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cet. Paris:
UMA NOVA SORTE DE ACUMULAÇÃO
PRIMITIVA DO ESPAÇO
Barcelona.
e ament
hons Proa,
a CÉSAR RICARDO SIMONI SANTOS*
cesar simoni&Qhotmail.com
RESUMO
O espaço das metrópoles contemporâneas vem passando por sucessivas
transformações em sua forma física e em seus significados para os
processos de acumulação do capital e para a vida das sociedades urbanas.
A transformação, a transitoriedade e a efemeridade das configurações dos
territórios urbanos têm sido a marca das cidades modernas desde a
€ 3/07/2006
intensificação das atividades produtivas na modernidade. No entanto, o
17/09/2006 sentido dessas transformações nesta última passagem de século parece
respeitar a uma nova lógica de atuação dos poderes públicos. A
financeirização da economia e a insuficiência dos setores acionistas
apontam para o imobiliário como a última saída para a crise de rentabilidade
do capital. O Estado, que vem assumindo novos papéis diante da produção
dos novos territórios do urbano, investe-se na reordenação geográfica de
fragmentos da cidade para atender e atrair novos investimentos voláteis do
setor financeiro — não sem que haja consequências para a vida nas
metrópoles.
ABSTRACT
The space in contemporary metropolises has been going through
transformations in its shape and meanings towards processes of capital
accumulation and life of urban societies. The transformation, the
transitoriness and the ephemeral of the configuration of urban territories
have been the brand of modern cities since the intensification of the
productive activities in modernity, However, the direction of these
transformations in the last turn of century seems to have respected a new
EE. p. 81-100
CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 101-122
CÉSAR RICARDO SIMONI SANTOS
é
section — not without
and attract the new volatile investments of the financial Esses
consequences to the life in the metropolises. será
Real metrópol
KEY-WORDS: Urban space. Superaccumulation, Primitive accumulation.
e realiza
state. Devaluation.
Dad
capitais
significa
DO ESPAÇO URBANO E A REPRODUÇÃO circulaçã
A TRANSFORMAÇÃO
produz
e
DO CAPITAL
Para abordarmos o papel das cidades na realização dos capitais e
a sem
da financeirização da Nesse A
raiz das transformações do espaço urbano na era
com aqi
economia, é necessário recorrer às metamorfoses sofridas pelo capitalismo
durante as sucessivas crises que ele enfrenta de
maneira quase acumu
de um aparente vigoroso mercado imobiliário modetad
incondicional. O aparecimento
dos mecanismos de realizaçã
como condição sine qua non da preservação
reprodução capitálista deve tributo aos dispositivos
internos de uma que ce
intersetorial dos capitais deve
persistente lógica de acumulação. A migração
foi aquele que conduziu a
cons
de
ser o caminho trilhado pela análise, assim como
cor
do valor. sentice
uma nova entrada do espaço urbano nos processos de realização
passo. |
Ana Fani Alessandri Carlos chega a uma formulação a partir da qual o necessdá
meio e condição
espaço urbano se coloca ao mesmo tempo como produto, das ma
da atividade humana (CARLOS, 2001). Esses momentos simultâneos que técnices
históricas
atribuem concretude ao espaço social na vida das sociedades (199C. 4
podem ser lidos também como momentos de inserção
do espaço nas
teórica moac d
relações de reprodução do capital. No entanto, essa formulação pare E
olhar
recebe novos conteúdos de acordo com o instante sob o qual o
adentra na análise sobre o espaço urbano. À cidade efetiva seus momentos Nos te
dos mA
de inserção na lógica da reprodução capitalista exercendo papéis que se capita
diferenciam de acordo com as características do tipo de acumulação que se (ou rea
dá, predominantemente, num determinado momento e extensão das forças capite |
cada
produtivas nas sociedades contemporâneas. Ela atende, a
,
busca”
transformação em seu significado para os processos de valorização,
série de demandas sociais elaboradas no interior de uma potente lógica
voltada à acumulação.
a uma
em
para
oe
sua oc
Mesmo levando em consideração a morfologia da reprodução
capitalista no Brasil, típica de uma economia periférica que conjuga est
102 CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 1017-122 CTA
Dos NEGÓCIOS NA CIDADE À CIDADE COMO NEGÓCIO...
é
aspectos de um capitalismo maduro a formas primitivas de acumulação,
possível diagnosticar não só um comportamento econômico ajustado às
mais atuais tendências do capitalismo contemporâneo, como também
formas de atuação de mecanismos de acumulação intimamente
dependentes da reprodução de uma sociedade intensamente urbanizada.
