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Problemas Ambientais

Globais

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 1


Problemas Ambientais Globais

1. Aula 01

Nesta aula, iremos analisar as principais bases científicas das questões que envolvem
as mudanças climáticas verificadas atualmente em escala global. Dessa forma,
abordaremos como o efeito estufa e o aquecimento do planeta estão relacionados e
de que forma influenciam no controle climatoambiental da Terra.

1.1 Mudanças climáticas

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC - Intergovernmental


Panel on Climate Change) foi criado em 1988 com o objetivo de acessar informações
científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para melhor entendimento dos
riscos globais associados às mudanças climáticas.

De acordo com o IPCC, o termo “mudanças climáticas” pode ser definido como as
mudanças no estado do clima que podem ser identificadas (p. ex,. usando testes
estatísticos) através das alterações na média e/ou na variabilidade de suas
propriedades, e que persistem por um extenso período, tipicamente décadas ou
mais. Mudanças climáticas podem ser verificadas devido a processos naturais
internos do planeta, forçantes externos ou ainda devido a mudanças persistentes,
causadas por ações antropogênicas, na composição da atmosfera ou no uso da terra
(SOLOMON et al., 2007).

O efeito estufa é um fenômeno natural que ocorre em virtude das concentrações de


alguns gases na atmosfera, tais como: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e
óxido nitroso (N2O), entre outros, os quais são responsáveis por absorver uma
quantidade maior de radiação infravermelha, provocando o aumento na temperatura
da Terra (ALMEIDA, 2007). De acordo com o IPCC, as concentrações atmosféricas
dos principais gases de efeito estufa aumentaram consideravelmente em

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consequência das atividades humanas desde 1750 e agora ultrapassam muito os
valores pré-industriais.

O ozônio é uma molécula que se encontra presente em toda atmosfera com maior
concentração entre 25 e 35 km de altitude ao redor do planeta, na região
denominada camada de ozônio. Essa camada absorve a radiação solar,
principalmente na faixa do ultravioleta tipo UV-B, que é prejudicial à vida no planeta
e a principal causadora do câncer de pele.

1.2 Efeito estufa e aquecimento global

O Sol transmite constantemente energia para o sistema climático terrestre através da


energia radiativa em comprimentos de ondas muito curtas, predominantemente na
faixa do visível ou próximo ao visível no espectro (p. ex., ultravioleta). Cerca de 1/3
da energia solar que atinge o topo da atmosfera terrestre é refletida diretamente de
volta para o espaço. Os 2/3 restantes são absorvidos pela superfície da Terra e em
menor intensidade pela atmosfera. A energia absorvida do Sol causa um
desequilíbrio no sistema energético terrestre; para retornar ao equilíbrio, a Terra
precisa irradiar, em média, a mesma quantidade de energia absorvida para o espaço.

A Terra realiza essa irradiação através de comprimentos de ondas muito longos,


principalmente na faixa infravermelha do espectro. Parte dessa radiação
infravermelha atravessa a atmosfera e segue em direção ao espaço. Entretanto, uma
parte considerável dessa radiação termal emitida pelos continentes e oceanos é
absorvida pela atmosfera, incluindo as nuvens, e irradiada novamente para a Terra.
Esse processo é conhecido como “efeito estufa”, devido a uma analogia com o
processo de funcionamento de uma estufa biológica verdadeira, onde as paredes de
vidro reduzem a troca de ar e aumentam a temperatura ambiental. Analogamente,
mas através de diferentes processos físicos, o efeito estufa terrestre aquece a
superfície do planeta.

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O efeito estufa natural torna possível a vida na Terra, uma vez que sem ele a
temperatura média da superfície terrestre seria aproximadamente -18oC (Fig. 1.1).
Entretanto, a ação humana, principalmente através da queima de combustíveis
fósseis e do desmatamento das florestas, tem intensificado fortemente o efeito
estufa natural, aumentando a concentração de gases na atmosfera e assim levando
a um maior aquecimento do sistema climático global (DIAS, 2011).

O efeito estufa quase não é influenciado pelos dois gases mais abundantes na
atmosfera, o nitrogênio e o oxigênio, representando 78% e 21% da atmosfera,
respectivamente. Em vez disso, o efeito é controlado por moléculas mais complexas
e muito menos comuns.

Os mais importantes integrantes do efeito estufa são o vapor d’água e o dióxido de


carbono (CO2). Outros gases, como o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozônio
(O3) e muitos outros presentes em menor concentração na atmosfera também
contribuem fortemente para o efeito estufa.

Figura 1.1 – Diagrama ilustrando a ação do efeito estufa sobre a temperatura global (Fonte:
http://www.inpe.br).

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1.3 Conclusão

Nesta aula, analisamos as principais bases científicas que envolvem as mudanças


climáticas verificadas atualmente em escala global. E como a ação antrópica,
principalmente através da queima de combustíveis fósseis realizada ao longo das
últimas décadas, tem provocado a liberação anual de bilhões de toneladas de
compostos químicos para a atmosfera, causando a alteração no efeito estufa natural.
As consequências dessa alteração na composição da atmosfera terrestre já estão
sendo sentidas em diferentes regiões do planeta, e suas consequências futuras são
ainda algo de grande incerteza. As alterações antrópicas na composição do efeito
estufa natural vêm proporcionando um aumento significativo na temperatura média
do planeta.

Aula 2

Nesta aula, iremos analisar as principais questões que envolvem as emissões de CO2
para a nossa atmosfera, realizadas principalmente por ações antrópicas, e como
essas emissões estão contribuindo para as mudanças climáticas. Além disso, vamos
discutir qual o papel da camada de ozônio no controle climático global.

