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ANATOMIA I
Rafael Barão
Monitor de Anatomia I e II
3ª Edição - Ano lectivo 2018/2019
1
Nota Introdutória
O Adolfo, depois de várias décadas a assistir às aulas teóricas de Anatomia, está pronto para
ensinar os incautos caloiros. Ávido escritor e inabalável pedagogo, vê-se, no entanto,
fisicamente incapaz de escrever por sua própria mão. Como tal, serviu-se de um solícito
quinto-anista para criar estes resumos, que nascem da necessidade de preencher um vazio
no canon anatómico da FMUC: um material de estudo, adequadamente conciso e
sistematizado (sebentiforme), que garanta o sucesso anatómico sem colocar em causa a
integridade das pestanas e da psyche do estimado colega.
Estes resumos não pretendem ser um manual de estudo. Pretendem sim, ser um humilde
resumo dos pontos-chave da anatomia – contando com informação compilada a partir dos
principais textos anatómicos disponíveis – sem, no entanto, dispensar a consulta dos manuais
recomendados pela Regência para uma explicação mais completa.
Naturalmente que, tendo em conta que um estudante de Medicina na UC não tem – nem
deve ter! – tempo para ler (todos) os manuais recomendados pelas regências, estes resumos
podem ser uma mais-valia para os mais atarefados, tunantes ou ociosos.
A expectativa d’O Adolfo e do seu servo dactilógrafo é que estes resumos ajudem a guiar,
sistematizar, e aprofundar o estudo da Anatomia Normal (e, ocasionalmente, da Patológica),
necessitando sempre do uso de um Atlas em paralelo, uma vez que a transposição de
demasiadas imagens para estes resumos encareceriam os mesmos e emagreceriam a carteira
do estimado colega. As imagens que, apesar do suprarreferido, foram integradas nestes
resumos são as que, sendo oriundas de outros Atlas, podem adicionar informação à já
disponível, com o cuidado de não serem redundantes relativamente às presentes no Atlas
obrigatório, o Netter.
Para terminar, é fundamental avisar que, em momento algum, estes resumos deverão servir
como fonte de contradição ou disputa – por mais fidedignas que sejam as fontes
bibliográficas em que se baseiam (mesmo estas divergem umas das outras) – face ao que é
dito em sede de aula pelos Docentes da cadeira. Estes últimos são e serão, sempre,
soberanos. Afinal de contas, O Adolfo não mais é que um ossudo espectador pré-graduado.
Do vosso colega,
Rafael Correia Barão
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Bibliografia usada e recomendada
Atlas de imagens:
• Netter, Frank H., Atlas of Human Anatomy, 6ªEd., Elsevier 2014;
o O atlas mais completo e student-friendly: indispensável
o Todas as remissões para páginas do Netter referem-se à sua 6ª edição, a mais actualizada
• Paulsen, F. & Waschke, J., Sobotta Atlas of Human Anatomy, 15ª Ed., Vol. 1-3, Urban & Fischer 2011;
o Vantagem em relação ao Netter: tem imagens mais realistas, artisticamente mais apelativas, caixas de
texto explicativas, notas clínicas e imagens de variações anatómicas
o Desvantagem: tem as legendas em latim e não costuma ser usado nos testes práticos
• Feneis, H. & Dauber, W., Pocket Atlas of Human Anatomy, 4ª Ed., Thieme 2000
o O livro ideal para esclarecer dúvidas sobre a nomenclatura anatómica actual
o Particularmente importante na Osteologia, Artrologia, Miologia e Angiologia
o Apresenta apenas imagens, muito detalhadas, a preto e branco, com legendas explicativas
Multimédia
• Vídeos do Acland’s DVD of Human Anatomy (disponíveis no youtube e outros locais)
• http://www.anatomyzone.com
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Olá, esta página é para ti, que não tiveste paciência para ler a nota introdutória.
ESTES APONTAMENTOS
DEVEM SER ESTUDADOS
COM O NETTER ABERTO
Cada tópico tem à frente a referência da(s) página(s) relevantes do Netter que deves
perscrutar para compreender a anatomia, não só decorar.
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Índice
• Descrição anatómica……………………………………………………………………………………………………….pg. 6
• Anatomia topográfica………………………………….………………………………………………………………….pg. 9
• Osteologia…………………………………………………………….………………………………………………………..pg. 11
o Coluna vertebral………………………………………………………….………………………………………pg. 11
o Tórax…………………………………………………………………………………………………………………..pg. 16
o Pélvis…………………………………………………………………………………………………………………..pg. 20
o Hióide……………………………………………………………………….…………………………………………pg. 22
• Artrologia……………………………………………………………………………………………………………………….pg. 23
o Coluna vertebral…………………………………………………………….……………………………………pg. 24
o Pélvis…………………………………………………………….…………………………………………………….pg. 30
o Tórax…………………………………………………………………………………………………………………..pg. 34
• Miologia…………………………………………………………………………………………………………………..…….pg. 37
o Pescoço……………………………………………………………………………………………………………….pg. 37
o Dorso…………………………………………………………………………………………………….…………….pg. 45
o Tórax…………………………………………………………….…………………………………………………….pg. 49
o Abdómen…………………………………………………………………………………………………………….pg. 55
• Artérias, Veias e Linfáticos………………………………………………………………………………………………pg. 65
o Artérias……………………………………………………………………………………………………………….pg. 65
o Veias…………………………………………………………….……………………………………………………..pg. 78
o Linfáticos……………………………………………………………………………………………………………..pg. 83
• Nervos…………………………………………………………….………………………………………………………………pg. 90
o Medula espinhal………………………………………………………………………………………………….pg. 91
o Sistema nervoso somático……………………………………………………………………………….….pg. 95
o Sistema nervoso autónomo………………………………………………………………………..……….pg. 98
• Mama………………………………….………………………………………………………………………………………….pg. 107
• Tiróide…………………………………………………………………………………………………………………………….pg. 110
• Mediastino………………………………….………………………………………………………………………………….pg. 112
• Timo………………………………….……………………………………………………………………………………………pg. 114
• Coração e Pericárdio……………………………………………………………………………………………………….pg. 115
• Sistema respiratório………………………………….……………………………………………………………………pg. 133
o Laringe………………………………….…………………………………………………………………………….pg. 133
o Árvore tráqueo-brônquica…………………………………………………………………………………..pg. 138
o Pulmões………………………………….…………………………………………………………………………..pg. 140
• Sistema digestivo………………………………….………………………………………………………………………..pg. 147
o Esófago………………………………….…………………………………………………………………………….pg. 147
o Estômago………………………………….………………………………….……………………………………..pg. 151
o Intestino delgado…………………….………………………………….……………………………………….pg. 156
o Intestino grosso………………………………….………………….………………………………….………..pg. 162
• Órgãos anexos ao tubo digestivo………………………………….………………………………………………….pg. 180
o Fígado………………………………….………………….………………………………….……………………….pg. 180
o Vias biliares………………………………….………………………….………………….………………………pg. 189
o Pâncreas………………………………….………………………….………………….…………………………..pg. 193
• Baço………………………………….………………………….………………….…………………………………………….pg. 198
• Glândulas suprarrenais………………………………….………………………….………………….………………..pg. 201
• Peritoneu…………………………………………………………….………………….……………………………………..pg. 202
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Descrição anatómica e o papel da linguagem
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in Gray
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in Sobotta
Anatomia topográfica
Pescoço: a topografia cervical está suficientemente descrita no capítulo de Miologia (ver Triângulos do pescoço)
Tórax (NETTER pp. 152 e 178)
• Região esternal: entre a incisura jugular e o p. xifóide, limitada lateralmente pelas Art. esternoclavicular e
esterno-condrais e relacionando-se profundamente com a pleura parietal e M. transverso do tórax
• Região dorsal: entre os p. espinhosos de C7 e T12, limitada lateralmente pelos ângulos posteriores da costelas
e relacionando-se profundamente com os M. das goteiras vertebrais e coluna vertebral
• Região costal: entre o bordo externo da 1ª costela e o rebordo costal (linha que pate do p. xifóide, acompanha
o bordo inferior das c. costais e costelas até à ext. anterior da 12ª costela e se continua pelo seu bordo inferior),
limitada anteriormente pelas Art. esterno-condrais e posteriormente pelos ângulos das costelas,
relacionando-se profundamente com a pleura parietal e o diafragma
• Região mamária: verticalmente entre as 3ª e 7ª costelas e, transversalmente entre o bordo lateral do esterno
e a linha médio-axilar, relacionando-se profundamente com a fáscia do M. grande peitoral
• Parede posterior ou região lombar: entre o p. espinhoso de T12 e a base do sacro e uma linha que parte desta
até à espinha ilíaca póstero-superior, limitada lateralmente pelo bordo lateral do erector da espinha,
relacionando-se profundamente com a aponevrose do erector da espinha e a coluna vertebral lombar
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in Sobotta
Osteologia
Considerações gerais: um osso é descrito consoante o seu tipo, sua direcção, as suas saliências e cavidades
• Tipo:
o Um osso longo tem uma dimensão claramente maior que as outras duas (ex: fémur ou clavícula)
▪ As epífises são as extremidades, a diáfise é o corpo e as metáfises estão entre as duas
o Um osso curto tem dimensões semelhantes (ex: cubóide ou calcâneo)
o Um osso chato tem duas dimensões claramente maiores que a que resta (ex: escápula ou o esterno)
o Um osso arqueado descreve uma curva acentuada (ex: a mandíbula ou o hióide)
o Um osso pneumático tem cavidades com ar (ex: o frontal ou o temporal)
• Direcção: é descrita isoladamente e em relação à posição anatómica
o Absoluta: rectilíneo, curvo, S, em gancho, etc.
o Relativa: vertical, horizontal ou oblíquo em relação ao restante esqueleto
• Saliências ou eminências: podem ser articulares ou não-articulares, e dentro destas últimas temos
o Processos são longos e proeminentes
o Tuberosidades são irregulares e pouco proeminentes
o Bossas são elevações largas
• Cavidades: podem ser articulares ou não-articulares, e estas últimas pode ser de
o Inserção de músculos
o Recepção de tendões (os sulcos) ou órgãos (as fossas)
o Amplificação (amplificam som e aquecem o ar): seios peri-nasais e as células mastoideias
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C7 é uma vértebra com características de transição entre a coluna cervical e torácica, tendo particularidades:
• O corpo pode apresentar, lateralmente, uma semi-faceta articular para a 1ª costela
• Os processos transversos são maiores e monotuberculados
• O foramen transversário é pequeno, sendo atravessado pela V. vertebral e não pela A. vertebral
• O processo espinhoso não é bífido e é muito saliente, dando o nome de vertebra prominens a C7
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Sacro (NETTER p. 157): “fusão” de 5 vértebras, por ossificação dos discos intervertebrais
• Forma de pirâmide de base superior e ápex inferior
• Face anterior, côncava longitudinal e transversalmente, formada por:
o Corpos vertebrais, separados por 4 linhas transversais, correspondentes aos discos ossificados
Medial o 8 foramina sagrados anteriores, correspondentes aos foramina intervertebrais
a lateral ▪ Situados nos extremos de cada linha transversal correspondente aos discos ossificados
▪ Atravessados pelos ramos ventrais dos nervos espinhais
o 2 sulcos transversos (de superior a inferior), são a concavidade da parte lateral do sacro
• Face posterior, convexa e irregular, formada por:
o Crista sagrada mediana, corresponde aos processos espinhosos, termina no hiato sagrado
▪ Apresenta 3 ou 4 tubérculos espinhosos, intercalados por depressões
Medial o Sulco sagrado, formado pela união das lâminas
a lateral o 2 cristas sagradas intermédias, correspondem aos processos articulares fundidos
▪ Termina continuando-se com os cornos do sacro, que limitam lateralmente o hiato sagrado
o 8 foramina sagrados posteriores, correspondem aos foramina intervertebrais
o 2 cristas sagradas laterais, correspondem aos processos transversos fundidos
▪ Cada processo transverso sagrado bifurca-se em porções semi-transversas ascendente e
descendente, sendo que o encontro de consecutivas formam os tubérculos conjugados
• Faces laterais formadas por:
Segmento o Face auricular: superfície articular com forma de pavilhão auricular, para o osso coxal
superior o Tuberosidade sagrada ou fossas crivosas, situada entre a face auricular e a crista sagrada lateral, é
rugosa para inserção de ligamentos sacroilíacos interósseos
o Segmento inferior: não articular, formando um bordo grosso e rugoso que dá inserção aos ligamentos
sacrotuberoso e sacroespinhoso
• Base formada por:
o Face superior do corpo de S1, reniforme e saliente anteriormente, formando o promontório
o Foramen superior do canal sagrado (foramen vertebral de S1), de forma triangular
o Asas do sacro, superfícies lisas e triangulares de base lateral
▪ Correspondem aos processos transversos e elementos costais de S1
▪ Separadas da face anterior do sacro pela linea terminalis, um limite da pélvis menor
▪ A sua porção posterior e saliente superiormente é o processo transverso do Sacro
o Processos articulares do sacro (correspondem aos p. articulares superiores de S1)
▪ Superfície articular orientada póstero-medialmente
A Base do Sacro
in Sobotta
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• Ápex formado por:
o Hiato sagrado, abertura inferior do canal sagrado, está ao nível de S3-S4
▪ Delimitado lateralmente pelos cornos e superiormente pela crista sagrada média
o Faceta articular oval para a base do cóccix
o 2 cornos sagrados, formados pela continuação inferior das cristas sagradas intermédias
• Canal sagrado é um prisma triangular de base superior que se torna aplanado inferiormente
o Abertura superior é o foramen vertebral de S1, e a inferior é o hiato sagrado
o Contínuo com os canais intervertebrais, que se bifurcam e abrem nos foramina sagrados anteriores e
posteriores, conduzindo os ramos ventrais e dorsais, respectivamente, dos N. espinhais sagrados
Nota clínica:
A doença de Scheuermann, uma doença multifactorial, é causa frequente de hipercifose dolorosa (“corcunda”), mais comum
em adolescentes do sexo masculino, na qual há uma ossificação anormal das vértebras torácicas e lombares superiores, cujo
corpo adquire a forma de cunha. A doença de Baastrup, mais comum nos idosos, é uma causa comum de dor lombar, que se
caracteriza por excessivo contacto entre os processos espinhosos adjacentes, que ao fazerem “fricção” uns nos outros,
resultam em alterações de esclerose e hipertrofia óssea e inflamação local. A dor resultante agrava em extensão (processos
espinhosos aproximam-se) e melhora em flexão (processos espinhosos afastam-se). A osteoporose é uma doença (novamente,
multifactorial) qualitativa e não quantitativa do osso, em que o osso trabecular se torna mais poroso por excesso relativo de
reabsorção óssea, perdendo resistência. É mais comum em mulheres após os 50 anos e homens após os 70. Os estrogénios
(protectores) e a regulação do metabolismo fosfocálcico (pela vitamina D, pelo rim, pela hormona paratiróide) participam na
fisiopatologia. As complicações desta doença incluem fracturas vertebrais, fracturas distais do rádio e do colo do fémur, sendo
estas últimas dramáticas, uma vez que, em doentes idosos, acarretam uma taxa de mortalidade de cerca de 25% no primeiro
ano após a fractura.
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Nota clínica:
A espinha bífida é uma malformação que ocorre em 10% dos indivíduos, em que um arco vertebral não encerra na linha média
(normalmente em L5 ou S1) e, assim, o canal vertebral fica aberto posteriormente. A maioria dos casos são assintomáticos e
pode-se observar um tufo de pelos sobre os processos espinhosos (a pele, os pêlos, o arco vertebral e o SNC são todos derivados
ectodérmicos). Em alguns doentes forma-se uma evaginação das meninges que pode conter apenas líquido cérebro-espinhal,
sendo um meningocelo, ou pode conter medula espinhal, formando um mielomeningocelo. Sintomas comuns são alterações
da marcha e da continência urinária.
Nota clínica: O esterno pode apresentar deformações esqueléticas do tipo pectus carinatum (procidente
anteriormente, lembrando a quilha das aves) ou pectus excavatum (forma escavação podendo comprimir o coração).
Cada uma pode ocorrer isoladamente ou estar associadas a mutações genéticas como na S. Marfan, S. Ehlers-Danlos e
cromossomopatias.
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in Gray
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Curvaturas (3):
• Segundo as faces: face interna côncava e face externa convexa, condicionando o ângulo da costela
o A porção da costela posterior ao ângulo dirige-se ínfero-lateralmente
o A porção da costela anterior ao ângulo dirige-se ântero-inferiormente e depois ântero-medialmente
o 1ª e 2ª costelas, sendo espalmadas e tendo bordos anterior e posterior, não têm esta curvatura
• Segundo o eixo: curvatura de torção de forma a que a face externa está orientada, na porção posterior,
inferiormente (“olha” para baixo) e, na porção anterior, está orientada superiormente (“olha” para cima)
• Segundo os bordos: condiciona obliquidade da costela, sendo que os bordos têm a forma de um S
o O bordo superior é, posteriormente, côncavo, e anteriormente é ligeiramente convexo
Orientação: as costelas estão inclinadas ântero-inferiormente, sendo que esta inclinação aumenta da 1ª à 12ª
Conformação externa:
• Corpo da costela:
o Face lateral, onde se destaca o ângulo costal (situado 5-6cm anteriormente à tuberosidade),
e face medial, sulcada inferiormente pelo sulco costal
▪ Excepção na 1ª e 2ª costelas, que têm faces superior e inferior
o Bordo superior, rombo, e bordo inferior, delgado e formando o lábio lateral do sulco costal
▪ Excepção na 1ª e 2ª costelas, que têm bordo lateral e medial
o Sulco costal, escavação da porção inferior da face medial, limitado inferiormente pelo bordo inferior
▪ Aloja, de superior para inferior, a veia, artéria e nervo intercostais (VAN)
▪ Excepção na 1ª, 2ª e 12ª costelas, que não têm sulco costal
▪ Nota clínica: Em procedimentos invasivos em que é feita uma punção através da grelha costal
(ex. toracocentese, biópsia pulmonar, biópsia hepática, etc.), é necessário puncionar junto ao
bordo superior de uma costela de forma a evitar lesar o rolo vásculo-nervoso intercostal que passa
no sulco costal, junto ao bordo inferior da costela
• Extremidade posterior:
o Cabeça da costela, que forma um ângulo diedro, apresenta:
▪ 2 facetas articulares, superior e inferior, para as duas semi-facetas dos corpos vertebrais
▪ Crista mediana para articular com disco intervertebral
• Excepção no caso da 1ª, 11ª e 12ª, que têm faceta completa, sem crista mediana
o Colo da costela é a porção estreita entre a cabeça e a tuberosidade
o Tuberosidade da costela que é, na verdade, um tubérculo
▪ A porção mais lateral é rugosa, dá inserção a ligamentos
▪ A porção mais medial apresenta faceta articular que articula com a faceta do p. transverso
▪ Excepção nas 11ª e 12ª costelas, que não têm tuberosidade
• Extremidade anterior: faceta articular escavada que recebe a cartilagem costal
o Todas as costelas têm, na sua extremidade anterior, uma cartilagem costal que prolonga a direcção da
costela, sendo as cartilagens das 11ª e 12ª costelas livres (flutuantes) e afiladas
1ª Costela, particularidades:
• Espalmada: tem faces superior e inferior, e bordos lateral e medial
• Face superior apresenta:
o Sulco anterior aloja a V. subclávia
o Sulco posterior aloja a A. subclávia
o Entre os dois sulcos existe o tubérculo (de Lisfranc) do músculo escaleno anterior
o Superfície rugosa anterior dá inserção ao ligamento costo-clavicular e ao M. subclávio
• Face inferior não tem sulco costal, embora se relacione com o rolo vásculo-nervoso costal correspondente
• Cabeça da costela com face articular completa e sem crista mediana
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2ª Costela, particularidades:
• Espalmada (mais oblíqua que a 1ª): tem faces súpero-lateral e ínfero-medial, e bordos lateral e medial
• Face súpero-lateral apresenta tuberosidade para o M. serratus anterior
• Face ínfero-medial sem sulco costal, embora se relacione com o rolo vásculo-nervoso costal correspondente
o O Gray descreve um sulco costal na sua porção posterior muito curto e oblíquo ínfero-lateralmente
M. subclávio
M. escaleno
2
anterior
M. escaleno 2ª costela
médio
1º feixe do M.
serratus anterior
M. escaleno posterior
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Pélvis (osso coxal e aberturas): (NETTER pp. 330 e 473)
Este capítulo está escrito com a profundidade exigida pela Anatomia II. Na Anatomia I, o aluno deverá “apenas” saber os ossos
constituintes, as suas porções e descrever sumariamente as faces e bordos do osso coxal.
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Bordo superior do Osso Coxal (sentido póstero-anterior)
• Espinha ilíaca póstero-superior (EIPS)
• Crista ilíaca:
o Lábios externo (M. Ob. externo), intermédio (M. Ob. interno) e interno (M. transverso abdominal)
o Tubérculo da crista ilíaca: a 5cm da EIAS, perto da união da linha glútea anterior com a crista ilíaca
• Espinha ilíaca ântero-superior (EIAS)
Ângulos: EIAS, EIPS, ângulo do púbis (margem superior da superfície sinfiseal), tuberosidade isquiática
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Vista lateral Vista medial
in Sobotta e Gray
Vista ântero-superior
Classificação articular:
• Sinartroses (assinoviais)
o Fibrosas/sinfibroses (imóveis)
▪ Suturas (dentadas, escamosas, planas e esquindileses)
▪ Gonfoses (alvéolo-dentárias)
▪ Sindesmoses (tecido fibroso interposto, como lig. interósseo)
o Cartilaginosas (movimento restrito)
▪ Sincondroses (tendem a ossificar por sinostose)
▪ Sínfise (com disco entre as cartilagens hialinas)
• Diartroses (sinoviais, móveis)
o Concordantes (sup. articulares congruentes)
▪ Atrodias/Planas
▪ Enartroses/Esféricas
▪ Trocartroses/Cilíndricas
▪ Trocleartroses (Roldana)
▪ Condilartroses/Elipsoideias
▪ Efipiartroses/Selares
o Discordantes (sup. articulares não congruentes)
▪ Meniscartroses (discordância corrigida por menisco)
▪ Heteroartroses (discordância não corrigida)
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Coluna Vertebral (NETTER pp. 159)
(corpos vertebrais, processo articulares, atlanto-axiais, atlanto-occipital, sacro-vertebrais, sacro-coccígea)
in Gray
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Articulações entre processos articulares (ou zigapófises)
Classificação: artrodias (cervicais e torácicas) e condilartroses rudimentares (lombares)
Superfícies articulares: facetas articulares dos p. articulares superiores e inferiores de vértebras consecutivas
• As lombares podem ter estruturas intra-articulares meniscóides ou tecido adiposo sub-capsular
Meios de união
• Cápsula articular: de resistência crescente da coluna cervical até à lombar
• Ligamentos: a cápsula é reforçada, na coluna torácica e lombar, por um ligamento posterior
Membrana sinovial: reveste internamente a cápsula articular
Uniões entre lâminas, processos espinhosos e processos transversos (não são articulações!)
• Lâminas: os ligamentos amarelos (flavum) são pares que existem em cada espaço inter-laminar (C1-S1/2),
inserindo-se no bordo inferior da lâmina de uma vértebra e no bordo superior da lâmina subjacente
o A sua face anterior está separada das meninges por uma fina membrana, vasos e tecido adiposo
o Os seus bordos mediais unem-se na linha média, e os laterais reforçam as cápsulas das zigapófises
o De superior a inferior, a sua largura diminui mas a sua espessura e altura aumentam
o Têm como função principal impedir separação excessiva das lâminas aquando da flexão do tronco
o O seu nome deve-se ao facto de serem constituídos por tecido elástico amarelado
• Processos espinhosos:
o Ligamentos inter-espinhosos: lâminas rectangulares verticais que ocupam o espaço inter-espinhoso
▪ O seu bordo anterior une-se aos ligamentos amarelos
▪ O seu bordo posterior une-se ao ligamento supra-espinhoso
▪ Cervicais: pouco aparentes, substituídos pelo septo mediano do ligamento da nuca
▪ Torácicos: estreitos e alongados, pouco desenvolvidos
▪ Lombares: espessos e duplos emparelhados, separados por uma fenda virtual
• As fibras profundas são verdadeiramente ligamentosas e oblíquas ântero-inferiormente
• As fibras superficiais confundem-se com os tendões do M. longíssimo torácico
o Ligamento supra-espinhoso: cordão fibroso que se insere no vértice dos p. espinhosos de C7 até L4
▪ Acima de C7 continua-se com o ligamento da nuca
▪ Abaixo de L4 confunde-se com fibras do M. latissimus dorsal e aponevrose tóraco-dorsal
▪ Constituído por feixes:
• Superficiais, que se inserem a cada 3-4 vértebras
• Médios, que se inserem a cada 2-3 vértebras
• Profundos, que se inserem em processos espinhosos adjacentes e fundem-se com os
ligamentos inter-espinhosos em cada espaço
• Processos transversos: os ligamentos inter-transversários unem p. transversos consecutivos de cada lado
o Cervicais: não aparentes, estão substituídos pelos músculos inter-transversários
o Torácicos: cordões fibrosos que unem os vértices de processos transversos consecutivos
o Lombares: mais desenvolvidos, unem os processos acessórios de p. transversos consecutivos
• O ligamento mamilo-acessório une os processos mamilares aos processos acessórios da mesma vértebra e
dá passagem, inferiormente, ao ramo dorsal do nervo espinhal; este ligamento pode ossificar
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Articulações entre a cabeça, Atlas e Áxis (NETTER pp. 21-23)
Articulação Atlanto-axial lateral (propriamente dita)
Classificação: heteroartrose
Superfícies articulares: as faces articulares inferiores do Atlas e as faces articulares superiores do Áxis
• As superfícies articulares, no osso fresco, devido ao seu revestimento de cartilagem hialina, são ambas
convexas, o que as torna discordantes/incongruentes, determinando a classificação de heteroartrose
Meios de união:
• Cápsula articular: é laxa, permitindo movimentos amplos, e está reforçada pelo:
o Lig. Atlanto-axial acessório (de Arnold), medial à cápsula articular, parte desde as massas laterais do
Atlas até à face posterior do corpo do Áxis (base do dente)
• Lig. Atlanto-axial anterior: membrana fibrosa, grossa na linha média e delgada lateralmente
o Inserção atlantoideia: na margem inferior do arco anterior do Atlas
o Inserção axial: na face anterior do corpo do Áxis
o Situa-se num plano posterior ao ligamento longitudinal anterior
o Lateralmente funde-se e reforça as cápsulas articulares atlanto-axiais
• Lig. Atlanto-axial posterior: membrana delgada e laxa
o Inserção atlantoideia: na margem inferior do arco posterior do Atlas
o Inserção axial: na margem superior das lâminas e base do processo espinhoso do Áxis
o Lateralmente é atravessado pelo 2º nervo espinhal (C2)
• Lig. longitudinal anterior: previamente descrito
Membrana sinovial: reveste a cápsula articular e é laxa
• Pode comunicar com a sinovial entre o dente e o ligamento transverso
Membrana sinovial: reveste interiormente cada cápsula articular, embora possam comunicar uma com a outra e a
sinovial da trocartrose posterior pode comunicar com a sinovial das Art. atlanto-axial laterais e atlanto-occipital
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Ligamento de Arnold
in Gray
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Articulação Atlanto-occipital
Classificação: bicondilartrose
Superfícies articulares: os côndilos occipitais e as faces articulares superiores das massas laterais do Atlas
• Os côndilos occipitais são convexos, elípticos e orientam-se ínfero-lateralmente
• As faces articulares superiores do Atlas são côncavas, elípticas e orientam-se súpero-lateralmente
• Ambas as superfícies articulares podem apresentar um estreitamento médio ou mesmo serem septadas
Meios de união:
• Cápsula articular: insere-se em redor das cartilagens articulares, é laxa ântero-medialmente, sendo reforçada
póstero-lateralmente pelos ligamentos atlanto-occipitais laterais
•
Ligamento ou membrana atlanto-occipital anterior (MAOA): duas lâminas paralelas e verticais
o Inserções: bordo anterior do foramen magno e no bordo superior do arco anterior do Atlas
o A lâmina profunda é posterior, delgada, e funde-se lateralmente com as cápsulas articulares
MAOA o A lâmina superficial é anterior, espessa, e apresenta reforços:
▪ Anterior: por um feixe grosso que se estende ao tubérculo anterior do Atlas
Grande ligamento • O Gray identifica-o como o lig. longitudinal anterior
circular atlanto-occipital LAOL • O Rouvière diz que é um feixe ligeiramente posterior a este
▪ Laterais: pelos ligg. atlanto-occipitais ântero-laterais, que se inserem na porção basilar do
MAOP occipital e no tubérculo anterior do processo transverso do Atlas
• Ligamento ou membrana atlanto-occipital posterior (MAOP): lâmina fibrosa delgada
o Inserções: bordo posterior do foramen magno ao bordo superior do arco posterior do Atlas
o Une-se, lateralmente, às cápsulas articulares
o Limita um orifício que dá passagem à A. vertebral (entra) e ao 1º nervo espinhal (C1)
▪ O rebordo que limita este orifício pode, por vezes, ossificar
• Ligg. atlanto-occipitais laterais (LAOL): inserem-se na porção basilar do occipital e reforçam as cápsulas
articulares póstero-lateralmente
• Grande ligamento circular atlanto-occipital: conjunto formado pelas membranas atlanto-occipitais anterior
(MAOA) e posterior (MAOP) unidas, lateralmente, pelos ligg. Atlanto-occipitais laterais (LAOL)
• Lig. longitudinal anterior: previamente descrito
• Membrana tectória: banda larga, densa e resistente, constituída por lâminas superficial e profunda
o Corresponde à projecção superior do lig. longitudinal posterior, inserindo-se na face posterior do corpo
Reforços Occipito-Axiais (ligamentos à distância)
Membrana sinovial: reveste interiormente as cápsulas articulares e podem, por vezes, comunicar com a sinovial da
trocartrose posterior da Art. atlanto-axial medial (atlanto-odontoideia)
28
O conjunto das articulações que unem a cabeça à coluna vertebral permite movimentos de flexão (15o) e extensão
(30o), inclinação lateral (20o cada lado) e rotação esquerda e direita (20o cada lado)
Os planos ligamentosos que unem a cabeça ao Atlas e ao Áxis são, de anterior a posterior, até ao canal vertebral:
• Ligamento longitudinal anterior
• Membrana atlanto-occipital anterior e o ligamento atlanto-axial anterior
• Ligamento apical do dente e ligamento alares
• Ligamento cruciforme do Atlas
• Membrana tectória
Meios de união: os lig. longitudinais anterior e posterior, e as cápsulas articulares das zigapófises
• Os ligamentos amarelos, a aponevrose tóraco-dorsal (substitui o lig. supra-espinhoso) e os ligg. inter-
transversários lombo-sagrados, não fazem parte da articulação mas reforçam-na à distância
• O ligamento sacro-vertebral ou ligamento inter-transversário lombo-sagrado é muito desenvolvido, e insere-
se no ápex e bordo inferior do processo transverso de L5 e na porção ântero-lateral da asa do Sacro
o É análogo ao ligamentos inter-transversários da restante coluna vertebral (este entre L5 e S1)
o É considerado o feixe medial ou vertical do ligamento ílio-lombar, cujo feixe lateral se vai inserir na
porção posterior da crista ilíaca e da fossa ilíaca (descrito na Art. sacro-ilíaca)
Articulação sacro-coccígea
Classificação: sínfise
Superfícies articulares: as facetas articulares do ápex do Sacro e da base do Cóccix
Meios de união:
• Ligamento interósseo: análogo a um disco intervertebral, e que ossifica gradualmente
• Ligamentos anteriores: da face anterior do Sacro à correspondente e contígua do Cóccix
o Análogo ao ligamento longitudinal anterior
• Ligamentos laterais: decompostos em dois feixes
o Feixe medial, desde o corno sagrado até ao corno coccígeo superior
o Feixe lateral, desde o bordo lateral do ápex sagrado até ao ápex do corno coccígeo lateral
• Ligamento posterior: decompostos em dois feixes
o Feixe superficial, do bordo posterior do hiato sagrado até à face dorsal de Co2
o Feixe profundo, da face posterior do corpo vertebral de S5 até à face dorsal de Co1/2
▪ Análogo ao ligamento longitudinal posterior
29
Nota clínica: A hérnia discal (seta na figura da direita) é uma patologia em que, por fragilidade crescente do anel fibroso,
ocorrer ruptura do mesmo e forma-se um prolapso (habitualmente) ântero-lateral do núcleo pulposo, deformando o disco,
podendo comprimir a raiz do nervo espinhal que passe posteriormente ao disco afectado. Acontece mais frequentemente
entre os 20 e 55 anos de idade, e é mais comum nos discos L4-L5, L5-S1 (afectando o nervo ciático).
Pélvis (NETTER pp. 158 e 333-334) (sacro-ilíaca, sínfise púbica, ligamentos de reforço)
Articulação Sacro-ilíaca
Classificação: polémica! Muitos autores classificam-na como sínfise por ser pouco móvel e por as superfícies
articulares serem parcialmente fibrocartilaginosas. No entanto, tem cavidade sinovial e as superfícies articulares são
uma convexa e outra côncava, elípticas, podendo ser classificada como condilartrose (Rouvière). Há quem se fique
por dizer que é intermédia entre anfiartrose (sínfise) e diartrose, chamando-lhe diartroanfiartrose (Testut).
• Nas crianças as superfícies articulares são mais planas, aproximando-se de uma sínfise
• Nos adultos são mais irregulares e forma-se uma cavidade sinovial, aproximando-se de uma condilartrose
• Nos idosos torna-se muito fibrosa, podendo ossificar, aproximando-se de uma sincondrose/sinostose
Meios de união: cápsula e ligg. anterior, interósseo e posterior são intrínsecos, o ílio-lombar é extrínseco
• Cápsula articular: insere-se nas margens articulares e confunde-se com os ligamentos adiante descritos
• Ligamento sacro-ilíaco anterior: reforça a cápsula ântero-inferiormente (“olha” para a frente e para baixo)
o Inserção sagrada: de superior a inferior, desde a asa do sacro, linea terminalis, e ao longo da face
anterior de S1 até S3, lateralmente aos foramina sagrados anteriores
o Inserção ilíaca: de superior a inferior, porção póstero-medial da fossa ilíaca, linha arqueada (local onde
a inserção é mais forte) e, imediatamente acima da grande incisura ciática, no bordo anterior da espinha
ilíaca póstero-inferior
• Ligamentos sacro-ilíacos interósseos: é o principal responsável pela aposição dos ossos intervenientes
o Inserem-se nas tuberosidades sagrada e ilíaca, ambas posteriores às faces auriculares de cada osso
o Estão cobertos, posteriormente, pelos ligamentos sacro-ilíacos posteriores
o O Rouvière e Testut consideram que pertence ao plano profundo dos ligg. sacro-ilíacos posteriores
• Ligamentos sacro-ilíacos posteriores:
o Inserção sagrada: partem do processo transverso do Sacro (face posterior da asa do Sacro) e tubérculos
Descrição sumária
da crista sagrada intermédia (correspondem aos p. articulares) e tubérculos da crista sagrada laterais
(correspondem aos p. transversos)
▪ As fibras para a crista intermédia são os ligamentos ílio-articulares (plano superficial)
▪ As fibras para a crista lateral são os ligamentos ílio-transversários (plano médio)
▪ O plano profundo, nesta descrição clássica, equivale aos ligg. sacro-ilíacos interósseos
o Inserção ilíaca: na porção posterior do lábio interno da crista ilíaca, na tuberosidade ilíaca e EIPS
30
o Plano superficial ou ligamentos ílio-articulares: 3 feixes que partem dos 3 tubérculos da crista sagrada
Ver pag. 31
intermédia e se inserem na tuberosidade ilíaca e EIPS
o Plano médio ou ligamentos ílio-transversários: 5 ligamentos (1 sagrado e 4 conjugados) que se podem
agrupar em dois grupos ligamentares distintos
▪ Ligamento sacro-ilíaco posterior curto: os três primeiros feixes partem do processo transverso
do Sacro (face posterior da asa do Sacro)) e dos primeiros 2 tubérculos da crista sagrada
Descrição completa
• Ligamento ílio-lombar: é um ligamento extrínseco à articulação que pode ser muscular na infância
o Insere-se no processo transverso de L5 (ocasionalmente L4) e divide-se em feixes laterais e medial:
▪ Feixe lateral superior ou ascendente: parte do ápex do processo transverso de L5 e vai inserir-se
na porção posterior da crista ilíaca
▪ Feixe lateral inferior ou descendente: parte do bordo inferior do processo transverso de L5 e vai
inserir-se na porção posterior da fossa ilíaca até à linha arqueada do ílion
▪ Feixe medial ou vertical: insere-se na porção ântero-lateral da asa do Sacro
• Este feixe é denominado lig. sacro-vertebral ou ílio-transversário lombo-sagrado
• É, também, um meio de união importante da Art. lombo-sagrada, aí descrito
Membrana sinovial: reveste a face interior da cápsula articular, é irregular e forma pregas sinoviais
Movimentos: muito limitados, permitindo um rotação até 2o, embora seja maior durante a gravidez
Ligamentos de reforço da Art. sacro-ilíaca (não pertencem à articulação!) – ver imagens pag. 31
Ligamento sacro-tuberoso: coluna ligamentosa grossa e resistente, que se insere no ílion, sacro e ísquion
• As inserções ilíaca e sagrada são proximais, descendo o ligamento ínfero-lateralmente para o ísquion
• Inserção ilíaca: na EIPS, incisura inominada, EIPI e porção posterior da face glútea posterior
o Contribui com fibras para o M. grande glúteo, que se insere na face glútea posterior
• Inserção sagrada: bordo lateral dos segmentos inferiores (S4-S5) do Sacro e Cóccix
o Funde-se, medialmente, com o ligamento sacro-ilíaco posterior longo, com o qual partilha inserções
• Inserção isquiática: o ligamento termina inserindo-se no bordo medial da tuberosidade isquiática
o Emite, um prolongamento, o processo falciforme, que se estende anteriormente, ao nível do bordo
medial da tuberosidade isquiática e ramo isquio-púbico, contribuindo para as fibras do canal pudendo
de Alcock e da fáscia do M. obturador interno, e que pode atingir o lig. arqueado do púbis
• A longa porção do M. bicípite femoral rebe fibras superficiais da porção terminal do lig. sacro-tuberoso
• E perfurado pelo nervo cutâneo perfurante e por ramos coccígeos da A. glútea inferior
31
Ligamento sacro-espinhoso: lâmina triangular e delgada, anterior ao lig. sacro-tuberoso, com o qual se funde
• Inserção medial: na porção inferior (S4-S5) do bordo lateral do Sacro e do Cóccix
• Inserção lateral: as fibras convergem e inserem-se no vértice da espinha isquiática
• Condiciona, ao cruzar anteriormente o ligamento sacro-tuberoso, dois orifícios ósteo-ligamentares:
o Grande foramen ciático, em relação com a grande incisura ciática, dá passagem a:
▪ M. piriforme, vasos e nervos glúteos superiores e inferiores, vasos pudendos internos, nervo
pudendo, nervo cutâneo femoral posterior, o nervo ciático e outros nervos motores
o Pequeno foramen ciático, em relação com a pequena incisura ciática, dá passagem a:
▪ M. obturador interno, vasos pudendos internos, nervo pudendo
Nota clínica: uma sacroileíte é uma inflamação da articulação sacroilíaca que, habitualmente, se manifesta por dor lombo-
sagrada, que pode ser referida à região nadegueira e coxa lateral, que se mantém em repouso (dor inflamatória). O grupo de
patologias que mais frequentemente causa este fenómeno é o das doenças reumatológicas – globalmente mais frequentes em
mulheres jovens – nomeadamente espondilite anquilosante, artrite psoriática (complicação articular da psoríase), doença
inflamatória intestinal (inclui D. Crohn e colite ulcerosa) e artrite reactiva (síndrome de Reiter).
Cortes coronais (sacroilíacas vistas de frente) por ressonância magnética (1) e por TAC (2) em que se podem ver alterações
inflamatórias sacroilíacas unilaterais (a comparação com a contralateral elucida a anormalidade).
Sínfise púbica
Classificação: sínfise
Superfícies articulares: superfícies sinfiseais (com 3cm de altura) de ambos os púbis
Disco articular: existe um disco inter-púbico, que ocupa o espaço entre as sup. sinfiseais, mais largo anteriormente
• Frequentemente existe uma cavidade (sem sinovial) na porção póstero-superior da sínfise
Movimentos: muito limitados, embora haja laxidão e separação considerável na gravidez de termo e parto
32
Membrana obturadora
Lâmina fibrosa que preenche o foramen obturador quase totalmente, deixando passar os vasos e nervo obturadores
no canal obturador, uma pequena abertura superior, em relação com o sulco obturador
• As linhas de inserção são, grosseiramente, o rebordo interno do foramen obturador
• Inferiormente, esta inserção desce para a face medial do ramo ísquio-púbico
• Superiormente, a inserção faz-se, também, nos tubérculos obturadores anterior e posterior que ladeiam o
sulco obturador, e na porção mais proximal da crista obturadora
• Reforçada, superiormente, pela fita sub-púbica (Testut) que parte do lig. transverso do acetábulo e se vai
inserir no tubérculo púbico e face lateral do corpo púbico, e forma o limite inferior do canal obturador
• As faces interna (pélvica) e externa da memb. obturadora dão inserção ao M. obturador interno e externo
Processo transverso de L4
in Sobotta
33
Tórax (NETTER p. 184)
(costo-vertebrais, costo-transversárias, costo-condrais, inter-condrais, esterno-condrais e intrínsecas do esterno)
Articulações costo-vertebrais
Classificação: artrodias
Superfícies articulares:
• Como cada par “faceta costal-semi-faceta vertebral” está separado por um lig. intra-articular, pode-se
considerar que cada Art. costo-vertebral é composta por duas artrodias, uma superior e uma inferior
• Como já descrito na Osteologia, a 1ª, 11ª e 12ª articulações costo-vertebrais apresentam particularidades
Meios de união:
• Cápsula articular: é delgada e insere-se em redor das margens articulares
o Reforçada pelos lig. radiado da cabeça da costela e lig. costo-vertebral posterior
• Lig. radiado da cabeça da costela: parte da face anterior da cabeça da costela, e irradia em leque para face
lateral dos corpos vertebrais adjacentes e ao bordo anterior do disco intervertebral interposto
• Lig. costo-vertebral posterior: parte da face posterior do colo da costela, cobre a face anterior de cada
foramina inter-vertebral, inserindo-se na face póstero-lateral do corpo vertebral acima (imagem p.35)
• Lig. intra-articular: parte da crista mediana e insere-se no disco intervertebral
o Divide a cavidade articular em duas articulações planas secundárias (superior e inferior)
o Muitas vezes é incompleto posteriormente, permitindo comunicação entre as cavidades articulares
o Naturalmente, este ligamento está ausente na 1ª, 11ª e 12ª articulações costo-vertebrais
Membrana sinovial: reveste interiormente a cápsula articular, estando septada em duas membranas individuais,
pelo ligamento intra-articular, embora ambas possam comunicar no caso deste ligamento ser incompleto
Meios de união:
•Cápsula articular: insere-se em redor das margens articulares e está reforçada por dois espessamentos
o Ligamento costo-transversário lateral: insere-se no ápex do processo transverso e na porção lateral
da tuberosidade costal
o Ligamento costo-transversário inferior: insere-se no bordo inferior do processo transverso e no bordo
inferior da tuberosidade costal
• Ligamento costo-transversário: é horizontal e encontra-se entre as Art. costo-vertebral e costo-transversária
o Parte da face posterior do colo da costela à face anterior do corpo e raiz do processo transverso
• Ligamento costo-transversário superior: parte do bordo superior do colo da costela e vai-se inserir no bordo
inferior do processo transverso suprajacente
o Delimita com o colo da costela o foramen costo-transversário, atravessado pelos nervos intercostais
o Está ausente da 1ª costela (ao não ser que exista uma costela cervical, e.g., supra-numerária)
o Apesar da inexistência da articulação descrita no 12º arco costal, existe um ligamento análogo ao
ligamento costo-transversário superior, que é o ligamento lombo-costal parte do corpo da 12ª costela
e se vai inserir no bordo inferior e base do processo transverso de L1
Membrana sinovial: reveste interiormente a cápsula articular
As Art. costo-vertebrais e costo-transversárias limitam muito os movimentos da extremidade posterior das costelas
• As primeiras seis costelas fazem ténues movimentos de deslizamento verticais com rotação dos eixos
• As 7ª à 10ª costelas fazem ténues movimentos de deslizamento verticais póstero-mediais e ínfero-laterais
34
in Gray
Articulações costo-condrais
Classificação: é uma sinartrose por ser imóvel, mas de difícil classificação específica. O Professor Esperança Pina
classifica-a como gonfose por ser uma art. imóvel entre superfícies arredondadas. A extremidade anterior de uma
costela tem uma concavidade que se funde com a extremidade lateral convexa da respectiva cartilagem costal,
estando estas fundidas de tal forma que o periósteo se continua com o pericôndrio.
