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HUMANITAS, DEMASIADO HUMANITAS:

O DARWINISMO SOCIAL EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS


Júlio de Castilhos S. da Cunha Neto1
Eunice Piazza Gai2

Se o final do título, caro leitor, soprou-lhe uma brisa de previsibilidade, trate, o


quanto antes, de fechar a janela! Parece óbvio escolher como objeto de análise
justamente umas das maiores obras do grande nome da Literatura Brasileira. Você
deve imaginar: é como apanhar o doce mais gostoso da bandeja, sem querer
arriscar-se nos sabores dos demais. Certo? Perdôo-lhe o equívoco, mas não se
trata, aqui, de julgar o livro pela capa – e, agora, perdoe-me a pobreza da metáfora.
Machado de Assis certamente teve seus méritos por fazer dessa obra um clássico.
Dedico-me, portanto, a expor um dos aspectos deste sucesso.
Nem todos concordarão em considerar Memórias Póstumas de Brás Cubas o
romance mais contundente de Machado. Há quem prefira Dom Casmurro ou
Quincas Borba. Tudo bem. Mas não podemos ignorar que foram os registros do
“defunto-autor” que deram novos rumos a nossa Literatura. Através desse livro,
Machado despejou um grande balde de água fria na tradição romântica que, até
então, impunha um sentido estereotipado de brasilidade nas obras literárias – cujas
páginas eram impregnadas por tipos, como “o índio corajoso e exótico, ou o
sertanejo folclórico e pitoresco” (LAJOLO, 1980, p. 102).
Que ficassem as florestas com seus heróis de tanga e papagaios! O
interessante, para Machado de Assis, é o Rio de Janeiro da segunda metade do
século XIX – época em que a cidade, se ainda não “maravilhosa”, pelo menos
intensificava sua vida social. Surgiam os concertos e os bailes promovidos pelas
classes abastadas, embora os reais interesses não fossem restritos à boa música ou
à valsa com uma bela dama. “Além das funções recreativas, os salões tinham ainda
uma importância política, pois eram o lugar onde homens e posições destacadas se
encontravam, estreitavam relações e tomavam posições” (STEIN, 1984, p. 20). A
obsessão pelo status pegara carona no coche da ascensão cultural.

