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O ENSINO DOMICILIAR NO BRASIL (HOMESCHOLLING):


REGULAMENTAÇÃO E DEVER DA FAMILIA NO PROVIMENTO DA EDUCAÇÃO
HOME EDUCATION IN BRAZIL (HOMESCHOLLING): REGULATION AND
DUTY OF THE FAMILY IN THE PROVEMENT OF EDUCATION

Tiago Leandro Sales1


Júlia de Paula Vieira2

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar o crescimento do fenômeno


contemporâneo que se convencionou chamar homeschooling (ensino domiciliar) no
Brasil. Um dos pontos primordiais para a realização deste trabalho é a falta de
legislação específica sobre o tema embora haja um crescente número de famílias
que optam por esse modelo educacional. O número de famílias brasileiras que
aderem ao modelo de educacional domiciliar ao invés do ensino tradicional é
crescente, diversas famílias de diferentes localidades e classes sociais têm optado
por ensinar seus filhos em casa ao invés de envia-los para as escolas. Seguindo o
exemplo de diversos outros países, os favoráveis ao ensino doméstico têm
reivindicado o uso dos documentos internacionais de proteção aos Direitos
Humanos para exigir a autonomia dos pais na escolha da educação dos filhos, como
também a organização de associações para influenciarem o Poder Legislativo e
também difundirem o tema na sociedade. Apoiado na busca de várias famílias pela
regulamentação do ensino domiciliar no Brasil procura-se demonstrar a urgência da
regulamentação do ensino domiciliar em território Brasileiro. O estudo é baseado em
ampla pesquisa da legislação brasileira em especial o Recurso Extraordinário
888.815 com repercussão geral reconhecida. O recurso teve origem em mandado de
segurança impetrado pelos pais de uma menina, então com 11 anos, contra ato da
secretária de Educação do Município de Canela (RS), que negou pedido para que a
criança fosse educada em casa e orientou-os a fazer matrícula na rede regular de

1 Aluno do 10º período de Direito da Rede Doctum de Ensino de Caratinga. E-mail:


thiagosallesoficiall@gmail.com
2 Mestre em Gestão do Território; Pós-graduada em Direito Civil, Direito e Processo do Trabalho e

Direito Imobiliário; Advogada e Professora da Rede Doctum de Ensino Caratinga. E-mail:


juliadepaulavieira@hotmail.com
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ensino, onde até então havia estudado, como também uma breve analise do referido
tema em legislações estrangeiras.

PALAVRAS-CHAVE: Homeschooling. Educação. Regulamentação. RE 888.815.


Constitucionalidade.

Abstract

The present work aims to analyze the growth of the contemporary phenomenon that
has become conventionally called homeschooling (home education) in Brazil. One of
the main points for carrying out this work is the lack of specific legislation on the
subject, although there is an increasing number of families that choose this
educational model. The number of Brazilian families that adhere to the model of
home education instead of traditional education is growing, several families from
different locations and social classes have chosen to teach their children at home
instead of sending them to schools. Following the example of several other countries,
those in favor of home education have re-emphasized the use of international human
rights protection documents to demand the autonomy of parents in choosing their
children's education, as well as the organization of associations to influence the
Legislative and also spread the topic in society. Supported in the search of several
families for the regulation of home education in Brazil, we seek to demonstrate the
urgency of the regulation of home education in Brazilian territory. The study is based
on extensive research of Brazilian legislation, in particular Extraordinary Appeal
888.815 with recognized general repercussions. The appeal originated in a writ of
mandamus filed by the parents of a girl, then 11 years old, against the act of the
Secretary of Education of the Municipality of Canela (RS), who denied the request for
the child to be educated at home and directed enroll in the regular school system,
where he had studied until then, as well as a brief analysis of that subject in foreign
legislation.

Keywords: Homeschooling. Education. Regulation. RE 888,815.


