevive a
mesmo distintos entre diferentes famílias. pécie, Lepidogalaxias e n t e r r a n d o n a lama. A subcorte
Somente períodos de s e c a
se
uma espécie, Electrophorus electricus (Linnaeus 1766), é representada pela
família Ga.
Protacanthopterygii
o poraquè da Amazônia, é capaz de produzir
descar laxiidae e m águas
trias temperadas na regio austral
gas elétricas de até 600 V para atordoar as presas ou sete espécies
c o m três gêneros
e
para defesa. da América do Sul,
diádromas Malabarba e Malabarba
Albert (2001) lista diversas sinapomorfias da or- de água doce o u
Galaxias maculatus, tem uma
dem, entre as quais pode-se destacar a presença de 2007). Uma das espécies,
u m a espécie de água
órgãos elétricos hipoaxiais, modificações associadas distribuição impressionante para
Austrália (incluindo a Tasmá
à eletrorecepção ativa em altas frequências, ausência doce, ocorrendo desde a
Chile e Ilhas Mal.
de papilas gustativas no integunmento extra-oral, olhos nia) e Nova Zelândia, até Argentina,
subcutâneos, ausência de substâncias de alarme na vinas. Tal distribuição só é possível pela dispersão du-
epiderme, e a impressionante capacidade de regene rante o estágio larval marinho, que dura at seis meses.
rar estruturas axiais do corpo posteriores à cavidade A subcorte Stomiatii inclui duas ordens: os Sto-
celomática. Esta útima característica permite aos miatiformes, conhecidos como "peixes dragão que
peixes elétricos regenerarem quaisquer porções pos habitam águas profundas tropicais a temperadas, e
teriores do corpo eventualmente
predadas por outros os Osmeriformes, peixes eperlanos que desovam em
organismos, desde que não atinjam a região abdomi- água doce. A subcorte Neoteleostei inclui duas infra-
nal e órgãos internos.
em cinco famílias, com
Gynmnotiformes são divididos cortes, Stomiatia e EurypterYgia, duas seções, Ateleo-
relações satisfatoriamente bem podia e Ctenosquamata, duas subseções, Myctophata
resolvidas:Sternopygidae (35 espécies), Apteronoti-
dae 88),
e
Acanthomorphata e quatro divisões (Figura 5; Tabe-
Rhamphichthyidae (15), Hypopomidae (25) e la 1). Diferentemente dos
Protacanthopterygii, além
Gymnotidae (39). das cinco sinapomorias
que definem o grupo (Wiley
e Johnson, 2010), a maioria
dos Neoteleostei também
apresenta o pré-maxilar com um processo ascendente
Diversidade e classificação dos e articular
(Nelson, 2006).
Euteleosteomorpha neotropicais A Subdivisão
Percomophaceae da Divisão Eua
A Corte
Euteleosteomorpha inclui todos os de- canthomorphacea
cado dos
é o clado mais
derivado e diversih-
mais teleósteos, formando o
grupo irmão dos Otomor- ânicas e grande Euteleosteomorpha,
dominando as
águas oce
pha. Três sinapomorfias diagnosticam
os Euteleosteo- das parte águas continentais tropicais
morpha: presença de dois supraneurais, presença de
e
subtropicais. Várias famílias da
Subdivisão Perco-
estegural e de cartilagens caudais medianas morphaceae possem representantes em
(Johnson neotropicais, incluindo Achiridae águas doces
(20), Batrachoididae

Blenniimorphae Blennuformes
Ovalentariae, Mugilomorphae Mugilitormes
Atherinomorphae Atheriniformes, Seloniformes, Cyprinodontiformes
Carangimorpharia Cichlomorphae Cichliformes. Phoidichthyiformes
Carangimorphariae Carangitormes, Isdognontormes, Pleuronectiformes
Anabantomorphariae Synbranchitormmes, An8oandtormes
Percomorphaceae thuriformes. Centrarchiformes, Cirrhititorme5.
Percomorpharia Ephippfomes, Labntormes, Lophurormes,
Pemphentormes,Percitormes, Sparnformes,
Tetraodotiformes. Uranoscopromes
Scombrimorpharia omontomes. Synsnathitormes
Gobiomorpharia Gobuiformes, Kurtformes
Batrachoidimorpharia satrachoidi formes
Euacanthomorphace Ophidiimorpharia Ophidiformes
Holocentrimorphaceae olacentniformes
Acanthormorphata Berycimorphaceae Seryoformes
Ctenosquamata Paracanthomorphacea Gadiformes Percogstormes
tyephortermes. etormeS
Eurypterysia Polymixiacea
Poymuitornties
Lampridacea
Neoteleoste amprdformes
Myctophata
Myctophatormmes
Aulopa
Auinpfarmes
Ateleopodia
Euteleosteomorpha- Stomiatii Atelecpdifors
entemes `to3tstmmes
Protacanthopterygii Figura 5.
As ordens Filogenia dos
Agenaturmes Esoiidres
Lepidogalaxi Galaiitor vnes Saleeronitomes
oatrmes
marcadas Euteleosteomorp
em
negrito
representantes na possu
ictiofauna neotropica
Filogenia e Classificação dos Peixes Neotropicais 9

Tabela 1. Classificacão dos Actinopterygii baseada em Betancur et al. (2013).


