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1.

ª Fase:
Capítulo 1:

Ano 2000, uma noite de quinta-feira e o jovem Simon está se preparando para dormir, pois no dia seguinte
terá aula, sua madrinha Rosália ou Mama com é conhecida carinhosamente pela família Sampaio está em seu quarto
já dormindo, pois acorda cedo, trabalhar como concierge em um dos hotéis mais movimentados da cidade não é
fácil, mas é necessário para garantir o sustento de seus quatro filhos Roger o mais velho, Sandro, William e o mais
novo Lincoln. Mas e Simon? Quem é? O que faz ali?...

Simon é filho de Samir Sampaio (Irmão de criação de Rosália) e Helena Sampaio Medeiros, Samir tem um
passado de muita liberdade quando jovem abandonou os estudos para seguir ao lado do irmão Silas viajando pelo
país mesmo vindo de família humilde Samir conseguia com seus próprios meios arcar com os custos de suas
viagens, dentre idas e vindas Samir sempre voltava para casa para passar uma temporada com a família, numa
dessas voltas ele se apaixona por uma vizinha recém-chegada que vem a ser evidentemente Helena, uma jovem
inexperiente que morava com os pais e irmãos, a família de Helena conhecida como a família Medeiros, uma família
extremamente rígida, recém-chegada do interior do estado e evangélica apesar de uma família unida à família
Medeiros é considerada pelos mais próximos como uma família de muitos valores e costumes, já que essa tem como
chefes o pai de Helena o senhor Mário Antibes de Medeiros (Doninho) apelido vindo com ele do sertão da Paraíba
onde foi nascido e criado sob rígidas normas e a mãe Dona Dulce Medeiros uma mulher forte de um passado cheio
de luta e dificuldades. Ocorre que Samir vai totalmente contra os preceitos de um bom homem segundo os valores
da família Medeiros, temendo represálias de seu Doninho, Samir resolve cortejar a moça Helena às escondidas, logo
o namoro é descoberto e Doninho descobre ainda que Samir tirou a virgindade de Helena indignado o patriarca tenta
de tudo para destruir Samir, mas não consegue criando então um grande atrito entre a família Medeiros e a família
Sampaio mesmo assim o casal está apaixonado e resolve combinar o casamento contra a vontade dos pais da moça,
não acreditando que a filha levaria adiante a ideia do casamento Doninho alerta, adverte, mas chegada a hora e
vendo que a filha realmente não mudaria de ideia Helena é expulsa de casa no dia do seu casamento por desobedecer
ao pai debaixo de surra, todos da família Medeiros foram estritamente proibidos de comparecer ao casamento.
O Tempo passa e é anunciada gravidez de Helena essa notícia amolece o coração de Dulce que aos poucos
convence o marido a perdoar a filha, o perdão é concedido a Helena, mas nada é dito a respeito de Samir, porém os
anos passam e com a conversão de Samir a religião da família Medeiros e algumas tentativas de se aproximar o
agora esposo de Helena consegue aos poucos seu lugar na família Medeiros e o passado parece ficar cada vez mais
enterrado, com o tempo Samir que vinha de uma vida de pouca preparação profissional enfrenta dificuldades para
encontrar emprego e quando consegue dificilmente consegue se manter empregado por muito tempo, isso gera
discussões entre o casal que morava com os pais e irmãos de Samir, com projetos de crescer e vendo que finalmente
o marido estava se firmando na empresa que estava atualmente, Helena resolve ajudar nas despesas trabalhando com
o que sabia fazer, cozinhar, faxinar, já que o pai a proibiu de levar adiante os estudos por conta de seus valores
morais. Logo Helena descobre que está grávida de um segundo filho que depois viria a descobrir que seria uma
menina a qual viria a dar o nome de Júlia Patrícia Sampaio de Medeiros. Novamente os anos passam e Samir e
Helena já morando na própria casa e terreno, lutam para aumentar a casa, em meio a tudo o temperamento forte do
casal não impede de que aconteçam brigas e mais brigas a respeito de problemas financeiros, e também das faltas
que Samir cometia com Helena.

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O Casal se espelhando na criação da família Medeiros pretende levar adiante os valores para os filhos,
criando Simon e Julia dentro da igreja, Simon era amado pelos tios e avós maternos a ponto de todos incluindo os
pais idealizam um futuro promissor dentro da igreja, o que gerava cobranças. Como a última palavra era sempre dos
membros mais velhos da família, a palavra de Seu Doninho e Dona Dulce eram sempre as últimas, os avós tentavam
a todo custo moldar Simon a imagem perfeita em suas concepções, “Vista isso, não faça aquilo, não fale com
aqueles...” isso gerava em Simon certo temor da imagem dos avós maternos, preferindo sempre a família Sampaio
por ser mais liberal.
Em meio às dificuldades de horário Samir e Helena em algumas vezes achavam por bem que Simon ficasse
parte do tempo após suas aulas, com suas famílias enquanto trabalhavam acreditando assim que o filho estaria
seguro, Julia que era bebê ficava aos cuidados da creche em tempo integral. Com o passar do tempo Simon foi
criando idade para passar parte do tempo em casa sozinho, mas mesmo assim preferia a casa dos avós onde também
moravam Mama (considerada filha de Adeilde Nunes Sampaio ou (Dona Ida) e seu João Sampaio Fontes) e os
filhos. Samir e Helena temiam incomodar a família, mas ainda sim achavam a decisão do filho segura, pois o bairro
onde residem é um bairro violento. Logicamente a decisão do pequeno Simon era por outros motivos, pelo motivo
da forte influência dos avós maternos sob seus pais, o menino e a irmã não poderiam ter acesso a cultura da época,
alguns brinquedos, rádio, televisão, pois acreditavam que consumir esses tais produtos seriam segundo a doutrina da
religião um caminho certo ao pecado, em meio a várias proibições e normas, Simon de certa forma tinha uma maior
liberdade no seio da família paterna, era lá que ele podia brincar sair, jogar videogame, ouvir músicas consideradas
pelos avós maternos como mundanas e claro fazer o que mais gostava, ver televisão, era através da tela que ele
poderia conhecer mais do mundo, sonhar, fantasiar, coisas como essa coloriam a infância do frágil e sensível Simon.
Sim essas eram umas de suas características mais acentuadas, apesar de adorar a companhia de colegas do colégio e
passar algumas tardes inesquecíveis ao lado deles, Simon sabia que algo o diferia dos seus amiguinhos e primos, se
sentia mais tranquilo na companhia feminina, tinha em sua prima Alice a maior confiança e ao lado dela conseguia
se sentir totalmente ele mesmo, sabia que Alice não o julgaria, não exigiria que agisse como ela, acima de tudo a
cumplicidade entre Simon e Alice era até mesmo notada pelos adultos da família, Alice é sem dúvida a melhor
amiga de Simon. Simon também se aproximava de algumas coleguinhas do colégio o que somado a sua
personalidade frágil chegou a se tornar problemas para ele, pois os colegas passavam a o ter como motivo de
chacota, logo isso também atrairia inimigos e então Simon passa a ter que lidar a duras penas com o peso do
bullying.
O Bullying também ocorre na casa dos avós e da madrinha quando os primos por serem mais velhos brincam
com o jeito de Simon, para eles é uma brincadeira, mas para Simon é doloroso se sentir diminuído por não ser
considerado igual aos outros, nesse ponto então é importante falar sobre os primos de criação.
Roger o primogênito possui 19 anos ativo na sociedade adolescente do bairro assim como a maioria dos
jovens da sua idade frequenta todas as baladas, amante das farras ele leva a vida como se não houvesse amanhã, mas
por ser um dos homens mais velhos da casa, impõe sua autoridade e sempre se demonstra um rapaz de poucas
palavras e em algumas vezes rústico.
Já Willian é amante dos esportes e está sempre atrás de aventuras com o seu círculo de amigos, apesar disso
e de possuir 18 anos é um rapaz aparentemente responsável com seus compromissos, mas raramente para em casa, o
que logo se descobre que se trata de uma vida dupla, William realmente ama os esportes, mas isso não o impede de
mesmo sendo tão novo ser uma pessoa interesseira e ardilosa, daquelas que faria tudo para chegar onde quer ou ter o
que quer, mesmo que isso custasse a sua ética e moralidade. Em outras palavras William é uma ovelha em casa e um
lobo na rua.
Sandro tem 16 anos apesar de ser muito próximo de Roger ele parece pender para um caminho mais errado
tornando-se então a ovelha negra da família, com o temperamento um pouco parecido com o do irmão mais velho,
porém, sem ter ideia das consequências dos atos que comete e através de más companhias Sandro conhece o mundo
das drogas, logo isso o leva ao mundo do crime, isso tornava a vida de sua mãe ainda mais difícil.
Lincoln é o mais novo tem 12 anos, o xodó do avô, um menino educado. Respeitoso e estudioso, ele vê nos
avós e na mãe uma figura não só de respeito como de exemplo e de amor, medo sendo um menino ele é maduro,
batalhador e dedicado, pela proximidade de idade Lincoln talvez seja o mais próximo de Simon dos quatro.
Apesar de muito diferentes os irmãos são unidos e assim como qualquer ser humano normal, apesar de suas
respectivas características peculiares, possuem sentimentos e racionalidade, o que não os impede de cometer erros e
acertos, uns até mais que outros e também não os impede de serem amáveis ou até mesmo cruéis.