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Aluno do Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – área de concentração: Leitura
e Cognição. Bolsista CAPES. E-mail para contato: julinhoc@terra.com.br
2
Professora do Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), disciplina Estética e
Cognição. E-mail para contato: piazza@unisc.br
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Machado, enfim, não poderia ter feito melhor escolha: uma sociedade de
aparências, em que a mesquinharia e o oportunismo refugiam-se na moral e nos
costumes, torna-se de fato o cenário ideal para investigar a complexidade do ser
humano. É a que o autor se propõe, usando como ferramentas o humor e o
ceticismo. Em Memórias Póstumas, o primeiro manifesta-se nas contradições entre
fatos e idéias, nas frases curtas – mas de efeito – e na ironia das metáforas. O outro,
na refutação. “E a atividade refutatória não apresenta nenhuma outra intenção que
não seja a de mostrar que tudo, seres e atos, têm mais de uma face e, portanto, a
crença de uma única é sempre falsa” (GAI, 1997, p. 159).
Nem mesmo o protagonista é poupado do olhar analítico de Machado. Brás
Cubas, o personagem que, depois de morto, decide escrever suas memórias, passa
longe do perfil clássico do herói romântico. O rótulo de parasita é o que melhor lhe
convém. Herdeiro de uma família de grandes posses, foge do trabalho na mesma
intensidade em que persegue a fama fácil, o que se evidencia em passagens como
esta: “A Universidade esperava-me com as suas matérias árduas; estudei-as muito
mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel; deram-mo com a
solenidade do estilo” (MACHADO DE ASSIS, 1997, p. 64). Sua vida, portanto, é um
inventário de fracassos:
- apaixona-se por Marcela, uma prostituta de luxo pela qual gasta quase todo o
dinheiro da família;
- como forma de repreensão, é mandado pelo pai à Europa, para formar-se
numa universidade;
- após o retorno, apaixona-se pela humilde Eugênia, mas acaba deixando-a
para casar-se com Virgília, cujo pai lhe daria grande projeção política;
- perde Virgília e a carreira para Lobo Neves;
- torna-se amante de Virgília, com a qual teria um filho, mas o bebê morre antes
de nascer;
- separado de Virgília, fica noivo de Eulália, que morre vítima de uma epidemia;
- tenta, novamente em vão, a carreira política;
- e, no esforço derradeiro para alcançar a celebridade, trabalha na fórmula de
um remédio que levaria o seu nome, mas, ironicamente, uma pneumonia o debilita
até a morte.
Cansado, prezado leitor? Agradeço-lhe pela paciência, pois aqui dou início ao
ponto crucial do presente trabalho. Observando a síntese acima, pode-se afirmar
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que, à luz de uma sociedade movida pela cobiça, a relação entre vencedores e
vencidos rege boa parte das memórias de Brás Cubas. Temos, de fato, os itens
essenciais para uma competição: a vitória vem com a riqueza e a aceitação pública,
ao passo que os concorrentes compõem a alta roda da sociedade fluminense –
desde os senhores de terras e os políticos até os não tão providos de recursos,
como os pequenos comerciantes e os literários. E as regras? Estas, cada um
delimita ao seu bel prazer, conforme suas influências, valores materiais ou outros
artifícios. Os escravos, é claro, apenas assistem a esse jogo. De pé, mesmo.
Escorados no alambrado.
Em suma, os mais aptos sobrevivem e os menos dotados se extinguem. O
princípio é o mesmo da Teoria da Seleção Natural, de Charles Darwin. Mas, ao
invés de répteis em Galápagos, aqui nos referimos a outros seres rastejantes. Estes,
aliás, também se adaptam às exigências do meio para prevalecer sobre as demais.
O casamento em Memórias Póstumas, por exemplo, virou condição para ascender
socialmente. Assim recomenda Cotrim ao seu cunhado, Brás Cubas: “Acho que é
indispensável casar, principalmente tendo ambições políticas. Saiba que, na política,
o celibato é uma remora” (Ibidem, p. 206). A sociedade ditava a sua moral e, aos
ambiciosos, cabia a tarefa de cumprí-la – ainda que somente na aparência. É a
razão do seguinte lamento de Brás Cubas, ao perceber que sua amada Virgília
jamais abandonaria a família para que vivessem seu amor proibido:

Vi que era impossível separar as duas coisas que no espírito dela estavam
inteiramente ligadas: o nosso amor e a consideração pública. Virgília era
capaz de iguais e grandes sacrifícios para conservar ambas as vantagens,
e a fuga só lhe deixava uma (Ibidem, p. 135).

Da mesma forma, felizes os bem endinheirados, pois deles serão os corações e


mentes dos próximos! Para conquistar a simpatia de dona Plácida, moradora da
casa onde mantinha seus encontros secretos com Virgília, Brás Cubas dispensa-lhe
um agrado:

Não fui ingrato; fiz-lhe um pecúlio de cinco contos – os cinco contos


achados em Botafogo – como um pão para a velhice. Dona Plácida
agradeceu-me com lágrimas nos olhos, e nunca mais deixou de rezar por
mim, todas as noites, diante de uma imagem da Virgem, que tinha no
quarto. Foi assim que lhe acabou o nojo (Ibidem, p. 139).
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O curioso é que o próprio romance traz consigo um equivalente teórico desse


darwinismo social. Por acaso espanta-lhe, leitor, a inexistência até aqui de uma
menção sequer ao relevante personagem Quincas Borba? Recompenso-lhe a
tolerância, pois o demente mendigo, agora, torna-se alvo de nossa consideração. É
através dele que vem à tona o Humanitismo, sistema filosófico que afirma, acima de
tudo, o desejo pela vida – e condena o caráter regulador das convenções sociais, da
bondade e da religião. Sob a égide da teoria criada por Borba, a superioridade de
um ser sobre o outro é plenamente justificável, mesmo que exercida através da
violência. Guerras? Inveja? Traição? Humanitas está em todas elas.
Brás Cubas, por si só, era humanitas sem saber! A inveja que nutre pelo primo
de Virgília – escritor para o qual perde em talento e celebridade – ilustra com
propriedade esse aspecto de seu caráter:

Pobre Luís Dutra! Apenas publicava alguma coisa, corria à minha casa, e
entrava a girar em volta de mim, à espreita de um juízo, de uma palavra, de
um gesto, que lhe aprovasse a recente produção, eu falava-lhe de mil
coisas diferentes – do último baile do Catete, da discussão das câmaras de
berlindas e cavalos – de tudo, menos dos seus versos ou prosas. Ele
respondia-me, a princípio com animação, depois mais frouxo, torcia a
rédea da conversa para o assunto dele, abria um livro, perguntava-me se
tinha algum trabalho novo e eu dizia-lhe que sim ou que não, mas torcia a
rédea para o outro lado, e lá ia ele atrás de mim, até que empacava de
todo e saía triste. Minha intenção era fazê-lo duvidar de si mesmo,
desanimá-lo, eliminá-lo (Ibidem, p. 105).

Da mesma forma, podemos identificar traços de humanitas na conduta de


vários outros personagens: na vitória de Lobo Neves sobre Brás Cubas, na ganância
de Marcela e, até mesmo, na desforra do escravo Prudêncio já adulto, como revela o
defunto-autor:

Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas


recebidas – transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe
um freio na boca e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora,
porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia
trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele
se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as
quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto! (Ibidem, p.
137).

Talvez Machado não tivesse concebido Quincas Borba com um vasto bigode.
Entretanto, é inegável relacionar a filosofia que criara ao pensamento de Nietzsche.
O teórico alemão também defende “a necessidade vital que o homem tem de
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sempre lançar-se compulsivamente sobre os demais objetos da natureza e sobre o


resto da sociedade visando o seu domínio” (SCHILLING, 20--). A esse desejo,
Nietzsche confere o nome de vontade de poder (Wille zur Macht). Esta só pode ser
exercida pelos mais fortes, restando aos fracos unicamente a conformidade e a
obediência. O vitorioso, assim, estabelece suas próprias regras, sem restringi-las à
moral dos vencidos. É como na metáfora da borboleta preta abatida por Brás Cubas.
Note que nem mesmo o encanto de sua existência resiste à fria determinação do
homem:

Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe valeu a imensidade


azul, nem a alegria das flores, nem a pompa das folhas verdes, contra uma
toalha de rosto, dois palmos de linho cru. Vejam como é bom ser superior
às borboletas! Porque, é justo dizê-lo, se ela fosse azul, ou cor de laranja,
não teria mais segura a vida; não era impossível que eu a atravessasse
com um alfinete, para recreio dos olhos (MACHADO DE ASSIS, 1997, p.
84).

Não por acaso esperei até aqui para escrever as minhas considerações sobre
as figuras femininas em Memórias Póstumas. Elas, provavelmente, são as que
celebram com maior veemência a vontade de poder nas páginas do romance. Justo
as mulheres, relegadas a um segundo plano nos moldes sociais da época – à
sombra dos maridos e à frente dos afazeres do lar – praticam astutamente o poder
da persuasão. Seria uma estranha controvérsia. Mas, não. É Machado de Assis.
Marcela, por exemplo, vivia com os privilégios que lhe renderam suas breves
aventuras no coração dos homens. A casa era própria. Os móveis, sólidos, de
jacarandá lavrado. E a ornamentação – espelhos, jarras, baixelas da Índia – regalos
de amores passados. Trabalho árduo, para quê? O ofício de Marcela era a sedução,
que exercia com o talento de poucos. Brás Cubas, um de seus mais generosos
provedores, que o diga:

Era meu o universo; mas, ai triste! Não o era de graça. Foi-me preciso
coligir dinheiro, multiplicá-lo, inventá-lo. Primeiro explorei as larguezas de
meu pai; ele dava-me tudo o que eu lhe pedia sem repreensão sem
demora, sem frieza; dizia a todos que e era rapaz e que ele o fora também.
Mas a tal extremo chegou o abuso, que ele restringiu um pouco as
franquezas, depois mais, depois mais. Então recorri a minha mãe, e induzi-
a a desviar alguma coisa, que me dava às escondidas. Era pouco; lancei
mão de um recurso último: entrei a sacar sobre a herança de meu pai, a
assinar obrigações, que devia resgatar um dia com usura (Ibidem, p. 51).
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E é claro, leitor, não esquecerei a célebre frase “Marcela amou-me durante


quinze meses e onze contos de réis” (Ibidem, p. 54), que é a síntese do oportunismo
da cortesã espanhola. Saciado? Avancemos, então, ao exemplo seguinte.
Virgília, o grande amor da vida – e mesmo no pós-morte – de Brás Cubas,
também servia-se dessa vontade compulsiva de dominação. Não nos deixemos
enganar por seu aparente recato: Lobo Neves superou o defunto-autor, mas Virgília
venceu ambos. Se depôs Brás Cubas da condição de noivo para amá-lo na
clandestinidade, certamente o fez porque ascenderia socialmente ao lado de Lobo
Neves, mais ambicioso e decidido. A superioridade perante seus homens é evidente:
os dois nunca têm Virgília por completo; ela, por sua vez, usufrui o melhor de cada
um.
Mas a seleção natural é deveras exigente! Poderiam Virgília e Marcela
satisfazer suas intenções sem seus atributos físicos? Seria a filha do Conselheiro
Dutra o grande amor da vida de Brás Cubas, se este não a vislumbrasse como “uma
jóia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara” (Ibidem, p. 91)? Em Memórias Póstumas,
a beleza é vista pelos olhos de Nietzsche: como um valoroso instrumento a serviço
da vontade de poder. De conotação sexual, ela fascina, hipnotiza, ameaça
casamentos e arrebata fortunas. Sobre os encantos de Marcela, Brás Cubas
recorda: “pagava-me à farta os sacrifícios; espreitava os meus mais recônditos
pensamentos; não havia desejo a que não acudisse com alma, sem esforço, por
uma espécie de lei da consciência e necessidade do coração” (Ibidem, p. 53). Na
escala evolutiva da sociedade, a beleza estava para as mulheres como o pescoço
para as girafas: quanto maior, mais longe se alcança as recompensas.
Consegui convencer? Se ainda não, que tal mostrar-lhe o outro lado, o dos
vencidos? Eugênia, com certeza, é a vítima mais célebre da ditadura estética da
vontade de poder. Não que fosse privada de encantos! Pelo contrário: era moça de
graça virginal e belos olhos negros. O problema? Um defeito de nascença, que a
privou de melhor sorte na vida.

O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma
compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a
natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que
coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao
voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma (Ibidem, p.
86).
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A indignação é de Brás Cubas, que abandona a donzela para tentar a carreira


política a partir do casamento com a não menos bela – mas anatomicamente
perfeita – Virgília. Pobre Eugênia! Morreu sozinha e miserável, nas asas da
borboleta preta. É a implacável seleção natural: nascesse “azul”, talvez fosse salva.
A própria Marcela provou na pele – mesmo! – que a decadência vigora no
instante em que expira a beleza. Anos após entregar-lhe os onze contos de réis,
Brás Cubas espanta-se com a outrora linda cortesã:

Ao fundo, por trás do balcão, estava sentada uma mulher, cujo rosto
amarelo e bexiguento não se destacava logo, à primeira vista; mas logo
que se destacava era um espetáculo curioso. Não podia ter sido feia; ao
contrário, via-se que fora bonita, e não pouco bonita, mas a doença e uma
velhice precoce destruíam-lhe a flor das graças. As bexigas tinham sido
terríveis; os sinais, grandes e muitos, faziam saliências e encarnas,
declives e aclives, e davam uma sensação de lisa grossa, enormemente
grossa. [...] Essa mulher era Marcela (Ibidem, p. 92).

