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n. nlDS =dos no dossiê Pays émergents: vers un nouvel équilibre mondia/?, apresentado na
5t
n:mtaJ>rob/imts iconomiques, de abril de 2010, n. 29.993. Para urna visão crítica, ver Ri
(2007, J1. 441i
11 llcbatZodlickcra o diretor do Grupo Banco Mundial. Discurso proferido em Washington,
em 14 de abril de 2010.
M. Sqw,do dados da FAO de 2010. Essas pessoas representavam 16% da população n~s
t
púsacmdtsenvolvimento e 30% nos países da África Subsaariana, mas também e, aff
-.iando nos palses desenvolvidos. Para os dados completos, ver o site da FAO: http:
--.&o.oq/bome/en/
. 64 milhões de pessoas adicionais caíram na pobreza em
últimos anos, b [" O í .
devido à crise no sistema econômico e financeiro glo a · ato e
2010
• financeira de 2008 abalou ainda mais as esperanças de uma
que a cnse . .
. ão inclusiva, porque mostrou o quão frágil e todo o sistema e
glo ba[1zaç 'd " · · ]
• • 1que em intervalos repetidos, leve a trage ias soc1a1s em arga
e provave , s [
esca 1a, ge ran
do desemprego '
precariedade, fome e pobreza, tanto no u
quanto no Norte. . •
Diante de uma evolução tão perturbadora, que e tao paradoxal quanto
problemática, ficamos perguntando qual foi qual é o pa~el do direito
• t rnacional do desenvolvimento nessa realidade. O direito do desen-
me . 1 1 •
volvimento ainda pode ser considerado como uma poss1ve so uçao para
os países pobres e as desigualdades no mundo? Ou ele ape~as cont~ibu!u
para gerar o que Sophie Bessis (2003, p. 121) ch~mou de grande 1lusa~
pós-colonial"? Ou ainda: ele não seria apenas mais uma ferramenta JUn-
dica que foi superestimada por todos, enquanto, de acordo com o credo
ultraliberal, apenas as regras do direito internacional econômico são rele-
vantes nesta temática?
De fato, a existência de um direito internacional especificamente
dedicado ao desenvolvimento parece agora completamente esquecido
pelas novas gerações de juristas e não é mais ensinado nas universidades,
o que contrasta notavelmente com os debates apaixonados e as múltiplas
pesquisas às quais ele esteve sujeito anteriormente. Por volta da década de
1970, o direito do desenvolvimento passou a representar uma disciplina
relativamente autônoma nas faculdades de direito, mas agora se reinte-
grou em diferentes ramos jurídicos nos quais ele não goza de nenhum
status particular, sendo apenas objeto de uma reflexão marginal e frag-
mentada. Tal evolução está ligada às revisões ideológicas que ocorreram
após o colapso do marxismo, bem como à nova globalização que se impôs
depois de 1989. Essas novas circunstâncias levaram a grandes reestrutu-
rações que devem ser medidas para questionar novamente a própria ideia
de um direito específico de desenvolvimento, a exigência de equidade con•
tida nele e as condições para a possibilidade de tal direito à luz do novo
contexto globali zado pós-Guerra Fria.
~s. Ou seja, vivendo com menos de USS 1,25 por dia. Ver os dados do Banco Mundial citados
1n Le Monde , 16/ 9/2010.
a) A era do desenvolvimento
L
24 \ Emmanuelle Tourme Jouannet
• jQ&«IWd rsz--
Com unia forte tradição anticolonial por causa de sua própria luta
pela independência, em 1949 os Estados Unidos tinham todo o interesse
no desmantelamento dos grandes impérios coloniais da Europa, porque
16. o· d
1scurso o Estado da União, 20 de janeiro de 1949, Declaração do Presidente Truman
Item IV. Em junho de 1950, o discurso de Truman levou à assinatura doAct for lnternational
Development (AID).
