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Educação Literária

O Cavaleira da Dinamarca 121

“Mestre Finezas” 123

História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar 125

“Avó e neto contra vento e areia” 127

“Ladino” 128

Leandro, Rei da Helíria 131

“Poema do fecho éclair” 133

“Amigo” 135
Fichas de Educação Literária

Nome O CAVALEIRO DA DINAMARCA Turma Data


1

Lê o excerto de O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen, e consulta as notas


de vocabulário.

EM FLORENÇA
- E no princípio de maio chegou a Florença.
- Vista do alto das colinas floridas a cidade erguia no céu azul os seus telhados vermelhos,
- as suas torres, os seus campanários1, as suas cúpulas2. O Cavaleiro atravessou a velha ponte
- sobre o rio, a ponte ladeada3 de pequenas lojas onde se vendiam coiros, colares de coral,
5 armas, pratos de estanho e prata, lãs, sedas, joias de oiro.
- Depois foi através das ruas rodeadas de palácios, atravessou as largas praças e viu as igrejas
- de mármore preto e branco com grandes portas de bronze esculpido. Por toda a parte se viam
- estátuas. Havia estátuas de mármore claro e estátuas de bronze. Outras eram de barro
- pintado. E a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha espantado a beleza de
10 Veneza. Mas aqui tudo era mais grave4 e austero5.
- Procurou a casa do banqueiro Averardo, para o qual o seu amigo veneziano lhe tinha dado
- uma carta.
- O banqueiro recebeu-o com grande alegria e hospedou-o em sua casa.
- Era uma bela casa, mas nela não se via o grande luxo dos palácios de Veneza. Havia uma
15 biblioteca cheia de antiquíssimos manuscritos, e nas paredes estavam pendurados quadros
- maravilhosos.
- Ao fim da tarde chegaram os amigos do banqueiro Averardo.
- Sentaram-se todos para cear e, enquanto comiam e bebiam, iam conversando.
- Então o espanto do Cavaleiro cresceu.
20 Na sua terra ele procurava a companhia dos trovadores e dos viajantes que lhe contavam as
- suas aventuras e as histórias lendárias do passado. Mas agora, ali, naquela sala de Florença,
- aqueles homens discutiam os movimentos do Sol e da luz, e os mistérios do céu e da terra.
- Falavam de matemática, de astronomia, de filosofia. Falavam de estátuas antigas, falavam de
- pinturas acabadas de pintar. Falavam do passado, do presente, do futuro. E falavam de poesia,
25 de música, de arquitetura. Parecia que toda a sabedoria da terra estava reunida naquela sala.
- Já no meio do jantar levantou-se uma discussão sobre a obra de Giotto.
- ‒ Quem é Giotto? ‒ perguntou o Cavaleiro.
- ‒ Giotto ‒ respondeu do outro lado da mesa um homem de belo aspeto e longos cabelos
- anelados que se chamava Filippo ‒ é um pintor do século passado que foi discípulo de
Cimabué.
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Cavaleiro da Dinamarca, Porto, Porto Editora, 2017, pp. 21-23.
VOCABULÁRIO:
1 campanário: torre com sino.
2 cúpula: parte externa e superior dos monumentos.
3 ladeado: acompanhado (ao lado).

4 grave: solene, sério.


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1. Assinala, com um X, as expressões que correspondem às primeiras imagens que o Cavaleiro teve
de Florença.

(A) Cidade erguida em colinas floridas.


(B) Cidade com edifícios altos de telhados vermelhos.
(C) Cidade com um grande aglomerado de casas de telhado vermelho.
(D) Cidade de comércio diversificado.
(E) Cidade de comércio especializado em enfeites.
(F) Cidade com arte dispersa pelas ruas.
(G) Cidade com arte reunida em várias igrejas.

2. Compara a reação do Cavaleiro relativamente às cidades de Florença e de Veneza, referindo um


aspeto semelhante e outro diferente.