Articulações inter-condrais
Classificação: artrodias
Superfícies articulares: os bordos contíguos das cartilagens costais dos 6º, 7º e 8º (por vezes 9º) arcos costais
• A união entre as cartilagens dos 9º e 10º arcos costais é feita por ligamentos inter-condrais (sindesmoses)
Meios de união: continuidade do pericôndrio que forma uma cápsula articular
• Existem ligamentos inter-condrais (são fusões pericôndricas, ou seja, sindesmoses)
Membrana sinovial: reveste interiormente o pericôndrio capsular
Articulações esterno-condrais
Classificação: artrodias (a 1ª é uma sinartrose provavelmente do tipo sincondrose, uma vez que ossifica)
Superfícies articulares: são as extremidades anteriores das cartilagens costais e as incisuras costais do esterno
• Uma vez que os primeiros 7 arcos costais (à excepção do 1º) se alinham com o intervalo entre dois segmentos
esternais, podem formar-se duas articulações planas secundárias separadas por um lig. inter-articular, à
semelhança das Art. costo-vertebrais (mais visível e constante no caso da 2ª e a 7ª cartilagens costais, uma
vez que se articulam na divisão entre manúbrio e corpo, e corpo e p. xifóide, respectivamente)
Meios de união:
• Cápsula articular: manga fibrosa que une o pericôndrio das cartilagens costais (2ª-7ª) ao periósteo esternal
• Ligamento esterno-costal radiado anterior e posterior: o anterior é mais desenvolvido que o posterior
o Parte das faces anterior e posterior das cartilagens costais às faces esternais correspondentes
o As fibras superficiais do lig. radiados anteriores entrecruzam-se com as fibras dos homólogos supra e
infrajacentes, contra-laterais, e com fibras do M. grande peitoral
• Ligamento esterno-costal intra-articular: são feixes horizontais que unem a extremidade anterior,
pontiaguda, da cartilagem costal ao fundo da incisura costal
o Constantes na 2ª articulação, frequentes na 7ª, possíveis nas restantes (3ª-6ª)
o Divide a cavidade articular em duas porções, superior e inferior
o Frequentemente incompleto posteriormente, permitindo comunicação entre as cav. articulares
• Ligamento costo-xifóide: muito resistente, parte da face anterior da extremidade anterior da 7ª cartilagem
costal e insere-se na face anterior p. xifóide, entrecruzando-se com as fibras do ligamento contra-lateral
35
Membrana sinovial: reveste interiormente cada cápsula articular, podendo ser dupla ou simples, consoante a
cavidade articular esteja ou não dividida em duas pela presença do ligamento esterno-costal intra-articular
Ligamento costo-vertebral
posterior
in Testut
in Gray
A imagem direita mostra uma vista posterior das articulações costo-vertebrais, em que foi feito um corte coronal pelos
pedículos, que removeu todo o arco posterior das vértebras, ou seja, estamos atrás da coluna, a olhar para face
posterior do corpo vertebral. Assinalado com o número 8 encontra-se o ligamento costo-vertebral posterior. Uma
aproximação deste também está assinalada na imagem esquerda.
36
Miologia
Pescoço (NETTER pp. 25-31, 58 e 70)
• Região anterior • Região lateral
o Supra-hioideus o Plano superficial
▪ Digástrico ▪ Platisma
▪ Estilo-hioideu ▪ Esternocleidomastoideu
▪ Milo-hioideu o Plano profundo
▪ Geni-hioideu ▪ Escalenos
o Infra-hioideus ▪ Elevador da escápula
▪ Plano superficial ▪ Recto lateral da cabeça
• Esterno-hioideu • Região nucal
• Omo-hioideu o Plano superficial
▪ Plano profundo ▪ Esplénio da cabeça
• Tiro-hioideu ▪ Esplénio cervical
• Esterno-tiroideu ▪ Semi-espinhoso da cabeça
• Região pré-vertebral ▪ Longíssimo da cabeça
o Recto anterior da cabeça ▪ Longíssimo do pescoço
o Longo da cabeça o Plano profundo
o Longo do pescoço ▪ Grande recto posterior da cabeça
▪ Pequeno recto posterior da cabeça
▪ Oblíquo superior da cabeça
▪ Oblíquo inferior da cabeça
Região lateral
Platisma (subcutâneo)
• Inserções: região infra-clavicular e margem inferior da mandíbula
• Acção: baixar e enrugar a pele do mento e pescoço
Esternocleidomastoideu (ECM)
• Inserção proximal: no processo mastóide do temporal (++ as fibras claviculares) e na metade lateral da
linha nucal superior do occipital (principalmente as fibras esternais)
• Trajecto: oblíquo ínfero-medialmente, sendo que o feixe clavicular é profundo e torna-se medial
• Inserção distal: é feita por dois feixes distintos, o esternal (face anterior do manúbrio) e o clavicular (terço
medial da face superior da clavícula)
• Relações relevantes:
o Anteriormente: com a V. jugular externa, o M. platisma e a pele
o Posteriormente: com os músculos infra-hioideus, os plexos cervical e braquial, o N. frénico e,
principalmente, com o rolo vásculo-nervoso do pescoço, composto por:
▪ A. carótida comum que, ao nível de C4, se bifurca em A. carótida externa e interna
▪ V. jugular interna e N. vago (X)
o A fossa supra-clavicular menor é um marco anatómico importante:
▪ É o espaço triangular de base inferior entre os feixes de inserção distal
▪ É usado para colocar um cateter venoso central (preferencialmente à direita), uma vez que, na
sua profundidade, podemos encontrar a V. jugular interna
o O esternocleidomastoideu é uma referência fundamental para palpação ganglionar cervical
• Acções:
o Unilateralmente: inclinação ipsilateral e rotação contra-lateral da cabeça
o Bilateral: flexão da cabeça e inspiração forçada
37
Nota clínica: a colocação de um catéter venoso central (CVC) pode ser importante por diversas razões. Ao contrário dos
catéteres periféricos (colocados na flexura do cotovelo, por exemplo), um CVC permite administrar, com maior segurança,
grandes quantidades de fluidos (por exemplo, em doentes instáveis), fármacos em perfusão ou em bólus, e podem permanecer
colocados durante mais tempo, com menor risco de coagulação/trombose local (versus os CV periféricos). Esta é uma técnica
que deve ser dominada, por exemplo, por internistas, intensivistas, cirurgiões e outros clínicos de outras especialidades com
grande carga de internamento. É particularmente importante em doentes hemodinamicamente instáveis ou em caso de
necessidade de obter um acesso de longa duração para tratamentos longos e/ou repetidos, como a quimioterapia.
• Escaleno médio
o Inserção proximal: nos tubérculos anteriores dos processos transversos de C2-C7
▪ É frequente inserir-se, também, na raiz anterior das massas laterais do Atlas
o Inserção distal: na face superior da 1ª costela, posteriormente ao sulco da A. subclávia
▪ Ocasionalmente, na face superior da 2ª costela
o Relações relevantes:
▪ Anteriormente: o M. escaleno anterior, a artéria subclávia e o plexo braquial
• Também com o M. esternocleidomastoideu, M. omo-hioideu, subclávio e a clavícula
▪ Posteriormente: o M. escaleno posterior e elevador da escápula
• Escaleno posterior
o Inserção proximal: nos tubérculos posteriores dos processos transversos de C4-C6
o Inserção distal: na face superior da 2ª costela, posteriormente à tuberosidade do serratus anterior
• Trajecto: o trio de escalenos dirige-se com inclinação ínfero-lateral
• Acções: inclinação ipsi-lateral e rotação contra-lateral do pescoço, e inspiradores (elevam 1ª e 2ª costelas)
38
Elevador da escápula
• Inserção proximal: nos tubérculos posteriores dos processos transversos de C1-C4
• Inserção distal: no ângulo superior da escápula
• Acções: faz a elevação da escápula e faz a inclinação ipsi-lateral do pescoço
Região anterior
Digástrico
• Inserção proximal: na incisura mastóide ou ranhura do digástrico, medial ao p. mastóide do temporal
• Trajecto: o ventre posterior dirige-se com obliquidade ântero-ínfero-medial, torna-se tendinoso (o tendão
intermédio), perfura o M. estilo-hioideu e alcança o bordo superior do corpo do hióide, ao qual é ancorado
por lâminas tendinosas que podem formar um anel fibroso; nesta fixação ao corpo do hióide, o digástrico
descreve uma angulação, sendo que o seu ventre anterior se dirige ântero-superiormente até à mandíbula
o O anel fibroso (inconstante e, por vezes, com sinovial) é formado por fibras do tendão intermédio que,
descrevendo um arco, se inserem no corpo do hióide, provocando a angulação
o A angulação do digástrico não é provocada pela sua perfuração do estilo-hioideu ou pelo seu deslize no
inconstante anel fibroso, mas sim pelas suas inserções tendinosas no corpo do hióide
• Inserção distal: nas fossas digástricas no bordo inferior da face interna da mandíbula
Estilo-hioideu
• Inserção proximal: na porção póstero-lateral do processo estilóide do osso temporal
• Trajecto: é um músculo fusiforme com obliquidade ântero-ínfero-medial
• Inserção distal: no bordo superior e face anterior do corpo do hióide, junto dos grandes cornos
• Relações relevantes: é perfurado, na sua metade inferior, tendão intermédio do digástrico
o É parte do bouquet de Riolan: conjunto de músculos e ligamentos que se inserem no p. estilóide:
▪ Ligamentos estilo-hioideu (parte do ápex do p. estilóide) e estilo-mandibular
▪ Músculos estilo-glosso, estilo-hioideu e estilo-faríngeo
Milo-hioideu: é um músculo par mas está unido ao contra-lateral por uma raffe mediana
• Inserção proximal: na linha milo-hioideia ou oblíqua da face interna da mandíbula
• Inserção distal: no bordo superior do osso hióide
• Relações relevantes: o par de milo-hioideus, unidos pela raffe,
forma o pavimento da cavidade oral
Região pré-vertebral
Recto anterior da cabeça: está anteriormente à Art. atlanto-occipital
• Inserção proximal: face inferior da porção basilar do occipital e do rochedo do temporal (fibras laterais)
• Trajecto: dirige-se ínfero-lateralmente
• Inserção distal: na raiz anterior do processo transverso do Atlas
• Acções: faz flexão anterior e inclinação ipsi-lateral da cabeça
Longo da cabeça: é o mais superficial do grupo, situando-se anteriormente ao M. recto anterior
• Inserção proximal: face inferior da porção basilar do occipital
o Fibras mais laterais atingem a da porção petrosa do temporal, medialmente ao canal carotídeo
• Trajecto: soltam-se vários feixes que divergem e descem ínfero-lateralmente
• Inserção distal: nos tubérculos anteriores dos processos transversos de C3-C6
• Acções: faz flexão anterior e, secundariamente, rotação ipsi-lateral da cabeça e pescoço
Longo do pescoço: Está dividido em três porções: oblíqua descendente, oblíqua ascendente e longitudinal
• Porção oblíqua descendente ou súpero-lateral: inserção proximal no tubérculo anterior do Atlas e inserção
distal nos tubérculos anteriores dos processos transversos de C3-C5
• Porção oblíqua ascendente ou ínfero-lateral: inserção proximal nos tubérculos anteriores dos processos
transversos de C5-C7 e inserção distal nos corpos de T1-T3
• Porção longitudinal:
o Inserção proximal: nos corpos de C2-C4
o Inserção distal: nos corpos de C5-T3 e nos tubérculos anteriores dos p. transversos de C4-C6
• Acções: faz flexão anterior do pescoço, e as porções oblíquas fazem inclinação e rotação ipsi-lateral
40
Região posterior: este é um tema que RARAMENTE é abordado nas provas orais
Esplénio da cabeça
• Inserção proximal: metade lateral da linha nucal superior e face póstero-lateral do processo mastóide
• Inserção distal: nos processos espinhosos de C7-T3 e metade inferior do ligamento da nuca
• Acções: faz a extensão e rotação ipsi-lateral da cabeça
Esplénio cervical
• Inserção proximal: no tubérculo do processo transverso do Atlas e no tubérculo posterior do processo
transverso do Áxis e C3
• Inserção distal: nos processos espinhosos de T3-T5
• Acções: faz a extensão e rotação ipsi-lateral do pescoço
Semi-espinhoso da cabeça: é um músculo digástrico, apresentando tendão intermédio
• Inserção proximal: na superfície entre as linhas nucais superior e inferior, medialmente ao oblíquo superior
da cabeça
• Inserção distal: nos tubérculos posteriores dos processos transversos de C4-C7 e no ápex dos processos
transversos de T1-T6
• Acções: faz a extensão e inclinação ipsi-lateral da cabeça
Longíssimo da cabeça
• Inserção proximal: no bordo posterior do processo mastóide do temporal
• Inserção distal: nos tubérculos posteriores dos processos transversos de C3/4-C7 e no ápex dos processos
transversos de T1-T3/4
• Acções: faz a extensão e inclinação ipsi-lateral da cabeça
Longíssimo do pescoço
• Inserção proximal: nos tubérculos posteriores dos processos transversos de C2-C6/7
• Inserção distal: nos processos transversos de T1-T5
• Acções: faz a extensão e inclinação ipsi-lateral do pescoço
Grande recto posterior da cabeça
• Inserção proximal: na linha nucal inferior do occipital, lateralmente ao pequeno recto posterior
• Inserção distal: no processo espinhoso do Áxis
• Acções: faz a extensão e rotação ipsi-lateral da cabeça
Pequeno recto posterior da cabeça
• Inserção proximal: na linha nucal inferior do occipital e entre esta e o foramen magnum
• Inserção distal: no tubérculo posterior do Atlas
• Acções: faz a extensão da cabeça
Oblíquo superior da cabeça
• Inserção proximal: entre as linhas nucais superior e inferior, superiormente ao grande recto posterior
• Inserção distal: no bordo superior do p. transverso do Atlas, lateralmente ao foramen transversário
• Acções: faz a extensão e inclinação ipsi-lateral da cabeça
Oblíquo inferior da cabeça
• Inserção proximal: no bordo posterior do processo transverso do Atlas
• Inserção distal: na face lateral do processo espinhoso do Áxis
• Acções: faz a rotação ipsi-lateral da cabeça
41
Triângulos do pescoço (imagem p. 43)
• O pescoço é uma área quadrilátera cujos limites são:
o Anterior: a linha média divide-o numa porção direita e numa esquerda
o Posterior: o bordo anterior do M. trapézio
o Superior, a base: o bordo inferior da mandíbula e uma linha que vai do seu ângulo ao p. mastóide
o Inferior, o ápex: o bordo superior do manúbrio
• Cada hemi-pescoço é dividido pelo esternocleidomastoideu em dois triângulos com importância topográfica
42
in Sobotta
Fáscias do pescoço
Fáscia cervical superficial ou subcutânea
• Não é uma verdadeira fáscia, mas sim um plano de tecido célulo-adiposo que cobre o platisma
• Quando se refere a fáscia superficial não é a esta que se refere, mas uma porção da profunda (ver adiante)
Fáscia cervical profunda, a verdadeira fáscia cervical, envolve todas as estruturas cervicais
• Está dividida em três porções: fáscias superficial, pré-traqueal e pré-vertebral
• Delimita espaços potenciais entre as várias fáscias que são importantes na propagação de infecções
Fáscia pré-vertebral: cobre os músculos pré-vertebrais, forma o pavimento do triângulo posterior do pescoço, cobre
os escalenos, o elevador da escápula e os músculos da região posterior
• Anteriormente, está separada da faringe e da fáscia buco-faríngea, que a cobre, pelo espaço retrofaríngeo,
onde se encontra a fáscia alar, uma condensação fibrosa que une a fáscia pré-vertebral à fáscia carotídea
• Lateralmente, ao cobrir ao escaleno anterior, funde-se com o folheto da fáscia superficial que reveste a face
profunda do ECM
• Superiormente, insere-se na base do crânio
• Inferiormente funde-se com o lig. longitudinal anterior
43
Fáscia carotídea
• É uma condensação cilíndrica de fáscia cervical profunda que envolve as A. carótida comum, carótida interna,
V. jugular interna e N. vago (X), sendo mais espessa em torno das artérias
• A fáscia alar, uma condensação fibrosa no espaço pré-vertebral, une as duas fáscias carotídeas
Fáscia visceral
• É uma fina condensação fibrosa da fáscia pré-traqueal que envolve as vísceras cervicais: glândula tiróide, a
laringe, faringe, traqueia e esófago
Espaço pré-vertebral
• Entre a fáscia pré-vertebral e o lig. longitudinal anterior
• É um espaço fechado superiormente, mas inferiormente tem continuação com o mediastino superior
• Os processos infecciosos deste espaço vêm, normalmente, do espaço retro-visceral
in Sobotta
Nota clínica: A celulite do pescoço é um processo infeccioso que, habitualmente, tem origem numa infecção dentária (ex.
pulpite no contexto de uma cárie dentária), sendo que os dentes mais comumente envolvidos são os molares inferiores,
principalmente o terceiro (dente do siso). Se a infecção inicial não for tratado atempadamente, pode atingir os espaços
submandibular e sublingual e, a partir daí, uma vez que não existem barreiras horizontais cervicais, a infecção pode-se espalhar
pelos espaços descritos no pescoço. Uma vez no pescoço, a inflamação resultante pode causar oclusão das vias aéreas
superiores, e/ou a infecção pode descer até ao mediastino, causando uma mediastinite, com uma mortalidade muito elevada.
44
Dorso (NETTER pp. 171-176)
• Grupo posterior • Grupo médio
o Plano superficial o Plano serratus o Inter-transversários
▪ Trapézio ▪ Serratus posterior superior o Quadrado lombar
▪ Latissimus dorsal ▪ Serratus posterior inferior • Grupo posterior
o Plano rombóide o Plano das goteiras vertebrais o Psoas menor
▪ Pequeno rombóide ▪ Erector da espinha o Psoas maior
▪ Grande rombóide ▪ Transverso espinhoso o Ilíaco
▪ Inter-espinhoso
Trapézio: músculo triangular de base medial, constituído por fibras superiores, médias e inferiores
• Inserção proximal (descrito de superior a inferior): na linha nucal superior, protuberância occipital externa,
ligamento da nuca, nos processos espinhosos de C7-T12 e nos seus ligamentos supra-espinhosos
• Trajecto: fibras convergem para a cintura escapular com uma inserção côncava medialmente (em gancho)
• Inserção distal:
o Fibras inferiores: no lábio superior do bordo posterior da espinha da escápula
o Fibras médias: no bordo medial e face superior do acrómio
o Fibras superiores: no terço lateral do bordo posterior e face superior da clavícula
• Acções: eleva os ombros e aduz a escápula; inclinação ipsi-lateral e rotação contra-lateral da cabeça
Latissimus dorsal
• Inserção proximal: através da aponevrose tóraco-lombar (ver p.45), insere-se na crista sagrada média, nos
processos espinhosos de T6-L5 (e nos seus ligamentos supra-espinhosos) e na porção posterior do lábio lateral
da crista ilíaca; insere-se, também, na face lateral do terço posterior das últimas 3-4 costelas e, de forma
inconstante, no ângulo inferior da escápula
• Trajecto: ascende com obliquidade súpero-lateral, e o seu bordo inferior forma a prega axilar posterior
• Inserção distal: no fundo do sulco intertubercular do úmero
• Relações relevantes: condiciona o limite medial do triângulo lombar de J. L. Petit, sendo que o limite inferior
é a crista ilíaca e o limite anterior é o bordo posterior do M. oblíquo externo
• Acções: faz a adução, extensão e rotação medial do membro superior
Pequeno rombóide
• Inserção proximal: na extremidade inferior do ligamento da nuca e nos processos espinhosos de C7 e T1
• Trajecto: dirige-se com obliquidade ínfero-lateral
• Inserção distal: no bordo medial da escápula, entre o ângulo superior e a espinha da escápula
• Acções: faz a elevação e adução da escápula
Grande rombóide
• Inserção proximal: nos processos espinhosos de T2-T5 e nos seus ligamentos supra-espinhosos
• Trajecto: dirige-se com obliquidade ínfero-lateral
• Inserção distal: inferiormente ao peq. rombóide, no bordo medial da escápula até ao seu ângulo inferior
• Acções: faz a elevação e adução da escápula
45
Serratus posterior inferior: profundamente ao latissimus dorsal
• Inserção proximal: nos processos espinhosos de T11-L3 e nos seus ligamentos supra-espinhosos
• Trajecto: formam-se, três a quatro digitações que se dirigem com obliquidade súpero-lateral
• Inserção distal: na face externa do terço posterior das 4 últimas costelas
• Acções: desce as costelas, sendo expirador
Erector da espinha: massa músculo-tendinosa composta por três músculos em cada região da coluna vert.:
• Ílio-costal, longíssimo e espinhal, cada um dividido em três porções
• Alguns destes músculos, inferiormente, estão reunidos na aponevrose do erector da espinha
• Acções: faz a extensão e inclinação ipsi-lateral do tronco
Ílio-costal
• Cervical: desde os tubérculos posteriores dos p. transversos de C4-C6 até ao ângulo das costelas 3ª até 6ª
• Torácico: desde o p. transverso de C7 até ao ângulo das primeiras 6 costelas
• Lombar: da aponevrose do erector da espinha e p. transversos de L1-L4 até ao ângulo das últimas 7-8
costelas
Longíssimo torácico
• Os longíssimos da cabeça e do pescoço já foram abordados, restando o longíssimo torácico
• Inserção proximal: na aponevrose do erector da espinha
• Inserção distal: dá-se por feixes laterais e feixes mediais
o Feixes laterais: nos p. transversos lombares e na face externa (entre ângulo posterior e tuberosidade)
das últimas 10-11 costelas
o Feixes mediais: nos p. acessórios lombares e nos p. transversos torácicos
Espinhal
• da cabeça (inconstante): quando existe é representado por fibras do semi-espinhoso da cabeça que se
inserem nos p. espinhosos de C7 e T1
• Cervical (inconstante): inserção proximal nos p. espinhosos de C2-C4 e distal, nos p. espinhosos de C7-T2
• Torácico: inserção proximal nos p. espinhosos de T2-T8 (variável) e distal nos p. espinhosos de T11-L2
Transverso espinhoso
• Coluna muscular que ocupa o canal entre os processos espinhosos e cada processo transverso
• Dividido em três tipos de feixes, consoante o alcance da sua inserção lateral:
o Semi-espinhoso: presentes a nível cervical e lombar, inserem-se no p. transverso de uma vértebra (a
nível cervical nos tubérculos posteriores) e depois no p. espinhoso da 4ª-6ª vértebra suprajacente
▪ O músculo semi-espinhoso da cabeça faz parte do grupo mas é descrito no pescoço
▪ A nível lombar, os feixes semi-espinhosos são representados pelos lig. mamilo-acessórios
o Multifidus: a nível cervical parte do p. articular superior, a nível torácico do p. transverso e a nível
lombar do p. mamilar, e vai inserir-se no p. espinhoso da 2ª-4ª vértebra suprajacente
o Rotadores: parte do p. transverso de uma vértebra e vai inserir-se na lâmina da 1ª vértebra
suprajacente (feixes curtos) ou da 2ª vértebra suprajacente (feixes longos)
▪ Não são aparentes na coluna lombar ou cervical
• Acções comuns: faz extensão e inclinação ipsi-lateral do tronco
46
Inter-espinhoso
• Músculos pares que ladeiam os lig. inter-espinhosos, inserindo-se nos bordos adjacentes dos p. espinhosos
• Cervicais: os mais desenvolvidos, claramente duplos lado a lado, são 6 pares entre C2 e T1
• Torácicos: pouco desenvolvidos ou ausentes
• Lombares: bem desenvolvidos, duplos lado a lado, 5 pares entre L1 e S1
• Acção: indefinida, especulando-se papel proprioceptivo no controlo da posição da coluna vertebral
Grupo médio
Inter-transversários
• Cervicais: os mais desenvolvidos, são pares, um anterior e um posterior, separados por um espaço prismático
triangular que dá passagem ao nervo espinhal de cada segmento
o O posterior subdivide-se em feixe lateral (substitui o lig. inter-transversário) e medial
• Torácicos: pouco desenvolvidos, apenas aparentes entre T10 e L1
• Lombares: bem desenvolvidos, são pares, um lateral e um medial
o Lateral: insere-se no p. acessório de uma vértebra e no p. mamilar da subjacente
o Medial: divide-se em feixe anterior e posterior
▪ Feixe anterior: inserem-se nos bordos adjacentes de p. transversos consecutivos
▪ Feixe posterior: inserem-se nos p. acessórios de p. transversos consecutivos
• Acção: indefinida, especulando-se papel proprioceptivo no controlo da posição da coluna vertebral
Quadrado lombar
• Inserção superior: no bordo inferior da 12ª costela
• Inserção inferior: no lig. ílio-lombar e terço posterior (5cm) do lábio interno da crista ilíaca
• Inserção medial: na face anterior e ápices dos processos transversos de L1-4
• Estas inserções condicionam feixes costo-transversários, ílio-costais e ílio-transversários
• Acções:
o Bilateralmente: faz flexão do tronco e expiração forçada ao descer a 12ª costela e a grelha costal
o Unilateralmente: faz inclinação ipsi-lateral do tronco ou a basculação, consoante o ponto fixo
Psoas maior
• Inserção proximal:
o Porção principal: na face lateral dos corpos vertebrais e discos intervertebrais entre T12 e L5
▪ Forma arcos tendinosos que se estendem desde o bordo superior ao inferior dos corpos, que
delimitam foramina por onde passam vasos lombares e ramos comunicantes simpáticos
o Porção acessória: na face anterior dos processos transversos de L1-L5
o Entre a porção principal, mais anterior, e a acessória, mais posterior, passam os ramos anteriores dos
nervos espinhais que formam o plexo lombar
• Trajecto: desce com obliquidade ínfero-ântero-lateral, une-se ao M. ilíaco formando o psoas-ilíaco, passa na
incisura homónima, muda de orientação para uma obliquidade ínfero-póstero-lateral
• Inserção distal: no pequeno trocânter do fémur
• Acções: com o tronco fixo, faz a flexão e rotação lateral da coxa, e com a coxa fixa faz a flexão e rotação
contra-lateral do tronco
47
Ilíaco
• Inserção proximal: na fossa ilíaca, lábio interno da crista ilíaca, ligg. sacro-ilíacos anteriores e ílio-lombar, e
porção anterior da asa do sacro
• Trajecto: as suas fibras convergem ínfero-ântero-medialmente, fundindo-se com o psoas maior
• Inserção distal: através do tendão do psoas-ilíaco, no pequeno trocânter do fémur
• Acções: auxilia o psoas maior apenas na flexão e na rotação lateral da coxa (não actua no tronco)
Aponevrose tóraco-lombar
• Cobre os músculos do dorso e os seus folhetos servem de referência para divisão destes em grupos
• Na região torácica insere-se nos processos espinhosos torácicos e nos ângulos costais
• Na região lombar insere-se esta divide-se em três folhetos que condicionam locas:
o Folheto posterior:
▪ Medialmente: insere-se nos processos espinhosos de T7-L5, no lig. supra-espinhoso e na crista
sagrada média
▪ Lateralmente: encontra o folheto médio e forma a raffe lateral da aponevrose tóraco-lombar, que
dá inserção e se continua com os tendões e aponevroses dos músculos latissimus dorsal, grande
glúteo, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso abdominal
▪ Superiormente: contínua com a fáscia superficial da fáscia cervical profunda
o Folheto médio:
▪ Lateralmente: encontra o folheto posterior e forma a raffe lateral
▪ Medialmente: insere-se nos ápices dos p. transversos lombares e ligg. inter-transversários
▪ Superiormente: bordo inferior da 12ª costela e lig. lombo-costal
▪ Inferiormente: no terço posterior do interstício da crista ilíaca
o Folheto anterior:
▪ Anteriormente: cobre o M. quadrado lombar
▪ Medialmente: na face anterior e base dos processos transversos lombares
▪ Lateralmente: contorna o bordo lateral do quadrado lombar e encontra o folheto médio
▪ Superiormente: forma o lig. arqueado lateral (ver diafragma)
▪ Inferiormente: no lig. ílio-lombar e terço posterior do lábio interno da crista ilíaca
o Loca anterior: entre os folhetos anterior e médio, aloja os músculos da região média
o Loca posterior: entre os folhetos médio e posterior, aloja os músculos da região posterior
in Gray
48
in Gray
Pequeno peitoral
• Inserção proximal: no ápex do processo coracóide da escápula
• Trajecto: as fibras dirigem-se ínfero-medialmente e dividem-se em 3 digitações
• Inserção distal: no bordo superior e face externa das costelas 3ª, 4ª e 5ª
• Acções: baixa a escápula e aproxima-a do tórax, e participa na inspiração forçada
Subclávio
• Inserção proximal: no sulco do M. subclávio no 1/3 médio da face inferior da clavícula
• Trajecto: as fibras dirigem-se ínfero-medialmente
• Inserção distal: na face superior da extremidade anterior da 1ª costela e respectiva cartilagem costal
• Acções: baixa a clavícula e, indirectamente, o ombro, e participa na inspiração forçada
o A sua presença protege os vasos subclávios em fracturas claviculares
Fáscia clavi-peitoral
• Fáscia que une a clavícula ao M. pequeno peitoral, fundindo-se superiormente com a fáscia cervical profunda,
medialmente, com a membrana intercostal externa, e lateral e inferiormente com a fáscia axilar
• Inserções e trajecto: desde as margens anterior e posterior do sulco do subclávio da clavícula, desdobra-se
em dois folhetos que revestem anterior e posteriormente o M. subclávio (forma a fáscia do subclávio) voltando
a unir-se e descendo até ao bordo súpero-medial do M. pequeno peitoral, que reveste ao desdobrar-se em
dois folhetos (forma a fáscia do pequeno peitoral)
o Lateralmente forma um espessamento desde a 1ª costela ao p. coracóide: o lig. costo-coracóide
o Látero-inferiormente funde-se com a fáscia axilar para formar o lig. suspensor da axila
49
Serratus anterior
• Inserção posterior: no lábio anterior do bordo medial da escápula
• Trajecto: forma 10 feixes, ascendentes, horizontais e descendentes que, em leque, abraçam a grelha costal
o Os feixes descendentes interdigitam-se com os feixes de inserção do M. oblíquo externo
• Inserção anterior: na face externa das 10 primeiras costelas
• Acções: aproxima a escápula do tórax; é inspirador (ascendentes) ou expirador (descendentes) forçado
Intercostais: músculos que ocupam o espaço intercostal, divididos em três tipos pelas suas relações e alcance
• Intercostal externo
o Inserção superior: no bordo inferior ou lateral de um sulco costal
o Inserção inferior: no bordo superior da costela infrajacente
o Alcance no espaço: desde a Art. costo-transversária, onde se fundem com os ligg. costo-transversários
superiores, até à Art. costo-condral (incompletos na porção anterior do espaço)
▪ Prolonga-se até ao bordo lateral do esterno pela membrana intercostal externa
o Acções: atendendo à obliquidade ântero-inferior das suas fibras, é inspirador
• Intercostal médio
o Inserção superior: no bordo inferior ou lateral de um sulco costal
o Inserção inferior: no bordo superior da costela infrajacente
o Alcance no espaço: desde o ângulo posterior da costela (ou linha axilar posterior) até à extremidade
anterior do espaço intercostal (incompletos na porção posterior do espaço)
▪ Prolonga-se até à Art. costo-transversária pela membrana intercostal média
o Acções: atendendo à obliquidade póstero-inferior das suas fibras, é expirador
• Intercostal interno
o Inserção superior: no lábio interno de um sulco costal, na face interna de cada costela
o Inserção inferior: no bordo superior da costela infrajacente
o Alcance no espaço: desde o ângulo posterior da costela até 5cm lateralmente ao esterno
▪ Incompleto no 1/4 anterior e no 1/4 posterior do espaço intercostal
o Relações relevantes: internamente com a fáscia endotorácica e pleura parietal; externamente com o
rolo vásculo-nervoso intercostal (veia, artéria e nervo, de superior a inferior)
o Acções: obliquidade das fibras é semelhante às dos intercostais médios (já foram considerados as suas
lâminas internas) mas não se atribui função relevante (muitas vezes ausentes do tórax superior)
in Gray
50
Elevadores das costelas (NETTER p. 173)
• Inserção proximal: nos ápices dos processos transversos de C7-T11
• Trajecto: dirigem-se ínfero-lateralmente
• Inserção distal: no bordo superior da costela infrajacente, entre o tubérculo e o ângulo posterior
o Os últimos 4 pares apresentam feixes curtos com a disposição referida e feixes longos que se inserem
duas costelas abaixo
• Acções: fazem a rotação e inclinação ipsi-laterais da coluna torácica
o Apesar de elevarem as costelas, não contribuem significativamente para a inspiração
Diafragma (NETTER pp. 191-192): músculo ímpar, largo e achatado, em forma de abóbada
• Separa as cavidades torácica e abdominal ao inserir-se no rebordo do orifício inferior da caixa torácica
• Constituído por uma porção fibrosa central, denominada centro frénico, e outra periférica, a muscular
• Apresenta uma incisura mediana posterior, criada pela coluna vertebral, e vários hiatos
• Cada elevação lateral da abóbada diafragmática é uma hemicúpula diafragmática, sendo que a hemicúpula
direita é mais alta que a esquerda (1.5-2cm em inspiração completa), devido à presença do fígado
• Face superior relaciona-se com as pleuras parietais e a base do pericárdio fibroso
o Fáscia superior do diafragma é contínua com a fáscia endotorácia
• Face inferior relaciona-se com as vísceras abdominais através do peritoneu parietal
o Fáscia inferior do diafragma é contínua com fáscia transversalis
Porção fibrosa ou centro frénico ou tendinoso, em forma de trevo, descrevendo-se:
• 3 folíolos: um anterior, o mais extenso, e os direito e esquerdo, alongados segundo eixos póstero-laterais
o Entre os folíolos anterior e direito encontra-se o hiato da V. cava inferior (VCI)
o O folíolo anterior, quase plano, por se relacionar, superiormente, com a base do pericárdio fibroso,
também é chamado o plateau cardíaco
o Cada folíolo lateral relaciona-se, superiormente, com as pleuras parietais de cada lado
• 2 fitas: apenas visíveis na face superior
o Fita oblíqua, desde a porção posterior do folíolo direito até ao anterior
▪ Passa medial e posteriormente ao hiato da V. cava inferior
o Fita arciforme, desde a porção posterior do folíolo direito até ao esquerdo
▪ Passa lateral e anteriormente ao hiato da V. cava inferior
51
Porção muscular: ao inserir-se no rebordo do orifício torácico inferior, descrevem-se vários feixes de inserção
• Feixes esternais, na face posterior do esterno e ápex do processo xifóide
• Feixes costais, na face posterior das 6 últimas costelas e ext. anteriores das 11ª e 12ª costelas
o Os seus feixes interdigitam-se com os feixes costais do M. transverso abdominal (ver adiante)
• Feixes lombares, na 12ª costela, p. transverso de L1 e corpos de L1-L3, através de pilares e ligamentos:
o Pilar direito: insere-se na face anterior dos corpos de L1-L3 (pode estender-se até L4) e discos entre
esta vértebras e as vizinhas, assim como no lig. longitudinal anterior
▪ Pilar acessório direito insere-se na face lateral corpo de L2
▪ Fibras ascendentes formam o hiato esofágico ao descreverem um laço muscular que cruza o
esófago anteriormente e descem para se inserir no lig. arqueado mediano
o Pilar esquerdo: insere-se na face anterior dos corpos de L1-L2 (pode estender-se até L3) e discos entre
esta vértebras e as vizinhas, assim como no lig. longitudinal anterior
▪ Pilar acessório esquerdo insere-se na porção inferior da face lateral corpo de L2
o Lig. arqueado mediano: união das fibras mediais dos pilares principais direito e esquerdo
▪ Cruza anteriormente a Aorta e marca a passagem de Aorta torácica a abdominal
▪ A sua natureza fibrosa impede que a Aorta colapse aquando da contracção diafragmática
o Lig. arqueado médio/medial: desde a face anterior do p. transverso de L1 até ao corpo de L2
▪ Cruza anteriormente o M. psoas maior, podendo ser denominado arco do psoas
▪ O interstício que os separa dos pilares do respectivo lado dá passagem à cadeia simpática LV
o Lig. arqueado lateral: desde o ponto médio do bordo inferior da 12ª costela até à face anterior do
processo transverso de L1
▪ Cruza anteriormente o quadrado lombar, podendo ser denominado arco do quadrado l.
▪ As fibras musculares que se inserem ao longo deste ligamento são esparsas e podem formar uma
zona frágil, o triângulo lombo-costal, que torna próximos o rim e a pleura pariteal
• Inervado pelos últimos 6 nervos costais e pelos nervos frénicos
Nota clínica: A síndrome do ligamento arqueado mediano descreve uma situação em que o dito ligamento provoca
compressão do tronco celíaco (e do plexo celíaco), um dos ramos colaterais viscerais da Aorta abdominal, causando
dor abdominal intensa (por isquémia visceral e/ou por compressão nervosa do plexo celíaco) que agrava em
supinação e com a expiração, e alivia com em ortostatismo e com a inspiração, uma vez que com a descida das
vísceras, o tronco celíaco torna-se mais vertical, permitindo maior fluxo.
Compressão do
tronco celíaco
52
Hiatos principais, pequenas aberturas com estruturas em trânsito entre o tórax e o abdómen
• Hiato da Veia Cava Inferior (VCI): é o mais superior, ao nível de T8-9
o Delimitado pelas fitas oblíqua e arciforme do centro tendinoso, entre os folíolos anterior e direito
o É oblíquo, medindo o seu maior eixo, de orientação ântero-esquerda, cerca de 3cm
o A VCI adere ao rebordo do hiato, pelo que, durante a contracção diafragmática (durante a inspiração),
devido à natureza tendinosa do hiato e à tensão no centro frénico, que afasta as paredes do hiato, o
diâmetro da VCI aumenta cerca de 17-20% em relação ao diâmetro em repouso
• Hiato aórtico: o mais inferior, ao nível de do disco intervertebral tóraco-lombar (entre T12 e L1)
o Formado pelas fibras mediais dos pilares diafragmáticos que condicionam o lig. arqueado mediano e,
posteriormente, pela face anterior dos corpos de T12 e L1 e disco intervertebral tóraco-lombar
o Dá passagem à Aorta, ao canal torácico e, ocasionalmente, às V. ázigos e hemi-ázigos
• Entre pilares principais e respectivos acessórios passam os nervos grande e pequeno esplâncnicos torácicos
• Entre lig. arqueado médio e pilares acessórios passam a cadeia simpática látero-vertebral e, ocasionalmente,
as V. ázigos e hemi-ázigos
• O N. frénico direito perfura o centro tendinoso lateralmente à VCI, e o esquerdo perfura a porção muscular
• Anteriormente, entre os feixes esternais e costais forma-se, de cada lado, um triângulo esterno-costal (ou
espaço de Larrey), que dá passagem à A. epigástrica superior, terminal da A. torácica interna
Acções: é um inspirador, uma vez que, ao contrair-se, aumenta os diâmetros torácicos, elevando e “abrindo” a grelha
costal, reduzindo a pressão intra-torácica, o que facilita a ventilação
• É, adicionalmente, importante em todos os esforços expulsivos: espirro, tosse, vómito, micção e defecação
in Gray
53
Nota clínica: Uma vez que o diafragma é a barreira que separa as cavidades torácica e abdominal, é facilmente induzível que
parte da patologia diafragmática seja herniária. As hérnias diafragmáticas podem ser congénitas ou adquiridas. As
congénitas resultam de defeitos do encerramento das estruturas embrionárias que dão origem ao diafragma, sendo as mais
comuns a hérnia de Bochdalek (póstero-lateral esquerda) e a de Morgagni (subcosto-esternal). A de Bochdalek pode ter
uma apresentação neonatal, com hipoxémia e falência respiratória, devido à compressão das vísceras torácicas pelas
abdominais que entraram nessa cavidade. A de Morgagni é frequentemente assintomática.