17
' A maneira pela qual o passado colonial co~tinua a assombrar o novo paradigm; do desen-
volvimento também é evidenciada pelo fato de os estudos de desenvolvimento estarem de
acordo com aqueles que, pouco antes, eram dedicados ao direito colonial. Na França, por
exemplo, o Précis Dal/oz de droit colonial foi substituído pelo Précis du droit d'outre-mer et de
la coopération, e depois pelo Précis du droit international du développement. Ver Daudet (2013).
d õe certos Pº . inter s-
suP . começou a ser estabelecido na mesma ép nacion 1
econôm1co que . d oca atr , a
etário Internac10nal (FMI) e o Banco Intern . aves do
fun do Mon- e Desenvolvimento (B'ird), mst1tm . . 'dos pelos Acordacional Para
Reconsrruçao e pelo Acordo Geral sobre Tanfas . e Comér os . de Bretton
woods, em 1944, cio (GAt
. . le's) adotado em Genebra em 1947. Esses postulad 1', na
g a em mg , os sao· e
N
· F la d M gridge
18
(lgg~ ~John Mayn~rd Keynes à David Yales, em 30 maio de 1944. Disponível ern og
' p. Z). Para mais detalhes, ver Prashad (2009, p. 94).
1m . · rn 195 1 1919
cou um relatório descrevendo as diferenças entre os E , ela PUbJ-'
seu nível de renda nac1ona. 1. E1a nomeou a década de stados devido ,_
. do que os paises , 1960
do Desenvolvimento, sugenn do Terce· corno a Década.o
, ,. iro Mund a.
desenvolvidos em dez anos atraves das pohticas e regras . , . 0 seria.lll
•
micas do desenvo1v1mento 19 A · • regras jurídi JUndico
. s pnmeiras d ·econô.
cas e as .
técnica, de transferência de recursos e ajuda foram im le sistência.
. - mternac1ona1s
âmbito de orgamzaçoes • • • e através de tratadP rnentad. as no
.
Além disso, fora a1gumas s1tuaçoes - a1tamente conflituosas li os adbilate ra,s..
• . as antigas
independenc1as, . naçoes - co Ioma1s . . se d 1ziam
º pront g as a certa.s
os novos Estados, o que também fizeram as duas grandes asparaa· , _Judar
pós-guerra, que eram claramente anticoloniais. · Potencias d0
A partir da década de 1950, os Estados do Norte proclama
. . . vamcons-
tantemente seu desejo de aiudar o desenvolvimento· dos Estados do S
. . 1 ui.
Embora se preocupassem prmc1pa mente com a salvaguarda de seu •
s inte-
resses, limitando as concessões feitas aos países pobres ao que consideravam
aceitável, os países do Norte renovavam constantemente suas promessas
ao longo do tempo e concediam certos regimes jurídicos derrogatórios ou
compensatórios em favor do Sul. De fato, essa atitude era hegemônica e
paternalista, porque, se o choque da descolonização gerou uma crise moral,
política e econômica muito profunda no Norte, o Ocidente continuou a se
considerar o centro da nova sociedade pós-colonial, e, portanto, deveria
garantir o seu destino. A aspiração pelo desenvolvimento dos jovens Estados
independentes fora ainda mais estimulada nesse primeiro momento, pois
implicava a aceitação do modelo ocidental de desenvolvimento e, portanto,
não punha em causa a supremacia do Ocidente. Além disso, na ép~ca, 0
. . . certamente não era o Sul emergente, mas cad a um dos dois blo-
m1m1go
cos, e era apenas quando um país acabava se unindo comp1e t ª menteaurn
dos dois que o outro bloco o castigava e ostracizava.
• do crescrmen , osto
Os estágros ta que O desenvolvimento de todos os países w
l3) argumen , segue 0
(1963, P· _ . r e que a situação dos pa1ses pobres subdesenv 1 .
adrao 1mea o Vtdo
mesmo P traso estrutural no processo global de desenvolv· s
lica por seu a imento
se ex.P . deveria ser conduzido para uma sociedade lib 1
econom1co, o qua1 N , N era de
'd d abundância, que nao e outro senao o modelo dos Est d
prospen a ee . a os '
. El nsidera que o subdesenvolvimento se deve principalm
unidos. eco . ente
. • naturais internas das soCiedades subdesenvolvidas El
às cond1çoes · as
•
estaoar • t asadas" por causa de sua demografia
,. desenfreada
, . ' estrut uras
. .
soc1a1s e poli'ticas arcaicas e falta de pohtica econom1ca.