Constitutionality.
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1. INTRODUÇÃO

Atualmente grande percentual das famílias brasileiras tem optado pelo


modelo educacional conhecido internacionalmente como homeschooling.
Os motivos que as levam a optar por esse modelo educacional são diversos,
como por exemplo à falta de segurança nas escolas, o ensino deficitário das escolas
públicas, bullying em ambiente escolar ou o simples e não menos importante fato de
a familia desejar acompanhar de maneira mais proxima o que a criança ou
adolescente aprende no dia a dia.
Segundo dados da Associação Nacional de Ensino Doméstico (ANED) o
homeschooling está presente nas 27 unidades da Federação; atualmente são mais
de 7500 familias que praticam o ensino domiciliar no Brasil; são mais de 15.000
estudantes entre 4 e 17 anos.3
Tendo em vista que milhões de famílias por todo o país descumprem seu
dever natural (e obrigação constitucional) de educar os próprios filhos e de prepará-
los para a vida adulta, o que as familias adeptas buscam através do homeschooling
no Brasil é propocionar às crianças, adolescentes, jovens e às familias o direito de
optarem por uma educação que não dependa exclusivamente da escola.

2. HOMESCHOOLING NO MUNDO-CONCEITO

A expressão homeschooling pode ter diversas traduções distintas, porém,


para este estudo será a conceituação do doutor Edison Prado de Andrade que assim
conceituou o homeschooling:

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola.
É traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em
uma tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a
palavra school (escola).4

3 ANED. Dados sobre a educação domiciliar no Brasil.2016. Disponível em https:<//www.ane


d.org.br/conheca/ed-no-brasil>. Acesso em: 10 de março de 2021.
4 ANDRADE, Édson Prado. A educação desescolarizada como um direito da criança e do

adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação do direito a educação. 2014.


Disponível em https:<//www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde10112014111617/publico/
EDISON_PRADO_DE_ANDRADE_rev.pdf>. Acesso em 15 de março de 2021.
4

Em suma, homeschooling é a prática de pais ou responsáveis legais


educarem, direta ou indiretamente (com delegação a terceiros ou não), os filhos ou
tutelados em idade escolar fora de escolas regulares, vale salientar que a
modalidade em questão, neste estudo, refe-se apenas ao nível da educação básica
(ensino infantil, fundamental e médio), não abrangendo, portanto, o nivel da
educação superior.
Com base na conceituação acima mencionada, nota-se que o que as famílias
brasileiras adeptas dessa modalidade de ensino buscam é poder educar seus filhos
em casa, de maneira que o seu crescimento educacional possa ser notado e
acompanhado pela família de maneira mais pontual. O que se pretende através do
homeschooling no Brasil é proporcionar às crianças, adolescentes, jovens e às
famílias o direito de optarem por uma educação desescolarizada.
Vale destacar entretanto a diferença entre unschooling e homeschooling. O
unschooling se posiciona totalmente contra a escola, utiliza-se de um método de
ensino anárquico, no qual os pais não devem desenvolver formas estruturadas de
ensino para seus filhos, porquanto as crianças e jovens devem aprender com o
mundo, como se eles já tivessem tudo o que precisam para aprender e só fosse
preciso deixá-los livres.
O homeschooling entretanto, tem como princípio alguns padrões no ensino,
que existem métodos bons e outros ruins, o homeschooling acredita que de fato a
criança tem sim a sua subjetividade, mas que isso não quer dizer que ela deva ser
independente a ponto de só aprender o que quiser.
O homeschooling está presente nos 5 continentes; essa modalidade de
ensino é reconhecida, permitida ou regulamentada em mais de 60 paises; é
praticado em paises de regimes de governo diversos, democraticos ou não5.
Africa do sul, Oceania, Nova Zelandia;, Filipinas, Japão, EUA, Canadá;
Colômbia, Chile, Equador, Paraguai; Portugal, França, Itália, Reino Unido, Suíça,
Bélgica, Holanda, Áustria, Finlândia, Noruega, Rússia são alguns dos principais
paises que adotam o ensino domiciliar como modalidade educacional válida

5 ANED. Dados sobre a educação domiciliar no Brasil.2016. Disponível em https:<//


https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-no-mundo >. Acesso em: 15 de
março de 2021.
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3. ENSINO DOMICILIAR E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

3.1- Histórico Legal Anterior À Constituição Federal De 1988

Desde os tempos do Brasil imperial o ensino domiciliar vem sendo tema de


debates nas legislações pátrias, muito diferente do que se pensa esse tema não é
recente.
Em março de 1824 quando outorgada a Constituição Política do Império do
Brasil somente dois artigos tratavam diretamente acerca da educação, um
determinando a gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos e outro
indicando que Colégios e Universidades como locais para o ensino de Ciências,
Belas Letras e Artes.6
Em 1874 o conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, ministro e secretário
de Estado dos Negócios do Império, desenvolveu um projeto reorganizando o ensino
primário e secundário que mencionava assim em seu art. 1º, parágrafo 2º:

§2º O ensino primário elementar no município da côrte será obrigatório para


todos os indivíduos de 7 a 14 annos; sel-o-há também para os de 14 a 18,
que ainda o não tenham recebido, nos logares do mesmo município em que
houver escolas de adultos. (...) II. Os Paes e mais pessoas acima referidas
têm o direito de ensinar ou mandar ensinar os meninos em casa ou em
estabelecimentos particulares; mas no fim de cada anno deverão submette-
los a exame perante o inspector litterario respectivo.” 7

Corroborando com o pensamento do Ministro João Alfredo, o Dr. Cunha


Leitão, reiterando a educação nas casas como uma modalidade aceita e prevista
assim se posicionou:

§5º A instrucção primária é obrigatória para os menores de um e de outro


sexo de 7 a 14 annos de idade e para os de 14 a 18 annos nos logares
onde

6 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de


1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>. Acesso
em 06 de maio de 2021.
7 CHRIST, Mara Vicelle Ruviaro. O Ensino Domiciliar No Brasil, Estado, Escola E Família.

Disponível em: <https://www.aned.org.br/images/TrabalhosAcademicos/CHRIST_O-ENSINO-


DOMICILIAR-NO-BRASIL-ESTADO-ESCOLA-E-FAMILIA.pdf>. Acesso em Acesso em: 15 de março
de 2021. p.23
6

houver escolas de adultos ou profissonaes; devendo-se proceder ao


resenceamento da população escolar, e providenciando o governo sobre os
meios de fornecer aos filhos de pais reconhecidamente indigentes o
vestuário
e mais objectos indispensáveis á frequência na escola. Exceptuão-se desta
obrigação: 1º, os que provarem que recebem em escolas particulares, ou
nas próprias casas, instrucção primária com o desenvolvimento do
programma official de ensino público;(...)” 8

Somente em julho de 1934 com a Constituição da República dos Estados


Unidos Do Brasil ver-se um capítulo inteiro dedicado à educação. A saber o artigo
149 que assim aduz:

Art. 149 – A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e
pelos poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e
estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores
da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana. (Grifo meu). 9

Nota-se que o texto constitucional, decretado por Getúlio Vargas em 1937


sobrepôs o papel da família na educação em detrimento do Estado, porém, é
importante pontuar que o texto ora mencionado não excluiu definitivamente o
Estado, mas o apontou como colaborador subsidiário. Tal afirmação está presente
no artigo 125 do referido texto legal que aduz:

Art. 125 – A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito


natural dos pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando,
de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a sua execução ou suprir
as deficiências e lacunas da educação particular. (grifo meu)10

Vale também mencionar que em 1940, três anos após a decretação da CF/37
o código penal pelo decreto-lei n. 2.848 tipificou o crime de abandono intelectual
para os pais que sem justa causa deixam de prover instrução primaria para os filhos.

8 CHRIST, Mara Vicelle Ruviaro. O Ensino Domiciliar No Brasil, Estado, Escola E Família.
Disponível em: <https://www.aned.org.br/images/TrabalhosAcademicos/CHRIST_O-ENSINO-
DOMICILIAR-NO-BRASIL-ESTADO-ESCOLA-E-FAMILIA.pdf>. Acesso em Acesso em: 15 de março
de 2021. p.19
9 CHRIST, Mara Vicelle Ruviaro. O Ensino Domiciliar No Brasil, Estado, Escola E Família.

Disponível em: < https://www.aned.org.br/images/TrabalhosAcademicos/CHRIST_O-ENSINO-


DOMICILIAR-NO-BRASIL-ESTADO-ESCOLA-E-FAMILIA.pdf >. Acesso em Acesso em: 15 de março
de 2021. p. 24.
10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de

1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>. Acesso


em 06 de maio de 2021
7

Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho
em idade escolar:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês ou multa. 11

Destaca-se que na ocasião em que esse decreto lei entrou em vigência era
plenamente lícito, reconhecido e aceito o ensino domiciliar pelo estado conforme já
mencionado nas Constituições que o antecederam. O decreto lei acima referido
tornou cristalino que o ensino era obrigatório sendo ele nas residências ou na
escola, exatamente como previam as cartas magnas à época, não fazendo,
portanto, nenhuma objeção ou ressalva ao mencionado no texto constitucional.
A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, em 1946, posterior ao Código
Penal, manteve a ideia do ensino domiciliar como uma opção ao pais para
provimento da educação aos filhos.