2.1 Emissões de CO2

De acordo com o IV Relatório do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, as concentrações


atmosféricas do dióxido de carbono (CO2) (Fig. 2.1), o principal gás do efeito estufa
antropogênico, aumentaram em consequência das atividades humanas desde 1750 e
agora ultrapassam muito os valores pré-industriais. O aumento global da
concentração de CO2 se deve principalmente ao uso de combustíveis fósseis e à
mudança no uso da terra, o que vem alterando consideravelmente o ciclo
biogeoquímico desse elemento no planeta (SOLOMON, 2007). Oceanos, solos,
plantas, animais e vulcões são as principais fontes naturais de emissões de CO2 para
a atmosfera. Dessa forma, antes da influência antrópica, a enorme quantidade de
CO2 produzido por fontes naturais era completamente compensada pela ação dos

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sumidouros naturais de carbono, mantendo assim o equilíbrio natural do ciclo
biogeoquímico desse elemento (PBMC, 2014).

Figura 2.1 – Ilustração representando molécula de dióxido de carbono (CO2).

A seguir, são apresentadas algumas características das principais fontes naturais de


CO2 para a atmosfera (Fig. 2.2):

a) Oceanos: Armazenando enormes concentrações de CO2, os oceanos globais


são responsáveis por cerca de 40% do CO2 emitido para a atmosfera, por
meio de difusão. Esse movimento pode ser verificado em ambos os sentidos.
b) Respiração animal e vegetal: Plantas e animais que realizam o processo de
respiração para a produção da energia utilizada em seu metabolismo
apresentam o CO2 como um dos seus subprodutos.
c) Respiração no solo e decomposição: Diversos organismos que vivem no solo
realizam a respiração para produzir energia. Entre eles estão os
decompositores que decompõem a matéria orgânica morta. Ambos os
processos produzem CO2.

d) Erupções vulcânicas: A atividade vulcânica libera para a atmosfera, de


profundidade abaixo da superfície terrestre: magma, cinzas, poeira e gases,
entre eles o CO2.

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Figura 2.2 – Imagens de duas das principais fontes naturais de CO2 para a
atmosfera: oceanos (esq.) e vulcões (dir.).

Diversos estudos realizados sobre a composição da atmosfera comprovam que nos


últimos duzentos anos a concentração de CO2 atmosférico já aumentou
aproximadamente 27%, em grande parte em virtude de ações antrópicas, tais como:
queima de combustíveis fósseis, desmatamento das florestas e mudanças no uso do
solo (Fig. 2.3). A queima de combustíveis fósseis, o carbono armazenado durante
milhares de anos na Terra, é oxidado e liberado para a atmosfera em forma de CO2
(PACHECO; HELENE, 1990).

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Figura 2.3 – Imagens das principais fontes antropogênicas de CO2 para a atmosfera.
Da esquerda para a direita: queima de combustíveis fósseis (no alto); desmatamento
das florestas; mudanças no uso do solo.

2.2 Preservação da camada de ozônio

A molécula de ozônio (O3) é formada na estratosfera (camada da atmosfera


localizada aproximadamente entre 10 e 50 km de altitude), principalmente por ação
da radiação ultravioleta. Dessa forma, quando os raios ultravioleta de alta energia
incidem sobre as moléculas de oxigênio (O2), eles dividem a molécula em dois
átomos de oxigênio, conhecidos como oxigênio atômico. Em seguida, um dos átomos
de oxigênio libertado combina-se com outra molécula de oxigênio (O2) para formar
uma molécula de ozônio.

A camada de ozônio é encontrada na estratosfera, onde atua como um escudo para


proteger a superfície da Terra da radiação ultravioleta proveniente do Sol, altamente
prejudicial à vida no planeta. O enfraquecimento dessa camada pode gerar uma
séria de problemas para a população mundial, tais como: maior suscetibilidade ao
câncer de pele e ao surgimento de catarata, e um severo comprometimento do
sistema imune.

O ozônio estratosférico (encontrado na estratosfera) é chamado de “bom” ozônio. Já


o ozônio encontrado mais próximo à Terra, distribuído na troposfera (camada da
atmosfera localizada da superfície até cerca de 10 km de altitude), é um poluente
extremamente nocivo que pode causar danos, principalmente, às plantas e ao tecido
pulmonar. O ozônio troposférico (encontrado na troposfera) é chamado de “mau”
ozônio.

Em 1985, pesquisadores britânicos descobriram que os valores de ozônio total sobre


a Antártica, principalmente durante o período que compreende a primavera austral,
estavam diminuindo desde 1970. Observações subsequentes mostraram que em
alguns anos na década de 1990 a camada de ozônio sobre a Antártica chegou a ser

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reduzida a 1/3 da camada original. Esse fenômeno ficou conhecido como “buraco” na
camada de ozônio (Fig. 2.4). Diferentes estudos realizados sobre o assunto
mostraram uma consistente associação dessa redução com a emissão mundial
generalizada, para a atmosfera, de clorofluorcarbonos (CFCs). O buraco na camada
de ozônio é formado em virtude da ação da química de gases reativos de cloro e
bromo originados da quebra dos CFS e halogênio. Estes, por sua vez, foram
liberados na baixa troposfera pela ação humana através do uso de latas de spray,
produtos e sistemas de refrigeração, extintores de incêndio, entre outras fontes. Os
gases responsáveis pela destruição do ozônio troposférico são liberados em escala
global e possuem tempo de vida estimado na atmosfera entre cinquenta e cem anos
(GOLDEMBERG et al., 2011). Entretanto, as condições climatoambientais da
estratosfera antártica favorecem a destruição da camada de ozônio, possibilitando,
assim, o surgimento do buraco na camada de ozônio.