. . . ,, Deveri'am os,
portanto, quebrar O "molde das _culturas tra?1c~ona1s e aplicar a todos
os mesmos padrões de desenvolvimento econom1co dos Estados Unidos e
da Europa. Na sua leitura, não era imputada nenhuma responsabilidade
pela situação dos países pobres ao colonialismo e ao domínio ocidental
do passado ou pelo sistema econômico internacional existente. O autor
quase não falava em seu livro da antiga situação dos países subdesenvol-
vidos de colonização e dominação europeia. Rostow (1963, p. 166) dedica
apenas seis páginas a ela e em nenhum momento ele considera que ela
foi responsável, de alguma forma, mesmo que parcialmente, pela situa-
ção de pobreza das sociedades anteriormente colonizadas. As soluções
preconizadas por ele eram a aplicação das regras do direito internacional
econômico liberal existente com a integração dos novos Estados no mer-
cado global governado pelo GATT, bem como a transformação interna
desses Estados. Rostow chega ao ponto de sugerir que os países subdesen-
volvidos deveriam ajudar os países desenvolvidos em caso de crise, e não
0 contrário, considerando que as famosas "consequências" econômicas
E . . ÉdO
m uma cnse, a prioridade deve ser dada aos países ncos. .
· t d , próprto
m eresse os pa1ses subdesenvolvidos ajudá-los, porque se~ . d0
desenvolvimento é condicionado pelas consequências poSiuv~s
bem·es tar dos pa1ses
, ricos. Os países subdesenvo1VI·dos prec1saJ!l
sabe • ticamente
r esperar: essas consequências ocorrerao automa
(Bedjaoui, 2004, p. 394).
321Em
manuelle Tourme Jouannet
Deaco rdo com o estado de espírito de cada um, isso pode fazer sorrir
. , · 1
ou parecer real mente assustador
. ' pois a obstinação do rac1ocm10 . eva_a
1 Sões insuportáveis, tendo em vista a situação de extrema pnvaçao
cone u I' d" · · -
• ºd a época em alguns países descolonizados. A em isso, a reJe1çao
v1v1 a n • I' ·
d t da re.sponsabilidade era claramente inadmissível para mmtos po 1t1-
e o ·ntelectuais do Terceiro Mundo, cujos países estavam sam º dddº
o . .e 01s
COS e l
, 1os de dominação ocidental e' além disso, se encontravam su1e1tos
secu . a
um sistema jurídico-econômico que eles não desejaram e onde se viam
novamente em posição de dominados. Eles iriam elaborar, portanto, uma
verdadeira contrateoria do subdesenvolvimento.
Algumas das teorias produzidas foram descritas como "teorias da
dependência", em oposição às "teorias da modernização" 20 • De inspiração
marxista ou estruturalista, essas teorias analisam o subdesenvolvimento
não como atraso ou um fracasso de seu desenvolvimento, mas como um
produto do desenvolvimento econômico dos países ricos. O subdesen-
volvimento não é resultado de fatores naturais endógenos dos Estados
descolonizados, mas é principalmente o resultado do colonialismo pas-
sado, do imperialismo capitalista, da exploração dos países dominados e
da troca desigual que os países ricos perpetuam através do novo direito
internacional econômico. Para sustentar sua tese, os teóricos da depen-
dência desenvolveram estudos históricos mostrando como a aceleração
do crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico e militar dos
europeus no século XIX os levaram a escravizar três quartos do planeta,
rompendo assim com uma situação de quase homogeneidade entre todos
os continentes no século XVlll. Essa dominação significava que os euro-
peus podiam apropria.r-se de terras e riquezas, estender sua liderança e
manter os povos dominados e colonizados em um estado de dependência
e d~ subdesenvolvimento que não poderia ser encoberto pelas medidas
coloniais tomadas em infraestrutura, saúde ou educação. A subserviên-
c~a de todos esses povos fez deles estruturalmente dependentes de um
sis~ema ~olonial e imperial que os oprimiu por séculos. Como as nações
ocide~~a1s ~aquearam a riqueza dos países colonizados e os exploraram
por va~1os seculos, os teóricos da dependência acreditam que eles deveriam
assumir a responsabilidade pelos prejuízos infligidos e, assim, conceder
20
· Par · -
a uma v1sao geral das muitas teorias da época, ver Meier & Seer (1984, p. 325).
nver também os trabalhos de Singer (1950). Os dois deram origem à tese "Singer-Pre 15
•
22
· A UNCTA~ defende uma ordem econômica baseada em relações equitativas entre países
em desenvolv1'.°ento e países in~ustrializados. Sendo totalmente independente do GATT, ela
pode fazer m~1tas recomendaçoes contrárias às regras liberais do GATT, mas que só podem
se tornar efetivas se adotadas nas rodadas de negociação do GATT. Da! as tensões perma-
nentes entre as duas organizações até o final da Guerra Fria.