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Certo dia Simon está voltando do colégio com os amigos quando, um dos amigos começa caçoar novamente
de sua personalidade, Simon mesmo desconfortável finge levar tudo na brincadeira, até que o amigo o empurra em
seguida abaixando a calça e urinando em Simon que está no chão, transtornado Simon corre em disparada para sua
casa para tomar um banho trocar de roupa e ir para casa dos avós e da madrinha, enquanto corre Simon chora sem
saber o que teria feito de errado, por quê ser diferente era tão ofensivo para os colegas?
Horas após o incidente Simon está na casa da madrinha ainda triste pelo ocorrido, mas nada que uma boa
tarde vislumbrando a mágica da televisão não o fizesse superar, todos os primos não estão em casa como de costume
em boa parte do tempo, o que para Simon pode ser um alívio já que os primos poderiam não estar de bom humor e
isso poderia piorar sua situação, já os avós cuidam dos afazeres do dia a dia, Dona Ida sempre cantando e atarefada
com os afazeres de dona de casa e seu João cuidando do terreno, apesar de um pouco mais liberais os avós de Simon
também são da mesma religião da família materna, porém, sem o fanatismo e a rigidez da família Medeiros.
É chegada a noite os pais de Simon chegam à casa dos avós, Simon abraça a mãe e quando vai em direção ao
pai, o mesmo desvia e não parece tão interessado no abraço do filho. Sim a relação entre Samir e o filho
misteriosamente não era das melhores, Samir parecia em alguns momentos indiferente ao filho, como se algo em
Simon não o contentar, sempre esperando mais do filho, Samir também nota a diferença de Simon com relação a
outras crianças e visivelmente demonstra-se incomodado. Logo os outros irmãos de Samir chegam a pedido de Seu
João e Dona Ida para um jantar em família. Reuniões como essa no meio da semana não costumam ser frequentes,
por isso sempre é motivo de muita alegria, principalmente entre as crianças da família, eram nessas ocasiões
inclusive que Simon via Alice e que os dois aproveitavam para brincar. Samir tem mais seis irmãos sendo em sua
maioria são mulheres, o que curiosamente também é o contrário da família de Helena que possui X irmãos e a
apenas duas irmãs o restante são todos homens.
Chegada a hora de ir embora Helena comenta que Samir recebeu uma nova proposta de emprego, pois
pretendia sair do atual, então no dia seguinte precisaria sair mais cedo que de costume dessa forma ela que pegava
carona com o marido também sairia mais cedo e não teria tempo de preparar o Simon para escola e seu café. Mama
oferece para que ele fique mais um dia em sua casa já que a mesma sai sempre alguns minutos depois que os filhos
vão para a aula, assim Simon acordaria e sairia no mesmo horário que os primos. Curiosamente, apesar de ter feito o
convite, Mama não aparentava estar totalmente convicta do convite que, como se o convite fosse mais por educação
do que por vontade própria.
Após entendermos parte da história do jovem Simon até a cena a seguir, podemos dar continuidade então a
fatídica noite de quinta-feira.

... Após se preparar para dormir, Simon então se dirige a um dos dois quartos dos primos, os dois mais
velhos ficavam em um e no outro os dois mais novos. O quarto ao qual Simon se dirige é o quarto dos primos mais
novos onde três deles estão vendo TV e preparados para um filme que iria passar após a novela, William não está
em casa e provavelmente dormiria fora. Simon muito animado se junta aos primos, pois se trata do filme TITANIC,
o filme seria exibido pela primeira vez na televisão e como na época não havia acesso fácil à internet, esse dia era
mais do que esperado não só por Simon como por todos na época por conta do sucesso do filme nos cinemas. Ver
aquele filme foi para Simon o auge do dia.
Logo que o filme acabou Simon percebeu que os primos estavam dormindo e como o espaço estava apertado
para os quatro ele aproveitou que o quarto ao lado estaria vazio e então foi dormir lá.
Era noite de verão no final de ano, como estava calor Simon não usava seu pijama e sim uma bermuda curta
infantil e uma camiseta regata, essa mesma roupa poderia ser usada no dia a dia já que não era uma roupa
propriamente para dormir. Deitado na cama de frente para janela aberta Simon admirava uma noite de lua cheia, a
lua era grande isso o proporciona a visão de um céu lindo e que até mesmo parecia estar colorido, somando isso a
uma leve brisa que vinha de fora e as viagens que fazia pelo seu fantasioso e criativo mundo imaginário que o
poupava das mazelas da realidade, logo Simon então pega no sono e está quase em sono profundo quando a porta do
quarto tímida e lentamente se abre, logo quem a abriu fecha e fica parado ali mesmo com a mão na maçaneta por
alguns segundos e em seguida vira a chave trancando assim a porta, não muito surpreso, pois poderia ser um dos
primos incomodado com o aperto no quarto ao lado, Simon volta a dormir, passam alguns minutos até que o
cobertor é lentamente levantado e depois volta à mesma posição, Simon começa a acordar ao sentir mãos passando
pelo seu corpo e quando sente o calor de outro corpo próximo ao seu, sente um frio na espinha e logo um tremor
juntamente a um suor frio o tomam conta, o choque do susto e a proximidade da pessoa que o toca o impedem de
tomar qualquer reação até que ele percebe carícias em zonas nunca tocadas do seu corpo e beijos lentos em suas
costas e nuca sem saber o que estava acontecendo Simon permanece imóvel, mas com um nó na garganta muito
forte quase que não o impedindo de prender o choro, sua boca fica seca e ele tem uma sensação nunca sentida antes,
percebendo que não iria parar e que sua bermuda e cueca estavam sendo retirados Simon decide tentar levantar e
então é fortemente impedido com um abraço quase que esmagador do corpo que é maior que o seu, Simon então tem
a boca tapada pelas mãos de quem o toca que também se aproxima de seu ouvido e cochicha:
– Quietinho! Não fala nada, isso é só uma brincadeira, ninguém precisa saber – diz a voz trêmula e ofegante
– esse é nosso segredo á partir de agora, ou você perde muito com isso... Já pensou? Passar a semana toda sem TV?
Como você vai se distrair com o corpo todo machucado? – acrescenta a voz em tom ameaçador.
Percebendo pela voz que se trata de William, confuso e sem entender a última frase dita por ele, Simon tenta
responder com uma pergunta no mesmo tom de voz quase que não conseguindo proferir a palavra engasgando-se
pelo ar que confusamente entra e sai em ritmo desorganizado da sua boca tamanho o nervosismo do momento:

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– M-ma… mais eu não estou m-ma... machucado!
– Mas pode ficar! – interrompe o abusador – só fica quietinho e não fala nada que eu prometo até te
presentear amanhã.
Indefeso e confuso, Simon não reage e o tempo demora a passar...
... Horas se passaram. Wiliam agora dorme e ronca em sua cama como se nada tivesse acontecido, enquanto
na cama ao lado Simon se encontra exatamente na mesma posição que a horas atrás sem quase nem mexer um
músculo, sujo e urinado, com os olhos esbugalhados tentando entender o que acontecera ali naquele quarto, então
ele permanece assim por mais um tempo até que olha para a cama ao lado e percebendo que William estava em sono
profundo e que momentaneamente não apresentava perigo, ele começa a perceber seus olhos pesarem, era o sono
que estava finalmente chegando. Com medo de levantar para se lavar e acabar acordando alguém ou até mesmo o
próprio William, Simon resolve não fazer nada e o sono o vence, uma hora se passa e Simon e William são
acordados com fortes batidas na porta do quarto e gritos de Mama:
– Já são 7:10 Simon você está atrasado... O que houve com você menino? ... Só porque é fim de ano acha que
pode? ... Rápido ou nem café você vai tomar...

(Simon era uma criança sensível, mas também hiperativa, para não dizer bagunceiro, então a madrinha já o levava
em rédeas curtas, por vezes aparentemente Mama até se sentia incomodada, pois uma boca a mais, gastos com
energia elétrica por conta da TV ligada o dia inteiro, não a animavam muito com relação a estadia do afilhado e
sobrinho em sua casa quase que permanentemente e Helena e Samir já pareciam perceber tal descontentamento.)

... Simon então se levanta apressado e antes que abra a porta, William aparentemente despreocupado e com a
mão dentre a cueca o adverte:
– Ei! ... Já sabe né? ... Boca calada!
Simon percebe que a porta já não está mais trancada, provavelmente destrancada por William durante o
tempo em que dormia, chegando na cozinha Simon se depara com Mama com cara de poucos amigos e com os
outros primos já saindo da mesa do café. Antes de qualquer coisa, assim que olha nos olhos da sua Tia/madrinha
Simon pede para tomar um banho. Surpresa com a pergunta já que o menino sabia que estava muito atrasado, Mama
responde:
– Não senhor! ... Tivesse pensado nisso antes de perder a hora... É nisso que dá ficarem até de madrugada
vendo TV, mas isso não vai voltar a acontecer – Simon quase implora por um banho, mas a tia resiste vendo que a
conversa o atrasaria mais ainda, Mama então decide mandá-lo ir imediatamente com os primos e que apenas lave o
rosto – Vai ter que deixar para tomar o café na escola, O Lincoln compra um sanduíche pra você.
Vendo que os primos já foram, Simon pega sua bolsa e segue sozinho e a pé, já que o colégio não é muito
longe, andando Simon sente assaduras em sua virilha que estavam começando a arder. Chegando no colégio o
portão está fechado e Simon implora para que a inspetora o deixe entrar, depois de muita resistência ele consegue e
logo que chega na sala de aula, nota a professora Cora em pé e com o livro de chamadas em sua mão, a professora
Cora é conhecida pelo seu mau humor e rigidez para com os alunos, obviamente com o atraso ela o aguardava com
um sermão então ela o repreende, informando em seguida que ele precisará assinar o nome numa espécie de livro de
advertências da classe. Logo que senta Simon percebe olhares de seus colegas e os amigos mal o cumprimentam,
com o passar dos minutos sente-se o cheiro de urina vindo de sua pessoa, é quando a professora o chama para
assinar o tal livro de advertências, notando o cheiro vindo dele a professora mal pensa e já logo pergunta:
– Mas que cheiro é esse Simon? ... Você não toma banho antes de vir para a aula? ... Preciso notificar os seus
pais? – diz a professora, logo em seguida voltando os olhos para a classe e dizendo em tom de advertência –
Aprendam que falta de higiene também é falta de educação classe e não façam como alguns colegas de vocês, se eu
precisar chamar os pais de vocês para falar a respeito, claramente a diretora ficará sabendo e isso não vai ser nada
legal para os porcalhões da sala... Fui clara?
Era o que faltava, Simon só queria sumir naquele momento, como a cabeça de uma criança lidava com tudo
o que acontecera nas últimas horas? Acredite nem mesmo o próprio sabia e era exatamente isso que o deixava
marcado não só naquele momento, essa marca seria pra sempre.
Os dias passaram e nesses dias Simon evitou frequentar a casa da tia por várias vezes, optando até mesmo
pela rigidez dos avós maternos a possibilidade de tomar a decisão de ir para a casa dos avós maternos que era mais
longe prevalecia justamente pelo motivo de que seus pais haviam notado o certo incômodo em Mama com a
presença frequente do sobrinho.

