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“A MATANÇA DOS HOMOSSEXUAIS”: VIOLÊNCIA CONTRA TRAVESTIS

DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA

MOMBACH, Maico William1


MAGALHÃES, Magna Lima2
Universidade Feevale
maicomombach@gmail.com

Resumo: Em janeiro de 2023 a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA)


publicou seu dossiê anual informando os casos de assassinatos e violências contra travestis e
transexuais brasileiras em 2022. Segundo o dossiê, naquele ano o Brasil registrou 131 casos
de assassinatos e 20 suicídios, mantendo-se pelo 14º ano consecutivo no topo dos países que
mais mata travestis e transexuais no mundo. No entanto, as raízes da violência contra esta
população no Brasil são muito mais antigas. Delimitamos, assim, nossa análise acerca das
violências sofridas por travestis durante o regime civil-militar brasileiro (1964-1985) e que
foram denunciados no periódico Lampião da Esquina (1978-1981). Objetiva-se apresentar um
panorama sobre as discussão de “moral e bons costumes” e seus reflexos na territorialidade e
sociabilidade travesti da época, bem como as contribuições do Lampião da Esquina para esse
debate. Entende-se, conforme Barros (2022), que o jornal é um importante instrumento e
campo de luta, atravessado por posicionamentos e interesses políticos, sociais e econômicos,
com forte poder de penetração nas camadas sociais. Com circulação nacional, o Lampião da
Esquina pode ser considerado um importante agente da luta LGBT durante o regime civil-
militar brasileiro. Esta discussão se torna oportuna num momento que, através da Portaria nº
289, de maio de 2023, o Ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania instituiu
Grupo de Trabalho para esclarecer as violações de direitos humanos contra a comunidade
LGBT durante a história brasileira. Para tanto, realizaremos uma revisão bibliográfica em
livros e artigos a fim de compreender o contexto histórico e o papel do Estado na manutenção
leis e decretos que respaldavam o discurso da “moral e bons costumes”. A partir de uma
abordagem qualitativa, identificando as denúncias de violências contra travestis nas edições
do periódico, analisadas através de uma leitura intensiva, é possível identificar as tensões que
envolviam o imaginário social acerca das sexualidades dissidentes. Encontram-se também
declarações sobre as técnicas de automutilação utilizadas por travestis para evitar o
encarceramento, extorsões, violências físicas e verbais. Através destas considerações, fica
notória a importância do Lampião da Esquina para a manutenção e preservação das memórias
acerca das vivências de travestis ao longo do regime civil-militar brasileiro.
Palavras-chave: Travesti; Lampião da Esquina; Ditadura civil-militar;

1
Mestrando em Processos e Manifestações Culturais (FEEVALE), bolsista CAPES/PROSUC.
2
Doutora em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), docente do Curso de
História e do PPG em Processos e Manifestações Culturais da Universidade Feevale.

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