Figura 2.4 – Evolução do buraco na camada de ozônio sobre a Antártica entre 1981 e
2010.

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A descoberta da relação entre as emissões dos gases CFCs e a ocorrência do buraco
na camada de ozônio sobre a região da Antártica levaram à realização de diversas
discussões mundiais, que resultaram na determinação da redução do uso desses
gases em escala global.

2.3 Conclusão

Nesta aula, vimos que o homem, através principalmente da queima de combustíveis


fósseis e do desmatamento realizado ao longo das últimas décadas, tem provocado a
liberação anual de bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera. Uma parte dessas
emissões é absorvida pelo maior reservatório de carbono no planeta: os oceanos.
Estima-se que outra parte esteja sendo absorvida pela biomassa terrestre através de
um processo ainda pouco conhecido: o efeito de fertilização das plantas por CO2.
Analisamos também o papel fundamental da camada de ozônio para o controle do
sistema climatoambiental terrestre e como o “buraco” na camada de ozônio sobre a
Antártica teve origem.

Aula 3

Nesta aula, abordaremos como as mudanças climáticas globais estão ampliando o


desmatamento das florestas em diferentes regiões do planeta, consequentemente
elevando o risco de extinção de diversas espécies (animais e vegetais) e ocasionando
a diminuição da biodiversidade mundial. Também analisaremos quais as principais
consequências para o meio ambiente em virtude da ocorrência de uma contaminação
radioativa.

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3.1. Introdução

Em diversas regiões do planeta, mudanças no uso da terra e o desmatamento


florestal realizado, principalmente, para atividades de agricultura produzem
alterações significativas no sistema climatoambiental terrestre. São consideradas as
ações antrópicas mais antigas responsáveis pelo aumento das concentrações
atmosféricas dos principais gases componentes do efeito estufa (p. ex., CO2, CH4 e
N2O), bem como contribuem fortemente para a perturbação de diferentes ciclos
biogeoquímicos em escala global (PBMC, 2014). As mudanças no uso da terra e
desmatamento florestal também vêm contribuindo fortemente para um impacto
sobre a biodiversidade global. Nesse contexto, cabe destacar que a Convenção sobre
diversidade biológica define “diversidade biológica” (ou biodiversidade) como

[...] a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,


compreendendo a totalidade dos genes, espécies, variedades,
ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e
complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo, ainda, a
diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistema.
(INTER-RELAÇÕES, 2007).

3.2. Extinção de espécies e desmatamento (perda de biodiversidade)

Ao longo das últimas décadas, temos evidenciado diversas mudanças climáticas no


planeta que têm afetado, direta e indiretamente, as diferentes matrizes ambientais
ocasionando uma série de alterações. Dessa forma, é necessário considerar como
tais mudanças climatoambientais verificadas no planeta podem interferir na
biodiversidade global.

Assim, as seguintes questões devem ser abordadas:

a) Como a biodiversidade global tem sido afetada pelas mudanças do clima no


passado? E quais as implicações para essa biodiversidade devido às mudanças
no clima, as atuais e as projetadas para o futuro?

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b) Quais são os principais impactos humanos contemporâneos sobre a
biodiversidade?
c) Como as atuais alterações na biodiversidade global podem afetar o
funcionamento dos diferentes ecossistemas e quais as principais ações de
manejo relacionadas ao clima?

Hotspots

Criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers, o conceito de hotspots


representa as regiões do planeta que concentram os mais altos níveis de
biodiversidade e onde as ações de conservação seriam mais urgentes.

Uma determinada área é considerada um hotspot quando apresenta pelo menos


1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (não são encontradas em nenhum
outro local do planeta). Além disso, deve ter 30% ou menos de sua vegetação
original. Em todo o mundo, existem aproximadamente 34 áreas (Fig. 3.1)
classificadas como hotspots que representam apenas 2,3% da superfície terrestre,
mas suportam mais da metade das espécies de plantas endêmicas e quase 43% das
aves, mamíferos, répteis e anfíbios endêmicos.

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Figura 3.1 – Localização geográficas global das áreas consideradas hotspots no
planeta.

3.3. Contaminação radioativa: isótopos radioativos de meia-vida longa

Isótopos radioativos ou radioisótopos são compostos dotados do fenômeno da


radioatividade. A emissão radioativa altera profundamente a estrutura atômica do
elemento emissor, pois modifica a composição, bem como o balanço energético de
seu núcleo. Os núcleos instáveis dissipam o excesso de energia que possuem
emitindo diferentes tipos de radiações. Como a origem do fenômeno radioativo é
nuclear (isto é, ocorre no núcleo do elemento), os isótopos que possuem a
capacidade de emitir radiação também são chamados de radionuclídeos (GARCIA,
2002).

Meia-vida de um radionuclídeo

Cada elemento radioativo, seja ele natural ou artificial, se desintegra a uma


determinada velocidade característica. Assim, para acompanhar a duração (ou
“vida”) de um radionuclídeo, foi necessário estabelecer uma forma de comparação
temporal. Formulou-se, então, o conceito de “meia-vida”.

