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Embora tramite na Câmara dos Deputados um projeto de regulamentação do Homeschooling

desde 1995, novos debates em torno do tema cresceram de forma significativa desde o início
da pandemia de COVID-19, dada a necessidade sanitária de isolamento exigida por
autoridades médicas. Mesmo com o crescimento de novos adeptos, especialmente entre pais e
responsáveis, o sistema de aprendizagem domiciliar tende a ser mais prejudicial do que benéfico,
uma vez que, dentre suas desvantagens, merecem destaque duas: aumento potencial da violência
doméstica e estagnação/atrofia de habilidades sociais.

Quando críticos do sistema pedagógico tradicional discutem a conveniência de se adotar o


Homeschooling, em geral, costumam ressaltar apenas o que julgam ser pontos positivos, como
flexibilidade do horário e maior controle sobre o desenvolvimento discente. Na teoria, isso soa
promissor; na prática, porém, o quadro seria diferente. Considerando o fato de que pais e
responsáveis, ao contrário de professores formados, não se veem limitados por restrições
ético-profissionais no trato com seus filhos, não seria incomum que a resolução de conflitos,
em um ambiente livre de fiscalização institucional, ocorra de forma insensata, seja por meio
de agressões verbais ou, até mesmo, físicas. A esse respeito, por exemplo, convém destacar o
fato de que, segundo o portal do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a
autoria da maior parte dos episódios de violência doméstica praticados em 2021 foram
cometidos por pessoas próximas ao convívio familiar. Logo, com a disseminação do
Homeschooling, tal cenário tenderia a se agravar exponencialmente.

Além do aumento potencial da violência doméstica, um outro fator que pesa contra a
implementação do Homeschooling é o déficit de habilidades sócio-educativas. A propósito
disso, convém mencionar a célebre formulação de Aristóteles, segundo a qual “o homem é um
animal social”. Sendo próprio da natureza humana a necessidade de socialização, o
confinamento da prática escolar ao ambiente doméstico poderá privar os alunos da
experiência gerada a partir do confronto de ideias, pois, sob a coordenação majoritária de
pais e responsáveis, crianças e adolescentes, sem a interação diária com a diversidade, estarão
mais inclinadas a isolarem-se em “volhas”, isto é, a entrar em contato apenas com a visão de
mundo de seu ciclo familiar. Desse modo, crescendo em um contexto unidimensional, a
disseminação do Homeschooling prejudicará substancialmente o alargamento daquilo que
pedagogas e pedagogos definem como “leitura de mundo”.

Tendo em vista o que se discutiu nos parágrafos anteriores, medidas devem ser consideradas.
Ao Governo Federal, na figura do Ministério da Educação, cabe a tarefa de, por meio de
propagandas institucionais veiculadas por meio de rádio, Tv e Internet, expôr a pais,
responsáveis e alunos os riscos envolvidos na prática do Homeschooling, a fim de alertá-los
sobre os inconvenientes do avanço deste modelo de ensino; paralelamente a isso, cumpre ao
Congresso Nacional, por intermédio da atuação legislativa Deputados e Senadores, resistir a
qualquer tentativa de mudança nos estatutos que classificam como ilegal a decisão de pais e
responsáveis de não matricularem seus filhos em escolas regulares, de modo a assegurar a
crianças e adolescentes o exercício de um direito constitucional.
Vocabulário útil: habilidades socioeducativas/cognitivas/intelectuais, educação domiciliar,educação
doméstica.

Informações:

Homeschooling no Brasil

A Emenda Constitucional nº 59 da Constituição Federal destaca que a educação básica é gratuita e


obrigatória e que todos devem frequentar a escola dos quatro aos 17 anos.

Dados da Câmara dos Deputados apontam que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a
constitucionalidade do homeshooling; sendo assim, não proíbe, mas também não respalda a prática.
No entanto, o STF reforça que a educação domiciliar é ilegal até que seja regulamentada uma
legislação específica para que os pais tenham garantia de que podem adotar esse tipo de educação
com seus filhos.

No Distrito Federal (DF), conforme decisão do governador Ibaneis Rocha, a educação doméstica é
liberada. Rocha sancionou a lei que institui o homeschooling em Brasília em dezembro de 2020.

Intro/tópico frasal: O ensino domiciliar era adotado antes da implantação das escolas no Brasil e no
mundo. Contudo, não eram todos que tinham acesso a esse tipo de educação. De modo geral, era a
elite quem tinha esse tipo de oportunidade. As escolas só se tornaram populares em meados do
século XX.

