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Calcula-se que, hoje, mais de 50 mil famílias pratiquem a educação domiciliar, sem
contar aquelas que, por medo, escondem-se no anonimato, receosas de uma
perseguição por parte do poder público. Se for verdade que os entendimentos
jurídicos mudam segundo o espírito do tempo, é chegada a hora de um olhar de
acolhimento, amor e honestidade a essas milhares de famílias que nada mais fazem
do que formar homens novos para um mundo novo e melhor.
Não obstante, excelências, pairam sobre esses bravos e guerreiros pais certo
preconceito, certa ojeriza, certo pré-julgamento que os colocam às margens da
sociedade, uma vez que passam a ser tratados como infratores do Estatuto da
Criança e do Adolescente, do Código Penal, Civil etc. Recaem sobre eles os mais
absurdos rótulos preconceituosos – os de fundamentalistas, radicais, loucos...
Algo ainda mais absurdo, porém, anda a ocorrer. A maioria dos pais é clara ao
afirmar que sequer está sendo acolhida pelos promotores de justiça quando se trata
de esclarecer a real situação dos respectivos casos. Notificações exigindo matrícula
em dez dias são expedidas aos montes, sob pena de serem os pais processados,
multados – ou mesmo de perderem a guarda dos filhos, sem ao menos uma
conversa honesta antes de qualquer decisão. Já são eles condenados antes de
qualquer defesa ou sentença. Os pais desejam apresentar sua rotina, os materiais
didáticos que utilizam, o quanto seus filhos estão desenvolvidos e socializados...
mas recebem um sonoro não fundamentado na letra crua e cruel da lei.
Entretanto, a mesma legislação determina que todos os casos devem ser avaliados
segundo a condição peculiar de cada criança e adolescente como pessoas em
desenvolvimento. Se isso está correto – e está –, uma grande e simples pergunta
deve ser feita e refeita até encontrar conforto nos corações de cada promotor: se a
escola não cumpre mais seu papel constitucional de fornecer educação de
qualidade, e se os pais, mediante o ensino domiciliar, estão se saindo melhor do
que essas instituições nesse âmbito, por que o melhor interesse da criança não está
sendo levado em conta, conforme pede o artigo sexto do Estatuto da Criança e do
Adolescente?
Se, ademais, o princípio acima é norteador dos direitos das crianças e dos jovens,
por que o apego à letra fria e cruel da lei, e não ao princípio que hoje está
materializado com louvor no chamado homeschooling? Sem mencionar que essas
famílias são minoria e, segundo a ampla doutrina do direito, toda minoria há de ser
protegida, e não excluída.
Atenciosamente,