3. Justifica a impressão do Cavaleiro: “Parecia que toda a sabedoria da terra estava reunida naquela
sala”. (linha 25)

4. Associa as expressões da coluna A aos recursos expressivos que evidenciam na coluna B.

Coluna A Coluna B
A. “lojas onde se vendiam coiros, colares de coral, armas, pratos 1. Dupla adjetivação
de estanho e prata, lãs, sedas, joias de oiro” (linhas 4-5) 2. Comparação
B. “a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha 3. Enumeração
espantado a beleza de Veneza” (linha 9) 4. Metáfora
C. “aqui tudo era mais grave e austero” (linha 10) 5. Personificação

5. Seleciona o adjetivo que melhor descreve o comportamento das seguintes personagens.

Cavaleiro _______________ Averardo _______________ Filippo _______________

vaidoso curioso inculto trocista hospitaleiro conhecedor


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Nome “MESTRE FINEZAS” Turma Data


2

Lê o excerto de “Mestre Finezas”, de Manuel da Fonseca, e consulta as notas de vocabulário.


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MESTRE FINEZAS
- Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre
- respondo soprando o fumo:
- – Só a barba. Ora é de há pouco este meu à-vontade diante do Mestre Ilídio Finezas.
- Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha de fingir-se zangada.
5 Eu saía de casa, rente à parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola.
- Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme
- toalha. Só me ficava a cabeça de fora.
- Como o tempo corria devagar! A tesoura tinia1 e cortava junto das minhas orelhas. Eu não
- podia mexer-me, não podia bocejar sequer. “Está quieto, menino”, repetia Mestre Finezas
10 segurando-me a cabeça entre as pontas duras dos dedos: “Assim, quieto!” Os pedacitos de
- cabelo espalhados pelo pescoço, pela cara, faziam comichão e não me era permitido coçar. Por
- entre as madeixas caídas para os olhos via-lhe, no espelho, as pernas esguias, o carão severo
- de magro, o corpo alto, curvado. Via-lhe os braços compridos, arqueados2 como duas garras
- sobre a minha cabeça. Lembrava uma aranha.
15 E eu ‒ sumido na toalha, tolhido3 numa posição tão incómoda que todo o corpo me doía –
- era para ali uma pobre criatura indefesa nas mãos de Mestre Ilídio Finezas.
- Nesse tempo tinha-lhe medo. Medo e admiração. O medo resultava do que acabo de
- contar. A admiração vinha das récitas4 dos amadores dramáticos da vila.
- Era pelo inverno. Jantávamos à pressa e nessas noites minha mãe penteava-me com
20 cuidado. Calçava uns sapatos rebrilhantes5 e umas peúgas de seda que me enregelavam os pés.
- Saíamos. E, no negrume6 da noite que afogava as ruas da vila, eu conhecia pela voz famílias
- que caminhavam na nossa frente e outras que vinham para trás. Depois, ao entrar no teatro,
- sentiame perplexo7 no meio de tanta luz e gente silenciosa. Mas todos pareciam corados de
- satisfação. Daí a pouco, entrava num mundo diferente. Que coisas estranhas aconteciam!
25 Ninguém ali falava como eu ouvia cá fora. E mesmo quando calados tinham outro aspeto;
- constantemente a mexerem os braços. Mestre Finezas era o que mais se destacava. E nunca,
- que me recorde, o pano desceu, no último ato, com Mestre Finezas ainda vivo. Quase sempre
- morria quando a cortina principiava a descer e, na plateia, as senhoras soluçavam alto.
- Aquelas desgraças aconteciam-lhe porque era justo e tomava, de gosto, o partido dos
30 fracos. E, para que os fracos vencessem, Mestre Finezas não tinha medo de nada nem de
- ninguém. Heroicamente, de peito aberto, e com grandes falas, ia ao encontro da morte.
Manuel da Fonseca, “Mestre Finezas” in Aldeia Nova, Alfragide, Bis, LeYa, 2009, pp. 121-122.
VOCABULÁRIO:
1 tinia: produzia uma vibração.
2 arqueados: com as formas de um arco.
3 tolhido: sem qualquer movimento.

4 récitas: representações teatrais.

5 rebrilhantes: que brilham com intensidade.

6 negrume: escuridão.

7 perplexo: confuso.
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1. Preenche a tabela com as palavras correspondentes, distinguindo três traços que caracterizam a
atitude do narrador face a Mestre Finezas no passado e no presente.

Passado _______________ Presente _______________

à-vontade natural contido estático assustado descontraído

2. Justifica o desabafo do narrador: “Como o tempo corria devagar!” (linha 8)

3. Seleciona, com um X, a opção que completa corretamente a afirmação.


O narrador tinha medo e admiração de Mestre Finezas porque
(A) assustava-o ter de sair à noite para o ver, mas gostava das récitas.
(B) a sua atividade como barbeiro assustava-o, mas a reação do público espantava-o.
(C) a sua atividade como barbeiro agradava-lhe, mas a reação do público assustava-o.
(D) a sua atividade como barbeiro assustava-o, mas a sua atuação como ator deslumbrava-o.