“Art. 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.


Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana. ” (Grifo meu)12

A família tem prioridade no que diz respeito à educação dos filhos em todas
as Constituições mencionadas acima, 1934, 1937 e 1946. O que ambas apontam,
portanto, é a obrigatoriedade do ensino primário a todos. Porém, como se dará esse
ensino fica a critério da família, haja vista que a educação era tida como dever e
direito natural dos pais.
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei 4024/61
também previa a possibilidade de o ensino primário ser ministrado no lar. Dita lei
apontou a família como tendo primazia na responsabilidade pela oferta da educação.
O artigo 2º da referida lei assim menciona:

Art. 2º - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.


Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação que
deve
dar a seus filhos. (grifo meu)13

11BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:< https://presrepublica.jusbrasil.c


om.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40#art-246>. Acesso em 06 de maio de 2021
12 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, de 05 de outubro de 1988.

Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/


constituicao46.htm>. Acesso em 06 de maio de 2021.
13BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm>. Acesso em 06 de


maio de 2021.
8

Corroborando a isso, o artigo 30 da mesma lei assim aduz:

Art. 30 - Não poderá exercer função pública, nem ocupar emprego em


sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço
público o pai de família ou responsável por criança em idade escolar sem
fazer prova de matrícula desta, em estabelecimento de ensino, ou de que
lhe está sendo ministrada educação no lar. (grifo meu)14

Na constituição de 1967, manteve-se a ideia da responsabilidade dos pais


quanto ao ensino dos filhos, mudando apenas o período de escolarização obrigatória
que passa a ter a duração de oito anos.

Art. 168- “A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola;


assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da
unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§ 3º - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
(...)
II - O ensino dos sete aos quatorze anos é obrigatório para todos e gratuito
nos estabelecimentos primários oficiais;” (grifo meu)15

O mesmo viés é notado na Constituição e de 1969 em seu artigo 176 que


continua afirmando que a educação é direito de todos e dever do Estado, devendo
ser dada no lar e na escola, nota-se, portanto, que, ainda em meados dos anos 70,
havia a interpretação de que a educação dos filhos em ambiente doméstico era
plenamente possível.

Cury (2006, p.672) assim se posiciona: A legislação brasileira, ao tornar o


ensino fundamental obrigatório para todos desde 1934 até 1988, não impôs,
nesse período, que, forçosamente, ele se desse em instituições escolares. 16

3.2 - Histórico Legal Após A Constituição Federal De 1988

14BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L4024.htm>. Acesso em 06 de
maio de 2021.
15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, de 05 de outubro de 1988.

Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitu


icao/constituicao67.htm>. Acesso em 06 de maio de 2021.
16 CHRIST, Mara Vicelle Ruviaro. O Ensino Domiciliar No Brasil, Estado, Escola E Família.

Disponível em: <https://www.aned.org.br/images/TrabalhosAcademicos/CHRIST_O-ENSINO-


DOMICILIAR-NO-BRASIL-ESTADO-ESCOLA-E-FAMILIA.pdf>. Acesso em Acesso em: 15 de março
de 2021. p.25.
9

A Constituição Federal de 1988 trata de maneira especialmente ampla e


detalhada o direito a educação. É possível notar de maneira cristalina o cuidado do
constituinte ao elencar cada texto relacionado ao referido tema.
Diferente das Constituições que a antecederam, a CF/88 possui uma seção
que trata de maneira especifica da educação. No capítulo III, seção I estão
elencados os artigos que abordam o assunto. Da mesma forma, vários outros
tratados de direitos humanos garantem o direito a educação. Existem ainda duas leis
que que dispõem de maneira minuciosa sobre o direito a educação, a saber: a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) e o
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 1990).
O artigo 205 da CF/88 estabelece duas instituições que são responsáveis por
prover o direito a educação: o Estado e a família. Paralelo a essas duas, a
sociedade ficou a cabo de incentivar e promover a educação.
Surpreendentemente, o art. 208 da CF ao apontar o dever do estado na
educação o faz de maneira clara e detalhada, entretanto, quando se trata do dever
da família para com a educação não há nenhum dispositivo que o determine. Vale
mencionar ainda, que sendo a educação um dever tanto da família quanto do
Estado, não ficou definido de maneira expressa as relações entre uma instituição e
outra no que se diz respeito ao provimento do serviço.
A despeito dessas lacunas, é preciso ressaltar a indiscutível existência do
dever da família de prover educação, que se sobrepõe inclusive às escolas
particulares, as quais, como integrantes da sociedade, têm apenas a função de
promover e incentivar, mas não de realizar o processo educacional. Portanto, uma
primeira conclusão se impõe: a chamada educação domiciliar não é, a rigor, um
direito da família ou dos pais, mas um dever que não pode ser descumprido, sob
pena de perda ou suspensão do poder familiar. Como consequência, não é legítima
a total delegação da educação dos filhos à escola, como infelizmente é o desejo de
várias famílias.17
As especificações sobre como, quando, quem e onde a educação deve ser
ministrada só sugiram a partir da Constituição da 1988 quando leis como o Estatuto