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Capítulo 2:

Semanas se passam, Simon segue a sua rotina abusando da sua capacidade de imaginar, fantasiar e ocupar a
mente com coisas de criança, ele conta com a ajuda dos amigos pra isso, mas nem sempre é o suficiente.
Certo dia a diretora do colégio entra na sala para anunciar o festival de artes do colégio seria um evento
especial que ocorreria no final de semana do dia das mães, Simon decide se unir aos amigos para criarem uma
coreografia para uma apresentação, ficaria a cargo de o grupo escolher uma música, porém, quem teria possibilidade
de trazer um som com um CD para a escola? Simon prometeu que daria um jeito.
É quinta-feira e Dona Ida anuncia aos filhos que uma irmã de longe vem visitá-la, oportunidade perfeita para
mais uma reunião de família, por mais que todos perguntassem Dona Ida insistia em não revelar o real motivo de tal
viagem repentina de uma de suas irmãs chamada Irene:
– Ela vem com o marido Amacio e suas filhas Joane e Clara, que você conheceu quando moça eram
bebezinhas ainda – diz Dona Ida a Mama, advertindo em seguida – tem um motivo para que eles venham, mas você
conhece sua tia sempre muito reservada, eu sei que é algo com Amacio, problema de saúde, mas não fique
especulando, se ela quiser se abrir e contar tudo bem, já foi difícil pra mim convencer ela a se hospedar aqui em
casa, disse que Amacio tem um amigo médico que mora aqui na cidade e pode auxiliar no caso menos na
hospedagem – acrescenta Dona Ida, sovando a massa para o seu famoso pão caseiro.
É chegado o fim de tarde, começam os preparativos para o jantar de recepção e logo que chega à casa da avó
Simon percebe Alice na escada próxima a área da casa, logo que se veem os dois partem em disparada um ao outro
para um abraço de matar qualquer saudade, Alice logo pergunta ao primo o motivo do sumiço repentino, já que por
vezes nas últimas semanas ela vem a casa da avó e não o encontra, Simon visivelmente demonstra um desconforto
diante da pergunta da prima e logo trata de mudar de assunto propondo uma brincadeira muito divertida para
compensar o tempo perdido, logo que chega do mercado com as compras para o jantar Samir vê o filho com Alice
brincando e olha para o outro lado da área e vê Lincoln, Marcelo (filho de Iara uma de suas irmãs), alguns meninos
da vizinhança jogando bola a única presença feminina no meio deles era de Debora (Irmã mais velha de Alice) que é
assim como Simon não se sente confortável no padrão de sociedade e comportamento das jovens meninas da sua
idade justamente por achar as atividades e brincadeiras dos meninos muito mais atrativas, como sempre Samir
vendo a diferença não consegue disfarçar sua insatisfação com o filho e entra.
Alice e Debora são filhas de Frida (irmã de Samir) e Laurino ou Lino como é carinhosamente chamado,
conhecidos dentro da família Sampaio por serem um exemplo de casa, Lino sempre apaixonado pela esposa e louco
pelas filhas, Frida uma mãe e esposa dedicada, sabe impor respeito, com um temperamento forte, imponente e ao
mesmo tempo um poço de amor e sensibilidade, as meninas sempre educadas exemplarmente, por vezes eles eram
sempre alvo de comparações. Na casa de Samir e Helena, por exemplo, hora Helena comparava as atitudes
respeitosas e cavalheiras de Lino com o machismo e desrespeito de Samir, ou disciplina de Alice e Debora com as
aventuras de Simon e Julia, pelo exemplo de comportamento Dona Ida sempre elogiava Alice, Debora e Lincoln o
que as vezes até era interpretado pelos outros netos como uma preferência exacerbada de todos os adultos pelos três
em questão. Quanto ao comportamento de Debora assim como Simon é notado pelo pai, Frida também percebe em
sua primogênita algo fora dos padrões e nesse caso a percepção é ainda mais gritante, pois, Alice é totalmente o
oposto, mas há uma diferença no enfrentamento da situação ao contrário do irmão para com o sobrinho, Frida tem
para com o caso de sua filha uma incerteza em relação ao futuro dela, preocupada com até onde isso pode ser fator
decisivo de mudanças importantes na vida de Debora, Frida entende que um dia chegará o momento de sentar e falar
a respeito, mas enquanto não chega o momento, Frida deixa a filha viver sua adolescência sem interferências nesse
sentido.
O Jantar ainda está sendo preparado e há muito a se fazer, na cozinha estão Ida suas filhas e Helena que é tida
como a melhor cozinheira da família, empatando somente com Dona Ida, Frida logo pergunta dos outros irmãos que
moravam ainda com Dona Ida descascando as cebolas e com um aparente cansaço em sua expressão:
– Sabe como são seus irmãos né minha filha? Seu irmão Silas não mandou nenhuma carta a dias não liga
esquece que tem mãe, a Rebeca só Deus sabe pra onde foi depois da noitada, mesmo depois do seu pai ter proibido,
ela com certeza sabe que não vai ser muito bem recebida em casa pelo seu pai e por medo não chegou até agora e a
Leona está numa caravana da igreja foram pra Minas Gerais ela só volta Domingo a noite.
Preocupada com Rebeca, Frida pergunta a mãe se o pai já foi ao colégio saber como estão as coisas por lá,
Dona Ida responde com um tom de muita frustração:
– A Rebeca já é um caso perdido Frida, falta um ano pra encerrar o ensino médio, desde que ela se envolveu
com essas amigas da rua eu já não reconheço mais, só tenho pedido a Deus pra que olhe por ela, eu já fui a reuniões,
seu pai já surrou e você sabe que seu pai não é nada carinhoso pra corrigir filho, mesmo assim parece que ela se
perdeu...
Mama então complementa a mãe compartilhando o mesmo sentimento com relação a Sandro:
– Eu te entendo mãe! Também estou muito preocupada com o Sandro só essa semana fui chamada duas vezes
no colégio, a gente cria os filhos, mas chega um momento que parece que perdemos o controle, estou vendo que ele
e a Rebeca vão acabar seguindo o caminho do Silas...
–... Agradeço a Deus pelo Samir ter encontrado uma pessoa que trouxe ele pra realidade da vida... – diz Dona
Ida elogiando a nora Helena e se dirigindo a ela –... Senão ele também seria outro como o Silas né minha filha? Sabe
que você é um milagre em nossas vidas...

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Enquanto isso, lá fora, Marcelo e Débora discutem com Yuri (um dos meninos da vizinhança muito amigo
das crianças da família Sampaio), Yuri diverge de Marcelo e Débora a respeito de regras da brincadeira, até que seu
Saulo pai de Yuri (Vizinho e grande amigo dos Sampaio) chega do trabalho com a sua famosa pick-up vermelha
antiga que é muito conhecida no bairro, já que é também instrumento de trabalho de seu Saulo que logo que chega é
ovacionado pelo filho e por Lincoln que parece ter muito carinho por ele. Saulo logo chama o filho para entrar, pois
está ficando tarde, não demora muito e sua esposa dona Cláudia aparece no portão de sua casa gritando pelo filho:
– Eu estou te chamando a horas Yuri, venha logo tomar o seu banho! – Responde Claudia aparentemente
irritada.
Saulo então olha para as crianças e com um tom humorado diz:
– É, ela tá brava!
Marcelo e Debora percebem então que com a saída de Yuri o time ficará desfalcado e logo resolvem chamar
o menino mais próximo, Simon, que de início parece relutar, mas, aceita o convite dos primos, que usam de um
poder persuasivo discutível, porém, considerado normal para a sociedade da época, até mesmo entre crianças:
– Deixa de ser “veadinho” Simon! É só chutar a bola pra dentro daquela trave ali! Será que vai perder pra
Débora? – com o silêncio indeciso do primo, Marcelo então rebate – ... Olha a gente já brincou de “dibre” é a
mesma coisa só não deixar ninguém pegar a bola e...
– Tá, tudo bem, já entendi, eu sei o que é futebol Marcelo, eu posso tentar! – responde Simon
Simon entra para a brincadeira, e ela acaba ficando divertida, embora Simon seja péssimo no futebol, o que
torna tudo mais engraçado e enquanto ele joga Alice se curva de tanto rir do primo.
Lincoln então pede para que parem a brincadeira por um instante, para que ele busque suas chuteiras e roupas
adequadas para Simon, já que ele não estava vestido apropriadamente para a ocasião, lógico que essa decisão partiu
da intenção de usar esse contexto como chacota, algo normal entre os meninos, mas que Simon não gostava muito:
– O Pastorzinho não vai querer sujar o terninho não é? – Diz Lincoln se referindo a religião dos pais de
Simon.
Embora toda a família de Helena seja da mesma religião, a família de Samir era composta, por evangélicos,
agnósticos e católicos. Portanto, também havia diferenças entre as crianças nesse sentido.
Após Simon se trocar eles decidem levar a brincadeira para uma quadra de futebol na esquina da casa de
dona Ida, já no jogo Simon acaba fazendo um gol contra e as crianças começam a discutir já que Simon era
inexperiente no jogo, Marcelo então discute com Miltinho que era do time adversário, por coincidência era o mesmo
menino que zombou de Simon a dias atrás urinando nele. Marcelo, Miltinho e Lincoln estão quase partindo para
uma agressão quando Débora resolve intervir e chamar os primos para entrar pra dentro, Simon e Alice ficam, e
então Miudinho parte pra cima de Simon:
– Agora quero ver quem vai te defender “veadinho”! – Diz Miltinho empurrando Simon e coagindo-o a
tomar uma atitude.
Alice resolve intervir para tentar defender o primo e amigo, mas Simon já está esgotado com as ofensas de
miudinho vem fazendo a tempos. Ele então impede a prima de defendê-lo e visivelmente irritado responde:
– Deixa Alice, ele é só um “bostinha” que precisa se crescer pra cima dos outros pra se sentir homem, sendo
que nem saiu das fraudas ainda...
Logo que Simon termina a frase, Miltinho então se exalta e decide ir com tudo contra Simon, que mesmo
indefeso e sem ter o hábito de ser violento, se viu obrigado a revidar, o medo era tanto que Simon mesmo franzino
tirou de si todas as forças que tinha, as concentrou em seu punho direito e antes que Miltinho fizesse qualquer coisa
o acertou com uma bofetada em seu olho esquerdo, cortando o supercílio de Miltinho fazendo sangrar e o
derrubando. Miltinho acaba então se dando conta de que Simon não era tão indefeso assim como imaginava, ao
invés de revidar, vendo que seus colegas caçoavam de seu estado ele levanta e sai em disparada para a sua casa.
Não demora muito e aparece a mãe de Miltinho que, não era muito bem vista pela sociedade local, pois era
envolvida com o tráfico local e parecia uma mãe nada convencional:
– Cadê! Onde é que “tá” o menino? – Diz a mãe de Miltinho enfurecida e já indo em direção a Simon, logo
que chega, empurra o menino com tamanha força que Simon cai com tudo no gramado, antes que Alice se pronuncie
ela mesma diz –... Deixa, não vou sujar minhas mãos, mas da próxima vez que eu te ver, pondo a mão no meu filho
sua “bichinha” eu mesma te parto no meio! E você Miltinho, não quero nem ouvir que você “tá” andando com
“boiolinha”, eu nem preciso bater nesse aí, até porque já se vê que esse aí ainda vai apanhar muito dos pais ou na rua
até virar homem de verdade, que nojo!
Assim que ela vira as costas para ir embora, Alice que estava sentada ao lado do primo, tenta se levantar pra
falar algo, mas Simon a impede dizendo que não vale a pena, e fazendo a prima prometer que não vai contar a
ninguém o que houve, temendo que o pai saiba que ele foi humilhado e inclusive o motivo da zombaria. Alice então
ajuda Simon a levantar e o dois vão em direção a casa dos avós, enquanto estão andando, Alice reconhece que o
primo foi corajoso e ainda tenta melhorar o humor da conversa:
– Ela pode até ter te humilhado, mas o filho dela nunca mais vai se meter com você, caramba Simon que
golpe de direita, doeu até em mim, vou fazer uma lista dos meninos que me importunam no meu colégio, trate de dar
serviço pra essa mão! – Logo que termina a frase ela percebe a risada do primo, que responde as gargalhadas:
– Coitado de mim Ali, você é muito mais doida do que a mãe do Miltinho, não precisa que ninguém te
defenda! Até a sua irmã tem medo de você! E olha que os meninos não assumem, mas a Debora toca o terror no
meio deles!

