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Ciência Política

Material teórico
Eleições e Participação Política

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Rodrigo Medina Zagni
Eleições e Participação Política

Nessa unidade, vamos tratar do tema “Eleições e Participação


Política”. Trataremos das raízes da democracia e seus sinais de
representatividade, passando pela Inglaterra moderna onde se verifica
a implementação de processos eleitorais, atendendo ao princípio da
eleição como processo de apontamento direto dos representantes que
representariam, indiretamente, os interesses do povo.

Sendo assim, este é um conteúdo fundamental não só porque nos


serve de base informativa para compreender como se dão as relações
entre democracia e representatividade no devir histórico; mas nos
servirá também de instrumento para compreensão das práticas
políticas que nos cercam em nosso cotidiano.
Para realizar a unidade, primeiro acesse o item Documentos da
Disciplina, onde você encontrará o Referencial Teórico, ou seja, o
texto que servirá de base para todas as demais atividades da unidade.
Leia então o texto que trata das teorias da cultura.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Quando votamos em um político, é para que ele nos represente; ou seja, para que seja
um representante de nossos interesses junto às estruturas de poder, aqueles que, por meio de
políticas públicas, teriam em tese poder efetivo para tornar nossas vidas melhores.

A representatividade, desde as bases de legitimidade do representante, consiste na


confiança. Se a legitimidade depende da relação de confiança, que faz com que nós
reconheçamos no político o representante direto de nossos interesses, o que dizer dos
históricos e recentes escândalos de corrupção nas mais variadas instâncias de poder no Brasil?

O que esses escândalos nos revelam?


Evidentemente, quando deparamo-nos com notícias de corrupção nas quais grupos de
interesse privado são beneficiados por esquemas fraudulentos operados por políticos, e que
esses grupos de interesse são aqueles que, também por meios fraudulentos e criminosos
financiam suas campanhas eleitorais, que em verdade quem está sendo representado por essa
classe de políticos?

A grande mídia também teria um papel decisivo a cumprir nessas relações, para
denunciar e cobrar ações punitivas que rompam com esses esquemas. Mas qual é a condição
de imparcialidade da grande mídia, para denunciar a uns segundo alguns critérios, e a outros
segundos outros imperativos?

Adicione-se a este quadro a questão do marketing político, cada vez mais voltado a
elaboração de uma imagem para aquele que se propõe representar os interesses do povo,
desassociada de projetos concretos para o exercício da representatividade.

Como isso só é possível? Haveria um rebaixamento do grau de consciência política do


eleitorado mediano brasileiro sobre os próprios princípios da democracia e da
representatividade?

Nesta unidade, vamos tratar criticamente dessas questões, escapando dos simplismos
aforísticos que via de regra, professando fé inabalável num complicado e desigual progresso e
no desenvolvimento capitalista, eivado de contradições, se limitam a rasas e ideológicas
definições.

Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo


teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos mais
sobre a dimensão cultural da condição humana.
Material Teórico

Democracia e Representatividade

Para definirmos “democracia”, sem dúvida alguma,


nosso maior desafio não consiste em localizar definições
reduzidas que, no âmbito da Filosofia e da Ciência Política,
acondicionaram seu conceito hermeticamente de forma
“estanque”; mas consiste em escolher dentre as muitas de suas
diferentes significações, para distintos tempos históricos, e
mesmo se tratando do mesmo período, entre locais e realidades
equidistantes, sabendo de antemão que é equívoca, nesse
sentido, toda e qualquer generalização.

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Imagem em: ava.ead.ftc.br/.../bloco1/tema1/pagina03.html

Segundo sua etimologia, o termo agrega as expressões


gregas “demos” (unidade de convívio nas cidades-
Estado gregas onde vivia a parcela menos privilegiada
daquela sociedade, motivo pelo qual se entende
também “demo” como indicativo de povo) e “kratia”
de “krátos” (governo, poder, autoridade), designando
um governo exercido pelo povo.

Escultura de Pisístrato.