As adquiridas mais comuns, excluindo as traumáticas, são as hérnias do hiato esofágico (abordado no tema Esófago),
divididas dois tipos principais: tipo I ou de deslizamento (o esófago desliza superiormente) e tipo II ou para-esofágica (o
fundo gástrico hernia pelo hiato esofágico, lateralmente ao esófago). A tipo I está muito associada ao desenvolvimento da
doença do refluxo gástro-esofágico (DRGE), que é um factor de risco para o desenvolvimento de carcinoma esofágico.
in Netter’s
Gastroenterology
54
Abdómen (NETTER pp. 245-250, 255-258)
Recto abdominal: músculo par e digástrico da parede abdominal anterior, envolto numa aponevrose complexa
• Inserção proximal (mede 8cm de largura): na face anterior das cartilagens costais 5ª, 6ª e 7ª,
• Trajecto: desce verticalmente e apresenta 3-4 tendões intermédios:
o Superior: a partir da extremidade inferior do processo xifóide
o Médio: entre a superior e umbilical
o Umbilical: o mais constante
o Último: inferior ao umbilical, é o mais inconstante
• Inserção distal (mede 3-4cm de largura): o tendão inferior divide-se em feixe medial e lateral
o O feixe medial decussa com o do lado oposto através da linha alba inserindo-se na crista púbica e face
anterior da sínfise púbica
o O feixe lateral, mais largo, insere-se na crista púbica e no tubérculo púbico
▪ O feixe lateral origina o ligamento de Henle, uma expansão triangular, cujo bordo lateral é livre
e bordo inferior se insere entre o tubérculo púbico e a crista pectínea
• Acções: faz a flexão do tronco e a elevação anterior da bacia;
o Aumenta a pressão intra-abdominal, participando na expiração, tosse, vómito, defecação e micção
• A bainha ou aponevrose do recto abdominal é composta por duas lâminas fundidas na linha alba
o A lâmina anterior tem diferente constituição nos 3/4 superiores e 1/4 inferior
▪ 3/4 superiores: formada pela aponevrose do oblíquo externo e folheto anterior da aponevrose
do oblíquo interno
• Superiormente recebe fibras do grande peitoral e respectiva fáscia
▪ 1/4 inferior: formada pelas aponevroses dos oblíquo externo e interno e transverso abdominal
o A lâmina posterior existe apenas nos 3/4 superiores da face posterior do músculo
▪ Formada pelo folheto posterior da aponevrose do oblíquo interno e aponevrose do transverso
abdominal
▪ O bordo inferior da lâmina posterior é denominado linha arqueada de Douglas
▪ No 1/4 inferior o recto abdominal é revestido, posteriormente, pela fáscia transversalis
o A linha alba é uma raffe tendinosa que se estende desde o p. xifóide à crista e sínfise púbicas
in Gray
55
Transverso abdominal: músculo mais interno da parede ântero-lateral do abdómen
• Inserção posterior: na aponevrose tóraco-lombar
• Inserção superior: na face interna das 5 últimas costelas e cartilagens costais, interdigitando-se com os
feixes costais do diafragma
• Inserção inferior: no lábio interno dos 2/3 anteriores da crista ilíaca, EIAS e no 1/3 lateral do lig. inguinal
• Inserção terminal, anterior: lança-se na aponevrose do transverso abdominal, que se insere:
o Na linha alba, sendo que nos 3/4 superiores passa posteriormente ao recto abdominal formando parte
da lâmina posterior da bainha do recto abdominal, e no 1/4 inferior passa anteriormente, formando
parte da lâmina anterior
o Anteriormente aos rectos abdominais, através de um tendão conjunto, formado pelas fibras inferiores
do oblíquo interno e da aponevrose do transverso abdominal que cavalgam o cordão espermático/lig.
redondo, que se vai inserir na crista pectínea, tubérculo, crista e sínfise púbicos
o A aponevrose, inferiormente e na sua face profunda, a partir da linha arqueada, emite um
espessamento, o ligamento interfoveolar (adiante descrito), que desce ínfero-lateralmente, contorna
o orifício inguinal profundo medial e inferiormente e se funde com a fáscia transversalis
Oblíquo interno
• Inserção posterior: na aponevrose tóraco-lombar
• Inserção inferior: no interstício dos 2/3 anteriores da crista ilíaca, EIAS e no 1/3 lateral do lig. inguinal
• Inserção terminal, anterior: dá-se por três tipos de feixes
o Feixes superiores: nas ext. anteriores e margem inferior das 3-4 últimas costelas e cartilagens cost.
o Feixes médios: lançam-se na aponevrose do oblíquo interno que, nos 3/4 superiores se bifurca em
lâmina anterior e posterior, abraçando o M. recto abdominal, e no 1/4 inferior passa toda ela
anteriormente ao recto abdominal, inserindo-se na linha alba
o Feixes inferiores: têm origem no 1/3 lateral do lig. inguinal
▪ Cavalgam superiormente o canal inguinal ao nível do seu 1/3 médio e fundem-se com fibras da
aponevrose do transverso abdominal para formar o tendão conjunto ou foice inguinal, que se
insere na crista pectínea, tubérculo, crista e sínfise púbicos
▪ Algumas fibras musculares dos feixes inferiores do oblíquo interno e do transverso abdominal
acompanham o cordão espermático e formam o M. cremáster (ver Escroto)
Oblíquo externo
• Inserção superior: na face externa das 8 últimas costelas, dirigindo-se as fibras ântero-ínfero-medialmente
o Os seus feixes interdigitam-se com os feixes descendentes do M. serratus anterior
• Inserção inferior: no lábio externo dos 2/3 anteriores da crista ilíaca
• Inserção terminal, anterior: lança-se na aponevrose do oblíquo externo, que forma parte da lâmina
anterior da bainha do recto abdominal, e que devido à sua complexidade merece descrição isolada (adiante)
• Relações relevantes: o bordo inferior do músculo forma o limite anterior do triângulo lombar (ver Hérnias)
Acções dos músculos da parede ântero-lateral do abdómen (transverso abdominal, oblíquo interno e externo):
• Aumentam a pressão intra-abdominal, participando na expiração, tosse, vómito, defecação e micção
• O oblíquo interno faz a flexão e rotação ipsi-lateral do tronco
• O oblíquo externo faz a flexão ipsi-lateral e rotação contra-lateral do tronco
56
Aponevrose do oblíquo externo: tem várias inserções ósseas e ligamentares
• Medialmente: na linha alba, através de fibras que decussam com as do lado oposto
• Ínfero-lateralmente: na espinha ilíaca ântero-superior
• Inferiormente: no ligamento inguinal e no púbis (crista pectínea, tubérculo púbico e crista púbica)
o No ligamento inguinal, para o qual contribui com fibras que se enrolam, de anterior para posterior e de
lateral para medial, nas fibras próprias do ligamento inguinal, descrevendo uma curva côncava póstero-
medialmente (adiante descrito)
o Na crista pectínea através de uma expansão triangular, o lig. lacunar (Gimbernat) (adiante descrito)
o No tubérculo púbico e crista púbica através dos pilares lateral, medial, e posterior que formam os
limites lateral, medial e póstero-inferior do orifício inguinal superficial, respectivamente:
▪ O pilar lateral insere-se no tubérculo púbico ipsi-lateral
▪ O pilar medial cruza anteriormente os músculos recto abdominal e piramidal insere-se no
tubérculo púbico e face anterior do corpo do púbis contra-lateral
▪ O pilar posterior (ou ligamento inguinal reflectido de Colles) cuja origem e terminação são difíceis
de definir, diferindo a sua descrição na literatura:
• Gray: as suas fibras, pertencentes ao ligamento inguinal, junto ao púbis, não se inserem
no osso mas dirigem-se para súpero-medial, posteriormente ao orifício inguinal superficial
e inserem-se na linha alba
• Rouvière: é proveniente das fibras profundas da aponevrose do oblíquo externo do lado
oposto, que cruzam a linha média com obliquidade ântero-ínfero-medial e inserem-se na
crista púbica, tubérculo púbico e porção medial da crista pectínea
▪ As fibras intercrurais (crura refere-se a pilar) são superficiais e formam o limite superior
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Trajecto inguinal (3-5cm de comprimento no adulto)
• Canal de obliquidade ântero-ínfero-medial entre a cavidade abdominal e os genitais externos
o No homem dá passagem ao cordão espermático, vasos testiculares e deferenciais e N. ílio-inguinal
o Na mulher dá passagem ao ligamento redondo do útero e N. ílio-inguinal
o Descrevem-se duas paredes, dois bordos e dois orifícios
• Parede anterior: formada, em toda a sua extensão, pela aponevrose do oblíquo externo e, adicionalmente,
no 1/3 lateral, pelas fibras inferiores dos M. oblíquo interno e transverso abdominal
• Parede posterior: divide-se em terços distintos, embora a fáscia transversalis lhes seja comum
o 1/3 lateral: lig. interfoveolar, fáscia transversalis e vasos epigástricos inf., de anterior a posterior
o 1/3 médio: apenas a fáscia transversalis, sendo a zona mais frágil desta parede (ver Hérnias)
▪ É nesta porção da parede posterior que ocorrem as HÉRNIAS INGUINAIS DIRECTAS
o 1/3 medial: pilar posterior ou ligamento inguinal reflectido, tendão conjunto, ligamento de Henle,
bainha do recto abdominal e fáscia transversalis, de anterior a posterior
• Bordo superior:
o Porção lateral: formado pelo M. oblíquo interno e aponevrose do transverso abdominal
o Porção medial: formado pelo tendão conjunto, após união das estruturas acima
• Bordo inferior: formado pelo ligamento inguinal e pelo tracto ílio-púbico, imediatamente posterior
• Orifício inguinal profundo, localiza-se 1.25cm acima do ponto médio do lig. inguinal, e é limitado por:
o Súpero-lateralmente: M. oblíquo interno e aponevrose do transverso abdominal
o Inferiormente: tracto ílio-púbico e porção inferior do ligamento interfoveolar
o Medialmente: prega falciforme do ligamento interfoveolar e vasos epigástricos inferiores
o A fáscia transversalis evagina-se pelo trajecto inguinal, recobrindo os seus conteúdos, passando a
denominar-se fáscia espermática interna (ver Genitais)
o É através do orifício inguinal profundo que se originam as HÉRNIAS INGUINAIS INDIRECTAS
• Orifício inguinal superficial, localiza-se acima do 1/3 medial do lig. inguinal, e é limitado por:
o Superiormente (e superficialmente): fibras intercrurais (Nicaise) da aponevrose do oblíquo externo
o Inferiormente (e profundamente): pilar posterior ou ligamento inguinal reflectido
o Lateralmente: pilar lateral da aponevrose do oblíquo externo
o Medialmente: pilar medial da aponevrose do oblíquo externo
Anel femoral
• Anel de orientação aproximadamente horizontal (“olha” inferiormente), através do qual passam os vasos
femorais e onde se encontra o gg. linfático inguinal profundo proximal de Cloquet e Rosenmüller
o De medial a lateral encontram-se o gânglio referido, a veia femoral e a artéria femoral
o O gânglio referido, quando aumentado por processos infecciosos ou inflamatórios, pode ser confundido
com uma hérnia femoral
• Limites:
o Anteriormente, o tracto ílio-púbico e, ântero-superior a este, o ligamento inguinal
o Posteriormente, a fáscia do M. pectíneo e o ligamento pectíneo
o Medialmente, o bordo medial (ou base) do ligamento lacunar
o Lateralmente, o ligamento ílio-pectíneo, que separa a A. femoral do N. femoral, lateral a esta
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Fáscia transversalis: fina camada entre a parede abdominal ântero-lateral e o espaço extra-peritoneal
• “Fáscia” é enganador, pois esta não passa de um “verniz” que atapeta internamente a cavidade abdominal
• Inserções e continuações:
o Posteriormente, continua-se com o folheto anterior da aponevrose tóraco-lombar
o Lateralmente, insere-se no lábio interno da crista ilíaca
o Anteriormente é contínua
o Superiormente, continua-se com a fáscia inferior do diafragma
o Inferiormente, é complexa, descrevendo-se relativamente ao ligamento inguinal
▪ A nível do 1/3 lateral do lig. inguinal, funde-se com a fáscia ilíaca
▪ A nível do 1/3 médio do lig. inguinal, continua-se com a fáscia espermática interna, ao nível do
orifício inguinal profundo, e com a fáscia femoral, ao nível do anel femoral
▪ A nível do 1/3 medial do lig. inguinal, afasta-se deste, cobre posteriormente o ligamento de Henle
e o M. recto abdominal, e insere-se na crista pectínea e na crista do púbis
• Reforços
o Ligamento de Henle
▪ Expansão do feixe lateral do tendão inferior do M. recto abdominal, cujo bordo lateral é livre e
bordo inferior se insere no tubérculo púbico e crista pectínea
o Ligamento interfoveolar (Hesselbach)
▪ Espessamento da aponevrose do transverso abdominal, com origem a nível da linha arqueada,
desce ínfero-lateralmente, contorna o orifício inguinal profundo medial e inferiormente,
descrevendo uma curva de concavidade lateral, onde se funde com a fáscia transversalis
• Ao contornar o orifício inguinal profundo origina a prega falciforme
o Fita, ligamento ou tracto ílio-púbico (Thompson)
▪ Insere-se desde a EIAS até ao tubérculo púbico e linha alba
▪ É paralelo ao ligamento inguinal, colocando-se póstero-inferiormente a este
▪ É muito aderente à fáscia transversalis mas é anterior a esta, e é destacável desta na metade
lateral do ligamento inguinal, criando um espaço para os vasos circunflexos ilíacos
▪ É muito aderente ao ligamento inguinal mas destacável deste ao nível doo 1/3 medial, em que
passa posteriormente ao tendão conjunto, ao recto abdominal e ao ligamento de Henle para se
inserir na linha alba
in Testut
in Rouvière
Triângulo lombar inferior (J. L. Petit), cujo pavimento é o M. oblíquo interno, é limitado por:
o Inferiormente, pelo 1/3 posterior da crista ilíaca
o Anteriormente, pelo bordo posterior (livre) do M. oblíquo externo
o Posteriormente, pelo bordo lateral do M. latissimus dorsal
• Triângulo lombar superior (Grynfeltt), cujo pavimento é aponevrose tóraco-lombar é limitado por:
o Medialmente, pelo bordo lateral do M. erector da espinha
o Súpero-medialmente, pelo último feixe do M. serratus posterior inferior
o Súpero-lateralmente, pelo bordo inferior da 12ª costela (este limite é curto e inconstante)
o Ínfero-lateralmente, pelo bordo posterior do M. oblíquo interno
61
Ligamento interfoveolar
Ligamento de Henle
in Netter’s
Gastroenterology
62
Nota clínica: Uma hérnia é protusão anormal de uma estrutura contida de uma região original para outra, através de defeito
ou fraqueza de uma parede ou limite, como já vimos atrás nas hérnias discais. As hérnias abdominais mais comuns são as
inguinais (mais de 75%) e as femorais (também chamadas crurais). Estas hérnias ocorrem quando uma porção de epíplon
(gordura peritoneal) ou uma ansa de intestino atravessa estes pontos fracos em direcção ao exterior, correndo o risco de o
conteúdo ficar “preso” ou “apertado”. As hérnias inguinais são mais comuns em homens e as hérnias femorais são mais
comuns em mulheres. As inguinais indirectas, aquelas em que o conteúdo abdominal atravessa o anel inguinal profundo, são
mais comuns que as directas, que são aquelas em que o conteúdo abdominal “empurra” o 1/3 médio da parede posterior do
trajecto inguinal – a fossa inguinal média – na sua tentativa de abandonar a cavidade abdominal.
A história típica é de um doente do sexo masculino com 40 a 60 anos com história de esforço físico habitual ou obstipação,
com uma tumoração que aumenta com o esforço, com a tosse, com a defecação (manobras que aumentam a pressão intra-
abdominal), diminui em decúbito dorsal, que pode ou não ser dolorosa. As hérnias inguinais, normalmente, são redutíveis, isto
é, conseguimos empurrar com o dedo o seu conteúdo de volta para a cavidade abdominal (ou há redução espontânea em
decúbito), enquanto as hérnias femorais são, com frequência, irredutíveis. Após a redução, se a hérnia for súpero-medial ao
tubérculo púbico, é inguinal, enquanto se for ínfero-lateral, é femoral. Uma hérnia irredutível está, por definição, encarcerada
(“presa”), pelo que deve ser operada porque pode estrangular. O maior perigo clínico das hérnias abdominais/femorais é que,
ao estarem um espaço apertado, causem um fenómeno de isquémia dos tecidos contidos, fenómeno que se chama de
estrangulamento. Uma hérnia estrangulada é dolorosa, existe calor e rubor no local da hérnia, e normalmente cursa com
oclusão intestinal (paragem da emissão de gases e fezes, dor abdominal generalizada e náuseas e/ou vómitos). O
estrangulamento leva a isquémia do segmento afectado, o que é uma urgência cirúrgica. A correcção das hérnias abdominais
(estrangulada ou não) é cirúrgica, e assenta em devolver o conteúdo da hérnia à cavidade abdominal e reforçar a parede
abdominal e o trajecto inguinal com suturas e/ou malhas, existindo vários procedimentos cirúrgicos de herniorrafia.
63
Hérnias femorais, in Netter’s Gastroenterology
Na hérnia de Littré há encarceramento mas não há oclusão. Na hérnia de Maydl há estrangulamento mas não à custa
do segmento herniado, pelo que é difícil diagnosticar à palpação
in Browse 64
Artérias, Veias e Linfáticos
Artérias https://meducation.net/resources/30212-Arterial-Schematic
Aorta horizontal (Croça/Arco da aorta, extra-pericárdica): (NETTER pp. 203, 228, 233)
Origem: ao nível do bordo superior da 2ª cartilagem costal
Trajecto: ascendente com orientação inicial póstero-esquerda, anteriormente à traqueia, atingindo o pico, e
descendo atrás do hilo pulmonar esquerdo até ao nível do de T4, sempre no mediastino superior
• O pico está a 2.5mm do bordo superior do manúbrio e os diâmetros são de 28mm (inicial) e de 20mm (final)
Terminação: ao nível do corpo de T4, continuando-se com a Aorta descendente
• Apresenta, na porção terminal, entre a origem da A. subclávia esquerda e o ligamento arterial, um aperto
chamado istmo aórtico
Relações:
• Ântero-esquerda: pleura e pulmão esquerdos, nervo frénico esquerdo e nervo laríngeo recorrente esquerdo
(origem) e ramos cervicais cardíacos do N. vago
• Inferiormente: bifurcação do tronco pulmonar e ligamento arterial (obliteração do canal arterial, uma
estrutura fetal que ligava o tronco pulmonar à aorta), brônquio principal esquerdo, nervo laríngeo recorrente
esquerdo (após origem)
• Póstero-direita: traqueia, nervo laríngeo recorrente esquerdo, esófago, canal torácico, corpo de T3
• Superiormente: tronco bráquio-cefálico, A. carótida comum esquerda e A. subclávia esquerda
65
Nota clínica: O canal arterial, no feto, serve para desviar o sangue do coração direito para a Aorta, uma vez que não necessita
de ir aos pulmões já que estes não ventilam. Assim, o sangue fetal é uma mistura de sangue oxigenado com não oxigenado,
rondado a sua saturação de O2 os 80%. Quando o recém-nascido inspira pela primeira vez, a saturação de O2 no sangue sobre
vertiginosamente até perto dos 100%, e as células musculares circulares do canal arterial, sensíveis à saturação de O2,
contraem, encerrando o canal, cujo conteúdo coagula e gradualmente oblitera, formando o ligamento arterial. Por razões
desconhecidas, por vezes, o canal arterial permanece aberto após o nascimento, denominando-se canal arterial persistente.
Uma vez que, após o nascimento, a pressão na Aorta é muito superior às pressões no tronco pulmonar (o ventrículo esquerdo
é mais potente que o direito), com um canal arterial persistente o sangue é desviado da Aorta horizontal para as A.
pulmonares, causando dificuldades respiratórias por congestão dos vasos pulmonares, hipertensão pulmonar e
potencialmente insuficiência cardíaca congestiva. Esta patologia resolve-se com indometacina ou ibuprofeno (anti-
inflamatórios não esteróides) endovenoso em recém-nascidos ou com cirurgia em canais grandes e/ou na infância.
Tronco bráquio-cefálico
Origem: colateral da Aorta horizontal
Trajecto: ascende com orientação póstero-súpero-lateral até ao nível da Art. esternoclavicular direita, apresentando
um comprimento de 4-5cm
Terminação: por bifurcação em A. carótida comum direita e A. subclávia direita
Relações:
• Anteriormente: V. bráquio-cefálica esquerda, V. tiroideia inferior direita, M. esternocleidomastoideu,
esterno-hioideu e esterno-tiroideu direitos, timo e o manúbrio
• Posteriormente: pleura direita (inferiormente) e traqueia (superiormente), e N. vago direito
• Lateralmente: V. bráquio-cefálica direita, pleura e pulmão direitos
• Medialmente: A. carótida comum esquerda e o timo
66
Terminação: por bifurcação em A. carótida externa e interna (serão exploradas em Anatomia III) ao nível de C3-C4
ou bordo superior da cartilagem tiróide, embora este nível seja variável
• Ao nível da bifurcação existe um tecido intimamente aderente ao ângulo entre carótida interna e externa
denominado corpo carotídeo, que é um quimiorreceptor sensível pressão parcial de oxigénio sanguíneo
• Um ramo da carótida externa, a A. tiroideia superior, é relevante para o estudo da Anatomia I e foi descrita
junto do órgão que vasculariza, a tiróide
Trajecto: ambas ascendem súpero-lateralmente até ao bordo medial do M. escaleno anterior e passam no triângulo
inter-escalénico, entre escalenos anterior e médio, e a face superior da 1ª costela, num sulco próprio
Terminação: ambas terminam ao nível do bordo lateral da 1ª costela, continuando-se como A. axilar
Relações: descritas em três porções distintas dos seus trajectos, sendo que a porção medial é diferente uma vez que
a subclávia esquerda tem um trajecto torácico e cervical, enquanto a direita só tem trajecto cervical
• Porção medial, inclui 1/3 medial da porção cervical (até bordo medial do M. escaleno anterior):
o Anteriormente, em ambas: nervos vago e frénico, V. jugular interna e V. subclávia direita, M.
esternocleidomastoideu, esterno-hioideu e esterno-tiroideu e ansa simpática subclávia
▪ Apenas à esquerda: Veia bráquio-cefálica esquerda
o Posteriormente, em ambas: ápex pulmonar de cada lado, pleura cervical e N. laríngeo recorrente
▪ Apenas à esquerda: esófago e canal torácico
o Medialmente, em ambas: nervo laríngeo recorrente
▪ Apenas à esquerda: traqueia, esófago e canal torácico
o Lateralmente, em ambas: pulmão e pleura cervical de cada lado
• Porção média, ou 1/3 médio da porção cervical (entre escalenos anterior e médio):
o Anteriormente: M. escaleno anterior e V. subclávia
o Posteriormente: M. escaleno médio e plexo braquial
o Inferiormente: face superior da 1ª costela, através do sulco da A. Subclávia
• Porção lateral, ou 1/3 lateral cervical (desde bordo lateral do M. escaleno anterior até ao bordo lateral da 1ª
costela):
o Anteriormente: V. subclávia e M. subclávio
o Posteriormente: plexo braquial
o Inferiormente: face superior da 1ª costela
67
Colaterais: organizados consoante o 1/3 cervical (medial, médio ou lateral) que lhe dá origem
• A. vertebral
o Origem: na face superior do 1/3 interno da A. subclávia in Gray
o Trajecto: sobe até C6, passa nos foramina transversários C6-C1,
arqueia atrás da massa lateral do Atlas, perfura a membrana atlanto-
occipital posterior e entra no foramen magnum
o Terminação: une-se à contra-lateral para formar a A. basilar, para a
circulação cerebral posterior
o Colaterais cervicais: ramos espinhais e musculares
o Colaterais intracranianos: ramos meníngeos, A. espinhal anterior
(desce no sulco espinhal anterior) A. espinhais posteriores (2) e A.
cerebelosa póstero-inferior (PICA, para os amigos)
O nível de entrada da A. vertebral
• A. torácica interna (antiga mamária interna)
o Origem: na face inferior do 1/3 medial da A. subclávia, 2cm acima da ext. anterior da clavícula
o Trajecto: vertical descendente, posteriormente às 6 primeiras cartilagens costais, 1cm lateralmente ao
bordo esternal, separada da pleura parietal pela fáscia endotorácica e pelo transverso do tórax
o Terminação: bifurcando-se em A. epigástrica superior e A. músculo-frénica
▪ A. epigástrica superior: atravessa o triângulo esterno-costal, desce verticalmente e anastomosa
com a epigástrica inferior na parede anterior do abdómen
▪ A. músculo-frénica: corre lateralmente ao longo do arco costal, irriga o diafragma, dá as A.
intercostais anteriores 7ª à 11ª e anastomosa lateralmente com as A. circunflexas ilíacas
profundas, frénicas inferiores, subcostais e lombares na parede lateral do abdómen
o Colaterais:
▪ A. pericárdio-frénica: desde a 1ª costela acompanha o N. frénico e irriga diafragma e pericárdio
▪ A. intercostais anteriores 1ª à 6ª
▪ Ramos esternais, mediastínicos, tímicos, musculares e perfurantes (mamários mediais)
• Tronco tirocervical: origem na face anterior do 1/3 medial da A. subclávia, termina por trifurcação:
o A. tiroideia inferior, dá origem a:
▪ A. laríngea inferior, acompanha o N. recorrente laríngeo
▪ Ramos glandulares para as glândulas tiróide e paratiróides
▪ Ramos faríngeos, esofágicos superiores, traqueais
▪ A. cervical ascendente, que dá ramos musculares e espinhais
o A. cervical transversa: dirige-se póstero-lateralmente para irrigar o M. trapézio
▪ Em 30% dos casos dá um ramo cervical superficial e a escapular dorsal
o A. supraescapular: dirige-se ínfero-póstero-lateralmente, acompanha o ventre inferior do omo-hioideu
até à escápula, passa sobre o lig. transverso escapular superior e para os músculos post. da escápula
• Tronco costocervical:
o Origem: na face posterior do 1/3 médio da A. subclávia
o Trajecto: dirige-se posteriormente descrevendo um arco de concavidade inferior
o Terminação: por bifurcação ao aproximar-se do colo da 1ª costela:
▪ A. cervical profunda: ascende para irrigar os músculos da nuca
▪ A. intercostal superior: origina as A. intercostais posteriores 1ª e 2ª
• A. escapular dorsal:
o Origem: na face superior do 1/3 lateral da A. subclávia, embora em 30% dos casos possa ser o ramo
descendente da A. cervical transversa
o Trajecto: dirige-se póstero-lateralmente através do plexo braquial acompanha o bordo medial da
escápula com o N. escapular dorsal
o Terminação: ramos musculares para os músculos rombóides, latissimus dorsal e trapézio
68
Aorta descendente torácica (NETTER p. 233)
Origem: anteriormente ao corpo de T4
Trajecto: descendente vertical com algum obliquidade ínfero-direita, inicialmente à esquerda dos corpos vertebrais,
terminando na linha média
Terminação: anteriormente ao disco tóraco-lombar (T12-L1), no hiato aórtico do diafragma
Relações:
• Anteriormente: de superior a inferior, pedículo pulmonar esquerdo, aurícula esquerda, esófago, diafragma
• Posteriormente: extremidade posterior das costelas esquerdas, canal torácico, corpos vertebrais torácicos e
lig. longitudinal anterior, veias hemi-ázigos e hemi-ázigos acessória e a cadeia simpática látero-vertebral
• Direita: corpos vertebrais torácicos, canal torácico, esófago, veia ázigos e pleura e pulmão direitos
• Esquerda: pleura e pulmão esquerdos, e esófago (na porção terminal)
o Destaca-se a observação da mútua espiral descrita pelo esófago e Aorta descendente: o esófago,
inicialmente, é ântero-direito, depois anterior, terminando ântero-esquerdo a nível do diafragma
Colaterais: dividem-se em parietais e viscerais
• A. frénicas superiores: anastomosam com as A. músculo-frénica e pericárdio-frénica
• A. intercostais posteriores 3ª à 11ª: percorrem os espaços intercostais 3º-11º no sulco costal
o Ramo dorsal: passa entre os colos de costelas adjacentes, para os músculos do dorso e dá ramos
cutâneos para a pele do dorso
o Ramo espinhal (pode vir do ramo dorsal): irriga as vértebras, meninges e espinhal medula
▪ Artéria radicular anterior: para a raiz anterior de um N. espinhal
• Quando esta tem um calibre maior, ultrapassa a raiz anterior e torna-se a A. segmentar
NETTER pp. 167-168
medular anterior que alcança o sulco medular anterior e se anastomosa com a A. medular
Colaterais parietais
anterior
• A grande artéria segmentar medular anterior (Adamkiewicz) provém do ramo espinhal de
uma das últimas A. intercostais posteriores (9ª-11ª) ou da subcostal, e é responsável pela
vascularização da metade ou dos 2/3 inferiores da medula espinhal, uma vez que percorre
uma grande extensão do sulco medular anterior
▪ Artéria radicular posterior: para a raiz posterior de um N. espinhal
• Anastomosa-se com a A. medular posterior do respectivo lado
o Ramo colateral intercostal ou supracostal: corre no bordo superior da costela infrajacente
o Ramo lateral cutâneo: irriga a pele adjacente ao espaço intercostal
o Ramos musculares: para os M. intercostais, peitorais e serratus anterior
▪ Anastomosa com a A. intercostal anterior, colateral da A. torácica interna
o As intercostais posteriores 1ª e 2ª são ramos da A. intercostal superior, colateral do tronco costo-
cervical, proveniente da A. subclávia de cada lado
• A. subcostal: corresponde à última intercostal posterior, mas não se pode chamar intercostal
Colaterais viscerais
• A. frénicas inferiores: 1ºs ramos colaterais, distribuem-se para face diafragmática inferior e dão colaterais:
o A. esofágica recorrente, à esquerda, ascende pelo bordo direito do esófago abdominal
o A. suprarrenais superiores, bilaterais
• A. sagrada média: nasce da face posterior da porção terminal da Aorta, logo acima da bifurcação, e desce
verticalmente na face anterior do corpo de L5, do Sacro até ao Cóccix
o Últimas A. lombares (5º par)
o Ramos sagrados laterais, anastomosam com as A. sagradas laterais, colaterais da ilíaca interna
o Há quem a considere um ramo terminal da Aorta abdominal porque, embriologicamente, corresponde
ao tronco aórtico atrofiado (que iria para a “cauda”)
70
Tronco celíaco (NETTER pp. 283-286):
• Origem: nasce logo abaixo das frénicas inferiores, ao nível de T12-L1
• Trajecto: tronco curto, de 1.5-2cm que se dirige ântero-superior ou ântero-inferiormente
• Terminação: trifurca-se em A. gástrica esquerda, esplénica e hepática comum (adiante descritas)
• Relações:
o Anterior: plexo celíaco, bursa omental e face posterior do estômago
o Direita: pilar direito do diafragma, gânglio celíaco direito e lobo caudado do fígado
o Esquerda: pilar esquerdo do diafragma, gânglio celíaco esquerdo e o cárdia (ver Estômago)
71
o A. gastroduodenal: desce com orientação ínfero-direita atrás de D1 e bifurca-se em:
▪ A. gastro-epiplóica direita (anastomosa com a esquerda)
▪ A. pancreático-duodenal anterior superior (PDAS): desce à frente da cabeça do pâncreas e
anastomosa com a PDAI (colateral da mesentérica superior) formando a arcada pancreático-
duodenal anterior
• Forma a A. pré-pancreática com um ramo anastomótico da A. dorsal pancreática
• Colaterais:
o A. supraduodenal (ocasionalmente)
o A. pancreático-duodenal posterior superior (PDPS): desce atrás da cabeça do pâncreas e
anastomosa com a com a PDPI (colateral da mesentérica superior) formando a arcada
pancreático-duodenal posterior
72
in Gray
• A. suprarrenais médias
o Origem: nas faces laterais da Aorta ao nível da A. mesentérica superior
o Trajecto: sobem com obliquidade lateral em direcção à glândula suprarrenal
▪ A direita tem de passar posteriormente à V. cava inferior para alcançar a glândula
o Terminação: ramos perfurantes que entram na cápsula das suprarrenais e anastomosam com os ramos
das A. suprarrenais superior (colateral da frénica inferior) e inferior (colateral da A. renal)
• A. renais: exploradas em maior detalhe no segundo semestre
Colaterais viscerais pares
74
Relações
• Anteriormente: ureter e, na mulher, ovários e trompa
• Posteriormente: V. ilíaca interna, tronco lombo-sagrado, face anterior do Sacro e M. piriforme
• Lateralmente: M. psoas-ilíaco, V. ilíaca externa e N. obturador
• Medialmente: órgãos pélvicos (bexiga, recto, próstata + vesículas seminais / útero + ovários + trompas)
75
Ramos intra-pélvicos viscerais: A. umbilical, vesical inferior, rectal média, uterina e vaginal
• A. umbilical: dirige-se ântero-inferiormente ao longo do rebordo do orifício superior da pélvis e, alcança as
margens laterais da bexiga pelo seu ramo terminal, a A. vesical superior, tendo antes dado origem a:
o Ligamento umbilical medial: com origem logo abaixo do canal obturador, é o cordão que corresponde
à A. umbilical fetal obliterada
o A. deferencial: com origem proximal na A. umbilical, podendo ser ramo da A. vesical superior ou
inferior ou ainda ramo da A. ilíaca interna, vasculariza o canal deferente e as vesículas seminais
o Ramos uretéricos inferiores
• A. vesical inferior: além de irrigar a bexiga, dá a A. prostática, ramos vesiculares (seminais) e deferenciais
o Na mulher, muitas vezes está ausente, substituída pela A. vaginal
• A. rectal média: alcança, cada uma, as faces laterais do recto, entrando no mesorrecto através dos
“ligamentos laterais” ou fáscias hipogástricas, e anastomosa com A. rectal superior e inferior
o Pode dar a A. vesical posterior
• A. uterina: é longa, tortuosa e de trajecto complexo subdivisível em três porções:
o Parietal (5-6cm): na parede da cavidade pélvica, junto ao arco tendinoso da fáscia do obturador int.
o Transversal: muda de direcção, dirigindo-se horizontalmente para medial, na espessura dos ligamentos
cardinais, cruzando superiormente o ureter 1.5-2cm lateralmente ao cérvix, e dá ramos cérvico-
vaginais (5-6) e vesicais
▪ Ramos vaginais formam as A. ázigos vaginais, vasos longitudinais medianos, uma anterior e uma
posterior nas respectivas paredes
o Visceral: ascende ao longo das margens laterais do útero em espiral dando A. helicíneas para o útero
▪ A. helicíneas penetram na muscular e dividem-se em ramos anteriores e posteriores que abraçam
o corpo uterino, anastomosando-se fracamente com as contra-laterais na linha média
o Termina nos cornos uterinos dando ramos tubares e ramos ováricos mediais e ramo do lig. redondo
• A. vaginal: alcança as margens laterais da vagina e forma anastomoses com:
o Ramos vaginais da pudenda interna
o Ramos vaginais da uterina, formando as A. ázigos vaginais anterior e posterior
Nota clínica (ver imagens pag. seguinte): A aterosclerose é um processo que começa logo na adolescência e pode ser
exponenciado por factores de risco como hipercolesterolémia, obesidade, tabagismo e hipertensão arterial. Corresponde a
uma proliferação fibromuscular e deposição lipídica logo abaixo da camada mais interna das artérias (a íntima), o que reduz o
calibre dessas artérias e predispõe a eventos isquémicos (por redução do calibre e, portanto, do sangue que chega aos tecidos)
e trombóticos, uma vez que algumas destas placas tornam-se instáveis e, ao expor o seu conteúdo à corrente sanguínea,
desencadeiam a formação de coágulos → trombose. O trombo formado pode ocluir a artéria no local de formação ou viajar
com a corrente sanguínea até ocluir um vaso a jusante, normalmente uma A. coronária (causando o enfarte agudo do
miocárdio) ou uma artéria cerebral (causando um acidente vascular cerebral: a principal causa de morte em Portugal). Os
aneurismas aórticos são dilatações saculares ou fusiformes do lúmen devido a fragilidades focais da parede aórtica. Estas
fragilidades são causadas, normalmente, pela aterosclerose (90% dos aneurismas da Aorta descendente). Outras causas de
aneurismas são infecções (destaca-se a aortite sifilítica), trauma e as doenças do tecido conjuntivo (S. Marfan ou S. Ehlers-
Danlos), sendo que estas, tipicamente, causam aneurismas da aorta ascendente e horizontal. Qualquer que seja a causa, estes
podem romper (sangrar para fora) ou dissecar (sangrar para dentro da espessura da parede), o que incorre numa situação
potencialmente fatal. Muitos aneurismas aórticos são assintomáticos, embora outros causem dor torácica, abdominal,
dispneia (falta de ar), rouquidão, tosse e hemoptise (tosse com sangue). As dissecções da Aorta correspondem ao aparecimento
de um falso lúmen entra a íntima e a média (as duas camadas internas dos vasos sanguíneos), devido a uma rasgadura da
íntima. Este falso lúmen preenche-se de sangue e pode progredir ao longo do trajecto aórtico. Factores de risco para esta
patologia são hipertensão arterial, a presença de um aneurisma ou uma doença do tecido conjuntivo, mesmo na ausência de
aneurisma. Os sintomas típicos são uma dor aguda e pulsátil retroesternal ou interescapular, síncope e fraqueza dos membros
inferiores. Enquanto as dissecções são emergências cirúrgicas, aneurismas pequenos, estáveis e assintomáticos necessitam
apenas de vigilância.
76
77
Veias
Podem ser definidos dois grandes sistemas venosos: o sistema da V. cava inferior e o da V. cava superior.
De modo geral, as veias são análogas às artérias que acompanham, têm o mesmo trajecto que estas, embora com um
sentido diferente (em direcção ao coração) e, geralmente, são duas veias por cada artéria, excepto nas veias de
grande calibre e, mesmo nas de pequeno, frequentemente as duas juntam-se num tronco comum quando drenam.
78
Sistema da Veia Cava Inferior
Veias ilíacas externas (NETTER pp. 252 e 260):
Origem: no anel femoral, continuando o trajecto centrípeto da V. femoral
Trajecto: ascendem com obliquidade póstero-súpero-medial
• A direita começa medialmente à A. ilíaca externa e depois torna-se posterior; a esquerda é sempre medial
Terminação: anteriormente às Art. sacro-ilíacas, ao nível do disco lombo-sagrado, ao juntarem-se à V. ilíaca interna
de cada lado para formar as V. ilíacas comuns direita e esquerda
Relações:
• Ântero-lateralmente: peritoneu parietal, cego e ansas ileais (à direita), sigmóide (à esquerda), vasos
testiculares/ováricos e o ureter, e as A. ilíaca externas (à direita é mais anterior, à esquerda mais lateral)
• Lateralmente: as A. ilíacas externas (junto ao anel femoral), o M. psoas major e N. génito-femoral
• Medialmente: canal deferente (H) ou lig. redondo do útero (M), e os orgãos pélvicos (bexiga, recto, útero, etc.)
Afluentes:
• V. circunflexa ilíaca profunda e V. epigástrica inferior
• V. púbica: anastomosa-se com ramo púbico (V. obturadora acessória) da V. obturadora
Veia porta (NETTER pp. 289-292): leva ao fígado quase todo o sangue das vísceras digestivas para funções
metabólicas e é o principal meio de vascularização do fígado, responsável por 75-80% do sangue que o fígado recebe
80
Anastomoses porto-cava: importantes como shunt/bypass em caso de obstrução da V. porta ou circulação portal
• Esofágicas inferiores/cárdicas: sequencialmente, V. porta-V. gástricas-V. esofágicas inferiores e depois:
o V. frénicas inferiores-VCI
o V. ázigos/hemi-ázigos-VCS
• Rectais: sequencialmente, V. porta-V. esplénica-V. mesentérica inferior-V. rectal superior-média-inferior
o Da rectal média para a V. ilíaca interna-V. ilíaca comum-VCI
o Da rectal inferior para a V. pudenda interna-V. ilíaca interna-V. ilíaca comum-VCI
• Paraumbilicais: V. porta-V. paraumbilicais (no ligamento redondo do fígado) e depois:
o V. epigástrica superior- V. torácica intern- V. subclávia-VCS
o V. epigástrica inferior-V. ilíaca externa-V. ilíaca comum-VCI
o V. epigástrica superficial-V. femoral-V. ilíacas externa e comum-VCI
• Retro-peritoneais: V. porta, V. mesentéricas, V. cólicas e jejuno-ileais:
o V. retro-peritoneais: são pequenos vasos inominados e indiscerníveis no indivíduo são, presentes ao
longo das raízes dos mesos (mesentério, mesocólon), que drenam para as veias que passem retro-
peritonealmente, nomeadamente as uretéricas, renais e lombares, e destas para a VCI
• Porto-hepáticas: permeabilização do lúmen do ligamento venoso hepático (antigo ducto venoso)
Nota clínica: uma vez que a V. porta leva a maior parte do sangue venoso das vísceras abdominais em direcção à VCI, é um
ponto sensível que, em caso de doença, tem consequências circulatórios que afectam muitos órgãos. A V. porta e a sua função
pode ficar comprometida se esta ficar obstruída (por exemplo, por trombose no síndrome de Budd-Chiari ou por parasitas) ou
se a pressão venosa no fígado for muito alta, como na cirrose hepática (em que, por fibrose e endurecimento do tecido
hepático, a circulação portal e drenagem venosa ficam dificultadas) ou na insuficiência cardíaca. Nestas situações, as
anastomoses porto-cava tornam-se importantes como trajectos alternativos (“bypass”) para garantir o retorno venoso ao
sistema cava, ou seja, ao coração direito. No entanto, o aumento do “uso” e do volume dos vasos que constituem estas
anastomoses, principalmente no caso das esofágicas, resulta na formação de varizes, com risco acrescido de rotura e
sangramento potencialmente fatal. Acresce ainda o facto de a maioria destes doentes, por insuficiência hepática global, estar
hipocoagulado (o fígado produz os factores de coagulação), tornando difícil o controlo da já volumosa hemorragia.
Gastroenterology
in Netter’s
81
Sistema ázigos (NETTER pp. 189, 204, 227-228, 234): formado pelas V. ázigos, hemi-ázigos e hemi-ázigos
acessória, tem a função de drenar a parede abdominal e torácica posterior na V. cava superior, e está sujeito a
inúmeras variações anatómicas
V. ázigos
Origem: anteriormente à ext. posterior do 11º espaço intercostal, à direita do pilar direito do diafragma, pela
confluência de uma raiz lateral e uma raiz medial
• Raiz lateral: confluência das V. lombar ascendente direita e subcostal direita
o V. lombar ascendente: vaso bilateral longitudinal, anterior à base dos p. transversos das vértebras
lombares que drena os plexos vertebrais e que liga as ilíacas comuns, ílio-lombares e lombares
• Raiz medial: a V. ázigos lombar direita, um pequeno afluente que nasce a partir da VCI
o Esta raiz é altamente inconstante e, caso não exista, a V. ázigos nasce apenas da raiz lateral
Trajecto: atravessa o diafragma, normalmente, entre os pilares principal e acessório direitos e sobe verticalmente
anteriormente à coluna vertebral, à direita da linha média, até ao corpo de T4, e aqui descreve um arco ou croça para
anterior, com concavidade inferior, que passa póstero-superiormente ao brônquio principal direito
• Ao descrever a croça da V. ázigos, por vezes, esta veia provoca no pulmão direito uma cisura (da V. ázigos),
que delimita um lobo supranumerário, o lobo da V. ázigos
Terminação: na VCS ao terminar a croça da V. ázigos
Relações:
• Anteriormente: esófago e pedículo pulmonar direito (vasos, brônquios, nervos, linfáticos, etc.)
• Posteriormente: coluna vertebral lombar e torácica
• Medialmente: canal torácico e Aorta
• Lateralmente: pleura mediastínica direita
Afluentes:
• V. intercostal superior direita: é descendente e drena as V. intercostais posteriores direitas 1ª à 3ª
• V. intercostais posteriores direitas 4ª à 11ª
• V. hemi-ázigos a nível de T8-T10 e V. hemi-ázigos acessória a nível de T6-T7
• V. brônquicas direitas, esofágicas, mediastínicas e pericárdicas
V. hemi-ázigos
Origem: simétrica à V. ázigos, por raiz lateral e medial
• A raiz lateral é a confluência das V. lombar ascendente e subcostal esquerdas
• A raiz medial da hemi-ázigos, ou seja, a V. ázigos lombar esquerda (+ constante), nasce da V. renal esquerda
Trajecto: simétrico à V. ázigos até T8-10, em que cruza a linha média, posteriormente à Aorta e canal torácico
Terminação: drena na V. ázigos após cruzar a linha média
Afluentes: as V. intercostais posteriores esquerdas 8ª ou 9ª até à 11ª
V. hemi-ázigos acessória
Origem: confluência das A. intercostais posteriores esquerdas 4ª até 7ª ou 8ª
• As V. intercostais posteriores esquerdas 1ª até 3ª drenam para a V. intercostal superior esquerda, que é
afluente da V. bráquio-cefálica esquerda
Trajecto: desce à esquerda da coluna vertebral até T6-T7 e cruza a linha média atrás da Aorta e canal torácico
Terminação: classicamente drena na V. ázigos após cruzar a linha média ao nível de T6-T7
• Pode drenar para a V. hemi-ázigos ao cruzar a linha média e ambas drenarem num tronco comum
• Pode anastomosar-se com a V. intercostal superior esquerda e drenar na V. bráquio-cefálica esquerda
Afluentes: recebe as V. brônquicas esquerdas, esofágicas, mediastínicas e pericárdicas
82
in Gray
Linfáticos
Uma vez que a drenagem linfática ocorre no sentido das extremidades para a cabeça, faz sentido descrever os grupos
e troncos linfáticos drenantes nesse sentido, à semelhança do que se fez com as veias.
O sistema linfático é composto por vasos aferentes, que drenam em gânglios (estações intermédias de filtração e
reconhecimento antigénico por parte dos linfócitos residentes), que se organizam em grupos satélites dos vasos que
acompanham e emitem vasos eferentes, continuando a cadeia de drenagem.
Gânglios pélvicos (NETTER pp. 261, 296, 384-386): ilíacos externos, internos e comuns
Gânglios ilíacos externos
Localização e divisão: localizam-se em redor dos vasos ilíacos externos, descrevendo-se os gânglios:
• Laterais, intermédios (atrás da artéria) e mediais em relação aos vasos ilíacos externos
• Obturador, próximo da abertura interna do canal obturador, no bordo superior do foramen obturador
• Lacunares lateral, intermédio e medial, consoante a sua posição no anel femoral, são imediatamente
posteriores ao ligamento inguinal
o Difícil distingui-los dos gg. inguinais profundos, dos quais faz parte o gg. de Cloquet ou Rosenmüller
Aferentes: recebe linfa de vários territórios
• Membros inferiores e região glútea: através de vasos aferentes vindos dos gg. inguinais superficiais e
profundos (descritos no capítulo de membro inferior, do segundo semestre)
• Órgãos pélvicos: directamente por vasos aferentes da vagina, útero, bexiga, próstata e indirectamente por
através de vasos dos gg. ilíaco internos
• Parede abdominal anterior pelos gg. epigástricos inferiores e circunflexos ilíacos
Eferentes: emite troncos linfáticos para os gg. ilíacos comuns
83
Gânglios ilíacos internos
Localização e divisão: localizam-se em redor dos vasos ilíacos internos, descrevendo-se os gânglios:
• Parietais: gg. glúteos superiores e inferiores, sagrados (pré-sagrados e sagrados laterais) e pudendos internos
• Viscerais:
o Peri-vesicais, incluem os pré-vesicais, pós-vesicais e látero-vesicais e drenam bexiga e próstata
o Para-rectais, para-uterinos e para-vaginais, rodeiam estas estruturas
Aferentes: drenam directamente a linfa dos órgãos pélvicos, região perineal profunda e paredes pélvicas
Eferentes: emitem vasos eferentes em direcção aos gg. ilíacos externos e comuns
84
o Hepáticos: organizam-se ao longo dos vasos hepáticos comuns e respectivos ramos
▪ Gg. hepático, ao longo da tríade portal no lig. hepato-duodenal até ao hilo hepático
▪ Gg. cístico de Lund, relacionado com o canal cístico e vesícula biliar, no triângulo hepato-cístico
▪ Gg. de Winslow, do foramen da bursa omental
▪ Gg. gastro-epiplóicos direitos, gg. pilóricos e gg. pancreático-duodenais superiores
• Mesentéricos superiores: são 100-150 gânglios em redor da AMS e dos seus ramos
o Periféricos ou justa-intestinais: junto à parede intestinal, agrupam-se segundo os colaterais da AMS em
gg. cólicos médios, cólicos direitos, ileocólicos, pré e retro-cecais, apendiculares e jejuno-ileais
▪ Os gg. ileocólicos, pré e retro-cecais, apendiculares e jejuno-ileais são mesentéricos
▪ Os gg. cólicos médios, cólicos direitos são parte dos mesocólicos (ver grupos adiante)
o Centrais: junto à origem da AMS
o Gg. pancreático-duodenais inferiores e gg. pancreáticos inferiores
o Aferentes: drena o intestino delgado, cego, cólon ascendente, transverso, pâncreas e duodeno
o Eferentes: drenam para os gânglios celíacos e os eferentes ajudam a formar os troncos intestinais
Gânglios torácicos (NETTER pp. 181, 205, 235): dois grandes grupos, os parietais e os viscerais
Gânglios torácicos parietais
• Frénicos superiores: em redor do pericárdio, na face superior do diafragma
o Gg. pré-pericárdicos e pericárdicos laterais
o Aferentes: drenam a linfa do diafragma, pleuras diafragmáticas, pericárdio e fígado
o Eferentes: drenam para gg. para-esternais e mediastínicos anteriores
85
Gânglios torácicos viscerais
• Mediastínicos anteriores: ao longo dos mediastinos superior e anterior
o Direitos ou pré-venosos: ao longo da V. bráquio-cefálica direita, da VCS e dos vasos pericárdio-frénicos
direitos
o Esquerdos ou pré-arteriais: anteriores à Aorta ascendente e croça e A. carótida comum esquerda
▪ Um destes é inferior à croça aórtica e, por se relacionar com o ligamento arterial (o canal arterial
fetal obliterado), é o gg. do ligamento arterial
o Transversais ou bráquio-cefálicos: ao longo do trajecto da V. bráquio-cefálica esquerda
o Aferentes: drenam os gg. frénicos superiores, as pleuras, pulmões, o coração, o pericárdio e o timo
o Eferentes: emitem vasos eferentes que se unem aos eferentes dos gg. tráqueo-brônquicos que
terminam nos respectivos ângulos júgulo-subclávios através dos troncos bronco-mediastínicos
86
Gânglios da cabeça e pescoço (NETTER pp. 74-76):
Gânglios peri-cervicais: em redor da transição entre cabeça e pescoço, de posterior a anterior
• Gg. suboccipitais, os mais posteriores
• Gg. mastoideus, em redor do processo mastóide
• Gg. parotídeos, em redor da glândula parótida, são três sub-grupos principais
o Gg. pré-auriculares, anteriormente ao pavilhão auricular
o Gg. infra-auriculares, inferiormente ao pavilhão auricular
o Gg. intra-glandulares, em relação com o tecido da glândula parótida
• Gg. submandibulares, ao longo do bordo inferior da mandíbula, drenam vários gg. faciais
• Gg. submentoniano, inferior ao mento (vulgo “queixo”)
Gânglios cervicais anteriores: relacionam-se com a V. jugular anterior e drenam nos gg. jugulares internos
• Superficiais ou jugulares anteriores, relacionam-se com a veia homónima e drenam nos cervicais profundos
• Profundos ou viscerais: drenam para gg. cervicais profundos ou para tráqueo-brônquicos
o Gg. retro-faríngeos, infra-hioideus, pré-laríngeos, tiroideus, pré-traqueais, para-traqueais (ao longo
das margens laterais da traqueia, continuam-se com os tráqueo-brônquicos)
Os gânglios cervicais, através do tronco jugular, os gg. axilares, através do tronco subclávio e os gg. mediastínicos e
tráqueo-brônquicos, através do tronco bronco-mediastínico, drenam a sua linfa de duas formas possíveis:
• Directamente na região do ângulo júgulo-subclávio (Pirogoff) do respectivo lado, mesmo no ângulo, ora mais
na V. jugular interna, ora mais na V. subclávia
• Convergindo para os canais linfático direito (pequeno e inconstante), à direita, e para o canal torácico
(volumoso e mais constante), à esquerda
Outros pequenos troncos são descritos, como os torácicos internos, mediastínicos anteriores, recorrentes, mas
devido à sua dimensão reduzida e inconstância anatómica, não são descritos.
