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VARIAÇÕES NA ANATOMIA FOLIAR DE INDIVÍDUOS DE RHIZOPHORA


MANGLE L. ESTABELECIDOS EM REGIÕES DISTINTAS DO MANGUEZAL

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Milena Dutra da Silva Eneida Rejane Rabelo-Silva


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Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel


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VARIAÇÕES NA ANATOMIA FOLIAR DE
INDIVÍDUOS DE RHIZOPHORA MANGLE L.
ESTABELECIDOS EM REGIÕES DISTINTAS DO
MANGUEZAL
Ivanilson Lucena1, Milena Dutra2, Maria das Graças Santos das Chagas2 e Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel3

Introdução Foram coletadas folhas maduras de R. mangle em


indivíduos ocorrendo naturalmente no estuário de
O manguezal é um ecossistema tipicamente tropical
Maracaípe, Ipojuca, Pernambuco, a cerca de 60km de
e subtropical, localizado em regiões costeiras sob a
Recife. Foram consideradas folhas maduras aquelas
influencia das variações da maré. No Brasil, ocorre
localizadas a partir do quinto nó, a partir do ápice dos
praticamente em toda a costa, indo desde o estado do
ramos e lâmina completamente expandida, quando
Amapá até Santa Catarina. Essas regiões apresentam
comparada às demais na planta.
grande interesse econômico por servirem como
Foram estabelecidas duas parcelas na margem do
berçário para algumas espécies de peixes e crustáceos
manguezal, a primeira mais próxima da foz (região com
comercializados como alimento [1].
alta concentração de sal) e a segunda na região mediana
A sua paisagem apresenta uma baixa diversidade de
do manguezal (região com baixa concentração de sal),
espécies vegetais, condicionada pela necessidade de
distando 1km entre elas. As amostras foram fixadas em
uma adaptação das espécies às condições ambientais
FAA 50, posteriormente, seccionadas transversalmente,
existentes, como alta salinidade, solo com baixa
à mão livre, na porção mediana da nervura foliar e os
concentração de oxigênio e periodicamente inundado
cortes foram corados com safranina e azul de astra e
[1]. As espécies tipicamente encontradas nos mangues
montados em glicerina aquosa 50%.
brasileiros são Avicennia schaueriana Stapf &
Para análise epidérmica, em vista frontal, fragmentos
Leechman, popularmente conhecida como mangue
da porção mediana da folha foram clarificados em
preto, Rhizophora mangle L., como mangue vermelho
NaOCl 30%, as superfícies adaxial e abaxial da
e Laguncularia racemosa (L.) Gaerten, como mangue
epiderme, depois de dissociadas, foram coradas com
branco [2].
safranina e azul de metileno e montadas em glicerina
Rhizophora mangle é encontrada em maior número
aquosa 50%.
nas regiões mais próximas à foz de rios, sob um maior
Imagens digitais dos cortes transversais e
grau de inundação pela maré; esta região apresenta um
paradérmicos foram obtidas em microscopia óptica
solo com maior sedimentação de lama e concentração
acoplada com câmera CCD. As melhores imagens
de sal [3]. Por estar inserida em um ambiente com essas
foram utilizadas para análise da estruturação anatômica
características, esta planta apresenta peculiaridades que
e comparações entre os indivíduos.
permitem a sua sobrevivência e desenvolvimento, como
raízes laterais, dispersão por propágulos e glândulas de
secreção em suas folhas, as quais permitem a liberação Resultados
do excesso de sal absorvido pelas raízes [4]. Todos os indivíduos de R. mangle apresentaram
Apesar da maior freqüência desta espécie nas folhas hipoestomáticas, com estômatos anomocíticos
porções mais próximas da foz, ela também está (Fig. 1A,B) localizados em depressões na epiderme e
presente, em menor número, nas regiões intermediárias estruturas de secreção restritas à superfície abaxial. Os
dos cursos de rios. Este estudo objetiva identificar a estômatos e as estruturas de secreção presentes nos
existência de diferenças morfoanatômicas em folhas de indivíduos estabelecidos na região mediana do mangue
indivíduos de R. mangle estabelecidos em regiões do são, aparentemente, maiores do que aqueles presentes
mangue com diferentes níveis de salinidade. nos indivíduos estabelecidos na foz. A superfície
adaxial não apresentou variações em todos os
Material e Métodos indivíduos analisados (Fig. 1C, D).