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www.brasilescola.com/upload/e/atenas.jpg
Imagem em: www.brasilescola.com/mitologia/atenas.htm
A nomenclatura “Democracia” foi implantada na cidade-Estado grega Atenas como
projeto político no ano 506 a.C. por Clístenes (séc. VI a.C.), após a queda da tirania de
Pisístrato e da derrota do levante aristocrático apoiado por sua cidade-Estado rival, Esparta.

O regime que dividiu Atenas em


cem circunscrições administrativas
denominadas “demos”, levou à redução
do poder e do prestígio político da
nobreza, estendendo-se as decisões
políticas às camadas menos favorecidas da
população (agricultores, pastores,
mercadores, artesãos e marinheiros). Nesse
período e com a abertura das instituições
políticas, bem como seus mecanismos
decisórios, as parcelas da sociedade grega,
historicamente excluídas das estruturas de
poder e as instituições políticas gregas
Revolução Inglesa
passaram por profundas alterações.

Sob esse aspecto histórico linear, não somos


capazes de estabelecer parâmetros comparativos entre o
que vem sendo convencionado como democracia ao
redor do mundo, ao longo dos séculos; mais difícil ainda
seria fazê-lo com suas origens.

1775: a revolução americana

Sabemos que as monarquias absolutistas do


período moderno eram antidemocráticas por anular a
participação popular da tomada de decisões políticas
por parte dos reis e de seus mecanismos consultivos e,
da mesma forma, que as revoluções burguesas que
colocaram fim ao Antigo Regime (como a Revolução
Inglesa de 1640, a Revolução Americana de 1776, a
Revolução Francesa de 1789, a Revolução Holandesa
de 1830 etc.) não privilegiaram a participação popular
a ponto de levarem a qualidade de “democráticas”. Revolução francesa
Como regime político, no mundo
contemporâneo, a democracia vigente nos
países capitalistas se depara com talvez
seus maiores antagonismos: prevendo a
participação popular por meio da via
democrático-representativa corrompida
por interesses particularistas e em favor
dos beneficiados pela ordem econômica
vigente - cujas forças estão canalizadas

para a obtenção do lucro e a manutenção 397 × 283 - 58k - jpg -


do status quo -, temos como preteridos www.anovademocracia.com.br/27/24-1.jpg
Imagem em: lugardoconhecimento.wordpress.com/
aqueles que se veem excluídos das
relações de produção, de pobres a miseráveis.

Até mesmo os Estados Unidos da América


legitimaram suas investidas intervencionistas ao redor do
mundo, inclusive pela via militar, sob o pretexto de levar a
“democracia” aos países submetidos a regimes tirânicos.
Nesse caso, a democracia é entregue junto das bombas que
vitimam crianças no Iraque, bem como das restrições e
embargos econômicos a uma série de outras realidades.

No caso brasileiro, nossa democracia teve uma


dinâmica marcada por gigantescas fissuras, cujas
consequências não pudemos ainda minimizar em sua
totalidade: o Estado Novo de 1937, o golpe militar de 1964,
o recrudescimento do regime após dezembro de 1968, a
submissão política aos interesses dos EUA da década de
1950 até pelo menos 1980 e, em alguma medida, até os dias
atuais. Fatores que, em maior ou menor grau, implicaram na
inviabilidade de efetiva participação popular nos processos
decisórios sobre os rumos da sociedade brasileira, sociedade
sob influência direta da indústria cultural - o mass media -,
que também repercute no grau de consciência – ou
inconsciência - de classe, determinando uma morte do que o
filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) entendeu como 500 × 674 - 28k - jpg -
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dialética na forma da luta de classes, e a apatia daqueles que, 10/03/karl-marx.jpg
apesar de desacreditarem na via democrática corrompida Imagem
em: wtpotus.wordpress.com/.../
pelos interesses particularistas do capital na condução da coisa
pública, aceitam os incontáveis revezes de nossas dinâmicas
políticas apáticos.
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Veja abaixo a imagem em: wtpotus.wordpress.com/.../