A meia-vida representa o tempo necessário para que a atividade apresentada por um


elemento radioativo seja reduzida à metade da sua atividade inicial. Isso significa
que, para cada meia-vida que passa de um radionuclídeo, a atividade do mesmo vai
sendo reduzida à metade da anterior, até atingir um valor considerado insignificante,
não permitindo mais distinguir sua radiação daquela proveniente do meio ambiente
(TAUHATA et al., 2003).

A presença de elementos radioativos, principalmente artificiais, em grandes


concentrações nas diferentes matrizes ambientais pode ocasionar a contaminação
radioativa da fauna e da flora locais (Fig. 3.2). A “contaminação radioativa” ocorre

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quando um material radioativo é absorvido pelo corpo de um indivíduo ou por uma
matriz ambiental de forma indesejável.

Figura 3.2 – Imagem de uma área apresentando contaminação radioativa (esq.). Ao


lado, o símbolo da radioatividade.

3.4. Conclusão

Nesta aula, analisamos como a diversidade biológica ou biodiversidade dos diferentes


ecossistemas globais está sendo alterada em função de ações antrópicas. Vimos que
ações de desmatamento vêm ocasionado uma crescente perda de hábitats naturais,
causando a diminuição da biodiversidade local e até mesmo a extinção de diferentes
espécies da fauna e da flora da região afetada. Nesse contexto, os hotspots,
localizados em diferentes regiões do planeta, representam áreas de especial atenção
em virtude de suas características relacionadas à biodiversidade de determinada
região. Além disso, vimos como a contaminação radioativa pode levar a uma
diminuição da qualidade do meio ambiente nas regiões onde são verificadas a
ocorrência desses acidentes.

Aula 04

Nas últimas décadas, as mudanças climáticas verificadas em escala global vêm


proporcionando um aumento, sem precedentes na história da humanidade, de
alguns dos principais problemas ambientais observados em diferentes regiões do
planeta, tais como: processos de desertificação e de erosão do solo, esgotamento de

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água e solos, entre outros (MARENGO, 2006). Além disso, no atual cenário global,
são crescentes os problemas ambientais relacionados ao aumento da concentração
de compostos não biodegradáveis no meio ambiente, contaminando solo e água em
diferentes regiões e dificultando ainda mais o processo de preservação ambiental da
Terra.

4.1. Compostos não biodegradáveis

Compostos biodegradáveis são aqueles que se decompõem facilmente pela ação de


microrganismos na natureza. Por sua vez, os compostos não biodegradáveis são, em
geral, compostos que contêm anéis aromáticos ou polímeros sintéticos, cuja
eletroxidação faz com que se transformem em moléculas biodegradáveis (DE
ANGELIS et al., 1998).

Esses compostos são caracterizados como resíduos altamente nocivos ao meio


ambiente e por isso são considerados perigosos, no presente e no futuro, à saúde
dos seres humanos, bem como de outros organismos e ao meio ambiente em geral.
São caracterizados dessa forma os compostos que:

 podem causar ou contribuir significativamente para o aumento da


mortalidade ou para o aumento de doenças sérias irreversíveis ou
reversíveis incapacitantes;
 podem significar um perigo presente ou potencial para a saúde
humana ou meio ambiente, quando tratado, armazenado,
transportado, disposto ou usado de maneira incorreta. (BRAGA et al.,
2005).

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4.2 Esgotamento de água e solo agrícola

As mudanças climáticas observadas atualmente em escala global estão ocasionando


um acelerado esgotamento de importantes corpos de água, bem como de solos
agrícolas em diferentes regiões do planeta (Fig. 4.1). Esse pode ser considerado um
dos maiores problemas ocasionados por tais mudanças, uma vez que a água é um
recurso natural essencial à vida, seja como principal componente dos seres, seja
como meio de vida de diferentes espécies vegetais e animais. Ou, ainda, como
elemento representativo de valores socioculturais e como fator de produção de bens
e produtos agrícolas.

A água é o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva, representando


no homem cerca de 60% de seu peso; nas plantas, pode atingir 90%; em certos
animais aquáticos, esse percentual pode chegar à 98% (PHILLIPI JR.; ROMÉRO;
BRUNA, 2004). Dessa forma, a água também desempenha papel essencial para a
manutenção da biodiversidade do planeta.

Assim como a água, os solos agrícolas também vêm, ao longo das últimas décadas,
sofrendo esgotamento, principalmente, em função de atividades antrópicas
relacionadas ao uso da terra. A perda de elementos nutrientes essenciais ao
desenvolvimento vegetal provoca a diminuição da fertilidade dos solos, fenômeno
denominado “esgotamento do solo”. O uso excessivo de solos em diversas regiões
do planeta favorece o esgotamento, o que também pode ser causado por processos
de erosão e desertificação.

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Figura 4.1 – Imagens representando os processos de esgotamento de águas
(esq.) e solos cultiváveis (dir.).

4.3 Erosão e desertificação

A definição de solo pode variar, de acordo com o objetivo mais imediato de sua
utilização. Sendo assim, as definições podem ser diferentes para agrônomos,
produtores agrícolas, engenheiros civis, economistas, ecologistas, entre outros
profissionais que utilizam essa matriz ambiental. Mas, de um modo geral, o solo pode
ser conceituado como um manto superficial formado por rocha degradada e,
eventualmente, cinzas vulcânicas misturadas com matéria orgânica em
decomposição, que contém, ainda, água e ar em proporções variáveis, bem como
organismos vivos (BRAGA et al., 2005).