Esses aspectos, ou melhor, esse elo da reprodução internacional do capital
será o alvo dessa breve apresentação sobre a mudança do papel das
metrópoles brasileiras e, mais especificamente, de São Paulo, na circulação
e realização do valor em escala internacional.
Dado o comportamento mais elementar de uma economia de tipo
capitalista, a reprodução ampliada do valor exige transformações
significativas no espaço urbano que comportem os mecanismos de
pução circulação e realização do capital. Ou seja, para se realizar a mais-valia
produzida no interior dos processos de produção, a circulação deve se dar
fais ea sem entraves que prejudiquem as taxas de retorno dos investimentos.
pção da Nesse sentido, as infra-estruturas espaciais e o espaço produzido de acordo
pialismo com algumas finalidades próprias de um estruturado mecanismo social de
| quase acumulação têm um papel decisivo a desempenhar. As cidades são
poniliário modeladas, em grande medida, para satisfazer as necessidades de
os de realização do valor produzido no interior das fábricas. As megaestruturas
que caracterizam as intervenções urbanas ao longo do século
XX, como à
e uma
e. deve construção de grandes avenidas, complexos viários, túneis, metrôs e vias
rduziu a de comunicação e circulação de dados (infovias) transformam o espaço no
kr valor. sentido de produzir uma infra-estrutura de monta que suporta, a cada novo
—
CÉSAR RICARDO SIMONI SANTOS
=—
VOLTADO À CIRCULAÇÃO de
Para montar seu argumento, Harvey recorre à teoria das crises repetít”q
elaborada em O Capital, por Karl Marx - já suficientemente trabalhada em
Los Límites del Capitalismo y la Teoria Marxista (HARVEY, 1990) -, mas
a a
sempre 4
também se refere exaustivamente à extensa produção marxista sobre o
próprio
tema: de Lênin e Rosa Luxemburgo à Robert Brenner. A tendência à
capita:sa
sobreacumulação, elaborada internamente às próprias estruturas simuitand
reprodutivas do capitalismo, demonstra exigir, nos textos de Harvey, uma correries
nova “ordenação espacial” capitalista da sociedade, toda vez que desponta produçãõae
como horizonte inevitável dos processos de acumulação (HARVEY, 2005). interio"
Das duas formas em que pode aparecer, seja a do expansionismo
capita! a
imperialista ou a da elaboração interna de novas estruturas espaciais para a da circo
reprodução do valor, a última é a que mais nos interessa por aqui — mesmo
quando, o que é relativamente comum, aparecem conjugadas. A
suas ca
inicial. M
reprodução do espaço urbano como fator indiscutível da circulação e lucrativo |
realização capitalista do valor exige a ininterrupta produção de novas infra- fabris. “a
estruturas espaciais que atribuem agilidade aos momentos e produçãõa
transfigurações do capital e seus ciclos de valorização. A ligação entre as dispênc
crises e a produção de uma nova realidade espaço-temporal do capitalismo capita! —|
nas metrópoles modernas é o eixo de transformação do espaço urbano e sem à
predominante durante quase todo o século XX. mercacod
Sumariamente, o que define uma crise de sobreacumulação na no ato d
economia capitalista se remete a uma situação em que um excedente de investima
capital aparece e (a isso se deve sua condição de “excedente”) não cicloce
encontra formas e meios lucrativos de investimento; ou seja, se permanecer perma-re
nessa condição, esse excedente gerado encontrará lugar somente fora dos segure"
circuitos de valorização e tendo, dessa forma, negada sua existência formas 4
enquanto capital, será desvalorizado. A impossibilidade de se absorver
lucrativamente esses excedentes, em inversões correntes numa economia
propra
se terê 4
x
determinada, sugere, portanto - para que não se perca capital novo e, essa c q
assim, não se comprometa os mecanismos de acumulação e valorização
capitalistas -, uma reestruturação generalizada dos processos de circulação
invest
ra
suportaca
e realização da mais-valia gerada. Uma nova condição em que se absorva demanca
CIDADES <
CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 101-122
Dos NEGÓCIOS NA CIDADE À CIDADE COMO NEGÓCIO...