Entre Representatividade e Individualismo

Os princípios da democracia representativa foram desenvolvidos na Inglaterra do


século XVII, no processo que culminou na revolução de 1640, a chamada Revolução Inglesa,
e que culminou na queda de um regime monárquico-absolutista (aquele em que um rei
concentrava absoluto poder sobre todas as camadas da sociedade, sem estar suscetível a
qualquer lei, haja vista ser o criador das leis) e na instauração de uma monarquia
constitucionalista, na qual o povo elegia seus representantes, na forma do parlamento, cuja
função seria zelar por seus interesses e promulgar uma lei maior, a qual todos deveriam
obediência, inclusive o rei.

Apesar de nas raízes da democracia já haver algum sinal de representatividade, é na


Inglaterra moderna que se verifica a implementação de processos eleitorais. É entre os ingleses
que se aplica o princípio da eleição como processo de apontamento direto dos representantes
que representariam, indiretamente, seus interesses. Com isso, uma classe política
representante dos interesses do povo, seria o interlocutor do povo frente às estruturas de
poder. O povo não participaria diretamente da política; mas, representados, teriam uma
participação, portanto, indireta.
Como resultado, as transformações
operadas na Inglaterra e que logo ganhariam a
Europa na forma das revoluções burguesas,
primordialmente após a Revolução Francesa que
dissemina os valores democrático-republicanos,
foi uma separação entre Estado e sociedade, nas
relações entre representantes e representados.

Contudo, representatividade e
democracia só são correspondentes, ou a
representação só se torna democrática, quando
suas relações forem caracterizadas pelos
seguintes aspectos:

Revolução Francesa

• Contestação – na medida em que os representantes do povo tenham autonomia


e liberdade para contestar as estruturas de poder vigentes para,
eventualmente, apontar abusos e transgressões do próprio soberano, no
interesse do bem público;

• Revisão – o que implica na possibilidade de reestruturar as instituições e


processos decisórios para aperfeiçoar a democracia na forma da
representatividade e da participação, atualizando-os frente às mudanças
históricas;

• Reconstrução de sua legitimidade – o que significa ratificar constantemente sua


relação com aqueles a quem deva representar, para evitar o perigo dos
políticos, em nome do povo, representarem tão somente seus próprios
interesses ou os interesses de um pequeno grupo de privilegiados numa
determinada sociedade.

Esses três aspectos devem se constituir como processo, dinâmico e contínuo, em que a
soberania popular se imponha à presença de um soberano; processo, portanto, de
democratização da representação.
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Veja abaixo a imagem em: vila.vgk.unizd.hr/~msoric07/Osobe/Habermas.htm

Desta forma, temos uma estrutura


democrática que, por sua vez, só se sustenta e se
organiza com base na informação, garantida
pela comunicação sobre a atuação dos
representantes do povo em relação aos seus
representados, o povo. Na figura da
comunicação, temos então as possibilidades de
planificação da democracia.

É claro que não se trata da comunicação


conforme a conhecemos hoje, na forma dos
conglomerados midiáticos (grandes emissoras de
televisão, mídia impressa, rádio etc.) que, em
maior ou menor grau, constroem nossa
percepção sobre a realidade social vinculados a
claros grupos de interesse, mas uma idealizada
comunicação imparcial que, só ela, daria conta
de fechar o elo de relações necessárias à
democracia representativa.

Fotografia de um grafite num muro da cidade de São Paulo.


As vinculações da mídia moderna com grupos restritos de interesses particularistas, que
evidentemente não possuem as mesmas motivações que o interesse comum, seriam
demonstrativos, segundo boa parte da crítica a essa hegemonia midiática, de uma grave crise
da democracia representativa.

Ao contrário da comunicação conforme definiu o filósofo e


sociólogo alemão Jurgen Habermas (1929-), como a
imparcial forma de entrelaçar povo, seus representantes e
as estruturas de poder, garantindo a soberania popular;
temos a manipulação da mídia, concentrada em nove
agências de notícias representantes do grande capital
internacional, forjando a opinião popular conforme
interesses econômicos privados ou objetivos particulares.