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– Essa história de que homem é mais forte que mulher só existe porque ninguém me viu pondo esses
folgados na linha!
Logo que chegam em frente a casa da avó percebem William com uma moça encostados no portão aos
beijos, Simon então notoriamente abaixa a cabeça e muda sua expressão, um certo pavor e nervosismo tomam conta
de sua face e ele apressando o passo entra pra dentro da casa, Alice percebendo o estranho comportamento do
primo, vai atrás e pergunta o que está acontecendo, ele responde tentando fugir do assunto:
– Nada, foi só uma tontura que me deu, deve ser por conta da queda, lá na quadra... – Antes que ele termine
a frase Alice interrompe –... Nada disso Simon, eu percebi que você ficou nervoso logo que olhou pro William, você
está estranho desde que chegou e anda sumido daqui da casa da vó, pode fazer qualquer outro de burro, mas eu não,
te conheço muito bem! Até nas brincadeiras você tá meio pra baixo! Esse otário do William tá te incomodando? ...
Ah já sei, andou te batendo?
William chega de repente, olhando fundo nos olhos de Simon com um tom ameaçador e ao passar por ele dá
um pequeno tapa em sua cabeça, deixando então nítida a sensação de que ele acredita que possui o total controle
sobre Simon, Alice, pavio curto como só ela vai logo perguntando qual é o problema, William rindo da atitude de
Alice, responde destilando um ar de petulância na tentativa de diminuir e intimidar a prima:
– Coitada! “Pivetinha”! Se enxerga o “capitão caverna”!...Vai pentear o cabelo antes de falar comigo
pentelha! – Então logo que ele se vira e vai em direção as escadas, ela corre em direção a ele e puxa sua camisa:
– Você pode não falar, mas eu vou descobrir o que você fez seu babaca! – Ele então levanta a mão em
direção a ela que começa a gritar! –... Bate! Se você é homem, bate! – Percebendo a voz de Frida vindo do corredor
ele então abaixa a mão e incomodado responde:
– Vai te catar, “pixaim”! – Ele então sobe em direção ao seu quarto.
Logo que chega à sala, Frida reprende a filha pela gritaria, provavelmente não escutou o que tinha sido dito,
pois apenas repreendeu Alice e pediu para que ela a acompanhasse até a cozinha, pois sua avó o chamava, Simon as
acompanha, logo que chegam Dona Ida não esconde o contentamento em ver a neta, senta-se à mesa e a põe no colo,
elogiando-a, pois Frida tinha acabado de contar que ela havia ganhado o grêmio estudantil, ao ouvir as palavras da
avó e vendo o carinho dela para com a prima, ele tenta se aproximar mais, para quem sabe participar daquele
momento, mas estabanado como ele só, esbarra numa panela com o molho bolonhesa em cima da mesa, a panela
não cai mas pouco do molho respinga no chão e na mesa:
– Ah, mas tinha que ser claro, até o final da noite alguma coisa ele tinha que fazer... – Diz Helena exaltada.
Ida tenta acalmar a nora e percebendo o clima pede para que Simon limpe a bagunça logo, porém o pedido
não pareceu tão sutil quanto a recepção de sua prima:
– Trate de limpar isso logo menino, antes que alguém piore essa sujeira! Já demorou pra pegar o pano e o
balde! – Sendo interrompida por Mama que continua – O Balde deve estar no quarto dos meninos Simon, o Roger
usou e não sabe devolver pro lugar! Esses meninos...
Triste pelo ocorrido ela vai buscar o balde e chegando ao quarto de Roger, Simon percebe que o primo não
está e vê um rádio portátil próximo a TV, era um rádio de Mama que provavelmente Roger tinha pego para ouvir
enquanto limpava seu quarto, Simon então lembra do combinado com os colegas, estava ali um rádio portátil
exatamente o que precisariam para ensaiar as músicas da apresentação, Simon então pensa em pegar e devolver
depois, até porque que mal faria emprestar um dia só não é? O problema é que a dona do rádio não poderia saber, do
contrário poderia não emprestar, quem emprestaria um eletrodoméstico para uma criança? Tentado pela ideia que
lhe passou pela cabeça, pensando num jeito de afanar o rádio e ao mesmo tempo ciente de que o que estava
planejando era errado, pois mesmo que devolvesse depois, isso de certa forma caracterizaria um roubo, ele lembra
que precisava desse rádio, a apresentação estava quase chegando.
Eis que perdido em seus pensamentos, Simon está tão distraído que não percebe que alguém estava atrás, era
William, que já vai logo usando de seu controle para abordar uma conversa que não seria muito amigável:
– Perdeu alguma coisa aqui pastorzinho? – Simon leva um susto enorme e logo que vê William olha para os
lados procurando alguém para o livrar do desespero que é a companhia de seu abusador, mas não encontra ninguém
e paralisado não esboça nenhuma reação simplesmente fica mudo e ouve William continuar –... Você ia levar
alguma coisa? Não né? Sabe que se o Roger te pega mexendo nas coisas dele ele te da uma surra né?
– E... Eu! S-Só Ia pegar o b-bal... – Percebendo o pavor de Simon, William acha engraçado e começa a
brincar com a situação, tornando seu tom cada vez mais ameaçador – B-b-bê, B-b-ba ... Hahaha ... Quê que é?
Perdeu a fala, princesa? ... – Diz ele se aproximando do ouvido de Simon e sussurrando – ... Experimenta abrir o
bico pastorzinho e eu vou saber, você não me conhece o suficiente pra saber do que eu sou capaz, você tá pensando
o quê? Que porque praticamente mora aqui, você é meu irmão? Seu “bostinha”! Eu até “tava” te tratando com um
certo carinho, mas agora que eu vi que você tá querendo abrir o bico, meu cuidado vai redobrar, essa historia vai
morrer com você ou você vai morrer por causa dela! Agora ajoelha! ... – Diz ele empurrando a cabeça de Simon
para baixo, que sem entender tenta resistir, mas William é visivelmente mais forte e ameaçador, então vai em
direção a porta do quarto, tranca por dentro e volta dizendo – ... Rapidinho senão alguém percebe. Relaxa! Dessa
vez eu não vou te machucar, você vai até gostar! É só fazer o que eu mando!
Alguns minutos passam e na cozinha Mama percebe a demora de Simon diz:
– Gente será que esse menino não achou o balde? Eu tinha pedido pro Roger por na lavanderia, ele tava tão
ocupado se arrumando pra ir pras baladas dele lá que achei que nem ia me ouvir deve ter guardado então... – Então
Mama pede para que Alice vá até a lavanderia ver se acha o balde caso não ache vá até o quarto de Roger e mostre
para o primo que o balde e o rodo estão atrás da porta, que talvez por isso ele não tenha visto.

7
Alice não encontrando nada na lavanderia, então volta para dentro da casa e sobe em direção aos quartos,
chegando ao quarto de Roger percebe a porta encostada e quando abre se depara com uma cena no mínimo
perturbadora.
Um chão todo sujo de vômito e Simon abaixado de costas para ela limpando a sujeira rapidamente, chorando
baixinho, um choro abafado para que ninguém ouvisse. Confusa, preocupada e sem saber o que fazer Alice chama
pelo primo que se vira mostrando uma expressão de medo e profunda vergonha, o nariz muito vermelho e as maças
do rosto também, encharcadas por lágrimas que lavavam todo o rosto e pareciam ter vindo de todos os cantos dos
olhos vermelhos e assustados de Simon que nesse momento está mudo e não sabe nem como olhar para a prima, não
sabe o que falar, pra onde olhar, como agir. Desesperada Alice vai em direção ao primo chorando sem ter a menor
ideia do que havia acontecido para chegar a esse extremo:
– O que houve Simon? Eu não sabia que você estava doente? A gente “tava” brincando agora mesmo, você
estava tão bem, por que não foi no banheiro? E esse choro? O que está havendo Simon você está me deixando
preocupada me fala? ... – Diz ela abraçando o primo, que não consegue responder e desaba a chorar, soluçando e
algumas vezes perdendo o fôlego, percebendo que ele não iria falar ela levanta, dizendo que vai chamar alguém,
Simon mais do que depressa levanta junto e implora para que ela não chame e que não quer que ninguém saiba do
ocorrido, ela tenta argumentar, mas Simon irredutível apela, seu choro aumenta, ela fica ainda mais preocupada
confirmando a sua pressuposição de que algo grave está acontecendo – Olha vai lá lavar o rosto a boca, deixa que eu
termino aqui e levo o balde pra vó, mas não pense que eu vou esquecer isso, assim que eu voltar você vai me dizer o
que está acontecendo!
No Banheiro Simon, tenta se lavar ao máximo como se estivesse impregnado de sujeira até a alma e nada
estivesse adiantando, logo Alice bate na porta pergunta se está tudo bem e diz que o espera para conversar.