Processos de erosão e desertificação do solo (Fig. 4.2) já eram motivos de interesse


muito antes do início das discussões sobre as mudanças climáticas globais verificadas
atualmente. Já na década de 1930, o governo dos Estados Unidos estabeleceu o
Serviço de Conservação de Solos (SCS) com o objetivo de combater a erosão de
solos que estava arruinando milhares de hectares de terras agrícolas e florestais.
Também naquela época, a desertificação observada em algumas regiões, devido à
realização de algumas práticas inadequadas, estava causando enormes prejuízos nas
planícies ocidentais (ODUM, 1988).

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4.3.1 Erosão

Os processos de erosão podem ser classificados de diferentes maneiras. Em uma


delas, a erosão é classificada como erosão geológica (ou lenta) e erosão acelerada.
No primeiro caso, a erosão processa-se de modo inexorável, sob a ação dos agentes
naturais, enquanto no segundo caso a erosão ocorre como uma consequência da
ação antrópica sobre o solo. Partículas do solo são carreadas pela água na proporção
da pluviosidade e da declividade do terreno local, conforme o tempo de replantio ou
rebrota, assim como rarefação do cultivo de substituição utilizado (BRAGA et al.,
2005).

4.3.2 Desertificação

A desertificação é um processo que consiste na degradação e no esgotamento dos


solos, e ocorre principalmente em regiões de clima árido e semiárido, nos quais a
pluviosidade não alcança valores de 1.400 mm anuais. Dessa forma, a evaporação é
maior do que a infiltração.

Figura 4.2 – Imagens representando processos de erosão (esq.) e


desertificação dos solos (dir.).

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4.4 Conclusão

Nesta aula, entendemos por que os compostos não biodegradáveis são altamente
nocivos ao meio ambiente e, portanto, considerados resíduos perigosos à saúde dos
seres vivos, tanto no presente como no futuro. Analisamos também por que o
esgotamento da água e do solo agrícola é considerado atualmente um grave
problema ambiental. Além disso, estudamos como os processos supracitados estão
influenciando uma maior ocorrência mundial de fenômenos de erosão e
desertificação, ocasionando a perda de áreas importantes para o cultivo/criação de
produtos necessários para a alimentação humana e animal.

Aula 5

Nesta aula, veremos como as questões relacionadas aos principais problemas


ambientais verificados em escala global estão sendo tratados por diferentes órgãos
internacionais. Discutiremos, ainda, como a previsão de déficit energético pode
influenciar na escolha das políticas ambientais de cada país. Analisaremos também
quais as principais opções de uso de biocombustíveis e como podem auxiliar na
resolução de algumas questões relacionadas aos problemas ambientais.

5.1 Introdução

Atualmente, um dos principais problemas ambientais está relacionado à crescente


população mundial e o consequente esgotamento das reservas energéticas no
planeta (DIAS, 2011). De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudança
do Clima (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change), o uso de
combustíveis fósseis (p. ex., petróleo, carvão mineral e gás natural) está provocando
dramáticas mudanças no sistema climatoambiental da Terra.

Enormes esforços estão sendo realizados na procura de novas fontes sustentáveis


para a produção da energia mundial. A crescente procura por fontes de energia de
base biológica é motivada pela crise de energia verificada nos últimos anos, devido

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principalmente ao esgotamento das reservas de petróleo em escala global (IPCC,
2007).

Nesse contexto, os biocombustíveis desempenham um papel de destaque no cenário


global, como fontes de energia limpa. A seguir, são descritas as bases científicas dos
biocombustíveis, bem como são discutidos alguns dos principais aspectos positivos e
negativos do seu uso e a influência sobre o sistema climatoambiental terrestre.

5.2 Previsão de déficit energético

A análise do déficit energético global passa pela abordagem sobre o pico da


produção mundial de petróleo. Isso representa a concepção na qual a produção
mundial do petróleo segue, ao longo do tempo, uma curva aproximadamente normal
(Fig. 5.1). Tal conceito, estabelecido em 1956 pelo dr. M. King Hubbert, ficou
conhecido como "pico do Petróleo" ou “pico de Hubbert”.

Figura 5.1 – Ilustração mostrando gráfico com o “pico de Hubbert”.

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5.3 Biocombustíveis

Os biocombustíveis podem ser caracterizados por elementos combustíveis originados


de espécies biológicas que não tenham passado por processo de fossilização. Sendo
derivados de biomassa renovável, os biocombustíveis permitem a ciclagem da
matéria usada na natureza. São, portanto, considerados uma fonte de energia
“limpa” que pode substituir, parcial ou totalmente, o uso de combustíveis fósseis em
motores à combustão ou em outro tipo de geração de energia.

Os biocombustíveis podem receber diferentes nomenclaturas, em virtude de seu


produto de origem ou método de produção, tais como: biodiesel, etanol, biogás,
biometanol, entre outros. Atualmente, diversas espécies vegetais (Fig. 5.2) são
utilizadas para a produção de biocombustíveis.

Alguns produtos agrícolas são usados para a produção do chamado biocombustível,


pois são ricos em hidratos de carbono, devido a um elevado teor de amido, tais
como o milho, o trigo, a soja, a batata e a mandioca. Outros são utilizados devido a
um elevado teor de açúcar, tais como a cana-de-açúcar e a beterraba. Esses tipos de
biomassa podem ser convertidos em etanol por meio de fermentação dos açúcares
ou depois da hidrólise do amido em açúcares fermentáveis.

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Figura 5.2 – Imagens mostrando diferentes produtos agrícolas (a partir da
esquerda, no alto, girassol, mamona, milho e soja) utilizados na produção de
biocombustíveis.

