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MARIA CHRISTINA CHAGAS FERREIRA

Síntese e questões para debate referentes ao texto “Modelo de atenção dos padecimentos: exclusões
ideológicas e articulações práticas.

SÍNTESE

O texto aborda a diversidade de saberes e formas de atenção à saúde


existentes, incluindo a medicina tradicional dos povos, medicinas alternativas new
age e medicina oriental, bem como a tendência de não reconhecimento desses
saberes e formas não biomédicos de atenção. O autor sugere que o estudo da rede
de atenção à saúde deve partir do indivíduo e de seu grupo social para mapear
todos os saberes e formas de atenção percebidos por eles, traçando perfis
epidemiológicos e identificando estratégias de atendimento. O texto também aborda
a biomedicina, sua expansão e associação com a indústria farmacêutica, bem como
a falta de valorização dos fatores socioeconômicos e culturais na formação dos
profissionais de saúde. A autoatenção é entendida como qualquer decisão de
tratamento não formal, incluindo o autocuidado e a automedicação. O autor conclui
que as relações entre as diversas formas de saber e cuidar não são excludentes e
devem ser definidas a partir das relações e valorações desses saberes para os
indivíduos e seus grupos sociais.

RESUMO

O autor discorre sobre modelos existentes para abordar


saúde/doença/atenção à saúde, navegando pelas diferentes formas de padecimento
e apontando a existência de uma grande diversidade de saberes e formas de
atenção, formais e informais.
No texto, é apontada a tendencia de não reconhecimento desses saberes e
formas não biomédicos de atenção, que para o autor são frequentemente utilizados,
com destaque para a autoatenção. A forma dominante ocidental científica seria
considerada pela maior parte dos estudiosos como antagônica aos demais saberes,
enquanto os indivíduos têm outra perspectiva e na sua prática diária, tendem a
integrá-los. Dentre os diferentes saberes e formas de cuidar temos a medicina
tradicional dos povos, as medicinas alternativas new age, a medicina oriental. O
autor ressalta que o processo de globalização e as migrações vem ampliando o
alcance desses saberes e a indústria farmacêutica tem assimilado e esses
conhecimento.
A forma de estudar essa rede de atenção é questionada no texto, e o autor
propõe que o estudo parta do individuo e não do curador, já que esse indivíduo é o
agente que busca o atendimento para alívio de seus padecimentos. A partir desse
indivíduo e de seu grupo social, poderemos identificar qual o caminho percorrido
quando o indivíduo se entende doente, como as diversas camadas do sistema
informal/formal de atendimento se organiza a partir da perspectiva do paciente. Essa
abordagem permitiria mapear todos os saberes e formas de atenção que esse
indivíduo/grupo social percebe ter a sua disposição e dessa forma, traçar perfis
epidemiológicos e identificar estratégias de atendimento, apontando as dificuldades
de acesso e limitações de tratamento de cada população, estratificados em perfis
socioeconômicos e culturais.
A seguir, o autor aborda as diferentes formas de saber e atenção e analisa
como elas interagem entre si e até mesmo se articulam, entretanto, reafirmando,
cada curador, sua superioridade sobre os demais. Os sujeitos e grupos também
articulariam essas formas na chamada carreira de doente e é a partir dessa carreira
que a maior parte das articulações seriam geradas, reforçando a importância de se
analisar todo o processo partindo da visão do indivíduo ou grupo social, de forma a
entender como esse individuo escolhe e valora os diversos curadores e suas
abordagens.
Ao discorrer sobre os diferentes saberes, o autor aborda a biomedicina,
única forma organizada de forma internacional, e que se associa à expansão da
indústria farmacêutica, mesmo em países pertencentes outras culturas. Sua forma
de abordagem é baseada em explicações biológicas para a causalidade dos
padecimentos e soluções baseadas em fármacos específicos, respaldados em
pesquisas e análises de eficácia comparativa. Os demais saberes e formas de
atendimento não contam com a mesma legitimação. A expansão da biomedicina
ainda avança em situações que não eram consideradas doenças, mas eventos
cotidianos. O autor aponta que as pesquisas têm apontado o risco dessa quase
hegemonia do pensamento biomédico em detrimento dos saberes dos grupos, seus
modos de explicar e entender eventos e suas origens na formação dos profissionais
de saúde. A significação dos fatores socioeconômicos e culturais não seria valorada
durante a formação dos profissionais, deixando a prevenção de padecimentos
baseada na analise de comportamentos sociais em segundo plano.
A autoatenção é entendida no texto como qualquer decisão de tratamento
não formal, incluído ai o autocuidado, a automedicação, tendo como referencias
entidades grupais, e que normalmente fica a cargo da mulher/esposa/mãe,
chegando até a decisão de buscar de atendimento disponível. A autoatenção seria o
primeiro nível de atendimento dos padecimentos e é modulada segundo
experiencias positivas e negativas do grupo com determinada prática.
O autor finaliza sugerindo que as relações entre as diversas formas de saber
e cuidar não são excludentes e seus papeis não devem se definir unicamente pelas
características de cada saber de forma isolada, mas a partir das relações e
valorações desses saberes para os indivíduos e seus grupos sociais.

QUESTÕES

1. O texto é de 2009 e nos últimos anos, o papel das redes sociais vem
ampliando ainda mais a comunicação de saberes entre os povos. Como isso
afeta a análise da carreira de paciente?
2. A COVID-19 evidenciou o embate para definir papéis do estado, dos
profissionais médicos e da comunidade da definição de tratamentos e
autocuidado. Como avaliar esse embate?
3. O papel dos agentes comunitários de saúde seria um ponto de união entre a
biomedicina e os saberes tradicionais?
4. Identificando-se um saber tradicional que tem consequências negativas, como
comunicar isso sem criar um problema entre professional e comunidade?

REFERÊNCIA
MENÉNDEZ, Eduardo L. Modelo de atenção dos padecimentos: exclusões
ideológicas e articulações práticas. In Sujeitos, saberes e estruturas: uma introdução
ao enfoque relacional no estudo da saúde coletiva. São Paulo: Editora HUCITEC,
2009. p. 17-70.

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