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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES - JORNALISMO

6° SEMESTRE - NOTURNO

JORNALISMO CIENTÍFICO E EDUCATIVO


MATÉRIA SOBRE HOMESCHOOLING NO BRASIL

JOÃO PEDRO FERNANDES ANDRADE - 21102298

SÃO PAULO
2023
Nesta segunda-feira (4/12), a Comissão de Educação (CE) do Senado debateu
o Projeto de Lei (PL) 1.338/2022, que regulamenta a oferta do ensino domiciliar.
A audiência pública foi marcada por maioria contrária à proposta. Uma única
debatedora a favor do homeschooling classificou os argumentos dos demais
como um “jogo semântico e uma falácia”. A reunião foi conduzida pelo
presidente da Comissão, senador Flávio Arns (PSB-PR).

Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à


Educação, listou 14 argumentos contrários à aprovação da medida. Entre os
pontos, ela afirma que o homeschooling vai na contramão da educação inclusiva.
“A gente precisa que nossas crianças, nossos estudantes, estejam dentro da
comunidade educacional, dentro das instituições educativas, em diálogo, em
socialização, em construção nesse processo educacional, que é dialógico, de
ensino e aprendizagem, e não num processo excludente, em que eles ficam
dentro de suas casas, sem esse local de socialização plena e educação
inclusiva”, apontou.

A prática do homeschooling atualmente não é permitida devido a uma decisão


do STF. Como todo debate há pessoas que defendem a prática, a mãe de dois
filhos e homeschooler Karen Silva relata explica o porquê da escolha e as
vantagens do homeschooling.

Karen nos conta que o motivo de seu interesso pela prática veio por pensar que
o ensino é pouco individualizado. “Eu sempre achei que a escola é a forma de
ensino que atende a maioria das pessoas. No entanto, desde que eu estava
frequentando uma escola ficava me perguntando se não poderia existir outra
maneira de receber instrução formal. Apesar de ter tido acesso a uma escola
considerada boa, sempre achei ruim o fato dos alunos receberem a mesma
instrução, de não ser levado em conta suas individualidades de aprendizado e
de interesse”.

Karen nos conta que no seu caso quem educa seus filhos é ela própria, ao ser
questionada se ela acha que consegue cobrir todas as áreas que uma escola
cobre ela afirma que sim e caso haja dificuldades aponta outras alternativas. “Eu
tenho certeza de que consigo cobrir todos os conteúdos oferecidos por uma
escola regular. Nunca tive dificuldades em nenhuma matéria e percebo que o
homeschool, ao menos na linha que estamos seguindo em nossa família, conduz
o aluno a uma formação que, em muitos aspectos, proporciona ao aluno o
desenvolvimento do autodidatismo.

Se em algum momento, no entanto, percebermos uma necessidade específica,


penso que é possível contratar professores particulares para assuntos mais
específicos. Outra possibilidade são os COOPs, cooperativas de famílias que se
reúnem regularmente e onde os pais encontram apoio mútuo para seu ensino
domiciliar. Uma das formas de ajuda é um pai ou mãe, que domine melhor
determinado conteúdo, ensinar crianças de outras famílias cujos pais não
tenham tanta habilidade naquele assunto em específico”.

Outro ponto muito abordado por pessoas que não apoiam o homeschooling é de
que há a possibilidade de a criança não se desenvolver da forma adequada em
questões de sociabilidade e contato interpessoal já que ela não terá contato com
outras crianças e outras realidades e opiniões, como foi defendido por Andressa
Pellanda, Karen discorda da fala da coordenadora-geral da Campanha Nacional
pelo Direito à Educação, para ela é um equívoco considerar somente a escola
como possibilidade para a criança se socializar. “Acreditar que a socialização se
dá apenas e principalmente no âmbito escolar é um erro grave. A escola é
apenas uma de entre as possibilidades de a criança exercer suas capacidades
sociais. Em nossa família procuramos proporcionar aos nossos filhos uma boa
convivência familiar, eles têm a oportunidade frequente de passar um tempo com
avós e bisavós. Eles frequentam aula de judô, onde encontram outras crianças
e costumeiramente brincam juntos, antes ou após a aula. Frequentamos
encontros regulares do grupo de apoio de famílias educadoras, no qual estão
crianças de diversas faixas etárias. Os seres humanos, mesmo dentro de uma
mesma família, podem ser muito diferentes, quem tem irmãos que o diga”!

