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Título original: The Daring Duke

1797 Club book1


Copyright © Jesse Petersen, 2016
Copyright da tradução©2022 Leabhar Books Editora Ltda.

Editor: Tereza Rocca


Tradução: Regiane Moreira
Revisão: D. Marquezi
Diagramação e Capa: Labellaluna Web®

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O .
Quando tive a ideia para a série Clube 1797, em fevereiro de 2016,
começou como uma brincadeira entre amigos escritores de romances
históricos. - Por que não uma série com TODOS DUQUES? - brincamos,
durante uma conferência.
Quando o fim de semana acabou, já tinha traçado um conceito de
série. Agora, no último ano, isso se desenvolveu um pouco, mas tenho o
prazer de apresentar a vocês esta série de dez livros, sobre um grupo de
amigos que prometem ajudar uns aos outros, pois cada um herda um dos
títulos mais altos do país. Eu me apaixonei por esses homens, esses irmãos
em espírito, e espero que amem cada um deles e suas heroínas ferozes e
briguentas também.
Aproveitem!

PS – Junte-se ao Clube!
www.1797Club.com
Primavera de 1797
J Rylon enrijeceu enquanto observava seu pai atravessar o gramado da
Academia Braxton em sua direção e de seus dois melhores amigos. Seu
coração começou a acelerar, sentiu o sangue sumir de seu rosto. As visitas
mensais do duque de Abernathe eram algo que temia imensamente.
— Ele sempre parece tão zangado. — murmurou Graham, o melhor
amigo de James.
James engoliu em seco, se esforçando para não permitir que o medo
entrasse em seu rosto. Aos quatorze anos, não gostava de mostrar esse tipo
de fraqueza, mesmo para seus melhores amigos. — Ele está sempre
zangado. — sussurrou.
Seu outro melhor amigo, Simon, balançou a cabeça. — Faz com que
eu aprecie um pouco mais meu próprio pai. Basicamente me ignora.
James mordeu a língua, sem vontade de dizer o que estava em sua
mente. Não querendo deixar uma rachadura entrar em sua voz, quando
admitiu que seu próprio pai o desprezava.
O duque de Abernathe finalmente os alcançou e fez uma careta para o
filho. — Pulham.
James se encolheu. Desde os dez anos, seu pai insistia em chamá-lo
pelo título de cortesia. Mas ele não era o conde de Pulham. Era James. Sua
irmã o chamava de James. Quando sua mãe estava sóbria o suficiente para
estar acordada, o chamava de James. Todos os seus amigos e professores o
chamavam de James.
O título parecia um jugo que seu pai colocou em seu pescoço. Um
peso que mal podia suportar com seu corpo magro.
— Pai — respondeu.
Seu pai recuou e deu um tapa no rosto de James, com força suficiente
para que, por um momento, James visse estrelas diante de seus olhos. Não
conseguiu conter um suspiro humilhante de dor quando levantou a mão para
cobrir sua bochecha ardendo.
— Deve me chamar de Vossa Graça ou Abernathe, ou, no mínimo,
senhor. — Seu pai balançou a cabeça. — Está velho demais para essa
bobagem do pai.
James assentiu. — S-sim, Vossa Graça.
O duque, rapidamente, olhou para seus amigos, e James fez o mesmo.
Simon virou o rosto e estava olhando fixamente para um ponto distante.
Graham, por outro lado, estava parado ereto, mãos fechadas em punhos ao
lado do corpo, olhando para o pai de James. E sendo o único que tinha
começado a desenvolver-se no corpo de um homem, era uma visão bastante
intimidante.
Mas Abernathe apenas riu do desafio no olhar do outro garoto. —
Cuide-se, rapaz. Ainda não é duque.— Voltou sua atenção para seu filho. —
Venha, Pulham. Caminhe comigo.
James engoliu o nó na garganta e o fez, entrando no caminho, ao lado
de seu pai, enquanto davam sua volta mensal ao redor do jardim, atrás da
Academia Braxton. Como sempre, seu pai não perguntou a seu respeito ou
seus estudos. Simplesmente fez perguntas, algumas sobre a Câmara dos
Lordes, outras sobre administração de propriedades, outras sobre títulos. E,
como sempre, James gaguejou respostas, a maioria delas erradas, enquanto
seu pai gritava e ameaçava.
Quando a visita habitual, de um quarto de hora, terminou, Abernathe
parou e virou-se para olhar para James.
— É inútil. — Disse o pai, com um aceno de cabeça. — Nem todos os
meus filhos foram fracassos. Uma pena que aquele que vai levar o meu
título é. Bom dia, Pulham.
Deu meia-volta e foi embora sem olhar para trás. James o encarou,
seu peito se contraindo com uma combinação de raiva, mágoa e culpa.
Lágrimas ardiam em seus olhos e se inclinou pela cintura, respirando
superficialmente, enquanto tentava lutar contra elas. Lute contra a fraqueza.
Faça-a ir embora.
O sino na porta estava sendo tocado, sinalizando que tinha chegado a
hora de cessar o esporte e o exercício e retornar às aulas. James soltou um
grunhido doloroso. Tinha que voltar. Teria que enfrentar todos os outros em
suas aulas, seus professores. Eles veriam sua fraqueza. Aquela que
costumava esconder com bom humor e brincadeira.
A fraqueza que o apodrecia por dentro, onde ninguém podia ver.
— James?
Ficou tenso, endireitando-se com a menção de seu nome. Virou-se
para encontrar Simon e Graham parados a poucos metros de distância.
Enxugou os olhos, o calor cobrindo suas bochechas por terem-no visto em
tal estado.
— O quê? — Gritou, muito mais alto e com mais urgência do que
deveria.
Simon o encarou por um longo momento, então se aproximou e
passou um braço em volta do ombro de James. — Vamos. Vamos fugir para
o riacho.
O rosto de Graham se iluminou. — Oh sim, vamos! Não quero ouvir
o velho Comey zumbindo sobre os números durante a próxima hora e meia.
Prefiro muito mais pescar.
James assentiu. — Tudo bem.
Começaram a se afastar da escola, atravessando pelo jardim, passando
por um ponto baixo no muro que o contornava e saindo para o campo que
cercava a Academia Braxton. Estavam andando por mais de cinco minutos
antes que alguém falasse.
— Por que ele é tão cruel contigo? — Graham perguntou.
Humilhação fluiu através dele. Passou a vida inteira tendo seu pai
discutindo com ele na frente dos outros, mas nunca na frente de Graham e
Simon. Gostava dos dois garotos - se tornaram amigos rapidamente, junto
com um grupo de outros, desde que começou na Braxton Academy, no ano
anterior. Havia prosperado na Academia, fora da sombra de seu pai, longe
de sua casa, onde se sentia tão indesejado e não amado.
— Ninguém mais o viu ou ouviu. — Graham assegurou. — Simon e
eu simplesmente os seguimos. Estava preocupado.
— Preocupado com o quê?— James sussurrou.
— Que ele pudesse voltar a te bater. — Graham disse, desta vez com
os dentes cerrados.
Simon lançou um olhar ao amigo antes de dizer: — James, o que ele
quis dizer quando disse que nem todos os seus filhos eram fracassos? Não
tem irmãos, não é?
James respirou fundo quando subiram uma colina baixa e alcançaram
o riacho na borda externa da propriedade da escola. Enquanto Graham
cavava atrás de uma árvore em busca das varas de pescar escondidas ali,
James ponderava sobre sua resposta.
Nunca se sentiu seguro para discutir sua dinâmica familiar. Eram
complicadas e feias. Mas com esses dois garotos, sabia que poderia ser mais
aberto. E, no momento, estava exausto demais para ser qualquer coisa
menos que isso.
Sentou-se na beira do riacho e olhou para a água borbulhante
enquanto dizia: — Eu tinha um irmão mais velho, quinze anos mais velho.
Um meio-irmão, Leonard. Nunca o conheci, no entanto. Ele morreu antes
de eu nascer. Foi por isso que meu pai se casou com minha mãe, para
produzir outro herdeiro.
Simon o encarou. — Como ele morreu?
— Um acidente — James disse com um encolher de ombros. — Meu
pai não fala dele, exceto para fazer comparações comigo. E nunca ganho.
Aparentemente Leonard era perfeito, entende.
— Então é o substituto? — Graham disse enquanto entregava uma
vara, agora pronta, com uma minhoca no anzol.
James se encolheu e Simon estendeu a mão para dar um tapa no braço
de Graham. — Droga Graham.
Graham o olhou. — Não falo para ser cruel.
— E está certo, de qualquer maneira. — disse James, enquanto jogava
sua linha nas ondas. — Não sou o herdeiro, sou o substituto. Meu pai nunca
me perdoará por isso.
— É por isso que é tão cruel — Simon disse suavemente.
Os meninos ficaram todos em silêncio por um longo tempo, e então
James deu de ombros. — Não é justo. Desprezou-me desde o momento em
que nasci, por não ser Leonard. Na verdade, despreza a todos nós, incluindo
Meg e mamãe. Não somos a família que queria e deixou isso claro desde
que me lembro. Me odeia tanto, nem me ensina o que preciso saber, então
grita comigo por não saber. — Balançou a cabeça. — Não faço ideia de
como ser um duque.
Simon suspirou. — Eu faço. É tudo o que meu pai fala comigo, sobre
como, um dia, ser o Duque de Crestwood.
Graham assentiu. — Eu também recebo regularmente palestras do
Duque de Northfield. As minhas até vêm em forma de carta.
Simon e Graham trocaram um sorriso, e então os olhos de Simon se
arregalaram. — Espere, e se o ajudarmos, James?
James o encarou. — O que quer dizer, me ajudar?
— Se ele não vai te ensinar, por que não podemos? — Graham disse,
endireitando-se, enquanto seguia o plano de Simon. — Poderíamos formar
um pequeno grupo, um clube.
— Um Clube de Duques? — Simon disse, os olhos revirando. —
Bem, isso não é um pouco banal?
— Existem alguns garotos na nossa classe que vão ser duques. —
disse James, deixando sua vara de lado e se levantando. — Ali estão
Baldwin... Lucas...
— Hugh... não Hugh o futuro barão. Hugh, filho do duque de
Brighthollow — Graham acrescentou. — E outros mais nas classes logo
abaixo e logo acima da nossa.
James esfregou seu queixo. Todos estes rapazes, com seus
conhecimentos, ajudando uns aos outros, enquanto se preparavam para
assumir o que era o título mais alto da terra sem ser da realeza... a simples
ideia lhe dava esperança.
— Não podemos chamar de Clube dos Duques — disse James. —
Simon está certo, é bobagem. Mas gosto da ideia de nos unirmos. Nossos
pais conseguem ser tão inúteis..., mas, juntos, poderíamos ser mais fortes e
melhores do que eles.
Simon sorriu. — Eu certamente gosto dessa ideia. Mas se não for um
Clube dos Duques, como o chamaremos?
James pensou por um momento, depois sorriu. — Clube 1797. Por
seu ano de fundação, neste lado do riacho.
Graham inclinou a cabeça. — Gosto disso.
James soltou uma risada, a dor da rejeição de seu pai desaparecendo
pela primeira vez, graças à excitação do plano deles. Andou à beira da água,
sua mente correndo.
— Haverá muito o que fazer. Precisamos descobrir quem convidar. E
o que fazer. Onde nos encontraremos...
Simon riu. — Bem, primeiro tem um peixe na linha. Pegue-o e então
conversamos.
James pulou para a vara e começou a arrastar o peixe para fora. Mas
não se importou com a fera se contorcendo. Só se importava com os planos
que ele e seus amigos colocaram em movimento.
1810
U das festas mais exclusivas e caras, que já havia aberto uma Temporada
em Londres, estava acontecendo ao redor de James Rylon, Duque de
Abernathe. Uma animada orquestra, e animadores que flutuavam pelos
corredores, fazendo mágica e outras façanhas de fantasia. Havia bons
parceiros para dançar e, pela primeira vez, o vinho não era diluído.
Sentia-se totalmente, completamente e insuportavelmente entediado.
Oh, sorria e conversava, e todos sempre o chamaram de "a vida de qualquer
reunião".
Mas estava entediado.
Agitou-se quando um grupo de damas se aproximava, sorrindo atrás
de seus leques, as mães pressionando para conseguir uma boa posição para
suas filhas elegíveis. Forçou um sorriso agradável em seu rosto.
— Boa noite, ladies —falou lentamente, procurando em sua mente
nomes que combinassem com os rostos. Os encontraria, não tinha dúvida. A
polidez superficial e a perfeição eram suas especialidades. O que estava por
baixo era outra história, que compartilhava com muito poucos.
Agora todas as damas falavam ao mesmo tempo, titulando, cada vez
que ele dizia alguma coisa, mesmo que remotamente divertida, ao mesmo
tempo segurava um suspiro. Apenas sorriu com algo próximo a
autenticidade quando viu seus melhores amigos, Simon, o Duque de
Crestwood, e Graham, o Duque de Northfield, se aproximando através da
multidão. Ambos mostraram uma expressão divertida ao encontrá-lo tão
sitiado. Expressões que caíram quando as damas os avistaram e foram
arrastados para a armadilha, tal como ele havia sido.
— Há tantos Duques em sua geração — balbuciou uma das moças,
que piscou primeiro para James, depois para os outros dois. — E são tão
bons amigos.
Simon deu de ombros. — É a era dos jovens duques, suponho.
— E, no entanto, nenhum escolheu se casar. — disse uma das mães,
fazendo beicinho com o lábio.
— Isso não é verdade. — James disse, agarrando o braço de Graham
e quase o empurrando para a briga. — Northfield aqui vai se casar com
minha irmã, Margaret. Isso foi arranjado há anos.
Pôde ver que suas palavras não apaziguaram a pequena multidão de
ladies, mesmo quando ofereceram uma rodada de felicitações sem
entusiasmo.
— Talvez nos deem licença, senhoras. — disse Simon, sua voz de
repente um pouco tensa. — Temos alguns negócios a discutir antes de todos
começarmos a dançar.
A possibilidade das danças futuras pendia diante deles, as damas
sorriram e se afastaram, mas James ainda podia sentir seus olhares sobre
ele, do outro lado da sala. Soltou um longo suspiro.
— Está tudo bem? — Simon perguntou, inclinando a cabeça e
examinando James mais de perto.
James pressionou seus lábios. Confiava em Simon e Graham para
dizer a verdade. Mas não era uma verdade que quisesse discutir no
momento. — Claro. — disse com um largo sorriso. — Embora possa dizer
que vai ser uma temporada desafiadora, se a primeira noite já for tão
intensa.
Simon deu de ombros, enquanto olhava para a multidão, sua
expressão, agora, tão séria quanto o próprio James sentia. — Temos a
mesma idade, suponho. As expectativas estão sobre nós, para nos casarmos
e produzirmos nossos herdeiros. Isso nos torna cordeiros para o abate em
salões como esse.
James assentiu. Ah sim, conhecia muito bem essas expectativas.
Descansavam pesadamente sobre seus ombros, sobrecarregando-o, mesmo
quando tinha tanta prática em fingir que era leve e despreocupado.
— Bem, não tenho planos de ser algemado tão cedo. — disse, com
uma risada, que parecia muito falsa. Virou-se para Graham, na esperança de
poder mudar de assunto. — Vou deixar Graham se casar primeiro.
Agora seu sorriso era real. Quando seu pai morreu, há oito anos, seu
primeiro ato como duque foi organizar uma união entre Graham e sua
amada irmã mais nova, Margaret. Ele fez isso para solidificar o futuro dela,
mas também para que Graham fosse seu irmão na vida, tanto quanto era em
espírito.
Esperava que Graham sorrisse com a conversa sobre seu futuro
casamento, mas ambos os amigos pareciam estranhamente sombrios.
Simon, especialmente, agora estava pálido e quase parecia doente.
— Com licença, cavalheiros, preciso de uma bebida — murmurou
Simon, acenando para os dois antes de sair, sem esperar resposta.
James o acompanhou com o olhar. — O que há de errado com ele?
— Não sei — Graham disse suavemente. — Anda mal ultimamente.
Recusa-se a falar comigo sobre isso, no entanto.
— Sim, notei o mesmo. — James meditou.
— Veja se um dos outros consegue arrancar algo dele. — sugeriu
Graham.
James sorriu novamente. Os outros. Graham estava se referindo aos
homens em seu clube informal de 1797. Todos os homens destinados a ser
duques. Eles ajudaram James em muitas de suas horas mais sombrias. Eram
os melhores dos homens e se orgulhava de chamá-los de amigos e aliados.
Havia Graham e Simon, é claro, seus melhores amigos e aqueles que
o ajudaram a formar o grupo. Logo pediram a Baldwin Undercross, agora
Duque de Sheffield, para fazer parte disso. Ele trouxe seu primo, Matthew
Cornwallis, agora Duque de Tyndale. Acrescentaram Ewan Hoffstead, que
recentemente se tornara Duque de Dunborrow. Era mudo, mas tinha um
intelecto aguçado e era um bom amigo.
Lucas Vincent, agora Duque de Willowby, havia se juntado a seu
conjunto um ano depois. Agora não estava mais em Londres. Verdade seja
dita, ninguém sabia onde estava, mas quando retornasse, James não tinha
dúvidas de que voltaria a sua amizade, como se não tivesse se passado um
dia.
Hugh Margoilis, Duque de Brighthollow, e Robert Smithton, Duque
de Roseford, vieram depois de Lucas. O último membro foi Christopher
Collins, atualmente o Conde de Idlewood. Era o único membro que ainda
não herdara seu ducado, embora não houvesse decepção nesse fato, pois seu
pai, o duque de Kingsacre, havia sido uma boa influência sobre todos os
homens, ao longo dos anos.
Era um grupo grande, mas incrivelmente unido. James sabia que
podia contar com qualquer um deles, se precisasse. E não conseguia
imaginar um cenário onde qualquer coisa pudesse separar suas amizades de
longa data.
— Por que me pede para ver se outra pessoa consegue fazer Simon
contar seus problemas? — James perguntou.
Graham arqueou uma sobrancelha. — Não finja que não soube que é
o líder do nosso pequeno grupo, James.
James riu, mas gostou da informalidade de Graham. Quando estavam
sozinhos, Graham nunca chamava Simon pelo título, pois sabiam que
Abernathe vinha com muitas conotações negativas. Mesmo agora, anos
após a morte do último duque, quando alguém o chama por esse título,
James se encolhe um pouco por dentro e pensa na crueldade de seu pai.
Afastou o pensamento. — Todos nós temos nossa parte, Northfield.
Graham cruzou os braços e os dois olharam para a festa mais uma
vez. Lançou um olhar de lado para James e disse: — Realmente se opõe ao
casamento nesta temporada?
James ficou ligeiramente tenso quando Graham entrou em águas
perigosas. — Tenho apenas vinte e sete anos. Sinto que tenho muito tempo
para cumprir meu... dever.
— Suponho que seja verdade — Graham disse suavemente. — Ou até
encontrar alguém que o faça sentir que é mais do que um mero dever. Ouvi
dizer que se apaixonar está se tornando uma grande moda hoje em dia.
Foi preciso tudo de James. para que não revirasse os olhos. Afinal de
contas, o amor era uma noção tola. Nunca tinha visto funcionar para quem
tentou. Certamente, seus próprios pais mal conseguiam se suportar. Seu pai
tinha respondido à infelicidade deles com gritos e a ocasional explosão de
violência física. Sua mãe havia fugido para sua garrafa.
Não, não tinha interesse em se casar. Não nesta temporada. E muito
possivelmente não em qualquer outra.
— Duvido que haja alguma mulher nesta sala que possa me tentar a
amar, Northfield — riu. — Teria que ser bastante extraordinária, de fato.

E Liston estava encostada na parede, desejando poder simplesmente


desaparecer no papel de parede e nunca mais ser vista. Esta era uma reação
comum, quando era arrastada para um baile, mas esta noite parecia mais
poderosa do que nunca. Normalmente passava por essas coisas apenas com
sua amiga Adelaide ao seu lado. Elas eram invisíveis e gostavam de ter
boas conversas.
Esta noite, Adelaide não estava presente e, de alguma forma, Emma
se envolveu em um círculo de mulheres jovens que, certamente, não eram
suas amigas. Enquanto ela era uma mera wallflower erudita, Lady Rebecca
e Lady Frances eram diamantes de primeira água. Eram bonitas, perfeitas,
populares e... más.
E, neste momento, suas atenções estavam voltadas para o outro lado
da sala, já que todas olhavam para o Duque de Abernathe e o Duque de
Northfield, que estavam juntos, engajados no que parecia ser uma conversa
séria.
— É um desperdício! — disse Lady Rebecca, enrolando um de seus
cachos pretos perfeitamente formados no dedo. — Um deles está noivo, o
outro se recusa até mesmo a tentar encontrar uma noiva!
Emma se esforçava muito para não olhar para Abernathe, enquanto as
outras duas conversavam. Estava na sociedade há quatro longos anos e ele
era a única pessoa que a deixava extremamente nervosa. Tentava evitá-lo e
desviar de seu caminho com a maior frequência possível.
Agora, porém, observou-o, levada a fazê-lo pela declaração de Lady
Rebecca, de que Abernathe se recusava a cumprir seu dever. Emma sabia
por que ele a incomodava. Era ridiculamente bonito, por exemplo.
Provavelmente o homem de melhor aparência que já tinha visto.
Tinha olhos castanhos intensos e cabelos escuros e grossos que usava
um pouco compridos demais para a moda atual. Não que isso importasse.
Homens como Abernathe faziam moda, não a seguiam. Dois anos atrás, ele
havia usado um certo padrão em seu colete e, dentro de semanas, todos os
outros homens da sociedade haviam copiado a peça. Embora nenhum
tivesse ficado tão bem nele.
Mas não era apenas sua beleza que afastava Emma. Mas por ser...
dourado. Liderava o grupo ao seu redor, sem sequer perceber que o fazia.
Frequentemente ria alto, e às vezes de forma inadequada, e isso não
importava. Fazia todas as apostas, corria todas as corridas, até mesmo
lutava todas as lutas. Em um homem normal, esse tipo de ousadia teria feito
com que fosse expulso pela orelha.
E, no entanto, a lenda de Abernathe só crescia a cada ato selvagem.
Nunca poderia fazer nada de errado...
Em suma, era o oposto de tudo o que ela era. Onde ele era popular,
ela era esquecida. Onde ele era bonito, ela era simples e sabia disso. Onde
ele era dourado, ela era uma bluestocking, uma erudita até os dedos dos pés.
E ainda assim, às vezes, quando Emma o olhava, via tristeza em seu
olhar. Um breve lampejo de desgosto, que não combinava com a
demonstração confiante de poder masculino que usava como uma capa.
Esses eram os momentos em que a deixava mais nervosa, pois sabia que
tinha vislumbrado algo que ele não queria que ninguém visse. Se ele
soubesse que ela via... bem, um homem como aquele poderia destruir uma
mulher como ela sem sequer se esforçar.
— Ouvi dizer que também não vai se casar nesta temporada. — disse
Lady Frances, arrastando Emma de seus pensamentos, com seu tom
estridente e aborrecido. Cruzou os braços e estava olhando para Abernathe
como se tivesse cometido uma ofensa pessoal contra ela.
Emma voltou a olha-lo. — Pergunto-me, por quê? — Sussurrou,
quase mais para si mesma do que para elas, enquanto pensava novamente
naqueles vislumbres não intencionais de tristeza.
Lady Rebecca virou-se com uma risada. — Acho que isso não
importaria para a senhorita, Emma, de qualquer maneira.
Havia sangue na água agora e Lady Francis encontrou os olhos de
Lady Rebecca com uma inclinação cruel em seus lábios que Emma
conhecia muito bem. Preparou-se para o que viria a seguir.
— Sim, Emma. — murmurou Lady Frances, seu tom de falsa
gentileza. — Não é como se uma mulher do seu tipo pudesse chamar sua
atenção.
— Ouvi dizer que a esposa de Sir Archibald finalmente morreu —
disse Lady Rebecca. — Talvez devesse perguntar se ele está procurando
uma esposa para cuidar daqueles oito filhos dele.
Usavam tons " solícitos", mas não havia como negar sua crueldade.
Emma manteve sua expressão neutra, ao dizer: — Não tinha ouvido. Sinto
muito por sua perda e aprecio seus pensamentos para mim e meu futuro.
Lady Rebecca e Lady Frances sorriram e riram, então deram os
braços e saíram sem outra palavra para Emma. Quando se foram, soltou a
respiração que estava segurando e murmurou — Vacas podres.
— Eu também nunca gostei delas.
Emma endureceu com a voz que veio por trás dela. Virou-se
lentamente para ver quem tinha ouvido sua explosão inapropriada. Corou ao
encontrar Lady Margaret, a irmã do Duque de Abernathe, de pé, atrás dela,
um sorriso iluminando seu lindo rosto.
— Lady Margaret! — Emma ofegou, sua respiração, de repente,
sumiu de seus pulmões.
Como seu irmão, Margaret era muito querida. Se já não estivesse
noiva do Duque de Northfield, não havia dúvida de que teria dezenas de
ofertas de casamento para escolher.
E, no entanto, ao contrário das mulheres que tinham acabado de sair
do lado de Emma, Margaret sempre parecia gentil quando interagiam.
Assim como sorria gentilmente agora.
— E-eu não deveria ter dito isso. — disse Emma. — Por favor, não
conte a elas.
Margaret deslizou ao seu lado e riu. — Eu mesma tento evitar as duas.
Juro que nunca lhes diria uma palavra do que nós pensamos delas.
Emma deu um suspiro de alívio. — Obrigada. — Mexeu-se com
desconforto. — Er, está gostando da festa?
— Lady Rockford se supera todos os anos, tentando tornar seu baile
de estreia memorável. Mas tem palhaços este ano e a maquiagem deles é
perturbadora. — Margaret agarrou o braço de Emma e apontou para um dos
artistas. — Vê?
Emma olhou e encontrou o palhaço que Margaret se referia. O
vermelho de sua maquiagem parecia um pouco demais com sangue. — Oh
meu Deus, isso é alarmante. — disse com um arrepio.
Margaret riu e Emma se viu fazendo o mesmo. — Juro que no
próximo ano trará prisioneiros de Newgate, completos com correntes, só
para nos fazer comentar.
— Oh meu Deus, acho que vou pular essa festa. — disse Emma.
Margaret assentiu. — Vou ficar em casa contigo. — Sorriu
largamente. — Agora me diga...
— Emma — Emma respondeu rapidamente.
A testa de Margaret enrugou. — Sei quem é, minha querida. Vim falar
contigo, não foi?
— Ah — disse Emma, corando. — Achei que talvez não se
lembrasse, já que não nos falamos muito ao longo dos anos.
Margaret deu de ombros. — Essas coisas são sempre tão
esmagadoras. Não é por falta de vontade. Sempre gostei de nossas
conversas quando nos falamos.
Emma inclinou a cabeça, incerta agora se estava sendo provocada. —
Gostou?
— Sim. Mas me diga, o que estava discutindo com as outras, que a
deixou tão zangada com elas?
Emma mordeu o lábio, sem saber como proceder. Nunca tinha sido
mentirosa, mas parecia impróprio dizer a Margaret que as damas estavam
discutindo sobre seu próprio irmão.
— Bem... — começou.
A sobrancelha de Margaret arqueou. — Abernathe. — sugeriu.
Emma sentiu o sangue correr para suas bochechas. — Sim. —
Sussurrou. — Como sabe?
— Todo mundo está sempre falando sobre James. — Margaret
suspirou, e Emma não tinha certeza se estava chateada, resignada ou
zangada com esse fato.
— Mas quase sempre no bom sentido, milady. — Disse Emma
rapidamente.
— Ah, por favor, me chame de Meg. — Margaret disse. — Todos os
meus amigos o fazem.
— Meg. Claro.
— Deixe-me adivinhar, elas estavam discutindo a relutância do meu
irmão em se casar? — Meg continuou.
Emma assentiu. — Lady Frances disse que soube que não se casará
nesta temporada. Ficaram bastante desapontadas com esse resultado
potencial. Ele é, como sabe, considerado um bom partido para mulheres
como elas.
— Mulheres como elas. — Meg meditou. — Caçadoras de títulos
desagradáveis? Espero que ele não se case com alguém assim. Se ele se
casar.
— Isso é realmente uma possibilidade? — Emma perguntou, com um
aceno de cabeça. — Que ele não se case?
Meg deu de ombros. — Quando ele pensa que não estou ouvindo, às
vezes diz coisas que me fazem pensar que está pensando em viver sozinho,
sim.
Era uma ideia ridícula que um homem como Abernathe se recusasse a
cumprir seu dever. Mais do que isso, poderia ter virtualmente qualquer
mulher que desejasse. Qualquer uma delas cairia a seus pés se estendesse
um dedo. E qualquer mulher que ele olhasse teria todo o foco da Sociedade
nela.
— Sua mãe deve estar chateada com essa ideia. — Emma disse,
tremendo ao pensar na própria mãe. Violet Liston era uma bola de energia
maníaca, e quando começava a descer uma colina em direção a Emma, não
havia como escapar de seus esquemas.
Atualmente seu foco estava em ver Emma casada. Nesta temporada.
Assim que fosse humanamente possível.
O rosto de Meg caiu. — Minha mãe é... diferente das outras. Duvido
que se importe com o que James faz ou deixa de fazer.
Emma tentou não mostrar nenhuma reação em seu rosto. Às vezes
ouvia pequenos sussurros sobre a duquesa viúva de Abernathe, mas nunca
nada totalmente desagradável.
Se mexeu e lutou para encontrar uma maneira de mudar do assunto
obviamente desconfortável. — Mas a senhorita vai se casar, e logo, pelo
que todos dizem.
Meg sorriu, mas havia um aperto em seus lábios. — Sim, suponho
que será em breve. Northfield e eu não podemos ficar noivos para sempre.
Meu irmão insiste que marquemos uma data para o final deste ano ou, o
mais tardar, para o início do próximo.
Emma a encarou. Esperava encontrar um assunto mais positivo com o
noivado de Meg. Afinal, todos sabiam que o Duque de Northfield era um
dos amigos mais próximos do Duque de Abernathe. Ele e Meg praticamente
cresceram juntos e seu casamento foi arranjado há anos.
No entanto, o sorriso de Meg era falso e seus olhos ficaram sem
brilho quando o assunto foi abordado. Emma mal resistiu ao impulso de
abanar a cabeça em incredulidade. Lá estava ela, sua mãe empurrando-a
para encontrar um par, suas perspectivas fracas na melhor das hipóteses,
inexistentes na pior, e Meg tinha um Duque no bolso, um homem que nunca
a deixaria sem nada... e estava insatisfeita.
Jamais entenderia isso.
Procurou outro assunto, mas antes que pudesse encontrar um, alguém
esbarrou em Meg e Emma por trás. Ambas se viraram e Emma ficou
chocada ao encontrar a própria Duquesa Viúva de Abernathe, de pé, atrás
delas. Tinha uma bebida na mão e espirrava de seu copo enquanto
cambaleava.
— Bem, bem, bem. — Disse a duquesa. — Se não é minha filha
obediente.
Emma prendeu a respiração quando olhou para Meg e viu a cor sumir
de suas bochechas. Isso era o que Meg queria dizer sobre sua mãe ser
diferente, aparentemente. E de repente Emma entendeu muitas coisas que
não tinha compreendido completamente antes.
— M , estive te procurando — disse a Duquesa de Abernathe, alto
demais. Tomou outro gole de sua bebida antes de soluçar.
O rosto de Meg havia perdido toda a cor e deu um passo à frente. —
Mãe, pensei que tínhamos conversado sobre o quanto beberia esta noite —
sussurrou, com um rápido olhar para Emma.
Os olhos de Emma se arregalaram com esse desenvolvimento
totalmente inesperado. De fato, a duquesa olhou profundamente em seu
copo. Seus olhos estavam turvos e seu corpo balançava.
— Não é minha mãe, Margaret Elizabeth Elinor Rylon — balbuciou a
duquesa. — Não pode me dizer o que fazer com essa arrogância.
Alguns na multidão próxima estavam começando a olhar e Meg
agarrou o braço da mãe. — Por favor, abaixe a voz.
— Envergonhada, não é? — A duquesa soluçou novamente.
Emma a encarou. Nenhuma dama que conhecia faria tal cena, ainda
por cima em um baile . Não tinha a menor ideia do que fazer. Poderia virar
as costas para que Meg não tivesse que ficar ainda mais envergonhada, mas
então abandonaria a outra mulher, para lidar sozinha com a situação. Sabia
como poderia ser horrível ter outros observando-a, falando a seu respeito.
Estremeceu com o pensamento, e naquele momento tomou uma
decisão.
— Sua Graça! — Disse, com um sorriso brilhante. — A senhora pode
não me conhecer, mas sou Emma Liston, amiga de sua filha. Estávamos
prestes a ir para a sala de repouso para descansar um pouco. Talvez a
senhora queira se juntar a nós.
Meg virou o rosto para Emma e assentiu levemente como se para
encorajá-la. — Sim, mamãe. A sala de repouso é o local certo.
A duquesa parecia totalmente confusa quando Meg tirou o copo de
sua mão, colocou-o de lado e então ela e Emma pegaram, cada uma, um de
seus braços. Começaram a conduzi-la pela multidão, segurando-a, enquanto
tropeçava em seu crescente estupor.
— Não caia. — Emma ouviu Meg sussurrando com os dentes
cerrados. — Oh, por favor, não caia e deixe-os ver.
Emma foi inundada por uma sensação de empatia pela outra mulher.
Entendia como era ter um pai que a humilhava. Entendia o medo que a
impregnava, a ansiedade. Só que foi seu pai quem fez isso com ela, e não
sua mãe.
Pegou um vislumbre de alguns, na multidão, olhando e limpou a
garganta. — Ah sim, Sua Graça, está terrivelmente quente, não está? A sala
de repouso será o lugar ideal para recuperar os sentidos.
Meg deu-lhe outro olhar agradecido enquanto os que estavam na
multidão voltavam ao que estavam fazendo. Mas quando elas saíram da
sala, Meg olhou por cima do ombro. Emma não sabia o que estava fazendo,
tão concentrada estava em manter a duquesa de pé, mas momentos depois
de saírem do salão de baile e entrarem no corredor, em direção a pequena
sala onde as damas iram descansar, ouviram passos pesados atrás delas.
Emma olhou por cima do ombro e seu coração quase parou quando
viu o Duque de Abernathe em seu calcanhar. Sua expressão, geralmente
brilhante e confiante, foi substituída por uma de preocupação.
— Meg — ele disse baixinho.
O coração de Emma pulou sem que desejasse ter essa reação. Ele
tinha uma voz tão profunda e ressonante, que a atingiu no estômago e
depois arrastou pequenas vibrações ainda mais para baixo.
Uma reação totalmente inadequada, quando estava arrastando a mãe
dele bêbada para longe dos olhos da sociedade. Afastou a sensação e voltou
a se concentrar.
— Sim — disse Meg, respondendo a uma pergunta que ele não havia
feito.
Ele franziu a testa, enquanto abria a porta da sala de repouso e
permitia que Meg, Emma e a viúva entrassem. Estava vazia, graças a Deus,
e Emma e Meg ajudaram a duquesa a se sentar em um sofá onde desabou,
sorrindo para elas.
— Eu gosto da sua amiga, Meg — disse. — Gemma, pode não ser
uma grande beldade, mas tem faísca.
Meg se engasgou. — Mãe! Chega. — Virou-se para encarar Emma.
— Sinto muito.
Emma estendeu a mão para pegar a mão de Meg, tentando
desesperadamente ignorar Abernathe enquanto ele estava na porta da sala,
braços cruzados, olhar focado no pequeno show à sua frente. — Não tem do
que se desculpar. Devo deixá-las. Mas espero que sua mãe se sinta melhor.
Meg piscou as lágrimas e assentiu. — Sim, obrigada novamente por
sua ajuda, sua gentileza.
Emma apertou sua mão e então se virou para a porta. Abernathe
estava olhando-a agora, seu olhar escuro focado em seu rosto, enquanto ela
dava alguns passos hesitantes em direção a ele.
— V-Vossa Graça — sussurrou, com a voz embargada.
Acenou para ela. — Obrigado, senhorita...
Parou e ela sussurrou: — Liston, Emma Liston.
— Senhorita Liston — ele disse.
Então seu foco se foi, de volta ao drama familiar, que se desenrolava
na chaise longue, do outro lado da sala. Emma os deixou, fechando a porta
e se encostando nela, tentando recuperar o fôlego.
O que acabara de acontecer certamente não era o que esperava
quando entrou no baile esta noite. De alguma forma, se envolveu com uma
das famílias mais poderosas da sociedade. De alguma forma veio a saber
um segredo sobre eles.
Agora só podia esperar que não voltasse para assombrá-la.

J fez uma careta, enquanto observava sua carruagem se afastar da


entrada. Uma raiva profunda e permanente pulsava dentro dele quando se
virou para Meg, que estava de pé no vestíbulo, o rosto pálido e contraído.
Como odiava vê-la daquele jeito. Isso trouxe de volta memórias de
sua infância. Memórias de cuidar de sua mãe em dezenas de noites quando
se perdia assim. Memórias do rosto aflito de Meg, quando seu pai a
ignorava ou a repreendia. Só tinham realmente um ao outro em quem
confiar. Quando ela se machucava, James sentia como se tivesse lhe falhado
de alguma forma.
— Eu devia ter ido com ela — Meg disse.
James balançou a cabeça. — Mamãe estava com a Srta. Watson —
disse, referindo-se à dama de companhia de sua mãe. — E ela se desculpou
muito por ter permitido que mamãe bebesse demais, tenho certeza de que
cuidará bem dela.
— Sua carruagem pode não sobreviver à viagem de volta para casa —
Meg refletiu, embora seu tom fosse tudo menos divertido.
— Pode ser limpo se isso acontecer — disse, com outra carranca. —
E como se sente? Está bem?
— Ela não fazia uma cena assim em público há anos — sussurrou
Meg. — Graças a Deus, a senhorita Liston estava lá. Me ajudou
enormemente.
James assentiu enquanto pensava em Emma Liston. Já a havia visto
antes nestes eventos, embora tivesse que admitir que nunca lhe havia
chamado a atenção. Geralmente ele voltava sua atenção para as mulheres
vistosas, aquelas que praticavam os joguinhos da sociedade.
A senhorita Liston era uma wallflower, tentando se esconder, junto as
flores de parede. Sabia disso a seu respeito. Seus cabelos castanhos e sua
estrutura esbelta não eram o tipo de atributos físicos aos quais,
normalmente, se dirigia, quando sentia vontade de flertar. Mas havia uma
coisa nela que se destacava. Tinha olhos azuis-esverdeados. Nunca vira uma
cor parecida antes. Olhos encantadores.
— É do tipo que fala? — Perguntou, voltando a mente para o assunto
em questão. — Aquela pequena cena que mamãe criou poderia facilmente
atrair atenção para uma mulher como ela, se optasse por compartilhá-la.
Meg franziu a testa. — Acho que não. Admito que não a conheço
muito bem, mas não havia nada além de bondade na maneira como lidou
com isso. Até desviou a atenção indesejada sobre mamãe, enquanto nos
aproximávamos da multidão.
James assentiu lentamente. — Então lhe devemos nossos
agradecimentos. Mas, por favor, não deixe que mamãe estrague sua noite,
Meg. Vá dançar com Graham.
Meg enrijeceu levemente. — Northfield não gosta de dançar, sabe
disso.
James franziu a testa. — Então dance com Simon. Ele está sempre
pronto para dar uma volta.
Meg virou o rosto por um momento. — Muito bem, vou ver se Simon
quer dançar. Mas só se me fizer uma promessa.
— Qual seria? — Perguntou, sorrindo. — Sabe que é quase
impossível para mim recusar-lhe algo.
— Quase — repetiu com um pequeno sorriso. — Dançará com
Emma?
— Meg... — começou.
Meg ergueu a sobrancelha em acusação. — Depois do que Emma
acabou de fazer para nos ajudar, a recusaria? Honestamente, James, é só
uma dança. Sabe que se fizer isso, o cartão dela provavelmente será
preenchido para a noite. Devemos-lhe isso, não é?
James assentiu lentamente. — Muito bem, vou dançar com a
senhorita Emma Liston. No mínimo, isso me dará a chance de determinar se
dirá alguma coisa sobre o estado de mamãe... esta noite.
Meg franziu a testa quando os dois recuaram em direção ao salão de
baile. — Se precisa de um motivo oculto, então, seja como for, James.
Ele pegou seu braço, antes que Meg se movesse em meio à multidão,
para encontrar Simon. — Guarde uma para mim também, sim?
A tensão no rosto de sua irmã desapareceu e se inclinou para beijar
sua bochecha levemente. — Sempre.
Virou-se e se moveu através da multidão, deixando James parado na
beira do salão. Olhou para o grupo de pessoas, todas vestidas com
elegância. Agora, depois daquela cena com sua mãe, não queria nada mais
do que ir para casa, para sua cama.
Mas tinha um papel a desempenhar e uma promessa a cumprir. Então
saiu pela multidão para encontrar Emma Liston. Fez isso rápido o
suficiente. Estava de pé no canto, na parede, com o rosto tenso e carregado
de emoção. James ergueu os ombros, enquanto atravessava a sala em sua
direção.
Quanto mais se aproximava, mais prestava atenção nela. Não eram
apenas seus olhos que eram bonitos. Também tinha uma boca refinada, com
os lábios cheios. Lábios que se abriram quando girou a cabeça e o
encontrou vindo em sua direção.
Emma se endireitou quando a alcançou. — V-Vossa Graça —
gaguejou.
— Senhorita Liston — disse, com um aceno de cabeça. —
Perguntava-me se gostaria de dançar comigo, se seu cartão ainda não está
lotado.
Ficou mais rígida com essa afirmação e uma defesa foi erguida entre
eles. Seu tom tornou-se frio, conforme disse: — Esta dança está em aberto,
sim.
James estendeu um braço e Emma hesitou um pouco, antes de
deslizar a mão esbelta na dobra de seu cotovelo. Ficou surpreso com o
choque de consciência que o atravessou com a ação. Sentiu cada um de seus
dedos contra seu braço, um leve aroma de lilás vindo de seu cabelo e ouviu
o farfalhar de suas saias, enquanto roçavam sua perna.
Piscou. Estava no limite se percebia essas coisas. Afastou-as e a
conduziu até a pista de dança para a primeira valsa da noite. Imediatamente,
sentiu dezenas de pares de olhos balançando em direção a eles e uma onda
atravessou a multidão.
A Srta. Liston pareceu também notar, pois tropeçou no primeiro passo
e James a apertou com mais força, para evitar que caísse.
Emma ergueu o olhar se desculpando. — Não costumo dançar valsa
— explicou.
James ignorou a declaração, enquanto giravam em meio aos casais. —
Foi de grande ajuda com a... situação com minha mãe esta noite — disse
suavemente.
Seus lábios se abriram novamente em surpresa e James teve um flash
momentâneo no qual se perguntou qual seria o sabor deles. Balançou a
cabeça novamente, para limpar sua mente. Estava abalado pelas ações de
sua mãe.
— Qualquer pessoa pode sofrer com o calor de vez em quando em um
baile. — Disse a Srta. Liston com cuidado. — Fiquei feliz em ajudar.
Espero que ela esteja se sentindo melhor.
— Ela está indo para casa — disse. — E nós dois sabemos que não
estava apenas superaquecida.
Emma engoliu em seco e ergueu os olhos para encontrar seu olhar.
Mais uma vez ficou impressionado com o quão deslumbrantes eram os
olhos dela. Achava que nunca tinha visto tal combinação de azul e verde
antes.
— Se alguém me perguntasse, — disse lentamente — seria o que eu
diria. É tudo o que me lembro, de qualquer forma.
James franziu a testa com a garantia dela, gentilmente feita e de uma
forma inesperada. — Se dissesse outra coisa, isso poderia lhe trazer um
pouco de renome.
Seus olhos se estreitaram. — Por favor, não suponha que me conhece
o suficiente para acreditar que eu trocaria renome pela reputação de outra
pessoa, Vossa Graça. Não ajudei sua irmã ou sua mãe para ganhar algo com
o ato. Há decência sem preço neste mundo. Se não sabe disso, sinto muito
pelo senhor.
James arqueou uma sobrancelha com sua resposta acalorada. Quando
se sentia afetada, era muito mais animada e um rubor rastejava em suas
bochechas e pescoço, desaparecendo no decote de seu vestido.
— Peço desculpas, Srta. Liston — disse, inclinando a cabeça. — Não
quis insinuar que seria mercenária. De verdade.
Sua expressão suavizou um pouco. — Tenho certeza de que há alguns
que podem ser. Simplesmente não sou um deles.
— Então temos sorte de que fosse a amiga com quem minha irmã
estava — disse. — E, mais uma vez, agradeço
— Sua irmã é adorável. — disse a Srta. Liston, olhando por cima de
seu ombro para a multidão de outros dançarinos.
Quando a virou, viu que Meg estava dançando com Simon. Ela estava
sorrindo, e seu coração ficou mais leve vendo isso.
— Ela é, de fato — disse. — Gosta da senhorita
A música começou a diminuir e a Srta. Liston olhou-o com os olhos
arregalados. — Gosta? Não consigo imaginar por quê. Não temos nada em
comum.
Ele riu de sua franqueza, mesmo que não acreditasse em suas
palavras. — As duas são inteligentes. E, claramente são gentis. Essa é a
base de muitas amizades, Srta. Liston.
A música parou e James se curvou para ela, depois ofereceu a mão
para acompanhá-la da pista. Quando chegaram ao limite, enxotou o manto
de sua personalidade que o cercava e disse: — Foi um grande prazer dançar
com a senhorita. Espero que me permita o prazer novamente.
Para sua surpresa, ela não riu como outras mulheres fariam. Em vez
disso, cruzou os braços sobre o peito como um escudo e pressionou os
lábios surpreendentemente carnudos até formar uma linha apertada.
— Vossa Graça, nós dois sabemos que foi uma dança de compaixão,
lançada sobre mim como uma espécie de recompensa por minha ajuda. E,
claramente, também era uma maneira de determinar se eu usaria o que vi
esta noite contra o senhor. Por favor, não finja que foi algo mais. Entendo
como o mundo funciona.
James recuou. — A senhorita é direta.
O pânico inundou seu rosto e Emma se mexeu com desconforto. —
Bem, uma mulher da minha posição deve ser prática e não se deixar levar
por noções tolas.
— Como eu poderia ter gostado de dançar com a senhorita? —
Perguntou com um leve sorriso. — É muito difícil para que acredite.
Emma deu de ombros. — Não estou exatamente na sua esfera, Vossa
Graça
— Srta. Liston, acredite ou não, eu realmente gostei do meu tempo
em sua companhia — disse, e ficou surpreso ao descobrir que realmente
quis dizer essas palavras. Normalmente, quando dançava com as damas,
fazia os movimentos, tentando ser educado, enquanto esperava a
oportunidade de fugir. Esta dança tinha sido diferente. Emma Liston era...
interessante.
Emma inclinou a cabeça. — Bem, eu... eu... obrigada. Agora devo ir
encontrar minha mãe. Boa noite, Vossa Graça.
James inclinou a cabeça. — Boa noite, Emma.
Retesou-se com o uso de seu nome de batismo, mas não o corrigiu
antes de se afastar e saiu correndo por entre as pessoas, deixando James
sozinho observando-a. E a vigiou, até que desapareceu na multidão e o
deixou totalmente confuso com esse encontro.
E olhou para seu prato com olhos cegos. O que importava se sua
comida que esfriava rapidamente quando tudo o que podia fazer era reviver
sua dança com o Duque de Abernathe, repetidas vezes? Como uma tola,
continuava pensando nos braços fortes ao seu redor, o calor de seu corpo
enquanto giravam ao redor do salão, o foco de seu olhar escuro enquanto
lhe falava.
Claro, arruinou tudo por ser tão malditamente direta com ele.
— Emma!
Ergueu a cabeça para encontrar sua mãe inclinada sobre a mesa, com
os olhos fixos nela. Emma suspirou. Conhecia esse olhar. Era o olhar de
casamento, casamento, casamento, que deixava sua mãe tão louca, às
vezes.
— Desculpe, mamãe — disse Emma. — Eu estava pensando.
Violet Liston sorriu. — Sonhando acordada com o Duque de
Abernathe? Ah, Emma, não posso dizer o quanto estou emocionada de que
tenha chamado a atenção dele.
— Emma apertou os lábios antes de murmurar: — Sério? Eu não
estava ciente quando mencionou isso dez vezes ontem à noite e pelo menos
quatro esta manhã.
— Não precisa ser atrevida, — a Sra. Liston repreendeu. — A noite
foi um sucesso estrondoso. Não recebia tanta atenção há anos.
Emma franziu a testa, pois não podia negar a acusação de sua mãe.
Depois que Abernathe a deixou, foi abordada por vários outros cavalheiros.
Não da estatura de Abernathe, é claro, mas o que sua mãe chamaria de
opções viáveis. Fazia muito tempo que seu cartão de dança teve mais de
dois nomes nele. Ontem à noite, tinha acabado com cinco.
— Foram só algumas danças, mamãe — disse, afastando o prato,
porque não tinha apetite.
— Algumas danças são o caminho para um casamento — insistiu a
mãe, segurando o guardanapo na mão sobre a mesa. Emma viu como seus
dedos estavam brancos, e sua carranca se aprofundou.
— Não compre meu enxoval tão cedo, mamãe — disse gentilmente.
— Ainda sou uma solteirona.
Sua mãe virou o rosto, como se aquela palavra fosse uma maldição.
Nesta casa, às vezes, parecia ser. — Como pode ser tão arrogante, Emma —
retrucou. — Conhece nossas circunstâncias. Seu pai...
— Não está aqui — interrompeu Emma. — E não vem há seis meses.
— Mas sempre volta — disse a Sra. Liston, levantando-se e andando
de um lado para o outro na sala de jantar, inquieta. — E quando o faz, traz
regularmente consigo um escândalo. Fizemos bem em cobri-los, mantendo
a atenção longe, só que chegará um ponto em que não poderei mais
protegê-lo. Mas se já estiver casada, com segurança, antes de sua próxima...
explosão, então não importará. Deve ver como isso é importante,
Emma fechou os olhos e soltou um longo suspiro antes de olhar para
a mãe novamente. — Vejo como a senhora acha isso importante —
sussurrou. — Mas mamãe, o que aconteceria se eu simplesmente
continuasse solteirona?
A Sra. Liston contorceu a boca de horror e deu um passo em direção a
Emma. Seu tom ficou alto e selvagem enquanto gritava: — É mesmo tão
ingênua? O dinheiro que temos não pode durar para sempre.
— Não, no estilo de vida que mantemos agora, não — Emma
concedeu. — Mas se pararmos de focar nas minhas Temporadas e formos
para uma casa menor no campo...
Sua mãe cruzou os braços. — Não se importa comigo — interrompeu,
com os lábios trêmulos e os olhos marejados de lágrimas. — Não quer
cuidar de mim. Não se importa se eu for humilhada.
Com isso sua mãe saiu correndo para o quarto, gemendo por todo o
caminho, escada acima. O som foi sumindo até que a porta do quarto da
Sra. Liston bateu com força. Emma colocou os cotovelos na mesa e
descansou a cabeça nas mãos.
Estava acostumada a estas explosões de sua mãe. A Sra. Liston havia
se casado com o terceiro filho de uma família importante e tinham um
relacionamento complicado. Quando Harold Liston estava por perto, a mãe
de Emma arrefecia e ronronava sobre ele. Não era capaz de fazer nada de
errado.
Mas quando ia embora, a Sra. Liston, de repente, se lembrava de
todos os seus muitos defeitos. Nunca foi um segredo que teve esperança de
se elevar com o casamento. Mas o pai de Emma, há muito, havia sido
afastado de seus parentes influentes. Ela e sua mãe estavam apenas à
margem da boa sociedade.
Emma sempre aceitou esse fato. Sua mãe não podia, e cada vez mais
ao longo dos anos, depositava suas esperanças no futuro casamento de
Emma. Quanto mais permanecia solteira, mais frustrada sua mãe ficava.
Não que Emma não quisesse se casar desde o início. Teve sonhos de
encontrar alguém bom, alguém que se importasse com ela e de quem
pudesse cuidar. Mas a realidade da Sociedade lhe esmagou isso em sua
primeira temporada.
A maioria dos homens se preocupava com o que poderia obter de uma
união. A maioria das mulheres sabia como fazer o jogo melhor do que ela.
E assim começou a sua condição de solteirona.
Se fosse apenas ela, poderia viver com isso. Faria exatamente o que
acabara de sugerir à mãe e se mudaria para uma casa menor, pararia de
investir em vestidos e outras frivolidades e viveria sua vida com livros, um
gato e um ou dois bons amigos para visitar de vez em quando.
Mas a ideia de uma vida vivida com sua mãe resmungando sobre seu
fracasso em fazer um bom casamento não era agradável.
Levantou-se e caminhou até o fogo. Ao fazer isso, sua criada, Sally,
entrou na sala. Emma a encarou com um suspiro. — Deixe-me adivinhar,
minha mãe a mandou com uma mensagem de que quebrei o coração dela.
Sally assentiu com um sorriso tenso. — Sim, senhorita.
Emma revirou os olhos. — Meu Deus, é tão previsível.
— Ela só quer vê-la acomodada, senhorita. Feliz.
Emma não tinha certeza se era exatamente verdade, mas não discutiu.
— Suponho que sim.
— É verdade que dançou com o Duque de Abernathe? — Sally
perguntou.
Emma balançou a cabeça. Abernathe era tão poderoso, tão
carismático, que até os criados se agitavam quando falavam sobre ele. —
Sim, dancei. E com alguns outros.
Fez uma pausa, enquanto considerava essas palavras. Sua mãe havia
dito algo sobre a atenção que Emma tinha recebido, graças a Abernathe. E
embora Emma o tivesse descartado em voz alta, não podia fingir que a Sra.
Liston estivesse errada. O que Abernathe queria ou prestava atenção, virava
moda. Roupas, bebidas... mulheres.
Seria possível que Emma conseguisse alavancar sua consideração
temporária em algum tipo de união?
Antes que pudesse refletir muito mais sobre a ideia, seu mordomo,
Kendall, entrou na sala de café da manhã. — Senhorita Liston, uma missiva
para a senhorita.
Emma atravessou a sala para pegá-la. Virou-a e prendeu a respiração.
Era o selo da Casa de Abernathe. Suas mãos tremiam um pouco quando o
quebrou e desdobrou as páginas.
Era um convite para uma festa de jardim, dali a dois dias e, rabiscado
sobre a página formal, estava uma nota da Meg: Por favor, venha!
Emma respirou fundo, quando o mordomo saiu da sala. — Quanto
tempo vai demorar para Kendall relatar isso para minha mãe?
Sally riu. — Três minutos — adivinhou. — E isso é apenas porque
costuma subir as escadas lentamente.
Emma olhou repetidamente para a mensagem amigável de Meg. A
Meg, que afirmava gostar dela. E balançou a cabeça.
— Bem, então suponho que vou a uma festa de jardim.
— Excelente — disse Sally. — Tenho certeza de que tem alguns
vestidos para escolher. E sua mãe ficará satisfeita.
Sua criada saiu da sala e a deixou sozinha. Emma esfregou os olhos e
suspirou. — Ah, sim, mamãe vai ficar na lua.
Mas quanto a si mesma, ficava com uma sensação de inquietação.
Que não tinha nada a ver com jardins ou festas ou Meg. Algo que tinha tudo
a ver com Abernathe.