Entre os anos de 1960 e 1970, John Holt, professor da Universidade de Harvard, estabeleceu críticas
às escolas, defendendo, pela primeira vez, a ideia de “desescolarização”. Na ocasião, Holt liderou
um movimento internacional pela divulgação e legalização do ensino doméstico. Esse episódio é
considerado um marco para o surgimento do homeschooling.

O ensino domiciliar ganhou visibilidade nas últimas décadas e vem sendo implantado em alguns
países ao redor do mundo. Dados da Aned apontam que ele está presente em mais de 60 nações.
Alguns países onde o homescooling é adotado e regulamentado são: Estados Unidos, Canadá,
França, Espanha, Itália, Suíça, África do Sul, Japão, Austrália

Intro/tópico frasal: Projetos de Lei que defendem a regulamentação da educação domiciliar no


Brasil estão em análise na Câmara dos Deputados.

Intro/tópico frasal: Na educação domiciliar a responsabilidade da escola é transferida para a família.


Crianças e jovens são educados em casa com o apoio de adultos responsáveis, sejam eles familiares
ou tutores.

A prática do homeschooling foi considerada constitucional pelo STF (Supremo Tribunal Federal)
em setembro de 2018. Mas, os ministros entenderam que para a adoção da prática é necessário que
haja regulamentação para garantir às crianças o direito à educação.

Tanto a Constituição como a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) garantem o direito à
educação e definem como um dever do Estado e da família. O Código Civil também assegura aos
pais essa responsabilidade. Já o Código Penal criminaliza os pais que não matriculam seus filhos na
escola.

Intro/tópico frasal: Homeschooling é uma palavra de língua inglesa que significa “educação escolar
em casa”. No Brasil, o termo também é conhecido como educação domiciliar ou doméstica. Embora
já exista há alguns anos, essa modalidade de educação tem ganhado novos adeptos ultimamente,
depois do surgimento da pandemia do coronavírus, em março de 2020.

Intro/tópico frasal: O que diz a lei

Além dos aspectos citados acima, há um agravante importante: os casos de crianças fora da escola
são ilegais. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é obrigatório
que crianças e jovens entre 6 e 14 anos frequentem uma instituição de ensino. Os pais que não
matriculam seus filhos podem ser denunciados, precisam pagar multa e enfim devem passar a
cumprir a determinação.

De acordo com Cury, só podem estar fora da escola os casos previstos no decreto 5622/2005 sobre
Educação a Distância. O texto diz que a regra só vale para indivíduos que "estejam impedidos, por
motivo de saúde, de acompanhar ensino presencial; sejam portadores de necessidades especiais e
requeiram serviços especializados de atendimento; se encontrem no exterior, por qualquer motivo;
vivam em localidades que não contem com rede regular de atendimento presencial;
compulsoriamente sejam transferidos para regiões de difícil acesso, incluindo missões localizadas
em regiões de fronteira; ou estejam em situação de cárcere".

A legislação nacional pode mudar se algum dos inúmeros projetos que pedem a regularização da
Educação Domiciliar for aprovado, como é o caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
444, de 2009. Para Cury, mesmo se isso ocorrer, o benefício valerá apenas em situações muito
específicas. Pelo menos é isso o ocorre no exterior, como Estados Unidos, França, Austrália e
Inglaterra. Nesses locais, experiências com Educação Domiciliar são permitidas, mas a aceitação
legal dessa preferência não é simples. Os pais precisam se justificar e aguardar aprovação
governamental, já que ela é tida sempre como uma segunda opção.

Repertório:

Há um tipo de aprendizagem que só acontece no ambiente escolar, explica Telma Vinha, professora
de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). "Não se trata apenas de um conteúdo específico, que a família pode até ter condições de
ensinar. Mas de aprendizados que pressupõem a relação cotidiana entre pares. Entre eles estão a
capacidade de argumentação, de ouvir o outro e convencê-lo sobre uma perspectiva, de perceber
que regras valem para todos e conseguir chegar a uma decisão criada em conjunto", explica. A
psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, no livro Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever,
ressalta uma missão da escola nos dias atuais: "a de ajudar todas as crianças do planeta a
compreender e apreciar o valor da diversidade".

...

- “Todas as funções psicológicas superiores são formas internalizadas de relações sociais”, Vigotski.

- “O enigma de Kaspar Hauser”. O filme, inspirado em fatos verídicos, conta a história de um


jovem sem identidade encontrado em uma praça de Nuremberg, Alemanha, em 1828. Chamado
Kaspar Hauser, o jovem apresenta um comportamento próprio de quem viveu por muito tempo
isolado e não domina a linguagem articulada. Entre a curiosidade pública e da comunidade
científica da época, a sociedade tenta reintegrá-lo.