Nota clínica: Os gânglios supra-claviculares ou de Virchow, quando aumentados e palpáveis, definem o sinal de Troisier um
sinal clássico (embora com baixa sensibilidade) de neoplasia digestiva, particularmente carcinoma do estômago. Estão,
também, comumente envolvidos em neoplasias hematológicas, das quais se destacam os linfomas de Hodgkin, comuns na
faixa etária dos leitores destas palavras (e do autor, à data da sua escrita).
87
O canal torácico
in Gray
Nota clínica: O canal torácico, por ser um canal comprido e delicado, está sujeito a lacerações durante cirurgias, principalmente ao
esófago. Uma vez que a linfa que transporta (chega a transportar 4L de linfa por dia) é rica em lípidos e proteínas da dieta, e ainda
linfócitos, o doente pode ficar com uma deficiência nutricional e imunitária importante se houver lesão deste, tanto que a taxa de
mortalidade de lacerações do canal torácico não tratadas/detectadas aproxima-se dos 50%, e a em relação às tratadas, ronda os 10%.
88
Canal linfático direito (frequentemente ausente)
Origem: pela confluência dos troncos jugular direito, bronco-mediastínico direito e subclávio direito, que drenam,
respectivamente, a metade direita da cabeça e pescoço, do tórax e o membro superior direito
Trajecto: muito curto, até 1cm de comprimento
Terminação: no ângulo júgulo-subclávio direito, formado entre as veias jugular interna e subclávia direitas
Canal torácico
Origem: tem origem na cisterna quilífera, que é uma dilatação linfática de forma e constituição inconstantes (pode
ser ductular, ampular, triplicada ou plexiforme), em posição ântero-direita a L1-L2, sendo retro-cávica e látero-aórica
• A cisterna quilífera forma-se pela confluência dos:
o Troncos lombares: são dois, e correspondem aos eferentes dos gg. lombares, que drenam a linfa dos
membros inferiores, pélvis e parede posterior abdominal, incluindo órgãos retro-peritoneais
o Troncos intestinais: podem ser 1 ou mais, e correspondem aos eferentes dos gg. celíacos e
mesentéricos superiores, que drenam a linfa do sistema digestivo, órgãos anexos e baço
Trajecto: ascende através do hiato aórtico, anteriormente à coluna vertebral desviado para a direita, ao longo do
flanco direito da Aorta e à esquerda da V. ázigos, cruza a linha média na metade superior do tórax (T5), entre a coluna
vertebral e o arco aórtico, torna-se anterior às V. hemi-ázigos acessória e intercostais posteriores esquerdas e
termina, à esquerda no pescoço, descrevendo um arco côncavo inferiormente, o arco do canal torácico
• Tem um comprimento de 38-54cm e, ao longo do trajecto, tem um calibre variável entre 4 e 10mm
• O arco do canal torácico eleva-se 3-4cm em relação à clavícula esquerda
• Apresenta várias válvulas, principalmente perto da origem e da terminação (esta impede refluxo sanguíneo)
Aferentes: ao longo do trajecto torácico recebe os eferentes dos gg. para-esternais, intercostais, mediastínicos
posteriores e, junto à sua terminação, recebe os troncos bronco-mediastínico, subclávio e jugular esquerdos
Terminação: no ângulo júgulo-subclávio esquerdo, formado entre as veias jugular interna e subclávia esquerdas
As variações do tronco linfático direito.
in Gray
89
Nervos
Introdução ao Sistema Nervoso
O sistema nervoso está dividido em várias porções estruturais e funcionais:
• Sistema nervoso central: encéfalo e medula espinhal
• Sistema nervoso periférico: nervos cranianos e espinhais, que se dividem funcionalmente em:
o Sistema nervoso somático: com fibras sensitivas (aferentes) e motoras (eferentes)
o Sistema nervoso autónomo: com fibras aferentes e eferentes, regula funções de órgãos cujo
funcionamento não está dependente da vontade, sendo funcionalmente divisível em:
▪ Sistema nervoso simpático: responsável por respostas fight-or-flight
▪ Sistema nervoso parassimpático: responsável por respostas rest-and-digest
▪ Sistema nervoso entérico: localizado na parede das vísceras digestivas (plexo submucoso e
plexo mientérico), goza de alguma autonomia funcional
Um nervo pode ter, simultaneamente, fibras aferentes e eferentes do SN somático e fibras do SN autónomo, como
por exemplo o nervo vago.
S. N. Parassimpático
S. N. Simpático
S. N. Somático
in Sobotta
90
Medula espinhal (NETTER pp. 160-161, 165-166): organização introdutória (tema da Anatomia III)
• É um cordão nervoso que se estende desde a medula alongada (parte do tronco cerebral) até L1-L2
o Inicialmente, a medula espinhal ocupava todo o canal vertebral mas, com o crescimento longitudinal
da coluna vertebral face a uma medula relativamente estacionária e fixa superiormente por se
continuar com o tronco cerebral, a medula acabou por ficar no canal vertebral acima de L2
o A porção terminal da medula chama-se cone medular e emite um fino prolongamento até ao cóccix
denominado filum terminale
• Constituição anatómica: forma-se por duas substâncias, cinzenta e branca
o Substância cinzenta: em forma de borboleta ou H, tem corpos celulares
▪ Canal central: canal longitudinal parcialmente obliterado com líquido cérebro-espinhal
▪ Cornos anteriores: núcleos de neurónios motores organizados em núcleos
▪ Cornos posteriores: núcleos de neurónios sensitivos organizados em núcleos
▪ Cornos laterais (de T1 a L2): núcleos de neurónios simpáticos
▪ Substância cinzenta central intermédia: forma uma comissura entre metades cinzentas
o Substância branca: rodeia a substância cinzenta e tem axónios mielinizados
▪ Cordões anteriores: entre cornos anteriores, transporta sensibilidades superficiais, ou seja, dor,
temperatura e tacto
▪ Cordões posteriores: entre os cornos posteriores, transporta sensibilidades profundas, ou seja,
posição e vibração
▪ Cordões laterais: entre cornos anterior e posterior de cada lado, transporta axónios motores e
também fibras de sensibilidades profundas de posição para o cerebelo
• Conformação externa: é aproximadamente cilíndrica
o Fissura mediana anterior: fenda profunda na face anterior
o Sulco mediano posterior: mais fino que a fissura mediana anterior e menos profundo
▪ A fissura anterior e o sulco posterior quase dividem a medula em duas metades
o Sulco intermédio posterior: divide cada cordão posterior em duas metades
o Sulco ântero-lateral: de onde sai a raiz anterior ou motora com fibras motoras (eferentes)
o Sulco póstero-lateral: de onde sai a raiz posterior ou sensitiva com fibras sensitivas (aferentes)
• Está envolvida por três meninges concêntricas: a dura mater, a aracnóide e a pia mater
• Nervos espinhais: existe um N. espinhal por cada segmento medular
o Segmento cervical: emite 8 N. espinhais, de C1 (sai acima do Atlas) a C8 (sai abaixo da vértebra C7)
o Segmento torácico: emite 12 N. espinhais, de T1 a T12, que saem abaixo da vértebra homónima
o Segmento lombar: emite 5 N. espinhais, de L1 a L5, que saem abaixo da vértebra homónima
o Segmento sagrado: emite 5 N. espinhais, de S1 a S5, que saem abaixo da vértebra homónima
o Segmento coccígeo: emite apenas 1 N. espinhal, de nome Co
o Cada segmento medular inerva um território de músculos relacionados: formam miótomos
o Cada segmento medular inerva um território cutâneo (exc. C1): formam dermátomos
o Cada N. espinhal forma-se pela união das raízes posterior e anterior de cada segmento medular
▪ As duas raízes unem-se em cada foramen intervertebral para formar o nervo espinhal
▪ Tendo em conta o desfasamento do crescimento da coluna vertebral face à medula espinhal, à
medida que se caminha em sentido caudal, os segmentos medulares ficam cada vez mais
distantes das vértebras que, originalmente, os acompanhavam, ou seja, o N. espinhal de um
segmento medular sai num foramen intervertebral tanto mais distante quanto mais baixo for o
segmento da medula de que é originário, tendo por exemplo que:
• O segmento medular C8 está ao nível do corpo vertebral de C6-C7, e o segmento medular
L3 está ao nível do corpo vertebral de T11, o que significa que as raízes do N. espinhal L3
têm de descer do nível de T11 para se unirem no foramen intervertebral formado entre os
pedículos de L3 e L4
▪ Inferiormente a L2, onde termina a medula espinhal, só existem nervos espinhais dentro do
canal vertebral, o que dá aparência de uma cauda de cavalo, a cauda equina
91
o Cada N. espinhal tem fibras sensitivas (aferentes), motoras (eferentes) e pré-gangliónicas (simpático)
▪ As fibras sensitivas pertencem a um neurónio cujo corpo celular está no gânglio espinhal, situado
na raiz posterior (dorsal) do N. espinhal, e cujo axónio termina no corno posterior da medula
▪ As fibras motoras pertencem a um neurónio cujo corpo celular está no corno anterior da medula
e cujo axónio alcança o N. espinhal através da raiz anterior (ventral)
▪ Em cada segmento medular há inter-neurónios, na substância cinzenta da medula, que conectam
os neurónios motores e sensitivos
▪ As fibras pré-gangliónicas simpáticas têm origem nos cornos laterais da medula (presentes
apenas de T1 a L2), alcança o N. espinhal através da raiz anterior e acede a um ramo branco
in Gray
in Thieme Neuroanatomy
in Gray
92
in Gray
in Gray
93
Nota clínica: uma punção lombar é um acto médico elementar cujo intuito é a extracção de uma pequena quantidade de
líquido cérebro-espinhal, habitualmente necessário no workup diagnóstico de quadros neurológicos agudos, como a
meningite, ou doenças neurológicas crónicas, como a esclerose múltipla. Uma vez que a medula espinhal termina ao nível de
L2, as punções lombares podem ser feitas entre os processos espinhosos de L3 e L4 sem correr o risco de lesionar a medula.
in Sobotta
in Thieme
Neuroanatomy
94
Sistema nervoso somático: formado por N. cranianos (Anatomia III) e espinhais
• Cada N. espinhal tem cerca de 1cm de comprimento, uma vez que se bifurca logo à saída do foramen
intervertebral num ramo dorsal (ou posterior) e num ramo ventral (ou anterior)
o Os ramos dorsais não formam plexos e vão para os músculos e pele posteriores do pescoço e dorso
o Os ramos ventrais organizam-se ou não em plexos, e nomeiam-se de acordo com o segmento medular
que lhes dá origem (C,T,L,S):
▪ Região cervical: plexo cervical (C1-C4) e braquial (C5-T1)
▪ Região torácica: nervos intercostais
▪ Região lombar: plexo lombar (L1-L5), sagrado (S1-S3, com contribuição de L4 e L5), plexo
pudendo (S2-S4) e coccígeo (S4-S5)
o Os ramos ventrais de cada N. espinhal estabelecem comunicantes da cadeia simpática:
▪ Ramos brancos: só existem entre T1 e L2 e carregam as fibras aferentes do SN autónomo em
direcção à medula, e levam pré-gangliónicas do simpático desde o N. espinhal até à cadeia
simpática (ver adiante)
▪ Ramos cinzentos: presentes ao longo de toda a cadeia simpática, comunicando com todos os
ramos ventrais de cada N. espinhal, levam fibras pós-gangliónicas simpáticas para os N. espinhais
em direcção ao território inervado pelo N. espinhal envolvido, inervando as gl. sudoríparas, o
músculo liso dos vasos e os M. erectores dos pêlos desse território
Plexo cervical
Origem: ramos ventrais (é comum chamarem-lhes raízes, embora não o sejam) de C1-C4
Situação: entre os escalenos anterior e médio
Colaterais: para a pele e músculos do pescoço, e o N. frénico, descrito separadamente
• Ramos comunicantes cinzentos: para a cadeia simpática
• Ansa cervical (C1-C3), é motora e forma uma ansa que comunica com o N. vago (X) e N. hipoglosso (XII), e que
inerva os músculos infra-hioideus
• N. occipital menor e grande auricular (C2) são sensitivos para a região occipital e pavilhão auricular
• N. cervical transverso (C3) é sensitivo e vai para a pele região ântero-lateral do pescoço
• N. supra-claviculares (C3-C4) são vários filamentos sensitivos que vão para a região superior do ombro
in Gray
Plexo braquial (NETTER pp. 415-416): descrito no capítulo de membro superior, no segundo semestre
Nervos intercostais (NETTER pp. 188, 253-254): são mistos
Origem: nos ramos ventrais (as coloquiais raízes) dos N. espinhais de T1-T12 (o 12º nervo chama-se subcostal)
Trajecto: correm no sulco costal, com os vasos intercostais, entre os M. intercostais médios e externos,
externamente, e os intercostais internos, internamente
• Os primeiros 6 têm um trajecto quase horizontal e os restantes oblíquos inferiormente
Colaterais:
• Ramos musculares para os intercostais, elevadores das costelas e subcostais
• Ramo cutâneo lateral, torna-se superficial a meio do trajecto do nervo e inerva a pele adjacente
o Os cutâneos laterais de T4-T6 formam os N. mamários laterais
o Os cutâneos laterais de T1-T3 formam os N. intercosto-braquiais para a região medial proximal do braço
• Ramos comunicantes cinzentos e brancos: para a cadeia simpática
Terminação: terminam na pele ventral anterior como ramos cutâneos anteriores
• Os primeiros 6 inervam a pele anterior do tórax
• Os últimos 6 (inclui subcostal, o 12º) inervam a pele da parede abdominal ântero-lateral
96
Plexo lombar (NETTER pp. 484-485): descrito em maior profundidade na Anatomia II
Origem: união dos ramos anteriores dos N. espinhais de L1 a L4
Trajecto e relações: triangular, com obliquidade ântero-ínfero-lateral, entre os M. psoas major e os p. transversos
das vértebras lombares
Terminais: N. obturador (divisão anterior) e N. femoral (divisão posterior), descritos separadamente
Colaterais: N. ílio-hipogástrico, ílio-inguinal, cutâneo femoral lateral e génito-femoral e ramos para os M. psoas e
quadrado lombar
• N. ílio-hipogástrico (T12, L1): misto
o Trajecto: oblíquo ínfero-lateralmente, passa anteriormente ao M. quadrado lombar e posteriormente
ao pólo renal inferior, perfura o M. transverso abdominal acima da crista ilíaca, caminha entre os M.
transverso abdominal e oblíquo interno e dá dois ramos:
▪ Anterior: perfura o oblíquo interno ao nível da EIAS, caminha ínfero-medialmente entre os
oblíquos interno e externo e torna-se superficial 3cm acima do orifício inguinal superficial
▪ Lateral: torna-se superficial acima da crista ilíaca e distribui-se na região glútea
o Função: inervação motora dos M. oblíquo interno e transverso abdominal, e inervação sensitiva supra-
púbica e da região glútea súpero-lateral
• N. ílio-inguinal (L1): misto
o Trajecto: paralelo e semelhante ao trajecto do ílio-hipogástrico, perfurando o M. transverso abdominal
a nível da EIAS, e o M. oblíquo interno pouco depois, alcançando o trajecto inguinal, emergindo com
este no orifício superficial e distribuindo-se por ramos escrotais e labiais
o Função: inervação motora dos M. oblíquo interno e transverso abdominal, e inervação sensitiva da
região medial da raíz da coxa e porção anterior dos genitais externos
o Pode ser anestesiado localmente ao nível da EIAS em cirurgias ao trajecto inguinal
• N. génito-femoral (L1, 2): misto
o Trajecto: oblíquo ântero-inferiormente, perfura o M. psoas major e acompanha-o na sua face anterior
e bordo medial e, antes de alcançar os vasos ilíacos externos, bifurca-se em dois ramos:
▪ Genital: cruza, anteriormente os vasos ilíacos externos, alcança o orifício inguinal profundo e
percorre o trajecto inguinal, inervando o M. cremáster e a pele do escroto/grandes lábios
▪ Femoral: caminha lateralmente à A. ilíaca externa saindo da cavidade abdominal entre o arco
ílio-pectíneo e a A. femoral, dá um ramo para a A. femoral e A. epigástrica inferior, torna-se
superficial lateralmente ao anel femoral ou orifício da grande safena, perfurando a fáscia lata e
cribiforme, inervando pele da porção superior do triângulo femoral
• N. cutâneo femoral lateral (L2, 3): sensitivo
o Trajecto: oblíquo ínfero-lateralmente, entre o M. psoas major e o ilíaco, profundamente à fáscia ilíaca
até à incisura fémuro-cutânea do osso coxal 1cm medial à EIAS e bifurcando em ramo anterior e
posterior para a coxa e região glútea
o Função: inerva a peritoneu parietal da fossa ilíaca e a região ântero-lateral da coxa e glútea lateral
97
• Terminais:
o N. cutâneo femoral anterior medial e lateral: inervação sensitiva da região ântero-medial da coxa
o N. do quadricípite femoral: inervação motora do músculo homónimo por vários feixes
o N. safeno: inervação sensitiva da região pré-patelar, ântero-medial da perna e medial do pé
• Colaterais: ramos musculares para o M. psoas major, ilíaco, pectíneo, sartorius e ramo da A. femoral
Plexo sagrado (NETTER pp. 484, 486):
Origem: união dos ramos anteriores dos N. espinhais de L4 e L5 (tronco lombo-sagrado) e de S1 a S3
Trajecto: forma triangular, dirigindo-se lateralmente para o foramen grande ciático e termina como N. ciático
Relações: anteriormente, a fáscia do piriforme, vasos ilíacos internos e o recto; posteriormente o M. piriforme;
medialmente a cadeia simpática
Ramos colaterais:
• Motores, para os músculos da anca: N. glúteo superior, glúteo inferior, N. para o M. quadrado femoral, N. para
o M. obturador interno e N. para o M. pirifome
• Sensitivos: o cutâneo femoral posterior inerva a face posterior da coxa e região poplítea e o perfurante
cutâneo inerva a região peri-anal
N. ciático (tronco lombo-sagrado L4-L5, S1-S3): nervo misto
• Trajecto e relações: tem 1.5-2cm de largura e sai pelo foramen grande ciático, desce no quadrante ínfero-
medial da região glútea para a região posterior da coxa e termina proximalmente à região poplítea, por
bifurcação, quando os músculos posteriores da coxa divergem para formar os lados superiores do losango
poplíteo, embora a bifurcação possa acontecer em qualquer nível da coxa
• Ramos terminais: N. tibial e N. peroneal comum, sensitivo-motores da perna
• Ramos colaterais: ramos motores para a região posterior da coxa e ramo articulares para o joelho
Plexo pudendo: com origem nas raízes de S2-S3; nervo misto
• N. pudendo: sai da cavidade pélvica pelo foramen grande ciático infra-piriforme, contorna a espinha
isquiática, volta a entrar na pélvis pelo foramen pequeno ciático e entra no canal de Alcock ou canal pudendo,
um desdobramento da fáscia do M. obturador interno em direcção ao períneo e dá ramos:
o N. rectal inferior, inerva o esfíncter anal externo e o períneo posterior ou anal
o N. perineal, que inerva a pele do períneo anterior ou uro-genital
o N. dorsal do pénis/clitóris
Plexo coccígeo: com origem nas raízes de S4-S5; nervo sensitivo
• N. coccígeo: para a pele sobre o cóccix
• N. ano-coccígeo (recebe ramo de Co1): para a pele sobre o lig. ano-coccígeo
• Trajecto cervical: desce verticalmente entre a V. jugular interna e A. carótida interna, e depois entre a jugular
interna e a carótida comum, formando com estes vasos o rolo vásculo-nervoso do pescoço, rodeados pela
fáscia carotídea, até ao orifício superior da caixa torácica:
o O direito entra no tórax entre a V. jugular interna e o 1/3 medial da A. subclávia
o O esquerdo entra atrás da V. bráquio-cefálica esquerda, entre as A. carótida comum e subclávia
o Ramos faríngeos (motores): para os músculos da faringe, formam o plexo faríngeo com o IX
o Ramos cardíacos cervicais superiores (mistos), que frequentemente se unem ao homónimo do gg.
cervical superior, e se dirigem para a porção profunda do plexo cardíaco
o Ramos cardíacos cervicais inferiores (mistos), os direitos para a porção profunda do plexo cardíaco e
os esquerdos para a porção superficial
o N. laríngeo superior (misto): desce primeiro posterior e depois medial à A. carótida interna e, ao
alcançar o hióide, divide-se em dois ramos:
▪ Ramo externo: acompanha a A. tiroideia superior ao longo da face lateral da cartilagem tiróide
e inerva o M. cricotiroideu
▪ Ramo interno: acompanha a A. laríngea superior, perfura a membrana tiro-hioideia e dá a
sensibilidade da mucosa laríngea dos pisos supra-glótico e glótico e une-se com o ramo
ascendente do N. laríngeo inferior através da ansa comunicante (Galeno)
o N. laríngeo recorrente direito (misto): nasce à frente do 1/3 medial da A. subclávia direita, descreve
um arco por baixo desta e sobre atrás desta, colocando-se lateralmente à traqueia, atrás da A. carótida
comum direita, correndo no ângulo tráqueo-esofágico, alcança o pólo inferior do lobo direito da gl.
tiróide acompanhado da A. tiroideia inferior (local mais vulnerável à lesão do nervo a lesão cirúrgica;
ver Tiróide), entra na laringe ao nível do bordo inferior do M. constritor inferior da faringe, dá a
sensibilidade da mucosa laríngea do piso infra-glótico e inerva todos os músculos da laringe excepto o
cricotiroideu, sob o nome de N. laríngeo inferior (nome dado ao terminal do recorrente)
• Torácicos:
o N. laríngeo recorrente esquerdo (misto): nasce à frente e à esquerda do arco aórtico, passa por baixo
deste (atrás do lig. arterial) e sobre atrás do arco aórtico (aqui dá ramos cardíacos torácicos) para o lado
esquerdo da traqueia, ascende no ângulo tráqueo-esofágico, e o restante trajecto é simétrico ao do
contra-lateral, sob o nome de N. laríngeo inferior
o Ramos pulmonares (mistos), ao nível dos brônquios principais de cada lado, juntam-se aos N. torácicos
pulmonares da cadeia simpática para formar os plexos pulmonares
o Ramos cardíacos (mistos), à direita nascem ao nível do brônquio principal direito, com os ramos
pulmonares, e à esquerda desprendem-se do N. laríngeo recorrente esquerdo quando este passa
inferiormente ao arco aórtico
N. esplâncnicos pélvicos ou nervi erigentes (NETTER pp. 302-303, 317, 388, 390): mistos
Origem: desde segmentos medulares de S2-S4, as fibras vão para os N. espinhais destes segmentos
Trajecto e terminação: as fibras pré-ganglionares parassimpáticas desprendem-se dos ramos ventrais dos N.
espinhais assim que estes entram na pélvis pelos foramina sagrados anteriores e formam uma rede nervosa:
• Fibras que formam o plexo hipogástrico inferior em conjunto com os esplâncnicos sagrados (simpáticos)
• Fibras que formam o plexo pélvico (vesical, uterovaginal, prostático, rectal) junto das vísceras pélvicas
• Fibras sobem para os N. hipogástricos em direcção aos plexos hipogástrico superior e mesentérico inferior
Funções: além das gerais descritas para o SN parassimpático, deve ser referido que as fibras com origem nos
esplâncnicos pélvicos inervam o tubo digestivo desde o cólon ascendente até ao ânus, aumentando a peristalse,
relaxando os esfíncteres e aumentando a função glandular digestiva deste segmento. Além disso, contraem a parede
da bexiga e são vasodilatadores do tecido eréctil do pénis e clitóris.
100
Sistema nervoso simpático (NETTER pp. 163, 303):
Função fight-or-flight: aumenta a frequência cardíaca, dilata as pupilas (midríase), relaxa o músculo liso do tracto
GI, da bexiga e dos brônquios, reduz a peristalse digestiva e a actividade glandular do tracto gastro-intestinal, fecha os
esfíncteres, contrai as arteríolas da pele e vísceras, dilata arteríolas musculares e aumenta a pressão arterial
Fibras aferentes: a partir da víscera partem para os nervos que a inervam (varia consoante a víscera), destes directa
ou indirectamente (através dos plexos autónomos) para a cadeia simpática látero-vertebral, desta passa pelos ramos
brancos em direcção ao ramo ventral do N. espinhal até à sua raiz posterior e fazendo a sua única sinapse no corpo
celular presente no gânglio espinhal, que depois emite os seus axónios para os cornos laterais da medula ou para
centros superiores, como o hipotálamo
Fibras eferentes:
• Neurónio de 1ª ordem: nos cornos laterais da medula espinhal (formam a coluna intermédio-lateral)
• Fibras pré-ganglionares, curtas: saem da medula espinhal para o N. espinhal, entram no ramo branco em
direcção à cadeia simpática látero-vertebral e têm três tipos de comportamento:
o Fazem sinapse num gânglio da cadeia simpática, sendo que esta pode ser feita no gânglio ao nível de
entrada, ou as fibras pré-ganglionares podem subir para gânglios cervicais ou descer para gânglios
lombares (que, recorde-se, não recebem ramos brancos da cadeia simpática)
o Passam através da cadeia simpática sem fazer sinapse e saem através dos nervos que a cadeia simpática
emite (os esplâncnicos torácicos, lombares e sagrados) em direcção a um plexo autónomo (celíaco,
mesentéricos, aórtico-renal, etc.) e fazem sinapse nos gânglios desses plexos
o Algumas fibras pré-ganglionares vão directamente para a medula das gl. suprarrenais, que é análoga a
um gânglio simpático
• Neurónio de 2ª ordem: pode estar num gânglio da cadeia simpática ou num gânglio dos plexos autónomos
• Fibras pós-ganglionares, longas:
o No caso de a sinapse ter sido feita num gânglio da cadeia simpática, as fibras pós-ganglionares podem
ter dois tipos de comportamento:
▪ Na região cervical e torácica superior, nos gânglios cervicais até T4, as fibras pós-ganglionares
saem da cadeia simpática pelos ramos cervicais cardíacos, ramos torácicos cardíacos,
pulmonares e esofágicos
▪ Nos restantes gânglios da cadeia simpática, as fibras pós-ganglionares saem da cadeia simpática
pelos ramos cinzentos até a N. espinhais em direcção ao território inervado pelo N. espinhal
envolvido, inervando as gl. sudoríparas, o músculo liso dos vasos e os M. erectores dos pêlos
desse território
o Quando a sinapse é feita num gânglio dos plexos autónomos, as fibras pós-ganglionares dirigem-se a
partir dos plexos para as vísceras-alvo (restante tubo digestivo e órgaõs anexos, tracto urogenital, etc.)
101
• Região cervical (NETTER pp. 131-132): 3 gânglios, o cervical superior, médio e cérvico-torácico (estrelado)
o Emitem ramos cinzentos para os N. espinhais cervicais
o Não recebem ramos brancos, sendo que as fibras pré-gangliónicas que fazem sinapse nos gânglios
cervicais são as que ascendem na cadeia simpática a partir os primeiros 4-5 gânglios torácicos
o O gg. cervical superior é longo (2.5cm), encontra-se lateralmente aos p. transversos de C2-C3 e tem os
seguintes colaterais:
▪ Ramos cinzentos para os N. espinhais C1-C4, o que indica que tem origem provável na fusão dos
gânglios primordiais destes segmentos
▪ Ramos para o gg. inferior do vago e para o N. hipoglosso
▪ Ramos que formam os plexos carotídeos comum, interno e externo
▪ N. jugular, que se dirige para o gg. inferior do glossofaríngeo e gg. superior do vago
▪ N. laringo-faríngeo, que se dirige para o plexo faríngeo
▪ N. cardíaco cervical superior, dirige-se para o plexo cardíaco
o O gg. cervical médio, ao nível de C6, à frente ou atrás da A. tiroideia inferior, dá apenas um ramo:
▪ N. cardíaco cervical médio, dirige-se para a porção profunda do plexo cardíaco
o O gg. cérvico-torácico (estrelado) é longo e irregular, e provavelmente tem origem na fusão dos dois
últimos gânglios primordiais da região cervical e dos primeiros 1-2 torácicos, localizando-se
lateralmente ao M. longo do pescoço, ao nível de C7 e do colo da 1ª costela, e dá ramos:
▪ Ramos cinzentos para os N. espinhais C7-T1
▪ Ramos que formam os plexos subclávio e vertebral, em torno das artérias homónimas
▪ N. cardíaco cervical inferior, para a porção profunda do plexo cardíaco
• Região torácica (NETTER pp. 223-224, 236): 11 a 12 gânglios
o O primeiro está quase sempre fundido com o gg. cervical inferior para formar o cérvico-torácico
o Todos emitem ramos cinzentos para, e recebem ramos brancos dos N. espinhais torácicos de T1-T12
o Os gânglios T2-T5 emitem vários nervos com fibras pós-ganglionares para vísceras:
▪ N. torácicos cardíacos: eferentes para o plexo aórtico e cardíaco e aferentes (dor cardíaca)
▪ N. torácicos pulmonares: eferentes para o plexo pulmonar próximo do hilo de cada pulmão
▪ N. esofágicos: eferentes para o plexo esofágico que se forma em seu redor
o Os gânglios T5-T12 emitem nervos com fibras eferente pré-ganglionares para gânglios de plexos
autónomos e com fibras aferentes que conduzem sensações viscerais, incluindo a dor:
▪ N. grande esplâncnico torácico (T5-T9/10): para o gânglio celíaco no plexo celíaco
• Emite ramos para o gânglio aórtico-renal e para a medula da gl. suprarrenal
▪ N. pequeno esplâncnico torácico (T10-T11): para o gânglio aórtico-renal
• Emite ramos para o gg. celíaco e plexo renal
▪ N. último esplâncnico torácico (T12): para o gânglio aórtico-renal ou entra directamente no
plexo renal para o gg. renal
▪ Os nervos grande e pequeno esplâncnicos torácicos passam o diafragma entre os pilares
principais e acessórios de cada lado, enquanto o último acompanha a cadeia simpática no seu
trajecto entre os pilares acessórios e lig. arqueado médio de cada lado
• Região lombar (NETTER pp. 297, 317, 388): 4 a 5 gânglios
o Estes gânglios são já mais pré-vertebrais que látero-vertebrais
o Emitem ramos cinzentos para os N. espinhais lombares
o Apenas os gânglios L1 e L2 recebem ramos brancos N. espinhais, sendo que as fibras pré-gangliónicas
que fazem sinapse nos gânglios L3-L4 são as que descem na cadeia simpática desde os gânglios L1-L2 e
dos torácicos inferiores
o Os gânglios L1-L4 emitem nervos com fibras eferente pré-ganglionares para gânglios de plexos
autónomos e com fibras aferentes que conduzem sensações viscerais, incluindo a dor:
▪ N. grande esplâncnico lombar (L1-L2): para o plexo intermesentérico e gg. mesentéricos sup/inf.
▪ N. pequeno esplâncnico lombar (L2): para o plexo intermesentérico e gânglio mesentérico
inferior no plexo MI
▪ N. último esplâncnico lombar (L3-L4, podem estar separados): forma o plexo hipogástrico sup.
102
• Região sagrada (NETTER pp. 317, 388, 390): 4 a 5 gânglios
o Estes gânglios são os pré-sagrados
o Emitem ramos cinzentos para os N. espinhais lombares
o Não recebem ramos brancos, sendo que as fibras pré-gangliónicas que fazem sinapse nos gânglios
pélvicos são as que descem na cadeia simpática desde os gânglios L1-L2 e dos torácicos inferiores
o Os gânglios S1-S4 emitem nervos com fibras eferentes pré-ganglionares para gânglios de plexos
autónomos e com fibras aferentes que conduzem sensações viscerais, incluindo a dor:
▪ N. esplâncnicos sagrados (S1-S4): vários feixes para os plexos hipogástricos inferiores e nervos
hipogástricos, sendo distribuídos pelo “plexo pélvico”, para as vísceras pélvicas
▪ Os gânglios em que as fibras eferentes pré-ganglionares fazem sinapse, para originar as pós-
ganglionares das vísceras pélvicas, são mal conhecidos e caracterizados, encontrando-se gânglios
paracervicais (cervix do útero) e vesicais, e outros pequenos gânglios hipogástricos inferiores na
espessura do plexo hipogástrico inferior
• Os plexos também têm fibras pré-ganglionares vindas do SN parassimpático mas que não fazem sinapse nos
gânglios simpáticos destes plexos, mas sim em gânglios parassimpáticos na parede das vísceras-alvo
• Estes plexos, dada a sua proximidade e a sua extensa ramificação, comunicam uns com os outros, formando
uma rede visceral, pelo que se torna artificial definir fronteiras estanques de localização, nomenclatura e
inervação destes plexos e respectivos gânglios
• Plexo mesentérico superior: em redor da A. mesentérica superior, é uma continuação do plexo celíaco
o Gg. mesentérico superior: recebe ramos simpáticos e parassimpáticos plexo celíaco e ramos
ascendentes do grande esplâncnico lombar
o Emite plexos que acompanham as artérias que são ramos da A. mesentérica superior
103
• Plexo hipogástrico superior: anteriormente à bifurcação aórtica, L5, promontório e vasos ilíacos comuns
o Forma-se pela continuação com o plexo mesentérico inf. e ramos dos últimos esplâncnicos lombares
o Comunica por fibras simpáticas e parassimpáticas com o plexo hipogástrico inferior via N.
hipogástricos, dois troncos nervosos, um esquerdo e um direito, entre os dois plexos
• Plexo hipogástrico inferior: colocados junto às paredes póstero-laterais da cavidade pélvica, junto aos
vasos ilíacos internos
o Formado por fibras simpáticas dos esplâncnicos sagrados e parassimpáticas dos esplâncnicos pélvicos
o Dá origem a uma fina rede de nervos, o plexo pélvico, que envolve as vísceras pélvicas, e que tem na
sua espessura numerosos pequenos gânglios hipogástricos, paracervicais e vesicais em que as fibras
pré-gangliónicas simpáticas fazem sinapse
in Gray
104
105
in Gray
in Thieme Neuroanatomy
106
Mama (NETTER pp. 179-182):
Introdução: situação, forma, relações e função
• Órgão par situado na parede torácica anterior, verticalmente entre as 3ª e 7ª costelas e, transversalmente
entre o bordo lateral do esterno e a linha médio-axilar
o O mamilo está, em média, ao nível do 4º espaço intercostal → marco para auscultação cardíaca
• Tem forma aproximadamente hemisférica, com a metade inferior mais saliente que a superior, formando um
sulco infra-mamário que se acentua com a idade e com a multiparidade
• A fáscia torácica superficial envolve a mama ao dividir-se em lâminas anterior e posterior
o É contínua com a fáscia abdominal superficial e com a lâmina superficial da fáscia cervical profunda
• Relaciona-se, posteriormente, com a fáscia peitoral profunda, que cobre o grande peitoral e serratus ant.
o Entre a lâmina posterior da fáscia torácica superficial e a fáscia peitoral profunda encontra-se o espaço
retro-mamário, preenchido por tecido conjuntivo, o que confere mobilidade à mama
• A sua forma e tamanho variam com factores genéticos, étnicos, dietéticos, etários, hormonais e paridade
• São glândulas exócrinas que, sob o efeito das hormonas sexuais femininas, produzem leite
• O seu desenvolvimento, na mulher, é um caracter sexual secundário
• A mama é sede de transformação neoplásica em, aproximadamente, uma em cada dez mulheres adultas
Conformação externa
• A porção central da convexidade mamária é ocupada pelo mamilo e a aréola
• O mamilo é uma saliência cónica de tamanho variável que apresenta vários sulcos e aberturas para os
galactóforos ou canais lactíferos, os ductos excretores da glândula, em número de 15 a 25
• A aréola é uma superfície anular pigmentada que rodeia o mamilo, que apresenta várias saliências que
representam glândulas sebáceas e sudoríparas especializadas
• O seu quadrante súpero-lateral acompanha o tendão do grande peitoral, prolongando-se até à axila,
formando a chamada cauda axilar de Spencer
Constituição anatómica
• A glândula mamária é um conjunto de lobos (15 a 25), separados por septos fibrosos, que estão na espessura
de um estroma fibroadiposo muito denso
• Cada lobo drena para um galactóforo que, ao chegar ao mamilo, forma uma dilatação, o seio lactífero
• O estroma é rico em tecido adiposo e fibrocolagenoso, estando septado por feixes fibrosos que, ao
“ancorarem-se” na derme, formam o ligamento suspensor da mama (Cooper)
Vascularização
• A porção medial de cada mama é irrigada pelos ramos perfurantes ou mamários da A. torácica interna
• A porção lateral é irrigada por ramos das A. torácicas superior e lateral, tóraco-acromial, e tóraco-dorsal
• Ramos perfurantes das A. intercostais 2ª à 4ª
• A drenagem venosa é análoga à irrigação arterial
Drenagem linfática: de grande importância, sabendo-se da preferência metastática do carcinoma da mama
• Via principal: acompanhando os vasos sanguíneos interlobares e interductais, drena para uma rede subareolar
que emite troncos linfáticos que terminam nos gânglios axilares anteriores ou peitorais (4-5), que se
relacionam com o bordo ínfero-lateral do M. grande peitoral
• Via transpeitoral: drena através dos M. grande peitoral e fáscia clavi-peitoral, passando pelos gânglios inter-
peitorais de Rotter, e os troncos linfáticos dirigem-se para os gânglios axilares apicais ou subclávios
• Via paraesternal: a região medial da glândula pode drenar para troncos linfáticos que atravessam o grande
peitoral, os espaços intercostais 3º e 4º para drenar nos gânglios paraesternais
• Cerca de 75% da linfa é drenada em direcção à axila, e 25% pela via paraesternal
• Existem colectores raros e minoritários para gânglios subfrénicos
• Todas estas vias terminam nas V. subclávias do lado respectivo ou, excepcionalmente, do lado oposto
o À esquerda, a linfa converge para o canal torácico, que drena na V. subclávia esquerda
o À direita, a linfa drena directamente no ângulo júgulo-subclávio ou através do canal linfático direito
107
• Os gânglios axilares (20-40) dividem-se anatomicamente em 5 grupos e cirurgicamente em 3 grupos:
Grupos anatómicos o Laterais ou braquiais (4-5): relacionam-se com o início da V. axilar
o Anteriores ou peitorais (4-5): relacionam-se com os M. peitorais e com os vasos torácicos laterais
▪ Os mais comumente envolvidos em caso de neoplasia mamária
▪ Os gânglios situados entre os peitorais são os gg. inter-peitorais de Rotter
o Posteriores ou subescapulares (6-7): relacionam-se com a parede posterior da axila e com os vasos
subescapulares
o Centrais (3-4): relacionam-se com o flanco anterior da V. axilar
o Apicais ou subclávios (6-12): é o grupo terminal, que se relaciona, superiormente, com o músculo
homónimo e com a face inferior da clavícula, e emite os linfáticos eferentes
cirúrgicos
108
in Gray
Conformação externa
• Dois lobos com forma piramidal de base inferior e vértice superior, com cerca de 5cm de altura
o Vértice: ao nível da linha oblíqua da cartilagem tiróide
o Base: ao nível do 4º ou 5º anel traqueal
o Face ântero-lateral: coberta pela fáscia pré-traqueal e músculos infra-hioideus
o Face medial: aderente aos primeiros anéis traqueais e às faces laterais das cart. cricóide e tiróide
o Face posterior: relaciona-se com o rolo vásculo-nervoso do pescoço
• Um istmo, a porção estreita entre os lobos
• Um inconstante lobo piramidal (a pirâmide de Lalouette), uma projecção cefálica que parte do istmo
(normalmente desviado para a esquerda), com altura variável, correspondendo a um resquício embrionário
que revela a origem lingual da glândula tiróide e o seu trajecto descendente através do canal tiroglosso
• A glândula está envolta, superficialmente, pela fáscia pré-traqueal, e profundamente a esta, pela cápsula
tiroideia, uma delicada fáscia visceral
Vascularização arterial
• A. tiroideia superior, primeira colateral da A. carótida externa, dirige-se ântero-inferiormente e origina:
o Ramos infra-hioideu, ramo cricotiroideu (também denominada A. laríngea inferior) e ramos
glandulares anteriores, posteriores e laterais, para as glândulas tiróide e paratiróides
o A. laríngea superior acompanha o N. laríngeo superior e perfura a membrana tiro-hioideia
• A. tiroideia inferior, colateral do tronco tirocervical, colateral da A. subclávia, dá origem a:
o A. laríngea inferior (também denominada laríngea posterior), acompanha o N. recorrente laríngeo
o Ramos glandulares para as glândulas tiróide e paratiróides, e ramos faríngeos, esofágicos, traqueais
o A. cervical ascendente
• A tiroideia menor (Neubauer), é uma pequena artéria inconstante (10%) que normalmente tem origem na
croça da Aorta ou no tronco bráquio-cefálico, embora também possa ter origem na carótida comum direita
ou subclávia direita
Drenagem venosa
• V. tiroideia superior, acompanha a A. tiroideia superior e drena para a V. jugular interna
• V. tiroideia média, drena para a V. jugular interna
• V. tiroideia inferior, drena para a V. braquiocefálica, podendo a direita e a esquerda formar um tronco comum
que, normalmente, drena para a V. braquiocefálica esquerda
110
Drenagem linfática: faz-se para gânglios do compartimento cervical anterior que drena para o cervical lateral
• Cervicais anteriores: tiroideus, pré-laríngeos, pré-traqueais e para-traqueais
• Cervicais laterais profundos: a cadeia jugular interna
Inervação:
• Parassimpático: provém do N. vago (X), através dos N. laríngeo superior e recorrente laríngeo
• Simpático: provém dos gânglios simpáticos cervicais, cujas fibras pós-ganglionares formam plexos que
acompanham os vasos da glândula
Nota clínica: A glândula tiróide está envolvida num espectro muito abrangente de doenças. Os nódulos da tiróide são muito
frequentes, estimando-se que existam em 40-50% das pessoas (dados de autópsias), sendo mais comuns em mulheres e, na
maioria das vezes, de natureza quística e benigna. No entanto, uma minoria pode ser neoplásica, pelo que o clínico deve estar
atento a algumas características de malignidade, nomeadamente a consistência dura, a fixação, o crescimento rápido, o
tamanho, a rouquidão e disfonia (possível por compressão directa ou invasão dos N. recorrentes) e a história familiar positiva.