Enquanto isso Samir está com os cunhados Lino e Nuno sentados na área de lazer bebendo e assistindo uma
partida de futebol e entre uma cerveja e outra, Lino comenta em tom sarcástico a Samir pelos seus sogros:
– E o sogrão em Samir? Você vai mesmo viajar com eles?
– Rapaz! “Tô” pensando bem a respeito viu? Férias viajando com aqueles dois! Seu Doninho é marcação
serrada pra cima de mim, sabe que outro dia uma gostosa passou, eu tinha levado o velho no açougue, não é que o
cara “tava” me sacando de lá da fila? Tive até que segurar pra não olhar muito!
(Risos) – Cuidado em? Você com essa sua mania de cantar a mulherada, se é flagrado pelo seu Doninho,
pode ser capado, eu ouvi falar que logo depois que ele acorda, a primeira coisa que ele faz é afiar a peixeira dele! ...
– Diz Lino caindo na gargalhado enquanto Nuno completa também aos risos – ... Em pensar que esse aí não
perdoava nem a Lucinha filha do seu Rodolfo, aquela mulher era um canhão! Te conheço Samir você é boêmio cara,
a Helena que não se cuide, nessa viagem ela pode nem conseguir entrar no carro, você vai ter que levar uma serra
elétrica no porta mala, pra podar os galhos da coitada, senão ela não entra no carro pra voltar.
– Vocês são fogo, imagina, sou um homem sério agora, ainda mais com a Dona Dulce e o Seu Doninho,
mesmo que eu quisesse... – Responde Samir.
– Lembra uma vez Nuno que a Dona Dulce quase botou esse aqui pra casa debaixo de agua fervendo uma
vez que pegou ele mexendo com uma mulher na rua perto da gente? Ele se fazendo de garanhão pegador, quando
ouviu a voz da sogra, virou um pastorzinho na hora, cara nunca ri tanto na minha vida!
Se sentido a vontade, Nuno aproveita para tirar vantagem de um flerte que conheceu em uma de suas
viagens:
– Mas eu entendo ele, esses dias cara eu “tava” pagando o combustível do meu caminhão, quando “tava”
quase fechando a porta da cabine, me aparece uma mulher num carro meu amigo! Toda gostosinha, lourinha do jeito
que eu gosto procurando alguém pra ajudar ela com um problema no carro, quase peguei, por um triz, só não peguei
porque apareceu do nada outra mulher chamando de amor e me olhando com uma cara de quem ia me esfolar vivo,
eu não queria problema deixei a sapatão levar a princesa dela, mas confesso que pensei em tentar levar as duas na
conversa mas aí deixei pra lá... – Lino e Samir se olham, com certa desaprovação no ar e então Nuno tenta corrigir
–... Que foi? Relaxa Samir, eu respeito a sua irmã, mas a gente é homem né cara? Vai dizer que isso nunca
aconteceu com vocês?
Antes que eles respondessem uma carro para em frente a casa e nele uma jovem mulher abre o vidro e então
se identifica como Ariadna e pergunta por William que logo aparece e entra no carro.
Samir comenta com os cunhados demonstrando orgulho pelo sobrinho:
– Esse aí é dos meus, nem bem saiu dos cueiros e já pega a mulherada de melhor qualidade, esse saiu macho
igual o tio. “Cês” precisam ver a gostosa que chamou por ele, o cara entrou no carro se achando o tal, não nega a
raça. Meu orgulho!
Chegando num lugar um pouco afastado, mais próximo, Ariadna estaciona seu carro para que ela e William
conversem ali mesmo:
– Se “tá” me olhando com essa carinha de cachorro de frente pro osso é que já sabe a resposta né? Sim,
consegui um estágio pra você na loja de material de construção do meu padrinho! – William comemora, mas logo é
interrompido por Ariadna – Mas você sabe muito bem a condição né? Você vai ficar colado no meu padrinho, a
gente vai trabalhar junto nessa cara, vai pegando brechinha, uma senha aqui, uma notinha ali, eu tô fechada com o
contador do meu padrinho, só precisava de alguém lá dentro, nada melhor que um estagiário novinho com cara de
bobo, só que você vai ter que ser um filho pro velho em? Ele tem que confiar em você de olhos fechados. Faça tudo
o que ele mandar! Ok?

8
– Pode deixar gatinha faço qualquer coisa, o velho vai querer me por até no testamento dele, você vai ver,
essa carinha de anjo aqui abre portas... E pernas também – Os dois caem na risada – Se fosse madrinha ao invés de
padrinho então, aí que a parada já “tava” ganha.
Ariadna sarcástica e prontamente responde.
– Olha que não sei não em? Já peguei uns “bola-fora” do seu Mendes... Que eu imagino que ele tenha uma
vasta preferência, se é que você me entende!
– Por mim (risos) contanto que eu ganhe bem com isso...
– “Tá” brincando? É sério isso William?
– Já te falei, se eu tenho os atributos que tenho, por que não fazer bom uso...
–... Vai com calma! Você é menor de idade, esqueceu? Cuidado redobrado, não vai me enfiar os pés pelas
mãos, qualquer deslize e você bota tudo a perder, eu poderia muito bem pegar qualquer cara na balada, mas você é
melhor amigo do meu irmão, é de confiança a gente se pega tem tempo e também tem sorte anjinho que “tu” manda
bem e é gostoso pra cacete! Me deixou louca, tenho planos pra você, mas eu não sou burra não, você não me
conhece, me passa pra trás pra ver?
– Já tô ligado, o objetivo é bolar um caixa dois e desviar parte do dinheiro pra construção da casa de
massagem.
– Isso novinho, assim que você completar a maioridade sua parte na sociedade vai estar garantida, não vai
nem precisar comparecer direto, o dinheirinho vai entrar e o trabalho vai ser mamãozinho com açúcar, você vai
poder fazer suas viagens com o seu próprio dinheiro, não vou precisar mais bancar elas pra você!
– Estudar pra quê né? Se o pai aqui já tem esse corpo e esse cérebro abençoado...
–... Nada disso, tá louco? Vai estudar, se esforçar, vai virar um homem culto! “Tá” pensando o quê? Vai ralar
agora meu anjo, o mundo é dos espertos, um cara que se da bem nesse ramo tem que ler e aprender, ser refinado
também, uma mente bem instruída chama sucesso, por isso, tem que pensar com a cabecinha de cima meu lindo!
Estou te dando a oportunidade da sua vida!
– É! Quem diria que o desprendido da família vai virar um doutor e de cara vou descolar uma média com a
Dona Mama! Quero ver a cara dela quando o filho de ouro chegar com essa notícia!
– Uma identidade falsa, uma noitada caprichada com a tiazinha aqui e olha onde você já está chegando? Eu te
disse pra colar comigo!
O carro de seu João está chegando e trazendo os hóspedes, percebendo a aproximação do carro do avô
William teme ser visto, é prefere evitar as perguntas do avô, Ariadna então ironiza o temor de William:
– A é assim que o futuro empresário de sucesso pretende se impor na sociedade é? Com medo de um velho
caquético! – Nesse mesmo momento em uma fração de segundos, William muda sua expressão e segura com muita
força o braço de Ariadna, demonstrando total repúdio ao que ela disse – Mais respeito com o meu velho! Lave a
boca pra falar dele! – Ariadna então se esquiva e responde assustada:
– Tá! Tudo bem, não sabia que o vê... Que o seu querido avô tinha todo esse prestígio com você todas as
vezes que fala dele me da a impressão de que ele te odeia!
– É o jeito dele, mas ele merece todo o respeito do mundo, se eu não passei fome, se eu tenho um teto e uma
vida digna é graças a ele e a minha mãe! Além do mais falando nisso eu percebo que você tem um sério problema
com avós né? – Se mostrando extremamente desconfortável com a colocação de William, Ariadna imediatamente
corta o assunto:
– Você pergunta demais, vai! Pula fora! Eu tenho mais o que fazer, vai lá lamber a fralda geriátrica do seu
avô! – William percebendo que tocou em um ponto obscuro de Ariadna, responde a expulsão dela de forma irônica
– “OOOOlha” o velho do saco... O Vovô proxeneta! (Risos)
Ariadna visivelmente irritada joga William do carro e vai embora, enquanto ele parece se divertir com a
raiva de Ariadna.

9
Capítulo 3:

Simon ainda não saiu do banheiro, e a essas alturas fica claro para Alice que ele está lá até o presente
momento de propósito:
– Alguém ainda vai precisar desse banheiro Simon, você vai ter que sair daí! Não estou te entendendo porquê
de você estar assim comigo do nada? Não me lembro de ter feito nada! – Só o silêncio é a resposta que Simon
consegue dar.
Não demora muito e seu João chega acompanhado do casal de cunhados (Dona Irene e seu Amácio) e das
filhas do casal, como um reencontro de parentes que vem de longe, não haveria de se faltar as apresentações
extensas e como sempre toda orgulhosa Dona Ida e seu João demonstram orgulho em falar dos filhos e netos ali
presentes, Dona Irene e Seu Amácio impressionados com o efeito da mudança de tempo, demonstram a surpresa de
encontrarem os sobrinhos já adultos e com filhos:
– Ah meu Deus como o Samir está um homem elegante, nem parece aquele sobrinho que arrepiava o cabelo
das tias e Helena cada vez mais linda, da última vez que nos vimos no seu casamento até agora só mudou pra melhor
e você Frida aquela boneca de porcelana agora tem duas bonequinhas então? – Frida já responde a tia mostrando
Debora e já sentindo falta da caçula, então imediatamente manda Debora chamá-la, Alice então não vê outra saída a
não ser acompanhar a irmã e deixar a campana em frente ao banheiro. Percebendo que a prima já não estava mais
por lá, Simon timidamente abre a porta e tenta passar pela cozinha para sair para a área externa da casa sem que a
prima o perceba, mas logo que o avista imediatamente Dona Irene esboça uma grande surpresa:
– Ah meu Deus! Não me digam que esse é o Samirzinho?... (Risos) Logo que bati o olho já sabia que era ele,
meu Deus João! É a cara do Samir, mas não deixa de lembra você o jeitinho tímido fechado! Ah venha cá meu anjo
a tia Irene quer te conhecer! – Ela vai logo abraçando Simon.