Q Meg entrou em seu escritório, James ergueu os olhos de sua pilha


de papéis e lhe sorriu. Quando viu seu rosto, pálido e contraído, sua
expressão caiu e ele se levantou.
— O que foi? — Perguntou.
Meg estendeu a mão, fechando a porta, antes de se apoiar nela com
um suspiro. — Minha festa de jardim começa em meia hora — disse.
Ele assentiu. — Sim?
— E mamãe está bêbada. De novo.
James fechou os olhos e balançou a cabeça. A raiva subiu em seu
peito, mas a reprimiu e, em vez disso, olhou para sua irmã. — Desculpe,
Meg.
Ela deixou a cabeça encostar na porta por um momento e James
percebeu que lutava contra as lágrimas de frustração. — Mamãe se sai bem
durante meses e depois entra em espiral. Eu sei que sua vida não tem sido
feliz, sei que papai foi... Papai. Deixou claro para todos nós o quanto nos
desprezava e desejava que fôssemos aqueles a quem realmente amava.
Quero ser compreensiva pelo quanto isso a deixou destroçada, mas estou
incrivelmente frustrada com seu comportamento.
James deu a volta na mesa e foi abraça-la. Sentiu-a ficar mole por um
momento antes que recuperasse suas forças. Olhou-o com um sorriso triste.
— O que posso fazer? — Perguntou, enquanto ela se soltava de seu
abraço.
Meg encontrou seu olhar. — Quer... quer sair para dar um alô?
— Margaret — disse, virando as costas para se sentar novamente à
mesa.
— Não me chame Margaret! — Disse, mas o riso voltou ao seu tom.
— Por favor, isso colocará todas as damas em alvoroço e tirará um pouco
do foco da ausência da mamãe.
James apertou os lábios e então a olhou. — Usa minha adoração
absoluta pela minha irmãzinha contra mim
Meg sorriu. — Todas as vezes, sim.
Ergueu as mãos em sinal de rendição. — Muito bem. Vou colocar
minha cabeça para fora. Mas já aviso, arranjarei uma desculpa para sair.
Tenho coisas na minha agenda hoje que não podem ser ignoradas
Meg bateu palmas e não havia como negar o alívio em seu rosto. —
Ah, obrigada, Jamie.
Sorriu com o encurtamento de seu nome, um retrocesso aos seus dias
de infância. Margaret raramente o chamava daquela maneira e isso o
aqueceu. — De nada.
— Poderá mudar de ideia sobre não ficar — disse enquanto se movia
em direção à porta.
James suspirou. — E por que eu faria isso? Não tenho interesse em
ouvir as fofocas de suas amigas.
Meg revirou os olhos. — Fazemos mais do que fofocar. E a razão pela
qual pode querer ficar é que alguém de quem gosta estará lá.
Balançou a cabeça confuso. — Alguém que eu gosto? Minha
irmãzinha?
— Não. Emma Liston — Meg disse, rindo ao sair da sala e deixar
James sozinho com suas palavras de despedida. Recostou-se na cadeira,
olhando para porta.
Emma Liston. Fazia dois dias desde a última vez que a viu, no baile
de abertura da temporada de Lorde e Lady Rockford. Estava tentando
arduamente tirá-la de sua mente desde então. Era uma coisa engraçada
como ficava surgindo em sua mente. Não era o tipo dele e quase nunca
pensava muito em uma mulher em detrimento de outra.
— Provavelmente porque viu sua mãe no seu pior e ofereceu bondade
— murmurou, olhando de volta para o livro-razão à sua frente. Agora os
números nadavam e mal conseguia se lembrar do que estava fazendo, antes
de Meg entrar e distraí-lo.
Certamente não foram os pensamentos em Emma Liston que fizeram
isso. Certamente não. Nem a razão pela qual essa tarefa de ir cumprimentar
os convidados de Meg, de repente, parecia menos irritante.
Não. De jeito nenhum.

Q a carruagem fez a última curva na entrada da propriedade londrina


do Duque de Abernathe, Emma engoliu em seco e tentou manter um pouco
de calma. Não era fácil, já que a Sra. Liston falava sem parar, assim como
esteve desde que saíram de casa, quase meia hora antes.
— Deveria tentar se sentar ao lado de Lady Margaret — disse a mãe.
Emma balançou a cabeça. — Mamãe, tenho certeza de que haverá
arranjos de assentos e convidados mais importantes se sentarão ao lado de
Meg - Lady Margaret.
Os olhos de sua mãe se iluminaram em triunfo. — Bem, certifique-se
de conversar com ela o máximo de tempo possível, independentemente do
que possa fazer. Lady Margaret pode ser sua patrocinadora.
Emma segurou sua mão no assento da carruagem. — Mamãe, não
quero usar...
— Posh!— Sua mãe interrompeu, acenando uma mão freneticamente.
— Claro que deve usar essa conexão. Pode ser sua graça salvadora.
— Por favor, mamãe — Emma sussurrou, exaustão inundando-a em
uma longa onda. — Só, por favor.
A carruagem parou antes que pudessem continuar a discussão e sua
mãe deu-lhe mais um olhar aguçado, antes de ser ajudada a descer da
carruagem por um lacaio. Emma alisou as saias, tentou acalmar seu
coração, de repente acelerado, e seguiu a Sra. Liston para fora do veículo.
Quando olhou para a bela casa, ficou surpresa quando Meg,
pessoalmente, saiu da porta da frente e acenou-lhes do degrau mais alto.
A Sra. Liston agarrou o braço de Emma e quase a arrastou até o topo,
tagarelando o tempo todo.
— Lady Margaret! — Gritou. — Que amável de sua parte em nos
convidar. Sabe como Emma preza sua amizade, estamos tão encantadas.
As bochechas de Emma queimaram com as palavras excessivamente
solícitas de sua mãe. Lançou um olhar rápido para Meg, mas descobriu que
não parecia irritada com a tolice de sua convidada.
— O prazer é todo meu, garanto-lhe — Meg disse, estendendo a mão
para pegar a de Emma para um breve aperto. — Olá, Emma.
— Milady — Emma disse suavemente, voltando à formalidade
correta para este ambiente público, ao encontrar o olhar fixo de Meg.
Por um instante, viu compreensão em seus olhos. Um vínculo feito
por mães que humilhavam suas filhas, embora de maneiras muito
diferentes. E, pela primeira vez naquele dia, respirou fundo e se acalmou
um pouco.
— São nossas últimas a chegar — disse Meg, passando um braço pelo
de Emma. — Então, eu mesma vou acompanhá-las à varanda.
Emma se engasgou horrorizada com essa afirmação. Sua mãe a
obrigou a se trocar três vezes, então, finalmente, a fez colocar o primeiro
vestido com o qual começou, um amarelo com flores azuis costuradas no
corpete. Claro, foi por isso que se atrasaram.
— Sinto muito por atrasar a festa — Emma ofegou.
Meg balançou a cabeça. — Graciosa, está tudo bem. Na verdade, a
convidada anterior só chegou há cinco minutos, então não está tão atrasada.
E estou feliz que nosso grupo esteja agora completo.
Enquanto falava, as levou por uma bela sala e saiu por um conjunto
de portas francesas abertas para uma varanda. Emma não pôde evitar. Parou
de repente enquanto olhava através do belo espaço.
Era amplo e espaçoso, com treliças de videiras floridas. Deste ponto
de vista, podia-se ver o jardim espalhado atrás do casarão da propriedade,
complementado com um labirinto de rosas e um enorme mirante ao longe.
Havia uma fonte no meio de tudo isso, onde uma mulher de pedra vestida
com vestes gregas fluidas, derramava um cântaro sem fim de água,
enquanto anjos brancos levantavam as mãos para pegar o líquido.
— Não é lindo? — Meg disse com um sorriso largo. — É um dos
meus lugares favoritos em todo o mundo.
Emma assentiu, quase sem palavras. Então se viu avançando,
enquanto Meg a puxava para o centro da varanda. Uma dúzia de mesas
havia sido posta ali, com toalhas brancas e lindos arranjos florais no centro
de cada uma. Estavam cheias, agora, com damas elegantemente vestidas
conversando e sorrindo. Emma viu alguns olharem de surpresa em sua
direção. Claro que ficariam surpresas - nunca havia sido convidada para tais
eventos.
— Sra. Liston, a coloquei aqui — disse Meg, parando em uma mesa
com um lugar vazio. — Tenho certeza de que já conhece as damas.
Emma observou os olhos de sua mãe quase esbugalhados. A mesa
estava cheia de algumas das mais importantes mulheres mais velhas da
Sociedade. Da condessa de Hastingcross, que ditava quase sozinha a moda
de cada época, à viscondessa Breckinridge, cujo baile de máscaras anual era
o convite mais concorrido da sociedade.
— Bem-vinda, Sra. Liston — disse Lady Hastingcross, dando um
tapinha na cadeira vazia ao seu lado. — Seu chapéu é divino.
A Sra. Liston não disse mais nada à Emma e à Meg, mas flutuou para
sua cadeira e imediatamente iniciou uma discussão com as outras. O
coração de Emma inchou com a oportunidade que Meg, de alguma forma,
havia criado para sua mãe.
Mas podia ver que não havia lugar para ela na mesa e Meg já a estava
puxando para outro assento, mais perto da beira da varanda.
— Deve se sentar ao meu lado — disse Meg, soltando Emma,
enquanto sorria para as damas que se juntariam a elas. — Conhece todo
mundo?
Meg começou a apresentar o círculo das outras seis. Emma conhecia
algumas, mas não todas, pois, assim como na mesa de sua mãe, eram
mulheres que estavam muito acima dela na Sociedade. E, como com sua
mãe, cada uma delas era amigável e acolhedora, e Meg ajudava ao longo
das conversas, com contos animados. Pela maneira como incluía Emma em
cada assunto, era óbvio que a tinha reivindicado como amiga e isso parecia
ser suficiente para que as outras presentes a acolhessem em seu círculo.
O tempo voou, enquanto o chá e as guloseimas eram servidos com
uma boa conversa. Emma estava começando a se sentir à vontade, quando
uma das damas disse: — Margaret, querida, onde está sua mãe?
— Ah, sim — disse outra. — Sei que saiu cedo do baile de Rockford
— ela está bem?
Emma engoliu em seco e lançou um olhar rápido para Meg. Sua
amiga empalideceu e seu sorriso, agora, parecia mais forçado do que
natural. — Receio que mamãe tenha passado mal naquela noite e não esteja
totalmente recuperada.
— Ah, que pena — suspirou outra mulher. — Sabe, eu poderia
recomendar meu médico. Ele faz maravilhas, com certeza.
A bochecha de Meg se contraiu um pouco e Emma soube a verdade
em um instante. Queria tanto estender a mão e apertar a de Meg, confortá-
la, mas resistiu.
— Obrigada, vou pegar o nome dele depois — disse Meg.
Se pensavam em fazer mais perguntas sobre a duquesa ausente, foram
cortadas, quando a porta da varanda se abriu. Emma virou-se em direção a
ela e prendeu o fôlego, quando o Duque de Abernathe saiu de casa e entrou
na varanda.
Sua aparição causou uma onda na multidão e toda a conversa
aumentou brevemente e então parou enquanto o olhavam. O Duque sorriu,
como se estivesse absorvendo toda a atenção feminina, e avançou.
— Boa tarde, ladies — quase ronronou.
Saudações foram gritadas pelo grande grupo, mas Emma permaneceu
muda. Até se viu deslizando um pouco na cadeira, rezando para que não
olhasse em sua direção. Embora o que pensava que aconteceria se o fizesse
não fosse totalmente claro. Será que brilharia de repente? Haveria um farol
luminoso acima de sua cabeça que revelasse que era uma tola?
O homem, provavelmente, nem se lembrava de tê-la conhecido ou de
terem dançado. Não era como se, de alguma forma, Emma fosse
importante.
Abernathe girou seu olhar ao redor da varanda, assim que aqueles
pensamentos passaram pela mente dela, e, de repente, seus olhos escuros a
perfuraram. Prendeu-a por um longo momento, o canto de seu lábio
tremulando enquanto o fazia. E então seu olhar seguiu em frente.
E, ainda naquele momento, seu coração pulou uma batida. Seu
coração estúpido, tolo e idiota saltou com apenas um olhar. Por que, no
mundo, permitiu isso? Era apenas um homem. Um homem bonito, sim, mas
tão completamente fora de seu alcance, que era tola até mesmo em olhá-lo,
muito menos deixar seu corpo reagir com atração.
— Queria cumprimentá-las — disse o Duque. — Pois como eu
poderia resistir a tal reunião de beleza?
O grupo riu e houve rubores e risadinhas atrás dos leques. Emma o
viu sorrir para o grupo em geral e abaixou a cabeça. Claro que nada dessa
consideração estava realmente focada nela. Era um truque da mente, nada
mais, ver algo onde não havia nada. O homem só a havia chamado para
dançar por algum senso de obrigação.
Acalmou-se enquanto o ouvia dizer mais algumas palavras, então sair
da varanda de volta para a casa. Assim que ele se foi, a festa quase
explodiu, enquanto as mulheres falavam a seu respeito. Mesmo sua própria
mesa não parecia ser dissuadida pela presença da irmã do duque enquanto
falavam sobre o quão bonito Abernathe era e refletiam sobre as
possibilidades de seu casamento naquela temporada.
Emma ignorou tudo, olhando através da varanda para os breves
vislumbres de grama verde e flores no jardim. Neste momento, soube que
tinha que se acalmar. Ser razoável. Tinha que evitar ser arrastada pela
obsessão geral pelo Duque de Abernathe. Alguma dama de sorte, um dia, o
teria como seu marido.
Mas não Ema.
E a festa se desfazia lentamente, Emma se mexeu. Desde que
Abernathe tinha saído para cumprimentar o grupo, sentia-se mal. Agora só
queria ir para casa e esquecer que o tinha visto.
Mas sua mãe havia entrado em uma conversa profunda com lady
Breckinridge e parecia não haver chance de que fossem embora até que a
Sra. Liston tivesse arrebatado todas as oportunidades da nova amizade.
Emma se virou para ver Meg voltar para a varanda, depois de ter
acompanhado algumas de suas convidadas. Meg sorriu enquanto se dirigia
para Emma.
— Se divertiu? — Perguntou a anfitriã.
— Sim — Emma mentiu. — Muito obrigada por nos convidar.
Meg deslizou um braço pelo dela e a guiou para longe da multidão.
Uma vez que estavam fora do alcance dos ouvidos das poucas que restaram,
disse: — Perguntava-me se não gostaria de ficar um pouco mais, quando as
outras forem embora.
Emma piscou. — Ficar aqui?
Meg assentiu. — Sim. Eu queria tanto conversar mais contigo e com
todas aqui e meus deveres de anfitriã, foi quase impossível.
Emma abriu a boca, mas não teve chance de responder quando sua
mãe se aproximou das duas. — Sobre o que estão conversando tão
conspirativamente?
— Estou tentando convencer sua filha a ficar mais um pouco, quando
as outras forem embora — disse Meg. — Quero dar uma longa volta no
jardim e adoraria a companhia dela.
Emma viu os olhos da Sra. Liston brilharem com a ideia de ficar um
pouco mais na casa dos Abernathe. — Uma boa ideia — disse, cutucando
Emma, não muito gentilmente.
— Claro que eu garantiria que ela chegasse em casa em segurança —
Meg acrescentou.
A Sra. Liston hesitou por um momento ao perceber que o convite de
Meg não se estendia a ela. Mas, então, se recuperou e assentiu. — Bem, é
claro que Emma ficará.
Lançou a Emma um olhar aguçado, cheio de anos de discursos ditos
sem palavras, e Emma conteve um suspiro. — Claro que ficarei, milady.
Obrigada.
Meg bateu palmas. — Excelente. Deixe-me acompanhar a última
convidada e voltarei em breve.
Emma assentiu e sua mãe se inclinou para acariciar sua bochecha. —
Aproveite — sussurrou no ouvido de Emma.
— Adeus, mamãe — Emma respondeu com os dentes cerrados.
Meg levou a Sra. Liston e as outras para fora, e Emma foi até a parede
de pedra da varanda, apoiando as mãos na beirada, para olhar o jardim mais
uma vez. Perdeu-se por um momento no verde fresco das flores, mas a
realidade logo voltou.
Sobre o que Meg gostaria de lhe falar? Algo a ver com o
comportamento desagradável de Lady Abernathe, duas noites antes? Ou
alertaria Emma sobre o duque, ela mesma? Será que sua dança com ele
tinha sido solicitada por sua irmã?
— Não é lindo? — Meg chamou enquanto voltava para a varanda. —
Mal posso esperar para que veja mais de perto.
Emma se virou e a encarou conforme se aproximava. Passou a vida
inteira observando aqueles de posição e popularidade de Meg. Uma vida
inteira tentando evitar sua atenção, porque raramente era positiva.
Diamantes e flores de parede simplesmente não eram amigos, não em sua
experiência.
— Posso te perguntar uma coisa? — Emma perguntou, encontrando
coragem.
Meg assentiu. — Claro.
Emma limpou a garganta. Normalmente não era ousada, mas, neste
caso, encontrou um forte desejo de ser. Simplesmente colocar as cartas na
mesa e ver quais eram os verdadeiros motivos de Meg.
— Sou uma wallflower. E uma erudita — disse. — E não é o seu
caso. P-por que quer passar um tempo comigo?
Meg recuou. — Bem, porque eu lhe tenho apreço, boba. Acho que,
apesar desses rótulos, podemos ter muito em comum.
— Como o quê? — Emma perguntou sem entender, sem ver a
referência de Meg. — Desculpe soar rude, não quero ser. É só que estou
confusa.
O sorriso de Meg caiu um pouco. — Acha que meu intelecto não é
igual ao seu?
Emma balançou a cabeça, pois estava perfeitamente claro, por
algumas de suas conversas de hoje, que Meg era tudo, menos uma boba de
cabeça oca. — Não. Não, claro que não.
Meg deu um passo à frente e passou um braço em volta do ombro de
Emma. O meio abraço foi caloroso e o sorriso de Meg sincero ao dizer: —
Foi gentil comigo, Emma Liston, em uma ocasião sombria. Poderia ter
usado aquele momento contra mim, não o fez, e não me parece que fará.
Obrigada. E quero que sejamos amigas, pois há poucas neste mundo. Isso é
motivo suficiente para ter pedido que ficasse?
Emma ponderou por um momento. Parecia que Meg não estava, de
modo algum, zombando dela. E gostava da mulher bonita e brilhante. —
Sim — disse suavemente.
— Excelente — Meg disse ao soltá-la. — Agora vou correr buscar
um xale, depois podemos dar uma volta no jardim juntas. Ficará?
Emma assentiu. — Sim. Estou gostando muito da vista.
— Espere, se tornará ainda melhor — disse Meg com uma risada,
enquanto corria de volta para a casa.
Emma suspirou, enquanto voltava sua atenção para a extensão verde à
sua frente. Estava começando a ficar confortável, quando ouviu a porta da
varanda se fechar atrás dela. Quando se virou, não era Meg quem estava
entrando no terraço.
Era Abernathe.

J fez uma pequena parada enquanto olhava através da varanda e


encontrou Emma Liston na parede a poucos metros de distância. Estava
olhando-o, aqueles olhos arregalados. Lançou a língua para molhar os
lábios antes de sussurrar — Vossa Graça — em um tom rouco que o atingiu
direto no estômago.
James balançou a cabeça ligeiramente. Maldita Meg. Mandou-o para
o jardim sem lhe dizer que Emma ainda estava aqui.
— Srta. Liston — conseguiu dizer, enquanto caminhava em direção a
ela. — Não sabia que tinha ficado.
Parou por um momento, parecia estar tentando encontrar palavras e
então disse: — Sua irmã me pediu para ficar. Queria que déssemos uma
volta pelo jardim, juntas.
Sorriu levemente e James franziu a testa. Era a primeira vez que a via
sorrir e, embora não fosse amplo, era um sorriso bonito. Mudou a forma de
seu rosto e atraiu seus olhos para seus lábios carnudos.
— E então a abandonou — disse James. — Péssimas maneiras, Meg.
Emma deu um longo passo em sua direção, com a mão estendida. —
Ah, não! — Se engasgou. — De jeito nenhum.
Sua verdadeira preocupação com a ideia de que colocaria Meg em
apuros o aqueceu, e sorriu enquanto abaixava a cabeça um pouco mais. —
Estava apenas brincando.
— Ah! — Disse, a mão caindo para o lado. Descobriu-se um pouco
desapontado com isso. Desejou que o tivesse tocado. Afastou esse desejo
quando ela disse: — Claro.
— Certamente seus irmãos devem fazer o mesmo — disse — É nossa
prerrogativa, sabe.
— Ela balançou a cabeça lentamente. — Não tenho irmãos, Vossa
Graça.
— Ah, entendo — disse com um sorriso. — Irmãs, então. Pobre
menina.
Emma riu, o pequeno sorriso tornando-se maior. James mal conseguia
respirar ao vê-lo. Meu Deus, aquela expressão ampla a transformou em algo
inteiramente adorável.
— Sou só eu, temo.
Aproximou-se mais um passo. — Gostaria de caminhar comigo?
No momento em que fez a pergunta, recuou uma fração. Por que fez
isso?
Emma hesitou e seu olhar deslizou para as portas da casa. James se
perguntava sobre aquela dose de relutância. A maioria das mulheres não
teria nenhuma. Sabia que uma união com ele era considerada valiosa.
Especialmente para uma mulher na posição da Emma.
— Milorde... milorde não precisa se incomodar — disse por fim.
James inclinou a cabeça. — Não é incômodo, Srta. Liston. Seria um
prazer. — Estendeu o braço. — Por favor.
— E sua irmã? Voltará a qualquer momento e espera que eu esteja
aqui.
Ele sorriu. — Meg não ficará com raiva, garanto. E poderá nos ver do
terraço. Tenho certeza de que simplesmente nos alcançará e as duas poderão
continuar sua caminhada.
Emma hesitou novamente, e ficou fascinado pelo fato de que sua
relutância o fazia querer ainda mais sua aceitação. Finalmente assentiu, e
foi como se James tivesse ganhado um prêmio quando aceitou seu braço e
permitiu que a guiasse até as escadas que levavam ao jardim.
Ficou calada enquanto se dirigiam para o caminho do jardim e
Abernathe disse: — É raro uma família ser tão pequena. Nada de irmãos ou
irmãs.
Pensou ter visto uma breve sombra cruzar seu rosto, e então ela disse:
— Bem, meus pais não foram abençoados com mais de um filho. Sua
família é só um pouco melhor, não é? Com toda a sua conversa sobre
irmãos e irmãs, são só milorde e Meg.
Ele assentiu. — Sim, suponho que seja verdade. Eu, às vezes,
esqueço.
Emma riu enquanto o olhava. — Esquece que não tem outros irmãos?
Isso é algo bem grande para esquecer, milorde.
James sorriu com sua provocação. Mais uma vez, ficou
impressionado com o quão improvável era que outra dama de seu
conhecimento fizesse o mesmo. Estavam frequentemente tentando
impressionar, para fazer um par.
Emma era diferente. E deparou-se com uma candura inspiradora, que
talvez não tivesse tido com outra pessoa.
— Acho que esqueci porque tenho um círculo de amigos muito
próximos — explicou. — O Clube 1797.
Emma piscou. — O Clube de 1797? Não estou ciente.
— É incrivelmente exclusivo — disse, apontando para um banco que
dava para a fonte no meio do jardim. Emma tomou um lugar e James
sentou-se ao seu lado, de repente ciente de quão perto seus joelhos estavam
enquanto falava.
— Tão exclusivo que parece família? — Perguntou, aparentemente
alheia aos pensamentos dele.
— São meus irmãos. Formamos o grupinho quando éramos meninos.
— Em 1797 — provocou. — Na idade madura de... o quê? Doze?
— Quatorze — corrigiu com um assentimento. — Veja, eu precisava
de ajuda enquanto me movia para a herança do meu ducado. E formamos
um grupo com todos nós que levaríamos o mesmo nível de título, para que
pudéssemos ajudar uns aos outros.
— E quantos são? — Perguntou.
— Dez, incluindo eu.
Sorriu mais uma vez, desta vez gentil e compreensiva. — Então tem
uma família muito grande, afinal. E isso é algo raro e de sorte.
— Sim
— O duque de Northfield é do seu grupo? — Perguntou.
— Northfield e o duque de Crestwood eram meus amigos mais
próximos quando menino. Juntos tivemos a ideia do clube, que cresceu ao
longo dos anos seguintes.
— E agora Northfield se casará com Meg — disse. — E se tornará
seu irmão de verdade.
— Sim. Admito que era parte do encanto combiná-los.
— Contudo, todos dizem que o senhor jamais se casará. É claro,
provavelmente eu também não. Mas por razões diferentes. A sua é uma
escolha e a minha...
Com um suspiro, parou de falar. Seus olhos se arregalaram e tapou a
boca com a mão, seu olhar voando para ele e ficando largo e selvagem.

E não queria nada mais do que afundar sob o banco onde se sentavam
e desaparecer pelo resto de sua vida. Não tinha ideia do porquê de ter
perdido o controle de sua língua. Estavam sentados juntos, tendo uma
conversa perfeitamente adorável. Confortável, além do fato de que não
conseguia parar de contemplar o quão lindo ele era.
E então explodiu algo inapropriado sobre sua falta de desejo de
casamento. Sobre sua própria falta de habilidade para se casar. Era uma
idiota absoluta.
— Desculpe, Vossa Graça — disse, quando conseguiu respirar o
suficiente para falar. — Isso foi totalmente fora de hora.
Ficou quieto por um momento, então disse: — Emma, estávamos
tendo uma conversa honesta. Não me importo de ter uma conversa honesta
contigo. Mas não pode realmente acreditar que nunca se casará.
Emma se levantou e caminhou em direção à fonte, com as mãos
apertadas ao lado do corpo. — Isso realmente não é da sua conta. Esqueci-
me por um momento. Não há mais nada a dizer.
Ele se aproximou. — Emma...
Ela endureceu. Essa era a terceira vez que a chamava pelo nome de
batismo. Não deveria gostar tanto. Deveria corrigi-lo.
Abriu a boca para fazer isso quando James a perfurou com um olhar
duro e perguntou: — Por que acha que nunca se casará?
Ofegou, por ar, por palavras, e o duque estendeu a mão. De repente,
tinha a mão dela na dele. Emma não estava usando luvas, tendo-as tirado
para o almoço. Nem ele. Sua pele era áspera sobre a dela, sua mão um tom
mais escuro enquanto a envolvia.
— Nem todo mundo é dourado — sussurrou, sussurrou, com uma voz
que quase não lhe pertencia. Suas palavras vinham quando não queria que
viessem. — Sou uma solteirona, com pouco a me recomendar graças a... —
Ela parou.
— Graças a...? — a encorajou, seus olhos escuros ainda focados nela.
Como se realmente se importasse com sua resposta.
E, por um momento, pensou em dar-lhe. Ponderou derramando cada
fato doloroso de seu passado e sua própria família fraturada para ele. Mas
se conteve antes que pudesse. Qualquer que fosse o feitiço que estava com
este homem, não estava disposta a falar sobre seu pai e dar-lhe uma razão
para rir dela.
— Sou uma solteirona e uma wallflower — disse, finalmente
puxando a mão da dele e desejando não poder continuar a sentir seu calor.
— Não há outra razão além daquela que impede que muitas mulheres como
eu se casem. Minha mãe insiste que devo me casar, é claro, para aumentar
nossas circunstâncias. Leva-me nessa direção constantemente. Mas não é
tão fácil como apenas acenar com a mão e ter homens caindo aos meus pés.
O duque balançou a cabeça lentamente. — É uma coisa engraçada.
Aqui estou eu tentando evitar uma armadilha de casamento e a senhorita
deseja cair em uma.
— Sim — disse, depois cobriu o rosto. — Deus, me sinto uma idiota.
— Por quê? — Perguntou com uma risada.
Emma abaixou as mãos e o olhou. — Mesmo? Está me fazendo essa
pergunta?
Sua jovialidade se desvaneceu com a pergunta incisiva dela. —
Desculpe se fui loquaz — disse, com verdadeiro desgosto estampado no
rosto. — A senhorita ajudou minha irmã, me ajudou. Existe alguma
maneira de eu possa ajudá-la?
— Fingir me cortejar para me tornar atraente para outro homem? —
Disse, então balançou a cabeça com uma risada. — Não, milorde. Não há
nada que possa fazer, embora lhe agradeça por sua preocupação.
Ele franziu a testa, e, por um momento, Emma pensou que poderia
dizer alguma coisa. Mas então a voz de Meg veio à deriva pelo jardim. —
James, eu ia mostrar a fonte para ela!
James deu um longo passo para trás, e Emma se sentiu um pouco
mais fria, agora que tinha se afastado. Qualquer que seja a seriedade que
estivesse em seu rosto desapareceu, e se virou para sua irmã com um sorriso
brilhante. — Bem, a superei.
Meg deu um tapa no braço dele de brincadeira. — Nunca me permite
nenhum benefício.
— Sinto muito, Meg — disse. — Vou deixá-la com sua amiga. —
Virou-se para Emma com um aceno. — Senhorita Liston, foi um grande
prazer.
Havia sinceridade em seu tom e em sua expressão quando lhe acenou.
Emma engoliu em seco e disse: — Obrigada por sua companhia, Vossa
Graça. Bom dia.
— Bom dia — repetiu, depois caminhou a passos largos em direção à
casa. Deixando Emma com Meg.
Deixando Emma com uma sensação de desconforto e uma mente
cheia de perguntas.
J olhou para seu prato, mas estava totalmente distraído. Desde que
encontrara Emma Liston pela última vez, alguns dias antes, revivera a
conversa no jardim várias vezes. Não só revelou muito sobre si mesmo,
pois quase nunca discutia seu grupo de amigos íntimos com alguém, muito
menos com um estranho..., mas se viu noivo dela.
Não era como ninguém que já tenha conhecido. Onde a maioria das
damas em seu círculo se concentrava em como se apresentar melhor, Emma
tinha uma honestidade refrescante que o atraia.
Balançou a cabeça, afastando os pensamentos dela enquanto olhava
para seus companheiros. Estava compartilhando o jantar com Meg e
Graham, mas nenhum dos dois estava falando. Meg empurrava a comida no
prato com os dentes do garfo e Graham estava em silêncio.
James limpou a garganta. — Somos um grupo emocionante, não
somos?
Graham sorriu e Meg se endireitou. — Todos nós temos algo em
mente, ao que parece — disse, lançando um rápido olhar para Graham. Ele
não devolveu.
— Sei no que os dois devem estar pensando — disse James. — Temos
um casamento para planejar.
Para sua surpresa, Meg enrijeceu um pouco com a menção de suas
próximas núpcias. James franziu a testa. Não tinha certeza do que estava
acontecendo com sua irmã. Estava ficando cada vez mais estranha
ultimamente. A maioria das mulheres ficaria tonta planejando um enorme
casamento da Sociedade com um duque rico e poderoso, como há anos era
seu amigo. Meg parecia totalmente desinteressada.
Só podia esperar que uma vez que ela e Graham estivessem casados,
se acalmasse um pouco. Seus problemas desapareceriam quando estivesse
estabelecida.
— Na verdade, estava pensando mais na festa campestre, semana que
vem — disse Meg. — Sei que a casa já está cheia, mas estava pensando em
convidar Emma Liston e sua mãe para preencher o grupo.
— Emma? — Repetiu, todos os pensamentos que estava tentando
reprimir retornando.
Meg assentiu. — Passamos um tempo maravilhoso juntas, alguns dias
atrás. Gosto dela, James. E acho que também podemos ajudá-la.
A mente errante de James o levou de volta, mais uma vez, à conversa
deles no jardim, alguns dias antes. Emma tinha tanta tensão no rosto quando
falou da necessidade de se casar, das complicações daquela campanha.
— James? — Meg perguntou, intrometendo-se em seus pensamentos.
— Muito bem — disse com um assentimento. — Não vejo motivo
para não. Nós temos acomodações.
Meg sorriu e se levantou, forçando Graham e ele a fazerem o mesmo.
— Excelente. Enquanto tomam seu porto, escreverei um convite para
Emma. E então, provavelmente, vou me retirar mais cedo. —Virou-se
parcialmente para o noivo. — Boa noite.
Graham deu um passo em sua direção, mas não segurou sua mão.
Apenas executou uma reverência rígida. — Margaret.
Meg respirou um pouco, então se virou e saiu da sala, deixando os
dois homens sozinhos.
James passou um braço em volta do ombro de Graham. — Porto?
Se Graham tinha parecido entediado, quando Meg estava por perto,
agora sorria e voltava a ser o homem que James conhecia por quase toda a
sua vida. — Prefiro scotch, na verdade.
— Scotch será. — James riu enquanto caminhavam pelo corredor até
a sala de bilhar. Uma vez lá dentro, foi até o aparador para servir as bebidas.
— Já que não vamos voltar para Margaret, gostaria de um jogo? —
Graham perguntou.
James assentiu sem olhá-lo. — Faz tempo que não jogamos.
Ouviu Graham colocando as bolas na posição e se virou para entregar
uma bebida, enquanto Graham a trocava por um taco. Os dois tomaram um
gole e colocaram os copos de lado, antes que James dissesse: — Comece,
homem.
Graham se colocou em posição e deu sua tacada. Ao fazer isso, disse:
— O que está em sua mente?
James arqueou uma sobrancelha. — Em minha mente?
Graham se endireitou. — Está com aquele olhar. Conheço esse olhar.
James revirou os olhos. — Por enquanto não é casado com Meg.
Ainda não pode fingir ser o irmão mais velho.
— Por que não? Já faço isso há mais de dez anos.
James deu um meio sorriso ao dar sua própria tacada, sua bola
atingindo tanto o taco de Graham quanto a bola vermelha. — Canhão - 2
pontos — disse baixinho.
— Eu vi — Graham respondeu com um leve aborrecimento em seu
tom. Sempre foi competitivo. Era por isso que Simon não brincava mais
com ele. — Então qual é o problema?
James encostou o taco na beirada da mesa e suspirou. — Meg lhe
falou muito sobre essa Emma Liston que estávamos discutindo no jantar?
Graham congelou, inclinando-se sobre a mesa, para tomar sua dose.
— Na verdade, Meg e eu não falamos muito sobre isso.
Por um momento, o foco de James em Emma desapareceu e encarou
seu amigo. — Há algo de errado entre os dois?
Graham deu uma tacada, mas acertou com muita força e a bola
desviou para a beirada da mesa e errou os dois alvos. Soltou uma maldição
baixa, antes de se endireitar e olhar para James.
— Claro que não — retrucou. — Está tudo bem.
— Bem — repetiu James lentamente.
Graham assentiu. — Claro, estamos planejando um casamento, não
estamos? E somos amigos há anos. É uma boa combinação, nós dois
sabemos disso.
James franziu a testa. Nem Meg nem Graham pareciam muito
satisfeitos com sua posição, o que não era o que pretendia, quando sugeriu o
noivado, há muito tempo.
— Graham... — começou.
— Perguntou-me sobre a Srta. Liston. — Graham interrompeu,
virando as costas, para que ficasse claro que o outro assunto estava
encerrado. — Por que tanto interesse nela?
James apertou os lábios. Por enquanto, deixaria de lado o assunto do
noivado, mas tomou nota de conversar com Meg sobre isso, pois ela
poderia ser mais aberta. — Ajudou a Meg e a mim com uma... situação com
minha mãe, no baile de Rockford, semana passada.
Graham se virou e seus olhos agora estavam cheios de preocupação.
— Uma situação. Ela estava...
James assentiu. — Muito. Está passando por um período difícil
ultimamente. Alguns dias atrás, na festa de Meg, e novamente esta noite, e
foi por isso que não se juntou a nós.
Graham balançou a cabeça lentamente. Poucas pessoas conheciam
todas as ramificações dos problemas de Lady Abernathe com a bebida.
Graham era um deles, Simon outro... e agora Emma Liston.
Engraçado como Emma não parecia deslocada naquela lista íntima de
seus amigos mais próximos. Mesmo que mal conhecesse a jovem.
— Emma Liston é uma wallflower — disse Graham, sua voz ficando
mais afiada, mais profissional. — Seu avô é visconde. Ele e meu pai eram
camaradas, o que não faz nada para recomendar o homem, como bem sabe.
Seu pai está distante. Um ovo podre, como dizem.
— Não perguntei a seu respeito para obter uma lista de todos os
movimentos de sua família — disse James suavemente.
Graham deu de ombros. — É o que faço, lembrar das coisas. Não
posso evitar, por isso é melhor usá-lo. Emma Liston está comprometida.
— Comprometida? — James repetiu muito alto, a raiva borbulhando
nele inesperadamente com a ideia de que algum outro homem havia tocado
Emma.
Graham olhou para ele. — Não está fisicamente comprometida. Só
quero dizer que está em uma posição ruim. Seu dote é pequeno, os
membros importantes de sua família não a reconhecem e seu pai não faz
nada para aumentar sua reputação.
O batimento cardíaco de James lentamente voltou ao normal. — Bem,
nada disso significa muito para mim.
— Deveria. A garota poderia se beneficiar se usasse qualquer coisa
que saiba sobre sua mãe.
James balançou a cabeça, uma explosão de raiva defensiva o
correndo, embora tenha tido exatamente a mesma preocupação a respeito,
na noite do baile em Rockford. — Acho que não — disse. — Não fez
segredo de sua posição, nem fez qualquer tentativa de alavancar o que sabe
sobre minha mãe, para melhorar sua posição.
— Só que agora está convidada para sua festa no campo. Um convite
procurado, se alguma vez houve um. As pessoas estão sempre querendo que
eu consiga um — Graham disse com uma sobrancelha arqueada.
— Não, acho que não — insistiu James. — Foi convidada porque
Meg se apaixonou por sua amizade. E Emma não foi desonesta sobre sua
posição.
— O que quer dizer? — Graham perguntou. — Contou-lhe sobre seu
pai rebelde?
— Não — James admitiu, e ficou surpreso com a forma como seu
interesse foi despertado por essa nova informação. — Mas deixou claro que
sua posição é precária. Até fez uma piada sobre eu fingir cortejá-la para
elevar essa posição.
— E não acha que isso foi uma isca?
— Não, — James disse com os dentes repentinamente cerrados. —
Estava provocando, pelo amor de Deus. Nunca pensaria que estivesse
falando sério.
Graham observou-o, apenas o olhou, pelo que pareceu uma
eternidade. — Quer fazer isso — disse finalmente.
James recuou. — Fazer o quê?
— Cortejá-la! — Graham disse, levantando a mão livre em
exasperação.
— Não tenho interesse em cortejá-la — James retrucou. — Não tenho
interesse em cortejar ninguém e sabe disso.
O rosto de Graham se suavizou: — James...
James ergueu a mão. — Não vamos discutir isso — retrucou. — A
questão é que, sim, penso na declaração da Emma. Penso. Não porque
queira realmente cortejá-la, mas porque o que sugeriu, mesmo sem
convicção, poderia muito bem ajudar a ambos.
— Posso ver como isso a ajudaria - é o solteiro mais cobiçado de toda
Londres. Se for visto prestando atenção extra a ela, os homens irão circular.
De repente, ela estará na moda, assim como a forma como amarra sua
gravata.
— Não tenho certeza se é justo comparar a Srta. Liston a um nó em
uma gravata — James murmurou.
— Para alguns haverá pouca diferença — Graham disse suavemente.
— Mas estou mais interessado no que acredita que essa ideia boba poderá
beneficiá-lo.
— Viu como foi no baile de Rockford — disse James. — É o
primeiro evento da temporada e já estavam me cercando. Foi exaustivo. E
só vai piorar, sabe disso. Ouvi dizer que há um grande grupo de debutantes
este ano. Duas vezes maior que o anterior. Todas virão atrás de mim.
— E?
— E se eu for visto como interessado na Srta. Liston, elas podem
escolher outro alvo — James explicou.
— E quando se separarem para que ela possa, em teoria, receber uma
dúzia de verdadeiras ofertas de casamento? — Graham perguntou.
James sorriu. — Acredito que ficarei com o coração muito partido
para até mesmo dançar este ano, depois que ela se for. O próximo poderia
inclusive ser questionável.
Graham soltou um suspiro. — Estou incomodado com sua atitude,
meu amigo. Mas bem ciente de que não há como fazê-lo desistir de um
plano, uma vez que o tenha.
— Na verdade, não há — disse James.
Graham deu de ombros e uma travessura juvenil, que raramente
mostrava atualmente, brilhou em seu rosto. — E poderia ser um negócio
lucrativo para mim também.
— Como assim?
— Bem, convidou Simon e alguns dos outros para esta festa, sim?
James assentiu. — Sim. Simon, Sheffield, Brighthollow e Roseford
estarão presentes. Os outros estão ocupados e não vemos Willowby há anos.
— Bem, então estaremos todos lá para ouvir sobre seu progresso com
a Srta. Liston. E fazer apostas — Graham disse com uma risada, enquanto
voltava sua atenção para o jogo quase esquecido.
— Fazer apostas em quê? — James perguntou enquanto se preparava
para sua própria tacada.
— Não sei. Se vai se apaixonar por ela e com que rapidez. — Graham
sugeriu enquanto James dava sua tacada.
A declaração fez a mão de James escorregar e sua bola realmente
pulou sobre a borda da mesa e rolou pelo chão. Fez uma careta enquanto se
movia para pegá-la.
— Se eu decidir fazer isso, ninguém vai se apaixonar por ninguém —
disse com uma risada. — Posso assegurar-lhe esse fato.

