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Introdução

Recentemente, com o auxílio da internet, e por ser uma novidade barata e fácil de fazer, o injetor
caseiro de CO2 virou uma verdadeira coqueluche. Tem gente dizendo até que ele é "fundamental
para quem quer ter plantas no aquário". Como resultado, tem muita gente usando-o sem ter a
menor idéia de como realmente funciona, pra que serve, e qual a relação com os outros itens do
aquário. Baseiam-se apenas no conceito simplista de que "o CO2 ajuda no crescimento das
plantas" e saem usando. Parece que dá status dizer: "EU INJETO CO2", e todo mundo quer
aprender a montar um injetor, até quem nem tem plantas naturais!

Este artigo vai ensinar como montar o injetor caseiro (só precisa de umas poucas linhas para isso)
mas, antes disso, vamos discutir a real necessidade de injeção de CO2 e em que situações ele é
uma vantagem.

Afinal o CO2 é necessário?


A confusão já começa com a própria pergunta. Se você quer saber se o CO2 é necessário para ter
plantas no aquário, a resposta é simples: SIM! O CO2 é um ítem fundamental para a
fotossíntese das plantas, um processo onde elas pegam o CO2 e, com ajuda de luz e alguns
outros nutrientes, transformam-no em açúcares, carbohidratos e outros compostos vitais,
liberando oxigênio no final.

Sem o CO2 as plantas são incapazes de realizarem este metabolismo normal e morrem
rapidamente. Acontece que o CO2 é um composto que faz parte da nossa atmosfera (todo mundo
já ouviu falar do "efeito estufa" que é causado pelo excesso de CO2 no ar), e além disso ele
dissolve muito facilmente na água. Por isso toda água sempre tem algum teor de CO2 dissolvido
nela. A pergunta correta então é: "Afinal é necessário INJEÇÂO EXTRA de CO2 para as plantas
crescerem no aquário?" E a resposta para esta pergunta também é bastante simples:
DEPENDE! :-)

Como já dissemos, toda água tem um pouco de CO2 dissolvido nela, que vai ser usado pelas
plantas para realizar fotossíntese. Mas, dependendo dos outros ítens da sua montagem, esta

quantidade pode ou não ser suficiente para que as plantas realizem a f otossíntese a uma taxa

mínima necessária para ficarem saudáveis e bonitas. Alguns ítens muito importantes são:

 Os níveis de pH, dureza e temperatura da


água

 A quantidade e o tipo de filtragem

 A quantidade e o tipo de plantas

 A quantidade e o tipo de luz

 A quantidade e o tipo de nutrientes

Basta olhar para a lista acima para perceber que a questão é muito mais complexa. A química da
água influi porque ela determina diretamente qual a quantidade de CO2 dissolvido que consegue
ficar em equilíbrio com o CO2 gasoso na atmosfera. A filtragem e a circulação da água também
influem diretamente no teor de CO2, porque da mesma maneira que ele dissolve facilmente na
água, ele escapa da água com igual facilidade. Você pode pensar no seu aquário como uma
grande garrafa de refrigerante, porque o "gás" do refrigerante é justamente o CO2. O que
acontece quando a gente "agita" o refrigerante? Sai todo o gás, certo? O mesmo acontece com o
aquário...quanto mais a água for "agitada" por causa da filtragem e circulação, mais CO2 escapa e
menor é o teor dele dissolvido. A quantidade e o tipo de plantas também influi porque quanto
mais plantas, mais CO2 vão consumir e, se este começar a faltar elas vão competir entre si. Aí as
espécies mais resistentes e adaptáveis começam a prejudicar o crescimento das espécies mais
sensíveis. A luz e os nutrientes influem porque elas também fazem parte da fotossíntese. Como
dissemos, existe uma taxa mínima de fotossíntese para que elas fiquem saudáveis, mas se você
aumentar equilibradamente a oferta do trio LUZ/NUTRIENTES/CO2, as plantas irão alegremente
acelerar a taxa de fotossíntese a níveis anormalmente altos e crescer como loucas.

Chegamos então à seguinte conclusão: se você quer ter uma quantidade média de plantas
bonitas, saudáveis, com as folhas bem verdinhas, e a sua montagem é tal que iluminação e
nutrientes são adequados e o teor de CO2 dissolvido é suficiente para garantir o mínimo
necessário de fotossíntese, então a resposta é: NÂO! Você não precisa nem deve injetar CO2
extra. Agora, se você quer um aquário super-plantado, super-iluminado, com dezenas de espécies
variadas que cresçam super-rápido, soltando bolhas de oxigênio no fim do dia, daí sim vai ser
indispensável injetar CO2.