Karen ainda cita o fato de haver bullying na maioria das escolas como mais um
fator para a escolha do ensino domiciliar. “Na escola é situação bastante comum
a criança sofrer abusos morais pelos mais diversos motivos. Sabemos que as
escolas, algumas vezes, até tentam trabalhar essas questões, mas poucas
conseguem realmente fazer com que as crianças mudem verdadeiramente seu
comportamento aceitando seus amigos “diferentes”. Não que seja impossível,
mas não acredito que esse trabalho de socialização, de aceitação, aconteça na
escola exatamente como aqueles que são contrários à prática da educação
domiciliar imaginam”.

A família de Karen é uma das 35 mil que praticam o homeschooling (ou


educação domiciliar) no Brasil. O número é uma estimativa da Associação
Nacional de Educação Domiciliar (Aned). São cerca de 70 mil estudantes, entre
4 e 17 anos de idade. Segundo a Aned, há praticantes em todos os estados do
país. Apesar dessa adesão, o homeschooling não é legalizado no Brasil. Um
julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018 decidiu que os pais não
podem se abster de matricular os filhos na escola e, portanto, não podem educá-
los exclusivamente em casa. O relator do processo, ministro Roberto Barroso,
foi voto solitário pela permissão do homeschooling em casos excepcionais. Os
demais magistrados seguiram o entendimento de que a educação não é
atribuição exclusiva da família — precisa ter a participação do Estado, através
da escola. A maioria do tribunal admitiu, porém, que a prática poderá ser válida
se houver a aprovação de uma lei regulamentando a educação domiciliar e
criando instrumentos para a verificação de aspectos como a progressão do
aprendizado das crianças e o nível de socialização que elas experimentam no
dia a dia.

O projeto determina que os estudantes do formato homeschooling sejam


matriculados em escolas, que eles não frequentarão, mas que serão as
responsáveis por monitorar a evolução do aprendizado. Para isso, os estudantes
terão que se submeter a avaliações regulares e os pais terão que enviar
relatórios trimestrais das atividades pedagógicas desenvolvidas em casa. As
escolas também deverão promover encontros periódicos entre as famílias, para
interação e acompanhamento. O texto exige, ainda, que pelo menos um dos pais
tenha ensino superior ou formação profissional tecnológica. Além disso, nenhum
dos responsáveis pela criança em homeschooling poderá ter condenações por
crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente ou na Lei Maria da
Penha, por crimes hediondos, relacionados a drogas ou suscetíveis de
internação psiquiátrica.

Em pesquisa feita pela Fameduc em novembro de 2022, 37,6% dos estudantes


de homeschooling nunca foram à escola antes de iniciar a prática, 24,4%
frequentaram escolas públicas antes de estudar em domicílio e 37,9%
frequentaram escolas particulares. A pesquisa também nos aponta outros
aspectos do debate, quando perguntados se matriculariam seus filhos em
escolas públicas ou particulares, caso a regulamentação for aprovada 40,96%
dos pais disseram que matriculariam seus filhos em escolas públicas e 59,04
disseram que os colocariam em instituições particulares. E quando
questionados quais seriam as alternativas caso houvesse a proibição do
homeschooling, 2,5% dos pais disseram que voltariam para o ensino público,
4,1% disse que voltaria para o ensino particular, 11,5% dos entrevistados
disseram que deixariam o país, 30,9% afirmou que abriria uma escola com outras
famílias que praticam o homeschooling e impressionantes 51% disseram que
arcariam com as consequências mas que não mudariam o modo de ensino de
seus filhos.

Para Karen, mãe de duas crianças em homeschooling, a regulamentação é de


pleno interesse dos pais que optam por esse caminho com consciência. “Eu acho
essencial que o homeschooling não vire uma bagunça, e é o que está hoje. É
importante uma legislação que pegue a gente e fale: 'o que você está ensinando
para o seu filho?'. Eu sou responsável e sei que as pessoas com quem eu
convivo têm essa responsabilidade, mas tem um monte de gente fazendo
bobagem”.

Além da normatização, ela cobra também reconhecimento. Apesar do desejo de


continuar educando os filhos em casa até o final da idade escolar, Karen não
sabe se eles vão continuar bem adaptados à medida que crescerem, ou se ela
mesma vai conseguir cumprir o papel de professora com conteúdos mais
avançados e diversificados. Na situação atual, caso a opção seja por colocá-los
na educação formal novamente, ela não sabe se eles poderão embarcar na série
condizente com o nível de aprendizado que adquiriram. “Eu não sou evasão
escolar. Isso me incomoda muito. Sinto falta de a gente ter respaldo. Meus filhos
são estudantes”.

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