4. Comprova a importância do teatro na vila, por meio da atitude das personagens.

5. Identifica, com um X, todas as citações que comprovam que o narrador é participante.

(A) “sento-me de perna cruzada” (linha 1)


(B) “– Só a barba.” (linha 3)
(C) “Minha mãe tinha de fingir-se zangada.” (linha 4)
(D) “que aquilo era pior que ir para a escola” (linha 5)
(E) “Eu não podia mexer-me” (linhas 8-9)
(F) “Está quieto, menino” (linha 9)
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Nome HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA E DO GATO QUE A ENSINOU ATurma


VOAR Data
3

Lê o excerto de História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, de Luis Sepúlveda, e consulta
as notas de vocabulário.

PASSARITO OU PASSARITA?
- ‒ Moin! ‒ apresentou-se Barlavento, que gostava de miar “bom-dia” no rijo e ao mesmo
- tempo doce dialeto1 de Hamburgo.
- ‒ Até que enfim que chegas, capitano, nem sabes quanto precisamos de ti! ‒
- cumprimentou Colonello.
5 Contaram-lhe rapidamente a história da gaivota e das promessas de Zorbas, promessas
- que, repetiram, os comprometiam a todos.
- Barlavento ouviu com movimentos contristados2 da cabeça.
- ‒ Pela tinta da lula! Acontecem no mar coisas terríveis. Às vezes pergunto a mim mesmo se
- alguns humanos enlouqueceram, ao tentarem fazer do oceano uma enorme lixeira. Acabo de
10 dragar3 a foz do Elba e nem podem imaginar a quantidade de imundície que as marés
- arrastam. Pela carapaça da tartaruga! Tirámos barris de inseticida, pneus e toneladas das
- malditas garrafas de plástico que os humanos deixam nas praias ‒ declarou Barlavento,
- enojado.
- ‒ Terrível! Terrível! Se as coisas continuarem assim, dentro de muito pouco tempo a palavra
15 contaminação ocupará todo o volume três, letra “C”, da enciclopédia ‒ declarou Sabetudo
- escandalizado.
- ‒ E que posso eu fazer por esse pobre pássaro? – perguntou Barlavento.
- ‒ Só tu, que conheces os segredos do mar, nos podes dizer se o passarito é macho ou
- fêmea ‒ respondeu Colonello.
20 Levaram-no até junto da gaivotinha, que dormia satisfeita depois de dar conta de uma lula
- trazida por Secretário, que, seguindo as instruções de Colonello, se encarregava da sua
- alimentação.
- Barlavento estendeu uma pata dianteira, examinou-lhe a cabeça e seguidamente levantou
- as penas que começavam a crescer-lhe na rabadilha4. O passarito procurou Zorbas com olhos
25 assustados.
- ‒ Pelas patas do caranguejo! ‒ exclamou divertido o gato de mar. ‒ É uma linda passarita
- que virá a pôr tantos ovos quantos os pelos que tenho no rabo!
- Zorbas lambeu a cabeça da pequena gaivota. Lamentou não ter perguntado à mãe o nome
- dela, pois se a filha estava destinada a prosseguir o voo interrompido pela negligência dos
30 humanos, seria bonito que tivesse o mesmo nome da mãe.
- ‒ Considerando que a avezinha teve a dita5 de ficar sob a nossa proteção ‒ miou Colonello
‒, proponho que lhe chamemos Ditosa.
Luis Sepúlveda, História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, Porto Editora, 2011, pp. 93-95.
VOCABULÁRIO:
1 dialeto: variedade de uma língua própria de uma região.
2 contristados: tristes.
3 dragar: limpar o fundo das águas navegáveis.

4 rabadilha: extremidade da região caudal das aves.


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1. Indica o motivo que levou Barlavento a ir ao bazar do Harry.