E estava sentada na sala da frente, no banco da janela, uma perna


dobrada sob ela, enquanto a outra pendia da borda. Estava observando as
carruagens passarem na rua. Era algo que fazia desde que era muito jovem.
Sempre se perguntou quem estava lá dentro, para onde estavam indo, o que
sentiam, enfiados em seus pequenos casulos.
Hoje não estava pensando nessas coisas. Sua mente continuava
levando-a para Abernathe. Para aqueles momentos no jardim quando tinha
sido tão inesperadamente gentil. E ela tão estupidamente sincera.
O homem não queria saber de seus problemas. E certamente não
queria ouvi-la pedir-lhe para cortejá-la, mesmo em tom de brincadeira.
Deve considerá-la uma completa tola.
Certamente se achava uma tola.
— Aí está. — Olhou para a porta da sala para encontrar sua mãe
apressada, uma missiva na mão. — Tem uma mensagem!
Emma virou-se e levantou-se lentamente. Sua mãe deve ter saltado
sobre o pobre mensageiro quando subia a estrada, pois não tinha ouvido a
campainha.
Claro, ela também não havia exatamente prestado atenção.
Virou-a e reconheceu o selo. Era o mesmo de quando havia sido
convidada para a festa de jardim de Meg, alguns dias antes. Parecia uma
vida inteira agora.
Suas mãos tremiam quando o quebrou, e dentro encontrou uma
pequena carta de sua nova amiga.
— Leia em voz alta! — Insistiu sua mãe, os olhos brilhando de
possibilidade e esperança quase maníaca.
— Muito bem — Emma disse suavemente. — 'Querida Emma,
queria agradece-la mais uma vez por sua amável companhia, depois da
minha festa, alguns dias atrás. Realmente valorizo nossas conversas. Meu
irmão e eu estamos organizando uma reunião campestre em nossa
propriedade, Falcon's Landing. Adoraríamos tê-la, e a sua mãe, se
juntando a nós, na quinzena que passaremos lá. Espero receber seu sim em
breve. Com amizade, Meg.’
Enquanto Emma lia as palavras, a Sra. Liston batia palmas e estava
quase pulando de alegria ao final da carta. De sua parte, estava menos
animada. Uma quinzena em Falcon's Landing, no condado de Abernathe,
significava uma quinzena com o próprio duque. Um homem que, já havia
decidido, a considerava uma idiota.
Um homem que a deixava nervosa, e ainda assim se viu tagarelando
como uma tola quando a olhou.
— Ah, Emma, fez uma boa amizade — disse a Sra. Liston,
agarrando-lhe o braço e quase puxando-a fisicamente de seus pensamentos.
— Lady Margaret! É tão conectada. Deve usar essas conexões.
— Mamãe — Emma disse, afastando-se e andando de um lado para o
outro da sala, para olhar pela janela. — Essa é uma maneira mercenária de
olhar para uma amizade.
— Bem, devemos ser mercenários, não devemos? — disse a Sra.
Liston, seu tom afiado o suficiente para que Emma se virasse para olhá-la.
As mãos de sua mãe estavam entrelaçadas diante dela, tremendo. — Parece
querer fingir que não há um cavaleiro vindo atrás de nós, trazendo apenas
destruição.
— Isso é um pouco dramático — Emma disse suavemente. — Não
estamos tentando escapar da morte iminente.
— Não, não é dramático. Estamos falando sobre a potencial morte
social e tem idade suficiente para não agir como uma criança. — A Sra.
Liston cruzou os braços. — Diga-me, Emma, quantas vezes seu pai voltou
às nossas vidas, arrastando o escândalo atrás de si? Quantas vezes limitou
suas opções e me humilhou com sua infidelidade, jogos de azar e duelos?
Quantas vezes?
Emma bateu o pé. — Joga sua raiva e medo sobre papai na minha
cara, sempre que não faço o que me pede, mas nós duas sabemos o que
acontecerá se ele entrar por aquela porta amanhã. Abrirá seus braços,
acolhendo-o, tudo será perdoado e por algumas semanas ou meses se
recusará a ouvir qualquer opinião negativa sobre ele, não importa o que
faça.
O rosto de sua mãe se contraiu com a declaração direta de Emma e
seus ombros caíram. — Me acha fraca.
Emma prendeu a respiração, pois não havia uma boa maneira de
mentir e negar a acusação de sua mãe. Quando se tratava de Harold Liston,
a Sra. Liston estava sempre dividida entre o terror abjeto e a devoção cega.
— É complicado — Emma admitiu finalmente.
— Sim, é isso — sussurrou a Sra. Liston, e suas lágrimas foram reais
dessa vez, não nascidas inteiramente de manipulação.
Emma suspirou. Aproximou-se da Sra. Liston e segurou suas mãos
delicadamente. — Não contesto que tenha motivos para temer. Papai
aparece nos momentos mais inoportunos e seu comportamento geralmente
não causa nada além de problemas.
— E pode muito bem aparecer mais uma vez, sabe disso — disse a
Sra. Liston com uma fungada. — Já faz quase um ano desde a última vez
que o vimos, e agora espero ouvir seus passos quase todas as noites.
Subindo as escadas e arrastando o infortúnio em seu rastro.
Emma inclinou a cabeça. — Suponho que seja possível.
— E, desta vez, não vou ceder aos seus encantos, prometo.
Emma apertou os lábios, pois sabia que não seria verdade.
— Sabe que, se sou mercenária, é porque tenho medo de que desta
vez, da próxima ou da seguinte, ele traga algo sobre nós que nos destrua
permanentemente — sussurrou a Sra. Liston. — E a única maneira de evitar
esse destino é se estiver casada ou, pelo menos, noiva. Então, poderá
arrebentar e explodir, mas seu furacão não nos destruirá como poderia fazê-
lo agora.
Emma enfiou a mão no bolso da peliça para pegar um lenço. Ao
entregar-lhe, disse: — Lamento ter falhado com a senhora até agora,
mamãe.
Sra. Liston deu de ombros, mas não negou o fracasso de Emma. —
Tem uma oportunidade aqui, minha querida. E nós vamos pegá-la. Nós
vamos para aquela festa.
Emma conhecia aquele tom. Era o único que não tolerava recusa. Não
convenceria sua mãe do contrário, não importa o que dissesse.
— Muito bem, mamãe — disse baixinho. — Embora eu não possa
garantir que sairei desta festa com mais sucesso do que saí de qualquer
outra.
A tristeza de sua mãe, um momento antes, parecia ter desaparecido,
substituída por uma determinação sombria em nome de Emma. — Terá
amplas oportunidades de sucesso. Certamente haverá dezenas de homens
elegíveis para a perseguição, incluindo o próprio Duque de Abernathe.
O coração de Emma começou a bater forte e tentou muito não pensar
nos olhos escuros e na tristeza interior. De mãos grandes e ombros largos.
Dele.
Balançou a cabeça. — Abernathe está tão interessado em mim quanto
em um mosquito, mamãe — disse, mas sua voz soou sem fôlego e vacilou
um pouco.
A Sra. Liston não pareceu notar. — Então deveria se esforçar mais.
Não é uma grande beleza, não, mas também não é pouco atraente. Se não
mostrasse tanto sua inteligência, talvez tivesse mais sorte.
Emma mordeu a língua com força. Sua mãe vinha dizendo isso há
anos. Podia ser verdade que sua mente não lhe tenha trazido pretendentes,
mas Emma não queria um homem que precisasse de uma esposa estúpida.
Não queria esconder quem era.
Apenas que ninguém parecia querer quem ela era.
— Não consigo forçar a atenção de um homem — sussurrou.
— Então nem vai tentar? Por mim? — Disse a Sra. Liston, e então
começou a chorar completamente.
Emma apertou as mãos ao lado do corpo. Isso era manipulação e
sabia, mas não podia evitar. Deu um passo à frente e abraçou a mãe.
— Claro que vou... tentar. Nós vamos à festa como deseja. E eu vou
tentar.
Sua mãe deu um suspiro triunfante e abraçou Emma, antes de sair
correndo da sala, chamando sua criada e gritando sobre vestidos e chapéus,
como se a explosão de antes nunca tivesse acontecido.
Depois que se foi, Emma afundou na cadeira mais próxima e cobriu o
rosto com as mãos. Tentar era uma coisa, ter sucesso, outra. E, neste
momento, não parecia haver muita chance de sucesso.
U semana depois, James estava nas escadas de Falcon's Landing,
observando as carruagens entrarem no caminho, uma a uma. Ao seu lado
estava sua mãe, que conseguiu ficar sóbria pela primeira vez em semanas. E
Meg estava ao seu lado, sorrindo e agindo como a verdadeira anfitriã desta
festa.
Normalmente não se importaria com esse dever. Muitos dos
convidados eram seus amigos mais próximos. Tanto Graham quanto Simon
tinham ido para a propriedade com eles, três dias antes e os Duques de
Brighthollow, Roseford e Sheffield já haviam chegado. Seu clube não se
encontrava completo, mas, mesmo assim, estava cercado de amigos.
No entanto, a mente de James estava em outro lugar, enquanto
apertava as mãos, beijava os nós dos dedos e sorria para amigos e
conhecidos que subiam a escada e entravam em sua casa.
A duquesa soltou um longo suspiro e disse: — Isso é tudo, então?
Meg começou a falar, mas James a interrompeu quando uma última
carruagem entrou no caminho. — Não — disse baixinho. — Há uma
última.
A carruagem parou e viu-se dando um passo à frente, quando um de
seus lacaios correu para abrir a porta para os ocupantes. A Sra. Liston saiu
primeiro, em meio a uma frase e seu rosto corou. Ignorou-a, inclinando-se
ligeiramente para ver Emma atrás dela.
Saiu da carruagem com um breve agradecimento ao servo de James e,
em seguida, ergueu suas costas. Usava um vestido azul. Não era nada
extravagante, não como de algumas mulheres que chegaram em algo
elegante, para chamar sua atenção. Mas o azul fez os olhos de Emma
parecerem mais cerúleos. A tonalidade verde ali se desvaneceu
ligeiramente.
— James — disse Meg, dando-lhe uma cotovelada na lateral.
Piscou e encontrou a Sra. Liston parada no topo da escada,
estendendo a mão.
— Sra. Liston — engasgou-se. — É um prazer vê-la, bem-vinda à
nossa casa. Já conhece Margaret, eu sei.
Meg o encarou pela recepção rápida e desdenhosa da dama, e a ouviu
compensando calorosamente com suas próprias palavras, enquanto
apresentava a Sra. Liston à mãe. James não se importou. Aproximou-se
quando Emma subiu os últimos degraus e estendeu a mão para ela.
— Srta. Liston. — disse.
Emma hesitou antes de pegá-la e deixá-lo ajudá-la a chegar ao
patamar. Essa hesitação sempre lhe era fascinante, pois nunca tinha
conhecido outra dama que fosse incerta dele. Mas não havia nada comum
sobre Emma. Nada ganancioso ou falso.
Não o perseguia.
— Vossa Graça — suspirou, então observou a casa — É adorável.
Pegou-se observando o rosto dela por um tempo muito longo, antes de
se virar para examinar a casa. — Sim, é. Este lugar sempre foi minha fuga.
Talvez mais tarde eu possa levá-la em um tour.
Voltou o olhar para o rosto dele, e havia incerteza em sua expressão.
Mas não conseguiu responder, pois Meg pegou seu braço e a puxou para um
abraço. A atenção de Emma foi então desviada quando as duas jovens
começaram a falar e a rir, antes de Meg apresentar Emma à sua mãe.
— Lembra-se da Srta. Liston, mamãe? — Meg perguntou quando as
formalidades foram cumpridas.
James observou a troca cuidadosamente. A mãe deles não tinha
nenhuma lembrança de sua exibição embaraçosa no baile de Rockford, duas
semanas antes. E parecia não reconhecer Emma enquanto a olhava
fixamente.
— Conheço tanta gente — disse Sua Graça. — Liston, não é?
Emma assentiu, e não houve nenhum lampejo de julgamento em seu
rosto, nenhuma resposta além daquela que alguém teria ao conhecer alguém
pela primeira vez. Ela sorriu e estendeu a mão. — Prazer em conhecê-la,
Vossa Graça.
Seu mordomo, Grimble, apareceu no vestíbulo e Meg apertou o
ombro de Emma brevemente. — Entre, acomode-se. Subirei mais tarde e
poderemos ter uma conversa de verdade.
Emma assentiu e então seu olhar deslizou para James. Assentiu
levemente, antes de seus olhos se desviarem e, junto a mãe, entrar em sua
casa. Pegou-se recuperando o fôlego quando ela desapareceu.
Meg virou-se para ele. — Que expressão é essa?
Piscou. — Expressão?
Meg inclinou a cabeça. — Ah, vamos, eu te conheço muito bem.
Parece todo... beliscado. Não gosta de Emma?
Engoliu em seco. — Acho que está... bem. Realmente não a conheço.
— Bem, eu gosto dela — sua irmã insistiu. — Então terá que gostar
dela também. Acho que podemos ajudá-la.
James apertou os lábios. Ajudá-la? Sim, ele tinha suas próprias ideias
sobre esse assunto. Algumas que Meg pode não aprovar exatamente. Mas
ainda não havia tomado uma decisão completa sobre esse assunto, então
apenas assentiu. — Se é sua amiga, é minha amiga, lhe asseguro.
— Isto é tudo então? — A duquesa perguntou, aborrecimento em seu
tom.
Meg deu a James um olhar significativo antes de se virar. — Sim,
mamãe. Emma e sua mãe foram nossos últimos convidados. Podemos
entrar.
— Finalmente — murmurou a mãe, enquanto subia as escadas,
afastando-se dos filhos.
Normalmente James estaria mais focado em sua mãe e seu
comportamento, mas hoje sua mente se voltou para outros pensamentos.
Pensamentos em Emma Liston. E eram muito mais agradáveis do que
qualquer preocupação com a duquesa e se causaria ou não uma cena nas
próximas duas semanas.

E sorriu para Sally enquanto sua criada dobrava o último item em sua
gaveta e se endireitava para dizer: — Há mais alguma coisa que eu possa
fazer, senhorita?
Emma balançou a cabeça. — Não, obrigado. Acho que vou descansar
um pouco. Grimble disse que o jantar seria às oito e preciso de um
momento.
Sally olhou-a compreensiva. Embora Emma, é claro, nunca tenha
falado de suas frustrações com a mãe, Sally certamente via e ouvia coisas. E
dois dias amontoados em uma carruagem provavelmente tornaram as
dificuldades de Emma mais claras do que o habitual.
— Volto às sete para ajudá-la a se trocar. Claro, toque para me chamar
mais cedo se precisar —disse Sally, depois deslizou até a porta.
Abriu-a e soltou um suspiro, que chamou a atenção de Emma para a
saída. De pé ali estava Meg, rindo, enquanto levava a mão ao peito.
— Desculpe, milady — Sally disse, abaixando a cabeça.
Meg estendeu a mão e deu um tapinha em seu braço. — Céus, me
assustou. Que bom timing. Estava deixando a Srta. Liston à sua própria
mercê?
— Sim, milady.
— Isso a deixa toda para mim, então— disse Meg, entrando enquanto
Sally se afastava.
Sally deu a Emma um último olhar questionador e Emma assentiu,
desculpando-a. Sally fechou a porta atrás de si e deixou Emma e Meg
sozinhas.
— Estou tão feliz que concordou em vir — disse Meg, enquanto se
aproximava e a abraçava calorosamente.
Emma hesitou por um momento, mas depois a apertou de volta. —
Estou tão agradecida que tenha me convidado, milady.
Meg se afastou e deu-lhe um olhar. — Meg — disse com uma
sobrancelha arqueada.
— Claro, Meg — disse Emma. — Levarei apenas uma dúzia de vezes
para me lembrar.
Meg sorriu e olhou ao redor do quarto. — A câmara é satisfatória?
— Ah, sim. Tenho uma bela vista da floresta. Fiquei... surpresa por
não estar dividindo um quarto com minha mãe, no entanto.
Meg sorriu. — Estamos com a casa cheia e algumas das damas estão
dividindo com irmãs e mães, mas me certifiquei de que tivesse seu próprio
quarto. De que outra forma poderemos ficar acordadas até tarde da noite
conversando?
Emma riu. — Bem planejado, então.
— James ficou feliz em vê-la novamente — Meg disse enquanto se
movia até a janela e ajustava levemente as cortinas.
Emma ficou tensa com essa observação inesperada. — Tenho certeza
de que está satisfeito por ter todos convidados aqui para uma visita.
— Nem todos — Meg disse negando também com a cabeça. — James
acha que não escuto quando geme baixinho, mas ouço. Estava relutante em
relação a praticamente todas as damas, exceto a seu respeito.
Emma sentiu suas bochechas queimarem. — Ficou feliz porque fui a
última a chegar e poderia voltar para os amigos.
Meg deu de ombros.
— São muito próximos, não é? — Emma disse, esforçando-se para
mudar de assunto, já que este em particular a deixava muito desconfortável.
Agora o sorriso de Meg suavizou e seu rosto se iluminou. — Ah, nós
somos. Ele é três anos mais velho do que eu, mas sempre me incluiu.
Emma sentiu uma fissura de ciúmes com essas palavras. Crescera
sozinha, com um pai volátil e uma mãe insistente e instigante. Muitas vezes
ansiou por um irmão, para compartilhar seus problemas e sua diversão.
— É difícil imaginar Abernathe criança — admitiu. — É tão...
homem.
No momento em que disse as palavras, colocou a mão sobre a boca e
olhou para Meg. Mas Meg não parecia ofendida com seu exagero. Na
verdade, estava rindo.
— É um bom enganador, então — disse quando se recompôs. — Pois
às vezes o olho e só vejo aquele mesmo garotinho que andava na corda
bamba e brincava de toureiro com os touros no pasto.
Os olhos de Emma se arregalaram com aquela imagem. — Então
sempre foi um temerário?
Meg assentiu. — Nunca houve uma aposta que não aceitasse. E, de
alguma forma, sempre sai ileso.
— Algumas pessoas são douradas, — Emma disse com um encolher
de ombros. — Nunca sofrem.
A risada de Meg sumiu e seu rosto ficou mais sério. — Bem, eu não
diria isso — disse suavemente.
Havia algo em seu tom que fez Emma erguer a cabeça com interesse.
O grande Duque de Abernathe sofria? O homem que parecia ser capaz de
não fazer nada de errado e liderava um bando de duques? Um bando parecia
ser a melhor classificação para esse grupo.
Parecia improvável. Mas, novamente, havia aquela pitada de tristeza
em seus olhos. A qual sabia que não deveria ver.
— Seu irmão tem sido gentil comigo — admitiu Emma.
— Ótimo — respondeu Meg com um sorriso malicioso. — Então
ficará feliz por estar sentada ao lado dele no jantar esta noite.
— Os olhos de Emma se arregalaram. — O que? Oh Meg! Não
deveria!
Meg recuou. — Por que não?
— Porque Abernathe é o anfitrião e é terrivelmente importante.
Sentar-se ao lado dele na ceia é um lugar de prestígio. Todos vão sussurrar
se uma pessoa como eu tiver esse posto de honra.
Meg revirou os olhos. — Preocupa-se muito. E se as pessoas olham e
falam, isso não é bom? Quer interesse, não quer?
Emma congelou com essa afirmação, tão perto das palavras que disse
a Abernathe em seu jardim em Londres, menos de uma semana antes. —
Será que... Abernathe te disse alguma coisa?
— Sobre o quê? — Meg perguntou, piscando no que parecia ser uma
verdadeira confusão com a pergunta e a nitidez com que foi feita.
— Sobre mim. Minha posição — Emma respirou. Derramou tantas
coisas para ele naquele dia. E então fez sua piada ridícula sobre cortejá-la
para ganhar favores. Suas bochechas queimaram só de pensar nisso.
— Não me disse nada — Meg disse gentilmente.
Emma soltou um suspiro de alívio. Pelo menos sua humilhação não
foi totalmente completa. — Ainda assim, não deveria ter arranjado uma
coisa dessas, Meg. De verdade.
— Sua oposição está devidamente anotada. Agora eu deveria ir.
Preciso checar minha mãe e dizer um olá mais longo para alguns outros
amigos. — Meg foi até a porta e lá sorriu. — Ah, e deve saber que não fiz
os arranjos dos assentos. Ele fez.
Emma a olhou em choque mudo quando Meg saiu, com uma
despedida brilhante. Então afundou na cadeira mais próxima. Abernathe
insistiu que se sentasse ao lado dele? Essa era uma notícia inesperada, de
fato. Assim como a emoção que a percorreu com a ideia.
Teria que abafá-la completamente antes do jantar começar.

J se recostou na cadeira, ignorando o que restava do jantar em seu


prato. Olhou para a esquerda, para Emma. Estava olhando para a comida,
mas não comia muito, apenas empurrava, para parecer que tinha comido.
Estava tão concentrada no ato que lhe deu tempo para observá-la.
Na semana desde que fez sua pequena brincadeira intrigante sobre a
cortejar para chamar a atenção, ele fez um pouco de pesquisa sobre ela e
sua família. O que Graham lhe havia dito durante o jogo de bilhar era
apenas o começo, pois as coisas eram sombrias. Ficou impressionado com o
quão pouco Emma refletia o que suportava em suas palavras ou ações.
Mas agora sabia a verdade e isso o fez examiná-la mais de perto.
Usava vestidos finos, não os melhores, mas definitivamente não baratos. E
tiveram que pegar uma boa quantia dos fundos que ela e sua mãe possuíam,
porque sabia que tinham pouco dinheiro. Observando Emma, sabendo como
se sentia sobre a sociedade, não podia acreditar que era escolha sua.
O que significava que estava sendo arrastada para uma vida escolhida
por sua mãe. Algo que entendia muito bem, se substituísse a mãe dela por
seu pai.
Emma também era conhecida como uma espécie de bluestocking.
Quando o assunto foi abordado, um cavalheiro disse algo como - esperta
demais para o próprio bem dela ou de qualquer outra pessoa. James supôs
que isso fosse para afastá-lo, mas, na verdade, aumentou seu interesse. Não
havia nada que odiasse mais do que passar o tempo com uma jovem de
cabeça oca. Alguém que apenas espelhava suas próprias opiniões em
alguma tentativa ridícula de se aproximar.
A única coisa que ninguém falou, que notou sentado ao seu lado, foi o
quão bonita era. Oh, não era vistosa. Não tentava ser um diamante, nem em
palavras, ações ou aparência. Mas havia algo nela que era inegavelmente
atraente. E não eram apenas seus olhos deslumbrantes e lábios carnudos.
Era apenas... bonita.
Inclinou-se para frente e baixou a voz para que apenas ela pudesse
ouvi-lo. — Sabe, a pobre vaca já foi morta uma vez, Emma.
Ela virou o olhar para ele, os olhos subitamente arregalados enquanto
gaguejava, — O q-que, p-perdoe-me, Vossa Graça.
— Eu disse que a pobre vaca já foi morta uma vez e a está matando
novamente, arrastando-a pelo prato, com aquele garfo.
Emma olhou para os rastros que havia feito em sua comida e depois
de volta para ele. E para sua grande surpresa e triunfo absoluto, ela sorriu.
Era uma expressão ampla e absolutamente honesta, e, por um momento,
mal conseguiu respirar. Seu rosto inteiro se iluminou com isso e lá viu o
diamante que nunca se permitiu ser.
— Desculpe — sussurrou, completamente alheia aos pensamentos
dele. — A comida está maravilhosa, estou apenas...
Parou e ele inclinou a cabeça. — Apenas...?
Abaixou o queixo. — Nervosa — disse tão baixinho que mal a ouviu.
— Por quê? — Pressionou suavemente.
Ergueu o olhar e encontrou o dele, segurando-o ali por um batimento,
depois dois. Até que se tornou muito longo, a ponto de sentir algo queimado
em sua barriga.
— Por minha causa? — Perguntou, sua voz agora áspera.
Ela engoliu em seco e observou sua garganta delicada trabalhar com a
ação. — Sim — murmurou, seu próprio tom muito mais baixo e rouco.
— Abernathe?
Estremeceu ao som de seu nome, dito em voz alta, da outra ponta da
mesa, onde Meg estava confraternizando com os comensais. Empurrou seu
olhar para ela e descobriu que praticamente todos os olhos na mesa estavam
focados nele. Em Emma.
Emma pareceu reconhecê-lo também naquele momento e corou
quando abaixou a cabeça pela segunda vez.
— Sim? — disse.
— Eu disse que talvez seja hora de terminar o jantar para que todos
possam se preparar para o baile. — Meg ergueu as duas sobrancelhas
enquanto olhava primeiro para ele, depois para Emma.
— Excelente ideia — disse, levantando-se. — Damas e cavalheiros,
por favor, juntem-se a nós em uma hora no salão de baile.
Os outros começaram a se levantar, suas conversas enchendo a sala
enquanto vagavam, em pares ou pequenos grupos. Emma levou um longo
momento para se levantar e suas mãos tremiam quando colocou o
guardanapo sobre a mesa. James viu a mãe dela esperando, a atenção
totalmente focada nos dois. Só tiveram um momento antes que ela se
aproximasse.
— Emma — disse, mal resistindo à vontade de pegar a mão dela.
Ela o olhou. — Sim?
— Quer passear comigo no jardim?
Ela piscou como se não entendesse a pergunta. — Caminhar? Agora?
Assentiu. — Falta uma hora para o baile e gostaria que voltasse a
tempo de se arrumar. Por favor, ande comigo.
Seus lábios se separaram e sussurrou, — Por que...
Mas antes que pudesse terminar o que ia dizer, sua mãe correu até
eles, seus olhos se iluminaram com prazer frenético. — Sim! É claro que irá
acompanhá-lo, Vossa Graça.
James cerrou os lábios, pois não desejava a aquiescência da Sra.
Liston. Queria a da Emma. Mesmo que o que pretendia discutir com ela
fosse pouco mais do que um acordo comercial, ainda assim queria sua...
rendição.
Uma percepção que o colocou um pouco fora de ordem.
— Isso é um sim seu, Emma? — Perguntou.
Ela lançou um olhar para a mãe e suas bochechas estavam vermelhas
quando assentiu. — Claro, Vossa Graça. Eu gostaria muito disso.
Não tinha certeza se estava sendo honesta naquela declaração, ou
apenas tentando apaziguar a mãe, que estava ao lado deles agora,
praticamente pulando. Meg também estava perto da saída, observando-os
com interesse brilhante em seus olhos escuros.
Naquele momento, não se importou. Conseguiu o que queria. E
quando pegou seu braço e a levou para fora da sala de jantar, sentiu um
arrepio de excitação que não experimentava há muito tempo.
E segurou a mão livre ao seu lado e tentou ignorar o fato de que a mão
oposta estava presa ao redor do bíceps do Duque de Abernathe. Seu bíceps
muito musculoso. E ele cheirava bem, também, maldito seja. Como cravo e
couro. Era totalmente injusto.
Guiou-a escada abaixo, para o jardim e pelo caminho sinuoso. Não
tinham falado desde que saíram da sala de jantar, alguns momentos atrás, e
Emma finalmente se afastou e se virou para encará-lo.
Seu rosto estava iluminado, tanto pela lua quanto por algumas
lanternas que guiavam o caminho. Naquela meia luz suave, prendeu a
respiração. Deus, mas era todo ângulos e curvas. Todo dura masculinidade e
isso a fez se sentir pequena e suave ao lado dele.
Mas não queria se sentir pequena e suave, porque isso significava
vulnerável e tola. Já sentia isso o bastante nesta vida sobre a qual tinha tão
pouco controle.
Respirou fundo e tentou esquecer que estava perto e a observando
com aqueles olhos intensos. Soltou seu braço, colocou as mãos nos quadris
e retrucou: — Por que fez isso?
Ele recuou surpreso com seu tom e a olhou com exatamente zero de
compreensão em seu rosto. — Fazer o quê?
Soltou um suspiro frustrado. — Fazer com que me sentasse ao seu
lado no jantar. Inclinar-se e falar comigo como se estivéssemos discutindo
algo íntimo. Escolher-me para caminhar contigo no jardim. Todo mundo
estava olhando para nós... para mim, Abernathe.
Seus lábios se apertaram. — James.
Tinha mais a dizer, mas sua suave advertência a fez parar. — Como?
Acabou de me dizer que eu deveria chamá-lo de James?
Ele assentiu. — Eu preferiria. Nunca gostei do meu título. É um mal
necessário para mim.
Hesitou, pois essa afirmação a fez pensar. A maioria dos duques
usava seu título como um distintivo de honra, embora nenhum deles tivesse
feito nada para conquistá-lo, exceto ser o primeiro filho do primeiro filho de
outra pessoa. Mas Abernathe, realmente, parecia desconfortável enquanto
estava ali.
E isso nada tinha a ver com ela, mas aqui estava, ponderando sobre
isso. Fez uma careta. — Não posso chamar o Duque de Abernathe pelo
nome de batismo. Seria totalmente inapropriado.
— Eu a chamo de Emma — disse com um leve sorriso.
— Sim, notei isso — disse, estremecendo com a forma como os
lábios dele formaram seu nome. — E é igualmente inapropriado, pois sou
uma senhorita solteira, sem nenhuma ligação contigo ou sua família. Tudo o
que faz é dar uma falsa sensação de...
— Tem uma ligação com minha família — a interrompeu, cruzando
os braços e fazendo sua jaqueta esticar para trás em seu peito ridiculamente
largo. Aquele que não conseguia parar de olhar, mesmo enquanto tentava
repreendê-lo por ser muito familiar.
— Que conexão? — Perguntou, lutando loucamente por foco.
Arqueou uma sobrancelha. — Minha irmã te adora. É amiga dela.
Emma o olhou, um pouco do fogo saindo dela com essa declaração.
— Bem, sim. Meg e eu nos tornamos amigas.
— Então, qual é o problema de eu chamar uma das amigas mais
próximas de minha irmã pelo primeiro nome e ela me chamar pelo mesmo?
Especialmente quando estamos na privacidade de um jardim, onde não há
mais ninguém por perto. Não é como se eu estivesse pedindo para que me
chamasse de James em outros lugares.
— Então chamá-lo de James é um pedido específico do jardim? —
Perguntou, e então balançou a cabeça. O que ela estava fazendo? Estava
flertando com esse homem? Este deus? Esta criança dourada que não sabia
nada sobre o que significava viver à margem?
O mesmo tipo de homem que evitou durante toda a sua vida adulta?
Ele riu, e o som a atingiu bem no estômago. Mais abaixo, na verdade.
Significativamente e inadequadamente mais abaixo. Agora se sentia toda...
quente... e... e... formigando.
— Especificamente na privacidade — corrigiu. — Quando
estivermos a sós, quero que me chame de James.
Estremeceu com a ideia, tola como era. — James, realmente acha que
algum dia ficaremos a sós um com o outro novamente?
Olhou-a de perto e algo em seu olhar mudou. Suas pálpebras se
estreitaram e suas pupilas se dilataram enquanto a olhava. Essa sensação de
calor e formigamento aumentou e Emma se mexeu, mas suas pernas
esfregando juntas só pioraram.
— Por que não? — Perguntou baixinho.
Houve um momento em que quis acreditar que um homem como
aquele pudesse ter algum interesse nela. Que era diferente e pudesse ver
além dos problemas que vinham ao cortejá-la. Que pudesse ver além da
inteligência que era um obstáculo para tantos homens, além da sua falta de
fundos, além de tudo que a tornava indesejada.
Mas então a realidade voltou e o encarou.
— O que está fazendo? — Perguntou. — Por que está fingindo que
poderia ter algum interesse em mim? O que ganha com isso?
— É direta — disse assentindo. — Mais uma coisa que gosto.
Todas suas guardas foram erguidas agora e se afastou dele. — Mas o
senhor não é direto, Vossa Graça. O que me faz pensar que tipo de jogo está
jogando. Está brincando comigo?
Seus lábios se separaram quando todo o humor e provocação saíram
de seu olhar, sua voz, sua postura. — Não — disse, quase horrorizado. —
Não, claro que não. Por que pergunta isso?
Encolheu-se, havia exposto um nervo com sua pergunta, que começou
a palpitar profundamente dentro dela. Afastou-se dele. — Não seria o
primeiro, Vossa Graça. Não importa...
Esperava que dissesse algo superficial então. Para encontrar uma
maneira de escapar do desconforto dessa troca. Em vez disso, o ouviu se
mover, sentiu sua presença às suas costas. Prendeu a respiração quando sua
mão se fechou ao redor de seu braço suavemente. Virou-a e ela o olhou, tão
perto, que se avançasse apenas uma polegada, estaria em seus braços.
Seus dedos deslizaram pelo braço dela, pelo ombro, e então roçaram
sua bochecha. Mal podia respirar quando ele tirou aquela última polegada
entre eles. Seu peito e coxas roçaram os dele e começou a tremer.
— Isso importa, Emma — sussurrou. Estava tão perto que sua
respiração tocou seus lábios.
Pegou-se levantando o queixo, seus olhos se fecharam como se algum
instinto antigo a levasse a fazê-lo. E então sua boca roçou a dela e cada
pensamento, cada hesitação, tudo mais no mundo, desapareceu de sua
mente.
Seus braços vieram ao redor dela e Emma ofegou. Ele aproveitou a
separação de seus lábios e traçou sua língua através da abertura. Ficou
congelada. Nunca tinha sido beijada antes, não tinha ideia do que fazer. Mas
ele não cedeu, apenas inclinou a cabeça para um melhor acesso.
E o deu. Seu corpo respondeu onde sua mente não sabia como e se
abriu para ele, lançando sua própria língua para tocá-lo com hesitação. Mas
a hesitação logo deu lugar a outras coisas. Perdeu-se na sensação dos braços
ao seu redor, da boca na sua, da língua roçando a sua. Tudo isso a fez
ganhar vida. A fez totalmente consciente de cada vibração e formigamento
em seu corpo... e neste momento havia muitos deles. Parecia que havia
encontrado terminações nervosas onde nunca soube que existiam e todas
pulsavam no ritmo de seu beijo.
Agarrou seus braços e se ergueu para ele, sentindo seus quadris
baterem nos dele. James soltou um som estrangulado quando fez isso e
então se afastou. Ficou lá, tonta, olhando-o, enquanto a olhava de volta, sua
respiração curta e seus olhos arregalados.
Finalmente, conseguiu encontrar sua voz e sussurrou: — Por que...
por que fez isso?
James piscou. — Eu não pretendia — disse, tão suave quanto ela.
Emma franziu a testa. O beijo tinha significado algo para ela e a ideia
de que tinha sido apenas um erro da parte dele era desanimadora para dizer
o mínimo.
— Ah — disse.
— Mas estou feliz por ter feito isso — continuou, encarando-a. —
Também está?
Ela queria desesperadamente negá-lo. Poder dizer que não gostou e ir
embora. Ser capaz de fingir que este homem não a comoveu. Mas não
podia.
— Sim — admitiu. O calor encheu suas bochechas e se virou contra
ele. — Ah, eu deveria entrar. Deveria me arrumar.
— Espere, Emma! — Gritou, enquanto se afastava alguns passos.
Emma congelou, e lentamente se virou. Deus, era diabolicamente
bonito. Agora parecia tão sério, tão determinado.
— Sim?
— Tenho uma ideia — disse. — Um plano. Poderia ajudar nós dois.
Era por isso que eu queria falar contigo aqui esta noite.
A decepção que não queria sentir encheu seu peito. Em alguma
pequena parte, esperava que a tivesse chamado de volta por algum motivo
mais pessoal. Não um plano. Embora que tipo de plano poderia ser, era
completamente desconhecido para ela.
— Um plano? Não entendo.
— Me disse algo na semana passada quando nos separamos, depois
da festa de jardim de Meg. Isso ficou comigo desde então — disse.
Deu um passo em direção a ele, enquanto sua mente se voltava para
seu tempo anterior juntos, em um jardim diferente. Sabia exatamente que
tolices lhe disse então. Como abriu sua alma, da mesma forma que abriu seu
corpo, um momento antes. De alguma forma, esse homem inspirava isso,
por mais tolo que fosse.
— O que eu disse? — Perguntou, fingindo inocência.
James arqueou uma sobrancelha, sua expressão chamando sua
memória de defeituosa, mesmo que não dissesse uma palavra sobre isso. —
Quando perguntei se poderia ajudar, me disse que eu poderia cortejá-la para
fazer os outros a notarem.
Ela apertou os punhos e quebrou o olhar intenso. — Ah, por favor,
não coloque essa coisa boba na minha cabeça. Só estava falando, não estava
pensando. Não quis dizer isso e não há necessidade de...
— É uma boa ideia — a interrompeu. — Quanto mais eu pensava
nisso, melhor ficava. Para nós dois. Se a cortejasse, tiraria de mim todos os
olhos de todas as mamães gananciosas. E colocaria todos os olhos de todos
os cavalheiros em sua pessoa, exatamente como disse
Emma piscou. — Então quer... me cortejar?
James engoliu em seco. — Não. Bem, não realmente. Fingir. Prestar
atenção suficiente, para ganhar a atenção sem fazer promessas irreversíveis.
Uma corda bamba, sim, mas que podemos caminhar se formos claros e
cuidadosos.
Emma ficou chocada com a dor que se espalhava em seu peito
enquanto lhe explicava. Não era como se quisesse ser cortejada por esse
homem, com ou sem beijo. Estava fora de seu alcance. Muito longe.
— Então quer mentir — disse.
Ele assentiu. — Uma maneira direta de dizer, mas sim.
— E como isso funcionaria, exatamente?
— Assim como um namoro normal, só que sabemos que não é.
Dançaríamos juntos, flertaríamos. Direi coisas adoráveis a seu respeito
quando alguém perguntar, irá corar lindamente quando eu for mencionado.
— Sorriu. — Sim, exatamente como está fazendo agora.
Ela levou as mãos às bochechas quentes. — Ah, Abernathe...
— Se estamos tramando juntos, deve ser James mesmo — disse com
uma sobrancelha arqueada.
— Mas eu não estou tramando,— disse. — Estava apenas brincando
quando lhe disse isso na semana passada.
— Estava? — Perguntou, de repente sério de novo. — Seja honesta
consigo mesma, estava brincando? Sei um pouco a seu respeito, Emma.
O medo apertou seu coração assim como a tristeza, um momento
antes. — O que sabe sobre mim?
James suspirou, como se relutasse em dizer o que estava prestes a
dizer. — Sei que está na sociedade há quatro anos. Que fica colada na
parede, nas festas, odiando cada momento. Sei que sua mãe a está
pressionando, exigindo que a salve.
— Salvá-la? — Emma repetiu, odiando como seu lábio inferior
tremia. Odiando que estivesse certo e pudesse ver tudo o que a atormentava.
— Salvá-la porque o dinheiro acabará, principalmente no ritmo que
ela quer gastar. E coloca todas as suas esperanças nas suas costas. É um
fardo pesado, Emma, posso ver. — Sua voz baixou e deu um pequeno passo
em direção a ela. — Sei disso. Estou me oferecendo para ajudá-la a carregá-
lo. Para lhe dar uma nova chance que não teve, desde sua apresentação em
sociedade.
Balançou a cabeça. — E faria tudo isso só para manter algumas
mamães agressivas afastadas?
James sustentou seu olhar, pelo que pareceu muito tempo. Sentiu que
estava analisando o que fazer a seguir. Parecia que havia tomado uma
decisão quando disse: — É mais do que isso. Suponho que se devo fazer
exigências, pedir-lhe para ser minha parceira nisso, devo ser honesto
contigo. Emma, não quero me casar.
— Nunca? — Perguntou.
Lentamente, assentiu, seu olhar nunca deixando o dela. — Nunca.
Emma piscou. Tinha ouvido aqueles rumores, é claro, que James
estava evitando seu dever. Meg deu a entender, ele disse algumas coisas
sobre isso, fofocas gritavam sobre isso..., mas assumiu que era sobre adiar o
inevitável, por um ano ou dois.
Isso era outra coisa.
— Por quê? — Perguntou.
James congelou, e desconforto cruzou seu rosto bonito. Olhou para o
céu, perdido, enquanto ponderava sobre os problemas que estavam em sua
mente. E havia problemas. Podia vê-los se movendo em seu rosto. Pior,
queria dar um passo à frente e confortá-lo, mesmo que não fosse seu lugar.
— É complicado — disse por fim, seu rosto se transformando em
sombra para que não pudesse mais lê-lo. — Basta dizer que tenho meus
motivos. Então vai me ajudar? E ser ajudada no processo?
Não respondeu de imediato. Naquele momento carregado, queria
saber muito mais. Para saber por que aquela tristeza estava em seus olhos
novamente. Para saber por que evitava seu dever quando parecia que era um
homem de honra em seu coração.
Mas ele não queria mostrar-lhe essas coisas e não tinha o direito de
pedir.
— Isso é loucura — disse por fim, pois não tinha outra maneira de
descrevê-lo.
Para sua surpresa, ele sorriu. — Está aqui, Emma. Já estamos nessa
situação, não é? Por que não ajudar um ao outro?
Respirou fundo. O mundo estava girando, loucamente fora de
controle, e precisava de um momento, antes de concordar com algo tão
selvagem quanto o plano dele.
— Deixe-me pensar sobre isso — disse.
Seus olhos se arregalaram, e por um momento foi como se nenhuma
mulher tivesse recusado um pedido dele antes. Talvez não tivessem. Era um
homem que era difícil de se recusar.
Finalmente assentiu. — Muito bem, se é isso que precisa. Pense o
quanto quiser.
— Tenho de ir até a casa. Preciso... me aprontar, apenas... me
aprontar.
— Posso acompanhá-la — sugeriu.
Olhou-o, seus lábios ainda latejando onde a beijou, seus joelhos
tremendo e balançou a cabeça. — Não, acho melhor que fique aqui. Eu...
ah, eu vou indo.
Não disse mais nada e o ignorou chamando seu nome enquanto corria
do jardim e voltava para a casa. Mas estar longe dele não ajudou tanto
quanto esperava. Mesmo enquanto ela fugia, ainda sentia seu olhar sobre
ela. Suas mãos sobre ela. Sua boca nela.
E ainda ouvia as palavras de seu plano soando em seus ouvidos
enquanto se preparava para o que prometia ser uma longa noite pela frente.
J olhou para o salão de baile e imediatamente avistou Emma. Estava
de pé na parede, assim como fazia em quase todos os bailes ou festas que
frequentava, mas esta noite não estava sozinha. Esta noite alguns
cavalheiros estavam ao seu lado, conversando com ela e Meg.
E, embora devesse ter ficado satisfeito com isso - afinal de contas,
provava seu ponto de vista, de que sua atenção traria olhos e interesse para
ela - em vez disso, fazia seu sangue ferver. Dois dos homens eram idiotas,
não conseguiriam alcançar seu intelecto de forma alguma. O outro, Sir
Archibald, era vinte anos mais velho, com duas esposas mortas em seu
rastro e oito filhos, verdadeiramente detestáveis.
— Por que fica se mexendo? — Simon perguntou, dando uma
cotovelada em sua costela.
James piscou e desviou o olhar, para focar novamente em Simon,
Graham e outro de seu clube, Robert, o Duque de Roseford. Estavam todos
lhe olhando, expectantes e bastante presunçosos, se estivesse lendo suas
expressões corretamente.
— Não é nada — resmungou, desviando a atenção.
Graham riu. — Ou é a senhorita Emma Liston, com quem todos
vimos que conversava bem de perto no jantar?
— Sim, e então o idiota vai passear sozinho com ela no jardim —
Roseford disse, piscando os cílios. — Cuidado, deixará a moça apaixonada
e então estará em apuros.
James apertou os lábios com a provocação e ignorou o lampejo de
prazer, com a ideia de Emma lhe desejando. — Não estou preocupado com
isso. Só estou chocado que não tenha respondido à minha oferta.
Graham deu um passo adiante. — Sua oferta? Cristo, James, não me
diga que foi adiante com aquela ideia ridícula que estava me contando em
Londres.
— Que ideia? — Simon perguntou, olhando entre os dois. — Do que
ele está falando?
James se mexeu em desconforto. Queria o conselho de seus amigos,
mas não suas provocações, quando a verdade viesse à tona. — Achei que
Northfield já lhes tivesse contado tudo — disse. — Riu tanto disso às
minhas custas.
— Bem, pensei que estivesse brincando — Graham explicou. —
Então não contei nada a ninguém.
— Do que estão falando? — Roseford perguntou, olhando para
Simon.
— Algo que não estou a par. Algum dos dois se importaria em nos
explicar?
Graham virou-se para eles. — Antes de sairmos de Londres, James
veio até mim com essa ideia ridícula de que fingiria cortejar Emma Liston,
para ajudá-la a atrair atenção no mercado matrimonial — e para manter a
atenção longe de si mesmo. — Olhou para James. — Realmente se
aproximou dela com esse plano ridículo?
James cruzou os braços. — Não é tão ridículo. Prestei a mínima
atenção a ela esta noite e olhe, tem homens reunidos ao seu lado. — Fez
uma careta, quando Emma sorriu para algo que Sir Archibald estava
dizendo. — Embora eu não aprove a qualidade.
Roseford se inclinou para frente, seus olhos escuros brilhando com
verdadeira emoção. — Perdeu a cabeça? É exatamente assim que os
homens ficam presos ao casamento.
A expressão de Simon era menos dura que a de Robert, assim como
seu tom. — Então, realmente, conversou com ela sobre isso?
— No jardim, antes do baile — admitiu James, sua mente traiçoeira o
arrastando de volta ao beijo, antes de afastar o pensamento. — Ela disse que
tinha que pensar sobre isso. O que há para pensar? Estou lhe oferecendo
algo mutuamente benéfico. Por que resistiria?
Graham inclinou a cabeça para trás e começou a rir. — Meu Deus,
isso é sobre recusá-lo. Nunca teve uma mulher com a ousadia de lhe dizer
não.
James abriu a boca para refutar essa acusação, mas descobriu que não
podia. Sempre teve damas caindo aos seus pés. Sempre dançavam,
arrulhavam e, se fossem de um certo tipo, caíam na cama com ele.
Emma era diferente. Em mais de uma maneira. Beijou-o no jardim,
sim. Mas não houve sorrisos, brincadeiras e flertes depois. Mal tinha
reconhecido que isso aconteceu. E aqui estava ele, ainda saboreando-a em
seus lábios e sentindo-a em seus braços.
Isso era loucura.
— Corrija-me se estiver errado, mas não declarou, várias vezes, que
casar não é algo no qual esteja interessado? — Roseford pressionou.
James se mexeu. — Sim. E esse ardil poderia muito bem me ajudar a
atingir esse objetivo. Se eu não estiver disponível aos olhos das mamães,
voltarão a focar sua atenção nos outros. E quando Emma encontrar outra
pessoa, terei uma desculpa perfeita do porquê não estarei interessado nesta
temporada ou na próxima ou mesmo na seguinte.
Graham o encarou por muito tempo e a preocupação no rosto de seu
amigo era clara. — Se não quer se casar, simplesmente não se case. Este
plano complicado não é a melhor maneira de garantir isso.
Simon estava balançando a cabeça, sua própria expressão concentrada
de preocupação. — E se está realmente preocupado com a senhorita Liston,
também existem maneiras mais fáceis de ajudá-la. Há alguns em nosso
grupo que estão abertos à ideia de noivas.
— Acha que eu deveria providenciar para que se encontre com
alguém de nosso grupo? — James perguntou, seu corpo esfriando com o
pensamento.
Roseford assentiu. — Idlewood me vem à mente. Christopher ainda
não herdou seu ducado, mas é financeiramente estável como Conde, então,
a posição dela pode não ser difícil para ele.
Uma grande onda de irritação varreu James quando olhou para Emma
e a imaginou com seu belo amigo. Com qualquer um de seus amigos
elegíveis.
— Não — disse. — Assim é melhor.
Roseford soltou uma risadinha e disse: — Bem, se insiste. Estou
vendo minha mãe sinalizando, por isso, vou me retirar.
Graham soltou um longo suspiro. — Irei acompanha-lo. Devo dançar
com Margaret.
James sentiu Simon enrijecer ao seu lado e lançou um olhar para o
amigo, mas seu rosto não se mexeu. Despediram-se de seus amigos e
ficaram sozinhos. James continuou a olhar, através da multidão, para
Emma.
Como se sentisse seu olhar, ela se virou. Seu rosto perdeu um pouco
da cor, então sussurrou algo para seus companheiros, respirou fundo e
começou a se mover em sua direção. Seu coração gaguejou ao vê-la se
mover pelo mar de pessoas.
Simon virou-se para ele. — Parece que sua resposta está chegando,
James. — Olhou para Emma, então sua atenção se desviou para a multidão.
Balançou a cabeça lentamente. — Não sou como Graham e Roseford. Não
sei se o que está planejando é certo ou errado ou simplesmente louco. Mas
sei, por amarga experiência, que se alguém não aproveita suas
oportunidades, o arrependimento é um pobre companheiro de cama. Então,
faça o que achar certo.
James olhou-o de relance, perturbado com a expressão de Simon. Mas
seu amigo não permitiria que o pressionasse sobre o assunto. Limitou-se a
dar tapinhas no antebraço de James e depois escapuliu, pouco antes de
Emma o alcançar. Então todos os outros pensamentos se esvaziaram de sua
mente, deixando apenas ela.

