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Notas Brás cubas

Nas Memórias póstumas, esse procedimento paródico, antes mais discreto, torna-se
ostensivo, dominando a cena, da capo. O título inusitado alude às Memórias de além-
túmulo, de Chateaubriand, um gigante do romantismo francês, com uma diferença que
também é uma superioridade. Se Chateaubriand escreve, naturalmente, em vida para ser
lido depois de sua morte, Machado inventa o defunto autor Brás Cubas, que escreve
depois da própria morte para leitores (nós!) ainda presos às contingências do mundo dos
vivos. Desde a referência à obra de Chateaubriand, implícita no título, passando pela
paródia e pelas chacotas aos arroubos românticos, presentes já no início do romance —
por exemplo na cena da morte e do velório do defunto autor —, o aproveitamento da
dicção e do vocabulário românticos é frequente. Isso se dá sempre no sentido de
questionar os pressupostos e as crenças subjacentes ao surrado acervo romântico
onipresente nas leituras corriqueiras daquela altura do século. Por outro lado, a situação
do defunto em decomposição, lembrada na extravagante dedicatória aos vermes, remete
claramente ao gosto e ao mau gosto dos romances naturalistas, tão chegados a corpos
febricitantes e à matéria em estado de putrefação. A diferença fundamental é que aqui o
recurso não é tomado a sério, como costumava ocorrer nas narrativas do naturalismo,
mas assume contornos cômicos.
O autor/narrador não faz segredo dos diálogos peculiares e jocosos com os padrões
literários vigentes. Vale lembrar como Brás se refere a si mesmo, aos dezessete anos, no
seu despertar para a vida amorosa: Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que
entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um
corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi
buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o
estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar,
comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.

O projeto literário de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas é


caracterizado por uma narrativa não linear e uma perspectiva narrativa peculiar. O
romance é narrado por Brás Cubas, um defunto autor, que conta a sua própria história
após a morte. Essa estrutura narrativa inovadora, onde o protagonista narra sua vida
após sua morte, confere à obra um caráter irônico e satírico.
Machado de Assis utiliza a figura do narrador defunto para refletir sobre a condição
humana e explorar temas como a morte, a vida social, o amor, a hipocrisia e a
decadência moral da sociedade. Brás Cubas, como narrador defunto, possui uma visão
cética e desencantada do mundo, o que lhe permite fazer observações afiadas e críticas
sobre a sociedade em que viveu.
Além da estrutura narrativa inovadora, o estilo de escrita de Machado de Assis em
Memórias Póstumas de Brás Cubas é marcado pelo uso frequente de ironia, humor e
digressões. O autor brinca com as convenções literárias e desafia as expectativas do
leitor, criando um texto rico em ambiguidades e contradições.
O projeto literário de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas busca
romper com os padrões tradicionais da narrativa e da moralidade, questionando as
convenções sociais e literárias da época. O autor utiliza a figura do narrador defunto e
uma narrativa fragmentada para explorar temas universais e oferecer uma visão crítica e
perspicaz da condição humana.

Citar castello: Machado de Assis que procurou, livre de qualquer constrangimento,


revelar certos aspectos da natureza humana, friamente, porém com penetrante
observação psicológica e sem deixar de transparecer seu próprio sentimento de
humanidade, tolerância e compreensão.

CAPÍTULO VII / O DELÍRIO


Aspecto surrealista, o delírio de Brás Cubas ante a morte, faz referência à figuras cristãs
e de origem grega:
se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me
com um gesto peculiar a estes dois quadrúpedes:

CAPÍTULO LV / O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA


Há um diálogo sem palavras, sugerindo uma conversa íntima entre homem e mulher.
Adão e Eva (Brás Cubas e Virgília).

CAPÍTULO LXXI / O SENÃO DO LIVRO

. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica;


vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu
tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e
nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem...
CAPÍTULO XCVII / ENTRE A BOCA E A TESTA
Sinto que o leitor estremeceu, — ou devia estremecer. Naturalmente a última
palavra sugeriu-lhe três ou quatro reflexões.

CAPÍTULO CXIV / FIM DE UM DIÁLOGO


Ultimo diálogo entre Virgília e Brás Cubas.

CAPÍTULO CXXV / EPITÁFIO


Epitáfio de Nhã-Loló, no capítulo seguinte Brás cubas chega a conclusão de que, de
fato, não a amava.

CAPÍTULO CXXIX / SEM REMORSOS


Na Câmara, Brás ouve o discurso de Lobo Neves e não tem remorsos. Cita Aquiles e
lady Macbeth, personagem de Shakespeare

CAPÍTULO CXXX / PARA INTERCALAR NO CAP. CXXIX


Brás Cubas faz um adendo ao capítulo anterior, relatando a experiência de ter
encontrado Virgília anos atrás, em 1855.

CAPÍTULO CXXXVIII / A UM CRÍTICO


Meu caro crítico, [...] O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do
que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em
cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente.
Valha-me Deus! é preciso explicar tudo.

CAPÍTULO CXL / QUE EXPLICA O ANTERIOR


Está desiludido. Não consegue alcançar o posto de ministro pois perde a cadeira de
deputado.
Tudo tinha a aparência de uma conspiração das coisas contra o homem: e,
conquanto eu estivesse na minha sala, olhando para a minha chácara, sentado
na minha cadeira, ouvindo os meus pássaros, ao pé dos meus livros, alumiado
pelo meu sol, não chegava a curar-me das saudades daquela outra cadeira, que
não era minha.

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