Nesse sentido, temos a comunicação, apropriada por interesses particularistas, não só


renegando seu papel crucial na construção da democracia; senão atentando contra seus
próprios valores fundacionais, na medida em que o cidadão é transformado em massa de
manobra, segundo os interesses de poucos, o que minaria as bases da soberania popular e
imporia uma soberania dos interesses do capital.

A mesma lógica se opera na própria relação


de representatividade, desde as bases de
legitimidade do representante, que consiste na
confiança. Se a legitimidade depende da relação de
confiança, que faz com que o representado
reconheça no político o representante direto de seus
interesses, o que dizer dos históricos e recentes
escândalos de corrupção nas mais variadas
instâncias de poder no Brasil? O que esses
escândalos nos revelam? Evidentemente, quando
nos deparamos com notícias de corrupção nas quais
grupos de interesse privado são beneficiados por
esquemas fraudulentos operados por políticos, e que
esses grupos de interesse são aqueles que, também 220 × 220 - 13k - jpg -
por meios fraudulentos e criminosos financiam suas img132.imageshack.us/img132/7435/vaderjn7.jpg
Veja abaixo a imagem em: superdicas.de/tag/star-wars
campanhas eleitorais, que em verdade quem está
sendo representado por essa classe de políticos
(não que todos o sejam) seriam esses grupos, e não
o eleitorado que, em verdade, o elegeu.
A grande mídia também tem um papel decisivo a cumprir nessas relações, para
denunciar e cobrar ações punitivas que rompam com esses esquemas. A questão a se pensar é
a condição de imparcialidade da grande mídia, para denunciar a uns segundo alguns critérios,
e a outros segundos outros imperativos.

Adicione-se a este quadro a questão do marketing político, cada vez mais voltado a
elaboração de uma imagem para aquele que se propõe representar os interesses do povo,
desassociada de projetos concretos para o exercício da representatividade. Evidentemente,
isso só é possível graças ao rebaixamento do grau de consciência política do eleitorado
mediano sobre os próprios princípios da democracia e da representatividade, pois cada vez
mais se verifica a ascensão de políticos que não detêm projetos claros para o exercício de sua
representatividade em nome do povo; o que não está desassociado do colapso do ensino e de
outros meios necessários à disseminação de valores democráticos e de cidadania.

Estamos, evidentemente, operando não com um conceito abstrato de cidadania, que


erroneamente se confunde com a obediência ao poder estabelecido e às leis vigentes; mas
uma cidadania compreendida como o reconhecimento e exercício de responsabilidades sobre
os rumos da própria sociedade, o que nunca levaria o eleitorado a tratar as eleições
democráticas como uma espécie de show midiático no qual se escolhe como candidato o mais
risível ou criativo dentre todos, em suas frases de efeito; mas aqueles detentores de projetos
concretos para a transformação da realidade social, em nome do bem comum.

Crises nas Instituições Democráticas Brasileiras e a ideia de


Democracia Direta

O advogado, escritor e jurista Fábio Konder Comparato


(1936-), no artigo intitulado “Democracia direta já”, publicado no
jornal “Folha de São Paulo” de 5 de agosto de 2005, em razão
da crise política então instaurada a partir de gravíssimas
denúncias de corrupção, apontou para a inocuidade dos artifícios
legais e institucionais que em seus dizeres tentariam “... remendar
o sistema eleitoral partidário ...” como se fosse uma solução
definitiva.

De fato, percebe-se que as saídas desenhadas


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3.bp.blogspot.com/.../s320/Kond historicamente para as crises políticas passam obrigatoriamente
er+Comparato.jpg “por dentro” do sistema democrático representativo, tanto para
Imagem
em: fabriciolimadapaz.blogspot.co casos de cassação de mandato presidencial, como na “transição
m/2009/07/uma-au... democrática pacífica”.
Não se estabeleceram ainda, na política brasileira, fronteiras nítidas entre o público e o
privado. De fato, há uma relação direta entre recentes escândalos de corrupção e a mais
longínqua história política brasileira.