E mal conseguia respirar enquanto terminava o que parecia ser uma


longa caminhada através da sala. James a olhava o tempo todo, o que não
ajudou, pois, a expressão em seu rosto bonito e anguloso era muito intensa.
Lembrou-se do jardim e de seu beijo inesperado e altamente prazeroso.
Parou diante dele, empurrando as mãos trêmulas para as costas. —
Vossa... Vossa Graça — disse suavemente.
James inclinou a cabeça, examinando-a de perto, antes de dizer: —
Gostaria de dançar, Emma?
Ela estremeceu com a sugestão. De alguma forma não estava
esperando por isso. Mas não havia como evitar, então assentiu. James
estendeu a mão e Emma a pegou, a eletricidade, que tentou ignorar,
correndo por seu braço. Sentiu todos os olhos no salão se voltarem em sua
direção, enquanto o duque a guiava para a pista de dança. Quando a música
começou, segurou um gemido.
Uma valsa. Claro que seria uma valsa. Qualquer coisa para forçá-la a
permanecer em seus braços, como se fosse seu lugar, quando certamente
não era.
Colocou a mão em seu quadril e a girou nos primeiros passos. Viu-se
encarando-o, perfeitamente conduzida por ele. Era tudo que um homem
deveria ser quando dançava. Era ágil e gracioso, mas conduzia com mão
firme, virando-a exatamente para onde queria que fosse.
James sorriu. — Provavelmente ajudaria se parecesse um pouco
menos aterrorizada, Emma. As pessoas vão pensar que a estou mantendo
como refém.
Emma não pôde deixar de rir de seu tom leve. Isso drenou um pouco
da tensão de seu corpo e facilitou seus passos. Respirou fundo. — Se pareço
nervosa, é porque estive pensando no que me sugeriu no jardim.
Os dedos dele apertaram suas costas, aproximando-a um pouquinho
mais. — Já pensou? E qual é sua resposta ao meu plano?
— É uma loucura participar de tal fraude — disse, vendo um lampejo
de emoção cruzar seu rosto, antes que voltasse a ficar calmo e insondável.
— Mas...
— Mas? — Pressionou-a.
— Não tenho quase nada a perder com a tentativa — admitiu. —
Então, se sua oferta ainda estiver de pé, concordarei com os termos.
James sorriu, e essa expressão iluminou seu rosto, fazendo com que
tropeçasse. Meu Deus, como era lindo. Verdadeiramente belo, como uma
espécie de anjo perverso.
Amparou-a dizendo: — Minha querida, ainda não chegamos a um
acordo.
Emma franziu a testa. — Não? Estou concordando com seu ardil.
Girou-a habilmente enquanto dizia: — Mas há detalhes. E os detalhes
são incrivelmente importantes, especialmente em um arranjo como este. Só
que aqui na pista de dança, com o mundo assistindo, não é o local para fazer
isso.
Emma olhou ao redor e respirou fundo. De fato, o mundo parecia
estar assistindo. As mulheres a estavam olhando sobre seus leques, os
cavalheiros avaliando-a e conversando entre si. Se remexeu com
desconforto, pois nunca tinha sido o centro de tanta atenção antes.
— Onde então? — Perguntou, sua voz falhando.
James ponderou a questão por um momento. — Minha irmã diz que
lhe deu um quarto individual?
Seus lábios se separaram. — Não pode querer vir ao meu quarto,
Vossa Graça.
Havia um brilho escaldante em seus olhos, mas então meneou a
cabeça. — Não. Acho que isso não seria uma boa ideia, se considerarmos.
— Considerarmos o quê? — Perguntou com um suspiro.
O duque deu de ombros, mas mais uma vez seus dedos deslizaram ao
longo de sua espinha, com uma intimidade que a fez estremecer. — Apenas
considerarmos. Eu só mencionei isso porque, se estiver sozinha, será mais
fácil para que escape. Se juntará a mim na biblioteca, em algumas horas?
Emma considerou a pergunta por um momento. Sair sorrateiramente
de seu quarto, no meio da noite, para se encontrar com um homem
escandaloso, muito procurado e incrivelmente atraente, não parecia a coisa
mais apropriada a fazer. Mas, novamente, esteve se comportando
corretamente durante toda a sua vida e o que isso lhe trouxe?
A impropriedade estava começando a parecer ter suas vantagens.
Assentiu. — Irei.
James sorriu novamente quando a música terminou. — Estarei
ansioso por isso, Srta. Liston — disse com uma reverência formal.
Emma executou sua própria reverência. — Obrigada, Vossa Graça.
Pegou-a pela mão e a conduziu para fora da pista de dança. Mas,
antes de soltá-la, inclinou-se e deu um beijo em sua mão enluvada. O calor
de sua respiração perfurou o tecido fino, girando em torno de sua pele, até
que suas coxas se apertaram.
James acenou e a soltou, desaparecendo entre a multidão, como se
não se importasse com nada no mundo. E talvez ele não o fizesse. Afinal,
este seu pequeno ardil, provavelmente, não significasse nada para ele, assim
como seu beijo, mais cedo, também não significou.
E tinha que se certificar de que estava igualmente tranquila sobre isso
ou então se colocaria em um mundo de problemas.

E desceu a longa escadaria horas depois, espiando pelos corredores,


agora sombrios, com medo de ser pega. Havia inventado uma explicação
elaborada, enquanto esperava a hora certa de descer. Envolvia sua
incapacidade de dormir, o amor pelas bibliotecas e a necessidade de um
livro chato.
Só podia esperar que nunca lhe pedissem para recitá-lo, pois não era
muito boa em mentir.
Bufou, enquanto murmurava, — Exatamente por isso está entrando
em um ardil de namoro com um... um... — Empurrou a porta da biblioteca e
prendeu a respiração. James já estava lá, de pé, junto ao fogo. Havia tirado
a jaqueta, a gravata, e sua camisa estava com dois botões abertos, revelando
um traço suave de peito que a fez corar. Quando entrou na sala, a notou,
com calor tremulando em seus olhos escuros enquanto a examinava de cima
à baixo. — ... canalha — terminou.
James piscou. — Desculpe?
Emma balançou a cabeça. — Ah... eu... nada. Era apenas... nada.
— Feche a porta, sim? — Pediu.
Olhou para trás, para a porta. Seu único bastião restante contra o que
quer que pudesse acontecer quando estivessem sozinhos. Virou-se e o
descobriu dando um passo em sua direção.
— Se vamos ter uma conversa particular, será melhor — disse, seu
tom tranquilizador. Hipnótico, quase. Pegou-se voltando e fazendo o que
lhe havia pedido.
Quando a porta clicou, encostou-se nela. — Desculpe-me o atraso —
disse, em busca de normalidade. Calma. — Tive que me trocar e demorou
mais do que imaginava.
James se aproximou e de repente Emma sentiu seu calor. Na
biblioteca escura, no silêncio, em particular, onde ninguém sabia que
estavam juntos, tudo parecia próximo e íntimo. Engoliu em seco quando
olhou para seu rosto.
— Que bom que veio — disse, com a voz rouca.
Emma se sentiu fora de ordem tão próxima a ele, então o rodeou e
olhou em volta. — Ah, é linda — suspirou enquanto olhava para as estantes
altas, repletas de livros, em lombadas de cores do arco-íris. Pareciam se
estender infinitamente.
— Concordo — disse, sua presença bem atrás dela novamente. —
Sempre adorei esta sala.
— Já leu todos os livros? — Brincou enquanto o olhava por cima do
ombro.
Esperava que dispensasse a ideia de ficar sentado lendo por horas,
mas, em vez disso, ele olhou para as prateleiras. — Quase — disse. —
Ainda existem alguns tomos sobre técnicas agrícolas que são de leitura
lenta, de fato.
Emma se virou para encará-lo. — Deve estar brincando. Realmente
leu todos esses livros? Mesmo?
James arqueou uma sobrancelha. — Acreditava que eu não sabia ler?
Meus professores ficariam muito zangados
Balançou a cabeça. — Claro que sei que sabe ler. Nunca imaginei um
homem do seu tipo lendo além de um jornal diário e, talvez, um panfleto
sobre corridas de cavalos.
— Um homem do meu tipo — repetiu. — Que tipo de ideias tem
sobre mim, Emma Liston?
Ela apertou os lábios. Agora que tinha falado tantas tolices em voz
alta, não queria dizer mais nada. Não com James tão perto.
— Não sei — disse.
— Sim, sabe. Vá em frente, me diga. — Cruzou os braços,
sobrancelhas erguidas, esperando.
Emma bufou. — Suponho que sempre o vi como um... menino
dourado. Nada que faz é errado, todos o amam, nunca precisou se esforçar
por nada. Obviamente é um tipo decente, ou não teria tal margem de
manobra, mas admito que nunca me pareceu uma... pessoa estudiosa.
— Um menino dourado que nunca teve que se esforçar para nada —
repetiu. — Não poderia estar mais enganada. — Sorriu, mas não foi como
suas expressões anteriores no baile. Não tinha humor e era rígido. Doloroso.
— Desculpe... —disse baixinho. — Não gosto de ser julgada pelos
outros e vejo que fiz exatamente isso contigo. Não foi justo.
Sua expressão suavizou um pouco e estendeu a mão para pegar a dela.
Nenhum dos dois usava luvas, assim como no jardim a pele dele roçou a
sua, e mal segurou um suspiro trêmulo de prazer com a sensação.
— Desculpas aceitas — disse baixinho. — E espero que descubra,
quanto mais nos conhecermos, que estou cheio de surpresas.
Estava se aproximando agora e seu coração começou a bater forte.
Sentiu calor e frio ao mesmo tempo. Isso estava fora de controle.
Deu um passo para trás e gaguejou: — T-termos. Nosso objetivo era
discutir os termos de nosso acordo. Quais são?
James a observou por um instante e então assentiu. — Certo. Direto
aos negócios. — Apontou para duas cadeiras colocadas em frente ao fogo.
Sentou-se em uma, alisando as saias ao seu redor reflexivamente enquanto
o observava sentar-se na outra.
— O que tinha em mente? — Questionou-o.
Encarou-a. — Teremos que ter cuidado, é claro. Nosso cortejo não
pode parecer muito sério ou então não servirá a nenhum de nós. Mas vamos
conversar na frente dos outros, flerte é o nome do jogo
Emma se mexeu. — Receio não ser muito versada em flerte.
Ele se inclinou. — Não? Por quê?
— E-eu nunca precisei disso, suponho. Ninguém nunca... me quis.
— Duvido muito disso. — disse, um tom grave em sua voz que fez os
dedos dos seus pés se enrolarem nos chinelos. — Mas flertar não é difícil.
Tem que sorrir, rir, talvez, fazer um esforço para me tocar.
— Tocá-lo? — Repetiu, sua mente errante voando de volta para o
beijo anterior.
— Não intimamente — disse lentamente. — Quero dizer um toque no
braço. Na mão. Enquanto estamos conversando.
Emma estremeceu. — Posso... tentar.
— Tocar em mim a deixa nervosa? — Perguntou.
Sentiu o sangue correndo para suas bochechas e estendeu as mãos
frias para cobri-las. — Sim — admitiu quando ficou claro que esperava
uma resposta. — Sim, isso me deixa nervosa.
— Por quê? — Perguntou.
Emma inclinou a cabeça. Tantas respostas inapropriadas giraram em
sua mente. Nenhuma delas era algo que pudesse dizer em voz alta. Não a
ele. Deus, a ninguém.
James deslizou para frente em sua cadeira e estendeu a mão. Tocou
seu queixo e a forçou a olhá-lo. — Está nervosa porque nos beijamos?
Ela assentiu. — Ninguém nunca... fez isso antes. E eu... eu só...
Os lábios dele se apertaram e pareceu descontente. Seu coração
saltou. Provavelmente tinha estragado tudo. A consideraria uma idiota
agora e iria embora. Isso provavelmente era o melhor, apesar de como o
duque acreditava que poderia ajudá-la. Mas sendo o melhor ou não,
descobriu que não queria que a rejeitasse.
— É tão inocente — disse suavemente. — Tão protegida.
Emma piscou quando ele lentamente caiu de joelhos no tapete chique
diante do fogo e se aproximou. Era tão alto que mesmo de joelhos estava
nivelado com o rosto dela enquanto estava sentada. James se moveu,
colocando uma mão em cada braço da poltrona, e se ergueu.
Seus lábios estavam agora separados por um fio de cabelo e ela
começou a tremer. — O que está fazendo?
— Talvez precise de mais ajuda do que apenas chamar a atenção —
sussurrou. — O medo é um assassino, Emma. Vai destruir o que quer, mais
rápido do que qualquer outra coisa. Não quero que tenha medo de mim. Do
desconhecido. De... disso...
Ele se apoiou, e seus lábios roçaram os dela pela segunda vez em
apenas algumas horas. Foi menos surpreendente agora. Seus braços se
dobraram ao redor do pescoço dele e abriu seus lábios. James se inclinou e
Emma o encontrou no meio do caminho, enroscando suas línguas, enquanto
ele a pressionava de volta na cadeira e a beijava como se fosse um homem
faminto e ela fosse toda a comida do mundo.
— É natural — gemeu contra sua boca. — Feita para o prazer.
Realmente não entendeu o que quis dizer, no entanto, estremeceu com
suas palavras. Prazer - oh, havia muito disso. Ansiava por mais nos lugares
mais ultrajantes. Como em seus mamilos duros, na parte inferior do
estômago, entre as pernas.
James recuou e encontrou seu olhar. O dele era amplo e um pouco
selvagem. Como se estivesse lutando contra uma fera dentro de si. Queria
algo que ela realmente não entendia, mas se viu inclinada em direção a ele.
Em direção a isso.
Emma pegou a parte de trás de seu pescoço e o puxou, roçando seus
lábios nos dele. James fez um som áspero em sua garganta e então a
devorou, prendendo-a na cadeira, enquanto a esmagava com força contra
ele e a fazia se render mais uma vez.
J pressionou com força contra a suavidade de Emma, seus gemidos
silenciosos de prazer lhe alimentando um fogo que não sentia há... bem, há
muito tempo. Não era um monge, tinha prazeres e teve amantes ao longo
dos anos. No entanto, nenhuma, jamais, havia inspirado tal luxúria como a
que queimava nele agora. E não tinha ideia do porquê.
Era por Emma ser tão inocente? Por ser tão diferente das mulheres
que normalmente perseguia? Não tinha ideia, mas queria tocá-la, marcá-la,
tomá-la.
Mas não poderia haver nada disso. Namoros falsos e beijos roubados
eram uma coisa. Uma vez que a violasse, não haveria como voltar atrás.
Claro, isso não significava que não pudessem encontrar prazer.
Inclinou-se para trás, a fim de olhar em seu rosto. Seus olhos estavam
fechados, seus lábios brilhantes e cheios, sua respiração curta enquanto
ofegava. Oh, como queria fazê-la quebrar. Despertá-la para um mundo que
duvidava que ela alguma vez tivesse imaginado.
— Quero tocá-la, Emma — sussurrou.
Seus olhos se abriram, e o azul esverdeado tão suave e bonito
enquanto o olhava no escuro. — Tocar-me? Já não está me tocando?
James segurou um gemido. Maldição, mas essa doçura, essa
inocência, era como um chamariz para ele. Sua necessidade de fazê-la gozar
se multiplicou.
— Não como quero — disse, sua voz rouca através do silêncio. —
Quero tocá-la... aqui.
Ao dizer as palavras, arrastou a mão pelo seu corpo e pressionou entre
suas pernas, recolhendo o tecido de seu vestido ali. Ela assobiou um som de
surpresa e ergueu os quadris contra ele.
— Eu não... eu não... eu quero...
— O que quer? — Perguntou.
Emma balançou a cabeça. — Não sei. — Seu olhar prendeu o dele,
largo e selvagem. — Não sei, James. Apenas me sinto... completa. Como se
eu fosse explodir.
—Eu posso fazer isso melhorar — assegurou-lhe, enquanto pegava a
borda de sua saia e a levantava. Segurou seu olhar enquanto o fazia,
observando-a. Pararia se fosse preciso. Se ela quisesse. Não importa o quão
impossível isso parecesse.
Mas Emma não pediu que parasse. Apenas olhou para sua mão
sempre subindo e levantando sua saia, centímetro por centímetro. James
deslizou os dedos sob a bainha quando chegou aos seus joelhos e tocou suas
pernas nuas.
— James! — Gritou, suas mãos cobrindo as dele através de sua saia.
— Posso melhorar — repetiu, inclinando-se e beijando-a novamente.
Emma afundou para trás, suas mãos puxando-o para perto, sua língua
emaranhada com a dele. James deslizou a mão sobre seu joelho, para suas
coxas nuas, e finalmente encontrou suas calçolas. Eram sedosas e macias,
mas queria algo melhor para tocar. Algo mais doce.
Encontrou a fenda estreita no tecido e a separou, empurrando a mão
para onde estava deliciosamente quente e já molhada. Podia sentir aquela
umidade em suas coxas.
Afastou-se do beijo e a olhou enquanto passava os dedos em sua
entrada. Emma estremeceu com o toque e encarou-o com olhos selvagens.
— Isso não vai arruiná-la — prometeu, embora, no fundo, fosse
exatamente isso que queria fazer. Queria abrir suas pernas e deslizar dentro
dela, queria reclamá-la até que tremesse sob ele, até que se juntasse a ela.
Mas não seria certo. Nem era o que estava fazendo no momento, mas
pelo menos não a destruiria.
Pressionou suas dobras externas abertas, seus dedos deslizando ao
longo de sua entrada escorregadia. Emma gemeu um som suave de prazer
quando seus quadris sacudiram contra ele e forçou seus dedos através dela
mais uma vez.
— O que é isso? — Sussurrou, suas bochechas em chamas.
— Prazer — conseguiu dizer entre dentes cerrados. — Isso é prazer,
Emma.
Alisou seus dedos ao longo dela de novo e de novo, então pressionou
levemente em seu clitóris. Emma cravou as unhas nos braços da cadeira,
seus olhos se arregalando enquanto sussurrava seu nome.
Ouvir esse prazer foi quase o suficiente para levá-lo ao limite.
Inclinou-se e a beijou novamente, chupando sua língua enquanto trabalhava
nela, puxando-a para se erguer contra ele, para encontrar a liberação que
podia sentir tremendo através dela.
E finalmente a encontrou. Sentiu seu corpo tenso contra ele enquanto
gritava baixinho. Seus quadris se levantaram, seu corpo se debateu e teve
seu orgasmo em ondas rápidas e focadas.
Quando passou pela crise, James retirou sua mão, deslizando suas
saias para baixo corretamente, enquanto, relutantemente se levantava e se
afastava.
Emma se levantou imediatamente, seu rosto pálido e seus olhos
arregalados enquanto o observava. Seus lábios se separaram e fecharam, e
podia vê-la lutando com algo para dizer. Mas antes que pudesse fazer isso, a
porta da biblioteca se abriu.
Ambos se viraram e observaram o Duque de Sheffield entrar na sala.
Ao vê-los juntos no meio da biblioteca, no meio da noite, Baldwin parou
bruscamente.
— Desculpe — disse, seu olhar deslizando para James em
questionamento. — Não sabia que mais alguém estava acordado a essa
hora.
Emma não disse nada - apenas deu a James um olhar horrorizado e
fugiu da sala, suas bochechas flamejando e seus passos instáveis enquanto
passava por Sheffield, sem sequer um olhar lateral. James a viu partir,
querendo tanto alcançá-la, para dizer-lhe que estava tudo bem, que ela não
tinha feito nada de errado. Mas não pôde.
Olhou para Sheffield enquanto fechava suavemente a porta atrás dele.
— Bom momento.
Sheffield ergueu as mãos. — Peço desculpas. Embora eu não tenha
certeza de como saberia que estaria na biblioteca com... Olhou por cima do
ombro. — Com Emma Liston.
James passou a mão no rosto. — Pela maneira como diz o nome dela,
suponho que Roseford, Simon e Graham lhe tenham contado tudo sobre
meus planos com ela.
— Essa fofoca é obrigada a viajar rápido em nosso grupo,
especialmente se estivermos todos sob o mesmo teto. Brighthollow e eu
tivemos uma longa conversa sobre isso com Roseford, hoje cedo.
— Deus — James murmurou, jogando a cabeça para trás. — E o que
a sociedade do galo decidiu?
— Que é um idiota por ter um plano desses — Sheffield riu. — Mas
sabe que Brighthollow e Roseford são incrivelmente contrários ao
casamento. Provavelmente mais do que você. Então, não são os melhores
juízes do que é certo.
James olhou para Sheffield. Sempre gostou de Baldwin. Do seu
grupo, era o mais quieto, aquele que mantinha seus problemas guardados no
colete. Simon e Graham eram muito próximos de James, e Baldwin tinha
razão ao dizer que Roseford e Brighthollow eram os menos propensos a lhe
dar qualquer conselho, exceto para fugir gritando de Emma, para que não
fosse apanhado em algum tipo de armadilha.
Mas, neste momento, precisava de conselhos. Bons conselhos de
alguém menos envolvido e menos tendencioso. Porque, o que aconteceu
alguns momentos antes com Emma, estava totalmente fora de controle. Não
tinha nada a ver com um plano ou em ajudá-la ou a si mesmo. Só queria
tocá-la, e fez isso sem pensar nas consequências, nas regras ou qualquer
coisa, exceto em como queria ver seu rosto enquanto gozasse.
Não o tinha decepcionado. Sua liberação foi poderosa, erótica e
infinitamente doce. Mas turvou muito as águas de seu plano.
— Não sei o que quero dela — admitiu baixinho.
Sheffield hesitou por um momento, depois avançou para que se
sentasse. Uma vez que ambos o fizeram, se inclinou para frente, colocando
os antebraços sobre os joelhos, seu rosto intenso com preocupação e focado.
— Achei que esse falso namoro que propôs fosse apenas um ardil para
ajudar aos dois. Embora eu, certamente, tenha percebido que havia mais
coisas acontecendo quando entrei na biblioteca.
James balançou a cabeça. — Eu... ela não é o tipo de mulher que
normalmente me chama a atenção, e ainda assim, há algo nela que me atrai.
Esta noite eu... posso ter ido um pouco longe demais.
— Até onde? — Sheffield perguntou suavemente.
— Não a ponto de arruiná-la, longe demais para ser um cavalheiro —
disse lentamente. — Sei que posso lhe dizer isso e não dirá nada.
— Não direi uma palavra a ninguém — Sheffield assegurou-lhe. —
Embora admita que estou surpreso. Nunca fez um movimento que não
parecesse calculado.
— Não tenho certeza se isso é um elogio — James disse. — Mas
também não tenho certeza se está errado. Embora eu saiba que minha
reputação pode ser um pouco selvagem, realmente penso na maioria das
minhas ações. Especialmente aquelas que afetarão os outros. Esta noite, não
pensei. E talvez isso signifique que eu deveria me afastar de Emma. Pelo
bem de nós dois.
Disse essas palavras e seu peito doeu com o pensamento. Levantou-se
e afastou-se de seu amigo, indo até a janela, onde olhou para a escuridão
com olhos cegos.
— O que mudou desde que teve essa ideia de ajudá-la? — Sheffield
perguntou depois de alguns segundos de silêncio.
James se virou. — O que quer dizer?
— Quero dizer, a posição da Srta. Liston melhorou de alguma forma?
James deu de ombros. — O pouco de atenção extra que lhe dei até
agora pareceu ajudá-la um pouco, mas não. Ainda está na mesma posição
— E a família ganhou mais dinheiro ou qualquer outra coisa que
possa lhes dar mais valor aos olhos de alguns? — Sheffield pressionou.
— Não, claro que não — James disse. — Aonde quer chegar?
— Nós dois sabemos que esse seu plano é mais benéfico para a Srta.
Liston. — Sheffield cruzou os braços sobre o peito. — Pode fingir que não
se importa, mas reconheço que quer ajudá-la. E esse não é o pior impulso.
Muitas pessoas... — hesitou. — Têm coisas que acontecem que não estão
sob seu controle. Coisas que os danificam. E boas pessoas devem ajudar.
Portanto, se está me perguntando o que penso que deveria fazer, acho que
ajudar a jovem continua sendo a atitude correta.
James olhou para Sheffield. Ninguém lhe havia falado sobre seu plano
nesses termos. Se abandonasse Emma agora, só porque estava
desconfortável com o desejo que inspirava nele, seria justo com ela? Afinal,
a havia arrastado para essa ideia. Emma nunca teria pedido para estar nesta
posição sem seu estímulo.
— Sei que tem razão — disse por fim.
Sheffield sorriu, e havia algum alívio em sua expressão. Como se
estivesse realmente interessado na ideia de que ajudasse Emma. James
olhou para o amigo mais de perto.
— Por que está acordado tão tarde? — Perguntou.
Sheffield mudou de posição. — Não consegui dormir — disse. — E
achei que um livro poderia ajudar.
James franziu a testa. — Foi de grande ajuda para mim esta noite.
Posso lhe retribuir?
Sheffield sustentou seu olhar por um momento e então balançou a
cabeça. — Não, meu amigo, acho que não. Obrigado pela oferta, no
entanto. Aprecio isso. — Ficou de pé. — Vou para a cama agora. Deveria
fazer o mesmo. Parece que tem algum dano para consertar com a Srta.
Liston amanhã. Espero que lhe deixe claro que não tenho intenção de falar
com ninguém sobre encontrá-los na biblioteca esta noite.
— Farei isso — James disse, estendendo a mão para Sheffield. As
apertaram. — Obrigado.
Sheffield deu de ombros. — De nada — disse. — Boa noite.
Saiu da sala então, deixando James parado e olhando para as chamas
dançando na lareira. Esta noite tinha ido longe demais com Emma e deveria
estar arrependido. Mas não. Na verdade, tudo o que sentia era um desejo
mais forte de repeti-lo. Por mais.
E tudo o que podia fazer era tentar controlar aquela sua parte que
queria tomá-la e reclamá-la. Para se concentrar nos verdadeiros assuntos em
questão e não deixar que os encantos inesperados de Emma Liston o
desviem de seu curso.
S Emma esperava que uma boa noite de sono a ajudasse, isso não
aconteceu. Primeiro porque o sono não veio, segundo que nenhuma
quantidade de tempo ou espaço poderia mudar o que tinha feito com James
na biblioteca.
Agora estava sentada à mesa do café da manhã, olhando para seu
prato, revivendo cada momento acalorado e apaixonado que tiveram. Os
outros poderiam ver em seu rosto? O duque de Sheffield contaria a alguém
sobre seu encontro?
Não tinha ideia, mas tremia com isso e com o conhecimento do que,
qualquer uma dessas coisas, poderia lhe causar. E, na verdade, também
estremecia com suas lembranças. Errado ou não, o que James lhe fez
quando a tocou foi nada menos que magnífico. Nunca sentiu tanto prazer.
Mesmo agora, seus dedos dos pés se curvavam quando pensava nisso.
Era tudo muito confuso.
Como se o universo sentisse sua confusão, James entrou pela porta da
sala de café da manhã naquele momento. Emma fez um som suave e
estrangulado em sua garganta quando ele fez uma pausa, seu olhar escuro
varrendo a sala até que a encontrou. Seus olhos se encontraram, e nas
profundezas de seu olhar esfumaçado, viu paixão, calor e promessas que
nunca seriam cumpridas.
Virou o rosto para quebrar o contato visual e se concentrou em
desacelerar sua respiração o melhor que pôde. Sem sucesso.
— Bom dia — James disse àqueles que já estavam acordados e
comendo. Não eram todos da festa, isso era certo. Apenas cerca da metade
dos presentes estavam lá embaixo, mas os que foram saudados
responderam.
James atravessou a sala e sentou-se na cadeira em frente a Emma, que
sentiu os olhos das damas nela, e corou quando o olhou.
— Não — disse com os dentes cerrados. — Não.
Sua expressão suavizou quando olhou em seus olhos, preocupação
escrita em cada linha de seu rosto bonito. — Emma — disse baixinho.
— Vossa Graça — respondeu, enviando-lhe um olhar para lembrá-lo
de que estavam em público agora, não em um jardim privado, na pista de
dança ou numa... biblioteca.
James apertou os lábios com força e olhou para o criado que lhe
trouxe café e um prato de comida. Uma vez que estavam sozinhos
novamente, inclinou-se para mais perto. — Quero falar contigo.
Emma balançou a cabeça levemente. — Aqui?
— Não — disse. — Muitas pessoas. Peça licença e me encontre no
terraço da sala, do outro lado do corredor.
— Todos nos verão sair.
— Não é esse o plano? — Perguntou.
Emma suspirou. O plano. Pelos Deuses, depois da noite anterior tinha
esquecido o plano. Seu plano de encontrar outro homem para ela se casar,
um homem que não saberia que o duque de Abernathe havia colocado as
mãos sob suas saias e feito seu mundo girar nas cores do arco-íris e ondas
intensas de prazer inimaginável.
Maldição.
— Tudo bem — disse, afastando o prato meio vazio.
Levantou-se e saiu da sala, com apenas algumas palavras aqui e ali
aos presentes. Graças a Deus, sua mãe e Meg ainda não haviam acordado.
Emma estava certa de que cada uma delas notaria a estranha interação entre
ela e James. Meg porque era muito afiada para não perceber. A Sra. Liston
por estar obcecada com cada movimento que Emma fazia, quando se
tratava das perspectivas em um duque.
Atravessou o corredor, entrou na sala e saiu pelas portas francesas
para o terraço. O sol da manhã de fim de primavera atingiu seu rosto,
respirou fundo o ar fresco do campo. Sua frequência cardíaca começou a
diminuir quando fez isso. Suas mãos pararam de tremer e, pela primeira vez
desde a noite passada, sua mente selvagem se acalmou e a deixou pensar
com clareza.
Mas tudo o que podia fazer era pensar em James a tocando. De seu
corpo fazendo coisas que nunca imaginou serem possíveis. Coisas das quais
gostava, se fosse honesta consigo mesma.
Durante toda a sua vida, foi forçada a situações das quais não gostava.
Foi forçada a ter medo, graças às travessuras de seu pai. A dançar quando
não queria. A fingir que a rejeição não doía. A esconder sua inteligência.
Mas ontem à noite foi como se as correntes de todas essas coisas,
todas essas situações, fossem retiradas e tivesse voado sob suas mãos.
Espiralando para o céu, até que temeu queimar no sol. E foi muito bom.
— Emma?
Pulou ao ouvir James dizendo seu nome e se virou para encontrá-lo
fechando as portas do terraço. Veio em direção a ela, hesitante, sua
expressão incerta. Seu coração afundou com a visão. Deve ter se
arrependido do que fizeram, especialmente porque seu amigo os viu juntos,
no que seria uma posição comprometedora por qualquer definição.
— Bom dia — disse com um suspiro.
Ele inclinou a cabeça. — Está... bem?
— Se está perguntando se dormi bem, não dormi —disse, desviando o
olhar para que não a visse corar.
— Admito que nem eu — disse, seu tom quase aliviado. — E-eu não
conseguia parar de pensar na biblioteca, Emma.
Ela se atreveu a olhá-lo e o encontrou tão concentrado nela, que
parecia tê-la aprisionado com seu olhar. Seus lábios se separaram e deu
meio passo em direção a ele. — Também tenho pensado muito nisso, desde
ontem à noite.
— O que fiz... o que fiz foi pouco cavalheiresco, Emma — disse. —
E perigoso.
— Seu amigo... o Duque de Sheffield... — começou, mas ele a cortou.
— Baldwin não vai dizer uma palavra, eu te juro. É um bom homem,
não deseja ferir nenhum de nós — disse. — Nosso segredo está seguro com
ele.
Emma soltou um suspiro de alívio. — E, ainda assim, está
arrependido do que... fez? — Perguntou, odiando ouvir a resposta, mas
sabendo que precisava ouvi-la. Só a verdade a acordaria desse sonho de
que, de alguma forma, esse homem realmente a queria.
James engoliu em seco antes de falar. — Não foi isso que eu disse,
Emma. Disse que o que fiz foi errado. Não que me arrependia.
Ela se engasgou e balançou a cabeça. — O que quer dizer?
— Eu a queria — sussurrou. — E esse querer tomou conta da minha
razão, o que foi errado. Eu a coloquei em uma situação onde poderia ter
sido muito prejudicada por minhas ações. Mas quanto a tocá-la, quanto a
fazê-la gozar... foi um prazer.
— Então gostou? — Perguntou, chocada.
O duque assentiu lentamente. — Muito. Mas sei que devo me
desculpar porque sou muito mais experiente. Nunca deveria tê-la coagido a
me permitir tais liberdades, não importa quão forte fosse meu desejo a seu
respeito.
Emma avançou novamente, e agora estavam perigosamente próximos.
Não muito inapropriadamente, mas indo em direção a isso. E não dava a
mínima.
— James — sussurrou, sem fôlego. — O que aconteceu ontem à
noite... foi a primeira vez que me senti viva em... em muito tempo. Eu nem
sabia que era possível ter sensações como as que me fez sentir.
James ergueu a mão, e naquele momento tudo desacelerou.
Claramente queria tocá-la e, por sua parte, queria desesperadamente que
fizesse exatamente isso. Mas então seu olhar deslizou para a porta e baixou
a mão com uma carranca.
— Que bom que não se arrependeu — disse baixinho.
Alívio fluiu através dela, assim como o desejo que estava começando
a entender. — Poderíamos... fazer de novo?
Não podia acreditar em como estava sendo ousada, e pelo jeito que
seus olhos se arregalaram, também ficou surpreso com sua ousadia. —
Quer?
Emma assentiu. — James, mesmo que seu grande plano saia como
espera e algum homem se interesse por mim e peça minha mão, em meu
coração, sempre saberei que ele me queria apenas porque sentiu que estava
lhe tirando algo. Tenho poucas escolhas sobre qual será meu futuro, graças
às minhas circunstâncias, mas se pudesse ir para esse futuro com mais
lembranças de... — Estremeceu. — Do que fizemos, eu gostaria.
Sua carranca se aprofundou, e pensou por um momento que poderia
recusá-la. Mas, finalmente, James suspirou. — Muito bem, podemos fazer
disso um termo do nosso acordo. Continuaremos nosso pretenso namoro,
assim como decidimos ontem à noite. Se tivermos a chance de encontrar um
pouco de prazer, como ontem à noite, o faremos. — Aproximou-se. — E
prometo não lhe arruinar, Emma, não importa o quão difícil seja cumprir
essa promessa.
Emma estendeu a mão. — Isso é uma barganha, Vossa Graça.
James sorriu para a oferenda e a pegou, mas em vez de apertá-la,
levou-a aos lábios e deu um beijo no topo de sua luva. — Uma pechincha
— disse. — Agora devemos nos juntar aos outros. Margaret tem um dia
agitado planejado, acredito, incluindo um jogo empolgante de Pall Mall no
gramado oeste e um piquenique à beira do riacho. Tudo isso nos dará ampla
oportunidade de pôr em prática a primeira parte de nosso plano, se não a
segunda
Emma sorriu, pois a leveza havia voltado ao tom e ao rosto dele, mas
por baixo do sorriso havia uma onda de desejo. Estava relutante em vir, mas
agora, toda a sua vida tinha sido colocada em sua cabeça por James, seu
plano e seu toque.
Só podia esperar que pudesse manter algum tipo de controle sobre si
mesma e suas emoções, para não começar a acreditar que poderia haver
algo mais do que um ardil entre os dois e alguns momentos roubados de
prazer.

J não pôde deixar de sorrir, enquanto observava Emma e Margaret, do


outro lado do amplo gramado. No meio do jogo de Pall Mall, as duas
estavam rindo descontroladamente enquanto Emma tentava fazer uma
jogada vencedora e falhava miseravelmente. Ela se curvou na cintura, seu
corpo inteiro tremendo de alegria.
E era gloriosa. Acendia como se mil velas vivessem em seu interior,
corada exatamente como esteve sob suas mãos na noite anterior, relaxada e
à vontade como se pertencesse aqui. Com ele.
Como alguém poderia vê-la, como naquele momento, e não querer
estar perto dela, estava além de sua compreensão. Ele, certamente, desejava
cruzar a distância, girá-la pela cintura, pressionar um beijo em seus lábios
carnudos até que ficasse flácida em seus braços.
— Criaturinha interessante, não é?
James enrijeceu quando Sir Archibald se aproximou, uma bebida na
mão e um olhar malicioso em seu rosto redondo e suado.
— Tenho certeza de que não sei a quem se refere, Sir Archibald —
James disse, em tom frio.
Nunca gostou do homem, mas vivia em seu condado e sempre se
insinuou ao pai de James e, mais tarde, a ele. Porém, James o achava um
fanfarrão pomposo, que comia e bebia demais.
O fato de que estava perto de Emma mais cedo na festa só fez com
que o desdém de James ficasse ainda mais concentrado.
— Não tem? — Sir Archibald disse com uma risada. — Achei que o
tinha visto farejando a Srta. Liston, estava errado?
James soltou um longo e profundo suspiro. — É uma boa amiga de
Margaret — explicou, então pensou em seu plano. Havia prometido a
Emma que inferiria seu interesse para conquistar o dos outros. Não estava
exatamente pensando em alguém como Sir Archibald, mas o que poderia
fazer? — E gosto dela.
Archibald sorriu largamente com essa admissão. — Não é exatamente
uma grande beleza, hein? Mas há algo sobre ela. Algo com um pouco de
fogo. Eu poderia jogar minha própria mão lá por ela. Não é como se tivesse
muitas perspectivas, não é?
Sentiu suas narinas dilatarem. Sir Archibald insultou Emma não uma,
mas duas vezes, no intervalo de cinco frases, e James, agora, queria nada
menos do que dar-lhe um soco no rosto. Em vez disso, agarrou sua bebida
com mais força e disse: — Pode ter mais perspectivas do que pensa. E não é
um pouco jovem para o senhor?
— Quanto mais jovem, melhor — Sir Archibald riu com uma
cutucada amigável em James. — Mas poderia conseguir qualquer uma,
Abernathe. Pelo amor de Deus, não se rebaixe. Seu pai desejava que se
casasse com alguém importante, alguém para aumentar seu nome.
James cerrou os dentes. Sim, seu pai gostaria que fizesse muitas
coisas. Exatamente o motivo por que James não ter planos de fazê-las. —
Se considera a Srta. Liston tão abaixo, por que a consideraria?
— Bem, como bem disse, sou um homem velho — Sir Archibald riu.
— Meus herdeiros e sobressalentes já o ultrapassaram em idade, os que
não, precisam de uma mulher por perto para lidar com eles. Não preciso me
elevar através de um casamento. Só quero que uma jovem prostituta se
espalhe...
— Chega! — James disse, virando-se para ele com o que sabia ser um
olhar perigoso. — Não falará de Emma de tal maneira. Nem aqui, nem a
mim, nem a nenhum outro convidado.
O rosto de Sir Archibald caiu e houve um lampejo de raiva em seus
olhos, antes que erguesse as mãos. — Vai ajudar a garota, não é? Bem,
antes de se jogar de cabeça em algum tipo de acordo com ela, é melhor
pesquisar um pouco a seu respeito E do pai.
James cruzou os braços. — Sei sobre seu pai.
Era uma meia verdade, claro. Sabia que o homem havia sido afastado
de sua família, que não estava presente na vida de Emma no momento, mas
pouco mais.
— Costumava jogar com ele de vez em quando — disse Sir
Archibald. — Sabia que colocou a Srta. Liston na mesa mais de uma vez.
Às vezes sua mão, às vezes sua virgindade. Nunca perdeu. Mas algum dia
vai, Abernathe. Algum dia alguém vai ganhá-la. Então, não será um prêmio
para ninguém. É isso que quer em uma Duquesa?
Houve uma inclinação cruel na boca de Sir Archibald e James jogou
sua bebida de lado. Agarrou as lapelas do homem com as duas mãos e o
sacudiu.
— Saia da minha casa — disse, baixo e perigoso. — E nunca mais
volte aqui, seu idiota pomposo. Ou vai se arrepender muito.
Sir Archibald se contorceu e James o empurrou, fazendo-o cambalear
pelo gramado. Foi só então que percebeu que todo o grupo tinha voltado
sua atenção para ele, para eles. Sir Archibald olhou-os também, com o rosto
vermelho, e ajeitou a roupa.
— Descobrirá que há pessoas que não valem a pena defender,
Abernathe —zombou. — E inimigos que vai se arrepender de ter feito.
James deu um passo em direção a ele, e Sir Archibald se afastou e se
apressou em direção à casa, o mais próximo de uma corrida que,
provavelmente, fez desde que era jovem.
— Damas e cavalheiros, por que não nos retiramos para casa para
preparar nosso piquenique? — Margaret gritou, mas havia uma profunda
tensão em sua voz enquanto olhava para James.
A culpa o ultrapassou. Meg passava tanto tempo tentando mitigar
qualquer dano que sua mãe pudesse causar à reputação deles, e agora James
acabara de ter uma briga física com Sir Archibald, que era bem conhecido
na sociedade. Pela forma como as pessoas já estavam olhando e
sussurrando, ficou claro que isso iria causar um rebuliço por algum tempo.
Então seus olhos encontraram os de Emma na multidão. Observava-o
de perto, os lábios entreabertos. E, de repente, não dava a mínima para mais
nada. Ela precisava de um salvador contra o bastardo. Não estava
arrependido de ter assumido o papel.
Emma merecia mais do que uma vida algemada a Sir Archibald,
sendo vista como um belo brinquedo, para o prazer dele e nenhum dela.
Esse não era o futuro que imaginou para Emma.
A multidão começou a se mover em direção à casa e Meg se
aproximou, seu olhar ainda no dele. James se forçou a se concentrar nela,
deixando Emma desaparecer em sua visão periférica quando sua mãe veio
até ela e caminharam até a casa com os outros.
— Que diabos foi isso, James? — Meg perguntou baixinho.
Ele balançou sua cabeça. — Desculpe, Meg. Não deveria ter feito
uma cena e te envergonhado.
— O que poderia ter contra Sir Archibald que o faria agarrá-lo
daquele jeito? — Meg pressionou.
Sempre tentou ser honesto com sua irmã. Sempre foi, pois, de certa,
forma eram eles contra o mundo. Mas agora estava relutante em lhe dizer a
verdade. — Ele foi... antipático com um de nossos convidados —
murmurou.
Meg se inclinou, os olhos arregalados. — Um de nossos convidados?
Quem? — James ficou em silêncio por muito tempo e ela agarrou sua mão.
— Ele disse algo sobre Emma?
Ele se afastou. — Por que acha isso?
Meg colocou as mãos nos quadris. — Porque eu te conheço. Não dá a
mínima para nenhuma mulher nesta festa, exceto uma. Emma é a única
mulher que já o vi prestando mais de dois minutos de atenção. Foi dela?
Assentiu lentamente. — Sim. Não deveria tê-la defendido?
— Talvez não tão vigorosamente — Meg disse, e o observava ainda
mais de perto agora. — O que têm um com o outro?
— Quem? — Perguntou, sua voz áspera.
— Você e Emma, seu grande idiota — Meg disse com uma risada. —
Deus, deve ser alguma coisa se está se esforçando tanto para fingir. Quer
dizer, pediu para colocá-la sentada ao seu lado, dançou com ela ontem à
noite, o pego olhando-a o tempo todo e expulsou um conhecido da nossa
festa em nome dela...
Em parte porque sabia que Meg não aprovaria seu ardil com Emma.
Em parte porque era muito mais complicado do que apenas isso, como bem
sabia, não queria admiti-lo em voz alta.
— Está interessado em... cortejá-la? — Meg perguntou lentamente.
Quando não respondeu imediatamente, sua irmã bateu palmas. — Ah,
Jaime! Isso é maravilhoso! Há muito tempo me preocupo com esse seu
desejo de se vingar do papai, destruindo seu próprio futuro. Uma vida
sozinho o castiga mais do que a ele. E eu adoro Emma, realmente adoro.
Estou tão feliz que escolherá alguém que seja suportável e não uma garota
sem cérebro.
Parecia tão feliz, que James mal conseguia respirar. Dificilmente falar.
E, no entanto, deveria, pois não estava disposto a deixar Meg flutuar pelo
resto da festa com essa alegria em seu coração, apenas para ser esmagada.
Isso era algo que seu pai teria feito. Aquele teria grande prazer em fazer
Meg se sentir uma tola.
James não queria nada com isso.
— Meg — disse, mas ela ainda falava de Emma. Limpou a garganta.
— Margaret!
Ela parou e o olhou. Seu sorriso caiu. — O que foi?
— Eu não estou... cortejando-a — disse suavemente. — Só vou...
fingir cortejá-la.
Meg franziu a testa. — O quê?
Respirou fundo. Deus, mas isso era difícil. Já podia ver o início da
decepção em seu rosto. Decepção com ele.
— Ela precisa de ajuda para chamar a atenção — disse. — Deve ter
notado o quanto está conseguindo com um pouco mais da minha.
— Pomposo, James — disse Meg.
— Verdade, Margaret. — Deu de ombros. — E eu... reconheço que
não aprova meu desejo de evitar o casamento, mas ele existe. Naquele
primeiro baile, em Londres, fui assediado. Não quero isso, nada disso.
Então, se eu prestar mais atenção em Emma, isso também me ajuda.
Meg balançou a cabeça, apenas balançou para frente e para trás pelo
que pareceu uma eternidade. Então sussurrou: — Ela sabe que suas
atenções são falsas?
— Claro! — explodiu, saltando para pegar suas mãos. — Por favor,
diga-me que não me acha tão cruel a ponto de fazer isso sem o
conhecimento dela, de, propositalmente, fazê-la de tola. Por favor, me diga
que não me acha pior do que papai, Meg.
Encarou-o por um momento e então sua expressão se suavizou. —
Claro que não. Não poderia ser tão cruel, não está em você. Acho que estou
apenas... chocado que Emma concordasse com algo tão desonesto.
James se endireitou e soltou suas mãos. Mais uma vez, seus pelos
foram levantados em defesa de Emma. — Ela estava relutante — disse. —
Mas não pode realmente julgá-la com severidade. Afinal, a vida dela é
muito diferente da sua.
O rosto de Meg se contorceu um pouco. — Sim, meu destino, meu
futuro, foi selado há muito tempo.
James franziu a testa ao ouvir o tom de sua voz, mas tentou manter o
foco na defesa de Emma. — Sim. Nunca teve que se preocupar com o seu
futuro. Me certifiquei disso. Emma não tem nenhuma dessas proteções. E
sofreu por isso. Seria uma tola por não se dar a chance de se casar... bem.
Ele disse a última palavra mais devagar, pois achava difícil formar as
palavras de alguma forma. E quando imaginou Emma em um casamento,
seu estômago realmente virou.
O que ignorou, quando Meg soltou um longo suspiro. — Acho que
está certo.
— Estou — disse baixinho. — Se deve estar zangada com alguém por
causa disso, por favor, que seja eu. Emma é uma amiga digna e eu nunca
iria querer arruinar seu relacionamento.
Ela inclinou a cabeça. — Não o fez, James. Estou simplesmente...
desapontada. Achei que realmente estava começando a gostar de Emma.
Esperava... — parou. — Bem, suponho que não importa o que eu esperava
agora. Sei que não será desviado de um caminho, uma vez que tenha
decidido segui-lo. Mas não aprovo.
— Isso está devidamente anotado — disse.
Meg virou-se e olhou para a casa. — Eu deveria subir e me certificar
de que todos os preparativos para o piquenique foram feitos corretamente.
James assentiu, mas quando ela se afastou ele gritou: — Meg?
Ela olhou por cima do ombro. — Sim?
— Não vai... interferir no nosso plano, vai?
— Não — disse com clara relutância. — Não vou impedi-lo.
James relaxou um pouco com sua promessa. Sabia que não iria
quebrá-la. Essa não era a personalidade de Meg. Mantinha suas promessas,
sempre.
— Obrigado.
— Vejo-o em breve — sussurrou e foi embora.
E, embora Meg tivesse concordado em manter seu segredo, e
prometido não mudar sua atitude em relação a Emma, James ainda sentia
como se tivesse feito algo muito errado.
Algo que se perguntou se poderia consertar.
E saiu de seu quarto, para encontrar sua mãe a esperando no corredor.
E um tanto impaciente, se seu pé batendo era alguma indicação.
— Boa tarde, mamãe — Emma disse com o sorriso mais brilhante
que conseguiu, diante da expressão concentrada de sua mãe. — Está ansiosa
para o piquenique?
Os olhos da Sra. Liston se iluminaram com uma alegria mercenária.
— Não tanto quanto deveria, Emma, pois ouvi um boato.
Emma contou lentamente até cinco em sua cabeça antes de dizer: —
Um boato, mamãe?
Sua mãe segurou suas mãos e se inclinou. — A discussão muito
pública e bastante física do Duque de Abernathe com Sir Archibald, aquela
que levou Archibald a se lançar sobre seu cavalo... foi por sua causa.
Os lábios de Emma se abriram em descrença, enquanto olhava para
sua mãe. Houve muito burburinho entre os convidados, na caminhada de
volta para a casa, no início do dia, sobre o que poderia ter causado um
confronto tão chocante e público entre os homens. Emma estava curiosa, é
claro, pois nunca esperaria que James agisse dessa maneira.
Mas ser a causa?
— Não — disse lentamente. — Isso não pode ser possível.
Sua mãe estava quase pulando agora. — Ah, mas dizem que é. Parece
que não gostou da atenção que Sir Archibald estava lhe prestando, mais
cedo, e aqui estamos nós.
O sangue estava correndo nos ouvidos de Emma e seus braços
começaram a formigar, mas lutou para manter um rosto sereno, enquanto
sua mãe se expressava. Seria possível que isso fosse verdade, que James
tivesse quase brigado com outro homem por sua causa? Isso estava levando
seu ardil muito longe, pois alegou querer aproximar os homens dela, não os
afastar. Literalmente, empurrá-los.
— ... uma oportunidade que não pode recusar, então, deve dar o seu
melhor e agarrar Abernathe a todo custo — disse sua mãe, agarrando o
braço de Emma.
Emma se abalou quando suas palavras ficaram claras. — Agarrar
Abernathe? — ela repetiu.
— Sim. Quando chegamos aqui, estaria, honestamente, conformada
que se acertasse com alguém como Sir Archibald — disse a Sra. Liston.
Emma apertou a mandíbula. — Ele é mais velho que papai e tem uma
ninhada de filhos horríveis, apavorantes, alguns dos quais são mais velhos
que eu!
— E que outras opções tinha? — A Sra. Liston retrucou. — Mas
agora, vejo que devemos chegar muito, muito mais alto. Emma, pode pegar
um duque. Um Duque!
Emma mal conseguia respirar. Oh, isso era exatamente o que ela e
James planejaram juntos, mas, mesmo assim, sua mente ainda girava.
— Não vou agarrar Abernathe — sussurrou.
Sua mãe arqueou uma sobrancelha. — Não com essa atitude. Emma,
deve ser agressiva agora. E... ah, como direi isso... deve lutar sujo, se surgir
a oportunidade.
— Sujo? — Emma repetiu, agora nervosa com o tom de sua mãe.
— É verdade, ele pode estar relutante, apesar de suas ações hoje —
disse a Sra. Liston, esfregando as mãos. — Mas isso não pode nos parar. Se
precisar, então eu sugiro que... que...
— O quê? — Emma explodiu.
— Comprometa-se com ele — terminou sua mãe.
Emma a olhou, sua boca aberta com horror. — Mamãe, não pode
querer dizer isso.
Sua mãe cruzou os braços, uma expressão presunçosa no rosto. — Por
que não? Às vezes é assim que essas coisas são feitas. E poderá suportar,
Emma. Feche os olhos e imagina a vida maravilhosa que poderia ter e o que
poderia proporcionar para mim. Imagine a liberdade de qualquer dano que
seu pai pudesse causar, a liberdade do medo do desconhecido. Isso tornará
seu toque suportável.
Emma estremeceu, já que sua mãe estava tolamente no escuro. Não só
não tinha ideia do plano de Emma com James, como também não sabia que
Emma, para todos os efeitos, já havia se comprometido com James.
Suportar seu toque não era um problema. Não conseguia parar de pensar
nisso.
— Emma!
Ambas viraram no corredor, para ver Meg vindo em direção a elas.
Estava sorrindo, mas havia algo em seus olhos, um pequeno olhar que fez o
coração de Emma pular uma batida. Teria ouvido essa conversa horrível?
Certamente Meg não gostaria de ser sua amiga, se soubesse o que sua mãe
acabara de dizer.
— Pense nisso — sibilou a Sra. Liston, antes de Meg encontrá-las e
enlaçar o braço no de Emma.
O gesto afetuoso a acalmou um pouco enquanto desciam as escadas
na direção em que os outros estavam reunidos, para a curta caminhada até o
local do piquenique, mas ainda sentia um desconforto no estômago. Sentia
que estava cercada de complôs por todos os lados. E nenhum deles parecia
certo.
E foi, lentamente, deixando passar a multidão de festeiros, até ficar
atrás deles. Só então pôde respirar novamente. O último quarto de hora
tinha sido um pesadelo, com James lhe lançando olhares, a sugestão de sua
mãe zumbindo em seus ouvidos e Meg sorrindo e conversando, totalmente
alheia a todas as traições que Emma estava cometendo.
Sentiu vontade de rolar em uma bola e se esconder para sempre, mas
isso não era possível. Então, o melhor que podia fazer era manter uma certa
distância dos outros e tentar recuperar um pouco do controle de suas
emoções.
Algo que ficou claro ser impossível ao erguer o olhar e encontrar
James parado ao lado do caminho, encostado em uma árvore. Soltou um
suspiro ao se aproximar dele.
— Esperando por mim? — Perguntou.
— Escondendo-se de mim? — Retrucou.
— Não — mentiu, pois, é claro, estava fazendo exatamente isso. —
Eu precisava... precisava de espaço.
James se endireitou e a olhou mais de perto. — O que há de errado?
Emma mordeu o lábio por um momento e balançou a cabeça. — Só...
minha mãe está me empurrando. E me disse...
Quando parou, ele estendeu a mão e pegou a dela. Emma prendeu a
respiração quando o vislumbrou. Seu olhar era aquecido, franzido, e seu
corpo respondeu, embora mal a estivesse tocando. Tudo parecia quente e
formigante e o mundo ficou embaçado, a única coisa em foco era James.
— O que ela te disse?
Respirou fundo. — Que brigou com Sir Archibald por... por mim. —
Seu rosto se contraiu, e naquele momento viu a verdade. Não teria ficado
mais chocada se o homem tivesse começado a cantar e dançar ali mesmo no
caminho. — Fez isso?
James assentiu. — Ele disse algo muito desagradável. E o repreendi
por isso. — Seu tom era sombrio e perigoso e, mais uma vez, a atingiu nos
lugares mais inapropriados.
— Algo desagradável sobre mim? — Engasgou-se. — Ele sabe...
— Não! — James disse. — Não sobre nós. Apenas fez algumas
implicações sobre suas intenções a seu respeito que não gostei.
Emma estremeceu, pois podia imaginar o que Sir Archibald tinha em
mente. Sempre passou muito tempo olhando para seu seio, e sempre que a
tocava, era como uma cobra se enrolando em sua pele. Mas mesmo assim...
— Agarrou-o, empurrou-o, mandou-o embora —gaguejou. — James,
fez... fez uma cena.
— Merecia muito mais do que lhe fiz — disse. — Mas como sua mãe
soube?
Emma deu de ombros. — Não tenho ideia. Alguém o ouviu, talvez,
ou Archibald falou antes de fugir de sua casa. O que importa é que as
pessoas falarão sobre isso. É uma história boa demais para não repetir.
— Parece incomodada com isso — falou, franzindo a testa. — Por
quê?
— Fora o fato de que quase tenha brigado por minha causa? Estou
preocupada porque ele é sombrio e me constrange muito.
— Não, foi notada, o que era exatamente o nosso plano desde o
início, — disse, mas seu tom era falsamente animado.
Emma finalmente se afastou um pouco, com mais relutância do que
deveria, e cruzou os braços. — Se isso é exatamente o que pretendia quando
começamos, então por que parece tenso, por que há preocupação em seus
olhos?
Sua testa enrugou e a encarou. — E-eu... não sei do que está falando
— disse, e as emoções negativas finalmente desapareceram de seu rosto.
Emma balançou a cabeça. — Não pode fingir, James. Isso,
obviamente, lhe diz respeito tanto quanto a mim. Embora eu aprecie essa
proteção que está demonstrando, sinto que é melhor que eu saiba o pior
para que possa estar preparada.
— Observa demais Emma — murmurou, enquanto passava a mão
pelo cabelo. — Não estou preocupado com Archibald. É um idiota e as
fofocas sobre sua partida desaparecerão, muito antes de causar algum dano
permanente, especialmente se optarmos por não abordar isso para não as
alimentar. — Soltou um suspiro curto. — Há... algo mais, no entanto. E está
certa, deveria ter conhecimento sobre isso.
Seu coração começou a palpitar enquanto o olhava, tentando ler o que
estava em sua mente antes que falasse. Falhando mesmo quando imaginou
cenários horríveis após cenários horripilantes.
— O que é? — Perguntou, quase sem fôlego.
— Margaret sabe sobre nosso ardil — disse baixinho.
Emma cambaleou e James avançou para pegar seu braço, firmando-a.
Olhou-o, muito próximo, muito bonito, muito perfeito, e mal conseguia se
lembrar de como respirar, muito menos falar. James esperou pacientemente,
sem tentar forçá-la, sem tentar preencher o espaço com palavras.
— Sabe que estamos fingindo um cortejo? — Perguntou. James
assentiu uma vez, e Emma soltou um pequeno grito estrangulado. — Foi
por isso que me olhou tão estranhamente. Achei que era por minha mãe,
pelo que estava dizendo, mas era isso. Como soube?
Finalmente a soltou e apontou para o caminho. — Devemos caminhar
para não ficarmos muito atrás dos outros — sugeriu.
Emma pensou em enfrentá-lo por um momento, mas decidiu-se contra
isso. Estava certo, afinal. Chegarem juntos, muito atrás dos outros,
permitiria comentários impertinentes e ainda mais encorajamento de sua
mãe, sobre um compromisso.
Deram um passo à frente juntos e Emma disse: — Diga-me, por
favor.
James inclinou a cabeça. — Eu lhe contei, Emma.
Ela virou o rosto em sua direção e o encontrou encarando-a. Engoliu
em seco, sufocando a sensação de traição que sua confissão criou em seu
peito. Não poderia traí-la. Não eram nada um para o outro, apesar do beijo.
Tinha que se lembrar disso.
— Por quê? — Sussurrou. — Por que lhe contou?
James ficou em silêncio por um longo tempo. — Tenho um grupo
enorme de amigos muito bons — disse. — Mas a pessoa que realmente me
conhece e me ama é Meg. Nós somos os únicos que entendem
completamente nosso... passado. Nossa situação com nossos pais. Não
minto para ela, não quando posso evitar. Meg também não esconde coisas
de mim. Veio até mim, emocionada com a ideia de que nós estávamos
namorando. Não poderia enganá-la e deixá-la se machucar no final. Então
admiti nosso ardil.
Emma queria desesperadamente ficar com raiva dele por isso, mas
descobriu que não estava. Não quando se explicava dessa maneira. Quantas
vezes ansiou por alguém para compartilhar coisas como ele descreveu? Não
tinha ninguém com quem confidenciar. De certa forma, estava mais com
ciúmes do que com raiva.
— Eu... entendo — sussurrou por fim. — E sei que é o melhor.
Também não gostaria de machucar Meg. Só desejo...
Parou, sem vontade de confessar sua tolice para este homem. Afinal,
ele também não era seu confidente.
— O que deseja? — Pressionou.
Emma balançou a cabeça. — Nada.
James parou no caminho e se virou para ela. — Vamos subir esta
colina em quatorze passos, Emma. Quando o fizermos, o local do
piquenique estará do outro lado. Todos estarão nos observando, esperando
por nós, e essa conversa terminará. Não há tempo para fingir. Fiz algo de
que não me arrependo, mas também não tenho ilusões de que minha
confissão não a afete. Então, se deseja alguma coisa, me diga o que é agora.
Seu tom era afiado e sombrio, seu olhar focado e convincente.
Naquele instante, seus desejos se transformaram de anseios em relação a
Meg, para cobiça de sua boca. Seus lábios nos dela.
Afastou esses pensamentos. — Gostaria de ter continuado amiga de
Meg. Eu realmente gosto dela.
James a encarou. — Por que não continuaria amiga de Meg?
— Por que ela desejaria continuar depois disso? — Perguntou,
humilhada pelas lágrimas que ardiam em seus olhos. — O que pensará de
mim!
— Meg te tem carinho, entende por que esse caminho é que sentiu
que deveria seguir. Se ela sente alguma coisa é raiva de mim por...
James se interrompeu e desviou o olhar. Emma se inclinou para
frente. — Por que sentiria raiva?
— Não importa — disse, e a olhou. — Tinha um outro assunto que
queria abordar contigo, antes de nos juntarmos aos outros. Pelo menos,
abordá-lo para uma discussão mais aprofundada depois.
Seus lábios se separaram. A excluiu de qualquer coisa mais profunda
em seu coração e, embora o que compartilhavam não fosse real, sentiu-se
desapontada. Limpou a garganta. — O que seria isso?
— Seu pai, Emma. — disse suavemente.
Todos os seus pensamentos sobre Meg, as sugestões inadequadas de
sua mãe ou querer beijar James, todos desapareceram em um instante e o
mundo parecia ter diminuído pela metade.
— Meu... pai. — repetiu, as palavras parecendo arrancadas de seu
corpo com uma força dolorosa.
James assentiu. — Sim. Ouvi coisas aqui e ali. Queria trazer o assunto
à tona por causa de nossa situação.
— Nossa situação. — repetiu. — Como meu pai tem alguma coisa a
ver com a nossa situação? Não está realmente me cortejando. Não tem que
ter medo do que ele poderia... — Parou e prendeu a respiração irregular. —
O que ele poderia fazer. Não desejo discutir sobre ele.
James a encarou com verdadeira surpresa. — Não estou tentando
bisbilhotar, só quero ajudar.
— Não pode ajudar — disse. — E está bisbilhotando.
— Emma. — disse com mais rispidez. — É uma pergunta
perfeitamente razoável.
— Sim, para um homem que seria meu marido — retrucou. —
Deixou claro que não quer realmente esse papel. Então, não tem o direito de
me perguntar sobre coisas particulares. Afinal, gostaria de me contar sobre
sua mãe? Sobre por que ela... por que é do jeito que é?
James recuou, virando o rosto, como se o tivesse golpeado
fisicamente. Sua mandíbula flexionou, enquanto mantinha sua atenção
longe. Finalmente, disse: — Entendo o que quer dizer. Venha então, vamos
voltar para os outros.
Acenou em direção ao morro e começou a andar novamente, sem
esperá-la. Encarou-o por alguns passos, antes de correr para alcançá-lo.
Ficou quieto durante todo o caminho até a colina e então sorriu e toda a dor,
todo o aborrecimento se foi. Ninguém jamais adivinharia que brigaram,
pela forma como acenou para o grupo e deu alguma explicação sobre uma
pedra no chinelo dela.
Mas mesmo que ninguém mais soubesse a verdade, Emma sabia.
Sabia que, provavelmente, tinha arruinado tudo entre eles. E mesmo que a
maior parte disso tudo fosse baseado em um ardil, seu peito ainda doía com
a ideia de que este homem, agora, pensava diferente a seu respeito.
E não havia nada que pudesse fazer para mudar isso.