- Diálogo socrático.

O que dizem os defensores do homeschooling?

Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), nesse tipo de modalidade, os pais
oferecem aos seus filhos uma educação personalizada para poderem explorar o potencial e os
talentos de cada um deles. Para isso, a Aned ressalta que os pais devem investir tempo e recursos.

Além da educação intelectual, o foco do homeschooling, de acordo com a Aned, é a preocupação


dos pais com a formação do caráter dos seus filhos e em direcionar os valores e as virtudes que
estes devem incorporar.

...

O primeiro passo foi dado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que deu aval ao
Projeto de Lei 3262/2019, para descriminalizar a educação domiciliar, fora da rede oficial de
ensino. Hoje, a prática pode ser enquadrada como crime de “abanono intelectual”, previsto no artigo
246 do Código Penal.

Caso seja aprovado, a prerrogativa de educar as crianças será dos pais, que poderão optar por
matriculá-las em escolas ou não. Diferentemente do ensino a distância, nessa modalidade não há
salas virtuais com interações com professores ou colegas de turma. Os próprios pais ensinam seus
filhos..

Como a interação será única e exclusivamente familiar, as mães devem assumir essa função,
abrindo mão de atuar no mercado de trabalho e obter a sua própria renda. É o modelo dos sonhos do
patriarcado. Além disso, a proposta subverte completamente a a lógica do sistema, explica Marcele
Frossard, doutora em Ciências Sociais e assessora de políticas sociais da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação. “Se a educação é direito da criança e do adolescente, esse direito passará a ser
dos seus pais ou tutores.”.

aumento de gastos púbicos com serviços de fiscalização e violência doméstica. Cerca de 70% dos
agressores de crianças e adolescentes são integrantes da própria família. Em 2020, durante o
isolamento social e o fechamento de escolas, acarretados pandemia, o Brasil atingiu o maior
número de denúncias de violência contra crianças: foram 95.247, média de 260 novos casos a cada
dia.

Matéria

O R7 teve acesso ao texto que regulamenta a prática do ensino domiciliar, também conhecido como
homeschooling, no país. O relatório da deputada Luisa Canziani (PTB-PR) será apresentado na
Câmara dos Deputados na segunda-feira (17) para ser debatido.

Uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que tem a simpatia do ministro da
Educação, Milton Ribeiro, o homeschooling é discutido no Congresso desde 1995. Em 2018, o STF
(Supremo Tribunal Federal) entendeu que a prática não é inconstitucional, porém exige
regulamentação.

O texto exige que as crianças sejam matriculadas em uma escola pública ou privada, mesmo que
não frequentem. Caberá aos pais ou responsáveis o controle da frequência e de aprendizagem. As
atividades desenvolvidas em casa deverão ser encaminhadas às escolas em que as crianças ou
adolescentes estejam matriculados.

Estudantes em homeschooling deverão participar dos exames de avalição municipais, estaduais ou


nacionais. Eles também poderão participar de feiras de ciências ou olimpíadas de conhecimento.

Caberá as escolas promoverem encontros semestrais das famílias optantes pela educação domiciliar,
para intercâmbio e avaliação de experiências.

O texto exige que ao menos um dos pais tenha concluído o ensino superior. A família também pode
contratar um tutor que tenha, pelo menos, formação superior. Esse era um dos pontos ainda em
debate e que atende a ala mais ideológica do governo.

Entre os pontos, que ela já havia antecipado para o R7, está a proibição de pais que tenham sido
condenados ou tenham que tenham cumprido pena não poderão adotar a prática do ensino
domiciliar. Pessoas que estejam repondendo por casos de violência domética, estupro, violência
sexual ou crimes previstos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) também não poderão
ensinar os filhos em casa.

A fiscalização das crianças e famílas que optarem pela prática da educação domiciliar deverá ser
realizadas pelos Conselhos Tutelares.

Os pais perderão o direito ao homeschooling caso as regras não sejam cumpridas ou se o estudante
reprovar por dois anos consecutivos ou em três anos não consecutivos. Se faltar na avaliação anual
prevista sem justificativa também perde o direito de estudar em casa.

Polêmica

A educação domiciliar é um tema polêmico em todo o mundo. Em alguns países, como nos Estados
Unidos, a prática é regulamentada. Na Alemanha e Suécia é considerada crime.

Os pais que seguem esse modelo defendem a autonomia educacional da família. Os críticos
afirmam que não há como garantir a qualidade do ensino, interfere no desenvolvimento de
competências sócio educacionais. Também abre espaço para o abandono da escolarização e, sim,
algumas crianças ficam sujeitas ao trabalho infantil.

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