A substituição do uso de combustíveis fósseis por biocombustíveis tem se tornado


uma das principais bandeiras de um movimento verificado em escala global, para
redução das emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa.

Atualmente, os biocombustíveis vêm sendo utilizados em diferentes escalas, por


vários países. Alguns, como Alemanha, França, Brasil, Estados Unidos, Itália,
Argentina, Malásia, entre outros, já produzem biodiesel comercialmente, estimulando
o desenvolvimento em escala industrial.

Em países como Quênia, Índia e Brasil (e outros mais da África, da Ásia e da América
do Sul), o uso de biomassa tem significativa participação na matriz energética
nacional. Em escala global, a participação dos biocombustíveis na matriz energética
está em torno de 13% (REIS, 2011).

5.4 Conclusão

Nesta aula, discutimos como a revisão do déficit energético mundial tem influenciado
nas políticas de utilização de fontes de energia em escala global, bem como quais as
implicações para as principais matrizes energéticas atualmente em uso. Além disso,
abordamos as principais bases científicas dos biocombustíveis, suas principais fontes,

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seu uso em escala global e suas relações com alguns dos principais conceitos
relacionados às mudanças climáticas verificadas em todo o planeta.

Aula 6

Nesta aula, veremos como as questões relacionadas aos principais problemas


ambientais verificados em escala global estão sendo tratados por diferentes órgãos
internacionais. Discutiremos também quais são os principais acordos internacionais
para minimizar os impactos de uma crescente população. Abordaremos, por fim, as
atuais perspectivas do ponto de vista legal, social e econômico que envolvem as
questões ligadas aos problemas ambientais.

6.1 Introdução

Alguns trabalhos acadêmicos já vinham identificando diversas alterações no sistema


climatoambiental do planeta. Entretanto, foi apenas na década de 1980 que o alerta
foi realmente ouvido. A partir de então, várias organizações governamentais e não
governamentais, em todo o mundo, começaram a discutir de forma mais enfática os
riscos para o planeta em função da elevação da temperatura global (DIAS, 2011). A
partir dessas discussões iniciais, diversos acordos internacionais foram assinados ao
longo das últimas décadas, com o objetivo de enfrentar o que se configura como um
dos principais problemas ambientais da atualidade. Assim, a elaboração de diferentes
acordos internacionais deve, necessariamente, levar em consideração as principais
perspectivas do ponto de vista legal, social e econômico dos diferentes países
envolvidos na assinatura de acordos.

6.2 Acordos globais

Em 1988, o físico da NASA (National Aeronautics and Space Administration) James


Edward Hansen fez um dos primeiros alertas ao Congresso norte-americano sobre as
evidências científicas que apontavam para o aumento do aquecimento global e como
as ações antrópicas estavam influenciando tais mudanças no clima (DIAS, 2011).

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Desde então, diversas iniciativas e encontros internacionais foram realizados a fim de
promover discussões e apresentar soluções para o problema identificado.

6.2.3 Breve histórico das negociações mundiais sobre as mudanças


climáticas

1988: Foi realizada em Toronto, no Canadá, a primeira reunião com líderes de


países e a classe científica para discutir sobre as mudanças climáticas.

1988: Foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC –


Intergovernmental Panel on Climate Change), por iniciativa da Organização
Meteorológica Mundial (WMO – World Meteorological Organization) e pelo Programa
Ambiental das Nações Unidas (UNEP – United Nations Environment Programme),
com o objetivo de acessar informações científicas, técnicas e socioeconômicas
relevantes para entender melhor os riscos globais associados às mudanças
climáticas.

1992: Em junho 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida também
como ECO-92, Rio-92 (Fig. 6.1), Cúpula ou Cimeira da Terra. Participaram do
encontro mais de 160 líderes de Estado que assinaram a Convenção Marco Sobre
Mudanças Climáticas (Fig. 6.2).

Figura 6.1 – Logomarca da Rio-92.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 24


Figura 6.2 – Foto oficial com chefes e representantes de Estado durante a realização
da Rio-92.

1997: Em dezembro de 1997, foi realizada em Kyoto, no Japão, a III Conferência


das Partes. Considerada um marco do entendimento internacional sobre as questões
que envolvem as mudanças climáticas, a conferência permitiu a assinatura do
Protocolo de Kyoto. O Protocolo firmou o compromisso, por parte dos países
industrializados, de reduzir a emissão de gases do efeito estufa. No entanto, ainda
não estavam concretos os meios pelos quais seriam colocadas em prática as medidas
de redução e se realmente todos os envolvidos iriam aderir.

2009: Em dezembro de 2009, foi realizada em Copenhague, na Dinamarca, a


Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, Conferência de
Copenhague ou United Nations Climate Change Conference – COP-15 (Fig. 6.3).

Figura 6.3 – Banner de divulgação da Conferência das Nações Unidas sobre as


Mudanças Climáticas (COP-15).

2012: Em junho de 2012, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), RIO+20 (Fig. 6.4). O principal

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 25


objetivo dessa conferência mundial foi discutir a renovação do compromisso político
com o desenvolvimento sustentável. Considerado o maior evento já realizado pelas
Nações Unidas, reuniu 190 chefes de Estado (Fig. 6.5), que propuseram mudanças,
sobretudo, no modo como estavam sendo utilizados os recursos naturais do planeta.

Figura 6.4 – Logomarca da Rio+20.

Figura 6.5 – Foto oficial com chefes e representantes de Estado durante a realização
da Rio+20.