2. Transcreve uma expressão que comprove que Barlavento era a pessoa indicada para ajudar os
amigos.

3. Associa os comportamentos da coluna A às personagens que os evidenciam na coluna B.

Coluna A Coluna B

A. Indignação com a atitude dos humanos em relação ao ambiente. 1. Ditosa


B. Contentamento por ver chegar o amigo. 2. Colonello
C. Desconfiança perante a observação de que era alvo. 3. Zorbas
4. Barlavento
D. Tristeza por não saber o nome da mãe da gaivotinha.
5. Secretário

4. Identifica os recursos expressivos presentes nas expressões que se seguem.


a. “no rijo e ao mesmo tempo doce dialeto1 de Hamburgo.” (linha 1-2)

b. “ao tentarem fazer do oceano uma enorme lixeira.” (linha 9)

c. “exclamou divertido o gato de mar.” (linha 25)

5. “... proponho que lhe chamemos Ditosa.” (linha 31)


Explica a razão da escolha deste nome para a gaivotinha.
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Nome “AVÓ E NETO CONTRA VENTO E AREIA” Turma Data


4

Lê o excerto de “Avó e neto contra vento e areia”, de Teolinda Gersão, e consulta as notas de
vocabulário.

UM PASSEIO NA PRAIA
- Tinham ido à praia, porque estava uma manhã bonita.
- A avó vestia uma saia clara e levava o neto pela mão.
- Ia muito contente, e o seu coração cantava.
- O neto levava um balde, porque se propunha apanhar
5 conchas e búzios, como já fizera de outras vezes em que
- tinha ido à praia com a avó.
- Ir à praia com a avó era uma das melhores coisas que
- lhe podiam acontecer nos dias livres. Por isso também ele
- ia contente, e o balde dançava-lhe na mão.
10 A praia estava como devia estar, com sol e ondas baixas.
- Quase não havia vento, e a água do mar não estava fria. Por
- isso o neto teve muito tempo de procurar conchas e búzios
- e de
- tomar banho no mar. A avó sentou-se num rochedo, e ficou a olhar o neto, por detrás
15 dos óculos. Nunca se cansava de olhá-lo, porque o achava perfeito. Se pudesse mudar alguma
- coisa nele, não mudaria nada.
- Olhava para ele, também, para que não se perdesse. A mãe do neto confiava nela. Deixavao
- à sua guarda, em manhãs assim. A avó sentia-se orgulhosa: ainda era suficientemente forte
- para ter alguém por quem olhar. Ainda era uma avó útil, antes que viesse o tempo que mais
20 temia, em que poderia tornar-se um encargo1 para os outros. Mas na verdade essa ideia não a
- preocupava muito, porque tencionava morrer antes disso.
- Estava uma manhã tão boa que também a avó tirou a blusa e a saia e ficou em fato de
- banho. Depois tirou os óculos, que deixou em cima de um rochedo, e entrou no mar, atrás do
- neto, que nadava à sua frente, muito melhor e mais depressa do que ela.
25 – Não te afastes, dizia a avó, um pouco ofegante. Volta para trás!
- A avó fazia gestos com as mãos, para que voltasse, o neto ria-se, mergulhava e nadava para
- a frente, e depois regressava, ao encontro dela.
- A avó não sabia mergulhar, mas deixava o neto mergulhar sozinho. Ele só tinha cinco anos,
- mas nadava como um peixe.
30 No entanto nunca ia demasiado longe, nem mergulhava demasiado fundo, para não
assustar a avó. Sabia que ela era um bocado assustadiça, e ele gostava de protegê-la contra os
medos.
Teolinda Gersão, “Avó e neto contra vento e areia”, in A mulher que prendeu a chuva e outras histórias,
Lisboa, Sextante Editora, 2013, pp. 77-79.
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1. Identifica e caracteriza o espaço onde decorre a ação.

2. Associa os sentimentos indicados na coluna A às personagens a que se referem na coluna B.


Podes associar um sentimento a mais do que uma personagem.

Coluna A Coluna B

A. Alegria
B. Orgulho
1. Avó
C. Coragem
2. Neto
D. Preocupação
E. Respeito

3. Explica o significado da expressão “Ainda era uma avó útil” (linha 18)

4. Identifica os recursos expressivos presentes nas expressões que se seguem.


a. “mas nadava como um peixe.” (linha 28)

b. “No entanto nunca ia demasiado longe, nem mergulhava demasiado fundo” (linha 29)

5. Prova que o neto se preocupava com a avó.


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Nome “LADINO” Turma Data


5

Lê o excerto de “Ladino”, de Miguel Torga, e consulta as notas de vocabulário.