23
· O principio de um direito internacional do desenvolvimento foi introduzido na França por
' _ . enc1a de
dualidade de normas, em funçao da diferença concreta de s·t • urna
. , 1 - i uaçao e
Estados algumas relac10nadas as re açoes entre países des ntre
' , . , envolvid
outras às relações entre pa1ses desenvolvidos e pa1ses em desen 1 . os e
. vo v1rnent
Esse direito internacional do desenvolvimento foi desde O iní . . . º·
• . • . CIO SUJe1to
críticas dos dois lados opostos. Foi fortemente cnticado pelos d f; a
. . 1 e ensores
da ortodoxia legal do tipo contmenta , que negaram sua especificid
legalidade e denunciaram . sua i.deo1og1a. sub"Jacente24; e também foi dadeou
. enun-
ciado por alguns representantes do 11erceiro Mundo que considera
vamque
nem os seus interesses nem as suas visões foram levadas em consi"d •
eraçao
P or esse direito,
· que apenas prolongou a hegemonia ocidental (Bed·Jaom,.
1979; Benchikh, 1983).
Não adentraremos diretamente nessas questões, hoje quase abando-
nadas, a fim de manter como ponto essencial apenas a figura renovada
do direito que emergiu na época. Mesmo que, de fato, alguém possa cri-
ticar a coerência, a plena legalidade e a especificidade de algumas de suas
normas, mesmo que também sejam discutidas suas ambivalências e os
efeitos injustos que ela mesma pode implantar, o direito internacional do
desenvolvimento emergiu como um conjunto de regras e práticas jurídicas
projetadas para atender às aspirações de muitos países em desenvolvimento,
resolver seus problemas de desenvolvimento e também tentar, no processo,
remediar as enormes desigualdades socioeconômicas entre Estados após a
descolonização. Não obstante as posições particulares de alguns juristas,
e apesar de não constituir um conjunto formalizado de normas e suscitar
André Philip durante um simpósio realizado em Nice de 27 a 29 de maio de 1965 (Virally, 1965•p.3).
24
' Duas conferências da Sociedade Francesa de Direito Internacional foram realizadas sobre
esse tema: Le d,:oít ínternatíonal économíque (Orléans, 1971) e Pays en vaie de développementet
transformatzons du droít (Aix, 1973).
compensa nd N • , •
proce der
· ·uri'di·cas O desenvolvimento econômico dos novos Estados era
nativas J ·
considerado como a solução definitiva das desigualdades entre os Estados
e, a partir das diferentes concepções de su_bde~envol_vimento, poderia ser
alcançado de duas maneiras opostas. A primeira sena como resultado _do
funcionamento das regras ordinárias do direito internacional econôm1~0
existente, caso em que os novos Estados seriam simplesmente sujeitos -
se concordassem - às regras do GATT, FMI e Bird, sem discriminação. A
segunda forma de alcançar o desenvolvimento envolveria a derrogação
das regras do direito econômico comum e a sua adaptação à situação dos
países em desenvolvimento. É esse direito específico de desenvolvimento
que surgiu durante as décadas de 1960 e 1970, ao qual se reserva o título
de clássico direito internacional do desenvolvimento. É importante deixar
isso claro porque muitos anglo-saxões, por exemplo, não identificam aqui
um direito do ~esenvolvimento (Law of Development) distinto do direito
internacional econômico, e agrupam em um mesmo conjunto todas as
práticas jurídicas e econômicas relacionadas ao desenvolvimento (Law and
Development). Contudo, da mesma forma, eles se abstêm de diferenciar
um direito que expressa as aspirações de reforma, de equidade e justiça
social (o direito social das nações) de um direito baseado unicamente nas
regras do capitalismo liberal, financeiro e comercial. No entanto, o fato é
que, através do clássico direito do desenvolvimento, foram feitas tentativas
~ara ~ubstitui: o _modelo de desenvolvimento liberal, incluído nas regras
Juríd1co-econom1cas do GATT, FMI e Bird, por um modelo de desenvol-
vimento social liberal. ·
No nível institucional, foi criado o que às vezes é chamado de "Sist:ma
~as Nações Unidas para o Desenvolvimento", levando a um considerável
mcremento da burocracia internacional e dos conhecimentos a serviço
das operações de assistência técnica - sendo que a assistência financeira
perman:ceu de responsabilidade do FMI e do Banco Mundial. No nível
normativo, esse direito internacional do desenvolvimento baseia-se em
25
Esta é a conclusão a que Raymond Aron (1963, p. 4) chegou na época. Ele era muito cét!co
'
em relação à noção de subdesenvolvimento porque ela é somente uma noção comparauva
que caracteriza as sociedades pelo que não são e de forma alguma pelo que são positivamente.