O debate sobre o público e o privado passa


obrigatoriamente por nossa história republicana no seu
momento fundador, pós-1889 (ano da proclamação da
república), com o estabelecimento da assim chamada
“República Velha” ou “Primeira República”, pelo “voto de
cabresto”, pelos “currais eleitorais”, pelo coronelismo que
incorporou as “trocas de favores”, a obrigatoriedade de
nomear para cargos políticos públicos os agentes diretos
dos interesses privados daqueles que financiavam as
campanhas, concentrando nas mãos dos coronéis a
Polícia, o Judiciário, e as prefeituras. Tentando fugir dos
anacronismos que certamente serão apontados nessa
assertiva: muito mudou; mas muito permaneceu em
relação a antiquíssimas práticas que já constituem,
inegavelmente, uma complicada cultura política brasileira.

Apontar para os perigos em razão das saídas para as crises


políticas recentes terem passado novamente pelo sistema democrático
representativo, não deve ser lido como significativo de desprezo pela
participação popular preconizada no ideário democrático; mas
reconhecer a degeneração das instituições democráticas frente a uma
cultura política erigida por séculos de exercício de ranços históricos,
impregnados pelos interesses particularistas, que constituem o nó
central da frustração da efetiva participação popular, no mínimo
ilusória na história de nossas transformações políticas.

Estabelecendo as conexões entre a crise das instituições democráticas e nosso passado,


Comparato, citando o historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), aponta
para os antagonismos que a importação do modelo político europeu manifestou nos trópicos,
amalgamando-se no Brasil de acordo com os interesses das classes dominantes. Vide o
exemplo clássico da manutenção da ordem escravista após a independência e as resistências à
sua extinção quando dos debates que levariam à proclamação da república, em 1889.
50 × 292 - 44k - jpg - verdadesafantasia.files.wordpress.com/2007/10...

A mesma república que, importada da “civilização”


europeia, assentou-se conforme os interesses das mesmas
classes dominantes (proprietários de terras, clero e militares).

Paralelo semelhante representou nossa própria


independência, em 1822, ao contrário da América espanhola
e dos EUA que cortavam laços com o colonizador pela via
revolucionária, nosso antagônico império lê-se mais como
uma garantia de que a América teria um reinado nos moldes
das monarquias absolutistas do Antigo Regime, enquanto o
próprio Antigo Regime ruía na Europa com a expansão

napoleônica (a ponto de não ser possível seu


Napoleão atravessando os Alpes
restabelecimento se quer com a tentativa de restauração dada
no Congresso de Viena, em 1815, após a derrota de
Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo).
Desta forma operou o que Comparato chamou de “democracia sem povo”, projetando
a partir da indústria cultural a ilusão de que haveria participação popular na tomada de
decisões políticas, que interferem diretamente em nosso dia a dia, quando a participação se
limita de fato às eleições diretas.

Reunido desde setembro de 1814 até junho do ano seguinte, o Congresso de Viena foi uma das
conferências de maior importância na história das relações internacionais.

Desta forma, o cidadão é um mero espectador da História, ele é levado à crença


apática de que não pode interagir com a história, o que o leva ao conformismo e aos lugares
comuns, os sensos comuns nos quais aparece a imagem de que “político é tudo ladrão”
segundo a sabedoria popular, e “não adianta tentar fazer nada”, pois “nada vai mudar
mesmo”. Logo, não há ação política e até mesmo as eleições são banalizadas pelo próprio
eleitorado mediano.