Por outro lado, há nódulos que, sendo benignos, são hiperfuncionantes, podendo cursar com hipertiroidismo. Ainda assim, a
forma de hipertiroidismo mais frequente é o da Doença de Graves, em que não existem nódulos hiperfucionantes mas sim uma
tiróide inteira hiperfuncionante por fenómenos autoimunes. O quadro clínico é o de cansaço, perda de peso (apesar de um
apetite aumentado), intolerância ao calor, palpitações, tremor, insónia, nervosismo, irritação, diarreia e exoftalmia (globos
oculares em protusão por inflamação peri-ocular).
O hipotiroidismo, cujas causas mais frequentes são o défice de iodo (a mais comum no mundo, embora em países desenvolvidos
seja rara) e a tiroidite de Hashimoto (autoimune), apresenta-se tipicamente como um doente cansado, que aumenta de peso
apesar de apetite diminuído, intolerante ao frio, com rarefação do cabelo e pelo, edema periorbitário/palpebral, depressão,
atraso ou lentidão cognitiva e obstipação.
Na eventualidade de uma tiroidectomia (por carcinoma, por exemplo) é fundamental garantir a preservação do N. laríngeo
recorrente e das glândulas paratiróides. O momento em que mais frequentemente é lesado o N. recorrente é durante a
laqueação da A. tiroideia inferior, ao nível da base dos lobos tiroideus, lateralmente à traqueia. Se lesado, o doente vê
gravemente afectada a fala. A preservação das glândulas paratiróides é dificultada pela sua difícil identificação e isolamento.
Se nenhuma restar no doente, este fica sem produção de PTH e, com isso, desenvolve uma hipocalcemia (cálcio sérico baixo)
que pode levar a convulsões, arritmias e morte.
111
Mediastino (NETTER pp. 227-228):
Definição: é a região da cavidade torácica entre as regiões pleuro-pulmonares
Limites: a fáscia endotorácica separa os conteúdos mediastínicos de todos os seguintes limites
• Limite anterior: face posterior do esterno, desde o manúbrio ao processo xifóide
• Limite posterior: face anterior dos corpos vertebrais e lig. longitudinal anterior
• Limite lateral: as pleuras mediastínicas (porção mediastínica das pleuras parietais)
• Limite superior: o orifício superior da caixa torácica, cujos limites são:
o Limite anterior: a incisura jugular do manúbrio
o Limite lateral: o bordo superior da 1ª costela de cada lado
o Limite posterior: a face anterior do corpo de T1
o Forma elíptica inclinada ântero-inferiormente (a incisura jugular está ao nível do disco entre T2 e T3)
• Limite inferior: a face superior do diafragma
Divisões e conteúdo:
• Mediastino superior: superiormente ao plano horizontal que passa no ângulo manúbrio-esternal (Louis) e no
disco intervertebral entre T4 e T5
o Timo, vasos torácicos internos, vasos pericárdico-frénicos e nervos frénicos
o V. cava superior e V. bráquio-cefálicas
o Aorta horizontal e seus ramos: tronco bráquio-cefálico, carótida comum e subclávia esquerdas
o Esófago, traqueia, nervos vagos e laríngeo recorrente esquerdo
o Canal torácico, cadeia simpática látero-vertebral, V. hemi-ázigos acessória
o Pequenos vasos, nervos e linfáticos
• Mediastino inferior: inferiormente ao plano acima descrito e tripartido pelo pericárdio
o Mediastino anterior: entre o esterno e o pericárdio, abaixo do mediastino superior
▪ Timo, vasos torácicos internos, ligamentos esterno-pericárdicos
▪ Pequenos vasos, nervos e linfáticos
o Mediastino médio: ocupado pelo saco pericárdico e coração
▪ Grandes vasos: Aorta ascendente, tronco pulmonar, veias cavas e V. pulmonares
▪ Pequenos vasos e nervos: vasos pericárdico-frénicos e nervos frénicos
o Mediastino posterior: entre o pericárdio e a coluna vertebral, abaixo do mediastino superior
▪ Aorta descendente, V. ázigos e hemi-ázigos
▪ Esófago, traqueia, nervos vagos e canal torácico
▪ Cadeia simpática látero-vertebral e N. esplâncnicos
▪ Pequenos vasos, nervos e linfáticos
Importância radiográfica
• Sempre que, através de métodos radiológicos, se detecta uma massa torácica, como muitas vezes não é
possível precisar a sua natureza, a sua localização pode oferecer pistas para orientar o diagnóstico diferencial:
o Massa mediastínica ântero-superior: os clássicos 4 T’s
▪ Timoma,
▪ Tiróide (tumor ou bócio que tenham “mergulhado no tórax”)
▪ Teratoma
▪ Terrível linfoma
o Massa mediastínica média (incomuns): aneurisma aórtico, adenomegália/linfoma, tiróide (tumor ou
bócio), quisto pericárdico, broncogénico ou esofágico
o Massa mediastínica posterior: aneurisma aórtico, adenomegália/linfoma, tumores neurogénicos
(80%) e esofágicos, hérnias do hiato esofágico
112
in Gray
113
Timo (NETTER p. 208):
Considerações gerais: situação, forma, função
• Órgão situado na porção anterior do mediastino superior e no mediastino anterior
o Pode ter extensões cervicais até à gl. tiróide
• Tem forma variável aproximada a um rectângulo ou triângulo de base inferior, assimétrico e bilobar
• É um órgão linfóide primário, sendo o outro a medula óssea,
• É responsável pela maturação funcional dos linfócitos T
• É bem desenvolvido até à puberdade e depois involui, sendo gradualmente substituído por tecido adiposo
• A patologia tímica mais comum é o timoma, com agressividade de moderada a elevada
o 50-60% dos doentes com timoma desenvolvem miastenia gravis
Relações
• Anteriormente: face posterior do esterno e cartilagens costais costais, desde a incisura jugular à 4ª c. costal,
vasos torácicos internos, M. esterno-hióide e esterno-tiróide
• Posteriormente: pericárdio fibroso (face esternocostal do coração) e traqueia torácica
o Lobo direito com a VCS e o lobo esquerdo com a V. bráquio-cefálica esquerda
• Esquerda: Aorta ascendente (lobo direito) pleura mediastínica e pulmão esquerdo (lobo esquerdo
• Direita: pleura mediastínica e pulmão direito
Drenagem linfática
• Gg. para-esternais, que drenam para mediastínicos anteriores
• Gg. tráqueo-brônquicos e bráquio-cefálicos
Inervação: recebe ramos bilaterais do gg. cérvico-torácico da cadeia simpática e ramos dos N. vagos
Timo com 9A
in Gray
Timo com 80A
in Sobotta
114
Coração e Pericárdio Legenda: VCI e VCS – Veias Cavas
IA – Interauricular VP – Veias pulmonares
Introdução IV – Interventricular NSA – Nodo sinusal
Situação, Fixação, Forma, Orientação e Dimensões e Peso AV - Auriculoventricular NAV – Nodo auriculoventricular
• Está no mediastino médio, entre pulmões, pleuras, diafragma, mediastinos anterior, posterior e superior
• Projecta-se posteriormente em T4-T8 (vértebras cardíacas de Giacomini), cujos planos horizontais conferem
nomes orientadores em relação às estruturas niveladas com cada vértebra:
o T4: supra-cardíaca
o T5: infundibular
o T6: basal
o T7: ventricular
o T8: vértebra da ponta (apical)
• Fixado pelos grandes vasos e pericárdio que, por sua vez, se fixa a vértebras, esterno e diafragma
• Forma variável no ciclo cardíaco: pirâmide de base póstero-superior e ápex ântero-inferior, três faces e três
bordos (na diástole) ou duas faces e dois bordos (na sístole)
• Orientação ântero-ínfero-esquerda, fazendo um ângulo com o diafragma, em média, de 40-45o: varia com
morfologia individual; um indivíduo baixo tem um ângulo inferior, e um indivíduo alto tem um superior
• Eixo maior, da base ao ápex, de 12cm; Diâmetro transversal: 8-9cm; Diâmetro ântero-posterior: 6cm
• Peso no sexo masculino de 280-340g (300g) e no feminino de 230-280g (250g)
115
Face inferior ou diafragmática
• Horizontal, assenta no centro frénico e numa pequena porção muscular esquerda anterior do diafragma
• Formada quase totalmente pelo VE, embora apresente um sulco AV/coronário que divide a face em
segmentos auricular (superiormente ao sulco, muito pequeno) e ventricular (anteriormente ao sulco)
o O sulco coronário, contínuo nesta face desde o bordo direito à face esquerda do coração, aloja na sua
metade esquerda a A. circunflexa e o seio coronário, e à direita a 2ª porção da A. coronária direita
o Segmento auricular: formado por uma porção das faces inferior das AD e AE, separadas pelo sulco IA
▪ Próximo do orifício do seio coronário, é identificável externamente um recesso, o seio sub-
Eustaquiano de Keith ou apêndice auricular posterior de His, que parte da parede inferior da AD
▪ O limite que separa a face diafragmática da base é ténue e, alguns autores traçam-no no sulco
coronário (Gray), enquanto outros um pouco acima, na transição entre face posterior e inferior
das aurículas (Testut e Rouvière)
o Segmento ventricular: apresenta sulco IV posterior (c/ vasos IV posteriores), a separar VD de VE
▪ A superfície ocupada pelo VE é maior que a ocupada pelo VD (ao contrário da face anterior)
• Crux cordis (cruz do coração): ponto de intersecção do sulco IV posterior e do sulco IA
Sulcos AV, IV e IA
• Sulco AV/coronário: separa terço superior dos dois terços inferiores da massa total do coração
o Incompleto na face esternocostal, devido à origem do tronco pulmonar e Aorta (segmento arterial)
o Separa segmentos auriculares e ventriculares nas faces esternocostal, diafragmática e esquerda
o Contém a A. coronária esquerda e direita, A. circunflexa (continua a A. coronária esquerda), grande e
pequena veias cardíacas, o seio coronário (recebe a grande veia cardíaca), linfáticos, nervos e tecido
adiposo epicárdico
• Sulcos IV: anterior e posterior unem-se ligeiramente à direita do ápex
o Anterior: origem no flanco esquerdo do infundíbulo; contém A. interventricular anterior (também
denominada descendente anterior) e a origem da grande veia cardíaca
o Posterior: origem na crux cordis; contém A. interventricular posterior e V. cardíaca média
• Sulco IA: apenas presente na base e na face diafragmática do coração
o Origem na face superior das aurículas, posteriormente à origem da Aorta;
o Termina no orifício do seio coronário, próximo da crux cordis
116
in Gray
117
Relações (NETTER pp. 209, 213-214): (além do pericárdio, que envolve o coração, descrito adiante)
Face anterior ou esternocostal (projecta as válvulas na parede – focos auscultatórios)
• Face posterior do esterno, cartilagens costais 2º ao 4º pares (mais à esquerda), M. transverso do tórax, A.
torácicas internas, fáscia endotorácica, timo, pulmões e pleuras ao se insinuarem entre o pericárdio e a
parede torácica, vasos pericárdio-frénicos direitos e nervo frénico direito
• A projecção parietal da face esternocostal é uma área quadrilátera, a área cardíaca:
o Ângulos superiores: no 2º espaço intercostal, a 1cm de cada bordo lateral do esterno
o Ângulo inferior direito: na ext. anterior do 6º espaço intercostal direito
o Ângulo inferior esquerdo: no 5º espaço intercostal, inferior ao mamilo, a 8cm da linha média
o Esta área não coincide com os focos auscultatórios (adiante)
118
• Parede inferior:
o Orifício da VCI (27-37mm de diâmetro), com a válvula de Eustáquio, que se descreve:
▪ Origem, no bordo direito do orifício, onde pode ser contínua com a porção inferior da crista
terminalis de His, e o seu bordo livre continua ântero-medialmente com a fita sinusal (prega
endocárdica correspondente, na profundidade, ao tendão de Todaro), e que era responsável por
dirigir o sangue para o foramen oval na vida fetal (altura em que a válvula era maior)
o Orifício do seio coronário (10-12mm de diâmetro; ântero-ínfero-medialmente ao da VCI), com válvula
de Thebesius, que tem origem no bordo anterior do orifício, continua pelo seu bordo medial e
posteriormente funde-se com a válvula de Eustáquio, formando a fita sinusal
▪ Póstero-inferiormente ao orifício do seio coronário e abaixo da válvula de Eustáquio existe um
recesso ou divertículo, o seio sub-Eustaquiano de Keith ou apêndice auricular posterior de His,
que é visível na face diafragmática, exteriormente
o O triângulo de Koch, é um marco cirúrgico fundamental, cuja manipulação deve ser extremamente
delicada, uma vez que contém o nodo aurículo-ventricular (Aschoff-Tawara), sendo limitado por:
▪ Anteriormente: bordo aderente do folheto septal da válvula tricúspide
▪ Posteriormente: fita sinusal/tendão de Todaro
▪ Inferiormente: orifício do seio coronário
Aurícula esquerda
• Parede posterior: lisa, com impressão esofágica, limitada lateralmente pelos orifícios das veias pulmonares,
duas à direita e duas à esquerda
• Parede anterior: corresponde ao orifício AV esquerdo, com a válvula AV esquerda ou mitral
• Parede medial: corresponde ao septo IA, onde é visível a membrana da fossa oval e a válvula (Parchappe) do
foramen oval, visível ântero-superiormente à membrana
• Parede lateral: abertura do apêndice auricular esquerdo
• Parede superior: convexa inferiormente, deprimida pelos grandes vasos que passam superiormente
• Parede inferior: apresenta a saliência do seio coronário
Torus aorticus
Triângulo de Koch
Fita sinusal (prega endocárdica) e Seio sub-Eustaquiano de Keith ou
o tendão de Todaro (na espessura) apêndice auricular posterior de His
119
Nota clínica: Um FOP, ou foramen oval patente, é uma situação comum, acontecendo em cerca de 25-30% das pessoas e a
maioria é assintomática. No entanto, este tem sido crescentemente associado a enxaquecas e à síndrome de descompressão
(comum em mergulhadores). Outra patologia, de interesse anatómico, a que o FOP está associado é ao acidente isquémico
transitório (um síndrome clínico que consiste num défice neurológico focal localizável a um território vascular com duração
inferior a 24h) por um embolismo paradoxal ou cruzado. O que acontece é que uma trombose venosa profunda, como por
exemplo na perna (uma situação relativamente comum), pode enviar um trombo para o coração direito que, pela presença do
FOP, pode passar para o coração esquerdo e atingir a circulação cerebral.
• Base: constituída pelo orifício AV e válvula tricúspide, e pelo orifício e válvula do tronco pulmonar
o Válvula AV ou tricúspide (28-30mm diâmetro; H: 11.4-12cm e M: 10.5-10.8cm de perímetro)
▪ Orifício com forma oval a triangular, com orientação ântero-ínfero-esquerda
▪ Folheto anterior: o mais extenso, no plano da parede anterior
▪ Folheto posterior: no plano da parede posterior
▪ Folheto septal: o mais pequeno, no plano da parede septal
▪ Comissura posterior, entre folheto posterior e septal
▪ Comissura lateral, entre folheto posterior e anterior
o Válvula pulmonar (23-24mm diâmetro; 72mm de perímetro); num plano superior a todas as válvulas
▪ Orifício com forma circular, com orientação póstero-súpero-esquerda
▪ Valva anterior, direita e esquerda, apresentam o nódulo de Morgagni e seios pulmonares
Ventrículo esquerdo (num plano inferior e posterior ao VD, é cónico, e tem espessura de 8-12mm)
• Parede anterior: corresponde, exteriormente, à face esternocostal do coração
o M. papilar anterior (1ª ordem): porção lateral da parede anterior
o Cordas tendinosas inserem-se nas metades anteriores dos folhetos da válvula mitral
• Parede inferior: corresponde, exteriormente, à face diafragmática do coração
o M. papilar posterior (1ª ordem): porção medial da parede posterior
o Cordas tendinosas inserem-se nas metades posteriores dos folhetos da válvula mitral
• Parede septal: corresponde ao septo interventricular e é lisa
121
• Base: constituída pelo orifício AV e válvula mitral, e pelo orifício e válvula aórtica
o As 2 válvulas estão ambas no mesmo plano, embora a aórtica esteja à direita e seja um pouco anterior
o Válvula AV ou mitral (25-27mm diâmetro; H: 9-10,2cm; M: 7,2-9cm de perímetro):
▪ Orifício circular, com orientação ântero-ínfero-esquerda
▪ Folheto anterior: quadrangular e liso na face parietal
• O facto de ser liso na face parietal facilita a ejecção do sangue para a Aorta
▪ Folheto posterior: triangular e reticulado/rugoso na face parietal
▪ Comissuras anterior e posterior, entre os dois folhetos
o Válvula aórtica (21-22mm diâmetro; 70mm de perímetro):
▪ Tem orientação ântero-súpero-direita, no mesmo plano que a válvula mitral
▪ Valvas apresentam o nódulo de Arantius e seios aórticos ou de Valsalva
• Os seios das valvas anterior direita e anterior esquerda são chamados seios coronários
direito e esquerdo, uma vez que em cada um existe um orifício das coronárias
• O seio da valva posterior é o seio não-coronário, porque dele não nasce coronária
• Assim, também as valvas se passaram a chamar, na prática clínica, valva coronária direita,
coronária esquerda e não-coronária
▪ Como descrito, entre os bordos aderentes de cada valva existem triângulos de parede arterial,
dos quais se destacam:
• O triângulo entre as valvas posterior e anterior esquerda continua-se inferiormente com
um tecido fibroso até à porção fibrosa do folheto anterior da válvula mitral, definindo-se
assim a cortina mitro-aórtica (ou sub-aórtica), que faz parte do esqueleto fibroso do
coração e se continua, de cada lado, com os trígonos fibrosos
• O triângulo entre as valvas posterior e anterior direita continua-se, na sua base, com a
porção membranosa do septo interauricular
▪ O tecido fibroso entre a valva coronária direita e o infundíbulo é chamado tendão do
infundíbulo, sendo uma conexão entre parte muscular do infundíbulo e raiz da Aorta
• Câmara de entrada (do sangue): é posterior com eixo de orientação ântero-ínfero-direita
• Câmara de saída (do sangue): é anterior com eixo de orientação póstero-súpero-esquerda
• Comunicação entre as duas câmaras é feita pelo espaço entre os M. papilares anterior e posterior
Septo interventricular
• É triangular em secção, de base auricular e vértice no ápex do coração, e subdivide-se em:
o Porção muscular (maior parte): de espessura decrescente do ápex para a base
▪ Contem os feixes direito e esquerdos de His (tecido cardionector) na sua espessura
o Porção membranosa (menor parte): com tecido fibroso e cardionector na sua espessura
▪ Porção interventricular: entre o folheto septal da tricúspide e o triângulo entre os bordos
aderentes das valvas aórticas posterior e coronária direita
▪ Porção auriculoventricular: na parede septal da AD, junto ao bordo aderente do folheto septal da
tricúspide
▪ Continua-se com o septo interauricular (descrito junto das paredes septais auriculares)
▪ Contém o feixe AV de His (que se bifurca em direito e esquerdo, como se verá adiante)
• As suas inserções nas paredes anterior e inferior dos ventrículos formam os sulcos interventriculares
• Raramente, há uma comunicação interventricular, o foramen de Panizza
122
Constituição anatómica: epicárdio, miocárdio (c/ esqueleto fibroso e tecido cardionector) e endocárdio
Epicárdio: revestimento epitelial externo do miocárdio, correspondendo ao folheto visceral do pericárdio seroso
• Acumula tecido adiposo entre o epicárdio e o miocárdio, que envolve os vasos do coração
Endocárdio: revestimento epitelial do miocárdio, continuando-se com o endotélio dos vasos sanguíneos
Esqueleto fibroso: tem a função de separar e isolar electricamente as aurículas dos ventrículos, além de servir de
base fibrosa deformável para as válvulas, e de âncora para muitas fibras musculares, principalmente ventriculares
• Anéis fibrosos direito e esquerdo: dão inserção às válvulas tricúspide e mitral
• Aneis aórtico e pulmonar: não são verdadeiros anéis do esqueleto fibroso, correspondendo somente às
inserções dos bordos aderentes das valvas das válvulas aórtica e pulmonar
o O anel pulmonar está num plano póstero-superior, enquanto os restantes são complanares
• Trígonos fibrosos direito e esquerdo: são condensações fibrosas
o Direito está entre os anéis direito e esquerdo: corresponde ao corpo fibroso central
▪ O vértice e lados formam-se entre folheto septal da tricúspide e folheto anterior da mitral
▪ A base insere-se na valva aórtica posterior
▪ Origina os fila coronaria, tendões sub-endocárdicos que formam os anéis direito e esquerdo
o Esquerdo está entre anéis esquerdo e o aórtico
▪ A cortina mitro-aórtica estabelece continuidade fibrosa entre folheto anterior mitral e o triângulo
entre os bordos aderentes das valvas aórticas posterior e coronária esquerda
▪ A cortina mitro-aórtica continua-se nas suas extremidades com os dois trígonos fibrosos
Miocárdio: um tipo específico e único de músculo no organismo, classificado como estriado cardíaco
• Ventricular: feixes superficiais comuns, em turbilhão; feixes parietais, com origem nos trígonos e anéis
fibrosos; e feixes interventriculares, formam o septo interventricular
• Auriculares: feixes comuns e próprios, às aurículas, formando sensivelmente duas camadas
o Destacam-se alguns feixes da aurícula direita, já referidos, que vale a pena recordar:
o Feixe terminal (crista terminalis), feixe de Lower; feixes do limbo de Vieussens e tendão de Todaro
Tecido cardionector (NETTER p. 222): tem a função de criar e conduzir os impulsos eléctricos cardíacos
• Considerações funcionais: células musculares especializadas na criação e condução de potenciais de acção
o O nodo sinusal dispara 70-80 potenciais/minuto, que se propagam pelo miocárdio auricular
▪ A contracção auricular é responsável por pequena parte (20%) da ejecção do sangue auricular
▪ A maioria (80%) do sangue auricular entra nos ventrículos passivamente graças à gravidade
o De forma a evitar a contracção simultânea dos ventrículos e aurículas, o impulso eléctrico sofre um
atraso no nodo aurículo-ventricular e feixe de His: este atraso conjunto ronda os 0,12 segundos
• Nodo sinusal (Keith-Flack) ou sino-auricular (SA): elíptico, com 10-20mm (8mm para o Prof. Antunes), no
flanco direito da terminação da VCS, entre as paredes superior e posterior da AD, na região da origem do sulco
terminalis de His, origina fibras para as aurículas:
o Feixes interauriculares e feixes inter-nodais (anterior, média e posterior): percorrem o miocárdio
auricular em direcção ao nodo aurículo-ventricular
• Nodo aurículo-ventricular (AV de Aschoff-Tawara): na espessura do septo IA, no triângulo de Koch:
o Feixe AV de His: no septo membranoso, atinge o septo muscular e bifurca-se:
▪ Ramo direito: na parede septal do VD, percorre a trabécula septo-marginal até ao M. papilar
anterior e ramifica-se na rede subendocárdica de Purkinje
▪ Ramo esquerdo: mais desenvolvido, atravessa o septo, alcança parede septal do VE e bifurca-se
em ramo anterior e posterior para os M. papilares respectivos, ramificando-se na rede
subendocárdica de Purkinje
123
O esqueleto fibroso do coração, in Gray
124
Artérias do Coração (NETTER pp. 215-216)
Domínio arterial (percentagens variam consoante o autor):
• Padrão co-dominante (~60%): A. interventricular posterior vem da A. coronária direita, e a A. circunflexa
esquerda alcança a face posterior do VE
• Padrão dominante direito (10-20%): A. interventricular posterior vem da A. coronária direita e coronária
direita substitui A. circunflexa esquerda no sulco coronário
• Padrão dominante esquerdo (10-20%): A. interventricular posterior vem da A. coronária esquerda e a
coronária direita termina entre margem direita e a crux cordis
in Sobotta
125
Coronária esquerda
• Origem: no orifício do seio coronário esquerdo
• Trajecto: curto de 2cm relacionando-se com
o Anteriormente: flanco posterior do tronco pulmonar
o Posteriormente: parede superior e anterior da aurícula esquerda
o Esquerda: apêndice auricular esquerdo
• Colaterais:
o Ramo pré-aórtico, anastomosa-se com homónima direita, formando um arco pré-aórtico
o Ramo para face superior da aurícula esquerda e para o septo interauricular
• Terminação: por bifurcação em A. circunflexa e A. interventricular anterior
o A. interventricular anterior: no sulco IV anterior e contorna margem direita à direita do ápex
▪ A. do cone arterial (Vieussens), anastomosa-se com homónima direita
▪ A. ventriculares anteriores, a maior das quais é A. diagonal, que percorre diagonalmente a face
anterior até à face esquerda/margem obtusa do coração
▪ A. septais anteriores (10-12): vascularizam 2/3 anteriores do septo interventricular
• Inclui ramo para o ramo esquerdo anterior de His
• A 2ª vai para M. papilar anterior do VD, trabécula septo-marginal e ramo direito de His
▪ A. septais inferiores: na porção apical da artéria; vascularizam ¼ inferior do septo IV
▪ A. recorrentes dos bordos direito e esquerdo: pequenos ramos que partem do ápex
▪ Anastomosa-se com A. interventricular posterior no sulco IV posterior em 1/3 dos casos
o A. circunflexa: no sulco coronário até pouco antes da crux cordis (não a alcança em 85% dos casos)
▪ A. auriculares: vários pequenos ramos, dos quais se destacam os ramos:
• Anterior: em 35-45% dos casos dá ramo do nodo sinusal
• Posterior: acompanha a veia oblíqua de Marshall
▪ A. marginal esquerda (ou obtusa marginal): percorre a margem obtusa
▪ A. ventricular posterior esquerda
Coronária direita
• Origem: no orifício do seio coronário direito
• Trajecto:
o Inicialmente relaciona-se anteriormente com o flanco direito do tronco pulmonar, posteriormente com
a parede superior e anterior da aurícula direita, e à direita com o apêndice auricular direito
o Percorre sulco coronário até à margem direita (1º segmento), depois até à crux cordis (2º segmento) e
depois o sulco IV posterior (3º segmento), distribuindo-se dessa forma os seus colaterais
• Colaterais do 1º segmento:
o A. auriculares: pequenos ramos dos quais se destacam
▪ Anterior: em 55-65% dos casos dá ramo do nodo sinusal
▪ Direita: para os M. pectíneos
o Ramo pré-aórtico, anastomosa-se com homónima esquerda, formando um arco pré-aórtico
o A. do cone arterial (anastomosa-se com homónima esquerda)
o A. ventriculares anteriores, sendo a maior a A. marginal direita, que parte do 2º segmento
• Colaterais do 2º segmento:
o A. marginal direita (ou marginal aguda): percorre margem aguda do coração e atinge o ápex
o A. ventriculares posteriores
o A. auriculares posteriores: pequenos ramos pouco importantes
• Colaterais do 3º segmento: corresponde à A. interventricular posterior
o A. septais posteriores (7-12): vascularizam 1/3 posterior do septo interventricular
▪ A 1ª vai para o nodo auriculoventricular e feixe de His
▪ Inclui ramo para o ramo esquerdo posterior de His
o A. póstero-lateral direita: para o VE, percorrendo a metade esquerda do sulco coronário
o Ramos ventriculares direitos e esquerdos
126
Nota clínica: O enfarte agudo do miocárdio (EAM) é uma das principais causas de morte em Portugal e no mundo. Este
fenómeno ocorre, mais frequentemente (em 90% dos casos), quando uma placa de aterosclerose nas artérias coronárias se
torna instável e, por contacto do “interior” da placa (especificamente, o colagénio) com a corrente sanguínea, activa a cascata
de coagulação e provoca a formação de um trombo, que ao ocluir o lúmen da artéria, impede que o sangue atinja os territórios
irrigados por essa artéria. Assim, o EAM corresponde à necrose (morte celular não-programada) miocárdica irreversível
secundária a isquémia (falta de oxigenação por falha na irrigação) prolongada. O quadro clínico pode começar lentamente, com
cansaço e desconforto retroesternal, e ao progredir para o evento agudo surge uma dor aguda intensa e constante
retroesternal que pode irradiar difusamente para o braço esquerdo, pescoço e mandíbula. Se o doente que se queixa de dor
no peito conseguir apontar com o dedo onde dói, é improvável que a dor seja de um EAM, uma vez que a dor é difusa. O
tratamento de um enfarte, se diagnosticado atempadamente, é a revascularização do segmento ocluído pelo trombo,
habitualmente usando um catéter que se introduz na veia femoral, que se conduz até ao coração direito, atravessa-se a fossa
oval para atingir a aurícula e ventrículo esquerdos, sucessivamente, e chegar às coronárias na raiz da aorta. Entrando na
coronária afectada, é possível colocar uma rede expansível na zona afectada pelo trombo para que o sangue volte a fluir.
in Gray
127
Veias do Coração (veias superficiais, de drenagem centrífuga, e veias profundas, de drenagem centrípeta)
Seio coronário: é o tronco comum que recebe a maioria das veias cardíacas
• Origem: porção terminal dilatada da grande veia cardíaca
• Trajecto: tem cerca de 2-3cm e está na metade esquerda da porção posterior do sulco coronário
• Terminação: no orifício do seio coronário, na AD, entre os orifícios da VCI e AV direito
• Afluentes:
o Grande veia cardíaca, que apresenta a válvula de Vieussens ao desembocar no seio coronário
o V. cardíaca média ou interventricular posterior
o V. oblíqua de Marshall
o V. posterior do ventrículo esquerdo (pode drenar na grande veia cardíaca)
o Pequena veia cardíaca (inconstante; pode drenar isoladamente na AD)
Pequena veia cardíaca (inconstante; na sua ausência, os afluentes abrem na AD num ducto comum ou
individualmente)
• Origem no sulco coronário direito próximo da margem aguda do coração
• Termina na V. interventricular posterior (60%), no seio coronário (30%) ou isoladamente na AD (10%)
• Afluentes inconstantes, são as veias cardíacas menores, adiantes descritas, que normalmente drenam na AD,
uma vez que é raro a pequena veia cardíaca ser um vaso bem desenvolvido
Veias cardíacas mínimas (Thebesius): Veias de muito pequeno calibre que abrem em todas as cavidades
cardíacas por pequenos foramina, embora preponderantemente na aurícula e ventrículo direito
128
As veias e linfáticos do coração, in Gray
129
Linfáticos do Coração (imagem pág. anterior)
As redes linfáticas subendocárdica e intramiocárdica (esta última de existência controversa e discutível) drenam
para uma rede subepicárdica, que origina troncos linfáticos:
• Tronco linfático esquerdo: a partir da união entre um tronco interventricular posterior, que percorre o sulco
coronário, e troncos interventriculares anteriores, drenando a linfa ventricular esquerda e direita ao longo do
tronco pulmonar, para gânglios traqueobrônquicos inferiores
• Tronco linfático direito: a partir de troncos auriculares direitos e marginal direito, drenam linfa ventricular
direita e auricular, ao longo da Aorta ascendente, para gânglios mediastínicos anteriores, nomeadamente
pré-aórticos e bráquio-cefálicos esquerdos
in Gray
130
Plexo cardíaco: rede de fibras eferentes e aferentes parassimpáticas e simpáticas
• Porção superficial (pré-aórtico): em relação com o plexo pulmonar esquerdo, é parassimpática
o Localiza-se anteriormente e abaixo da croça da Aorta
o N. cardíacos cervicais inferiores do Vago esquerdo
o N. cardíacos torácicos do N. vago esquerdo e do laríngeo recorrente esquerdo
o Convergem para o gânglio cardíaco de Wrisberg, imediatamente abaixo da croça da Aorta, entre esta
e tronco pulmonar, à direita do lig. arterial
o Formam plexos coronários direito e esquerdo
• Porção profunda (venosa, pré-traqueal): em relação com o plexo pulmonar direito
o Localiza-se anteriormente à bifurcação traqueal
o N. cardíacos cervicais superiores de ambos os Vagos
o N. cardíaco cervicais inferiores e torácicos do Vago direito
o N. cardíacos cervicais superiores, médios, inferiores, e torácicos das cadeias simpáticas
o Formam plexos coronários direito e esquerdo
Pericárdio (NETTER pp. 209 e 212): saco fibrosseroso que envolve o coração e a origem dos grandes vasos
Pericárdio fibroso: tronco cónico fibroso unilaminar
• Face anterior: relaciona-se, lateralmente, com a face mediastínica dos pulmões e pleuras mediastínicas e
anteriormente com o esterno e cartilagens costais da área cardíaca e, ainda, com o timo
• Face posterior: com o mediastino posterior (brônquios, esófago, N. vagos, Aorta, canal torácico, V. ázigos)
• Margens laterais: relacionam-se com a face mediastínica dos pulmões e pleuras mediastínicas, vasos
pericárdio-frénicos e nervos frénicos
• Base: centro frénico (o plateau cardíaco), aderindo-lhe intimamente na porção anterior e direita
• Ápex: corresponde à base do coração e tem os seguintes limites:
o Anteriormente: cobre Aorta ascendente e tronco pulmonar
o Posteriormente: alcança A. pulmonar direita
o Lateralmente: reveste VCS e veias pulmonares
• O ponto mais alto é o corno pericádico (Haller), que alcança o flanco direito do tronco bráquio-cefálico
• Meios de fixação:
o Ligamentos vértebro-pericárdicos: ligamento par, da face anterior de C7-T3 até ao ápex do pericárdio,
abraçando à esquerda a Aorta ascendente e à direita o tronco pulmonar
o Ligamentos esterno-pericárdicos:
▪ Superior: face posterior do manúbrio e cartilagens costais adjacentes até porção superior da face
anterior do pericárdio
▪ Inferior: face posterior do processo xifóide até porção inferior da face anterior do pericárdio
o Ligamentos freno-pericárdicos: anterior, direito e esquerdo, rodeiam a base do pericárdio
Pericárdio seroso: membrana serosa bilaminar: folheto visceral, folheto parietal e cavidade pericárdica
• Folheto parietal: reveste a superfície interna do pericárdio fibroso
• Folheto visceral: reveste completamente as superfícies externas ventriculares; nas aurículas há maior
complexidade:
o Posteriormente: reflecte-se sobre as veias pulmonares e veias cavas
o Lateralmente: reveste as suas faces laterais
o Anteriormente: reveste face anterior e apêndices auriculares, reflectindo-se sobre os grandes vasos
▪ Seio transverso do pericárdio (Theile): espaço entre flancos posteriores da Aorta ascendente e
tronco pulmonar e a face superior das aurículas; passagem entre os dois “tubos” do pericárdio
• Linha de reflexão entre folhetos (locais em que o folheto visceral se reflecte para parietal):
o Ao longo e em redor de dois “tubos”:
▪ Tubo arterial: tronco pulmonar e Aorta ascendente
▪ Tubo venoso (em forma de J): VCS, VCI, V. pulmonares direitas e esquerdas
131
o Anteriormente: começa no flanco inferior do tronco pulmonar e, dirigindo-se para a direita, cobre os
flancos anteriores do tronco pulmonar, da Aorta ascendente (alcançando flanco direito do tronco
bráquio-cefálico) e VCS até ao seu flanco direito
o Posteriormente: desde o flanco direito da VCS, cobre a face posterior da aurícula direita, o flanco
ântero-direito das V. pulmonares direitas de superior a inferior, contorna a VCI, cobre o flanco esquerdo
das V. pulmonares direitas de inferior a superior, o flanco posterior das V. pulmonares esquerdas,
contornando-as para anterior, e alcançando o flanco inferior da A. pulmonar esquerda
▪ A reflexão posterior entre os pedículos venosos direito (VCS, VCI e V. pulmonares direitas) e
esquerdo (V. pulmonares esquerdas) origina um espaço atrás da aurícula esquerda chamado seio
oblíquo do pericárdio (Haller)
o Formam-se recessos (espaços cegos em que se dá a reflexão dos folhetos):
▪ Recesso pós-cávico (entre VCS e V. pulmonar direita superior), atrás da AD
▪ Recessos das V. pulmonares (entre V. pulmonares superior e inferior de cada lado): atrás da AE
▪ Recesso aórtico superior: entre Aorta e VCS, subindo a partir do seio transverso do pericárdio
▪ Recesso pulmonar esquerdo: entre A. pulmonar esquerda e V. pulmonar esquerda superior
• Cavidade pericárdica: espaço virtual entre folhetos, que só se torna real em situação patológica
Nota clínica: O tamponamento cardíaco é uma síndrome clínica de etiologia variada causada pela acumulação de fluido na
cavidade pericárdica, o que dificulta o enchimento ventricular, com consequente compromisso hemodinâmico. É uma
emergência médica, sendo que os doentes normalmente queixam-se de dispneia, palpitações e elevação da frequência
respiratória (taquipneia). Podem apresentar extremidades frias por hipoperfusão. Ao exame físico salienta-se a presença
de distensão das veias do pescoço (por aumento da pressão venosa), hipotensão arterial e sons cardíacos
distantes/abafados à auscultação. Estes três sinais constituem a clássica tríade de Beck.