RR
A circulação do capital pressupõe formas de comunicação e transporte, 38 DÁ
assim como condições de deslocamento e espaços propícios (disponíveis,
segundo a lógica da acumulação), ajustados de acordo com os níveis de
E
demanda próprios dos mais atuais mecanismos de acumulação. À
velocidade de circulação das informações, dos objetos técnicos, do dinheiro,
de trabalhadores, de mercadorias até os seus mercados finais tem relevante
importância para o uso lucrativo dos capitais. Na medida em que se operam
3
eco
ex
descontinuidades nos mecanismos temporais de acumulação do capital,
tem-se, necessariamente, escassez num dos pólos do processo de
caoi
is prima,
Bromais geografia contemporânea, a organização dos espaços urbanos, regionais,
becer em nacionais ou mundial, revela o espaço (e todo ele) como uma extensão das
estratégias materializadas de realização da mais-valia. A fluidez espaço-
er esse
uma
temporal é o veio que garante a reprodução de patamares cada vez
mais
o. elevados de produtividade do trabalho; o aumento da velocidade dos
rcadorias
)mo dos deslocamentos e das comunicações, conquistado a partir de uma nova (e
reinvestimento de
ima de sempre nova) organização do espaço, gera a condição de
capitais em patamares evolutivos e sucessivamente superiores.
hiação é
As estruturas reprodutivas de fora da fábrica, para pensarmos ainda no
ral está
se suas caso estrito dos setores manufatureiros, devem dar o suporte necessário
capitalista é
je-cadoria para a realização do sistema produtivo. O espaço de circulação
produzido de acordo com as necessidades do ajuste entre os momentos da
|
ez em momentos
,
matéria- circulação e da produção do valor. Um descompasso entre esses
bier mais pode ser trágico do ponto de vista da realização do valor que assegura a
reprodução do modo de produção capitalista. Uma crise de
Exá pouco
: sugerem sobreacumulação pode surgir, por exemplo, de uma produção altamente
tecnificada e veloz na justa medida em que os meios de deslocamento, as
p oblemas
om base formas de consumo e o acesso aos mercados de consumo ou capital
| segundo sugiram uma velocidade de circulação mais baixa. As transformações no
âmbito da produção (tecnificação, gerência, logística) devem ser seguidas
de perto por uma cambiante geografia urbana e regional que dê suporte aos
rensporte,
kooníveis, novos padrões de acumulação. A industrialização brasileira demonstra bem
| níveis de essa relação. A “opção” por São Paulo, como o “pólo dinâmico” dessa nova
fase da economia brasileira, teve íntimas ligações, segundo Milton Santos,
ração. À
b dinheiro, com a infra-estrutura herdada do período do café (SANTOS, 2005). A rede
de transportes e comunicação produzida segundo os elevados padrões da
| -elevante economia primário-exportadora desse período serviu como o apanágio de
ke operam
do capital, um território que daria a infra-estrutura necessária para a circulação
cesso de capitalista segundo aqueles níveis de exigência de nossa primeira fase
industrial. O espaço urbano e intra-regional amparava OS padrões
A
empresas de telecomunicações ao se enredarem às voltas com o
gs
|
produção
obírário
obiliário e
e valorização capitalista conta com mecanismos próprios a partir
dos quais o
devem ser
Esses mecanismos
tidas dos processo de reprodução do valor se realiza.
expostos a fim de demonstrar o aljamento da sociedade
do uso e dos
"rs a novas Um processo negativo à própria
de 1990. processos de produção do espaço social.
condição, que é ao mesmo tempo real e conceitual, do espaço social.
- as ações
“-evitalizar” Francisco de Oliveira, na sua Critica à Razão Dualista, chama a
de uma economia
atenção, no que diz respeito ao processo de formação
re poderia
como um capitalista em território brasileiro, para a existência de uma
“reserva de
de frente
k=
111
p= p 1017-122 CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 101-122
CÉSAR RICARDO SIMONI SANTOS —————
b="as para a capitais batem em retirada e deixam aos circuitos inferiores da economia '
Fr co espaço aquele espaço pouco ajustado às demandas dos novíssimos investimentos.
p “esponsável A economia informal — ambuiantes, camelôs e um comércio varejista que se
ção cidadão- alimentam de formas residuais de consumo para os padrões atuais de '
'ce perto, no circulação capitalista — se apodera dessas antigas estruturas desvalorizadas
produtivos do e conserva, numa espécie de sobrevida, o espaço produzido segundo os
padrões de inversão de ciclos anteriores. A desvalorização é visível em
seus efeitos, seja para novas possibilidades de investimentos, seja para a
i
pc ário e as
| .salorização- vida urbana que se desenrola no rastro de destruição deixado pelo
ros p. 1071-122
CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 101-122 17
1
R
CÉSAR RICARDO SIMON! SANTOS
Dados levantados em pesquisa nos anos de 1998 e 1999 na região da Nova Faria Lima por
*?
r vigoroso HARVEY, David. Los límites del capitalismo y la teoría Marxista. México:
= espaços Fondo de Cultura Econômica, 1990. 469 p.
p entre os . O Novo Imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004. 201 p.
num dado
Recebido em 08/08/2006
Aceito em 18/10/2006
LESJITA