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LADINO
- E tanto fazia a Ti Maria do Carmo pôr espantalho no
- painço1, como não. Ladino, desde que não lhe acenassem
- com convite para arrozada numa panela, aos saltinhos ia
- enchendo a barriga. Depois, punha-se no fio do correio a ver
5 jogar o fito2, como quem fuma um cigarro. Desmancha-
- prazeres, o filho da professora aproximava-se a assobiar…
- Ah, mas isso é que não. Brincadeiras com fisgas, santa
- paciência. Ala! Dava corda ao motor, e ó pernas! Numa
- salve-rainha3, estava no Ribeiro de Anta. Aí, ao menos,
10 ninguém o afligia. Podia fartar-se em paz de sol e grainha4.
- – Que mais quer um homem?!
- – O compadre lá sabe…
- – Bem… Tudo é preciso… São necessidades da natureza… Desde que não se abuse…
- E continuava, muito santanário5, a catar o piolho. Depois, metia-se no banho.
15 – Rica areia tem aqui o cantoneiro, sim senhor!
- D. Micas concordava. E só as Trindades6 o traziam ao beiral da Casa Grande. Adormecia,
- então. E a sono solto, como um justo que era, passava a noite. Acordava de madrugada,
- quando a manhã rompia ao sinal de Tenório, o galo. Isto, no tempo quente. Porque no frio,
- caramba!, ou usava duma tática lá sua, ou morria gelado. Aquelas noites da Campeã, no
20 janeiro, só pedras é que podiam aguentá-las. E chegava-se à chaminé. Com o bafo do fogão
- sempre a coisa fiava de outra maneira.
- Ah, lá defender-se, sabia! A experiência para alguma coisa lhe havia de servir. Se via o caso
- malparado, até durante o dia punha o corpo no seguro. Bastava o vento soprar da serra.
- Largava a comedoria, e – forro da cozinha! Não havia outro remédio. Tudo menos uma
25 pneumonia!
- A classe tinha realmente um grande inimigo – o inverno. Mal o dezembro começava, só se
- ouviam lamúrias.
- – Isto é que vai um ano, ti Ladino!
- A Cacilda, com filhos serôdios7, e à rasca para os criar.
30 – Uma calamidade, realmente. Mas vocês não tomam juízo! É cada ninhada, que parecem
- ratas!
- – O destino quer assim…
– Lérias, mulher! O destino fazemo-lo nós…
Miguel Torga, “Ladino” in Bichos, Alfragide, BIS-LeYa, 2008, pp. 65-66.
VOCABULÁRIO:
1 painço: designação dada a várias plantas da família das gramíneas, de espigas e grãos semelhantes aos do milho.
2 fito: jogo da malha.
3 salve-rainha: oração.

4 grainha: grão ou semente.

5 muito santanário: muito santo, beato (quer hipócrita, quer de boa-fé).


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1. Assinala, com um X, as atividades típicas de Ladino ao longo do dia.

(A) Tomar conta dos pardalitos.


(B) Comer grãos.
(C) Distrair-se com jogos dos humanos.
(D) Brincar com fisgas.
(E) Apanhar sol.
(F) Atacar os espantalhos.
(G) Tomar banho.
(H) Procurar parasitas no seu corpo.
(I) Ouvir uma salve-rainha.

2. Relaciona as reações de Ladino na coluna A com as ameaças que sofre na coluna B.

Coluna A Coluna B

A. Indiferença 1. Brincadeira com a fisga do filho da professora


B. Fuga 2. Frio rigoroso do inverno
C. Busca de proteção 3. Espantalhos da Ti Maria do Carmo

3. Explica a intenção de Ladino quando afirma “Que mais quer um homem?!” (linha 11)

4. Mostra de que forma a experiência é importante na sobrevivência de Ladino.

5. Assinala, com um X, a opção que indica o recurso expressivo presente em “É cada ninhada, que
parecem ratas!” (linhas 29-30)

(A) Metáfora
(B) Personificação
(C) Enumeração
(D) Comparação
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Nome LEANDRO, REI DA HELÍRIA Turma Data


6

Lê o excerto de Leandro, Rei da Helíria, de Alice Vieira, e consulta as notas de vocabulário.