in Gray 132
Sistema Respiratório
Laringe (NETTER pp. 79-82)
Introdução: Forma, Limites, Funções, Relações e Fixação
• Pirâmide triangular de base superior e ápex inferior
• Limite superior: margem superior da cartilagem tiróide (C4)
o Embora a epiglote se projecte em C3, convencionou-se que o limite superior é o da cartilagem tiróide
• Limite inferior: margem inferior da cartilagem cricóide (C6)
• Funções: fonação e condução aérea durante ventilação e tosse
• Relações:
o Superiormente: língua e osso hióide
o Inferiormente: traqueia
o Posteriormente: laringo-faringe (é a porção inferior da faringe)
o Anteriormente: fáscias e M. infra-hioideus
o Lateralmente: rolo vásculo-nervoso do pescoço (VJI, ACC e X par)
• Meios de fixação:
o Ao hióide: membrana tiro-hioideia
o À laringo-faringe: M. constritor inferior da faringe
o À traqueia: continuidade directa
Cartilagem tiróide: ímpar, mediana, com 2 lâminas quadriláteras unidas na linha média (forma de um
“livro aberto para trás” ou de um “casco de um navio”)
• Face anterior:
o Convexa, com proeminência laríngea mediana
o Lâminas direita e esquerda com linhas oblíquas na face externa, com orientação ântero-inferior
▪ Extremidades das linhas oblíquas apresentam tubérculos tiroideus superior e inferior
▪ Anteriormente às linhas insere-se o M. tiro-hioideu
▪ Posteriormente às linhas inserem-se os M. esterno-tiroideu e M. constritor inferior da faringe
• Face posterior:
o Lâminas formam ângulo reentrante de 90º no homem e 120º na mulher
▪ Justifica proeminência laríngea (maçã de Adão) maior no homem, assim como voz mais grave,
uma vez que as cordas vocais são mais longas
o Ângulo reentrante dá inserção a:
▪ Epiglote, através do lig. tiro-epiglótico, pregas vestibulares (cordas falsas) e M. tiro-aritnoideus
▪ M. vocais e lig. vocais, que formam as cordas vocais (pregas quando revestidas por mucosa)
• Bordo superior:
o Dá inserção à membrana tiro-hioideia, muito elástica, reforçada mediana e lateralmente
▪ Lateralmente perfurada por vasos laríngeos superiores e ramo interno do N. laríngeo superior
o Apresenta a incisura tiroideia superior que dá inserção ao ligamento tiro-hioideu mediano, o reforço
mediano da membrana tiro-hioideia
• Bordo inferior:
o Incisura tiroideia inferior, pouco desenvolvida
o Inserção da membrana crico-tiroideia, reforçada medianamente pelo lig. crico-tiroideu mediano
• Bordos posteriores são verticais e continuam-se através de:
o Grandes cornos (superiores): inserção dos ligamentos tiro-hioideus laterais, os reforços laterais da
membrana tiro-hioideia, e que possuem na sua espessura a cartilagem tritícea, muito pequena
▪ Inferiormente aos grandes cornos, próximo do tubérculo tiroideu superior pode haver,
raramente, um foramen tiroideu, um buraco na cartilagem para os vasos laríngeos superiores
o Pequenos cornos (inferiores): articulam com a cartilagem cricóide
▪ Emitem ligamentos crico-tiroideus laterais (três feixes em cada lado)
133
Cartilagem cricóide: anel completo mais alto atrás que à frente, tem um arco anterior e uma lâmina posterior
• Arco (5-7mm altura) apresenta faces anterior e posterior (interna), bordos superior e inferior
o Face anterior: apresenta, medianamente, o tubérculo cricoideu (mediano), e lateralmente, próximo da
lâmina, apresenta as faces articulares para os pequenos cornos da cartilagem tiróide
▪ A Art. crico-tiroideia permite movimentos de rotação da cricóide, tipo “visor de capacete” (15º)
▪ Dá inserção aos M. crico-tiroideus e M. constritor inferior da faringe
o Face posterior: é lisa e dá inserção ao conus elasticus ou membrana crico-vocal
▪ Conus elasticus: ligamento paralelo à membrana crico-tiroideia, posterior e internamente a esta,
que no seu bordo superior (livre) dá origem ao ligamento vocal (a corda vocal)
o Bordo superior: inserção da membrana crico-tiroideia e ligamento crico-tiroideu mediano (reforço)
o Bordo inferior: inserção da membrana crico-traqueal
• Lâmina (2-3cm altura) é quadrangular e apresenta faces anterior e posterior e bordos superior e inferior
o Face anterior: lisa e côncava
NETTER p. 69 o Face posterior: apresenta a crista mediana da cricóide, romba, que dá inserção ao tendão crico-
esofágico, que é a inserção superior da camada longitudinal da camada muscular do esofágo
▪ A crista cria duas depressões laterais para a inserção dos M. crico-aritnoideus posteriores
o Bordo superior: apresenta faces articulares para as cartilagens aritnóides
o Bordo inferior: inserção da membrana crico-traqueal
Cartilagens aritnóides: pirâmide triangular com três faces, três bordos, três ângulos, uma base, um vértice
• Base: apresenta faceta articular que assenta na cartilagem cricóide
o Art. crico-aritnoideia permite rotação das aritnóides e deslizamento de uma em relação à outra
o Emite um ligamento crico-aritnoideu posterior para o bordo superior da lâmina cricóide
• Ápex: articula com cartilagem corniculada (Santorini)
• Face anterior: duas fóveas separadas por crista arqueada
o Fóvea superior (triangular): dá inserção do ligamento vestibular, na espessura da prega vestibular
o Fóvea inferior (oblonga): dá inserção dos M. tiro-aritnoideu e M. vocal
• Face medial: é lisa e faz parte da porção cartilaginosa da glote (ver adiante na conformação interna)
• Face posterior: dá inserção à porção transversa do M. aritnoideu
• Ângulo anterior: é o processo vocal, que dá inserção ao ligamento vocal e parte do M. vocal
• Ângulo póstero-lateral: é o processo muscular, dá inserção aos M. crico-aritnoideus posterior e lateral
Lâmina quadrangular
Ligamento vestibular
Ligamento vocal
135
Ligamentos extrínsecos e intrínsecos
• Ligamentos intrínsecos: articulam ou unem as diversas cartilagens da laringe entre si
o Lâmina quadrangular: estrutura fibrosa par, interna à laringe, que tem os seus bordos superior e inferior
livres, e os bordo anterior e posterior fixos:
▪ Bordo anterior: insere-se nos bordos laterais da epiglote
Membrana fibroelástica
▪ Bordo inferior: livre, forma o ligamento vestibular, que se insere anteriormente no ângulo
reentrante da cart. tiróide e posteriormente na fóvea superior da face anterior aritnoideia
o Membrana crico-tiroideia: reforçada pelo ligamento crico-tiroideu mediano
o Conus elasticus: paralelo à membrana crico-tiroideia, posterior e internamente a esta, insere-se na face
posterior do arco da cricóide, e o seu bordo superior (livre) dá origem ao ligamento vocal, que se insere
anteriormente no ângulo reentrante da cart. tiróide e posteriormente no processo vocal
o Ligamentos crico-tiroideus mediano (reforça a membrana tiro-hioideia) e laterais (articulares)
o Ligamentos crico-aritnoideu posterior
o Ligamento tiro-epiglótico
• Ligamentos extrínsecos: unem as cartilagens da laringe a outras estruturas extra-laríngeas
o Membrana tiro-hioideia: reforçada pelos ligamentos tiro-hioideus mediano e laterais
o Membrana crico-traqueal
o Ligamento hio-epiglótico
Músculos da laringe
• Tensor das cordas vocais
o M. crico-tiroideus: deprimem e anteriorizam a cartilagem tiróide, “esticando” as cordas vocais
▪ Anteriormente, inserem-se na face anterior do arco cricóide (lateralmente ao tub. cricóide)
▪ Posteriormente, inserem-se na face interna do bordo inferior da c. tiróide e no pequeno corno
▪ Dividem-se em feixe vertical (medial) e feixe oblíquo (lateral)
• Dilatador da glote
o M. crico-aritnoideus posteriores: fazem abdução das cordas vocais
▪ Superiormente, inserem-se no processo muscular da c. aritnóide
▪ Inferiormente, inserem-se nas depressões laterais da face posterior da lâmina cricóide
• Constritores da glote
o M. crico-aritnoideus laterais: fazem a adução das cordas vocais
▪ Anteriormente, inserem-se no bordo superior da porção lateral do arco cricóide
▪ Posteriormente, no processo muscular da cartilagem aritnóide
o M. aritnoideus: fazem a adução das cordas vocais e são divididos em dois músculos independentes
▪ M. aritnoideu transverso: inserem-se na face posterior de cada cartilagem aritnóide
▪ M. aritnoideu oblíquo: do processo muscular de uma da aritnóide ao ápex da outra
• Continua-se como M. ari-epiglóticos, na profundidade das pregas ari-epiglóticas, que se
dirigem ântero-superiormente para se inserir nos bordos laterais da epiglote
o M. tiro-aritnoideus: relaxam as cordas vocais
▪ Anteriormente, inserem-se no ângulo reentrante da cartilagem tiróide
▪ Posteriormente, inserem-se na fóvea inferior da face anterior da cartilagem aritnóide
• Emite um prolongamento superior, a porção tiro-epiglótica do M. tiro-aritnoideu
(antigamente chamado M. tiro-epiglótico) que se insere nos bordos laterais da epiglote
o M. vocais: relaxam as cordas vocais
▪ Anteriormente, inserem-se no ângulo reentrante da tiróide
▪ Posteriormente, na fóvea inferior da face anterior da cartilagem aritnóide e processo vocal
▪ Alguns autores consideram que este músculo é, apenas, um feixe medial do M. tiro-aritnoideu
136
Conformação externa (de acordo com a descrita forma piramidal de vértice inferior e base superior)
• Ápex: corresponde à continuação com a traqueia
• Face posterior: dilatada pela presença das cartilagens cricóide e aritnóides NETTER p. 66
o Superiormente apresenta a incisura interaritnoideia (rímula)
o Lateralmente apresenta as fossas piriformes, um recesso de cada lado, limitado superiormente pelas
pregas faringo-epiglóticas
• Face ântero-lateral: as lâminas tiroideias e arco cricoideu
• Bordo anterior: a proeminência tiroideia e tubérculo cricoideu
• Bordos posteriores: correspondem aos bordos posteriores das lâminas tiroideias, continuados pelos cornos
• Base: olha póstero-superiormente para a oro-faringe e é constituída por, de anterior a posterior:
o Bordo superior da cartilagem tiróide (incisura tiroideia superior) e membrana tiro-hioideia
o Espaço pré-epiglótico: preenchido pelo corpo adiposo pré-epiglótico
▪ O seu limite inferior é o lig. tiro-epiglótico e o superior é o lig. hio-epiglótico
o (Num plano superior) Epiglote, pregas glosso-epiglóticas (mediana e laterais) e valéculas
o Pregas ari-epiglóticas, apresentando os tubérculos cuneiformes (laterais) e corniculados (mediais)
o Incisura interaritnoideia (rímula)
Drenagem venosa
• V. laríngea superior: afluente da V. tiroideia superior que drena na V. jugular interna
• V. laríngea inferior: afluente da V. tiroideia inferior que drena na V. bráquio-cefálico (mais na esquerda)
137
Drenagem linfática (NETTER pp. 74-75)
• Pisos glótico e supra-glótico drenam para vasos linfáticos satélites da A. laríngea superior:
o Gg. jugulares internos superiores
• Piso infra-glótico drena para vasos linfáticos satélite da A. laríngea inferior
o Gg. linfáticos jugulares internos inferiores
o Localmente para gg. pré-laríngeos, pré-traqueais, para-traqueais e recorrenciais
Inervação: somática e parassimpática dos N. vagos, e simpática dos gg. cervicais superior e médio da CSLV
• N. laríngeo superior (sensitivo, motor e com fibras parassimpáticas):
o Passa internamente aos músculos infra-hioideus e, lateralmente à membrana tiro-hioideia, bifurca:
o Ramo externo (motor): para o M. crico-tiroideu
o Ramo interno (sensitivo): perfura membrana tiro-hioideia com os vasos laríngeos superiores
▪ Dá ramo comunicante (ansa de Galeno) antes de se distribuir na mucosa
▪ Dá um ramo superior para a fossa piriforme, um ramo médio para o ventrículo e lâmina
quadrangular e um ramo inferior também para o ventrículo e para a mucosa glótica e infra-glótica
o Inerva todos os pisos laríngeos, embora seja predominante nos pisos supra-glótico e glótico
• N. laríngeo recorrente (sensitivo, motor e com fibras parassimpáticas):
o O seu término é o N. laríngeo inferior, embora o nome mais usado na clínica seja recorrente
o Penetra na laringe no bordo inferior do M. constritor inferior da faringe, com a A. laríngea inferior
▪ Local mais vulnerável a lesão do nervo em cirurgias cervicais (ver Tiróide)
o Inerva a mucosa glótica a infra-glótica, e todos os músculos laríngeos (excepto M. crico-tiroideu)
o Dá ramo comunicante (ansa de Galeno) para o ramo externo do N. laríngeo superior
• Inervação simpática: ramos laríngeos dos gg. cervicais superior e médio da cadeia simpática
139
Vascularização (NETTER p. 204)
• Traqueia cervical: ramos traqueais da A. tiroideia inferior e A. tiroideia menor/ima (inconstante)
• Traqueia torácica: ramos traqueais das A. esofágicas e A. brônquicas, da Aorta torácica descendente
• Brônquios: A. brônquicas
o 1 direita, ramo da 3ª intercostal posterior dta. e 2 esquerdas, ramos da Aorta torácica descendente
Inervação (NETTER pp. 206-207): parte dos plexos pulmonares, que recebem
• S.N. Parassimpático (dominante): ramos pulmonares dos N. laríngeos recorrentes e N. vagos
• S.N. Simpático: N. torácicos pulmonares dos gg. torácicos superiores da cadeia simpática látero-vertebral
140
o A face mediastínica apresenta impressões e sulcos, referentes às respectivas relações:
▪ Porção pré-hilar: 1ª costela, timo, coração/pericárdio (impressão mais profunda à esquerda)
• À direita há impressões para V. bráquio-cefálica direita, VCS e VCI
• À esquerda há impressão para V. bráquio-cefálica esquerda
▪ Porção retro-hilar: esófago
• À direita há impressões para a V. ázigos
• À esquerda há impressão para Aorta torácica descendente
▪ Porção supra-hilar: A. subclávia, traqueia e esófago
• À direita há impressões para a croça da V. ázigos
• À esquerda há impressão para a croça da Aorta
• Face diafragmática ou inferior ou base: assenta sobre o diafragma e nela são visíveis as cisuras oblíquas
o Relaciona-se com o fígado à direita, e com o fundo gástrico e baço à esquerda
• Cisuras: a oblíqua esquerda é mais vertical que a direita; a transversa é exclusiva do pulmão direito
o Oblíqua direita: começa no bordo posterior ao nível do 4ª espaço intercostal, desce até ao hilo, e depois
atinge o bordo inferior ao nível da 6ª c. costal: separa lobo inferior dos lobos superior e médio
o Oblíqua esquerda: começa no bordo posterior ao nível da 4ª costela ou 3º espaço intercostal, desce ao
hilo e atinge o bordo inferior a nível da 6ª c. costal: separa lobo superior do inferior
o Transversa: começa na face costal a partir da cisura oblíqua, atinge horizontalmente o bordo anterior
ao nível da 4ª c. costal, e atinge o hilo: separa lobo médio do lobo superior do pulmão direito
o Supranumerárias, inconstantes: cisura transversa esquerda; sulco de Devé (separa lóbulo de Nelson);
cisura da V. ázigos (separa lobo da V. ázigos)
• Ápex: sobe 2.5cm superiormente à clavícula ultrapassa superiormente a 1ª costela (1cm atrás, 5cm à frente,
devido à obliquidade do orifício superior do tórax), e apresenta as relações mediais descritas como pré e supra-
hilares na face mediastínica, e ainda relações ântero-laterais com (de anterior a superior a posterior): os vasos
subclávios e o escaleno anterior, plexo braquial e os escalenos médio e posterior
No entanto, há alguma mistura entre as duas circulações: na circulação terminal há alguma drenagem do
tecido bronquiolar terminal e respiratório por V. pulmonares, em parte por anastomose entre as duas
circulações e em parte porque alguns destes bronquíolos terminais são nutridos pelas A. pulmonares, razão
pela qual o sangue que retorna pelas V. pulmonares ao coração esquerdo não está completamente saturado
de oxigénio.
in Sobotta
142
in Gray
Nota clínica: O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma complicação grave de uma trombose venosa profunda. Estas últimas
acontecem mais frequentemente nas veias profundas do membro inferior, particularmente em mulheres, e alguns do factores
de risco mais importantes são o tabagismo e a toma de contraceptivos orais combinados (vulgo pílula). Quando um trombo se
solta e viaja até ao coração direito, se for grande o suficiente, pode “encravar” e ocluir a bifurcação do tronco pulmonar ou as
A. pulmonares e seus ramos, com consequente compromisso respiratório e hemodinâmico. Os sinais clínicos clássicos são a
dispneia e dor pleurítica (dor torácica que agrava com a ventilação e tosse), mas mesmo estes podem estar ausentes. Pode
ocorrer febre, tosse produtiva, hemóptise (expectoração com sangue), entre outros. O tratamento inclui anticoagulação e/ou
trombolíticos.
A DPOC, ou doença pulmonar obstructiva crónica, é já uma das principais causas de morte a nível mundial, e o seu impacto
está a crescer. O grande responsável é, sem sombra de dúvida, o tabagismo. O uso prolongado de tabaco, por um lado, provoca
modificações crónicas e progressivas na estrutura e função dos brônquios, levando à bronquite crónica (parte da DPOC) e, por
outro lado, recruta e activa neutrófilos e macrófagos, células que produzem elastases e outras proteinases que degradam a
matriz extracelular do pulmão, levando ao enfisema (outra parte da DPOC). 143
Drenagem linfática (NETTER p. 205): dois plexos, um sub-pleural (superficial) e um peri-brônquico (profundo)
Plexo sub-pleural: acompanha os bordos e faces pulmonares até ao hilo e drena em gg. tráqueo-brônquicos
Plexo peri-brônquico: acompanha os brônquios até ao hilo e, regra geral, os lobos superiores drenam para os gg.
tráqueo-brônquicos superiores para cadeias para-traqueais do mesmo lado do pulmão, e os lobos inferiores drenam
para os gg. tráqueo-brônquicos inferiores para cadeias para-traqueais direitas
• Esta distribuição assimétrica justifica-se pelo facto de os gg. tráqueo-brônquicos inferiores enviarem a linfa,
preferencialmente, para a cadeia para-traqueal direita
• A sequência da drenagem começa nos gg. pulmonares, depois broncopulmonares e tráqueo-brônquicos
superiores ou inferiores, e destes para as cadeias para-traqueais e troncos bronco-mediastínicos
Pulmão direito: toda a linfa culmina em gg. para-traqueais direitos e no tronco bronco-mediastínico direito
• Território superior: lobo superior, porção ântero-medial, drena para:
o Gg. tráqueo-brônquicos superiores direitos e para-traqueais direitos
• Território médio: lobo superior, porção póstero-lateral, lobo médio e ½ superior do lobo inferior:
o Gg. tráqueo-brônquicos inferiores e superiores direitos, para-traqueais direitos
• Território inferior (½ inferior do lobo inferior):
o Gg. tráqueo- brônquicos inferiores e superiores direitos, para-traqueais direitos
Pulmão esquerdo: a linfa culmina em gg. para-traqueais e troncos bronco-mediastínicos dos dois lados
• Território superior: ½ superior do lobo superior
o Gg. tráqueo-brônquicos superiores esquerdos e para-traqueais esquerdos e/ou gg. do ligamento
arterial (que faz parte dos mediastínicos anteriores esquerdos)
• Território médio: ½ inferior do lobo superior e ½ superior do lobo inferior:
o Gg. tráqueo-brônquicos inferiores, tráqueo-brônquicos superiores dos dois lados, para-traqueais
esquerdos e direitos e/ou gg. do ligamento arterial
• Território inferior: ½ inferior do lobo inferior:
o Gg. tráqueo-brônquicos inferiores, tráqueo-brônquicos superiores direitos, para-traqueais direitos
De notar ainda que os plexos linfáticos peri-brônquicos têm conexões através dos septos e cisuras, ou seja, a linfa de
um lobo pode passar para a rede linfática do lobo adjacente directamente, assim como a linfa do plexo peri-brônquico
pode comunicar, perifericamente, com o plexo sub-pleural (ambos os factos são importantes na doença pulmonar
oncológica)
Inervação: parte dos plexos pulmonares anterior e posterior (em relação às estruturas do pedículo)
• S.N. Parassimpático: ramos pulmonares dos N. laríngeos recorrentes e N. vagos
• S.N. Simpático: N. torácicos pulmonares dos gg. torácicos superiores da cadeia simpática látero-vertebral
• O plexo pulmonar anterior é contínuo com a porção superficial plexo cardíaco
Pleuras (NETTER pp. 193-195, 227-229): membrana serosa bi-laminar individual para cada pulmão
Pleura visceral: reveste superfície dos pulmões
• Reveste todo o pulmão excepto no hilo e da margem lateral do ligamento pulmonar: linhas de reflexão
• Insinua-se nas cisuras interlobares, revestindo as superfícies pulmonares, e ficando estas separadas por um
duplo folheto visceral e um pequeno espaço entre os mesmos
144
Pleura parietal: reveste a cavidade que contém cada pulmão, lateralmente ao mediastino, relacionando-se com
a fáscia endotorácica, que reveste internamente toda a cavidade torácica
• Porção costal: reveste e relaciona-se com a face posterior do esterno, o M. transverso do tórax, os vasos
torácicos internos, face interna da grelha costal até Art. costo-transversárias, as faces laterais dos corpos
vertebrais, a cadeia simpática e vasos intercostais posteriores, e com a fáscia endotorácica
o Continua-se com porção mediastínica nos recessos costo-mediastínico anterior e posterior
▪ O posterior é composto por recessos retro-esofágicos (à direita é o ázigo-esofágico) e aorto-
esofágicos, sendo este último unido ao contra-lateral pelo ligamento inter-pleural de Morosow
o Continua-se com porção diafragmática no recesso costo-diafragmático, que se prolonga desde o
processo xifóide até à Art. costo-transversária a nível de T12
• Recessos pleurais: uma vez que os bordos do pulmão não alcançam as reflexões pleurais de face para face,
formam-se recessos, ou seja, pequenos espaços em que os folhetos parietais de faces diferentes estão em
contacto directo, sem pulmão ou pleura visceral interveniente
o Recesso costo-diafragmático: ao longo do segmento lateral do bordo inferior, junto à grelha costal
▪ Anteriormente, na linha médio-clavicular, o pulmão atinge a 6ª c. costal, enquanto a pleura pode
atingir o 7º espaço intercostal; lateralmente, na linha axilar média, o pulmão atinge a 8ª costela,
enquanto a pleura atinge o 9º espaço intercostal; posteriormente, o pulmão atinge o nível de
T10, enquanto a pleura desce até ao nível de T12
o Recesso costo-mediastínico anterior: atrás do esterno
▪ À esquerda apresenta a incisura cardíaca, posteriormente às 5-6ª c. costais esquerdas
o Recesso costo-mediastínico posterior: à frente das Art. costo-transversárias
o Recesso frénico-mediastínico: ao longo do segmento medial do bordo inferior, junto ao mediastino
▪ Anteriormente é lateral ao pericárdio e posteriormente lateral ao esófago e coluna vertebral
Cavidade pleural: espaço virtual entre folhetos pleura parietal e pleura visceral preenchido por fina camada de
líquido pleural que lubrifica e facilita os movimentos respiratórios, tornando-se real em pneumotórax, derrame
pleural, hemotórax, etc. (situações patológicas em que algo se interpõe entre os folhetos)
145
Nota clínica: O pneumotórax corresponde à entrada de ar para a cavidade pleural. Algumas das causas são a traumática
(fractura de costelas), a iatrogénica (lesão durante procedimentos médicos, como por exemplo a colocação de um catéter
venoso central na veia subclávia ou a biópsia hepática) ou ainda a espontânea (por presumível rotura de uma bolha
enfisematosa do pulmão). Alguns pneumotórax podem ser potencialmente fatais por criarem um mecanismo valvular: o ar
entra na cavidade pleural na inspiração mas não consegue sair na expiração. Tal leva a aumento progressivo do pneumotórax
com compressão e desvio de estruturas mediastínicas com compromisso da função cardiovascular e pulmonar: é o
pneumotórax hipertensivo. Alguns dos sinais clínicos são dispneia, diminuição dos sons respiratórios à auscultação (e
timpanismo à percussão), taquicardia, hipotensão, dor torácica, distensão das veias do pescoço (revela compressão da VCS)
e desvio da traqueia para o lado contrário. Uma vez suspeitado um pneumotórax hipertensivo, deve-se realizar a
descompressão urgente, não devendo a radiografia torácica atrasar este procedimento quando a suspeição clínica é elevada.
A descompressão pode ser feita com a introdução de uma agulha e catéter no 2º espaço intercostal, na linha médio-
clavicular, a 2cm do bordo esternal.
146
Sistema digestivo
Esófago (NETTER pp. 229-232): órgão tubular e muscular cérvico-tóraco-abdominal
Introdução: limites, direcção, dimensões, porções, calibre e estreitamentos
• Limite proximal: cervical, ao nível do bordo inferior da cartilagem cricóide (C6)
• Limite distal: intra-abdominal, no cárdia ou junção gastro-esofágica (T11)
• Direcção: vertical com obliquidade ântero-esquerda, com duas curvaturas intra-torácicas (S invertido):
o Curvatura superior, de concavidade direita, desde T1 até T5
o Curvatura inferior, de concavidade esquerda, desde T7 até T10
• Dimensões: 23-26cm (média de 25) de comprimento total, embora se utilize frequentemente a distância aos
incisivos, sendo que o limite superior está a 16cm destes, e o limite inferior a 40cm
o Distâncias importantes no exame endoscópico, uma vez que o cabo da sonda tem marcação métrica
• Porções:
o Cervical: no pescoço, desde o bordo inferior da cartilagem cricóide até à incisura jugular (C6-T1)
o Torácica: mediastinos superior e posterior, desde a incisura jugular ao hiato esofágico (T1-T10)
o Diafragmática: na espessura do hiato esofágico do diafragma (T10)
o Abdominal (1-2.5cm): desde o hiato esofágico do diafragma até à junção gastro-esofágica (T10-T11)
• Calibre: é achatado, em forma de fenda, quando vazio, e tubular cilíndrico quando em repleção
• Estreitamentos:
o Cricóide (a 15-16 cm dos incisivos centrais): condicionado pelo bordo inferior da cartilagem cricóide e
pelo M. crico-faríngeo, que forma o esfíncter esofágico superior (EES)
o Aórtico-brônquico: condicionado pela relação ântero-esquerda com a croça da Aorta (a 22.5cm desde
os incisivos centrais) e com o brônquico principal esquerdo (a 27.5cm dos incisivos centrais)
o Diafragmático (a 38-40cm dos incisivos centrais): condicionado pelo músculo do hiato esofágico e pelo
esfíncter esofágico inferior (EEI), cuja constituição se discute adiante
Meios de fixação:
• À faringe: por continuidade directa, superiormente
• À laringe: tendão crico-esofágico (ou lig. suspensor do esófago), é formado por fibras musculares da camada
muscular longitudinal esofágica e insere-se na crista mediana da face posterior da lâmina da cricóide
• À traqueia: por adventícia (folheto visceral da fáscia pré-traqueal) e fibras musculares partilhadas
• Ao brônquio principal esquerdo: fibras da muscular longitudinal esofágica formam M. bronco-esofágico
• À pleura esquerda: fibras musculares para pleura mediastínica esquerda formam M. pleuro-esofágico
• Ao diafragma: pelo complexo ligamento freno-esofágico (de Treitz e Laimer), que se bifurca e contém, na sua
espessura, fibras musculares que partem do diafragma para a muscular esofágica
o Lâmina superior ou ascendente (contínua com fáscia endotorácica supra-diafragmática):
▪ Insere-se na muscular do esófago até 3cm acima do hiato, é mais firme e comprida que a inferior,
mantém posição do EEI e apresenta fibras musculares internamente (M. de Juvara)
o Lâmina inferior ou descendente (contínua com fáscia transversalis):
▪ Insere-se a nível do cárdia e apresenta fibras musculares internamente (M. de Rouget)
• Ao estômago: por continuidade directa, inferiormente
147
Relações
• Cervicais:
o Anteriormente: traqueia
o Posteriormente: coluna vertebral de C6-C7, lig. longitudinal anterior, M. longo do pescoço, espaço retro-
faríngeo e fáscia pré-vertebral do pescoço
o Lateralmente: N. laríngeos recorrentes (no ângulo tráqueo-esofágico), rolo vásculo-nervoso do
pescoço, lobos laterais da gl. tiróide, A. tiroideias inferiores e o canal torácico à esquerda
• Torácicas:
o Anteriormente (de superior a inferior): traqueia e Br. principal esquerdo, croça da Aorta, A. pulmonar
direita, seio oblíquo do pericárdio, aurícula esquerda, tronco vagal anterior e o plexo esofágico
o Posteriormente: coluna vertebral torácica e lig. longitudinal anterior, M. longo do pescoço, A.
intercostais posteriores direitas, canal torácico, V. hemi-ázigos acessória e hemi-ázigos, tronco vagal
posterior e a Aorta descendente (a partir de T7, quando esta se coloca atrás do esófago)
o Esquerda: Aorta horizontal e descendente (até T7), A. subclávia esquerda, N. laríngeo recorrente
esquerdo, canal torácico (superiormente), pulmão e pleura esquerdos, N. vago esquerdo (acima dos
pedículos pulmonares)
o Direita: pulmão e pleura direitos, V. ázigos, N. vago direito (acima dos pedículos pulmonares), canal
torácico (inferiormente)
• Diafragmáticas: rodeado pelo hiato esofágico do diafragma e pelos troncos vagais anterior e posterior
• Abdominais:
o Anteriormente: a face posterior do lobo esquerdo do fígado e terminação do tronco vagal anterior
o Posteriormente: pilar diafragmático esquerdo, Aorta abdominal e terminação do tronco vagal post.
o Esquerda: o lig. triangular esquerdo do fígado e o fundo do estômago (NETTER p. 277)
o Direita: os lobos esquerdo e caudado do fígado, e a V. cava inferior
▪ Do bordo direito do esófago parte o ligamento hepato-gástrico, parte do pequeno omento, que
NETTER p. 269
se forma pela reflexão do peritoneu visceral que reveste o estômago e esófago abdominal
Constituição anatómica
• Mucosa (epitélio, lâmina própria, muscularis mucosae): lisa, de aspecto esbranquiçado
o A linha de transição entre mucosa esofágica e mucosa gástrica está um pouco acima do cárdia, e é
marcada internamente pela linha Z, em zigue-zague (NETTER p. 232)
• Submucosa: tecido conjuntivo denso, rico em plexos venosos e linfáticos, e glândulas submucosas
• Muscular própria:
o Camada circular (interna): origem, por continuação, no M. crico-faríngeo (porção inferior do M.
constritor inferior da faringe), que forma o esfíncter esofágico superior (EES)
o Camada longitudinal (externa): as fibras têm origem no tendão crico-esofágico (Gilette), e em inserções
NETTER p. 69 acessórias laterais na cricóide, e depois contornam o esófago, por ambos os lados, de anterior para
posterior e obliquamente para baixo, para formar uma camada longitudinal completa
▪ Devido a este trajecto da camada longitudinal, a porção inicial da face posterior do esófago
apenas apresenta camada circular, descrevendo uma zona em V, o triângulo de Laimer
▪ Emite fibras acessórias e inconstantes para a pleura mediastínica esquerda, Br. principal esquerdo
e traqueia, formando os M. pleuro-esofágico, bronco-esofágico e tráqueo-esofágico
o 1/3 superior é músculo estriado esquelético, ou seja, voluntário (participa na 1ª fase da deglutição)
o 2/3 inferiores são músculo liso, ou seja, involuntário
▪ A porção muscular que coincide com o hiato diafragmático é o esfíncter esofágico inferior
• Adventícia (folheto visceral da fáscia pré-traqueal): tecido conjuntivo laxo, em continuidade com a adventícia
dos órgãos mediastínicos e com a fáscia endotorácica, na porção torácica do esófago
o A ausência de serosa como barreira mecânica, na porção cervical e torácica do esófago, é importante
por facilitar a capacidade dos tumores esofágicos malignos invadirem estruturas vizinhas
o A curta porção intra-abdominal do esófago é revestida por peritoneu, contínuo com o estômago
148
Pontos fracos: podem dar origem a divertículos
Um divertículo é uma saculação ou herniação da mucosa ou de mais camadas da parede de uma víscera, que faz
protusão através de uma fraqueza da parede dessa víscera. Um divertículo verdadeiro possui todas as camadas e,
normalmente, é congénito (exemplo: diverticulo de Meckel, no íleon), enquanto um pseudo-divertículo apenas
possui mucosa e é adquirido durante a vida. Um divertículo de pulsão (normalmente pseudo) é aquele em que mucosa
é “empurrada” através da parede. Um divertículo de tracção (normalmente verdadeiro) é aquele em que uma
inflamação externa exerce tracção sobre a parede, “puxando-a”.
Os divertículos esofágicos causam dificuldade em engolir (disfagia), halitose, dor torácica (quando são divertículos
torácicos), tosse, regurgitação, e podem inflamar, sangrar, ulcerar e perfurar.
• Área de Killian: fraqueza entre as porções tiro e crico-faríngea do M. constritor inferior da faringe
Ver pág. Seguinte e NETTER p. 231
149
in Netter’s
Gastroenterology
150
Estômago (NETTER pp. 266-270): órgão sacular muscular abdominal
Introdução: limites, localização, projecção, forma, capacidade e porções
• Limite proximal: a junção gastro-esofágica
• Limite distal: o orifício pilórico
• Situado no andar supra-mesocólico (acima da raiz do mesocólon transverso), entre o diafragma em cima, o
fígado à direita, o cólon e mesocólon em baixo
• Projecta-se no epigastro e hipocôndrio esquerdo (desde o 5º espaço intercostal (EIC) até ao rebordo costal)
• Forma de J maiúsculo achatado ântero-posteriormente, com uma porção vertical e uma horizontal
o Porção vertical: proximal e maior, composta pelo fundo e corpo
o Porção horizontal: distal e menor, composta pelo piloro, com ligeira obliquidade póstero-superior
• Capacidade de 1-1.5L
• Porções:
o Fundo: porção mais alta, em cúpula, cujo limite inferior é um plano horizontal desde a incisura cárdica
Porção vertical
o Corpo: desde o fundo até à incisura angular de His, que separa as porções vertical da horizontal
o Antro pilórico: canal amplo desde a incisura angular de His até ao canal pilórico
Porção
horizontal o Canal pilórico: canal estreito e pequeno (1-3cm de comprimento) antes da válvula pilórica, marcada
externamente pelo sulco duodeno-pilórico
Meios de fixação:
• Cárdia e piloro: continuidade directa com esófago abdominal e duodeno (D1), respectivamente
• Vasos e nervos: principalmente a A. gástrica esquerda
• Dependências do peritoneu (ver Peritoneu):
o Pequeno omento: duplo folheto de peritoneu visceral
▪ Parte do bordo direito do esófago abdominal, da pequena curvatura do estômago e do bordo
superior de D1 até à face inferior do fígado (hilo hepático e fissura do lig. venoso)
▪ Composto por duas porções: o lig. hepato-gástrico e o lig. hepato-duodenal
▪ O lig. hepato-gástrico ou pars flaccida, é largo, fino, e avascular, insere-se na fissura do lig.
venoso e forma a parede anterior da bursa omental
▪ O lig. hepato-duodenal ou pars vasculosa, é estreito, espesso e vascular (aloja no seu interior a
tríade portal), alcançando o hilo hepático e, de forma inconstante, prolonga-se até ao ângulo
hepático do cólon sob a forma de lig. hepato-cólico
o Grande omento: quatro folhetos de peritoneu justapostos
▪ Da grande curvatura do estômago até à ténia omental do cólon transverso
▪ Composto maioritariamente pelo ligamento gastro-cólico
▪ Continua-se ao longo da grande curvatura, para a esquerda, pelos ligamentos gastro-frénico (no
seu interior o lig. suspensor do estômago), gastro-esplénico e espleno-renal
151
• Pequena curvatura (bordo direito): inserção do pequeno omento, mais propriamente o lig. hepato-gástrico
o Desde o bordo direito do cárdia ao bordo superior do piloro (até sulco duodeno-pilórico)
o Apresenta incisura angular de His (mais visível em repleção)
o Nela correm os vasos gástricos direitos e esquerdos entre os folhetos peritoneais do pequeno omento
o Relação póstero-superior com Aorta abdominal, tronco celíaco, plexo celíaco, lobo caudado do fígado
• Grande curvatura (bordo esquerdo): inserção do grande omento, mais propriamente o lig. gastro-cólico
o Desde a incisura cárdica, passando pelo fundo (nível do 5º EIC), até ao bordo inferior do piloro
o Apresenta um sulco, o sulco intermédio, que marca aproximadamente o início do antro pilórico
o Nela correm os vasos gastro-epiplóicos direitos e esquerdos entre os folhetos do grande omento
o Relação esquerda com o baço e inferior com o cólon transverso, através do recesso inferior da bursa
omental, que é o espaço entre os folhetos internos do grande omento (ver Peritoneu)
o Unida a estruturas por dependências peritoneais contínuas medialmente com o grande omento e
contínuas entre si: ao diafragma pelo lig. gastro-frénico e ao hilo esplénico pelo lig. gastro-esplénico
▪ Entre lig. gastro-frénico e gastro-esplénico há uma porção espleno-renal (ver Peritoneu)
• Orifício distal: é o piloro propriamente dito, com esfíncter próprio, tem as seguintes relações:
o Anteriormente: face inferior do lobo quadrado hepático, colo da vesícula biliar e cólon transverso
o Posteriormente: com a cabeça e colo do pâncreas e A. gastro-duodenal
o Superiormente: com a pars vasculosa do pequeno omento, que contém:
▪ V. porta, A. hepática e canal biliar comum
in Gray
152
Constituição anatómica
• Mucosa (epitélio, lâmina própria e muscularis mucosae): avermelhada e pregueada
o As pregas mucosas (rugae) são mais desenvolvidas no corpo, e alisam em repleção
o Repleta de glândulas secretoras de muco, HCl, pepsina
o O antro é rico em células entero-endócrinas que segregam hormonas peptídeas para o sangue, sendo
o exemplo mais adequado a gastrina, cuja função principal é aumentar a produção de HCl
• Submucosa: tecido conjuntivo denso cujas fibras condicionam as pregas mucosas, rico em vasos e plexo
nervoso submucoso de Meissner, parte do sistema nervoso entérico
• Muscular própria (entre as camadas circular e longitudinal há o plexo nervoso mientérico de Auerbach):
o Camada oblíqua (interna): incompleta, densa na incisura cárdica, distribui-se obliquamente pela porção
proximal das faces gástricas
o Camada circular (média): fibras perpendiculares ao eixo gástrico, aumentam de espessura no piloro,
formando o esfíncter pilórico
o Camada longitudinal (externa): fibras paralelas ao eixo gástrico, com maior espessura na pequena
curvatura
• Serosa: peritoneu visceral que reveste o estômago excepto nas linhas de reflexão para os omentos
o No cárdia: as lâminas anterior e posterior cobrem o esófago abdominal e reflectem-se para o diafragma
(peritoneu parietal), formando o ligamento gastro-frénico (NETTER pp. 268 e 308)
o No piloro: a lâmina anterior continua-se com o peritoneu visceral do duodeno; a lâmina posterior
reveste apenas pequena porção da face posterior de D1, reflectindo-se sobre o pâncreas para revestir
a parede posterior da bursa omental
o Nas curvaturas: as lâminas anterior e posterior reflectem-se e tornam-se justapostas em direcção a:
▪ Fissuras venosa e portal da face inferior do fígado (pequeno omento)
▪ Ténia omental do cólon transverso (grande omento)
Mecanismos anti-refluxo
• Esofágicos:
o Esfíncter esofágico inferior: não é um verdadeiro esfíncter mas uma zona muscular espessada e
especializada, com um tónus basal aumentado, formando uma High Pressure Zone
o Motilidade esofágica (peristaltismo): garante direcção céfalo-caudal do conteúdo esofágico e gástrico
o Porção abdominal do esófago: a pressão dentro da cavidade abdominal ajuda a encerrar o esófago
o Posição lateral do cárdia: ao “olhar” lateralmente, dificulta o refluxo gastro-esofágico
• Gástricos:
o Incisura cárdica de His: a dilatação do estômago (e do fundo) ajuda a fechar o ângulo da incisura
o Valva mucosa da incisura cárdica ou de Gubaroff: depende do mecanismo anterior, sendo que o
fechamento do ângulo da incisura empurra a mucosa desta e fecha o orifício inferior esofágico
o Gravata suíça/colarinho de Helvetius: a camada muscular oblíqua (interna), densa na zona da incisura
cárdia, acentua a pressão nesta incisura
• Extrínsecos:
o Hiato esofágico do diafragma: é muscular e o pilar direito envia fibras musculares que enlaçam o
esófago abdominal, exercendo uma pressão radial que contribui para a High Pressure Zone (EEI)
▪ Na inspiração a pressão intra-torácica diminui, aumentando o gradiente de pressão abdómen-
tórax e favorecendo a subida de conteúdo, o que é compensado pelo facto de a contracção
diafragmática encerrar directamente a junção gastro-esofágica
o Ligamento freno-esofágico: aumenta a tensão na porção diafragmática do esófago
o Os ligg. gastro-frénico (dependência peritoneal), hepato-gástrico (pars flaccida do pequeno omento) e
gastro-esplénico (extensão esquerda do grande omento) reforçam as estruturas anteriores
153
Nota clínica: O relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior dá origem a episódios de refluxo gastro-esofágico
(passagem de conteúdo gástrico para o esófago), o que constitui uma situação normal e fisiológica. No entanto, quando a
frequência e duração destes episódios aumenta (o que pode acontecer por múltiplas causas, nomeadamente obesidade,
hérnia do hiato esofágico, etc.), estamos na presença da doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE), um dos "pães nossos
de cada dia” da gastroenterologia. Além da sintomatologia desconfortável e dolorosa que a caracteriza (pirose, vulgo “azia”,
dor retro-esternal, regurgitação, disfagia, tosse, entre outros), a repetida exposição da mucosa esofágica a um ambiente
acídico e erosivo causa um fenómeno de esofagite. Esta inflamação da mucosa esofágica predispõe a alterações metaplásicas
(meta, outra/além, + plasia, tecido) do epitélio esofágico, que se transforma em epitélio do tipo gástrico/intestinal (a mucosa
do 1/3 inferior do esófago torna-se avermelhada e aveludada, em vez de branca) para tentar “suportar” o ácido gástrico,
formando o esófago de Barrett, que é uma condição pré-neoplásica e, por isso, acarreta o risco de transformação em
adenocarcinoma esofágico.
Drenagem linfática (NETTER p. 293): vasos linfáticos são satélites dos vasos sanguíneos
• Gg. gástricos esquerdos e direitos drenam para gg. celíacos
• Gg. gastro-epiplóicos esquerdos drenam para gg. esplénicos e os direitos drenam para gg. hepáticos
• Gg. cárdicos (ânulo linfático cárdico) drenam para os gg. gástricos esquerdos
• Gg. pilóricos (supra, sub e retro-pilóricos) drenam para gg. celíacos e hepáticos
155
Intestino delgado
• Tubo músculo-membranoso com 5-8m de comprimento desde o piloro à válvula íleo-cecal
• Dividido em três porções: duodeno, jejuno e íleo
• As porções apresentam uma constituição anatómica comum, com algumas diferenças que serão exploradas
em cada porção individual:
o Mucosa (epitélio, lâmina própria e muscularis mucosae), que apresenta
▪ Vilosidades: projecções digitiformes de mucosa que aumentam a área de absorção
▪ Pregas circulares ou valvas de Kerckring, a partir de D2
▪ Nódulos linfáticos: não são gânglios mas sim agregados linfóides na espessura da parede, com
importantes funções de barreira imunitária intestinal
▪ Glândulas de Lieberkühn: glândulas presentes em todo o intestino delgado e grosso
o Submucosa: tecido conjuntivo denso com vasos, linfáticos e plexo nervoso submucoso de Meissner
o Muscular própria: formada por camada circular (interna), camada longitudinal (externa) e plexo
nervoso mientérico de Auerbach entre elas
o Serosa: peritoneu visceral que envolve o intestino de forma diferente consoante o segmento
in Gray
156
Duodeno (NETTER pp. 271-272):
Introdução: limites, localização, forma, porções, projecção e dimensões
• Limite proximal: no orifício pilórico, a nível do flanco direito do corpo de L1
• Limite distal: na flexura duodeno-jejunal ou ângulo de Treitz, ao nível do corpo de L2
• Fixo à porção superior da parede abdominal posterior
• Forma de moldura incompleta, em torno da cabeça do pâncreas
• Dividido em porções superior (D1), descendente (D2), horizontal (D3) e ascendente (D4)
• Projecção epigástrica e peri-umbilical (supra-umbilical)
• Dimensões: 20-30cm de comprimento (média de 25cm)
Meios de fixação:
• Ao estômago e ao jejuno por continuidade directa e à cabeça do pâncreas por íntima aderência
• Ao peritoneu: o duodeno é quase totalmente retroperitoneal, à excepção da porção inicial de D1, durante
2.5cm, de onde parte superiormente o lig. hepato-duodenal, a pars vasculosa do pequeno omento
• Aos canais biliar comum e pancreáticos, que drenam em D2 na ampola de Vater
• Às arcadas vasculares pancreático-duodenais anterior e posterior
• Ao lig. suspensor do duodeno (Treitz), que pode ser muscular, parte do pilar esquerdo do diafragma (fibras
musculares esqueléticas) e eixo celíaco (fibras musculares lisas) até ao ângulo de Treitz (NETTER p. 264)
157
• D4, porção ascendente, 2.5cm de comprimento, com trajecto vertical, desde os vasos mesentéricos
superiores até à flexura duodeno-jejunal ou ângulo de Treitz (nível do bordo superior de L2)
o Relações:
▪ Anteriormente: raiz do mesocólon transverso, ansas jejunais abaixo desta e estômago acima
▪ Posteriormente: Aorta, vasos renais esquerdos, vasos testiculares/ováricos esquerdos, M. psoas
major esquerdo e cadeia simpática esquerda
▪ Esquerdas: rim e ureter esquerdos, fossas duodenais superior e inferior, V. mesentérica inferior
▪ Direitas: Aorta, processo unciforme da cabeça do pâncreas, vasos mesentéricos superiores
o A face esquerda e superior da porção terminal torna-se coberta por peritoneu e emite uma dupla prega
peritoneal, o ligamento de Treitz até ao eixo celíaco e pilar esquerdo do diafragma, que pode ser
muscular, formando o M. suspensor do duodeno
o Ao ser coberta por peritoneu na face esquerda, forma recessos ou pregas peritoneais (adiante)
Constituição anatómica
• Mucosa: semelhante à do restante intestino delgado, com a particularidade de apresentar papilas:
o Papila duodenal major: saliência da ampola de Vater (hepato-pancreática)
▪ A 8-10cm do piloro, na parede póstero-medial de D2
▪ A ampola de Vater é uma cavidade que drena o canal pancreático principal (Wirsung) e canal
biliar comum, normalmente fundidos, e possui o esfíncter de Oddi, músculo anular reforçado
pela muscular do duodeno (NETTER pp. 272 e 280)
o Papila duodenal minor: saliência do canal pancreático acessório (Santorini)
▪ É inconstante e, quando existe, está cerca de 2-3cm acima da papila major
• Submucosa: com glândulas de Brunner, vasos, linfáticos e plexo nervoso submucoso de Meissner
• Muscular própria: formada por camada circular (interna), camada longitudinal (externa) e plexo nervoso
mientérico de Auerbach entre elas
• Serosa: peritoneu parietal posterior que, ao cobrir o duodeno, se torna visceral
o D1: faces anterior e posterior dos 2.5cm iniciais de D1 e face anterior da restante porção D1
o D2: cobre face anterior estando interrompida pela raiz do mesocólon transverso
o D3: cobre face anterior estando interrompida na raiz do mesentério
o D4: cobre face anterior, face superior da terminação e face esquerda e, ao reflectir-se de volta para a
parede abdominal posterior, forma pregas e respectivos recessos/fossas
▪ Pregas e fossas duodenais superior e inferior formam-se ao longo da depressão vertical formada
pela reflexão de peritoneu visceral para parietal na face esquerda de D4
• A fossa superior contém a V. mesentérica inferior
▪ A prega paraduodenal (NETTER p. 264) forma-se pelo peritoneu que une as extremidades laterais
das pregas superior e inferior, situando-se lateralmente e entre as fossas superior e inferior,
formando a fossa paraduodenal (rara em adultos), que tem como parede anterior o peritoneu
que reveste a V. mesentérica inferior
o As fossas duodenais acarretam o perigo de herniação de ansas jejunais: hérnias internas
o Podem formar-se outros recessos inconstantes: retro-duodenal e mesentérico-parietal
o A face posterior do duodeno adere directamente ao tecido retroperitoneal, embora haja autores que
descrevem o tecido conjuntivo que os une como a fáscia de coalescência de Treitz
158
Vascularização arterial (NETTER pp. 283-286):
• Arcada arterial pancreático-duodenal anterior:
o A. pancreático-duodenal anterior superior, terminal da A. gastroduodenal
o A. pancreático-duodenal anterior inferior, colateral da A. mesentérica superior, a partir de um tronco
comum com a pancreático-duodenal posterior inferior
• Arcada arterial pancreático-duodenal posterior:
o A. pancreático-duodenal posterior superior, colateral da A. gastroduodenal
o A. pancreático-duodenal posterior inferior, colateral da A. mesentérica superior a partir de um tronco
comum com a pancreático-duodenal anterior inferior
• A. supraduodenal, colateral da A. hepática própria ou, gastroduodenal ou da A. hepática comum, para D1
• Ramos retroduodenais da A. gastroduodenal, para D1 e D2
• 1ª A. jejunal, colateral da A. mesentérica superior, para D4
Drenagem linfática (NETTER pp. 293-294): linfa converge para gg. celíacos e mesentéricos superiores
• Gg. pancreático-duodenais superiores, drenam em gg. hepáticos
• Gg. pancreático-duodenais inferiores, drenam em gg. mesentéricos superiores
• Gg. pilóricos (supra, sub e retro-pilóricos) para gg. celíacos e hepáticos
Nota clínica: A mucosa do estômago e duodeno está sujeita a diversas agressões que, normalmente, são suportadas pelos seus
mecanismos de defesa. No entanto, quando as agressões ultrapassam os mecanismos de defesa, pode ocorrer a doença
ulcerosa péptica (DUP), caracterizada pelo aparecimento de úlceras gástricas ou duodenais, que causam dor epigástrica que,
tipicamente, é agravada pelos alimentos na úlcera gástrica e atenuada na duodenal. As etiologias mais comuns são a
colonização por Helicobacter pylori, que agride a mucosa, e o uso abusivo de anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), que
reduzem os mecanismos de defesa da mucosa. Estas úlceras podem tornar-se complicadas: causam hemorragia digestiva alta,
perfuração ou estenose (fibrose que pode ocluir o lúmen da víscera) e oclusão intestinal. Uma perfuração da parede posterior
do duodeno (D1/D2) pode causar erosão da A. gastroduodenal e levar a hemorragia digestiva alta maciça. O tratamento das
úlceras não-complicadas é médico, passando pelo uso de inibidores da bomba de protões (IBPs, como o omeprazol) e a
erradicação do H. pylori com antibióticos. Em caso de úlceras complicadas, há indicação para tratamento cirúrgico, em que se
pode remover o segmento afectado e/ou fazer uma vagotomia, ou seja, uma secção dos troncos vagais de forma a reduzir a
acção do S. N. Parassimpático na secreção de HCl (agressor) pela mucosa gástrica.