________________
1. Aluno de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos,
Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: ivanilsonlucena@hotmail.com
2. Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Arthur de Sá, S/N, Cidade
Universitária, 50740-530, Recife, PE, Brasil. E-mail: dutra_ms@yahoo.com.br; mgschagas@hotmail.com.
3. Professor Adjunto do Departamento de Biologia/Botânica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: pimentel@db.ufrpe.br
Apoio financeiro: CNPq e FACEPE.
Em vista transversal, todos os indivíduos sal no xilema, acumulando esse de sal nas glândulas de
apresentaram epiderme unisseriada em ambas as secreção das folhas [6]. Tais estruturas de secreção
superfícies, seguida, na superfície adaxial, de evitam um nível nocivo de acúmulo de íons minerais
hipoderme (Fig. 1E, F). Os indivíduos estabelecidos nos tecidos de algumas espécies de halófitas que se
mais próximos à foz do manguezal apresentaram, desenvolvem em manguezais, como a R. mangle,
aproximadamente, quatro camadas de células na secretando o excesso de sal na forma de soluções
hipoderme (Fig. 1G), enquanto que aqueles salinas [7].
estabelecidos na região central do manguezal A excreção do sal, efetuada pelas glândulas de
apresentaram cinco camadas de células ligeiramente secreção, não permite somente o desenvolvimento em
maiores que as primeiras (Fig. 1H). Uma cutícula ambientes salinos, pois fornecem também proteção
espessada foi observada em ambas as superfícies contra herbivoria a essa espécie [8].
epidérmicas em todos os indivíduos (Fig. 1G, H). As variações nas características ambientais
Todos os indivíduos apresentaram, na hipoderme, observadas indicam que as regiões do manguezal mais
idioblastos contendo drusas, aparentemente mais distantes da foz do rio apresentam-se mais adequadas
abundantes nos indivíduos estabelecidos na porção ao estabelecimento do vegetal, podendo o mesmo,
mediana do manguezal (Fig. 1G, H). apresentar folhas mais espessas e com nervura principal
Todos os indivíduos apresentaram mesofilo mais desenvolvida. Entretanto, na foz do manguezal os
dorsiventral, com uma camada de parênquima bosques de R. mangle são maiores e mais bem
paliçádico e sete camadas de parênquima esponjoso estruturados [9], indicando que esta espécie apresenta
nos indivíduos estabelecidos mais próximos à foz e uma preferência pelos ambientes com maior
uma camada de parênquima paliçádico e 10 camadas disponibilidade de sal e que, apesar de encontrarmos
de parênquima esponjoso nos indivíduos estabelecidos indivíduos de R. mangle em regiões mais distantes da
na região mediana do manguezal (Fig. 1E, F). foz, estes não apresentam todas as suas características
Os indivíduos estabelecidos próximos à foz do anatômicas e estruturais que possibilitam sua melhor
manguezal apresentaram nervura central foliar com resposta ao ambiente salino.
dimensões menores, quando comparadas às folhas de
indivíduos estabelecidos na região mediana do Agradecimentos
manguezal (Fig. 1I, J). Nos indivíduos estabelecidos
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de
próximos à foz, a nervura central está constituída de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
oito feixes vasculares, onde sete deles apresentam
pelo financiamento ao projeto e à Fundação de Amparo
xilema interno ao floema, dispostos em círculo e um
à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