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A DECISÃO DO REI
- ESCRIVÃO: Aqui estou, senhor!
- REI: Escrevei então: que a partir de hoje ninguém neste
- reino ouse pronunciar o nome de Violeta, sob pena
- de ser levado à forca; que a partir de hoje Violeta
5 seja banida deste reino, e a ele nunca mais possa
- voltar; que saia imediatamente do nosso castelo,
- sem levar um tostão, nem manto, nem fita para o
- cabelo: irá tal qual está, e isso já é grande bondade
- nossa. Que morra à fome ou à sede, que se
10 esvaia
- em sangue nos tojos1 e nos cardos2 do caminho, que se perca nas florestas ou
- montanhas, nada disso me interessa. A partir deste momento tenho apenas duas filhas:
- Amarília e Hortênsia.
- VIOLETA: Mas, meu pai, eu amo-vos!
15 REI: Calai-vos, ingrata! Desaparecei da minha vista (Para o escrivão) Vai fazer cumprir as minhas
- ordens! E já!
- ESCRIVÃO: Sim, senhor!
- (Vai a sair, mas o rei volta a chamá-lo)
- REI: Ainda outra coisa, escrivão!
20 ESCRIVÃO: Dizei, senhor.
- REI: Que a partir de hoje, nem mais uma violeta seja plantada nos jardins deste reino. Nem mais
- uma, ouves bem o que te digo?
- ESCRIVÃO: Sim, senhor. (Sai)
- (Príncipe Reginaldo sai do lugar onde estava e coloca-se diante do rei)
25 PRÍNCIPE REGINALDO: Se alguém aqui é ingrato, não será decerto Violeta.
- REI: Quem sois vós, e que fazeis aqui?
- PRÍNCIPE REGINALDO: Vossa ira é tamanha que já nem do meu rosto vos lembrais, ainda não há
- muitos dias vos pedi a mão de Violeta, mas vós então dissestes que eu esperasse, que
- ela ainda era uma criança, que um dia se veria. Pois esse dia chegou, senhor. Mais cedo
30 do que eu pensava, mas chegou. Violeta partirá deste reino porque vós ordenastes, e
- nestes tempos em que vivemos, as ordens de um rei, por mais absurdas, têm de se
- cumprir. Mas não irá sozinha. Irá comigo, senhor. Casaremos assim que chegarmos ao
- meu reino.
- REI: Mas tereis vós ouvido bem o que acabei de dizer? Olhai que a partir de agora ela não será
35 mais minha filha. Ireis casar com uma vulgar plebeia3 que só terá de seu o que leva no
corpo.
PRÍNCIPE REGINALDO: De mais não necessito, senhor. O amor que sinto por vossa filha…
REI (aos gritos): Ela não é minha filha!

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria, Alfragide, Editorial Caminho, 2016, pp. 59-61.
Á
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1. Assinala, com um X, as opções que correspondem a decisões tomadas pelo Rei neste excerto.

(A) Pena de morte para quem falar da filha.


(B) Expulsão do reino.
(C) Proibição de dar o nome Violeta aos filhos.
(D) Confiscação dos bens de Violeta.
(E) Perda de estatuto de filha.
(F) Destruição dos bens pessoais de Violeta.
(G) Proibição de plantar violetas no reino.
(H) Decisão de deixar Violeta morrer à fome e sede.

2. Justifica a reação de Violeta à decisão do Rei.

3. Relaciona os traços caracterizadores do Rei na coluna A com os excertos que os evidenciam na


coluna B.

Coluna A Coluna B

A. Autoritário 1. “Ela não é minha filha!” (linha 35)


B. Irritado 2. “Vai fazer cumprir as minhas ordens!” (linhas 14-15)
C. Indelicado 3. “Calai-vos, ingrata!” (linha 14)
D. Agressivo 4. “Quem sois vós, e que fazeis aqui?” (linha 25)

4. Esclarece a intenção do Rei ao proibir a plantação de violetas no reino.

5. Refere duas funções das didascálias neste excerto.


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Nome POESIA – “POEMA DO FECHO ÉCLAIR” Turma Data


7

Lê o poema do António Gedeão e consulta as notas de vocabulário.