159
Jejuno-íleo (NETTER pp. 263, 272):
Introdução: limites localização, projecção parietal e dimensões
• Limite proximal: no ângulo de Treitz ou flexura duodeno-jejunal
• Limite distal: na válvula íleo-cecal
• Localizado na cavidade peritoneal, rodeado pela moldura cólica, projectando-se nas regiões peri-umbilical e
hipogástrica
o Jejuno projecta-se mais nos quadrantes súpero-esquerdos
o Íleo projecta-se mais nos quadrantes ínfero-direitos
• Dimensões: tubo músculo-membranoso de 5-8m constituído por várias ansas intestinais
o Jejuno tem 2.5-3m de comprimento, 4cm de diâmetro externo e 2.5cm de diâmetro luminal
▪ Mais curto e mais largo
o Íleo tem 3.5-4.5m de comprimento, 3.5cm de diâmetro externo 2cm de diâmetro luminal
▪ Mais comprido e mais estreito
Relações:
• Anteriormente: grande omento e parede abdominal anterior
• Posteriormente: raiz do mesentério e todas as estruturas que esta cobre:
o Vasos mesentéricos superiores, D3, rins, ureteres e vasos testiculares/ováricos, Aorta e VCI (ambas
indirectamente), V. ilíaca comum direita
• Superiormente: cólon e mesocólon transverso
• Inferiormente: bexiga, recto e útero (♀) (órgãos pélvicos)
• Lateralmente: cego e cólon ascendente à direita, cólon descendente e sigmóide à esquerda
Constituição anatómica
• Mucosa: semelhante à do restante intestino delgado, com a particularidade de as pregas circulares (valvas de
Kerckring) serem mais abundantes no jejuno e os nódulos linfáticos serem mais abundantes no íleo, formando
agregados denominados placas de Peyer (importantes para o sistema imunitário)
• Submucosa: tecido conjuntivo denso com vasos, linfáticos e plexo nervoso submucoso de Meissner
• Muscular própria: formada por camada circular (interna), camada longitudinal (externa) e plexo nervoso
mientérico de Auerbach entre elas
• Serosa: o peritoneu visceral reveste completamente o órgão, provém do mesentério (ver Meios de fixação)
Divertículo de Meckel
• Vestígio embrionário do ducto onfalo-mesentérico (intestino-vitelino), presente em 2-3% da população
• Localizado nos 100cm terminais do íleo, projectando-se do bordo anti-mesentérico do íleo terminal
• A sua mucosa pode ser ileal normal ou um coristoma (50%): mucosa gástrica, pancreática ou cólica
160
Nota clínica: A diverticulite de Meckel corresponde à inflamação do divertículo homónimo, mais comum antes dos 2 anos de
vida, 2x mais comum no sexo masculino, e pode complicar com ulceração, hemorragia, oclusão ou perfuração. O quadro clínico
é dominado por uma dor na fossa ilíaca direita (FID), com sinal de irritação peritoneal (sinal de Blumberg ou seja, exacerbação
da dor à retração do dedo que palpa a FID) acompanhada de febre e mal-estar. Este quadro clínico pode simular uma apendicite,
sendo um diagnóstico diferencial clássico da mesma, principalmente em crianças. O tratamento de eleição, tal como da
apendicite, é cirúrgico (diverticulectomia).
in Sobotta in Netter’s
Gastroenterology
Drenagem venosa (NETTER p. 290): as veias homónimas dos colaterais da A. mesentérica superior drenam
para V. mesentérica superior, que drena para V. porta na confluência espleno-mesentérica (união das veias
mesentérica superior e esplénica)
Drenagem linfática (NETTER p. 295): para gg. mesentéricos superiores (100-150 gânglios em redor da AMS e
dos seus ramos)
• Gg. periféricos ou justa-intestinais: junto à parede intestinal, agrupam-se segundo os colaterais da AMS em
gg. cólicos médios, cólicos direitos, ileo-cecais, pré e retro-cecais, apendiculares e jejuno-ileais
o Os jejuno-ileais são os relevantes na drenagem do jejuno-íleo
o Os gg. ileocólicos, pré e retro-cecais, apendiculares e jejuno-ileais são mesentéricos
o Os gg. cólicos médios, cólicos direitos são parte dos mesocólicos e drenam o cólon (adiante)
• Centrais: confluência da linfa dos gg. periféricos para os gânglios juntos à origem da AMS
161
Cólon (NETTER pp. 264-265 e 273-276): órgão tubular músculo-membranoso abdominal
Introdução: limites, localização, forma, porções, projecção e dimensões
• Limite proximal: é um fundo de saco que corresponde ao cego
• Limite distal: na transição do cólon sigmóide para o recto
• Forma de moldura incompleta (a moldura cólica), em torno do intestino delgado
• Dividido, de forma sequencial, em: cego, cólon ascendente, ângulo hepático, cólon transverso, ângulo
esplénico, cólon descendente e sigmóide
• Dimensões: 1.5-1.8m de comprimento, e o calibre reduz-se de 7cm até 3-5cm de proximal a terminal
in Sobotta in Gray
162
Constituição anatómica
• Mucosa (epitélio, lâmina própria, muscularis mucosae): ao contrário da mucosa jejuno-ileal, a mucosa cólica
é lisa, sem pregas circulares ou vilosidades, embora também apresenta glândulas intestinais (Lieberkühn)
• Submucosa: tecido conjuntivo denso rico em vasos, linfáticos e com plexo nervoso submucoso de Meissner
• Muscular própria: formada por camada circular (interna), camada longitudinal (externa) e plexo nervoso
mientérico de Auerbach entre elas
• Serosa: o mesocólon insere-se na ténia mesocólica e reveste circunferencialmente o cólon (ver cada porção)
o Apresenta apêndices epiplóicos, que são franjas de tecido adiposo dispersas ao longo da parede, mas
mais concentrados ao longo da ténia livre
Conformação interna: semelhante ao restante cólon, embora apresente dois orifícios especializados
• Orifício superior, na parede póstero-medial, corresponde à válvula íleo-cecal (esfinctérica), que apresenta no
cadáver lábios superior e inferior, e frénulos (pregas laterais formadas pela união dos lábios)
o Apesar de o lábio inferior ser o limite superior do cego, este orifício é classicamente descrito com o cego
por questões didáticas, uma vez que se chama íleo-cecal
• Orifício inferior, na parede ínfero-medial, 3cm inferiormente ao orifício superior, é a abertura do apêndice
163
Apêndice vermiforme
• Tubo com cerca de 6-9cm de comprimento, embora possa variar entre 2 e 20cm, e com 7-8mm de largura
• Habitualmente projecta-se ponto de McBurney, que corresponde à união do 1/3 lateral com os 2/3 mediais
da linha imaginária que une o umbigo à espinha ilíaca ântero-superior
• O topo cecal do apêndice encontra-se frequentemente um pouco inferior e medial ao ponto de McBurney, e
o seu extremo livre no ponto de Lanz, na união do 1/3 direito com os 2/3 esquerdos de uma linha que une as
duas espinhas ilíacas ântero-superiores
• Pode ter várias posições: retrocecal em 65%, descendente em 30%, pélvico, látero-cecal, etc.
o Na sua posição habitual, coloca-se no recesso retrocecal
o Quando é descendente assenta sobre a fáscia do M. ilíaco e vasos ilíacos externos, e relaciona-se com
a tuba uterina e ovário na mulher
• Relativamente fixo pelo mesoapêndice, onde corre a A. apendicular
Peritoneu ceco-apendicular
• O peritoneu visceral do íleo reflecte-se para o cego pelas suas faces anterior e posterior para o envolver, assim
como o apêndice (mesoapêndice), formando pregas mesentéricas e recessos
o Prega vascular do cego: formada pelo trajecto da A. cecal anterior
▪ Recesso íleo-cecal superior entre a prega e o bordo superior do íleo terminal
o Prega íleo-cecal (prega avascular de Treves): do bordo inferior do íleo terminal ao mesoapêndice
▪ Recesso íleo-cecal inferior entre a prega e o mesoapêndice
o Mesoapêndice: meso anexo ao apêndice, formado pelo trajecto da A. apendicular
• O peritoneu visceral torna-se peritoneu parietal ao reflectir-se para a parede abdominal posterior, podendo
formar pregas parieto-cecais e recessos, consoante o padrão de fixação do cego
o Pregas parieto-cecais: pregas formadas pelas reflexões do peritoneu visceral para parietal
▪ Podem não existir se houver um mesocólon ou se o cego for livre
o Recesso retrocecal: espaço atrás do cego, abaixo da sua fixação ao retroperitoneu
• A fixação do cego à parede abdominal posterior pode seguir três padrões fundamentais:
o Livre: o cego é completamente envolvido por peritoneu visceral, não estando fixo ao retroperitoneu
▪ É a forma mais móvel do cego, com maior propensão a formar um volvo (ver Sigmóide)
o Mesocólico: o cego é envolvido quase completamente pelo peritoneu visceral, que ao reflextir-se para
parietal forma um mesocólon cecal, que confere alguma mobilidade cego
o Fixo: o peritoneu visceral cobre o cego sua face anterior e reflecte-se para parietal, formando as
pregas parieto-cecais, que fixam o cego ao tecido retroperitoneal através da sua face posterior
Nota clínica: A apendicite aguda é a emergência cirúrgica abdominal mais comum. É mais comum em adolescentes e
adultos jovens, e corresponde à inflamação da parede do apêndice vermiforme, normalmente causada por uma
obstrução do seu lúmen por um fecalito (uma concreção de matéria fecal endurecida) que, ao comprimir a parede,
dificulta o retorno venoso, levando a estase sanguínea e edema da parede, o que potencia a resposta inflamatória e leva
a infecção. O quadro clínico mais frequente é o de anorexia (falta de apetite) e náusea a preceder uma dor abdominal
peri-umbilical de início gradual e intensidade crescente, que após algumas horas migra em direcção à fossa ilíaca direita
(atenção à posição variável do apêndice!). A inflamação peri-apendicular causa peritonite focal (irritação do peritoneu
parietal), traduzida clinicamente pelo sinal de Blumberg (ver acima, diverticulite de Meckel), e outros sinais como o do
psoas-ilíaco e o de Rovsing. A complicação mais preocupante da apendicite aguda é a perfuração, que pode causar uma
peritonite generalizada. O tratamento da apendicite aguda é iminentemente cirúrgico, procedendo-se à apendicectomia
imediata ou 4-6 semanas depois, se o quadro resolver com tratamento médico (antibioterapia).
164
A posição variável do apêndice,
in Gray
Cólon ascendente
Introdução: limites, localização, projecção e dimensões
• Limite proximal: no plano horizontal que passa lábio inferior da válvula íleo-cecal
• Limite distal: no ângulo hepático do cólon
• Trajecto póstero-superior de cerca de 15cm e projecta-se ao longo do flanco direito
• Tem uma posição mais anterior/superficial que o cólon descendente
Meios de fixação: normalmente está fixo à parede abdominal posterior pela reflexão do peritoneu visceral para
parietal, podendo formar pregas peritoneais, embora possa haver, infrequentemente, um mesocólon ascendente
Relações:
• Anteriormente: com ansas intestinais e/ou parede abdominal anterior, e com o grande omento
• Posteriormente: com M. transverso abdominal e quadrado lombar direitos, e o pólo inferior do rim direito,
diafragma, vasos subcostais, nervos ílio-hipogástrico, ílio-inguinal e cutâneo femoral lateral
• Lateralmente: separado do M. transverso abdominal pela goteira parieto-cólica direita
• Medialmente: com ansas intestinais, M. psoas major direito, ureter e vasos gonadais direitos e N. génito-
femoral direito
165
Ângulo hepático do cólon (NETTER pp. 266 e 271): transição de cólon ascendente para transverso
• Ângulo cólico agudo (pode ser recto) que se projecta no hipocôndrio direito
• É mais baixo (pensar no fígado!), anterior e menos agudo que o ângulo esplénico do cólon
Meios de fixação:
• O grande omento pode emitir uma extensão lateral para a parede abdominal lateral direita denominada
membrana de Jackson ou sustentaculum hepatis, embora não tenha nenhum papel de suporte do fígado
• Ligamentos frénico-cólico direito e reno-cólico (inconstantes): extensões laterais direitas do mesocólon que
fixam o ângulo ao retroperitoneu e que se relacionam (cobrem) com o diafragma e rim direito
• Ligamentos cisto-cólico e hepato-cólico (inconstantes): extensões laterais do pequeno omento que unem o
ângulo às suas relações anteriores com a face inferior do fígado e fundo da vesícula biliar
Relações:
• Anteriormente: face inferior do lobo direito do fígado (provoca a impressão cólica) e fundo da vesícula biliar
• Posteriormente: pólo inferior ou metade inferior do rim direito
• Lateralmente: separado do diafragma pela goteira parieto-cólica direita
• Medialmente: com D2
Cólon transverso (NETTER pp. 266 e 276): na região peri-umbilical ou epigástrica, de ângulo a ângulo
Introdução: limites, localização, projecção e dimensões
• Limite proximal: o ângulo hepático do cólon
• Limite distal: no ângulo esplénico do cólon
• Trajecto oblíquo póstero-súpero-esquerdo de aproximadamente 50cm
• Projecta-se desde um hipocôndrio ao outro, passando na região peri-umbilical ao descair
• Descreve concavidade póstero-superior, ao estar dependente do (“pendurado” pelo) mesocólon transverso
Meios de fixação:
• Ao grande omento uma vez que a lâmina posterior do seu folheto posterior é contínua com o mesocólon
transverso (ver Peritoneu)
• Mesocólon: duplo folheto de peritoneu parietal que fixa o cólon transverso à parede abdominal posterior
o Raiz: linha oblíqua para cima e para a esquerda, cobre o pólo inferior do rim direito, cobre D2, cabeça
e bordo inferior do corpo do pâncreas, e pólo inferior do rim esquerdo até ao diafragma
▪ Extremidade direita: de forma inconstante, pode alcançar o rim direito e diafragma,
denominando-se, nesta porção, lig. duodeno-cólico, lig. frénico-cólico direito e reno-cólico
▪ Extremidade esquerda: de forma mais constante, forma o lig. frénico-cólico esquerdo
(sustentaculum lienis) (NETTER pp. 266 e 268)
o Margem cólica: insere-se na ténia mesocólica
o A sua face superior olha para cima, forma o pavimento da bursa omental e continua-se ao nível da ténia
omental com o folheto posterior do grande omento (ver Peritoneu e NETTER p. 321)
o A sua face inferior está virada para as ansas intestinais e para o mesentério e continua-se ao nível da
ténia omental com o folheto anterior do grande omento (ver Peritoneu e NETTER p. 321)
o Apresenta na sua espessura a A. cólica média e seus ramos
o O mesocólon tem um comprimento variável, o que pode conferir ao cólon transverso disposições mais
altas ou baixas (pode alcançar o hipogastro), com formas em U, V, M, etc.
Relações:
• Anteriormente: parede abdominal anterior e grande omento
• Posteriormente: mesocólon transverso e as estruturas que a sua raiz cobre, assim como os vasos
mesentéricos superiores, D4, vasos subcostais, N. ílio-hipogástrico, ílio-inguinal e cutâneo femoral lateral
• Superiormente: face inferior do fígado, vesícula biliar, grande curvatura do estômago, face inferior do baço
• Inferiormente: ansas intestinais do jejuno-íleo
166
Nota clínica: A grande mobilidade do cólon transverso pode fazer com que este se interponha entre o fígado e o diafragma,
tratando-se de uma variante do normal frequentemente descoberta em radiografia abdominal, denominada sinal de Chilaiditi,
que apesar de ser muitas vezes assintomático, pode causar dor abdominal, volvo do transverso (torção do segmento; ver
Sigmóide) e dispneia (falta de ar), o que constitui a síndrome de Chilaiditi (leia-se quilaidíti). Este é um diagnóstico diferencial
de perfuração víscera oca, uma vez que ambos dão origem a uma imagem radiográfica sugestiva de pneumoperitoneu (o ar
livre na cavidade peritoneal tende a observar-se em radiografia do abdómen como uma calote gasosa sub-frénica, ou seja, uma
sombra de ar entre o fígado e a hemicúpula diafragmática direita.
Meios de fixação:
• Ligamento frénico-cólico esquerdo (ou sustentaculum lienis) que suporta o baço, é extremidade direita da
raiz do mesocólon
• Ligamento espleno-renal: é a continuação lateral do grande omento, entre os ligg. gastro-esplénico e gastro-
frénico, e forma a parede lateral da bursa omental
Relações:
• Anteriormente: grande curvatura do estômago
• Posteriormente: rim esquerdo, diafragma e cauda do pâncreas
• Superiormente: face inferior do baço, formando a impressão cólica
o Esta relação dá-se através do ligamento frénico-cólico esquerdo (sustentaculum lienis)
• Lateralmente: 10ª costela e goteira parieto-cólica esquerda
Meios de fixação: à semelhança do cólon ascendente, normalmente está fixo à parede abdominal posterior pela
reflexão do peritoneu visceral para parietal, podendo formar pregas peritoneais e/ou um mesocólon descendente,
mais frequente na sua porção inferior
167
Relações:
• Anteriormente: com ansas intestinais (mais profundo que o ascendente)
• Posteriormente: M. transverso abdominal e quadrado lombar, e o pólo inferior do rim esquerdo, diafragma,
vasos subcostais, nervos ílio-hipogástrico, ílio-inguinal e cutâneo femoral lateral
• Lateralmente: separado do M. transverso abdominal pela goteira parieto-cólica esquerda
• Medialmente: com ansas intestinais, M. psoas major, ureter e vasos gonadais esquerdos, e nervo génito-
femoral esquerdo
Cólon sigmóide (NETTER p. 265): da crista ilíaca até S3, projectando-se, na fossa ilíaca esq. e hipogastro
Introdução: limites, localização, projecção e dimensões
• Limite proximal: continuação do cólon descendente abaixo da crista ilíaca
• Limite distal: continua-se com o recto ao nível da face anterior de S3, na transição recto-sigmoideia
• Do ponto de vista prático e funcional, a transição de cólon descendente para sigmóide faz-se com o
aparecimento do mesocólon sigmóide, mais do que por um plano formal como o referido
• Trajecto, tamanho e posição variáveis (15-40cm), projectando-se normalmente na fossa ilíaca esquerda e
hipogastro, embora possa alcançar a região peri-umbilical e o flanco e fossa ilíaca direita
Relações:
• Anteriormente: com ansas intestinais na sua porção ilíaca e com a bexiga e útero na sua porção pélvica
• Posteriormente: com M. psoas-ilíaco, vasos ilíacos comuns e externos, ureter e vasos gonadais esquerdos na
sua porção ilíaca, e com o promontório e A. sagradas na sua porção pélvica
Nota clínica: Um volvo é uma torção de um segmento intestinal que se pode manifestar por oclusão intestinal, num quadro
clínico dominado por dor abdominal, náuseas, vómitos e distensão abdominal, que pode complicar com isquémia intestinal
e/ou perfuração cólica, que é mais comum acontecer no cego por ter maior calibre e ser um fundo de saco. O segmento mais
propenso a volvos é o sigmóide, por ser o mais móvel. O segundo segmento mais vezes envolvido é o cego, particularmente
se for livre. Raramente existem volvos do transverso. O tratamento do volvo não complicado, na sua localização habitual, é a
distorção e descompressão endoscópica, estando as atitudes cirúrgicas reservadas para volvos complicados, recorrências ou
não-sigmóides.
in Netter’s
Gastroenterology
168
Nota clínica: A doença diverticular do cólon é outra patologia que envolve preferencialmente o cólon sigmóide, e que tem
uma prevalência elevadíssima no mundo ocidental. Nesta formam-se vários divertículos (pseudo) na parede do cólon esquerdo
devido a factores dietéticos (falta de fibras na dieta), etários e outros ainda por identificar. Os divertículos podem complicar
com sangramento (hemorragia digestiva baixa) e inflamação, constituindo esta última a situação de diverticulite cólica, que
pode ter vários graus de gravidade, importantes para orientar a terapêutica, que pode ir de conservadora (hidratação,
antibióticos), drenagem de abcessos, até cirúrgica agressiva (remoção do segmento afectado).
Gastroenterology
in Netter’s
169
Vascularização arterial (NETTER pp. 273 e 288)
• O cego, cólon ascendente e 2/3 proximais do cólon transverso (pode ir até ao ângulo esplénico) são nutridos
pela A. mesentérica superior, através seus colaterais cólicos, que são retroperitoneais, excepto a cólica media,
que corre no mesocólon transverso:
o A. íleocólica: bifurca-se em ramo ileal e cólico
▪ Ramo ileal: dá origem às artérias apendicular, cecais anterior e posterior e, ao anastomosar-se
com a última A. ileal, forma o arco ileocólico, o ramo terminal da AMS
▪ Ramo cólico: para o cólon ascendente
o A. cólica direita: para o cólon ascendente
o A. cólica média: divide-se em ramo direito e esquerdo para o cólon transverso
• O 1/3 distal do cólon transverso, o cólon descendente e sigmóide são nutridos pela A. mesentérica inferior
através dos seus colaterais cólicos, que são retroperitoneais, excepto as A. sigmoideias, que correm no
mesocólon sigmóide:
o A. cólica esquerda: divide-se em ramos ascendente e descendente para o cólon descendente
o A. sigmoideias: entre 2 a 5 ramos que percorrem o mesosigmóide
• As artérias ileocólica, cólica direita, cólica média e cólica esquerda formam arcadas justa-intestinais que, ao
anastomosarem-se continuamente lado a lado, formam a A. marginal (Drummond), de onde partem as
artérias rectas para a parede intestinal, ao longo do bordo mesocólico
o As A. sigmoideias não formam uma A. marginal bem definida
Nota clínica: A fronteira anastomótica entre os territórios das AMS e a AMI localiza-se próxima do ângulo esplénico do cólon,
sendo formada pelo ramo esquerdo do A. cólica média e ramo ascendente da cólica esquerda, denominando-se de anel de
Cannon-Böhm (é, também, a região da e final da inervação do nervo vago ao tubo digestivo) sendo o local mais propenso a
isquémia intestinal em situações de hipotensão e hipoperfusão visceral. Por vezes, a cólica média e a cólica esquerda têm
uma anastomose mais proximal, perto da raiz do mesentério, entre dois ramos destas artérias que formam o arco de Riolan.
Esta infrequente anastomose protege contra a isquémia intestinal (situação mais comum em idosos) dos territórios das
artérias que lhe dão origem, uma vez que caso um destas fique ocluída (por trombose ou aterosclerose) ou estenosada
(“apertada”), a outra compensa via esta anastomose.
Anel de Cannon-Böhm
in Sabiston
170
Drenagem venosa (NETTER p. 291): converge para a V. porta
• As veias homónimas dos colaterais da A. mesentérica superior drenam para V. mesentérica superior, que
drena para V. porta na confluência espleno-mesentérica (união da VMS com a V. esplénica)
• As veias homónimas dos colaterais da A. mesentérica inferior drenam para a V. mesentérica inferior, que
drena para a V. esplénica antes desta atingir a confluência espleno-mesentérica
Drenagem linfática (NETTER p. 296): converge para gg. mesentéricos superiores e inferiores
• Gg. mesentéricos superiores (centrais), que drenam a linfa de:
o Gg. ileocólicos (intermédios), drenam gg. pré e retro-cecais, apendiculares (paracólicos)
o Gg. cólicos direitos (intermédios): drenam os gg. paracólicos no cólon ascendente
o Gg. cólicos médios (intermédios): drenam os gg. paracólicos no cólon transverso
• Gg. mesentéricos inferiores (centrais), que drenam a linfa de:
o Gg. cólicos esquerdos (intermédios): drenam os gg. paracólicos no cólon descendente
o Gg. sigmoideus (intermédios): drenam os gg. paracólicos no cólon sigmóide
o Gg. rectais superiores: drenam a porção superior do recto
Inervação (NETTER pp. 302 e 303):
• Cego, cólon ascendente e 2/3 proximais do cólon transverso
o S. N. Simpático: N. grande e pequeno esplâncnicos (T5-T11) via plexo mesentérico superior
o S. N. Parassimpático: fibras dos N. vagos via plexo mesentérico superior
• 1/3 distal do cólon transverso, cólon descendente e sigmóide
o S. N. Simpático: pelos N. esplâncnicos lombares (L1-L2) via plexos mesentérico inferior e
intermesentérico e N. esplâncnicos sagrados via plexos hipogástricos superior e inferior
o S. N. Parassimpático: N. esplâncnicos pélvicos (S2-S4) via plexos hipogástricos superior e inferior
• A região de transição da inervação parassimpática corresponde ao anel de Cannon-Böhm
Recto (NETTER pp. 276, 369 e 370): órgão tubular/ampular músculo-membranoso pélvico
(tubo músculo-membranoso, mediano, dilatado, com 12-15cm de comprimento, localizado na escavação pélvica)
Relações: através do peritoneu visceral nos 2/3 superiores e através do mesorrecto no 1/3 inferior
• Anteriormente, 2/3 superiores: ansas intestinais, bexiga e ureter no homem (através do fundo de saco recto-
vesical), e com o fórnix da vagina, o colo e corpo uterinos na mulher (através do fundo de saco recto-vaginal)
• Anteriormente, 1/3 inferior: através da fáscia recto-vesical/recto-prostática com a bexiga, próstata, vesículas
seminais e ductos deferentes no homem, e através da fáscia recto-vaginal com a vagina na mulher
• Posteriormente: com o sacro, cóccix, M. piriformes e ísquio-coccígeos, A. sagradas e cadeia simpática
• Lateralmente: com as ansas intestinais, vasos ilíacos internos, troncos lombo-sagrados e plexos sagrados
o Na mulher, com os ovários e tubas uterinas
Nota clínica: As relações anteriores do recto com a próstata, útero e fundo de saco de Douglas (recto-vesical ou recto-vaginal)
permitem palpar estas estruturas através do toque rectal e auxiliar a detecção de, nomeadamente, hipertrofia ou tumores
prostáticos, anormalidades ginecológicas (massas, fibrose, etc.), e metástases peritoneais de carcinoma gástrico que “caem” e
alojam-se no ponto mais baixo da cavidade peritoneal, o fundo de saco de Douglas, constituindo este sinal a massa de Blumer,
um sinal clássico mas raro de carcinoma gástrico avançado. Além disso, o toque rectal permite detectar e caracterizar anomalias
da própria parede rectal, como pólipos, tumores, fístulas, e a presença de sangue nas fezes, constituindo um exame valioso no
diagnóstico precoce de carcinoma colo-rectal.
• Anteriormente, a fáscia própria do recto ou fáscia mesorrectal funde-se com a fáscia peritóneo-perineal,
desde o fundo de saco de Douglas até ao corpo perineal, tomando nomes diferentes nos dois sexos:
o No homem: septo ou fáscia recto-prostática de Denonvilliers, separa recto da bexiga e próstata,
vesículas seminais e ductos deferentes
o Na mulher: septo ou fáscia recto-vaginal, separa o recto da vagina e do cérvix uterino
• Lateralmente, a fáscia própria do recto ou mesorrectal relaciona-se com fáscias musculares e com as “fáscias”
hipogástricas
o As fáscias musculares dos M. piriforme, elevador do ânus e obturador interno, também dependências
da fáscia endopélvica, estão separadas da fáscia própria do recto pelo espaço para-rectal, contínuo com
o espaço pré-sagrado e limitado pelos ligamentos laterais do recto
o As “fáscias” hipogástricas ou ligamentos laterais do recto são condensações de fáscia endopélvica em
torno dos vasos rectais médios e nervos hipogástricos que reforçam lateralmente a fáscia própria do
recto e limitam o espaço pré-sagrado/para-rectal
Nota clínica: As serosas das vísceras digestivas – o peritoneu visceral – são barreiras fundamentais à progressão de
tumores das mesmas e, por serem um limite bem definido, fazem parte dos sistemas internacionais de estadiamento de
carcinomas digestivos. No entanto, a porção subperitoneal do recto não tem uma serosa, pelo que o conhecimento preciso
do mesorrecto e fáscias peri-rectais é fundamental na abordagem diagnóstica, estadiamento e tratamento cirúrgico do
carcinoma do recto, e evoluiu muito nas últimas décadas graças ao contributo decisivo da ressonância magnética, que
estuda com grande detalhe estas estruturas.
173
Fáscias hipogástricas
ou lig. laterais do recto
174
in Gray
Espaço pré-sagrado ou
retro-rectal
de Waldayer
in Sabiston
175
Canal anal (NETTER p. 371-373): canal muscular pélvico-perineal
Introdução: limites, localização, meios de fixação e dimensões
• Limite proximal: a linha ano-rectal, que une o bordo superior das colunas anais de Morgagni e determina o
canal anal cirúrgico, sendo que o canal anatómico apenas começa na linha pectínea ou dentada
• Limite distal: a margem anal
• Situado no períneo posterior, 2-3cm anteriormente ao cóccix
• Meios de fixação: fixo por tecido conjuntivo ao corpo perineal e fixo pelo M. elevador do ânus (Anatomia II)
• Dimensões: cerca de 4-5cm de comprimento
Relações
• Rodeado completamente pelos esfíncteres anais externo e interno, e pelo M. elevador do ânus (pars
puboanalis/puborectalis), em forma de ferradura aberta anteriormente
• Anteriormente: com corpo perineal, vagina (M), próstata, bulbo do pénis e M. bulbo-esponjoso (H)
• Posteriormente: com o ligamento ano-coccígeo
• Lateralmente: com o conteúdo adiposo da fossa ísquio-anal, um espaço triangular à secção coronal que tem
os seguintes limites:
o Superiormente: fáscia do M. elevador do ânus
o Anteriormente: recessos anteriores no períneo anterior que ultrapassam a linha bi-isquiática
o Medialmente: M. esfíncter externo do ânus
o Lateralmente: tuberosidade isquiática e fáscia do M. obturador interno, incluindo o canal pudendo (de
Alcock), que transmite os vasos pudendos internos e o nervo pudendo
o Posteriormente: ultrapassa o bordo inferior dos M. grandes glúteos pelos recessos posteriores
Conformação interna
• Linha ano-rectal: limite superior, imaginário, que passa no bordo superior das colunas anais de Morgagni
• Colunas anais de Morgagni: 6 a 10 pregas mucosas longitudinais “almofadadas” pelos plexos hemorroidários
internos
• Seios anais: espaços entre colunas anais, limitados anteriormente por valvas, e que se prolongam
inferiormente por criptas, nas quais abrem os canais excretores de glândulas anais
o As criptas anais são sede frequente de abcessos peri-anais (ver nota clínica pág. 179)
• Linha ano-cutânea ou linha branca de Hilton ou sulco inter-esfincteriano
o Marca separação interna entre o M. esfíncter interno e a porção subcutânea do M. esfíncter externo
• Plexos hemorroidários internos: está na submucosa e provoca dilatações longitudinais (habitualmente 3), as
hemorróidas (formações fisiológicas), que contribuem para a continência, “almofadando” as colunas anais
o Estão bem desenvolvidos na colunas anais que se encontram às 3, 7 e 11h, em posição supina
Constituição anatómica
• Mucosa (epitélio, lâmina própria e muscularis mucosae):
o Entre a linha ano-rectal e a linha pectínea, a mucosa é revestida por epitélio cilíndrico simples, ou seja,
a mucosa é do tipo intestinal
o Entre a linha pectínea e a linha ano-cutânea há epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado,
ou seja, é uma zona de transição, denominada pecten, sem pêlos ou glândulas
o Distalmente à linha ano-cutânea o epitélio é pavimentoso estratificado queratinizado, ou seja, do tipo
cutâneo, continuando-se com a pele ao nível da margem anal
• Submucosa: contém o plexo hemorroidário interno (ou plexo venoso rectal interno)
o A derme, profundamente à porção cutânea do canal anal, contém o plexo hemorroidário externo
176
• Muscular própria: descrita de dentro para fora
o M. esfíncter interno do ânus: continuação e espessamento da camada muscular circular do recto
▪ Composto por músculo liso, involuntário
o Camada longitudinal conjunta: união da camada muscular longitudinal do recto com fibras do M.
elevador do ânus, na sua porção pubo-anal, que é a porção mais interna do pubo-rectal
▪ Composto por músculo liso involuntário do recto, e por músculo estriado esquelético voluntário
do M. elevador do ânus
▪ Fibras internas: atravessam M. esfíncter anal interno e formam a muscularis mucosae do canal
anal, também denominada de M. submucoso anal
• Estas são as fibras principais que impedem o prolapso anal
▪ Fibras intermédias: situadas entre os esfíncteres interno e externo, inserem-se derme da linha
ano-cutânea provocando o sulco inter-esfincteriano
▪ Fibras externas: atravessam a porção subcutânea do M. esfíncter externo do ânus
• Formam o M. corrugador cutâneo anal, responsável pelas pregas radiadas do ânus
• Formam septo fibroso transverso da fossa ísquio-anal, que separa as porções superficial e
subcutânea do M. esfíncter externo do ânus
o M. esfíncter externo do ânus: composto por músculo estriado, voluntário, dividido em 3 porções
▪ Porção profunda: contínua com a porção pubo-rectal do M. elevador do ânus
▪ Porção superficial: relaciona-se internamente com a camada longitudinal conjunta e esfíncter
interno, separada da porção subcutânea pelo septo fibroso transverso
▪ Porção subcutânea: inferiormente septo fibroso transverso da camada longitudinal conjunta
177
Inervação do recto e canal anal (NETTER pp. 302-303 e 388):
• Recto: apenas possui inervação autónoma
o S. N. Simpático: pelos N. esplâncnicos lombares (L1-L2) via plexos mesentérico inferior e
intermesentérico e N. esplâncnicos sagrados via plexos hipogástricos superior e inferior
o S. N. Parassimpático: N. esplâncnicos pélvicos (S2-S4, nervi erigentes) via plexos hipogástricos superior
e inferior
• Canal anal: possui inervação autónoma e somática
o S. N. Simpático: N. esplâncnicos sagrados via plexos hipogástricos inferiores
o S. N. Parassimpático: N. esplâncnicos pélvicos (S2-S4, nervi erigentes) via plexos hipogástricos inferiores
S. N. Somática: ramos rectais do N. pudendo interno (fibras sensitivas e mo
Nota clínica: A doença hemorroidária corresponde à dilatação patológica e excessiva dos plexos hemorroidários internos ou
externos (há hemorróidas externas e internas). Esta dilatação anormal pode estar acompanhada de desconforto anal, prurido,
pequenas hemorragias (pinga na sanita ou vem no papel) e, caso ocorra trombose, pode causar dor anal. Os factores que
predispõem para esta doença são o sedentarismo, a obesidade e uma dieta pobre em fibras que, indirectamente, leva a
obstipação mais frequente, o que por sua vez aumenta o esforço defecatório, aumentando a pressão venosa destes plexos ao
dificultar a drenagem venosa. Alimentos picantes ou irritativos para a mucosa ano-rectal provocam vasodilatação, o que
também agrava o quadro. O tratamento é conservador na maioria dos casos, embora possa passar pela excisão cirúrgica ou
laqueação elástica.
in Netter’s
Gastroenterology
178
Nota clínica: quando as criptas anais ficam obstruídas por detritos fecais, como estas são a abertura das glândulas anais e a
produção destas continua, ocorre um aumento de pressão nessa zona, com estase sanguínea e inflamação dos tecidos o que
predispõe à infecção e consequente formação de um abcesso peri-anal, uma situação extremamente frequente na nossa
população. Quando se forma um abcesso peri-anal o doente habitualmente queixa-se de dor e, por vezes, de uma tumoração
palpável na região peri-anal ou nadegueira. Os abcessos podem formar-se em vários locais da região peri-anal, consoante o
trajecto que o processo inflamatório-infeccioso inicial tome. Estes eventos agudos culminam com a drenagem espontânea
do abcesso para o canal anal ou mesmo para a pele do períneo, e esse trajecto de drenagem corresponde a uma fístula.
Estas fístulas são, por vezes, a sede da única queixa do doente que chega à urgência, que diz ter alguma comichão e estar a
sair pus pela região do ânus. Uma fístula peri-anal significa, habitualmente, que há um abcesso por perto. O tratamento de
um abcesso, na fase aguda, passa pela sua drenagem e por antibioterapia. Já para as fístulas há um arsenal de técnicas
cirúrgicas cuja aplicação depende largamente do tipo de fístula, do seu comprimento, das estruturas que atravessa e da sua
distância à pele.
179
Órgãos anexos ao tubo digestivo
Fígado (NETTER pp. 277-279): órgão ímpar, maciço, com múltiplas funções metabólicas e excretoras
Introdução: localização, projecção parietal, forma, dimensões, peso, cor e consistência
• Localização e projecção: no hipocôndrio direito (entre a 5ª e 10ª costelas), epigastro (entre a 6ª e 8ª costelas)
e, ocasionalmente, alcança o hipocôndrio esquerdo
o Palpável abaixo do rebordo costal direito após inspiração e palpação profunda
• Forma: ovóide, comparável a metade de uma bola de rugby, com eixo maior súpero-esquerdo
• Dimensões: diâmetro transversal de 28cm, ântero-posterior de 10-16cm e vertical de 8cm
o O diâmetro vertical é usado para avaliar hepatomegália através da percussão ao longo da grelha costal
• Peso de 2.5Kg no vivo e 1.5Kg no cadáver
• Cor: vermelho-escura ou acastanhada, podendo ser amarelada em caso de esteatose (o fígado gordo)
• Consistência: firme mas elástica
Constituição anatómica
• Parênquima (funcional): os hepatócitos, na perspectiva anatómica estão organizados em cordões ou lamelas
que formam lóbulos hexagonais com uma veia central, que drena os sinusóides entre os cordões
o As perspectivas funcionais organizam o parênquima de forma diferente, em lóbulos portais e ácinos
• Estroma (estrutura e suporte): composto por septos interlobulares, espaços porta e cápsula hepática
o Septos interlobulares: tecido conjuntivo fino e rico em reticulina
o Espaços porta: nos vértices de cada lóbulo hepático (hexágono), apresenta a tríade portal, formada por
um ramo da V. porta, um da A. hepática e um ramo do canal biliar
o A cápsula hepática de Glisson é uma camada de tecido conjuntivo denso e rico em fibras elásticas que
envolve todo o parênquima hepático
• Serosa: o peritoneu visceral reveste o fígado (externamente à cápsula hepática) excepto na fossa cística, na
área nua e no hilo hepático, como se verá adiante
Nota clínica: A cirrose hepática define-se como um processo difuso de fibrose generalizada que leva à substituição gradual do
parênquima hepático por nódulos, alterando a normal arquitectura hepática. As causas mais comuns são o etilismo (consumo
excessivo e prolongado de álcool) e as hepatites crónicas (hepatites B e C), embora qualquer inflamação crónica do fígado possa
levar a cirrose. Esta conduz a hipertensão portal por dificuldade na drenagem venosa do fígado, o que provoca o aumento das
anastomoses porto-cávicas abordadas no capítulo das Veias. A consequência com mortalidade importante mais comum da
hipertensão portal é a rotura de varizes esofágicas. Além disso, a insuficiência hepática resultante da destruição gradual de
hepatócitos leva a ascite (por decréscimo na produção de albumina, responsável pela manutenção da pressão oncótica
intravascular), a distúrbios da coagulação (a maioria dos factores de coagulação têm produção hepática), icterícia (por redução
da metabolização da bilirrubina), encefalopatia (por acumulação de tóxicos metabólicos que não são neutralizados) e outros
distúrbios metabólicos e hormonais dependentes da normal função hepática. A cirrose hepática é, também, o maior factor de
risco para o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.
180
Conformação externa e relações (3 faces e 3 bordos e 4 lobos anatómicos)
• Existem duas grandes formas de definir as faces e bordos hepáticos:
o A nomina anatómica define duas faces fundamentais, consoante as suas relações: a face diafragmática
e a face visceral, separadas por um bordo inferior
o No entanto, para efeitos descritivos, é útil dividir a face diafragmática em faces ou porções anterior,
superior, direita e posterior, enquanto a face visceral serve de face inferior
▪ As faces anterior, superior e direita são contínuas e descritas conjuntamente
▪ A face posterior separa-se da superior e da inferior pelos bordos póstero-superior e póstero-
inferior, respectivamente, e é descrita separadamente por ter características distintas
• Face posterior
o É côncava posteriormente por estar coaptada à coluna vertebral (projecta-se a nível de T9-T11)
o Apresenta a área nua, não recoberta por peritoneu, delimitada pelo ligamento coronário (adiante),
preenchida por um tecido conjuntivo que a une ao diafragma, denominado ligamento hepato-frénico
o Apresenta dois sulcos verticais, um direito e um esquerdo:
▪ Sulco da V. cava inferior, à direita, cujas paredes são atravessadas pelas V. hepáticas (que drenam
na VCI), e cujos bordos podem “abraçar” a VCI e unir-se posteriormente a esta através do
ligamento da VCI
▪ O sulco esquerdo é a porção posterior da fissura do ligamento venoso
• O ligamento venoso corresponde à obliteração do canal venoso de Arantius, uma
comunicação fetal entre a V. umbilical e a V. cava inferior
▪ Entre os dois sulcos está o lobo caudado de Spiegel (adiante)
o Relações posteriores, além das já discutidas, com a coluna vertebral e VCI:
▪ À direita do sulco da VCI, com a gl. suprarrenal e rim direitos, ao qual se une por:
• Lig. hepato-renal: corresponde ao lig. triangular direito, que é uma porção da linha de
reflexão peritoneal (adiante)
▪ A reflexão do peritoneu ao longo da relação com o rim forma recesso hepato-renal de Morrison,
importante por ser um espaço dependente, onde se pode acumular líquido, cuja visualização
ecográfica é fundamental em caso de derrames peritoneais
▪ Através do lobo caudado com o pilar direito do diafragma, Aorta e plexo celíaco, e com o recesso
superior da bursa omental
▪ À esquerda da fissura do lig. venoso com a porção abdominal do esófago e com a face anterior
do fundo do estômago
181
• Face inferior: corresponde, na nomina anatómica, à face visceral
o Apresenta 3 sulcos em forma de H, que fazem a divisão anatómica mas não funcional dos lobos direito,
esquerdo, caudado e quadrado
▪ O sulco transversal é o hilo hepático (ou porta hepática), que contém o pedículo hepático
• Canal hepático comum (à direita), A. hepática (à esquerda) e V. porta (atrás)
▪ O sulco longitudinal direito é formado, anteriormente, pela fossa cística, e posteriormente pelo
sulco da VCI, contínuo com o da face posterior
• A fossa cística não está coberta por peritoneu e acomoda a vesícula biliar, inicia-se no
bordo inferior (incisura cística) e termina no extremo direito do hilo hepático
• Entre porções anterior e posterior do sulco longitudinal direito, está o processo caudado
do lobo caudado de Spiegel
▪ O sulco longitudinal esquerdo é formado, anteriormente, pela fissura do ligamento redondo do
fígado (ou teres), e posteriormente pela fissura do ligamento venoso
▪ À direita do sulco longitudinal direito está o lobo direito
▪ À esquerda do sulco longitudinal esquerdo está o lobo esquerdo
▪ Entre os sulcos longitudinais estão o lobo caudado e quadrado
• Bordo inferior
o Une as faces diafragmática e visceral, estendendo-se da extremidade esquerda à direita
o Apresenta a incisura cística, provocada pelo fundo da vesícula biliar, e a incisura do lig. redondo
o Em palpação profunda é possível tocá-lo no ângulo infra-esternal, ao longo do rebordo costal direito
• Lobos: os visíveis são apenas anatómicos, não respeitando a divisão funcional do fígado (descrita adiante):
o Lobo direito: à direita do sulco longitudinal direito da face inferior e do lig. falciforme da face
diafragmática, apresenta relações que lhe provocam impressões inferiormente:
▪ Impressão cólica, mais anterior, formada pelo ângulo hepático do cólon
▪ Impressão renal, posteriormente à cólica
▪ Impressão duodenal, medialmente à renal, provocada por D2
▪ O peritoneu visceral, ao reflectir-se para as relações referidas, forma os ligamentos hepato-
suprarrenal, hepato-renal e hepato-cólico
o Lobo esquerdo: à esquerda do sulco long. esquerdo da face inferior e do lig. falciforme da face diaf.
▪ Apresenta impressões esofágica e gástrica e pode-se alcançar o baço
▪ Apresenta saliência, a tuberosidade omental, medialmente ao hilo hepático
o Lobo quadrado: anteriormente ao hilo hepático, entre sulcos longitudinais direito e esquerdo
▪ Assenta sobre o piloro e duodeno (D1)
▪ Funcionalmente, faz parte do lobo esquerdo
o Lobo caudado: posteriormente ao hilo hepático, entre sulcos longitudinais direito e esquerdo
▪ Relaciona-se com o recesso superior da bursa omental
▪ Apresenta processo caudado (ântero-direito) e processo papilar (ântero-esquerdo)
▪ O processo caudado corresponde ao limite superior do foramen omental de Winslow
▪ É funcionalmente separado dos restantes lobos por razões vasculares (adiante)
182
183
in Gray
Meios de fixação: não impedindo a mobilidade fisiológica durante a ventilação
• Ligamento falciforme: o peritoneu parietal fixa o fígado à parede abdominal anterior e ao diafragma
Dependências peritoneais (NETTER pp. 268-269, 277)
• Veias hepáticas fixam-no à V. cava inferior, sendo o meio de fixação mais importante
• Ligamento redondo: cordão fibroso que corresponde à obliteração da V. umbilical fetal, está fixo no recessus
umbilicalis do ramo esquerdo da veia porta, na espessura da fissura do lig. redondo, até ao umbigo
• Ligamento hepato-frénico: tecido conjuntivo que fixa a área nua ao diafragma
• Suporte do rim direito e ângulo hepático do cólon
• Pressão abdominal
in Netter, 5E 184
A. hepática própria (NETTER pp. 283-284):
• Origem: terminal da A. hepática comum (em 3-4% dos casos é colateral da A. mesentérica superior)
• Trajecto: ascende verticalmente no lig. hepato-duodenal, é anterior à V. porta e medial ao canal hepático
comum, e bifurca-se em hepática direita e hepática esquerda
• A. hepática direita (em 10-15% dos casos é colateral da A. mesentérica superior):
o Torna-se posterior ao canal biliar comum e acompanha o ramo direito da V. porta
o Terminais: ramo anterior para segmentos V e VIII e ramo posterior para segmentos VI e VII
o Colateral: A. cística
• A. hepática esquerda: acompanha o ramo esquerdo da V. porta
o Em 15-25% dos casos é colateral da gástrica esquerda ou esta emite uma hepática esquerda acessória
• Colaterais: a A. supraduodenal e a gástrica direita
Veia porta (NETTER pp. 289-292): leva ao fígado todo o sangue das vísceras digestivas para funções metabólicas,
e é o principal meio de vascularização do fígado, responsável por 75-80% do seu aporte sanguíneo
185
Afluentes:
• V. gástricas esquerda e direita e gastro-epiplóica direita
• V. paraumbilicais e V. pré-pilórica (inconstantes)
Nota clínica: A síndrome de Budd-Chiari corresponde a uma obstrução das V. hepáticas (++ por trombose destas veias,
embora haja causa não-trombóticas) poupando V. hepáticas menores, mantendo a viabilidade do segmento I e causando a
sua hipertrofia compensatória. O quadro clínico é de hepatomegália (por hipertensão portal), ascite e dor abdominal.