A essa altura, Marcela já não tinha mais a vida de privilégios que seus
admiradores lhe podiam comprar. Imagine, trabalhava! E isso também era um
anúncio da ruína. “Trabalhar só se admitia para o mundo feminino tratado por
Machado de Assis em última instância, como algo deplorável, quase vergonhoso”
(STEIN, 1984, p. 63). Numa sociedade em que as mulheres se valiam dos homens
para definir sua identidade, Marcela já não tinha mais artifícios para garantir a sua.
Que remédio? Deixou a vida como indigente.
Mas nem só do belo vive a vontade de poder. Tanto em Eugênia como na
Marcela decadente, podemos encontrar, ainda, outro fator determinante para a
extinção do ser na selva do falso moralismo: ambas contaminaram-se com o tédio
que, segundo Nietzsche, nada mais é do que a renúncia do desejo pela vida. Foge-
se, assim, do confronto com a natureza, pois não há mais forças para mobilização e
nem capacidade de transpor objetos, situações ou pessoas. Eugênia entregou-se ao
moralismo. Já Marcela esgotou seus recursos.
Foi esse mesmo tédio que penalizou Brás Cubas com uma vida sem
realizações, apesar de carregar consigo lampejos de humanitas. Como isso é
possível? Não podemos negar que o protagonista liberta-se da moralidade para
buscar o prazer nos braços de Virgília. Mas ela, segundo Gai (1997, p. 132),
“representa a única chance de felicidade do defunto autor durante sua vida terrena,
provavelmente o seu único foco de interesse”. Tão logo saísse da Gamboa, da
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casinha de Dona Plácida, atacava-lhe a “flor amarela, solitária e mórbida”


(MACHADO DE ASSIS, 1997, p. 72), a qual chamava hipocondria. Era o que o
tornava, acima de tudo, um fraco, um desinteressado, incapaz de atingir grandes
feitos e voltado apenas a mesquinharias. Enfim, uma presa fácil em meio à ordem
natural das coisas.
Encerro, caro leitor, não sem antes uma breve – embora intrigante –
constatação final: não é à toa que uma obra literária à luz de idéias e costumes do
século XIX exerça igual fascínio sobre os leitores de hoje. Desconsideremos os
coches, os lampiões, as cartolas e demais artigos de museu. O que nos resta?
Simplesmente uma sociedade que se pretende fundamentada em leis, tradições e
condutas morais, mas que esconde uma batalha incessante pela sobrevivência,
alheia a todo tipo de valores. Ora, pode ser nosso país, nossa cidade e, até mesmo,
nossa vizinhança! O darwinismo social transcendeu ao tempo, fazendo-nos
testemunhas e participantes deste jogo, em que só os mais fortes, ricos ou influentes
têm vez. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis consagra-se o
romancista do jeitinho brasileiro. E essa nossa “miséria” está longe de virar legado.
Tampouco, um capítulo final.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GAI, Eunice P. Sob o signo da incerteza: o ceticismo em Montaigne, Cervantes e


Machado de Assis. Santa Maria: UFSM, 1997.

LAJOLO, Marisa. Machado de Assis. São Paulo: Abril Educação, 1980.

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Porto


Alegre: L&PM 1997.

SCHILLING, Voltaire. O pensamento de Nietzsche. História por Voltaire Schilling.


Disponível em
<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento3.htm>.
Acesso em: 02 jun. 2005.

STEIN, Ingrid. Figuras femininas em Machado de Assis. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.

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