Mas o que eu faço então?


Bom, acima de tudo NUNCA, JAMAIS acredite que é só injetar CO2 e as folhas vão parar de
amarelar e morrer, e que as plantas vão começar a crescer que nem loucas. Isso está
completamente errado...CO2 não resolve o problema de plantas que estejam definhando! Você
estará apenas pondo em risco a qualidade e estabilidade do seu aquário, a vida das suas plantas e
principalmente a dos seus peixes. Se as suas plantas estão indo mal, primeiro você vai ter que
equilibrar todos os outros itens do aquário:

 Tenha uma iluminação adequada. A questão de iluminação para plantas também é


bastante complexa e extensa demais para colocar aqui, procure outros artigos específicos
sobre isso.

 Use algum fertilizante para o cascalho, e tenha uma camada de cascalho adequadamente
espessa (as raízes precisam crescer, em muitas espécies são elas que absorvem a maior
parte dos nutrientes);

 Use também um fertilizante líquido (em outras espécies os nutrientes são absorvidos mais
rapidamente pelas folhas);

 Tenha uma filtragem correta, nem muito forte e nem muito fraca, nunca esquecendo de
limpar o filtro e das trocas parciais. Evite aeradores e filtros que agitem demais a água.

 Mantenha preferencialmente o pH entre 6,2 e 7,4, dureza média para baixa, e


temperatura entre 20 e 27°C.
Fazendo isso, a maioria das plantas mais comuns muito provavelmente estarão saudáveis e com
um bom crescimento, pois a fotossíntese estará funcionando normalmente. Não se engane, nem
se deixe enganar, pensando que o crescimento está muito lento, pois na natureza, em geral o
crescimento também é lento. Se e quando tudo isso estiver funcionando bem, daí você pode
pensar em estimular as plantas com CO2 extra (aumentando a fotossíntese), fazendo com que
elas cresçam anormalmente rápidas, soltem bolhas de oxigênio etc. Porém quando injetar o CO2,
você vai ter que aumentar os outros nutrientes e a iluminação também, senão estará apenas
desperdiçando CO2. Muitas vezes já foi dito que a falta de um dos três elementos principais, para
a fotossíntese (nutrientes, iluminação e CO2), vai limitar o crescimento das plantas. Mas isso
também não é completamente correto, pois o excesso de apenas um elemento (ou de um
nutriente) pode simplesmente parar com o crescimento das plantas e/ou favorecer o crescimento
de algas.

Como montar o injetor


OK, se você leu e entendeu tudo que foi discutido acima, então agora está preparado para
aprender a montar e usar corretamente um injetor caseiro de CO2, que como já dissemos é
extremamente simples.

Material para a garrafa:

 1 garrafa de plástico de 2 litros, com tampa;

 1 mangueirinha fina de plástico (dessas usadas em aquários com bomba de ar);

 1 pedra porosa (opcional);

 Silicone para aquário.

Procedimento: Faça um furo na tampa da garrafa, de modo que a mangueirinha passe bem
apertada por ele. Insira a mangueira até ela entrar cerca de 3 cm abaixo da tampa, e depois
passe silicone em volta do furo para selar. Deixe secar por 1 dia. A mangueira deve ser comprida
o suficiente para ir da posição da garrafa até o fundo do aquário. Coloque uma pedra porosa na
saída da mangueira se quiser bolhas mais finas.

Material para a mistura:

 1 colher de chá de fermento BIOLÓGICO (preferencialmente em pó);


 2 a 3 xícaras de açúcar refinado;
 ½ colher de chá de Bicarbonato de Sódio;
 1,5 litros de água (preferencialmente de filtro, sem cloro).

Procedimento: Dissolva bem o fermento, o açúcar e o bicarbonato na água. Despeje dentro da


garrafa e feche bem. As bolhas em geral levam cerca de 1 hora para começarem a sair. Um injetor
bem montado vai ficar produzindo bolhas por cerca de 10-15 dias.
Apresentamos aqui apenas uma descrição bem básica de uma das maneiras de montá-lo. Existem
muitas variantes que podem ser encontrados em outros artigos na net. Também existem alguns
comentários e detalhes que podem ajudar quem quer usar ou otimizar o CO2 caseiro, mas isso
também fica pra outros artigos. Pois o objetivo principal aqui era de esclarecer e preparar o
interessado para que ele tome a sua decisão baseado em informações racionais e não em
modismo!

