Você está na página 1de 6

Literatura Brasileira III- 4º ano- 2023

Prof. Catia Toledo

Discente: Terrimar dos Reis Takasaki

Avaliação do segundo bimestre

1- Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes são quatro poetas

inseridos, didaticamente, no segundo momento do Modernismo Brasileiro.

Leia o fragmento do poema Místico, de Vinícius de Moraes. Identifique e comente 3

características que unam os poetas citados e identifiquem o momento de que são

representantes. Considere temática e forma. Desenvolva sua resposta. (3,0)

O ar está cheio de murmúrios misteriosos

E na névoa clara das coisas há um vago sentido de espiritualização…

Tudo está cheio de ruídos sonolentos

Que vêm do céu, que vêm do chão

E que esmagam o infinito do meu desespero.

Através do tenuíssimo de névoa que o céu cobre

Eu sinto a luz desesperadamente

Bater no fosco da bruma que a suspende.

As grandes nuvens brancas e paradas

– Suspensas e paradas Como aves solícitas de luz –

Ritmam interiormente o movimento da luz:

Dão ao lago do céu

A beleza plácida dos grandes blocos de gelo.

No olhar aberto que eu ponho nas coisas do alto

Há todo um amor à divindade.

No coração aberto que eu tenho para as coisas do alto

Há todo um amor ao mundo.

No espírito que eu tenho embebido das coisas do alto

Há toda uma compreensão.

Almas que povoais o caminho de luz


Que, longas, passeais nas noites lindas

Que andais suspensas a caminhar no sentido da luz

O que buscais, almas irmãs da minha?

Por que vos arrastais dentro da noite murmurosa

Com os vossos braços longos em atitude de êxtase?

Vedes alguma coisa

Que esta luz que me ofusca esconde à minha visão?

Sentis alguma coisa

Que eu não sinta talvez?

Por que as vossas mãos de nuvem e névoa

Se espalmam na suprema adoração?

É o castigo, talvez?

Eu já de há muito tempo vos espio

Na vossa estranha caminhada.

Como quisera estar entre o vosso cortejo

Para viver entre vós a minha vida humana...

Talvez, unido a vós, solto por entre vós

Eu pudesse quebrar os grilhões que vos prendem...

R: O fragmento do poema "Místico", de Vinícius de Moraes, revela características que unem os


poetas Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes, situando-os na
segunda geração do Modernismo Brasileiro. É possível identificar as características que os
aproximam, esses poetas:

Espiritualização e Misticismo:

Todos os poetas compartilham uma inclinação em direção ao misticismo e à espiritualização.


No fragmento de Vinícius de Moraes, percebemos a presença de uma atmosfera misteriosa,
onde o poeta busca uma conexão entre o divino e o terreno. Os elementos como "murmúrios
misteriosos," "névoa clara das coisas," e a referência à divindade revelam essa busca espiritual.
Essa temática transcendental é comum nos poemas dos quatro poetas mencionados.

Linguagem Sensorial e Simbolismo:

Os poetas compartilham uma abordagem sensorial e simbólica em sua expressão artística.


Vinícius de Moraes utiliza uma linguagem poética rica em imagens sensoriais, como "céu
coberto de névoa," "luz desesperadamente," e "nuvens brancas e paradas." Esses elementos
não são apenas descritivos, mas carregam significados simbólicos, contribuindo para a
profundidade e complexidade da obra. O uso do simbolismo é uma característica comum entre
os quatro poetas modernistas.

Busca pela Transcendência e Reflexão Existencial:

Há uma busca constante pela transcendência e uma profunda reflexão existencial presente nos
versos. No poema de Vinícius de Moraes, a exploração das almas que buscam a luz e a
referência ao desejo de quebrar grilhões sugerem uma inquietação espiritual e uma busca por
significado na existência. Essa reflexão profunda sobre a vida, o divino e o humano é uma
característica marcante nos poetas do segundo momento do Modernismo.

A espiritualização, o uso de uma linguagem sensorial e simbólica, e a busca pela


transcendência e reflexão existencial são características que unem Jorge de Lima, Cecília
Meireles, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes, marcando-os como representantes do segundo
momento do Modernismo Brasileiro. Esses elementos contribuem para a riqueza e
complexidade de suas obras poéticas sendo um marco para a nossa literatura brasileira
marcada pela genialidade desses grandes poetas citados.

2- O poema a seguir é de Carlos Drummond de Andrade, que está inserido no mesmo período

estético no qual se enquadram os poetas citados na questão anterior. Compare os poemas

apresentados (o de Vinícius e o de Drummond), procurando estabelecer semelhanças e

diferenças entre eles. Desenvolva sua resposta. (3,0)

Igreja

Tijolo

areia

andaime

água

tijolo.

O canto dos homens trabalhando trabalhando

mais perto do céu

cada vez mais perto

mais

— a torre.

E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.

O padre que fala do inferno

sem nunca ter ido lá.

Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.


Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.