6.3 Perspectiva legal, social e econômica

As perspectivas legais, sociais e econômicas relacionadas aos principais problemas


ambientais discutidos nas diversas conferências internacionais realizadas sobre o
assunto, ao longo das últimas décadas, podem ser exemplificadas através de
algumas das proposições apresentadas a seguir.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 26


Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB)

A CDB, estabelecida durante a ECO-92, é um tratado da Organização das Nações


Unidas e um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio
ambiente. Desde seu estabelecimento, mais de 160 países já assinaram o acordo,
que entrou em vigor em dezembro de 1993. A Convenção está estruturada sobre
três bases principais: I) A conservação da diversidade biológica, II) O uso
sustentável da biodiversidade e III) A repartição justa e equitativa dos benefícios
provenientes da utilização dos recursos genéticos. Refere-se à biodiversidade em três
níveis: ecossistemas, espécies e recursos genéticos (BRASIL, 2000). Em seus artigos
1 e 3, a CDB destaca, respectivamente, seus objetivos e princípio:

Artigo 1 – Objetivos: Os objetivos dessa Convenção, a serem cumpridos de acordo


com as disposições pertinentes, são a conservação da diversidade biológica, a
utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos
benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o
acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias
pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e
mediante financiamento adequado.

Artigo 3 – Princípio: Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas


e com os princípios de Direito internacional, têm o direito soberano de explorar seus
próprios recursos segundo suas políticas ambientais, e a responsabilidade de
assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio
ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.

- Convenção sobre Mudança do Clima (CMC)


A CMC, estabelecida durante a ECO-92, foi assinada por 154 Estados e uma
organização de integração econômica regional. Entre seus principais
fundamentos, a preocupação de como as atividades humanas têm causado
alterações nas concentrações atmosféricas dos gases de efeito estufa (BRASIL,
1992). Em seu artigo 2, a CMC destaca seus objetivos:

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 27


Artigo 2 – Objetivos: O objetivo final desta Convenção e de quaisquer
instrumentos jurídicos com ela relacionados que adotem a Conferência das Partes é o
de alcançar, em conformidade com as disposições pertinentes desta Convenção, a
estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível
que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Esse nível
deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-
se naturalmente à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos
não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de
maneira sustentável.

6.4 Conclusão

Nesta aula, discutimos quais os principais acordos internacionais assinados nas


últimas décadas têm por objetivo principal minimizar os problemas ambientais
gerados por ações antrópicas e suas consequentes alterações no sistema
climatoambiental do planeta. Também abordamos um breve histórico de assinatura
desses acordos e suas principais consequências para o meio ambiente global. Além
disso, discutimos brevemente as bases conceituais das principais perspectivas legais,
sociais e econômicas que envolvem a assinatura desses acordos.

Aula 7

Nesta aula, discutiremos sobre as mais recentes tendências globais que envolvem as
principais soluções para os diferentes problemas ambientais do planeta. Veremos
também como a solução desses problemas passa por ações emergenciais que na
maioria das vezes têm significativo impacto no estilo de vida dos habitantes dos
diferentes países envolvidos no processo.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 28


7.1 Introdução

Na última década, principalmente, as discussões sobre os principais problemas


ambientais observados hoje em escala global deixaram de ser realizadas apenas por
integrantes da comunidade científica mundial para fazer parte do assunto comum à
grande parte da população mundial. A importância de encontrar novas soluções para
tais problemas pode ser medida através do crescente número de trabalhos,
publicações e fóruns de discussão realizados em todo o planeta.

Encontros internacionais, com a participação de representantes da comunidade


científica, dos governos e dos diferentes setores da sociedade, vêm permitindo a
realização de amplas discussões sobre o tema. Resultados de diversos trabalhos
científicos publicados no fim da década de 1980 já apontavam as ações antrópicas
como principais responsáveis pela mudança climática do planeta. As discussões sobre
esses trabalhos contribuíram para o estabelecimento, em novembro de 1998, do
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC – Intergovernmental Panel
on Climate Change), que tinha como um dos objetivos principais reunir evidências
científicas sobre o assunto (DIAS, 2011).

Ao longo das últimas décadas, os esforços para a realização de diversos fóruns de


discussão sobre os problemas ambientais globais – tais como a Conferencia das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada em
junho de 1992, e seus “desdobramentos”, como a terceira Conferência das Partes,
realizada em Kyoto, em 1997 – podem ser considerados marcos do entendimento
mundial sobre as discussões que envolvem os principais problemas ambientais e a
busca por soluções viáveis do ponto de vista socioeconômico e ambiental.

7.2 Tendências de solução de problemas ambientais globais

No contexto nacional, diferentes iniciativas têm sido realizadas com o objetivo de


propor soluções viáveis para os problemas ambientais observados atualmente. Em
um documento lançado em 26 de junho de 2015, o Observatório do Clima

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 29


apresentou um conjunto de propostas que demonstrou como o Brasil pode chegar a
2030 limitando suas emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa equivalente a
1 bilhão de toneladas de gás carbônico.

Esse importante documento sugere diversas ações que, a longo prazo, poderão levar
à neutralidade das emissões do Brasil e dos demais países em 2050, reduzindo
consideravelmente o risco que o aquecimento global representa para o planeta
Terra.

O referido documento está sendo chamado de INDC da sociedade civil. As INDCs


(sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas)
consistem em um conjunto de metas que todos os países deveriam apresentar até 1o
de outubro de 2015 para o novo acordo a ser assinado na Conferência das Partes
(COP-21), em Paris no mês de dezembro do mesmo ano.