feixe, apresentando xilema acima do floema, localizado
(FACEPE) pela concessão de bolsa de doutorado.
internamente aos demais (Fig. 1I). Essa mesma
distribuição dos feixes vasculares presentes na nervura
mediana da folha dos indivíduos localizados na região Referências
próxima à foz é observada nos indivíduos da região [1] SOARES, M.L.G. 1997. Estudo da biomassa aérea de
manguezais do sudeste do Brasil – análise de modelos. Tese
mediana do manguezal. Entretanto, nesses indivíduos,
de Doutorado, Curso de Pós-Graduação em Oceanografia,
as folhas mostram a nervura central com um maior USP, São Paulo.
número de feixes vasculares, sendo dez deles [2] LACERDA, L.D. 2003. Os manguezais do Brasil. In:
distribuídos em círculos e dois localizados VANNUCCI, M. Os manguezais e nós. São Paulo: Editora da
internamente aos demais (Fig. 1J). USP.
[3] DINIZ, C.G. 2009. Avaliação dos índices de reflectância dos
manguezais de Bragança-Pará através de sensoriamento
Discussão remoto e técnicas espectrofotométricas. Monografia, Curso de
Bacharelado em Oceanografia, UFPA, Belém.
As folhas de indivíduos de R. mangle estabelecidos [4] TOMLINSON, P.B. 1986. The botany of mangroves.
em regiões próximas à foz e nascente do Rio Cambridge University Press, Cambridge.
Maracaípe, em um manguezal, mostraram fraca [5] FAHN, A. 1978. Anatomia Vegetal. Madrid: H Blume, 643p.
influência da salinidade e freqüentes inundações sobre [6] BALL, M.C. 1988. Salinity tolerance in the mangroves
Aegiceras corniculatum and Avicennia marina. I -Water use in
os aspectos qualitativos dos caracteres relation to growth, carbon partitioning and salt balance.
morfoanatômicos foliares. Entretanto, variações Australian Journal of Plant Physiology 15(3):447–464.
quantitativas foram encontradas nos indivíduos das [7] CASTRO, M.M.; MACHADO, S.R. Células e Tecidos
duas regiões analisadas, comprovando a influência da Secretores. In: APEZZATO-da-GLÓRIA, B., CARMELLO-
GUERREIRO, S. M. Anatomia Vegetal. Viçosa: Ed. UFV,
salinidade sobre as variações na estruturação anatômica p.184, 2003.
foliar. [8] MAUSETH, J.D. 2003. Soils and mineral nutrition.
Folhas espessas, como apresentadas pelos indivíduos In:_Botany: an introduction to plantbiology. 3th ed. Boston:
de R. mangle apresentam maior capacidade de Jones and Bartlett, p. 373-398.
[9] CEPEMAR. 1996. Monitoramento do manguezal de Mucuri-
acumular o sal carreado das raízes até as folhas, BA. (Relatório técnico final), RTF 067/96, 2v.
entretanto, esse acúmulo não pode chegar a níveis
nocivos a planta [5]
Espécies de mangue que apresentam folhas com
glândulas secretoras, como observado em R. mangle,
apresentam uma maior capacidade de transportar mais
Figura 1. Rhizophora mangle L. A-C-E-G-I. Indivíduos estabelecidos na foz do manguezal. B-D-F-H-J. Indivíduos estabelecidos na região mediana
do manguezal. A-D Vista paradérmica da epiderme foliar. E-J. Vista transversal da região mediana da folha. A-B. Face epidérmica abaxial com
estruturas de secreção. C-D. Face epidérmica adaxial. E-F. Mesofilo dorsiventral. G. Borda foliar evidenciando hipoderme e cutícula espessa. H.
Detalhe da hipoderme com idioblastos contendo drusas. I. Nervura principal com oito feixes vasculares. J. Nervura principal com 10 feixes
vasculares. Fig. 1A, 100 m; Fig. 1B, 100 µm; Fig. 1C, 50 µm; Fig. 1D, 50 µm. Fig. 1E. 200 µm. 1F. 200 µm. Fig. 1G. 100 µm. 1H. 100 µm. Fig.
1I. 200 µm. 1J. 200 µm.

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