17Magno Fernandes Moreira, Alexandre. O direito à educação domiciliar (p. 170). Monergismo.
Edição do Kindle.
10

da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional (LDB) de 1996 vieram discorrer sobre o tema educação. A
possibilidade de educação no lar deixou de possuir essa clareza a partir dessas leis,
que fizeram surgir com base em seus artigos uma alternativa interpretativa do que
se tinha como certo nas Constituições anteriores.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tanto quanto o Estatuto da
Criança e do Adolescente trazem de forma explicita a obrigatoriedade dos pais em
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino, “Art. 55: Os pais ou
responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino (Estatuto da Criança e do Adolescente)” (grifo meu)18
O mesmo diploma legal prossegue nesses termos: “Art. 129. São medidas
aplicáveis aos pais ou responsável:(...) V - Obrigação de matricular o filho ou pupilo
e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;” (grifo meu)19
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assim menciona em seu
art.1º §1º: “Esta lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,
predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. ” (grifo meu)20
Torna-se também necessário ponderar o que estabelece o art.6º da referida
lei: “Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na
educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade. ” 21
Percebe-se, portanto, que esse dever/obrigação dos pais de matricularem
seus filhos ou pupilos em instituições próprias surgiu apenas após Constituição de
1988, dever este que não encontra fundamentos nas Constituições anteriores.

4. DA NECESSIDA DE REGULAMENTAÇÃO DO ENSINO DOMICILIAR E


REFLEXOS DA PANDEMIA DO COVID-19

18 BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 16 jul. 1990. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 14
de maio de 2021.
19BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 14
de maio de 2021.
20BRASIL. Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 14 de maio de 2021.


21 BRASIL. Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 14 de maio de 2021.


11

No Brasil não há uma legislação que garanta ou regulamente de maneira


expressa a prática da educação domiciliar, de igual modo, inexiste base legislativa e
constitucional para negar ou criminalizar a referida prática.
Em 12 de setembro de 2018 o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF)
negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 888815, com repercussão geral
reconhecida, no qual se discutia a possibilidade de o ensino domiciliar
(homeschooling) ser considerado como meio lícito de cumprimento, pela família, do
dever de prover educação.
Em suma o STF decidiu que:
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. O texto
constitucional apesar de não o prever expressamente, não proíbe o ensino
domiciliar.
A Constituição Federal de 1988 não veda de forma absoluta o ensino
domiciliar em territorio brasileiro, contudo, inúmeras famílias que desejam praticar o
ensino domiciliar encontram dificuldades para exercerem esse modelo educacional,
tendo em vista a falta de regulamentação do referido tema no ordenamento jurídico,
não há nenhuma lei especifica que garanta às familias o direito de prover educação
aos filhos em ambiente domiciliar.
O escritor e juiz de direito Otton Lustosa assim pontua: “Sabe-se que a lei,
por excelência, é a fonte do Direito... Mas o Direito, também, nasce do costume, que
nada mais é senão as práticas e usos comuns do povo.”22
Percebe-se apartir da citação acima mencionada que embora não haja a
regulamentação devida no nosso ordenamento jurídico não ha que se falar na
inexistencia do direito dessas familias uma vez que a pratica do ensino domiciliar é
crescente e cada dia mais usual entre as familias brasileiras.
Apesar da não vedação absoluta e do diversos projetos de lei, no Brasil
diversas familias que optam por ensinar seus filhos em casa, constantemente são
denunciadas e processadas por abandono intelectual, correndo risco de perderem
até a guarda dos filhos enquanto o mesmo não acontece com os pais que de fato os
filhos evadiram da escola.