V. da fissura umbilical
187
in Netter, 5E
188
Drenagem linfática (NETTER pp. 293-294):
• Rede linfática superficial: vasos sub-serosos
o Face posterior do lobo direito e lobo caudado: para gg. pré e látero-cávicos
o Face anterior e inferior: gg. do hilo hepático
o Face superior à direita: acompanham A. frénica inferior para gg. frénicos inferiores e celíacos
o Face posterior do lobo esquerdo: para gg. para-cárdicos, gástricos esquerdos e celíacos
o Linfa circa-ligamento teres: para gg. peri-umbilicais, depois para axilares ou inguinais
• Rede linfática profunda: vasos acompanham veias hepáticas até VCI para gg. frénicos superiores, ou
acompanham ramos da V. porta para gg. hepáticos
Vias biliares (NETTER pp. 279-281): canais excretores que drenam a bílis produzida no fígado para duodeno
• Vias intra-hepáticas (NETTER p. 279): canalículos biliares que acompanham os ramos da V. porta, drenam a
bílis no sentido oposto, convergindo em direcção ao hilo hepático para as vias extra-hepáticas
• Vias extra-hepáticas, divididas em acessória e principal
o Constituição anatómica: mucosa, camada fibromuscular e serosa (excepto na face superior da vesícula
biliar, que ocupa a fossa cística
• Terminação: ao unir-se com o canal cístico para formar o canal biliar principal ou colédoco
• Relações:
o Anteriormente: face inferior do fígado, mais especificamente o lobo quadrado
o Posteriormente: V. porta, A. hepática direita e foramen omental de Winslow
o Lateralmente: canal cístico e gânglio linfático de Lund
o Medialmente: A. hepática esquerda e hepática própria
189
Relações do colédoco: são importantíssimas do ponto de vista cirúrgico
• Supraduodenal (na espessura do lig. hepato-duodenal):
o Anteriormente: face inferior do fígado
o Posteriormente: V. porta e foramen omental de Winslow
o Medialmente: A. hepática própria, gástrica direita, gastroduodenal e supraduodenal
• Retroduodenal:
o Anteriormente: face posterior de D1 e A. pancreático-duodenal posterior superior
o Posteriormente: origem da V. porta, bursa omental e V. cava inferior
o Medialmente: A. gastroduodenal
• Retropancreática:
o Anteriormente: cabeça do pâncreas
o Posteriormente: V. cava inferior
o Lateralmente: arcada pancreático-duodenal posterior
o Medialmente: vasos mesentéricos superiores
• Intraduodenal: na espessura da parede medial de D2
o Posição variável relativamente ao canal pancreático principal (Wirsung), podendo os dois canais unir-se
prematuramente ou terminar isolados na papilar major de D2
o Ampola de Vater pode ser pequena, grande, ou não existir, terminando os dois canais isolados
o O esfíncter de Oddi é um músculo anular com duas porções: uma superior, que envolve a a terminação
do colédoco, e uma inferior, que envolve a terminação do Wirsung
190
Nota clínica: A bílis é uma mistura de sais biliares, colesterol, lecitina, bilirrubina e água. Quando o colesterol na mistura
excede a sua solubilidade, precipita em cristais que, ao agregarem, formam cálculos biliares. Normalmente, isto não causa
sintomas pela dimensão reduzida dos cálculos mas estes podem “encravar” em diversos pontos da árvore biliar. Ao
“encravarem” temporariamente no canal cístico ou no colédoco causam as cólicas biliares, caracterizadas por dor constante
no hipocôndrio direito de curta duração. O fim da cólica resulta da passagem natural do cálculo. Quando um cálculo “encrava”
no cístico de forma prolongada provoca a inflamação da parede da vesícula biliar, levando a colecistite aguda, em que a dor
dura mais que 6h, é intensa, pode ser acompanhada de febre e é possível elicitar o sinal de Murphy: ao palpar abaixo do
rebordo costal na linha médio-axilar, o doente pára abruptamente de inspirar por uma agravamento agudo da dor, causada
pela colisão do fundo da vesícula biliar com os dedos do examinador. O tratamento de eleição para a colecistite aguda é a
colecistectomia (++ por laparoscopia). Se não tratada adequadamente podem seurgir complicações graves, como a rotura da
vesícula biliar e consequente peritonite, ou a formação de uma fístula bilio-entérica, uma comunicação anormal entre a
vesícula biliar e o intestino (++ o duodeno), com atenuação dos sintomas de colecistite mas com a passagem de cálculos para
o duodeno que, caso sejam grandes o suficiente, podem encravar no duodeno e gerar uma oclusão intestinal alta (síndrome
de Bouveret), ou podem encravar na válvula ileocecal e originar um ileus biliar clássico, uma oclusão intestinal baixa.
in Netter’s
Gastroenterology
Quando um cálculo biliar “encrava” de forma prolongada no colédoco, pode dar origem a uma colangite aguda que, por se
tratar da via biliar principal, é mais grave e potencialmente mortal. O cálculo encravado no colédoco aumenta a pressão
dentro deste, com edema das paredes, inflamação e infecção, comprometendo ainda a drenagem de bílis. O doente apresenta
dor no hipocôndrio direito sem sinal de Murphy (porque não é a vesícula que está inflamada, normalmente acompanhada
de febre e icterícia (porque não há drenagem de bílis). A presença de dor no hipocôndrio direito, febre e icterícia foi
denominada a tríade de Charcot, típica de colangite aguda. O tratamento de eleição consiste na descompressão e drenagem
endoscópica: introduz-se um endoscópio até D2 que canaliza a papila major e ampola de Vater, faz uma esfincterectomia
(secciona o esfíncter de Oddi), permitindo a remoção de cálculos presentes no colédoco e a sua descompressão.
191
Vascularização arterial: A. cística, colateral da A. hepática direita, embora tenha origem muito variável
Drenagem venosa: Veias císticas, muito pequenas, drenam na V. porta
Drenagem linfática:
• Gg. hepáticos: incluem gg. cístico de Lund e gg. do foramen omental de Winslow)
• Gg. pancreático-duodenais
Triângulo hepato-cístico ou de Calot: visível quando se levanta o fígado para observar as vias biliares
• Limite superior: face inferior do fígado, mais especificamente do segmento V
• Limite lateral ou direito: canal cístico
• Limite medial ou esquerdo: canal hepático comum
• Relação posterior: com a V. porta
• Conteúdo: A. cística (colateral da A. hepática direita), cuja laqueação é necessária durante colecistectomia
o Nele também se pode encontra o gânglio linfático cístico de Lund
• Relevância: a identificação do triângulo de Calot é um passo indispensável na cirurgia das biliares,
particularmente na colecistectomia laparoscópica, em que a correcta visualização desta zona (a chamada
visão crítica de segurança de Strasberg) permite identificar as duas estruturas que se têm de laquear (a artéria
cística e o canal cístico) e a estrutura a preservar (o canal hepático comum) para remover a vesícula biliar
com um risco mínimo de complicações cirúrgicas
in Sobotta
192
Pâncreas (NETTER pp. 268, 271-272 e 281): órgão retroperitoneal com função glandular exócrina e endócrina
Introdução: localização, forma e orientação, meios de fixação e constituição anatómica
• Localização: fixo à porção superior da parede abdominal posterior, ao nível corpos de L1-L2
o Sendo retroperitoneal, está à frente dos grandes vasos e atrás da bursa omental e estômago
• Forma aproximada de martelo, alongado transversalmente e achatado ântero-posteriormente
o A sua espessura diminui da cabeça à cauda (+ espesso na cabeça)
o Apresenta uma concavidade posterior, na cabeça, devido à relação com a coluna vertebral e Aorta, e
concavidade anterior, no corpo, devido à relação anterior com o estômago
• Orientação oblíqua com eixo póstero-súpero-esquerdo, desde D2 até ao baço, com comprimento de 15cm
Meios de fixação
• Moldura duodenal: D1, D2 e D3 aderem intimamente à cabeça e colo do pâncreas
• Peritoneu parietal: cobre apenas a face anterior do pâncreas, excepto na cauda, que é completamente
rodeada por peritoneu, que se continua com o ligamento pancreático-esplénico, contínuo com o ligamento
espleno-renal, que é a continuação lateral do grande omento e do mesocólon transverso e forma a parede
lateral da bursa omental (ver Baço e Peritoneu)
o Interrompido pela raiz do mesocólon transverso que se insere na cabeça e bordo inferior do corpo
• Arcadas pancreático-duodenais anterior e posterior, fixam a cabeça e duodeno
• Canais pancreáticos: o principal (Wirsung) e o acessório (Santorini), drenam ambos em D2 (ver Duodeno)
193
• Corpo: comprido (8-10cm), côncavo anteriormente, estendendo-se desde o colo até ao rim esquerdo
o Relações:
▪ Anteriormente: raiz do mesocólon transverso (no seu bordo inferior), face posterior do estômago,
bursa omental e ligamento de Treitz (com ou sem M. suspensor do duodeno)
▪ Posteriormente: V. esplénica, Aorta e A. mesentérica superior, pilar esquerdo do diafragma, rim,
vasos renais e ureter esquerdos e a glândula suprarrenal esquerda
▪ Superiormente: tronco celíaco e dois dos seus terminais, a A. hepática comum e A. esplénica
▪ Inferiormente: D4, ângulo de Treitz e ansas jejunais, e o mesocólon transverso
• Cauda: porção terminal (comprimento de 1.5-3.5cm), envolvida por peritoneu
o Os folhetos anterior e posterior que revestem a cauda prolongam-se em direcção ao hilo esplénico,
formando o ligamento pancreático-esplénico, contínuo com o lig. espleno-renal (ver Peritoneu)
▪ O folheto posterior que reveste a cauda é continuação do peritoneu que reveste a face anterior
do rim esquerdo, e prolonga-se como folheto posterior do lig. pancreático-esplénico, contínuo
superiormente com o folheto posterior do lig. espleno-renal
▪ O folheto anterior que reveste a cauda é a continuação da parede posterior da bursa omental e
prolonga-se como folheto anterior do lig. pancreático-esplénico, contínuo superiormente com o
folheto anterior do lig. espleno-renal, que vai formar a parede lateral da bursa omental
▪ Quando a cauda é curta, está na base do lig. espleno-renal, não existindo pancreático-esplénico
o Relações:
▪ Anteriormente: face posterior do estômago e bursa omental
▪ Posteriormente: vasos esplénicos, rim esquerdo e glândula suprarrenal esquerda
▪ Lateralmente: face anterior do baço
in Gray
194
Canais pancreáticos: são dois porque correspondem aos canais excretores dos pâncreas dorsal e ventral, que
têm origem embriológica separadamente mas fundem-se por rotação do pâncreas ventral
• Canal pancreático principal ou de Wirsung (do pâncreas ventral)
o Drena todo o pâncreas, sendo de maior calibre na cabeça (3mm) que no corpo (2mm) e cauda (1mm)
o Trajecto ao longo do eixo maior do pâncreas, passando na porção média da cabeça
▪ O trajecto ao longo do corpo origina-se pela fusão da porção terminal com o canal do pâncreas
dorsal, que agora como que “desvia” o suco pancreático para o canal do pâncreas ventral
o Termina na ampola de Vater, juntamente com o canal biliar comum, na parede póstero-medial de D2
• Canal pancreático acessório ou de Santorini (do pâncreas dorsal)
o Drena porção superior da cabeça, tendo pequeno calibre, podendo não existir (20%) por atrofia
o Em 60% dos casos termina na papila duodenal minor, 2-3cm acima da papila major (de Vater), na
presença de um Wirsung principal, com o qual comunica
o Em 30% dos casos é cego, ou seja, fechado, ou é atrófico e não funcionante
o Em 10% dos casos termina na papila minor sem comunicar com o Wirsung (pancreas divisum)
• Pancreas divisum (10-15%) é uma anomalia anatómica frequente em que os dois canais excretores estão
separados, o que significa que o acessório (Santorini) torna-se dominante por embriologicamente ser o do
pâncreas dorsal, o principal (Wirsung) drena apenas a porção inferior da cabeça (ver Nota clínica)
o Esta situação predispõe a pancreatite obstrutiva uma vez que a papila minor tem um diâmetro
insuficiente para a drenagem do canal acessório que, neste caso, tem maior volume de drenagem
in Netter’s
Gastroenterology
in Sobotta
195
in Schwarz
Pancreas divisum
Vascularização arterial (NETTER pp. 284-286):
• Arcadas arteriais pancreático-duodenais anterior e posterior: irrigam a cabeça do pâncreas
o A. pancreático-duodenal AS, terminal da A. gastroduodenal, e A. pancreático-duodenal AI, colateral da
A. mesentérica superior, formam a arcada anterior
o A. pancreático-duodenal PS, colateral da A. gastroduodenal, e A. pancreático-duodenal PI, colateral da
A. mesentérica superior, formam a arcada posterior
• Colaterais da A. Esplénica:
o A. dorsal pancreática: desce atrás do colo do pâncreas e divide-se em:
▪ Ramo anastomótico para a pancreático-duodenal anterior superior → A. pré-pancreática
▪ A. pancreática inferior, que corre no bordo inferior do pâncreas
o A. grande pancreática: desce atrás do corpo do pâncreas e anastomosa-se com a artéria pancreática
inferior
o Ramos pancreáticos: diversos e pequenos, ao longo do trajecto
o O outro colateral da A. esplénica, não-pancreático, é a gástrica posterior
• Terminal da A. esplénica: A. da cauda do pâncreas
o Os outros terminais são os ramos esplénicos, as A. gástricas curtas e a A. gastro-epiplóica esquerda
o Todos os terminais da A. Esplénica têm origem no ligamento espleno-renal e, enquanto os ramos
esplénicos se dirigem para o hilo esplénico, os restantes vão para dependências peritoneais
▪ A. da cauda do pâncreas desce na espessura do ligamento pancreático-esplénico
▪ A. gástricas curtas passam na espessura do ligamento gastro-esplénico
▪ A. gastro-epiplóica direita passa do lig. gastro-esplénico para o grande omento
Inervação (NETTER pp. 297-299 e 307): autónoma via plexos celíaco e mesentérico superior
• Fibras dos N. vagos (S. N. Parassimpático) e dos N. grandes esplâncnicos (S. N. Simpático)
196
Nota clínica: A pancreatite aguda é uma inflamação aguda do pâncreas. Os mecanismos que lhe dão origem são diversos,
dos quais se fará uma simplificação: uma agressão, seja tóxica, isquémica, imunológica ou por aumento da pressão dentro
dos canais pancreáticos, leva ao extravasamento e activação precoce de enzimas pancreáticas (exócrinas) causando um
fenómeno de autodigestão do pâncreas que, por sua vez, potencia uma resposta inflamatória sistémica e local, das quais
podem advir sérias complicações locais e à distância. É importante salientar, portanto, que a pancreatite aguda, apesar de
começar como processo focal, tem um rebate sistémico importante. As causas mais comuns de pancreatite aguda são a
litiásica e a alcoólica. Na causa litiásica, cálculos biliares que “encravam” na ampola de Vater e, por um lado, podem causar
refluxo de bílis (uma solução agressiva para os tecidos) para os canais pancreáticos e, por outro lado, aumentam a pressão
dentro desses canais. Na causa alcoólica, o álcool funciona como tóxico directo, além de causar isquémia focal do pâncreas
e aumentar a pressão do esfíncter de Oddi. Em 90% dos doentes, a pancreatite aguda é de gravidade ligeira e auto-limitada.
No entanto, em alguns doentes, pode ocorrer colapso hemodinâmico, sépsis e, localmente, necrose pancreática.
O pancreas divisum, apesar de ser relativamente frequente na população é uma causa muito rara de pancreatite aguda, e o
mecanismo pelo qual a causa é obstrutivo, uma vez que a papila minor tem um diâmetro insuficiente para a drenagem do
canal acessório que, neste caso, tem maior volume de drenagem. A pancreatite aguda tem como quadro clínico típico uma
dor epigástrica que irradia em “cinturão” para a região dorso-lombar, acompanhada de náuseas e vómitos, podendo ter
febre. É clássico estes sintomas aparecerem após uma refeição nocturna hipercalórica. O tratamento é médico (fluidos,
oxigénio, antibióticos, correcções metabólicas) e o processo costuma ser auto-limitado. No entanto, é importante a
identificação do agente causal, uma vez que pancreatites agudas recorrentes levam a gradual insuficiência pancreática e a
uma pancreatite crónica, com grave impacto na qualidade de vida. Na eventualidade de a causa ser litiásica, está indicada
uma colecistectomia 4-6 semanas depois da pancreatite, para evitar novos episódios.
O adenocarcinoma do pâncreas, apesar de não ser um tipo de cancro frequente, acarreta um prognóstico sombrio. Uma
razão importante para a alta mortalidade deste cancro é que, habitualmente, os doentes só se tornam sintomáticos quando
a doença já vai avançada, por três razões fundamentais: o pâncreas é um órgão retroperitoneal, pelo que dificilmente é
palpável; é fracamente inervado do ponto de vista sensitivo (não dói); basta uma pequena porção do pâncreas estar saudável
para o seu funcionamento global permanecer intacto, sem sintomas digestivos ou sem insuficiência endócrina. A maioria dos
adenocarcinomas pancreáticos cresce na cabeça do pâncreas, pelo que quando estes crescem o suficiente, podem
comprimir a porção terminal do colédoco, obstruindo assim a passagem de bílis e causando uma icterícia obstrutiva de lenta
instalação, sem dor. Este fenómeno toma o nome de Lei de Courvoisier, que diz que é improvável que cálculos biliares sejam
a causa de uma vesícula biliar palpável acompanhada de icterícia indolor, ou seja, a causa mais provável será uma malignidade
pancreática (ou biliar).
in Netter’s
Gastroenterology
197
Baço (NETTER p. 282)
Introdução: localização, forma, orientação, dimensões e projecção
• Localização no hipocôndrio direito, entre o diafragma, lateralmente, o ângulo esplénico do cólon,
inferiormente, o estômago, anterior e medialmente, e o rim esquerdo, posterior e inferiormente
• Forma aproximada de um grão de café, de maior eixo com obliquidade ântero-ínfero-lateral
• Dimensões e peso: eixo maior de 12cm, 8cm de largura e 4cm de espessura, e peso médio de 150-200g
• Projecção: ântero-posteriormente desde a linha axilar média a T10 e verticalmente desde a 9ª à 11ª costela
• Função: órgão linfóide secundário, maciço, com funções imunitárias e hematológicas
• Perigo: devido à sua consistência e relativa mobilidade, é o órgão abdominal mais frágil e que mais
frequentemente “rompe” em traumatismos abdominais fechados
o Gástrica: ântero-medial pré-hilar, relaciona-se com grande curvatura e face posterior do estômago
o Renal, póstero-medial, retro-hilar, relaciona-se com o rim esquerdo e a gl. suprarrenal esquerda
o Cólica ou base, inferior, relaciona-se com ângulo esplénico do cólon e lig. frénico-cólico esq.
• Bordos:
o Bordo superior: separa as faces diafragmática e gástrica
o Bordo inferior: separa as faces diafragmática e renal
o Bordo medial: separa a face cólica das faces gástrica e renal
• Extremidades:
o Posterior: é póstero-superior ao nível do 9º espaço intercostal e relaciona-se com a coluna vertebral
o Anterior: é ântero-inferior ao nível da 11ª costela e do ângulo esplénico do cólon
Meios de fixação:
• Repousa sobre o rim esquerdo e o ângulo esplénico do cólon
• Os vasos esplénicos, e seus terminais, que correm em pregas peritoneais que, ao continuarem-se com o
peritoneu visceral que reveste o baço, também constituem meios de fixação
• O peritoneu esplénico é complexo, podendo sumariamente dizer-se existe um ligamento gastro-esplénico
que une o estômago ao baço e cujo folheto anterior, que vem da face anterior do estômago, se insere no lábio
anterior do hilo esplénico, reveste as várias faces do baço e, ao chegar ao lábio posterior do hilo esplénico se
continua com o folheto posterior do ligamento espleno-renal, que une a face anterior do rim esquerdo ao
baço, e se continua com o peritoneu parietal
198
in Netter, 5E
O lig. gastro-esplénico é a extensão lateral do grande omento, contém as A. gástricas curtas e a gastro-epiplóica
direita, une a face posterior do estômago, perto da grande curvatura, ao hilo hepático
• Folheto anterior o peritoneu visceral que reveste a face anterior e uma pequena porção da face posterior do
estômago, afastando-se ligeiramente da grande curvatura, destaca-se e, ao alcançar o lábio anterior do hilo
esplénico, reveste o baço começando pela face gástrica, contorna o baço e continua-se com o folheto
posterior do lig. espleno-renal e do lig. pancreático-esplénico
• Folheto posterior: o peritoneu visceral que reveste a face posterior do estômago, que forma a parede anterior
da bursa omental, ao dirigir-se para a esquerda, reflecte para posterior, forma a parede lateral da bursa
omental, e continua-se com o folheto anterior do lig. espleno-renal e do lig. pancreático-esplénico, ambos
formando a parede posterior da bursa omental
• Os seus folhetos, superiormente, são contínuos com o lig. gastro-frénico
199
Lig. espleno-renal é a prega de peritoneu que A. esplénica levanta em direcção ao hilo esplénico, unindo a face
anterior do rim esquerdo ao hilo esplénico
• Folheto anterior: o peritoneu parietal que cobre, da direita para a esquerda, a A. esplénica, a gl. suprarrenal
esquerda e a face anterior do rim esquerdo, forma a parede posterior da bursa omental (contínuo
inferiormente com o peritoneu que cobre o pâncreas e que forma o folheto anterior do lig. pancreático-
esplénico), e ao aproximar-se do hilo esplénico reflecte-se para anterior, forma a parede lateral da bursa
omental e continua-se com o folheto posterior do lig. gastro-esplénico, que se continua com o peritoneu
visceral que reveste a face posterior do estômago e forma a parede anterior da bursa omental
• Folheto posterior: o peritoneu parietal que reveste, da esquerda para a direita, o diafragma e a face anterior
do rim esquerdo reflecte-se para anterior em direcção ao lábio posterior do hilo esplénico, reveste o baço
começando pela face renal, contorna o baço e continua-se com o folheto anterior do lig. gastro-esplénico
• É contínuo inferiormente com o ligamento pancreático-esplénico, que rodeia a cauda do pâncreas, com o
mesocólon transverso ao caminhar para a direita ao longo do pâncreas, e com o lig. frénico-cólico esquerdo
ao caminhar para a esquerda para o diafragma
Lig. pancreático-esplénico: é a extensão inferior do lig. espleno-renal (sendo a descrição de ambos semelhante), que
parte da cauda do pâncreas como extensão lateral do mesocólon transverso e contém na sua espessura a A. da cauda
do pâncreas
• Folheto anterior: o peritoneu que reveste anteriormente a cauda é a continuação do peritoneu que cobre o
pâncreas, forma a parede posterior da bursa omental, é contínuo inferiormente com o folheto superior da raiz
do mesocólon transverso e contínuo superiormente com o folheto anterior do lig. espleno-renal, ao
aproximar-se do hilo esplénico, reflecte-se para posterior na parede lateral da bursa omental, continuando-
se com o folheto posterior do ligamento gastro-esplénico, que reveste a face posterior do estômago
• Folheto posterior: o peritoneu parietal que reveste, da esquerda para a direita, o diafragma e a face anterior
do rim esquerdo, reflecte-se para anterior, sendo contínuo superiormente com o folheto posterior do lig.
espleno-renal, e ao alcançar o lábio posterior do hilo hepático reveste o baço começando pela face renal,
passando pela diafragmática e gástrica, até se continuar com o folheto anterior do lig. gastro-esplénico
Lig. frénico-esplénico: porção superior e esquerda do lig. espleno-renal que une o diafragma ao baço
Lig. frénico-cólico esquerdo: continuação lateral da raiz do mesocólon transverso ao nível do ângulo esplénico do
cólon para o diafragma forma um suporte inferior do baço, o sustentaculum lienis
• A sua porção que emite um folheto de peritoneu para o hilo esplénico e face cólica denomina-se ligamento
espleno-cólico, estruturalmente indistinguível do frénico-cólico esquerdo
Vascularização arterial (NETTER pp. 283-284): a A. esplénica é terminal do tronco celíaco, tem um trajecto
ao longo do bordo superior do pâncreas e termina na espessura do lig. espleno-renal
• Terminais esplénicos: 2-4 ramos esplénicos que permitem subdividir o baço em territórios/lobos esplénicos
• Terminais não-esplénicos: A. da cauda do pâncreas, A. gástricas curtas e gastro-epiplóica direita
• Colaterais: A. dorsal pancreática, grande pancreática e gástrica posterior
Drenagem venosa (NETTER p. 289): para a V. esplénica que caminha atrás do pâncreas e termina na confluência
espleno-mesentérica, ao nível do colo do pâncreas, formando a V. porta
Drenagem linfática (NETTER pp. 293-294): para gg. esplénicos até gg. celíacos
Inervação (NETTER pp. 298 e 307): autónoma via plexos celíaco e esplénico
• Fibras dos N. vagos (S. N. Parassimpático) e dos N. grandes esplâncnicos (S. N. Simpático)
200
Glândulas suprarrenais (NETTER pp. 310, 319 e 320)
Introdução:
• Localização: retroperitoneal, por cima dos rins, apoiadas nos respectivos pólos superiores e bordos mediais
• Posição: a direita é lateral à VCI enquanto a esquerda é lateral à Aorta (a direita é mais inferior à esquerda)
• Forma: aproximada a uma vírgula cuja cabeça descansa sobre o pedículo renal, ao longo do bordo medial do
rim, e cuja cauda se apoia em cima do pólo superior de cada rim
• Cor amarelo-acastanhado e consistência firme
• Dimensões: órgãos pequenos com 6x3x0.8cm à direita e 8x3x1cm à esquerda
Meios de fixação
• Pedículos nervosos e vasculares que penetram na glândula
• Fáscia renal de Gerota (explorada em Anatomia II): apresenta dois folhetos, um anterior e um posteiror que
revestem os rins anterior e posteriormente, estando separados destes pelo tecido adiposo peri-renal
o Inferiormente os folhetos rodeiam e acompanham os ureteres
o Superiormente os folhetos rodeiam as suprarrenais e fixam-se à face inferior do diafragma
▪ Emite septo inter-suprarreno-renal que separa cada rim da suprarrenal
▪ O folheto posterior une-se às fáscias frénica inferior, do M. quadrado lombar e psoas major
▪ À direita, o folheto anterior une-se ao lig. coronário direito e área nua do fígado
▪ À esquerda, o folheto anterior une-se ao lig. espleno-renal
• Ligamento hepato-suprarrenal (à direita): reflexão do peritoneu ao nível do lig. triangular direito do fígado
Constituição anatómica e funções: constituída por uma porção periférica (córtex) e uma central (medula)
• Córtex: estratificada em 3 camadas ou zonas, que se descrevem da superfície para a profundidade
o Zona glomerular: produz mineralocorticóides (aldosterona)
o Zona fasciculada: produz glicocorticóides (cortisol)
o Zona reticulada: produz androgénios (dihidroepiandrosterona, DHEA)
• Medula: análogo a um gânglio simpático, produz catecolaminas (adrenalina e noradrenalina)
Drenagem venosa: para a V. suprarrenal, que termina à direita, na VCI e à esquerda na V. renal esquerda
Drenagem linfática: à esquerda para gg. pré-aórticos e látero-aórticos, e à direita para gg. pré e látero-cávicos
Inervação: N. grande esplâncnico torácico (inervação simpática) via plexo suprarrenal, entre o bordo medial da
glândula e os gg. celíacos e aórtico-renais
201
Peritoneu (NETTER pp. 263-268 e 321)
Nota: Esta matéria raramente é objecto de perguntas específicas. No entanto, para melhor compreender as
relações dos “peritoneus” de cada órgão abdominal (estes, sim, altamente perguntáveis!), inclui-se este
capítulo como um complemento importante, principalmente no que toca à constituição e às relações dos
pequeno e grande omentos, bursa omental e mesos.
Introdução
• O peritoneu é uma membrana serosa, à semelhança da pleura e do pericárdio seroso, cuja função é a de
revestimento da cavidade abdominal, das vísceras abdominais, de fixação dessas vísceras, de suporte dos
vasos e nervos dessas vísceras e de produção de uma fina camada de líquido peritoneal seroso que lubrifica
as superfícies viscerais em contacto
• A sua complexidade resulta dos movimentos de rotação que os primórdios embrionários fazem na cavidade
celómica durante o desenvolvimento embrionário e fetal, aos quais se fará breve referência
o Ver mesogastro e mesentério embrionário
• São descritos dois folhetos, um parietal e um visceral que, na verdade, são contínuos um com o outro,
servindo essa divisão propósitos puramente descritivos e pedagógicos
• Quando os folhetos se destacam de uma estrutura para outra, formam-se pregas peritoneais várias como
mesos, omentos e ligamentos, assim como podem formar recessos
• A cavidade peritoneal é uma cavidade virtual, preenchida com uma pequena quantidade de líquido
peritoneal, que se torna real em caso de derrames peritoneais, hemoperitoneu e pneumoperitoneu
o Esta cavidade é fechada no homem mas aberta ínfero-lateralmente nas mulheres na extremidade lateral
das tubas uterinas, que captam o oócito libertado para a cavidade peritoneal pelo ovário
• Os espaços exteriores ao peritoneu parietal são o pré-peritoneal (à frente, a parede abdominal anterior),
retroperitoneal (atrás, a parede abdominal posterior e os órgãos retro-peritoneais) e subperitoneal (abaixo,
a cavidade pélvica e os órgãos pélvicos)
Mesogastro: o tubo gastrointestinal está, originalmente, suspenso por dois mesogastros (duplos folhetos de
tecido celómico que origina o peritoneu), um ventral que o fixa à parede abdominal anterior e um dorsal que o fixa à
parede abdominal posterior
• Mesogastro ventral: é na espessura do mesmo que se forma o fígado, que divide o mesogastro ventral numa
metade anterior e posterior
o Metade anterior: entre o fígado e a parede abdominal anterior, na espessura da qual corre a V.
umbilical, que ao obliterar forma o lig. redondo do fígado
▪ A porção superior desta metade anterior forma o ligamento falcifome
▪ A porção inferior é reabsorvida
o Metade posterior: dividido em porção superior e inferior
▪ A porção superior está entre o fígado e o estômago e duodeno, na espessura da qual correm
vasos com a V. porta, A. hepática e A. gástrica esquerda (anterior, no desenvolvimento
embrionário), forma o pequeno omento, parede anterior da bursa omental (descrito adiante)
▪ A porção inferior corresponde ao mesentério (adiante)
• Mesogastro dorsal (no andar supra-mesocólico): é na espessura do mesmo que se forma o baço, que divide o
mesogastro dorsal numa metade anterior e posterior, estando o hilo do baço virado para a linha divisória do
mesogastro dorsal
o Metade anterior: entre o estômago e o baço, na espessura da qual correm os vasos gástricos curtos,
forma o lig. gastro-esplénico que, ao longo da grande curvatura, se continua como grande omento
o Metade posterior: entre o baço e a parede abdominal posterior, na espessura da qual correm os vasos
esplénicos, forma o lig. espleno-renal, cuja porção superior é frénico-esplénica (diafragma-baço) e cuja
porção inferior é pancreático-esplénica (cauda pancreática-baço)
o O lig. gastro-frénico corresponde ao mesogastro dorsal acima do surgimento do baço
o O grande omento ou lig. gastro-cólico corresponde ao mesogastro dorsal abaixo da origem do baço
202
• O mesogastro ventral descreve uma rotação para a direita e o mesogastro dorsal para a esquerda, pelo que
a face posterior do fígado se encosta ao diafragma, o que significa que o ligamento coronário oferece a
continuação entre o lig. falciforme e o pequeno omento ao nível da fissura do lig. venoso
• Esta rotação faz com que se forme um saco, a bursa omental, atrás do estômago e à frente da parede
abdominal posterior, que é aberto à direita e fechado à esquerda (pelos derivados do mesogastro dorsal)
Parede abdominal anterior: completamente revestida pelo peritoneu parietal, descrevendo-se uma região
infra-umbilical e uma supra-umbilical:
• Infra-umbilical: o peritoneu é levantado pelo úraco, A. umbilicais obliteradas e A. epigástricas inferiores
(estas três estruturas são os ligamentos umbilicais), formando as pregas umbilicais, que entre elas definem
fossa umbilicais, como discutido no capítulo de Miologia do Abdómen
• Supra-umbilical: o peritoneu, ao encontrar o ligamento redondo do fígado, que se estende desde o umbigo
ao fígado, forma o ligamento falciforme, um duplo folheto peritoneal que fixa o fígado à parede abdominal
anterior e ao diafragma
Parede abdominal posterior: o peritoneu parietal posterior é extremamente complexo devido à presença de
órgãos retroperitoneais, cobertos pelo peritoneu parietal apenas na face anterior (quando cobre estes órgãos, ele é
visceral apesar de revestir a parede) e devido à presença de reflexões de meios de fixação de vísceras a esta parede
(via ligamentos e mesos), que todas elas têm continuidade umas com as outras
• Ao reflectir-se para o fígado, forma o ligamento coronário, que ao reflectir-se para o bordo direito do esófago
e pequena curvatura do estômago é contínuo com o pequeno omento
• Ao reflectir-se para o estômago forma o ligamento gastro-frénico, contínuo com o espleno-renal
• Ao reflectir-se para o baço forma o ligamento espleno-renal, cuja porção superior é frénico-esplénica
(diafragma-baço) e cuja porção inferior é pancreático-esplénica (cauda pancreática-baço)
• Ao reflectir-se para o jejuno-íleo forma o mesentério, contínuo com o mesocólon transverso
• Ao reflectir-se para o cólon forma o mesocólon
Cavidade pélvica: o peritoneu parietal das paredes anterior e posterior cobre, visceralmente, a face superior da
bexiga, fundo e face posterior do útero (na mulher) e a face anterior e laterais do recto superior
• Ao reflectir-se do recto para a bexiga ou útero forma o fundo de saco de Douglas (recto-vesical ou recto-
vaginal), o ponto mais baixo da cavidade peritoneal
203
Pequeno omento: duplo folheto de peritoneu visceral e subdivisível em dois ligamentos
• Folheto anterior: cobre a face anterior do esófago abdominal, do estômago e de D1
o A extremidade superior/esquerda deste folheto faz parte da linha de reflexão inferior do ligamento
coronário que se dirige a esquerda em direcção ao ligamento triangular esquerdo
o A extremidade inferior/direita deste folheto é livre e continua-se com a do folheto posterior ao
contornar a tríade portal, formando o limite anterior do foramen omental de Winslow
• Folheto posterior: cobre a face posterior do esófago abdominal, do estômago e de D1
o A extremidade superior/esquerda deste folheto faz parte da linha de reflexão inferior do ligamento
coronário que se dirige para a direita, em direcção ao ligamento triangular direito
o A extremidade inferior/direita deste folheto é livre e continua-se com a do folheto anterior ao contornar
a tríade portal, formando o limite anterior do foramen omental de Winslow
• Ambos se reúnem ao longo de um bordo contínuo formado, de superior a inferior, pelo bordo direito do
esófago abdominal, pela pequena curvatura do estômago e pelo bordo superior de D1
• O duplo folheto dirige-se para a face visceral (ou inferior) do fígado, e insere-se, da esquerda para a direita,
na fissura do ligamento venoso e no hilo hepático, afastando-se os dois folhetos um do outro para revestir a
superfície do fígado
• O lig. hepato-gástrico ou pars flaccida é largo, fino, e avascular, estende-se desde o bordo direito do esófago
abdominal e pequena curvatura do estômago até à fissura do lig. venoso
o Forma a parede anterior da bursa omental
• O lig. hepato-duodenal ou pars vasculosa é estreito, espesso e vascular (tríade portal), estende-se desde o
bordo superior de D1 até ao hilo hepático
o Contém a V. porta, a A. hepática própria e seus ramos, o colédoco e o canal hepático comum
o Inconstantemente, prolonga-se até ao ângulo hepático do cólon sob a forma de lig. hepato-cólico
o Forma o limite anterior do foramen omental de Winslow, a abertura da bursa omental
Bursa omental: é um divertículo da cavidade peritoneal formada pela rotação do tubo digestivo, e consequente
deslocamento do mesogastro ventral para a direita (forma parede anterior) e do mesogastro dorsal para a esquerda
(forma parede lateral), e que era chamada, classicamente, de transcavidade dos epíplons, um nome ultrapassado mas
que nos orienta para as suas relações com o pequeno e grande omento
• Entrada ou abertura: é o foramen omental de Winslow, uma fenda vertical com 3cm de eixo, através do qual
se faz a comunicação da bursa omental com a restante cavidade peritoneal, e cujos limites são:
o Anteriormente: o bordo livre do pequeno omento, ou seja, a face posterior do lig. hepato-duodenal
o Posteriormente: a face anterior da V. cava inferior
o Superiormente: o processo caudado do lobo caudado, situado na face visceral do fígado
o Inferiormente: o ângulo de reflexão que o peritoneu visceral descreve ao reflectir-se da face posterior
de D1 para se tornar parietal ao revestir a V. cava inferior
o Encontra-se frequentemente um gânglio linfático junto à parede do foramen, o gg. de Winslow
• Parede anterior: a face posterior do pequeno omento e à face posterior do estômago
• Parede posterior: o peritoneu parietal que cobre o corpo e cauda do pâncreas, a Aorta e tronco celíaco, o
diafragma, a gl. suprarrenal esquerda e o rim esquerdo
• Parede superior: a reflexão inferior do ligamento coronário e o ligamento gastro-frénico
• Parede inferior ou pavimento: o folheto posterior do grande omento e o mesocólon transverso
• Parede lateral: continuidade entre folheto posterior do lig. gastro-esplénico e o anterior do espleno-renal
• Recesso superior: entre o esófago abdominal à esquerda, a VCI à direita e o lobo caudado anteriormente
• Recesso inferior: corresponde ao espaço entre os folhetos do grande omento, que normalmente se oblitera
204
Grande omento: duplo folheto de peritoneu visceral dobrado sobre si mesmo, formando 4 lâminas sobrepostas
• Folheto anterior: a lâmina anterior (1) e posterior (2) cobrem, respectivamente a face anterior e posterior do
estômago e, ao nível da grande curvatura, unem-se, descendo os dois conjuntamente à frente das ansas
intestinais e atrás da parede abdominal anterior, até uma altura variável, frequentemente até ao púbis
• Bordo inferior é livre, correspondendo à reflexão de anterior para posterior dos dois folhetos
• Folheto posterior: a lâmina anterior (2) e posterior (1), agora em posição inversa da precedente, por o grande
omento se ter dobrado sobre si mesmo, sobem conjuntamente (atrás do folheto anterior), passando à frente
do cólon transverso para cima deste:
o A lâmina anterior (2), passa sobre o mesocólon transverso, reflecte-se para parietal no andar supra-
mesocólico e cobre a face anterior do pâncreas, formando a parede posterior da bursa omental
o A lâmina posterior (1) reflecte-se agudamente para inferior e anterior, continuando-se como folheto
superior do mesocólon transverso, que se dirige anteriormente para revestir o cólon transverso
o A ideia de que as lâminas do folheto posterior do grande omento se separam uma da outra na ténia
omental, uma para cima e outra para baixo do cólon transverso está incorrecta
o No entanto, verifica-se que o folheto posterior do grande omento está intimamente aderente, quase
fundido, com o mesocólon transverso
• Entre os folhetos anterior e posterior há um espaço, que não passa de um divertículo inferior da bursa
omental, mas que se oblitera gradualmente dada a estreita justaposição dos folhetos
• O grande omento é maioritariamente pelo ligamento gastro-cólico, embora tenha continuidade ao longo da
grande curvatura, para a direita, por ligamentos gastro-esplénico e gastro-frénico
• Lateralmente, os folhetos do grande omento revestem os ângulos do cólon e continuam-se com as extensões
laterais da raiz do mesocólon transverso, e à direita pode emitir uma membrana para a parede abdominal
lateral, a membrana de Jackson ou sustentaculum hepatis
Mesocólon: duplo folheto de peritoneu parietal que fixa o cólon transverso à parede abdominal posterior
• Raiz: linha oblíqua para cima e para a esquerda, cobre o pólo inferior do rim direito, cobre D2, cabeça e bordo
inferior do corpo do pâncreas, e pólo inferior do rim esquerdo até ao diafragma
o Extremidade direita: de forma inconstante, pode alcançar o rim direito e diafragma, denominando-se,
nesta porção, lig. duodeno-cólico, lig. frénico-cólico direito e reno-cólico
o Extremidade esquerda: de forma mais constante, forma o lig. frénico-cólico esq. (sustentaculum lienis)
• Margem cólica: insere-se na ténia mesocólica
• O seu folheto superior olha para cima, forma o pavimento da bursa omental e continua-se ao nível da ténia
omental com o folheto posterior do grande omento
• O seu folheto inferior está virado para as ansas intestinais e para o mesentério e continua-se ao nível da ténia
omental com o folheto anterior do grande omento
• Apresenta na sua espessura a A. cólica média e seus ramos
• O mesocólon tem um comprimento variável, o que pode conferir ao cólon transverso disposições mais altas
ou baixas (pode alcançar o hipogastro), com formas em U, V, M, etc.
Mesentério: duplo folheto de peritoneu parietal que fixa o jejuno-íleo à parede abdominal posterior
• Uma vez que o jejuno-íleo forma várias ansas, o mesentério é uma membrana enrugada/plissada, como se se
dobrasse um largo lençol sobre si mesmo e se tentasse segurar num duplo bordo apenas com uma mão
• Raiz ou margem parietal: linha oblíqua de 15-20cm, desde o ângulo de Treitz até à junção íleo-cecal
o O seu folheto ântero-superior olha para a face inferior do mesocólon e posterior do cólon transverso,
e continua-se superiormente com o peritoneu parietal que forma o folheto inferior do mesocólon
o O seu folheto póstero-inferior olha para a parede abdominal posterior e continua-se inferiormente
com o peritoneu parietal que cobre a porção inferior da VCI e Aorta
• Margem intestinal: ao longo da margem mesentérica do jejuno-íleo
• Entre as duas pregas de peritoneu visceral correm os vasos mesentéricos
• O mesentério jejunal é mais espesso e com menos anastomoses vasculares que o mesentério ileal
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Recessos e espaços peritoneais: descritos junto das vísceras com os quais se relacionam
• Recesso hepato-renal de Morrison
• Recessos duodenais, mesentérico-parietal, íleo-cecais e inter-sigmoideu
• Fundo de saco de Douglas e recessos para-rectais de Waldayer
• Goteiras parieto-cólicas
Nota clínica: os recessos acima nomeados são clinicamente relevantes uma vez que qualquer corpo livre na cavidade
peritoneal, seja líquido ou sólido, tenderá a “cair” para os recessos mais baixos, por acção da gravidade. Ao encontrar uma
vítima de acidente em que se presuma traumatismo abdominal violento, uma das várias considerações a ter é o possível
desenvolvimento de hemorragia intra-abdominal. Com o doente em decúbito dorsal (deitado de costas para baixo), o ponto
mais baixo da cavidade abdominal será o recesso de Morrison, pelo que a ecografia urgente desta região pode ajudar a
excluir este cenário. O fundo de saco de Douglas é, também, um local a destacar, porque com o doente em ortostatismo (em
pé), é esta a região mais baixa do saco peritoneal, pelo que metástases de cancros intra-abdominais que se libertem para a
cavidade peritoneal podem “cair” neste fundo de saco e serem palpáveis através do toque rectal (a chamada massa de
Blumer), ou visíveis em ecografias pélvicas ou ginecológicas.
in Gray
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