Em 27 de setembro de 2015, o governo brasileiro apresentou ao Secretariado da


Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a
pretendida contribuição nacionalmente determinada do Brasil para o novo acordo sob
a Convenção (BRASIL, 2015), adotado na COP-21 (Fig. 7.1).

Figura 7.1 – Banner de divulgação da Conferência das Partes (COP-21).

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 30


7.3 Conclusão

Nesta aula, discutimos brevemente quais as mais recentes tendências internacionais


e nacionais voltadas para a solução dos principais problemas ambientais verificados
atualmente em escala global. Além disso, também vimos como essas tendências
estão sendo abordados pelo atual governo brasileiro e algumas de suas
consequências para o desenvolvimento de nossa sociedade.

Aula 8

Nesta aula, avaliaremos quais são as principais ações emergenciais que devem ser
realizadas para minimizar os impactos socioeconômico e ambientais gerados no
planeta em virtude das mudanças climáticas observadas em escala global. Além
disso, discutiremos como ações de educação sistêmica podem auxiliar na resolução
de problemas ambientais verificados atualmente em todo o planeta.

8.1 Educação sistêmica: ciência, tecnologia e cultura

Um dos resultados mais frequentes nas diferentes conferências internacionais,


realizadas para discutir os principais problemas mundiais, é a constatação de que
ações sistêmicas de educação, envolvendo diferentes esferas das ciências,
tecnologias e culturas são necessárias para ajudar a resolver tais problemas.
Entretanto, a elaboração de políticas públicas direcionadas a essa difícil tarefa ainda
é alvo de frequentes discussões por parte dos governos, autoridades científicas e
representantes da sociedade em geral.

Cabe ainda destacar que ações de educação sistêmica relacionadas aos problemas
ambientais verificados em escala global devem ser pensadas para os diferentes
níveis de formação, identificando, dessa forma, as principais ferramentas
educacionais para permitir uma melhor discussão sobre os temas em questão.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 31


8.2 Avaliação emergencial

Ao longo das últimas décadas a população mundial tem convivido com diferentes
problemas. Recentemente, diversas organizações internacionais têm voltado seus
esforços para encontrar as melhores soluções para tais problemas. Dentre os
exemplos desses esforços podemos destacar a iniciativa denominada Consenso de
Copenhague. A ideia central dessa iniciativa foi reunir grandes economistas e
especialistas, das mais diversas áreas do conhecimento relacionadas aos principais
problemas mundiais, com o objetivo de identificar quais as prioridades entre os
diversos desafios em escala global. O primeiro desses encontros, realizado em 2004,
identificou diversos problemas enfrentados na época e os apresentou por meio da
seguinte lista (com valores estimados):

 800 milhões de pessoas estão passando fome;


 1 bilhão não possuem água potável para beber;
 2 bilhões sofrem com a falta de saneamento básico;
 2 milhões morrem de HIV/AIDS a cada ano;
 175 milhões são considerados migrantes internacionais;
 940 milhões são considerados analfabetos;
 2 bilhões serão gravemente afetados pela mudança climática verificada em
escala global.

Em um “mundo ideal”, todos os problemas deveriam ser resolvidos. Entretanto, “no


mundo real”, devemos nos perguntar: Quais problemas devemos resolver primeiro?
Pensando nessa questão, os integrantes do Consenso identificaram os dez maiores
desafios mundiais, apresentados na seguinte lista:

 mudanças climáticas;
 doenças transmissíveis;
 conflitos regionais;
 educação;
 estabilidade financeira;

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 32


 governança e corrupção;
 desnutrição e fome;
 migração da população;
 saneamento básico e água;
 subsídios e barreiras comerciais.

Os resultados do encontro de 2004 indicaram que a prioridade seria o controle da


mortalidade relacionada à disseminação do HIV/AIDS. Esses resultados ajudaram a
moldar os gastos de desenvolvimento no exterior e as decisões filantrópicas para os
próximos anos, direcionando significativamente mais dinheiro para esse problema.

Enquanto o Consenso de Copenhague, realizado em 2008, identificou como principal


prioridade o controle da mau-nutrição global, através do fornecimento de
micronutrientes. Uma vez que, cerca de metade da população mundial sobre com a
falta de ferro, zinco, iodo e vitaminas.

Em seu último encontro, realizado em maio de 2012, o III Consenso de Copenhague


(Fig. 8.1) reuniu mentes brilhantes de todo o planeta para analisar os custos e
benefícios de diferentes abordagens para enfrentar os maiores problemas mundiais
da atualidade. O objetivo foi fornecer uma resposta para a seguinte pergunta: “Se
você tivesse 75 bilhões de dólares para gastar com problemas mundiais, por onde
deveria começar?”

Os resultados dessa conferência indicaram como prioridades os seguintes temas:

 Realizar intervenções mundiais com pacotes de micronutrientes para


combater a fome e melhorar a educação;
 Expandir os subsídios para o tratamento combinado da malária em escala
global.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 33


Figura 8.1 – Banner de divulgação do Consenso de Copenhague realizado em
2012.

8.3 Conclusão

Um verdadeiro consenso global sobre quais problemas mundiais devem ser


resolvidos primeiro ainda está longe de ser alcançado. Entretanto, as diferentes
iniciativas realizadas nessa direção permitem uma melhor discussão sobre tais
problemas e as potenciais soluções, seja a curto, médio ou longo prazo. Além disso,
a abordagem de tais problemas passa, necessariamente, por ações de educação
sistêmicas envolvendo diferentes esferas das ciências, tecnologias e culturas.

PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS 34


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