POEMA DO FECHO ÉCLAIR


- Filipe II tinha um colar de oiro, 30 Foi dono da Terra,
- tinha um colar de oiro com pedras rubis. - foi senhor do Mundo,
- Cingia a cintura com cinto de coiro, - nada lhe faltava,
- com fivela de oiro, - Filipe Segundo.
5 olho de perdiz.
- Tinha oiro e prata,
- Comia num prato 35 pedras nunca vistas,
- de prata lavrada - safira, topázios,
- girafa trufada1, - rubis, ametistas.
- rissóis de serpente. - Tinha tudo, tudo
10 O copo era um gomo - sem peso nem conta,
- que em flor desabrocha, 40 bragas9 de veludo,
- de cristal de rocha - peliças10 de lontra.
- do mais transparente. - Um homem tão grande
- tem tudo o que quer.
- Andava nas salas
15 forradas de Arrás2, - O que ele não tinha
- com panos por cima, 45 era um fecho éclair11
- pela frente e por trás.
António Gedeão, Obra completa,
- Tapetes flamengos, Lisboa, Relógio de Água, 2004.
- combates de galos, VOCABULÁRIO:
20 alões3 e podengos4, 1 trufada: recheada de trufas, um fungo muito raro e caro.
2 Arrás: tapeçaria usada para decorar paredes.
- falcões e cavalos. 3 alões: cães grandes.

4 podengos: cães de focinho alongado.

5 dossel: armação por cima da cama, onde se coloca um tecido.

- Dormia na cama 6 lhama: tecido brilhante de fio de ouro ou de prata.

- de prata maciça 7 roliça: de formas arredondadas.

8 tíbia: maior osso da perna.

- com dossel5 de lhama6 9 bragas: calças curtas.

25 de franja roliça7. 10 peliças: vestimentas forradas de peles.

11 fecho éclair: fecho com duas bandas de metal que se

- Na mesa do canto encaixam uma na outra, com um cursor para abrir e fechar.
- vermelho damasco,
- e a tíbia8 de um santo
- guardada num frasco.
Fichas de Educação Literária

1. Assinala, com um X, os elementos referidos para descrever a vida de Filipe II.

(A) Objetos de decoração com pedras


(B) Bens
(C) Decoração do palácio
(D) Estrutura do palácio
(E) Alimentação
(F) Vestuário
(G) Quarto
(H) Bebidas

2. Comprova cada um dos traços de Filipe II com uma citação do poema.


a. Gostos exóticos

b. Gosto por decoração de temas associados à caça

c. Religioso

d. Poderoso

e. Rico

3. Justifica a referência frequente a pedras e metais preciosos.

4. Explica a intenção da estrofe final.

5. Faz a análise formal do poema, referindo os aspetos apresentados.


a. Número de estrofes:
b. Designação das estrofes:
c. Rima da primeira estrofe:
d. Métrica da quinta estrofe:
Fichas de Educação Literária

Nome POESIA – “AMIGO” Turma Data


8

Lê o poema “Amigo”, de Alexandre O’Neill, e consulta as notas de vocabulário.

AMIGO
- Mal nos conhecemos
- Inaugurámos a palavra “amigo”.

- “Amigo” é um sorriso
- De boca em boca,
5 Um olhar bem limpo,
- Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
- Um coração pronto a pulsar
- Na nossa mão!

- “Amigo” (recordam-se, vocês aí,


10 Escrupulosos1 detritos2?)
- “Amigo” é o contrário de inimigo!

- “Amigo” é o erro corrigido,


- Não o erro perseguido, explorado,
- É a verdade partilhada, praticada.

15 “Amigo” é a solidão derrotada!

- “Amigo” é uma grande tarefa,


- Um trabalho sem fim,
- Um espaço útil, um tempo fértil,
- “Amigo” vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O’Neill, in Poesias Completas,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000.
VOCABULÁRIO:
1 escrupulosos: exigentes, rigorosos.
2 detritos: restos.
Fichas de Educação Literária

1. Seleciona o tema deste poema e transcreve um verso que comprove a tua escolha.

solidão  amizade  alegria  festa

2. Associa os versos da coluna A à sua possível interpretação na coluna B, de modo a obteres a


definição de “Amigo”.

Coluna A Coluna B

A. “é um sorriso / De boca em boca” (versos 3-4) 1. Bondade/partilha


B. “Um olhar bem limpo” (verso 5) 2. Amor/entrega
C. “Uma casa, mesmo modesta, que se oferece (verso 6) 3. Alegria/felicidade
D. “Um coração pronto a pulsar / Na nossa mão!” (versos 7-8) 4. Honestidade/sinceridade

3. Identifica os recursos expressivos presentes nos versos que se seguem.


a. “‘Amigo’ é um sorriso / De boca em boca” (versos 3-4)

b. “É a verdade partilhada, praticada.” (verso 14)

4. Explica o significado do verso “‘Amigo’ é a solidão derrotada!” (verso 15)

5. Com base na última estrofe, apresenta o significado de “Amigo” para o sujeito poético.

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