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XP Macro: Maiores gastos elevam estimativas de déficit neste ano

O governo central divulgou hoje o terceiro Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e


Despesas Primárias. As estimativas do resultado primário para este ano foram atualizadas de R$
136,2 bilhões (1,3% do PIB) para R$ 145,4 (1,4% do PIB). Apesar do déficit maior, o resultado
segue acima da meta de resultado primário de R$ 238,2 bilhões (2,2% do PIB).

A estimativa de receita líquida caiu R$ 2,0 bilhões em relação ao último relatório. O resultado
decorre de uma queda de cerca de R$ 9,3 bilhões na arrecadação da previdência devido à revisão
para baixo das estimativas de massa salarial nominal. Além disso, as estimativas do PIS/Cofins
foram revisadas para baixo em R$ 8,4 bilhões, principalmente devido à queda da inflação, e
dividendos e ações em R$ 3,1 bilhões. Essas variações negativas foram parcialmente compensadas
por aumentos em receitas não administradas (R$ 12,1 bilhões), refletindo receitas relacionadas a
depósitos judiciais, imposto de renda (R$ 6,5 bilhões) e contribuição social sobre o lucro líquido
(CSLL, R$ 3,6 bilhões).

As despesas totais subiram R$ 7,2 bilhões (0,3%). Os principais impulsionadores dessa variação
foram o aumento dos repasses a estados e municípios (R$ 4,6 bilhões), devido ao acordo referente
às perdas de ICMS por mudanças na tributação de combustíveis, benefícios previdenciários (R$ 2,4
bilhões) e subsídios (R$ 1,2 bilhão). Em sentido contrário, os gastos com pessoal caíram cerca de
R$ 1,9 bilhão. Vale ressaltar que os gastos foram estimados em R$ 3,2 bilhões acima do teto de
gastos.

Em suma, vemos que o relatório bimestral reflete, por um lado, as dificuldades do governo para
aumentar a arrecadação de impostos no curto prazo e, por outro lado, a expansão das despesas
obrigatórias, especialmente aquelas relacionadas ao salário-mínimo e ao programa Bolsa Família.
Acreditamos que o orçamento para 2024 deve enfrentar os mesmos desafios, uma vez que as
incertezas relacionadas aos ganhos com medidas de elevação de receitas são elevados, enquanto
a previsibilidade do crescimento dos gastos (que devem crescer 2,5% acima da inflação) é maior.

Por enquanto, mantemos inalteradas nossas estimativas de déficit de R$ 121,9 bilhões para 2023.
Ainda vemos espaço para melhora nas receitas relacionadas à seguridade social devido à
resiliência do mercado de trabalho. Além disso, o chamado “empoçamento” (despesas orçadas,
mas não executadas por conta da rigidez orçamentária ou outras dificuldades técnicas) continua
muito alto (estimamos em torno de R$ 25 bilhões). Mas há riscos pela frente: as medidas
anunciadas em janeiro não foram totalmente implementadas ou não atingiram a arrecadação
esperada, a queda da inflação (principalmente no atacado) tende a comprometer a arrecadação e
outros cortes de impostos estão em discussão, como os relacionados a eletrodomésticos.
Devemos esperar que os resultados de junho antes de atualizar nossas projeções, mas
antecipamos um viés de baixa.
Tiago Sbardelotto, economista da XP.

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