22LUSTOSA, Oton. A lei, o costume, o Direito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina,
ano 6, n. 51, 1 out. 2001. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/2113>. Acesso em 05 de maio de
2021.
12

Tem-se por certo o atraso na contemplação do direito das familias que


desejam com segurança juridica e responsabilidade educarem seus filhos ou
responsaveis em ambiente desescolarizado com a falta de legislação que
regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino.
O ministro Alexandre de Morais ao analisar o tema assim aduziu:

A Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino domiciliar, mas


proíbe qualquer de suas espécies que não respeite o dever de solidariedade
entre a família e o Estado como núcleo principal à formação educacional
das crianças, jovens e adolescentes. 23

O ministro ainda salienta:

A Carta elevou a educação ao patamar de direito constitucional. Não está


vedada, pela Constituição, a criação legal de estratégias alternativas ao
ensino escolar, desde que resguardado o projeto constitucional de
socialização e formação plena do educando. Novas formas de
escolarização, meios de aferição da frequência escolar e outras variáveis do
padrão pedagógico de ensino devem ser autorizados pelo Poder Legislativo.
24

Vale salientar, entretanto, que o que se busca atraves do ensino domiciliar


não é a extinção das escolas mas que se cumpra o dever de solidariedade entre
familia e Estado conforme o que se estabelece no texto Constitucional, o que é
inconcebivel é que se perceba a escola como o único e pricipal ambiente provedor
de educação para crianças e adolescentes.
A Constituição Federal aponta como principio do ensino a liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e de divulgar o pensamento, como também a arte e o
saber. ( art 206, inc. II ) é com base nessa liberdade que é possivel assegurar a
existencia não apenas da educação tradicional, centralizada na instituição escolar
mas de outras inumeras modalidades e alternativas de educação dentre elas o
ensino domiciliar.
Desde que a familia cumpra o dever de educar, o Estado não deve impor à

23 RECURSO EXTRAORDINÁRIO 888.815 RIO GRANDE DO SUL. Disponível em:


<http://www.stf.ju
s.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF>. Acesso em: 5 de maio 2021.
24 RECURSO EXTRAORDINÁRIO 888.815 RIO GRANDE DO SUL. Disponível em: <http://www.stf.ju

s.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF>. Acesso em: 5 maio 2021.


13

familia a obrigatoriedade de que tal dever seja realizado através de determinado


sistema educacional, nesse caso, a educação de forma escolarizada.
É inegavel a inexistencia de um clamor social para a regulamentação do
ensino domiciliar em territorio Brasileiro e garantir na legislação ordinária essa
alternativa é reconhecer o direito de opção das famílias com relação ao exercício da
responsabilidade educacional para com os filhos.

4.1 Da necessidade do ensino domiciliar em tempos de pandemia

No dia 18 de março de 2021 completou-se exatos um ano que as escolas


estão fechadas em todo territorio nacional brasileiro devido a pandemia de COVID-
19. Segundo a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, o
fechamento das escolas durante a pandemia de COVID-19 poderá ter impacto
profundo e de longa duração – cerca de 15 anos – sobre a economia brasileira.
Segundo a secretaria, o impacto será sentido no Produto Interno Bruto (PIB,
soma de todas os bens e riquezas produzidos no país), no aprendizado e
produtividade do trabalho e no aumento na desigualdade social, já que o acesso ao
ensino remoto, ofertado em substituição às aulas presenciais, é distinto, de acordo
com as faixas de renda da população.
A secretaria aponta que os efeitos da atual crise podem se estender até o
final de 2022, resultando em um prejuizo de tres anos na educação de uma grande
parcela da população que hoje tem entre 5 a 20 anos, ou seja, em idade escolar.25
É de facil constatação o enorme prejuizo para as familias no que se refere a
área educacional no atual cenário (principalmente as mais pobres). Isso se deve ao
fato de suas crianças e adolescente estarem sendo prejudicados e tendo seu direito
constitucional (educação) tolhido pelo Estado, tudo isso porque atribuiu-se a
obrigação de prover educação às escolas em detrimento das familias. atribuição
essa que tem gerado enorme prejuizo em tempos de pandemia.
Decerto, a pandemia da COVID-19 demostrou o despreparo do Estado em
relação a educação no país, demonstrando ainda mais a necessidade de que seja
respeitada a autonomia familiar de maneira que não estejam cem por cento