Eloy Labatut e Marcos Avila

Comentários de Leitores

Em relação à receita proposta para preparação da mistura, gostaria de apresentar uma pequena
variação que tem me garantido bons resultados e fazer uma ressalva: o fermento usado é o
Fermento BIOLÓGICO DESIDRATADO, vendido em sachês em qualquer supermercado (não
confundir com o Fermento Químico). A receita:

1. 1 colher de chá de fermento BIOLÓGICO DESIDRATADO;


2. 2 copos americanos de açúcar refinado, aprox. 200 g;

3. 1 colher de chá de Bicarbonato de Sódio;

4. 1,5 litros de água (filtrada).

Uma dica: Para acelerar a produção inicial do CO2 você pode dar uma leve amornada na água,
cerca de 35°C a 40°C no máximo, mais que isso corre-se o risco de matar o fermento e a solução
não funcionará, eu apenas vou experimentando a temperatura da água e quando sinto algo
aproximado como se ela estivesse no sol eu retiro do fogo e preparo a mistura, em pouco tempo
tem CO2 sendo emitido. A duração da solução varia conforme a quantidade de ingredientes, essa
receita garante uma boa produção por um tempo que pode variar de 15 a 20 dias, outro fator a
levar em consideração é a temperatura do local, se o clima estiver quente será produzido mais
CO2 e a solução durará um pouco menos dias e se estiver frio irá produzir menos CO2 e durará
mais alguns dias.

Contribuído por Alex Ribeiro

Ainda em cima do assunto levantado pelo Alex acima: no frio do Japão onde moro
atualmente, uma garrafada conforme a receita do artigo costuma durar mais de um mês! Eu
também sempre faço um pequeno pré-aquecimento da água usada na mistura (aqui é fácil pois a
água já sai na temperatura que eu quiser da torneira) mas há que se observar um cuidado
importante nesse caso: ao esfriar posteriormente dentro da garrafa já vedada, a água morna
contrai e provoca um efeito de vácuo que pode sugar a água do aquário para dentro da mistura,
através da mangueirinha (já aconteceu comigo umas 2-3 vezes em 7 anos fazendo CO2 caseiro).
Isso pode trazer complicações, por exemplo, despejando depois parte da mistura para dentro do
aquário (quando a pressão do CO2 tornar-se alta) e num caso extremo daria até para imaginar
um estouro da tampinha caso o CO2 não consiga empurrar toda a água de volta ao aquário.

Outra coisa: vale ressaltar também que qualquer vazamento, por mínimo que seja, costuma ser
suficiente para impedir a pressão de atingir o nível necessário para empurrar CO2 dentro do
aquário. Ou às vezes também o injetor funciona por uns 2-3 dias mas depois pára. Muita gente
acaba interpretando isso erroneamente em ambos os casos, pensando que a mistura não está
funcionando, mas ela está sim. Para verificar se existe algum vazamento pequeno, tem duas
maneiras fáceis: a primeira é fazer que nem borracheiro procurando furo em pneu: pegue um
balde de 20 L, encha com água e mergulhe a garrafa inteira (já selada e com a mistura dentro
dela já algum tempo) na posição ereta, claro. A segunda é pegar detergente de lavar louça e
misturar com um pouquinho de água até fazer uma espuma grossa, depois despejar isso por toda
volta da tampinha. Em qualquer um desses métodos, se houver vazamento você vai ver bolinhas
saindo continuamente de algum ponto da tampinha.
Contribuído por Marcos Avila

Uma pequena dica que gostaria de passar aos colegas diz respeito à vedação da tampa para
a garrafa. As tampas de refrigerante vêm com uma película plástica translúcida, geralmente
verde ou azul. Essa película se chama vedante e como o nome sugere, tem a função de vedar a
garrafa. Quando utilizada normalmente a garrafa, o vedante impede que o refrigerante perca seu
gás pela rosca da garrafa. Logo é importante que na montagem do injetor caseiro esse vedante
seja mantido na tampa. Ao fazer o furo, faça-o sem retirar esse vedante, pois ele será de grande
valia na prevenção de vazamentos pela rosca do injetro caseiro.

Contribuído por Marcelo Tomanik

Mais algumas dicas na vedação da garrafa para tornar este artigo mais completo: Faça o furo
na tampa da garrafa com furadeira (o furo fica sem ranhuras), com uma broca com um
diâmetro menor que o da mangueira. A mangueira tem que ser de silicone (flexivel), corte a sua
ponta em diagonal, para passar no furo que ficou um pouco menor. Puxe com força, ela vai passar
bem apertada, praticamente já vedando totalmente o furo. Passe silicone em volta apenas por
precaução (opcional).

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