A manhã pintou-se de azul.

No adro ficou o ateu,

no alto fica Deus.

Domingo...

Bem bão! Bem bão!

Os serafins, no meio, entoam quii ieleisão.

R: Ambos os poemas, "Místico" de Vinícius de Moraes e "Igreja" de Carlos Drummond de


Andrade, pertencem ao mesmo período estético, o segundo momento do Modernismo
Brasileiro, nos dois poemas destacam-se suas semelhanças e diferenças, por exemplo, ambos
os poemas abordam temas relacionados à espiritualidade e à religiosidade. Em "Místico,"
Vinícius de Moraes explora a busca por uma conexão com o divino, enquanto em "Igreja,"
Drummond focaliza a atmosfera religiosa em torno de uma igreja. Ambos os poetas
compartilham uma sensibilidade espiritual, cada um à sua maneira.

Tanto Vinícius quanto Drummond fazem uso de elementos simbólicos em seus poemas.
Vinícius utiliza imagens como "nuvens brancas e paradas" e "lago do céu" para transmitir
significados mais profundos. Da mesma forma, Drummond utiliza símbolos como "torre" e
"sino" para representar elementos da experiência religiosa. Ambos incorporam simbolismo
para enriquecer a expressão poética.

Há uma certa crítica subjacente nos dois poemas. Vinícius, em "Místico," parece questionar a
busca espiritual das almas e expressa um desejo de libertação dos grilhões. Em "Igreja,"
Drummond adota uma perspectiva crítica ao descrever o padre que fala do inferno sem ter ido
lá, e ao mencionar o ateu no adro, contrastando-o com Deus no alto. Ambos os poetas
apresentam uma reflexão crítica sobre elementos religiosos.

As diferenças encontradas entre poetas são que, Vinícius de Moraes utiliza um estilo mais
fluido e contemplativo em "Místico," com uma atenção especial à musicalidade e à expressão
emocional. Por outro lado, Drummond adota um estilo mais direto e conciso em "Igreja," com
versos curtos e uma abordagem mais objetiva. A diferença no ritmo e na estrutura contribui
para a distinção entre os dois poemas. O Foco Temático também denota tal discrepância,
enquanto Vinícius concentra-se na busca espiritual e na conexão com o divino, Drummond
direciona seu foco para a cena ao redor de uma igreja, observando a litania dos perdões, as
pernas de seda ajoelhadas e o sino que canta saudade. Suas abordagens temáticas são
distintas, embora ambas estejam enraizadas na espiritualidade.

Os dois poetas compartilham semelhanças em sua sensibilidade espiritual e uso de


simbolismo, mas diferem em termos de estilo, ritmo e foco temático. Cada poeta expressa, à
sua maneira, as complexidades da experiência humana dentro do contexto do Modernismo
Brasileiro.
3- “Poema de sete faces” é um dos poemas mais icônicos de Carlos Drummond de

Andrade. Leia-o para responder a esta questão.

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque


botam a gente comovido como o diabo.

a) A partir da primeira estrofe, como o eu poético caracteriza sua relação com o mundo? Essa

relação permanece ao longo do poema ou se altera? Explique. (2,0)

A caracterização da relação com o mundo na primeira estrofe do "Poema de sete faces," o eu


poético caracteriza-se como sendo influenciada por um "anjo torto," que o aconselha a ser
"gauche na vida." A expressão sugere uma orientação para ser desajeitado, diferente, fora dos
padrões convencionais. Essa relação inicial é marcada por uma orientação peculiar, como se o
eu poético estivesse destinado a uma trajetória única e não convencional.

Ao longo do poema, a relação do eu poético com o mundo se desenvolve e adquire nuances de


observação e questionamento. Ele observa as casas espiando os homens, a tarde que poderia
ser azul se não fosse pelos desejos, e o bonde cheio de pernas. Há uma percepção crítica da
sociedade e uma reflexão sobre as complexidades do desejo humano. A pergunta final, "Por
que me abandonaste, se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco," indica uma
mudança na relação do eu poético com o mundo, passando de uma orientação inicial para
uma reflexão mais profunda e questionadora sobre sua própria fragilidade e as circunstâncias
da vida.

b) Encontram-se , nesse poema, exemplos de metonímia e de prosopopeia. Localize e explique

as ocorrências. (2,0)

Em "O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas, pretas, amarelas," a utilização da palavra
"pernas" é um exemplo de metonímia. Aqui, "pernas" é usada para representar as pessoas, o
todo, por meio de uma parte, as pernas. O eu poético observa a diversidade das pessoas que
compõem a sociedade, representadas metonimicamente pelas pernas que passam no bonde.

O trecho "Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu
era fraco" contém elementos de prosopopeia, pois atribui características humanas (a
capacidade de saber, de abandonar) a Deus. Essa figura de linguagem intensifica a
expressividade do questionamento do eu poético sobre sua relação com a divindade e a
compreensão de sua própria fraqueza.

Você também pode gostar