L
SJ)lié3 r,dl -~-----
G erra da eoreia
· (Sauvy' 1952). Mas a expressão se difundiu muito rapi-
u El fi i adotada por Mehdi Ben Barka e depois por Frantz Fanon
damente. a o 1 . d
emseu 1,vro . Os condenados da terra, publicado em 1961, e popu anza a
lo-saxão por Peter Worsley (1967). Embora seja fortemente
nomun doan g ,
.. d r suas ambiguidades, a expressão se tornou um termo gene-
cnuca ª po · · J à dº d
. e erdeu sua conotaçao francesa e f01 ficando mais c ara me 1 a
nco qu P ºfi . • • hº , · d ·
,: ·
que 101 sen do usada · Ela sigm ca a ex1stencia istonca e uma comum-
dade de destino para um grupo de Estados que representam doi_s terços da
humanidade e que foram por um longo tempo completamente ignorados;
e continuam sendo pelos dois outros mundos dominantes que forma~
na época os dois blocos, Oriente e Ocident:. Portant?, e~a reflete o dese!o
de dignidade e de reconhecimento de sua mdependencia, e o seu anse10
de justiça e igualdade 26 • Esse desejo foi ainda mais forte no início da
Guerra Fria, visto que os dois blocos que se formavam não perceberam o
alcance dos levantes ocorridos. Para o Primeiro Mundo, o bloco ociden-
tal, as nações descolonizadas ou em descolonização obviamente ainda
eram povos atrasados. E o mesmo valia para o Segundo Mundo, o bloco
oriental, que em um primeiro momento adotou a mesma atitude, embora
o igualitarismo preconizado no Oriente tenha exercido uma sedução
óbvia para aqueles que, tendo adquirido recentemente sua independência
política, aspiravam a uma verdadeira igualdade. Na conferência polonesa
que inaugurou o Escritório de Informação dos Partidos Comunistas e
Operários (Cominform), em _1947, os soviéticos também adotaram a visão
de um mundo dividido apenas em dois blocos e se limitaram a mencionar
os movimentos de libertação nacional. Foi somente quando, em reação
ao Plano Truman, a União Soviética implementou uma verdadeira polí-
tica de ajuda externa ao Terceiro Mundo que este se tornou um elemento
importante da Guerra Fria e um ponto de discórdia entre o Leste e o Oeste
(Trofi.menko, 1981).
No entànto, as novas nações, agora chamadas de "Terceiro Mundo",
procuraram justamente se organizar de forma autônoma e unidas diante
2
~ A_tualmen:e o termo "Terceiro Mundo" está quase abandonado devido à evolução da situa-
çao mternac1onal após a Guerra Fria. No entanto, essa denominação ainda é reivindicada
por seu valor heurístico por alguns autores anglófonos que se autodenominam "terceiro-
-mundistas" no que chamam de Third World Approaches to lnternational Law (TWAIL).
Ver Mutua (2003) e Rajagopal (1998).
29 1
Conferência para o estabelecimento da Unesco, Jnstitute of Civil Engineers, Looclres,
'
à 16 novembro de 1945.
30· Th Fº · Women's Conference aconteceu no Cairo, entre 14 e 23 Jª. neiro 196. 1.
e irst Afro-As1an
31. AG d O
ª NU, Resolução de 18 de agosto de 1967 Declaração e tratado sobre Ouso exclusivo•
para fins pacíficos do fundo do mar além dos limi~es da jurisdição nacional paraª exploraçao
de recursos nos interesses da humanidade, Doe. NU A/6695.
32. p
ara uma compreensão desse contexto absolutamente essencial, ver Sampson (1976).