Samir chega à cozinha e é recebido pela tia com a surpresa da tia:


– Mas Samir que joia é essa? Mas é uma mistura de você com seu pai, os dois quando eram gurizinhos, é seu
mais velho? – Samir responde positivamente, mas já vai imediatamente enaltecendo a filha caçula que chega em
seguida! Julia então é quem ocupa os braços amigáveis da Tia a encantando com sua simpatia, mal sabendo falar,
percebendo que saiu do foco da conversa, Simon tenta sair porta afora e Alice vendo vai atrás, antes que saiam da
visão da cozinha William chega, Simon instintivamente abaixa a cabeça e tenta passar mas William entra em sua
frente, tentando desviar Simon não consegue pois o primo parece o encurralar, numa brincadeira sórdida que só
parecia ter graça para William. De longe Irene avista William que era alto e notável, logo ela pergunta de quem ele é
filho, Mama vai respondendo e William então decide finalmente deixar Simon e ir a cozinha, mas antes William
com o dedo indicador em frente a boca meio que disfarçadamente reforça a Simon o pedido de silêncio e vai. Simon
se dirige a escadaria que dá acesso a rua e senta em um degrau, logo Alicia senta ao lado e já vai dizendo:
– É ele né? – Simon imediatamente olha com os olhos esbugalhados para a prima como se naquela pergunta
percebesse que ela provavelmente sabia de tudo e ela continua –... O motivo do que aconteceu lá em cima é o
William, tá na cara! Mas o que ele fez pra te deixar naquele estado de quando eu te encontrei? Por qual motivo você
esconderia uma das várias patifarias do William? O que tem demais dessa vez? Tem algo a mais que você queira me
contar?
– Não é nada Alice, para de se meter na minha vida! Tá ficando muito chato isso sabia? Muda o disco, vamos
falar de outra coisa, você não tem mais o que fazer? – Diz Simon desconfortável tentando não demonstrar o
desespero em ter que esconder o ocorrido – ... Quer dizer que além de bocuda, você vai dar uma de lavadeira agora?
– Você por me conhecer muito bem, já deve imaginar que eu te daria agora mesmo um tapa bem cheio na sua
cara de te deixar essa carinha branca vermelha! E eu até daria se a forma como você está reagindo não fosse tão
estranha, você nunca me levantou a voz desse jeito! Então eu não sou sua amiga mais? Você não confia mais em
mim? – Antes que Simon abra a boca para responder Alice antecipa em tom ameaçador – ... Olha deixa de
cerimônia e me fala agora deixa de ser frouxo, o que é? Acha que eu vou sair contando pra todo mundo? Você sabe
como eu sou, nunca vou fazer nada pra te prejudicar!

10
– Alice... Você... Você me acha uma mulherzinha? ... Que eu sou muito delicado ou um maricas como
dizem?
– Ué! Mas por que essa pergunta agora?
– Me responde! – Diz Simon em um tom já um pouco exaltado.
– Bom Simon... A gente vive junto, as nossas brincadeiras, as coisas que você me diz, você sempre é alguém
que faz as mesmas coisas que eu nas brincadeiras, cozinha, até de boneca a gente brinca... Bom você tem que
concordar que igual aos outros meninos exatamente você não age, você não tem umas brincadeiras bobas igual o
Marcelo, o Lincoln, enfim, você sabe que a mesma coisa acontece com a minha irmã, mas isso não torna vocês dois
melhores ou piores que nenhum dos outros, na verdade eu acho que se você fosse igual aos outros eu e você nem
poderíamos ter essa amizade, e eu lembro uma vez que você me falou de um amigo seu do colégio de uma forma
que eu só tinha ouvido minhas amigas falarem quando elas comentam os paqueras delas e ... – Antes que Alice
continuem Simon começa a chorar e pede para que ela pare – Mas eu não estou te criticando, pra falar a verdade
nenhum de nós é igual primo, olha, por exemplo: O Lincoln sempre de nariz em pé por causa do xodó que o vô tem
nele, o Marcelo sempre fechado, grosso, e se acha o riquinho da família, minha irmã com esse jeitão dela meio
bronco, todo mundo até os mais velhos, não vê a tia Rebeca? Aprontando todas sempre levando sermão do vô, a Tia
Leona sempre chata e irritante com essas manias de igreja dela, até a sua irmã que é uma bebezinha ainda é toda
diferente de você! Que graça teria se a gente fosse igual? E além do mais Simon a gente é criança ainda, não é hora
de pensar nessas coisas, deixa que deem risada de você, eles vão rir agora e quando verem que isso não te atinge, vai
perder a graça e também se eu estiver por perto no que depender de mim, ninguém vai rir de você, “cê” me conhece!
– E se eu for uma bicha como eles falam? – Alice então surpreendentemente solta uma risada, beija o rosto
de Simon com todo o carinho o abraça e diz:
– Aí você vai ser a bicha mais feliz desse mundo, porque se você for, é porque você é livre pra ser o que te
faz bem e não porque alguém te mandou ser, aí você vai ser a minha “bicha-loca”... – Simon acha graça se sente
mais aliviado e acaba timidamente, quase que sem querer soltando uma risada que deixa Alice contente – Olha aqui!
Eu te amo muito viu? E estou do seu lado sempre, sempre! Você não está sozinho!
– Mas tem uma coisa aí que você disse que não está totalmente certa, você também é o xodozinho do vô
João!
Os dois começam então a rir e mudar de assunto até que uma das duas filhas dos Tios Amácio e Irene chega e
se apresenta para eles, percebendo o clima bem humorado dos dois Joanne então começa a querer saber mais sobre
eles, é então que iniciam uma conversa. Joanne é uma jovem moça, amável e tão simpática que a conversa entre eles
parece de pessoas que já se conhecem a muito tempo, horas se passam e os três já se consideram grandes amigos,
tamanha a química e o entrosamento entre eles, tudo vai bem até que William passa pela calçada como se estivesse
indo para a rua e quando os vê resolve então se apresentar a Joanne, visivelmente interessado William não mede
esforços em jogar explícitos galanteios a jovem:
– Então primos! Não vão me apresentar a nossa prima? Que tipo de hospitalidade é essa crianças?
Vendo a indiferença nos olhos de Alice e principalmente a mudança no semblante de Simon, Joanne percebe
que William não parece ser tão bem vindo à conversa, quanto a sua suposta simpatia aparenta, um pouco sem graça
ela responde:
– Primo William não é? Eu ouvi sua mãe te apresentando na cozinha, eu sou Joanne!
– Joanne! Um lindo nome é inglês?
– Pode ser que tenha na Inglaterra, mas meu pai tem descendência francesa.
– Olha! Que chique! Então, agora que já me conhece espero que a gente possa vir a ter muitas conversas
agradáveis durante a sua estadia, como essa conversa que você está tendo com eles, você deve mesmo ser uma
companhia muito agradável, dá abertura até pra crianças né? Não é todo mundo que tem paciência. Bom, estou indo
visitar um amigo, mas já volto, não quer me acompanhar? Assim já fica conhecendo um pouco da região. Aqui é
uma das regiões mais altas da cidade daqui da pra ver a zona oeste inteira de Curitiba praticamente, isso aqui no
réveillon é uma loucura, fogos pra todo lado... – Antes que William conclua e Joanne o responda, Helena aparece
para chamá-los para o jantar.

11
Joanne pede licença e entra, William vai em direção à rua e antes Helena o pergunta se não vai jantar, ele
pede para que ela avise a Mama para guardar um prato no forno, pois volta mais tarde. Helena então pede a Simon e
Alice que não demorem e então entra, William totalmente à vontade e com seu ar sempre irônico manda um beijinho
para Alice e Simon e sai em seguida rindo. Esse fato leva Alice a perceber novamente o desconforto de Simon e
decidida a ter a resposta do primo, toca novamente no assunto da cena que presenciou, Simon novamente
incomodado então responde com outra pergunta:
– Por que você está insistindo com isso? Você não vê que não quero falar disso, me incomoda?
– Dói, mas eu preciso saber Simon, primeiro porque você precisa desabafar eu estou vendo que isso está te
machucando e depois que você do nada perguntou sobre você ser ou não o que me deixou mais preocupada, porque,
eu não imagino o que uma coisa possa ter a ver com a outra, falar besteira o William fala o tempo todo. É o quê? Ele
tá te roubando alguma coisa? Descobriu algum segredo seu e está ameaçando espalhar? Mas isso não faria sentido,
por qual motivo o vômito? Ele te obrigou a comer algo que você não gosta ou te fez pôr alguma coisa podre na
boca? Simon... Sei lá ele te beijou então? Deus me livre, mas é... – Simon então numa reação explosiva acaba não
aguentando e interrompe Alice falando pela primeira vez sobre o assunto:
– Ele tem me tocado! – Um silêncio paira pelo ar, Alice então se cala e parece não ter palavras, é então que
eles se dirigem a um local mais afastado para não correr risco de que ninguém os ouça e então ele continua ...
– Eu não sei direito o que falar porque nem eu sei o que acontece direito, mas é isso... – Imediatamente Alice
interrompe, e sua expressão não poderia ser outra a não ser de um misto de espanto e confusão.
– Como assim te toca? Ele te bate? Ele... Ele... – Alice então olha para o primo e o desespero começa a tomar
conta de seu semblante quando começa a perceber o que está se passando –... Não... Não esse cara é nojento, é ... Eu
não posso acreditar que é o que eu estou imaginando, você vai ter que ser mais específico, porque eu não sei nem se
a gente tem idade pra pensar sobre isso Simon! Ele te toca como um tarado ou...
–... Eu não sei que palavra eu falo Alice, sabe é... É como namorados se tocam, como adultos...
– Ele te beija? Te acaricia? Te...
– Não, não na boca sabe é como se eu fosse um objeto, um brinquedo dele, eu... Eu não...
– Meu Deus então é isso, claro, por isso você me perguntou se parecia aquilo, pela forma como ele te trata!
– Não, não é só isso Alice, sabe, eu já ajo assim desde sempre, mas não sei talvez, por agir assim eu tenha
chamado atenção ou... Eu não sei te explicar Alice, mas eu tenho nojo, eu me sinto sujo o tempo todo é como se eu
ficasse paralisado eu não consigo fazer nada eu tenho medo...
–... Lógico! Um baita monstro daquele tamanho Simon como você vai fazer alguma coisa? Você está se
culpando é isso? – Ele não responde apenas abaixa a cabeça, tudo o que Simon mais quer é deixar de tocar nesse
assunto, pois é como se ele estivesse confessando um crime no qual foi inserido e tem parte determinante da culpa
–... Para! Você não tem nada a ver com isso, isso não é sua culpa, você não pediu por isso Simon, esse... Esse lixo
precisa de uma lição, a gente tem que fazer alguma coisa, eu vou agora mesmo chamar a Tia Mama ele... – Simon
então a interrompe desesperadamente!
– Não! Pelo amor de Deus Alicia, eu não ia te contar, eu tenho medo e vergonha, você sabe como eles são,
vão me culpar! Meu pai vai me bater e também o William pode acabar comigo!
– A gente é criança Simon! Pelo amor de Deus isso é sério! Eu não posso ficar quieta ouvindo você me dizer
isso, eu vi na TV que isso é crime!
– Mas ele não é nem maior de idade e quem vai acreditar que eu não estou aceitando?
– Simon você tem ideia das coisas que está me dizendo? Você já parou pra se ouvir falando?
– Não Alice! Eu te imploro pelo amor de Deus! Não! Eu já não tenho tido dias muito bons, isso pode piorar
tudo.
– E então o que vamos fazer? Vai ficar tudo como está? É isso?
– Me prometa que não vai dizer a ninguém Alice? Por favor! – Diz Simon em prantos.
– Deixe de ser frouxo Simon, aja, isso é covardia!– Você não sabe! Não é você, você não passa por isso, você
é a queridinha de todo mundo, todo mundo da atenção pras coisas que você fala, mas eu não Alice, eu não tenho
nem como me defender e como você disse a gente é criança, como a gente vai fazer alguma coisa, se alguém souber
a corda pode arrebentar pro lado mais fraco!
– Eu não tenho sangue de barata!
– Por isso eu não devia ter te contado!
– Fraco! Você é um trouxa Simon! – grita Alice chorando, deixando o impulso tomar conta de suas atitudes,
mas o que fazer? Como devem agir duas crianças que de pontos diferentes convivem com uma situação assim?