Superclasse Actinopterygi
Classe Cladistia (Ordem Polypteriformes)
Classe Actinopteri
Subclasse Chondrostei (Ordem Acipenseriformes)
Subclasse Neopterygii
ntraclasse Holostei (Ordens Amiformes e Lepisosteitormes)
Infraclasse Teleostei
Corte Elopomorpha (Ordens Elopiformes, Albuliformes, Notacanthiformes e Anguilliormes)
Corte Osteoglossomorpha (Ordens Hiodontiformes e Osteoglossiformes)
Corte Otomorpha (= Otocephala, Ostarioclupeomorpha)
Subcorte Clupei (Ordem Clupeiformes)
Subcorte 0stariophysi
Seção Anotophysa (Ordem Gonorynchiformes)
Seção Otophysa
Superordem Cyprinae (Ordem Cypriniformes)
Superordem Characiphysae (Ordens Characiformes, Siluriformes e Gymnotformes)
Corte Euteleosteomorpha
Subcorte Lepidogalaxi (Ordem Lepidogalaxiformes)
Subcorte Protacanthopterygi (ordens Galaxiftormes, Argentiniformes, Salmoniformes e Esociormes)
Subcorte Stomiati (Ordens Stomiatiformes e Osmeriformes)
Subcorte Neoteleostei
Infracorte Ateleopodia (Ordem Ateleopodiformes)
Infracorte Eurypterygia
Secão Aulopa (Ordem Aulopiformes)
Seção Ctenosquamata
Subseção Myctophata (Ordem Myctophiformes)
Subseção Acanthomorphata
Divisão Lampridacea (Ordem Lampridiformes)
Divisão Paracanthomorphacea
Serie Percopsaria (Ordem Percopsiformes)
Serie Zeiogadaria (Ordens Zeiformes, Stylephoriformes e Gadiformes)
Divisão Polyrmixiacea (Ordem Polymixiformes)
Divisão Euacanthomorphacea
Subdivisão Berycimorphaceae (Ordem Beryciformes)
Subdivisão Holocentrimorphaceae (Ordem Holocentriformes)
Subdivisão Percomorphaceae
Série Ophidimorpharia (Ordem Ophidiformes)
Série Batrachoidimorpharia (Ordem Batrachoidiformes)
Série Gobiomorpharia (Ordens Kurtiformes e Gobiformes)
Série Scombrimorpharia (Ordens Syngnathiformes e Scombriformes)
Série Percomorpharia (0rdens Uranoscopiformes, Labriformes, Ephippiformes, Spariformes, Lophiformes, Tetraodontiformes,
Acanthuriformes, Pempheritormes, Cirrnitiformes, Centrarchiformes e Perciformes)

Serie Carangimorpharia
Subséries Anabantomorphariae (Ordens synbranchiformes e Anabantiformes)
Subséries Carangimorphariae (Ordens Istiophoriformes, Carangiformes e Pleuronectiformes)
Subséries Ovalentariae

Superordem Cichlomorphae (Ordens Cichliformes e Pholdichthyitormes)

Superordem Atherinomorphae (Ordens Atherinitormes, Beloniformes e Cyprinodontiformes)


Superordem Mugilomorphae (Ordem Mugiliformes)

Superordem Blennimorphae (Ordem Blenniformes)