J estava sentado em sua mesa, olhando com olhos cegos para a


papelada da propriedade espalhada por cima. Estava aqui há uma hora,
tentando muito se concentrar e falhando miseravelmente. Só conseguia
pensar em Emma.
O piquenique foi um sucesso para Meg, mas, para James, foi uma
tortura. Primeiro, sua atenção para Emma não parecia estar funcionando
inteiramente como esperava. Ainda pegou os olhares interessados e
sussurros de algumas das mulheres na reunião. Certamente muitas das
debutantes mais novas puseram os olhos em outro lugar, mas havia outras
que o olhavam. A Condessa de Montague, uma galante, caçadora notória,
não parava de se colocar em seu caminho, piscando e falando sobre...
honestamente, não sabia exatamente o quê.
Claro, isso não o incomodava tanto quanto o fato de Emma ter se
sentado o mais longe possível dele, nunca o olhando. Pior de tudo, se
tornou o foco de vários dos homens presentes. Ao contrário do baile,
tinham sido homens de maior qualidade. Mais jovens, muitos com dinheiro,
havia até um visconde no grupo.
Seu plano estava funcionando no que dizia respeito a Emma, mas não
comemorou esse fato.
Houve uma leve batida na porta e seu corpo se contraiu. Sabia quem
era. Sabia o que tinha que fazer.
— Entre — disse, levantando-se.
A porta se abriu e Emma entrou. James prendeu a respiração. Estava
vestida para o jantar, com um vestido amarelo ensolarado e uma saia
bordada à mão. A cor destacou os detalhes de seu cabelo e fez dela um farol
brilhante, no que tinha sido uma noite escura até agora.
— Queria me ver — disse, em tom formal e incerto. Não o olhou.
— Entre. Feche a porta.
Olhou-o, então, incerta e sussurrou: — Isso não é apropriado, James.
— Nem a conversa que devemos ter — disse com um suspiro. — Por
favor, Emma. Feche a porta
Respirou fundo, quase como se estivesse se equilibrando, e fez o que
foi pedido. Não se moveu em direção a ele, porém, mas ficou na entrada, a
mão pronta para voltar a abrir a porta.
— Se quer que eu vá embora, eu entendo — disse suavemente. —
Mas vai demorar um pouco para convencer minha mãe a fazê-lo.
Encarou-a, vendo agora como suas mãos tremiam, como sua pele
estava pálida e, pior de tudo, a vermelhidão de seus olhos que indicava que
havia chorado.
Deu um passo em direção a ela quase sem querer fazê-lo. — Emma,
não a chamei aqui para pedir que fosse embora. Por que acha que eu iria
querer isso?
Emma engoliu em seco e sua voz estava grossa quando disse, —
Nossa conversa de hoje cedo não foi exatamente positiva. Está me fazendo
um favor com sua barganha e o recompensei com rejeição e indelicadeza.
Por que desejaria me manter aqui? Não precisa de mim.
Naquele momento, não queria nada mais do que cruzar a distância
que os separava e envolvê-la em seus braços. Para segurá-la contra seu
peito com conforto e sussurrar que precisava dela. Mesmo que não
quisesse. Mesmo que lutasse com todas as fibras de seu ser. Estava
começando a precisar dela.
Mas não o fez. Em vez disso, limpou a garganta. — Pedi-lhe que me
contasse uma coisa sobre seu pai. E fez uma boa observação, de que não lhe
disse nada pessoal sobre mim. Já que conhece minha mãe e a viu... no seu
pior, talvez eu lhe deva essa explicação.
— O quê? — soprou, seus olhos brilhantes se arregalando de
surpresa. Agora Emma deixou a segurança da porta e deu alguns passos em
sua direção.
— Perguntou-me por que minha mãe é do jeito que é — disse, cada
palavra apunhalando-o no coração. — A resposta é simples. Casou-se com
um homem que não amava e que, definitivamente, não gostava dela.
Emma engoliu em seco. — Era infeliz?
James assentiu lentamente. — Nunca soube que não era infeliz. Bebe
para esquecer, suponho. E é por isso que preciso de sua ajuda, Emma. Não
tenho interesse em entrar no mesmo tipo de arranjo.
— Um casamento, quer dizer — sussurrou. — O que viu entre sua
mãe e seu pai é o motivo por que não deseja se casar.
— Em parte, sim.
— Mas não poderia... — Emma começou, e se cortou. Como se o
assunto fosse muito íntimo. Era, mas James descobriu que queria que ela
falasse livremente.
Aproximou-se dela um passo. — Não poderia o quê?
— Não poderia encontrar alguém que ame? —sussurrou. — Alguém
que o ame?
James ergueu o queixo e balançou a cabeça. — Isso é um conto de
fadas, Emma. Aqueles que encontram o amor verdadeiro são muito raros.
Mesmo para os que o fazem, nem sempre dura. Não, conheço meus limites
e não espero que mais ninguém me salve deles.
Emma o encarou, e naquele momento viu algo em seus olhos que o
aterrorizou. Viu pena. Como se soubesse a verdade a seu respeito e sentisse
pena dele.
E então Emma se aproximou dele novamente, só que desta vez não
parou até alcançá-lo. Lentamente, levantou as mãos, tocando suas
bochechas. James não se afastou, e sim a olhou nos olhos. Queria fugir, mas
uma parte igualmente forte dele, queria ficar. Estava encarando-o, no fundo
de sua alma, e havia uma pequena lasca dele que desejava que visse a
verdade. Como se quisesse que ela fizesse exatamente o que alegou não
desejar.
Salvá-lo.
— É daí que vem a tristeza — sussurrou.
Quando o que ela disse o penetrou, seus olhos se arregalaram
rapidamente e o choque se espalhou através dele. Passou uma vida inteira
ensinando-se a esconder suas emoções. Quando criança, fez isso para se
proteger. Como homem, a razão era pouco diferente. Mas o que estava claro
neste momento era que Emma o via. Enxergava o que não queria admitir
para si mesmo que sentia, muito menos dizer ou mostrar para qualquer
outra pessoa.
O terror o agarrou, enquanto afastava as mãos dela de seu rosto. —
Não há tristeza, senhorita Liston, garanto-lhe — disse, seu tom cortante e
tão sem emoção quanto poderia conseguir.
Emma o deixou se afastar, mas não se afastou dele. Manteve-se firme
como se lhe pertencesse. — Há tristeza em todos, Vossa Graça — insistiu.
— Ninguém passa por este mundo sem um pouco disso.
— Bem, não há nada em mim, Emma — grunhiu, seu tom frustrado
por sua insistência em que enfrentasse a si mesmo. Enfrente-a. Cerrou os
dentes e lutou contra ela, da única maneira que sabia. — Certamente, não
há nenhuma agora. Neste momento estou em uma sala privada com uma
linda mulher e a última coisa que penso são meus problemas. O que estou
pensando é isso.
Baixou a boca para a dela e a beijou. Um beijo punitivo, duro, mas
Emma não se afastou. Pelo contrário, se abriu para ele imediatamente,
convidando-o a entrar, aceitando o que oferecia, apenas com um leve
suspiro de aquiescência.
Seu medo e sua tristeza, sua raiva e sua frustração, derreteram-se nela,
e suavizou seus lábios nos dela, enquanto a puxava ainda mais para perto.
Seus braços rodearam suas costas e ela moveu a cabeça para que pudessem
aprofundar o beijo. Perderem-se nele.
E aconteceu. James esqueceu todas as outras coisas do mundo, exceto
seu gosto, sua sensação. Afogou-se nela e não se importou se alguma vez
voltaria a respirar.
Empurrou-a para trás, virando-a, até que a inclinou na beirada de sua
mesa. Queria senti-la contra ele, tocá-la, fazê-la gozar como antes. Mais do
que isso, queria enterrar seu corpo profundamente no dela e quebrar com
ela.
Mas isso não era possível.
Afastou-se do beijo e a olhou. Seu olhar estava turvo e desfocado,
seus lábios vermelhos e cheios de seus beijos, sua respiração curta e áspera.
— Quero tocá-la de novo, Emma. Quero fazer mais do que apenas
tocá-la, embora mantenha minha promessa de não a reivindicar.
Emma mordeu suavemente o lábio inferior. — Sim —sussurrou em
resposta à pergunta que não havia sido feita. — Por favor.
O por favor quase o desfez ali mesmo, mas conseguiu recuperar
algum controle sobre sua luxúria. Sorriu, colocando-a com mais segurança
na beirada de sua mesa. Então começou a deslizar suas saias para cima,
enquanto se afundava em uma cadeira, se posicionava e separava suas
pernas.
Emma o encarou, olhos arregalados, corpo tremendo. — O que está
fazendo? — Sussurrou.
James retribuiu o olhar, perverso porque a perversidade era a única
coisa à qual podia controlar. — Degustando-a, Emma. Vou prová-la.
—P - ? — Emma ofegou, seus quadris arqueando por vontade
própria, enquanto James pressionava cada mão quente em uma de suas
coxas nuas e as separava um pouco mais.
— Ah, sim — ronronou, afastando a abertura da calçola para olhar
diretamente para em seu sexo.
Calor inundou suas faces com seu intenso escrutínio — Realmente
não entendo o que quer dizer com...
Antes que pudesse terminar sua declaração, James se inclinou e
pressionou a boca contra ela, traçando a língua ao longo de suas dobras.
Uma sensação intensa a envolveu, fazendo com que se empurrasse
contra James, o que só lhe deu mais força na língua e tornou o que fazia
ainda mais poderoso. Segurou-a firme e a lambeu novamente, desta vez
abrindo suas dobras para um melhor acesso.
Emma sabia que deveria protestar. Que deveria esmagar essa criatura
lasciva que despertou nela e lhe dizer não. James pararia. Não tinha dúvidas
de que o faria.
Mas não o impediu. Em vez disso, caiu um pouco para trás em sua
mesa, abrindo-se mais para ele enquanto a chupava e acariciava com a
língua. James encontrou o pequeno nó de nervos bem no topo de seu sexo e
circulou-o languidamente, fazendo-a estremecer enquanto o prazer elétrico
a atravessava. De repente recuou e voltou a fazer amor, com a língua
malvada e talentosa, sobre seu corpo.
Emma arqueou-se contra ele, incapaz de parar a onda de sensações
que a estavam percorrendo, aprofundando, ameaçando afogá-la com sua
intensidade. James ergueu o olhar e seus olhos se encontraram enquanto a
agradava.
— Eu adoraria fazer isso por horas — ofegou entre lambidas. — Mas
não posso. Agora não. Então...
James parou e Emma soltou um pequeno grito quando ele focou a
boca em seu clitóris. Chupou-a, suavemente no início, depois mais forte, e
ela se agarrou à borda da mesa com uma mão, enquanto cobria a boca com
a outra, para conter os gritos de prazer que não podia mais controlar.
As sensações estavam crescendo, mais altas, mais rápidas, mais fortes
do que da última vez que a tocou e então, quase sem aviso, a bolha de
liberação estourou. Emma sacudiu seus quadris contra James, enquanto
onda após onda de intenso prazer a balançava. Estava se afogando, voando,
perdida e foi salva de uma só vez, e o duque nunca cedeu enquanto a
lambia, cada vez com mais força.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade feliz, os tremores
diminuíram e James levantou a cabeça de entre suas coxas, sorrindo. Calor
queimou suas faces com a intimidade do que tinham acabado de fazer, mas
retribuiu a expressão mesmo assim.
James pegou sua mão e a ajudou a se sentar, em seguida, ficar de pé.
Emma endireitou as saias, consciente pela primeira vez do volume duro e
áspero em suas calças. Sabia muito pouco sobre sexo, mas sua mãe lhe
dissera as necessidades mais básicas. Esta era a prova de que a queria.
Olhou-o e o encontrou encarando-a. James encolheu um ombro. —
Encontrarei satisfação sozinho mais tarde.
Emma engoliu em seco. James quis dizer que iria... se tocar, ela
supôs. A própria ideia era intrigante, e seu coração começou a disparar,
formigamentos a inundando e se acomodando no mesmo lugar em que a
estava lambendo momentos antes.
Meu Deus, mas era uma libertina.
Afastou-se e continuou a se arrumar. James limpou a garganta. —
Agora, isso não era um uso melhor do nosso tempo do que entrar em
alguma conversa inútil?
Emma congelou e lentamente girou para olhá-lo mais uma vez. Havia
um sorriso em seu rosto. Era uma expressão que conhecera muito bem ao
longo dos anos. Um olhar que as pessoas davam quando tentavam enganá-
la. Ou brincavam de alguma maneira.
Encarou-o, as mãos começando a tremer. — O... o que acabou de
fazer foi porque me queria ou para me calar?
Ele se mexeu, era quase imperceptível, mas notou. — Claro que a
queria — disse.
Emma balançou a cabeça, mantendo seu olhar fixo nele quando não
queria nada mais do que se virar. Ir embora. Fugir.
— Mente — sussurrou. — Não gostou das minhas perguntas nem das
minhas observações. Queria me impedir, então usou minha fraqueza contra
mim. Encontrou uma forma de me distrair, que sabia que eu não poderia
resistir. Ah, foi muito mais gentil do que outros fizeram no passado, mas
ainda estava se esquivando de mim.
— E se eu estivesse? — Perguntou, seu tom ficando mais frio,
enquanto cruzava os braços sobre o peito largo. Não era mais seu amante
gentil - era o filho dourado da Sociedade novamente, e ela apenas uma
wallflower. — Não é como se tivesse me revelado algum segredo seu
quando pedi.
Emma vacilou, pois não estava errado. Perguntou sobre seu pai e se
recusou a responder. Invadiu seu passado, nas suas motivações para nunca
se casar, e ele fez o mesmo, embora com resultados muito mais agradáveis.
— Parece que nós dois somos covardes — disse por fim, abaixando a
cabeça, enquanto voltava para a porta do escritório. — Muito medo de dar
qualquer coisa, por medo de que nos abra para a dor, para a traição. Vamos
nos proteger até um fim amargo. E será amargo, James. Porque nós dois
sabemos que o caminho em que estamos vai garantir que acabemos
sozinhos. Mesmo que eu encontrar um marido aqui, mesmo que um dia
aceite que deve encontrar uma esposa... nós ainda estaremos sozinhos.
Encarou-a, boquiaberto, e Emma se virou, enquanto segurava a
maçaneta da porta. Suas mãos tremiam tanto que mal podia girá-la para se
libertar desta sala, deste espaço, deste homem, das coisas que ela mesma
havia dito, que parecia tão real e tão dolorosa.
— Vossa Graça — sussurrou, e fugiu.
Entrou no corredor, sua respiração ofegante e rápida, e cambaleou
cegamente para longe dele e do que tinham acabado de fazer. Não apenas
fisicamente, mas como construíram um muro entre os dois. Nunca esperou
nada menos, mas vê-lo e senti-lo agora lhe doía de maneiras que nunca
imaginou. Tudo o que queria era subir, deitar-se e ficar sozinha. Longe dos
outros, longe de James, longe da verdade sobre si mesma que suas
acusações sobre ele revelaram.
— Emma?
Congelou ao som da voz de Meg flutuando pelo corredor. Respirou
fundo, lutando desesperadamente para não mostrar sua agitação em seu
rosto, e virou-se para olhar para sua amiga.
— Meg — disse com falso brilho. — Não a vi.
Meg sorriu, mas havia hesitação na expressão que fez o coração de
Emma apertar. Claro que haveria. James já lhe havia dito que sua irmã sabia
de seu ardil. Agora Meg a confrontaria sobre isso e havia uma forte
possibilidade de que Emma perdesse uma amiga.
Seu coração doeu com o pensamento.
— Acho que precisamos conversar —disse Meg, aproximando-se e
gesticulando para a porta da sala, logo no final do corredor. — E esta é a
primeira chance que temos de ficarmos sozinhas, então se juntará a mim?
Emma hesitou. A vontade de fugir era ainda mais forte agora. E, no
entanto, não havia nada a fazer. Não podia correr, não realmente. Esse tipo
de decepção sempre a pegava quando tentava. Era melhor deixar acontecer
agora e acabar com isso.
— Claro — Emma conseguiu dizer entre os lábios secos.
Seguiu a amiga até a sala e viu Meg fechar a porta atrás de si.
Inclinou-se contra a barreira e olhou para Emma.
— Meu irmão me contou uma coisa hoje — disse Meg.
Emma inclinou a cabeça. Parte dela apreciava como Meg era direta.
Não havia fingimento. Nada de dançar em torno de tópicos desconfortáveis.
E, no entanto, desejava que pudessem fingir um pouco mais, porque, de
alguma forma, Meg se tornara importante para ela, no breve período em que
se conheceram.
— Sim, eu sei — disse Emma. — Contou-lhe sobre nosso acordo.
Mencionou a conversa que tiveram, no caminho para o piquenique. E me
contou sobre sua decepção.
Meg deu um passo à frente. — Estou decepcionada, Emma. Verdade.
Emma estremeceu. Agora seu jogo com James parecia pior do que
nunca e desejava escapar. Mas merecia essa censura e teria que encarar isso.
— Entendo — engasgou-se. — E se não quiser ser minha amiga...
Meg prendeu a respiração e estendeu a mão, pegando a mão de Emma
que se agarrou a ela, como se Meg fosse um bote salva-vidas em um mar
fervente.
— Claro que quero ser sua amiga — disse Meg. — Graciosa, meu
relacionamento contigo nunca foi baseado no seu com James. É minha
amiga, independente do que aconteça entre os dois ou dos acordos que
fazem fora da nossa amizade.
Emma quase cedeu de emoção com essas palavras. Lágrimas saltaram
de seus olhos, mas, pela primeira vez neste dia terrível, eram lágrimas de
alívio. Não perderia Meg nisso tudo.
— Estou tão feliz — Emma sussurrou.
Meg sorriu, enquanto puxava Emma para o sofá para se sentarem.. —
Minha decepção vem do fato de que acho que meu irmão teria mais
facilidade se tivesse o apoio de uma mulher como você. Eu queria que seu
cortejo fosse real.
Emma a olhou, primeiro chocada por Meg querer seu irmão amarrado
a uma mulher com tão poucas perspectivas, sem influência e com conexões
familiares questionáveis. Mas também chocada que o que Meg disse
revelou algo de seu próprio coração.
Porque, naquele momento, Emma percebeu que uma parte dela
também desejava que esse cortejo fosse real. Que o que tinha acabado de
acontecer entre ela e James, no escritório, fosse o começo de algo maior,
não apenas uma maneira de se esconder dela.
— Posso lhe fazer uma pergunta? — Emma perguntou.
— Claro.
— Por que seu irmão se opõe tanto ao casamento? — Ela sabia um
pouco a resposta, é claro. James lhe contou sobre as terríveis consequências
do casamento sem amor de sua própria mãe, mas sabia que havia mais.
E estava disposta a descobrir, mesmo pelas suas costas.
Meg soltou um suspiro longo e doloroso. — Papai foi muito cruel
com ele.
Emma recuou, surpresa. Nunca conhecera o antigo Duque de
Abernathe, pois morrera muito antes dela aparecer na Sociedade, muito
antes de ser ensinada ou interrogada sobre aqueles que eram mais
importantes do que ela. Mas nunca assumira que tivesse sido cruel.
— Como? — Sussurrou. — Por quê?
Meg se mexeu com desconforto. — James não gostaria que eu falasse
sobre isso. Consideraria uma traição, eu sei. Seu passado é privado - só seus
amigos mais próximos sabem de relance.
Emma assentiu lentamente, desapontada por não saber da verdade,
mesmo que entendesse os motivos de Meg para mantê-la no escuro.
— Se importa com ele?
Emma respirou fundo com a pergunta inesperada e a forma focada
com que Meg a estava olhando. — Eu-eu... sabe que é um ardil.
Sua amiga a observava e sua expressão era séria. — Sim eu sei. Mas,
às vezes, quando os vejo juntos, sinto algo mais profundo do que o que
poderia ser interpretado como um ardil. Pergunto-me se, por acaso, não
gosta James. Se há alguma parte sua que deseja que possa haver mais entre
os dois, do que apenas um jogo elaborado que ele inventou para se
proteger... para protegê-la?
Emma olhou para suas mãos, apertadas firmemente em seu colo. Meg
estava dançando muito perto da verdade, muito perto do limite. Não queria
revelar tanto de seu coração, e, ainda assim, se viu incapaz de fazer
qualquer coisa além disso.
— Eu me importo com ele — sussurrou. Dizer as palavras em voz
alta roubou seu ar e lutou antes de continuar. — Mesmo sabendo que não há
esperança de futuro para nós. Há algo nele que me faz querer... mais.
Meg sorriu, e não havia dúvida de seu triunfo. — Eu sabia.
— Mas Meg, não há indicação alguma de que ele sinta alguma coisa
por mim — disse Emma rapidamente. — Nem que queira mudar algum de
seus planos por mim. Deve saber que é uma batalha perdida. O melhor que
posso fazer é seguir o que ele quer, tentar usar sua atenção, para encontrar
outro par.
Meg franziu a testa, e havia compreensão em seu rosto. Algo que era
mais profundo do que uma mera empatia por Emma. — Sim, sei que, às
vezes, não podemos ter o que realmente queremos — disse suavemente. —
Embora eu desejasse mais para os dois do que um arranjo que não queria e
uma existência solitária e vazia.
— Agradeço sua opinião, mas... devo aceitar o que é — Emma disse.
— Sei disso.
Meg inclinou a cabeça e respirou fundo. — James não era o
primogênito — disse sem olhar para Emma. — Nosso pai foi casado uma
vez, antes de nossa mãe.
— Foi?
— Sim. Sua primeira esposa morreu dando-lhe seu herdeiro. E então
o menino também morreu anos depois, em um acidente.
Emma prendeu a respiração. — Aquele pobre homem.
Meg deu de ombros. — Não sei como era com aquela primeira
família. É difícil imaginar que tenha sido gentil ou amoroso, pois,
certamente, nunca vi essa capacidade nele. Mas se realmente se importava
com sua primeira família ou não, nosso pai era um duque e continuar sua
linhagem era sua obsessão. Precisava de um herdeiro, então, antes que seu
período de luto terminasse, cortejou e se casou com nossa mãe. Tiveram
James em pouco tempo. Vim de uma tentativa de sobressalente, e fui uma
decepção para ele, com certeza.
Emma a alcançou, pegando sua mão. — Tenho certeza que não, Meg.
Ninguém poderia fazer nada além de apreciá-la.
O sorriso de Meg era triste. — Obrigada, Emma, mas juro que meu
pai não. Costumava dizer isso na minha cara, antes de parar de falar
comigo, quando fiz quatorze anos.
— Ele parou de falar contigo? — Emma repetiu, seu queixo caindo
com a ideia de tanta crueldade.
Lágrimas saltaram aos olhos de Meg, mas as piscou de volta. — Disse
que eu era problema da minha mãe. Mas não era só comigo. Não gostava de
nenhum de nós. Desprezava-nos por sermos os substitutos da família que
realmente desejava. Na verdade, apreciei ser ignorada. James não foi e
suportou o peso do ódio de nosso pai. Uma das minhas primeiras
lembranças é o duque dando um tapa no rosto de James com tanta força que
partiu seu lábio.
— Quantos anos ele tinha? — Emma sussurrou.
— Oito? Talvez nove? — Meg engoliu em seco. — Enquanto meu
irmão sangrava e chorava, Abernathe o repreendia por não ser Leonard,
nosso meio-irmão. O verdadeiro herdeiro, como nosso pai sempre o
chamava. Detestava James e isso partiu o coração do meu irmão.
Emma cobriu a boca com as mãos e segurou um soluço de dor com a
história que estava sendo contada. Mal podia imaginar o quanto isso deve
ter machucado James.
— Ele odiava meu irmão por ser quem era. E James passou a odiá-lo
em troca. Não quer ser como nosso pai — continuou Meg.
Emma assentiu. — Posso ver por que não iria, depois do que disse
que suportou.
Meg soltou um suspiro longo e pesado. — Nosso pai só queria que
continuasse seu legado. Assim, o desejo de James é acabar com esse legado
de uma vez por todas. Não se casar é um castigo para o Abernathe anterior,
um castigo imposto após sua morte. Ou talvez seja uma penitência, para
nosso pai, para o próprio James. — Meg estremeceu e, por fim, uma
lágrima escorreu pelo rosto. — Então agora sabe a verdade.
Emma colocou um braço em volta da amiga e acariciou seu cabelo,
enquanto Meg descansava a cabeça no ombro de Emma. — Sinto muito que
tenham passado por tal provação — disse suavemente.
Meg assentiu e soltou um suspiro. Mas enquanto confortava sua
amiga, Emma se viu pensando em James. O que Meg lhe havia dito fazia
tudo o que sabia a seu respeito, tudo o que observava, mas que ele não
queria que percebesse, ter sentido. E lamentava por ele. Gostava dele.
Embora essas duas coisas fossem incrivelmente perigosas para seu
próprio bem-estar, ainda as sentia, e ainda desejava que houvesse algo que
pudesse fazer, para aliviar sua dor.
E Emma não ajudou. James apertou a mão contra o tampo da mesa e
olhou-o como se tivesse feito algo para ofendê-lo. E, na verdade, estava
com raiva de si mesmo. Depois de seu encontro anterior, vinte e quatro
horas atrás, James tentou ficar longe de Emma, esperando que isso
reduzisse essa sensação estranha em seu peito. Mas não aconteceu.
Sentar-se longe dela no jantar, na noite anterior, só o fizera imaginar o
que estava dizendo ao cavalheiro sentado ao seu lado. Mais tarde, quando
os jogos começaram, apenas observava, odiando querer parabenizar Emma
quando ganhava ou dar conselhos quando estava perdendo uma mão de
whist.
E quando foi questionado a seu respeito, timidamente, por Lady
Montague, que se aproximou com seus cílios piscando e sorrisos
convidativos - dizer coisas brilhantes sobre Emma era muito fácil.
— Idiota — murmurou para si mesmo enquanto abria o punho e
esticava os dedos rígidos.
— O que fez agora? — Graham perguntou ao entrar no escritório de
James e fechar a porta atrás de si.
James balançou a cabeça. Isso parecia um tópico tão particular. Muito
privado, mesmo para seu melhor amigo. Mas quando olhou para Graham,
soube que iria discutir isso. Graham sempre foi capaz de lhe extrair a
verdade. Nunca descansava, até que a obtivesse. Era por isso que era mais
como um irmão para James do que apenas um amigo.
— Não faço ideia do que fiz — James murmurou. — Algo totalmente
tolo, ao que parece.
A expressão provocadora de Graham deslizou para algo mais sério,
sentou-se em frente a James e se inclinou para frente, colocando os
cotovelos sobre os joelhos. — Isso é sobre o quê? Está mal há dias.
James inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto, elaboradamente
esculpido. Soltou um longo suspiro, mas não conseguiu encontrar as
palavras para explicar o que não tinha certeza de ter entendido
completamente.
— É sobre aquela mulher? Emma Liston? — Graham perguntou.
James o encarou, surpreso com o tom gentil. Sua expressão não era
diferente. Graham já parecia saber a resposta para a pergunta que havia
feito. James cerrou os dentes. — Sim — admitiu baixinho.
Claro que Graham não parecia surpreso com essa resposta. —
Entendo. Pensei que tivesse tudo planejado, que seu ardil estava
perfeitamente delineado. O que há de errado?
James se levantou e afastou-se. — Não precisa se vangloriar, sabe.
Ouço isso em seu tom.
— Por que eu iria me gabar? — Graham perguntou. — A menos que
eu estivesse certo e tenha se apaixonado pela jovem.
James girou para encará-lo, sentindo toda a cor sumir de seu rosto. —
Apaixonado? Não, claro que não. Claro que não. Claro que não a amo.
— Claro — Graham repetiu. — Dizer 'claro' três ou quatro vezes
deixa sua falta de sentimento em relação a jovem infinitamente clara. Então
não está apaixonado por ela, claro que não. Então, o que é? Sua mãe
insistente? A tensão de mentir para todos? Ela pisa em seus pés quando
dançam juntos? O que é?
James baixou o olhar para encontrar seu pé batendo
descontroladamente e se forçou a parar, antes de resmungar. — Ela pode...
me ver.
Graham franziu a testa. — Vê-lo?
Assim que havia sido dito, James desejou poder voltar atrás. Oh,
Graham conhecia sua história, assim como Simon. Mas nunca falaram a
respeito. Nunca deixou que isso afetasse o que fazia, o que assumia, ou
como se comportava. Agora estava prestes a expor algo e não estava
satisfeito com isso.
— Emma vê o que é real — esclareceu. — Não apenas o que escolho
mostrar.
— Como? — Graham pressionou, depois de uma pausa, que pareceu
se estender por uma eternidade.
— Disse que via tristeza em mim — James sussurrou, tentando não
reagir a essa afirmação mais uma vez e falhando, assim como quando ela o
disse e sentiu como se tivesse escorregado sua mão macia em torno de seu
coração e apertado.
Os lábios de Graham se separaram. — Entendo.
— É... totalmente desconcertante. — Sua voz soava embargada e a
garganta apertada.
— Claro que é, ser exposto dessa forma, por uma mulher que,
realmente, só começou a conhecer nas últimas semanas.
James assentiu, mas, na verdade, não se sentia assim. Às vezes
parecia que conhecia Emma a vida inteira.
— Não quero que veja — disse, mais para si mesmo do que para
Graham.
Graham soltou um suspiro. — Mas o que ela diz é verdade, não é?
James fechou os olhos, não querendo olhar para seu melhor amigo. —
Claro que não — mentiu. — Sou a vida de todas as festas, sabe disso
melhor do que a maioria.
— Ah, sim — Graham disse. — Dança, ri, se arrisca e seduz as
damas. À primeira vista, são as coisas mais alegres e despreocupadas do
mundo. Mas eu te conheço.
— Sim, conhece — James admitiu, finalmente olhando-o. — A
maioria das pessoas só me vê no meu melhor, mas você e Simon me viram
no meu pior.
— Nós vimos. Eu o vi depois do ataque do seu pai, quando suas notas
não foram perfeitas.
James se encolheu. — Ele me bateu com tanta força, que pensei que
tinha quebrado meus dentes.
— Eu queria matá-lo — Graham disse, seu rosto ficando vermelho,
apenas com a lembrança.
— E teria, se Simon não tivesse te segurado — disse James, com um
assentimento e a sombra de um sorriso.
— E vi muitos outros dias em que o anterior duque de Abernathe o
tratava como um cachorro e não como seu filho. E o vi quando seu pai
morreu — Graham continuou.
— Você e Simon estavam lá para tudo. Foi por isso que arranjei sua
união com Meg — James disse. — Eu queria que um dos dois fosse meu
irmão de verdade.
Uma sombra cruzou o rosto de Graham brevemente, mas a empurrou
de lado. — Sempre serei seu irmão — disse baixinho. — Não importa o que
aconteça.
— E aprecio isso — James disse, deslizando a mão pelo cabelo. —
Mas é diferente com Emma. Como bem disse, só a conheço há menos de
um mês. Tê-la assim tão perceptiva é... não sei.
— Bem, talvez isso valha alguma coisa, James — Graham
pressionou. — Talvez o desconforto seja um sinal de que é hora de ser real.
De permitir que outra pessoa veja além do exterior. Talvez esta seja uma
oportunidade.
— O que está sugerindo? — James perguntou. — Que eu torne esse
cortejo real, que considere me casar com ela, apesar de todos os votos que
fiz em contrário?
Graham deu de ombros. — Sempre achei que seu desejo de evitar o
casamento o punia mais do que ao homem morto.
James considerou o comentário um momento. Meg havia dito algo
semelhante e o havia descartado, mas, agora, era mais difícil. Podia
realmente imaginar o que cada um deles sugeria. Houve um flash de
fantasia através de sua mente. Da vida que poderia existir com Emma. Uma
vida de prazer e riso..., mas também de vulnerabilidade. Quanto mais o
conhecesse, mais o veria. Não seriam, então, apenas sinais de tristeza.
Conheceria sua raiva, sua dor, seu medo...
Franziu a testa. — Não, acho que não — disse.
Graham apertou os lábios preocupado. — Bem, então só tem mais
duas opções. Pode abandonar seu plano completamente...
James balançou a cabeça. — Não, isso a machucaria. Não quero
machucá-la.
Graham arqueou uma sobrancelha, como se aquela declaração
provasse algo por si só. Então continuou: — Sua outra opção é fazer desta
noite um grande show. Jogue fora o ardil, dê-lhe tanta atenção, que fique
claro que é desejável. Uma vez feito isso, deixe-a ir atrás de quaisquer
opções que surjam.
James assentiu. Ele sabia que Graham estava certo, mas o
conhecimento parecia... vazio, de alguma forma. Imaginou Emma
encontrando outra pessoa para amar, casar-se, compartilhar toda a paixão
que estava logo abaixo de sua superfície e se sentiu... vazio.
Mas, afinal, sempre foi vazio, na realidade, não importa o quanto
fingisse o contrário.
— Pensarei nisso — disse ele.
Antes que Graham pudesse responder, houve uma leve batida na
porta. Virou-se e disse: — Entre.
A porta se abriu e Emma estava parada do outro lado. O olhou e seu
coração realmente gaguejou. Estava vestida para o próximo baile, e a cor
azul que usava dava vida aos seus olhos.
— Emma — sussurrou.
Ela virou a cabeça e pareceu notar Graham pela primeira vez.
Realmente pulou. — Oh, me desculpe. Não sabia que estava aqui, Vossa
Graça.
Graham enviou a James um olhar cheio de significado. — Na
verdade, eu estava indo embora, Srta. Liston. É um prazer revê-la.
Executou uma pequena reverência e depois passou por ela e os deixou
sozinhos. Emma finalmente entrou na sala e fechou a porta.
James se lembrou do dia anterior quando estavam sozinhos nesta sala.
De prová-la, de lhe trazer prazer. Deus, como queria fazer isso de novo.
Mas Emma limpou a garganta e disse: — James, quer que eu vá
embora?