12
Simon então a deixa e chorando se dirige a pracinha, procura um lugar afastado e na grama senta.
Ali mesmo, em frente à vista da cidade que o alto do morro o proporciona, Simon consegue sentir a brisa
daquela noite clara e enluarada de verão que acabara de chegar acariciando seu rosto e balançando seus lisos cabelos
negros, era como estar no colo de alguém, mas sabendo que está sozinho, não só no estado físico, mas na vida, nas
decisões, sem ter a quem recorrer, só à paz daquele silêncio, daquela brisa que conseguem acalmar seus ânimos,
como se uma música tocasse ao fundo, a trilha sonora de um dos momentos mais insólitos de sua vida, tão jovem e
tendo que se deparar com decisões tão pesadas. O que fazer? Estaria então Alice certa? Mas e os pais e a família? E
as tardes de TV que o faziam viajar para outra realidade? A liberdade de brincar com os amigos à tardinha? Seria
então necessário se privar disso tudo, para passar parte da sua infância com os avós maternos, sob um regime quase
que militar? É então que ele decide conversar com Deus, pedir uma ajuda, fazer sua prece, pedir ajuda, uma luz, que
isso tudo passe, que tudo acabe.

Alice está na sala, chorando e ao mesmo tempo pensativa, quando Julia com seu vocabulário recém formado
de criança aparece para chamá-la para jantar, percebendo as lágrimas, inocentemente Julia pergunta se Alice está
machucada, pois está chorando, Alice tenta se recompor para que ninguém perceba, paparica um pouco a prima e
vai até a copa para o jantar, lá estão todos rindo, relembrando historias do passado, um típico jantar em família
alegre e bem humorado, característico da família Sampaio. Frida então nota a seriedade no rosto da filha, Helena
pergunta então de Simon:
– Onde está o Simon, Líh? Já estamos quase nos retirando da mesa e vocês não vem! Essas crianças, até
parece que não se veem há anos!
– Ele deve ter ido trocar as figurinhas do álbum dele, tinham uns meninos da escola na praça chamando ele!
– Mas na hora do jantar? E você? Vivem grudados, por que não está com ele?
– A porque eu estou com fome tia e também é muito chato falar de figurinhas.
– Pela sua cara, parece que brigaram! – Diz Frida demonstrando a percepção da mudança de humor da filha.
– Não mãe, eu só não gosto dos amigos do Simon só isso.
– Que coisa mais linda né? Os primos todos juntos amigos, como irmãos! Me lembra vocês quando crianças
aprontando todas quando se juntavam, lembra Ida? – Diz a Tia Irene se referindo aos pais das crianças.
– Eu que sei minha irmã... – Responde dona Ida aos risos –... Esses meninos botavam essa casa abaixo, Samir
então... O Simon tem a quem puxar. O menino pra ser arteiro!
– Era sempre ele o arquiteto das estripulias. Não é seu Samir? – Diz a tia Irene virando os olhos para Samir,
que aos risos responde.
– O Pior era levar a bronca até quando eu não estava envolvido no “crime”!

Logo que vê William chegando, Mama então o chama para que se sente a mesa para jantar, William senta ao
lado de Alice que mal consegue olhar em seu rosto. Ela sabe de sua raiva e então temendo não aguentar tenta se
segurar e manter a pose. William que nem imagina que a prima está a ponto de lhe voar no pescoço, mantem seu
jeito irônico, despreocupado e provocador, durante o jantar ele tenta a convencer de trocar de lugar com ele sem que
ninguém perceba para que fique ao lado de Joanne, ela nem sequer o responde e é então que ele passa a provocá-la
cochichando insultos, puxando o cabelo por trás da cadeira. Alice tenta se controlar, mas sua pele fica vermelha, o
sangue lhe sobe a cabeça, pois William parece notar que todos estão muito entretidos com a conversa e sequer se
ouve um segundo de silêncio, Joanne passa a notar o comportamento estranho dos primos e antes que sequer tire
qualquer conclusão é surpreendida com a explosão de Alice que imediatamente levanta da mesa e sem que ninguém
tenha tempo de esboçar qualquer reação, surpreende William com um grande tapa no rosto e completa:
– Seu porco imundo!
Um grande silêncio se instaura na mesa, sem reação, todos se olhando, surpresos. William se então
totalmente constrangido, quebra o silêncio perguntando a Alice se ela está maluca. Frida se levanta extremamente
decepcionada e furiosa com a filha, mas antes que saia do lugar é puxada de volta a sua cadeira pelo Tio Amácio
que tomado de seu espírito esportivo, bem humorado e sereno diz que se trata apenas de uma briga de primos, Irene
então completa entrando na investida do marido e tentando quebrar o clima dizendo que eles mesmos quando jovens
faziam coisas piores, Mama então repreende William a mesa, dizendo que apesar de ser um rapaz de ouro não
perdeu o seu lado criança de ser e vive provocando os primos mais novos, logo a conversa volta ao normal, mas os
olhares de Frida para William e Alice são perceptíveis, é então que Lino cochicha em seu ouvido a repreendendo a
esposa e pedindo para que deixe para resolverem esse problema em casa.
Alice decide se retirar da mesa, William permanece na mesa, tentando disfarçar o constrangimento e fugindo
dos olhares da tia, é então que ele decide puxar um assunto com Joanne e pergunta se ela gosta de ouvir música e é a
irmã dela Clara quem responde:
– O forte da Jô é mais conversar mesmo, mas eu amo! Principalmente se é uma música bem animada.
– Que ótimo eu tenho um som maravilhoso aqui em casa...
– Ele tem essa mania de achar que todo mundo é surdo e deixa o som pra rua inteira ouvir! – Diz Débora que
junto dos outros primos resolve participar da conversa.
William que não gosta nem um pouco da intromissão da prima, propõe a Joanne e Clara que se dirijam a sala
de TV que fica no andar de cima e como a casa é muito grande, podem deixar o som alto que dificilmente vai
incomodar os mais velhos, Joanne então responde com um sorriso no rosto e visivelmente sarcástica.
– Ótimo! Podemos ir todos nós então, que tal? Uma baladinha!

13
Todos adoram a proposta e então seguem para a sala de TV, os adultos encerram o jantar, os homens vão
para a área de lazer e a mulheres para a sala de estar, Dona Ida pede aos netos para tomarem cuidado e não fazerem
muita bagunça.
Na sala de TV percebendo que vozes se aproximam, sem que ninguém perceba Alice desliga a TV e sai de
mansinho em direção ao corredor dos quartos e presta atenção quando William liga o som da sala em volume alto,
Clara imediatamente começa a dançar, contagiando os demais. Alice percebe que todos estão distraídos e com a
altura do som, ninguém deverá notar a sua presença. É então que ela olha para a escada que dá acesso aos quartos do
terceiro piso que são os quartos de Mama e seus filhos. Logo uma ideia parece ter lhe passado pela cabeça.

A noite segue e algumas das crianças que brincavam na praça e no campo de futebol já se recolhem, e Simon
parece não ter notado a passagem das horas. Logo então é surpreendido por uma voz feminina chegando por trás:
– Treinando pra virar planta é?
– Tia Rebeca? – Diz Simon reconhecendo a voz da tia.
– O que faz aí todo tristonho? Cadê a Alice?
– Ela deve estar jantando e eu “tô” aqui pensando num problema.
– Ah, até parece que você tem idade pra isso piá, deixe de ser bobo, vamos, entra comigo que eu estou
morrendo de fome e aposto que você também, venha! – Responde ela toda animada como sempre – Problema... Se
você tivesse idade eu te levava pras danceterias que eu vou, nada que um “Tuch Tuch” não resolva, vamos que
depois do jantar eu vou te ensinar uns passinhos, logo vai passar essa cara emburrada, já ouviu falar do quadrado?
Vou te ensinar a dançar quadrado! – Diz Rebeca que não sabe se dança, anda ou abraça Simon que se diverte com o
jeitão descontraído da tia.
Logo que chega Rebeca já vai logo cumprimentando os tios e os contagia com seu bom humor, mas sabendo
que a situação não está nada favorável para o seu lado, já que os pais não estão nada contentes com o seu sumiço, é
então que mesmo num tom mais leve Dona Ida repreende a filha:
– Essa aí virou visita também sabe Irene? É... Esqueceu que tem casa vive nas danceterias, na casa de amiga,
aí vez ou outra aparece aí pra “turistar”.
– Deixa eu ir comer, senão vou levar cintada aqui mesmo – Diz Rebeca arrancando risos da tia e das demais,
mas deixando Ida visivelmente incomodada – ... Helena, achei seu filho largado lá na praça todo jururu, triste,
chorando e trouxe ele pra comer, sequinho do jeito que tá, se bate um vento forte ele parte em dois ou sai voando
Curitiba afora mulher!
– Mas por que isso Simon? A Alice disse que você estava na casa de um amiguinho, ué! O que houve? –
Pergunta Helena preocupada com o filho, mas é Rebeca quem responde:
– Deixa, a gente vai bater um pratão agora, meto macarrão nele e depois vamos gastar as energias no “Tuch
Tuch”, vou ensinar uns passinhos, vai ver só, vou deixar o chão aquela sala brilhando só na base da dança!
Rebeca se retira, andando e dançando, Ida não se rende as graças da sua caçula e pergunta a Irene:
– Quem é que aguenta Irene? Diz se isso tem juízo na cabeça?
– A mas é isso que é gostoso nos jovens minha irmã, essa disposição essa alegria, sede de viver!
– Disposição, Alegria, sede de viver e muito trabalho pros pais né? Deixa o pai dela ver que ela chegou!
Por um momento, Frida, Mama, Helena e Iara se olham, como se algo as tivesse chamado atenção no
comportamento de Rebeca.