Para que se opere uma democracia de fato, as classes oprimidas nas desiguais relações
de produção devem cobrar o seu papel nas decisões das quais não pode se furtar, haja vista o
perigo já tratado aqui de não estarem sendo, de fato, representadas. Desta forma, pode-se
conceber o estabelecimento do papel de agente histórico a cada um de nós, aptos a interagir
com a História, moldá-la e invertê-la enquanto a construímos no embate cotidiano das lutas
por direitos.
A necessidade de estabelecimento de
políticas que minimizem as desigualdades
sociais, que passa necessariamente pela re-
significação do que se entende por
democracia, fica evidente quando ao voltar
ao séc. XIX, citando o diplomata brasileiro
Hipólito José da Costa Pereira Furtado de
Mendonça (1774-1823) às vésperas da
independência, Comparato concluiu que a
participação popular na reestruturação
política opunha-se ao interesse das classes
dominantes e passava por seu desprezo ao
povo, tendo de fato boa parte de seus
privilégios assistidos pelo projeto imperial.

Para Comparato, o remédio acertado para


a corrupção dos agentes públicos, não mais
um “remendo”, seria a reformulação das
instituições criando-se aparatos adequados 300 × 361 - 55k - gif -
www.observatoriodaimprensa.com.br/images/alm0...
à construção de um “espírito público”. Propõe
ainda uma participação mais efetiva da
sociedade no debate e na tomada de decisões
políticas por meio de plebiscitos e referendos,
o que possibilitaria uma democracia mais
direta e menos representativa.

O autor propõe assim uma reformulação das instituições que já operam secularmente
em favor das classes dominantes, para que possam atender aos anseios populares, levando
assim a uma possível regeneração de nossa vida política.
Material Complementar

Ainda sobre o tema "eleições e participação política", indico os textos abaixo,


disponíveis na internet, a título de leitura complementar:

• ALMEIDA, Paulo Roberto de; "Florestan Fernandes e a idéia de revolução


burguesa no pensamento marxista brasileiro", disponível no link:
http://br.monografias.com/trabalhos/florestan-fernandes-ideia-revolucao-
burguesa/florestan-fernandes-ideia-revolucao-burguesa.shtml.

• "DEMOCRACIA GREGA"; disponível no link:


http://www.cm-palmela.pt/NR/rdonlyres/2699A4EF-465D-4C5E-B8D7-
C4544B81B2B0/39915/Democracia.pdf.

Indico ainda os filmes:

• O espetáculo democrático; dir.: Guilherme César, Brasil, documentário, colorido, 2004.

• Brasil: Muito Além do Cidadão Kane; dir.: Simon Hartog, Brasil, documentário,
colorido, 1993.
Referências

BARKER, Ernest, Sir. Teoria política grega. Brasília: UnB, 1978.

BARROS, Edgard Luiz; FARIA, Antonio Augusto. O retrato do velho. São Paulo: Atual,
1984.

BOBBIO, Norbert. Teoria Geral da Política. A Filosofia Política e as lições dos


clássicos. São Paulo: Campos, 2000.

Butler, David; Ranney, Austin. Referendus: a comparative study of pratice and


theory. Washington: American Enterprise Institute, 1978.

CARONE, Edgard. A Terceira República (1937-1945). São Paulo: DIFEL, 1976.

______. O Estado Novo (1937-1945). Rio de Janeiro: Difel, 1977.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2004.

COBLAN, Alfred. A interpretação social da revolução francesa. São Paulo: Gradiva,


1988.

FAYARD, J.; FIERRO, A.; TULARD, J. Historia da Revolução Francesa. Lisboa: Livos do
Brasil, 1989.

FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. A cidade, o estado, a pólis. São Paulo, 2009,
Disponível em: 22.09.2009 http://www.mae.usp.br/labeca.

FLORENZANO, Modesto. As revoluções burguesas. São Paulo: Brasiliense, 1997.

GAMBINI, Roberto. Duplo jogo de Getúlio Vargas: Influência americana e alemã no


Estado Negro. São Paulo: Ed. Símbolo, 1977.

MORTON, A.L. A História do povo inglês. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.

SEITENFUS, Ricardo. O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos (1930-


1942): O processo de envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio de
Janeiro: Cia Editora Nacional, 1985.

TOCQUEVILLE, Alexis de. O antigo regime e a revolução. Brasília: Ed. UnB, 1997.

TRABULSI, José Antonio Dabdab . Ensaio sobre a mobilização política na Grécia


antiga. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
Anotações

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