E observou a expressão de James mudar com sua pergunta. Quando


entrou na sala, tinha sido aberto, caloroso. Agora estava em guarda e sua
voz foi dura ao dizer: — Acabou de chegar, Emma. Por que eu desejaria
que fosse embora?
Emma balançou a cabeça. — Não sair desta sala. Mas de sua casa.
Deixar a festa. Voltar para Londres com minha mãe.
Seus olhos se arregalaram. — Esta é a segunda vez que sugere sair
daqui. Por que está trazendo isso de novo?
Havia uma pitada de desespero em seu tom agora que entendia. Isso a
fez querer avançar, em seus braços. Querer tocar seu rosto e acalmá-lo. Mas
não o fez.
— James, nós concordamos com um ardil, mas isso... está saindo do
controle, não é?
O duque cruzou os braços. — Como assim?
Emma quase jogou as mãos para cima, frustrada com a reação dele.
— Bem, não está exatamente satisfeito comigo, está?
James avançou e ela parou de respirar. — Contigo não, Emma.
Comigo.
Ela piscou com essa resposta inesperada e olhou para seu rosto. Suas
emoções estavam tão confusas, que não conseguia determinar quais se
destacavam mais.
— Por quê? — Sussurrou.
— Droga — explodiu, e se afastou dela. Caminhou até a lareira e
encarou-a. Emma queria dizer alguma coisa, pressionar, mas não o fez.
Forçou-se a permanecer quieta e firme, aguardando.
Finalmente, virou-se e encarou-a. Observou-a de cima a baixo e a fez
sentir-se desnuda. Nua tanto emocionalmente quanto fisicamente. Depois
fez um som suave no fundo de sua garganta e aproximou-se dela.
Capturou seus braços, puxou-a contra ele e baixou sua boca até a dela.
Ergueu-se até ele, derretendo-se em seu beijo acalorado, entregando-se ao
poder disso e dele. Não era para isto que veio aqui, mas não conseguia
resistir. Por mais perigosa que essa admissão fosse, agora que a garrafa
tinha sido desarrolhada, não conseguia mais voltar seus sentimentos para
seu interior.
James finalmente recuou e a olhou, ofegante. — Não deveria ser
irresistível, Emma. Eu não quero que seja.
Emma estremeceu quando ele se afastou. Ficou de costas e ela não
tinha ideia do que fazer ou dizer.
Uma resposta que não teve que encontrar, quando a porta do
escritório se abriu e sua mãe irrompeu na sala. O coração de Emma afundou
com a expressão brilhante e esperançosa em seu rosto. Que caiu quando viu
James do outro lado da sala e Emma onde estava.
— Ah, com licença, Vossa Graça — disse a Sra. Liston, lançando um
olhar de relance para Emma. — Ouvi dizer que minha filha foi vista
entrando nesta sala, mas não fazia ideia de que o senhor estava com ela.
James virou e agora a estava olhando. O coração de Emma afundou,
pois sua expressão era branda e entediada, a mesma que o viu dar a uma
dúzia de mamães ao longo dos anos. Agora não era melhor do que aquelas
mulheres que desprezava com tanta facilidade.
— Boa noite, senhora — disse.
— Preciso chamar um vigário? — Sua mãe disse com uma risadinha.
Emma se lançou para frente. — Mamãe! — Se engasgou, as
bochechas queimando. Não conseguia voltar a olhar para James. — Já
chega.
— Ah, cale-se, criança, só estou brincando — disse a Sra. Liston,
ainda com o olhar fixo em James. — Embora isso seja inapropriado, Vossa
Graça. Estar sozinho com minha filha com a porta fechada.
James ficou quieto por um momento, tempo suficiente para que até a
mãe dela se mexesse, sob seu silêncio acusatório. Ele lançou um olhar
rápido para Emma, que rezou para que pudesse ver que não tinha
organizado essa exibição ridícula.
— Claro que tem razão, Sra. Liston — disse suavemente. — Meu
comportamento foi desagradável. Peço desculpas a senhora e à Srta. Liston.
— Ah, não — explodiu a Sra. Liston. — Claro que minha filha está
muito honrada com a atenção lhe que dá.
— Mamãe! — Emma sibilou, agarrando seu braço.
A Sra. Liston a afastou. — Vamos deixá-lo agora, Sua Graça. Mas,
certamente, espero que tenhamos a honra de que dance com Emma esta
noite.
James inclinou a cabeça, sem responder verbalmente, e a Sra. Liston
pegou a mão de Emma e a puxou para a porta. Foi com a mãe, incapaz de
fazer outra coisa, diante dessa nova humilhação. Mas enquanto saíam,
lançou um último olhar para James.
Estava olhando-a, o rosto ainda impassível, e foi nesse momento que
percebeu que ele nunca lhe disse que não queria que ela fosse embora. E
depois dessa exibição, podia imaginar que James não desejaria nada além
disso.
E estava encostada na parede, a cabeça inclinada e os lábios apertados.
James sentiu seu estômago revirar enquanto a observava, pois sua dor era
clara. Tudo o que conseguia pensar eram as três opções que Graham lhe
havia oferecido, horas atrás. Poderia mandá-la embora, poderia fazer uma
última tentativa de ajudá-la ou poderia simplesmente reivindicá-la como sua
e acabar com essa loucura.
Mas a última era impossível. Parecia impossível. Jurou nunca se
casar como um castigo para seu pai, e isso era parte da razão pela qual
resistia ao seu dever. Mas havia outras razões também. A principal delas, a
capacidade de Emma ver sua alma, aterrorizava-o terrivelmente. Deixar
alguém se aproximar tanto era um exercício de dor.
Também aprendeu isso com seu pai. Quantas vezes o homem o atraiu,
especialmente quando era pequeno? Fingia mudar, fingia se importar,
apenas para, cruelmente, expulsá-lo com a mesma rapidez. James tinha
aprendido que o amor não era permanente. Nunca poderia ser.
Não podia permitir que Emma se aproximasse mais do que já havia,
mas isso não significava que não quisesse mais ajudá-la. Tinha visto o que
enfrentava durante a intrusão de sua mãe, no início da noite. A Sra. Liston
estava tão desesperada, que poderia arruinar tudo para Emma se não
agissem rapidamente.
Então respirou fundo, fortalecendo-se contra quaisquer sentimentos
tolos que estavam tentando irromper de seu interior, e atravessou o salão de
baile em sua direção.
Emma pareceu sentir sua aproximação, pois quando estava na metade
do caminho, ergueu o olhar e o encontrou. Seus olhos se arregalaram
quando se endireitou e seus lábios se separaram.
James estava perdido. Queria tomar sua boca, queria tomar seu corpo,
queria agarrá-la e deixá-la preencher todos os seus espaços vazios com seu
calor maravilhoso.
Mas não podia se permitir isso. Parou diante dela e estendeu a mão.
— Dançamos? — Perguntou, incapaz de tornar a pergunta mais formal.
Emma olhou para seus dedos estendidos por muito mais tempo do que
qualquer outra dama que conhecia teria feito. Então assentiu, sem palavras.
James pegou sua mão, sacudido mais uma vez pela consciência da ação, e a
levou para a pista de dança, onde começaram a se mover juntos.
Emma ficou em silêncio por muito tempo. E permitiu isso, porque
não tinha ideia do que lhe dizer, de como enfrentá-la quando ela era muito
mais do que ele esperava que fosse semanas atrás, quando seu plano foi
traçado.
Agora isso parecia uma vida atrás.
Finalmente, Emma limpou a garganta e sussurrou: — Disse-me que
seu pai era a razão pela qual sua mãe se comportava de tal forma. É a
mesma coisa comigo e com os meus. Os problemas dele são... bem
conhecidos. Tenho certeza de que deve estar ciente deles.
James a olhou fixamente, chocado que, finalmente, abordasse sua
pergunta anterior. Depois de tudo o que havia acontecido desde então, não
pensava que ela derrubaria aquele muro em particular.
No entanto, o fez. Confiava nele e isso fez seu peito inchar de
orgulho. Que lhe oferecesse esse vislumbre de si mesma, significava algo.
Significava mais do que se propunha a admitir.
— Ouvi alguns sussurros sobre Harold Liston, admito.
Seu rosto perdeu a cor com essas palavras, e, por um momento,
tropeçou em seus passos. James a estabilizou, mantendo-a ereta, enquanto
examinava seu rosto.
— Isso é o que minha mãe mais teme — disse em um tom quase
inaudível. — Que, eventualmente, esses sussurros se tornem gritos e
qualquer chance que eu tenha do futuro que ela deseja para mim, seja
finalmente frustrada.
— O futuro que ela deseja?
Emma assentiu. — Um bom casamento, que oferecerá não só a mim
um lugar no mundo, mas a ela.
Sua mandíbula se apertou. Como entendia o que era ser forçado a
cuidar dos que o cercavam, mesmo em seu próprio prejuízo. — Isso é muito
para colocar em seus ombros.
Emma deu de ombros e disse: — É o que se espera de mim, desde que
me lembro. O fardo pode ser... pesado, especialmente porque falhei em
obter o que ela deseja a tanto tempo. Mas não é como se eu tivesse qualquer
escolha no assunto. Ir viver no campo como solteirona não é algo no qual
me seja permitido pensar.
James franziu a testa com a opção inesperada que apresentou. — É
isso que gostaria, viver uma vida sozinha? Nunca se casar, nunca se tornar
mãe?
Emma inclinou a cabeça. — Somos parecidos. Tem um dever e
também não o cumprirá. Está disposto a chegar ao ponto de fingir cortejar
uma mulher, a fim de evitar formar uma conexão real com alguém.
James olhou profundamente em seus olhos. — Acho que temos uma
conexão real.
Seus lábios se separaram ligeiramente e seus olhos brilharam, com
uma pitada de desejo. Emma a afastou. — Mas não permanente, Vossa
Graça. Então, nós dois somos guiados pelas sombras de nossos pais. No seu
caso porque não quer ser como o seu, e no meu, porque temo as
consequências de suas ações.
James se afastou um pouco com sua declaração. Como ela sabia sobre
o pai dele? Mal havia falado sobre o assunto.
A menos que Meg o tivesse revelado.
— Quais são as ações de seu pai? — Perguntou, afastando-a do
assunto de sua própria dor.
Emma suspirou. — Ele joga, se envolve em negócios escandalosos,
briga. Faz o que bem entende.
— Isso soa da forma que me descreveu uma vez — disse. —
Dourado? Intocável?
Esperava que ela risse de sua provocação gentil, mas, em vez disso,
sua mandíbula cerrou. — Em seu melhor dia, meu pai não chega aos seus
pés, James. E ele nunca foi dourado. Tudo o que faz tem um custo. E,
simplesmente, nem sempre paga.
— E paga em seu lugar — disse James, gentilmente.
Ela assentiu, e sua perturbação era clara. — É por isso que minha mãe
o considera um perigo, embora esqueça tudo isso no momento em que ele
chega em casa e lhe dá uma migalha de atenção.
James balançou a cabeça. — Sua mãe daria as costas para tudo o que
ele fez?
— Como bem disse, é isso que o amor faz — sussurrou, com a voz
embargada e o olhar subitamente intenso.
James afastou o efeito daquele olhar fixo com dificuldade. — Faz
com que ela esqueça que acredita que ele é um perigo? E é?
Pensou no que Sir Archibald havia dito sobre o jogo de Liston com o
futuro da Emma. Na época, acreditou que era apenas uma provocação
desagradável, mas agora... temia que fosse verdade, especialmente quando
Emma hesitou muito para responder, inclusive antes que voltasse a falar.
— Não sei — admitiu. — Pelo menos para si mesmo.
A música começou a diminuir e James se viu frustrado com esse fato.
Ficou surpreso com sua capacidade de vê-lo, realmente enxergá-lo, mas esta
noite, finalmente, teve um vislumbre dela.
Afastou-se para fazer um arco, enquanto Emma fazia a reverência,
depois levantou sua mão até os lábios e colocou um beijo nos nós dos dedos
com luvas. Sentiu-a tensa, viu suas pupilas se dilatarem com o mesmo
desejo que percorria suas próprias veias. Aquele que não esperava, mas que
tinha vindo a desejar, tanto quanto água ou comida.
— Obrigado, Emma, por confiar em mim. E quero ajuda-la. Farei
tudo o que estiver ao meu alcance para fazê-lo.
Emma puxou a mão da dele, o rosto virado, como se não gostasse
dessa resposta. — Obrigada, Vossa Graça — murmurou antes de se virar e
deixá-lo.
Viu-a atravessar a multidão, no que pareciam ser pernas instáveis, e
desejou poder ir atrás dela. Mas não o fez. Porque salvá-la, salvá-la de
verdade, seria perder a si mesmo.

E estava no terraço, agarrada à parede de pedra e olhando para a noite


escura. O ar frio não fez nada para acalmá-la, pois sua mente continuava
correndo atrás de sua dança com James.
Estava tentando fingir que podia jogar esse jogo com ele sem perder.
Mas não era sofisticada para tanto. Não era capaz de guardar seu coração,
da maneira que James claramente havia ensinado a si mesmo ao longo dos
anos.
Então, quando olhou para seus olhos escuros, percebeu o quanto
gostava dele, o desejava. Não apenas seu toque intoxicante, mas ele. Queria
seu coração, sua alma, pertencer-lhe, não apenas por uma noite ou pela
duração de uma festa, mas para sempre.
— Idiota — amaldiçoou a si mesma, encostando-se com mais força à
parede.
— Deseja-o.
Começou a se virar, para encontrar sua mãe de pé em seu ombro, com
um sorriso maroto no rosto. — O quê? — Emma explodiu, alto demais. —
Quem?
— Abernathe — disse sua mãe, pronunciando o nome lentamente. —
Deseja-o, não é?
Emma balançou a cabeça. Não confiava em sua mãe o suficiente para
torná-la uma confidente. — Não seja boba, mamãe.
— Não é bobagem — disse a mãe, estendendo a mão para cobrir a
dela. Tudo o que conseguiu fazer foi pressionar a palma da mão, na parede
fria e áspera. — Poderia tê-lo, Emma, e, no processo, salvar a nós duas.
Sabe o que tem que fazer.
Emma virou o rosto. — Não vou me comprometer e traí-lo, forçando-
o a uma união que ele não deseja.
— Traí-lo? — repetiu sua mãe, sua expressão chocada. — Minha
querida, não deve ser tão ingênua. Ele pode fingir ser algo heroico aqui,
mas um homem como ele cortaria sua garganta tão rápido quanto a salvaria,
não importa o que finja agora. Está em guerra e deve fazer qualquer coisa
para vencer.
Emma se afastou. — Ouça-me, mamãe. Não vou me comprometer e
forçar a mão dele. Pare de me pedir para fazer isso.
Sua mãe bufou. — Então condena a nós duas.
Com isso, voltou apressada para dentro de casa. Emma estava pronta
para segui-la, quando percebeu um movimento na borda escura do terraço.
Virou-se para lá, com o coração batendo forte, e viu James sair das
sombras. O coração que estava batendo agora afundou enquanto o
observava vir em sua direção, seu rosto contorcido de emoção, seu olhar
focado inteiramente no dela.
— Quanto ouviu?
— Chega —disse baixinho. Não falou mais nada, mas abaixou a
cabeça e a beijou. Enquanto seus outros beijos a possuíam, a reivindicavam,
este era gentil. Calmante, e Emma se afundou nisso, porque precisava de
sua força e seu apoio naquele momento.
Quando se afastou, ela soltou um suspiro trêmulo. — Obrigada.
James sorriu. — Vamos resolver isso, Emma.
Olhou-o, seu rosto bonito alinhado com preocupação. Estava se
apaixonando por ele. Sabia disso. Talvez sempre tivesse sido um pouco
apaixonada por ele. Isso explicaria por que sua mera presença a deixava
nervosa. Mas esse tinha sido um sentimento não correspondido, uma noção
tola da qual nunca acreditou ser totalmente possível. Homens como ele não
queriam mulheres como ela. Aceitava isso.
Mas, agora, o mundo estava virado de cabeça para baixo. James
Rylon, Duque de Abernathe, a queria. Provava isso cada vez que a tocava.
Era muito fácil ser embalada na possibilidade de que a amizade e o desejo
pudessem se transformar em amor quando não o fariam. Não para ele.
James nunca permitiria isso.
Pressionou os ombros para trás se afastando. — Minha mãe está
errada sobre muitas coisas, James. Mas em uma coisa, está correta. Esta é
uma guerra. Contigo não, não do jeito que ela acredita. Mas ainda é uma
guerra. Devo parar de esperar que algo aconteça, aguardando para ser salva.
No final, devo lutar por mim mesma. Caso contrário, acabarei como uma
causalidade. E poderia muito bem arrastá-lo para baixo comigo
James a olhou. — O que está dizendo?
— É hora de eu lutar minhas próprias batalhas — sussurrou,
desejando que suas palavras soassem tão corajosas quanto queria.
Desejando que seu coração se sentisse corajoso também. — Me deu uma
chance no campo de batalha, afinal. É hora de eu agir. Boa... boa noite,
James.
Sustentou seu olhar por um longo momento e depois se virou. James
sussurrou seu nome. Flutuou para ela no vento e quase voltou. Quase correu
de volta para seus braços, onde certamente não pertencia.
Mas, de alguma forma, encontrou forças para não o fazer. Continuou
andando, entrou e examinou a multidão. Observou cada homem elegível
presente, analisando-os, e finalmente encontrou seu alvo. Com um sorriso
que não refletia a perda que sentia em sua alma, atravessou o salão até Meg.
Sua amiga sorriu ao alcançá-la. — Aproveitando o ar da noite?
Emma tentou não pensar em seus momentos roubados no terraço com
James. O momento em que percebeu que tinha que deixá-lo. — Estava um
pouco frio lá fora, na verdade. Meg, pode me fazer um favor?
Meg assentiu. — Qualquer coisa no mundo, Emma. Sabe disso.
Emma apertou sua mão, grata pela gentileza dessa mulher, que passou
a adorar, nas poucas semanas em que eram amigas. — Sim, eu sei. Poderia
me apresentar ao Sr. Middleton?
Meg piscou algumas vezes e as duas olharam para o cavalheiro em
questão. Era pelo menos quinze anos mais velho que Emma, mas sua idade
não pesava nele como um colete mal ajustado, como acontecia com muitos
homens. Era de uma posição semelhante ao seu próprio pai, embora tivesse
pegado suas conexões e as transformado em algum sucesso financeiro e
respeitabilidade. Havia perdido a esposa três anos antes e tinha dois filhos.
Em resumo, não se tratava de algo muito elevado, como havia
acontecido com Abernathe, nem muito inferior.
E quando Emma o olhou, não sentiu nada.
— Emma — Meg suspirou. — E meu irmão?
Emma se conteve, antes de soltar um suspiro de dor. Ela se recusou a
olhar nos olhos de Meg ao dizer: — Abernathe me ajudou muito, mas sei
que devo dar os próximos passos sozinha. Não posso esperar que outra
pessoa me salve.
— Não foi isso que eu quis dizer — Meg sussurrou.
Emma virou-se para a amiga. — Sei que não. Mas James... não pode
me dar o que preciso. Nem tenho certeza se ele iria querer. E não importa o
que eu pense ou sinta, não posso ser tão tola, a ponto de fingir que tenho
todo o tempo e todas as opções do mundo.
Meg inclinou a cabeça. — Está encurralada.
— Sim.— Emma assentiu. — E devo fazer o melhor que posso.
Meg riu, mas o som foi mais doloroso do que prazeroso. — Bem,
ninguém entende esse conceito melhor do que eu.
Emma inclinou sua cabeça, vendo realmente a dor no rosto de Meg
pela primeira vez. Enxergando, de verdade, aquela expressão aprisionada,
que ela mesma conhecia tão bem. — Meg, não quer...
Meg balançou a cabeça. — Não vamos falar sobre o que eu quero.
Não importa. Venha, vamos conhecer seu Sr. Middleton.
Atravessaram o salão juntas e Meg fez as apresentações, como uma
boa anfitriã. E como uma boa amiga, encontrou, então, um motivo para
deixá-los a sós. Emma se moveu através dos movimentos de uma curta
discussão com o homem, mas dificilmente estava presente, mesmo
enquanto conversavam e a convidava para dançar.
Emma o seguiu até a pista, e quando começaram a girar juntos, viu
James voltar ao salão. Seu olhar a encontrou, travando nela e em seu
parceiro. Sua mandíbula se apertou e seus punhos se fecharam ao lado do
corpo. Mas não se aproximou dela.
Emma virou e se concentrou no futuro, não no passado. E não numa
fantasia que ela nunca poderia realmente ter.
J caminhou pelo jardim, sem prestar atenção em nada ao seu redor.
Não dava a mínima para flores ou orvalho da manhã ou pássaros cantando.
Neste momento, vivia uma frustração e uma raiva que não conseguia
processar completamente. Tudo o que sabia era que tinha permanecido
acordado toda a noite por causa de ambos. E quando encontrava o sono?
Sonhava com Emma. Emma em seus braços. Emma se abrindo para
ele. Tomando Ema.
Alternar entre a raiva cega e um pênis ereto não era uma maneira
agradável de preencher as horas.
Virou em uma esquina e se deteve. Parado ali, olhando para a casa,
estava Simon. — Crestwood?
Simon começou a se virar para ele, com um rubor no rosto, que quase
o fazia parecer culpado. — James, não te vi aí. Acordou cedo.
— Não consegui dormir — James admitiu. — Parece que também
não conseguiu.
Simon deu de ombros. — Ultimamente, parece que é uma aflição
frequente para mim. Caminha comigo?
James foi para o lado de seu amigo. — O que o incomoda?
— Nada que possa ser consertado — Simon disse, seu tom muito
suave, mas também duro como aço. — E a você?
— Tenho certeza de que já discutiu longamente com Northfield sobre
os meus problemas — James murmurou.
Simon hesitou e então assentiu. — Sim, no mínimo, podemos falar a
seu respeito. Ele mencionou que está lutando com... com este estratagema
que decidiu jogar com Emma Liston.
Um estratagema. James quase riu. Parecia, desde o início, que tinha
sido mais do que um mero ardil.
— Não gosto de me sentir assim — admitiu baixinho.
— Assim como? — Simon perguntou.
— Como se estivessem me tirando algo. Nem mesmo é algo que
quero.
Simon parou no caminho e cruzou os braços. Houve um estalo em sua
expressão, uma linha dura em sua boca, e olhou para James. — Não estão
lhe tirando nada. Confie em mim, conheço esse sentimento e não é isso.
Está entregando algo. Tem medo disso, então, vai simplesmente deixá-lo ir.
Jogar fora, como se não significasse nada quando é óbvio que significa
tudo.
James o encarou. Normalmente Graham era quem tinha palavras
contundentes e dava conselhos duros, enquanto Simon suavizava tudo, para
torná-lo mais palatável. Mas, naquele momento, Simon quase parecia
querer bater em James.
— Não era para ser...
— Ah, porra, era para ser, James. Droga! — Simon se virou, passando
a mão pelo cabelo. — Passou sua vida tentando fazer frente e fugir do
legado de seu pai. E agora está disposto a perder alguma coisa... — Olhou
de volta para a casa. — Perder algo que valha a pena, só para se vingar de
um morto. Bem, se é isso que quer fazer, não merece tê-la.
James recuou mais. — Simon...
Esqueça — grunhiu o amigo. — Apenas esqueça que eu disse alguma
coisa. Grimble estava te procurando mais cedo. Eu vou... me desculpe.
Sem outra palavra, Simon se virou e saiu pisando forte, não em
direção à casa, mas aos estábulos. James o observou partir, perturbado por
suas palavras e confuso pela paixão com que foram ditas.
Finalmente caminhou até a casa, a voz de Simon ainda soando em sua
cabeça. Seu amigo estava, para todos os efeitos, chamando-o de covarde.
Pior, sentia que Simon poderia estar certo.
Entrou na casa e Grimble correu para cumprimentá-lo. O rosto do
mordomo estava pálido e parecia arrependido. James se preparou para
qualquer problema causado por qualquer hóspede.
— Ouvi dizer que está me procurando, Grimble — disse, forçando
seu tom de voz a ser uniforme enquanto tirava o casaco mais pesado e o
entregava ao criado.
— Sim Vossa Graça. Desculpe incomodá-lo com isso, milorde. Não
tinha ideia do que fazer.
James enrugou sua testa. Grimble era normalmente frio para tudo,
mas suas palavras gaguejantes e sua testa suada colocavam James em alerta
máximo.
— Tenho certeza de que o que quer que tenha acontecido, podemos
resolver. Diga-me o que há de errado — disse, tornando seu tom mais
calmo para tranquilizar o homem.
Grimble apertou as mãos na frente dele. — Temos uma visita, Vossa
Graça. E ele insistiu que deve juntar-se à festa. Foi preciso tudo em mim
para convencê-lo de que deve esperar por sua aprovação. Mas faz muito
barulho, milorde, e está cada vez mais exigente, e eu...
James ergueu a mão para deter Grimble. — Quem? —perguntou. —
Disse uma visita, mas, certamente, não esperamos mais ninguém na festa.
Então, quem se intrometeu?
— Sr. Harold Liston, milorde — Grimble resmungou.
James se endireitou ao ouvir o nome. Seus lábios se separaram em
surpresa. — Pai da senhorita Emma Liston? — Murmurou.
Grimble assentiu uma vez. — Sim.
— A Sra. Liston ou a Srta. Liston sabem que ele chegou? —
Perguntou, pensando na confissão silenciosa de Emma na pista de dança,
em seu medo palpável quando falou desse mesmo homem, menos de doze
horas antes.
Grimble engoliu em seco antes de dizer: — Ainda é muito cedo e não
pensei que elas já estariam acordadas, milorde. Embora o Sr. Liston
estivesse exigindo que ele e seus baús fossem simplesmente levados para o
quarto de sua esposa.
James passou a mão pelo cabelo. — Daria à mulher uma apoplexia.
Mas devem ser informadas. Peça para alguém subir e buscá-las. Suponho
que o Sr. Liston foi colocado em uma sala de estar?
— Sim, Vossa Graça — Grimble respondeu.
— Ótimo, então não está perambulando pela casa. As mulheres Liston
serão conduzidas para lá, assim que puderem. O criado enviado não precisa
dizer que o Sr. Liston está aqui. Mande a pessoa que as acompanhar bater
duas vezes, me juntarei a elas no corredor e lhes darei esta notícia eu
mesmo.
Grimble não pareceu nada surpreso com esta estranha diretiva.
Simplesmente assentiu. — Farei isso, Vossa Graça. O que mais posso
fazer?
— Só me diga onde está Liston — disse.
— A sala azul.
James se afastou sem outra palavra, pelo longo e tortuoso corredor até
chegar à sala azul. Mesmo antes de chegar, ouviu o intruso lá dentro,
movendo-se e falando muito alto consigo mesmo.
James jogou os ombros para trás e abriu a porta. Ao fazê-lo, um
homem afastou-se da lareira e o olhou. James pôde ver a semelhança
imediatamente. Emma herdara aqueles olhos do pai, embora os de Liston
não fossem tão vivos nem tão gentis quanto os da filha.
— O Duque de Abernathe — disse Liston, o leve insulto em suas
palavras disse a James que o homem estava bêbado, apesar de ser cedo.
Claro, James não era de julgar. Sua própria mãe, provavelmente,
ainda estava em seu estupor também. Entretanto, ela não tinha se
intrometido em uma festa privada, nem estava ameaçando ninguém no
momento, ao contrário do convidado indesejado de James.
— Deveria demitir aquele seu mordomo — continuou Liston. —
Maldito bastardo. Não me permitiu ver minha própria esposa
James ergueu o queixo. — Não há problema algum com meu
mordomo. Grimble fez exatamente o que eu gostaria que fizesse. Como o
senhor não constava na lista de convidados da nossa festa, ele não estava
disposto a lhe dar acesso à casa, ou aos nossos convidados, até que eu
tivesse aprovado.
Liston se endireitou e o olhou. — Então preciso ganhar sua
aprovação, garoto?
As narinas de James se dilataram e ele deu um longo passo para
frente. — Não se esqueça de si mesmo, senhor, nem da disparidade de
nossa posição. Sou o Duque de Abernathe e serei tratado como tal, ou será
removido, de uma maneira que não achará confortável.
Liston pareceu considerar essa afirmação e inclinou a cabeça. —
Certamente, Vossa Graça. Peço desculpas pela minha grosseria. Acabei de
esperar mais de meia hora e só gostaria de ver minha família.
James apertou as mãos ao lado do corpo. Liston estava fazendo o que
podia para ficar em bons termos. James sabia bem qual era a verdade dele.
— A Sra. Liston e sua filha se juntarão a nós em breve — disse
baixinho. — Mas como são hóspedes em minha casa, sou responsável por
elas. Devo averiguar quais são suas intenções ao vir aqui.
Os olhos de Liston se estreitaram. — Ele disse que estava rondando.
Não que pudesse ter intenções verdadeiras.
— Ele?
— Sir Archibald — Liston disse, com um sorriso frio.
James deu um passo mais perto, quando seu corpo ficou frio.
Archibald, a quem havia mandado embora, nem uma semana antes, por sua
maldade com Emma. A ideia de que aquela víbora tivesse corrido direto
para Liston era preocupante, de fato, considerando o que havia dito sobre o
hábito de jogar em comum.
— O que quer aqui? — disse James.
O sorriso de Liston vacilou um pouco e cruzou os braços. — Quero
ver minha esposa e minha filha, Vossa Graça. Veja, tenho notícias para elas.
Notícias que ambas desejam ouvir. E não é uma novidade que tenho a
intenção de lhe dar. Então, por que simplesmente não as traz aqui?

E olhou para seu reflexo no espelho, enquanto Sally fazia os últimos


ajustes em seu penteado. A criada ficou tagarelando durante toda a manhã,
enquanto cumpria seus deveres, mas Emma quase não prestou atenção.
Seus pensamentos continuavam voltando para James.
Como sempre pareciam fazer agora.
— Mas a noite passada foi tão bem-sucedida para a senhorita.
Emma piscou quando sua atenção voltou para sua criada. Franziu a
testa. — Suponho que isso signifique que a criada da minha mãe está lhe
contando tudo o que mamãe diz?
Sally deu de ombros. — Claudia e eu dividimos um quarto nos
aposentos dos criados e ela nunca foi reservada.
— É por isso que ela e minha mãe se dão tão bem — murmurou
Emma. — Sim, suponho que o baile de ontem à noite tenha corrido bem.
Dancei regularmente.
O sorriso de Sally era brilhante. — Deve ser um alívio. Terá algumas
opções para um futuro.
Emma olhou para seu reflexo novamente. Um alívio? Não, não sentia
exatamente alívio. Nem felicidade, em suas circunstâncias atuais. Deveria,
mas isso não o tornava assim.
Houve uma batida na porta, e Emma suspirou, enquanto se levantava
e acenou para Sally para atender. Era sua mãe do outro lado, e parecia
muito animada, para o gosto de Emma.
— Bom dia, mamãe — disse Emma, caminhando em direção à
entrada. — Não esperava vê-la tão cedo
Sra. Liston sorriu. — Não estaria aqui, exceto que nós fomos
convocadas por Abernathe.
Emma prendeu a respiração enquanto olhava para sua mãe.
Lentamente, se virou e acenou para Sally. — Isso... isso é tudo —
conseguiu dizer.
Sally pareceu desapontada por não conseguir ouvir, mas fez uma
reverência e saiu do quarto.
— Parece miserável — retrucou sua mãe quando ficaram sozinhas. —
Não me ouviu? Eu disse que o Duque de Abernathe pediu nossa presença.
Juntas!
Emma mal podia ouvir sobre o fluxo de sangue em suas veias, mas
tentou se manter calma. — Ele disse o que queria discutir conosco?
— Não — admitiu a mãe — mas só pode haver uma coisa.
— E o que seria isso? — Emma sussurrou.
Sua mãe deu um tapa em seu braço. — Deseja pedir sua mão, Emma.
Não poderia ser outra coisa.
Emma teve um momento em que seu corpo inteiro se encheu de
alegria. Essa alegria revelou uma verdade contra a qual estava tentando
lutar por tanto tempo. Não estava se apaixonando pelo duque, já o amava.
Pior, queria um futuro com ele.
Mas isso não significava que achava que sua mãe estivesse correta em
sua avaliação da situação. James deixou bem claro que não tinha intenção
de se casar. E estava tentando aceitar isso e se posicionar para algum outro
futuro.
— Não apostaria tanto nisso — disse Emma. — Pode haver muitos
tópicos que Jam..., Abernathe poderia gostar de discutir conosco.
Sua mãe sorriu triunfante, ao quase escorregar em usar o nome de
James tão livremente. — Acho que não. Venha, não devemos deixá-lo
esperando nem mais um momento.
Agarrou o braço de Emma e quase a arrastou pelo corredor e pelas
escadas, até o nível principal da casa. Ao pé daquelas escadas, um criado as
esperava.
— Sua Graça as está esperando na sala azul — disse o jovem. — Por
favor, sigam-me.
Ele se virou e as guiou pelos longos corredores. Enquanto seguiam, a
Sra. Liston agarrou o braço de Emma com mais força. — Vê. Que
formalidade! — Disse em um sussurro de palco, que, provavelmente,
poderia ser ouvido a quatro quartos de distância. — Só pode ser uma
proposta.
As bochechas de Emma queimaram. — Por favor, não faça uma cena,
mamãe — ela sussurrou. — Não sabemos nada. Não ajamos como tolas.
O criado parou em uma porta fechada, deu-lhes um olhar por cima do
ombro e depois bateu duas vezes. Para surpresa de Emma, ele não entrou,
mas esperou no corredor pelos poucos segundos que James levou para
responder.
James olhou para o corredor, acenou para seu servo e saiu para se
juntar a elas. Fechou a porta atrás de si e acenou para o lacaio.
Assim que ele se foi, James sorriu, primeiro para Emma, depois para
sua mãe saltitante. O peito de Emma apertou e sua garganta fechou. Ele
parecia muito chateado. Algo estava errado.
— Bom dia, senhoras — disse. — Obrigado por se juntarem a mim.
— Não teríamos perdido — disse a Sra. Liston, sorrindo para ele.
Emma lutou para conter um suspiro. Sua mãe, claramente, não tinha
habilidades de observação no momento. Estava tão envolvida com a
proposta que acreditava que estava por vir, que não conseguia ler a carranca
de James, a escuridão em seu olhar, o tom cada vez mais gentil que usava,
como se estivesse levando alguém para o túmulo.
— O que foi? — Emma sussurrou, segurando seu olhar.
Por um momento, seu olhar vacilou e se desviou, mas então o trouxe
de volta para ela e se manteve firme. Emma viu a mão dele se mexer ao seu
lado, como se quisesse tocá-la, e naquele momento selvagem desejou que
ele pudesse. Queria se agarrar a ele, firmar-se com essa força.
Mas não podia.
— Não há maneira fácil de dizer isso — disse. — Então vou
simplesmente declará-lo. Tem um visitante que veio a esta casa para vê-las.
Um homem que temo que nenhuma das duas queira ver.
Emma sentiu-se balançando. — Quem?
— Sr. Harold Liston — James sussurrou. — Emma, seu pai está aqui.
E olhou para James. Ele estava falando, mas era como se estivesse
sendo mantida debaixo d'água, enquanto observava seus lábios se moverem.
Parecia incrivelmente distante e vazio enquanto sua mente girava no que ele
tinha acabado de dizer.
Seu pai estava aqui. Aqui! Tinha vindo de Londres até o condado de
Abernathe, encontrado Falcon's Landing e invadido este castelo, como um
exército invasor.
Tinha vindo à sua procura e de sua mãe, em vez de simplesmente
esperar seu retorno a Londres, dentro de uma semana. E isso não poderia
ser uma boa notícia.
— ...porque acreditaria que isso não seria uma notícia feliz, Vossa
Graça — sua mãe estava dizendo, seu tom falsamente brilhante. — Não
esperava que meu marido se juntasse a nós aqui, mas é claro que ambas
ficaremos muito felizes em vê-lo.
Emma absorveu as palavras de sua mãe com um lento aceno de
cabeça. Mesmo neste momento, quando era óbvio que James sabia de seus
problemas com o pai, sua mãe estava mais preocupada com as aparências
do que com a proteção. Pior, Emma sabia que, no momento em que sua mãe
colocasse os olhos em seu marido, se transformaria em uma debutante
risonha, arrebatada por um homem bonito.
Porque sempre o fez.
— Ele está... lá dentro? — Emma perguntou, apontando para a sala de
onde James havia saído um momento antes.
James assentiu lentamente. — Sim.
— Então vamos — disse sua mãe, e quase empurrou James para abrir
a porta.
James olhou para Emma enquanto a Sra. Liston o fazia. Então
estendeu a mão e traçou apenas os dedos sobre os dela. — Estou aqui —
sussurrou. — Estou aqui.
Estremeceu com a intimidade tanto de seu toque quanto de suas
palavras, mas então se afastou. James disse que estava aqui para ela, mas
isso não era permanente. Se Emma se apoiasse demais nele, quando se
fosse, ela poderia não se lembrar de como suportar seu próprio peso.
— Obrigada — murmurou, e então passou por ele para a sala onde
seu pai estava, agora, com sua mãe. Estava segurando a mão da Sra. Liston
e ela o olhava com adoração, apesar de todas as suas declarações sobre o
quão perigoso e não confiável ele era. Sempre foi assim.
Emma observou seu pai enquanto estava distraído com a esposa, que
achava tão fácil de descartar. Fazia quase um ano, desde que o viu pela
última vez. Sempre se surpreendia com o quão jovem ele ainda parecia. Seu
cabelo mantinha sua espessura e brilho, apesar do crescente cinza em suas
têmporas, e seus olhos estavam brilhantes. Claro, não ter que assumir
qualquer responsabilidade faria isso com um homem.
— Ali está minha Emma — disse, soltando a mão da esposa,
enquanto atravessava a sala até ela. Inclinou-se para acariciar sua bochecha
e ela o suportou o melhor que pôde.
— Pai — disse baixinho.
— Papai — corrigiu ele. — Não há necessidade de tal formalidade.
Não quando venho com essas notícias.
O coração de Emma pulou em dobro. - Essas notícias - não pareciam
uma coisa boa. Os planos e esquemas de seu pai nunca deram certo, e ela e
a mãe acabariam juntando os pedaços no final.
Como sempre.
— Que novidades? — Emma conseguiu gritar.
Seu pai acariciou sua bochecha, então olhou para James. Ele encarou
de frente o duque e o estômago de Emma revirou. Seu pai forçou sua
entrada na casa de outra pessoa e depois ousou se ofender por não ter sido
bem recebido.
— Estou faminto e não fui exatamente recebido com polidez nesta
casa. Imagino que tenha bastante espaço para seus convidados, hein,
Abernathe?
— Bastante — James disse de volta, seu tom cortante e perigoso.
Seu pai não pareceu se importar, pois bateu palmas. — Excelente.
Então vamos comer, antes que eu lhe dê as boas novas. Venha, meu amor.
Ele pegou o braço de sua mãe e a guiou para fora da sala. Emma
podia ouvi-la rindo enquanto saíam, e fechou os olhos com um longo
suspiro.
— Emma — James sussurrou.
Ela se virou. — Talvez tenha razão em sua baixa avaliação do amor,
James. Veja como minha mãe é tola.
— Quero ajudar — disse ele.
Emma deu de ombros. — É o que diz, mas, neste caso, não há nada
que possa fazer. Ele está aqui agora e... e provavelmente tudo está perdido.
Eu deveria ter me concentrado mais. Deveria ter tentado mais. Não devia
ter me... — interrompeu-se e balançou a cabeça, não ousando olhar para
James agora. — Não importa. — Não disse mais nada e saiu da sala. James
a deixou fazer isso, seguindo logo atrás, sem uma palavra, apenas sua
presença.
E isso a confortou, embora soubesse que não podia fazer nada por ela
agora.
Entraram na sala do café da manhã, que fervilhava com as conversas
e risadas dos convidados, enquanto examinavam as ofertas no aparador e
sentavam juntos, conversando e tomando chá ou café.
Mas quando a Sra. Liston entrou com o braço preso no do marido, a
conversa parou e todos os olhos se voltaram para o casal. Emma mal
conseguia respirar enquanto observava sua mãe sorrir com o que parecia ser
uma felicidade genuína. Arrulhou. — E veja quem se juntou à nossa festa
feliz, meu marido, Sr. Liston.
— Uma multidão e tanto, Abernathe — disse o Sr. Liston com uma
risada, quando entrou na sala e puxou sua esposa para o aparador. Emma o
pegou olhando para as mulheres presentes, viu-o medindo-as.
Emma balançou a cabeça. Algumas coisas nunca mudavam.
James passou por ela, na sala de café da manhã, e o sentiu passar,
sutilmente, a mão em suas costas. O calor de seus dedos enquanto roçavam
sua espinha a fez afundar momentaneamente em seu conforto.
Mas então ele se foi, conversando com os que estavam na sala,
obviamente tentando desviar alguma atenção do retorno de seu pai, rebelde
e publicamente perturbado. Apreciou o esforço, embora, claramente, não
adiantou. Quando entrou na sala, sentiu os olhares. Ouviu os pequenos
sussurros.
Embora não estivesse com fome, se juntou aos pais no aparador e
serviu um pratinho, depois foi até a mesa. Meg estava sentada em uma
ponta e fez sinal, então Emma seguiu a diretriz e sentou-se ao lado de sua
amiga. Debaixo da mesa, Meg enfiou os dedos nos de Emma e apertou
suavemente. Mais um lugar de apoio a ser encontrado nesta família.
Que perderia se seu pai, finalmente, a destruísse.
O Sr. Liston pousou o prato dele e o de sua mãe e se jogou em uma
cadeira, a poucos lugares de Emma. Começou a falar - muito alto, como
sempre - e seu coração afundou.
— Erga o queixo — Meg sussurrou. — É sempre melhor fingir que
nem percebe a humilhação
Emma deu-lhe um olhar, pensando naquela noite no baile, em que a
duquesa de Abernathe estava muito bêbada. Claro que Meg entendia o que
estava passando. Lentamente, se endireitou na cadeira e sorriu para a amiga.
Passaria por isso com sua dignidade intacta, mesmo que sua posição
social, finalmente, desmoronasse completamente a seus pés. A dignidade
tinha valor.
— E o que o trouxe como uma adição tão tardia à nossa festa, Sr.
Liston? — A duquesa estava perguntando, enquanto adoçava uma xícara de
café e bebia com um suspiro pesado.
Ele sorriu e seu olhar piscou para Emma. — Tenho novidades para
Emma. Boas notícias, na verdade. E qual o melhor momento para
compartilhá-lo?
James lançou um olhar. — Talvez seja melhor que sua notícia seja
dada a sua filha em particular, Liston.
A multidão desviou sua atenção, do pai de Emma para James, em um
piscar de olhos, depois de volta para o Sr. Liston enquanto esperavam a
resposta à advertência silenciosa do duque.
— Estamos entre amigos — disse Liston. — Não estamos, Emma?
Emma engoliu em seco. Seu pai queria compartilhar qualquer notícia
que tivesse agora por que isso a incomodaria. Essa era a única razão que
poderia ter para querer fazer isso em um fórum público. Nesta sala, com
todas essas pessoas assistindo, não seria capaz de mostrar seu
aborrecimento, para manter uma aparência de decoro. Nem seria capaz de
recusar o que quer que ele tivesse arranjado para ela.
— Claro que sim. — disse a Sra. Liston, ainda olhando-o com
adoração, embora sua voz tremesse um pouco e lançasse um olhar
preocupado para Emma.
— Vai se casar, Emma — disse o sr. Liston, com um sorriso largo,
quando ela não respondeu à pergunta. — Providenciei para se case com Sir
Archibald.
Mais uma vez Emma sentiu como se sua cabeça tivesse sido
mergulhada na água. O sangue correu para seus ouvidos e ela balançou em
seu assento, enquanto a sala explodia em sons surpresos. Meg segurou sua
mão com mais força, Emma podia sentir cada um dos dedos de sua amiga
contra sua pele, mas não se mexeu. Não falou. Não respirou.
Apenas olhou para seu pai e viu o lampejo de culpa em seus olhos.
Algo aconteceu, que o forçou a fazer isso. Algo em que ele trocou a mão
dela para salvar sua própria pele.
— Archibald foi um convidado aqui, eu acho. Teve uma ótima
impressão e veio direto a mim, para fazer os preparativos. Voltará a
participar da festa em breve. Tenho certeza de que não se importará,
Abernathe. — Quando Emma ainda não conseguia encontrar palavras, seu
pai balançou a cabeça. — Bem, vamos, menina, diga alguma coisa — disse
o Sr. Liston com uma risadinha. — Te arranjei um bom casamento, deve ter
algo a dizer.
— Está calada porque Emma tem mantido em segredo suas próprias
notícias, Sr. Liston — James disse, enquanto se levantava lentamente.
Emma o observou, bem ciente de seu corpo alto e forte, enquanto o erguia.
Quando se posicionou em direção ao pai dela, foi uma ameaça sutil de sua
posição e força superiores.
— J-James — sussurrou, sem sequer se importar que estava se
dirigindo a ele de forma inadequada, diante de pessoas que se alegrariam
com isso. Tinham assunto suficiente agora, o que era um pouco mais?
— Notícias? — repetiu o Sr. Liston, lançando um olhar preocupado
para Emma. — Que novidades minha filha tem?
James a encarou e, em uma fração de segundo, Emma viu o que faria.
Meg deve ter sentido isso também, pois respirou fundo, antes que ele
falasse novamente.
— Embora Emma possa apreciar o trabalho que fez em seu nome para
uni-la — disse James. — Receio que seja impossível. Veja, Emma já
concordou em se casar comigo.
Ela se levantou. — James —repetiu.
— Ontem — continuou suavemente, enquanto a olhava
constantemente. — Eu pretendia oficialmente pedir sua mão a mãe dela,
esta manhã, quando chegou.
Com isso, a sala explodiu em completo caos e Emma sentiu a
escuridão preenchendo sua visão. Ao longe, ouviu James gritar: — Pegue-
a!
E então a sala escureceu completamente.
J carregou o corpo flácido de Emma para um salão e a deitou no sofá.
Um rastro de pessoas o seguiu, afastando-o da privacidade, enquanto se
ajoelhava ao seu lado e olhava para seu rosto pálido, com preocupação. Lá
estavam sua mãe, Meg, Sr. e Sra. Liston e, é claro, quatro dos cinco
membros presentes do Clube 1797. Somente Simon não se juntou a eles,
pois não havia retornado de seu passeio para participar do anúncio do
"noivado".
James olhou para cima e encontrou os olhos de Baldwin. —
Obrigado, Sheffield — disse suavemente. — Ela poderia ter batido a
cabeça, se não tivesse se movido tão rápido para pegá-la.
Sheffield arqueou uma sobrancelha. — Eu não poderia arriscar que a
futura esposa de um dos meus melhores amigos se ferisse, poderia?
Ouviu a pergunta no tom de Sheffield. Viu-a também nos rostos de
Brighthollow, Roseford e Graham. Mas haveria tempo para abrir uma
discussão sobre esse assunto, em breve.
Agora, tinha que se concentrar em Emma.
— Emma — disse, passando a mão por sua bochecha. — Emma?
Seus olhos tremeram e se abriram lentamente. Por um momento,
apenas olhou para o rosto dele e James viu apenas a sugestão de um sorriso
em seus lábios. Um sorriso só para ele, e seu coração disparou. Mas então,
seu olhar mudou para o resto da sala, para a multidão de pessoas a olhando,
e o sorriso desapareceu, enquanto lutava para se sentar.
— Ah, não — ela gemeu.
Ele colocou uma mão gentil em seu ombro. — Desmaiou, Emma,
então fique quieta. Descanse um momento, antes de se levantar e volte a
repetir a ação. Posso não te pegar tão facilmente, como o Duque de
Sheffield fez.
Estava brincando, mas ela não registrou nenhum prazer nisso. Apenas
continuou olhando ao redor da sala para os presentes.
— James — sussurrou.
Ele assentiu. — Está tudo bem.
— Isso tudo é muito dramático — disse a mãe dele, fungando.
— Cale-se, mãe — Meg disparou, sua preocupação por Emma clara.
— Emma tinha todo o direito de perder o juízo, depois daquela cena
horrível, na sala do café da manhã.
James sustentou o olhar de Emma por um momento, odiando a dor
que viu ali, a humilhação, mas o pior de tudo... a resignação. Estava
resignada a um destino doloroso, apesar de sua tentativa de salvá-la com
seu anúncio. Mas não permitiria isso agora, mais do que estava disposto a
permitir um momento antes. Lutaria por esta mulher.
De alguma forma, ela conseguiu inspirar isso nele.
— Todos para fora — disse, seu tom firme. — Todos menos o Sr. e a
Sra. Liston.
Ele ergueu o olhar e encontrou o de cada um de seus amigos. E, claro,
eles o entenderam. Silenciosamente, começaram a apressar sua mãe e os
servos que se aproximaram na porta para ajudar. No final, apenas Meg
ficou, daqueles que receberam ordens de sair.
Ela avançou e afastou James do caminho, para se ajoelhar ao lado de
Emma no sofá. Os olhos de Emma se encheram de lágrimas. — Desculpe
—sussurrou. — Sinto muito por ter estragado tudo.
— Os lábios de Meg se separaram e agarrou a mão de Emma com as
suas. — Não estragou nada. Portanto, não há necessidade de se arrepender.
Nunca.
Meg se inclinou para beijar a bochecha de Emma, então virou-se e fez
o mesmo por James, que leu seu olhar aguçado quando fez isso. O olhar que
implorava para que cumprisse o que havia alegado na sala do café da
manhã, que lhe dizia, sem palavras, que deveria se casar com Emma. E se
casarem rapidamente.
E, talvez, não apenas para seu próprio bem.
Assentiu levemente, Meg se levantou e sussurrou: — Onde está
Simon? Não estava com os outros.
— Crestwood foi dar uma volta — disse, pensando brevemente no
comportamento conturbado de seu amigo no jardim, pouco antes de toda a
vida de James ter sido explodida em pedaços. — Precisava clarear a mente.
— Clarear a mente? — Meg repetiu, seu olhar brilhando de
preocupação. Então assentiu. — Vou encontrá-lo e explicar o que
aconteceu. Sei que vai querer que ele saiba e esteja aqui conosco. Contigo.
James sorriu, antes de sua saída, fechando a porta e deixando-o,
finalmente sozinho, com Emma e seus pais. Emma sentou-se, afastando-o
enquanto se levantava lentamente. Quando pareceu estável, ele se virou
para o Sr. e a Sra. Liston.
— Agora me diga — rosnou, mal mantendo-se sob controle. — O que
andou fazendo, Liston?
— James — Emma sussurrou, e virou-se para encontrá-la olhando-o,
os olhos arregalados e cheios de medo.
— Não deixarei que ele te machuque — declarou, segurando seu
olhar, para que ela visse que estava falando sério. Emma engoliu em seco,
seu rosto cheio de descrença de que iria defendê-la, o que, claro, o fez
querer fazer isso ainda mais.
Retomou sua posição, de frente para Harold Liston e o encarou. —
Fale.
— Ele não fez nada — disse a Sra. Liston, agarrando com força o
braço do marido. James balançou a cabeça, desgostoso que esta mulher
tomasse o lado de seu marido rebelde, ao invés de sua filha. — Diga-lhe,
Harold. Diga-lhe que só fez um bom arranjo para Emma, sem perceber que
tinha outro pretendente nos bastidores.
— O olhar de Liston se desviou. — Sir Archibald me abordou nos
últimos dias, só isso. Ele só queria discutir a situação de Emma comigo.
Era óbvio que estava mentindo. Seu olhar não conseguia focalizar,
suas bochechas se encheram de cor, estava suando, afastou o braço de sua
esposa e andou pela sala, inquieto.
James estava prestes a pressionar com mais força, mas Emma deu um
passo à frente. Suas mãos tremiam, mas não parecia que iria desmaiar
novamente. Não, naquele momento parecia zangada. Justamente irritada e
absolutamente linda.
— O que fez, pai? — Exigiu. — Pare de mentir para James. Pare de
tentar parecer o herói da mamãe e me diga a verdade. Olhe para mim e me
diga o que fez exatamente!
— Ele a apostou — veio uma voz da porta. Todos se viraram e
descobriram que o próprio Sir Archibald estava agora parado na entrada da
sala. Sorriu para o grupo em geral e continuou: — E não foi a primeira vez.
Apenas a primeira vez que perdeu.