Alice está no quarto de William e começa então a por em prática a sua vingança, começa pelos quadros na
prateleira que vão todos ao chão, depois parte para os troféus de William, sua raiva é tanta que a sensação é de que
tudo nesse momento acontece em câmera lenta, sem medir esforço algum Alice se empolga com um misto de raiva e
o embalo do som que toca, até que não sobre nada inteiro.
Na copa, percebendo que uma balada está rolando no andar de cima, Rebeca que acaba de terminar o jantar
comenta com Simon:
– “Ta” ouvindo? É o “Tuch Tuch” rolando solto Simon, bora!
Ela já chega na sala dançando e animando ainda mais o clima, Simon chega atrás todo tímido. William então
percebendo que Alice não está com Simon, então tem a certeza de que ela deve estar sozinha e aos poucos deixa a
sala de TV, partindo a procura da prima, logo que chega ao final do corredor do segundo piso e se aproxima da
escada percebe um barulho vindo do seu quarto e corre até lá. Logo que chega se depara com seu quarto todo
bagunçado e suas coisas no chão quebradas.
– Mas que merda é essa no meu quarto sua vaquinha?
Visivelmente tomada pelo ódio Alice não se detém com a chegada do primo e continua, quando vai então em
direção a TV ele corre, a segura pelos braços numa mão e pelos cabelos na outra, ela imediatamente responde o
empurrando.
– Tira a mão de mim seu monstro, tarado, pedófilo, porco!
– Eu não sei o que te deu sua “faveladinha” barraqueira, mas sua mãe vai ficar sabendo disso agora!... Não...
Antes eu vou te dar uma lição!
– Vai! Chama ela, seu desgraçado, aposto que se ela souber da barbaridade que você vem fazendo, ela até me
ajuda a quebrar mais!
– Do que é que você “tá” falando seu travesti de terreiro?
– Dos abusos que você tem feito contra o Simon, vai negar? Vai olhar na minha cara e negar? Seu pervertido!

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– Abaixa a bola agora, vai ficando quietinha, porque senão eu vou te machucar, você já “tá” na minha lista
negra faz horas, seu cabelo de ralar sabugo!
– Continua! Além de pedófilo, tarado, você ainda é racista né? Seu verme!
– Tá bom! O que é que você quer?... Eu “tô” perdendo a minha paciência com você Alice, você é só uma
pivetinha mimada, não tem a menor ideia de com quem está se metendo, tá brincando com fogo!
– Pra começar eu quero que você nunca mais encoste um dedo no Simon, de preferência fique bem longe
dele!
– Filho de uma quenga! Eu vou... Olha aqui Alice, vaza do meu quarto! Antes que eu te...
– Vai fazer o que?... Vai me bater? Eu aposto que se eu descer agora mesmo e contar tudo pra todo mundo,
você está perdido meu filho! Não vive dizendo que eu e o Lincoln somos os xodozinhos do vô? Então você acha que
ele não vai acreditar em mim quando eu disser? Quer pagar pra ver?
– Você, tá me ameaçando capitão caverna? Você não tem nem um metro e meio ainda e acha que tem moral
pra me intimidar? Tá pensando que é quem? Você nem saiu das fraldas ainda!
– Experimenta me desafiar! Você tá na minha mão William! Ou você para de violentar o Simon ou eu não
vou ter nenhum trabalho em te destruir com uma só frase lá embaixo, você vai me prometer isso agora e nunca mais
vai se referir a mim com esses xingamentos racistas, eu posso ser nova, mas eu estudo seu babaca eu sei o que é
isso!
– Me desafia de novo e eu mato a bicha do seu priminho! Quer pagar pra ver? – Alice já quase a ponto de
partir para a agressão física novamente, quando então William finaliza –... Você tá é com inveja né? Ele gosta que
eu sei... É o que? Vai querer também? – Mau termina de pronunciar a frase e William é surpreendido novamente
com outro tapa, em seguida Alice voa em seu pescoço, mordendo, puxando seu cabelo, o estapeando, perdendo
totalmente o controle.

William então empurra Alice e a joga contra a cama, levanta a mão para surrá-la e sem perceber que o som
tinha parado de tocar é interrompido por Rebeca que grita logo que se depara com a cena:
– Vai bater nela William?... Bate!... Mas vai ter que bater na minha frente!... Quero ver se você tem coragem!
– William sem reação, abaixa a mão e Rebeca continua –... Vocês vão ter que ter muita desenvoltura pra me explicar
exatamente o que está acontecendo aqui? Por que essas coisas todas quebradas William? ... É o que? Vai começar a
fazer igual o canalha do seu pai fazia? Bater em mulher?

Na sala de estar, Mama então avisa que deixou o café passando e que vai buscar. Frida e Helena se oferecem
para ajudar a servir e se dirigem a cozinha. É então que elas comentam a animação um tanto quanto acima do
normal de Rebeca:
– Ela sempre foi espevitada, animada, mas parece estar um pouco fora do normal – Diz Helena.
– Não gostei nenhum pouco, viram os olhos? Vermelhos iguais a um pimentão! Só pode ser o que a gente tá
imaginando – Rebate Mama que é interrompida por Frida
–... O pai e a mãe não merecem isso gente! Tá na cara que ela está sob efeito de drogas!... Era só o que
faltava, além do Silas agora a Rebeca!
– A, mas eu vou botar essa menina contra a parede vocês vão ver! Ela vai me dizer direitinho o que ela anda
aprontando!
Helena percebendo a gritaria vindo de cima as interrompe e preocupadas elas sobem para saber o que está
havendo.

Enquanto no quarto de William as coisas parecem estar à beira do caos:


– Essa menina me provoca! Me tira do sério Beca! Só porque eu fiz uma brincadeirinha na hora do jantar ela
veio aqui e quebrou todas as minhas coisas, olha só os meus troféus! – Responde William tentando contornar a
situação.
– Mas uma brincadeirinha não ia resultar nisso aqui William! Você vive importunando essas crianças! –
Logo Rebeca volta seus olhos para Alice e decide questioná-la – O que aconteceu aqui Alice? Me fala, porque eu
não sei se eu “tô” “doidona” demais ou eu “tô” imaginando coisas! E dependendo do que a minha intuição está me
dizendo, quem vai ficar “loucona” e voar no William aqui sou eu! – Alice então imediatamente responde.
– Não é nada do que você está pensando Beca! Não comigo. Acontece que esse porco imundo... –
Imediatamente Simon aparece na porta do quarto e com os olhos arregalados e fixados em Alice, o que faz lembrar-
se da promessa que ele havia pedido de não contar nada e é por consideração a Simon e percebendo o desespero
dele, Alice resolve seguir a linha de resposta de William –... Ele fica me chamando de cabelo de pixaim, fica o
tempo todo me incomodando, me ofendendo, então eu resolvi incomodar ele também!
É então que Frida, Helena e Mama chegam e se deparam com a situação:
– Mas que tragédia grega é essa aqui minha gente? Pelo amor de Deus! – Diz Mama consternada, sendo
respondida por Rebeca.
– São seus filhos que vão ter que explicar. Cheguei aqui e a Alice estava voando no pescoço do William que
só não esbofeteia a menina porque eu cheguei!
– Não é bem assim Beca! – William rebate.

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– Como é que é William? – Diz Frida, visivelmente exaltada –... Eu ouvi direito?... Você um marmanjo desse
tamanho ia levantar a mão pra uma menina de dez anos? Essa implicância de vocês já passou dos limites, vocês vão
dizer o que está acontecendo agora!
– Poxa William! Meu filho, não me envergonha desse jeito! Você sabe o que eu passei na mão do seu pai,
deu pra agir igual a ele? Eu não te criei pra isso! Você não é mais criança William! Será que eu vou ter que te dar
uma surra na frente de todo mundo? Um homem desse tamanho!
– Vocês estão fazendo uma tempestade em copo d’água, eu não ia bater nela, eu só perdi a cabeça mãe, olha
o que ela fez com o meu quarto! – Diz William que antes que prossiga é interrompido por Rebeca:
– Eu chego e vejo essa zona toda a Alice se engalfinhando com o William, cheguei até a pensar besteira. Pelo
menos a Alice me disse que o William não fez nada demais contra ela. Contra ela não, mas contra quem? Você ia
dizer outro nome Alice?... Não ia?
– É o Simon! – Reponde Alice de supetão.
– A claro, tinha que ter ele no meio não é? Eu sabia, era por isso que ele estava quieto! – Diz Helena que é
interrompida por Alice.
– Ele não fez nada Helena, vocês sabem que o William também importuna o Simon, só que o Simon é um
bocó e não tem boca pra nada. E se você parasse de ficar botando tudo nas costas do Simon ia perceber isso também
Helena! – Frida então imediatamente rebate a filha:
– Chega Alice, não sei o que te deu, mas você já fez demais por hoje! Ainda bem que os outros não ouviram
essa baixaria, já basta o escândalo na mesa de jantar, você vai ficar do meu lado até a hora de ir embora e lá em casa
nós vamos ter uma seria e longa conversa, dessa vez com o seu pai junto!

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