25Boletim Macrofiscal - Março de 2021. Disponível em:<https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-


de-conteudo/publicacoes/boletins/boletim-macrofiscal/2021/boletim-macrofiscal-marco-
2021.pdf/view>. Acesso em 05 de maio de 2021.
14

dependente do estado.
Há 27 anos, projetos de lei são apresentados para exigir a legalização do
ensino domiciliar no Brasil. Caso houvesse sido implementado desde os primeiros
projetos de lei, o ensino domiciliar certamente teria diminuido sobremaneira os
empactos da COVID-19 na educação e no aprendizado dos alunos. Tendo em vista
que grande partes das familias conseguiriam continuar seu calendario escolar sem
sofrer nenhum ônus quanto a ministração de suas aulas, e haveria uma outra
alternativa segura para as familias que desejassem ingressar à modalidade. o que
se percebe é que o enorme prejuizo com a morosidade na regulamentação dessa
modalidade de ensino desagua de maneira custosa sobre as familas em tempos de
pandemia.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

É possivel concluir que o ensino domiciliar pode vir a ser uma opção à
modernização e progresso da educação e da sociedade, servindo ao povo e
cumprindo a finalidade constitucional proposta. Quer seja por razões práticas ou
quer seja por razões objetivadas, as familias podem escolher a modalidade escolar
para a educação de seus filhos da mesma forma, o ensino domiciliar. O que se
busca portanto, é garantir o a autonomia familiar em relaçao a garantia de seu direito
de decisão sobre qual modelo se adequa da melhor forma a cada realidade familiar
especificamente.
O presente estudo teceu considerações não apenas jurídicas mas também
sociais sobre o ensino domiciliar, ensino este que abdica da frequência compulsória
à escola ou seja, ao prédio escolar, sem negar entretanto a escola enquanto
instituição válida para aqueles que desejam. No aspecto doméstico, posicionou-se
pela tese que reconhece que a legislação positiva do país já é bastante para
assegurar a prática em comento.
O Projeto de Lei (PL) 3.179 de 2012, de autoria do deputado federal Lincoln
Portella tratando sobre o tema, está às vias de receber um parecer favoravel da
deputada Luísa Canziani (PTB-PR). A deputada assim se posicionou em relaçao ao
tema em comendo: "Apenas em estados totalitários a educação é reservada
exclusivamente ao Estado, excluindo o papel da família. Precisamos clarear o tema",
15

afirma a deputada. ”26


Embora tenha sido posto em pauta prioritária na agenda do governo, até a
conclusão desse trabalho não houve regulamentação nem um parecer definitivo do
ensino domiciliar.

26O Projeto de Lei (PL) 3.179 de 2012. Disponível em: < https://www.aned.org.br/images/Juridico/
Posicionamento_da_ANED_e_Sugestoes_de_Alteracao_ao_Substitutivo_ao_PL3179_2012docx_-
_Documentos_Google.pdf>. Acesso em 05 de maio de 2021.
16

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https:<//www.aned.org.br/conheca/ed-no-brasil>. Acesso em: 10 de março de 2021.

ANDRADE, Édson Prado. A educação desescolarizada como um direito da


criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação do
direito a educação. 2014. Disponível em https:<//www.teses.usp.br/teses
/disponiveis/48/48134/tde10112014111617/publico/EDISON_PRADO_DE_ANDRAD
E_rev.pdf>. Acesso em 15 de março de 2021.

BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/l
eis/L4024.htm>. Acesso em 06 de maio de 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, de 05 de


outubro de 1988. Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.go
v.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>. Acesso em 06 de maio de 2021.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança


e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
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BRASIL. Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 14
de maio de 2021.

Boletim Macrofiscal - Março de 2021. Disponível


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CHRIST, Mara Vicelle Ruviaro. O Ensino Domiciliar No Brasil, Estado, Escola E


Família. Disponível em: <https://www.aned.org.br/images/TrabalhosAcademicos/CH
RIST_O-ENSINO-DOMICILIAR-NO-BRASIL-ESTADO-ESCOLA-E-FAMILIA.pdf>.
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17

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https://jus.com.br/artig
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Monergismo. Edição do Kindle.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 888.815 RIO GRANDE DO SUL. Disponível em:


<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF>.
Acesso em: 5 maio 2021.

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