E sentiu vontade de gritar. Apenas sentar-se no chão, cerrar os punhos


e gritar sua raiva e dor até esvaziar seu peito e permitir que respirasse fundo
novamente. Mas enquanto olhava, de Sir Archibald e seu sorriso
presunçoso e de volta para seu pai e seu olhar tímido, não fez isso.
Em vez disso, cruzou os braços e deu um longo passo em direção ao
Sr. Liston. Segurou seu olhar, recusando-se a deixá-lo se desviar, então
disse: — Pela primeira vez na vida, me diga a verdade.
— Não é minha culpa que isso tenha acontecido — seu pai
respondeu, levantando as mãos enquanto choramingava. — Ele queria jogar
cartas, o que eu deveria fazer?
— Dizer não — James falou suavemente, enquanto se aproximava
dela e, gentilmente, colocava a mão em suas costas.
Emma o olhou, pensando no que disse na sala de café da manhã. O
que alegou ter lhe perguntado, como afirmou que ela respondeu. Mas não
podia, realmente, ter a intenção de se casar com ela. Isso era loucura.
— Nunca foi capaz de dizer não — Archibald riu. — Então, jogamos
até que perdesse o dinheiro, depois o cavalo, e então sugeri uma nova
aposta. A mão de Emma.
A Sra. Liston cobriu a boca com as duas mãos, sua respiração ficando
difícil e áspera agora. Emma podia ver que sua mãe queria que fosse até ela,
para confortá-la, mas Emma não o fez. Não podia. Passou uma vida inteira
fazendo isso, uma vida inteira enxugando suas lágrimas, enquanto engolia
as próprias. Neste momento, não tinha mais forças para isso.
— Bem jogado, suponho — disse James, mas não havia nada
agradável em seu tom. Soava como se pudesse matar Archibald.
— Sim. Não pode vencer sempre, Abernathe — Archibald disse com
outro daqueles tons de zombarias que fizeram o estômago de Emma revirar.
Este era o homem com quem seu pai queria que se casasse. Este... bastardo.
Só podia imaginar o inferno que sua vida seria, se conseguissem o que
queriam.
O rosto de James ficou ainda mais duro. — Fez tudo isso apenas para
se vingar de mim?
— Me humilhou — Archibald retrucou, cruzando os braços. — Na
frente de uma festa cheia de gente, por causa de uma vadia.
James deu um longo passo à frente. — Então, desejava me atingir,
além de querer uma noiva, e pensou que teria ambos de uma só vez. Mas
não conhece nossas notícias, Sir Archibald.
Sir Archibald piscou. — Notícias?
— Sim — James disse, e agora passou um braço ao redor de Emma.
Puxou-a para seu lado, seus dedos apertando suas costelas, o calor
percorrendo seu corpo inteiro, com o toque suave e reconfortante. — Emma
já concordou em se casar comigo
O rosto de Sir Archibald caiu e se virou para o Sr. Liston. — O quê?
Liston ergueu as mãos. — Não é minha culpa, eu não sabia que
tinham sido feitos arranjos.
Sir Archibald engoliu em seco e encarou James novamente. — Não
pode frustrar os desejos de seu pai, Abernathe. Não pode subverter um
contrato feito entre nós.
— E depois que eu anunciei publicamente o acordo com Sir
Archibald — O Sr. Liston acrescentou fracamente, claramente sentindo-se
preso entre dois homens poderosos.
James apertou Emma gentilmente, antes de se afastar, olhando para
Sir Archibald. O velho realmente se encolheu, e Emma não pôde deixar de
sorrir.
— Sou o Duque de Abernathe — James disse suavemente. — Com
mais poder, dinheiro e influência do que os dois juntos. Eu sou o Duque de
Abernathe e posso fazer o que, diabos, eu quiser. Vou me casar com Emma
Liston e não há nada que possa fazer a respeito.
Sir Archibald gaguejou, depois olhou, primeiro para o Sr. Liston antes
de voltar sua atenção para Emma. Seu rosto estava vermelho, seus olhos
iluminados com puro ódio. — Ninguém me humilha duas vezes. Isso não
acontecerá.
Saiu correndo da sala, no momento em que James dava outro passo
em direção a ele. Emma soltou um suspiro vacilante e cobriu o rosto com as
mãos, enquanto a emoção a inundava.
James a salvou. Mas a que custo?
Seu pai e sua mãe não pareciam se importar, no entanto. Ambos
deram um passo à frente, e foi seu pai quem falou. — Bem jogado,
Abernathe! Obviamente é um par muito melhor para Emma e nós a
apoiamos de todo o coração.
— De todo o coração — a Sra. Liston imitou, enquanto voltava sua
atenção para Emma. — Ah, Emma, uma duquesa! Será uma duquesa. Que
golpe!
Emma baixou as mãos, olhando para os dois. Seus pais, o casal
ganancioso. Um homem que nunca permaneceu em sua vida durante um
período difícil. Um homem que, aparentemente, apostou com seu futuro,
mais de uma vez. Um homem que não assumia nenhuma responsabilidade
pelos danos que causava.
E sua esposa, uma mulher que tinha dependido de Emma para salvá-
la, em vez de cumprir seu dever como mãe. Uma mulher que a manipulou
através de lágrimas e acusações. Uma mulher que via o amor como uma
arma.
— Como pôde? — Emma sussurrou. Então sua voz se elevou. —
Como pôde?
— Bem, essa é uma bela reação — respondeu o Sr. Liston, atrevendo-
se a parecer chocado. — Trago-lhe não um marido, mas dois, e está com
raiva de mim?
James se lançou sobre ele então. Pegou-o pelo colarinho e o arrastou
em direção à porta da sala. Abriu-a e o jogou para fora, depois se virou para
a Sra. Liston. — A senhora também — rosnou.
Ela o seguiu, enviando a Emma olhares de expectativa e preocupação,
que foram finalmente interrompidos, quando entrou no corredor e James
bateu a porta na cara dela.
Virou-se e Emma o olhou. Olhou para seu rosto bonito, o rosto deste
homem que amava. O homem que jogaria fora o futuro que planejara para
protegê-la. Um homem que, certamente, um dia a olharia com pesar, e
abaixou a cabeça.
James não disse nada, mas simplesmente cruzou a sala e a abraçou.
Emma afundou no toque, no conforto que proporcionou, cravando os dedos
em suas costas, enquanto ele acariciava seus cabelos e sussurrava
banalidades. Permitiu-o por um período de tempo indeterminado, bebendo
em sua força, em seu calor e em sua ternura. Mas, finalmente, abriu os
olhos e deu o passo mais difícil que já havia dado em sua vida.
Para longe dele.
Não seria sua mãe. Não destruiria outra pessoa para se salvar.
— James, não sabe o quanto aprecio suas palavras na sala do café da
manhã e que tenha me defendido agora mesmo — começou, com a voz
trêmula.
James deu um passo em sua direção, mas ela ergueu a mão para detê-
lo. — Emma...
Ela balançou a cabeça. — Por favor, deixe-me terminar, James. Eu...
não pode se casar comigo.
James arqueou uma sobrancelha. — Preciso fazer o discurso sobre ser
o Duque de Abernathe de novo, de poder fazer o que eu quiser?
Estava brincando, mas ela não sorriu. Isso era muito sério para
permitir que diminuísse. Balançou a cabeça lentamente. — Há uma dúzia
de razões para eu não ser sua esposa, James.
— Uma dúzia? — Repetiu. — Eu duvido disso. Nomeie-as.
Emma bufou. — Primeiro, não estou nem perto de sua posição.
Casar-se comigo irá ligá-lo a um visconde menor, e que nem mesmo me
reconhece como sua família.
— Eu sempre gostei de viscondes menores — disse James. — E gosto
do seu avô, na verdade. Talvez, quando nos casarmos, ele possa conhecê-la
e ver que é digna de sua atenção. Se não, por favor, consulte o discurso que
fiz sobre ser o Duque de Abernathe, muito mais importante do que qualquer
outra pessoa na sala.
— James, eu praticamente não tenho dote.
James olhou ao redor e Emma seguiu seu olhar. Ao seu redor havia
coisas bonitas e caras. Finalmente voltou a olhá-la. — Parece que estou
precisando de dinheiro?
Emma balançou a cabeça. — Claro que não, mas...
— Sem mas. São duas, Emma, duas razões não muito boas para que
eu não cumpra o que prometi não apenas a seus pais, mas a uma sala de
Ladies e Lordes, incrivelmente fofoqueiros.
Emma ergueu a mão e se afastou. — Então vamos ao cerne do
problema. Poderia ter qualquer uma, James. Qualquer mulher bonita
naquela sala que acabamos de deixar ou qualquer outra em todo o reino. Sei
o que sou. Sei que não sou o tipo de mulher que um homem como você
deseja.
James fez um som suave em sua garganta e Emma se virou para
encontrá-lo atravessando a sala em sua direção. O duque agarrou seus
cotovelos e puxou-a com força contra ele, então sua boca desceu sobre a
dela. Beijou-a profundamente, apaixonadamente e completamente antes de,
gentilmente, colocá-la de lado.
— É uma mulher que eu desejo muito, Emma Liston —sussurrou, sua
voz subitamente rouca. — Tanto que acho que não poderei esperar até que
seja minha esposa, antes de torná-la minha. Eu te desejo completamente. E
não há nenhuma outra mulher naquela sala que acabamos de deixar ou
qualquer outra com quem já estive, que tenha inspirado uma luxúria tão
concentrada em mim. Mesmo quando não queria sentir isso. Próxima
edição.
Emma piscou, igualmente atordoada por suas palavras e pelo fato de
que parecia estar falando sério. James a queria. Realmente a queria, e de sua
cabeça girando até os dedos dos pés flexionados e cada centímetro de seu
corpo formigando ... o queria em troca.
— Nada mais?
— Meus pais são uma vergonha —sussurrou, piscando para conter as
lágrimas. — Casar comigo não vai impedir meu pai de agir como um tolo
ou minha mãe de tentar manipulá-lo cada vez mais.
— Você não é seus pais — James disse suavemente. — E sabe que
Meg e eu entendemos perfeitamente o que significa ter um pai... ou dois...
que tornam a vida de alguém difícil. Nunca iria julgá-la por isso.
Emma inclinou a cabeça, chocada que James pudesse facilmente
descartar todos os medos em seu coração. Salvo um.
— Finalmente — sussurrou — Minha última objeção a isso é a mais
importante. É o fato de que deixou bem claro para mim, e para todos com
quem mais se importa, que não deseja se casar com ninguém. Que tem
planos para o seu futuro, que não incluem uma esposa ou filhos.
James ficou quieto por um momento, e seu coração afundou, mesmo
que não pudesse ler seu rosto bonito, para saber o que se passava e, seu
interior. Finalmente ele suspirou. — Minha primeira resposta é que se esta é
sua objeção final, é apenas sua sexta e não a dúzia que me foi prometida.
— Vou pensar em mais, tenho certeza — disse.
James deslizou um dedo sob seu queixo e a forçou a olhá-lo nos
olhos. — Emma Liston, pode pensar em mais cem e não mudarão nada
sobre minhas intenções. Está certa sobre o fato de que sempre pensei que
continuaria solteiro, que evitaria o dever que meu pai achava mais
importante: manter seu nome e título. Mas não sou mais criança. Algumas
coisas são mais importantes do que um ataque de raiva. Salvá-la sendo a
principal delas.
— Salve-me por sua conta e risco — sussurrou. — E com o
conhecimento de que, um dia, virá a se ressentir das opções que eu lhe tirei.
James agarrou seus dois ombros e apertou suavemente. — Nos
tornamos amigos, não é?
Assentiu lentamente. — Sim.
— E me deseja? — Perguntou, sua voz ficando áspera novamente e
suas pupilas dilatando.
Emma engoliu em seco, antes de se forçar a assentir novamente, desta
vez sem dizer uma palavra.
James sorriu fracamente. — Então isso é tudo o que eu poderia
esperar. Estar com uma amiga que desejo parece um bom casamento,
Emma. Qualquer outra coisa sou... sou incapaz. Então isso será o suficiente
para mim.
Emma o olhou, sentindo seu coração quebrar em vez de disparar.
James se casaria com ela. Claramente não havia como contornar isso agora,
ele não permitiria que escapasse.
Mas nunca a amaria. Estava deixando isso perfeitamente claro.
Engraçado como essa percepção foi decepcionante. Afinal, nunca acreditara
que se casaria por amor. Pelo menos não por muitos anos.
Mas hoje parecia uma perda.
Talvez porque já o amava. E tinha uma suspeita sorrateira de que se
casar com ele só faria esses sentimentos crescerem, em vez de
desaparecerem com o tempo. Estaria apaixonada sozinha.
— Anunciei nosso noivado em público, Emma, e frustrei os planos de
seu pai, da maneira mais dramática — disse, pegando sua mão. — E então
desmaiou. A agitação causada por nossas ações não pode ser subestimada.
Desfazê-lo só pioraria as coisas para nós dois, mas, especialmente, no seu
caso. Estaria em perigo com Sir Archibald e seu pai, ainda mais do que
antes.
— Então não vai mudar de ideia? — Sussurrou.
Seu olhar se desviou, e por um breve momento pensou ter visto
mágoa em seu olhar, mas depois desapareceu. Enterrada, se é que alguma
vez existiu.
— Não posso — corrigiu-a gentilmente. — Nós vamos nos casar,
Emma. E como não confio em seu pai, acho que é melhor fazermos isso
mais cedo, em vez de mais tarde.
J entrou na sala de bilhar e foi direto para o aparador, onde se serviu
de um copo cheio de Scotch. Tomou um longo gole, sentindo a queimar sua
garganta, enquanto lutava para encontrar fôlego.
Estava noivo. Foi feito. Esta noite seria solidificado completamente,
quando o baile planejado se transformasse em uma celebração de noivado
depois de alguns arranjos apressados de sua irmã.
Estava noivo.
— Beba tudo isso tão cedo e não estará bem no baile esta noite.
James virou-se para encontrar Graham, Simon, Sheffield,
Brighthollow e Roseford entrando na sala. Simon entrou por último
fechando a porta e todos os cinco homens simplesmente olharam para
James com expressões igualmente intensas em seus rostos. As emoções,
porém, eram diferentes. Graham e Simon pareciam ambos preocupados,
Brighthollow e Roseford horrorizados, e Sheffield estava pálido como
papel.
— Bem, não me parabenizem todos de uma vez — murmurou James,
deixando de lado a bebida.
— Quer ser parabenizado? — Brighthollow perguntou, arqueando as
sobrancelhas.
James suspirou. Hugh nunca havia sido um crente no amor. Podia até
ser duro. E Roseford era pouco melhor. Acreditava na paixão e em nada
mais. Os dois ficariam horrorizados por ter sido pego em uma teia por uma
dama, é claro.
— Vou me casar — disse, as palavras o surpreendendo, embora
tivesse sido ele quem assegurou que eram verdadeiras. — É a tradição.
— Parabéns — Roseford disse suavemente, mas não parecia
exatamente sincero.
— Ainda não entendo completamente como aconteceu — Simon
disse, aproximando-se para colocar a mão no braço de James. — Meg
estava falando tão rápido quando me encontrou, que levou todo o caminho
de volta para a propriedade só para esclarecer.
Graham virou o rosto para Simon. — Meg?
Simon não olhou para o amigo, mas manteve o olhar fixo em James.
— Sim. No final desta manhã, encontrou-me andando pela propriedade e
me contou as novidades.
Graham não pareceu satisfeito com isso, mas não disse mais nada
sobre o assunto, exceto: — Não tenho certeza do que há para explicar,
Crestwood. James está se casando com a senhorita Liston para salvá-la do
infeliz casamento que seu pai arranjou. O que mais pode ser dito?
— Devo dizer que nunca o considerei o homem que salvaria uma
mulher através do casamento — Roseford riu. — Isso é mais a presteza de
Simon.
Simon ignorou o golpe brincalhão, mantendo sua atenção em sua
busca pelo rosto de James. — Salvar alguém é certo, bom e nobre. Mas a
pergunta a ser feita é se quer se casar com ela. E quer?
James sentiu como se houvesse um punho em seu estômago e o estava
abrindo, enchendo-o, esticando-o desconfortavelmente. Uma grande parte
dele desconsiderava o casamento e queria fugir pela noite e nunca mais
voltar. Outra considerava o casamento com Emma e queria se enrolar nela
de uma maneira que parecia tão perigosa.
Não tinha certeza de qual reação era mais aterrorizante.
— Está acontecendo, e tão rápido quanto posso providenciar — disse.
— Desejo não entrar mais na equação.
— James está certo — Sheffield disse suavemente, e havia um tom
melancólico em sua voz e na expressão em seu rosto. — Mesmo homens
como nós, homens com poder, às vezes têm pouca escolha em nosso futuro.
A sociedade e as situações ditam a todos nós. É o jeito do nosso mundo,
queiramos ou não o aceitar.
— Meu Deus, Sheffield — disse Brighthollow com um assentimento.
— Seja um pouco mais sentimental.
Sheffield o encarou, mas então sorriu fracamente para James. — Não
estou tentando parecer terrível. O fato é que a Srta. Liston não parece o pior
tipo com quem poderia se casar. Ninguém pode fingir que não gosta dela.
James inclinou a cabeça. Como ela. Que termo benigno para o que
fervia dentro dele sempre que estava a três metros de Emma. Era
necessidade e desejo e paixão, sim, e todas aquelas coisas que poderia ter
aceitado e até mesmo se deleitado.
Mas havia mais do que aquela atração física quando estava com
Emma. Gostava dela, mas era mais complicado do que aquele sentimento
simples e infantil. Sentia-se nervoso perto dela... inquieto. Queria ficar
ainda mais perto dela, saber mais sobre ela, protegê-la, mostrar-lhe coisas e
lugares.
Suspirou. — Gosto dela —admitiu.
— Bem, isso é melhor do que muitos homens de posição encontram
em uma noiva — disse Graham. — Então vamos comemorar.
Simon assentiu e deslizou para o aparador para servir mais do Scotch
que James estava bebendo quando chegaram. Entregou copos a todos e
então inclinou a cabeça em direção a Graham para o brinde.
— Para James — Graham disse, mantendo o olhar de James
constantemente. — Nosso líder destemido, que agora nos conduzirá sem
medo para esta próxima fase de nossas vidas. E para Emma, a única mulher
esperta o suficiente para pegá-lo.
James sorriu e o resto riu antes de erguer os copos em uníssono. —
Para James e Emma! — Todos repetiram.
James bebeu novamente, desta vez mais devagar para saborear este
momento um pouco mais. Era provavelmente um dos últimos que teria
como solteiro.
Em breve tudo mudaria.

E entrou no salão de baile e sentiu todos os olhos da sala se voltarem


para ela. Respirou fundo e tentou ignorar seus sussurros e olhares. Teria que
se acostumar com isso, ao que parecia. Certamente a Duquesa de Abernathe
inspiraria tal resposta com mais frequência do que a simples Emma Liston
jamais teve.
Especialmente porque estava se tornando Duquesa de Abernathe em
circunstâncias tão difíceis.
— Algumas pessoas conseguem o que não merecem — uma mulher
fungou alto quando Emma passou.
Endureceu com o insulto, enquanto continuava andando pela sala.
Caminhando em direção a quê, não sabia. Ainda não tinha encontrado
James no meio da multidão e as jovens ao longo da parede não a
reconheceriam mais.
De repente, sentiu um braço deslizar através do dela e encontrou Meg
ao seu lado, radiante de amizade e amor, e Emma quase cedeu. Casar-se
com Abernathe faria de Meg sua irmã. Estava muito ansiosa por isso.
— Sorria — disse Meg. — Estou aqui agora.
— Parece que sua família tem o hábito de me salvar — Emma disse,
com um sorriso que machucou suas bochechas.
Meg deu de ombros. — Também nos salvou, não esqueci. Talvez seja
isso que a família faz, salvar uns aos outros. No final, tudo se equilibra, eu
acho.
— Espero que James acredite no mesmo — Emma suspirou. —
Embora eu não possa imaginar que ajudá-la uma vez seja igual ao sacrifício
que ele está fazendo por mim, não importa o quão gentilmente o faça.
Meg virou-se para ela. — Não faça dele um salvador, Emma. Toda a
sua vida foi colocado em uma prateleira alta, o herdeiro, o duque, o homem
que não podia errar. Isso faz dele um boneco, não um homem. E é um
homem com falhas, defeitos e dores, como qualquer outro. Traga-o para ser
um humano ao seu lado, seja paciente, enquanto ele descobre isso. Faça o
que fizer, não reprima o fato de que o ama, mesmo que ache que é isso que
ele quer.
Emma estremeceu. — O amo?
Meg arqueou uma sobrancelha. — Vai negar que o ama?
Emma suspirou. — Acho que negaria, mas é uma jovem tenaz.
Imagino que só iria me intimidar com a verdade.
Meg riu. — Eu certamente o faria. Bom, estou feliz por não estar
vendo coisas. E estou feliz que o ame. James teve pouco disso em sua vida,
pouco no qual pudesse confiar. Quero isso para ele. — Olhou para longe. —
Ele está vindo agora, encontrá-la.
O coração de Emma deu um pulo e alisou as saias por reflexo. — E se
eu não puder fazer isso? — Sussurrou.
— É mais forte do que quer acreditar — Meg disse baixinho, então a
virou para James, enquanto ele dava os últimos passos em sua direção. —
Agora receba o que merece, Emma. Leve-o
James sorriu ao alcançá-las. — Olá, Emma. Meg. — Meg acenou,
enquanto se afastava e James piscou para sua saída apressada. — Adeus,
Meg.
Emma olhou para seu rosto, pensando no que Meg acabara de lhe
dizer. Que era um homem, nada menos ou mais. Certamente, estava bem
ciente de sua masculinidade neste momento, mas Meg queria dizer algo
diferente.
— Devemos dançar? — Deixou escapar.
James sorriu. — Não era eu quem deveria te perguntar isso?
Emma encolheu um ombro. — Rompemos com várias outras
tradições nas últimas vinte e quatro horas, por que não destruir todas?
James curvou-se ligeiramente. — Eu gostaria muito de dançar
contigo, Srta. Liston.
Estendeu a mão e a olhou enquanto colocava sua mão menor na dele.
Estava usando luvas, ele não, e sentiu o calor de seu toque de qualquer
maneira. Sentiu a força de sua mão, enquanto a guiava para a pista de
dança. Para sua surpresa, todos os outros se afastaram, deixando-lhes um
espaço quando a música começou e a girou nos passos.
— Por que estão recuando? — Sussurrou.
— É nossa primeira dança como noivos — murmurou de volta, seu
olhar nunca a deixando. — Suponho que estão avaliando se combinamos.
Emma estremeceu levemente. — Então devemos oferecer-lhes um
espetáculo?
Seu sorriso caiu e havia algo intenso e sério em seu olhar. — Tem
muita coisa que são exibições, Emma. Mas não neste momento. Não se
preocupe com eles, apenas olhe para mim e se divirta.
— É difícil aproveitar quando sei o quanto te custa — insistiu.
James balançou a cabeça. — Não me fiz claro. Não há custo. Esta
noite, neste momento, estou exatamente onde quero estar.
Emma sentiu seus lábios se separarem enquanto alegria e esperança a
enchiam. Passou tanto tempo dizendo a si mesma que um homem como este
não a quereria, não poderia gostar dela de verdade, mas agora sentia seu
calor. E era só para ela.
— Eu também — disse, arrancando outro sorriso dele, enquanto
segurava sua mão com mais força e a girava de novo e de novo, até que
tudo o que conseguia focar era que ela seria dele. De alguma forma, contra
todas as probabilidades, ela seria dele.

J estava na sombra de uma porta, no corredor silencioso, olhando para


o quarto de Emma, do outro lado do caminho. Ela estava lá dentro e, apesar
da hora tardia, não estava sozinha. Podia ocasionalmente ouvir uma erupção
de risadinhas do quarto, tanto de Emma quanto de Meg.
Sorriu com o som. Não estava apenas trazendo uma noiva para sua
casa, mas uma irmã para Meg. Depois de uma vida inteira cercada por ele e
seus amigos, podia imaginar que ela ansiava por companhia feminina na
casa enquanto permanecesse lá, antes de seu próprio casamento com
Graham.
A porta do quarto se abriu e Meg saiu. — Boa noite, Emma —
sussurrou.
— Boa noite —ouviu ao longe, e seu coração palpitou com o som.
Meg estava sorrindo enquanto fechava a porta e caminhava pelo
corredor, afastando-se dos aposentos de hóspedes, de volta a ala da família.
Quando ouviu sua porta abrir e fechar, respirou fundo e caminhou até a
porta de Emma.
Houve um momento em que ficou lá, olhando para a barreira que
estava entre ele e o que queria. Poderia se afastar e voltar para seu quarto. A
autossatisfação era boa. poderia aliviar seu desejo sozinho, certamente.
Mas não queria. O que queria estava atrás desta porta.
Ergueu a mão e bateu suavemente. Houve um momento em que ouviu
um farfalhar e depois passos no chão.
— Meg, esqueceu... — começou, enquanto abria a porta. Quando o
viu parado ali, se engasgou. — ...alguma coisa?
Observou-a. Já vestia uma camisola e um roupão. Seu cabelo escuro
estava caído sobre os ombros, uma massa de cachos castanhos brilhantes,
com pequenas mechas loiras escondidas entre eles.
E não haveria volta esta noite.
— Não sou Meg — sussurrou enquanto a alcançava. — Mas eu
esqueci uma coisa. Isso.
Inclinou-se e a beijou. Por um momento pareceu surpresa, mas então
levantou seus braços envolvendo o pescoço dele, enquanto fazia um som
suave, de prazer necessitado, no fundo de sua garganta. James a empurrou
para dentro da câmara e fechou a porta, virando-se para a girar a chave
antes de se concentrar totalmente em saboreá-la.
— Como pode ser tão doce? — Murmurou, recuando apenas uma
fração e sentindo o calor da respiração dela em seus lábios. — Nunca gostei
de doces até encontrá-la.
Emma estremeceu e James apertou o abraço ao seu redor. Encarou-o,
os olhos arregalados. — Por que veio aqui, James?
— Para o seu quarto? — Perguntou. Emma assentiu lentamente, e ele
sorriu. — Por que acha?
Emma engoliu em seco, a ação fazendo sua garganta trabalhar.
Fazendo-o querer traçar o caminho dessa ação com a língua até que se
erguesse e gemesse contra ele.
— Veio aqui para... para... não sei como chamar isso — disse, com
um rubor escuro que começou em suas bochechas e desceu por sua carne
até desaparecer sob o decote de seu roupão, criando mais um rastro para sua
língua.
— Eu vim aqui — disse, abaixando-se para começar a desatar o nó de
seu roupão. — Porque até agora tive que ser prudente. Tive que resistir ao
que eu queria. Mas agora estamos noivos. Em muito pouco tempo, será
minha aos olhos de Deus. Aos olhos da lei. Aos olhos de todos que
conhecemos e amamos. Por causa disso, não tenho mais nada que me
impeça de fazer amor contigo, Emma.
Seus olhos se arregalaram, e pôde vê-la lutando com essa ideia.
— Nada me impede, a menos que não queira que eu faça isso —
esclareceu.
— Tenho algumas p-perguntas —gaguejou.
— Claro que sim — disse com uma risada. — Qualquer coisa.
— Sei muito pouco sobre isso. Minha mãe diz que se deve suportar,
mas quando me tocou antes foi maravilhoso. Será assim?
James reprimiu uma maldição diante de sua total inocência. Era ao
mesmo tempo sedutor e aterrorizante. Teria que manter isso no topo de sua
mente em todos os momentos agora, para que não a assustasse ou a
machucasse.
— Vai ser assim — prometeu. — E melhor ainda. Mas haverá um
pouco de dor quando eu... penetrá-la pela primeira vez.
Emma assentiu. — Essa deve ser a parte a ser suportada que ela falou.
A dor.
James sorriu. — A dor só acontece na primeira vez, Emma. E se eu
estiver fazendo meu trabalho direito, não haverá nada a suportar. Apenas
desejo e prazer para nós dois.
Emma pareceu ponderar sobre isso por um momento, então baixou as
mãos para onde estavam as dele, ainda emaranhadas nas alças de seu
roupão. Gentilmente as empurrou para o lado e desamarrou o tecido antes
de se livrar dele e deixá-lo cair no chão.
E observou enquanto James rastreava seu roupão caindo e, em seguida,
examinava-a em sua camisola frágil. Nenhum homem jamais a viu tão
revelada, e lutou contra todos os instintos dentro de si para se encobrir ao
seu olhar.
— O que faço? — Perguntou, com a voz trêmula.
James ergueu o olhar de seu corpo para seu rosto e balançou a cabeça.
— Nada. Esta noite é sua. Basta se deitar e me deixar te dar prazer.
Seu corpo inteiro estremeceu com essas palavras e o tom sombrio e
sedutor com que as disse. De repente queria mais, queria tudo que tinha
para lhe dar. Queria tudo o que ele esteve segurando em seu cortejo não
convencional.
James deslizou uma mão em seu ombro, escorregando os dedos sob a
alça de sua camisola. Suas mãos eram quentes e ligeiramente ásperas ao
arrastar a alça por seu braço, fazendo o lado esquerdo de sua camisola cair
para frente.
Emma estremeceu quando o ar em sua câmara tocou sua pele. Apenas
seu rosto estava quente naquele momento, como se suas bochechas
estivessem realmente em chamas.
A respiração de James estava irregular agora, enquanto a olhava. Ele
ergueu a mão, e ela ficou chocada ao descobrir que tremia levemente
enquanto cobria seu seio.
A sensação a assombrou, mais poderosa do que qualquer coisa que
havia sentido antes, mesmo quando ele a fez estilhaçar no passado. Sua pele
nua contra a dela era chocante e perfeita, como se estivesse destinada a ser
sempre assim. Como se lhe faltasse algum pedaço de si mesma e agora ela o
tivesse encontrado com o toque suave dos seus dedos.
— É maravilhosa — falou, enquanto deslizava a alça oposta de sua
camisola para baixo. A engenhoca inteira se juntou a seus pés, e, de repente,
ela estava muito nua diante dele.
Emma abaixou a cabeça, e desta vez não pôde evitar cobrir os seios
com um braço e o lugar entre as pernas com a mão oposta.
— Não precisa ser tímida — disse, pegando sua mão e afastando-a
para que seus seios ficassem nus novamente. — Serei seu marido em alguns
dias, se acostumará com o minha...
— Sua? — ela perguntou quando ele não terminou a frase.
— Obsessão — disse com uma risada baixa. — Neste momento
parece mais obsessão quando olho para você.
— Como isso é possível? — Gritou. — Não sou o tipo de mulher que
inspira essas coisas nos homens. Eu nunca fui.
Sua expressão suavizou e James deu um passo em sua direção,
deslizando a mão em seu queixo e em seu cabelo. — Os homens estavam
cegos ou dormindo. Estou feliz que estivessem. Deixaram-na lá, esperando,
quando finalmente acordei.
Emma engoliu o nó na garganta. Quando a olhava como agora, quase
podia acreditar que a queria. Que seu ardil poderia, de alguma forma, ter
realmente se transformado em algo real para ele, tanto quanto foi para ela.
Mesmo que aquela coisa real fosse apenas o desejo que agora pulsava
no quarto. Ela aceitaria.
Ficou na ponta dos pés e passou os braços em volta do pescoço dele.
Seus seios se achataram contra sua jaqueta e o tecido áspero arranhou os
mamilos sensíveis. Inclinou a cabeça para trás com um suspiro, com as
sensações inesperadas correndo por seu corpo, e James soltou um gemido
necessitado.
— É incrivelmente receptiva — disse, quase maravilhado. — E
pretendo usar isso em meu benefício.
Sem outra palavra, passou o braço por baixo de suas pernas nuas e a
carregou para a cama. Depositou-a em cima da colcha, e quando ela se
acomodou nos travesseiros, tirou a jaqueta e então começou a trabalhar na
camisa.
Ela se apoiou nos cotovelos para observá-lo, fascinada pela lenta
revelação da carne masculina cobrindo músculos e ossos. Quando ele puxou
a camisa de sua cabeça, prendeu a respiração. Era... perfeito.
Completamente perfeito, como as estátuas de deuses gregos que
pontilhavam os jardins das casas de campo por toda a Inglaterra.
Aqueles homens foram esculpidos em pedra, no entanto. Este era
muito real. Estendeu a mão e tocou seu peito. Estava quente, seus músculos
ondulavam sob as pontas dos seus dedos, e James respirou fundo, o que a
fez puxar a mão para longe.
— Desculpe — disse.
— Faça de novo — ordenou, a escuridão esfumaçada de seu tom,
suficiente para fazer aquele lugar vazio entre suas pernas formigar e pulsar.
Emma encontrou seu olhar e, lentamente, seguiu sua ordem,
levantando-se para pressionar uma mão em seu peito mais uma vez.
— Maldição, mas me põe à prova mulher — rosnou. — E me faça
querer te fazer coisas...
Seus olhos se arregalaram. — Fazer coisas? — Repetiu.
— Ah, sim — disse, enquanto se inclinava, colocando uma mão em
cada lado da cabeça dela. — Esta noite serei carinhoso, gentil, porque
merece isso. Mas um dia vai ansiar por todas as coisas perversas que
correm pela minha mente quando te toco.
Emma se pegou sorrindo, embora não entendesse completamente o
que queria dizer. Já o ansiava. Teria dado qualquer coisa que pedisse,
apenas para pertencer a ele.
Esta noite, por um momento, seria dele.
James se inclinou na borda do colchão, a parte superior do corpo
empurrando-a de costas contra os travesseiros enquanto abaixava a cabeça
para beijá-la mais uma vez. O abraço dela se apertou contra os ombros dele
e sua respiração falhou enquanto ele enfiava sua língua entre seus lábios e a
provava com crescente urgência.
Finalmente se afastou, ofegante, enquanto a olhava. Sem quebrar o
contato, James se endireitou, desabotoou as calças e as deixou cair.
Emma sentou-se ligeiramente, olhando para o corpo nu deste homem
que amava e desejava.
Nunca tinha visto um homem nu antes, exceto em algumas pinturas.
Certamente uma dama como ela não deveria ver um homem nu até sua
noite de núpcias. E nem mesmo assim, se alguns boatos pudessem ser
acreditados.
Mas James estava na sua frente, cada centímetro dele musculoso e
tonificado. Aquela coisa entre suas pernas parecia incrivelmente dura,
grande e curva e... aterrorizante. E ainda assim, sedutora. Queria afastá-lo,
mas também traçar seu dedo ao longo de seu comprimento.
— Seus olhos estão grandes como pires — disse ele baixinho.
Essas palavras a fizeram desviar a atenção de seu corpo para seu
rosto. — Só não... nunca... não sei o que fazer.
— Já lhe disse — falou com um meio sorriso. — Nada. Eu sei o que
fazer
Emma engoliu em seco. — Então me diga. Diga-me o que fará,
porque agora estou francamente... petrificada.
James riu baixinho. — Isso não pode. Petrificada não poderá fazer
nada. O que farei, Emma, é abrir suas pernas, como fiz quando a toquei e
saboreei, e prepará-la para mim, fazendo as mesmas coisas que gostou
daquela vez.
Emma estremeceu de desejo com essa notícia, mas não conseguiu
apagar sua ansiedade sobre o desconhecido que se seguiria. — E então?
— E então — disse, inclinando-se sobre ela, cobrindo seu corpo
enquanto subia na cama. — Quando estiver escorregadia, quente e
necessitada, eu vou colocar meu pau dentro de você
— Pau — repetiu sem fôlego.
— Sim — disse, estendendo a mão para pegar a mão dela e
abaixando-a para que ela pudesse tocá-lo intimamente. — Este é o meu pau.
E foi feito para preenchê-la, Emma.
— Parece bem grande para esse propósito —argumentou, enquanto
deslizava os dedos sobre ele. Era tão duro e ainda assim com a pele tão
macia.
James riu de novo, mas seu tom foi estrangulado enquanto ofegava.
— Me lisonjeia. Mas lhe asseguro que não é. Foi feita para tomá-lo. Foi
feita para se esticar para acomodá-lo. Não mentirei dizendo-lhe que a
primeira vez não haverá dor. Mas vou me certificar de que também haja
prazer. Desta vez e todas as vezes depois. Porque sempre que seu corpo
estremece e treme, sempre que se sente necessitado e quente quando eu o
toco, é isso que deseja...— Empurrou-se em sua mão e ela ofegou. — Essa
união de nossos corpos nos fará mais próximos do que qualquer voto que
fizermos no futuro.
Emma o encarou enquanto dizia todas aquelas palavras, dizia-as com
paixão, sem desviar o olhar do dela. E seu medo desapareceu, substituído
por um desejo pulsante de se render a ele. Totalmente.
Viu-se assentindo e James abaixou a cabeça. Desta vez não beijou sua
boca, no entanto, mas seu pescoço, traçando sua coluna com delicadas
mordidas e carícias. Emma soltou seu pênis e colocou as mãos em seus
ombros, seus dedos apertando contra os músculos, enquanto ele se arrastava
para baixo, deslizando os lábios em sua clavícula, seu peito e, finalmente,
cobria um mamilo com a boca.
Emma arqueou com um suspiro de prazer quando ele começou a
puxar o mamilo com os lábios, chupar e lamber com sua língua áspera.
Deslizou os dedos pelo cabelo dele, segurando-o, enquanto virava a cabeça
no travesseiro e grunhia de prazer e desejo.
James ergueu os olhos enquanto continuava a atormentá-la, a
intensidade escura ali forçando-a a ficar com ele, a vê-lo enquanto a tocava
de maneiras que nunca imaginou ser possível ainda assim entoava em
alguma língua antiga que ela entendia perfeitamente.
Seu corpo respondeu a ele por vontade própria. Suas pernas ficaram
moles e se abriram ligeiramente debaixo dele, seus mamilos endureceram e
latejaram, suas costas arquearam e pequenos gritos escaparam de seus
lábios enquanto se rendia, centímetro a centímetro, momento a momento.
James se moveu para o seio oposto, extraindo o mesmo prazer ali. Seu
sexo estava ficando molhado enquanto ele realizava seu ato e o corpo se
contorcia sob ele. Nunca tinha sentido nada parecido, nem mesmo em todas
as vezes que a havia tocado tão escandalosamente. Isso era mais... focado,
de alguma forma. Mais intencional.
Mas é claro que seria. Isso estava levando a uma reivindicação, um
ato final, que mudaria seu corpo e sua alma, que mudaria tudo entre eles
para sempre.
E por mais assustador que fosse, não lutou contra isso. Praticamente
ronronou quando ele passou a mão pelo lado de seu corpo nu e deslizou os
dedos entre eles. Encontrou seu sexo, continuando a chupar seu seio
enquanto abria suas dobras e alisava a umidade de seu corpo através da
entrada formigante.
James abriu a boca. — Está tão molhada, Emma. Tão pronta. E eu te
quero tanto. Mas preciso saber que quer que eu faça isso esta noite. Uma
vez que fizer isso, não haverá volta. Nenhuma escapatória. Então, deve
olhar para mim e me dizer que me quer.
Emma engoliu em seco. Esta era sua última chance de acabar com a
loucura que estava crescendo e girando dentro dela. A última chance de
afastá-lo.
Mas não queria fazer isso. Não essa noite. Nunca.
Estendeu a mão e segurou seu rosto. Encontrou seus olhos,
segurando-o tão firme quanto podia quando seu mundo estava girando
descontroladamente.
— Eu sou sua, James —sussurrou. — E te quero.
James soltou um suspiro que parecia conter o alívio de mil vidas.
Então olhou-a nos olhos enquanto se posicionava de forma diferente. Emma
sentiu a dureza dele, de seu pênis, pressionado naquele ponto escorregadio
entre suas pernas trêmulas. Encontrou-se erguendo-se em sua direção sem
querer fazê-lo, e então ele estava pressionando para dentro.
— Oh Deus — gemeu quando a ponta a penetrou. — É perfeita.
Emma choramingou uma resposta, porque não havia mais palavras
em sua mente. Havia apenas esse ato animal entre eles que desejava e temia
em igual medida.
James levou mais um centímetro, e lá estava a dor da qual lhe tinha
falado, um rasgo rápido que a fez sugar a respiração e cravar as unhas em
seus ombros.
— Eu sei — murmurou — eu sei, sinto muito. Mas prometo que é o
fim de tudo, Emma. Nunca mais vai doer.
Emma assentiu lentamente, rezando para que estivesse certo e
sabendo que talvez não fosse assim. James avançou, levando-a cada vez
mais longe, até que ela teve certeza de que não havia mais espaço em seu
corpo para acomodá-lo. Quando a levou ao máximo, parou e ficou imóvel
dentro dela.
Olhou-o com admiração, e ele sorriu. — O que é esse olhar?
— Disse-me disse que fui feita para acomodá-lo —disse balançando a
cabeça. — Simplesmente não acreditei.
James se inclinou para beijá-la gentilmente. — Quando se trata disso,
nunca mentiria, Emma. E agora não posso esperar mais. Tenho que tê-la,
realmente tê-la.
James empurrou quando disse a última palavra, e Emma arfou com o
deslizamento grosso dentro de seu corpo apertado. Era uma sensação tão
estranha, estranha, mas também estranhamente natural. Não pertencia onde
estava, e ainda assim cada vez que se movia dentro dela, parecia mais e
mais certo.
E então James moveu seus quadris em um círculo lento e Emma
congelou. Isso não era mais estranho, era... bom. Tão bom. Prazer balançou
através dela enquanto a circulava novamente, esfregando sua pélvis contra a
dela e provocando um gemido áspero de seus lábios.
— Isso mesmo — sussurrou. — É isso que eu quero, Emma. Quero o
seu prazer. Quero fazê-la tremer com isso.
Empurrou-se contra ele, e agora foi ele quem fez um som áspero de
prazer. Emma sorriu. Parecia, pela primeira vez, que poderia ter tanto poder
quanto ele.
Começaram a se mover juntos, seus olhos travados, enquanto ela se
erguia para ele, enquanto ele se dirigia para ela. As investidas vieram mais
fortes e mais rápidas agora, e seu corpo reagiu com uma sensação de
felicidade, enquanto o prazer que ele criava aumentava, crescendo à medida
que seu pescoço se esticava e seus olhos vidravam.
E então a liberação a atingiu, em ondas que eram muito mais intensas
do que qualquer coisa que ele havia tirado dela antes. Agarrou-se a ele,
enterrando a boca em seu ombro nu, para que a casa não fosse derrubada
pelos gritos de sua libertação.
James empurrou tudo, exigindo mais, tomando mais, e finalmente
soltou seu nome em um grito suplicante e ela sentiu o calor preenchê-la. O
calor dele, o calor de sua liberação. Desmoronou sobre ela, sua respiração
irregular enquanto a segurava com força, passando as mãos por seus
cabelos, suas costas, seus ombros, enquanto rolava para o lado e a puxava
contra ele.
Quanto tempo ficaram assim, não tinha ideia. Tudo o que sabia era
que se sentia quente, segura, protegida, como nunca em toda a sua vida.
Quando os braços de James estavam ao seu redor, era um casulo onde
nenhum mal podia penetrar. E o amava ainda mais por criar aquele pequeno
refúgio de segurança, mesmo que fosse apenas em sua mente.
James se inclinou e beijou sua têmpora, antes de separar seus corpos
ainda emaranhados e ficar de pé. Observou-o enquanto se curvava,
gloriosamente confortável em sua nudez e se vestia.
— Tem que ir? — Perguntou, odiando o tênue desespero em seu
questionamento.
James a olhou por cima do ombro. — Devo. Já que vamos nos casar,
o escândalo se fôssemos apanhados não seria tão ruim quanto teria sido há
um dia, mas não é assim que quero que sua vida como Duquesa de
Abernathe comece. Então devo ir.
Ainda estava enfiando a camisa nas calças quando se virou para ela.
Olhou-a, aquele olhar aquecido percorrendo-a da cabeça aos pés, e
balançou a cabeça. — Incrível —murmurou.
— O que? — Perguntou baixinho.
James se inclinou e a beijou mais uma vez. — Que o desejo não
desapareça contigo — explicou. Roçou o nariz para frente e para trás contra
o dela. — E agora é realmente minha. Agora não há como voltar atrás.
Beijou sua bochecha mais uma vez, sorriu e saiu de seu quarto. Uma
vez que se foi, Emma se levantou e pegou sua camisola descartada. Mas
quando a deslizou sobre sua cabeça, prendeu a respiração, não com prazer,
mas com dor. Desapontamento.
Quando ele disse que não havia como voltar atrás, viu algo em seus
olhos. Algo que se acendeu ali de preocupação, de aborrecimento.
Tinham feito amor esta noite, e ela tinha tanta esperança de que isso
significasse um novo começo para eles. Um começo onde poderia, um dia,
ganhar dele o mesmo amor que ela sentia.
Só agora viu a verdade. Veio para ela não apenas porque havia um
desejo entre eles que não podia ser negado. Veio porque precisava de uma
razão para não voltar atrás em sua palavra. Tinha que arruiná-la, para que
não houvesse oportunidade de escapar da promessa que fizera.
Caminhou até a janela e olhou para a escuridão lá fora. Ele havia dito
que ela era dele. E era.
Mas ele não era dela. E temia que nunca viesse a ser.
J estava no parapeito, com vista para o jardim abaixo. Ao longe, podia
ver dezenas de criados arrumando cadeiras, decorando o gazebo,
apressando-se com flores e fitas.
Estavam preparando o espaço onde se casaria com Emma em... olhou
para seu relógio de bolso... duas horas.
Suspirou. Tudo na última semana e meia passou voando. Teve uma
licença especial para arranjar, havia costureiras indo e vindo, parecendo
atormentadas e descontentes, apesar do quanto estava pagando para
preparar rapidamente um vestido para sua futura esposa. E ainda havia sua
festa campestre para dominar. Só que agora era uma festa de casamento, e o
tom de tudo mudou significativamente.
A única coisa para a qual não havia tempo, ao que parecia, era de ter
um momento a sós com Emma. Franziu a testa com esse pensamento.
Estava sonhando em fazer amor com ela, mas nunca mais parecia estar
sozinha. Chegou a pedir a Meg que ficasse em seu quarto até a noite de
núpcias, frustrando suas tentativas de se juntar a ela como fizera antes.
Estava evitando-o.
— Vossa Graça?
Virou-se e abafou um gemido para a pessoa que o havia interrompido.
A Sra. Liston, sua futura sogra, agora estava na porta do terraço. Ela e o
marido não o evitavam desde o noivado, infelizmente. Tivera o claro
desprazer de passar muito tempo com eles. Pediram-lhe dinheiro, tempo,
apresentações, até mesmo uma casa de campo em sua propriedade. Nunca
diretamente, é claro, sempre de uma maneira indireta, que fazia parecer que
sua preocupação era apenas com Emma.
Ah, sim, havia se tornado muito familiarizado com seus modos
gananciosos.
— Sra. Liston — disse, em tom frio. — Está linda, como sempre.
— Ela olhou para seu vestido com uma risadinha. — Eu mandaria
fazer um vestido novo — mãe da noiva, sabe — mas não deu tempo. Não
que eu esteja reclamando.
Seus lábios se apertaram ao pensar nas palavras dela, no terraço,
tantas noites atrás. Ouviu-a tramando com Emma para - pegá-lo. Emma
havia recusado, embora tudo tivesse saído exatamente como esta mulher
desejava.
E parecia bastante orgulhosa disso.
Quando não disse nada, ela avançou. — Gostaria de falar sobre o
futuro da minha filha.
Ele franziu a testa. — Como já discutimos antes, o futuro de sua filha
está resolvido, Sra. Liston. Nunca mais lhe faltará nada.— Ela se mexeu
um pouco, e James ergueu as duas sobrancelhas. Parecia que tinha acabado
de dançar em torno do que essa mulher queria. Estava pronta para ser mais
direta. — Ah, entendo. Quer dizer que o que realmente deseja falar comigo
é sobre seu próprio futuro.
Ela assentiu e se aproximou. — Meu e do meu marido
James apertou os punhos nas laterais do corpo. Qualquer tempo que
passasse com seu futuro sogro era um exercício contínuo de autocontrole.
Saber o que o Sr. Liston fez com Emma, o que tentou fazer, fazia com que
James quisesse destruir o homem.
E agora sua mãe veio, pedindo uma benção para ele. Para ela mesma.
— Quero deixar uma coisa bem clara, Sra. Liston — disse baixinho.
— Darei a Emma o que ela desejar, pelo resto da vida. Farei isso com
prazer, pois conheço seu caráter. Sei que ela não merece menos. Mas quanto
ao seu marido, quando este casamento terminar, não lamentaria nunca mais
vê-lo.
Os lábios da Sra. Liston se abriram e seus olhos se arregalaram. —
Vossa Graça...
James ergueu a mão para impedi-la de falar. — Basta. Não a entendo.
Como pode saber exatamente o que ele é, como pode ouvir o que ele fez
com sua filha, o futuro que ele teria criado para ela para se salvar, e ainda
murmurar em seu ouvido como se fossem recém-casados?
Suas bochechas escureceram e ela se afastou de repente. — Eu... —
começou. — Ele... prometeu mudar. Jurou que agora que Emma está
estabelecida, ele também mudará seus caminhos. Virá para Londres
comigo, ficará em nossa casa. Nós só precisaremos de um pouco de ajuda e
ele...
— Como Emma cresceu para ser tão inteligente? — James
interrompeu com um aceno de cabeça. — Se é tão tola, a ponto de acreditar
nessas mentiras.
— Não são mentiras, Vossa Graça — retrucou, encarando-o
novamente, os braços cruzados em desafio e os olhos cheios de lágrimas.
— Quantas vezes ele lhe disse a mesma coisa? —Sussurrou. —
Quantas vezes lhe prometeu diamantes e pérolas, fidelidade e calma?
Sua expressão lhe disse tudo o que queria ouvir e balançou a cabeça
lentamente. — Emma cuida da senhora, apesar de tudo o que permitiu
durante a vida dela. E se ela quiser apoiá-lo, nunca vou argumentar contra
isso. Mas o pai dela... aquele homem, nunca receberá um centavo da minha
bolsa. E farei tudo ao meu alcance para garantir que nunca a machuque
novamente. Ouça um pequeno conselho, Sra. Liston, de alguém que
conhece a vida muito bem. Pessoas não mudam. E a senhora só ficará
desapontada se acreditar nas histórias de seu marido mais uma vez
Ela o encarou, as mãos apertadas ao lado do corpo e o lábio inferior
tremendo. Naquele momento, viu Emma nela. Emma daqui a vinte anos, se
lhe fosse negada segurança, proteção... amor.
Poderia lhe dar os dois primeiros, mas o último? Casar-se com ele a
condenaria tanto quanto se casar com Sir Archibald teria feito?
Livrou-se da pergunta perturbadora quando a Sra. Liston se
aproximou. — Nos deve —sussurrou.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Devo a Emma. Todo o resto é
opcional.
Ela bufou e correu da varanda de volta para a casa, deixando James
sozinho novamente. Olhou para longe mais uma vez. Os criados estavam
quase terminando os preparativos para seu casamento.
E agora não sabia como proceder com Emma, uma vez que era
verdadeiramente dele. Porque a ideia de a felicidade de alguém lhe
pertencer – ou pior, a felicidade dele pertencer a outra pessoa – era
aterrorizante.