10 Biologia e Fisiologia de Peixes Neotropicais de Agua Doce

tiformes com corpo lateralmente comprimido e sem


(5 espécies), Bythitidae (7), Gobidae (40), Gobiesocidae
8), Mugilidae (2), adiposa que apresentam grande variac
Percichthyidae (5), Perciliidae nadadeira
Polycentridae (2), Sciaenidae (22), Synbranchidae (2),(5) no tamanho e
na forma do corpo.
Estão amplamen
te distribuídos nas Americas e se caracterizam por
e
Tetraodontidae (2). Os grupos de
com maior número de Percomorphaceae raios da anal modificados em
espécies de peixes de
água doce apresentar os gono
compreendem Superordens Atherinomorphae
as
Ci- e pódio, fertilização
internae viviparidade (Lucinda
chlomorphae, destacando-se as ordens 2003). Os Rivulidae podem medir ate 20 cm, mas a
formes Cichliformes, tratadas
e Cyprinodonti- maioria não chega a 8 cm e algumas espécies não
a
seguir.
atingem mesmo 3 cm. Possuem fertilização externa
e são ovíparos, porém duas especies possuem ová-
Os Cyprinodontiformes
rio e testículos funcionais, sendo hermafroditas au
to-inseminadoras. Muitas espécies são anuais, isto
A
monofilia dos
da em uma série de Atherinomorphae está basea- é, durante os períodos de seca, os adultos morrem
caracteres osteológicos, e os ovos permanecem em diapausa no
dutivos e musculares, entre repro-
outros. Estudos recentes substrato,
têm demonstrado só eclodindo na próxima estação chuvosa (Costa,
que todos os aterinomorfos, or-
dens Atheriniformes, 2003).
Beloniformes e
e
tiformes,
de
compartilham um tipo único Cyprinodon-
ovário de testículo
que, por sua vez, esto
com uma
gama de modificações
correlacionados Os Cichliformes
tre as
quais: reprodutivas, en
espermatogênese, fertilização interna,
hermafroditismo A ordem Cichliformes
viviparidade
e
possui uma única fami
principalmente alimentadores de(Parenti, 2005). cer-
São lia confnada à água doce: Cichlidae.
Os cichlidae
ca de 75 %
das 1.552 superfície e
caras e acarás) formam a família mais rica de
águas doces ou salobras.espécies estão confinadas às xes de pei-
água doce não-ostariofíseos, incluindo 1.300
A ordem espécies, já conhecidas e estimativas que
rigudinhos Cyprinodontiformes (killifishes, bar- 1.900 (Kullander, chegam a
dentre
e
peixes-anuais)
é mais diversificada a
doce, com
2003). So essencialmente de
água
distribuídasAtherinomorphae,
os
umas
poucas espécies ocasionalmente
1.013 espécies com
trando en
ralmente habitamregiões
nas
temperadas águas salobras (Kullander,
em

ambientes de águastropicais.
e
Ge-
distribuídos América
na 1998) e estão
ou costeiros doces rasas
salobros, especialmente na América Africa, Madagascar, sul daCentral e do
Sul,
India e Sri Lanka.Antilhas,
Central, perfazendo
cerca 12 % da espécies da região As 494
otropical.
O pequeno ictiofauna ne-
tamanho de no máximo al- norte até a bacia doNeotropical estão distribuídas ao
Rio Grande e ao
guns centímetros, cia do Rio Sul até a ba-
vida singular, polimorfismo cromático, ciclo de Negro
Cuba e Hispaniola. Patagônia, incluindo as ilhas de
na

fismo comportamento complexo dimor-


sexual, associado e
A
em
uma fácil a
manutenção ampla diversidade dos
confinamento, tornou os plicada pelo avançado ciclídeos tem sido ex-
ciprinodontiformes
importantes modelos experimentais tilidade do cuidado com a
prole e a versa-
diferenciaçãocomplexo
tante também e
populares em
aquariofilia (Costa, 1998). Os
bas-
do faringeal e mandibular. Além da
ciprinodontiformes estão dito, aparelho
dentes variam orofaringeal
sinapomorfias, diagnosticados por cinco
dentre do
os
em forma tamanhopropriamente
quais nadadeira caudal
as as
diferentes e
refletin-
sem lobos,
ripural; primeira
um
epural simetricamente
costela fixada a oposto ao pa
dos ciclídeos especializações de
neotropicais dieta. A maioria
tipo de apresenta também
invés segunda vertebra rir em dimorfismo entre os
padrão de colorido, sexos, que podemalgum
ao da terceira. A
ordem
divididas em duas subordens: inclui oito famílias dife
duas famílias e Aplocheiloidei,
com desenvolvimento de tamanho do e no corpo
Cyprinodontoidei, alongamento de estruturas
tas e
lias. Destas, quatro com seis como
ocorrem famí- esta raios nas corcovas, cris
na
região grande nadadeiras. Devido
Cyprinodontidae
cais),
(121 espécies, sendo Neotropical:
59
to de diversificação,
massivos os
ciclídeos
a

espécies), Poeciliidaeneotropi
Anablepidae |17 estudos têm sido
biogeográhcos ecológicos, obje
pécies, sendo 259
pécies). Os neotropicais) e (343 es-
Rivulidae (348 es- eg. Stiassny,
1991; Farias
e
filogenéticos. comportamentais,
Análises
possuem
Cyprinodontidae,
fertilização
com no
máximo 8 cm,
e
Smith, 2004) têm
et al. filogenéticas
1999, 2000;
em ambientes de água
externa e estão
distribuídos nofilética com reconhecido
base em a
família comoSparks
costeiros nas Américas
doce, salobros
marinhose moleculares. Dentre as evidências m0
mediterrânea. Exceto por
Norte da
Africa, e região
a
monofhlia da morfológicas
sinapomorfias
familia esto
elou
que suportan
uma
espécie, os Anable- tenso capuz
pidae
por
(quatro-olhos) posuem goopódio formado
raios da anal, associado branquial 2; cartilaginoso (Kullander, 2003): um ex
na
margem anterior
expansão da do
ducto epi
micro-branquioespinhos cabeça
a
Poeciliidae (barrigudinhos, guarus) espermal. Os do
são
ciprinodon- logia da
sagita; hipapofises
ou quarta vértebra.
epibranquial
nos arcos
branquiais;
pares curtas morio
na
terceira c

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