E mal reconheceu a mulher que estava olhando para ela no espelho. A


costureira de Meg havia feito maravilhas em pouco tempo, criando um
vestido requintado, costurado com brilhantes fios de prata e um corpete
finamente trançado. Seu cabelo tinha sido torcido, enrolado e empilhado de
uma forma bonita. Suas bochechas estavam comprimidas, seus lábios
levemente vermelhos, apesar da maldade dessa ação.
Parecia... diferente.
Quase parecia como uma duquesa deveria parecer.
— Está linda — disse Meg, inclinando-se para beijar a bochecha de
Emma. — Meu irmão ficará arrebatado!
Emma inclinou a cabeça. Arrebatado, James? Isso parecia quase
impossível. Estava se casando com ela por dever, por algum senso de que
precisava salvá-la. Em breve, qualquer desejo que sentisse por ela
desapareceria, e ficariam com...
Ressentimento. Talvez um dia até ódio.
Estremeceu, e Meg esfregou seus braços nus suavemente. — Está
com frio?
— Não — disse Emma, cobrindo a mão da amiga. — Não estou com
frio. Obrigada.
A porta de seu quarto se abriu e sua mãe entrou. Emma se levantou
enquanto olhava para o rosto tenso da Sra. Liston. Estava chateada, isso era
claro. O pavor subiu no peito de Emma, lavando qualquer outra emoção boa
que pudesse ter sentido enquanto se perguntava, aterrorizada, o que seu pai
poderia ter feito agora.
— Posso ter um momento com minha mãe? — Disse, sorrindo para
Sally e Meg.
— Claro — Meg disse, e virou-se para a criada. — Sally, precisa falar
com minha criada. Eu adoraria um dia ter meu cabelo arrumado como fez
com o de Emma. É perfeito.
Saíram do quarto juntas, e Meg fechou a porta, deixando Emma
sozinha com a mãe. Aproximou-se dela em um passo. — O que foi?
Sua mãe balançou a cabeça. — Homem horrível. Não tem ideia,
Emma!
Emma respirou fundo e tentou manter a voz calma enquanto
sussurrava: — O que ele fez? O que papai fez agora?
— Seu pai? — A Sra. Liston explodiu com uma gargalhada raivosa.
— Não, não foi ele que me chateou.
Emma piscou confusa. — Então quem?
— Aquele seu futuro marido — a Sra. Liston retrucou. — Sabe que
ele se atreveu a dizer que não apoiará seu pai? Ele afirma que Harold não
merece isso depois do que te fez. O que ele fez? Bem, ele é a razão pela
qual está se casando com um duque, não é?
— Por que forçou a mão de James quando me perdeu em uma aposta?
— Emma latiu. — Que maravilha da parte dele, sim.
— Não seja impertinente — retrucou a mãe. — Ele a salvou, de
forma indireta. Mas Abernathe insiste que não poupará um centavo para seu
pobre pai.
Emma engoliu em seco. Sua mãe queria que ficasse chateada com
esse conhecimento, mas estava criando uma reação oposta. Enquanto estava
lá, ouvindo sua mãe reclamar sobre James em relação a seu pai, sentiu-se...
protegida. Como se, finalmente, tivesse encontrado o herói pelo qual rezou
por toda a sua vida.
— Meu pobre pai — repetiu baixinho. — É isso que se convenceu de
que ele é, uma vítima em tudo isso?
Os olhos de sua mãe se estreitaram. — Pode ser uma futura duquesa,
mas ainda lhe deve respeito. Ele é seu pai.
— Dificilmente — Emma disse suavemente. — Ele entrou e saiu da
minha vida por décadas, mamãe. E da sua, pelo amor de Deus. Nem uma
semana atrás, estava agonizando por ele reaparecer e destruir nossas vidas.
Agora fala dele como se ele fosse um santo.
Sua mãe se mexeu. — Não entende o amor, Emma. Se o fizesse,
saberia o que passo, o que devo aceitar.
Emma se virou. Ela entendia o amor. Amava James - não havia mais
como negar isso. Mas não queria a vida que tinha visto sua mãe viver. Onde
temia e ansiava por um homem em igual medida. Onde foi forçada a
perdoar todas as transgressões, por alguma esperança desesperada por
migalhas da sua afeição.
— A senhora escolheu a vida que vive, mamãe. E eu também vou. —
Virou-se. — Se James não deseja apoiar o papai, então... não questiono sua
decisão.
O rosto de sua mãe se contorceu e suas mãos se apertaram ao lado do
corpo. — Desgraçado ingrato — sibilou antes de se virar e sair correndo do
quarto.
Emma encostou as mãos na mesa mais próxima, os olhos ardendo de
lágrimas, o corpo tremendo após o confronto que acabara de ter com a mãe.
Aquele que parecia que vinha por toda a vida.
Queria se encolher e chorar. Queria fugir da dor em seu coração. Mas,
principalmente, queria encontrar James. Por seu conforto e apoio, sim, mas
também porque sabia o que precisava fazer. Sabia o que precisava arriscar.
E se não arriscasse agora, talvez nunca tivesse outra chance.
Endireitou-se e alisou seu vestido, então saiu da câmara. Moveu-se
pelos corredores, ouvindo conversas e risadas atrás das portas dos aposentos
de hóspedes, sorrindo para os criados, que agora a olhavam com nova
deferência como sua futura senhora.
Quando desceu as escadas, Grimble estava lá embaixo. O mordomo
tinha uma longa lista e estava discutindo com um lacaio, mas dispensou o
homem quando a viu descer.
— Srta. Liston — disse, seu tom e expressão calorosos. — Há algo
que eu possa fazer pela senhorita?
— James — suspirou. — Abernathe. Onde está?
O mordomo pareceu um pouco surpreso com sua pergunta, ou talvez
fosse sua expressão quando perguntou, pois estava certa de que parecia tão
perturbada quanto se sentia.
— Sua Graça está no terraço — disse lentamente.
— Obrigada, Grimble — disse enquanto assentia. Sua frequência
cardíaca aumentou quando se virou para os fundos da casa, onde poderia se
juntar ao seu futuro marido. Suas pernas e mãos tremiam quando entrou em
uma câmara e se dirigiu para as portas francesas. As empurrou e olhou para
baixo no terraço para o homem que amava.
Encontrou-o imediatamente. Mas não estava sozinho. James estava a
três metros de distância, de costas para ela... com uma linda mulher parada
na frente dele. Apertou os olhos para ver melhor e respirou fundo. Era a
Condessa de Montague, uma senhora que todos sabiam ser aberta com seus
favores. Tinha-os visto conversando antes, na festa, só de passagem. Mas
esta não era uma conversa passageira. Lady Montague estava encostada em
James, sua mão corajosamente levantada em seu peito.
Emma observou-os juntos, suas mãos tremendo ao lado do corpo e
lágrimas ardendo em seus olhos. James sorriu para a outra mulher, e seu
coração se partiu quando se virou. Andou de volta para a casa, de volta para
o foyer. Grimble disse seu nome, mas o ignorou quando saiu da casa e
correu pelo caminho que a levava em direção aos estábulos.
Caminhou por um curto período, sua respiração irregular e sua mente
girando. Tinha visto James fazendo algo errado? Não exatamente. Estava
conversando com um de seus convidados. Uma convidada, sim, mas,
certamente, não podia esperar que ele nunca mais falasse com outra mulher,
só porque estava se casando com ela.
Foi a intimidade da discussão que a quebrou. Naquele momento, teve
um vislumbre de seu futuro potencial. Não queria ser como sua mãe,
amando um homem que não correspondia aos sentimentos, esperando que a
agraciasse com qualquer tipo de atenção. Não podia passar a vida assim.
Virou uma esquina em direção aos estábulos, incerta de seu próximo
passo. Voltar e confrontar James? Fingir que isso não aconteceu e seguir em
frente com a união, apesar de suas dívidas?
Fugir?
Parou no meio do caminho enquanto tentava recuperar a compostura.
— Bem, bem, bem.
Virou-se para a voz sarcástica vindo atrás dela. Quem viu lá fez seu
coração quase parar.
— S-Sir Archibald — murmurou, afastando-se do homem.
Ele deu um passo à frente a uma distância igual, mantendo-a ao
alcance de um braço. Encarou-o, pois não se parecia com o homem que
havia manifestado interesse por ela, pouco tempo antes. Seu cabelo estava
bagunçado, seu rosto vermelho, como se tivesse bebido, e seus olhos
estavam vidrados.
— O que há de errado com o senhor? — Sussurrou.
Ele inclinou a cabeça como se estivesse confuso com sua pergunta. —
Errado comigo? Além da humilhação abjeta que seu duque me trouxe?
Emma estremeceu com o tom áspero e estridente de sua voz. — Que
humilhação é essa, Sir Archibald? Certamente nunca me quis realmente.
Mal me conhece, e eu não poderia ser considerada um bom partido, com
base na minha família e minha falta de fundos.
Ele arqueou uma sobrancelha com sua dura autoavaliação. — Talvez
não, mas eu tinha feito minha reivindicação. Seu pai havia aprovado o
casamento. Abernathe não deveria ter me negado tão publicamente. Agora
sou o motivo de chacota do condado. Todo mundo sussurra quando me vê,
riem atrás de suas mãos. Isso não vai ficar assim.
Emma prendeu a respiração, pois viu a luz perigosa de seu olhar. — O
que... o que vai fazer?
— Pegar o que é dele —disse suavemente. — Para igualar o placar.
Ele avançou novamente e Emma gritou de terror, enquanto o atacava
descontroladamente. Suas unhas lhe arranharam as bochechas, deixando um
vergão inchado, e ele rosnou de dor e aumentou a raiva.
— Vai lutar — disse, avançando. Emma deslizou ao longo da parede,
esperando uma chance de escapar, mas aonde quer que se movesse, ele a
seguia. — Gosto de uma luta.
Seu coração disparou. Ele a estava conduzindo em direção às baias
escuras e vazias, nos fundos do estábulo. Soltou um grito e ele pulou,
atacando-a finalmente. Seu ombro atingiu o canto de uma das cabines e
uma explosão de dor a atravessou.
Ele cobriu sua boca com a palma da mão. — Cale-se agora, ninguém
está vindo para ajudá-la. Guarde todo esse barulho para mais tarde
Ela lutou, mas ele era surpreendentemente forte para um homem de
sua idade. Naquele momento percebeu que estava presa. Tinha sido pega. E
ele estava certo, não havia ninguém vindo para ajudá-la.
J olhou para a bela mulher parada a sua frente, sua mão esbelta
tocando seu peito. Não havia como negar que Lady Montague era
encantadora e as histórias de suas proezas sexuais bem conhecidas. Em
outros tempos, poderia ter sido enganado por ela, mas agora a olhava e não
sentia... nada.
Não queria um flerte com uma amante habilidosa e cansada. Não
queria uma amante, como Lady Montague tinha acabado de se oferecer para
se tornar em termos inequívocos. Acontece que só queria Emma.
— Está quieto, Abernathe — Lady Montague ronronou. — Estou
chocada que não tenha uma resposta mais imediata à minha... sugestão.
Afinal, um caso discreto é comum em nossos círculos. Sei que se entregou
antes, assim como eu. E acho que poderíamos ser... bons juntos.
James se afastou, forçando a mão dela a cair para o lado. — Agradeço
a oferta, milady. E talvez esteja certa de que poderíamos encontrar prazer
juntos. Mas estou prestes a me casar e eu... — Balançou a cabeça para o que
estava prestes a dizer. — Pretendo ser fiel à minha esposa.
Lady Montague franziu a testa. — Fiel? — Repetiu, como se não
entendesse a palavra. — Sério?
— Sim.
Ela o encarou por um longo momento, depois deu de ombros. — É
uma criatura singular então, Vossa Graça. E a Srta. Liston tem... sorte de ter
inspirado tal fidelidade. É bastante incomum.
James assentiu, pois sabia que era verdade. Só não sabia que queria
ser um dos poucos em seus círculos que permanecia fiel a esposa, até que
lhe ofereceram a chance de ser outra coisa.
— Com licença, milady — disse com um movimento gentil, que só
poderia encorajá-la a deixá-lo. — Tenho muito o que preparar nesta última
hora antes do meu casamento.
Ela assentiu com um sorriso que não alcançou seus olhos. — De fato.
Boa tarde, Vossa Graça.
Ele se virou e a deixou, voltando para a casa. Caminhou pelo corredor
em direção às escadas, determinado a encontrar sua noiva. Embora não
tivesse ideia do que lhe diria quando o fizesse.
Passou pelo vestíbulo, virando-se para subir a escada, quando
Grimble chegou ao pé da escada. — Vossa Graça?
Ouviu a tensão no tom de seu mordomo e olhou para ele, embora
quisesse apenas correr e encontrar Emma naquele momento. Esse
casamento repentino havia sobrecarregado sua equipe, e devia atenção a
eles. — Sim?
— Milorde, desculpe interromper, sei que tem muito que preparar,
mas...— O mordomo se mexeu. — Achei que deveria saber que a Srta.
Liston estava procurando pelo senhor mais cedo.
— Emma? — James perguntou, com o pulso acelerado. — Onde?
Ela foi até o terraço falar com Vossa Graça, momentos atrás — disse
Grimble. — Mas em pouco tempo, voltou correndo pela casa e saiu pela
porta da frente.
James recuou. Se Emma tinha ido ao terraço recentemente, não tinha
falado com ele. Claro, estava ocupado com Lady Montague.
Seu estômago caiu. Se Emma o viu com a dama, com a mão dela em
seu peito, poderia ter pensado...
— Droga — murmurou. — Na frente, onde?
— Sim — disse Grimble. — Eu a observei ir em direção aos
estábulos, mas a curva no caminho impediu que eu pudesse rastreá-la muito
mais do que isso.
James passou correndo por ele, saindo pela porta e descendo o mesmo
caminho que Emma, aparentemente, tinha tomado, alguns momentos antes.
Sua cabeça girou enquanto corria para encontrá-la. Depois de tudo que ela
passou, tudo que ela viu sua mãe suportar com seu pai rebelde, se o viu com
Lady Montague, ninguém poderia culpá-la por esperar o pior.
Especialmente porque acreditava que James estava se casando com
ela apenas por algum senso de honra ou dever. Mas o fato era que era muito
mais do que isso.
Muito muito mais. Só que nunca disse isso a ela. Mal se permitiu
reconhecê-lo em seu próprio coração, muito menos confessá-lo a ela ou a
qualquer outra pessoa. Desnudar seu coração nunca terminou bem, e então
aqui estava, perseguindo uma mulher a quem provavelmente machucou sem
querer.
E isso significava muito para ele. Mais do que deveria.
— Não!
James congelou ao se aproximar do estábulo, pois ouvira o grito
agudo de uma voz de mulher lá dentro. A voz de Emma.
Começou a correr, voando em direção ao estábulo, quando ouviu um
segundo grito truncado. Virou a esquina para o estábulo ainda, seu olhar
correndo de um lado do grande espaço para o outro. E ali, no canto mais
distante, na escuridão sombria, viu Emma. Ela estava inclinada para trás,
puxando com força a mão de um homem, a mão de um homem que
agarrava seu pulso. O canalha, obviamente, estava trabalhando para puxá-la
para uma baia vazia.
James avançou. — Pare! — Gritou.
Quem estava segurando Emma a soltou e ela cambaleou para trás,
quase caindo no chão poeirento do estábulo. James a puxou para trás dele e
olhou para dentro da baia, para ver quem era seu agressor.
Seus olhos se arregalaram ao ver Sir Archibald no espaço estreito. O
rosto do homem mais velho estava pálido como papel e seus lábios
tremeram enquanto olhava para James. — Abernathe! — Sussurrou.
James não o deixou dizer mais nada antes de dar um soco que acertou
diretamente em sua mandíbula. Sir Archibald caiu para trás, colidindo com
a parede do estábulo e soltando um grunhido de dor.
— Que diabos está fazendo aqui? — James perguntou, embora
pudesse ver exatamente quais eram as intenções do homem. Suas roupas
estavam em desordem, sua camisa solta e fora da calça.
O fato de que pretendia prejudicar Emma fez James querer matá-lo.
Poderia ter feito, mas Emma colocou a mão em seu antebraço,
forçando-o a olhá-la. — James! — Disse suavemente.
Olhou para baixo em seu rosto riscado de lágrimas e prendeu a
respiração. Desgrenhada como estava agora, ainda estava linda em seu
vestido de noiva.
— Ele a machucou? — Perguntou, estendendo a mão para traçar o
queixo dela com o dedo. — Ele te tocou?
— Não! — Tranquilizou-o. — Não teve tempo. Conseguiu pará-lo.
James prendeu a respiração. Havia hematomas em seu pulso, fracos,
mas estavam lá. Levantou sua mão. — Emma...
— Não estou machucada — sussurrou, embora sua voz trêmula
dissesse que era mentira. — Não estou ferida.
Ele se virou para encarar Sir Archibald, a raiva colorindo sua visão,
mas descobriu que o homem havia passado por ele enquanto cuidava de
Emma. Agora estava correndo para fora do estábulo o mais rápido que suas
pernas podiam carregá-lo. James correu atrás dele a tempo de ver o bastardo
subir em seu cavalo e voar em direção aos portões da propriedade.
— O verei morto se chegar perto dela novamente! — James gritou,
certo de que o vento levava suas palavras raivosas para as costas curvadas
de seu inimigo.
Virou-se e entrou novamente no estábulo. De volta à baia onde Emma
tinha sido atacada, encontrou-a encostada na parede, seu rosto pálido e
abatido. Seu coração se apertou com sua expressão. Com sua dor.
— Vou atrás dele — murmurou, alisando uma mecha de cabelo
errante da bochecha dela. — Vou matá-lo pelo que tentou fazer.
— Não! — Emma disse, dando um passo à frente para agarrar seu
braço. — James, sabe o que aconteceria se fizesse algo assim. Pode ser
deportado ou enforcado. Mesmo se não fosse, o escândalo iria destruí-lo.
Destruir Meg. Eu não valho isso.
James a encarou. Emma acreditava no que disse. Claro que sim,
depois da vida que levara. E, de repente, queria dar-lhe muito mais do que
já havia experimentado. Queria dar-lhe tudo. Tudo o que tinha e era. Mais
importante, queria dar-lhe tudo o que podia ser, mas ainda não havia se
tornado.
Queria ser melhor para ela.
— Vale muito mais — disse baixinho.
— Não quero perde-lo — disse, formando cada palavra sucintamente.
— Por favor, não o siga.
James rangeu os dentes. A ideia de Archibald fugir depois do que
tentou fazer era nojenta. Só machucaria outra pessoa. Ou talvez até viria
atrás de Emma novamente em seu estado vingativo.
— Vou mandar Graham cuidar disso — disse por fim. — Quando
voltarmos a Londres, ele poderá monitorar Sir Archibald. Tenho certeza de
que encontrará ajuda de muitos de nossos amigos nessa tarefa.
Emma assentiu. — Sim. Então saberá se ele tem planos para algum
outro tipo de mal.
James deu um passo à frente e a abraçou. O corpo dela tremeu em
seus braços e ele a abraçou com mais força, desejando poder tirar qualquer
medo que tivesse experimentado.
— Emma — sussurrou contra seus cabelos. — Sinto muito.
Ela balançou a cabeça enquanto se afastava. Fora de seus braços,
levando seu calor com ela, deixando-o frio quando deu um passo para trás,
e para longe dele.
— Estou... estou bem — disse, medindo o tom de voz para não
mostrar mais todas as suas emoções. — Ele estava bêbado, com raiva e...
querendo nos punir por quebrar qualquer promessa que meu pai lhe fez. —
Suas mãos tremiam e as enrolou ao seu lado. — Obrigada por me salvar.
— É meu trabalho salvá-la — disse. — Meu maior dever como seu
marido será protegê-la de todo mal. Eu deveria ter imaginado que Sir
Archibald poderia ser tão tolo a ponto de ameaçá-la. Nunca permitirei que
isso volte a acontecer, Emma. Assim que estivermos casados, garantirei que
esteja protegida o tempo todo.
Esperava que ela sorrisse com essa afirmação. Talvez até voltar para
seus braços para um beijo. Mas seu rosto permaneceu tenso, com emoção
sombria e pálido como papel. Emma baixou o queixo, recusando-se a
sustentar seu olhar.
— James — sussurrou, com a voz embargada. — Aprecio seu desejo
de me proteger. Realmente aprecio. Mas algo ficou muito claro para mim
hoje.
Ele franziu a testa. — Claro? E o que é isso?
— Não posso me casar contigo, James. Eu não quero.
A palavras que Emma acabara de arrancar de seus lábios trêmulos foram
as mais difíceis que já disse, ainda mais difíceis pela presença esmagadora
de James no espaço apertado do estábulo. Ele tinha corrido para resgatá-la,
e seria tão fácil permitir que a embalasse e a protegesse para sempre.
Mas queria mais do que isso. Mais dele. Não conseguir isso só
resultaria em ruína e desespero no futuro.
— Bateu a cabeça, Emma? — Perguntou por fim, seu tom cheio de
incredulidade.
— Claro que não.
— Então o que quer dizer que não querer se casar comigo? —
Perguntou, seu tom tenso como um fio esticado até o ponto de ruptura.
A parte dela que sempre esteve ao longo da parede, a parte dela que
viveu com medo desde que tinha idade suficiente para saber que seu pai
poderia arruiná-la, queria se desculpar com James. Curvar-se à sua vontade
e dizer que estava enganada e entrar no seu projeto de futuro.
Mas havia outra parte agora. Uma que reconhecia seu próprio valor.
Ironicamente, foi uma parte que o próprio James a ajudou a encontrar. E
esta era a que lhe disse para se afastar dele.
— Eu o vi — disse suavemente.
James engoliu em seco. — Me viu? — Repetiu.
Emma forçou seu olhar para travar com o dele e o segurou lá. — O vi
no terraço. Com Lady Montague.
Ela esperava que ele reagisse com choque e então negasse sua
afirmação. Isso era o que seu pai teria feito. Inferno, tinha feito uma dúzia
de vezes ou mais, quando sua mãe o confrontou sobre seus assuntos ao
longo dos anos. Emma tinha testemunhado aquelas brigas horríveis. Sua
mãe chorando, seu pai ofendido com as acusações. Eventualmente sua mãe
iria capitular. Eventualmente, ele iria embora novamente.
Era um ciclo sem fim.
Só que James não parecia chocado com sua acusação, apenas
sombrio. E para sua surpresa, assentiu. — Achei que poderia ter nos visto.
Grimble me disse que foi ao terraço para me encontrar e saiu de casa logo
depois.
Emma apertou a mandíbula. — Eu o vi falando. Flertando.
James balançou a cabeça lentamente, a negação que estava esperando
finalmente encontrando seus lábios. — Garanto-lhe que não estava
flertando com Lady Montague.
A raiva cresceu dentro dela, mágoa e traição que sabia que não
merecia sentir. James não a amava. Nunca havia dito que o fazia, nem que
seria fiel. A maioria dos homens de sua laia não era.
Mas ainda queria isso dele, tola como era. Pelo menos, queria
honestidade dele.
— Eu vi — repetiu, sua voz subindo. — E eu reconheço o que é,
James. Não finja que sou uma tola. Assisti meu pai jogar esses mesmos
jogos, toda a minha vida.
— Eu não sou seu pai — disse suavemente, mas não havia gentileza
em seu tom.
— Bem, não desejo ser minha mãe — retrucou. — Amando-o e
perdoando-o cada mentira que conta, como uma tola.
— Eu não sou seu pai — repetiu, seu tom mais áspero do que antes.
Mas então seu rosto mudou e a olhou. — Acabou de dizer que me ama?
Os lábios de Emma se separaram. Em seu aborrecimento, disse as
palavras. Havia se revelado. Ficou surpresa ao descobrir que não se
arrependia dessa ação. Agora que havia escapado, poderia lhe explicar
melhor por que tinha que ir embora.
— Há duas partes para mim, James — começou, chocada, sua voz
estava calma e firme. — Há a garota que sempre se escondia, sentava-se ao
longo de uma parede, tentava não ser notada, principalmente por um
homem como você. E é forte dentro de mim. Ela me diz para negar meu
coração, para me proteger te mentindo. Mentindo para mim mesma.
James se moveu em sua direção uma fração, e suas mãos começaram
a tremer. — E qual é a outra parte?
— A outra parte está mais forte agora — sussurrou. — A outra parte
não quer mais viver nas sombras e com mentiras. A outra parte me diz para
te confessar a verdade.
— E qual é a verdade? — Empurrou.
Ela soltou um soluço e se curvou um pouco, enquanto lutava para
recuperar o fôlego. Finalmente, se endireitou.
— Que eu te amo, seu grande imbecil — explodiu, corando por sua
franqueza. — Como uma tola, eu te amo.
J mal conseguia respirar. O poder do olhar fixo de Emma, de suas
palavras, o inundou. Emma Liston o amava. Ela o amava.
Um conceito aterrorizante e maravilhoso que, de repente, fez sua
cabeça girar e suas pernas tremerem.
E, no entanto, não parecia satisfeita com essa confissão, nem mudava
o fato de que lhe havia dito que não queria se casar com ele.
— Por que é uma tola por me amar? — Perguntou suavemente. —
Por que não sou digno do seu amor?
Seus lábios se separaram e Emma o alcançou, tocando-o pela primeira
vez, desde que começaram essa conversa. Pegou uma de suas mãos em
ambas as dela e levou-a ao peito.
— Santo Deus, não, James. Isso foi seu pai quem disse, não eu.
Seu coração deu um pulo. — O que sabe sobre meu pai? —
Perguntou. Emma inclinou a cabeça e James balançou a sua. — Meg. Te
contou sobre ele. Sobre nós?
Emma assentiu. — Um pouco. Mas não fique bravo com ela. Eu
perguntei, me intrometi.
— Não estou... não — disse lentamente, e percebeu que era verdade.
Poucas pessoas sabiam sobre seu relacionamento com seu pai. Todas eram
pessoas em quem confiava no mais íntimo de seu ser. Emma certamente se
encaixava nessa descrição. — Se vamos nos casar, que é um assunto que
ainda temos que discutir, então tem o direito de saber. Meu pai era... cruel.
Emma respirou fundo. — Meg disse algo parecido.
— Ele havia perdido seu primeiro filho, sua primeira esposa. Eles
eram a família que realmente queria. — James lutou contra a dor que
acompanhava essas palavras. — Nós éramos substitutos. Nunca fiz jus ao
original. Nunca ganhei o amor que ele sentia por seu filho. Seu verdadeiro
filho.
Emma apertou a mão dele com mais força. — Era um menino, não
deveria ter que ganhar nada. O amor não é uma ferramenta de troca, James.
O fato de ele ter usado isso como uma recompensa, em vez de um presente,
diz tudo a respeito dele e nada ao seu. Você merecia mais.
Olhou-a nos olhos e viu refletida ali a vida que levaria com ela. Uma
vida de amor e felicidade, de proteção, não apenas dele para ela, mas dela
para ele. Viu filhos e uma chance de ser o pai que nunca teve.
Viu seu futuro e, naquele momento, transbordou com o desespero de
não o perder. Para não a perder e o amor que lhe oferecia. O amor que
sentia em troca, mas que estava escondendo.
— Emma — sussurrou. — Lady Montague se aproximou de mim no
terraço e ela queria ser minha amante.
Emma fez um som suave de dor no fundo da garganta que o
apunhalou no coração, e se moveu para se afastar. James agarrou sua mão,
segurando-a no lugar.
— Escute — disse baixinho. — Por favor, olhe para mim e realmente
ouça o que estou prestes a dizer.
Sua respiração ficou curta, mas parou de lutar e olhou-o com os olhos
marejados. — Muito bem. O que tem a dizer?
James engoliu em seco. — Eu não a quis.
Sua testa enrugou. — Mas ela é linda e popular, combina mais
contigo do que eu jamais poderia. E todo mundo conhece os rumores de
sua...sua...experiência. Muitos homens arranjam uma amante...
— Não me importa — interrompeu, antes que ela perdesse mais
fôlego para convencê-lo. — Não a quero. Não a queria quando fez a oferta.
E disse isso a ela. Eu só quero você.
Emma piscou, pequenos e rápidos estremecimentos, como um pássaro
lutando para alçar voo. — Mas você é... você. E eu sou... eu.
— Continua dizendo isso — disse, frustrado com sua contínua
autodepreciação. — Mas eu nunca pensei que não fosse igual a mim. Na
verdade, este seu novo lado que descreveu anteriormente, aquele que está
disposto a me confrontar, a se afastar de mim se achar que a traí... essa
Emma pode estar muito acima de mim. Gosto dela. Também gosto da
Emma original. A wallflower erudita com toda aquela paixão escondida
debaixo de sua superfície, foi exatamente com ela que fiquei encantado. Eu
te quero, Emma. Todas as suas partes e lados.
— Realmente a recusou? — Sussurrou.
James assentiu lentamente. — Sim, o fiz. E recusarei qualquer outra
oferta que possa receber no futuro. Não sou seu pai, Emma. Nunca vou traí-
la, enquanto eu tiver fôlego em meu corpo.
Emma soltou um suspiro trêmulo. — E eu não sou seu pai, James.
Jamais usarei o amor como moeda de troca. — Balançou a cabeça. — Mas
não somos um belo par?
— Sim — disse com uma pequena risada. — Parece que nós dois
estivemos tão emaranhados no passado que estávamos prontos para deixar
isso arruinar nosso futuro.
Emma prendeu a respiração, suas mãos trêmulas, embora continuasse
a segurar as dele com firmeza. — Deixaremos?
— Não — sussurrou. — Podemos recomeçar.
Emma inclinou a cabeça. — Recomeçar?
James deslizou a mão dela e estendeu-a novamente, como se fosse
encontrá-la pela primeira vez. — Olá, sou James Rylon, décimo quinto
Duque de Abernathe. E eu te amo, Emma Liston. Se este momento é para
ser um novo começo, isso é tudo que precisa saber.
Seu rosto enrugou um pouco, encarou-o com uma descrença de partir
o coração. — Me... me ama? — Repetiu.
— Sim, amo. E se resolver se rebaixar para se casar comigo como
planejamos, vou me esforçar pelo resto da minha vida para nunca mais
fazê-la duvidar desse fato novamente. Vou me esforçar para lhe mostrar que
é verdade, a cada momento de cada dia, pelo resto da minha vida.
Emma soltou um soluço, mas estava sorrindo. Então aceitou a mão
que lhe oferecia e a apertou suavemente. — Olá, sou Emma Liston. E eu te
amo James. É um homem mais do que digno do meu amor, não importa o
que algum duque velho e rabugento disse a seu respeito.
James se inclinou e segurou suas bochechas, beijando-a com toda a
paixão, amor e rendição que encontrou ao seu lado. E, pela primeira vez em
muito tempo, anos, décadas, sentiu-se em casa. Porque sua casa era com
Emma. E isso era seguro.
James recuou com uma risada. — Acho que acabamos de fazer nossos
votos de casamento. Assumindo que ainda vá se casar comigo.
— Se me quiser — disse, com lágrimas escorrendo pelo rosto
sorridente.
— Eu costumava pensar que não me casar, não levar o nome dele,
seria minha melhor vingança contra meu pai —disse suavemente, enquanto
gentilmente enxugava aquelas lágrimas de seu rosto. — Mas viver feliz,
afastando-me de sua sombra... acho que é uma vingança muito melhor.
— Então vamos ser felizes juntos — sussurrou, pegando-lhe o braço.
James a guiou para as portas do estábulo com uma risada. — Felizes
para sempre.
Três meses depois

H quem sussurrasse que uma wallflower como Emma Liston nunca


poderia ser uma boa Duquesa de Abernathe. Mas mesmo aquelas
fofoqueiras cruéis estavam implorando para serem convidadas para a festa
de final de verão em Falcon's Landing, apenas três meses depois de seu
casamento com o duque.
Emma só havia convidado aqueles de quem realmente gostava. Agora
estava no patamar que dava para o gramado e sorria para a multidão,
reunida para o chá. Estes eram seus amigos, sua família. A única que
faltava era sua mãe.
Emma suspirou um pouco com o pensamento. Não se falavam desde a
briga, antes do casamento, embora tivesse ouvido, através de amigos de
amigos, que seu pai havia recentemente abandonado a Sra. Liston
novamente. Balançou a cabeça com o pensamento. Em poucos dias,
pretendia aproximar-se de sua mãe. Talvez desta vez pudesse ajudá-la a ver
que, o que quer que existisse entre seus pais, não era amor.
E se não pudesse? Então não permitiria que isso estragasse sua
felicidade. E estava feliz. Nunca pensou que gostaria de ser uma duquesa,
mas James fazia de cada dia uma aventura e cada noite uma exploração
apaixonada.
Como se conjurado por seus pensamentos, sentiu-o envolver os
braços ao seu redor por trás e pressionar um beijo em sua bochecha,
enquanto a puxava contra seu peito forte e largo. Sentiu o cume de sua
ereção pressionando em seu traseiro, e riu. Parecia que teria que cuidar
disso, antes que se juntassem aos convidados, e se emocionou com a ideia.
— Estão aguardando por nós — disse James.
Emma se apertou contra ele um pouco e lhe arrancou um gemido
profundo que a fez sorrir. — Obviamente terão que aguardar mais.
Esperava que a levasse de volta para o quarto e a tomasse, mas, em
vez disso, James permaneceu onde estava, abraçando-a. Emma se virou em
seus braços e olhou para cima para encontrá-lo sorrindo.
— O que é esse olhar? — Perguntou,. enquanto se inclinava para
roçar os lábios nos dele.
— Estou feliz, Emma — disse suavemente. — Eu estava incompleto
e nunca soube. Mas você chegou e agora... agora estou inteiro.
Um nó encheu sua garganta com a doce confissão e a pura felicidade
em seu rosto quando disse isso. — Sinto o mesmo — falou. — E... tenho
notícias que nos deixarão mais do que completos.
— Notícias? — Perguntou, inclinando ligeiramente a cabeça. — Que
notícias são essas?
Emma pegou sua mão e a puxou para baixo, pressionando-a
suavemente contra a barriga. — Um bebê — disse, observando sua reação.
Para seu deleite, seu rosto se iluminou e deixou cair a outra mão em
seu ventre, enquanto a olhava em choque. — Um bebê?
Emma assentiu. — Está feliz?
— Feliz? — Repetiu com uma risada alta. — Estou na lua, Emma.
Toda a minha felicidade, todo o meu mundo... começa e termina contigo. E
não consigo pensar em um presente melhor do que um filho para completar
essa união feliz.
James a pegou nos braços e a beijou, a princípio suavemente, mas
depois mais profunda e apaixonadamente. Enquanto a guiava de volta para
a casa, para uma sala onde provaria que a amava, mais uma vez, Emma não
pôde deixar de sorrir.
Esta era sua vida. Que pode nunca ter imaginado, mas a fez mais feliz
do que jamais pensou que poderia ser. E que pretendia comemorar com o
homem que amava.
M D F

S fechou a porta do terraço atrás de si, então inalou uma grande lufada
de ar frio. Desde sua conversa com Christopher, sentiu esse peso
pressionando-o, esmagando-o. Mal se lembrava dos últimos vinte minutos.
Mal se lembrava das danças ou de seus parceiros.
Não se lembrava de nada, exceto do refrão latejante que ecoava em
sua cabeça. Margaret. Margaret. Margaret.
Merecia ser desafiado por sua obsessão. Merecia ser abandonado. E,
ainda assim, não conseguia parar de pensar nela.
— Devo ir embora —murmurou. — Partir por alguns meses ou anos.
Pensou a mesma coisa muitas vezes, mas nunca seguiu com o plano.
Talvez fosse hora de, finalmente, fazer o que era certo. Inclinou a cabeça e
olhou para os dedos, apertados contra a parede de pedra do terraço. Teria
que dar uma boa desculpa para partir. Certamente não poderia dizer a
Graham e James que estava desesperadamente apaixonado por Margaret.
Ainda estava ponderando sobre essa ideia, quando ouviu um som
fraco ecoando de um canto escuro do terraço. Virou-se, olhando ao redor
enquanto o fazia. Estava sozinho aqui, ou pelo menos achava que sim. Mas
agora, atento, ouviu mais sons. Sons de... choro.
Avançou, em direção à parte escura do terraço, que ficava longe das
janelas e portas, longe de onde alguém encontraria qualquer pessoa.
— Alô? — Gritou, enquanto entrava na escuridão e parou, permitindo
que seus olhos se ajustassem. Quando o fizeram, arfou.
Uma mulher estava sentada à uma mesa na sombra da casa, com a
cabeça apoiada nos braços e chorando.
Correu em sua direção. — Diga-me, está bem?
Pela primeira vez, a desconhecida pareceu reconhecer sua presença.
Ergueu a cabeça, virou o rosto em sua direção e Simon quase gritou.
— Meg? — Sussurrou.
Meg não se levantou, apenas encarou-o, seus olhos ilegíveis na meia-
escuridão. — Claro que seria você — disse, a voz cheia de lágrimas, antes
de baixar a cabeça.
Simon deveria ter ido embora. Deveria ter entrado e encontrado seu
irmão ou seu noivo e deixado a confortarem, como era apropriado.
Mas Meg sempre foi sua amiga, assim como sua obsessão. E não
estava disposto a abandoná-la em seu momento de necessidade.
Sentou-se à mesa, deslizando-a mais perto para que suas pernas
roçassem sob o tampo. Lenta e gentilmente, deslizou um braço ao redor dos
ombros de Meg e a aproximou, até que descansou a bochecha contra seu
peito.
Meg soltou um suspiro trêmulo e a sensação dela se movendo contra
ele o atravessou, despertando cada terminação nervosa, forçando-o a
encarar o quão desesperadamente a queria e a adorava.
— O que foi? — Perguntou, chocado por poder formar palavras,
quando estava tão malditamente consciente dela em seus braços.
Meg levantou uma mão trêmula e descansou contra seu coração.
Certamente, podia senti-lo batendo, mesmo sob todas as camadas de sua
roupa. Simon sentiu a pressão de cada um de seus dedos finos.
— Não é nada — disse, seu tom um pouco mais calmo agora. —
Fiquei sobrecarregada por um momento.
Observou-a e sentiu a fragrância de madressilva de seu cabelo. Deus,
como amava aquele cheiro. Plantou quatorze arbustos de madressilva em
torno de sua propriedade em Crestwood, cinco anos atrás, apenas para ter
um pedacinho dela lá com ele.
— Alguém lhe disse algo desagradável? — Perguntou. — Porque irei
lá...
Meg inclinou o rosto em sua direção e o coração dele parou. Seus
lábios estavam a três centímetros. Perto o suficiente para que pudesse sentir
o leve movimento de sua respiração contra sua boca. Perto o suficiente para
que beijá-la fosse fácil.
Deus como queria beijá-la. Queria fazer mais do que beijá-la.
Meg engoliu em seco, seus olhos ficando um pouco selvagens
quando, gentilmente, se soltou de seus braços, levantou-se e caminhou para
fora da escuridão e para a segurança da luz da casa.
— Ninguém me disse nada — sussurrou, sua voz mal soava.
Simon deveria lhe ter agradecido por trazê-los de volta para a
segurança. Só que o que queria fazer era pegá-la pela faixa de veludo em
volta da cintura e puxá-la de volta para o canto da casa.
Levantou-se e a seguiu.
— Somos... amigos... há muito tempo — arfou. — Sabe que pode me
dizer qualquer coisa.
Meg encarou-o e então sua mão se moveu. Simon observou enquanto
a levantava e pressionava contra seu peito mais uma vez. Seus dedos
deslizaram para cima e roçou apenas as pontas ao longo de sua mandíbula.
Não havia fôlego entre eles, nenhum espaço e naquele momento, não havia
mentiras.
Podia ver algo que passou anos se convencendo de que não existia.
Meg o queria.
Ela afastou a mão, com um som suave no fundo da garganta e
sussurrou: — Não posso te contar tudo, Simon.
— Meg — grunhiu, movendo-se para pegar sua mão.
Antes que o fizesse, a porta se abriu atrás deles. Meg se afastou,
virando as costas, seus ombros esbeltos subindo e descendo em respirações
ofegantes.
— Ah, aí estão.
Simon virou-se para sorrir, enquanto James saía para o terraço com
eles. — James.
— Estávamos procurando-os. Venham para dentro, sim? Temos um
anúncio.
Meg se virou e Simon prendeu a respiração. Ela se recompôs a ponto
de ninguém imaginar que esteve chorando no canto, menos de cinco
minutos antes. Sorria brilhantemente para seu irmão.
— Claro, James. — Ao passar por Simon, olhou-o brevemente. —
Obrigada pela... pela conversa, Crestwood.
O N F

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Durante anos, Serafina McPhee está comprometida a se casar o duque


de Hartholm e, por quase o mesmo tempo, ela luta para encontrar uma
maneira de sair desse noivado. Quando ele morre repentinamente, ela não
chora, mas se emociona com a ideia de que estará livre. Infelizmente, os
melhores planos dão errado quando o próximo na fila para o título, o primo
do duque, Raphael "Rafe" Flynn, é forçado a assumir o compromisso. Mas
Serafina conhece a reputação de Rafe como libertino e também não quer
nada com ele, mesmo ele sendo devastadoramente bonito.
Ela lhe propõe um acordo: ela concorda com o casamento e fornece a
Rafe seu herdeiro e um sobressalente. Depois que cumprir seu dever, ele a
deixará ir.
Rafe está intrigado tanto por sua beleza quanto por seu total desgosto
com a ideia de ser sua noiva. As mulheres normalmente caem aos seus pés,
não o temem.
Como o casamento arranjado não é algo do qual Raphael "Rafe"
Flynn possa escapar, ele concorda com os termos de Serafina McPhee.
Mas quando, na noite de núpcias, descobre a verdade sobre a tortura
que ela sofreu nas mãos de seu antecessor, se vê impelido a não apenas
cumprir sua barganha com sua nova esposa, mas a apresentá-la ao desejo.
Enquanto eles se aproximam, se rendendo a prazeres perversos, emoções
perigosas podem violar todos os acordos que fizeram.
Duração: Romance completo
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Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
parte de uma série (Os Notórios Flynn).

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Annabelle Flynn é a irmã dos dois maiores libertinos de Londres, e


sua reação a isso, foi tornar-se a imagem da pureza. Mas não perdeu a
natureza sensual de sua família e é perturbada por impulsos que não ousa
seguir.
Ela ignora as demandas de seu corpo e, em vez disso, se lança em
duas atividades diferentes: Buscar um casamento adequado na sociedade e
tentar salvar seu irmão libertino, seguindo-o até Donville Masquerade, um
chocante inferninho e casa de jogos dirigido pelo misterioso Marcus Rivers.
Durante o dia, Annabelle é uma elegante dama e procura um marido
sério para combater a reputação selvagem de seus irmãos. À noite, ela se
infiltra nos negócios de Marcus... e, eventualmente, se vê seduzida na cama
dele.
Mas uma dama não muito adequada e um canalha totalmente
inadequado podem encontrar algo em comum fora do quarto? E Annabelle
estará disposta a trocar paixão por "perfeição" fria e calculada?
Duração: Romance completo
Nível de sensualidade: HOT e erótico
Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
parte de uma série (Os Notórios Flynn).

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Crispin Flynn está em uma queda livre desde que perdeu a mulher que
amava e viu seu irmão ser forçado a uma vida a qual nunca teria escolhido.
Sua resposta foi beber e jogar, seu caminho para a ruína total. Uma noite,
completamente bêbado, ele faz uma aposta perigosa que resulta em ser
forçado a se casar com Gemma, a viúva do conde de Laurelcross.
Gemma já teve um lado apaixonado, mas o esconde desde que seu
marido, muito mais velho, morreu durante o ato de fazer amor. Agora ela se
vê a esposa muito indesejada de um dos maiores libertinos de Londres e
alvo de mais fofocas do que nunca.
Uma vez que eles determinam que não poderiam escapar do
casamento, os dois começam lentamente, a rodear um ao outro. A paixão é
fácil, mas eles podem superar suas desconfianças e seus segredos para
tornar o que era a pior noite de suas vidas em uma das melhores? Ou serão
obrigados a se perder antes que seu amor consiga criar raízes?
Duração: Romance completo
Nível de sensualidade: Hot
Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
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Georgina Hickson viveu sua vida fazendo tudo o que deveria fazer
para conseguir o marido que sua família exige. Quando conheceu Paul
Abbot em uma reunião na casa de uma amiga, foi a primeira vez que
desejou mais. Mas mais era algo que ela sabia que não poderia ter.
Paul se apaixonou por Georgina desde o momento em que a viu, dois
anos antes, apesar de saber que não é bom o suficiente para ela e que isso
nunca poderá se concretizar. Só que quando descobre que ela quer,
desesperadamente, ver uma exposição especial em Londres, concorda em
levá-la. Será que um momento furtivo, um beijo roubado e uma confissão
sussurrada podem levar à felicidade, ou levariam à dor no coração?
Duração: Romance completo
Nível de sensualidade: Hot
Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
parte de uma série (Os Notórios Flynn).

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Um romance histórico HOT da autora Best-seller do USA TODAY,


Jess Michaels

Mary Quinn está quase no fim de sua liberdade. Após dois anos sob a
proteção de sua irmã e seu cunhado, pode ter que voltar logo para a casa de
seu terrível pai se não conseguir encontrar um marido. Em seu desespero,
esbarra em Edward, Marquês Woodley. Atraídos um pelo outro, logo são
lançados em um escândalo que leva a um noivado.

Mas à medida que o casal se une e seu casamento se aproxima, o


passado de Woodley e as circunstâncias horríveis da morte de sua primeira
esposa podem impedi-los de um final feliz que salvará os dois.

Duração: Novela
Nível de sensualidade: quente e vaporoso
.Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
parte de uma série (Os Notórios Flynn).

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J M , autora best-seller do USA Today, gosta
de coisas nerds, Vanilla Coke Zero, qualquer coisa de
coco, queijo, gatos fofos, gatos macios, gatos, muitos
gatos, muitos cães e pessoas que se preocupem com o
bem-estar de seus semelhantes. Ela teve a sorte de se
casar com sua pessoa favorita no mundo e viver no
coração de Dallas, TX, onde está tentando comer toda a
comida incrível da cidade.

Quando ela não está obsessivamente checando seus passos no Fitbit ou


experimentando novos sabores de iogurte grego, escreve romances
históricos com machos alfa quentes e mulheres atrevidas que fazem tudo,
menos esperar para conseguir o que querem. Ela escreveu para numerosas
editoras e agora é quase totalmente independente e ama cada momento
(bem, quase todo momento).
N N

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